paginação miolo

Page 1


Clara

na Quinta dos P贸neis


Mãe

O pai acha que a mãe desempenha um papel-chave na sua vida. E na minha também! Isso vê-se logo!

Tiago

Quando o Tiago não está, apercebo-me, de forma estranha, de como gosto dele. Será assim com todos os irmãos mais novos?

Lúcia

Conheci a Lúcia na Quinta dos Póneis: é a minha melhor amiga, logo a seguir à Ana!


Pai

O pai acha que lhe fotografei o seu lado de chocolate. Sinceramente, não é difícil porque, afinal, o pai só tem lados de chocolate!

Miau

É o único gato do mundo que sabe falar. Pelo menos, sabe dizer o nome: Miau!

Ana

É mesmo típico da Ana! Continua a ter só póneis na cabeça!

Eu

E eu também! Esta foto foi tirada pela Ana, para provar que não é por acaso que somos as melhores amigas…


Nesta colecção: 1. Clara na Quinta dos Póneis 2. Clara e a Carta de Amor 3. Clara e o Passeio de Turma A publicar: Clara Faz Anos Clara em Férias no Mediterrâneo Clara e o Cão Desaparecido Clara Salva a Avó

Título original: Conni auf dem Reiterhof © Carlsen Verlag GmbH, Hamburg 2002 • www.carlsen.de Agente: Ute Körner Literary Agent, S.L., Barcelona • www.uklitag.com Versão portuguesa: © 2010 Editorial Proliber, Lisboa Ilustração da página 8 de Julika Wagner POMAR é uma chancela da Editorial Proliber Impresso por Tilgráfica em Novembro de 2010 Depósito legal n.º 319 174/10


Julia Boehme

Clara

na Quinta dos Póneis Versão portuguesa de Maria Lin Moniz Ilustrações de Herdis Albrecht

POMAR



Sempre os póneis A Clara fica a olhar para a folha branca. A água do frasco continua limpa e transparente, tal como saiu da torneira, e a caixa das aguarelas ainda nem foi aberta. Disfarçadamente, olha para o resto da turma. Já todos pintam e têm à sua frente frascos de água verde-escura, azul ou cinzenta-suja. «Mas como é que eles já sabem agora o que vão fazer nas férias da Páscoa?» interroga-se a Clara, espreitando de soslaio na direcção da sua amiga Ana. Mas é lógico: claro que a Ana volta a pintar um dos seus póneis. «Pinta o teu mundo de sonho», «O que é que vês quando fechas os olhos?», «Qual é o teu maior desejo?», «O que é que fazes nas férias?». 7


Não interessa que tarefa a professora Regina mande fazer na aula de Desenho, pois a Ana pinta sempre um pónei. Ou até dois ou três. Com ou sem cavaleiro – tanto faz, o importante é serem póneis. Hoje é um pónei de crina

espessa, encaracolada, negra-azeviche. Parece mesmo o Talismã do clube de equitação. – Mas nas férias não se monta a cavalo – diz a Clara baixinho. No resto do ano, a Ana e a Clara vão à aula de equitação uma vez por semana. – Então ainda não te contei? – diz a Ana em segredo, com as bochechas a resplandecer de 8


alegria, vermelhas como o seu cabelo. – Vou passar as férias numa quinta com póneis! – Mas isso é muito fixe! – exclama a Clara, tão alto que toda a turma pára. Com a surpresa, esqueceu-se de falar baixinho. Claro que a professora Regina estava presente. – Então, Clara, que desenho bonito é que já fizeste? Nada? – A professora Regina olha espantada para a folha da Clara ainda em branco. – É que não faço a mínima ideia do que hei-de fazer nas férias – balbucia a Clara, embaraçada. – A sério…

9


Assim que a professora Regina lhes vira as costas, a Ana passa uma folha à Clara. «Vem comigo para a Quinta dos Póneis!!!», tinha rabiscado a Ana à pressa. E lá estavam três pontos de exclamação, porque é claro que, indo as duas, seria muito mais divertido na Quinta dos Póneis. – Boa! – diz a Clara baixinho. Decidida, abre então a caixa das tintas.

