Revista Vozes pela Ação Climática Justa - Edição 1

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O QUE FIZEMOS, ONDE ESTAMOS E PARA ONDE VAMOS COM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS. (P. 06)

ACRE E OUTROS ESTADOS DA AMAZÔNIA SOFREM COM A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA (P. 17)

• CLIMA DE ARTE (P. 33)

• VOZES PELO MUNDO (P. 36)

• XIBÉ CLIMÁTICO (P. 66)

Edição 1 • Junho 2023

A Revista Vozes é uma publicação do Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) no Brasil. VAC é uma aliança global idealizada por seis organizações da sociedade civil: Akina Mama wa Afrika, Fundación Avina, Hivos, Shack Dwellers International (SDI), SouthSouthNorth (SSN) e WWF. A iniciativa é financiada pelo Ministério das Relações Exteriores da Holanda.

No Brasil, o Programa é coordenado por Fundación Avina, Hivos, Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB e WWFBrasil, apoiando 70 organizações, movimentos e coletivos, articulados em 13 Coalizões.

Quer contribuir, apoiar, participar e se envolver com a revista e com o programa?

Envie email para comunicacaobr@ voicesforjustclimateaction.org

Edição 1

Junho | 2023

Redação

Adriano Maneo, Alice de Matos Soares, André Franco, Angélica Mendes, Ingrid Barros, Jamille Santana, Jonaya de Castro, Kamila Mayara Sampaio Souza, Lindon Johnson Pontes Portela, Lucidalva Cardoso do Nascimento, Martha Fellows, Maurício Alves de Sousa, Raimundo Alves, Raimundo Carlos Ferreira Alves, Rede de Jovens Comunicadores Indígenas da Coiab, Rede Jandyras, Rogenir Costa, Rose Farias, Samela Bonfim e Silvana Bastos.

COLABORADORES

Alana Manchineri, Alice de Matos Soares, Andreia Bavaresco, Angélica Mendes, Dalissa Cabral, Digo Amazonas, Ediclea Araújo, Ellen Acioli, Fábio Pena, Gabriela Yamaguchi, Iracema Marques, Juliana Lício, Juliana Strobel, Marcelo Doroso, Muy Waso (Bolívia), Natália Maia, Paula Moreira, Raimundo Carlos Ferreira Alves, Rogenir Costa, Trícia Oliveira e Waleska Queiroz.

Revisão

Adriano Maneo, Andreia Bavaresco, Angélica Mendes, Ellen Acioli, Gabriela Yamaguchi, Juliana Strobel, Marcelo Doroso, Natália Maia, Paula Moreira, Rogenir Costa e Trícia Oliveira.

Edição

Adriano Maneo

dESIGN

jamboestudio.com

iLUSTRAÇÃO e infografia

Bruna Bastos e Reg Coimbra

Fotografia

15 Segundos Informativos, Adriano Maneo, Caetano Scannavino, Catraia Filmes, Coletivo Audiovisual Daje Kapap Eipy Munduruku, Dalissa Cabral, Escola de Ativismo, Ingrid Barros, Jander Manauara, Jussara Salgado, Marcelo Dagnoni, Moisés Muálem, Negritar

Produções, Open Knowledge BR, Rede de Jovens Comunicadores da Coiab, Sara Tamioso/Kiw Assessoria e Suraras do Tapajós. www.voicesforjustclimateaction.org

Bem-vindes à Revista

Neste espaço as vozes de quem luta por justiça climática nos nove estados da Amazônia Legal ecoam mais alto!

Na Vozes, você encontrará artigos, ensaios, entrevistas e reportagens produzidas por aqueles que vivem as realidades da Amazônia e lutam pela sua conservação. São histórias de resistência que não costumam ganhar espaço nos grandes meios de comunicação, mas que são fundamentais para entendermos as complexidades do maior bioma do planeta e das pessoas que nele vivem.

O conteúdo que você vai encontrar nas páginas a seguir é feito colaborativamente por uma rede de organizações e movimentos que acreditam que a luta pela floresta em pé é uma luta pela vida, por direitos humanos e por justiça climática. Aqui você poderá entender como ativistas, jovens, mulheres, movimentos sociais, povos indígenas, povos tradicionais, acadêmicos e organizações da sociedade civil vêm atuando para construir um novo paradigma de desenvolvimento tão necessário para o enfrentamento à emergência climática a partir da Amazônia.

Vozes não é mais uma publicação sobre mudanças climáticas. Somos as vozes das comunidades locais que sofrem diretamente com o desmatamento, a grilagem de terras, a contaminação de rios e a violência no campo. Somos as vozes que representam soluções climáticas tradicionais e ancestrais que mantiveram a floresta em pé até os dias atuais. Partimos da compreensão de que a defesa da conservação da Amazônia é também a defesa da garantia de direitos e da dignidade humana.

Não vamos nos calar diante das ameaças que pairam sobre a Amazônia e seus povos. Não vamos deixar que interesses econômicos destruam um patrimônio que é de todos nós. Nós estamos aqui para lutar, resistir e denunciar, mas também para mostrar que aqueles que menos contribuem para a emergência climática são os que mais sofrem com ela e os que detém as soluções para combatê-la.

Sejam bem-vindes à Vozes, a revista que ecoa a luta por justiça climática! Junte-se a nós e ajude a espalhar essas Vozes pelo mundo!

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NESTA EDIÇÃO

O que fizemos, onde estamos e pra onde vamos com as mudanças climáticas?

Por IEB e IPAM

9

17

INSTITUCIONAL

Pela ação climática justa.

Por Vac Brasil

OPINIÃO

Acre e outros estados da Amazônia sofrem com a emergência climática.

Por Angélica Mendes

18

22

AÇÕES EM REDE

Autoridades climáticas

Lideranças indígenas discutem Clima e REDD+ para os grupos que mantêm as florestas preservadas.

Por Coalizão Advocacy dos Povos Indígenas pela Justiça Climática

OPINIÃO

Carta da COIAB

Documento final do encontro sobre clima e mecanismo de REDD+ para povos indígenas da Amazônia

Clique para navegar

25

AÇÕES EM REDE

Comunicação e justiça climática

A interculturalidade na formação em justiça climática de Jovens quilombolas, indígenas, pescadores e agricultores familiares do Tocantins.

Por Silvana Bastos

28

AÇÕES EM REDE

Dados pelo clima | Como o ecossistema de dados abertos pode transformar a narrativa sobre a Amazônia.

Por Jamile Santana

31

OPINIÃO

Arte em luta | O inadiável futuro do petróleo é embaixo do solo, o inadiável futuro da floresta é em pé.

Por Jonaya de Castro

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CLIMA DE ARTE

VOZES PELO MUNDO

Por VAC

Pé no chão, voz no mundo Ativistas referência de três países contam suas experiências e ações por justiça climática

Vozes na COP27

AÇÕES EM REDE Tapajós nas telas

Por Samela Bonfim

AÇÕES EM REDE Juventude em movimento Jovens do Acre se juntam em formação da coalizão Rede Comunic(A)tiva para fomentar a comunicação e o ativismo na luta socioambiental.

Por Rosa Farias

AÇÕES EM REDE Daqui, em 2050, desapareci para você.

Por Rede Jandyras

AÇÕES EM REDE

(Des)envolvimento e resistência popular Representantes de territórios e movimentos sociais do Maranhão debatem crise climática e resistência coletiva.

Por Ingrid Barros

AÇÕES EM REDE

Militância amazônida Engajamento e fortalecimentos dos Movimentos Sociais na defesa da bacia do rio Tapajós.

Por ESMA E MTV

AÇÕES EM REDE

Procuram-se ativistas

Por Coletivo Megafone

AÇÕES EM REDE Clima e a cidade Infográfico sobre mudanças climáticas e agenda urbana, construído participativamente.

Por Coalizão Vozes Amazônicas: Engajamento Urbano nas Mudanças Climáticas

XIBÉ CLIMÁTICO

45 52 55 58 61 63 66 48
mundial da
sobre água Vozes do Gran Chaco 36 38 40 43
Conferência
ONU

O QUE DIZ O

As mudanças climáticas são uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde do planeta.

As atividades humanas são causa inequívoca das mudanças climáticas, principalmente por meio da emissão de Gases de Efeito Estufa .

As mudanças climáticas são a raiz de muitos eventos extremos em todas as regiões do mundo, como enchentes de rios e deslizamento de terras, secas, ondas de calor e aumento da ocorrência de incêndios em áreas onde historicamente o fogo não é natural.

O que fizemos, onde estamos e pra onde vamos com as

MUDANÇAS CLIMÁTICAS?

Por Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

As políticas e leis que tratam da mitigação têm se expandido consistentemente desde o penúltimo relatório do IPCC, de 2014.

As comunidades mais expostas à esses eventos extremos são as que historicamente contribuíram menos para as atuais mudanças climáticas.

Apesar de muitas ações de enfrentamento já estarem sendo colocadas em prática, ainda há lacunas a serem preenchidas com adaptação. Com as atuais taxas de implementação, elas continuarão a crescer.

O financiamento global destinado à implantação de planos de adaptação e enfrentamento, até o momento, tem sido insuficiente, restringindo ou impossibilitando a implementação dessas ações, especialmente nos países do Sul Global.

Mesmo se os países cumprirem suas promessas previstas para 2030, ainda é provável que a temperatura ultrapasse o aumento de 1,5°C durante o século XXI, o que significa diminuir ainda mais as chances de limitar a elevação da temperatura em 2°C.

