Centro de apoio: serviços sociais para abrigar jovens adultos em situação de rua

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO ESCOLA UNICAP ICAM-TECH ARQUITETURA E URBANISMO JOÃO PAULO GOMES MARQUES

CENTRO DE APOIO serviços sociais para abrigar

jovens adultos em situação de rua

Trabalho Final de Graduação apresentado como requisito final à obtenção do título de Bacharel, Arquitetura e Urbanismo, Escola UNICAP Icam-Tech da Universidade Católica de Pernambuco.

Orientador: Prof. Dyego da Silva Digiandomenico

RECIFE - PE 2021

Lista de abreviações e siglas FNAS - Fundação Nacional de Assistência Social SUAS - Sistema Único de Assistência Social CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social RIBA - Instituto Real de Arquitetos Britânicos IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ciamp-Rua - Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para População em Situação de Rua IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística BPC - Benefício de Prestação Continuada CRAS - Centro de Referência de Assistência Social RPA - Região Política Administrativa ACM - Material Composto Alumínio PCR - Prefeitura do Recife CTTU - Companhia de Trânsito e Transporte do Recife ESIG - Ingormações Geográficas do Recife MAC - Macrozona do Ambiente Construído IEAD - Igreja Evangélica Assembleia de Deus

Lista de tabelas Tabela 01: Serviços voltados para as pessoas em situação de rua..............................................................................18 Tabela 02: Distribuição dos conceitos chaves por ambiente................................................................................23 Tabela 03: Programa........................................................36 Tabela 04: Análise perante os conceitos chaves aplicados em Emergency Home for Young people, 2020 e aspectos influenciadores, 2017...............................................................45 Tabela 05: Parâmetros urbanísticos...................................58 Tabela 06: Quadro de unidades habitacionais por hectare......77 Tabela 07: Diretrizes.......................................................80 Tabela 08: Programa de necessidades..........................81/82

Lista de imagens

Figura 28: Plantas baixas, térreo e 1º pavimento...............39 Figura 29: Elevações......................................................40

Figura 00: Pessoas em situação de rua..............................10 Figura 30: Maquete física...............................................40 Figura 01: Pessoas em situação de rua no centro do Recife....12 Figura 31: Cortes...........................................................40 Figura 02: Pedras instaladas sob viaduto na zona leste de São Pau- Figura 32: Dormitórios...................................................41 lo................................................................................13 Figura 33: Materiais.......................................................41 Figura 03: Frequência de palavras na pasta de políticas públicas Figura 34: Perspectiva....................................................42 ...................................................................................13 Figura 35: Cortes...........................................................43 Figura 04: Diagrama conceitos trabalhados........................14 Figura 36: PErmeabilidade visual.....................................43 Figura 05: Declaração Universal dos Direitos Humanos, em Figura 37: Planta baixa..................................................44 novembro de 1949........................................................17 Figura 38: Mapa de situação do bairro de Santo Amaro........47 Figura 06: Fluxograma

da matriz padronizada para de ser-

Figura 39: Mapa de evolução urbana.................................38

vios socioassistencias.....................................................18 Figura 40: Lotes disponíveis próximos ao quadrilátero.......49 Figura 07: Ludwig Hilberseimer, Cidade de arranha-céus, Figura 41: Frequência dos ventos do Recife...................51 1924................................................................19 Figura 42: Carta solar da cidade do Recife...................51 Figura 08: New Horizon Youth Centre..................................21 Figura 43: Carta solar de Recife com temperaturas anuais...51 Figura 09: Shelter from the Storm....................................21 Figura 44: Diagrama de estruturação da análise territorial....52 Figura 10: Westbourne House............................................22 Figura 45: Mapa de elementos da paisagem....................53

Figura 11: Mount Pleasant................................................22 Figura 46: Complexo educacional....................................54 Figura 12: City YMCA.......................................................22 Figura 47: Parque Treze de Maio...................................54 Figura 13: Conceitos chave...............................................23 Figura 48: ALEPE..........................................................54 Figura 14: Gráfico de frequência da iincidência dos conceitos Figura 49: Escola de Referência em Ensino Médio Ginásio chave por ambiente........................................................24 Pernambucano........................................................54

Figura 15: Centro Pop Glória............................................27 Figura 50: Tribunal de Conas de Pernambuco.................54 Figura 16: Mapa de concentração da população em situação Figura 51: Ouvidoria da Secretaria de Defesa Social..........54 de rua por RPA...............................................................28 Figura 52: Rede Globo...................................................54 Figura 17: Mapa de concentração da população em situação de Figura 53: Largadouro...................................................54 rua na RPA1...................................................................29 Figura 54: TV Rádio Jornal do Comércio.........................55 Figura 18: Pessoas em situação de rua em Recife..............30 Figura 55: Cais da Aurora.............................................55 Figura 19: Pátio entre as edificações do complexo..............32 Figura 56: Banco Central do Brasil................................55 Figura 20: Mapa da área do “Bracelete de esmeralda” onde se Figura 57: Secretaria de Planejamento e Gestão.............55 encontra....................................................................33 Figura 58: Rádio cLube de Pernambuco........................55

Figura 21: Implantação vista por satélite............................20 Figura 59: Diário de Pernambuco..................................55 Figura 22: Vista interna voltada para o pátio.......................34 Figura 60: Gráfico porcentagem cores encontradas no enFigura 23: Janelas artísticas.............................................35 torno.................................................................56

Figura 24: Janelas artísticas.............................................36 Figura 61: Mosaico de cores e texturas entonro imediato....56 Figura 25: Plantas baixas.................................................37 Figura 62: Mapa do zoneamento legislativo do recorte urbaFigura 26: Vista, Shelter Home for the Homeless..................38 no de Santo Amaro........................................................57 Figura 27: Situação territoria...........................................38

Lista de imagens

Figura 92: Gráfico das vertentes das igrejas em Santo Amaro...76 Figura 93: Torres gêmeas, São José................................77

Figura 63: Mapa de vegetação do recorte urbano de Santo Figura 94: Shopping Patteo, Olinda.................................77 Amaro.........................................................................59 Figura 95: Torres residenciais, Santo Amaro...................77 Figura 64: Mapa de calçadas sombreadas do recorte urbano Figura 96: Mapa de linhas de força do entorno imediato ao sítio..78 de Santo Amaro.............................................................60 Figura 97: Mapa de desmembramento do lote..................78 Figura 65: Calçada não sombreada Avenida Mário Melo....61 Figura 98: Zoneamento..................................................82 Figura 66: Calçada parcialmente sombreada Rua............61 Figura 99: Fluxograma térreo.........................................82 Figura 67: Calçada sombreada Avenida Mário Melo.........61 Figura 100: Fluuxograma 1º pavimento..............................82 Figura 68: Mapa de eixos viários e espaços públicos pola- Figura 101: Fluxograma 2º pavimento...............................82 res do recorte urbano de Santo Amaro......................62 Figura 102: Linhas de expressão do entorno e incidência solar...83 Figura 69: Avenida Cruz Cabugá..................................63 Figura 103: Diagrama de incidência solar e frequência dos Figura 70: Avenida Mário Melo......................................63 ventos.................................................................83 Figura 71: Rua da Aurora.............................................63 Figura 104: Planta estrutual...........................................84 Figura 72: Rua do Hospício..........................................63 Figura 105: Estrutura.....................................................84 Figura 73: Rua João Líra..............................................63 Figura 106: Linhas de força promenade..........................84 Figura 74: Mapa de pontos de ônibus do recorte urbanos de Figura 107: Planta de situação......................................86 Santo Amaro................................................................64 Figura 108: Planta de locação e coberta.........................87 Figura 75: Mapa de Malha ciclovíaria...............................65 Figura 109: Planta baixa térreo.....................................88 Figura 76: Mapa de limites morfotipológicos.....................66 Figura 110: Planta baixa 1º pavimento............................89 Figura 77: Mapa de tipologia.........................................67 Figura 111: Planta baixa 2º pavimento............................90 Figura 78: Mapa de gabarito.........................................68 Figura 112: Cortes........................................................91 Figura 79: Corte esquemático Rua São Geraldo...............69 Figura 113: Fachadas.....................................................91 Figura 80: Corte esquemático Rua da Fundição................69 Figura 114: Fachadas.....................................................92 Figura 81:

Corte esquemático Rua Rocha Pita................70 Figura 115: Detalhe.......................................................93 Figura 82: Corte esquemático Avenida Mario Melo............70 Figura 116: Perspectiva..................................................94 Figura 83: Mapa de cheios e vazios do entorno imediato ao sí- Figura 117: Perspectiva..................................................96 tio...............................................................................71 Figura 118: Perspectiva..................................................96 Figura 84: Mapa de sombras dos edifícios do enotrno ime- Figura 119: Perspectiva..................................................97 diato...................................................................72 Figura 120: Perspectiva..................................................97 Figura 85: Volumetria da proposta para novo templo.......73 Figura 121: Perspectiva..................................................98 Figura 86: Volumetria da proposta para novo templo.......73 Figura 122: Perspectiva..................................................98 Figura 87: Diagrama esquemático da distinção de gabarito Figura 123: Perspectiva..................................................99 entre novo templo e as edificações preexistentes.............74 Figura 124: Perspectiva..................................................99 Figura 88: Implantação do novo templo e edifício gara- Figura 125: Perspectiva.................................................100 gem.............................................................................74 Figura 126: Perspectiva.................................................100 Figura 89:

Templo de Salamão, São

Paulo..................75 Figura 127: Perspectiva.................................................101 Figura 90: Mapa das igrejas, do bairro de Santo Amaro.......75 Figura 128: Perspectiva.................................................101 Figura 91: Gráfico das igrejas em Santo Amaro...............75

Cartilha de formação do Movimento Nacional da População de Rua. MNPR, 2010.

“As pessoas vão para a rua porque a estrutura da nossa

sociedade é desigual. E por vivermos em uma sociedade capitalista, a desigualdade é condição para que o capital possa se reproduzir e aumentar sempre o seu lucro. Como a riqueza da sociedade se acumula cada vez mais nas mãos de poucos e os recursos não são destinados para atender aos direitos básicos, como saúde e moradia, acaba se reforçando a divisão entre pobres e ricos.

Para piorar, a cultura e a ideologia dominantes reprodu-

zem e multiplicam esta divisão e desigualdade. É o preconceito que reforça a imagem negativa de quem vive na rua. Os meios de comunicação disseminam o termo “mendigo” e reforçam o isolamento. É um estigma que rotula a todos como incapazes e vagabundos, e pior, como bandidos e criminosos, acentuando a criminalização da pobreza.”

Agradecimentos

Com este trabalho é marcado o fim de um ciclo de crescimento e aprendizagem que foram muito

além do espaço acadêmico e de ser uma experiência intrapessoal. Cinco anos de uma verdadeira montanha russa de emoções que finalmente chegou a um desfecho, mas que antes de aproveitar e colher tudo que foi cultivado nessa jornada é importante olhar para trás e reconhecer que absolutamente nada seria possível sem a ajuda de quem esteve do meu lado.

Então nada mais justo que agradecer aqueles que me motivaram, ajudaram e o mais importante acreditaram em mim e seguraram minha mão quando eu duvidei da minha própria capacidade, nos momentos difíceis onde a vontade de desistir foi abafada por vozes calorosas.

Gostaria de demonstrar minha imensa gratidão por todos da minha família, que é grande demais

da conta, por terem muita paciência nos momentos de estresse, de sempre me proporcionarem um ambiente de apoio e crescimento e que mesmo em meio ao caos conseguimos tirar boas risadas das nossas adversidades, amo vocês mais do que tudo.

A minhas amigas, Maria de Jesus e Amanda Arruda, por me acompanharem desde o início, na cor-

reria com a documentação para matrícula, sem vocês eu com certeza não estaria aqui hoje, obrigado por irem tão longe para me ajudar.

Aos meus mentores no espaço profissional, Camila Maciel e Adolfo Andrade, que me apoiaram mui-

to nesses últimos momentos e me proporcionaram momentos incríveis, obrigado por serem tudo o que vocês são e por tudo que me ensinaram.

Não posso de maneira alguma deixar de mencionar todos aqueles no qual a graduação me permi-

tiu criar laços de profunda amizade, que ilustram a ideia de que a união não apenas faz a força, mas é o alicerce da minha resiliência. Sem vocês eu não teria levantado todas as vezes que cai, obrigado por me acompanhar, pelas noites em claro, risadas, choros e abraços. Não existem palavras que compilem meus sentimentos por vocês, obrigado à Anna Cavalcanti, Bárbara Lima, Beatriz Regina, Germana Tinoco, João Vitor, Mirella Quirino, Beatriz Rodrigues, Bianca França, Bianca Oliveira, Heloisa Marlette, Bárbara Dantas , Bruna Yamamoto, Nadyne Cardoso, Luciclécio Paulo, Beatriz Bueno, Luana Ribeiro, Fernando Cortizo, Helder Henrique e Gabriel Dias. Cada um tem um lugar reservado em mim, e desejo a todos o mundo pois ele os pertence.

Ao professor Dyego Digiandomenico, minha imensa gratidão, por me auxiliar nessa última fase da

graduação, por ter sido paciente, me tranquilizado nos momentos de tensão e puxado minha orelha por estar preso na minha própria cabeça, muito obrigado.

Por fim, gostaria de agradecer aquela que me inspirou a escolher esse tema, me ensinando que a

bondade em ajudar o próximo não é difícil de ser exercida. Ela que torceu por mim mais do que ninguém, e que vibrou de felicidade em saber do meu ingresso ao ensino superior. Esse último agradecimento vai para Cremilda Gomes de Lima, minha vó, que infelizmente não está mais presente para ver o fim desse capítulo, mas que vive em mim através de quem eu sou e sempre viverá.

Nada na vida é fácil, mas tudo é mais fácil com vocês. Obrigado, João.

Figura 00: Pessoas em situação de rua Fonte: camara.leg.br

00 INTRODUÇÃO

04 ESTUDO TERRITORIAL

Contextualização 47 Incidência solar e frequência dos ventos 51 Elementos da paisagem 53 Cores e texturas 56 Mapa zoneamento legislativo 57 Mapa de vegetação 59 Mapa de calçadas sombreadas 60 Mapa de eixos viários 62 Mapa de Pontos de ônibus 64 Mapa da malha ciclóviária 65 Mapa de limites morfotipológicos 66 Mapa de tipologias 67 Mapa de gabarito 68 Normas e direitos fundamentais 17 Mapa de usos 71 socioassitenciais Mapa de sombras 72 Arquitetura contemporânea de interesse 19 Crítica urbano social 73 social Mapa de linhas de força 78 Lares emergenciais para jovens em situação 20 Mapa de demembramento de lote 78 de rua na Inglaterra: Recomendações e diretrizes Narrativa 12 Justificativa 13 Objetivos 14 Procedimentos metodológicos 14

01 CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA

05 PROPOSTAS ARQUITETÔNICAS

02 CIDADÃOS EM SITUAÇÃO DE RUA Contextualização

Diretrizes 80 26 Memorial descritivo 81 Estudo preliminar 86 Perspectivas 94

03 ESTUDOS DE CASO The Bridge Homeless Assistence Center Shelter home for the homeless Shelter from the storm

32 38 41

06 CONSIDERAÇÕES FINAIS 07 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Introdução

Narrativa

A população em situação de rua é um grupo social hete-

rogêneo, há uma diversidade entre os indivíduos que o consti-

A arquitetura dispõe de níveis fundamentais de respon-

sabilidade social em suas atividades, sendo: artística, reflexo das necessidades sociais e resposta a tais (ALMEIDA, 1964 apud CRUZ; GOMES, 2018, p.17). Porém é apontado por ar-

tuem, a miserabilidade extrema e a utilização de logradouros quitetos como Kieren Majhail e Camilla Ghisleni no qual aprepúblicos como espaço de moradia e sustento são as caracterís- sentam indagações relacionadas a como a profissão é exercida ticas que concede sua identificação. (LEITE, 2020).

em sua maior parte, na contemporaneidade, com o foco no

Essa situação é uma questão socioeconômica antiga que capital e expondo assim um mercado elitista e pouco engajado reflete a exclusão social e violações de direitos, principalmen- nas questões sociais. O contexto atual revela algumas ações te, nas cidades com mais de 300 mil habitantes, afirma o le-

de maior reconhecimento relativo à posição social da profissão

vantamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento Social e com produções de projetos socialmente conscientes.

