TGI II - Banhado e Núcleo: um novo elo de coletividades

um novo elo de coletividades

BANHADO E NĂšCLEO

BANHADO E NÚCLEO um novo elo de coletividades

TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO II Isadora Santilli Neves Instituto de Arquitetura e Urbanismo | IAU-USP Comissão de Acompanhamento Permanente Profa. Dra. Lucia Zanin Shimbo Coordenação de Grupo de Trabalho Prof. Dr. Manoel Rodrigues Alves Universidade de São Paulo, São Carlos, 2019.

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO Trabalho de Graduação Integrado apresentado no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, USP - Campus de São Carlos.

Isadora Santilli Neves

BANCA EXAMINADORA

_________________________________ Profa. Dra. Lucia Zanin Shimbo

_________________________________ Prof. Dr. Manoel Rodrigues Alves

Data:

/ 12 / 2019

_________________________________ Prof. Dr. Caio Santo Amore de Carvalho

_________________________________ Conceito Final

RESUMO O presente trabalho tem como objetivo atuar como ferramenta na luta pela permanência pacífica, segura e dotada de urbanidade da centenária Comunidade do Banhado, em São José dos Campos-SP. Para tanto, propõe-se um Plano Geral de Intervenção que sumariamente tem como foco articular Saneamento, Espaços Livres de uso coletivo e Produção (trabalho e formação).

Busca-se na apropriação do espaço público por excelência, através de práticas coletivas, um meio de resistir a dinâmicas segregadoras, propondo novas e democráticas espacialidades e múltiplos convívios.

Sendo esse trabalho ramificação de uma construção coletiva, nada mais justo do que retornar à tal dimensão. #BanhadoResiste e propõe.

AGRADECIMENTOS À minha querida mãe, que sempre viu na educação um meio de subverter aos padrões impostos. À toda a equipe do Grupo de Pesquisa PExURB, foi na extensão que pude sentir um gostinho do que significa ser Arquiteta e Urbanista - e eu me apaixonei.

PROCESSO 10 CONCEITUAL

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PERCEPÇÕES URBANAS

QUESTÃO FUNDIÁRIA URBANIDADE COMO DIREITO ESPAÇO COLETIVO | DIREITO AO LAZER A REGIÃO METROPOLITANA A CIDADE O BAIRRO

DIRECIONAMENTOS O SISTEMA E OS RESÍDUOS 30 PRÁTICOS OS CATADORES POLÍTICAS PÚBLICAS O PLANO POPULAR TRAÇADO 36 PROJETUAL

74

BIBLIOGRAFIA

O PLANO GERAL DE INTERVENÇÃO OS FUNDOS DE CONEXÃO NÚCLEO

ÍND ICE

“Se planejamos para um ano, plantamos arroz.

Se planejamos para dez anos, plantamos árvores.

Se planejamos para cem anos, preparamos pessoas.”

- antigo provérbio chinês

10

PROCESSO CONCEITUAL

A QUESTÃO FUNDIÁRIA

É fato que, desde sua formação até a contemporaneidade, as cidades brasileiras apresentam uma urbanização desigual, pautada na concentração fundiária e na segregação socioespacial.

Sua origem data do processo de ocupação do território brasileiro no qual, inicialmente, a aquisição da propriedade deu-se por meios de conquistas, com expulsão e, ou, subjugação dos povos originários (1). Até mesmo o processo de concessão de sesmarias já tinha raízes na concentração de terras nas mãos de poucos. Porém foi com a Lei de Terras (1850) que estabeleceram-se as bases jurídicas para que a terra viesse a se tornar uma mercadoria nas transações entre credores e fazendeiros, sendo essa uma das bases do desenfreado processo de urbanização.

Majoritariamente, como parte desses processos, pode-se destacar a restrição do acesso à terra urbanizada aliada, no contexto de industrialização, com os baixos salários, provocando o adensamento populacional. Já no início do processo de industrialização, em meados dos anos 30, o problema de moradia da mão de obra resolveu-se, em parte, com a construção das “vilas operárias”, geralmente contíguas às fábricas, cujas unidades de habitação eram alugadas ou vendidas aos operários (2). Tal ação tomada pela empresa ao fornecer moradia a seus trabalhadores diminuía as despesas com a própria sobrevivência, abaixando assim o teto salarial. Dependendo também do baixo custo dos terrenos e da construção dos empreendimentos, a solução era viável na medida em que a quantidade de força de trabalho a ser alojada fosse relativamente reduzida. Porém, com a intensificação do processo de industrialização, esse número cresce vertiginosamente, sobretudo devido ao intenso fluxo migratório, gerador de excedente de força de trabalho nas cidades.

Com isso, as empresas transferem a responsabilidade relativa à moradia - bem como ao transporte público e outros serviços - ao Estado, ficando à mercê das relações econômicas do mercado imobiliário.

11

Diante desse cenário, surge assim a chamada “periferia”: aglomerados distantes dos centros, clandestinos ou não, carentes de infraestrutura, onde passa a residir crescente quantidade de mão de obra.

Como acumulação e especulação andam juntas, a localização da classe trabalhadora passou a seguir os fluxos dos interesses imobiliários.

No contexto explosivo do crescimento metropolitano, o poder público só se muniu tardiamente de instrumentos legais para tentar dar um mínimo de ordenação ao uso do solo. No entanto tal iniciativa ocorre num período em que o desenho urbano já está em grande parte traçado em consequência da retenção dos terrenos por parte de grupos privados. Desta forma a ação governamental restringiu-se, tanto agora como no passado, a seguir os núcleos de ocupação criados pelo setor privado, e os investimentos públicos vieram a colocar-se a serviço da dinâmica de valorização-especulação do sistema imobiliárioconstrutor. (2)

Em 2001, a criação do Estatuto da Cidade regulamentado com a aprovação da Medida Provisória no 2.220/01 -, surgiu como resposta à urgente necessidade de reforma estrutural no planejamento urbano e na ordenação do território, as quais deveriam ser encaradas sob uma perspectiva social e coletiva.

Teve como objetivo dentre as principais inovações, a inclusão de diretrizes para assentamentos precários, bem como positivar princípios fundamentais de desenvolvimentos urbano - o que possibilitou a aplicação de limitações administrativas às propriedades que descumprissem sua função social, visando, assim, a garantia de seus direitos, além da consequente elevação da qualidade de vida dos moradores.

