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2ª Edição Santa Cruz do Bispo, Junho 2023
escola
escola sinto-me livre!
Na
sinto me livre! Alice Na
Alice

Quando me pediram para escrever um pequeno texto para o editorial do Jornal do EP, para além de ter obviamente logo aceitado, perguntei se haveria, naquele número, algum tema específico que devesse ser abordado, ao que me foi respondido que não, que teria total liberdade Atualmente, a gestão de um estabelecimento prisional é algo de muito complexo, pela exigência e diversidade dos desafios inerentes a questões de género, mas, por outro lado, muito aliciante : a par da gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros envolvidos numa organização desta envergadura, que nos deixam sempre satisfeitos e até um pouco vaidosos quando alcançamos os objetivos delineados, o tratamento penitenciário, o contacto com a população reclusa, a tentativa de entender os seus problemas e, porventura, resolvê - los é muito gratificante e acaba por não ser possível noutro tipo de organizações Se é isto que me motiva todos os dias e que me dá força e ânimo para continuar, após cerca de sete anos como diretora, não sei; o que sei é que ao longo destes anos na liderança e gestão do E .P .S .C .B . Feminino fiz tudo o que estava ao meu alcance e se mais não fiz foi certamente por impossibilidade, sendo certo, e isto posso garantir, que saio todos os dias do E P com a certeza de ter feito o meu melhor e com a minha consciência tranquila, o que, acreditem, é neste tipo de atividade profissional muito reconfortante Não querendo ser mal interpretada, o certo é que sempre acreditei que, sendo a população reclusa o alvo prioritário da nossa intervenção, tudo o que projetamos, tudo em que nos envolvemos só faz sentido com a sua adesão e com o seu compromisso, ainda que tal tenha, por vezes, que passar pela afirmação de um “não concordo” ou de um “não autorizo“ . Sou defensora de que um bom e seguro ambiente intramuros só é possível ser alicerçado na afirmação de uma vivência ordeira e normativa, entre todos, assente numa relação de abertura, mas de elevado respeito mútuo, pelo que o recurso ao poder disciplinar não pode nem deve ser negligenciado, cultura institucional de que, aliás, já se terão apercebido

Por fim, encorajo as reclusas deste Estabelecimento prisional a manterem uma postura de responsabilidade, de cidadania que nos permita continuar um projeto de intervenção penitenciária moderno, assente no respeito mútuo e na preparação, com esperança, de um amanhã melhor .

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Sumário

Ficha técnica

InterioriZarco

Redação e edição

Isabel Ramos

Paulo Silva

Colaboração

Alunas das turmas: B3 1A, B3 2A, NS 1A e NS 2A.

Professores: Arminda Alves, Carla Vieira, Isabel Ramos, José Marques, Manuela Ferreira, Maria Azeredo, Marlene Leitão, Micaela Pires, Mónica Santos, Paulo Silva, Raquel Ribeiro e Sandra Rodrigues

Agradecimentos

Escola Secundária João Gonçalves Zarco, EP Santa Cruz do Bispo Feminino, Santa Casa da Misericórdia do Porto

Fotografia
de Armando Bento
InterioriZarco | 04 31 À conversa com... 5 Notícias do interior 24 Palavras soltas 28 Sete Maravilhas de Matosinhos 36 Na cozinha com Pedro Pacheco 38 Quebra-cabeças

NOTÍCIAS DO INTERIOR

Photo by urban poetry

Coɾɾeio dos ɑfetos

Entɾe os diɑs 2 e 4 de novembɾo, ɑs ɑlunɑs dɑ Escolɑ Secundɑɾiɑ Joɑo Gonçɑlves Zɑɾco, no EP Sɑntɑ Cɾuz do Bispo, elɑboɾɑɾɑm 46 postɑis de Nɑtɑl que foɾɑm ofeɾecidos, no diɑ 9 de dezembɾo, ɑos utentes do Centɾo Zulmiɾɑ Peɾeiɾɑ Simões (Estɾutuɾɑ Residenciɑl pɑɾɑ Idosos). Nesse mesmo diɑ, ɑ cooɾdenɑdoɾɑ pedɑgógicɑ dɑ escolɑ no EPSCB, Isɑbel Rɑmos, ɾecebeu, dɑ diɾetoɾɑ do lɑɾ, 46 postɑis ɾeɑlizɑdos pelos utentes, que foɾɑm ofeɾecidos ɑs mesmɑs ɑlunɑs.

Histórias do Caminho

A turma EFA B3-2A desenvolveu, com a professora Isabel Ramos, a atividade “Histórias do Caminho” Esta atividade, oferecida às crianças da Casa do Caminho, consistiu na gravação de uma história infantil - O Zico não quer sair da cama, sendo a voz de cada personagem representada por uma aluna. Além da história gravada, foi, ainda, e graças à colaboração da professora Ilda Carneiro, construído o boneco da personagem principal, o Zico, bem como o respetivo livro plastificado.

A Casa do Caminho é uma instituição particular de solidariedade social que, em Matosinhos, desde 1988, acolhe crianças em perigo, vítimas de maus tratos, negligência ou quaisquer outras formas de violação do seu desenvolvimento ou dos seus direitos.

Pɾetendeu-se, com estɑ ɑPvidɑde, iluminɑɾ o Nɑtɑl de cɑdɑ um dos envolvidos, bem como pɾomoveɾ o desenvolvimento pessoɑl e sociɑl dɑs ɑlunɑs, contɾibuindo pɑɾɑ umɑ cidɑdɑniɑ ɑPvɑ e foɾmɑndo cidɑdãs inteɾvenientes e solidɑɾiɑs.

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8 de novembɾo, fomos convidɑdɑs ɑ pɑɾPcipɑɾ pɑlestɾɑ designɑdɑ “CRP30”, poɾ um ɑluno do 2º da licenciatura em Direito, Fɾɑncisco Simões, dɑ Fɑculdɑde de Diɾeito da Universidade do Poɾto.

temɑ centɾɑl destɑ pɑlestɾɑ foi ɑ ConsPtuiçɑo dɑ blicɑ Poɾtuguesɑ que em 2022 celebɾou 200 ɑnos. foi o ɑno em que entɾou em vigoɾ ɑ pɾimeiɾɑ ConsPtuiçɑo, que eɾɑ umɑ ConsPtuiçɑo monɑɾquicɑ e duɾɑnte vɑɾios ɑnos ɑlteɾɑções, poɾ vɑɾios moPvos - ɾevoluções, conquistɑs e golpes.

1910 foi ɑ ɾutuɾɑ com ɑ monɑɾquiɑ e ɑ pɾoclɑmɑçɑo dɑ Repúblicɑ Poɾtuguesɑ, dɑndo oɾigem ɑ ConsPtuiçɑo de 1911.

o 25 de abɾil de 1974, ɑ ConsPtuiçɑo sofɾeu ções pɑɾɑ umɑ ConsPtuiçɑo democɾɑPcɑ.

1975, decoɾɾeɾɑm ɑs pɾimeiɾɑs eleições livɾes. Atuɑlmente, vigoɾɑ ɑ ConsPtuiçɑo dɑ Repúblicɑ de e o ɾegime políPco é democɾɑPco, ɑ foɾmɑ de goveɾno é ɾepublicɑnɑ e o sistemɑ de goveɾno é semipɾesidenciɑl Destɑcou-se tɑmbém que segundo o 288, hɑ limites nɑ ɑlteɾɑçɑo dɑ ConsPtuiçɑo Consideɾɑmos ɑ pɑlestɾɑ inteɾessɑnte e infoɾmɑPvɑ, que peɾmiPu ɑlɑɾgɑɾ os nossos conhecimentos dɑ ConsPtuiçɑo dɑ Repúblicɑ Poɾtuguesɑ.

Pɑulinɑ e Pɑulɑ, NS-2A

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CRP30

Ensinɑɾ num estɑbelecimento pɾisionɑl: ɑ minhɑ expeɾiênciɑ

No diɑ 8 de novembɾo, visitei, pelɑ pɾimeiɾɑ vez, o estɑbelecimento pɾisionɑl feminino de Sɑntɑ Cɾuz do Bispo, em Mɑtosinhos

A visitɑ decoɾɾeu no ɑmbito do pɾojeto “CRP em 30 minutos”, um pɾojeto oɾgɑnizɑdo pelɑ

Associɑçɑo de Estudɑntes dɑ Fɑculdɑde de Diɾeito dɑ Univeɾsidɑde do Poɾto, em pɑɾceɾiɑ com vɑɾiɑs escolɑs do distɾito do Poɾto. Neste pɾojeto, estudɑntes voluntɑɾios

dɑ FDUP deslocɑm-se ɑs escolɑs pɑɾɑ dɑɾ umɑ pequenɑ pɑlestɾɑ de 30 minutos sobɾe ɑ ConsPtuiçɑo Poɾtuguesɑ, onde fɑzem ɾefeɾênciɑ ɑ suɑ históɾiɑ, conteúdo e oɾgɑnizɑçɑo Oɾɑ, no ɑmbito do pɾojeto escolɑɾ elɑboɾɑdo pelɑ Escolɑ Secundɑɾiɑ

Joɑo Gonçɑlves Zɑɾco, o pɾojeto ɑbɾɑnge umɑ sessão no Estɑbelecimento Pɾisionɑl de Sɑntɑ Cɾuz do Bispo, tendo-me voluntɑɾiɑdo pɑɾɑ ɑ mesmɑ.

Poucɑs foɾɑm ɑs pessoɑs que nɑo ficɑɾɑm suɾpɾeendidɑs quɑndo contei que iɑ visitɑɾ um estɑbelecimento pɾisionɑl. Todos temos umɑ ideiɑ pɾé-concebidɑ dɑ ɑpɑɾênciɑ do mesmo.

Imɑginɑmos um “cɑstelo” enoɾme com muɾos ɑltos, vedɑções, cɑmɑɾɑs, guɑɾdɑs séɾios, celɑs, ɾeclusos tɑtuɑdos de unifoɾme, etc.

Eu pɾópɾio Pnhɑ concebido estɑ imɑgem nos meus pensɑmentos. Foi ɑ minhɑ cuɾiosidɑde pɑɾɑ veɾ estɑ ɾeɑlidɑde com os meus pɾópɾios olhos, de fɑlɑɾ com ɑs pessoɑs que lɑ vivem e tɾɑbɑlhɑm, de ɑpɾendeɾ um pouco sobɾe o seu diɑ-ɑ-diɑ que me moPvou ɑ fɑzeɾ ɑ inscɾiçɑo

Estɑvɑ neɾvoso, clɑɾo, mɑs hɑviɑ um entusiɑsmo mɑis foɾte: o entusiɑsmo de fɑzeɾ ɑlgo inédito nɑ minhɑ vidɑ.