6 Revista vozes #1
Clique nos destaques em azul para mais infos.

TEMPERATURA

GLOBAL

NO PERÍODO

DE 2011-2020 FOI

ACIMA DA MÉDIA DE 1850-1900 1,1ºC

CONTRIBUIÇÕES HISTÓRICAS, CONTÍNUAS E DESIGUAIS NAS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA

• Uso insustentável de energia;

• Uso da terra e da mudança no uso da terra;

• Estilos de vida e padrões de consumo e produção, em todas as regiões.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS FUTURAS, RISCOS E RESPOSTAS DE LONGO PRAZO

EMISSÕES MUDANÇAS CLIMÁTICAS NÃO CLIMÁTICOS

A mitigação profunda, rápida e sustentada e a implementação acelerada de ações de adaptação que envolvam a recuperação dos socioecossistemas nesta década, reduziriam as perdas e os danos previstos para o futuro próximo e registrados no presente de diversas comunidades e ambientes naturais.

emissão de gases do efeito estufa por SETOR por país

Agricultura e uso da terra

Energia indústria resíduos desmatamento e degradação

por renda

10% MAIS RICOS das emissões das emissões são responsáveis por 34 a 35% são responsáveis por 13 a 15%

QUE TEM MENOR RENDA

1º China - 37% 2º EUA -18% 3º Índia - 10% 4º União Europeia - 9,7% 5º Indonésia - 6,1% 6º Rússia - 5,9% 7º Brasil - 4,5%
Revista vozes #1 7
Fonte: Climate Watch (2019)
RISCOS MAIS COMPLEXOS DE GERENCIAR PERDAS E DANOS NO MUNDO NO BRASIL 73.2% 18.4% 5.2% 3.2% 18% 73% 5% 4% eletricidade aquecimento e transporte

PRECISAMOS ZERAR TODAS AS EMISSÕES JÁ! A HORA É AGORA!

As escolhas e ações implementadas nesta década têm impactos agora e por milhares de anos.

PARA ISSO É PRECISO COOPERAÇÃO INTERNACIONAL, RESILIÊNCIA CLIMÁTICA

>>> Integra ações de adaptação e de mitigação para promover o desenvolvimento sustentável para todos; e

>>> Respeita e reconhece os conhecimentos diversos como fundamentais para reverter a crise climática.

melhor acesso a recursos financeiros adequados, especialmente para regiões, setores e grupos em situação de exposição aos impactos das mudanças do clima que, por isso, são vulneráveis.

• Governança inclusiva

• Políticas coordenadas

• Transições rápidas e de longo alcance em todos os setores e sistemas

Opções viáveis, eficazes e de baixo custo para mitigação e adaptação já estão disponíveis, com diferenças entre sistemas e regiões.

Priorizar a equidade, a justiça climática, a justiça social, a inclusão e os processos de transição justa pode permitir a adaptação, ações ambiciosas de mitigação e a resiliência climática. Os resultados da adaptação são aprimorados pelo maior apoio às regiões e às pessoas mais expostas aos riscos climáticos.

JUSTIÇA CLIMÁTICA

É SOBRE DIREITOS HUMANOS!

Todos os caminhos globais modelados que limitam o aquecimento a 1,5°C sem ultrapassagem ou com ultrapassagem limitada, e aqueles que limitam o aquecimento a 2°C, envolvem reduções rápidas e profundas e, na maioria dos casos, imediatas das emissões de gases de efeito estufa em todos os setores nesta década (IPCC).

A JANELA DE OPORTUNIDADE PARA GARANTIR UM FUTURO HABITÁVEL E SUSTENTÁVEL PARA TODES ESTÁ SE FECHANDO RAPIDAMENTE

O FINANCIAMENTO, A TECNOLOGIA E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL SÃO FACILITADORES ESSENCIAIS PARA ACELERAR A AÇÃO CLIMÁTICA

Para alcançar as metas climáticas, o financiamento para adaptação e mitigação precisa ser aumentado muitas vezes. Há capital global suficiente para fechar as lacunas de investimento global, mas há barreiras para redirecionar o capital para a ação climática.

As informações deste infográfico foram extraídas do sexto relatório de avaliação do IPCC, lançado em março de 2023.

8 Revista vozes #1

Pela Ação CLIMÁTICA

transição para um modelo de desenvolvimento com baixa emissão de carbono é um processo político que deve ser justo e inclusivo, e que requer inovação e colaboração entre diversos atores e movimentos sociais. É nesse contexto que atua o Programa Vozes pela Ação Climática

Justa (VAC), uma aliança global idealizada por seis organizações: Akina Mama wa Afrika, Fundación Avina, Hivos, Shack Dwellers International (SDI), SouthSouthNorth (SSN) e WWF. A iniciativa é financiada pelo Ministério das Relações Exteriores da Holanda.

Programa Vozes pela Ação Climática

Justa (VAC), implementado em sete países do Sul Global, reúne no Brasil

70 organizações em 13 Coalizões diferentes

JUSTA a

A emergência climática que vivemos já resultou em um aumento médio de temperatura global de 1,1ºC desde a Revolução Industrial. Esse número pode parecer baixo, mas tem gerado eventos climáticos extremos que afetam pessoas e comunidades em todo o mundo. Cientistas preveem que mais de 100 milhões de pessoas serão empurradas para a pobreza até 2030 devido às mudanças climáticas. Essa crise afeta os direitos humanos e aumenta a vulnerabilidade de grupos já marginalizados, aprofundando as desigualdades sociais e econômicas existentes.

Para enfrentar esse cenário crítico é essencial que a sociedade civil tenha voz na tomada de decisões locais, regionais e globais na agenda climática. A

Em um cenário global de injustiça climática, onde as nações ditas “menos desenvolvidas”, do Sul Global, são as que menos contribuem para as mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que são as que mais sofrem com seus efeitos, o Programa definiu sua área de atuação em sete países: Brasil, Bolívia, Indonésia, Paraguai, Quênia, Tunísia e Zâmbia.

“É importante entender a perspectiva da agenda climática a partir da narrativa de quem mais sofre, promovendo uma construção coletiva e representativa de conceitos do tema de mudanças climáticas a partir das diversas vozes dos territórios impactados, promovendo assim sentimento de pertencimento a discussão e abrindo portas para diálogo mais participativo”, afirma Ellen Acioli, da Fundación Avina e coordenadora programática de VAC.

Representantes das 13 coalizões, da Equipe Regional VAC Brasil e de VAC Global durante II Fórum de Parceiras VAC Brasil. Foto: Negritar Produções

No Brasil, o programa é coordenado por uma equipe regional composta por Fundación Avina, Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB, Hivos e WWF-Brasil. A Rede VAC no país é composta atualmente por 70 organizações que se organizam em 13 coalizões com abordagens e especialidades diferentes. Essas organizações e movimentos da sociedade civil recebem apoio para fortalecimento institucional, narrativas e comunicação, identificação de soluções climáticas locais e para incidência e advocacy na agenda climática.

“A descentralização na tomada de decisão para implementação dos recursos VAC, por meio das parcerias, é de suma importância para o protagonismo e aumento de lideranças do programa”, afirma Paula Moreira, gerente de engajamento da Hivos no Brasil.

Mídia Ninja Anmiga Conselho Nacional das Populações Extrativistas Floresta ativista amazônia

PyData Manaus

PyLadies Manaus

InfoAmazonia

Casa Preta

Open Knowledge Brasil

INDIA / Coletivo Puraqué

Fortalecimento do ecossistema de dados e inovação cívica na Amazônia Brasileira

Artigo 19

Perifa Connection

NOSSA REDE

Mandí

Clima de eleição

Movimento

Moara

#compartilhe informação #compartilhe Democracia jandyras rede de articuladoras ambientais

Ass. dos Moradores e Produtores da Resex Chico Mendes em Xapuri

Comitê Chico Mendes STTR- Brasiléia

WWF Brasil

CNS

Casa Ninja Amazônia Liga de Quadrilhas Juninas do Acre Quadrilha Malucos na Roça

Avina

Rede comunic(A)tiva de jovens

equipe regional

IEB

UMIAB IPAM

OPIROMA

ARPIT

CIR

FEPIPA

advocacy dos povos indígenas pela justiça climática

Hivos

VAC brasil
COIAB APOIANP FOCIMP FOIRN COAPIMA FEPOIMT
10 Revista vozes #1

Tapajós Vivo - MTV

Escola de Ativismo

Tapajós de Fato

nós - educação, comunicação e mobilização popular em defesa das bacias dos rios juruena e tapajós

MAM - Baixo Tapajós/ Amazonas

Rede Juruena Vivo

megafone ativismo

Vozes

Amazônicas:

Engajamento Urbano nas Mudanças Climáticas

Greenpeace ISA Engajamundo

Pimp my Carroça

Ass.

na piracema das mudanças climáticas: mulheres e jovens nadando contra a correnteza

Rede INTERAÇÃO

SOMECDH

Coletivo Mulheres do Xingu

Ass.