(1) TORRES, 2008 (2) KOWARICK, 1979

12

PROCESSO CONCEITUAL

URBANIDADE COMO DIREITO Durante o processo de urbanização, a ação reguladora do Estado e o direcionamento de investimentos públicos foram em sua grande parte deslocados para o favorecimento de setores privados, caracterizando assim um mercado imobiliário voltado a uma parcela restrita da população, enquanto a maioria seguiu em condições precárias de moradia. (3) A segregação da força de trabalho acaba por reformular os sentidos e representações atribuídos à cidade e sua urbanidade. As cidades modernas passaram a substituir a ideia de habitar, que estaria relacionada à vivência plena do espaço urbano, por uma noção de habitat, que seria a moradia reduzida à função de abrigo submetendo-se aos modos alienados de cotidiano (4). Sob tal perspectiva, a racionalidade urbana passa a atuar como fragmentadora, intensificando as segregações de classe e, além de espoliar os direitos civis e sociais, espolia em grande parte o próprio “direito à cidade”.

Ainda de acordo com o autor, a cidade moderna pressupõe centralidades e existência de um centro dinâmico repleto de urbanidade e espaços públicos. Contudo, identifica intrínseco ao urbanismo moderno o teor ideológico e estratégico da classe dominante na centralização dos acessos à essa mesma cidade. Em suma, a racionalidade fragmentadora do modelo de urbanidade moderna corrobora na intensificação das segregações por meio da separação funcional das atividades e da sociedade no espaço (4).

Complementarmente, o espaço tem poder em ditar a base da vida comum ao constituir dimensões cotidianas experienciadas entre as mais diversas pessoas, acordos, instituições e conflitos.

Por assim ser, trata-se de um conceito que provoca a reflexão de nossa relação pessoal com o mundo à nossa volta. (5)

(3) FERREIRA, 2009 (4) LEFEBVRE, 2001 (5) SANTOS, 1997

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Tem-se, então, a segregação como manifestação espacial da exclusão social (6), sendo aquela provocada não somente pelo fator de irregularidade na posse, e sim pela soma de diversos outros aspectos como baixos salários e escolaridade, violência, etc., as situações de vulnerabilidade aprofundam a fragilidade dos direitos sociais da população de baixa renda (7).

Nesse sentido, a cidade é entendida como um campo mediador no qual valores e direitos devem ser incorporados e, determinada pela soberania do aparato do planejamento urbano, a informalidade passa a ser considerada um estado de exceção (9).

Contraposto a esse ideal, emerge o fato de que tais racionalidades alternativas são essenciais na concepção de projetos democráticos (10).

Somado ao conflito histórico entre o direito de permanência dos habitantes na área por eles ocupada e a natureza de zona de preservação histórico-ambiental, o sentimento de estar avulso à cidade que faz com que seja tão complexo desenvolver políticas públicas que visam dotar esses territórios de urbanidade, como se não pertencessem, se não fossem a cidade (8). Como se ali fosse o local da desordem, descartando assim qualquer outra racionalidade.

Não são econômica nem politicamente marginais, mas são explorados e reprimidos, não são social e culturalmente marginais, mas são estigmatizados e excluídos de um sistema social fechado. Não são passivamente marginais em termos das suas próprias atitudes e comportamento, ao contrário, estão sendo ativamente marginalizados pelo sistema e pela política oficial (11).

(6) VILLAÇA, 2003 (7) KOWARICK, 2009 (8) SANTO AMORE; MORETTI, 2018 (9) GRANJA, 2018 (10) RIBEIRO, 2005 (11) PERLMAN, 1977

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PROCESSO CONCEITUAL

ESPAÇO COLETIVO Vida em grupos sociais relativamente homogêneos, mais numerosos que os integrantes da vida privada e menos heterogêneos que os necessários para a caracterização da esfera como pública. (12)

ESFERA DE VIDA SOCIAL

CONCEITOS CHAVE diversidade urbana uso cotidiano relações sociais pré existentes (13) educação como promotora de cidadania construção do sujeito transformação social (14) oportunidades de desenvolvimento livre arbítrio agente modificador (15)

Se é importante a integração física e a infra estruturação desses tecidos urbanos, importa tanto quanto (ou ainda mais) incorporar elementos que, ao reconhecer as potencialidades que esses territórios oferecem, fomentem cidadania e cidade em tecidos de grande carência urbana.

Crianças brincando em rua da Comunidade do Banhado. (16)

15

tendência em serem reduzidos por novas construções e ampliações que avançam sobre a circulação ou mesmo por usos privados sem construção não somente espaços de circulação, mas verdadeiros espaços de uso coletivo, para as mais diversas atividades cotidianas

separação fluida

RUA

LARGOS

DIREITO AO LAZER

dois universos indistintos

MAIORIA DAS MORADIAS PRECÁRIAS + EQUIPAMENTOS DE LAZER RAROS

fronteiras oscilantes e mutáveis dependem de usos e apropriações, sendo modificadas ao decorrer do dia

RUA COMO ESPAÇO FUNDAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES INFANTIS

CASA

muitas vezes são ”melhorados” tornando-se um híbrido entre um pátio coletivo e uma praça, servindo tanto para atividades domésticas ou assumindo caráter público com festividades e encontros comunitários

PRAÇAS

espaços de convivência local que servem ao lazer e convívio dos moradores das redondezas normalmente de pequenas dimensões, abrindo-se em frente a algumas casas baixa acessibilidade

(12) (QUEIROGA, 2006, (13) JACOBS, 1961 (14) FREIRE, 1996 (15) SEN, 2012 (16) fonte: acervo Grupo de Pesquisa PExURB

16

PERCEPÇÕES URBANAS

A REGIÃO METROPOLITANA Mapas da localização do Estado de São Paulo e da Região Metropolotana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, com destaque para o município de São José dos Campos.

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campos do jordão

343 km

93 km

campinas

rio de janeiro

são josé dos campos

163 km

90 km 87 km são paulo caraguatatuba 25 km 160 km

60 km

são sebastião

santos

Mapa da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, relacionando distâncias de cidades relevantes, aeroportos e portos. | Fonte: autoria própria.

São José dos Campos Sub-Região 1 Sub-Região 2 Sub-Região 3

Criada pela Lei Complementar nº 1.166, em 9 de janeiro de 2012, a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVLPN) abriga 5 subregiões totalizando 39 municípios com número total de aproximadamente 2.5 mi de habitantes.

Sub-Região 4 Sub-Região 5 Aeroporto Porto

São José dos Campos apresenta-se como uma das principais cidades da RMVPLN, sendo sede da mesma.

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PERCEPÇÕES URBANAS

A CIDADE O municipio é constituído por três distritos, com limites estabelecidos pela Lei Municipal 8.092, de 28/02/1964: São José dos Campos (sede), Eugênio de Melo e São Francisco Xavier. Estes dois últimos dotados de administradores distritais, para maior aproximação entre o poder central e a população local. O distrito de São José dos Campos é dividido em dois subdistritos: subdistrito de São José dos Campos e subdistrito de Santana do Paraíba.

