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Nutrição

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A Nutrição e as Doenças Neurológicas

Por Professora Dr.ª Maria João Campos

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Professora Dr.ª Maria João Campos Farmacêutica e Nutricionista

Os défices nutricionais podem estar diretamente relacionados com as doenças do sistema nervoso e apesar de haver conhecimento dos nutrientes necessários para a prevenção dessas mesmas patologias, podem constituir graves problemas de saúde a nível mundial. Um exemplo concreto de uma destas situações ocorreu em Cuba nos anos 90, tendo sido reportados 50 000 casos de neuropatias periféricas e óticas na sua população, originadas por uma deficiência nutricional aguda associada aos efeitos tóxicos do tabaco. Esta situação ocorreu numa fase de mudanças económicas e políticas nesse país da América Central. Um número significativo de doentes melhorou com a administração parentérica de vitaminas do complexo B, suplementos orais de vitamina A, E e ácido fólico e consumo de dietas com alto valor proteico durante 10 dias. Como ação preventiva foram distribuídos a toda a população suplementos vitamínicos e após dois meses a incidência da doença reduziu. É um facto que nem todas as doenças neurológicas têm uma causa nutricional, no entanto algumas destas disfunções, como a neuropatia periférica, ocorrem após deficiência de uma ou várias vitaminas, 1 enquanto outras doenças do sistema nervoso podem ser atribuídas a excessos nutricionais. Os exemplos mais comuns de patologias do sistema nervoso por défices nutricionais são: hipocalcémia e convulsões tetânicas (falta de vitamina D), atraso mental (baixa ingestão calórica e proteica), cretinismo (falta de iodo) 2 e beribéri (deficiência em tiamina). Não é por acaso que há recomendações muito rigorosas para a ingestão e suplementação vitamínica e mineral na grávida, nomeadamente o iodo, de forma a prevenir o desenvolvimento de algumas das 3 doenças referenciadas. Outra das situações onde tem que haver uma monitorização da ingestão de micronutrientes é no decorrer da cirurgia bariátrica no doente obeso. Neste pós-operatório pode haver deficiente ingestão de alguns nutrientes devido à redução no volume possível de alimentos a ingerir, mas também devido a al4 gum défice de absorção de micronutrientes decorrentes da cirurgia, com consequências neurológicas que podem ser graves. Sobre este tema é importante referir mais dois aspetos. O primeiro, relacionado com uma consequência de algumas doenças neurológicas, que provocam frequentemente disfagia. A disfagia consiste 5 numa dificuldade de deglutição cujos sintomas incluem babar, engasgar ou tossir durante ou após as refeições o que pode conduzir a um estado de subnutrição por défice de ingestão. Deve atuar-se no sentido de adequar a consistência dos alimentos à capacidade de deglutição do doente, muitas vezes com a cooperação entre o médico, o nutricionista e o terapeuta da fala. O segundo aspeto que não posso deixar de abordar, está relacionado com a terapêutica farmacológica nos doentes com Parkinson (doença neurodegenerativa). Existe, nestes doentes, um potencial de interação alimento/fármaco grande que deve ser prevenido com uma ingestão controlada em proteínas, nomeadamente no doente tratado com levodopa. A adequação nutricional previne o desenvolvimento de muitas doenças neurológicas e uma correta intervenção do nutricionista pode melhorar a eficácia do tratamento médico e da terapêutica farmacológica instituída. Ao farmacêutico pede-se um conhecimento sobre o tema de forma a um correto aconselhamento dos seus utentes.

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