Cultural Kyjre - Povo Kraho

Indígena Pyka Mex (Apinajé) Ass. Onça D’água

ISPN

UFTO Campus Arraias AKMT

MST Tocantins

COOPTER EFA do Bico do Papagaio vozes do tocantins

Colônia de Pescadores e Pescadoras de Araguacema

Saúde e Alegria STTR - Santarém

vozes do tapajós combatendo as mudanças climáticas

CITUPI

Col. Audiovisual Munduruku

Daje Kapap Eypi

GEDMMA

Equit

FPMM

agroecologia para proteção das florestas da amaizônia

CITA

SAPOPEMA

Suraras do Tapajós

ACESA

RAMA

Ass. Justiça dos Trilhos

Tijupá

CPCDDH

Padre Josimo

Revista vozes #1 11
12 Revista vozes #1 ONGS 13 24.386 beneficiários diretos ESTIMATIVA DE Reserva extrativista Tapajós Arapiuns Reserva extrativista Chico Mendes Quilombo Kalunga do Mimoso Rio Andirá Quilombo Belém Porto Velho Reserva extrativista Mata Grande Macapá SÃO LUÍS PALMAS CUIABÁ RIO BRANCO Manaus TI Apynaé TI Kraolandia Maranhão Pará Amapá Roraima Amazonas Acre Rondônia Mato Grosso Tocantins Boa Vista Reserva extrativista Ciriáco TI Sawré Muybu 70 organizações ORGANIZAÇÕES DE BASE 18 ORGANIZAÇÕES OU COLETIVOS INDÍGENAS 20 coletivos • redes movimentos 15 CONTEMPLADA AMAZÔNIA LEGAL TODA ESTIMATIVA DE 19 MILHÕES BENEFICIÁRIOS INDIRETOS Área indígena Comunidade Quilombola Capitais Município Área de proteção Bacia dos rios Juruena e Tapajós Amazônia Legal BRASIL • AMAZÔNIA LEGAL UNIVERSIDADES E/OU ESCOLAS 03

VAC é sobre Justiça Climática

O objetivo estratégico do Programa VAC é contribuir para que grupos e setores diversos da sociedade civil local assumam um papel central como inovadores, facilitadores e defensores das soluções climáticas até 2025. A justiça climática é um aspecto central desse programa, que reconhece que as mudanças climáticas são um problema social com implicações éticas e de direitos humanos.

Mulheres, jovens, povos indígenas e comunidades tradicionais e outras populações vulnerabilizadas geralmente possuem perspectivas críticas sobre as estruturas de poder e têm abordagens alternativas para enfrentar a crise climática. Esses grupos estão na vanguarda de algumas do que são consideradas ações climáticas mais eficazes e inclusivas, mas não necessariamente recebendo o apoio adequado e nem sendo reconhecidas por isso.

“A Amazônia é diversa não só em biodiversidade, mas também em culturas e povos nas cidades, florestas, campos e rios. Nessa diversidade estão os defensores dessa floresta, defensores de seus territórios e modos de vida”, afirma Angélica Mendes, do WWF-Brasil.

“Muitas vezes o financiamento que vem para a Amazônia fica restrito a organizações de maior visibilidade, organizações mais estruturadas e muitas vezes de pessoas que não são da Amazônia. A forma que o Programa VAC conseguiu fazer essa capilarização e atingir organizações de diferentes tamanhos possibilitou que organizações recebessem seus primeiros financiamentos, que conseguissem se institucionalizar, se fortalecendo dentro do espaço cívico. É de extrema importância a gente conseguir atingir aquelas organizações, coletivos, povos de territórios diversos e que muitas vezes são invisibilizados”, continua.

As atuais pessoas detentoras do poder de decisão - frequentemente representantes dos países mais ricos e industrializados ou representantes das elites dos países do Sul Global - são os que decidem os rumos da transição climática global e escolhem os caminhos a se priorizar. Isso precisa mudar,

É importante entender a perspectiva da agenda climática a partir da narrativa de quem mais sofre, promovendo uma construção coletiva e representativa de conceitos do tema de mudanças climáticas a partir das diversas vozes dos territórios impactados, promovendo assim sentimento de pertencimento a discussão e abrindo portas para diálogo mais participativo”

Angélica Mendes, do WWF-Brasil.

e as vozes dos grupos colocados à margem da sociedade precisam ter espaço para influenciar uma transição verdadeiramente justa.

“A importância do Programa VAC e de se escutar as vozes e impressões dos povos da floresta e dos povos que estão sendo impactados pelas mudanças climáticas é oferecer soluções que venham realmente da prática, soluções para o enfrentamento das mudanças climáticas a partir de diferentes olhares”, afirma Andreia Bavaresco, coordenadora executiva do IEB.

“É a partir de diferentes experiências que se constroem novas soluções e novas ideias para esse enfrentamento, e o programa traz essa característica de escuta ativa a essas diferentes vozes. E não só isso, mas também o aproveitamento dessas escutas para poder construir soluções criativas que vêm direto do chão”, completa.

Ao longo desta revista, você vai conhecer as organizações e Coalizões do Programa VAC, escutará algumas dessas Vozes e ficará por dentro de alguns dos trabalhos que esses coletivos de organizações e pessoas vem promovendo em suas regiões pela ação climática justa.

Faça coro a nossas Vozes e junte-se a nós na luta por Justiça Climática!

Revista vozes #1 13

vac em 2022

Campanha “Plante um Árvore”, fortalece capacidades de comunidades, juventudes, agricultores(as) e quebradeiras de coco babaçu em práticas de produção agro-ecológicas, envolvendo a produção de mudas frutíferas e madeireiras a partir de práticas e saberes tradicionais e valorização das sementes locais no Maranhão.

Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazônia

Agricultores/as familiares do município de Morros - MA apresentam proposta de Lei Popular de Agroecologia e Produção Orgânica

Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazônia

Campanha #CompartilheInformação #CompartilheDemocracia forma jovens agentes ativistas para atuação social e de comunicação popular durante as eleições de 2022, nas regiões Norte e Sudeste do Brasil

#CompartilheInformação #CompartilheDemocracia

Organização do 1º Prêmio de Artivismo “Megafone” amplia de maneira pioneira a visibilidade de Artivistas e divulga os melhores de 14 categorias

Megafone de Ativismo

Murais elaborados por Artivistas em centros urbanos denunciam crimes ambientais e violação de direitos humanos na Amazonia Brasileira ago

Megafone de Ativismo

Organizações da sociedade civil e instituições de ensino de Belém e Santarém adotam publicação “Cidades e Clima” como material didático para trabalhar o tema mudanças climáticas com comunidades e estudantes

• Vozes Amazônicas: Engajamento Urbano nas Mudanças Climáticas

• Vozes do Tapajós Ao longo de 2022 jovens de comunidades da região do Rio Tapajós e Amazonas no PA descobrem potencial de comunicação em oficina para debater questões climáticas em seus territórios

Lideranças comunitárias de Belém e Santarém se engajam e se empoderam nos posicionamentos em relação às mudanças climáticas após participação no X Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA)

• Vozes Amazônicas: Engajamento Urbano nas Mudanças Climáticas

II Fórum de Parceiras VAC Brasil reúne representantes de todas as 13 coalizões do Programa em Belém

VAC Brasil

Evento Coda (Conferência de Jornalismo de Dados) realizado pela 1a vez na região Norte (Universidade Federal do Pará) mobiliza o ecossistema de jornalismo de dados e dá protagonismo a vozes amazônicas

Ecossistema de Dados

Programa VAC realiza Roda de Conversa sobre Justiça Climática no X Fórum Social Pan-Amazônico

VAC Brasil

Rede Jandyras pressiona por criação de Fórum Climático em Belém e passam a ter influência direta e indireta entre os tomadores de decisão na capital paraense em políticas e ações envolvendo mudanças climáticas

Rede Jandyras de articuladoras ambientais

jan fev abr
MAI jun jul
14 Revista vozes #1

set nov

Encontro de Parceiros da Aliança Global VAC, na Cidade do Cabo, África do Sul.

VAC

Vozes de comunidades dos 9 estados da Amazônia Legal mobilizam-se para a pauta da política climática a partir da Formação Tecnopolítica com Foco em Resiliência Climática.

Ecossistema de Dados

Formações em Altamira, Imperatriz e Manaus incentivam mulheres a despertar para a urgência socioclimática em suas comunidades.

Na Piracema das Mudanças Climáticas

Vídeos de ativismo produzido por jovens da região do Tapajós com apoio do programa VAC ganharam prêmios e evidência em eventos nacionais e internacionais sobre o clima em 2022.

Vozes do Tapajós

Oficina “O Pós-eleições no Brasil & VAC: o que precisamos ajustar em nossa estratégia de Advocacy?”. 22 e 29 de novembro.

Comissão de Advocacy VAC Brasil

Vozes dos Povos

Indígenas da Amazônia são potencializadas globalmente a partir da participação na COP27.

Advocacy dos Povos

Indígenas

COIAB e VAC convidam: “Roda de Conversa Pós-COP27: lições aprendidas e oportunidades”

• VAC

• Advocacy dos Povos Indígenas

Observatório Popular de Política de Sociobiodiversidade e Clima do Maranhão é criado pelas organizações que compõem a coalizão Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazônia

Agroecologia para Proteção das Florestas a Amazônia

33ª Semana Chico Mendes celebra o patrono do Meio Ambiente com encontros, aprendizados, artivismo e envolvimento da juventude, no Acre Rede Comunic(A)tiva de Jovens

Elaboração do Protocolo Comunitário de Consulta no Território Quilombola Santa Rosa dos Pretos e Santa Maria dos Pinheiros -Itapecuru-Mirim / MA

Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazônia

Coalizão Vozes do Tocantins é admitida como Amicus Curiae na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) proposta pelo Ministério Público Estadual do Tocantins contra a Lei Estadual de Licenciamento Ambiental

Vozes do Tocantins

Revista vozes #1 15
dez
Comissão de Advocacy VAC: a tecitura da rede por justiça climática

BOLÍVIA

PARAGUAI BRASIL

A Comissão de Advocacy do programa Vozes Pela Ação Climática Justa (VAC) vem reunindo representantes das organizações de VAC desde agosto de 2022 para consolidar uma rede por justiça climática. Nesse período, definiu-se que o papel da Comissão é fortalecer e apoiar as estratégias de incidência das coalizões e organizações de VAC, com fortalecimento de capacidades em advocacy e apoio no desenho de estratégias ou planos de ação. A Comissão também pretende acompanhar e apoiar as diferentes estratégias de advocacy dos parceiros de VAC no Brasil, buscando consolidar uma visão comum da rede.

