Boletim Pandavas Dezembro 22

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Avante, Pandavas

[# 04] boletim de notícias do instituto pandavas Edição de pRiMavERa set., 2022  [# 05] boletim de notícias do instituto pandavas Edição de vERÃo dez., 2022  -
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Hoje você está recebendo a edição do nosso boletim que celebra os 45 anos de pandavas.

O ano foi intenso, com diversas questões políticas no Brasil e no mundo. Mas queremos convidar o leitor a respirar fundo para festejar conosco essa data especial e, nas palavras do nosso querido nilton, professor e coordenador de nossa escola,

2022

comemorar essa trajetória de “transformação dos pequenos em gente grande, dos alunos em professores, dos ex-alunos em pais de alunos, avós de ex-alunos”.

Confira nessa edição o depoimento de quem participou de toda essa trajetória e continua aqui conosco no dia-a-dia.

Também celebramos um ano da nova edição do boletim da escola. acesse as edições anteriores pelo [link] ou pelo QR Code ao lado. Também vamos falar, é claro, dos “feitos” deste segundo semestre. Tivemos Olimpíada, plantio e colheita nas aulas de agroecologia,

espetáculo do Circo pandavas e formatura do 9o . ano. além disso, convidamos duas pessoas da nossa comunidade para falar sobre sociocracia e educação ecológica. Boa leitura!

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3 boletim instituto pandavas [# 05] Edição de vERÃo dez., 2022 [ nesta edição ] 1/ 45 anos do pandavas 2/ 35a . olimpíada pandavas 3/ tem mural novo na escola! 4/ sociocracia na Comunidade pós-democrática 5/ por uma educação ecológica 6/ do plantio à colheita, do chão ao prato 7/ Festival de Literatura infantil 8/ dia de doar 9/ Mostra Cultural 10/ Circo pandavas 11/ Encerramento Fundamental i 12/ Formatura 9o . ano 13/ Quer contribuir com o trabalho do pandavas? [ créditos ] 11 04 13 15 17 19 33 34 31 29 27 25 24 22

45 anos do pandavas

Convidamos ex-alunos, hoje mães e pais de alunos ou profissionais da escola, a contar sua experiência em diferentes épocas do pandavas, que começou como lar assistencial em 1977, desenvolveu-se como Centro pedagógico a partir de 1986, e mais recentemente se constituiu como instituto. Quais marcas a nossa instituição deixou na história de vida dessas pessoas? Como é retornar para seu espaço hoje? Confira os depoimentos que recebemos!

Campos e monteiro Lobato, numa estrada esburacada, sem acostamento, com capivaras ao longo do caminho e longas paradas, onde passageiros desciam as sacolas de compras e conversavam longamente com o motorista, conhecido de todos, padrinho de alguns, cheguei em monteiro.

Caminhada

Era o ano de 1982. depois de uma hora e meia de ônibus entre São José dos

a caminhada era longa até o orfanato, como então era chamado o Pandavas. Tinha que ser a pé. “Vai até o Sírvio Santu, vira isquerda, segui no chão, é logo ali”, fui informado. depois, soube que o caminhão de leite era o transporte “regular” dos Souzas até monteiro e Buquirinha. mas ia cedo, 5h para a ida e umas 14h

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para a volta! Já passavam das 15h. mas não era “logo ali” para um paulistano acostumado com metrô e ônibus! depois de mais de uma hora, cheguei nos Souzas. Pedi informações ao Tino, e fiquei fascinado com o maquinário movido à roda d'água que ele tinha. Tempos depois, pude conhecêlo melhor, sua boa prosa, seus equipamentos todos ligados num único eixo motriz e seu incrível Ford 1929 que ainda funcionava! Era muito calor e a estrada levantava poeira com os poucos carros que passavam, calor amenizado com um banho no riacho cristalino antes de chegar ao