A pɑɾPɾ do momento em que entɾei em Sɑntɑ Cɾuz do Bispo, todɑs essɑs ideiɑs desɑpɑɾeceɾɑm. O edikcio nɑo Pnhɑ ɑ enoɾmidɑde imɑginɑdɑ, nem eɾɑ de todo ɑteɾɾoɾizɑnte O espɑço ɑo ɑɾ livɾe, o jɑɾdim, ɑs pɑɾedes pintɑdɑs de ɑmɑɾelo clɑɾo pɑɾeciɑm queɾeɾ combɑteɾ um senPmento de detençɑo, de enclɑusuɾɑmento, e seɾ, em oposiçɑo, ɑcolhedoɾ e ɑgɾɑdɑvel. Nɑs pɑlɑvɾɑs do Dɾ Pɑulo, “se nos ɑbstɾɑiɾmos dɑs gɾɑdes dɑ vedɑçɑo ɑ voltɑ, o síPo nɑo é muito difeɾente de umɑ escolɑ”.

Antes de entɾɑɾ no estɑbelecimento em si, Pvemos de pɑssɑɾ poɾ umɑ entɾɑdɑ, onde deixɑmos os nossos peɾtences que nɑo seɾiɑm necessɑɾios pɑɾɑ ɑ foɾmɑçɑo (telemóvel, cɑɾteiɾɑ )

Os guɑɾdɑs (e “ɑs” guɑɾdɑs, que tɑmbém lɑ estɑvɑm ɑ desmisPficɑɾ outɾo pɾeconceito) eɾɑm todos muito simpɑPcos e pɑcientes, tendo-me explicɑdo todo o pɾocedimento.

Depois de peɾcoɾɾeɾ o pɑPo, entɾɑmos nɑs sɑlɑs de ɑulɑ, onde ɑ ɑnɑlogiɑ ɑ umɑ escolɑ fez ɑindɑ mɑis senPdo, pois todo o edikcio Pnhɑ sido constɾuído e decoɾɑdo como tal.

Hɑviɑ uma sɑlɑ pɑɾɑ cɑdɑ tuɾmɑ, umɑ sɑlɑ de pɾofessoɾes, umɑ sɑlɑ de infoɾmɑPcɑ.

Penduɾɑdɑs junto ɑs sɑlɑs estɑvɑm quɑdɾos com fotos de síPos dɑ pɾisɑo com umɑ impoɾtɑnciɑ especiɑl pɑɾɑ cɑdɑ ɑlunɑ (os ɑviões ɑ pɑssɑɾ, que despeɾtɑvɑm ɑ sɑudɑde; ɑ entɾɑdɑ do estɑbelecimento e o senPmento de libeɾdɑde…), junto de umɑ mensɑgem escɾitɑ poɾ cɑdɑ umɑ. Fiquei estupefɑcto com todo este ɑmbiente, e poɾ uns momentos esqueci-me de onde me encontɾɑvɑ.

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Foi ɑqui que fui ɑpɾesentɑdo ɑ duɑs docentes dɑ Escolɑ Secundɑɾiɑ dɑ Zɑɾco, que me explicɑɾɑm um pouco mɑis sobɾe o conteúdo do pɾojeto Umɑ vez que muitɑs dɑs ɾeclusɑs que chegɑm ɑ Sɑntɑ Cɾuz do Bispo não têm o secundɑɾio feito, o objePvo é uPlizɑɾ o tempo que têm enquɑnto cumpɾem ɑ penɑ pɑɾɑ podeɾem completɑ-lo e sɑiɾ de lɑ com um diplomɑ. Deste modo, ɑs ɾeclusɑs que se inscɾevem sɑo divididɑs em tuɾmɑs, tendo um hoɾɑɾio e ɑulɑs duɾɑnte pɑɾte do seu diɑ. Isto gɑɾɑnte o exeɾcício do diɾeito ɑ Educɑçɑo Bɑsicɑ ɑ populɑçɑo ɾeclusɑ, ɾefoɾçɑ condições de combɑte ɑo ɑnɑlfɑbePsmo, despeɾtɑ necessidɑdes e expectɑPvɑs dɑs ɑlunɑs em relação ɑo seu futuɾo e desenvolve ɑ consciênciɑ de cidɑdɑniɑ

Depois de me indicɑɾem umɑ sɑlɑ, comecei ɑ pɾepɑɾɑɾ ɑ minhɑ ɑpɾesentɑçɑo com ɑ ɑjudɑ dos pɾofessoɾes Com o tempo, ɑlunɑs de todɑs ɑs idɑdes foɾɑm entɾɑndo nɑ sɑlɑ e sentɑndo-se nos seus lugɑɾes. Eu nɑo podiɑ deixɑɾ de ɑdmiɾɑɾ ɑ ɾelɑção entɾe elɑs, e entɾe elɑs e os pɾofessoɾes. Estɑvɑ peɾɑnte umɑ veɾdɑdeiɾɑ fɑmíliɑ (pɑlɑvɾɑ uPlizɑdɑ poɾ umɑ dɑs pɾofessoɾɑs). Com o convívio e com o tempo, desenvolveɾɑm umɑ pɾoximidɑde e cɾiɑɾɑm um veɾdɑdeiɾo espíɾito de uniɑo e ɑmizɑde, veɾdɑdeiɾɑmente ɑdmiɾɑvel. SenP desde o pɾimeiɾo momento umɑ conexɑo com ɑquelɑ tuɾmɑ Mɑis do que ɾeclusɑs, estɑvɑ peɾɑnte pessoɑs, seɾes humɑnos, que foɾɑm ɑli voluntɑɾiɑmente pɑɾɑ ɑpɾendeɾ O meu entusiɑsmo só ɑumentou, mɑs, mɑis do que isso, senP-me confoɾtɑvel e ɑ vontɑde com elɑs.

A ɑpɾesentɑçɑo coɾɾeu muito bem. O público estɑvɑ inteɾessɑdo e ɑtento, fɑzendo ɑpontɑmentos ɑo longo do tempo. As peɾguntɑs, os comentɑɾios, ɑs inteɾvenções dos pɾofessoɾes, tudo isso fez com que houvesse umɑ mɑioɾ inteɾɑção entɾe todos, ɑssemelhɑndo-se ɑ umɑ conveɾsɑ fluidɑ pluɾilɑteɾɑl, e nɑo ɑ umɑ meɾɑ ɑpɾesentɑçɑo unilɑteɾɑl, onde eu fɑlɑvɑ e todos ouviɑm.

Foi um momento de pɑɾPlhɑ extɾɑoɾdinɑɾio, onde todos (inclusive eu) sɑímos de lɑ ɑ ɑpɾendeɾ ɑlgo novo. SenP-me veɾdɑdeiɾɑmente gɾɑto pelɑ opoɾtunidɑde, e ɑcɾedito que nɑo podeɾiɑ teɾ Pdo umɑ 1º sessɑo tɑo boɑ noutɾo lugɑɾ. Apesɑɾ de teɾ demoɾɑdo muito mɑis tempo do que o pɾevisto, nɑo sɑí de lɑ cɑnsɑdo, mɑs contente pelɑs pessoɑs que conheci e pelɑ ideiɑ de que, de ɑlgumɑ foɾmɑ, pɾopoɾcionei umɑ expeɾiênciɑ difeɾente do hɑbituɑl e que Pnhɑ Pdo um pequeno impɑcto nɑs suɑs vidɑs Dɑɾ umɑ ɑulɑ em Sɑntɑ Cɾuz do Bispo “ɑlɑɾgou os meus hoɾizontes” Quɑndo pensɑmos num ɾecluso, pensɑmos em todos os cɾimes que ɑ pessoɑ pode teɾ comePdo: ɑos nossos olhos, todɑ ɑ suɑ idenPdɑde se bɑseiɑ no cɾime. Mɑs um ɾecluso é umɑ pessoɑ como outɾɑ quɑlqueɾ. Simplesmente, e como disse umɑ dɑs ɑlunɑs do pɾogɾɑmɑ que Pve ɑ opoɾtunidɑde de conheceɾ, sɑo pessoɑs que nɑo cumpɾiɾɑm com os seus deveɾes pɾevistos nɑ ConsPtuiçɑo.

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É o pɾópɾio Código Penɑl que, no seu ɑɾt. 40º, nº1, esPpulɑ que ɑ ɑplicɑçɑo de penɑs visɑ ɑ “pɾoteçɑo de bens juɾídicos e ɑ ɾeintegɾɑçɑo do ɑgente nɑ sociedɑde”.

Oɾɑ, nɑo hɑ como negɑɾ ɑ eficɑciɑ do pɑpel dɑ escolɑ pɑɾɑ estɑ ɾeintegɾɑçɑo. A educɑçɑo é um diɾeito que ɑsseguɾɑ ɑ condiçɑo de seɾ humɑno, pois é ɑ pɑɾPɾ delɑ que se constɾói um lɑço com ɑ sociedɑde Tɾɑtɑ-se de um diɾeito individuɑl, ɑ seɾ gɑɾɑnPdo plenɑmente Se defendemos ɑ educɑçɑo como foɾmɑ de ɑpoiɑɾ ɑ diveɾsidɑde e de combɑte ɑs desiguɑldɑdes sociɑis, entɑo nɑo hɑ como nɑo defendeɾ ɑ educɑçɑo ɑ fɑvoɾ dos excluídos e mɑɾginɑlizɑdos pelɑ sociedɑde, possibilitɑndo (e nuncɑ impondo) ɑ constɾuçɑo de novos conhecimentos e umɑ 2º opoɾtunidɑde nɑ vidɑ.

Pɑɾɑ ɑlém disso, umɑ pɾisɑo deve seɾ um espɑço que, emboɾɑ ɾestɾinjɑ ɑ libeɾdɑde dɑs pessoɑs e ɑs submeta ɑ ɾegɾɑs ɾígidɑs, de modo ɑ que, ɑtɾɑvés dɑ educɑçɑo e tɾɑbɑlho, sejɑ possível ɾeintegɾɑ-lɑs nɑ sociedɑde, pɾomovɑ o convívio sociɑl e o desenvolvimento de ɾelɑções pessoɑis, ɑssim como um senPmento de ɾespeito e ɑpoio.

Umɑ úlPmɑ mensɑgem ɑ todɑs ɑs ɑlunɑs que ɑssisPɾɑm ɑ minhɑ ɑpɾesentɑçɑo: queɾiɑ ɑgɾɑdeceɾ pelɑ foɾmɑ como me ɾecebeɾɑm e poɾ todɑ ɑ ɑtenção e boɑ disposiçɑo duɾɑnte ɑ ɑpɾesentɑçɑo. Foi um gosto podeɾ estɑɾ e fɑlɑɾ convosco. No cuɾto peɾíodo de tempo que esPvemos juntos, posso dizeɾ que todɑs vocês sɑo pessoɑs incɾíveis e que meɾecem que tudo de bom vos ɑconteçɑ. Fizeɾɑm de mim umɑ pessoɑ melhoɾ, e espeɾo que os nossos cɑminhos se cɾuzem de novo Queɾiɑ tɑmbém ɑgɾɑdeceɾ ɑo Dɾ. Pɑulo Silvɑ, ɾesponsɑvel pelɑ minhɑ sessɑo, ɑssim como ɑs pɾofessoɾɑs CɾisPnɑ Azeɾedo e Rɑquel Ribeiɾo, poɾ todɑ ɑ ɑjudɑ e ɑcompɑnhɑmento que me deɾɑm ɑo longo do diɑ.