A Comissão visa: Promover trocas de informações e intercâmbios entre as coalizões e organizações;

• Proporcionar espaços de articulações entre organizações, a exemplo da preparação para a COP;

• Democratizar conhecimentos e informações sobre advocacy, soluções climáticas, políticas públicas ambientais e climáticas, governança climática, etc.; Compartilhar conexões promovendo fortalecimento de relações com pessoas tomadoras de decisão.

Suas tarefas são:

• Sistematizar uma agenda comum entre integrantes do programa VAC: organizar eventos e encontros estratégicos com vistas a construção de uma agenda e estratégia unificada de Advocacy (nacional e internacional);

• Divulgar as agendas de advocacy de todas as coalizões, garantindo que todes atores VAC no Brasil saibam e se engajem em atividades e estratégias de advocacy das organizações parceiras;

Facilitar o acesso a atores estratégicos que possam contribuir na execução das ações das coalizões;

• Sistematizar informações úteis às coalizões nos temas de advocacy;

• Mapear eventos estratégicos onde VAC tem potencial para incidência;

Contribuir com as atividades de formação sobre advocacy;

• Subsidiar os esforços de advocacy;

• Apoiar/sugerir/responder questões sobre advocacy trazidas por parceiros;

Conectar diferentes estratégias de advocacy dos vários parceiros de VAC;

• Estar atento a oportunidades não previstas de advocacy de parceiros VAC;

Criar espaços de troca de experiências entre organizações.

A Comissão deseja assegurar ampla representatividade e convida todas as coalizões a participarem deste espaço, visando fortalecer o protagonismo das organizações de VAC na incidência por Justiça Climática; visibilizar as estratégias de advocacy de VAC, a partir das vozes locais; e conectar ações de advocacy, tecendo uma rede por justiça climática, ligando ações local-local, ações municipais, estaduais, nacionais e do local ao global.

Para mais informações entre em contato com o ponto focal de sua organização na Equipe Regional ou mande e-mail para: vac-brasil@avina.net

16 Revista vozes #1
TUNÍSIA QUÊNIA ZÂMBIA INDONÉSIA

Chuvas intensas em curto espaço de tempo levaram a capital do Acre, Rio Branco, à uma grande enchente, no fim de março, vitimando milhares de famílias das periferias.

Essas famílias, que já vivem em condição de vulnerabilidade, foram afetadas materialmente, mas também de forma emocional, com essas perdas. Agora, sofrem com as doenças, como a Leptospirose, que se alastram devido à falta de saneamento básico nas áreas alagadas.

As chuvas fizeram com que os níveis de açudes, igarapés e o principal rio do estado

Acre e outros estados da Amazônia sobrem com

transbordassem.

O estado chegou a ficar isolado, pois a única estrada que liga o Acre ao resto do Brasil teve sua estrutura comprometida com as chuvas, assim como o acesso ao aeroporto que fica distante da capital.

Embora os fluxos anuais das cheias e secas geralmente causem alagações, os registros de séries pluviométricas mostraram que a enchente de 2023 foi uma das maiores na história do estado, que teve vários municípios registrando estado de calamidade.

A ciência já mostrou que, com o aumento do desmatamento, eventos climáticos extremos, como as chuvas que devastaram o Acre agora (mas que há pouco fizeram vítimas também em São Sebastião-SP, Manaus-AM e em várias cidades do Maranhão) serão cada vez mais frequentes. O relatório síntese do IPCC, divulgado em 20 de março, já apontava que as políticas de mitigação

-que visam a redução das emissões de gases de efeito estufa- e de adaptação -que preparem estruturalmente as cidades, estados e nações para lidar com as consequências das mudanças climáticas- não têm sido desenvolvidas de forma suficiente.

O que as cenas dos últimos dias nos mostram é que esses eventos extremos afetam de forma desigual mulheres negras, pessoas periféricas, povos indígenas e comunidades tradicionais. A injustiça climática escancara, mais uma vez, o tamanho da desigualdade social que vivemos. V

Revista vozes #1 17 opinião
Por Angélica Mendes, WWF-Brasil e do Programa VAC

AUTORIDADES

CLIMÁTICAS

Autoridades climáticas indígenas discutem Clima e REDD+ para os grupos que mantêm as florestas preservadas, em encontro realizado pela Coiab e IPAM

CPor Coalizão Advocacy dos Povos Indígenas pela Justiça Climática

om o avanço das discussões sobre as mudanças do clima, as formas de remuneração de quem já mantém a preservação da floresta também entram em pauta. No Brasil, os povos indígenas ocupam 13,8% do território nacional, e 22,6% da região amazônica. Em média, os territórios indígenas apresentam as menores taxas de desmatamento do país, incidindo diretamente no enfrentamento aos efeitos da mudança do clima.

A partir disso, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) em parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), com apoio do Fundo de Defesa Ambiental (EDF), do Vozes pela Ação Climática Justa (VAC), e do The Nature Conservancy (TNC), promoveram o Encontro

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Participantes do Encontro sobre Clima e Mecanismos de REDD+ para Povos Indígenas da Amazônia, em Manaus.. Foto: Rede de Jovens Comunicadores Indígenas da COIAB

sobre Clima e Mecanismos de REDD+ para Povos Indígenas da Amazônia, entre os dias 24 a 27 de janeiro, em Manaus - AM.

O evento reuniu representantes de 27 povos da Amazônia, entre autoridades climáticas indígenas e integrantes das Redes de Advogados Indígenas e Jovens Comunicadores da Coiab. Durante o encontro, os presentes puderam construir, aprimorar e multiplicar saberes e conhecimentos sobre mudanças climáticas e o mecanismo de REDD+.

Dentre as autoridades do clima, participaram do evento o coordenador-geral da Coiab, Toya Manchineri, a chefe do departamento de Meio Ambiente do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Sineia do Vale, a liderança do povo Arara, Francisca Arara, o assessor técnico da Aliança Global e membro do Caucus Indígena sobre mudança climática na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, sigla em inglês), Juan Carlos Jintiach e, o diretor de políticas para florestas tropicais do EDF, Steve Schwartzman.

Este encontro faz parte de um processo de formação continuada de representantes indígenas visando contribuir para o seu protagonismo, incidência política, conhecimento técnico e participação efetiva na agenda de mudança do clima, a partir do diálogo do projeto Advocacy dos povos indígenas pela justiça climática da coalizão Vozes pela Ação Climática Justa. Oferecer formação continuada para as lideranças é algo que a Coiab tem buscado, com a reativação do Centro Amazônico de Formação Indígena (CAFI), para realizar cursos e formações direcionadas.

Linha do tempo

No encontro, foi construída uma linha do tempo sobre as discussões acerca do clima, meio ambiente e desenvolvimento sustentável. A COP de Kyoto, em 1997, iniciou algumas discussões ao propor que os países apresentassem metas para redução na emissão dos gases, o que é conhecido

Autoridades Climáticas Indígenas Nacionais e Internacionais debatem Mecanismos de REDD+ para Povos Originários na Amazônia. Foto: Rede de Jovens Comunicadores Indígenas da COIAB

hoje como Protocolo de Kyoto. O processo de desenvolvimento do REDD tem início a partir de uma discussão entre pesquisadores brasileiros e estadunidenses, em uma proposta apresentada na COP-9, em 2003, intitulada “Redução compensada de emissões”, e esse conceito se tornou a base do REDD nos anos seguintes.

Em 2007, na COP-13, em Bali, foi assinada a decisão conhecida como Mapa do Caminho de Bali, que resultou no conceito de REDD+, que trata para além do desmatamento, incluindo a conservação das florestas e manejo sustentável. Assim, a cúpula do clima reconhece que os povos que vivem nas florestas são indispensáveis para a manutenção da floresta em pé.

A participação dos povos indígenas e outras comunidades tradicionais nas discussões sobre as mudanças do clima foram destacadas no evento. Fernanda Bortolotto, pesquisadora e uma das mediadoras do evento, ressalta a presença da Coiab e do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) nas COPs, já no início dos anos 2000, incidindo nos debates sobre clima,

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desenvolvimento sustentável e redução de emissões.

Assim, o coordenador-geral da Coiab, Toya Manchineri, ressaltou a importância de participar das instâncias de discussão e de buscar pautar cada vez mais as Conferências entre as Partes. “Um dos pontos que podemos pensar é a nossa participação nas COPs. Chegar para os governantes e dizer que se não houver uma mudança global no modo de vida do planeta, nós não vamos conseguir segurar essas mudanças. Devemos usar nossos conhecimentos indígenas e chamar os governos e cientistas para fazermos um debate mais aprofundado, pensar uma ação conjunta”, aponta.

Na carta que resultou do encontro, destacamos duas recomendações - entre as 13 propostas no documento.

Garantir a participação plena e efetiva dos povos indígenas na elaboração, implementação, monitoramento e avaliação dos programas jurisdicionais de REDD+ respeitando os

departamento de Meio Ambiente do Conselho Indígena de Roraima (CIR). Foto: Rede de Jovens Comunicadores Indígenas da Coiab.

parâmetros para a consulta prévia estabelecidos pela Convenção n.º169 da OIT, da declaração da ONU sobre os direitos indígenas de 2007, e a declaração dos direitos indígenas da OEA de 2016 e demais legislações pertinentes;

Garantir o credenciamento de representantes indígenas vinculados às suas organizações representativas para as mesas de negociação da Conferência de Clima (COP) pela instância responsável no governo brasileiro.