Bairro dos Souzas. ali, terra avermelhada, um coreto velho de tijolos aparentes, uma igreja, uma árvore, dois bares, um bêbado, os amarradouros com alguns cavalos, outros soltos. “É logo ali o orfanato, segue morro acima”. E continuei. as casas foram sumindo, só mato de um lado e de outro.

a última de que me lembro era a da dona neusa, hoje minha ex-vizinha (que deus a tenha!). daí em diante, mais nada! achei que estava perdido. depois de dois morros íngremes, uma luz mortiça à esquerda. Vozes distantes de crianças naquele entardecer… Era ali, eu chegara ao Pandavas! Semanas antes, tive o privilégio de conhecer duas pessoas extraordinárias na

sede da associação Palas athena em São Paulo: mara e Primo. Lá, eu fazia um curso de introdução ao Pensamento Filosófico e fiquei muito atraído pelo trabalho desenvolvido por ambos. Prometera uma visita, a primeira de muitas, até não mais voltar para São Paulo! Cheguei em meio a um ensaio de uma peça teatral da mara com seus filhos. hoje, vejo que ali estava o embrião de uma escola… estava no sangue, não tinha como ser diferente. dezenas de voluntários vieram e se foram. muitos foram os aprendizados, vivências e descobertas! Recordo do Sr. Gerbelli, primo pai, e suas bancadas feitas sem nenhum prego

ou parafuso, apenas encaixes e cunhas, sempre entremeadas com piadas e adivinhas. Continuam nos servindo até hoje na oficina. Tivemos a honra de expor a obra de Sebastião Salgado no salão de cima, o mesmo salão que é palco de um ecletismo fabuloso e bastante pedagógico.

Padres católicos, espíritas, babalorixás, enfermeiras, médicos, astrônomos já expuseram ali seus pontos de vista.

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Como não lembrar do amigo Benter que, décadas atrás, já trazia matos estranhos para o almoço sob olhar desconfiado dos adultos e expressão de nojo das crianças… nos primórdios das Pancs; dos carros atolados na lama; do Shen que nos obrigava a colocar um copo de água no filtro antes de encher o nosso, de modo a ficar sempre cheio! da campainha feita com os fios da cerca de arame farpado para que a mara não gritasse: “Primo, vem almoçaaaaaaar!”; do esconderijo no meio do mato feito pelas crianças (até com iluminação elétrica) onde escondiam alimentos; dos passeios com a Rural lotada de crianças e o olhar beneplácito da

polícia rodoviária (nem sempre, mas aí vinha a lábia aprimorada do Primo!); da transformação dos pequenos em gente grande, dos alunos em professores, dos ex-alunos em pais de alunos, avós de ex-alunos…

Tem sido uma jornada longa, assim como longa foi aquela primeira caminhada até o Pandavas. desde então, conheci pessoas extraordinárias que admirei e admiro até hoje! O sonho continua! n i LTOn aL m E ida Si LVa

Professor e Coordenador do Pandavas, pai de Heitor e Tales >>> há gerações, o Pandavas vem influenciando a vida

da nossa família. Sou eterna aluna e aprendiz, meu filho Pedro já se formou, Estela e José heitor estão nos anos finais do Ensino Fundamental. Enquanto aluna, nutro várias memórias carregadas de afeto da escola, dos amigos, da aprendizagem e dos mestres. memórias que eu não poderia dimensionar em poucas palavras. na escola, ensino e aprendizagem nunca foram uma narrativa discursiva ou uma aula expositiva. a natureza e os espaços externos da escola sempre foram uma extensão da sala que nunca ficou restrita às quatro paredes. atribuo a minha escolha profissional às aulas provocativas,

reflexivas, artísticas, sensíveis e ao mesmo tempo tão profundas e marcantes onde cabiam o erro, a tentativa e a busca como estratégias de aprendizagem. Quis ser professora porque tive os melhores mestres e sempre foram referências. hoje, como mãe de alunos, nutro o desejo de que a escola siga crescendo, aprendendo

