Comunicare 337

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Janela partidária

Bolsonaro e direita saem fortalecidos no período de trocas de partidos. Página 4

Grafites políticos

Intervenções urbanas decoram a esfera política em Curitiba. Página 12

Voto em branco

Surge a dúvida e os curitibanos especulam sobre voto em branco. Página 11

Curitiba, 15 de Junho de 2022- Ano 25 - Número xxx - Curso de Jornalismo da PUCPR

O jornalismo da PUCPR no papel da notícia

Voto na terceira idade O projeto Cidadania Plena insere seções eleitorais em hospitais e instituições de longa permanência. A ação tem por objetivo o resgate da cidadania através do voto. A iniciativa foi criada em março deste ano e abrange 4 cidades. Além da capital, Maringá, Londrina e Cascavel participaram do processo. Ao todo, 990 eleitores terão acesso ao direito do voto no pleito deste ano.

Electoral Sessions will be installed in hospitals and nursing homes Realizado pelo TRE - PR, Projeto Cidadania Plena promove resgate da cidadania para mais de 300 pessoas através da inclusão do voto, em Curitiba

Editoria | pag.06

Herdeiros na política D

e pai para filho, de avô para neto, do marido à esposa: a política no Brasil é um trabalho em família. A eleição de famílias tradicionais ajuda a perpetuar dinastias dentro do poder público. Dos 54 deputados estaduais, 16 já tiveram, ou têm, familiares ligados a algum cargo de poder, o que representa 29,6% da Assembleia Legislativa do Paraná. Na Câmara dos Deputados, o cenário não é diferente. Dos 30 deputados do Paraná, 12 são de famílias políticas, ou seja, 40%. Entre os três senadores que representam o estado, um possui parente em cargo público. Isso ainda alcança 3 dos 38 vereadores eleitos; e o governador, Ratinho Júnior.

Segurança das urnas

Tayná Luyse

As chances de eleições por candidaturas feitas por dinastias políticas paranaenses são altas. A participação familiar funciona como um atalho para que parentes consigam um mandato. Mesmo que os rostos mudem, os sobrenomes permanecerão estampados pelos corredores do congresso. Essa é uma política antiga na história do Brasil. Se antes a ideia de monarquia havia sido vencida, hoje parece cada vez mais presente.

Editoria | pag.05

Árvore genealógica das famílias políticas.

Por mais que o principal objetivo da implementação do voto eletrônico seja impedir fraudes eleitorais, políticos e candidatos utilizam de acusações de corrupção para se colocar no cenário eleitoral atual. Contudo, o TRE

afirma que não houve nenhum indício de defraudação nas urnas eletrônicas desde 1996. Editoria | pag.08


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Curitiba, 15 de Junho de 2022

Editorial

O pinóquio e o arauto D

as inúmeras formas de como a polarização se interliga e contamina nossa sociedade, a visão com relação à imprensa é uma das mais atingidas. Em anos eleitorais, isso se torna muito perceptível. A ferramenta do jornalista é a palavra. Contestá-la, muitas vezes de forma infundada, passou a ser um hábito dominante. Basta observar os ataques contínuos que jornalistas e veículos de comunicação. A análise pública é saudável, mas deve ser acompanhada de embasamento e visão crítica.

Teorizado por muitos acadêmicos como o quarto poder, o comprometimento do jornalismo com a verdade e a busca por imparcialidade é essencial para que se use esse poder de maneira ética. É fato, porém, que o jornalismo teve e tem papel decisivo nas eleições, e que a flexibilização das leis trabalhistas nos últimos anos afetou as redações e modificou a dinâmica de trabalho dos jornalistas. A internet fez com que se aumentasse o fluxo de conteúdo. A informação imediata passou a ser priorizada, gerando matérias mal apuradas, e mostrou o acúmulo de funções do jornalista , como apontou Henry Jenkins no livro Cultura da Convergência. Além disso, existe o coronelismo eletrônico, essencial para entender as eleições, no qual políticos controlam boa parte da mídia de uma região, como a Rede

Em 2018, ano das últimas eleições presidenciais, foram registradas 135 ocorrências de violência contra jornalistas, com um aumento nos ataques à imprensa de 36,36%, segundo relatório da FENAJ. Os eleitores foram os maiores agressores, visto que os maiores meios afetados foram o televisivo e o tradicional.

Voz da comunidade

- Como foi a criação do Jogo da Eleição? Antes de criar o Jogo da Eleição, criamos um outro jogo, o Escolhas & Acasos. Estávamos na ansiedade de criar um segundo, e como tinha ano eleitoral em 2018, pensamos: “Poxa, por que não criar um jogo direcionado para eleições?!”. Utilizamos o jogo para aplicar em escolas de Curitiba e região metropolitana. - Qual a ideia do Jogo das Eleições? A ideia é que ele conscientize os jogadores, especialmente jovens e adolescentes, sobre a importância de um processo eleitoral justo, probo e ético. - Como funciona? É um jogo de tabuleiro para seis

Irmão Rogério Mateucci DECANA DA ESCOLA DE BELAS ARTES

- Você sentiu algum impacto direto com o jogo? As falas dos estudantes: “não sabia que isso era proibido! Agora sei”. Há um despertar para essas questões. - Como o leitor pode jogar? No TRE, na Escola de Cidadania. A escola pode entrar em contato com o TRE e agendar uma visita. O nosso jogo é uma das etapas da atividade. O TRE leva os jovens para votarem em uma urna eletrônica, explica como funcionam as candidaturas, fazemos o jogo e temos uma palestra.

Edição 337 - 2022| O Comunicare é o jornal laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR jornalcomunicare.pucpr@gmail.com | http://www.portalcomunicare.com.br

Pontifícia Universidade Católica do Paraná | R. Imaculada Conceição, 1115 - Prado Velho - Curitiba - PR Estudantes 3º Período de Jornalismo

Rodolfo Stancki (DRT-8007-PR)

Adriano Sirius Ana Carolina Rossini Annelise Mariano Eduardo Albano Felipe Worliczeck Gabriela Alves Isabela Lobianco

COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO Rafael Andrade

COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO

TRADUÇÃO Felipe Worliczeck

FOTO DA CAPA COORDENADORA EDITORIAL Eduardo Albano Suyanne Tolentino De Souza

jogadores e simula uma eleição para presidente, sendo cada jogador um candidato. Construímos o perfil de cada jogador, que fica vinculado a partidos fictícios. Se movimentam no tabuleiro de acordo com as cartas de campanha que utilizam. Nas cartas há ações que são permitidas pela legislação e ações que são proibidas. Fica a critério do jogador qual usar. Os jogadores não precisam mostrar suas cartas - só em alguns momentos. No final do jogo, eles têm que mostrar efetivamente todas as cartas.

