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Memórias de uma bisavó

2023

Num dia de verão, Margarida resolveu levar a sua bisneta Beatriz ao museu Quinta da China, o qual tinha sido uma propriedade que pertencera à pintora Aurélia de Sousa. À volta do museu, via-se um grande campo com hortas e pomares. Perto da zona, havia um pequeno rio que separava o edifício de terrenos com casas que pareciam colocadas umas por cima das outras.

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Margarida e Beatriz entraram no museu. Lá, encontraram vários quadros em exposição e dois deles chamaram a atenção de Margarida. Um dos quadros ilustrava um pequeno jardim, tinha uma senhora deitada numa rede a descansar e, ao fundo, três raparigas em volta de uma mesa, ao lado, encontrava-se outra tela, onde se observavam três meninas numa sala, uma a costurar e as outras duas a olharem uma para a outra.

A senhora de 92 anos fitou o rosto redondo da bisneta e, sorrindo, começou por contar a história das duas pinturas:

- Em 1909, a minha mãe e a sua família foram convidadas pela famosa pintora, Aurélia de Sousa, para participarem num evento. A minha mãe chamava-se Clara, ela era uma rapariga tímida e alegre. Vivia com a sua irmã Cristina e a sua mãe, Berta.

1909

Clara e a família entraram numa linda casa e foram recebidas por uma senhora alta e simpática. Aurélia de Sousa era o nome dela. Mostroulhes vários quadros que tinha pintado e faloulhes sobre artistas que admirava.

A arte não era uma coisa que Clara apreciasse, o que mais gostava era de estudar botânica e saber mais sobre as plantas. A família foi guiada até um pequeno jardim que tinha várias árvores e flores que não se encontravam na cidade, uma das quais chamava-se Lírio Laranja, cujo nome científico era Lilium Bulbiferum. Os olhos azuis de Clara cintilaram como estrelas ao ver aquela linda paisagem cheia de vida e cor.

- Vejo que estás muito interessada neste jardim botânico! - exclamou Aurélia. Ao reparar na flor que a rapariga tanto observava, acrescentou:

- Ah! O meu preferido! Esta planta tem origem na Europa Central, e também podes encontrá-la em zonas montanhosas. O meu pai costumava viajar muito e, sempre que descobria uma bela planta como esta, resolvia trazê-la para este jardim. Este tipo de lírio é muito bulboso e duradouro. Normalmente, floresce no verão ou noutras estações como o inverno e a primavera. Clara olhou para a pintora e com um sorriso respondeu:

- Na minha terra, encontram-se apenas lírios brancos, cor- de - rosa e amarelos. A minha tia diz-me sempre que os laranjas eram usados para proteger as pessoas das bruxarias. Pensava que era apenas um mito, pois nunca tinha visto um. Enquanto a família desfrutava daquele espaço, Aurélia de Sousa pintou o quadro que eternizou aquele momento, o qual foi designado como “À Sombra".

2023

Ao acabar de contar a história da primeira ilustração, Margarida começou a falar do segundo quadro.

Àsombra, 1910-1911

- Esta pintura foi feita também por Aurélia, um ano depois de ter ocorrido a Implantação da República Portuguesa, em 1910, que foi resultado de uma revolução que removeu a monarquia constitucional e introduziu um regime republicano em Portugal. A minha mãe também está presente neste quadro!

1911

Dois anos depois, durante o Inverno, a família de Clara decidiu visitar Aurélia de Sousa. Quando chegaram à Quinta da China, notaram algumas diferenças naquele lugar. Havia menos árvores, o espaço verde tornara-se amarelado e a relva estava seca.

Cena familiar, 1911.

Cristina ficou maravilhada com os dois quadros e teve a ideia de pedir a Sofia e a Aurélia que pintassem um quadro da sua família. As duas artistas aceitaram a proposta e assim foram feitas duas pinturas, que ilustravam o mesmo acontecimento com pontos de vista diferentes. Nestas telas, a mãe de Clara estava sentada numa cadeira a fazer de conta que costurava um retalho de pano branco, ao lado, Clara segurava com um braço uma boneca e apoiava o outro numa mesa verde. Cristina, com a cabeça apoiada na mão, conversava com a irmã.

2023

- Aurélia de Sousa nomeou este quadro de "Cena familiar"- disse Margarida à bisneta, finalizando, assim, a histórias das duas telas. Beatriz, com um ar brincalhão, apontou para o cabelo da sua bisavó e disse:

Desta vez, quem os recebeu à porta da casa foi a irmã da pintora, Sofia de Sousa, esta era também uma artista. A família foi conduzida até a uma pequena sala, onde Aurélia estava a arrumar os óleos e pastéis, que tinham sido usados pelas suas alunas numa aula.

Clara e a sua irmã aproximaram-se de uma mesa onde se encontrava um retrato de uma camponesa, que tinha sido pintado pela Sofia de Sousa, e, ao lado, encontrava-se um parecido, com menos detalhes e pincelado.

- Acabei de fazer uma descoberta muito importante, avó! O teu cabelo era vermelho assim como o meu. Agora já não preciso de pensar muito nesse assunto! Margarida sorriu carinhosamente para a sua pequena e deu-lhe um terno abraço.

Ana Isabel Henrique,9ºD

Aurélia de Sousa - Projeto Cultural de Escola

1º lugar Ex quo - Mara Pereira - 10ºH / Rafaela Lopes - 12ºI

Júri - Carmo Pires (prof.ª História de Arte) - António Carvalhal (prof. Desenho) - Ana Magalhães (profª de Desenho)

César Fernandes (prof. Desenho) - Daniela Barreira (profª de Ed. Física)

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