ÁREA

1.099,409 KM2

SITUAÇÃO URBANA RURAL TOTAL

ÁREA

MUNICÍPIOS LIMÍTROFES %

353,9 KM2 32,2 745,7 KM2 67,8 1.099,4 KM2 100

NORTE CAMANDUCAIA, SAPUCAÍ MIRIM (MG) SUL JAMBEIRO, JACAREÍ LESTE MONTEIRO LOBATO, CAÇAPAVA

Fonte: tabela de autoria própria, baseada em dados da Secretaria de Planejamento Urbano de São José dos Campos

22

OESTE IGARATÁ, JOANÓPOLIS

RIO PARAÍBA DO SUL 1.137 km de extensão, nascendo na Serra da Bocaina (Areias) e desaguando em Atafona (norte do RJ), é o mais importante rio do Rio de Janeiro. O território de sua bacia banha um total de 88 municípios em Minas Gerais, 57 no Rio de Janeiro e 39 em São Paulo.

Exerce forte influência em todo o território do Banhado, estando inclusive relacionado ao nome originário do mesmo. Em se tratando de uma planície aluvial, a área em que hoje se encontra a Comunidade há muitos anos foi palco de intensa rizicultura porém, devido à instalação de represas nas proximidades do curso d'água, o nível e a frequência dos alagamentos abaixaram substancialmente.

OCUPAÇÃO URBANA/TEMPO

19

1869 estrada D E F E R R O 1930 igreja matriz

1924 sanatório vicentina aranha

1 9 6 1

I N P E

1950 rodovia presidente dutra

Mapa de ocupação da mancha urbana ao longo do tempo, relacionando com as implantações da Estrada de Ferro e da Rod. Presidente Dutra. | Fonte: autoria própria, adaptado de imagem de autoria desconhecida.

Localizado no no centro histórico de São José dos Campos, o Banhado muito já presenciou em termos de mudanças na malha urbana joseense, estando inclusive sua ocupação inicial diretamente relacionada à presença da Linha Férrea.

32

Banhado anos 1920 e anteriores anos 1930 anos 1940 anos 1960

anos 1970 anos 1980 anos 1990 ferrovia (1869) rodovia (1950)

20

OCUPAÇÃO URBANA/TEMPO E HIERARQUIA VIÁRIA

Mapa de ocupação da mancha urbana ao longo do tempo, relacionando com a Estrada de Ferro e a Rod. Presidente Dutra, e hierarquia viária municipal. | Fonte: autoria própria, adaptado de imagem de autoria desconhecida; Plano Diretor de São José dos Campos, 2018.

De acordo com o mapa acima, é possível notar a localização privilegiada da Comunidade do Banhado, uma vez que encontra-se nessa irrigada malha viária, a qual articula importantes eixos da cidade, além de concentrar as linhas de transporte público (ver mapa p. 22)

Banhado

anos 1980

anos 1920 e anteriores

anos 1990

anos 1930

anos 2000-2010

anos 1940

ferrovia (1869)

anos 1950 anos 1960

anos 1970

via marginal

estrada municipal via expressa via arterial via coletora

n.i.

20%

VIA BANHADO

MEIOS DE TRANSPORTE a pé 34%

ônibus 25% bicicleta 5% carro 11% 0

Mapa da Proposta de Implantação da Via Banhado, em relação com a Área Diretamente Afetada. | Fonte: Secretaria de Transportes da Prefeitura Municipal de São José dos Campos

500 m

Via Banhado Área Diretamente Afetada - 430.349 m²

Contraposto a isso, estima-se que diretrizes propostas pelo Plano de Urbanização e Regularização Fundiária do Banhado (abordado a seguir) - ao agir em consonância com as demandas e limites ambientais - beneficie diretamente (ambiental e urbanisticamente) 420.000 m² (área da comunidade) e indiretamente 5.717.998,48 m² (do Banhado). Além disso, estima-se que 2.000 pessoas sejam diretamente beneficiadas, ao passo que indiretamente beneficiem-se 700.000 pessoas.

moto 5%

Gráfico de meios de transporte utilizados pelos moradores. | Fonte: autoria própria, baseado em dados do Grupo de Pesquisa PExURB, 2019.

VIA BANHADO: PARA QUEM? O principal argumento de proposição da Via Banhado, apoia-se sobre uma já bastante consolidada visão rodoviarista de progresso e desenvolvimento urbano. Tal ideologia firma-se ainda como uma realidade associada às classes de maior renda. No caso da Comunidade do Banhado (alvo certeiro de sua materialização), como se não bastasse seu caráter agressivo, é tida como desnecessária aos modos de vida dessa população, visto que apenas 11% dos entrevistados têm no carro seu meio de transporte principal.

21

22

Atrelado a esse fator, é fundamental pontuar sobre a localização estratégica do Banhado.

Localizado no coração físico e histórico de São José dos Campos, a Comunidade coexiste com uma expressiva rede de transporte público, articulada bem em seu cerne. Tal fato pode ser comprovado também pelos resultados do questionário, sendo o ônibus o segundo meio mais utilizado (25% dos entrevistados).

CENTRALIDADES E TRANSPORTE PÚBLICO

centralidade metropolitana

centralidade municipal centralidade local existente centralidade local a induzir integração de linhas de transporte público corredores de ônibus

Mapa das Centralidades e Corredores Estruturais de Transporte Público.

Fonte: autoria própria, com base em Plano Diretor de São José dos Campos, 2018.

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EQUIPAMENTOS FREQUENTADOS

raios (0,5; 1,0; 1,5; 2,0 km) lazer educação saúde transporte segurança Mapa de equipamentos frequentados pelos moradores da Comunidade do Banhado.

Fonte: autoria própria, baseado em mapa do Grupo de Pesquisa PExURB.

O

fato de que a maioria dos equipamentos se encontra tão próxima à Comunidade, relaciona-se diretamente com o dado anteriormente mostrado de que 34% dos moradores têm aí sua principal forma de locomoção, e 56% trabalham em um raio de até 1 km, ou seja, deslocam-se diariamente a pé sem necessidade de transporte público ou automóvel.

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ÍNDICE PAULISTA DE VULNERABILIDADE SOCIAL (IPVS) NÚCLEOS INFORMAIS ZEIS, HIS E REMOÇÕES

Mapa de recorte do município de São José dos Campos, cruzando dados referentes à vulnerabilidade social, núcleos informais, ZEIS e HIS, bem como importantes eixos de remoção.

Fonte: Autoria própria, com base em GeoSeade; Plano Diretor de São José dos Campos, 2018; ZARATINE, 2016.

APA do Banhado

40

RENDA FAMILIAR MÉDIA (EM REAIS)

baixíssima vulnerabilidade vulnerabilidade muito baixa

Gráfico de Renda Familiar Média. | Fonte: autoria própria, elaborado a partir de questionário aplicado na Comunidade do Banhado pelo Grupo de Pesquisa PExURB, 2019.