Experiências

Na programação, houve espaço para a discussão dos caminhos do REDD+ e o compartilhamento de experiências, positivas e negativas. Uma das vivências positivas trazidas para o encontro foi a do povo Paiter Suruí, que implantou o Projeto Carbono Suruí após 7 anos de construção coletiva sobre o comércio de carbono, em que inicialmente puderam vender para a Natura e a FIFA. Gasodá Suruí ressaltou a necessidade de iniciativas que valorizem as autoridades climáticas indígenas.

“O cuidado que nós temos com a floresta contribui para o bem da humanidade. Por isso nós pensamos que temos que ser reconhecidos como guardiões da floresta. O bem que fazemos para a floresta merece uma recompensa. Então foi nesse sentido que levamos esse projeto, para podermos ser recompensados pelo cuidado que temos com a floresta e chamamos vários parceiros para construir esse projeto junto conosco”, pontuou Gasodá.

Por outro lado, enquanto os Paiter Suruí puderam construir coletivamente as propostas, a vicecoordenadora da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), Alessandra Munduruku, denunciou a presença de empresas pressionando lideranças para assinar contratos de créditos de carbono, desrespeitando o Protocolo de Consulta Munduruku.

Lideranças indígenas das regiões Alto e Médio Tapajós e Baixo Teles Pires apresentaram uma

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carta, listando todas as situações de ameaças à vida e ao território que tem enfrentado, como a contaminação por mercúrio devido ao garimpo ilegal, agora somado ao aliciamento de comunidades para assinar contratos de comércio de carbono. A carta pode ser lida aqui.

REDD é a sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal. É um mecanismo que remunera aqueles que mantêm as florestas de pé, e com isso, evitam as emissões de gases de efeito estufa associadas ao desmatamento e degradação florestal. O REDD+ inclui atividades de conservação e manejo sustentável das florestas.

COP é a sigla para Conferência entre as Partes, considerada a maior e mais importante cúpula do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), sendo a instância de discussão e decisão sobre as mudanças climáticas. A COP recebe líderes e representantes de mais de 190 países e acontece anualmente. A cada ano, os países selam acordos e/ou delineiam diretrizes para compromissos já firmados. V

Advocacy dos Povos Indígenas pela Justiça Climática

A Coalizão Advocacy dos Povos Indígenas pela Justiça Climática é liderada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e composta por mais 9 organizações indígenas e pelo Instituto de Pesquisas Amazônicas (IPAM).

O objetivo da aliança dentro do Programa Vozes Pela Ação Climática Justa é levantar a voz dos Povos Indígenas, reivindicar o espaço da fala dos povos indígenas, tanto fora como dentro do Brasil, para produzir, e fortalecer ações em defesa dos territórios indígenas, um meio ambiente ecologicamente equilibrado para todos (globalmente falando), garantindo o acesso aos benefícios histórica e culturalmente proporcionados pela proteção ambiental dos Povos Indígenas e pela participação em sistemas de apoio no mercado de carbono como resultado de sua contribuição para a redução dos gases de efeito estufa.

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Crisanto Xavante. Foto: Rede de Jovens Comunicadores Indígenas da Coiab.

CARTA da COIAB

Documento final do encontro sobre clima e mecanismo de REDD+ para povos indígenas da Amazônia

Nós, povos indígenas da Amazônia brasileira, representados pelas lideranças da Rede Coiab, Rede de Jovens Comunicadores Indígenas e Rede de Advogados Indígenas, além das organizações parceiras, estivemos reunidos no Centro Cultural Povos da Amazônia, em Manaus/AM, no período de 24 a 27 de janeiro, para participar do “Encontro sobre Clima e Mecanismo de REDD+ para povos da Amazônia” para conhecer, aprimorar e multiplicar saberes básicos sobre mudança do clima e os mecanismos para enfrentar este problema, em especial, o mecanismo conhecido por REDD+. Com base nesse nivelamento, o principal objetivo desse encontro foi construir uma estratégia indígena de formação continuada para incidência no debate climático nos estados amazônicos, nas instâncias nacionais e internacionais.

Sabemos que a Amazônia é considerada um regulador importante de temperatura da região - uma espécie de “ar condicionado” natural - e um armazém gigante de carbono que garante a distribuição de chuva para boa parte do Brasil e da América do Sul. Estes serviços ambientais, contudo, vêm sendo ameaçados pelas mudanças climáticas, cujas raízes também estão no desmatamento e degradação florestal, questões com consequências diretas em nosso bem viver e para todo o planeta.

As Terras Indígenas da Amazônia brasileira são foco de atenção global por sua importância climática e socioambiental. Nós, povos indígenas, vivemos em uma importante área que cobre aproximadamente 23% da região amazônica, ou cerca de 115 milhões de hectares. Em nossos territórios conservamos vastas florestas, lavrados, cerrado e outros tipos de vegetação e, por isso, somos reconhecidos internacionalmente como fundamentais para manter boa parte da biodiversidade e do equilíbrio climático global. Da mesma forma,

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acreditamos que os demais povos da floresta e os povos indígenas de outros biomas do Brasil são essenciais para a manutenção da harmonia climática.

Assim, devemos conhecer e divulgar a trajetória do movimento indígena nesse processo de proteção do futuro climático da região e do mundo. Por entender que somos autoridades no clima, esperamos conectar as diversas ciências - indígena e não indígenanos processos de mitigação e enfrentamento à mudança climática. Isso tem sido importante para a inserção, com mais contundência, dos povos indígenas nos espaços de debate e tomada de decisão sobre o tema. Essas frentes de ação são fundamentais, pois zerar o desmatamento já não é suficiente para reverter os impactos das mudanças climáticas em nossas vidas.

Nesse contexto, entendendo que os povos indígenas têm comprovadamente contribuído com a manutenção do equilíbrio climático do planeta através de nossa relação ancestral e respeitosa com a terra, apresentamos aos órgãos governamentais do Estado brasileiro as seguintes recomendações acerca das mudanças climáticas, no bojo das políticas e mecanismos que envolvem o tema:

1

Desenvolver um programa de formação continuada que contemple as políticas nacionais e internacionais sobre mudança do clima e REDD+ que dialoguem com as realidades indígenas em seus territórios e no contexto urbano, conforme os princípios da justiça climática;

115

milhões

de hectares preservadas na amazônia brasileira

2

Prover orientações e mecanismos de implementação das salvaguardas de Cancun no processo de elaboração de projetos individuais de carbono para evitar colocar em risco a soberania, autonomia e bem-estar de povos indígenas em seus territórios, à luz dos parâmetros para a consulta prévia estabelecidos pela Convenção n.º169 da OIT, da declaração da ONU sobre os direitos indígenas de 2007, e a declaração dos direitos indígenas da OEA de 2016 e demais legislação pertinente, bem como equilibrar a relação entre empresas e comunidades indígenas;

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3

4

Garantir a participação dos povos indígenas em todos os espaços de governança, em nível municipal, estadual, nacional e internacional;

Garantir a participação plena e efetiva dos povos indígenas na elaboração, implementação, monitoramento e avaliação dos programas jurisdicionais de REDD+ respeitando os parâmetros para a consulta prévia estabelecidos pela Convenção n.º169 da OIT, da declaração da ONU sobre os direitos indígenas de 2007, e a declaração dos direitos indígenas da OEA de 2016 e demais legislações pertinentes;

9

5

6

7

Garantir o credenciamento de representantes indígenas vinculados às suas organizações representativas para as mesas de negociação da Conferência de Clima (COP) pela instância responsável no governo brasileiro;

Garantir recursos para viabilizar a participação, formação e incidência dos povos indígenas no tema;

Realizar campanhas informativas em linguagem acessível destinadas às comunidades indígenas, inclusive com tradução para línguas indígenas;

8

Apoiar a implementação dos Planos de Gestão (Planos de vida) já construídos e fomentar a construção de novos planos de gestão nos territórios que ainda não possuem;

10 11 12

Respeitar os protocolos de consulta dos povos indígenas e fomentar a construção de protocolos de consulta nos territórios que ainda nãopossuem;

Reativar a Câmara Técnica de Mudanças Climáticas do Comitê Gestor da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI)

Criar um comitê jurídico composto por advogados indígenas, indigenistas, Procuradoria Federal Especializada da FUNAI (PFE/ FUNAI), CONJUR, MPI, Advocacia Geral da União (AGU), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Defensoria Pública da União (DPU), Ministério Público Federal (MPF) para análise, acompanhamento e orientação sobre contratos de projetos individuais de carbono em Terras Indígenas;

13

Reativar a Comissão Nacional para REDD+ (CONAREDD+) e garantir assento e ocupação efetiva de representantes das organizações representativas do movimento indígena; Mapear projetos de REDD+ e iniciativas na Amazônia brasileira.

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COMUNICAÇÃO e JUSTIÇA CLIMÁTICA

AA interculturalidade na formação em justiça climática de Jovens quilombolas, indígenas, pescadores e agricultores familiares do Tocantins.

Por Silvana Bastos, do ISPN e Coalizão Vozes do Tocantins

crise climática, no Brasil, está emoldurada por desigualdades, violação de direitos, violência no campo e injustiças sociais que distanciam e retardam o processo de amadurecimento e consolidação da democracia e da materialização dos direitos previstos em nossa Constituição. Um dos elementos desse quadro é a insuficiência de vozes representativas de povos e comunidades tradicionais nos espaços de negociação, construção de acordos e visibilidade da Agenda do Clima, seja em nível internacional, nas Conferências das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COPs do Clima), seja em nível nacional, nos espaços de construção e implementação da Política Nacional sobre Mudança do Clima.

A Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática articula dez organizações com o objetivo de ampliar e qualificar a atuação e a visibilidade de quilombolas, indígenas, pescadores artesanais, assentados e acampados da reforma agrária e agroextrativistas na defesa dos seus direitos. Diante do desafio de conquistar direitos e promover a justiça na Agenda do Clima, também apoia a luta por políticas públicas engajadas com

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a inserção de jovens e organizações comunitárias do Tocantins no debate global sobre justiça climática e sobre a Agenda do Clima da Amazônia, por meio de formação continuada de jovens, fortalecimento de organizações de base comunitária e estratégia integrada de comunicação & advocacy.

No âmbito da formação de jovens, a coalizão vem implementando o plano pedagógico do Curso Modular em Justiça Climática e Comunicação. O curso iniciou em março de 2023 e contará com mais três módulos presenciais, envolvendo 31 jovens indicados e acompanhados pelas organizações da coalizão. A turma é composta por jovens entre 16 e 35 anos, representantes indígenas Krahô e Apinajé, quilombolas de três territórios em diferentes regiões do estado, pescadoras da Colônia de Pesca de Araguacema, assentados e acampados ligados ao MST, quebradeiras de coco babaçu, além de agroextrativistas da região do Cantão/Araguaía. Os quatro módulos presenciais são realizados em imersão em quatros comunidades, a saber: TI Krahô/Aldeia Pedra Branca; TI Apinajé/Aldeia Prata; Território Quilombola Kalunga do Mimoso; e Acampamento da Reforma Agrária Olga Benário.

expulsão de comunidades de seus territórios, do desmatamento e da exclusão social.

O objetivo desse processo de educação intercultural é contribuir para a formação de agentes de mudança por meio do desenvolvimento de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) para uma atuação diante dos problemas da invisibilidade das juventudes e da insuficiência de vozes de povos e comunidades tradicionais do Tocantins no debate sobre justiça climática e na luta pelo reconhecimento dos territórios tradicionais e da produção familiar para a conservação ambiental, para a segurança e soberania alimentar e nutricional associados ao Bem Viver no Brasil, em contraposição ao modelo econômico intensificado no estado do Tocantins nos últimos anos, baseado no avanço do agronegócio, grilagens com

Para isso, a abordagem da formação é baseada nos princípios e práticas da educação popular. Tal orientação implica que os temas devem emergir da realidade e seu significado para os participantes e promover o encantamento necessário para mobilizar ação voltada ao bem comum. Ampliar essa concepção é uma tarefa importante na construção do plano pedagógico, propiciando aos participantes reconhecer e organizar o aprendizado que vem das suas descobertas e vivências da prática. Essa premissa é a base do processo de aprendizagem da educação popular traduzida no planejamento do curso a partir dos temas geradores, identificados com as comunidades e pactuados no âmbito do conselho gestor da Coalizão.

Essa abordagem “do aprender da prática” foi implementada pelo Instituto de Desenvolvimento Social e Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN em 2018, no Oeste da Bahia, e inspira essa iniciativa no Tocantins. Essa abordagem contempla quatro etapas na concepção das situações de

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Jovens da Coalizão Vozes do Tocantins. durante o Curso Modular em Comunicação e Justiça Climática, na Aldeia Pedra Branca, Terra Indígena Krahô, TO. Foto: Sara Tamioso/Kiw Assessoria

aprendizagem e das relações interculturais que a formação propiciará:

• Revelar e caracterizar a realidade: a caracterização é acima de tudo uma tomada de consciência. Possibilita aos participantes evidenciar e estruturar sua percepção da realidade (a comunidade, as organizações, o contexto, a si mesmo), ao mesmo tempo em que cria a oportunidade de ampliar esse olhar a partir da troca com os outros participantes. Na caracterização o participante tem a chance de tomar consciência de aspectos que anteriormente não estava percebendo.

• Ampliar referenciais: se por um lado a caracterização pode levantar novas perguntas acerca da realidade, na etapa de oxigenação o que se busca é trazer referenciais que sirvam como termo de comparação e reflexão sobre a realidade (incluindo a si mesmo), mas também sejam capazes de indicar instrumentos e técnicas que possibilitem novas formas de lidar com determinadas situações. A oxigenação é o elo entre a caracterização e a tomada de iniciativa (realizar), retroalimentando a caracterização e orientando a realização de uma ação, iniciativa, ou experimentação;

• Experimentação: possibilita ao participante levar para a prática uma habilidade ou conhecimento adquirido, e assim identificar dúvidas, limites (pessoais inclusive) e verificar potenciais e desafios para a integração com a sua realidade. Embora o foco da ação seja criar base para a aprendizagem.

• Refletir e aprender: na reflexão o facilitador tem um papel fundamental que é conduzir os participantes a identificar, organizar e valorizar os aprendizados vindos da prática. Para tanto, devem ser criadas situações de aprendizagem que conduzam a pessoa a aprofundar sua reflexão, lidar com resistências e tirar conclusões.

Estas quatro etapas são processos essenciais e fundamentam a construção dos quatro módulos presenciais e três módulos à distância (tempo comunidade) da formação em justiça climática junto a jovens ligados à Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática. Dessa forma, os conteúdos serão definidos com forte participação da turma, orientados pelos temas geradores:

1. conservação do Cerrado;

2. direitos dos povos e comunidades tradicionais;

3. comunicação social;

4. mudanças do clima e engajamento das juventudes por justiça climática.

Esses temas serão entrelaçados por três fios condutores: a) habilidades sociais para liderar/ser agente de mudanças; b) conceitos, informações e ferramentas chaves nos espaços de negociação da Agenda por Justiça Climática; e c) experimentos de mudança – planos de ação elaborados, implementados e gerenciados pelos participantes.

Espera-se que a formação em justiça climática contribua para a sustentabilidade e fortalecimento das articulações em rede e interculturais no estado aliada ao aumento da visibilidade das reivindicações e das soluções promovidas por agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais no âmbito da Agenda do Clima da Amazônia, especialmente com a ampliação de vozes das juventudes do Tocantins nos espaços de negociação de acordos globais e nacionais, a exemplo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. V

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Dados pelo

em 2022, o maior evento de dados e inovação da América Latina, a Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais (Coda.Br), teve a sua primeira edição regional em sete anos de história. O Coda Amazônia, realizado em coalizão com diferentes organizações por meio do programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC), reuniu em Belém (PA) mais de 150 participantes para falar sobre inovação cívica, dados abertos, jornalismo de dados, transparência pública e métodos digitais.

Como o ecossistema de dados abertos pode transformar a narrativa sobre a Amazônia

Por Jamile Santana, da Coalizão Fortalecimento do Ecossistema de Dados e Inovação Cívica na Amazônia Brasileira

Também no ano passado, o mapeamento de ecossistemas de dados e inovação cívica na Amazônia identificou 182 atores que dialogam com temas locais. Esses movimentos podem ser fundamentais para impulsionar a transformação das narrativas e tecnologias de participação popular na região amazônica. Ao estabelecer uma comunidade de intercâmbio e fomento de informações, é possível desenvolver uma cultura local que valoriza o papel do morador da região como protagonista na construção de soluções para temas relevantes na comunidade.

A conferência é realizada pela Open Knowledge Brasil por meio do programa Escola de Dados,

Painéis e workshops do CODA reuniram mais de 150 pessoas discutindo e trabalhando com dados durante a conferência

tradicionalmente em São Paulo. Mas desde a construção da ideia de realizar uma edição local do Coda, promover o protagonismo de atores locais foi uma prioridade. Metade das pessoas convidadas para o primeiro Coda Amazônia são originárias ou residentes da região Norte. O mesmo princípio também foi aplicado para a contratação de fornecedores de serviços e materiais para o evento. “Começamos a programação da conferência falando de colonialismo e extrativismo de dados, de atores de corporações se apropriando dos dados, mas como que nós, diferentes partes desse

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CLIMA

ecossistema, conseguimos coletar ou produzir dados para conduzir as nossas próprias narrativas, contar o que está acontecendo, a partir das nossas perspectivas? A coalizão de organizações que promoveram esse evento, e o projeto VAC de maneira mais ampla, busca fortalecer o ecossistema de inovação cívica na Amazônia. É a forma como unimos as nossas capacidades para fortalecer as vozes locais”, destacou a diretora executiva da Open Knowledge Brasil, Fernanda Campagnucci.

O Coda Amazônia foi híbrido, contou com 13 workshops presenciais e transmissão ao vivo, via YouTube, de seus três painéis principais. Foram mais de 800 visualizações online (via Youtube), cerca de 47,1 mil impressões das mensagens do perfil da Escola de Dados e mais de 3,6 mil visualizações de página no site do evento. A audiência veio de 49 cidades localizadas em 21 estados brasileiros, o que mostra que a região Norte tornou-se o centro da discussão em outras regiões durante o evento.

“Pude entender mais sobre alguns assuntos novos, principalmente saber o nome de pessoas referências, que irei acompanhar”, respondeu um participante ao responder o formulário anônimo

de avaliação do evento.

Painéis e workshops do CODA reuniram mais de 150 pessoas discutindo e trabalhando com dados durante a conferência. Foto: Divulgação/OKB

O evento também proporcionou conexões, como no caso de participante de Rio Branco, no Acre, que conheceu durante o Coda, em Belém, uma professora da sua cidade. “Para mim, a temática foi muito relevante. Adorei a participação da Sonaira [Silva], que nunca tinha conhecido no Acre, mas acabamos nos conectando em Belém. Como sou do Direito, acredito que precisaria ter um contato mais aprofundado com análise de dados para conseguir visualizar usos concretos”, respondeu outro participante.

Para Jader Gama, assessor de tecnologias da informação da Funbosque, pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA e integrante do coletivo Casa Preta, a edição presencial contribui para organizar a articulação local.