10


Os pais mais inteligentes do mundo Agora a Clara sabe perfeitamente o que gostava de fazer nas férias. O que é uma parvoíce é que os pais ainda não saibam. Inquieta, a Clara não sossega na cadeira à hora do almoço. – A Ana vai para uma quinta com póneis, nas férias. Uma semana inteira – informa por fim. – Mas isso é óptimo – diz a mãe baixinho, assoando o nariz ruidosamente. Na primavera ela tem sempre aquela terrível alergia dos fenos. – É, não é? – diz a Clara, entusiasmada. Depois respira fundo para, finalmente, fazer a pergunta que traz na alma desde a aula de desenho. – Posso ir também? 11


Mas a mãe assoa-se outra vez. E o pai também não ouve lá muito bem. Ele está a tentar apanhar, com a colher, as ervilhas do Tiago, que rolam em cima da mesa que nem uns berlindes doidos. – Posso? – pergunta a Clara outra vez, depois de as ervilhas do Tiago estarem todas novamente dentro do prato. – Podes o quê, Clara? – Ir com a Ana para a Quinta dos Póneis, nas férias – repete a Clara, paciente. É mesmo típico dos pais: temos de lhes dizer as coisas três vezes! – Queres ir sozinha? – pergunta a mãe, espantada. – Mas não vou sozinha! A Clara revira os olhos: mas será que nunca ouvem? – Com a Ana, claro! – Tu e a Ana, querem ir sozinhas, nas férias, para uma quinta com póneis – repete o pai. A Clara diz que sim com a cabeça, contente. 12


– Os pais da Ana já lhe marcaram um sítio – apressa-se a acrescentar. – A Quinta dos Póneis fica em Mont… – ah, Montalvo de Cavaleiros. A Clara tem o nome da terra na escola e ainda a caminho de casa o tinha repetido pelo menos umas cem vezes para não se esquecer. Não é que ache esses nomes importantes – nada mesmo. Mas os adultos – pelo menos pela experiência da Clara – adoram-nos. – Hum, Montalvo de Cavaleiros! A Clara ri-se, satisfeita, quando a mãe diz, de repente: – Isso parece-me muito bem! – Então, posso? – pergunta a Clara, cheia de expectativa. – Temos de pensar nisso com calma – responde o pai. – Então pensem lá com calma. – A Clara esgueira-se para a cozinha, para ir buscar a sobremesa. – Mas, por favor, decidam como deve ser! Claro que ainda leva tempo até a mãe e o pai pensarem com calma. Ainda não tinham 13


decidido quando a Clara acabou de comer a sobremesa. Nem mesmo depois do jantar, quando a Clara foi para a cama, não tinham decidido nada. Passaram-se dois dias inteiros até a mãe e o pai, finalmente, chegarem a uma conclusão. Estão todos sentados outra vez à hora do almoço. O Tiago protesta porque quer tantos douradinhos quanto a Clara. No entanto, ele sempre é seis anos mais novo do que ela! – Agora acabas o que tens no prato – resolve a mãe. – E depois logo se vê! O Tiago, determinado, espeta um douradinho com o garfo, mas depois descobre que se consegue comer muito melhor se, simplesmente, se pegar nele com a mão.

14


– Bem, podes! – diz o pai à Clara, sem mais nem menos. – Posso o quê? – pergunta a Clara. Mas depois levanta os olhos do prato, sem querer acreditar. – Ir para a Quinta dos Póneis? A mãe e o pai dizem que sim com a cabeça, divertidos. – Viva! – A Clara salta da cadeira e atira-se ao pescoço dos dois. – Obrigada! – diz ela, toda contente. – Então, decidimos bem? – pergunta o pai, a sorrir.