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e mudando sem perder jamais sua essência e seus princípios. E me entendo como corresponsável para que siga sua existência, se fortalecendo e se sustentando. me sinto acolhida e apoiada numa rede de outras mães, pais e pessoas que sonham e vivem essa escola, nessa grande comunidade Pandavas. avante!” aL in E aLVES Ex-aluna, mãe de alunos e atual coordenadora do Ensino Fundamental I >>>

que tive com o lugar e com as pessoas que lá passaram!Voltar como professor e pai de aluno completa o ciclo, pois assim, pude e posso contribuir com o projeto e com a formação de muitos, inclusive de minha filha e de meu filho atualmente.

O Pandavas é um modo de vida, no meu entender! Tudo o que me tornei transpassa pelas vivências

EdEVa L d O G ERBELL i Ex-aluno, pai de Noah e Sophia e Professor de Ciências e Educação Ambiental,

disciplina que implantou no Instituto Pandavas há 15 anos >>>

Foi na minha experiência como aluno do Pandavas que pude ter informações, conteúdos, sensações e realizações que contribuíram em muito na minha formação pessoal, profissional e de meu caráter. Foram momentos incríveis! Sou eternamente grato por poder ter feito parte dessa história e ter tido também o privilégio de fazer parte dos primeiros alunos da escola em 1986.

lutar pela preservação da natureza e do meio ambiente e buscar meios de me atualizar para adquirir novos conhecimentos e habilidades. E o conceitochave é o de nunca desistirmos de nossos sonhos e ideias.

Como tive a oportunidade de retornar ao Pandavas como pai de aluno duas vezes em períodos diferentes, é muito gratificante saber que meus filhos tiveram e terão a oportunidade de vivenciar

O Pandavas teve uma enorme influência na minha vida. as mais relevantes, com relação à educação, foram saber lidar com as diversidades, conviver em grupo, sempre

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momentos que farão parte de sua caminhada e que o tornarão melhores. dessa forma, podemos notar o quanto essa escola é importante para a nossa comunidade. muito obrigado aos idealizadores, mara e Primo. E a todos que fizeram e estão fazendo parte dessa linda história chamada Pandavas!

Ca RL inhOS P ERE i R a Ex-aluno e pai de Pedro e Davi >>> Sou orgulhosa demais sempre de tudo o que essa escola proporciona. O crescimento e o desenvolvimento da criança é super importante. O deixar ser criança é essencial. a escola oferece

um ambiente saudável e cheio de riquezas. meus valores e princípios se devem ao fato de eu ter tido essa educação. Eu aproveitei cada momento para me tornar quem sou. hoje, tenho uma filha na escola e quero que ela tenha esse mesmo sentimento que eu levo. Van ESS a mOn TE i RO Ex-aluna, mãe de Beatriz e atual professora do 4o . ano >>> cultivou em mim o respeito

de construir uma realidade na qual ele tenha uma educação escolar similar à que eu tive. Para que ele possa ter liberdade para se desenvolver de acordo com os seus tempos e interesses dentro de uma cultura cíclica de convivência em grupo. nOah Ca RR i L hO Ca RVa L hO Ex-aluno e pai de Lorenzo

>>>

Eu me mudei para monteiro Lobato com 7 anos e minha única amiga na época era de outra escola. Ela pediu muito para que eu fosse estudar com ela, mas, quando eu pisei no Pandavas, senti que ali era o meu lugar. Segui esse chamado e me apaixonei. Fui aluna do primeiro ao nono ano e o que mais aprendi foi a respeitar as pessoas e as suas particularidades, aprendi a dar valor às coisas simples que vêm do coração, dar valor à natureza e à paz que ela nos traz. me formei em 2010 e, desde então, minhas amizades mais fortes são as que fiz na escola. hoje, 12 anos