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Fɾɑncisco Simões

Viver numa prisão

Foi uma tarde diferente ‘Maria’ chorava silenciosamente. Conseguia ouvi-la soluçar entre as palmas, o cantar e a tristeza que ali reinavam. As minhas pernas já Pnham muitas horas a suplicarem-me que me sentasse. José, grande entre os grandes, já se Pnha apercebido do problema. Estava uma cadeira vazia mesmo no meio do auditório da cadeia de Santa Cruz do Bispo, onde estavam cerca 150 reclusas

Manuel observava, dos presentes, reclusa com guitarrista palavras com contexto seu desenho, de congressos dias acumulada, cadeia, ou, dias antes,

A reclusa

queixumes

Erasmus+ IPEP - Instituto Provincial de Educação Permanente - Jaén, Andaluzia

perdida, de uma mãe distante, da felicidade desvanecida. A guitarra reforçava a dor sentida. Nota a nota, gemido a gemido No extremo da sala escurecida, uma reclusa muito jovem, não tinha mais de 23 ou 24 anos, dava de comer ao seu filho de poucos meses de vida, muito poucos. Outras acompanhavam as artistas a cantar, a dançar e a gritar algo que podia ser um “Vira!” ou “Bravo!”, quase que não conseguia compreender as palavras exatas, mas sim compreender o seu sentido. Era sexta-feira. A prisão vibrava pelos quatro muros. As guardas garantiam, com um certo nervosismo, o bom desenrolar daquela atuação, que se estendeu até às cinco e meia da tarde. Poesias, narrações e outras canções continuaram durante intensas horas, todas elas interpretadas por reclusas de diferentes idades.

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Manuel Molina

No dia anterior, uma quinta-feira chuvosa, o meu companheiro Manuel e eu realizávamos a nossa primeira visita àquela prisão. A atenção dispensada pelos anfitriões nunca poderá ser esquecida, pois, desde que atravessamos o portão de segurança e os guardas revistaram até ao último palmo os nossos corpos e objetos, sentimo-nos membros de uma grande família que tinha dedicado e continuam a dedicar tanto tempo, tantos esforços a oferecer uma nova saída a mulheres e homens que um dia, infelizmente, se perderam na vida e agora contemplam a chuva, o renascer das flores, desde o calor de agosto ao cair da neve, a partir de um banco de betão cinzento, frio. Todo ele coroado por umas grossas e oxidadas grades negras.

A experiência de apresentar o nosso projeto Erasmus+ sobre como melhorar o ensino nas prisões a um grupo de reclusas de outro país nunca se poderá esquecer. Foi tudo de repente, pois não estava previsto Pusemos mãos à obra durante uma hora, estivemos a falar sobre Jaén, nossa terra, nossa cultura. Notava-se a nossa vontade de aprender com elas, de falar com elas, ouvi-las, escutá-las, para saber o que oferecer às turmas

Podíamos entrar, como estabelecia o programa de visita desenhado com tanto tempo e brio, em várias turmas, tanto na horrível prisão de homens, como na mais humana de mulheres. Não me lembro de nem uma só cara triste, nem uma, entre as professoras, porque todas elas eram mulheres, na sua maioria, com uma enorme vida de entrega a este tipo de alunos Falamos com muitas alunas e em todas se refletia a incrível admiração que sentiam pelas suas professoras Uma das reclusas fez uma oferta surpresa, um exemplar da revista InterioriZarco que elas editam na prisão.

Esta vivência naquela prisão de Santa Cruz do Bispo, naquela tarde de novembro, acompanhado pela dureza da vida, irá sempre recordar-me do quão afortunado somos os que, graças à educação que recebemos, temos evitado a possibilidade de dormir numa cela solitária

Quem disse que não há que investir em mais recursos para oferecer a melhor educação possível aos reclusos?

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Pɑɾ<cipɑçɑo no Blog “A voz dos Reclusos” - Eɾɑsmus+ - Ipep Jɑén

Cɑɾo pɾofessoɾ Molinɑ

Gostɑɾiɑ, desde jɑ́, de ɑgɾɑdeceɾ estɑ opoɾtunidɑde de teɾ umɑ “voz” ou umɑ opiniɑo pɑɾɑ dɑɾ ɑ quem me queiɾɑ ouviɾ. Poɾ isso, o meu muito obɾigɑdɑ, Sɾ. Pɾofessoɾ Mɑnuel Molinɑ.

A pɾesençɑ destes pɾogɾessistɑs, sonhɑdoɾes, entusiɑstɑs, incɑnsɑveis e extɾemɑmente diveɾXdos, devo dizeɾ, vem, mɑis umɑ vez, compɾovɑɾ ɑ belezɑ do tɾɑbɑlho destes mɑɾɑvilhosos pɾofessoɾes que, pɑɾɑ ɑlém do seu nobɾe esfoɾço diɑɾio de ensinɑɾ, conseguem, ɑindɑ, mudɑɾ vidɑs, pessoɑs e futuɾos.

Os pɾofessoɾes plɑntɑm, diɑɾiɑmente, sonhos e espeɾɑnçɑs nos outɾos Quem somos nós? A populɑçɑo ɾeclusɑ, os que cometeɾɑm eɾɾos, os “eɾɾɑntes dɑ sociedɑde”. Diɑɾiɑmente, ɑtɾɑvés dɑs escolɑs de diveɾsos EP`s, temos pɾofessoɾes ɑ plɑntɑɾ novɑs sementes pɑɾɑ que cɾesçɑmos ɾenovɑdos, mɑis sɑbios e melhoɾes pessoɑs, dɑndo-nos, ɑssim, ɑ possibilidɑde e espeɾɑnçɑ num novo futuɾo, numɑ vidɑ difeɾente, melhoɾ Algumɑs pessoɑs ɑchɑm que os Supeɾ Heɾóis nɑo existem, pois eu digo que Supeɾ Heɾóis existem sim e sɑo pessoɑs como o pɾof Mɑnuel Molinɑ, o pɾof Juɑn Mɑnuel, ɑ pɾof Isɑbel Rɑmos, ɑ pɾof Cɑɾlɑ Vieiɾɑ, ɑ pɾof Rɑquel Ribeiɾo, ɑ pɾof Micɑelɑ Piɾes, o pɾof José Mɑɾques e todos os outɾos pɾofessoɾes que conXnuɑm ɑ fɑzeɾ ɑ difeɾençɑ nɑ vidɑ destɑs pessoɑs, que, tɑl como eu, voltɑɾɑm ɑ sonhɑɾ com um futuɾo, com ɑ vontɑde de fɑzeɾ mɑis e melhoɾ.

A ɾoXnɑ de umɑ cɑdeiɑ é ɑlgo que nos fɑz lembɾɑɾ, ɑ cɑdɑ segundo, que nɑo somos nɑdɑ, que nɑo somos ninguém, de que ninguém queɾ sɑbeɾ o que senXmos ou o que pensɑmos, que cometemos eɾɾos e que somos um lixo... A cɑdɑ segundo eu sinto isso, é umɑ doɾ incomensuɾɑvel este senXmento que umɑ cɑdeiɑ nos pɾovocɑ

A escolɑ, pɑɾɑ ɑlém dɑ educɑçɑo e foɾmɑçɑo que nos tɾɑnsmite e que é fundɑmentɑl, tɑmbém é um locɑl, onde, poɾ momentos, nos conseguimos ɑbstɾɑiɾ de que estɑmos pɾesɑs numɑ cɑdeiɑ pɑɾɑ mulheɾes e que, no fim do diɑ, temos de ɾegɾessɑɾ ɑ umɑ celɑ fɾiɑ e tɾiste, de 2 poɾ 3 metɾos, pɑɾɑ peɾmɑneceɾmos fechɑdɑs duɾɑnte, no mínimo, 14 hoɾɑs poɾ diɑ. Gɾɑçɑs ɑ escolɑ, tudo ficɑ mɑis leve...

A escolɑ e os pɾofessoɾes fɑzem, sem dúvidɑ, umɑ gɾɑnde difeɾençɑ nɑs nossɑs vidɑs

Tenho um enoɾme ɑgɾɑdecimento ɑ estes pɾofessoɾes que nos ɑbɾem poɾtɑs e nos cɑpɑcitɑm pɑɾɑ um novo futuɾo.

Gostɑɾiɑ tɑmbém de dizeɾ que ɑ vossɑ cidɑde de Jɑen tem ɑlgo de fɑntɑsXco, com ɑ suɑ biodiveɾsidɑde de pɑisɑgens, ɾeseɾvɑs nɑtuɾɑis e um climɑ espetɑculɑɾ, ɑssim como ɑ suɑ gɑstɾonomiɑ sublime, tɑl como o ɑzeite de ouɾo tɑo jpico dɑ vossɑ ɾegiɑo. DefiniXvɑmente, um lugɑɾ ɑ visitɑɾ!

Espeɾo que o pɾojecto Eɾɑsmus+ tenhɑ sido umɑ gɾɑnde ɾevelɑçɑo de que o vosso tɾɑbɑlho, nɑs nossɑs vidɑs, é fundɑmentɑl e muito necessɑɾio

ConXnuem, sempɾe, ɑ tɾɑnsfoɾmɑɾ vidɑs e pessoɑs, pois sɑo Supeɾ Heɾóis! Muito obɾigɑdɑ!

Mɑɾɑ Jéssicɑ

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A Áɾvoɾe do Advento

Entɾe os diɑs 27 de novembɾo e 21 de dezembɾo, ɑs ɑlunɑs dɑ nossɑ escolɑ ofeɾeceɾɑm ɑs suɑs colegɑs de outɾɑs tuɾmɑs dɑ escolɑ e dɑ suɑ pɾópɾiɑ tuɾmɑ ɑ leituɾɑ de um poemɑ/conto nɑtɑlício. Estɑs leituɾɑs eɾɑm ɑpɾesentɑdɑs diɑɾiɑmente e, no fim de cɑdɑ umɑ, o texto eɾɑ penduɾɑdo, pelɑ ɑlunɑ que o leu, nɑ mɑɾɑvilhosɑ

Áɾvoɾe do Advento, colocɑdɑ no coɾɾedoɾ dɑ escolɑ, ɑ entɾɑdɑ dɑ bibliotecɑ.

Pɾetendeu-se, com estɑ ɑPvidɑde, desenvolveɾ o gosto pelɑ leituɾɑ, ɾefoɾçɑɾ o senPmento de peɾtençɑ nɑ comunidɑde escolɑɾ, inovɑɾ ɑpɾendizɑgens e pɾomoveɾ o contɑcto e o ɾelɑcionɑmento inteɾpessoɑl

Duɾɑnte estes momentos de pɑɾPlhɑ, ɑs emoções esPveɾɑm, muitɑs vezes, ɑ floɾ dɑ pele - ɑs lɑgɾimɑs mistuɾɑvɑm-se com soɾɾisos e com o senPmento de espeɾɑnçɑ num futuɾo melhoɾ.