COORDENADOR DE REDAÇÃO /JORNALISTA RESPONSÁVEL

Ângela Leitão

Suyanne Tolentino De Souza

Nesse cenário, é importante mostrarmos o que é jornalismo - e o que não é. O Manual de Redação da Folha de S. Paulo mostra, assim como outros manuais e códigos, quais são os pilares de um jornalismo sério: confirmação da veracidade, critérios de apuração e visão crítica.

Por fim, a imparcialidade não deve ser cega. Quando há ataque direto à vida humana, o jornalismo deve defende-la. No cenário político em que vivemos, o jornalista assume dois lados: um pé na vida e outro na democracia.

Comunitiras

niciativas de educação eleitoral são essenciais para garantir a participação dos jovens no jogo democrático. Em Curitiba, o Instituto Mais Cidadania criou o Jogo da Eleição, que conscientiza o público sobre a corrupção durante o período eleitoral. O Comunicare conversou com o presidente da entidade, Roosevelt Arraes.

REITOR

É inegável que o crescimento das redes sociais ajudou na transformação do jornalismo. Com a descentralização das mídias por meio das redes sociais, todos conseguem produzir informações que deveriam buscar a veracidade. Diferentemente do pinóquio, quando se mente no jornalismo digital não é o nariz que se cresce, mas seus seguidores.

A democracia está em uma encruzilhada. Ataques são feitos diariamente por figuras públicas que deveriam, a princípio, defendê-la. As armas do “voto de cabresto” atual não são mais os rifles, mas a desinformação. O jornalista deve ser o arauto da verdade. Seja por impresso, TV ou podcast, a busca pela imparcialidade, embora utópica, deve ser vista como um norte para o redator.

Tayná Luyse

I

Expediente

Massa e a Band. Isso mostra que o jornalismo não é sempre livre de críticas.

Ivan Cintra João Goulart Julia Moreira Juliana Boff Julia Sobkowiak Lívia Berbel Lorena Motter Luis Bocatios Maria Fernanda D

Maria Luisa C Mariana Gomes Natalia Volaco Pietra Gabiatti Tayná Luyse Thaynara Goes Valentina Nunes Victor Dobjensk


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Curitiba, 15 de Junho de 2022

Especial: Eleições 2022

Falta incentivo para jovens eleitores pensarem politicamente Eleitores de 16 e 17 anos aumentam no Paraná, mas sentem necessidade de educação política nas escolas Annelise Mariano Gabriela Alves Pietra Gabiatti 3º Período

M

ais de 100 mil jovens de 16 e 17 anos fizeram o título de eleitor no Paraná em 2022 segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR). Entretanto, estudantes sentem falta de uma orientação apropriada para um voto consciente nas escolas. Apesar das reclamações dos alunos ouvidos pela reportagem, algumas escolas do Paraná realizaram fortes campanhas para o incentivo à emissão do título de eleitor. Um exemplo é a ação realizada pela Escola Judiciária Eleitoral do Paraná (EJE-PR) “Chegou a hora #EuVoto!” em 11 de abril no Colégio Estadual do Paraná. O evento orientou estudantes a tirar o próprio título nos computadores da escola. Foi divulgado que 114 alunos tiraram o título.

Luciana diz que o que tenta mostrar para os alunos é que há necessidade de se argumentar, mas com base naquilo que a ciência comprova e no que o pensamento não contradiz. “Não é um mero achismo, não é algo

O estudante Yuri Gusttavo Maciel, 17 anos, foi um dos

tenha tanta campanha para tirar o título, mas não ensinam a usar a urna.” Ambos os estudantes relatam não saber como utilizar as urnas eletrônicas. Giovanna diz que

“Você precisa apresentar ideias. As

conjecturas são os alunos que farão, e cada um com o seu pensamento.” que seja subjetivo que esteja em questão”, conta a professora. O incentivo ao pensamento político é iniciativa dos proPietra Gabiatti

Título impresso e celulares com a tela inicial do e-Título. A professora Luciana Teixeira leciona a matéria de Filosofia e realiza em suas turmas um projeto que incentiva os alunos a terem consciência na hora de escolher em quem votar. Na atividade, ela reúne as principais propostas de cada candidato, mas omite nome e partido de cada um deles. O objetivo é que os alunos façam as escolhas baseadas no que cada um considera a melhor proposta.

aspecto, por conta da polêmica, da diversidade ou pluralidade de ideias e por não saber lidar com isso.”

fessores, principalmente das disciplinas de filosofia e sociologia, que em 2019, tiveram seus cargos ameaçados pelo governo brasileiro, que sugeriu retirar verbas dos cursos. A docente e também doutora em Educação ainda explica sobre o temor de outros professores ao se estabelecer o debate político das candidaturas. “Alguns professores se absolvem desse

adolescentes afetados positivamente pelas campanhas. Tirou o título de eleitor recentemente e comentou que sempre pensou na importância de exercer a cidadania. “Eu vejo que, na minha faixa etária, algumas pessoas têm um pensamento muito egocêntrico de que ‘eu não vou votar porque não vai mudar nada’, mas eu sempre pensei diferente.” Yuri estuda na rede estadual e sente falta de incentivo da educação política no curriculo de seu colégio. “Na escola, eu acho que deveríamos ter essa liberdade e o pensamento de que precisamos exercer nossa cidadania, mas infelizmente não temos muita brecha para falar sobre isso. Apenas quatro professores meus abrem para falar sobre política. É uma particularidade do professor e não iniciativa da instituição.” Giovanna Ganem, estudante de 17 anos da rede pública, está se preparando para votar por conta própria. Ela conta que não recebeu auxílio da escola. “Estou no terceiro ano do ensino médio e, por mais que tenha eleição esse ano, não teve palestra ou professores nos incentivando a escolher um candidato conscientemente. É vergonhoso que

provavelmente procurará um tutorial na internet, e Yuri uma orientação do pai. “Não faço a menor ideia de como usar a urna. Não sei nem qual botão apertar. A gente fica muito perdido”, comenta Yuri. Para se preparar para utilizar a urna, o governo disponibiliza um simulador de votação das quatro últimas eleições. Basta entrar no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), clicar na seção Eleições, procurar por Urna Eletrônica e selecionar o ano em que deseja fazer a simulação.

Leia mais Acesse o passo a passo de como realizar a votação pela urna. portalcomunicare.com.br

TRE disponibiliza simulador de votação das quatro últimas eleições. https://bit.ly/38MXqLq

Pietra Gabiatti

Estudante segurando o celular na página inicial do aplicativo e-Título.