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depois, volto como professora e a minhha sensação é a de voltar para casa. Poder trabalhar junto com meus mestres que me ensinaram tanto e me passaram tantos valores é

um sonho realizado. Todos os dias aprendo algo novo e sou cativada pelos alunos. Pandavas para sempre!

m a R iana Pa R m ER a Ex-aluna e Professora de Inglês >>> a escola me influenciou em tudo. Venho de uma família que não teve muitas oportunidades de estudar. Por isso, meus pais não tinham muito como me ajudar. Claro que eles faziam o possível. O Pandavas, para mim, é tudo o que eu sou. Lá, tive

muitas coisas que levo para a minha vida até hoje como as aulas de tecelagem, técnicas agrícolas, corte e costura, marcenaria, yoga.

Voltar hoje como cozinheira é maravilhoso e me faz lembrar da minha época de escola e da nossa eterna merendeira, a dona Lena, que me ensinou muito e sempre me incentivou

na cozinha. É muito gratificante poder trabalhar no que gosto e num lugar onde sou muito bem-vinda.

aR ian E Vi E i R a Ex-aluna, atual merendeira da escola e mãe de Noah e Sophia, também ex-aluna e que hoje realiza estágio na área de Pedagogia no Instituto Pandavas

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oL i M píada pandavas

Quem conhece o pandavas, sabe como o projeto das olimpíadas é marcante no seu calendário escolar. no último dia 22 de outubro, ocorreu a 35a . edição da olimpíada pandavas com a presença de toda a comunidade escolar na quadra e no campo de esportes do bairro e cumprindo todos os ritos que caracterizam esse evento. a abertura com banda, diversas modalidades esportivas e o canto e a dança de diferentes nacionalidades compuseram a programação intensa de uma linda manhã de sábado junto às famílias. O evento é parte de um

projeto interdisciplinar ao longo do qual os estudantes desenvolvem conhecimentos em várias áreas como geografia, esportes e artes de forma integrada ao estudo de outras culturas. a Olimpíada no Pandavas é atravessada pelo sentido de união entre os povos e pelos princípios da cultura de paz. ao contrário do que se possa supor, os jogos não fomentam a competição entre os estudantes, mas sim, pelo que pudemos mais uma vez observar, um forte senso de solidariedade e um clima de diversão que envolveu toda a comunidade.

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tem mural novo na escola!

a escola ganhou mais um mural, desta vez assinado pela ana Muriel, artista e mãe da Martina do 3o . ano. a pintura na fachada da escola é inspirada na natureza da serra da Mantiqueira. “Eu me inspirei na lenda da Mantiqueira da índia que chora as águas das montanhas. Lembro que, durante a pandemia, a Mara gravou um vídeo contando essa história e mandou para as crianças. Eu achei linda essa lenda e fiquei com vontade de pintar um mural para a escola”, conta ana.

a pintura vem acontecendo desde agosto e foi finalizada em dezembro, logo após o encerramento do ano letivo.

“Faço um pouquinho por dia. É um trabalho de muita paciência e as crianças acompanharem o desenho ir aparecendo é muito legal porque elas percebem que as coisas têm um tempo e que, às vezes, tem que olhar de longe pra entender todo o cenário. isso é aprendizado pra vida, completa.

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voz da comunidade

sociocracia na Comunidade pósdemocrática

vivendo no Brasil do século XXi, presenciamos a dura realidade de lutar diariamente contra o ímpeto reacionário, onde nossas principais bandeiras passam pela manutenção de conquistas antes dadas como consolidadas, como a valorização dos direitos humanos, a importância crescente dos direitos civis, direitos dos animais, direitos ambientais, lutas antirracistas e pela igualdade de gênero, que prosperaram num ambiente minimamente democrático, o qual agora declina. ao invés de aprofundar esses movimentos, somos obrigados a defender a democracia enquanto base.