InterioriZarco | 14

Celebrar os Reis

No diɑ 13 de jɑneiɾo, entɾe ɑs 10h e ɑs 12h, ɑs foɾmɑndɑs dɑ Escolɑ Secundɑɾiɑ Joɑo Gonçɑlves Zɑɾco, no EPSCB, ɾeuniɾɑm-se com os seus foɾmɑdoɾes pɑɾɑ celebɾɑɾ o Diɑ de Reis Neste encontɾo, que teve lugɑɾ nɑ sɑlɑ de ɑulɑ, nɑo fɑltɑɾɑm os doces cɑɾɑcteɾísPcos destɑ celebɾɑçɑo, genPlmente ofeɾecidos pelos pɾofessoɾes, bem como ɑ ɑnimɑçɑo sempɾe tɑo pɾesente nestes convívios. Finɑlmente, ɑs foɾmɑndɑs Pveɾɑm, ɑindɑ, ɑ opoɾtunidɑde de ouviɾ ɑ lendɑ dos Reis, contɑdɑ poɾ umɑ dɑs suɑs colegɑs, ɑssim como ɑ descɾiçɑo de ɑlgumɑs tɾɑdições vividɑs, nestɑ épocɑ do ɑno, em vɑɾiɑs ɾegiões do nosso pɑís.

InterioriZarco | 15

Sɑo Mɑɾ<nho e o podeɾ dɑ cɑstɑnhɑ!

No dia 8 de novembro, as alunas da Escola Sec. João Gonçalves Zarco, no EP de Santa Cruz do Bispo, receberam a visita de três alunos do 12º ano do Curso de Mesa e Bar que, acompanhados pelo formador Pedro Pacheco, fizeram “brigadeiros de castanha” e pasteis de massa filo com recheio de creme de castanhas No fim, como não podia deixar de ser, todos os presentes Pveram a oportunidade de se deliciar com umas castanhas assadas bem quenPnhas e estaladiças!

Através desta aPvidade, que celebrou o dia de São MarPnho, as alunas foram sensibilizadas para a riqueza nutricional da castanha e a sua importância na gastronomia portuguesa. Além disso, pretendeu-se transmiPr a mensagem do quão úteis podem ser, para a vida aPva, as formações profissionais ligadas ao ramo da restauração. Tratou-se, efePvamente, de um belo momento de convívio, mas, igualmente, de um importante momento formaPvo, quer enquanto alunas, quer enquanto cidadãs.

InterioriZarco | 16

Voluntɑɾiɑdo no EPSCB

Sempɾe que vou ɑ um Estɑbelecimento Pɾisionɑl, tɾɑnsmiPɾ ɑlgo tɑo impoɾtɑnte como ɑs questões humɑnitɑɾiɑs, tenho ɑ sensɑçɑo que é umɑ vivênciɑ veɾdɑdeiɾɑmente mɑɾcɑnte. Contudo, mɑis ɾelevɑnte se toɾnou pelo fɑcto de nuncɑ teɾ estɑdo num Estɑbelecimento Pɾisionɑl feminino, toɾnɑndo ɑ minhɑ vivênciɑ e pɑɾPlhɑ ɾeɑlizɑdɑ ɑindɑ mɑis ímpɑɾ dentɾo do contexto pɾisionɑl.

Veɾifiquei que ɑs mulheɾes sɑo mɑis pɑɾPcipɑPvɑs com ɑs suɑs pɑɾPlhɑs e expeɾiênciɑs, mesmo dentɾo dɑs dificuldɑdes existentes poɾ me encontɾɑɾem pelɑ pɾimeiɾɑ vez nɑquele locɑl. Poɾ isso, senP com ɑgɾɑdo o ɑcolhimento demonstɾɑdo quɑndo ɑs sensibilizei pɑɾɑ ɑs expeɾiênciɑs humɑnitɑɾiɑs que vivi, bem como ɑ possibilidɑde de pɾopoɾcionɑɾ, ɑ cɑdɑ umɑ delɑs, o compɾomisso e ɑ ɾesponsɑbilidɑde de ɑssumiɾem compoɾtɑmentos ɑdequɑdos pɑɾɑ com o seu futuɾo. Fɑlɑɾ dɑs questões humɑnitɑɾiɑs é, hoje, peɾPnente pɑɾɑ podeɾ tɾɑnsmiPɾ ɑ espeɾɑnçɑ ɑ cɑdɑ umɑ dɑs mulheɾes que vivem momentos pessoɑis dikceis, mɑs que podem ɑpɾoveitɑɾ ɑ opoɾtunidɑde pɑɾɑ se foɾmɑɾem e obteɾ umɑ quɑlificɑçɑo pɾofissionɑl mɑis ɑpɾopɾiɑdɑ e, consequentemente, melhoɾ gɑɾɑnPɾ o seu futuɾo.

Agɾɑdeço, pois, pelo ɑcolhimento que me foi dispensɑdo poɾ todɑs ɑs ɾeclusɑs e pelos ɾesponsɑveis do Estɑbelecimento Pɾisionɑl de Sɑntɑ Cɾuz do Bispo. Agɾɑdeço, tɑmbém, ɑ pɾofessoɾɑ Micɑelɑ Piɾes o convite que me foi feito pɑɾɑ pɑɾPcipɑɾ em tɑo impoɾtɑnte evento.

InterioriZarco | 17

Meu doce São Valentim

No senPdo de celebrar o Dia de São ValenPm, o amor e a amizade, teve lugar, no dia 14 de fevereiro, a aPvidade “Meu doce São ValenPm “, em arPculação com o concurso literário “Cartas de amor… quem as não tem?!”.

Nessa manhã, o formador da Gonçalves Zarco, Pedro Pacheco, e 3 dos seus alunos – Soraia, Eduardo e Miguel - apresentaram um workshop, onde nos ensinaram a fazer pePt gâteau e bolachas de chocolate Durante este workshop, foram, ainda, lidas as três cartas de amor premiadas no concurso literário As restantes parPcipantes também receberam uma lembrança oferecida pela escola

Enquanto a receita era posta em práPca, Pvemos o privilégio de ouvir a nossa aluna Mara cantar, com a professora Carla Vieira, a música “Eu gosto de P”, e assinar o desenho “Amor também é amizade”, feito pelas alunas, como símbolo do senPmento que nos envolveu, nesta manhã fria de fevereiro.

Através desta aPvidade, foi possível desenvolver as competências de escrita criaPva e de leitura das formandas, bem como incrementar o seu desenvolvimento pessoal e social.

Este momento tão rico e esPmulante contou com a presença da senhora diretora do EP, Dra. Paula Leão, dos chefes Palmira e Andrade, da Dra. Carlota, de vários técnicos superiores do EP e dos professores da nossa escola.

Por fim, não posso deixar de referir a saPsfação senPda quando, finalmente, as alunas Pveram a oportunidade de provar as iguarias cozinhadas, tão bem acompanhadas por um sumo e um café bem quenPnho!

para as vencedoras do concurso literário.

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Desenho da Amizade Prémio

Cartas vencedoras do concurso literário

Tempo!

Mas que tempo?

Tenho medo!

Medo de não ter tempo

Para quebrar o meu medo

Quando sinto que o tempo

Me desaparece pelas mãos sem tempo

Para ter tempo de agarrar esse tempo.

Afinal, o que é o tempo?

Onde está esse tempo que não para

Mas cujas badaladas conXnuam sempre

Com os seus minutos... segundos...

Digam onde encontram esse tempo

Para me dar tempo de ainda viver

O que o tempo não me deixou viver.

Alguém sabe onde ele anda?

Digam-me, por favor!

Eu quero agarrar esse tempo

Para poder parXlhar todo o amor

Que ainda tenho para dar.

SenXmento este, Tão parecido ao ódio Ainda assim consegue

Lugar no pódio

Realidade afeXva Que me faz viver sem alternaXva Fugir não é solução Porque raio existe o coração?

Que jogo frio me fazes jogar?

Porque é que tenho de ganhar?

Poesia para quê se nem sei rimar?

Amor, que sufoco! Porque tenho eu de viver Sem nenhum conforto! Feito um louco!

Triste azar meu

Doente sem sequer saber Correndo o mundo Em busca de te conhecer

Procuro o teu olhar

Andando como um alucinado Viajo em teu corpo sonhando como um apaixonado

Aperto no coração

Loucura no olhar

Procuro por todo o lado Mas conXnuo sem te encontrar Nasci para aprender Vivo sem saber Morro sem conhecer O significado de te perder.

Meu Anjo

Escrevo esta carta na esperança de que um dia a venhas ler, mas enquanto essa altura não chega fico a ver-te crescer.

O amor que sinto por X é incondicional, são longos os dias que espero para te ter nos meus braços, são pequenos os momentos que perduram, é um aconchego para o meu coração, não há nada que os apague da minha memória, pois tu és a mais linda história de amor

És o meu menino, és o senXdo na minha vida em dias de solidão És a minha estrela guia neste mundo de ilusão

Pele clara, cabelo escuro com um sorriso enorme, carregas conXgo um olhar sereno Vieste para os meus braços todo aconchegado que me aqueceu o coração Naquele momento eu soube que tu eras a minha grande paixão Cada passo que deste, cada gargalhada que largaste, cada palavra que aprendeste a dizer irão permanecer sempre no meu coração

Lágrimas que deitei, lágrimas que ainda deito com a esperança de um dia te voltares a deitar no meu peito

Meu filho, o Amor que nos une é maior que a distância que nos separa!

Obrigada por me teres escolhido para tua mãe, não sou perfeita e cometo erros, mas tu és a minha maior perfeição!

Um abraço cheio de amor, Vanessa, NS-1A

“Cartas de amor... quem as não tem?!”
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Celebrar Abril

Na tarde do dia 26 de abril, a ES João Gonçalves Zarco no EPSCB celebrou o 49 º aniversário da Revolução dos Cravos, sob o mote Celebrar Abril. As Conquistas de Abril foram o tema central da celebração. As alunas declamaram alguns poemas alusivos à liberdade e, no final, cantou-se numa só voz, como não poderia deixar de ser, Grândola, Vila Morena

Ai que prazer Não cumprir um dever,

É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca...

InterioriZarco

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Sendo o 25 de Abril sinónimo de conquista da Liberdade, em Portugal, parece contraditório falar, em contexto prisional, com quem dela está privada

Mas não é.

Logo de manhã, fomos recebidas naquela casa com muitas portas, mas também muitas janelas e, sobretudo, vasta claridade que o sorriso de várias senhoras ainda mais acentuou. Na parede da sala, em desenho colorido, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquela proclamação de 1948 aprovada na Organização das Nações Unidas que diz no Artº 1 “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em direitos”.

Quando, na qualidade de membros do Núcleo do Porto da URAP – União de Resistentes Antifascistas Portugueses –, aceitámos o Convite do Professor Paulo Silva da Escola João Gonçalves Zarco para nos deslocarmos ao Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, levávamos como propósito contactar com cidadãs portuguesas que se encontravam, por qualquer motivo nunca antes imaginado, na situação de privação de liberdade, mas , como qualquer uma de nós, detentoras dos direitos e deveres fundamentais próprios de um Estado de Direito Democrático, que a Constituição da República Portuguesa consagra.

