Observatório 17 - Livro e Leituras: Das Políticas Públicas ao Mercado Editorial

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OBSERVATÓRIO ITAÚ CULTURAL

tros softwares pensados para ajudar escri- lunas diferentes opções para compor frases, tores de longo fôlego. O Page Four permite oferecendo verbos, sujeitos e complemenque o autor organize e edite sua escrita em tos para que o usuário faça suas escolhas. A uma interface com abas. Já o Write It Now cada novo clique sobre a palavra “Générer!”, possibilita uma organização por hierar- os termos são recombinados formando um quia. A cada ano surtexto completamente “A partir de uma base lexical que gem novidades, como o novo. O que brincadeipode ser processada pela máquina, yWriter, WriteWay Pro, a construção discursiva daquilo que ras como essa colocam NewNovelist, Q10 etc. em questão é a própria chamamos ‘estilo’ é explicitada.” Na escrita em si, o ideia de um estilo auautor pode se beneficiar de softwares, mas toral. A partir de uma base lexical que pode pode também ter de encarar um concor- ser processada pela máquina, a construção rente cada vez mais forte: o próprio compu- discursiva daquilo que chamamos “estilo” é tador. A ideia de uma autoria centrada no explicitada, como nos geradores de sonetos sujeito é posta em questão pela produção de Shakespeare e de haikais. de literatura generativa. Os algoritmos se O que isso tem a ver com a literatura? mostram capazes de simular estilos, como A literatura generativa leva ao extremo uma o gerador de textos de Jorge Amado e Pau- proposta que precede o próprio computalo Coelho do site Mundo Perfeito. Ou ainda dor. Com base no recorta e cola virtual, reafuncionar como gerador de textos aleató- liza a receita de Tristan Tzara para o poema rios como o Gerador de Lero-lero, que se dadaísta, nos anos 1920: recortar palavras descreve com ironia: de um jornal, colocá-las num saco, misturar, retirar cada pedaço e copiar as palavras no Ideal para engrossar uma tese de mes- papel, na ordem em que aparecem. O comtrado, impressionar seu chefe ou preparar putador pode ainda tornar interativa, como discursos capazes de curar a insônia da no site Beverley Charles Rowe’s website3, a plateia. Basta informar um título pomposo proposta poética de “Cent Mille Milliards qualquer (nos moldes do que está sugerido de Poèmes”, de Raymond Queneau. Um dos aí embaixo) e a quantidade de frases dese- nomes mais conhecidos do grupo francês jada. Voilá! Em dois nano-segundos você OULIPO – Ouvroir de Littérature Potenterá um texto - ou mesmo um livro inteiro - tielle (Oficina de Literatura Potencial), pronto para impressão. Ou, se preferir, faça Queneau criou um poema composto de 10 copy/paste para um editor de texto para sonetos de 14 versos alexandrinos, que deformatá-lo mais sofisticadamente. Lem- veriam ser manipulados de forma indepenbre-se: aparência é tudo, conteúdo é nada. dente, permitindo montar trilhões de combinações aleatórias. Trata-se de uma versão mais simples Pode-se ir mais longe ainda, voltando de programas como o francês Générateur às origens da arte combinatória ao século de textes aléatoires, que dispõe em cinco co- XVII, com a Dissertatio de Arte Combina-


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