Combate à Fome em 2008. Desde então houve um aumento A arquitetura consegue formular respostas para atender no número dessas pessoas em aproximadamente 140% até a problemática de grupos socialmente vulneráveis melhorando março 2020 (Ipea), totalizando cerca de 222 mil cidadãos em a qualidade dos indivíduos, como é o caso da população em situação de rua em todo território nacional. situação de rua, seja por meio de moradias, protótipos facil Mesmo fazendo parte da realidade e do cotidiano de di- mente replicáveis ou equipamentos que desenvolvam atividaversas cidades esse grupo populacional até pouco tempo atrás des coletivas/individuais de atendimento e suporte. não contava com dados estatísticos oficiais sobre sua situação, Majhail (2018) defende que para atingir tais objetivos os assim como não havia políticas públicas voltadas para suas es- arquitetos devem se tornar ativos, utilizando da habilidade de 12

pecificidades. Os dados censitários contribuem para uma maior solucionador de problemas para prover inovação e coordenacompreensão dos desafios a serem trabalhados e norteia na ção de ideias, mesmo não sendo uma tarefa fácil obter a colaelaboração de estratégias intersetoriais e a participação efe- boração conjunta de arquitetos, autoridades, entidades e po-

tiva do governo na promoção da dignidade e inclusão social, der público. Afirma também que o compromisso na deliberação mas não obstante, permanecem ineficazes e centralizadas em voltada à população em situação de rua vai além do abrigo, é ONG’s e Instituições Religiosas, onde atuam com soluções imediatistas e paliativas, atendendo em sua maior parte as necessidades básicas de sobrevivência (alimentação, higiene, vestimenta).

preciso entender os questionamentos que os circundam e gerar suporte, contribuir para a resolução desta problemática ao invés de apenas gerenciá-la.

Utilizar o espaço urbano como ‘’lar’’ é um problema presente desde a criação das cidades, e de forma alguma pode ser ignorado, é papel do arquiteto e urbanista estudar uma forma de abrigar essa população dentro do cenário urbano. Seja com políticas públicas urbanas ou até mesmo projetos de edificações eficientes e funcionais destinadas a eles. (CRUZ; GOMES, 2018, p.15)

Em vista disso, surge a proposta temática baseada na utilização do papel social da arquitetura como ferramenta de suporte através de um espaço intersetorial de serviço socioassistencial de acolhimento institucional para jovens adultos, entre 18 e 25 Figura 01: Pessoas em situação de rua no centro do Recife. Fonte: CBN Recife

Introdução

em situação de rua. Com o projeto de um equipamento que visa cooperar na reinserção comunitária viabilizando o acesso a políticas públicas intersetoriais, por meio de acolhimento e serviços socioassistenciais, localizado no Centro Expandido Continental do Recife, mais especificamente no bairro de Santo Amaro.

Justificativa

Embora as pessoas em situação de rua venham ganhan-

do visibilidade no âmbito acadêmico e profissional o enfrentamento de seus problemas continua sendo negligenciado. Para solucionar o problema é preciso estudar suas causas, mas ao

Figura 02: Pedras instaladas sob viaduto na zona leste de São Paulo. Fonte: CBN Recife

Essas ações não são apenas praticadas pela gestão públi-

se referir à população em situação de rua há uma variedade de ca como também por proprietários de estabelecimentos privamotivos, requerendo assim respostas diversas. dos. O design hostil é um grande indicador da estigmatização

Atualmente, alguns arquitetos estão atentando-se a ne-

das pessoas em situação de rua, evidenciando a segregação

cessidade de amplificar e democratizar o acesso da arquitetura social imposta ao negar sua ocupação espaços interferindo no e urbanismo, a exemplo de Miranda MacLaren, Polina Pencheva senso de pertencimento. Uma percepção que é reforçada ine Heather Macey (2020) que ao observar a falta de regulamen- clusive pela produção discursiva dos portais de notícias como tações relacionadas a acomodações e lares emergenciais para apontado por Redende e Medonça em seu artigo, População em pessoas sem moradia, especialmente, após o grande cresci- situação de rua e políticas públicas: Representações na Folha mento de jovens em situação de rua devido a pandemia do de São Paulo (2019), mostrando a filiação de parte do jornaliscovid-19. mo ao olhar preconceituoso sobre a situação de rua.

Em contrapartida é possível encontrar com muita facili-

dade cidades em distintos lugares do mundo que utilizam de medidas higienistas com o intuito de afastar o problema da visão dos grandes centros urbanos e comerciais. A exemplo de Nova York que custeou 89 milhões de dólares (El País, 2019) em passagens o transporte e estadia, realocando aqueles em situação de rua para as cidades do interior do país. No Brasil também existem casos no qual o poder público aderiu de soluções segregadoras, a exemplo da prefeitura de São Paulo que colocou pedras debaixo dos viadutos da zona leste para impedir a ocupação de pessoas em situação de rua (G1, 2021).

Figura 03: Frequência de palavras na pasta de Políticas Públicas. Fonte: RESENDE; MENDONÇA 2019

13

Introdução

A abordagem da interpretação das informações e lingua-

Objetivos

gens nos meios midiáticos possibilitou mapear os textos e assim

revelar que o grupo não está dentre as vozes ativas acionadas, é associado a adjetivos negativos como indesejável, perigoso

Objetivo geral Propor o estudo preliminar de um equipamento de aco-

e viciado, por último empresários, moradores e trabalhadores lhimento intersetorial temporário que responda às demandas socioculturais de jovens adultos em situação de rua, no bairro locais não avaliam de forma positiva. de Santo Amaro (Recife – PE).

Como os discursos que prevalecem nos meios massivos de comunicação representam interesses da classe dominante, detentora desses mesmos meios, isso explica a presença de empresários/as manifestandose e defendendo seus interesses e os das entidades que representam. (RESENDE;MENDONÇA, 2019)

Objetivos específicos

I. Estudar e compreender as causas, o perfil, experiências e as condições enfrentadas pela população em situação de rua, especialmente, os jovens adultos.

A faixa etária centrada entre 18 e 25 anos é justificada II. Elaborar estratégias projetuais capazes de suprir as demanpela maior dificuldade ao acesso as políticas públicas em com- das desse público; paração a outras idades (idosos, crianças e adolescentes), necessitando estar em um espaço voltado para as suas especifici-

III. Estudar as respostas apresentadas pela arquitetura ao suporte social para resolução dos problemas enfrentados por pes-

dades, como é recomendado por Macey, MacLaren e Pencheva soas em situação de rua; (2020) IV. Desenvolver análises territoriais;

14

Então o motivo pelo qual é elaborado este trabalho é V. Proporcionar uma resolução mais condizente à realidade e apresentar uma forma de auxílio e acolhimento a jovens em mais humanitária possível. situação de rua de caráter social e de nível municipal por inter-

VI. Elaborar diretrizes e recomendações por meios legislativos

médio da arquitetura, levando em consideração a ausência ou e de profissionais atuantes na área. insuficiência de um espaço focado nas demandas dessas pes- VII. Desenvolver estudo preliminar de um centro de apoio que soas. Ele auxiliará para restabelecer condições humanas dignas servirá como espaço de acolhimento e de serviços socioassisde sobrevivência e atenuar os impactos da desigualdade social. tenciais.

Procedimentos metodológicos

O desenvolvimento deste trabalho está dividido em 6

etapas de acordo com os objetivos específicos levantados e os procedimentos que necessitam para sua execução.

I. Revisão Bibliográfica

Embasada na temática referente ao uso da arquitetura

como subsídio a solução ou resposta as necessidades enfrentadas pela população em situação de rua, pela visão legislativa, da arquitetura contemporânea de interesse social e por fim recomendações e diretrizes para lares emergenciais destinados a jovens em condição de rua.

Figura 04: Diagrama conceitos trabalhados. Fonte: Autor

II. Perfil do Público Alvo

Estudar todas suas características, definições, demandas

e necessidades, assim como comprender os desafios atrelados a situação de rua.

III. Referência Projetual

Estudar precedências projetuais e analisar os aspectos funcio-

Introdução

nais, socioculturais, construtivos e socioculturais da arquitetura contemporânea, identitários e fazer avaliação qualitativa a luz da proposta dos lares emergenciais para jovens. pela visão da literatura especializada abordada na primeira etapa.

IV. Análise Territorial

Desenvolver leituras territorias para a implantação proje-

tual, analisando seus condicionantes ambientais, legislativos e urbanísticos.

V. Elaboração de propostas

Propor diretrizes projetuais baseadas nos estudos e análises realizados em momentos etapas anteriores. Finalizando com um programa de necessidades e pré-dimensionado.

VI. Desenvolvimento estudo preliminar

Desenvolver o estudo preliminar como produto final, colocando em prática as informaçãoes coletadas durante a elaboração deste trabalho.

15

> Este capítulo abordará os conceitos apresentados na legislação nacional e por profissionais da área de arquitetura e urbanismo, a respeito da situação de rua, resoluções e recomendações.

01 CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA

Na resolução da Política Nacional para População em Si-

tuação de Rua, no qual dispõe sobre diretrizes para promoção,

As normas e direitos desenvolvidas para população em proteção e defesa desses direitos, considerando em especial o

situação de rua têm o intuito de melhorar o atendimento e artigo 25º da declaração. garantir os seus direitos, são muito relevantes para guiar na organização de políticas socioassistenciais fundamentadas em

Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. (Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948)

suas condições.

Declaração Universal do Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, é a primeira referência legal de reconhe-

Conceituação temática

Normas e direitos funtamentais socioassistenciais

cimento e proteção da dignidade para todos em escala global, independente de nacionalidade, cor, sexo, orientação sexual, política e religiosa.

Os 30 direitos base indispensáveis apresentados na de-

claração servem como parâmetros de igualdade que devem ser acessados por todos. A dignidade humana consiste na qualidade intrínseca de cada indivíduo, e o defende de qualquer tratamento degradante e com discriminação odiosa (PALHARES, 2020).

Lei 7.053 de 23 de dezembro de 2009

O decreto institui a Política Nacional para População em

Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento e outras providências, determina em princípios, diretrizes e objetivos, muito importantes para promoção do acolhimento, da dignidade e inclusão social. Logo no seu primeiro artigo estabelece a definição para população em situação de rua, desfaz assim a ideia marginalizada associada socialmente a essas pessoas.

[...] considerase população em situação de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória. (BRASIL, 2009)

Embora possibilite políticas públicas mais eficazes e de-

signa as responsabilidades ao poder público não apresenta consequências no campo jurídico caso haja descumprimento desta política. Outro ponto que deve ser ressaltado é o fato de ser facultativo para as federações aderirem as políticas expostas, Figura 05: A primeira-dama dos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt, exibe cartaz contendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em novembro de 1949. Fonte: Agência Senado

se tornando um obstáculo para as pessoas que carecem de tais medidas e de acessá-las.

17

Conceituação temática

A implementação da política nacional é descentralizada

e articulada entre União e demais entes federativos, para as federações que optarem por aderir deverá ser instituído comitês gestores intersetoriais integrados com partição de fóruns, movimentos e entidades representantes.

No 8º artigo aborda o padrão básico referente ao acolhi-

mento temporário, deve-se observar: • Limite de capacidade; • Regras de funcionamento e convivência; • Acessibilidade; • Salubridade; • Distribuição geografica das unidades de acolhimento nas áreas.

Para que haja uma verdadeira inclusão social é essencial

contemplar o último item abordado, pois, em ações higienistas essas pessoas são afastadas dos centros urbanos e de pontos turísticos como forma de “limpar” a paisagem urbana, ou seja , sofrem o processo de gentrificação. Desse modo é defendido sua permanência no local de origem, permitindo uma convi18

vência familiar e comunitária.

Resolução do Conselho Nacional de Assistência

Social

Documento de 11 de novembro de 2009 referente a es-

pecificação e tipificação dos serviços socioassistenciais de nível nacional. Os serviços elencados na Proteção Social e Especial são voltados para diversos grupos que necessitam de auxilio assistencial, dentre eles o público alvo deste trabalho.

Figura 06: Fluxograma da matriz padronizada para fichas de serviços socioassistenciais baseado na Resolução Nº 109 Fonte: Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social, 2009.

Adaptado pelo autor

As normas e direitos desenvolvidas para população em

situação de rua têm o intuito de melhorar o atendimento e garantir os seus direitos, são muito relevantes para guiar na organização de políticas socioassistenciais fundamentadas em suas condições.

Após a resolução de 2009 houveram outras publicadas

pelo CNAS, como a de nº 17/2016, que regulamenta a utilização de recurso financeiros repassados integralmente pelo Fun-

Os serviços apresentados se dividem em três categorias, do Nacional de Assistência Social (FNAS) para estados e mude acordo com seu nível de complexidade, aqueles destinados nicípios destinado ao pagamento dos profissionais do Sistema ao acolhimento da população em situação de rua estão distri- Único de Assistência Social (SUAS), de modo a promover maior

buídos entre média e alta complexidade. O documento detalhada todos os pontos referentes aos serviços SERVIÇOS

COMPLEXIDADE

Serviços de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos – PAEFI

Média

Serviço Especializado em Abordagem Social

Média

Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua

Média

Serviço de Acolhimento Institucional

Alta

Tabela 01: Serviços voltados para as pessoas em situação de rua. Fonte: Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social, 2009. Adaptado pelo autor

flexibilidade de gastos e investimentos em serviços sociais.

Resolução nº40 de 13 de outubro de 2020

Estabelece as diretrizes para promoção, proteção e defe-

sa dos direitos humanos das pessoas em situação de rua, que devem ser garantidos pelo Estado. Para tal deve-se seguir os princípios da Política Nacional para população em situação de rua (Lei 7.053/2009), respeitando as condições sociais, à dignidade e valorizando à vida e à cidadania.

As políticas públicas destinadas a essa população devem

considerar sua heterogeneidade, artigo 7º, como:

Os sistemas são compostos de elementos heterogêneos

e não isolados, interligados e de diferentes escalas se adap-

• Nível de escolaridade, condições de saúde, faixa etária, ori- tando a variantes contextuais. A partir dessa lógica na qual se gem, relações com o trabalho e com a família;

opõe ao reducionismo, procurando compreender a complexida-

• Condições para cuidados e higiene pessoal;

des urbanas e da interação com ambiente.

• Condições de acesso aos transportes públicos;

A arquitetura contemporânea surge com objetivo de apu-

• Características culturais, étnicas, geracionais, de gênero, de rar a versatilidade dos sistemas para adaptar-se em seu meio, orientação sexual, de identidade de gênero, religiosas e rela- a exemplo da produção de interesse social, muito presente nos cionadas à sua naturalidade e nacionalidade;

dias atuais devido a percepção da sua necessidade em meio a

• Vínculos familiares e/ou comunitários;

divergência socioeconômica e cultural, como é no caso da po-

• Histórico de atendimento.

pulação em situação de rua que tem suas demandas e espaços

Arquitetura Contemporânea de interesse social

Conceituação temática

negados.