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Curitiba, 15 de Junho de 2022

Especial: Eleições 2022

Janela Partidária pende a balança política para a direita Partidos que mais ganharam deputados federais durante o período foram o PL e o PP, enquanto no estado, o ganhador foi o PSD Felipe Worliczeck João Américo 3º Período

A

Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

direita saiu vitoriosa do período da Janela Partidária, que ocorreu entre primeiro de março a primeiro de abril. Bolsonaro filiou-se ao Partido Liberal (PL), visto que não obteve sucesso ao criar um novo partido, o Aliança Pelo Brasil. Os partidos que formam a maioria na câmara são chamados de “centrão”. O PL foi o que ganhou mais deputados federais durante a janela partidária, com um aumento de 33 para 78. Logo atrás estão os Progressistas, que ganharam 14 novos deputados durante o período de troca. A janela partidária permite a troca de vários políticos em casos que o mandatário representa o partido, não a si mesmo. De Alckmin (PSB) saudando a Internacional Socialista ao crescimento do partido do Presidente Jair Bolsonaro (PL), cuja popularidade caiu nos últimos anos, muita coisa aconteceu no xadrez político durante o período. A esquerda, porém, sai enfraquecida. O Partido dos Trabalhadores (PT) recebeu dois políticos novos, e, mais à esquerda ainda,

Dentro da Câmara, partido do presidente sai vitorioso. pessoal, fim ou fusão do partido e desvio da ideologia. Durante o período, na Assembleia Legislativa Paranaense, 62,92% dos deputados mudaram de partido. O que teve maior aumento proporcional durante a troca foi o Partido Social De-

Lula e do vereador Renato Freitas. Em discurso, disse que iria “escorraçar a canalhada”. O ex-governador, um dos fundadores do MDB, sentiu-se insatisfeito com o rumo ideológico que este tomou. Em agosto de 2021, assinou sua saída.

“Raramente vai ter algum político do PT indo para o PSL.”

o partido que se descreve como marxista-leninista, o Partido comunista do Brasil (PCdoB), perdeu um dos poucos deputados que formavam sua bancada na Câmara. A lei permite a mudança de partido por parte dos políticos durante trinta dias sem perder o mandato. Para toda regra há uma exceção, e os casos que se pode sair de um partido fora da janela são de grave discriminação

mocrático (PSD), com 300% de crescimento. A movimentação demonstra apoio à reeleição de Ratinho Júnior, membro da sigla, para governador do estado. Roberto Requião, que já conhecia o ex-presidente Lula de longa data, se juntou ao PT. Ele, porém, não utilizou o período da janela partidária. Filiou-se em um evento em Curitiba, com a participação de

O cientista político Tiago Valenciano comenta que o uso da janela partidária é, em sua maioria, ideológico. Ao trocar de partido por motivos estratégicos, é possível garantir reeleição com tranquilidade. O especialista ainda comenta que o eleitor brasileiro enxerga mais o político do que o partido em si. Esse tipo de visão permite com que a troca partidária ocorra sem impedimentos. A mudança ainda autoriza a criação de bancadas.

“Raramente vai ter algum político do PT indo para o PSL. É mais provável que ele vá do PSL para o PSDB”, comenta. Anderson Sampaio, eleitor de Luiz Nishimori, político que mudou de partido, demonstra confiança com a movimentação do parlamentar. “A janela partidária abre o leque para que os trabalhos possam ser contínuos.” Anderson também acredita que deve ser um papel do partido analisar a saída ou entrada de um político.

Leia mais Confira como ficou a composição da Assembleia

portalcomunicare.com.br

Partido de cada deputado federal

Abaixo, estão colocados de ordem alfabética o partido dos 30 deputados federais

Mudou de Partido Aliel Machado (PSD-PV) Aline Sleutjes (UNIÃO-PROS) Christiane Yared (PL-PP) Diego Garcia (Podemos-Republicanos)

Filipe Barros (União-PL) Leandre (PV-PSD) Luiza Canziani (PTB-PSD)

Luiz Nishimori (PL-PSD)

Felipe Francischini (União)

Rubens Bueno (Cidadania)

Luizão Goulart

Giacobo (PL)

Sargento Fahur (PSD)

Gleisi Hoffman (PT)

Sergio Souza (MDB)

Gustavo Fruet (PDT)

Toninho Wandscheer (PROS)

Hermes Parcianello (MDB)

Vermelho (PSD)

Luciano Ducci (PSB)

Zeca Dirceu (PT)

Osmar Serraglio (PP)

Ney Leprevost (PSD)

Ricardo Barros (PP)

Sandro Alex (PSD)

(Republicanos-Solidariedade)

Paulo Eduardo Martins (PSC-PL) Pedro Lupion (União-PP)

Permaneceu no partido Aroldo Martins (Republicanos) Enio Verri (PT)

Rossoni (PSDB)


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Curitiba, 15 de Junho de 2022

Especial: Eleições 2022

Herdeiros de famílias políticas representam 33,3% do Parlamento Você está no modo visualização

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Eleição dos filhos de famílias tradicionais ajuda a perpetuar dinastias dentro doagora poder público. Para a socióloga Mônica Helena Goulart, existe uma república hereditária no Paraná Por: Maria Luísa Cordeiro e Tayná Luyse

Eleição dos filhos de famílias tradicionais ajuda a perpetuar dinastias dentro do poder público. Para a socióloga Mônica Helena Goulart, existe uma república hereditária no Paraná Maria Luísa Cordeiro Tayná Luyse 3º Período

D

e pai para filho, de avô para neto, do marido à esposa: a política no Brasil é um trabalho em família. Dos 54 deputados estaduais, 16 já tiveram, ou têm, familiares ligados a algum cargo de poder, o que representa 29,6% da Assembleia Legislativa do Paraná. Na Câmara dos Deputados, o cenário não é muito diferente. Dos 30 deputados do Paraná, 12 são de famílias políticas, ou seja, 40%. Entre os três senadores que representam o estado, um possui parente em cargo público. O fenômeno ainda alcança 3 dos 38 vereadores eleitos; e o governador, Ratinho Júnior. Os sobrenomes funcionam como um atalho para parentes conseguirem um mandato e por isso as chances de eleições por candidaturas promovidas por dinastias políticas paranaenses são altas. Para a pós-doutora em Sociologia Política Mônica Helena Goulart, existe no Brasil uma república hereditária, “quando você tem um sobrenome forte e de tradição no

momento é importante estudar caso a caso. No entanto, é possível afirmar que de modo geral, “é claro que eles seguem com as pautas, com os seus interesses particulares, com seus interesses familiares”. Na obra “Sobre o autoritarismo brasileiro”, da professora Lilia Schwarcz, do Departamento de Antropologia da USP e autora da obra, essa é uma prática que pode afetar a democracia. “Com a manutenção das vantagens políticas garantidas pelas oligarquias estaduais ocorre uma espécie de acomodação dos hábitos políticos, das condutas eleitorais e que, não raro, convergem para a manutenção do poder herdado ou construído há longa data.” Como essas pessoas são eleitas? Por que a população vota em famílias que estão há anos dentro de espaços de poder? Mônica explica que é uma relação de poder simbólico. Um exemplo são os nomes de ruas, avenidas e praças. Qual cidade não tem uma rua com

