Revista in-consciência - Ano IV - Ed.VIII - março-abril - 2018

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CONSCIร NCIA Ano IV - nยบ VIII - marรงo - abril de 2018

o n l y g r eek s !



CONSCIÊNCIA Ano IV - nº VIII - março - abril de 2018

eDITORIAL

sumário

p.4

Exclusividade é o caminho?

p.6

Ecclesia Semper Reformanda

p.9

(Res. Lit.) O Apelo de um antifeminista

p.17

Morte

p.20

Não é Natural!

p.22

(Poesia) Natalício Anacrônico

p.25

(OLeitor) Esperança

p.26

Ironias

p.27


editorial

O Insensato cruza os braรงos e vai se consumindo...


J.N.Jr.


EXCLUSIVIDADE É O CAMINHO?




Ecclesia Semper Reformanda “Cuidado, o diabo é velho; envelheci também para compreendê-lo."

WEBER, M. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro:LTC, 2002. p.105. Ozment, Steven. Protestants: The Birth of a Revolution [Protestantes: o nascimento de uma revolução], Nova Iorque: Doubleday, 1992.


3MARTINS,

Oliveira. História da Civilização Ibérica, livro IV, cap.lll. Carl von. Das apostolische Zeitalter der christlichen Kirche, 1822­1899. Publication date 1902. Topics Church history, genealogy. Publisher Tübingen, Mohr. 5BÍBLIA­ Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. 4Weizsàcker,


Non Sequitur: relações entre autoridade secular e autoridade religiosa

6Bloom,

Harolod. Abaixo as verdades sagradas: poesia e crença desde a Bíblia até os nossos dias. São Paulo. Companhia das Letras, 2012. 7CALVINO, João e LUTERO, Martim. Sobre a autoridade secular. Tradução de Hélio de Marco L. Barros e Carlos Eduardo S. Matos, Intr. Harro Hõpfl. São Paulo: Martins Fontes, 2005.p.IX.5


Aura Sacra Famis: a atualidade das indulgências

8Há

uma grande simplificação aqui, para melhor compreensão consultar o livro citado de Höpfl. e LUTERO, 2005.p.17. 10Para ter uma ideia do número, variedade e postulações de ataques frontais à laicidade do estado pela Frente Parlamentar Evangélica (eufemismo atual para Bancada Evangélica(da bíblia)) ver a Monografia de Marina Helena Rodrigues Maia, "A Frente Parlamentar Evangélica e um frágil Estado laico" de 2016. Disponível em: http://bdm.unb.br/handle/10483/14824. 9CALVINO


Conclutio: O paradoxo do valor

11Luther's

Works, volume 31: Careerofthe Reformer: I [LW31] (Philadelphia: Fortress Press, 1957) (Versão Kindle) 12Antes que haja uma discussão inútil sobre serem as vertentes neopentecostais protestantes ou não, aviso que sei que não é unânime a opinião sobre isso, assim como nem todos os pastores são assim como foram descritos acima. Porém, a maioria concorda e a própria história mostra que grande parte das denominações neopentecostais ou vieram do pentecostalismo ou de outras vertentes protestantes mais tradicionais, se elas mantém ou não os ideais da reforma é uma questão muito mais complexa. De fato, grande parte é oriunda do protestantismo. A crítica não quer fazer uma generalização, apenas apontar um fato predominante e ascendente.



Obras consultadas e sugeridas a quem desejar aprofundamento maior nos assuntos abordados rasteiramente no texto:



O apelo de um antifeminista (Res. Lit) BARRETO, Lima. Não as matem. In. Crônicas escolhidas – São Paulo: Editora Ática, 1995.




Morte "Qui apprendroit les hommes à mourir, leur apprendroit à vivre"