Segundo Montaner, as implicações éticas, sociais e políti-

Montaner em seu livro, Sistemas Arquitetônicos Contem- cas para a formalidade remete a concepção de mundo (tempo, porâneos (2009), denomina o período do fim da Arquietura Mo- sujeito e objeto). Cabendo para os arquitetos e urbanistas se

derna, que antecede, o surgimento da Arquitetura Contempo- debruçarem sobre a interpretação do objeto, mas sem desvenrânea, como ‘A crise do objeto moderno’, onde havia a ausência cilhar da compreensão do tempo e do sujeito. De modo que o da relação entre o objeto (isolado) e contexto.

objeto seja explanado a partir da sociedade, política e interes-

Desse modo, apresentando problemas em sua lógica pro- ses sociais de mesmo modo de sua complexidade e estrutura, jetual que não levava em consideração o entorno, consequen- buscando ter uma análise integrada.

Com isso, Pastório e Oldoni (2017) elaboraram um dotemente, os espaços públicos perderam a significância por ter a escala humana negada, despersonalização do ambiente cons- cumento que apresenta o uso dos aspectos influenciadores na truído, por se basear em um homem universal e hipotético. Por abordagem arquitetônica contemporânea como análise total fim, afirma a necessidade de ir além do objeto, observando das realidades do objeto de caráter social, sem ser de ordem diferentes graus de complexidade em vista dos sistemas e da política ou legislativa, mas ainda assim interpretando o cenário sociológico, fenomenológico, psicológico e semiótico, para gasociedade. rantir uma boa qualidade e materialização.

Aspectos identitários

Os aspectos identitários se referem ao conjunto de carac-

terísticas próprias e relação entre o espaço ocupado e indivíduo. Deve estabelecer o senso de pertencimento e propriedade, através de um diálogo com seu usuário, evitando o desconforto, vandalização e abandono.

Figura 07: Ludiwig Hilberseimer, Cidade de arranha-céus, 1924. Fonte: Reddit

[...] independentemente de fatores consideráveis na análise como: cultura, nível social, etc, o ser humano busca a sua projeção emocional no lugar onde vive. Tem necessidade de se identificar com objetos que tenham o poder de expressar seus ideais de progresso, avanço tecnológico e avanço social c).

19

Conceituação temática

Aspectos socioculturais

Esses aspectos apresentam a relação direta do objeto

arquietônico a fatores socioculturais (costumes, tradições, vulnerabilidade, etc), interligados com as questões de identidade.

Ao ocupar um lugar deve atender as carências e condições humanas de caráter coletivo, estudando a capacidade arquitetônica de inserção em um contexto cultural, de vivências sociais características do local. Segundo Colin (2000, p. 91 apud PASTORIO; OLDONI,2017, p.4) “o conteúdo social está presente em um objeto arquitetônico, de vez que este atenderá obrigatoriamente, uma função e um uso sociais.”

Aspectos funcionais

Os aspectos funcionais visam garantir que os espaços

proporcionem condições adequadas de uso, a funcionalidade deve ser eficiente, fácil e confiável. Então tratarão sobre a organização funcional destinada para um público específico.

De acordo com Colin (2000, p. 4041 apud PASTORIO;

OLDONI,2017, p.6) a função está atrelada a atividade que será 20

exercida e se divide em: Sintaxe: Relação objeto com a paisagem; Semântica: Significado do espaço; Pragmática: Se o uso atende a necessidade da função.

Aspectos construtivos

No que se refere aos aspectos construtivos, serão considerados duas ordens de fatores: a durabilidade dos materiais e a excelência técnica. O objeto arquitetônico deve tirar o melhor proveito das condições territoriais e apresentar soluções criativas dentre os sistemas industriais e construtivos, para obter uma economia dos recursos, mas um alto padrão de qualidade.

Lares emergenciais para jovens em situação de rua na Inglaterra: Recomendações e diretrizes

Projeto de pesquisa financiado pela RIBA (Instituto Real

de Arquitetos Britânicos) e desenvolvido por três arquitetas britânicas (Mirandac; Polina Pencheva e Heather Macey), em 2020, que ao se deparar com a ausência de recomendações voltadas para acomodações/ lares emergenciais para jovens em situação de rua, principalmente com a crise mundial devido a pandemia do Covid-19, onde foi perceptível o aumento de pessoas nessas condições, chegando a um crescimento de 50% apenas na população jovem da Inglaterra.

É importante salientar que a utilização desse estudo

apresenta uma diferença e existe um recorte social, econômico e cultural em relação do analisado por este trabalho, seja no contexto nacional ou municipal. Mas ainda pode ser aplicado para análise qualitativa projetual, desde que haja adequações para o contexto em que está inserido.

Os conceitos e metas trabalhados se alinham com o que é

exposto e almejado nas normas e legislações brasileiras, desse modo o material é uma ferramenta significativa para conceber parâmetros projetuais replicáveis referentes às acomodações designadas para jovens em condição de rua, se apropriando de seus atributos e valores positivos.

Então, resolveram investigar e produzir um conteúdo ex-

planatório sobre a situação que esses jovens enfrentam e suas necessidades. O material se divide em três livretos: Manifesto, Liderando por meio de exemplos e Recomendações

1. Manifesto

Tipicamente a estádia máxima para acomodações emer-

genciais dura cerca de 12 semanas, mas pessoas jovens podem permanecer nesses locais por meses e até mesmo anos e independente do tipo de ambiente que seja destinado. A população em situação de rua apresenta uma variedade demográfica de indivíduos (dependentes químicos, pessoas mentalmente doentes, famílias, exdetentos, etc), afirmando que o compartilhamento espacial por uma noite e até mesmo meses com uma grande diversidade de pessoas pode colocar esses jovens numa posição geradora de ansiedade.

2. Liderando por meio de exemplos

Dentro desse documento é abordado em seu conteúdo a

Conceituação temática

problemática referente a acomodações, seus custos, diretrizes existentes e questiona se esses meios estão performando como desejado.

Durante o ‘lockdown’ perguntaram para membros do New

Horizon Youth Centre (Centro Juvenil Novos Horizontes) sobre a atual experiência em relação ao centro durante a quarentena, os resultados foram usados como parâmetros para posteriormente gerar recomendações coerentes e aplicáveis.

Facilidades especializadas para jovens em situação de rua

é uma raridade, poucos são encontrados, projetos com esse propósito tem uma grande dificuldade no processo de planejamento devido à escassez de diretrizes centralizadas, legislação e códigos projetuais para profissionais utilizarem.

Figura 08: New Horizon Youth Centre. Fonte: RIBA

Nesta fase as arquitetas expõem exemplos que obtêm

uma performance qualitativa replicável, além de apresentar entrevistas feitas em um ‘workshop’ com os arquitetos envolvidos nos projetos dos centros modelo e seus administradores.

Os centros usados como referência, sendo um deles posterior-

21

mente analisado como estudo de caso: • New Horizon Youth Centre

Centro diurno que atende jovens entre 16 e 24 anos, ofe-

recendo serviços e espaços de orientação, educação, emprego e expressões artísticas, apresentando diversidade. Tem seu espaço em uma antiga residência datada em 1930, mas passou por adapções e extensões para comportar seu funcionamento, realizados por Adam Khan Architects, foi utilizado o conceito

Figura 09: Shelter from the Storm. Fonte: Holland Harvey

residencial para agregar ao espaço institucional a sensação de

• Westbourne House

acolhimento.

É uma acomodação de suporte fundada em 1989, onde

a estadia pode durar 2 anos, comporta 12 pessoas entre 16 e • Shelter from the Storm

25 anos de idade com dormitórios privados. Tem treinamento

Abrigo dormitório com capacidade de 38 pessoas, pro-

para mercado de trabalho e orientação financeira e acesso be-

vém de serviços sociais, suporte, espaços comunitários e re-

nefícios, dentre outros serviços prestados. Sua localização em

creativos. Também funciona como um café que permite a troca um bairro nobre se destaca por obter bons meio de transporte interativa com a comunidade.

e boa infraestrutura cominitária, como escolas, universidade e equipamentos esportivos.

Conceituação temática

• Mount Pleasant

Acomodação de suporte com 52 vagas. Fornece um es-

paço e capacitação para pessoas socialmente vulneráveis, ajudando a alcançar sua independência. Ocupa um prédio anteriormente utilizado como um hostel, Peter Barber Architects transformou o espaço com a inserção de um conjunto de blocos criando um pátio que serve como ambiente de encontros, por concentrar a circulação.

• City YMCA.

O último projeto é uma acomodação de suporte que pode

ter duração de até dois anos, atendendo 146 pessoas de 16 a 25 anos. Assim comos os demais dispõe de serviços de acompanhamento, monitoria e também ginásio público, emprendimento comunitário e sala de reuniões disponiveis para entrevista de emprego.

Figura 11: Mount Pleasant. Fonte: Dezeen

22

Figura 10: Westbourne House. Fonte: Emergency homes for young people: Leading by examples

Figura 12: City YMCA. Fonte:Red Loft

3. Recomendações

O último produto, de maior importância para este traba-

almejam providenciar uma estrutura da qual autoridades locais

Entrada

podem avaliar novas provisões e as já existentes.

Mesa do anfitrião

Espaços privados, compartilhados e de suporte devem

ser promovidos pelo ambiente acolhedor, devem ser projeta-

Sala de boas-vindas

dos de maneira holística, proporcionando um equilíbrio entre

Espaço Social

os espaços privativos e compartilhados, eles são a chave para o sucesso. Visando através das diretrizes oferecer o suporte espromovendo segurança e dignidade.

‘Snugs’

Acreditamos que se os requisitos qualitativos universais são atendidos, a provisão espacial pode se adaptar para responder a várias tipologias, como ‘clusters’, estúdios, contextos urbanos e garantir a capacidade de construção dentro de orçamentos resultando em projetos de alta qualidade que também são acessíveis. (MACEY; MACLAREN; PENCHEVA, 2020)

Espaço exterior de circulação Salas de suporte Lavanderia Suporte

As recomendações foram desenvolvidas especialmente

para as necessidades especificas de pessoas entre 18 e 25 anos

Armazenamento Sala de funcionários

de idade, contudo por ter sido concebido pela perspectiva dos

Fachada

direitos básicos de moradias (garantia de níveis adequados de luz natural, conforto e segurança) indefere assim de quaisquer

Vistas para o exterior (janelas)

faixas etárias. Direitos esses que normalmente são esquecidos nesses tipos de acomodações, mas que devem ser trabalhadas

Armazenamento

em soluções arquitetônicas, auxiliando para resultados positi-

Espaço privado

vos.

Cafeteria Cozinha de treinamento

trutural necessário para assegurar a saída da situação de rua,

Conceitos chave

Chegada

lho, são as recomendações para acomodações para jovens que

Ambientes/ Elementos

Zona

São então elaborados conceitos chave para servir como

Dormitório Banheiro

metas e padrão de diagnóstico dos ambientes, que se dividem

‘Desktop’

em três grupos.

Kitnet* Tabela 02: Distribuição dos conceitos chaves por ambiente. *Depende da escala e tipologi.

Fonte: Autor, baseado em Emergency home for young people: Recommendations, 2020

Através da tabela acima é possível compreender como

está presente dentre todos os ambientes citados o conceito da qualidade arquitetônica, importante para que o espaço tenha Figura 13: Conceitos chave Fonte: Emergency home for young people: Recommendations.

Conceituação temática

um bom desempenho.

23

Conceituação temática

Espaço Privativo:

É atenta a importância de ter espaços seguros que gerem

o sentimento de pertencimento, proporcionando aos jovens de desenvolver habilidade de controle sobre suas vidas ao ter seu próprio espaço, oferecendo base para edificar sua confiança e sua própria rotina para uma vida independente. (MACLAREN et al; 2020).

Usos Complementários:

Acomodações devem proporcionar tanto estadia quanto

serviços de suporte para jovens que não são capazes, temporariamente, de prover financeiramente para si. Em ordem de prover uma gama de diferentes serviços que ofereçam não apenas apoio emocional, mas prático em relação a criação de um Figura 14: Gráfico de frenquência da incidência dos conceitos chave por ambiente.

Fonte: Autor, baseado em Emergency home for young people: Recommendations, 2020

No gráfico acima o gráfico aborda a distribuição dos con-

ceitos apresentados no documentos de recomendações das arquitetas.

24

Espaço Social:

Segundo MACLAREN et al; 2020, espaços para sociali-

zação devem estar fora do seu espaço pessoal, um lugar onde podem convidar um amigo da escola, família ou assistente social sem ter seu espaço privativo exposto, que possibilite os membros a ter conversas informais e oferecer conselhos sem dar a sensação de claustrofóbica ou institucionalidade.

Espaços compartilhados com uma variedade de escalas e

características provém a sensação de que há lugar para todos, importante para desenvolver habilidades sociais. Devem ser convidativos, interativos, tranquilizador, relaxantes, que permitam explorar e interagir.

Suporte:

Ao projetar esses espaços deve ser levado em considera-

ção ter ambientes destinados ao suporte e atividades socioassistenciais e mentoria. Esses espaços desempenham um papel importante na construção de relações e habilidades para vida, impedindo assim, que as pessoas situação de rua voltem a tais condições. Desenvolvendo oportunidade de educação e trabalho, concedendo confiança para mudar sua condição (MACLAREN et al; 2020).

modelo angariador de fundos (capital) e gerador de receita, tal fundo poderá ser usado para custear os custos de manutenção por exemplo, ou sustentar os custos diários de funcionamento.

Qualquer uso secundário ou complementar do terreno

deve procurar ter função de suporte voltado para a acomodação, dando visibilidade para suas facetas positivas e para integração com a comunidade. São exemplos de usos secundários ou complementares geradores de renda: • Hotel; • Café • Lojas; • Espaço de trabalho;

> Este capítulo faz um levantamento do perfil das pessoas em situações de rua, no contexto nacional e local, de suas características, desafios e políticas públicas destinadas as tais.

02 CIDADÃOS EM SITUAÇÃO DE RUA

Cidadãos em situação de rua

No Brasil, historicamente, a situação de rua deu início

69.932 novas pessoas em situação de rua. Essa conjuntura faz

no período transitório do país-colônia, com um sistema escra-

parte da realidade de diversas cidades grandes, inclusive de

vocrata, para o capitalismo. Devido ser um importante centro países bem desenvolvidos. industrial na época, o Rio de Janeiro, chama atenção pela prá-

O levantamento demográfico é crucial na obtenção de

tica de medidas higienistas ao expulsar a população pobre e informação sobre a população em situação de rua, que têm racializadas das áreas centrais, para então poder lucrar com pessoas com características variadas, desta maneira ajudaninteresse imobiliário.

do na criação de políticas públicas que melhor se adequam

Essas medidas, inicalmente, surgiram como solução pela as especifidades do grupo. Em 2013, Comitê Intersetorial de

necessidade de diminuir casos de varióla, cólera e febre ama-

Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a

rela, contribuindo posteriormente na melhoria urbana e criação População em Situação de Rua (Ciamp-Rua) solicitou a inclusão de fiscalização e regulamentações sanitárias. Porém precon-

da população no Censo de 2020, chegando a realizar teste na

ceitos sociais e morais estavam atrelados ao movimento que cidade do Rio de Janeiro em 2014. Infelizmente, em 2018 o associava a população pobre aos problemas enfrentados, de IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não os inmodo que apenas a elite tivesse acesso a tais avanços.

cluiu alegando dificuldades operacionais e metodológicas para

A constituição de 1988 tratou então como fundamental a realização da pesquisa devido ao grupo não ter endereço fixo.

as questões relacionadas a pobreza e os efeitos conduzidos

Se o pressuposto para a efetivação de direitos fundamentais é o reconhecimento dos indivíduos como sujeitos de direito, e o Censo do IBGE se apresenta como fator essencial à formação de políticas públicas direcionadas à população em situação de rua, conclui-se que, ao excluir de forma desarrazadora estas populações de sua contagem, o IBGE deixa de reconhecer, na prática, mais de 100 mill brasileiros como cidadãos. A presente demanda, trata portanto, de algo que se coloca a priori de qualquer direito fundamental o reconhecimento das pessoas em situação de rua como cidadãos e sujeitos de direito, dignos de serem contabilizados no Censo (DPU apud SARMENTO, 2020, p.39)

pela privatização desenfreada, no item III do artigo 3º constitue como objetivo erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.