Porém, quando nos deparamos com a política cotidiana, de pequenos grupos, coletivos ou comunidades baseados na convivência intensa e direta, percebemos as profundas limitações da democracia representativa, do momento em que temos por base a utopia da horizontalidade e a autogestão dos processos. nos vemos assim frente a esse paradoxo de lutar pela manutenção do ambiente democrático ao mesmo tempo em que a democracia não nos serve em nossas construções cotidianas. num pequeno grupo, a democracia se transforma num mecanismo de desmobilização das

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energias em torno dos projetos. Votar propostas por maioria simples, eleger representantes e disputar ideias e posições aos moldes do processo macropolítico favorece disputas internas e valoriza as posturas individualistas sobre as quais fomos educados. Sempre que votamos uma proposta em detrimento de outra, o grupo perdedor mimetiza uma posição de boicote como forma de defender a sua posição inicial, desagregando o tecido comunitário.

Se torna necessário então uma revisão dos pequenos processos dentro dos coletivos, superando a democracia em busca da horizontalidade e da autogestão de forma

a desconstruir o ser individualista enquanto construímos um ser comunitário, autônomo e libertário.

Um bom ponto de partida se dá nos princípios identificados à Sociocracia, que reconhece as limitações da nossa geração, aproveitando benesses provindas da construção individual, porém colocando o objetivo comunitário na centralidade do processo micropolítico. Utilizar-se do princípio da equivalência, sobreposto ao conceito da igualdade, é um passo importante. Entender que somos diferentes, mas equivalentes em potências e dificuldades, dialoga

com nossa construção cultural e encaminha o processo coletivo. a divisão de responsabilidades, conforme essas habilidades, também se torna fundamental, desde que seja gerado e mantido o espaço de crescimento de cada pessoa, visando corrigir as desigualdades proporcionadas pelos processos de opressão históricos como o racismo estrutural e a misoginia. O desenvolvimento de um coletivo autogerido, no fim, passa mais pela construção da confiança entre as pessoas envolvidas do que num ambiente burocrático e lento, baseado nas falas intermináveis e que pode ser facilmente apropriado pelo individualismo latente, historicamente construído,

profundamente presente em nossos corpos e mentes.

Outro princípio fundamental é basear a tomada de decisões visando protótipos e não soluções prontas, ou seja, cada escolha coletiva é passível de melhora e deve ser julgada pela régua do “bom por agora e seguro para tentar”, rompendo com a imagem de projetos acabados como solução definitiva, uma ingenuidade que mascara o fato de que a vida comunitária é essencialmente movimento e de que soluções definitivas estão fadadas ao fracasso. É grande o desafio de caminhar em direção

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a uma utopia que nos liberte das opressões de forma coletiva e gere autonomia comunitária, ainda mais num ambiente macropolítico de retrocessos. mas uma macropolítica que revolucione a existência humana não pode surgir de outros lugares que não das iniciativas coletivas na base das relações sociais, ou seja, em comunidades pósdemocráticas.

YURi aLmEida Agricultor no Espaço Terra, produtor do CSA do bairro dos Souzas e fundador da Associação Rede Apoena que reúne produtores agroecológicos do Vale do Paraíba

por uma educação ecológica

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a presente crise ambiental é, antes de mais nada, uma crise da educação. o atual estado das coisas reflete, de modo geral, a mentalidade que a humanidade anda por aí usando. a ganância, a intolerância, a separação, a ignorância voluntária, o preconceito, a rivalidade, entre outros, são desvalores socialmente compartilhados, transmitidos e praticados à exaustão. Esses comportamentos não são próprios ou naturais aos seres humanos. antes, são ensinados, aprendidos e reproduzidos: são culturais. sugerem, portanto, que algo vai mal no modo como nos educamos enquanto membros de uma mesma comunidade biótica, ainda que divididos em nações,

etnias, tribos, religiões e culturas distintas.