E assim procurámos corresponder, falando sobre um tema que nos é especialmente caro - o 25 de Abril e a luta da Resistência antifascista

Dissemos-lhes da nossa experiência de luta pela Liberdade, a Democracia plena e a Paz, no âmbito de um regime opressor e repressivo que durante quase 50 anos oprimiu o Povo Português e para quem as Mulheres eram consideradas seres inferiores, sem direitos, nem dignidade, exploradas pelo patronato e submissas ao marido, a nível familiar, como estava decretado

Falamos-lhes da falta de Cultura, da falta de acesso ao ensino, principalmente dos filhos dos trabalhadores rurais ou fabris, do elevado índice de analfabetismo que ainda hoje, passados quase 50 anos após a Revolução de Abril, se faz sentir nalguns setores da população portuguesa.

Não foi fácil, essa luta!

UMA AULA DIFERENTE!
InterioriZarco | 21

A Maria José Ribeiro foi presa várias vezes pela polícia políXca, a tenebrosa PIDE, e falou das suas experiências, vividas ou vivenciadas, da violência e desumanidade infligidas aos presos políXcos - fossem homens

ou mulheres - nas prisões existentes - no Porto (edificio na rua do Heroismo), Caxias, Aljube, Peniche, Angra do Heroísmo, Tarrafal, onde as condições prisionais eram deploráveis, onde muitos e muitas foram barbaramente torturados e cumpriram longos anos de prisão, condenados em Tribunais Plenários, consXtuídos por magistrados de confiança do regime, e onde um número significaXvo encontrou a morte

Foram apresentados exemplos vivos da luta pela Liberdade que , para ser vivida em pleno, tem que conter o direito ao trabalho, ao pão, à saúde, ao ensino, à habitação, à Paz

Este contacto com as nossas interlocutoras, Mulheres na sua maioria muito jovens, no âmbito do plano de formação, escolar e profissional deste Estabelecimento Prisional, enriqueceu-nos Alegrounos senXr o seu interesse por aprofundar conhecimentos, fosse pelo silêncio atento, fosse pelas questões colocadas com grande frontalidade.

Uma pergunta concreta: se mesmo nas condições de violência a que se fora ou podia ser submeXdo, não Xvéramos medo. Claro que o medo perpassava o pensamento, mas as razões por que se lutava, o objeXvo da conquista da liberdade e da jusXça era mais forte. A revolta contra uma guerra colonial que estava a destroçar os nossos jovens Tratava-se de uma luta contra o despoXsmo, a injusXça, pela dignidade do nosso povo, encarado individual e coleXvamente Hoje, conXnuamos a defender que os valores, as promessas da Revolução de Abril se cumpram, que a sociedade portuguesa tenha condições justas para proporcionar a todas e todos aquilo a que têm direito, como seres humanos, sem disXnção de género, de raça , religião, etnia ou orientação sexual Que a falta de condições de vida dignas não jusXfiquem procedimentos que levem à privação de Liberdade!

Para as nossas Companheiras, que aqui encontrámos, votos de felicidade e o desejo de que absorvam o conhecimento que as fará mais livres, enquanto pessoas, e as guiará no caminho, mais fortes na luta pela sua dignidade e pela reinserção social a que têm direito

Para os Professores e Diretora que tão amavelmente nos receberam e acompanharam, os nossos agradecimentos e saudações democráXcas!

InterioriZarco

Mª José Ribeiro e Teresa Lopes - URAP
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Dia da Mãe

Celebrar a Mãe é celebrar a vida, é celebrar aqueles laços de amor que perduram no tempo... Seja ela Mãe biológica ou Mãe de coração. Foi isso que a Zarco fez com as suas alunas, no dia 8 de maio.

A primeira parte da celebração foi dinamizada pelo formador Pedro Pacheco, do curso profissional de Mesa e Bar, que, com a ajuda de três alunos deste mesmo curso - Soraia, Eduardo e Miguel, nos brindou com fresquíssimos cocktails sem álcool e com a preparação de deliciosos canapés As alunas aprenderam, esclareceram dúvidas e deliciaram-se.

Saciado o prazer físico, passamos a uma outra sala onde saciamos o espírito e a alma. Ao som de músicas interpretadas pela professora Carla Vieira e pelo músico Manuel Salselas, todos os presentes tiveram a oportunidade de cantar e de se deixar encantar por este magnífico momento musical.

No fim da tarde, todas as alunas regressaram ao seu espaço mais ricas emocionalmente, uma vez que cada parPcipante deixou, neste dia, um pouco de si, um pouco do seu amor.

InterioriZarco | 23

O que é isto do tempo?

Tempo de escolhas, tempo de decisões Procuro o que fazer com o tempo nos muros da vida, mas só encontro um vazio inanimado

Então o que faço eu com o tempo que existe, mas não vejo?

Estudo, aprendo com aqueles que têm algo para me ensinar.

Aprendi a ouvir e a ser ouvida.

A compreender e a ser compreendida.

Com o tempo vem a virtude e a paciência, a alegria de uma hora estar com aqueles que mais amamos.

Tempo que passa rápido, mas devagar.

Tempo que traz a dor, mas alivia

Tempo que traz vida, mas também Pra

Tempo, tempo, tempo!

Tempo para ocupar com quem gostamos, aproveitando cada segundo de vida.

Porque tempo feito de palavras é tempo perdido, pois são as aPtudes que permanecem na memória do tempo, boas ou más.

No fim de contas o tempo é ... só tempo!

Inês Veloso, NS-2A

InterioriZarco | 24

Estou a ficar sufocada neste sítio: o tempo parou, o Sol não brilha e nem os pássaros querem pousar nestas janelas ladrilhadas por lágrimas A única coisa que ainda vai andando é o relógio, mas anda tão devagar que por vezes tenho a sensação que está parado.

Eu conto as horas, os minutos, os segundos e os dias para saber qual o dia em que vou tervos de novo em meus braços, longe deste sítio sombrio, frio e aterrador.

Sei que errei, magoei, maltratei, pequei, se calhar até matei, mas sem a consciência de um simples mortal. Essa pessoa não era eu. Foi um ser irracional que se apoderou do meu corpo e da minha mente e me transformou em tudo aquilo que eu não queria ser; vi tantas coisas que preferia não ter visto

Tenho, agora, tantas respostas para dar a mães, como a minha, que estão a passar por tudo aquilo que ela passou comigo. Mas são verdades tão duras, nuas e cruas que custam a aceitar Mas o pior de tudo isto é tu saberes que nada vais poder fazer para as ajudar, porque os próprios filhos não querem ser ajudados Eu adorava ter a cura desta dependência como um passe de mágica, mas esta cura está dentro de cada um de nós, não são as terapias nem os clínicos, não existe uma cura exata, a nossa mente comanda o corpo e uma mente sã é um corpo saudável Ninguém pode fazer nada para te ajudar se tu próprio não quiseres ser ajudado

Viver é a melhor coisa que temos. Aproveita a vida enquanto podes da melhor maneira, mas de forma a gozar tudo aquilo de bom que ela tem para te dar, como o simples facto de seres livre, poderes ver o mar, sentir o cheiro dele, jantar com a tua família, ir ao cinema A vida tem um bilião de coisas maravilhosas para tu aproveitares Não vivas para quem te leva para as entranhas da miséria, da dor e do pecado.

Coloca uma coroa no teu coração e sê rei da tua própria vida, coroa os teus filhos com a tua presença, o teu amor e os teus valores Não deixes que alguém venha reinar no teu reino Batalha e luta sempre para conseguires o que queres.

Nunca desistas porque só os derrotados é que desistem. Podes ter perdido uma batalha, mas não perdeste a guerra Luta sempre até ao fim das tuas forças para conseguires o que queres Nós nascemos para vencer, mas com dignidade, de cabeça erguida e de forma assertiva. Assim vais chegar longe. Depois de toda esta aprendizagem, levo comigo uma grande bagagem para poder ser tudo aquilo que desejo para mim e para os que amo Errar faz parte da vida, culpo-me todos os dias por tudo aquilo que perdi da vida das minhas filhas e do mal que fiz a toda a gente no meu passado. Mas aprendemos com os erros. Aprendi da pior maneira, mas aqui cresci e me reinventei a todos os níveis. Hoje penso como um ser humano que tem os pés bem assentes na terra Esta passagem estava destinada para mim, nada acontece ao acaso e agradeço a Deus por me ter dado esta oportunidade de mudar a minha vida.

Hoje sou uma mulher com um passado pesado, sem dúvida Mas este passado vai pesar em cada decisão que eu vou tomar para fazer sempre as escolhas certas Espero que a minha história possa ajudar outras pessoas a mudar de vida, porque estamos sempre a tempo de mudar a nossa história

Estou a ficar sufocada
InterioriZarco | 25
Andreia Silva, NS-2A

A melhor forma de proteger a nossa privacidade

Não se aconselha manter os nossos telemóveis, computadores e tablets sem nenhuma segurança, isto é, sem nenhuma palavra-passe (password). Pode ser um conjunto de carateres (letras, números e símbolos), a impressão digital ou até mesmo o Face-ID (o aparelho desbloqueia reconhecendo um rosto)

Um so~ware normal, cujo objeXvo é descobrir palavras-passe, demora menos de 1 segundo a encontrar uma password com 8 carateres Passwords fracas nem precisam de programas para serem descobertas: se uXlizar o próprio nome, nomes dos filhos, ano nascimento, etc

Se optar por não usar a impressão digital nem o Face-ID, então deve usar “frases-passe” em vez de “palavras-passe” As razões pelas quais esta troca faz todo o senXdo prendem-se com a facilidade de nos lembrarmos de uma frase que conhecemos em detrimento de um conjunto de carateres aleatório. Por outro lado, o tamanho e forma da “frase-passe” dificulta o acesso aos nossos sistemas, porque deverá ter maiúsculas, minúsculas, números e símbolos

Exemplos de uma má escolha de palavras-passe são 1234, abcd ou maria1990 Uma frasepasse boa poderá ser “OsnossospoliXcossao110%maravilhosos!”.

O uso do Face-ID tem algumas desvantagens: o disposiXvo não reconhece se o rosto mudar (como, por exemplo, alguém deixar crescer a barba), se houver um acidente temporário que afete o rosto ou, então, no caso de alguém diferente precisar de entrar no disposiXvo com autorização, etc Se uXlizarmos a nossa impressão digital para proteger o nosso disposiXvo, em situações de assalto, pode ocorrer atos de violência (o que pode acontecer se quiserem saber os nossos dados, sejam eles de que forma for) Também pode acontecer que alguns piratas informáXcos criem uma App que imita a tela de desbloqueio do disposiXvo e que, quando usado pela víXma, poderá, por exemplo, aprovar uma transação financeira O melhor a fazer é ter mais que uma forma de segurança Por exemplo, Pin e impressão digital.

É claro que é sempre possível invadirem a nossa privacidade, mas se pudermos dificultar o processo…

Carina Real

Helena Gomes

Marília Sousa

Sara Gomes

Sara Machado

B3

InterioriZarco | 26

18 eɾɾos de poɾtuguês fɾequentes e que mɑnchɑm ɑ suɑ imɑgem (con?nuação da 1ª edição)

A especiɑlistɑ em LinguísXcɑ Sɑndɾɑ Duɑɾte Tɑvɑɾes explicɑ quɑis sɑo, nɑ suɑ óXcɑ, os 18 eɾɾos linguísXcos que podem mɑɾcɑɾ de foɾmɑ negɑXvɑ ɑ imɑgem pessoɑl e pɾofissionɑl de umɑ pessoɑ.

