Continuum 30 - Abril-Maio/2011

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No romance Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, o amor (ou talvez a teoria do amor) ganha voz nas citações do personagem Benjamin Schianberg. É impossível viver o amor sem teorizá-lo, sem enquadrá-lo em conceitos e estatísticas? A nossa invencível tentação de racionalizar tudo explica, em parte, por que teorizamos tanto sobre o amor. Ainda bem que as explicações nunca satisfazem. E seguimos tentando, esquecidos, muitas vezes, de que amor é muito melhor de ser vivido do que de ser explicado. Esse livro foi adaptado para o cinema e deve ser lançado em breve. Outro filme, O Amor Segundo B. Schianberg, também é um produto saído do mesmo livro. Você participou do processo de feitura de ambos? O livro rendeu o longa homônimo, dirigido pelo Beto Brant e com estreia prevista para o fim do primeiro semestre, do qual escrevi o roteiro. O texto literário inspirou ainda a série O Amor Segundo B. Schianberg, que Beto rodou para a TV Cultura e depois transformou num longa, mas não participei desse processo como roteirista. Por fim, a obra também rendeu a peça Amor de Servidão, que escrevi em parceria com a Marília Toledo e que ganhou o Prêmio Shell de Dramaturgia em 2009.

Como você vê o panorama literário brasileiro hoje? A literatura mudou muito. Tenho a sensação de que é mais fácil publicar. Eu atravessei dez anos para lançar meu primeiro livro. Hoje as tecnologias estão muito mais disponíveis ao escritor. Um autor de Manaus não precisa mais de uma resenha do eixo RioSão Paulo para existir. Ele pode chegar ao mundo inteiro de uma forma muito louca. Você fala da internet... Também. Mudou a tecnologia e com as festas literárias também mudou muito a relação do escritor com a mídia e com seus leitores. Outra coisa importante: há muitas mulheres publicando. Nunca na história da literatura brasileira, nunca em tempo nenhum houve tantas mulheres escrevendo prosa e poesia. Se for olhar retrospectivamente, houve uma época em que havia a Rachel de Queiroz, a Lygia Fagundes Telles, a Clarice Lispector, uma poeta aqui, outra ali. A Hilda Hilst e pronto. Hoje não. Há variedade de assuntos, variedade de vozes. Antigamente a mulher tinha muita dificuldade em publicar, era oprimida até nisso. O universo masculino é muito cruel. Ou ela era Clarice ou ela era Carolina de Jesus, a coisa exótica, uma favelada escrevendo. Não se tinha a média, falta-nos o registro disso na história da nossa literatura.

“A pirotecnia no cinema nunca me atraiu. Gosto mais daquele onde não entra o computador”

Você acredita em oficinas de criação literária? Acredito que não se forma escritor em lugar nenhum fora dos livros. No entanto, as oficinas têm o poder de juntar gente com as mesmas ideias e isso é altamente subversivo, pode gerar coisas porque é quase uma sociedade secreta. O público leitor hoje no Brasil é muito pequeno. Temos uma seita de leitores. Cada livro aqui tem a tiragem de 3 mil exemplares, então são 3 mil leitores. Destes, 1.500 são escritores. Sobram uns 500 jornalistas. Então temos mil leitores que leem verdadeiramente por prazer. As oficinas acabam se tornando um caldo de cultura muito importante. Vem por aí um livro novo, não? O que pode dizer dele? O livro está atrasado, mas espero publicar até o final do ano. Chama-se Como se o Mundo Fosse um Bom Lugar e trata de uma história de amor que causa uma derrocada familiar. É o que posso dizer, o que sei do livro.

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O AMOR É UM FATOR DE REDENÇÃO E DE TRANSCENDÊNCIA. É ISSO QUE MEUS PERSONAGENS BUSCAM, AINDA QUE PELOS CAMINHOS MAIS TORTOS E ÁSPEROS. E JÁ SABENDO QUE SEMPRE SERÁ INCOMPLETO, POSTO QUE HUMANO.”


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