15


– Claro! – A Clara ri-se. – Mas também não admira, porque vocês são mesmo os pais mais inteligentes do mundo! Em primeiro lugar, como é óbvio, a Clara tem de ligar à Ana depois da refeição. A Ana fica completamente doida: – Contigo, vai ser muito, muito mais giro! – diz, toda contente. – Que loucura! A mãe pede o número do telefone da Quinta dos Póneis à mãe da Ana, para a Clara se inscrever também. – Esperemos que ainda haja vaga – diz a mãe, baixinho, enquanto marca o número. A Clara faz figas: tem de dar certo! – Parece que… atchim! – espirra a mãe, ao pousar o telefone, – parece que, mais uma vez, tivemos sorte. Ficaste com a última vaga! – Iaú! – exclama a Clara toda feliz, a dançar pela casa. O Tiago acha que ela está a brincar aos índios com ele. Mas a Clara não tem tempo para isso. Tem de fazer a mala. Cheia de energia, abre o roupeiro. O mais importante é o equipamento de equitação, claro: 16


calças, capacete e botas. E depois as calças de ganga, a t-shirt preferida e, naturalmente, a máquina fotográfica. – Não é ainda cedo para arrumares o equipamento de equitação? – pergunta a mãe. Ela está à porta do quarto da Clara, a sorrir. – Ou já não queres ir à aula de equitação esta semana? – Ah, pois, claro – lembra-se a Clara. Como é que ela podia esquecer-se da aula de equitação? – Ainda faltam uns dez dias para a partida – lembra a mãe. Se fizeres a mala dois dias antes, ainda vai muito a tempo. 17


A Clara suspira. Como é que vai aguentar ainda tanto tempo? – Se quiseres, já podes fazer uma lista do que pensas levar – sugere a mãe. – Para não te esqueceres de nada. Sim, uma lista! A Clara tira da secretária os livros da escola, pega numa grande folha de papel e começa logo a escrever: O que eu gostava de levar para a Quinta dos Póneis: Calças de montar Botas Toque Escova, elástico para o cabelo, fitas, escova dos dentes T-shirt azul, t-shirt às riscas Calças de ganga, calças amarelas Sapatilhas Roupa interior Casaco vermelho Camisa de noite com estrelas Máquina fotográfica, estojo de pintura Papel de carta

18


Partida! Chegou, finalmente, a manhã da partida. O corredor está cheio de malas de viagem, sacos e saquinhos. Pois não é só a Clara que vai de férias. A mãe, o pai e o Tiago também vão de viagem. Depois de levarem a Clara à Quinta dos Póneis, eles seguem viagem até à costa. – Já estou ansiosa por ver o mar – diz a mãe, enfiando três pares de botas de borracha num grande saco de plástico. – Mas ainda faz muito frio para nadar, não faz? – pergunta a Clara, algo céptica. Nas últimas férias da Páscoa ela foi com eles para o litoral. Mal conseguia pôr os pés na água fria. Brrrr – estava um gelo para nadar! – Mesmo que ainda não se possa tomar banho, o mar é sempre lindo – diz a mãe, a sorrir, e dando um espirro. 19


– E, lá, a minha alergia como que desaparece! O pai traz os últimos sacos de viagem do quarto. – Então, sempre não queres ir connosco? – pergunta, para provocar a Clara. A Clara abana a cabeça, indignada: – Eu? Na! – Ouviram isto? – lamenta-se o pai, com cara triste. – Para a Clara, já não servimos, pura e simplesmente! – Para a próxima vez, vou com vocês – consola a Clara. – Mas agora quero mesmo ir para a Quinta dos Póneis! – Acho que não temos de ficar muito preocupados por a Clara ter grandes saudades nossas – diz o pai, a sorrir. «Pois não» pensa a Clara. Neste momento só há uma coisa que ela deseja muito: umas férias cheias de póneis! Oxalá a partida seja em breve! – Claro que vamos escrever-te – promete a mãe. – Podemos também telefonar? – Ah, não – a Clara abana a cabeça, indiferente. – Já não sou nenhum bebé! 20


– Como queiras – a mãe ri-se. – Mas mesmo assim, dou-te o número do nosso novo telemóvel. Nunca se sabe. A mãe vai à sala de jantar e escreve rapidamente o número de telefone numa folha de papel. – Não percas – adverte. – Claro que não! A Clara guarda a folha dobrada no bolso das calças. O bolso até tem fecho de correr. Como é que havia de o perder? Enquanto a mãe prepara um grande cesto com o piquenique para a viagem, o pai e a Clara