30

vulnerabilidade baixa vulnerabilidade média vulnerabilidade alta - urbanos

20

vulnerabilidade muito alta aglomerados sub normais urbanos vulnerabilidade alta - rurais

10

PARÂMETROS DE VULNERABILIDADE

núcleos informais

renda domiciliar nominal média*

ZEIS 90 110 00 10 01 -2 50 0 25 01 -5 00 0

80 190 0

70 180 0

50 160 0

40 150 0

30 140 0

20 130 0

10 120 0

HIS

0

renda domiciliar

per capita*

8.113

3.001

3.015

915

Ainda referente ao mapa anterior, a fim de melhor contextualizar, é

2.504

752

importante destacar que o salário mínimo vigente no Brasil atual é de

1.700

466

998 reais (2019), o que leva à constatação de que a enorme maioria

1.463

392

desses(as) trabalhadores(as) exercem empregos informais, carecendo

848

233

de toda a estrutura de benefícios e segurança do trabalho que uma

1.260

379

eixos de remoção

carteira assinada pode proporcionar.

*em reais (agosto 2010) | Fonte:autoria própria, elaborado a partir de dados da Fundação GeoSeade

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26

PERCEPÇÕES URBANAS

O BAIRRO

O RIO, A VÁRZEA E A ENCOSTA SEMICIRCULAR

A área correspondente à região do Banhado conforma-se estruturalmente por uma bacia sedimentar integrante do sistema de várzeas do Rio Paraíba do Sul, sendo caracterizada como um “anfiteatro meândrico”, único em todo o Brasil (1).

Constitui-se em uma planície aluvial banhada, no passado, pelas cheias do Rio Paraíba do Sul e fisicamente separada do centro comercial da cidade por uma falésia de cerca de 30 metros de altura. Constitui extensa área verde associada à privilegiada vista da Serra da Mantiqueira, o que faz do local objeto de valorização e especulação imobiliária permanente.

Anteriores processos de inundação da planície constituíram rica camada sedimentar, incluindo solos (turfa, areia e argila) e conformando áreas altamente férteis para o desenvolvimento agrícola.

Tal atrativo, aliado à construção da Estrada de Ferro, proporcionou ocupação por parte da população de baixa renda, oriunda principalmente das zonas rurais. A área do bairro foi transformada em APA Municipal (1984), APA Estadual (Lei Estadual N° 11.262, 2002) e Parque Municipal (2011).

(1) AB’SÁBER, 1995

Mapa topográfico da região de São José dos Campos, com destaque para a região do Banhado.

Fonte: base OpenStreetMap.

AS PESSOAS

RELAÇÃO TERRA-TRABALHO

mulheres 47.9%

homens 52.1%

Gráficos de Identidade de Gênero, e Faixa Etária. | Fonte: autoria própria, com base em dados do Grupo de Pesquisa PExURB, 2019.

150

100

50

0

0-10

11-18 19-30 31-50 51-65 idade em anos

65+

Como visto, a Comunidade do Banhado possui vínculo histórico com os modos de produção agrícola (segundo maior uso das terras do Banhado, atrás apenas do lazer) e de culturas, como a criação de animais - em especial a piscicultura. Da população total, 30% trabalha na própria comunidade. Os ciclos produtivos locais, além de proverem renda aos moradores e representarem importante papel em sua segurança alimentar (41% das famílias retiram o alimento diário do Banhado), também abastecem comércios da porção central da cidade, sendo fatores que justificam sua consolidação a partir de iniciativas que fomentem esse tipo de produção.

A segunda característica dessa relação é a proximidade dos moradores em relação aos seus empregos, o que promove maiores oportunidades, menores custos de deslocamento, economia de tempo, aumento na qualidade de vida e proximidade com os serviços, comércios e instituições públicas. Para a cidade, representa menores investimentos em novas infraestruturas sociais, de saneamento e de transporte além da otimização dos serviços existentes.

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28

TIPOLOGIAS DE OCUPAÇÃO I área espraiada por chácaras, ocupada desde a década de 1930 por pequenos agricultores

NÚCLEO

300m

-

150m

-

0

-

II espaços mais adensados, ocupada desde as décadas de 1960 a 80 por trabalhadores ferroviários e da indústria, ainda inscipiente

29

Ao longo da história da cidade, a área tem sido palco de conflitos pela apropriação de seu potencial econômico e paisagístico por agentes públicos e privados, num campo de disputas que abriga diversos atores e interesse - desde organizações multilaterais a políticos, advogados, promotores, militantes de movimentos sociais e ambientalistas, que enredam em complexa rede a população tradicional que vive na APA há cerca de 80 anos e que luta contra alterações drásticas em seu modo de vida, pela manutenção dos modelos tradicionais da vida em bairro (2).

(2) ALMEIDA, 2017.

200

30

núcleo II 35%

Gráficos comparativos entre os dois núcleos de ocupação da Comunidade | Fonte: autoria própria, baseado em dados do Grupo de Pesquisa PExURB, 2019.

150

20 100

10 50

núcleo I 65% 0

percentual do território

núcleo I

núcleo II

número de moradias

0

núcleo I

núcleo II

densidade demográfica

30

DIRECIONAMENTOS PRÁTICOS | ESCALA CIDADE

O SISTEMA E OS RESÍDUOS As diretrizes projetuais na escala da cidade de São José dos Campos têm como objetivo principal integrar atividades programáticas de ação mais pontual no Bairro do Banhado às dinâmicas urbanas da cidade em que se insere, sobretudo à nível dos resíduos - foco de ação do projeto do Núcleo.

Já no que diz respeito às vivências e experimentações promovidas pelo Sistema de Espaços Livres proposto no Bairro, e apesar de sua configuração ter forte relação com o aspecto macro de Áreas de Preservação, é importante frisar que a requalificação desses espaços visa contribuir primacialmente nas dinâmicas internas do bairro.

Dentre os objetivos, inclui-se prioridades que seguem no sentido de fortalecer a vitalidade urbana, cultural e de cidadania de São José dos Campos, como: _ inclusão sócio produtiva dos catadores; _ maior reaproveitamento da coleta seletiva e da reciclagem; _ compostagem e recuperação de energia; _ maior participação social; _ redução de resíduos nas fontes geradoras; _ redução da disposição final no solo.

. . .

A questão contemporânea de resíduos acabou por tornar-se uma das motivações centrais do trabalho devido à grande presença de catadores de material reciclável residentes na Comunidade do Banhado, muitos dos quais têm na profissão sua única fonte de renda.