Manutenção de famílias no poder podem afetar o processo democrático De pai para filho, de avô para neto, do marido à esposa: a política no Brasil é um trabalho em família. Dos 54

Então elesestaduais, sempre nossa Para a socióloga, esse fenômeno representa 29,6% deputados 16 jáestão tiveram, na ou têm, familiares ligados a algum cargo de poder, o que memória. Sempre estão na cabeça se chama mandonismo político. do eleitor.” Ou seja, um costume e abuso de mandar. Durante o Brasil Mesmo que os rostos mudem, os colonial quase não tínhamos a sobrenomes permanecerão estampresença de uma esfera pública pados pelos corredores do congresfederal, os mandos políticos so. Essa é uma política antiga na ficavam restritos aos chefes locais história do Brasil. Antes mesmo de com influência econômica, social 1889 temos famílias envolvidas em e política. No império, o cenário não teve alteração. Latifundiários donos de cafés eram a elite política com forte participação nas tomadas de decisão da família real.

“Temos no Paraná famílias políticas que atravessam gerações em instituições de poder”

campo político, você não parte do mesmo lugar daquele que está disputando um cargo e não tem nenhum sobrenome”. Esse é um fenômeno nacional, e o nosso estado não foge à regra. “Assim como em outros estados, nós temos aqui no Paraná, famílias políticas que atravessam gerações neste campo e que também atravessam instituições de poder por muitas décadas”, afirma a especialista. Para tentar evitar essa super participação familiar na política foi criado a Súmula vinculante 13, uma jurisprudência que tenta limitar as relações de nepotismo, a partir dos princípios na constituição: impessoalidade e eficiência. No entanto, para a socióloga, “essas leis de fato acabam não tendo força para tentar coagir essa manutenção do poder dessas famílias”. E aí surge o questionamento: será que essas pessoas, que muitas vezes são eleitas por causa do sobrenome, realmente representam seu eleitorado? O jornal Comunicare fez um levantamento da Câmara dos Deputados para verificar as propostas legislativas de autoria dos políticos com parentes em cargos públicos, assim como projetos de leis em tramitação em que estes são autores ou coautores (de 2019 a abril de 2022). Para Mônica, em um primeiro

nome de antigos governadores? Um prédio batizado com o nome de prefeitos? “Isso é uma estratégia muito forte porque sempre o nome dessas famílias é ativado.

decisões públicas. Se antes parecia que a ideia de monarquia havia sido vencida, parece que está cada vez mais presente.

Propostas dos deputados federais de 2019 a abril de 2022

Com a proclamação da república, esses senhores se tornaram uma força política. Nesse momento era comum o fenômeno do coronelismo, “uma engrenagem que funciona muito bem desde a base do eleitorado da república velha, chegando até o presidente da república”, informa Mônica. Nesse contexto, famílias políticas vão ocupar cargos políticos nas esferas municipais, para “estabelecer barganha também com o governo estadual organizando os votos do curral eleitoral de acordo com os desígnios do governador do estado e para cima os governadores de estado elegendo uma bancada, um congresso favorável ao então presidente da república”, afirma a especialista.

Propostas Legislativas

Projetos de leis em tramitação

(2019 - abril 2022)

(2019 - abril 2020)

Enio Verri (PT)

2227

115

Gleisi Hoffmann (PT)

728

87

Felipe Francischini (PSL)

307

4

2

0

38

29

Gustavo Fruet (PDT)

438

25

Pedro Lupion (DEM)

395

10

Luisa Canziani (PTB)

540

28

Leia mais

Boca Aberta (PROS)

689

60

Ricardo Barros (PP)

122

9

Zeca Dirceu (PT)

626

52

Acesse o QR Code para ver a árvore genealógica dos políticos

Rubens Bueno (Cidadania)

595

60

Nome

Sandro Alex (PSD)* *Entre2019eabrilde2022: licenciou-sedomandatodeDeputadoFederalparaassumirocargo deSecretáriodeInfraestruturaeLogística

Ney Leprevost (PSD)* *Entre 2019 e 2020: licenciou-se do mandato de Deputado da justiça para assumir o cargo de Secretário da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos. Entre 2020 e abril de 2022: licenciou-se para asssumir o cargo de Secretário de Estado da Justiça, Família e Trabalho do Paraná.

Para Lilia Schwarcz, o mandonismo é um modelo autoritário que permanece até os dias de hoje. “Sobrevive, pois, mesmo que arranhado nas últimas eleições, um modelo autoritário de fazer política, que não consegue se desvencilhar das velhas elites rurais e hoje urbanas, e que não ajuda a animar uma saudável e necessária itinerância no poder”, escreve a autora.

portalcomunicare.com.br


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Curitiba, 15 de Junho de 2022

Especial: Eleições 2022

Seções eleitorais serão instaladas em lar de idosos e hospitais do Paraná Realizado pelo TRE - PR, Projeto Cidadania Plena promove resgate da cidadania para mais de 300 pessoas através da inclusão do voto, em Curitiba Adriano Sirius Ana Rossini Eduardo Albano Juliana Boff 3º Período

C

riado em março deste ano, o projeto Cidadania Plena promove a inclusão do voto em hospitais e instituições de longa permanência para idosos. A cooperação entre a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) possibilitará a instalação de seções eleitorais no Hospital Erasto Gaertner, Hospital de Clínicas e Socorro aos Necessitados - Lar de Idosos. No total, em Curitiba, segundo o TRE-PR, 308 pessoas serão beneficiadas pela inclusão do voto. Além da capital, o projeto também atende outras três cidades: Londrina, Maringá e Cascavel. Ao todo, 990 eleitores poderão ter acesso à urna eletrônica. Por ser um projeto piloto, a seleção das instituições se deu a partir de uma mediação entre

De acordo com o cientista político Mário Sérgio Lepre, professor de Direito Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de Londrina, iniciativas como essa contribuem com o avanço da

mais divulgado para que a sociedade civil também possa contribuir com o seu avanço. “O mais importante é buscar disseminar ideias, fazer palestras e mostrar como funciona realmente. O trabalho está sendo

“Eu achei essa iniciativa muito boa porque veio de encontro a uma expectativa que eu havia levantado quando começou a pandemia e nós ficamos privados do direito de votar por estarmos na terceira idade e na linha de

“É uma grande vitória para os

moradores do Lar, pela idade e pela vida que tiveram ” democracia brasileira. “Mesmo que a nossa democracia avance lentamente, o projeto é um sinal de progresso. Fazer com que essas pessoas tenham compreensão do processo eleitoral é muito importante. Há uma dificuldade muito grande no cotidiano dessas pessoas e, muitas vezes, elas não veem a necessidade de participar

realizado em comunidades, hospitais e instituições de longa permanência, mas é importante que seja mostrado o que está sendo feito para que outras pessoas tenham acesso e ampliem a atuação do projeto.” Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),

