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Na Sombra de Luís Bimbo

Por Ana Raquel Fernandes e Luana Rocha

Como já é habitual na revista, o pelouro d’O Pilão apresenta-te a rubrica “Na sombra de…”. Nesta 30ª edição d’O Pilão, conhece melhor o percurso académico e profissional do Professor Doutor Luís Bimbo.

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O Pilão: Terminou o Mestrado em Ciências Farmacêuticas em 2006 na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. Sempre desejou enveredar neste curso? O Curso e a Faculdade corresponderam às suas expectativas?

Luís Bimbo: Tenho de admitir que não tinha expectativas em relação ao curso em si. Queria seguir um curso na área das Ciências da Saúde e devido ao facto de ter membros da minha família que tinham frequentado o curso de Ciências Farmacêuticas pareceu-me uma boa escolha na altura. No decurso dos meus estudos aprendi a apreciar o curso e as suas diferentes vertentes ainda mais, pois o facto de ter uma componente laboratorial extensa agradou-me muito. O curso e a faculdade proporcionaram-me vivências únicas e no final teria muita dificuldade em imaginar-me em qualquer outro curso.

OP: Após conclusão do seu Mestrado continuou a sua formação académica, doutorando-se em Tecnologia Farmacêutica na Universidade de Helsínquia, na Finlândia, entre 2009 e 2012. O que o motivou a seguir esta área e a sair da sua zona de conforto? LB: O meu desejo de enveredar por uma carreira científica só se despertou após participar no programa ERASMUS num estágio científico (tinha terminaMadalena Bandeira, 1°MICF do toda a parte letiva e fui cinco meses para o Departament de Bioquímica i de Biologia Molecular da Universitat Autonoma de Barcelona na Catalunha antes da minha defesa de Estágio) que muito me marcou por ser um período em que vivi absolutamente sozinho num país estrangeiro. A minha posterior ida para a Finlândia deveu-se, sobretudo, ao desejo que acalentava de estar exposto a uma cultura científica diferente e a um país que tinha a reputação de estar na vanguarda do progresso social. Queria trabalhar numa área do meu interesse (a Tecnologia Farmacêutica) e a Finlândia foi o país que me pareceu ter uma Faculdade e curriculum muito semelhante ao de Portugal. A minha experiência de viver e trabalhar na Finlândia foi verdadeiramente extraordinária e expôs-me a realidades científicas e sociais incomparáveis. As minhas recordações da Finlândia são dos melhores anos da minha vida. Ali aprendi, além da cultura da sauna, o verdadeiro significado do “Sisu”.

OP: Ainda na Universidade de Helsínquia, tornou-se Professor Adjunto na área da Nanotecnologia Farmacêutica. Como foi contactar pela primeira vez com a Docência numa universidade estrangeira? Foi desafiante?

LB: Tive o privilégio de fazer parte do primeiro grupo que lecionava exclusivamente em Inglês na Unidade Curricular “Laboratório de Tecnologia Farmacêutica” na Faculdade de Farmácia da Universidade de Helsínquia, que era um curso intensivo de oito semanas das 8h00 às 16h00 (seria o equivalente a todos os blocos de Tecnologia Farmacêutica da Faculdade de Farmácia em Coimbra), em que tive muito apoio dos meus colegas finlandeses e dos próprios alunos que ativamente procuraram o grupo, pois era uma experiência diferente para eles ao ensinarem e aprenderem numa língua em que não eram nativos. Foi desafiante (pois o módulo era intensivo), mas também muito enriquecedor sob o ponto de vista educativo, pois estive exposto a práticas pedagógicas muito diferentes das praticadas durante os meus estudos em Coimbra. Talvez fique a ideia para num futuro se implementar este tipo de ensino na FFUC.

OP: Passou pela Universidade de Strathclyde em Glasgow, Escócia, onde tirou uma pós-graduação. Pode revelar-nos um pouco acerca da investigação que desenvolveu?

LB:Na minha opinião, o Reino Unido tem uma vantagem fundamental em relação a Portugal (e de alguma forma à Finlândia) que é a abundância de massa crítica científica em quase todas as áreas da ciência. A Universidade de Strathclyde, em Glasgow, integra o CMAC (Centro de Manufatura Contínua e Cristalização Avançada), um Centro de Investigação de classe mundial na área da produção farmacêutica. Aquando da minha chegada, tentei adaptar uma das minhas linhas de investigação ao trabalho que era desenvolvido no centro, bem como alavancar os diferentes aspetos da minha investigação através da infraestrutura de ponta que o Centro me proporcionava. O trabalho desenvolvido por mim e pelos meus colaboradores no âmbito da cristalização de fármacos em diferentes condições que mimetizam as condições de manufatura farmacêutica (confinados, sob pressão, cristalizados a partir de diferentes solventes) encontra-se parcialmente publicado, com futuro trabalho ainda na calha.