Todos os dias, trabalhadores e trabalhadoras adaptam suas rotinas para, ainda de madrugada, saírem rumo à cidade acima realizar a catação. Após intenso ritmo de atividades, retornam à Comunidade e acabam por encontrar soluções rápidas, porém precárias de armazenagem, transporte, segurança e saúde em sua ocupação.

A Rua da Linha, principal via estruturadora da Comunidade, conhece trechos nos quais funcionam depósitos de materiais recicláveis a céu aberto. Tal realidade deveria configurar forte argumento em favor da permanência da Comunidade, uma vez que sua inserção no Banhado promove, conforme visto anteriormente, oportunidade de trabalho e fonte de renda. (1) Estoque domiciliar de material reciclável de catador e morador da Comunidade do Banhado. (1)

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OS CATADORES Representados por um enorme contingente de trabalhadores pouco valorizados e reconhecidos, submetendo-se a condições extremamente precárias de saúde e trabalho, os catadores de material reciclável são os principais agentes ambientais da coleta seletiva no Brasil. (2) O número total de catadores em atividade no Brasil é um dado bastante confuso, estima-se desde 300 mil a 800 mil catadores (3) até 1 milhão (4). Contudo, apesar as variações, menos de 10% do total trabalha de forma organizada em cooperativas ou associações (5).

Não bastasse a informalidade e fragilidade trabalhista, os valores pagos pelo material coletado são extremamente baixos. É essa realidade é que promove a eficiência da cadeia de reciclagem no Brasil, assegurada pelas relações de exploração e desigualdade estabelecidas entre seus integrantes (1).

(1) Fonte: acervo Grupo de Pesquisa PExURB, 2019 (2) DEMAJOROVIC, 2013 (3) BNDES apud Instituto Ethos, 2007 (4) Cempre, 2010a (5) DEMAJOROVIC & BESEN, 2007

32

POLÍTICAS PÚBLICAS Por ser uma temática de saúde e infraestrutura públicas, a delicada questão contemporânea dos resíduos exige efetividade dessas políticas, a citar algumas delas: _ programas municipais de manejo de resíduos e educação ambiental; _ reconhecimento de organizações de catadores na condição de protagonistas da cadeia produtiva de resíduos sólidos; _ inserção dos catadores autônomos em programas voltados para o fortalecimento institucional afim de gerar mais postos de trabalho e renda. (2)

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Fato é que a geração de resíduos está diretamente relacionada ao grau de desenvolvimento econômico da cidades, ou seja, quanto mais ricas, maiores os números em produção de resíduos (2). Em se tratando de um dos maiores PIBs do Estado de São Paulo, São José dos Campos enquadra-se nessa realidade.

Dados do site da Prefeitura mostram que a coleta seletiva é realizada em São José dos Campos desde a década de 90 e ocorre no formato porta a porta em 100% da área urbanizada da cidade. Afirma ainda contar com uma frota especializada de veículos que realizam a coleta diversas vezes por semana, a depender da especificidade do bairro.

Após coletados, os resídios são destinados ao Centro de Triagem da Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Urbam, o qual é de responsabilidade da Central de Cooperativas de Catadores (gerando inclusão social e renda para cerca de 100 famílias).

(6) (6) https://www.sjc.sp.gov.br/servicos/manutencao-da-cidade/simisa/residuos-solidos/, acessado em 04-09-2019

16

33

0

2km

4km

-

-

-

AMBIENTAL, RESÍDUOS E SANEAMENTO

Parques Pontos de Entrega Voluntários (PEV)

Seja por definições projetuais ou pré definições existentes, dentre esses equipamentos urbanos, tanto o Plano Geral de Intervenção quanto o Núcleo concentram: Núcleo Proteção Integral

Aterro Sanitário Estação de Tratamento de Água (ETA) Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)

Uso Sustentável

Mapa de Áreas de Proteção Ambiental, parques, PEVs, ETA e ETE. | Fonte Autoria própria, com base em GeoSeade e Prefeitura de São José dos Campos.

34

O PLANO POPULAR No âmbito de pré existências consideradas no projeto, é fundamental destacar a referência do Plano Popular de Urbanização e Regularização Fundiária do Banhado (7), do qual a autora participou ativamente de sua concepção, por mais de um ano.

O Plano Popular do Banhado (8) foi construído multidiscliplinarmente e em conjunto com a Associação de Moradores com o objetivo de munir a Comunidade na luta em favor da permanência pacífica e segura no local. Contudo, as dificuldades não cessaram com a finalização do Plano, muito pelo contrário, os trâmites burocráticos continuam em pauta e não são de fácil resolução, mas ver os moradores, aqueles que detêm o Plano por direito e excelência, apropriarem-se de tão dedicado esforço coletivo é indescritivelmente satisfatório.

E é nesse sentido que procuro realizar também o presente trabalho, uma vez que revisita alguns aspectos gerais do Plano, e desenvolve outros.

Podendo-se resumir alguns desses aspectos: Revisitados: _ estruturação da malha viária e acessos _ tratamento de saneamento ao longo da via principal _ estratégias gerais de saneamento (água e esgotamento) _ dimensão educativa de contato com a água Desenvolvidos: _ requalificação do sistema de drenagem _ novos canais _ rearranjo de caçambas de lixo _ PEVs próximos às Igrejas (forte influência) _ requalificação da linha limite _ proposição de ciclovia integrada _ rede de sistemas agroflorestais _ núcleo de triagem de recicláveis _ reciclagem de resíduos orgânicos da produção agrícola

(7) TAVARES, FANTIM, 2019 (8) Fomentado pelo CAU/SP e pela USP e Desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa PExURB, contou com a participação de diversas instituições: IAU-USP, FDRP USP, EESC-USP, UNIVAP, Veracidade, Defensoria Pública do Estado de São Paulo e Associação Comunitária do Banhado.

35

Núcleo de Triagem de Recicláveis e Composteira Urbana

Praça da Paz

Centro de Reciclagem

Praça Feira dos Chacareiros

Ao fundo: o Plano Popular de Urbanização e Regularização Fundiária do Banhado.

Destaques: três dos equipamentos propostos no mesmo, os quais foram trazidos no primeiro semestre desse Trabalho, vide a importância do desenvolvimento sistêmico de espaços públicos.

Como dito, no presente trabalho apenas o Centro de Triagem será desenvolvido, junto a outros novos aspectos projetuais.

36

TRAÇADO PROJETUAL | ESCALA BAIRRO

O PLANO GERAL DE INTERVENÇÃO Em termos projetuais na escala da Comunidade, foi desenvolvido um Plano Geral de Intervenção (p.

38) que sumariamente tem como foco articular Saneamento, Espaços Livres de uso coletivo e Produção (trabalho e formação).

Como dito anteriormente, o presente Plano têm como referência o Plano Popular do Banhado e instaura outras providências.