Eduardo Albano

frente da contaminação. Mas, eu sempre achei que deveria existir uma prerrogativa nos beneficiasse para que nós não perdêssemos o nosso direito.” Em conversas com colegas e profissionais do Lar de Idosos, pelo fato de serem culturalmente isolados no Brasil, ele avalia que é importante que exista uma maneira de serem valorizados e o voto representa muito nesse sentido. A assistente social Josélia Pires Lopes, que trabalha há 20 anos no Lar de Idosos, conta que o TRE isentou as multas por abstenção e renovou os títulos de eleitores irregulares na própria instituição. “A parceria é muito boa, pois tem idosos de 90 anos que irão votar e estão contentes por ajudar o país a melhorar”. O voto representa um grande evento para a parcela mais idosa da população, diz Joselia. “Para eles é uma grande honra e, alguns estão até guardando camisa para votação, porque dão muito valor e já estão se preparando para esse dia. É uma grande vitória para os moradores do Lar, pela idade e pela vida que tiveram.”

Flavio Nunes, 81, morador do Lar de Idosos há 13 anos. a gerente do projeto, Claudia Afanio, e as superintendências dos hospitais. Após a assinatura do acordo de cooperação entre o TRE e a entidade, uma visita técnica foi realizada pelo responsável da zona eleitoral da região para avaliar as condições de segurança do voto e garantir salas acessíveis para o público externo e interno.

como algo primordial. Então esse ambiente precisa ser conectado e é um esforço que vale a pena ser feito!”. O professor acredita que, além da importância de levar as seções eleitorais a essas pessoas, o projeto deve ser

os idosos acima de 60 anos representam 20,85% de um total de 8.367.339 eleitores paranaenses. Incluí-los no processo eleitoral representa um resgate de sua cidadania e dignidade que havia sido esquecida, como é o caso de Wilmar Sandro Pereira, 65.

Leia mais Entidades e eleitores beneficiados pelo Projeto Cidadinia Plena portalcomunicare.com.br

Eduardo Albano

A iniciativa também atende a comunidade local e profissionais da saúde. Houve ainda a possibilidade da transferência do título para a zona eleitoral criada a partir do projeto Cidadania Plena. A instalação da seção eleitoral é supervisionada pela Polícia Militar e acontece um dia antes da votação - exatamente como todas as outras zonas. O cuidado com a acessibilidade também é garantido por um especialista no dia da votação, caso haja necessidade. Rogério João da Silva, 70, morador do Lar de Idosos há 6 anos.


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Curitiba, 15 de Junho de 2022

Especial: Eleições 2022

Electoral Sessions will be installed in hospitals and nursing homes Carried out by TRE-PR, Projeto Cidadania Plena promotes citizenship of more than 300 people through the incentive of voting in Curitiba. Adriano Sirius Ana Rossini Eduardo Albano Juliana Boff 3º Período

C

reated in march of this year, the Projeto Cidadania Plena (Plain Citizenship Project) promotes inclusion of the electronic ballot box in hospitals and shelters dedicated to the elder. The cooperation between the Secretary of Health of the State (SESA) and the Regional Electoral Court of Paraná (TRE-PR) will allow the installation of electoral sessions in Hospital Erasto Gaertner and Hospital de Clínicas e Socorro aos Necessitados - Lar de Idosos (Hospital of Clinics and Aid of the needed- Nursing Home.)

election, in case they are needed for assistance.

“It is a great victory for the

In total, Curitiba, according to TRE-PR, 308 people will be benefited by the inclusion of the electronic ballot box. Besides the capital city, the project also will happen in three other cities: Londrina, Maringá and Cascavel. 990 voters will have access to the electronic ballot box.

University of Paraná (PUCPR), projects like this contribute with the advancement of Brazilian democracy. “ Besides the slow progress of our democracy, the initiative is a sign of progress. Making people aware of the election process is very important. There is a great difficulty in the day-to-day

According to the political scientist Mário Sérgio Lepre, professor of Constitutional Law at the Pontifical Catholic

advertised so that the citizens of our society may also contribute with its own advancement. “ The most important thing is to disseminate ideas, speeches and show how it really works. The work is being carried out

right to vote because of our older age, more susceptible to contamination. Besides all that, I always thought that we needed a prerogative to help us so that we wouldn’t lose our rights.” In conversations with colleagues

residents of the Nursing Home, because of their age and their lives ” by communities, hospitals, and institutions dedicated to the elderly, but it is important that it shows what’s being done so that other people have access and amplify the project.”

According to data of the Superior Electoral Court (TSE), eldery above 60 years old represents

Eduardo Albano

and professionals in the Nursing Home, since they are culturally isolated in Brazil, he evaluates that it is important for older people to be taken into account, and their right to vote being assured represents a lot to them.

The social assistant Josélia Pires Lopes, who has worked for 20 years in the Nursing Home, says that the TRE exempted the fines for absence and renewed the irregular voter registrations in the institution itself: “The partnership is really good, because there are people who are 90 years old that will vote and are pleased to help the country. Voting represents a huge event for the older part of the population, says Joselia: “For them it’s a great honor, and some are even keeping shirts dedicated to the election day, because they value it too much and are preparing themselves for it. It is a great victory for the residents of the Nursing Home, because of their age and lives.”

Flavio Nunes, 81, resident of Nursing Home for more than 13 years. Since it is a pilot project, the choosing of the institutions was made through a mediation between the manager of the project, Claudia Afanio, and the managerial bodies of the hospitals. After the signature of agreement between TRE and the entity, a technical visit is made by the responsible of the electoral session of the region to evaluate the conditions of safety of the voting and guarantee the accessible internal and external infrastructure for the public.

lives of these people and, many times, they don’t feel the need to participate in this very important and essential process. So this space needs to be connected and is an effort that is worth being made!” The professor believes that, besides the importance of taking people to the electoral sessions, the project needs to be more

20,85% from a total of 8.367.339 voters just in the state of Paraná. Including them in the electoral process represents a rescue of their citizenship and dignity, which was forgotten, as is the case of Wilmar Sandro Pereira, 65. “I found the initiative really good because it matched expectations that I came up with when the pandemic started, since we were deprived of our

The initiative also involves the local community and health professionals, there was also the possibility of transferring the voter registration to the electoral session created from the project Cidadania Plena. The installment of the session is supervised by the Military Police Department and happens one day before the election- exactly like all other regions. The concern with accessibility is also assured by a specialist on the day of the Rogério João da Silva, 70, resident of the Nursing Home for more than 6 years.