26

Ainda nos dias de hoje o passado se faz presente no ce-

nário nacional, com os cidadãos sofrendo com a influência da lógica capitalista baseada no lucro. Por exemplo, as massas construtivas em desuso nas áreas urbanas que não cumprem sua função social para com a cidade, poderiam ser importantes instrumentos para a redução da vulnerabilidade social e emancipação social (SARMENTO, 2020), obstante do problema relacionado, a falta de moradia não é o único que circunda no debate sobre a população em situação de rua, que vivência questões de ordem sistêmica.

Segundo o Decreto nº 40 (Brasil, 2020) no artigo 6º, a

situação de rua é um fenômino social de fatores estruturais, marcado pela desigualdade social, desemprego, insuficiência de renda, a falta de moradia e racismo. Podendo agravar ao não se ter acesso a políticas públicas.

O número de pessoas em situação vem crescendo com

tempo, prova disso está na comparação entre os dados levantados em 2008, pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e em 2016, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), houve um aumento de 219%, cerca de

A margem do consumo e a margem da cidadania, em

uma sociedade “onde o indivíduo é o que tem, se nada tem, nada o é” (LEITE, 2020 p.111). São apontados como os próprios responsáveis pela situação em que se encontram, quando na realidade são os que sofrem violência sistemica. Como é apontado por Resende e Mendonça em seu artigo, População em situação de rua e políticas públicas: representações na Folha de São Paulo, 2019, são avaliados como perigosos e indesejados.

Com isso, pode-se a dificuldade da população de rua de

encontrar espaços físicos e sociais que os acolham ou atendam suas necessidades, sendo um grupo passível de sofrer com a gentrificação, medidas realizadas com o intuito de combater e

Cidadãos em situação de rua

afastá-los do meio urbano. À exemplo, o Japão que recentemente sediou os Jogos Olímpicos na cidade de Tóquio e como medida de “limpeza” expulsou pessoas em situação de rua de áreas próximas ao estádio olímpico, estações de trem e praças (G1, 2021).

A ausência de espaços aborda o desafio no atendimen-

to dos direitos base (higiene, abrigo, pesquisas demográficas, dentre outros). Sendo apontados problemas até em locais destinados a essa população, como as estruturas dos abrigos.

Tem casa tão péssima que o morador de rua prefere ficar no frio. Falta higiene, falta preparo dos funcionários, tem muito furto de pertences, apesar da existência dos maleiros, sem contar o medo de doenças quando há aglomeração. (CORREIA, 2016)

Políticas públicas

São ações realizadas pelos governos (nacionais, estadu-

ais ou municipais) com a participação de entes públicos ou privados com objetivo de garantir direitos de cidadanias para grupos sociais, cultural,étnico ou econômico.

Em seu seu livro, A ineficácia das políticas públicas desti-

nadas à população em situação de rua, 2020, Sarmento crítica a insifuciência em algumas das medidas aplicadas e aborda suas as dificuldades, sendo: • Centro Pop

É um Centro de Referência Especialização para Popula-

ção em Situação de Rua, oferece cursos, alimentação, higiene, atendimento médico e psicológico, sendo assim uma unidade de resgate social.

De acordo com Sarmento, a iniciativa apresenta alguns

problemas: - Apenas 2,8% dos municípios são contemplados com o centro, não promove abrigos para as pessoas que atende; - O usuários não conseguem utilizar os vestiários sem serem percebidos e atendidos por profissionais; - Capacdade de atendimento diário não consegue abranger mais que 5% das pessoas necessicitadas

Figura 15: Centro POP Glória. Fonte: Google Earth

Recife dispões de duas unidades: Centro Pop Glória (Santo Amaro) e Centro Pop Neusa Gomes (Madalena), responsáveis respctivamente pelas RPA 1 e 6 e RPA 2, 3, 4 e 5.

Durante o desenvolvimento deste trabalho houveram ten-

tativas de contatar o Centro Pop Glória, com intuito de realizar perguntas e visitas ao local afim de uma melhor compreensão sobre o espaço, atendimento, equipe e da população local assistida. De primeiro momento foi enviado e-mail para o endereço disponibilizado no site da prefeitura do Recife, logo após, ligações telefônicas e por último mensagens de texto para um contato de um funcionário do centro, fornecido pelo professor Luiz Gomes, não obtendo respostas em nenhuma das três tentativas.

• Programas intituídos pela Política Nacional

Em 2011, o Ministério da Saúde editou a portaria nº

2.488 na qual previa o desenvolvimento de Consulatório na Rua, equipes integradas por profissionais da área da saúde em prol da prestação de serviços de saúde, porém apresentou-se ser inviável, as capitais que conseguiram implementar o programa obtiveram complicaçãoes relacionadas aos trabalhadores que eram sobrecarregados com as responsabilidades assistencias e administrativas.

27

Cidadãos em situação de rua

• Programas de transferência de renda

Programas como o Benefício de Prestação Continuada

(BPC) e Bolsa Família, grandes instrumentos

de atenuação

da extrema pobreza e proteção social, o desafio está na etapa do cadastro que deve ser proveniente de acesso voluntário ou encaminhamentos aos órgãos CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) no qual necessita de uma série de documentações, como comprovante de residência, para solicitar o serviços que devem ser entregues mediantes agendamento prévio. Deste modo sendo um processo com etapas que não se adequam à realidade vivenciada pela população em situação de rua.

A RPA 1 tem o maior percentual 53,99% de con-

centração de pessoas em situação de rua dentre as demais regiões do Recife, como é apresentado por dados de 2014 da 28

prefeitura da cidade para Beltrão (2016), em vista que essa região tem uma baixa densidade habitacional, o fluxo de pessoas constante devido ao comércio, estrutura e proximidade de equipamento públicos.

De acordo com o inciso II do decreto nº 7.053 (Brasil,

2009) é direito da pessoa em situação de rua a convivência familiar e comunitária, sendo assim, retirar essa população dos centros urbanos (comerciais e turísticos) que ocupam impossibilita sua “inclusão social” (LEITE, 2020).

Com isso, ao se constatar que mais da metade dessas

pessoas se concentravam nos bairros da Região Político Administrativa 1 (RPA1), devendo o centro estar localizado nessa região próximo as concetrações, permitindo acesso sem grandes deslocamentos ou afastar do espaço que ocupam.

Figura 16: Mapa de concentração da população em situação de rua por RPA. Fonte: Beltrão, 2016. Adaptado pelo autor

Cidadãos em situação de rua

Mapa de concentração da população em situação de rua na RPA 1

29

Figura 17: Mapa de concentração da população em situação de rua na RPA1. Fonte: Beltrão, 2016.

Adaptado pelo autor

Figura 18: Pessoas em situação de rua em Recife. Fonte: JC Online

> Este capítulo apresenta três estudos de casos de espaços destinados ao atendimento à população em situação de rua, utilizados como referência projetual.

31

03 ESTUDOS DE CASO

Estudos de caso

The Bridge Homeless Assistence Center

O complexo de seis edifícios tem aproximadamente

6.900 m² e está localizado na cidade de Dallas, Texas (EUA), teve sua execução finalizada em 2008 e projeto desenvolvido pelos arquitetos da Overland Partners. Detém certificado LEED Prata por integrar o reuso de armazém preexistente no qual estava vago, o uso da luz natural, reutilização das águas cinzas e teto verde. Sendo referência em centros que trabalham com a população em situação de rua, ganhando premiações como o Prêmio Rudy Bruner de Excelência Urbana em 2011.

O projeto promove abrigo diurno, abrigo emergencial no-

turno e moradia transitória para a população em situação de rua local. Oferece também em suas instalações serviços de assistência médica, mental e de dependência química, agência de empregos, lavanderia, biblioteca e refeições três vezes ao dia.

Figura 19: Pátio entre as edificações do complexo. Fonte: Archdaily

32

Tem como objetivo projetual:

• Acabar com a situação de rua em Dallas através da disponibilização do abrigo integrado a uma rede de suporte contínuo para assim garantir a transição dos indivíduos de volta a moradia permanente; • Reduzir gastos operacionais para pessoas em situação de rua em serviços como polícia, cadeias, hospitais, dentre outros.

Dessa maneira voltando os recursos escassos para os casos mais recentes; • Reduzir o impacto negativo nas pessoas que experienciam a situação de rua como crimes de necessidade, pedância, conglomerado em espaços públicos e o uso impróprio de tais ambientes; • Ter um abrigo que acolha sem isolar ou estigmatizar a população, um local seguro, digno e respeitoso. Incorporando o transporte, espaços verdes e equipamentos públicos;

Estudos de caso

• Projetar um ambiente que gere uma imagem positiva sobre a população que é atendida gerando atitude humanitária da comunidade em relação a situação enfrentada por essas pessoas.

Contexto Urbano

O equipamento ocupa uma quadra e está localizado em

um distrito de galpões na borda do centro da cidade, próximo do mercado agrícola e apenas algumas quadras da prefeitura onde muitas pessoas em situação de rua se concentram.

O distrito que anteriormente era conhecido por ser uma zona comercial teve o declínio das atividades econômicas devido a suburbanização e com o processo de desindustrialização, atualmente, tem uma grande presença de estacionamentos e vias que se conectam o centro a rodovia interestadual

É mais adensado em direção ao norte e leste com o in-

tuito de minimizar os impactos no entorno e para permitir uma possível expansão, as fachadas dos edifícios que constituem o complexo são voltadas para calçada a fim de criar uma interface arquitetônica que se comunica com seu as edificações circunvizinhas, no seu caso um armazém desocupado, mercado

33

e uma escola pública.

É muito importante enfatizar a sua locação por estar pró-

ximo do centro e ter uma boa visibilidade cívica, em especial

Figura 20: Mapa da área do “Bracelete de Esmeralda” onde se encontra. Fonte: GFF

por estar perto do seu público alvo sem surgir a necessidade de grandes deslocamentos, oferecendo suporte sem afastar essas pessoas do espaço já familiarizado por elas. Permitindo assim um fácil acesso as instalações e suas áreas adjacentes.

Houve uma resistência local advinda do interesse comer-

cial à ideia do centro de assistência por temer que sua construção poderia prejudicar o desenvolvimento habitacional na área de sua implantação, mas obteve o efeito contrário sendo considerado um dos melhores edifício do território, conectado a uma gama de espaços públicos, transporte e caminhos pedestrianizados.

Figura 21: Implantação vista por satélite. Fonte: Google Earth

Estudos de caso

Figura 22: Vista interna voltada para o pátio. Fonte: Archdaily

34

História

conclusão da necessidade de planejar a expansão dos progra-

mas dos centros assistenciais, como o funcionamento 24 horas,

Segundo o documento produzido pela Bruner Founda-

tion, ‘Gold medal winner the bridge homeless center, 2011, no abrigo e contínuo cuidado e serviços. Criando uma força tarefa começo do século Dallas passava por uma crise relacionada ao composto por lideranças cívicas e empresarial, trabalhadores crescimento de pessoas em situação de rua chegando a conta-

sociais, voluntários, funcionários públicos e da área da saúde,

bilizar cerca de 6.000 pessoas, muitas dessas se concentravam deste modo recebendo participação pública e política no debate no centro da cidade, passando os dias em parques, edifícios e workshops, adquirindo 59% dos votos aprovando para o uso e vias públicas. Muitos dos crimes cometidos eram realizados do fundo para a construção do centro. por pessoas desse grupo, comumente por necessidade, o que refletia numa percepção negativa dos comerciantes, que acre-

Impacto:

ditavam na interferia do grupo social no desenvolvimento eco-

Para os indivíduos em situação de rua:

nômico, chegando assim a criar soluções ‘antimendigos’.

• Diminuição em 24% em emergências de saúde;

Ao mesmo tempo se compreendeu que havia um grande • Maiores probabilidade de conseguir um emprego;

gasto exacerbado designado a esse público, chegando à

• Destinação para moradia permanente;

Figura 23: Janelas artísticaS. Fonte: Archdaily

Estudos de caso

• Redução de reincidências;

Programa

• Atenuação no número de pessoas em situação de rua na ci-

dade.

serviço incomum, criando uma gama de espaços que permitisse

Para o bairro:

• Queda de 6% da criminalidade local;

Visando um programa que acomodasse um modelo de

a estadia, de gerenciamento de casos, socialização, provedor de serviços e senso comunitário, atendendo assim a diferentes

• Os serviços comunitários realizados em certos programas perfis de usuário. ofertados transformam o cenário urbano; • Aumento no número de voluntário e profissionais na área que normalmente não iriam.

Para comunidade:

• Queda de 20% da criminalidade na zona central; • Desconstrução da visão perante aos indivíduos em situação de rua e suas necessidades.

• Para o orçamento público: • Economia nos gastos públicos que antes eram destinados a prisões, hospitais e instituições psiquiátricas.

Prédio de Boas-vindas: Próximo do pátio de entrada e responsável pela admissão de novos usários - Lavanderia - Correio - Creche - Barbearia - Biblioteca - Salas de aula - Equipe de admissão Prédio de Serviços Três pavimentos prestadores de serviços e dormitório 1 PAV. - Clínica médica - Triagem de saúde - Mentoria - Treinamento

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2 PAV. Serviços de suporte assistencial: - Judiciária - Empregatícia - Habitacional - Administrativa

3 PAV. - Dormitórios masculinos e femininos - Ambientes espaciais e para transgêneros, idosos e convalescentes

Pavilhão Refeitório: No centro no complexo, prover três refeições diariamente Banheiros externos: Da oportunidade dos usuários, independentemente de sua estádia, cuidarem das necessidades pessoais em lugar acessível.

Pavilhão dormitório: Galpão reutilizado com a finalidade de servir como dormitório (abrigo) emergencial para aproximadamente 300 pessoas com as portas sempre abertas para aqueles que se sentirem mais confortáveis em dormir em espaços externos.

Prédio para armazenamento:

Espaço destinado para depósito seguro para os bens pessoais dos usuários com a adição de um canil por observar que muitas dessas pessoas têm cães como companheiros.

Os pátios exercem um papel importante ao servir como elemento conector e espaço de acesso ao complexo, além de ter um espaço externo para jantar e ser um ambiente seguro para os residentes e visitantes.

Tabela 03: Programa, The Bridge Homeless Assistence Center. Fonte: Autor Figura 24: Janelas artísticas. Fonte: Archdaily

Estudos de caso 37

Figura 25: Plantas baixas. Fonte: Archdaily

Estudos de caso

Shelter Home for the Homeless

Projeto desenvolvido pelo Arquiteto Javier Larraz em

entre usuários e atendendo a demandas distintas mediante um complexo programa constituído de dormitórios, cafeteria, oficinas ocupacionais e salas de lazer.

2010, tem 995 m² e busca proporcionar muito além do que alimentação, mas sim gerar oportunidade de melhoria na qualidade de vida da população em situação de rua, está localizado no município de Pamplona, Espanha. Implantado em uma área entre o meio urbano e industrial, com entorno abrangente e aberto com poucas edificações, sendo composto de estação de serviço, corpo de bombeiro e estacionamento, é próximo também do Rio Arga e do Parque Kosterapea que possui um passeio pedastrianizado ligando ao centro urbano.