“Ter participado da primeira edição histórica do Coda Amazônia mostra que o nosso grupo, formado por pessoas tão diferentes mas com objetivos comuns, está no caminho certo. Temos a possibilidade de contribuir e articular um ecossistema. Nós somos cultivadores de redes e isso tem uma simbologia muito grande no território amazônico”.

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Mobilização e impacto

O evento foi organizado pela Escola de Dados, da Open Knowledge Brasil (OKBR), por meio da coalizão Fortalecimento do Ecossistema de Dados e Inovação Cívica na Amazônia Brasileira, que envolve instituições sediadas no Pará – Associação de Afro Envolvimento

Casa Preta e a Associação dos Amigos da Inclusão Digital da Amazônia (INDIA/Coletivo Puraqué) – e de outras regiões (PyLadies Manaus e InfoAmazonia) no âmbito do programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC).

Para além do envolvimento das próprias organizações locais participantes da coalizão, esta participação e articulação começou com o diálogo com a rede do Fórum Social Panamazônico, tendo como marco inicial a escolha de realizar o Coda Amazônia como uma de suas atividades preparatórias. Em seguida, a Universidade Federal do Pará – por meio da Faculdade de Comunicação (FACOM) e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) – também somaram esforços e cederam suas instalações para realização das atividades, além de conectar o Coda Amazônia a estudantes e pesquisadores locais que compuseram a equipe de documentação do evento.

150 participantes presenciais

+800 Participantes virtuais

49 cidades DE 21 estados

3 painéis de discussão

1º CODA

27 e 28 • julho | 2022

13 UFPA

Belém • Pará Amazônia • Brasil

33,5 horas de Atividades workshops mão na massa

Uma prova de que a iniciativa começou a criar raízes, foi a criação do Grupo de Trabalho formado por acadêmicos, gestores públicos e organizações da sociedade civil para organizar a edição 2023 do evento. V

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AMAZÔNIA

Arte em

LUTA

O inadiável futuro do petróleo é embaixo do solo, o inadiável futuro da floresta é em pé

Trecho de texto publicado originalmente na pesquisa livre sobre artivismo, meio ambiente e colapso climático, em Novembro de 2021.

Por Jonaya de Castro, da Coalizão Megafone

caminhamos aceleradamente para o aquecimento do planeta de 1,5°C acima da temperatura normal (sem intervenção do homem). Esse limite é o máximo que podemos alcançar, segundo cientistas e estudiosos para se evitar piores desastres e impactos sobre a vida na Terra e extinção de diversas espécies, incluindo a sobrevivência da espécie humana.

De acordo com estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) já estamos em um cenário de colapso climático. Enfrentaremos desastres ambientais irreversíveis se não desacelerarmos o consumo de combustíveis fósseis e o desmatamento das florestas no planeta, entre diversas outras ações humanas.

TRANSIÇÃO DE MODELO CULTURAL

Um novo rascunho do acordo final da Cúpula do Clima de 2021 (COP-26), ocorrida em novembro de 2021, em Glasgow, manteve a demanda básica para os países definirem planos de enfrentamento do aquecimento global. A proposta manteve o pedido para que os países acelerem “os esforços

O BRIGADISTA. Cinzas, restos de árvores e animais carbonizados foram a matéria-prima para as tintas usadas pelo artivista Mundano para pintar o painel no centro da cidade de São Paulo, denominado “Brigadista da Floresta”, 2021. A obra traz luz sobre a destruição dos grandes biomas brasileiros, que estão literalmente sendo reduzidos a cinzas.O “Brigadista da Floresta” é uma releitura de uma obra muito representativa do Brasil pintada por Portinari: “ O Lavrador de Café, 1934.

em direção à eliminação progressiva da energia a carvão e dos subsídios aos combustíveis fósseis ineficientes”, mas, em uma nova emenda, agora aponta que as nações reconhecerão “a necessidade de apoiar uma transição justa”, uma referência aos pedidos de assistência financeira dos países em desenvolvimento.

A ideia de “transição justa” surgiu nos Estados Unidos na década de 70, durante a greve que foi denominada a primeira greve ambiental pelo

Revista vozes #1 31 opinião
@mundano_sp

opinião

Sindicato Oil, Chemical e Atomic Workers Union (OCAW), sobre questões de saúde e segurança nas refinarias da Shell. Falaremos mais da Shell ao longo do texto.

A “transição justa” é um pacto cultural. Um novo modelo de sociedade precisa surgir, em todos os âmbitos. Iniciativa pública, privada e sociedade civil organizada, trabalhando em função de mudanças que evitem o colapso climático. E é nesse lugar que a cultura tem um papel fundamental. A cultura é a plataforma onde teorias, caminhos e narrativas são construídas no imaginário humano. A cultura é a plataforma do imaginário. Para evitar o ponto de não retorno, o colapso climático, o artivismo pode ser uma das principais ferramentas de construção do imaginário da transição.

A COMUNICAÇÃO COMO OBRA DE ARTE, O ARTIVISMO

O artivismo, enquanto ação artística, faz parte da cena contemporânea que além de registrar a história, pretende provocar engajamento político e social. A arte ativista encontra espaço nos artistas, coletivos e movimentos. O artivismo se vale de estratégias artísticas, estéticas ou simbólicas para amplificar, sensibilizar e problematizar, para a sociedade, causas e reivindicações sociais.

Atuar coletivamente significa agir no campo da transversalidade, produzir formas de subjetividade, trabalhar com a cooperação e com o interativismo. O artivismo opera em qualquer espaço, mas a cidade, o espaço urbano, local de convívio social em todas as duas dimensões, é o principal palco para ações e intervenções.

A comunicação como obra de arte, ou a arte vista como meio de comunicação que ocupa um espaço de mídia radical, causa grande impacto de conteúdo estético e interativo.

A atividade do artivista não está ligada somente a

NATUREZA MORTA. Denilson Baniwa é um artivista brasileiro que inspira a busca por uma cultura decolonizadora. Do povo Baniwa, utiliza linguagens ocidentais e cria novos contextos para decolonizálas em sua obra. O artista em sua trajetória contemporânea consolidase como referência, rompendo paradigmas e abrindo caminhos ao protagonismo dos povos indígenas.

retórica, ao discurso engajado, a estética ou a ética do artista, mas no seu envolvimento em questões sociais que possam, através de suas práticas, produzir verdadeiras mudanças. “O artivismo é uma estratégia de comunicação para chegar ao público, desviando dos meios hegemônicos que conduzem as narrativas. É um dos meios mais rebeldes de comunicação que ainda nos resta”. Apesar da cena artística usar o conceito de “artivismo” há poucos anos, os artivistas estão aí desde sempre. Por isso, vale lembrar e registrar obras inspiradoras que seguirão nos guiando na construção de um imaginário possível da existência da vida no planeta.

“Para acessar a pesquisa “A Arte em Luta” na íntegra, clique aqui para baixar em português ou aqui para baixar em inglês

Para mais informações, falecomjonaya@gmail.com

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@denilsonbaniwa

CLIMA DE

Para mudar o cenário de colapso climático que vivemos é preciso criar um novo modelo de sociedade, com um novo conceito de desenvolvimento. Mas como conquistar e engajar corações e mentes, denunciando o desastre e seus responsáveis e propondo novos rumos? Com Clima de Arte a gente registra a história, amplifica o barulho e sensibiliza política e socialmente! Entra no Clima com a gente!

RAONIZAR AS CIDADES

Mural realizado no centro de Manaus, como parte da ação “Raonizar as Cidades”, em homenagem ao Cacique Raoni Metuktire, que tem dedicado sua vida a defender a Amazônia e seus povos originários.

O mural foi pintado durante a Semana Internacional do Meio Ambiente de 2022 pelo artista e muralista @raiz.campos, com realização do Megafone Ativismo

CONTAMINAÇÃO DO TAPAJÓS POR MERCÚRIO

A ação das artivistas @roledaflor e @norahcosta realizada em Santarém-PA, em maio de 2022, denunciou a contaminação por mercúrio dos rios, peixes e pessoas na bacia do Tapajós e garantiu visibilidade à Audiência Pública que debateu os impactos da contaminação e a criação do Fórum de Combate à Contaminação de Mercúrio. Na ação as jovens cobraram a testagem em massa da população e uma política que impeça que o envenenamento continue.

Revista vozes #1 33
Foto: Jander Manauara Foto: Escola de Ativismo

QUEM AMA

LAMBE

Uma invasão cultural aconteceu em XapuriAC, durante a 33ª Semana Chico Mendes, em dezembro de 2022. Lambes em mão e artivistas presentes, a cidade ficou recheada de mensagens em forma de arte para relembrar da importância da Amazônia e suas gentes.

15 segundos INFORMATIVOS

Foto:

Em setembro de 2022, a campanha “15 segundos informativos”, contou com projeções e colagem de lambes em sete cidades diferentes do País: Manaus, Belém, São Paulo, Fernando de Noronha, Recife e Brasília. Cada grupo de trabalho localizado nas cidades participantes foi responsável por sugerir pautas que se relacionam com problemas do seu próprio estado, e um dos objetivos da campanha foi trazer as mudanças climáticas como assunto urgente para a eleição. As ações foram feitas por meio do programa de miniapoios da Coalizão Megafone de Ativismo.

POESIA

Vida humana é importante

Quando respira o ar puro

Embora esteja no escuro

Embrenhado nos matagais

Junto com os animais

Que percorrem a natureza

Falo com toda certeza

Que nós somos iguais

Pois temos vida humana

Animais e vegetais.”