Read more Entities and voters are benefited by Plain Citizenship Project portalcomunicare.com.br

Eduardo Albano


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Curitiba, 15 de Junho de 2022

Especial: Eleições 2022

TRE garante segurança das urnas eletrônicas Mesmo sem denúncias de fraude desde a implementação em 1996, políticos insistem em questionar a credibilidade do voto eletrônico Julia Moreira Maria Fernanda Dalitz Mariana Gomes Natália Volaco 3º Período

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m 2018, Fernando Francischini (PSL) se tornou o deputado estadual mais votado da história do Paraná, com 7,5% do total de votos. Mas, em outubro de 2018, o político teve seu mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por falas que duvidavam da segurança das urnas eletrônicas. Contudo, esses comentários começaram muito antes da cassação de Francischini. Durante a eleição entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, em 2014, já existiam boatos de fraude, todos comprovadamente desmentidos pelo TSE. Além disso, o atual presidente da República Jair Bolsonaro ficou conhecido internacionalmente por seus ataques contra a atual ferramenta eleitoral, chegando até a insinuar que não haveria eleições em 2022 se o voto não fosse impresso. Em particular, o TSE condenou Francischini por uso indevido de meios de comunicação e abuso de poder políticos e de autoridade, seguindo o artigo 22 da Lei Complementar nº 64/1990 (Lei de Inelegibilidade). Durante as eleições presidenciais de 2018,

documentos da Justiça Eleitoral que confirmariam a fraude, além de prova visual que eleitores não estavam conseguindo votar em Bolsonaro. Segundo os vídeos apresentados por Francischini, o eleitor estava tentando vo-

no mundo que deslegitima as eleições do Brasil e a desconfiança do brasileiro nas urnas faz parte de um problema maior. “É fundamental entender a desconfiança das pessoas nos procedimentos adotados, como um sintoma

“Bolsonaro tem um discurso pronto [fraude nas urnas] em caso de derrota nas eleições de outubro” tar para presidente enquanto a urna eletrônica solicitava o número para votar em um candidato a governador.

Por mais que a mudança tenha sido feita para diminuir a quantidade de fraudes, políticos e formadores de opinião gostariam que o Brasil voltasse para 1994, quando tínhamos voto impresso. Na época, o então juiz eleitoral Luiz Fux foi ameaçado de morte pelo Comando Vermelho por apontar fraudes em 90% das

Maria Fernanda Dalitz

Os comentários feitos pelo presidente foram ovacionados por seus seguidores. o ex-delegado realizou uma live em suas redes sociais em que acusava duas urnas de fraude para impedir a eleição de Jair Bolsonaro. O deputado incluía que urnas já haviam sido apreendidas e que ele possuía acesso a

dos. “Não somos obrigados a confiar em duas ou três pessoas, como se estas fossem donas da verdade”, disse o presidente. “A verdade [resultado da eleição] está com o povo.”

urnas da 25a Zona Eleitoral do Rio de Janeiro. Em discurso dado em Pelotas, cidade do interior do Rio Grande do Sul, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que demandaria que os votos das eleições de 2022 fossem conta-

Entretanto, o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE) afirma que desde a implementação das urnas eletrônicas, em 1996, não houve nenhum indício de fraude eleitoral. Essa transição ocorreu para que o processo fosse mais prático e confiável. ”Isso extinguiu a interpretação humana sobre o que havia sido escrito ou assinalado pelo eleitor nas cédulas de papel. Além disso, coibiu fraudes que ocorriam com frequência na votação manual, como adulteração e substituição de cédulas”, comenta Roney Cesar de Oliveira, representante da Seção de Gestão de Urnas.

de algo muito mais complexo, que é o descolamento de tais pessoas do processo político e da democracia representativa.”

O cientista político Amarílio Neto aponta que os ataques do Presidente Jair Bolsonaro são uma estratégia política amplamente utilizada por grupos de extrema direita. “Através da deslegitimação das urnas, Bolsonaro tem um discurso pronto em caso de derrota nas eleições de outubro”, afirma. “Com isso, consegue manter a sua relevância no debate político nacional e é capaz de mobilizar uma parte considerável de seu eleitorado, mais ou menos como Trump fez e está fazendo nos Estados Unidos.” O país norte-americano é adepto do voto impresso. Lá, a cédula é enviada pelos correios e auditada manualmente.

O TRE explica que há mais de 30 mecanismos para garantir a segurança das urnas, que vão desde sua fabricação até o final das eleições. As empresas que fornecem os equipamentos devem seguir especificações da Justiça Eleitoral para ter a permissão do uso de suas urnas, garantindo que não há dispositivos implantados para fraudes.

O especialista acrescenta que não há nenhuma organização séria Maria Fernanda Dalitz

Nas eleições de 2018, notícias afirmando que apenas Brasil, Venezuela e China utilizavam urnas eletrônicas surgiram, informação que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) provou ser falsa. Na nota divulgada, o órgão alega que 23 países usam a votação eletrônica. Dentre estes, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Índia, França e até parte dos EUA.

Mecanismos de segurança

No final de semana da eleição são sorteadas urnas que são submetidas a auditorias. Na primeira delas, algumas delas são verificadas no domingo da eleição no próprio local de votação. “Essa verificação consiste em, antes de iniciar a votação, verificar as assinaturas digitais dos programas dessas urnas”, comenta também Roney. A segunda auditoria consta na retirada no sábado do local de votação, onde já se encontram e são levadas a Curitiba para funcionarem no domingo de eleição exatamente como se estivessem na seção eleitoral.

Leia mais Entenda como funciona a segurança nas urnas eletrônicas: portalcomunicare.com.br

Os responsáveis por popularizar comentários contra o voto eletrônico são as redes sociais, em especial, os grupos.


Curitiba, 15 de Junho de 2022

O percurso das urnas eletrônicas Antes da votação, as urnas passam pelo processo de fabricação e por uma série de verificações para comprovar a segurança de seus sistemas Julia Amaral Lívia Berbel Thaynara Goes Victor Gambetta 3º Período

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Especial: Eleições 2022


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Curitiba, 15 de Junho de 2022

Especial: Eleições 2022

O eleitor brasileiro desabafa nas urnas em 2022 Soraya Werner apoia Lula. Ledi Cruz apoia Bolsonaro. Marcelo Flores diz escolher por exclusão. Os eleitores de Curitiba têm algo a dizer. A palavra final será proferida às urnas Luís Schuh Bocatios Ivan Cintra 3º Período