Montaigne

Alguns dizem, “diante da morte não se pensa”, “o raciocínio dá lugar ao sentimento e à dor”. Não compartilho disso, muito embora não ignore a influência emocional e a tristeza que, nesses momentos, já não é abstrata, mas real, e dói profundamente quando perdemos um ente querido. Chega a ser pior. O raciocínio está lá, latejante, funcionando sem interrupção, agora mais afetado, absurdo e dolorido. Pensamos na vida, diante da morte. Mas é incrível como sempre temos tanto do que reclamar, como nos aborrecemos com tantas coisas, como passamos o tempo sofrendo por efemeridades e, por fim, temos a audácia de nos irritar e reclamar e aborrecer e sofrer com a morte. Que seja. Disse Epicuro que é completamente inútil temer a morte visto que, segundo ele, ela não é nada para nós pois, quando estamos, ela não está, e que quando ela está, já nós não mais estamos. Não sei se posso crer, de fato, nisso ou se esse jogo linguístico/existencial resolve algo do nosso sofrimento inútil, mas há sabedoria aí. Pensando melhor, acho que a morte sempre está, está conosco, em nós, ao nosso lado, e que quando ela se vai é que já não tem mais a nossa companhia simples e turbulenta, é o fim do sufrágio de uma amizade certa e perfeita, a separação da única companhia certa e confiável. A morte. Desde que nascemos não fazemos mais do que morrer, cada segundo (a menos) do nosso relógio só conta o que falta. Não fazemos nada a não ser caminhar ao lado da morte enquanto ela colhe em nós, de forma dedicada e irremediável, célula por célula, transformando vigor em fraqueza, liso em enrugado, alegria em dor, saúde em doença... É certo que há os que não seguem esse caminho natural e terno. Rompem a estrada, pegam o atalho, interrompem a colheita da morte e se dissipam na própria pressa. Independentemente do modo, passam­se os anos e durante nossa própria morte em curso de ser (não­ser), vemos muitos finais de caminhada e nunca nos acostumamos. Parece­me que não é nem a placidez imediata e infalível da morte que nos entristece, nem a sua hecatombe implacável. Parece algo como o que disse Saramago certa vez: “o ruim da morte é que antes estávamos e depois não estamos mais”...“estar” parece a questão. Estar aqui neste mundo, entre nossos iguais em destino, ainda que morrendo, ainda que sofrendo, o que queremos é “estar”. Somos muito tolos nesse ponto. Esquecemos que a vida é somente um 1"Quem

ensinasse os homens a morrer estaria ensinando­os a viver" (I, 20, 90/133). MONTAIGNE. Michel de. Les essays. Ed. Pierre Villey. Paris: PUF, 1988. _______________________. Os ensaios. Trad. Rosemary Costhek Abílio. São Paulo: Martins Fontes, 2000­ 2001. (3 volumes)


intermédio entre dois pontos que em ambos, não estamos, não somos, não há “nós”. Que grande injustiça para com a vida. Perdemos nosso tempo, sofrendo, fugindo, praguejando contra a morte (nosso futuro não ser) e nos esquecemos que antes, antes de nascer, não estávamos e o mundo se deu muito bem sem nós. Basta pensar um pouco para ver que passamos mais tempo “não sendo” do que “sendo”. Só que de repente julgamos que todo o mundo é incontestavelmente nosso e não podemos mais partir ou deixar que partam. A grande ironia disto é que, ignorando a ideia ontológica de quando não éramos, e fugindo e lutando contra a morte (onde não mais seremos), perdemos nossa preciosa contagem regressiva, curta, fatalmente curta, mas que é todo o nosso tesouro e onde temos a única oportunidade verdadeiramente válida de permanecermos mais um pouco, pela obra e/ou pela audácia.

J.N.Jr.


NĂŁo ĂŠ natural!1 Quem cala sobre teu corpo Consente na tua morte. Milton Nascimento


Nós pedimos com insistência: Não digam nunca: isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia. Numa época em que reina a confusão. Em que corre sangue, Em que se ordena a desordem,

Em que o arbitrário tem força de lei, Em que a humanidade se desumaniza. Não digam nunca: isso é natural.


na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia,

o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba­nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca­nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. (FEITOSA, Soares. Jornal de Poesia.)


Copia­se estátil num dia O tempo que não sentia Ou antes, nem percebia Porém, que lhe ressentia A geométrica fatia De dias, sem esquadria Que se cortando não via. Do ato que desafia O que vivemos seria Nossa incerta calmaria. Sabemos, mas tu sabia? O poder que a data cria Com apogeu só num dia? Desfia... A dúvida, veste pia. E o teu fazeres, fazia. E o teu quereres, queria. E o teu sentires, sentia. E o teu dizeres, dizia. Até que um dia No fim dessa longa via, O teu viveres,... vivia. Verá que se pressentia O que era noite, será, o que era dantes. O dia. J.N.Jr.