Questão Viária + Circulação Mostra-se um ponto focal do projeto, uma vez que separado fisicamente da cidade formal, o Bairro apresenta questões bastantes peculiares no que diz respeito aos acessos.

Atualmente conta com apenas duas vias transponíveis por veículos (alocadas nos extremos da Comunidade), uma delas em condições bastante precárias; além de duas trilhas (os chamados "escadões"), muito utilizados no dia a dia dos moradores por se tratar de um caminho mais curto do que as vias "formalizadas". Nesse sentido, optou-se por tomar como base as soluções estipuladas pelo Plano, que cria diretrizes de hierarquização viária viária (presentes no mapa a seguir), além da abertura de uma nova via (1) e da requalificação das existentes (inclusas as trilhas).

(1) O novo acesso se dá de forma a enfatizar a implantação do Núcleo, uma vez que converge para próxima a ele, possibilitando facilidade de circulação de pessoas e materiais.

37

Áreas sensíveis de alagamento + infraverde Longe de ser um caso isolado, frequentemente questões de saneamento mostram-se bastante sensíveis em Comunidades informais, como é o caso do Banhado.

Não reconhecidas pela cidade formal, essas áreas quase sempre têm de buscar por soluções acessíveis, rápidas e portanto paliativas para tais problemáticas, podendo contar muito pouco ou nada com os serviços municipais institucionalizados no restante da cidade, o que corrobora na manutenção da precariedade.

Porém, além disso, no caso da Comunidade do Banhado, há especificidades já brevemente comentadas acerca da qualidade de seu solo e do ciclo hidrológico presente no local.

Viu-se, portanto, nessa associação uma oportunidade não somente de potencial paisagístico, mas também de infraesturura urbana de saneamento a partir de uma rede de soluções de infraverde, cujas técnicas são aplicadas em toda a concepção e extensão do projeto - sendo melhores detalhadas a seguir.

O PLANO GERAL DE INTERVENÇÃO

Áreas Sensíveis

Viário + circulação

área de alagamento

via integradora 7m

área de risco (2)

Usos

0

150m

Infraverde

habitacional

linha limite

via compartilhada 5m

comércio

canais/trincheiras drenantes

via pedestres

3m

misto

fundo de conexão

acesso/trilha

2m

institucional/

agrofloresta

ciclovia

3m

religioso

proteção de nascentes

parada de ônibus

300m

-

Terminal Rodoviário

-

UBS

Praça Afonso Pena

-

38

Resíduos Núcleo caçamba PEV

Infraverde Devido à especificidade do solo local, bastante úmido e argiloso, as zonas do programa são designadas com os sempre presentes elementos de infraverde, relacionados à água e drenagem.

Proteção de nascentes, lagoas pluviais de infiltração, trincheiras drenantes, bio valetas, jardins de chuva, (possivelmente associados a extravasores de nível, desviando a água excedente para o sistema convencional ou para sistemas de irrigação) são alguns métodos adotados em todo o projeto - mais detalhamentos no decorrer do trabalho (p. ).

Implantação da Ciclovia Justamente devido a tal especificidade do solo presente no Banhado, faz-se necessária uma estratégia por detrás da implantação da ciclovia, a qual propositalmente circula por áreas propícias a alagamentos. Alagamentos esses que acontecem, em maior parte, devido à falta de manutenção dos pequenos canais artificiais, e não necessariamente por conta da ocupação em si. Dessa forma, configura questão de relativamente fácil solução, frisando a importância de pensar o espaço de maneira sistêmica e integrada. (3)

Vegetação + sistema agroflorestal

39

De difícil caracterização por se tratar de um bioma composto por tipologias do Cerrado e Mata Atlântica, a vegetação do Banhado é relativamente jovem em decorrência dos anos de intenso cultivo de arroz. Atualmente consolida uma extensa flora em recuperação.

Contudo, estudos (4) mostraram que, nesse caso em particular, seria necessária uma recuperação induzida, solicitando a reposição nutricional do solo.

Nesse sentido, optou-se por agregar ao sistema dos fundos de conexão uma rede de manejo agroflorestal, método ancestral de uso da terra.

Além da função de requalificar as áreas de transição entre o meio construído e a APA do Banhado, o manejo engloba a dimensão produtiva e de segurança alimentar dos moradores, os quais serão devidamente capacitados (parte do programa do Núcleo, como veremos a seguir).

(1) Deslizamento, falta de saneamento, alto adensamento, precariedade da edificação, falta de acessibilidade, dano ambiental.

(3) SPIRN, 1995.

(4) TAVARES, FANTIM, 2019.

OS FUNDOS DE CONEXÃO

300m

-

150m

-

0

-

40

O que são?

São glebas residuais identificadas próximas à linha limite da Comunidade e normalmente contíguas aos fundos dos lotes habitados - no sentido da APA do Banhado.

Essas seis áreas foram elencadas como pontos chave do projeto uma vez que, associadas e conectadas pela ciclovia que permeia parte desse limite, configuram importante parte do Sistema de Espaços Livres.

Suas localizações, entre o núcleo mais adensado até a transição da comunidade, dizem respeito à maior clareza de limite dos lotes nessas áreas ao passo que, no núcleo ocupado por chácaras, os limites ficam mais turvos, requerendo estudos mais específicos sobre aonde seriam passíveis de serem aplicados. É fundamental destacar que, em se tratando de sua localização mais à jusante, as estratégias de infraverde aplicadas nos Fundos de Conexão adquirem sentido completo de rede quando associadas às estratégias adotadas na Rua da Linha, extremidade à montante da Comunidade.

41

IMPLANTAÇÃO Para projeto em escala mais aproximada, foi escolhido o fundo de conexão abaixo, uma vez que mais da metade de sua área se dá no maior foco de alagamento da Comunidade, conformando um ponto de interesse no uso de estratégias de infraestrutura verde relacionadas ao saneamento.

APA do Banhado Além disso, o local conta com remanescências de ruínas de habitações removidas.

co m pa rt ilh ad a

Passeio com leves inclinações e platôs, pensado para diminuir a velocidade das águas pluviais.

0

10m

20m

-

co m pa rti lh ad a

-

adensado

via

-

núcleo habitacional

via de

pe de st re s

vi a

caçamba

-

3m 15m

-

65m

-

caminho drenante

sistema agloflorestal

caminho drenante

trincheira drenante

ciclovia

42

CORTE LONGITUDINAL

43

0

10m

20m

-

22m

-

42m

-

25m

-

ĂĄgua da chuva

-

concentra excedente de

caminho drenante

drenagem naturalizado,

-

final do sistema de

lagoa pluvial de infiltração

APA do Banhado

-

35m

-

3m 10m

--

2m 3m

10m

-

0

-

-

ciclovia

caminho drenante

lagoa pluvial de infiltração

ruínas de remoções

caminho drenante

44

CORTE TRANSVERSAL

habitações APA do Banhado

20m

45

2 1

1 3

TRINCHEIRA DRENANTE aplicada em todos os pequenos canais do projeto, funciona como uma caixa de contenção e filtração mecânica, direcionando o fluxo de água para o sistema geral. materiais: material geotêxtil filtrante (1), pedrisco compactado (2) e material granular grosseiro ou entulho (3) - fonte: A. R. Santos.