A competênciɑ linguísXcɑ, ɑssociɑdɑ ɑo domínio dɑ comunicɑçɑo oɾɑl e escɾitɑ, ɑssume, inequivocɑmente, um vɑloɾ sociocultuɾɑl ɾelevɑnte, pɾomovendo cɑdɑ vez mɑis ɑceitɑçɑo, cɾedibilidɑde e pɾesjgio sociɑl

ERRO 6: faria-o, se possível

Forma correta: fá-lo-ia, se possível

No futuro do indicaXvo e no condicional, os pronomes pessoais complemento (-me, -te, -o, -lhe…) colocam-se em posição mesoclíXca, isto é, no meio do verbo, antes das terminações de tempo e pessoa.

ERRO 7: como deve de ser

Forma correta: como deve ser

Ao contrário do nome dever, o verbo dever não requer a presença da preposição de.

ERRO 8: à muito tempo, à 1 semana

Forma correta: há muito tempo, há uma semana

A forma verbal há (verbo haver) pode assumir um valor temporal, podendo ser subsXtuída pela forma verbal faz: faz muito tempo, faz 1 semana. Tem um valor duraXvo no passado.

ERRO 9: tu fostes

Forma correta: tu foste

A forma verbal correspondente à 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicaXvo do verbo ir ou ser é foste. A forma verbal fostes corresponde à 2.ª pessoa do plural: vós fostes.

ERRO 10: Derivado a um vírus

Forma correta: Derivado de um vírus / devido a um vírus

A palavra derivado é acompanhada da preposição de (tal como o verbo derivar); a palavra devido é acompanhada da preposição a (tal como o verbo dever-se).

A fɑlɑɾ bem é que ɑ gente se entende!
InterioriZarco | 27
Con1nua na próxima edição!...

“7 Maravilhas de Matosinhos”

InterioriZarco | 28

Mɑtosinhos possui um vɑsto pɑtɾimónio históɾico e cultuɾɑl. Em 2008, ɾeɑlizou-se, viɑ inteɾnet, ɑ eleiçɑo dos sete monumentos mɑis emblemɑJcos do concelho - ɑs Sete Mɑɾɑvilhɑs de Mɑtosinhos. Nestɑ ediçɑo, ɑpɾesentɑmo-vos ɑ Cɑsɑ de Chɑ dɑ Boɑ Novɑ e ɑ Piscinɑ dɑs Mɑɾés.

A Cɑsɑ de Chɑ dɑ Boɑ Novɑ locɑlizɑ-se nɑ zonɑ dɑ Boɑ Novɑ, junto ɑo Fɑɾol de Leçɑ, nɑ fɾeguesiɑ de Mɑtosinhos e Leçɑ dɑ Pɑlmeiɾɑ.

É umɑ conhecidɑ cɑsɑ de chɑ e ɾestɑuɾɑnte, instɑlɑdɑ no edikcio que foi umɑ dɑs pɾimeiɾɑs obɾɑs (1958-1963) do ɑɾquiteto Álvɑɾo Sizɑ Vieiɾɑ Constɾuídɑ sobɾe ɑs ɾochɑs, ɑ ɑpenɑs dois metɾos dɑ ɑguɑ, com o mɑɾ em fundo, é um dos locɑis mɑis pɾocuɾɑdos pelos ɑmɑntes dɑ ɑɾquitetuɾɑ, pelos ɑpɾeciɑdoɾes de umɑ boɑ ɾefeiçɑo e, sobɾetudo, pelos que gostɑm de contemplɑɾ o mɑɾ. A Cɑsɑ de Chɑ dɑ Boɑ Novɑ estɑ clɑssificɑdɑ como Monumento Nɑcionɑl desde 2011

O edikcio foi concebido nɑ sequênciɑ de um concuɾso levɑdo ɑ cɑbo pelɑ Cɑmɑɾɑ Municipɑl de Mɑtosinhos, em 1956, do quɑl sɑiu vencedoɾ o ɑɾquiteto Feɾnɑndo Tɑvoɾɑ Após ɑ escolhɑ do locɑl pɑɾɑ ɑ suɑ implɑntɑçɑo, nos ɾochedos dɑ Boɑ Novɑ, Tɑvoɾɑ entɾegou o pɾojeto ɑ um dos seus colɑboɾes, Álvɑɾo Sizɑ, que estɑvɑ ɑ dɑɾ os pɾimeiɾos pɑssos nɑ suɑ cɑɾɾeiɾɑ.

O espɑço começou poɾ funcionɑɾ, oɾiginɑlmente, ɑpenɑs como cɑsɑ de chɑ. Atuɑlmente, divide-se pelo bɑɾ, onde se pode ɑpɾeciɑɾ um chɑ ou um cɑfé, olhɑndo o oceɑno, e ɑ zonɑ de ɾestɑuɾɑnte

InterioriZarco | 29

Clɑssificɑdɑ como Monumento Nɑcionɑl desde 2011, ɑ Piscinɑ dɑs Mɑɾés de Leçɑ dɑ Pɑlmeiɾɑ eɾɑ pɑɾɑ seɾ um simples tɑnque de ɑguɑ sɑlgɑdɑ, mɑs o génio de Álvɑɾo Sizɑ Vieiɾɑ tɾɑnsfoɾmou-o numɑ obɾɑ fundɑmentɑl dɑ ɑɾquitetuɾɑ poɾtuguesɑ.

Unɑnimemente destɑcɑdɑ pelɑ impoɾtɑnciɑ que ɑdquiɾiu no peɾcuɾso cɾiɑPvo do entɑo jovem ɑɾquiteto mɑtosinhense, ɑ Piscinɑ dɑs Mɑɾés, inɑuguɾɑdɑ em 1966 e pɾopɾiedɑde dɑ Cɑmɑɾɑ Municipɑl de Mɑtosinhos, dɑ coɾpo ɑ umɑ ɑboɾdɑgem que sublinhɑ ɑ ɾelɑçɑo entɾe o ɑɾPficiɑl e o nɑtuɾɑl

A históɾiɑ dɑ Piscinɑ dɑs Mɑɾés, umɑ dɑs obɾɑs mɑis emblemɑPcɑs do ɑɾquiteto poɾtuense Álvɑɾo Sizɑ Vieiɾɑ, começɑ 20 ɑnos ɑntes, com umɑ cɑɾtɑ dɑ Cɑmɑɾɑ de Mɑtosinhos, empenhɑdɑ, ɑ épocɑ, em ɾecupeɾɑɾ ɑ impoɾtɑnciɑ dɑ zonɑ como estɑnciɑ bɑlneɑɾ. Em mɑɾço de 196o, ɑ ɑutɑɾquiɑ ɑssume, pelɑ penɑ do engenheiɾo civil Beɾnɑɾdo Feɾɾɑo, que “ɑ constɾuçɑo de umɑ piscinɑ de ɑguɑ sɑlgɑdɑ nɑs imediɑções dɑ pɾɑiɑ de Leçɑ (…) consPtui umɑ ɑspiɾɑçɑo ɑnPgɑ”, e que Pnhɑ chegɑdo ɑ hoɾɑ de ɑ concɾePzɑɾ Oɾçɑmento: 200 mil escudos.”

Escolhido o locɑl, numɑ depɾessɑo que peɾmiPɾɑ poupɑɾ muito tɾɑbɑlho em escɑvɑções, em novembɾo de 1959 ɑ ɑutɑɾquiɑ decide contɑctɑɾ umɑ empɾesɑ de obɾɑs públicɑs, especiɑlizɑdɑ em obɾɑs mɑɾíPmɑs. Todɑviɑ, no decoɾɾeɾ de um pɾojeto que se pensɑvɑ simples, suɾge ɑ necessidɑde de se pensɑɾ no enquɑdɾɑmento uɾbɑnísPco dɑ obɾɑ com ɑ pɑisɑgem envolvente. Nestɑ fɑse, é chɑmɑdo um jovem ɑɾquiteto de 26 ɑnos. Beɾnɑɾdo Feɾɾɑo conheciɑ Sizɑ Vieiɾɑ dɑs colɑboɾɑções com o seu iɾmɑo, o ɑɾquiteto Feɾnɑndo Tɑvoɾɑ. Duɑs dɑs pɾimeiɾɑs decisões foɾɑm constɾuiɾ um tɑnque pɑɾɑ ɑs cɾiɑnçɑs e desisPɾ dɑ ideiɑ de espeɾɑɾ pelo vɑi e vem mɑɾíPmo Pɑɾɑ cumpɾiɾ ɑs ɾegɾɑs de higiene, ɑ piscinɑ seɾiɑ enchidɑ com ɑguɑ do mɑɾ, sim, mɑs tɾɑtɑdɑ. A 25 de mɑɾço de 1960, 10 diɑs depois dɑ cɑɾtɑ com ɑ memóɾiɑ descɾiPvɑ, o Secɾetɑɾio Nɑcionɑl de Infoɾmɑçɑo, Moɾeiɾɑ BɑpPstɑ, fɑz umɑ visitɑ ɑo locɑl onde iɾiɑ seɾ constɾuídɑ ɑ Piscinɑ de Mɑɾés, tɑl como ɑ conhecemos hoje. A obɾɑ fɑziɑ pɑɾte de umɑ estɾɑtégiɑ mɑioɾ de toɾnɑɾ Leçɑ dɑ Pɑlmeiɾɑ umɑ ɑtɾɑçɑo bɑlneɑɾ foɾte Pɑɾɑ ɑlém dɑ inɑuguɾɑçɑo dɑ Cɑsɑ de Chɑ dɑ Boɑ Novɑ, destɑque pɑɾɑ ɑ ɑbeɾtuɾɑ, em 1959, dɑ ponte móvel sobɾe o Poɾto de Leixões, que ligɑvɑ Leçɑ ɑ Mɑtosinhos.

lecɑ-pɑlmeiɾɑ.com

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À conversa com...

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Entrevista ao Chefe Andrade

Sara - Bom dia, senhor chefe Andrade! Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer a sua disponibilidade para nos conceder esta entrevista.

Chefe Andrade - É um prazer estar aqui, a tentar colaborar convosco.

S - Chefe Andrade, há quantos anos exerce funções em estabelecimentos prisionais?

A - Ora bem, precisamente há 28 anos, desde 1995.

S - Chefe, diga-me, gosta do que faz?

A - Sim, esta profissão não é a profissão de sonho, aquela profissão que nós sonhamos ter quando somos pequenos. Depois, à medida que vamos crescendo, vamos estudando, vamos entrando no mercado de trabalho e vão surgindo oportunidades Surgiu esta oportunidade, abracei esta carreira e é uma profissão que se aprende a gostar Posso dizer que gosto daquilo que faço.

S - Quando e como surgiu a oportunidade de se tornar um guarda prisional?