ESPERANÇA Espetas a lança chamada Esperança E expectativas na mente já dançam; Esperas certas certezas concretas: Debalde esperas, debalde te lanças. Cansam esperas das gigantas eras; Constância, constância ‐ eis só o que legam! Nas regras ascetas de esperas insanas Tanto não andas, quão longas são elas. Cruel Esperança, ardis não te restam Pois fujo ao enleio ‐ foges às rezas; Negas proveito se a prece é sincera. Se às pressas prometes graças tão mansas Que, mansa, cativas ‐ vil, desenganas! Deus, ai de mim ‐ já não tenho esperanças! Fabricio de Si

fabriciodesi@gmail.com


IRONIAS LXXVI ­ Segundo pesquisa da Datafolha vivemos numa sociedade com os seguintes valores: corrupção, violência, crime, pobreza, agressividade, poluição ambiental, analfabetismo, burocracia, discriminação social, incerteza sobre o futuro e desperdício de recursos. Faltou citar os valores que também existem e obrigatoriamente: o superpoder do joão bobo que chamam hoje de resiliência (ou seja, levar um soco a todo minuto e voltar ao estado inicial como se nada tivesse acontecido), niilismo industrial, putaria disciplinar. LXXVII ­ Nada pior do que um sonho medíocre. Envergonha o sonhador precocemente. Se o alcança é um ordinário, se não consegue, um fracassado. LXXVIII ­ O sentido da vida é o que falta. O sentido da morte é o que sobra LXXIX ­ Como dizia Cioran, a verdade de todo desejo é o cansaço. E a vontade de todo o cansaço é um voto de Gilmar Mendes. LXXX ­ O drama dos emigrantes é antigo, é vasto e profundo, tanto aqui como no mundo a comunidade humana soluça. Curvam­se no caminho homens que sofrem do berço ao túmulo, e resta rir­se do cúmulo de hoje aspirar­se Manuel Bouça. LXXXI ­ Essa ideia de meritocracia tão reivindicada pela “nova direita” brasileira é realmente verificável e válida. Poderia se observar pelas brincadeiras das crianças: algumas têm toda a capacidade de brincar de Robinson Crusoé, outras, porém podem com certeza brincar de Dorian Gray. Que diferença faz? São todos personagens literários. LXXXII ­ As falhas da esquerda tiraram a direita do armário. Agora segura a chuva de glitterofobias e os gritos esganiçados de ignorância histórico­econômica. LXXXIII ­ A variabilidade linguística é incrível, como interessado na área faço aqui uma previsão humilde: assim como até hoje para designar o ato de colocar algo no bolso se usa popularmente “embolsar”. Acredito que (supondo uma evidente sofisticação empenhada pela nossa cultíssima e em ascensão direita conservadora) o futuro promete a transição para o “bolsonar”. Justíssima, mais próxima da franqueza rude do alemão pela sonoridade, mais semelhante à estrutura do italiano pela forma vocabular... e ainda dizem que não há progresso. LXXXIV ­ Existem inúmeras injustiças acontecendo com Bolsonaro então é necessário denunciar: não se pode acusar um homem de conivência ou participação em corrupção só por que ele ficou 18 anos (até 2016) no partido mais citado na Lavajato. Um partido que cinco dias antes da votação de admissão do impeachment, apoiava Dilma e na votação deu 38 dos seus 45 votos contra ela e que misteriosamente recebeu (depois) de Michel Temer, ministérios que os orçamentos somados chegam a mais de 230 bilhões de reais. Não veem que o homem é um ingênuo? LXXXV ­ É preciso render honras a Bolsonaro, ele é verdadeiramente um mito, para não restar dúvidas à sua grandeza ainda acrescento: sua história política é um mito, seu potencial governamental é um mito, sua base histórico­econômico­política é um mito, sua inteligência é um mito, sua capacidade de presidir uma nação é um mito, enfim, como acertadamente apregoam os seus correligionários, todo ele não passa de um grandessíssimo mito. Faça­se justiça. LXXXVI ­ A coisa toda está meio estranha, a esquerda esperneia como os filhotes mimados da direita, a direita quer conciliar liberalismo com conservadorismo, mas não tem a menor ideia de como fazer isso, o presidencialismo é uma fachada que serve a autoridade máxima de títere do congresso, este sim sonho maior dos partidos. Daqui a pouco Eymael muda a música/jingle clássica dele e o país explode. LXXXVII ­ As neopentecostais inventaram uma tal de fogueira santa que curiosamente só esquenta o dinheiro ao invés de queimar.



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