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epresentando dois espectros ideológicos opostos, o ex-presidente Lula e Jair Bolsonaro são os candidatos favoritos para as eleições presidenciais de 2022. Existe um clima de ódio no eleitorado, rixas entre amigos e familiares. As diferenças entre os apoiadores de cada candidato ultrapassam o espectro político e invadem a esfera social em um debate ideológico e filosófico da vida. Para esta reportagem foram ouvidos três moradores de Curitiba, com opiniões e vivências diversas. A consultora de serviços médicos Ledi Cruz, 42 anos, esteve presente, junto a familiares, na Marcha para Jesus de Curitiba. O evento evangélico ocorreu em maio deste ano e teve a participação do Presidente da República. Questionada sobre sua religiosidade, apenas declarou: “Estou aqui só para o evento do Bolsonaro, apoio tudo o que ele defende”. Ainda afirmou não ter uma segunda opção. “Sem o Bolsonaro, anularia o meu voto. Não tem ninguém mais compe-

Ivan Cintra

Bolsonaro e Lula devem travar um duelo histórico nas eleições de 2022. fazem vista grossa. Infelizmente, quase todos os votos dele são comprados”, acusou. A artesã Soraya Werner, 57 anos, vive em um sobrado rodeado por plantas, com marido, duas filhas, um Doberman, dois Poodles e três vira-latas. Perguntada sobre seu voto nas próximas eleições, ela brinca: “Vou esperar a tercei-

extremamente conservadora e é localizada no estado que deu a Bolsonaro seu maior índice de votos, 75%. Considera-se de esquerda desde adolescente. “Eu sempre fui meio rebelde. Tudo que minha mãe dizia que eu não podia fazer era o que eu gostava. Aí entrei na universidade e fui fazer palanque. Fui até fichada. Na época da ditadura era tudo

“A escolha se dará pela rejeição, pelo medo e pelo ódio”

tente para assumir o país”. Cruz acredita que o atual presidente toma decisões que visam o bem da população, ao invés dos interesses pessoais. Sobre Lula, o principal opositor, ela não tem uma opinião positiva. “Ele é um homem que se guia pelos outros, não tem opinião própria. Eu acho que ele não tem caráter, e que não pode assumir o nosso país”. Em relação aos eleitores do petista, pensa que são desinformados. “Essas pessoas precisam levar em consideração tudo o que aconteceu no nosso país, mas

ra via”. Na verdade, declara-se apoiadora convicta de Lula. “Nos dois governos dele nós tivemos um êxito muito grande, a diferença social que sempre existiu no Brasil diminuiu. Foram defendidos os negros e os mais pobres. Tivemos uma política social muito ativa, saímos da linha da pobreza e da miserabilidade, mas hoje estamos perdendo tudo. O nível de desemprego está enorme e a desigualdade social está voltando de forma abrupta”, explica. Werner é nascida e criada em Blumenau (SC), cidade que julga

muito mais difícil”. Ela não quer contato com os apoiadores de Bolsonaro. Embora tenha se afastado de familiares próximos, Soraya não vê a distância de forma negativa. “Não acho que me fariam crescer. Com eles é só arma na mão, fazem isso para que a gente não tenha poder de fala.”

voto no Bolsonaro”. Flores não acredita na divisão dos espectros políticos em esquerda e direita, diz pautar-se nos valores que cada partido político representa. O advogado, que atua no setor empresarial, alega: “Os valores do PT são totalmente estranhos à minha concepção de vida”.

Polarização e rejeição Segundo o cientista político e social Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, existe uma forte polarização no cenário sociopolítico atual. A rejeição terá um importante papel nas eleições de 2022. “A escolha se dará pela rejeição, pelo medo e pelo ódio”. No entanto, o sociólogo analisa que essa polarização não é ideológica, é emocional. “A população vota, principalmente, por conta do carisma de cada político. O líder carismático desperta uma adoração que não vem da razão”, explicou.

Os eleitores de Bolsonaro o consideram um “mito” e odeiam Lula. Já os eleitores de Lula o consideram o maior presidente da história do Brasil e veem Bolsonaro como uma pessoa ruim. De acordo com o professor, a postura de ambos os candidaIvan Cintra tos se resvala no populismo, Bolsonaro ainda mais que Lula. Para muitos, o ódio vai definir o voto. O sociólogo ainda prevê: “A quantidade de eleitores que votarão em branco ou deixarão de votar será enorme.”

O advogado Marcello Flores, 52 anos, se vê obrigado a escolher por exclusão. Não encontra no atual presidente uma opção ideal, no entanto, afirma: “Em um cenário entre Bolsonaro e Lula eu não tenho dúvidas,

Leia mais Confira a entrevista completa com Rodrigo Prando.

Apoiadores de Bolsonaro se reúnem na Marcha Para Jesus, que teve presença de 40 mil pessoas, segundo os organizadores.

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Especial: Eleições 2022

Eleitores de Curitiba discutem se escolha é realmente muito difícil Dados apontam que mais de 7% da população de Curitiba anulou o voto no segundo turno da última eleição para presidente. Eleitores debatem se opção Julia Sobkowiak Livia Berbel Thaynara Goes Victor Gambetta 3ºperiodo

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Kaylane Vitória

m 2022, o ano continua marcado pela encruzilhada entre verde-amarelo e vermelho. A polarização de cores é reflexo de um histórico conflituoso que acontece desde 2014 no país. Em 2018, a chegada de Bolsonaro ao Planalto intensifica o cenário de dualidade. Enquanto alguns já escolheram as paletas que vão aderir, outros ainda preferem o espaço em branco para a disputa. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), durante as eleições para presidente, 7,28% dos eleitores de Curitiba votaram branco ou nulo no segundo turno em 2018. Em números absolutos, essa porcentagem representa 80.718 pessoas. Em comparação com o segundo turno das eleições presidenciais de 2014, houve um aumento de 29.894 pessoas votando em branco ou nulo. Esses números são, respectivamente, similares às populações das cidades de Pato Branco e Campo Magro, ambas paranaenses. O TSE contabiliza apenas as estatísticas, sem avaliar qualitativamente os dados. A partir dessa pesquisa não é possível afirmar o motivo que levou os eleitores a invalidar, nem estimar quantos brasileiros anularão os votos em outubro durante as eleições. Votos brancos e nulos servem apenas para fins estatísticos e não contabilizam para nenhum candidato ou partido.

Eleitores Para algumas pessoas, votar em branco é se abster da responsabilidade de escolher um representante. É o caso da cuidadora Vanessa Aparecida, de 22 anos. Ela acredita que o voto em branco é reflexo do descontentamento da população e falta de pesquisa sobre candidatos políticos. “Eu acho que a pessoa tá se abstendo. Elas ficam mais decepcionadas com o que tá acontecendo hoje em dia no Brasil. Daí acabam desistindo mesmo”. A cuidadora ainda relata que pretende

As urnas possuem um botão próprio para votar em branco.

pesquisar as propostas políticas antes de votar em outubro, mas não pretende votar em branco. Em outros casos, alguns eleitores acreditam que anular o voto é uma manifestação política. O eletrotécnico José Joaquim

verde-amarelo para vestir. Para ele, ao longo do governo, o atual presidente mostrou preocupação com o povo e honestidade. O jornalista Léo Bocatios afirma que os atuais governantes não representam o que o povo

“São eleitores que não

Léo ainda faz críticas àqueles que pretendem votar em branco em outubro. “Para mim essa é a política de Pôncio Pilatos: eu lavo minhas mãos, isso não é minha responsabilidade. Então eu acho que é de uma covardia monstruosa, uma covardia que vai afetar toda a sociedade.”