21


arrumam as coisas todas no carro. O Tiago também ajuda e até verifica se o urso de peluche fica sentado no banco de trás, ao seu lado. Chegou a hora, finalmente. A Clara dá um último abraço ao gato Miau, antes de a mãe o levar para casa da vizinha. O Miau não gosta muito de viajar, pelo menos, para tão longe. Mas até lhe agrada umas pequenas férias em casa da vizinha. A Sr.a Sandulescu gosta de gatos e o Miau gosta da Sr.a. Sandulescu. Depois, sentam-se todos no carro completamente atulhado. É uma sorte a mãe, o pai, a Clara e o Tiago ainda caberem lá dentro. – Podemos partir então! – O pai liga o motor. – Partida! – grita o Tiago a plenos pulmões. 22


A Clara olha para trás, para a casa. Embora seja parecida com todas as outras casas, a Clara acha que é a mais bonita da rua. Pelo menos, é a única que tem portas e caixilhos das janelas em azul-celeste. – Adeus, até breve! – despede-se ela, baixinho. Mal viraram a esquina e já a mãe fica inquieta: – Temos as botas de borracha. Os pijamas também, as escovas de dentes… Mas que coisa esquisita. Tenho a estranha sensação de que nos esquecemos de qualquer coisa. Mas do quê? – Não faz mal – anima-a o pai. – Esquecemo-nos sempre de qualquer coisa! – Quando é que chegamos? – pergunta o Tiago da sua cadeirinha. A mãe vira-se para trás. – Ainda falta muito tempo, Tiago! Ainda agora partimos! – Tenho sede! – reclama o Tiago. – Quero água! – rezinga ele por ninguém lhe ligar. – Água, água, água! O pai revira os olhos. 23


– Ainda não estamos em viagem há cinco minutos… – Já sei! – exclama a mãe, entretanto. – Esquecemo-nos do cesto do piquenique! – Não queres que volte atrás, pois não? – pergunta o pai, aborrecido. Também a Clara se agita impaciente no lugar. Gostava de ir o mais depressa possível para a Quinta dos Póneis! – Fiz uma enorme quantidade de croquetes – explica a mãe, decidida. – Além disso, não é longe. Assim, pouco depois, estão todos outra vez à porta de casa. A mãe abre a porta e vai num instante à cozinha buscar o cesto do piquenique. Antes de partirem, a mãe ainda dá ao Tiago um copo com sumo de groselha. – Tem cuidado – avisa a mãe, ao virar-se para trás para dar o copo ao Tiago. Mas acaba mesmo por acontecer: o Tiago deixa escorregar o copo das mãos e o 24


sumo de groselha vai entornar-se directamente nas calças amarelas da Clara. – Bolas, Tiago! – explode a Clara, zangada. – Ainda bem que aconteceu aqui – diz a mãe, a tentar consolá-la. – Assim ainda podes ir vestir outras calças. As vermelhas ficam lindamente! Que mais pode a Clara fazer? Corre a casa, com a mãe. Mas onde é que estão o diabo das calças? Estão na cómoda, lavadinhas de fresco. À pressa, a Clara despe as calças manchadas e veste as novas. Apesar da precipitação, a Clara não pode deixar de sorrir. As calças são da cor do sumo de groselha. E se o Tiago voltar a entornar sumo, de certeza que ninguém nota nada nas calças. Desce as escadas a correr. A mãe fecha a porta de casa pela última vez e lá partem então. 25


– Vai subindo à vontade – diz a senhora Barreto, sorrindo amistosamente para a Clara. – Logo à esquerda ficam os quartos das meninas. Podes escolher uma cama. A Clara nem precisa que lhe repitam. No primeiro quarto já estão muitas camas ocupadas mas, no outro, ainda há duas livres. Mesmo à conta: uma cama para a Ana e outra para ela. Pelo sim, pelo não, a Clara põe a mochila em cima duma cama e o casaco na outra. Pronto, assim deve dar! O pai ajuda a Clara a levar as coisas para cima. Cada menina até tem um pequeno armário para si. Fixe! 28


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.