OP: Atualmente, encontra-se a tirar um Bacharelato em Economia e Administração de Empresas na Universidade de Aalto na Finlândia. Quais as razões que o levaram a seguir esta área distinta da Tecnologia Farmacêutica?

LB: O meu ingresso no Bacharelato em Economia e Gestão de Empresas na Aalto foi feito durante o meu período pós-doutoral na Universidade de Helsínquia, após realizar exames de admissão. Deveu-se sobretudo à minha curiosidade no jargão económico e em compreender melhor as diferentes facetas da economia e finanças que, para melhor ou para pior, têm um papel fundamental nas nossas vidas independentemente da nossa ocupação profissional. Tenho a dizer que foi uma experiência bastante enriquecedora sob o ponto de vista pessoal e que ainda acalento a vontade de terminar o curso na Finlândia (tenho cerca de cento e oito ECTS de momento).

“A minha experiência de viver e trabalhar na Finlândia foi verdadeiramente extraordinária e expôs-me a realidades científicas e sociais incomparáveis. As minhas recordações da Finlândia são dos melhores anos da minha vida.”

OP: Fazer um doutoramento alguma vez fez parte dos seus planos profissionais? MM: O doutoramento já fez parte dos planos e

OP: Como se tornou Professor Assistente da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra? E como tem sido a sua experiência?

LB:No meu caso, soube que um concurso público internacional para Prof. Auxiliar na área de Tecnologia Farmacêutica tinha aberto na Universidade de Coimbra e candidatei-me à vaga. Decorrido um período de tempo durante o qual houve ainda lugar a uma audiência pública, fui selecionado entre os candidatos a concurso para preencher a vaga. Posteriormente, tive de abdicar do meu lugar de Professor Auxiliar e Chancellor’s Research Fellow na Universidade de Strathclyde, mas mantendo uma posição de “Visiting Researcher” na mesma instituição, e tratar da relocação para Coimbra que ocorreu em setembro de 2020. A minha experiência de relocação para uma Instituição de Ensino num país diferente (e já é a minha segunda vez) tem-se pautado por dificuldades iniciais em implementar a minha investigação na infraestrutura existente e em estabelecer colaborações nacionais, também por força da situação pandémica ainda vigente. Foi assim em Strathclyde e, com maior ou menor dificuldade, está a ser assim em Portugal.

OP: Pode revelar-nos um pouco sobre o Projeto de Investigação que está a desenvolver atualmente?

LB: Tenho vários projetos ativos neste momento. O meu laboratório tem valências em cultura celular, modelos e entrega de fármacos nas suas diversas facetas. Se tiver que nomear o tema mais abrangente da minha investigação, seriam os materiais farmacêuticos nas suas distintas vertentes. Da Escócia trago uma colaboração com o Scotch Whisky Research Institute sobre utilização de produtos derivados da produção de whisky para aplicações biomédicas. Também trago uma colaboração com vários investigadores da instituição onde trabalhei para a produção de materiais compósitos de matriz polimérica.

OP: Quais os conselhos que gostaria de deixar aos Estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra enquanto futuros Profissionais de Saúde e Especialistas do Medicamento?

LB: Que nunca negoceiem a vossa integridade seja por que motivo for, pois dela podem depender vidas. Que sejam curiosos e resilientes na obtenção de novo conhecimento e valências. Que tenham presente o objetivo para o qual estão a estudar hoje e que procurem sempre o que vos realiza pessoal e profissionalmente, independentemente da idade a que o fazem. Que as vossas contribuições sejam sempre de excelência de modo a tornar a sociedade um sítio melhor para todos. Parafraseando Aristóteles “A excelência nunca é um acidente. É sempre o resultado de elevada intenção, esforço sincero e execução inteligente; representa a escolha sábia de muitas alternativas - a escolha, não o acaso, determinam o vosso destino.”.

“Que nunca negoceiem a vossa integridade seja por que motivo for, pois dela podem depender vidas. Que sejam curiosos e resilientes na obtenção de novo conhecimento e valências.”

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