Por outro lado, se almejamos uma existência socialmente justa e ambientalmente responsável, ou seja, outra forma de ser/estar no planeta Terra, é necessário que sejamos reeducados, que os valores humanos sejam desde já cultivados. mantenho comigo minhas esperanças, pois “nessa Terra, em se plantando, tudo dá”. Todos juntos vivenciamos uma crise de paradigmas. Encontrar soluções para nossos problemas utilizando as mesmas ferramentas que os criaram é improvável. São necessários instrumentos

inteiramente novos, ainda desconhecidos para a grande maioria das pessoas, embora já floresçam, há muito, em algumas vilas ou aldeias, até mesmo em grandes cidades. a Permacultura é um conceito contemporâneo que antecipa a tendência de uma existência mais harmônica e integrada à natureza enquanto bebe da fonte dos mais variados conhecimentos ancestrais para se reinventar a todo instante. Criada pelos australianos Bill mollison e david holmgren, a Permacultura vem da junção das palavras “Permanent” e “Culture”, Cultura Permanente ou Cultura de Permanência. Resumidamente,

os princípios da Permacultura orientam o desenvolvimento de uma ética de cuidado com o planeta, cuidado com as pessoas e a partilha dos excedentes. Reverberando as palavras do autor, “fazendo o planejamento com a natureza, não contra ela, podemos criar paisagens que operam como um sistema saudável, onde a energia é conservada, os desperdícios eliminados e os recursos são abundantes”. Enfim, a Permacultura trabalha com todo tipo de design em escala humana, desde hortas domésticas ao desenho mais adequado das cidades. a sugestão, valiosa por sinal, é que se comece pelo pequeno, fazendo a transição do menor para o maior.

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mais que um convite às idealizações de uma utopia futura, a Permacultura é um chamado para uma tomada de decisão que se faz urgente, pois a mudança já está em curso – e é inevitável. haja vista, para a expressão e manifestação mais saudáveis de nossas atividades cotidianas, como a convivência fraterna, a boa alimentação, a mobilidade eficiente, o consumo consciente, a arte de se relacionar, de trabalhar, criar os filhos, enfim, produzir e usufruir da cultura como um bem implicam uma tomada de consciência e posicionamento ativo diante dessas questões. a Permacultura é um conceito orientado para a

ação, além de um processo de poder pessoal, pois está ao alcance de cada um de nós.

ao invés de apontar as soluções, a Permacultura acaba sendo um convite para olharmos para a essência das questões do mundo hoje, para o cerne da relação entre ser humano e natureza, permitindo o recriar de novas possibilidades de existência para que nos tornemos os sujeitos ativos e conscientes dos processos em andamento.

do plantio à colheita, do chão ao prato

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Plantar, regar, crescer, colher, oferecer e comer música de Flávia Maia

sementes e muito empenho das crianças e adolescentes.

no segundo semestre de 2022, as aulas de agroecologia seguiram o ritmo da natureza. Em setembro, com a chegada da primavera, os alunos prepararam os canteiros para plantar. a composteira, que recebeu o descarte orgânico da cozinha nos primeiros meses do ano, serviu os insumos para preparar a terra para receber mudas,

“Quando trabalhamos a agroecologia por um viés pedagógico, num espaço escolar, a caminhada acontece em outro tempo e em sua própria direção. a busca da agroecologia pedagógica no instituto Pandavas é de que a comunidade escolar se perceba parte ativa, atuante na natureza que a cerca, que os estudantes estejam em contato com o ambiente ao redor de forma ativa, provocando constantes mudanças positivas no ecossistema. É compostar o

alimento do lanche e depois usar esse composto na horta em horário de aula. É também ir para a horta e ver alguns estudantes focados no uso da ferramenta com um professor enquanto outros apenas observam insetos. a agroecologia na escola é, sobretudo, um espaço de experimentação, um laboratório vivo, onde podemos criar ideias, observar os fenômenos, descobrir mais e mais sobre a natureza e nossa relação com a terra e os alimentos”, diz Luiza Saturnino, jardineirista e tutora.