A proposta assumida para seu projeto foi de uma caixa

silenciosa, que protege seu interior da curiosidade do exterior, manifestando uma imagem tranquila e sóbria. E ainda assim ser flexível e funcional, com interior propiciando a coexistência Figura 26: Vista, Shelter Home for the Homeless. Fonte: Archdaily

38

Figura 27: Situação territorial. Fonte: Archdaily

Estudos de caso 39

Figura 28: Plantas baixas, térreo e 1º pavimento. Fonte: Archdaily

Estudos de caso

Para viabilizar os objetivos de uma boa privacidade a

materialidade é composta por treliças de alumínios, servindo como uma pele, placas ACM e vidros, a eficiência energética está igualmente integrada as metas desse modo empregando placas fotovoltaicas.

Com volumes sólidos e prismáticos em uma escala re-

duzida, centraliza os espaços de serviço e instalações em seu núcleo e os ambientes de convivência (quartos, oficinas, refeitórios e salas de lazer) estão dispostos nas periferias para favorecer na recepção de luz e ventilação natural. A distribuição espacial é racional e modulada, propondo uma arquitetura discreta e sensível com valor razoável para sua execução.

Por ter dois usos distintos, serviços itinerantes e de mé-

Figura 30: Maquete física. Fonte: Laeezarquitectos

dia estância que são abertos para outros grupos, em um equipamento relativamente pequeno, propôs dois acessos em lados opostos, de modo a evitar interferências em ambos programas, facilitando uma independência funcional. No térreo estão o serviço de média estância e uma parcela dos ambientes que oferecem os serviços itinerantes seguindo com o restante no 40

primeiro pavimento.

O centro oferece abrigo e alimentação, dentre outros ser-

viços, em troca aqueles que se beneficiam da instalação devem contribuir com o envolvimento em tarefas diárias de manutenção, como limpeza e jardinagem, assim gerando um compromisso pessoal e positivo com o equipamento.

Figura 29: Elevações. Fonte: Laeezarquitectos

Figura 31: Cortes. Fonte: Archdaily

Um abrigo centrado no acolhimento de indivíduos em si-

tuação de rua promovendo acomodação temporária em Londres, Inglaterra. Deu início pela conversão de uma edificação realizada por Holland Harvey Arquitects em 2020, que no passado foi um supermercado, em um espaço polivalente de suporte para reintegração social, assim se apropriando da estrutura existente com o desafio e questionamento de como um projeto arquitetônico pode auxiliar na reabilitação de pessoas que enfrentam a situação de rua dentre outras vulnerabilidades atreladas a ela.

Figura 32: Dormitórios. Fonte: Archdaily

Já na fase do seu planejamento foi estabelecido que o

centro deveria negar a abordagem institucional e abraçar como princípio um design mais doméstico que remetesse sensibilidade e acolhimento, não apenas para seus usuários como também seus visitantes, para então proporcionar um senso de pertencimento e dignidade. Desse houve uma reflexão em relação a escala, materialidade, tipologia e privacidade dos ambientes variando de acordo com a necessidade apresentada.

Estudos de caso

Shelter Home for the Homeless

Pretende desconstruir a visão negativa atribuída as pessoas atendidas pelo abrigo por intermédio da ideia de permeabilidade visual em alguns ambientes e do programa, com a presença de um café comunitário, convidando o público geral para adentrar no equipamento.

Figura 33: Materiais. Fonte: Archdaily

41

Estudos de caso 42

Figura 34: Perspectiva. Fonte: Archdaily

Não possui vínculo financeiro com o governo, se manten-

madeira para obter a sensação de solidez, qualidade e acon-

do de doações e do dinheiro arrecadado com o café, provando chego ou de azulejos quadrados que enfatizam a cozinha como que é possível atender uma demanda social com qualidade e um recinto afetivo. Os banheiros também utilizaram do mesmo gastando pouco, oferecendo não apenas um abrigo, mas pres-

material da cozinha, mas com cores distintas, assim mantendo

tando assistência médica, formação e ajuda para conseguir em-

um orçamento acessível.

prego e moradia. Funciona 24 horas por dia atendendo cerca

A materialidade foi pensada para contribuir no empode-

de 38 pessoas, contando com ajuda voluntária para realização ramento das pessoas beneficiadas, devido a esses ter uma perde tarefas como limpeza e preparo de alimentos.

cepção de abrigos como parte do sistema, evitando aspectos

O arranjo interno partiu da cozinha posicionada no centro institucionais.

e com os outros espaços irradiando dessa lógica. As mesas do

O projeto trata a privacidade de acordo com o programa,

refeitório estão dispostas de maneira a promover a interação assim as áreas de uso comum são abertas e convidativas à indireta entre os voluntários e usuários. Os materiais escolhidos

teração e contemplação enquanto os espaços mais individuais

se alinham com os objetivos sociais do projeto, como o uso da

são mais reservados. Essa lógica é aplicada paras os acessos,

Estudos de caso

havendo uma diferenciação para a destinada para o café, convidativa grande e aberta, e da designada para os usuários, reservada e se assemelha a porta de uma residência.

Impacto em um ano:

120 pessoas receberam suporte para acomodações permanentes; 14.040 camas fornecidas; 62 pessoas receberam suporte para empregatício; 14.000 refeições servidas 148 sessões de mentoria para 51 indivíduos.

Figura 36: Permeabilidade visual. Fonte: Archdaily

Figura 35: Cortes. Fonte: Archdaily

43

Estudos de caso 44

Figura 37: Planta baixa. Fonte: Archdaily

PROJETOS

ESPAÇO SOCIAL

SUPORTE

ESPAÇOS PRIVATIVOS

ASPECTOS INFLUENCIADORES USO COMUNITÁRIO

The Bridge Homeless Assistence Center Shelter Home for the Homeless

ASPECTO IDENTITÁRIO

ASPECTO SOCIOCULTURAL

ASPECTO FUNCIONAL

ASPECTO CONSTRUTIVO

Estudos de caso

CONCEITOS CHAVE

Shelter from the Storm Tabela 04: A/nálise perante os conceitos chaves aplicados em Emergency Home for Young people, 2020 e aspetos influenciadores, PASTÓRIO; OLDONI 2017. Fonte: Autor

Os estudos de caso tiverem um importante papel para

compreensão de como o objeto arquitetônico pode ser desenvolvido para o atendimento de pessoas em situação de rua, com um espaço que expresse o sentimento de acolhimento através dos seus materias e da sua escala.

Assim os projetos analisados apontam a necessidade de:

- Estar próximo dos locais de concentração dos usuários; - Proporcionar integração urbano social; - Utilizar materiais que rementam a sensação de acolhimento e de lar (residência) - Comportar um programa diversificado; - Permitir a permeabilidade física e visual, se atentando aos ambientes que carecem de maior privacidade.

O abrigo Shelter Home for the Homeless exibiu algumas

disparidades ao ser comparado com os demais projetos e de acordo os conceitos levantados anteriormente, por estar implantado distante do centro urbano onde se encontra o seu público, no seu programa não há ambientes que exerção estímulo social e por apresentar uma privacidade excessiva, esses dois pontos em conjunto interpretam um problema na integração do local com seu entorno.

45

> Análises territoriais do bairro de Santo Amaro, recortes urbanos e sítio selecionado para implantação do centro de apoio a jovens em situação de rua.

04 ESTUDOS TERRITORIAIS

Figura 38: Mapa de situação do bairro de Santo Amaro.

Fonte: Unibase adaptada pelo autor.

Estudos territoriais 48

Figura 39: Os mapa evolução urbana. Fonte: Plano Centro Cidadão, encontramse do Vol.2 Diagnóstico Urbanístico para o Centro Expandido do Recife, 2018.

O território selecionado para implantação do estudo pre-

Com registros datados no século XVI, Santo Amaro,

liminar se situa no bairro de Santo Amaro, que faz parte da RPA

acompanhou a formação urbana da cidade, foi reduto da colo-

1 (Região Político Administrativa) da cidade do Recife. É uns

nização holandesa durante a invasão no estado e retomado no

dos bairros que pertencem ao Centro Expandido Continental do

dia 15 de janeiro de 1654, no dia de Santo Amaro no qual foi

Recife presente nos documentos elaborados pelo Plano Centro

nomeado. Na metade do século XIX teve as primeiras evidên-

Cidadão lançados em 2018, apresentando estudos, diretrizes e

cias de urbanização com a expansão no entorno da Capela de

propostas urbanas para execução de um planejamento integra-

Santo Amaro das Salinas.

do, uma parceria entre a Universidade Católica de Pernambuco

Com o passar do tempo, assim como em outros bairros cen-

(UNICAP) e a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR).

trais, foi dado espaço para sedes institucionais, comerciais e

mas como consequência disso vêm gerando um grande impac-

QUE, 2020). Teve um processo de esvaziamento das indústrias to nos elementos de qualidade urbana e na paisagem, exigindo e comércio ocasionado pelo fim das atividades portuárias, que um planejamento que equilibre os interesses públicos e de orpassaram a ser exercidas no Porto de Suape.

dem privada, para evitar a sobrecarga na infraestrutura, como

Com a criação do Porto Digital revitalizando as atividades é abordado pelo secretário de Planejamento Urbano do Recife,

no centro, no começo dos anos 2000, o poder público começou Antônio Silva Júnior, em entrevista para o Diário de Pernambua debater ferramentas de incentivo de reocupação, sendo de co em 2015. origem tributária e aumento do potencial construtivo, amplian-

do o coeficiente de construção, de 3 para 5,5.

rio Melo, Cruz Cabugá, Norte e Rua da Aurora, é alvo de gran-

Nos dias atuais o quadrilátero, formado pela Avenida Má-

Em reflexo as estratégias aplicadas para aumentar a des empreendimentos e altos prédios que vão muito além do

atratividade do bairro, o mercado imobiliário e o polo religioso

Estudos territoriais

de serviços diminuindo a densidade habitacional (ALBUQUER-

gabarito previamente estabelecido por edificações mais antigas

vêm ocupando e mostrando um grande interesse no território,o que constituem a paisagem do bairro, muito criticado por urbade Pernambuco em 2015.

nistas por não proporcionar a divisão do terreno com a

4

3 49

2

1

Figura 40: Lotes disponíveis próximos ao Quadrilátero. Fonte: Software SolAr

Estudos territoriais

comunidade local e por não apresentar uma interação com o entorno. Assim, uma área que enfrentava o abandono de ter-

Art.61 – Os Empreendimentos de Impacto são aqueles usos que podem causar impacto e/ou alteração no ambiente natural ou construído, ou sobrecarga na capacidade de atendimento de infraestrutura básica, quer sejam construções públicas ou privadas, habitacionais ou não habitacionais. Parágrafo único – São considerados Empreendimentos de Impacto aqueles localizados em áreas com mais de 3 ha (três hectares), ou cuja área construída ultrapasse 20.000m² (vinte mil metros quadrados), e ainda aqueles que por sua natureza ou condições requeiram análises específicas por parte dos órgãos competentes do Município. (RECIFE, 1996 apud ALBUQUERQUE, 2020 p. 17)

renos e galpões teve um crescimento rápido demais, com mudanças do modelo tradicional de uso e ocupação.

A seleção do lote levou em consideração dados previa-

mente abordados, como também a próximidade Santo Amaro está próximo das áreas de grande concentração da população em situação de rua, permite o crescimento urbano e apresentou disponibilidade de diferentes lotes

para implantação do

projeto. A escolha do lote foi dada mediante a critérios como pontecialidade, próximidade com eixos viários, acesso à transporte, equipamentos e espaços públicos, assim como apresen-

Não obstante de sua ocupação densa em um lote com

de concentração.

Avenida Cruz Cabugá e a Avenida Mário Melo para implantar

tar oportunidades interação comunitária. Os lotes 2, 3 e 4 não escala semelhante à de uma quadra, propõe se apropriar tamforam selecionados devido a estarem mais distantes dos locais bém de uma área significativa configurada pelo cruzamento da

O sítio apresenta uma grande potencialidade de desen-

volvimento dinâmico urbano e de participação de lideranças co-

um edifício garagem, incidindo no desperdício da potencialidade presente no bairro, apenas para armazenamento de veícu-

munitária. Está próximo das maiores concentrações de pessoas los. em situação de rua e de fácil acesso, permitindo que sejam 50

Com uma relação dissonante com seu entorno em ter-

atendidos sem grandes deslocamentos dos locais onde já estão mos de escala e gabarito, a exemplo da desproporcionalidade familiarizados. É importante salientar que Albuquerque (2020) com as edificações existentes nas quadras com lotes lindeiros a

disserta sobre o futuro empreendimento previsto para o sítio, Rua Rocha Pita. O projeto representa uma grande interferência atualmente um vazio, analisado neste trabalho. Um templo mo- para malha urbana do bairro, já que será necessário mudanças numental para a Assembleia de Deus, com área totalizada em no plano funcional e circulação no entorno, segundo parecer da 32.298 m², uma alta densidade construtiva, um grande bloco CTTU (Companhia de Trânsito e Transporte do Recife). Assim

maciço ocupando toda a superfície do lote com investimentos sendo um objeto arquitetônico não condizente com os aspectos de R$ 300 milhões. É estimado ter a capacidade de receber en- urbanos de onde está localizado.

Para a elaboração dos mapas que possibilitaram uma tre 24 a 27 mil pessoas, destinandose ao uso não habitacional maior completude das análises foram consultados a plataforma com atividade religiosa e educativa.

Afirma em seu memorial justificativo (2012) que o pro-

jeto seguiu as diretrizes de requalificação e valorização do polo

ESIG Informações Geográficas do Recife, Google Earth, Progra-

ma SolAr e dos dados contidos nos quatros volumes do Plano

religioso do bairro, coerência nos índices urbanísticos da área Centro Cidadão (2018).

Informações foram dispostas dois recortes da área, um e implantação que busque valorizar a paisagem urbana. Porém seus elementos geram e são considerados de grande impacto, deles trata das investigações de menor escala no entorno imecomo é descrito pela Lei 16.176/96, referente ao uso e ocupa- diato do sítio, enquanto o outro, de maior amplitude, averigua ção do solo.

os elementos de caráter urbano.

Estudos territoriais

Incidência solar e frequência dos ventos

Baseando-se na carta solar gerada pelo programa SolAr é

possível interpretar as características da incidência solar e frequência dos ventos na cidade do Recife. A cidade recebe muitas horas de luz natural, principalmente, durante o verão, onde os dias são mais longos. A temperaturas variam entre temperaturas próximas de 20ºC e que podem ultrapassar 25ºC, durante todo o ano.

Os ventos são mais frenquentes nas direções leste, su-

deste e sul. Os ventos do sudeste estão presente durante todo o ano, enquando os do sul tem uma frequência maior nas estações outono e inverno, e do leste, primavera verão.

Figura 42: Carta solar da cidade do Recife. Fonte: Software SolAr

51

Figura 41: Frequência dos ventos do Recife. Fonte: Software SolAr

Figura 43: Carta solar de Recife com temperaturas anuais. Fonte: Software SolAr

Estudos territoriais

Figura 44: Diagrama de estruturação da análise territorial.

Fonte: Unibase adptada pelo autor

Recife

52

Santo Amaro

Entorno Imediato

Elementos da paisagem

12 14

13

11

9

10

8

7

1 Complexo Educacional 2 Parque Treze de Maio 3 Assembléia Legislativa do Estado de

6

Pernambuco (ALEPE) 4 Escola de Referência em Ensino Médio Ginásio Pernambucano 5 Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco 6 Ouvidoria da Secretaria de Defesa Social

1

7 Rede Globo

5

8 Largadouro 9 Tv e Radio Jornal do Comércio 10 Cais da Aurora 11 Banco Central do Brasil 12 Secretaria de Planejamento e Ges-

4

tão 13 Rádio Clube de Pernambuco 14 Diário de Pernambuco Figura 45: Mapa de elementos da paisegem. Fonte: Unibase adaptada pelo autor com base no ESIG.