1 2 3

1 2

3 4

5

4 5

INFRAVERDE

DETALHES

PROTEÇÃO DE NASCENTE aplicada em todos as bicas presentes na Rua da Linha, a fim de preservar o ciclo hidrológico e promover um contato saudável com a água. materiais: terra (1), caixa (2), camada impermeável (3), cano condutor (4), muro de pedra (5) - fonte: J. Van Lengen.

JARDIM DE CHUVA presente nas lagoas de infiltração e em diversos canteiros (sobretudo detalhados no Núcleo, mais a frente), irecionando o fluxo de água para o sistema geral. materiais: plantas nativas (1), matéria orgânica (2), solo infiltrável (3), cascalho (4), canalização (5) - fonte: L. Walker.

46

NÚC

LEO ELO trabalho, formação e convívio.

Localizado em uma grande gleba no coração da Comunidade do Banhado, justamente na transição entre as tipologias de ocupação I e II, o Núcleo é composto por um conjunto de espaços e edificações, integrando o Sistema de Espaços Livres (SEL).

Composto por um Centro de Triagem de Recicláveis e por um Centro de Compostagem, o Núcleo foi projetado para atender, exclusivamente, geradores de pequenos volumes, ficando restrito a resíduos exclusivamente domiciliares e produtivos de pequena escala - no caso do Centro de Compostagem.

Para além da esfera de trabalho, o Núcleo abriga edificações voltadas para formação e capacitação profissional de indivíduos e grupos, dos quais muitos desses eventos acabam extravazando o ambiente construído e chocando-se com múltiplos convívios, ampliando assim a dimensão educativa.

Desse modo, pautadas na tríade: trabalho, formação e convívio, as espacialidades propostas agem conjuntamente, como elos indissociáveis de um mesmo e diverso sistema.

"A arquitetura constroi espaços para amparar a imprevisibilidade da vida, não para determinar comportamentos.”(1) (1) P. M. da Rocha, Carta Capital, 2007

47

IMPLANTAÇÃO

_______

________________

________________

____________

____________

R. DA LINHA

551 552

20m

-

10m

-

-

0

552 554

22m

-

24m

15m

-

habitações passagens

TRABALHO E CONVÍVIO

3m

trincheira drenante

caminho drenante

barreira sonora + excedente de águas pluviais

núcleo de recicláveis

barreira sonora + visual

48

CORTE

5m

9m

7m

7,5m

-

3m 15,5m

16m

7m

-

barreira sonora + excedente de águas pluviais

núcleo de compstagem

barreira sonora

caminho drenante

estar + parada de ônibus

49

habitações

17m 9m

3m

-

7m 3m

-

1,5m 4m 4m

-

1,5m 1m 10m 12m

--

estar

núcleo de apoio aos catadores

lagoa pluvial de infiltração

caminho drenante

ciclovia

50

CORTE

CONVÍVIO E FORMAÇÃO

APA do Banhado

15m

7m

5m

-

2m 8m

-

2,5m 30m

-1m

7m

-

trincheira drenante

estar + parada de Ă´nibus

arquibancada

51

R. DA LINHA

52

NÚCLEO DE FORMAÇÃO E CONVÍVIO Como dito anteriormente, o convívio é uma das bases

Pensar esse espaço como braços que permeiam

sólidas nas quais se organiza o conjunto, ocupando

o

aproximadamente 70% da área do sítio (cerca de

conjunto,

especialmente

integrados

aos

edifícios de Apoio e de Formação, foi uma

4.000 m²).

estratégia

A intenção em criar um amplo espaço de convívio foi

multiplicidade de usos e apropriações advindas

pensá-lo como um generoso convite, tanto para

dessas conexões, além de estimular o convívio

quem caminha pela Rua da Linha, quanto para quem

coletivo em sua plena dimensão pedagógica.

realiza o trajeto proposto pela ciclovia, ao fundo.

utilizada

vislumbrando

a

em contato

8m

16m

-

-

0

-

com a água

parada de ônibus

infiltração drenantes

arquibancada / teatro de arena

lagoa pluvial de caminhos

leitura

Em geral, busca-se fazer presente o contato com a água em suas mais diversas formas, a fim de evidenciar a natureza do local de maneira natural e pedagógica, além de encorajar o uso ativo e produtivo dos espaços propostos. trincheira drenante permeia todo o convívio

proteção de nascente

R. da Lin ha

53

54

RELAÇÃO COM A RUA DA LINHA

55

Em grande parte do projeto, a calçada divide-se em três partes, sendo elas: 1. faixa de circulação de pedestres 2. bio valetas ou canteiros 3. trincheira drenante

R. da Linha

5m

7m

-

calçada

-

-

concha do Banhado

56

NÚCLEO

PLANTA BAIXA

546

547

548

549 550 551

20m

-

10m

-

-

0

552 553

57

Dado importante: as curvas de nível (<550) foram estimadas com base em visitas de campo e fotografias. A informação não existe em nenhuma base de dados de acesso público, o que evidencia a falta de interesse e o descaso com o reconhecimento da ocupação frente à cidade formal.

Ao lado, arranjo de mapas adjacentes à região do Banhado, fornecidos pela Prefeitura de São José dos Campos.

Fonte dos mapas: site da Prefeitura.

BANHADO

58

AS EDIFICAÇÕES

...

. . . . . .. . .

546

547

548

549 550

20m

-

10m

-

-

0

Galpões de Reciclagem e Compostagem Edifícios de Apoio e Formação

551 552 553

59

O ESPAÇO

. ..

....

.

...

.

. ..

........

........ ..

546

547

548

...

.. ... .. ...

..

..

..

..

...

.. .

..

. . . . ... . .

...

.... ..

.

.

..

... ... ... ... ... ... ...

.. .

.... . ..

...

. ..

...

. . . . . .. . . .

....

....

...

..

..

PRINCIPAIS FLUXOS DE CIRCULACÃO E ACESSOS

549 550 551

20m

-

10m

-

-

0

552 553

60

NÚCLEO DE RECICLÁVEIS A coleta de materiais recicláveis configura a ocupação principal de diversos moradores, havendo inclusive uma espécie de Cooperativa entre os mesmos (apesar de não institucionalizada).

