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Nutrição

Impactos do veganismo no desenvolvimento das crianças

Por Professora Dr.ª Maria João Campos

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O número de famílias portuguesas que estão a adotar padrões alimentares que privilegiam o consumo de grandes quantidades de alimentos de origem vegetal, ou mesmo exclusivamente vegetais, tem vindo a aumentar nos últimos anos. As razões para estas escolhas são muitas, mas baseiam-se mais frequentemente em dois pilares: a proteção dos animais e do ambiente e a melhoria do estado geral de saúde.

Na base do padrão alimentar vegetariano estão, geralmente, a fruta, as hortícolas, os cereais, as leguminosas, os frutos gordos e as sementes, de preferência locais, da época e minimamente processados.

Professora Dr.ª Maria João Campos Farmacêutica e Nutricionista

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As opções alimentares ovolactovegetarianas, vegetarianas estritas ou mesmo vegan exigem cuidados nutricionais específicos nas várias fases do ciclo de vida, incluindo a infância, adolescência, gravidez, lactação, idosos e desportistas, um rigoroso acompanhamento do dia a dia alimentar e, na maioria das situações, um acompanhamento frequente pelo Nutricionista. Para garantirmos as necessidades nutricionais e energéticas em todas as faixas etárias nos regimes alimentares vegetarianos temos que considerar não só a ingestão apropriada dos alimentos, mas também a bioacessibilidade de alguns nutrientes como a proteína, ácidos gordos essenciais, vitaminas B12 e D e os minerais iodo, ferro, cálcio e zinco, não esquecendo o valor energético. 2

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Realçamos que a idade pediátrica é um período de grandes mudanças e vulnerabilidades, podendo alterações do estado de nutricional ter consequências negativas a curto e longo prazo para a saúde. Para que a criança cresça de acordo com o seu potencial genético e progrida com um neurodesenvolvimento normal em todas as suas vertentes, é fundamental que o ambiente seja plenamente favorável, sendo o cumprimento das necessidades energético nutricionais uma das vertentes ambientais mais importantes.

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Quando a opção da família é seguir uma dieta vegetariana, um adequado planeamento é fundamental. Os nutrientes devem ser fornecidos por uma grande variedade de alimentos. Todavia, as necessidades nutricionais terão que ter em conta, também, a bioacessibilidade dos nutrientes que variam com a origem da matriz alimentar. Este aspeto é particularmente importante neste tipo de regimes alimentares, já que os alimentos que o integram têm na sua composição múltiplos constituintes que poderão interferir negativamente na absorção de alguns micronutrientes.

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A infância e a adolescência são períodos de um rápido crescimento físico, de desenvolvimento cognitivo e de aquisição de competências sociais e comportamentais. O aporte energético deverá ser adequado a cada idade e o crescimento monitorizado. Deve ser dada particular atenção à ingestão proteica, de ácidos gordos essenciais, ferro, zinco, cálcio, iodo e vitaminas B12 e D.

De modo a estruturar uma alimentação adequada para crianças e adolescentes que seguem um padrão alimentar vegetariano, a alimentação deverá ser, à semelhança da dieta mediterrânica, completa, equilibrada e variada.

Sendo assim, a ingestão calórica deve ser adequada para o seu crescimento e a inclusão de alimentos densamente energéticos como leguminosas, frutos gordos e respetivos cremes, pode ser essencial para atingir essas necessidades.

O crescimento exige energia, mas também proteína. Este macronutriente tem que estar nas quantidades adequadas para que ocorra uma normal retenção de azoto. Aqui, os laticínios (ou alternativas vegetais) e o ovo podem ter um papel importante. A combinação de fontes proteicas de diferentes grupos de alimentos como frutos gordos, sementes, cereais e leguminosas podem ser uma opção.

É essencial assegurar um bom fornecimento de ferro devido à menor biodisponibilidade deste mineral nos produtos de origem vegetal e ao aumento das suas necessidades na infância, especialmente durante períodos de crescimento rápido. Informar também que o consumo de alimentos ricos em vitamina C ajuda a absorção desse mineral. O zinco (cereais integrais, leguminosas, frutos gordos, sementes e laticínios) e o cálcio (hortícolas de cor verde escura, laticínios ou alternativas vegetais) devem também ter uma atenção especial.

Os ácidos gordos essenciais ómega 3 e ómega 6 também são muito importantes no desenvolvimento cognitivo das crianças, podendo estar em défice no padrão alimentar vegetariano, sendo frequentemente necessária a sua suplementação ou a ingestão de alimentos fortificados. Tal acontece também com a vitamina B12, uma vez que esta vitamina não existe naturalmente em produtos de origem vegetal. Em alguns casos, os alimentos fortificados poderão não ser suficientes para fornecer as necessidades de vitamina B12, podendo-se recorrer à suplementação. As crianças e adolescentes que não consomem alimentos fortificados em vitamina D ou têm uma exposição solar limitada, também podem ter que recorrer à suplementação alimentar. O iodo também tem que estar presente em quantidades específicas na alimentação das nossas crianças, podendo recorrer-se à ingestão de sal iodado ou de outras fontes de iodo, como as algas.

Um aspeto muito importante que não pode ser esquecido é a contabilização da ingestão de fibra já que, em excesso, poderá comprometer um aporte energético adequado e interferir com a bioacessibilidade de alguns minerais essenciais.

A suplementação referida ao longo do texto e muitas vezes fundamental para se atingirem as necessidades nutricionais das nossas crianças e jovens deve ser aconselhada mas, neste momento, deve ser sempre explicado a quem decide alterar o seu regime alimentar por questões ambientais, que podemos estar a poupar o ambiente pela escolha alimentar, mas vamos usar essa poupança ambiental no gasto energético associado ao ciclo de vida industrial e comercial dos suplementos alimentares ou dos alimentos fortificados.

Os Profissionais de Saúde deverão ser capazes de orientar adequadamente as famílias que optam por este modelo alimentar, informando sobre as suas vantagens e potenciais riscos de forma individual e, quando necessário, encaminhar para um nutricionista de forma a dar o mais correto aconselhamento nutricional e alimentar em função das opções tomadas.

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