2 3

Estudos territoriais

Figura 46: Complexo Educacional. Fonte: Google Earth

Figura 50: Tribunal de Contas de Pernambuco. Fonte: Google Earth

Figura 47: Parque Treze de Maio. Fonte: Google Earth

Figura 51: Ouvidoria da Secretaria de Defesa Social: Google Earth

Figura 48: ALEPE. Fonte: Google Earth

Figura 52: Rede Globo. Fonte: Google Earth

Figura 49: Escola de Referência em Ensino Médio Ginásio Pernambucano. Fonte: Google Earth

Figura 53: Largadouro. Fonte: Google Earth

54

Estudos territoriais

Figura 54: Tv e Rádio Jorna do Comériciol. Fonte: Google Earth

Figura 55: Cais da Aurora. Fonte: Google Earth

Figura 58: Rádio Clube de Pernambuco. Fonte: Google Earth

55

Figura 56: Banco Central do Brasil. Fonte: Google Earth

Figura 57: Secretaria de Planejamento e Gestão. Fonte: Google Earth

Figura 59: Diário de Pernambuco. Fonte: Google Earth

Estudos territoriais

Cores e texturas

A maior parte das edificações no entorno dispõe de uma

variedade de cores de cores que vão além do brando e cores neutras. As texturas ajudam a identificar a materialidade que constituem a paisagem, foi identificado nas fachadas materiais como: • Vidro • Tijolo aparente • Elementos vazados (gradil e cobogó) • Estrutura metálica aparente • Concreto • Alvenaria • Revestimento cerâmico Figura 60: Gráfico porcentagem cores encontradas no entorno. Fonte: Autor

56

Figura 61: Mosaico de cores e texturas entorno imediato. Fonte: Google Earth

Mapa zoneamento legislativo

Figura 62: Mapa do zoneamento legislativo do recorte urbano de Santo Amaro. Fonte: Unibase adaptada pelo autor com base no ESIG.

Estudos territoriais

O zoneamento legislativo serve para contemplar a aná-

lise pela disposição dos parâmetros urbanísticos e legislativos

TSN

µ

tentes no recorte urbano realizado pelo autor, de qualidade

AFASTAMENTO INICIAL MÍNIMO (Afi) FRONTAL

no território estudado. No mapa é exposto todas as zonas exis-

ferente ao sítio, no caso ZC – Zona Centro e suas especificidades presente no Plano Diretor do Munícipio do Recife, Lei nº 18.770/2020.

A Zona Centro faz parte da Macrozona do Ambiente Cons-

truído (MAC) que é correspondende por um conjunto edificado corresponde a região central da cidade, de vasta densidade construída e presença de patrimônio cultural. Deve promover o desenvolvimento urbano priorizando o pedestrianismo e ocupação, consonante com suas características, das áreas obsoletas e vazias. Possui: Coeficiente de aproveitamento: 1.0 Coeficiente de aproveitamento mínimo: 0.5 Coeficiente de aproveitamento máximo: 5.0

O parcelamento, edificação ou utilização compulsória es-

tão previstos no artigo 99, classificados como instrumentos urbanísticos para desempenho das funções sociais, aplicados em imóveis não edificados (com área superior a 500 m²) ou subutilizados. Nos terrenos com mais de uma divisa com logradouro deve ser prevista áreas de ajardinamento.

Lei de uso e ocupação do solo (LUOS – Lei nº16.176/96)

I Taxa de solo natural (TSN): Percentual mínimo de área

que deve permanecer em suas condições naturais.

II Coeficiente de utilização do terreno (µ): Índice que

multiplicando pela área do terreno, resulta na área máxima de construção permitida.

III Afastamentos das divisas do terreno (Af.): São as

distâncias entre a edificação e os limites do lote.

LATERAL E FUNDOS EDF. ≤ 2 PAV.

ZUP1

25

4,00

5,00

informativa, só serão discutidos nesse tópico a legislação re-

de padrões morfotipológicos e ocupações distintas. Está zona

58

PARÂMETROS URBANÍSTICOS ZONA

Af = Afi + (n 4) 0,25 Al = Ali + (n 4) 0,25 Afu = Al

NULO/1,50

REQUISITOS ESPECIAIS

EDF. > 2 PAV.

3,00

A,B,C,D

Onde: n = Número de pavimentos Af= Afastamento frontal Al= Afastamento lateral Afi= Afastamento frontal inicial Ali= Afastamento lateral inicial Afu = Afastamento de fundos

Tabela 05: Parâmetros urbanísticos. Fonte: Anexo 10 da Lei nº 16.176/96

Mapa de vegetação

Tendo em vista o acesso ao

equipamento pela população em situação de rua estabelecidas nas localidades próximas, foi analisado as condições de conforto nos possíveis deslocamentos exercidos por eles.

Um dos fatores que podem interferir na qualidade do percurso percorrido é o de vegetação, que sombreiam e amenizam as temperaturas nos caminhos em que estão presentes.

Há uma grande massa vegeta-

tiva situada no Parque 13 de Maio e na quadra adjacente com o complexo escolar, ao norte alguns lotes vazios apresentam concentração vegetativa assim como o leito do Rio Capibaribe, que dispõe de um trajeto arborizado e participação do manque.

Figura 63 : Mapa de vegetação do recorte urbano de Santo Amaro.cFonte: Unibase adaptada pelo autor.

Mapa de calçadas sombreadas

Figura 64: Mapa de calçadas sombreadas do recorte urbano de Santo Amaro.Fonte: Unibase adaptada pelo autor.

Como apontado no tópico anterior, o trajeto percorrido

Estudos territoriais

para se ter acesso o equipamento deve ser levado em consideração. Neste mapa é investigado de modo esquemático o sombreamento linear das calçadas oriundo da projeção vegetativa e das massas construtivas do entorno. Dividido em três aspectos avaliativos:

Calçada não sombreada:

Calçadas que não recebem sombreamento algum, estando exposta ao sol durante o dia.

Calçada parcialmente sombreada:

Calçadas sombreadas por vegetação intralotes e/ou edificações em determinados períodos do dia. Também podendo sofrer com a largura das vias, sendo observado em vias menores a facili-

Figura 65: Calçada não sombreada Avenida Mário Melo. Fonte: Google Earth

dade da calçada se beneficiar do sombreamento do edificado.

Calçada muito sombreada:

Calçadas que na maior parte do dia permanecem sombreadas.

Os trajetos mais sombreados são aqueles próximos as instituições de ensino público, como é o caso do Ginásio Pernambucano. O Parque 13 de maio embora porte uma grande variedade vegetativa não proporciona sombreamento em boa parte do

61

seu perímetro.

Figura 66: Calçada parcialmente sombreada Rua da Aurora Melo. Fonte: Google Earth

Figura 67: Calçada sombreada Avenida Mário Melo. Fonte: Google Earth

Mapa de eixos viários

Figura 68: Mapa de eixos viários e espaços públicos polares do recorte urbano de Santo Amaro. Fonte: Unibase adaptada pelo autor com base nas informações do Plano Centro Cidadão (2018)

Estudos territoriais Figura 69: Avenida Cruz Cabugá. Fonte: Google Earth

Figura 71: Rua da Aurora. Fonte: Google Earth

63

Figura 70: Avenida Mário Melo. Fonte: Google Earth

Figura 72: Rua do Hospício. Fonte: Google Earth

O mapa baseou-se nas definições retratadas no volume

2 do Plano Centro Cidadão (2018) em relação a tipologia do espaço público viário. O território tem uma importante via de eixo metropolitano, Avenida Cruz Cabugá, e de eixo urbano, como é o caso da Avenida Mário Melo no qual o sítio tem acesso.

Espaços públicos polares: Caracterizam as articulações nos conjuntos de rotas, priorizando o deslocamento a pés.

Vias de eixo metropolitano: Conectam cidades.

Vias de eixo urbano:Conectam dois ou mais bairros.

Vias locais: Podem derivar dos eixos metropolitanos ou

urbanos e articulam áreas de um ou dois bairros.

Vias micro locais:Conector entre vias locais ou vias sem

saídas derivadas de qualquer outra via.

Figura 73: Rua João Líra. Fonte: Google Earth

Mapa de pontos de ônibus

Em caráter de acesso foi le-

vantado a localização de pontos de ônibus que podem servir aqueles indivíduos que se deslocam por meio de transporte coletivo. Há um grande número de paradas próximas ao sítio, estando concentradas na Rua João Lira e Avenida Cruz Cabugá.

Figura 74: Mapa de pontos de ônibus do recorte urbano de Santo Amaro.

Fonte: Unibase adaptada pelo autor.

Mapa da malha cicloviária

A malha cicloviária é mais uma

das leituras que integram a diversidade do descolamento da população em situação de rua. O centro expandido dispões de percursos destinados ao tráfego de ciclistas, no recorte é possível identificar a conexão direta da malha unidirecional da Avenida Mário Melo com a malha bidirecional dispostas nas vias e na lateral da Rua da Aurora voltada para as margens do Rio Capibaribe. Três bicicletários que oferecem o serviço de aluguel de bicicletas que podem ser usados.

O sítio oferece assim, uma va-

riedade de percursos não só pelo público alvo como de mesmo modo funcionários, voluntários e quaisquer outro indivíduo que vá se deslocar para o equipamento.

Figura 75: Mapa da malha cicloviária do recorte urbano de Santo Amaro. Fonte: Unibase adaptada pelo autor baseada no ESIG.

Mapa de limites morfotipológicos

Santo Amaro era considerada

uma zona industrial, até o início dos anos 60, predominam aspectos morfológicos que remetem a sua história, como lotes de grandes proporções, que anteriormente, davam espaço para ocupação industrial e de galpões.

O mapa elaborado no volume 2

do Plano Centro Cidadão (2018) tem como finalidade identificar as porções territoriais passíveis de transformação

morfotipológica

das

quadras,

totalizado no documento 16 zonas, classificadas como limite morfológico, no território estudado nesse trabalho foi identificado duas das dezesseis, classificadas como:

Limite morfotipológico I:

Área de setor de preservação morfotipológica, com quadras e lotes pequenos, regulares e ortogonais, edificações sem recuo e de uso residencial.

Limite morfotipológico II:

Área industrial, com quadras e lotes grandes, regulares e ortogonais, edificações mais verticalizadas com uso não residencial (Institucional, comercial, educacional e religioso)

Figura 76: Mapa de limites morfotipológicos do entorno imediato ao sítio. Fonte: Unibase adaptada pelo autor com base no Plano Centro Cidadão (2018)

Mapa de tipologias

Existe uma variedade tipoló-

gica nas quadras circunvizinhas ao sítio, que refletem a abordagem do mapa dos limites morfotipológicos e a relação da tipologia com os usos, apresentando uma predominância de casas de porta de janelas tradicionais e tipo térreas sobrado.

Algumas edificações foram modificadas, descaracterizadas, para se adequar ao uso aplicado ou, simplesmente, alteradas por vontade do proprietário como é perceptível nas casas de porta e janela e sobrados modificados.

Figura 77: Mapa de tipologias do entorno imediato ao sítio. Fonte: Unibase adaptada pelo autor baseado no Plano Centro Cidadão (2018)

Mapa de Gabarito

Através do mapa de gabarito é

possível identificar a proporcionalidade e escala do entorno imediato, a maior das edificações tem um baixo gabarito, sendo térreas ou com mais dois pavimentos.

Os corte esquemáticos permite

obesevar a relação das diferentes escalas a partir dos logradouros circuvizinhos ao sítio.

Figura 78: Mapa de gabarito do entorno imediato ao sítio. Fonte: Unibase adaptada pelo autor baseado no Plano Centro Cidadão (2018)

Estudos territoriais Figura 79: Corte esquemático Rua São Geraldo. Fonte: Autor

69

Figura 80: Corte esquemático Rua da Fundição. Fonte: Autor

Estudos territoriais Figura 81: Corte esquemático Rua Rocha Pita. Fonte: Autor

70

Figura 82: Corte esquemático Avenia Mário Melo. Fonte: Autor

Mapa de usos

Os usos são diversificados e

mostra mais uma vez a variedade dos perfis presentes e que se beneficiam do que é oferecido pela área., com usos institucionais, educacionais, comerciais e habitacionais.

Figura 83: Mapa de cheios e vazios do entorno imediato ao sítio.

Fonte: Unibase adaptada pelo autor.

Mapa de sombras

O mapa de sombras permite

análise da variação do comportamental do sombreamento proveniente das edificações do entorno em diferentes períodos do dia.

Utilizando uma maquete eletrôni22 de junho às 9:00 horas

22 de junho às 17:00 horas

ca do entorno para gerar simulações do percurso do sol, então aplicado quatros momentos para o estudo, divididos inicialmente, pelo solstício de inverno e verão e em seguida nos horários da manhã (9:00) e da tarde (17:00).

Durante o inverno as horas de incidência solar são menores e em detrimento da angulação solar as sombras tem menores alcances em comparação com o verão no

72

qual as projeções das edificações, em especial as de maior gabarito, sombreiam mais a superfície.

22 de dezembro às 9:00 horas

22 de dezembro às 17:00 horas

Figura 84: Mapa de sombras dos edifícios do entorno imediato por meio de maquete eletrônica e cartas solare do recife. Fonte: SolAr adaptado pelo autor.

Em 2013 foi aprovado pela Secretaria de Controle e De-

O projeto foi duramente criticado por arquitetos e ur-

banistas da cidade, por apresentar irregularidades técnicas a respeito do impacto urbano no qual o objeto arquitetônico cau-

senvolvimento Urbano da Cidade do Recife o novo templo da saria não apenas ao bairro, como também ao centro da cidade.

Igreja Evangélica Assembleia de Deus, no mesmo lote escolhi- Com isso as críticas e pontos levantados neste trabalho tem do para implantação do projeto do Centro de Apoio. O terreno uma visão inteiramente imparcial e técnica em relação a futura que anteriormente era um conglomerado de antigos armazéns construção do templo, apontando soluções divergentes a tal. foi comprado pela congregação, totalizando cerca de R$ 300 No memorial justificativo de empreendimento de impacto milhões de reais em investimentos para sua realização.

de setembro de 2012, é previsto um equipamento de 5 pavimentos, totalizando 32.298,24m² de área construída, com 42

Estudos territoriais

Novo templo da IEAD

metros de altura, o tornando o maior templo da Assembleia de Deus do Brasil. Também será o ocupado o terreno ao lado, localizado no cruzamento da Avenida Mário Melo e Avenida Cruz Cabugá, com um edifício garagem de 17 andares (12 sendo para o estacionamento de 582 veículos) com 14.597,11m² construídos, ambos estarão localizados próximos do templo preexistente da igreja.

A proposta anuncia três pontos:

- Requalificação e valorização do polo religioso local; - Adoção de índices urbanísticos de acordo com a área; - Valorização da paisagem urbana, com espaços verdes e passeios públicos como elementos de destaque.

Estima-se que deverá atender dentre 24 a 27 mil pesso-

as, aumentando significativamente o fluxo, sobrecarregando a malha viária que necessitaria de ajustes para comportar essa quantidade de pessoas. As áreas verdes são tímidas e sem tratamento paisagístico de modo a não oferecer sombreamento para transeuntes, os passeios públicos se resumem a calçadas simples contornando o perímetro do lote sem elementos atrativos como bancos e canteiros.