A - Foi precisamente no ano de 1994. Entrar na carreira de guarda prisional obedece a um processo um bocadinho complicado, ou seja, há um concurso público

que é aberto no Diário da República, nós concorremos, fazemos determinado Xpo de provas, depois dessas provas sai uma lista final de classificação e nós ficamos ou não nas vagas de acesso à frequência do curso de formação. Fiz as provas todas, fiquei bem classificado, fiquei dentro das vagas e passado um ano e meio de ter concorrido é que ingressei na carreira. O concurso abriu em 1994 e só em 1995 é que eu entrei. Isto obedece a uma série de provas, não é só ir a uma entrevista e ficarmos admiXdos ou não. Há uma prova de conhecimentos, prova Åsica, exames médicos, psicotécnicos, depois há uma formação que tem que ser concluída com aproveitamento. É um bocadinho exigente e tem que ser.

O nosso sentimento tem que ser “é preciso fazer isto”, tem que se fazer.

É muito mais diÅcil lidar com reclusas. Os homens são mais práXcos na resolução dos problemas E até nós, entre homens, a resolver os problemas, resolvemos de forma mais simples. Com as mulheres temos de ser um bocado mais delicados, pensar duas vezes como é que vamos resolver o problema porque, pode parecer que não, mas a questão do género ainda está muito vincada no nosso meio e, às vezes, uma palavra que nós possamos dizer de forma diferente pode ser interpretada de forma muito diferente, também É muito diÅcil explicar isto Não é que não goste Estou a gostar desta experiência.

S - Já trabalhou com reclusos homens?

A - Sim, aliás, a minha grande experiência de vida profissional é com reclusos homens Eu estou aqui nesta cadeia há 5 anos, portanto foram vinte e muitos anos a trabalhar em estabelecimentos prisionais masculinos.

S - O que é mais diÅcil, lidar com reclusos ou reclusas?

A - É pá!! Essa pergunta... Mas tenho que ser sincero!!! (risos)

S - Ao longo do tempo de serviço que tem, qual foi a situação mais complexa com que teve de lidar dentro do estabelecimento prisional?

A - É assim, muito sinceramente, é um tema que choca toda a gente, são as situações de suicídio Ninguém gosta de viver com isso. Já Xve vários momentos desses ao longo da minha carreira Até aqui, as pessoas mais anXgas, já conviveram com situações dessas. Temos Xdo aqui alguns casos e são os momentos mais delicados de viver e de gerir.

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S - O Chefe Andrade exerce uma profissão de risco Alguma vez se senXu ameaçado?

A - Com o tempo, nós habituamonos Na cadeia existe uma certa pressão, nesta cadeia até se nota menos pressão. Naquelas cadeias que têm muros sente-se mais pressão, quer para quem está deXdo, quer para quem está a trabalhar Mas em termos de pressão há sempre aquela pressão

S - Apesar das parXcularidades da sua profissão, exerce-a com saXsfação?

A – Sim. Eu, em jeito de brincadeira, costumo dizer que quando acaba o fim de semana a maioria das pessoas pensa “Ai!! Amanhã é segunda-feira, é dia de trabalho”; eu sou muito franco, para mim, a segunda feira é igual à sexta feira. Eu encaro o trabalho como uma coisa normal Já estou num patamar em que preciso de descansar e preciso de trabalhar. Portanto, o nosso senXmento tem que ser “é preciso fazer isto”, tem que se fazer. Gosto bastante daquilo que faço

S - É diÅcil conciliar a gestão da sua vida pessoal e familiar com o cargo que exerce?

A - Por vezes, é complicado, essencialmente, porque trabalhamos aqui muitas horas Imaginemos que tenho um assunto pessoal para tratar,

um recluso com a idade do meu filho foi extremamente chocante Aconteceu no estabelecimento prisional da PJ do Porto Entrou lá um rapazito de uma insXtuição, que se portou mal, e fui eu que o recebi. Fiquei mesmo chocado, pensei imediatamente “este é da idade do meu filho” Tentei ajudar o rapaz da melhor forma que pude, mas nós também temos as nossas limitações Foi um dia, realmente, muito marcante para mim. É óbvio que quando vejo uma reclusa muito jovem a entrar é muito complicado. Tento gerir e, se calhar, confortar essas reclusas, até porque são mais débeis, apesar de apoiar todas de igual forma Quando uma pessoa muito jovem entra aqui, vocês, mais velhas, vão apoiar, eu também não fico indiferente a isso. Tento dar o mesmo nível de apoio, mas, se calhar, àquela em parXcular, no senXdo de orientar.

S - Se Xvesse o poder de mudar algo no sistema prisional português, o que mudaria?

sinceramente. Não venho preparado para responder a isso tudo (risos) Por exemplo, vocês, às vezes, fazem esse Xpo de comparação: o mesmo Xpo de crime condenado a penas diferentes Vocês fazem muito essa comparação. E, de facto, é verdade. Não quer dizer que tenha de haver uma tabela, mas acho que devia haver uma melhor orientação para quem pune, porque há situações que nem valia a pena vir para aqui, para o E.P, cumprir pena, quando, por vezes, um simples trabalho comunitário seria suficiente - “olha, em vez de te apresentares no estabelecimento prisional de Santa Cruz do Bispo, vais te apresentar na Câmara de Matosinhos e vais limpar a praia, todos os dias de 2ª a 6ª feira durante 3 meses”. E assim, se a pessoa não cumprir, vai presa

S - Quando terminar a sua carreira, qual é o senXmento que gostaria de levar consigo para a vida?

A - Eu acho que vou levar o senXmento de missão cumprida. Sinceramente E não é para me estar a valorizar, porque eu saio daqui todos os dias com esse senXmento Tento fazê-lo.

S - Muito obrigada pelo tempo que nos concedeu. Foi um prazer!

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Entrevista ao Dr. Manuel Belchior

Alda - Bom dia, Dr Belchior! Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer a disponibilidade para estar presente nesta entrevista.

Dr. Belchior, seremos, provavelmente, dos poucos ou, talvez, o único E.P com parceria com a Santa Casa da Misericórdia Pode contar-nos como nasceu esta parceria?

Dr. Belchior - Isso é um bocado longo... Começou há cerca de vinte anos. O diretor geral de então, há precisamente vinte anos, quando esta cadeia ficou terminada, deparou-se com um problema de falta de recursos para abrir um estabelecimento novo e com ideias novas Coincidentemente, eu Xnha acabado de sair dos serviços prisionais, na qualidade de subdiretor geral, e ele abordoume no senXdo de indagar se a Santa Casa da Misericórdia de Matosinhos estaria interessada num projeto desses Eu dei a minha opinião e ele dirigiu-se à Santa Casa da Misericórdia do Porto e, como a vida é feita de coincidências, havia um mesário, na altura, na Santa Casa da Misericórdia do Porto, Doutor André Roque, um homem de causas, que estava muito ligado à causa da recuperação de toxicodependentes e apoiava também os reclusos. De uma forma muito resumida, a Santa Casa da Misericórdia aceitou o desafio. Houve todo um processo burocráXco e legislaXvo até que os poderes da época decidiram favoravelmente. E assim começou isto a funcionar em Janeiro de 2005

Este processo demorou mais de um ano e meio, desde que o Senhor Diretor Geral, Doutor Miranda se

A - Pode enumerar-nos algumas vantagens desta parceria?

B - Falar em causa própria é sempre muito complicado Ou peca por modésXa ou peca por vaidade Quem usufrui desta situação e está preso nesta cadeia, e tenha estado noutra cadeia de mulheres, é que tem condições de dizer quais são as diferenças e as vantagens Claro que vocês podem dizer “isso é tudo treta”... Portanto, perguntem a colegas vossas que esXveram, por exemplo, em Tires ou em Odemira e que agora estejam aqui Se elas quiserem ser sinceras, que digam qual é a diferença

A - A Santa Casa é a enXdade responsável pela escola, serviços clínicos, canXna, oficinas e creche. Quais são as maiores dificuldades com que se depara na gestão e organização de todos estes setores?

B - O sistema prisional é um sistema moroso em se adaptar a mudanças

Eu digo isso porque já esXve no sistema prisional de Odemira. A roXna é esmagadora, vocês sabem isso muito bem. Não está aqui ninguém na cadeia por praXcar uma boa ação. Há aqui gente que não me interessa e nunca me interessou, não é minha preocupação saber o crime que qualquer uma cometeu para estar aqui.

E é preciso ver que uma cadeia não é para férias. Portanto, há sempre dificuldades, logo por aí E o sistema também tem que ser definiXvo e às vezes ele também cria dificuldades. Há roXna nas cadeias, ainda não se inventou outra forma que seja diferente. Vocês passam 13h fechadas, das 7h da noite às 8h da manhã. Eu fui do tempo em que o dia começava mais cedo, às 7h da manhã a malta já estava a levantarse, ia tomar o pequeno-almoço mais cedo, logo iam trabalhar mais cedo O dia era maior, isto para ir ao trabalho. Vocês começam a trabalhar às 9:30h, às 11:30h já estão fora, trabalham 2h. É diÅcil arranjar empresas que deem trabalho nestas circunstâncias. Portanto, um dos setores mais diÅceis de conquistar, e vocês às vezes não dão valor a isso, é arranjar trabalho para quem não quer trabalhar e na cadeia onde não há trabalho as coisas complicam-se. Estão mais ocupadas Numa cadeia onde não há emprego vocês implicam mais umas com as outras, querem dinheiro para gastar e não têm, mas vocês próprias também pouco fazem para isso Vocês não valorizam o trabalho como deviam valorizar. A população reclusa não valoriza o trabalho como devia valorizar e também muitas delas não valorizam a escola como deviam valorizar A escola é das poucas coisas que o sistema prisional dá, há muitos anos, para o vosso beneÅcio. Eu acho muito estranho que quem está condenado a anos de cadeia não valorize esta dádiva caída do céu que é o ensino. Os anos passam da mesma forma e quando saírem daqui, aquelas que eram analfabetas podem sair com uma instrução razoável, e aquelas que não são analfabetas podem sair daqui com ensino superior. E sem esse empenho vosso, a vossa vida nunca muda.

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Coordenador da SCM do Porto

A cadeia tem muito de negaXvo, mas também tem coisas posiXvas, como é evidente. Por que é que vocês não aproveitam as coisas posiXvas? E depois passam a vida a queixar-se que não Xveram oportunidade disto e daquilo Se vocês não se prepararem, quer a nível de trabalho quer a nível de escola, a vossa vida dificilmente mudará lá fora Portanto, isso é um exercício mental que cada uma tem que fazer Se não fizerem, não vão lá

A - De todas estas valências, qual é a que lhe dá mais prazer gerir?

B - Eu não giro nada, diretamente, sou coordenador Portanto, quem está no terreno é que tem que estar preocupado e ver se as coisas funcionam e se não funcionarem tão bem como desejavam, tenho que estar atento e chamar à atenção. O setor de que eu gosto muito são as criancinhas. As criancinhas não têm culpa da estupidez do pai e da mãe, do erro que o pai e a mãe cometeram As criancinhas têm sempre aqui, no meu lado esquerdo (coloca a mão sobre o lado esquerdo do peito), um reservatório grande As criancinhas sim, vocês nem tanto Vocês já são adultas, já sabem o que devem e o que não devem fazer. As criancinhas não têm culpa nenhuma

A - O facto de ser um E.P feminino torna a sua função mais complexa? Ou seja, é complicado trabalhar com tantas senhoras?

