OBSERVATÓRIO ITAÚ CULTURAL
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QUE CIDADE TE HABITA?
SAMPA NEGRA: PERIFERIA, CONTRACULTURA E ANTIRRACISMO Salloma Salomão
Estudamos a cidade negra-periférica que habita São Paulo, refletindo sobre as presenças histórica e cultural dos descendentes de africanos e sua marginalização constante no processo de modernização da cidade. Localizam-se protagonistas artísticos culturais negrxs e perifericxs para compor um novo mapa e salientar vozes silenciadas pelo racismo e apagadas ante o elitismo cultural. Questionamos a narrativa única de matriz modernista, que ordena a história/ memória oficial da cidade. E como alternativa instauramos perspectiva afro-periférica num diálogo crítico com as bibliografias afro-brasileiras no Atlântico Negro, em eixo hemisférico sul.
[...] Panaméricas e Áfricas utópicas, túmulo do samba, mais possível novo Quilombo de Zumbi. Caetano Veloso
O
otimista poeta baiano viu a cidade de São Paulo em meados da década de 1970 como um espelho que não refletia sua imagem e projetou-a como uma cidade negra, um moderno quilombo. O panorama que construo aqui é incompleto e provisório, mas carrega em si os contornos não retilíneos de experiência constituída de aprendizagens intelectuais, escolares e extraescolares, acadêmicas e artísticas, entre uma média cidade no interior de Minas Gerais e os arredores da capital paulista. Trato de práticas e ideias que resultaram em vivências e interpretações, leituras e trocas assistemáticas em diferentes circuitos de produção cultural e artística, educação pública a ativismo antirracista.
Este texto pode ser considerado uma versão sintética e prévia de um livro com o mesmo título a ser publicado em breve. Minhas referências para a construção da pesquisa têm sido cursos, palestras, conferências e rodas de conversa que organizo e dos quais participo. Conversas várias com coletivos artísticos e parceiros de aventura. São também leituras de bibliografias sobre culturas urbanas contemporâneas, publicadas por sociólogos, semiólogos, museólogos, gestores públicos e privados de cultura, antropólogos, urbanistas, historiadores, artistas, jornalistas e ativistas. Realizei pesquisa de campo, entrevistando pessoas e acompanhando os trabalhos criativos que envolvem grupos e coletivos de