Nesse sentido, o Núcleo de Recicláveis abriga um conjunto de espaços e edificações, buscando atuar em diversas escalas e assim extravazar o conceito formal de trabalho. Tem como foco também a organização e formação de catadores, além do incentivo a práticas coletivas de educação ambiental.

A COLETA SELETIVA "Atividade de recolhimento de materiais previamente separados nas fontes geradoras (domicílios, empresas, comércio). Materiais como papel, plástico e vidro são, ainda nessa fase separados por cores e tipos, prensados e enfardados, sendo posteriormente vendidos para as empresas recicladoras. A reciclagem, por sua vez, implica na efetiva transformação dos resíduos sólidos, que envolve alterações físico e físico químicas, convertendo-os em matéria prima para a fabricação de novos insumos ou produtos." (1) (1) DEMAJOROVIC, 2003

61

PROGRAMA Núcleo de Formação e

Galpão de triagem

Capacitação

de recicláveis

_ salas multiuso para oficinas

Núcleo de Apoio aos Catadores _ sala de apoio

_ leitura (reaproveitamento de livros descartados) _ banheiros

_ copa _ sala de segurança _ banheiros _ apoio psicossocial

8m

16m

-

-

0

-

a inh L a R. d

62

NÚCLEO DE TRIAGEM DE RECICLÁVEIS

escada

caminho drenante

40m

5m

-

10m

R. DA LINHA

-

3m

-

15m

-

jardim das bananeiras

concha do Banhado

7m

63

Uma boa área de armazenagem garante maior poder de negociação com maiores compradores, uma vez que não há tanta pressa em passar o material para frente, devido à falta de espaço.

ARMAZENAMENTO

PRENSAGEM E

galpão

de

triagem

de

ENFARDAMENTO

recicláveis

M

concentra as etapas da cadeia produtiva

G

E

de coleta seletiva, sendo elas:

A

_ recebimento de material

R

I

_ transporte _ estocagem

CARGA

_ manuseio

T

O

INSERVÍVEIS

E

CARROÇAS

DESCARGA

_ triagem _ prensagem _ enfardamento _ manutenção/limpeza de carroças

6m

12m

-

0

-

BALANÇA

-

_ encaminhamento/venda de inservíveis

R. DA LINHA

64

NÚCLEO DE COMPOSTAGEM Complementarmente e atrelado fortemente

à produção

agrícola, a geração de resíduos orgânicos na comunidade é bastante expressiva. Contudo, as iniciativas em relação ao aproveitamento desses resíduos atualmente são exceção, apresentando-se

na

forma

de

iniciativas

indiviuais

(ou

minimamente familiares).

O Núcleo de Compostagem buscar agir então nesse sentido: fomentando relações de coletividade e buscando abrangência de todo o bairro, visto o alto potencial desse tipo de produção no local.

3m

65

PROGRAMA resíduos orgânicos

chácaras

de

produção agrícola

Galpão de Compostagem Processo

de reciclagem biológica definido por meio da reestruturação e degradação da matéria orgânica (resíduos verdes). Visto isso, e ao contrário do que pensa o senso comum, a compostagem é a única reciclagem que de fato acontece no Núcleo, fechando o ciclo do processo in loco.

CICLO adubo e fertilizantes

Oficinas de Compostagem e de Manejo de

8m

16m

-

0

-

R. D AL INH A

-

Agrofloresta

66

NĂ&#x161;CLEO DE COMPOSTAGEM

carga e descarga

compostagem

ciclovia

oficinas de compostagem

concha do Banhado

1,5m

32m

5m

-

12m

-

10m

--

3m 3m

-

-

R. DA LINHA

7m

A Compostagem configura um processo simples e natural de decomposição o qual não requer alta complexidade de manejo e, quando bem estabilizado não emite odores. A seguir, estão elencadas etapas da logística desse processo (2):

leira: conjunto residual

67

monte: conjunto de leiras

GALPÃO DE

Etapas gerais: acompanhamento; discriminação; rastreio de resíduos; relatoria de controle; encaminhamento do substrato para laboratórios de biomedicina.

PRÉ MISTURA

Etapas específicas: 1. recepção 2. retirada manual de impurezas 3. pré mistura (caso venha adensada, deve ser descaracterizada; 3 partes para 1): poda de árvores triturada (biomassa) + resíduos orgânicos 4. compostagem: controle de umidade (água em excesso: apodrecimento; água insuficiente: emboloramento) e temperatura (aprox. 60°C) nessa etapa é necessário realizar o reviramento da matéria orgânica a cada 3 dias

COMPOSTAGEM

RETIRADA DE IMPUREZAS

CARGA E DESCARGA

BALANÇA

Produto final: insumo orgânico de alta qualidade nutricional, adubos, fertailizntes líquidos.

Tempo total do processo: aproximadamente 3 meses.

8m

-

4m

-

0

-

(2) informações verbais com base em visita técnica à Usina Cardinalli, 2019.

R. DA LINHA

68

OS GALPÕES Em razão de abrigarem programas diversos relativos às dinâmicas produtivas, ambos os galpões foram projetados em estrutura de madeira (MLC), rico pé direito e grandes vãos, sendo capazes de conformar assim amplos espaços de trabalho e circulação de pessoas, veículos e máquinas.

A escolha por coberturas não planas, além de buscar pelo apelo estético do galpão industrial revisitado, foi também norteada por diretrizes de infraverde - sempre presentes no projeto.

Ora em queda de uma água, ora em formato de “u”, todas as águas pluviais são conduzidas em uma calha única que deságua nos canteiros adjacentes aos galpões, os quais funcionam como jardins de chuva e permitem que a água infiltre e/ou seja direcionada ao sistema convencional.

Esse método associativo de manejo de águas pluviais contribui comprovadamente para o controle de enchentes e purificação da água à ser infiltrada no solo, tanto quanto para o retorno da quantidade excedente ao sistema.

69

70

OS GALPÕES lajes não planas cobertura beiral de 1,5 m

brises

meias paredes proteção e segurança do maquinário pilares balança recebimento e encaminhamento escadas

8m

16m

-

-

0

-

pisos explorar planos impermeabilização necessária módulo de 8 x 4 m

fáceis instalação e manutenção acessível leve / delgada boa isolante acústica

telha sanduíche metálica brise

madeira laminada colada (MLC)

cobertura viga laminada colada 20 x 10 cm pilares 20 x 20 cm nos galpões 4 a 6 m de altura 15 x 15 cm nas edificações 3 m de altura

tijolo de solo cimento feito a partir do reaproveitamento de resíduos fácil execução encaixe: vergalhões de reforço gabião + MLC

cimento queimado

explorar materiais, planos e usos escada banco bancada

71

73

Moradores da Comunidade do Banhado apropriados do Plano Popular em audiência pública na Câmara Municipal de São José dos Campos, 2019.

(E NÃO ACABA POR AQUI)

74

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