O mega templo tem uma massa construtiva densa e de

altura intimidadora, que ultrapassa o gabarito máximo das pequenas residências localizadas na Rua Rocha Pita, de modo que é desproporcional e não condizente com a linguagem do seu entorno. A sua dimensão pode prejudicar na incidência de luz Figura 85 e 86: Volumetria da proposta para o novo templo. Fonte: Memorial justificativo de empreendimento de impacto IEAD 2012.

no período vespertino e dos ventos provenientes do sul e sudeste, justamente por ocupar boa parte do térreo do lote.

73

Estudos territoriais 74

Figura 87: Diagrama esquemático da distinção de gabarito entre o novo templo e as edificações preexistentes na Rua Rocha Pita. Fonte: Albuquerque 2020 modificado pelo autor.

Tendo em vista a repercussão urbano ambiental é inicia-

O térreo, de ambos os edifícios, não detém de permeabi-

mentos religiosos à paisagem urbana, objetos arquitetônicos

lidade física ou visual, os tornando equipamentos introvertidos

pesados e que se distinguem do contexto onde estão inseridos

e que não se comunicam devidamente com a escala huma-

e que visam atender milhares de fiéis. Como a exemplo do

do uma reflexão sobre a relação do impacto de mega monu-

na. Assim como designa grande quantidade de área construída Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus em para o armazenamento de veículos em um espaço importante São Paulo. da cidade que poderia ter outro destino.

Custando cerca de R$ 700 milhões de reais, com capa-

cidade para 10 mil pessoas sentadas e possuindo uma área de 72.000m² construídos em um terreno de 35.000m² e chegando a 55m de altura, com uma morfologia cubica se destaca na paisagem além de ostentar colunas robustas e de cores e texturas que remetem a riqueza. O templo é o reflexo do objetivo de igrejas de criar espaços de adoração que sirvam como capital simbólicas da fé, mas que por vezes falham ao desconsiderar as consequências urbanas atreladas a obras de tal magnitude.

Vale salientar, que empreendimentos de grandes implica-

ções urbanas não estão exclusivamente relacionados a religião, como podemos notar no cenário recifense e em sua região metropolitana, é comum encontrar edificações que negam as carências do local onde estão inseridas. A cidade está propensa a sofrer com influência dos interesses daqueles que detém do poder religioso, público, administrativo e principalmente do caFigura 88: Implantação do novo templo e edifício garagem. Fonte: Memorial justificativo de empreendimento de impacto IEAD 2012.

pital.

Com isso foi feito um levantamento das igrejas situadas

em Santo Amaro, suas vertentes e sua quantidade, com o intuito de analisar se o bairro realmente apresenta demandas voltadas para o uso religioso. Segundo a prefeitura do Recife, Santo Amaro tem uma densidade populacional baixa, 73 habitantes/hectare, especialmente se comparado com outros bairros como Ipsep, Boa Viagem e Casa amarel

O resultado aponta para um grande número de igrejas,

33 ao todo, onde 21% são ocupadas pelas igrejas Universal e Assembleia de Deus e 82% de todas elas são da vertente cristã

Estudos territoriais

evangélica. Levando em consideração a grande quantidade de espaços de prática religiosa e densidade populacional local é possível notar que parte do público atendido por essas igrejas Figura 89: Templo de Salomão, São Paulo. Fonte: vejasp.abril.com

são moradores de bairros circunvizinhos e até mesmo cidades próximas como Olinda e Paulista, inclusive um dos objetivos do novo templo é oferecer uma base para receber fiéis de outros lugares do Brasil. a que possuem densidade acima de 100 habitantes/ hectare.

Igrejas em Santo Amaro

Igreja Evangélica Congrecional de Pernambuco

Igreja Adventista do Sétimo Dia

Igreja Universal

Igreja Evangélica Assembléia de Deus

Igreja Matriz deNossa Senhora da Piedade

Capela Jesus Misericordioso

Casa Adoração Deus é Amor

Igreja da Graça

Igreja da Sociedade Bíblica do Brasil

Shekinah Igreja Missionária

Igreja Verbo da Vida

Igreja Batista

Igreja Evangélica Pentencostal

Cruzada dos Militares Espirítas

Igreja do Nazareno

Paróquia São Sebastião

Igreja Presbiteriana Figura 90: Mapa das igrejas, em vermelho, do bairro de Santo Amaro Fonte: Unibase adaptada pelo autor.

Figura 91: Gráfico das igrejas em Santo Amaro Fonte: Autor.

75

Estudos territoriais

privados, ressoando na perda do espaço público e de ambiente

Vertentes

de coexistência dentre os diferentes, alteridade.

A crítica nasce então dos preceitos apresentados por Da-

vid Harvey em Cidade Rebeldes, 2014, discutindo sobre o direito à cidade e revolução urbana, onde as cidades não trabalham seus espaços para responder demandas reais apresentadas pela população, mas sim atender o interesse de uma pequena parcela de tal, no qual grupos marginalizados e vulneráveis compreenderam que a luta pela cidade envolvia suas próprias lutas, tendo os espaços urbanos como máquina geradora de novas ideias e de movimentos revolucionários.

Evangélica

Católica

Espiríta

Outras

Figura 92: Gráfico das vertentes das igrejas em Santo Amaro Fonte: Autor.

A procura das igrejas por espaços amplos na cidade que

proporcionem estruturas maiores para acomodar maior público vem encontrando lugar para instalação de novas sedes nos bairros centrais como Santo Amaro, por ter edificações caracterizadas como galpões e amplas quadras, que fazem parte do 76

seu histórico industrial. Como a exemplo da Igreja Missionária Shekinah que mesmo possuindo 5 templos espalhados pela região metropolitana do Recife, decidiu inaugurar, em 2019 uma nova sede com capacidade de 4 mil fiéis, localizado na Avenida Cruz Cabugá.

A Cruz Cabugá é um eixo viário de grande fluxo de veícu-

los e transporte público, em 2019, foi denominada pelo Diário de Pernambuco como “Corredor da fé”, justamente por apresentar uma grande concentração de equipamentos religiosos de grande porte ocupando boa parte das quadras onde estão implantadas, as demais igrejas do bairro estão espraiadas pelo território e têm dimensões inferiores. Até onde se pode averiguar há assim uma saturação no sistema viário e no uso do solo para este tipo de edificação, manifestando uma propensão à monocultura, tópico debatido pelo filosofo francês Henri Lefebvre.

Lefebvre, dedicou boa parte da sua vida ao estudo da so-

ciedade urbana, para ele cidade é uma combinação complexa de relações de poderes e identidades. É dominada por espaços

Segundo Harvey, o direito à cidade vem da reivindicação

sobre o processo de urbanização, já que o surgimento das cidades precede um excedente de produção, fazendo com que a urbanização seja um fenômeno de classe, ocasionando a monocultura. A monofunção faz parte da fragmentação da vida urbana devido a desigualdade social e a segregação enfatizada pelo meio urbano, dividindo assim as funções de acordo com a classe, e por isso Lefevbre defensor da heterotopia.

O conceito de heterotopia defendido por Lefebvre (radicalmente diferente de Foucault) delineia espaços sociais limítrofes de possibilidades onde “algo diferente” é não apenas possível, mas fundamental para a definição de trajetórias revolucionárias. Esse “algo diferente” não decorre necessariamente de um projeto consciente, mas simplesmente daquilo que as pessoas fazem, sentem, percebem e terminam por articular à medida que procuram significados para sua vida cotidiana. Essas práticas criam espaços heterotópicos por toda parte. Não precisamos esperar a grande revolução para que esses espaços venham a se concretizar. A teoria de Lefebvre de um movimento revolucionário situa-se exatamente no polo oposto: a confluência espontânea em um momento de “irrupção”, quando grupos heterotópicos distintos de repente se dão conta, ainda que por um breve momento, das possibilidades de ação coletiva para criar algo radicalmente novo. (HARVEY, 2014, p. 22)

Neste caso não apenas o número excessivo de templos concentrados em Santo Amaro se enquadra nas falas de Harvey e Lefevbre, como é possível apresentar também outros exemplos locais que podem ser apontados e que também foram alvos de críticas de profissionais da área da arquitetura e do urbanismo por não estarem de acordo com seu entorno, ou ocuparem de forma incoerente o espaço urbano:

Conclui-se como resposta ao novo templo a necessidade

Rita no Bairro de São José

de uma crítica sistemática e técnica ao destino dado na ocupa-

- O Shopping Patteo, em Olinda

ção do solo e quantidade de templos na área, democratizando

- As novas torres residenciais localizadas à margem do Rio Ca-

o espaço urbano, através do desmembramento do terreno es-

pibaribe no bairro de Santo Amaro.

tudado, visando atender as necessidades negligenciadas a população em situação de rua situadas nas proximidades, sendo geradas três áreas dividas por duas novas vias.

Para a realização do projeto do centro de apoio só será

necessária uma dessas parcelas, portanto as outras duas podem ser destinadas para outros usos, dessa maneira permitin-

Estudos territoriais

- As Torres Gêmeas, residencial, próximas ao Cais de Santa

do maior diversidade ao bairro. Devido ao interesse da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, de ter mais uma unidade, poderia ser implantado em uma das parcelas restantes, respeitando não apenas os recuos, mas outras carências urbanas como o solo natural, escala e etc.

Figura 93: Torres gêmeas, São José Fonte: Wikipedia.com.

Com isso sobra uma parcela que pode destinar sua área

para oferecer moradias sociais para grupos socialmente vulneráveis, como a população em situação de rua. Abaixo uma tabela utilizada para estudar a quantidade desejada de residências, de acordo com a dimensão total do sítio sem o desmembramento. De modo então que as três áreas provenientes do desmembramento atendam uma demanda social e ainda sim possibilite a integração dos planos da Assembleia de Deus sem gerar impactos negativos, uma resolução onde todos os envolvidos são beneficiados.

Figura 94: Shopping Patteo, Olinda Fonte: Eniil.com.br

Nº de unidades habitacionais Área

Total

Quadra

Ha

Desejadas

Existentes

Acrescentadas

A1

0,44

44

0

130

A2

0,36

36

0

0

A3

0,5

50

0

0

130

0

130

13.128 1,31

Tabela 06: Quadro de unidades habitacionais por hectare. Fonte: Plano Centro Cidadão, modificado pelo autor

Figura 95: Torres residenciais, Santo Amaro Fonte: triunfoimoveis.com

77

Estudos territoriais

Reforçando assim a ideia de que as decisões para o am-

Mapa de desmembramento

biente urbano devem ser abertas a todos, podendo participar na criação de espaços que reflitam suas necessidades e interesses, convidando para lidar com os problemas de relação urbana e social, tirando o controle das elites e entregando as massas.

Mapa de linhas de força

78

Figura 97: Mapa de desmembramento dolote. Fonte: Unibase adaptada pelo autor.

A partir da concepção das linhas de força foi possível pro-

por o desmembramento do lote, que possui aproximadamente Figura 96: Mapa de linhas de força do entorno imediato ao sítio. Fonte: Unibase adaptada pelo autor.

As linhas de forças se configuram como um traçado es-

pontâneo sobre o território, comunicando como ele se compor-

13.128 m². Com isso é possível se contrapor a monopolização privada do solo em uma zona com potencialidades construtivas e urbanísticas, evitando a incorporação imobiliária de edificações que não diversificam o uso, podendo responder questões

ta. Para tal, um esboço refletindo o desenho gerado pelos eixos de interesse social e atendem a diferentes perfis de usuários. viários, enfatizando o formato do lote, a exemplo da Avenida Por fim, o desmembramento do lote que resultou em três Mário Melo e a Rua Rocha Pita, já as linhas originadas da Rua geometrias com áreas distintas.A área III foi a selecionada Radialista Amarílio Niceas, Rua da Piedade e Tv. do Costa ‘cortam’ o sítio.

para a implantação do centro de apoio por apresentar dimensões condizentes para agregar o programa de necessidades.

> Nesse capítulo será sintetizado todas as recomendações e interpretações dos contextos socio territoriais expostos no escopo deste trabalho.

05 PROSPOSTAS ARQUITETÔNICAS

Propostas arquitetônicas

Diretrizes IMPLANTAÇÃO

ACESSO ESCALA

MATERIALIDADE

EDIFICAÇÃO URBANO

Tabela 07: Diretrizes. Fonte: Autor

- Deve estar próximo dos locais de ocupação das pessoas em situação de rua para garantir a facilidade do acesso sem romper a ligação do indivíduo em que o contexto socio territorial onde está inserido; - O equipamento deve ser implantado de modo com os afastamentos necessários para ter áreas ajardinadas e abertas; Deve estar implantado de modo a tirar bons proveitos da luz e ventilações naturais.

- Ter diferentes tipos de acessos com diferentes finalidades e privacidade; - Ter modos diversos de acesso, principalmente, o pedestrianizado.

- Deve ter uma escala condizente com aspectos apresentados em seu entorno, como gabarito e volume; - Ter escala residencial; - Está coerente com escala humana, não ameaçadora, que possibilite o senso de acolhimento.

-

Deve utilizar de materiais financeiramente acessíveis; Usar de materiais que tragam caráter residencial; Deve escolher materiais duráveis e de qualidade; Usar materiais eficiente e sustentáveis.

- Deve promover aspectos sustentáveis, como reutilização de de águas cinzas e eficiência energética.

- Dever respeitar as morfotipológias e patrimônio cultural; - Promover a democratização do uso e ocupação do solo.

ASPECTOS - Estabelecer senso de pertencimento socio territorial.

INFLUENCIADORES - Atender as carências e condições humanas de caráter coletivo.

80

ACOLHIMENTO SOCIO ASSISTENCIAL INSTITUCIONAL

RECOMENDAÇÕES LARES EMERGENCIAIS

- Organizar a funcionabilidade de acordo com especificidades do público alvo; - Boa relação do objeto com a paisagem - Materiais com boa durabilidade; - Dever apresentar economia de recursos e alto padrão de qualidade.

- Ter um controle localizado na entrada para receber os novos usuários e proteger aqueles que já fazem parte do acolhimento; - Deve conter espaço abertos e em contato com exterior para promover saúde mental e psicológica; - Ter espaços de suporte e assistência; - Ter espaços privativos que promovam o bem estar e o senso de pertencimento.

- Abrigar no máximo 50 pessoas por unidade - Promover privacidade e segura; - Prover de espaços de características essenciais: Guarda de pertences individual, refeitório, para atividades coletivas e/ou comunitárias, área de serviço, lazer, cultural, esportivo.

- Conter salas para equipe técnica, coordenação e administração; - Ter espaço para acomodação de animais e guarda de carrinhos de coleta de material reciclável; - Ter quartos com capacidade de acomodação de até 4 pessoas com camas individuais; - Funcionar 24 horas por dia; - Ter boa iluminação e ventilação; - Ter quartos com capacidade de acomodação de até 4 pessoas com camas individuais; - Funcionar 24 horas por dia; - Ter boa iluminação e ventilação; - Espaços sociais que possibilitem a interação com visitantes; - Espaços compartilhados para desenvolver habilidades sociais; - Oferecer permeabilidade visual, mas se atentar com as aberturas nos ambientes privativos; - O objeto arquitetônico não deve apresentar caráter institucional;

AMBIENTE Programa de necessidades

O programa foi definido através da síntesse das neces-

sidades apresentadas pela população em situação de rua, recomendações do CNAS e por último programa analisados nos estudos de caso. Devido a demanda por espaços abertos e que possibilitem a interação com entorno, foi proposto a divisão em três edifícios, implantados na terceira parcela do desmenbramento anteriormente realizado no terreno escolhido, de modo a separar os ambientes em três zonas com objetivos distintos: Atendimento institucional, acolhimento e atendimento pontual.

O centro atenderia de forma institucional 50 jovens em

situação de rua com capacidade de oferecer 20 vagas no pavilhão dormitório temporário para além do perfil preestabelecido, com uma previsão de 40 a 50 funcionários.