Em novembro, os alunos começaram a colheita. Uma delas foi especial: a mandioca plantada em 2021 foi direto da terra para o prato. Os alunos do fundamental 1 prepararam um delicioso nhoque e participaram de todo o processo: colheram as raízes, descascaram, cozinharam no fogão à lenha e prepararam a receita que, ao final do dia, puderam degustar.

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Festival de Literatura infantil

as crianças do Fundamental i participaram do 11o . Festival de Literatura infantil de Monteiro Lobato com um lindo coral. instruídos pela professora Lia aroeira, as crianças cantaram músicas tradicionais do repertório da escola como Catira do passarinho, saci pererê (trem da viração), Cio da terra, entre outras.

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vERÃo dez., 2022 [ fotos cedidas pela secretaria de turismo e cultura de monteiro lobato ]

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dia de doar

no dia 29 de novembro, celebra-se o dia de doar, uma ação realizada em mais de 190 países como um grande movimento para promover a doação e a generosidade. para este ano, entramos nessa celebração e desenhamos alguns objetivos do pandavas para captar recursos para a escola e envolvemos a comunidade escolar para alcançá-los: ◊

Bater a primeira meta na nossa Campanha Recorrente na Benfeitoria ao longo do tempo, as doações da plataforma Benfeitoria vão diminuindo porque as pessoas não querem ou não podem seguir doando ou porque as doações vencem, entre

outros motivos. Por isso, o valor arrecadado costuma flutuar. nosso objetivo era aumentar em 22%

a arrecadação e chegar novamente aos R$ 5.000 mensais. Sendo assim, captamos mais R$ 1100 em doações mensais recorrentes. ◊ arrecadar R$ 5.000 em doações diretas, via pix ou transferência

Essa meta foi quase atingida. Contabilizamos R$ 4.800 em doações pontuais. ◊

Conectar empresas interessadas em compor nosso programa de apoio institucional

Esse tem sido um objetivo

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constante de 2022: aproximar empresas alinhadas aos nossos propósitos que poderiam contribuir de forma financeira e permanente para a escola. agradecemos a todos que se envolveram e colocaram sua rede de contatos a favor dessa causa. Lembramos que ações como essa são necessárias com frequência porque estamos distantes da arrecadação ideal. Em 2023, voltaremos com novas ações. Fiquem ligados!

Mostra Cultural

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tivemos um final de ano repleto de apresentações, uma colheita farta de um ano de muito trabalho cheio de desafios e aprendizados. Entre essas atividades, aconteceu a Mostra Cultural no dia 3 de dezembro com a produção dos estudantes.

a feira de conhecimento ocupou a praça do Bairro do Souza com experimentos e exposições

de ciências naturais e humanas, protagonizadas pelos estudantes do Ensino Fundamental ii, e exposição de artes de toda a escola. mais um encontro da comunidade escolar que celebrou os processos de aprendizagem e o fechamento de um ano intenso. Parabéns aos estudantes e educadores!

Circo pandavas

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Respeitável público, nas noites dos dias 3 e 4 de dezembro, a lona do Circo pandavas foi tomada por muita magia e emoção na apresentação do espetáculo de final de ano com os alunos de diferentes idades e modalidades circenses. Música, poesia, bambolê, trapézio, palhaçaria, cama elástica, tecido, fogo, malabares, contorcionismo e acrobacia. Haja fôlego! aguenta coração! Lindo de ver, gente grande e pequena compartilhando

um pouco daquilo que foi construído ao longo do ano, reflexo de muito esforço e dedicação. Como nos disse Carol Coelho, idealizadora, artista e professora do circo, “um circo não se faz sozinho”, são necessárias muitas pessoas, muito trabalho e envolvimento, o espetáculo é fruto de um grande empenho comunitário. assim, o Circo se faz metáfora da própria comunidade, um circo escola de fazer coletivo.