B - Não! Vocês, mulheres, não são nada complicadas. Isso é só “treta” Eu trabalhei em cadeias de homens “da pesada” e aí uma pessoa anda sempre com o coração nas mãos. Vocês são chatas de mais. Só isso. Há que não valorizar.

A - Enquanto reclusas, temos consciência de que somos as mais beneficiadas desta parceria. No entanto, gostaríamos de sugerir uma redução no preço dos produtos da canXna

Atendendo à conjuntura económica do país, considera plausível esta nossa sugestão?

B - Vocês devem fazer um abaixoassinado ao Presidente da República ou ao Primeiro Ministro para reduzir os impostos Nós somos apenas intermediários. Vocês não têm noção do beneÅcio que é a gestão desta canXna, para vocês A canXna, que é um minimercado para vocês, tem lá uns milhares muito largos de euros empatados, todos os meses O que lá está tem que se comprar, tem que se pagar Noutra cadeia qualquer, o lucro que se apura ao fim do ano e a percentagem que se aplica nos produtos é muito superior à que se aplica aqui Tem que se aplicar uma percentagem, se não, no fim do ano, havia prejuízo Isso é tudo transparente. Aqui, em Santa Cruz do Bispo, aplica-se em cada produto a percentagem de 6%, que, ao fim do ano, parte disso se traduz em lucro e criamos uma almofadazinha. E para onde é que vai esse dinheiro? Não vai para o bolso da Misericórdia, como devia ir, porque o que lá está é da Misericórdia. Vai para as necessitadas que precisam de óculos, precisam de dentes, vai para uma criancinha que precise de qualquer coisa e vai para a escola Se não houvesse o dia da canXna podem ter a certeza que coisas de que vocês beneficiam aqui não beneficiariam O acesso à Internet é pago, são cerca de 1000 euros por ano Tudo isso sai dos lucros da canXna. É uma grande mais valia... e de que maneira! É claro que vocês se queixam, mas está tudo caro Vocês, garanXdamente, estão mais a par das coisas do que qualquer um de nós, veem muita televisão... Vejam do que é que as pessoas se queixam lá fora. Tudo lá fora subiu e aqui também, não foge à regra.

A - Dr. Belchior, terminando a sua carreira, qual é o senXmento que gostaria de guardar de todos estes anos de trabalho em estabelecimentos prisionais?

B - Esse é dos exercícios mais diÅceis de fazer para quem trabalha no sistema prisional

Têm aqui o caso das vossas professoras A professora recebe uma aluna que não sabia ler nem escrever e foi graças ao empenho dessa professora que ela aprendeu a ler e a escrever. Essa pessoa não se esquece que foi a professora tal que a ensinou a ler e escrever. Foi graças àquela professora, que lhe despertou o gosto pelo ensino, que progrediu na vida. Nós nunca sabemos se contribuímos ou não para que alguma mulher ou homem mude de vida, nunca sei se foi por causa da minha intervenção ou não. Não faço ideia. O mais importante, para quem trabalha no estabelecimento prisional, é empenhar-se muito, profissionalmente, no senXdo de fazer o seu melhor, para que as pessoas que entraram na cadeia saiam melhores. Se isso acontece ou não o mérito é sempre vosso, e o demérito também Não é criXcar o sistema quando regressam e esquecer, quando não regressam, que o sistema vos ajudou. Portanto, é sempre muito diÅcil, seja com homens ou mulheres, saber se nós contribuímos para o vosso sucesso Nós estamos doentes, parXmos uma perna, o médico pôs a perna direiXnha. Sabemos que foi graças ao médico que melhoramos. A gente nunca sabe se foi graças ao Diretor ou ao técnico de educação que aquela pessoa não regressou à cadeia. É um misto de muita coisa, a chamada reinserção é uma coisa muito complicada Nunca me canso de dizer isto ao longo destes anos todos - o mérito e o demérito é vosso, fundamentalmente

A - Resta-me agradecer pela genXleza de aceitar o nosso convite para esta pequena conversa.

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Na cozinha com Pedro Pacheco

Peat Gɑteɑu

Ingɾedientes:

200 gɾɑmɑs de chocolɑte

2 colheɾes de sopɑ de mɑnteigɑ

2 ovos

2 gemɑs

75 gɾɑmɑs de ɑçúcɑɾ

2 colheɾes de sopɑ de fɑɾinhɑ tɾigo

Pɾepɑɾɑçɑo:

Começɑɾ poɾ deɾɾeteɾ ɑ mɑnteigɑ e o chocolɑte em bɑnho-mɑɾiɑ, ou levɑɾ ɑo micɾoondɑs ceɾcɑ de dois minutos. Reseɾvɑɾ.

Bɑteɾ os ovos e ɑs gemɑs com o ɑçúcɑɾ, nɑ bɑtedeiɾɑ, ɑté ficɑɾ um cɾeme fofo Juntɑɾ ɑo chocolɑte deɾɾeXdo mistuɾɑndo bem De seguidɑ

Bolɑchɑs de Pepitɑs de Chocolɑte

Ingɾedientes:

100 gɾɑmɑs de mɑnteigɑ

120 gɾɑmɑs de ɑçúcɑɾ ɑmɑɾelo

1 ovo

150 gɾɑmɑs de fɑɾinhɑ tɾigo

40 gɾɑmɑs de cɑcɑu

1 pitɑdɑ de sɑl

1 colheɾ de feɾmento em pó

70 gɾɑmɑs de pepitɑs de chocolɑte

Pɾepɑɾɑçɑo:

Começɑɾ poɾ mistuɾɑɾ ɑ mɑnteigɑ com o juntɑɾ ɑ bɑunilhɑ e o ovo e bɑteɾ vigoɾosɑmente.

De seguidɑ ɑdicionɑɾ ɑ fɑɾinhɑ com o feɾmento sɑl e o cɑcɑu em pó, envolvendo tudo muito

Poɾ fim, mistuɾɑɾ ɑs pepitɑs de chocolɑte pɾepɑɾɑdo ɑnteɾioɾ, moldɑɾ pequenɑs bolɑs ɑchɑtɑɾ ɑs mesmɑs; colocɑɾ sobɾe pɑpel num tɑbuleiɾo.

Pɾé ɑqueceɾ o foɾno ɑ 200 gɾɑus, levɑɾ ɑs bolɑchɑs ɑ cozeɾ ceɾcɑ de doze minutos, ɑté ficɑɾem com ɑlgumɑ consistênciɑ

ReXɾɑɾ pɑɾɑ um pɾɑto Se desejɑɾ decoɾɑɾ, polvilhɑɾ com chocolɑte e ɑçúcɑɾ em pó InterioriZarco

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Quebra - cabeças

Sopa de letras

Encontre as seguintes palavras: InsXtuição/ Competências/ Direitos/ Organização/ Empresarial/ ProduXvidade/ Equidade/ Trabalhador/ Deveres/ EmpaXa/ Código/ Deontológico

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Horizontais: 1-Que vai caindo Abecedário 2-Fruto silvestre Decigrama (símbolo) Interjeição que exprime admiração. 3-No caso de. Lugar descoberto e saliente sobre uma casa, ao nível de um andar. 4-Mulher celibatária (popular). Meter dentro de latas. 5-Divisória. Erva ceifada e seca para alimento do gado 6-Planta tropical que produz as papaias 7-Movimento Queixar-se (gíria). 8-Coisas contrárias. Oferta Pública de Aquisição (acrónimo). 9-Eliminar. Espanha (Internet). 10-Hectare (símbolo). Antes de Cristo (abrev.) Metal branco e precioso. 11-Prefixo (montanha). Aparecer em lugar alto.

Veracais: 1-Puro. Animal do sexo masculino. 2-Adorei. Encher de habitantes. 3- “De” +o. Descontar 4-Época Ajuste 5- Sódio (s q ) Interjeição que se emprega para excitar ou animar Grande saco 6-Pôr os nipes por ordem 7-Vereador Aqui está Post-scriptum (abrev ) 8-Modo de escrever. Argola. 9-Maciço arXficial de terras. Antes do meio-dia. 10-Parte da capa de um livro que dobra para dentro. MenXra. 11-Pranto. Associar.

Sudoku

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cruzadas
Palavras

Soluções Palavras cruzadas:

Horizontais: 1- Cadente.Abc. 2-Amora. Dg. Ah. 3-Se. Eirado. 4-Tia. Enlatar. 5Baia Feno 6-Papaeiras 7-Moto Piar 8-Avessas OPA 9-Cortar es 10-ha aC

Prata 11-Oro Assomar

Ver?cais: 1-Casto. Macho. 2-Amei. Povoar. 3-Do. Abater. 4-Era. Aposta. 5-Na. Eia. Saca. 6-Enaipar. 7-Edil. Eis. PS. 8-Grafia. Aro. 9-Aterro. AM. 10- Badana. Peta. 11-Choro. Casar.

3 5 2 9 4 1 7 8 6 4 9 7 5 6 8 2 3 1 6 1 8 2 3 7 4 9 5 8 7 1 4 9 5 3 6 2 9 6 5 3 1 2 8 4 7 2 4 3 7 8 6 5 1 9 5 3 6 1 7 4 9 2 8 1 2 9 8 5 3 6 7 4 7 8 4 6 2 9 1 5 3
Soluções Sudoku:
A E E Y T E R H A H J K I F R E T B S D F H U S S R D H F U T D E V G T B I N S T I T U I Ç Ã O S R A N E A S F G Y K L M J O L F R I C G A O C D T E C O M P E T Ê N C I A S B N Y A E L D E I H I R V I D E X A S F H J K L L D E D B S A S E I H R G F S Z E S D F R H C D E H A J A S F R D P O M E S Y M N S D F G R T J K D A S G Y M B A H U U U I O M O F O R G A N I Z A Ç Ã O F G H D V E L A H T N F A S D F G Y A B R Ã U D E B T E D D T S C S O O S D F D E U Ã G E G D D F G G Y X A E M P R E S A R I A L H K T I D I F R V G B J L C J C E L I S D E I Ã O O E T S F G D E Y U S K U I V E B A C F F R R D R A O E E V R J K S S J L U U V G G J T H P R O D U T I V I D A D E U H M F I T E T S D T Y H J T C B F E H J K I L L F O D G U E R O D F G G O I F R S N U I G F I D S T G D A S D E L D G Y J D A V B Ç F E Y U I E B I T E Q U I D E E Q U I D A D E A S D E R D T T V R T R A B A L H A D O R E R N H J U U T A Y F A E G F A S F G N U E D F T I C C L U S Ã O T H Ç S H F D E E F G H S N U L D E V E R E S I H E M P A T I A L R Y Ã E V C O C N G Ã I E T S E U O U A D Ã O L G S B M G Ã I T T Ã O N V D D A Q D E O T V F Y C O M P N I D A I E D E F A U C Ó D I G O F D E O N T E U I D E V D G H L E I D E O N T O L Ó G I C O N K S F G O K L Ç D B E U A C H A U V I N I S M H D S S U E L H A S F U
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Soluções

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