QUANTIDADE ÁREA

Circulação Circulação vertical Recepção Guarda-volumes Espaço para doações Enfermaria Consultório Sala psicólogo Almoxarifado WC Vestiário Fisioterapia Sala multimídia Apoio multimídia Cantina Espaço de estudo Lobby Assistência jurídica Assistência social Oficinas Sala de informática Sala de reunião Secretaria Coordenação Copa Sala funcionários DML ÁREA TOTAL

1 1 1 1 2 2 2 6 2 1 1 1 1 1 2 2 2 4 1 1 1 1 1 1 1

110.25m² 61.98m² 21.58m² 14.07m² 14.53m² 33.75m² 28.90m² 20.80m² 22.68m² 115.15m² 41.16m² 140.55m² 64.22m² 22.46m² 43.66m² 118.62m² 131.06m² 19.49m² 29.38m² 167.92m² 32.55m² 32.51m² 44.93m² 24.32m² 18.51m² 36.61m² 2.75m² 1.413.39m²

ATENDIMENTO PONTUAL

Atendimento institucional Acolhimento Atendimento Pontual

Figura 98: Zoneamento Fonte: Autor

AMBIENTE

QUANTIDADE ÁREA

Cozinha Depósito cozinha Refeitório WC Pavilhão dormitório Controle Lixo comum Lixo infectado Gás ÁREA TOTAL

1 1 1 1 1 1 1 1 1

57.61m² 12.41m² 125.11m² 43.73m² 71.30m² 18.18m² 13.32m² 2.81m² 4.97m² 349,45m²

Propostas arquitetônicas

ATENDIMENTO INSTITUCIONAL

Memorial descritivo

81

Propostas arquitetônicas

ACOLHIMENTO AMBIENTE

QUANTIDADE ÁREA

Circulação Circulação vertical Exposição Recepção Guarda-volumes Lavanderia Depósito carrinho de coleta Depósito de ferramentas Depóstito coleta seletiva Solário Canil BWC Dormitório Espaço de convicência DML ÁREA TOTAL

1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 1

19.98m² 60m² 108.17m² 26.30m² 18.48m² 16.51m² 66.84m² 6.34m² 24.83m² 30.71m² 28.30m² 59m² 356.86m² 218.2m² 2.75 1043.27m²

Figura 100: Fluxograma 1º pavimento. Fonte: Autor

Tabela 08: Programa de necessidades e áreas. Fonte: Autor

Figura 101: Fluxograma 2º pavimento. Fonte: Autor

82

No exterior podemos encontrar mais itens do programa,

o estacionamento (341m²) e a horta comunitária (240m²), que assim como outros espaços está presente para propor uma maior interação social e servir como atividade psicosomática.

O projeto tem como partido a residência, por ser reco-

mendado que espaços voltados a prestação serviços para a população de rua devam apresentar características residencias, criando assim a sensação de conforto e acolhimento. A partir deste conceito foi estudado os resultados obtidos no estudo territorial das moradias do entono imediato.

Outro conceito utilizado para inciar os estudo das possi-

bilidades para o sítio foi de edifício campus, assim como The Bridge Homeless Center, com a divisão do programa de necessidades em três edificações distintas, criando áreas abertas com um promenade que permite a permealidade física, assim possibilitando surgindo um espaço de limiar entre o uso previsto para o equipamento e o público.

Figura 99: Fluxograma térreo. Fonte: Autor

A morfologia consiste de volumes prismáticos, com tér-

Propostas arquitetônicas

reo mais dois pavimentos, tendo assim uma relação de consonância com as moradias circunvizinhas de baixo gabarito. Volumes esses implantados soltos no lote, respeitando uma malha de 2.50x2.50m previamente desenvolvida como elemento base da base estrutural.

Devido a posição do norte, o sol poente e nascente atingem o sítio em uma angulação de 122º, surgindo assim a necessidade de trabalhar com linhas diagonais, porém o entorno tem uma linguagem ortogonal em ralação ao sítio. No caso da Rua Rocha Pita as moradias não possuem récuo frontal e possuem calçadas estreitas, evidenciando assim uma linearidade que exige que a edifcação se comunique.

Deste modo, a solução foi mesclar as linhas com angulos

retos e inclinados para que o equipamento se adequasse a linguagem preexistente e as exisgências de conforto ambiental, para tal, nas extremidades do lote foram adotadas linhas perpendiculares ao seu desenho.

Figura 102: Linhas de expressão do entorno e incidência solar Fonte: Autor

83

Figura 103: Diagrama de incidência solar e frequência dos ventos Fonte: Autor

A estrutura com vigas e pilares (25x25cm) em concreto

O agenciamento, de placas drenantes, parte das calçadas

armado, aparente, é um elemento que orna as fachadas do localizadas na periféria da geometria do lote até o seu centro, equipamento, e está configurada com vãos (distância entre os onde há uma linha um percurso vertical conectando os três ediapoios) de 5 a 10 metros e vigas de no máximo 85 cm de altu-

fícios, um promenade com um jogo de amplos espaços verdes.

ra.

Com um eixo central conectando os três edifícios com uma marquise de estrutura metalica e coberta de policarbonato.

10.0

7.5

Propostas arquitetônicas

5.0

5.0

5.0

10.0

84

Figura 106: Linhas de força promenade Fonte: Autor

5.0

5.0

A materialidade foi um instrumento importante para con-

seguir transmitir a mensagem de acolhimento, com base nos

7.5

estudos de casos analisados, a madeira como outros elemetos utlizados em ambientes residenciais conseguem trazer a conexão com o local. Um conjunto de cores e texturas foi montado Figura 104: Planta estrutural Fonte: Autor

para constituir a imagem do projeto, no térro é marcado pela distinção nas paredes cegas com uso do tijolo maciço parente, nos demais pavimentos tais paredes de alvenaria revestida na cor branca.

As vedações são trabalhadas no vidro e na madeira, prin-

cipalmente, nos brises, como elemento que permite uma constante circulação de vento, controle da incidência da luz solar e proporcionar maior privadiade. Existe nas fachadas um dinamismo criado no qual consiste em aberturas com brises vertiFigura 105: Estrutura Fonte: Autor

cais, sem ou aberturas com apenas guarda-corpo.

Cerâmica

Tijolo aparente

Placa drenante

Área total do terreno: 5006m²

Gás

Área total construída: 2.806.11

B = (n x 0.3 x 0.7) / 5.3

5007 x 0.5 (coeficiente de utilização) = 2.503.5m²

B = número de botijão

Piso vinílico

Propostas arquitetônicas

Propostas arquitetônicas

Brise vertical de madeira

n = número de unidades Taxa de solo natural: 25% (1.251,75m²)

B = ( 2x 0.3 x 0.7) / 5.3 = 1 botijão

Área de solo natual do terreno: 1.260m² Lixo infectado Afastamento:

Um container de 360 L

Af= 5 + (n x 4) x 0.25 n = número de pavimentos Af= 5 + (3 x 4) X 0.25 Af= 8 m

Lixo comum É estimado que uma pessoa produz cerca de 4.6 L de lixo por dia.

120 peesoas x 4.6 L x 2 dias = 1.104 L

Reservatório de água O cálculo para atender o consumo diário de 150 L de água por dia e por pessoa no período de dois dias, sabendo que a capacidade máxima do equipamento é de 120 pessoas.

120 pessoas x 150 L = 18.000 L 18.000 L x 2 dias = 36.000 L 1/3 - reservatório superior = 12.000 L 2/3 - reservatório inferior = 24.000 L Adota-se 20% da capacidade do reservatório superior para reservar de incêndio 12.000 L x 20% = 2.400 L

4 containers de 360 L cada

85

Propostas arquitetônicas

Propostas arquitetônicas

Projeto Arquitetônico

66.6

RUA ROCHA PITA

90

'

5 °2

°3

74.7

PARCELA III CENTRO DE APOIO ÁREA 5006m²

°4

°1

88 3'

AVENIDA MÁRIO MELO

RUA DA FUNDIÇÃO

PARCELA II POSSÍVEL IGREJA ÁREA 3664m²

89

86

PARCELA I POSSÍVEIS MORADIAS SOCIAIS ÁREA 4458m²

4'

8'

RUA SÃO GERALDO

91

68.4

Área d Área C Área d Reserv Reserv

Cent

Estud

Planta distrib Escala Data Formato

Aluno: Jo

Universid

Trabalho

Orientado

Figura 107: Planta de situação e distribuição das parcelas. Fonte: Autor

Propostas arquitetônicas 87

Figura 108: Planta de locação e coberta. Fonte: Autor

A

06/09

Propostas arquitetônicas

RUA ROCHA PITA

+0.15 +0.15

10

8

SUBESTAÇÃO AÉREA

9 10

8

RESERVATÓRIO INFERIOR CAPACIDADE 12.000 L

11

12 SOBE

7 4

+0.30 Projeção coberta

5

2

1

SOBE

3 3

+0.30

01 02

R RIOL FE IN 00 IO 2.0 ÓR E 1 AD

20

08

88

AT RV ID SE AC RE CAP

14 12

03

01 02

02

04

01

+0.30

B'

BE

SO

06/09

09

03

05

19

15

SOBE

SOBE

05

+0.00

4

17

08

04

13

07

04

05

06

07

03

B

06/09

06

16

6

18

SOBE

06

Projeção coberta

SOBE

Projeção marquise

Projeção coberta

21

2

6

24

22

2

28

1.03x1.09x1.96m

25

+0.15

23

27

26

+0.30

+0.15

SOBE

SOBE

A'

06/09

Figura 109: Planta baixa térreo. Fonte: Autor

RUA DA FUNDIÇÃO

Projeção marquise

2

SOBE

6

AVENIDA MÁRIO MELO

Propostas arquitetônicas

A

06/09

RUA ROCHA PITA

1

1

DESCE

6

+3.50

SOBE

7

5

Projeção coberta

3 SOBE

1 3 1

2

+3.50

I = 3%

2

01

RUA DA FUNDIÇÃO

SOBE

4

02

08

89

07

03 E

SC

DE

04

04

05

06

7

B

B'

BE

SO

03

06/09

05

8

10

01

02

06/09

+3.50

SOBE

9

SOBE

06

Projeção coberta

SOBE

+3.50

I = 3%

+3.50

I = 3%

SOBE

A'

06/09

SOBE

Figura 110: Planta baixa 1º pavimento. Fonte: Autor

AVENIDA MÁRIO MELO

A

06/09

Propostas arquitetônicas

RUA ROCHA PITA

10

12

DESCE

11

+7.00

SOBE

9 8

7

6

7

SOBE

1 5

6 +3.50

4

I = 3%

3

2

01

RUA DA FUNDIÇÃO

SOBE

Projeção coberta

02

08

90

04

04

05

06

07

03

9

B

E

SC

DE

B'

BE

03

SO

05

06/09

02

13

01

06/09

+7.00

15

SOBE

14

SOBE

06

Projeção coberta

SOBE

I = 3%

+3.50

+3.50

I = 3%

SOBE

A'

06/09

SOBE

Figura 111: Planta baixa 2º pavimento. Fonte: Autor

AVENIDA MÁRIO MELO

Propostas arquitetônicas 91

Figura 112: Cortes. Fonte: Autor

Figura 113: Fachada . Fonte: Autor

Propostas arquitetônicas 92

Figura 114: Fachada . Fonte: Autor

PLATIBANDA

CALHA

+10.50

Propostas arquitetônicas

+13.90

TELHA TERMOACUSTICA

CAIBRO

Det. 01 Escala 1:25 CISALHAMENTO DO FORRO PARA SOLUÇÃO ESTÉTICA

+7.00 VIGA EM CONCRETO

FORRO EM GESSO ACARTONADO

93

BRISES MÓVEIS NA PARTE SUPERIOR DA ESQUADRIA

+3.50

Det. 02 Escala 1:25 VIGA EM CONCRETO

Centro d

Estudo Pr BRISE DE MADEIRA VERTICAL

Detalhe Escala Data Formato

BRISES MÓVEIS NA PARTE INFERIOR DA ESQUADRIA MARQUISE COM POLICARBONATO BRANCO LEITOSO VIGA METÁLICA MARQUISE LAJE EM CONCRETO

Corte BB' Escala 1:50

Figura 115: Detalhe . Fonte: Autor

Det. 03 Escala 1:25

Indica DEZ/ A2

Aluno: João Pau

Universidade Ca

Trabalho de gra

Orientador: Dye

Figura 116: Perspectiva. Fonte: Autor

Figura 117 e 118: Perspectiva. Fonte: Autor

Figura 119 e 120: Perspectiva. Fonte: Autor

Figura 121 e 122: Perspectiva. Fonte: Autor

Figura 123 e 124: Perspectiva. Fonte: Autor

Figura 125 e 126: Perspectiva. Fonte: Autor

Figura 127 e 128: Perspectiva. Fonte: Autor

06 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerações finais

A população em situação de rua estampa uma variedade

Performando assim um equipamento arquitetônico inter-

de características, assim como dificuldades atreladas a uma setorial, com um amplo programa alinhado com a pluralidade vida de invisibilidade social. Expostos a uma dura realidade de das características, necessidades e próximo dos locais de condireitos negados e negligenciados, lutando em meio ao julga-

centração do público alvo. Permitindo o acolhimento institucio-

mento alheio daqueles que nem imaginam o que é viver em nal, ofertando serviços socioassistenciais e atendimento pontusuas condições.

al. Um ambiente aberto a diferentes interações sociais por ser

permeável e cumprindo com as diligências urbanas apresenta-

O surgimento de pesquisas, leis e recomendações foca-

dos nesse grupo e suas demandas são um forte aliado na luta das pelo entorno. para diminuir a desigualdade social que enfrentam. Mesmo sendo relativamente recentes conseguem trazer dados impor-

A arquitetura e urbanismo podem propor respostas técni-

cas de impacto significativo na qualidade de vida das pessoas,

tantes ao traçar ideias que visão a resolução dos problemas principalmente, aquelas que carecem de auxílio e atenção, um apresentados.

trabalho que atrelado a outras áreas de atuação pode mudar o

Durante o desenvolvimento das investigações, a visão rumo de como lidamos com os nossos problemas sociais. Com

sobre a precariedade de locais destinados ao interesse social

isso o Centro de Apoio para jovens adultos em situação de rua

em Recife se ampliou ao observar o uso e distribuição do solo, nasce de questões reais que transcendem seu público, da visireforçando a ideia de que é necessário se atentar as possibi-

bilidade para validação do direito à cidade, a ocupação demo-

lidades de crescimento através de uma urbanização democrá-

crática do solo urbano.

tica, com objetos coerentes com a paisagem e atendendo a demandas reais, especialmente, aquelas de cunho social.

Por último declarar que é possível trazer respostas as

necessidade sociais e levantar críticas sobre o desenvolvimento urbano das cidades e para quem estão sendo destinados esses espaços, trazer um equilíbrio entre o interesse privado e social. reflexão sobre as igrejas e parcelamento Ao selecionar um sítio com futuro equipamento planejado desde de 2012, novo Templo da IEAD, se iníciou uma série de indagações sobre sua implantação e comunicação com o bairro, especialmente por estar em lote com proporção de quadra. Concluindo que Santo Amaro já oferece uma diversidade de igrejas, principalmente, dentro da vertente evangélica e da IEAD, e que o projeto exibe dissonância com o espaço urbano, ocupando uma grande área privilégiada da cidade. Chegando a solução de parcelar o solo para que assim seja possível apresentar uma ocupação mais dinâmica.

Concebendo três parcelas origanadas de um lote, capaz

de servir aos interesses religiosos e de dois aspectos sociais, a moradia e atendimento socioassistencial de acolhimento institucional.

103

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