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Encerramento Fundamental

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E nas últimas semanas de aula, as crianças do Fundamental i fizeram suas apresentações artísticas. o quinto ano apresentou a sua versão da “a Fantástica Fábrica de Chocolate”, o quarto ano encenou “a Bruxinha que era Boa”, segundo ano “Comunidade do arco-íris”, o primeiro ano a história da “Chapeuzinho vermelho” e o terceiro aprendeu a tocar flauta para celebrar este encerramento de mais um ano especial e abrilhantar a formatura do 5o . ano.

abaladas, voltarem a escola no seu bus amarelo que pega na praça, a estrada de terra, encontrar essa floresta mágica de braços abertos, adultos e crianças reunidos, entendendo como se relacionar diante as novidades e sentimentos nunca vividos. muitos tombos, choros, águas, barcos nas poças, gatos selvagens, cobras, músicas, bolos, hinos, campeonatos, lobos e chapeuzinho de todas as cores.... cabe tudo?

“muito emocionante depois de dois anos dessas crianças dentro de casa (pra quem tem 6 anos, dois anos é muito muito muito) em condições psicológicas e emocionais

- quando o coração mistura amores, tudo cabe, disse o mestre Guimarães. É muita vida que corre por aqui” adelita ahmad, mãe da Rubi 1o . ano, e amora 3o . ano.

Formatura do 9o . ano

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neste ano, foram 6 alunos que encerraram o ciclo do Ensino Fundamental ii no instituto pandavas. a formatura do nono ano aconteceu no dia 10 de dezembro. dominique, Catarina, helena, Francisco Rudá, John e meena, desejamos uma linda caminhada em sua nova etapa da vida!

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Quer contribuir com o trabalho do pandavas

Como vemos nas notícias deste boletim, muitas famílias e amigos estão presentes no dia-a-dia do pandavas com o apoio voluntário em diversas frentes e grupos de trabalho. Mas há também outros canais de doação para ajudar financeiramente a escola. você pode: i doar qualquer quantia a qualquer momento. Use o QR-C OdE aqui ao lado para nos enviar um PiX. Se preferir outro meio, nossos dados bancários são: i nstituto Pandavas C n PJ 10.510.836/0001-90 BanC o do Brasil agênC ia 6739 Conta C orrente 881-8

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Fazer parte de nossa campanha recorrente hospedada pela Benfeitoria. nesse endereço, você pode cadastrar um cartão de crédito e doar mensalmente a quantia que desejar >> https:// benfeitoria.com/projeto/ pandavasautonomo

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Pessoas Jurídicas já podem fazer parte do nosso Programa de apoio institucional. Para saber

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precisam investir no corpo docente manter a infraestrutura da escola ◊

atuar na conservação ambiental da Serra da Mantiqueira

Você pode doar anonimamente ou também pode nos enviar o recibo de sua transferência pelo e-mail pandavas.gtcp@ gmail.com para integrar o grupo dos nossos doadores e receber notícias sobre tudo o que é realizado com o seu apoio.

Esse conteúdo é produzido de maneira coletiva. se você tem alguma sugestão de tema ou quer apresentar uma ideia, entre em contato com o gt Comunicação, projetos e Captação de Recursos pelo e-mail pandavas.gtcp@gmail.com

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CindY QUaGL iO JOana RiCC i redação

CindY QUaGL iO JOana RiCC i Y UR i aL m E ida

F EL i PE JOSÉ Si LVa Ba RRO

Revisão hE n R iQUE TOLE d O peças gráficas e fotografias E UG êniO Vi E i R a hE n R iQUE TOLE d O Li V ia BüC h ELE manUELLa mELO FRanCO a na mUR i EL aUGUST in kamm ER aT h acervo i n ST i TUTO PandaVa S S ECRETa R ia dE T UR i S m O E C ULTUR a dE mOn TE i RO LOBaTO projeto gráfico m a ROC a Sam PaiO

34 boletim
[# 05]
instituto pandavas
Edição de vERÃo dez.,
35 boletim
[# 05] Edição de
instituto pandavas
vERÃo dez., 2022

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