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LICEU |

Escola Secundária Emídio Garcia | 2ª Edição 2010 / 2011

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

O umbigo da terra aqui tão perto

Património geológico de Bragança Ana Cortinhas

- Podemos imaginar o mar a cobrir a superfície de terra que todos nós (bragançanos, transmontanos) pisamos? - Podemos acreditar que a Península Ibérica esteve localizada em latitudes do hemisfério sul e, em virtude dos movimentos da superfície terrestre, veio ocupar o lugar onde se encontra hoje? - Onde se encontra a rocha mais antiga, datada, de todo o território continental? - Porque se designa a área de Morais (Macedo de Cavaleiros) o “umbigo do mundo”? Estas são apenas algumas das muitas perguntas curiosas, para as quais a magna ciência geológica procura obter respostas, mesmo tendo em conta a distância temporal que nos separa de muitos destes fenómenos. Se realizarmos uma viagem no tempo, cerca de 700 milhões de anos, podemos encontrar o “pseudo-início” desta longa história. Esta área já foi “coberta

de água”. A Península Ibérica não ocupou sempre o lugar que ocupa hoje e, no passado, esteve localizada no hemisfério sul. A rocha mais antiga de Portugal que se conhece encontra-se em Bragança (Tojal de Pereiros) e tem cerca de 1079 milhões de anos. A designação que é dada à aldeia de Morais, de “umbigo do mundo”(fig.1), geologicamente falando e, simplificando esta designação, deve-se ao facto de, nesta área, ser possível observar, num curto espaço geográfico, vestígios dos antigos continentes Laurússia e Gondwana e do Oceano Rheic. Trata-se de um fenómeno registado há 380 milhões de anos, que é, apenas visível, em cinco locais em todo o mundo.

As origens A história da actual Península Ibérica começa há mais de 510 milhões de anos, quando os seus territórios faziam parte da plataforma

continental marinha do desaparecido super continente Gondwana (América do Sul, África, Madagáscar, Índia, Austrália e Antártida, todos reunidos). Este grande continente aglomerava extensas zonas emersas e imersas por mares pouco profundos. Esta situação aconteceu antes da abertura dos actuais oceanos, que desintegraram o supercontinente Pangeia, posterior ao Gondwana e maior do que este. O nosso território de então estaria unido à Bretanha francesa, situando-se em latitudes muito próximas do Pólo Sul (paleoantárticas), permanecendo submerso por mares pouco profundos circundantes do Gondwana. Há aproximadamente 385 milhões de anos a sedimentação começou a reflectir o efeito da aproximação do Gondwana às outras placas continentais existentes: a Laurentia, a Báltica e o microcontinente Avalónia. Depois o Gondwana acaba por colidir com a Laurusia

Fig. 1 - Maciço de Morais Pereira, E., Breve História Geológica do NE de Trás-os-Montes INETI, FEUP, Universidade do Porto

(junção da Laurentia, da Báltica e da Avalónia), dobrando-se então todos os sedimentos acumulados nas plataformas marinhas de ambos os macro continentes. Como consequência destes movimentos assistiu-se à elevação e emersão dos materiais até então depositados nos fundos oceânicos. Os sedimentos mais antigos, os primeiros a depositarem-se, transformaram-se em rochas metamórficas, tais como quartzitos ou xistos. À medida que outros se foram acumulando, os mais superficiais, transformaram-se em rochas sedimentares. Algumas rochas chegaram mesmo a fundir-se formando magmas. Este conjunto de rochas antigas está bem representado, por granitos, migmatitos, quartzitos, xistos gnaisses, no mapa geológico simplificado do nordeste transmontano. Mais tarde (mesozóico e cenozóico) decorre o chamado ciclo alpino, cuja actividade tectónica persiste actualmente, como tem sido evi-

denciado pelos registos sísmicos, históricos e actuais no Norte de Portugal. No Cenozóico os limites do nosso território são muito próximos dos actuais. A movimentação decorrente ao longo de milhares de anos levou à actual configuração da superfície terrestre. O território do nordeste transmontano está, como a maioria do território português, integrado no Maciço Hespérico ou Ibérico (figura 2), resultante dos movimentos orogénicos provocados pela colisão de duas placas tectónicas continentais. A Este, no concelho de Miranda do Douro, o relevo caracteriza-se por um extenso planalto bem conservado que corresponde ao prolongamento da grande superfície da Meseta Norte ou de Castela-a-Velha. À medida que se caminha para Oeste a pene planície desaparece e o relevo acentua-se, ocorrendo grandes diferenças de altitude devido ao afundamento do principal sistema

Fig. 2 – Unidades morfo-estruturais da Península Ibérica Adaptado de Julivert et al., 1974; Ribeiro et al.,1979; Farias et al.,1987.


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