Falta de representatividade

encontraram uma escolha viável para eles entre os candidatos apresentados”

A partir da análise do cenário eleitoral dos últimos anos, o cientista político e professor da UFPR Emerson Cervi afirma que o voto branco ou nulo são manifestações políticas válidas. “São eleitores que não encontraram uma escolha viável para eles entre os candidatos apresentados”. O professor constata que o aumento de votos em branco não se deve somente a polarização, mas pela falta de representatividade política.

Silva Gomes, 37, acredita que votar branco ou nulo só teria resultado se todos os brasileiros assim o fizessem como forma de protesto. “Acho que anular o voto é uma maneira de você expressar o seu descontentamento não com a minoria, mas com a maioria dos representantes.” O técnico em elétrica que decidiu votar no Bolsonaro já escolheu o

“O crescimento do voto em branco tem a ver com a presença de fortes candidatos que não foram para o segundo turno. O eleitor já não votou em nenhum dos mais votados no primeiro turno, ele tende a se abster ou votar branco ou nulo. Tem mais a ver com o percentual de votos do que polarização”, relaciona.

precisa. Para ele, nessas eleições o vermelho é a única opção. Ele relata que, ao longo dos seus 65 anos, nunca viu o Brasil com uma situação econômica tão benéfica como a da época do governo Lula. “A possibilidade econômica que nós tínhamos era completamente diferente de tudo que eu já vi na minha vida.”

Votos brancos e nulos nas últimas eleições presidenciais

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Cervi presume que o espaço em branco do debate não deve ter grande influência em 2022. Para ele, muitos eleitores parecem já possuir um candidato definido, o que faz com que as campanhas pré-eleitorais tenham um menor impacto. Para os eleitores, a escolha entre verde-amarelo e vermelho parece não ser muito difícil.

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Saiba mais sobre as expressões eleitorais portalcomunicare.com.br


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Especial: Eleições 2022

Grafites políticos compõem debate eleitoral silencioso Além de quebrar a monotonia cinza dos centros urbanos com cores vibrantes, a intervenção urbana também se consolidou como uma forma direta de expressão política Isabela Lobianco Lorena Motter Valentina Nunes 3º Período

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grafite é uma postura instantânea e marginal de estabelecer relações entre privado e o público, entre o cotidiano e a política. Pode ser entendido como uma marca política e simbólica, uma forma de expressão popular que critica a ordem imposta pelo Estado e pelas classes dominantes, combatendo injustiças e preconceitos. Esse tipo de expressão chegou ao Brasil no final da década de 70, nas ruas de São Paulo, quando ainda existia o regime militar e a prática era proibida. Desde então, a arte de rua vem sofrendo preconceito, já que muitos a enxergam como vandalismo, mesmo que atualmente seja legalizada. O professor de Design da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Kando Fukushima afirma que o grafite, no campo da Arte, por passar, normalmente, por processos de circulação e legitimação diferentes dos “tradicionais”, também podem ser considerados como expressões “menores”. “Existe uma vinculação preconceituosa com a ideia de uma produção periférica, ’suja’... e o preconceito está relacionado com uma disputa e negociação social mais ampla (classe, etnia, raça, etc)”, diz o especialista em intervenção urbana. Um projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa do Paraná, a proposta 425/2021, protocolada pelo deputado

Boca Aberta Jr., quer tornar reconhecida a prática do grafite como manifestação artística de valor cultural. O designer comenta que essa forma de arte está conectada a vários movimentos sociais e artísticos, como o hip hop, vinculando-se com a performance, poesia e dança. Ela apresenta referências da sociedade, ou seja, com assuntos que trazem à tona a realidade do país, expondo críticas e opiniões através dos desenhos. “Evidenciam uma dispu-

de expressão para grupos marginalizados, como experimento ou investigação visual, como Arte, como forma de contestação, etc. “Tem muitos trabalhos incríveis, reconhecidos ou não, outros nem tanto... Mas se for para generalizar, são inestimáveis”, avalia Fukushima. O professor aponta que a motivação política é explícita, mesmo em trabalhos que não tematizem pautas/agendas visivelmente “políticas”. “Tentar generalizar essa produção pode

“Existe uma vinculação

parte da rotina, do cenário local, o grafite te ‘obriga’ a ver tal conteúdo. Muitas vezes crítico, que acaba entrando no seu cotidiano e virando parte de seus argumentos”. O artista visual esclarece que a arte em geral costuma ser procurada por candidatos para serem usados em palanques durante as eleições. “Em época de eleições chega a ser um desserviço a contratação de artistas visuais para pintarem propagandas políticas, grande parte letreiros. Sem nenhuma crítica social, apenas com o nome e

preconceituosa com a ideia de uma produção periférica, ‘suja’” ta social pela paisagem urbana, explicitando grupos, comunidades, indivíduos que comumente estão invisibilizados ou marginalizados”. Essa intervenção urbana é realizada em espaços públicos, como em muros e paredes do ambiente citadino, usufruindo de tintas, sprays ou látex. Hoje, o grafite brasileiro está entre os melhores do mundo. Os maiores talvez sejam a dupla “Os gêmeos”, com artes expostas em murais importantes que atraem atenção internacional, além de exposições em museus. “Existem diversas formas de valoração. Como possibilidade

ter o efeito de empobrecer a diversidade de questões envolvidas”. Também pode servir como propaganda, seja apoiando o candidato ou fazendo uma crítica. Desse modo, causando reações e influenciando a opinião pública. O grafiteiro Jair Moreira, conhecido pelo nome artístico Juninho Moreira, usa a arte como uma forma de crítica social ao racismo, patriarcado e religião. Ele explica que a intervenção urbana pode impactar a sociedade por ser um conteúdo polêmico. É possível influenciar também na opinião política. “Por se tornar

número do candidato. Isso não traz nenhum tipo de conteúdo e acaba se coincidindo com um dos objetivos da pichação, que é espalhar seu nome o máximo possível para ser lembrado.”

Leia mais Conheça mais sobre Juninho e confira fotos de outros grafites portalcomunicare.com.br

Isabela Lobianco

“No país do futebol, o meu ídolo não joga bola”: grafite sobre Joaquim Barbosa.

Isabela Lobianco

Lula apertando uma latinha de tinta para grafite, no centro de Curitiba.

Lorena Motter

O empoderamento preto é um tema recorrente em grafite.

Isabela Lobianco

O peso dos signos grafitados constroem o simbolismo da imagem.


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