Anacleto Maciel, morador da Reserva Extrativista Chico Mendes – Acre, recitada pelo seu filho, Alexandre Maciel, o Xandão.

OUÇA AQUI

34 Revista vozes #1
Foto : Marcelo Dagnoni
@15segundosinformativos

SEMENTEIRAS DO ARAGUARI

SURARAS DO TAPAJÓS

O Grupo de Carimbó “Suraras do Tapajós” é o primeiro grupo musical do Brasil composto apenas por mulheres indígenas. Com shows realizados no Norte, Nordeste, Sudeste e Centroeste, o grupo é uma ferramenta valiosa para amplificar a voz desse coletivo de mulheres que usa a música como forma de resistência, fazendo com que a existência dos povos indígenas ecoe muito além de seus territórios. As Suraras são parte da Coalizão Vozes do Tapajós.

Ouça o som das Suraras:

Spotify Youtube

O curta de animação amapaense “Sementeiras do Araguari”, da produtora Catraia Filmes, apresenta um grupo de mulheres extrativistas da Floresta Nacional do Amapá e mostra como é possível sobreviver dos recursos naturais da floresta sem destruí-los. A partir da convivência diária dentro da mata, as sementeiras do Araguari mostram o poder de mudança em suas vidas e a sabedoria ancestral que vem da floresta. O curta foi exibido 10 vezes em diversas regiões do Amapá, em escolas públicas, quilombos, comunidades e através do festival de cinema fluvial Cine Catraia. Sementeiras do Araguari é parte do programa de mini-apoios da Coalizão Megafone de Ativismo.

Revista vozes #1 35

Não é só no Brasil... Em outros cantos do mundo, as vozes que vêm do chão também estão em busca de justiça climática. O que está acontecendo no movimento por justiça climática em outros países e no cenário global? Como essas vozes estão atuando? O que elas têm a dizer?

CHÃO MUNDO pé no voz no PELO MUNDO

Ativistas referência de três países contam suas experiências e ações por justiça climática

Em novembro de 2022, o Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) lançou uma série de vídeos com três histórias de personagens que são referência na luta por justiça climática. Essas três vozes do Brasil, Paraguai e Tunísia ecoaram em Sharm El-Sheikh, no Egito, durante eventos da COP 27. Vem conhecer elas também!

36 Revista vozes #1

Zulma Franco

No Pantanal paraguaio, Zulma Franco é professora e liderança na comunidade Yshir Ybitoso ‘Virgen Santísima’, em Fuerte Olimpo. No vídeo ela apresenta as ameaças ao seu território e reforça como a proteção dos ecossistemas, da biodiversidade e da riqueza cultural dos povos originários são fundamentais para a ação climática justa. O Programa VAC também está presente na Bolívia e Paraguai, com ações diversas na região do Chaco.

Clique para ver o vídeo completo

rogério mendes

Ativista e extrativista. Filho de Raimundão e sobrinho de Chico Mendes, Rogério Mendes apresenta um pouco do seu dia-a-dia como castanheiro e seringueiro e como usa as redes sociais para mostrar a importância da floresta em pé a partir de suas experiências na Resex que leva o nome de seu tio, em Xapuri, no Acre.

Clique para ver o vídeo completo

Zakaria Hechmi

No oásis de Chenini, em Gabes, na Tunísia, Zakaria Hechmi, é agricultor familiar e produtor de sementes. Ativista pelo clima, usa de seus conhecimentos tradicionais e de articulação política para lutar pelo direito a água, ao uso da terra e à importância das sementes crioulas para garantir a soberania alimentar de sua comunidade.

Clique para ver o vídeo completo

Revista vozes #1 37

VOZES

NA COP27

Concurso 27na27 levou 27 vozes do Sul Global para reforçar necessidade de financiamento climático acelerado e acessível

Na COP 27, a Conferência das Partes do Clima, vozes de todos os sete países do Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) somaram forças para representar a sociedade civil em um evento em que os lobbies empresariais estão cada vez mais presentes.

Além dos representantes das organizações, movimentos e coletivos em eventos, negociações, articulações e reuniões, aqueles que não puderam estar também levaram suas mensagens para apresentar os impactos das mudanças climáticas em seus territórios e as soluções que vêm implementando para mitigar, adaptar-se e enfrentar os efeitos da emergência climática.

Em um evento com a presença de representantes do Ministério de Relações Exteriores da Holanda e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional – USAID, o programa VAC apresentou um vídeo com 27 vozes apresentando suas realidades locais e as dificuldades para acessar financiamento climático.

Os vídeos vieram do concurso 27na27, em que os parceiros VAC e coletivos de jovens tinham que

Relatório da Global Witness, apontou que 636 lobistas dos combustíveis fósseis foram credenciados pela COP, 26% a mais que na COP 26 e maior que as delegações de muitos países do Sul Global. A COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, será presidida por Sultan Ahmed al-Jaber, ministro e CEO da gigante estatal de petróleo Abu Dhabi National Oil Company

38 Revista vozes #1 vozes pelo mundo

produzir vídeos de um minuto. O Brasil teve 7 inscritos e quatro foram selecionados.

Os premiados tiveram seus vídeos reproduzidos em evento na COP 27 e foram premiados com $500 euros, cada. O objetivo do evento era criar um espaço em que vozes de comunidades do Sul Global fossem ouvidas, reforçando o poder da diversidade de narrativas para enfrentar as mudanças climáticas.

Diante de um público internacional que incluía representantes de agências financiadoras, o evento buscou criar conexões e criar um ambiente em que as vozes da base pudessem estimular debates sobre a urgência de mobilizar o financiamento climático de forma acessível.

“Estamos cansados de ver propagandas de desenvolvimento. Precisamos parar. Precisamos escutar as vozes locais e suas soluções. Essa é a verdade”, reforçou Sheela Patel, ativista e acadêmica da Slum Dwellers International (SDI), organização da Aliança Global do Programa VAC. V

Estamos cansados de ver propagandas de desenvolvimento. Precisamos parar. Precisamos escutar as vozes locais e suas soluções. Essa é a verdade”

Veja aqui o vídeo com os 27 vencedores.

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Sheela Patel, ativista e acadêmica da Slum Dwellers International (SDI)

Conferência mundial DA onu sobre ÁGUA

Orisco iminente de escassez de água em nível global, devido ao consumo excessivo e às mudanças climáticas têm alertado para a necessidade de se estabelecer mecanismos internacionais fortes para evitar que a crise global da água saia de controle. Através da Conferência da Água, que reuniu pelo menos 12 chefes de Estado e de Governo, cerca de 80 ministros, altos funcionários governamentais e mais de 6,5 mil representantes da sociedade civil no Dia Mundial da Água, a ONU buscou alcançar compromissos mundiais para mudar o paradigma de gestão. Para o órgão internacional, alcançar medidas urgentes através de pactos a partir de diálogos coletivos foi uma das prioridades. A busca pelo ouro e a ameaça à floresta amazônica e seu povo foram temas de

Coalizão Vozes do Tapajós coloca no debate global luta do povo Munduruku por água limpa em aldeias afetadas por garimpos

Por Samela Bonfim, da Coalizão Vozes do Tapajós Combatendo as Mudanças Climáticas

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Temos participado de debates dentro e fora da Conferência, como o realizado na Universidade de Columbia, onde também foi exibido o documentário

‘Amazônia: Nova Minamata?’, do premiado Jorge Bodanzky.

Tem sido uma boa oportunidade para falarmos sobre a contaminação dos rios, dos garimpos ilegais, do mercúrio, da situação dos indígenas, dos ribeirinhos e de soluções de acesso à água de qualidade que temos empreendidos juntos no Tapajós”

painéis em Nova York no marco da Conferência, que contaram com a participação do coordenador geral do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino e da liderança indígena do povo Munduruku Alessandra Korap.

“Temos participado de debates dentro e fora da Conferência, como o realizado na Universidade de Columbia, onde também foi exibido o documentário ‘Amazônia: Nova Minamata?’, do premiado Jorge Bodanzky. Tem sido uma boa oportunidade para falarmos sobre a contaminação dos rios, dos garimpos ilegais, do mercúrio, da situação dos indígenas, dos ribeirinhos e de soluções de acesso à água

de qualidade que temos empreendidos juntos no Tapajós”, ressaltou Scannavino.

A liderança indígena Alessandra Korap tem reforçado as denúncias de contaminação das águas do Tapajós pela atividade do garimpo, como porta-voz dos Povos Originários. Ativista Indígena do povo Munduruku, Alessandra foi a primeira mulher a liderar a Associação Indígena Pariri e a segunda brasileira a vencer o Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos,

em 2020, por seu protagonismo na luta contra o garimpo e desmatamento ilegal em terras indígenas.

“Nossa água está contaminada pelo mercúrio, pelo agrotóxico. Muitas empresas estão privatizando a água, como se ela tivesse um dono. Mas a água é de todos. Todos nós merecemos ter água. Os peixes, as populações, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores. Vamos falar de água, respeitando todos os povos por

Revista vozes #1 41 vozes pelo mundo
Caetano Scannavino, coordenador geral do Projeto Saúde e Alegria Indígena Munduruku. Foto: Jussara Salgado.

Nossa água está contaminada pelo mercúrio, pelo agrotóxico. Muitas empresas estão privatizando a água, como se ela tivesse um dono. Mas a água é de todos. Todos nós merecemos ter água. Os peixes, as populações, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores. Vamos falar de água, respeitando todos os povos por que nós merecemos ter água”

que nós merecemos ter água”, enfatizou Korap.

A participação da liderança no evento internacional se dá através do Projeto ‘Vozes do Tapajós combatendo as Mudanças Climáticas’ por meio da iniciativa global Vozes da Ação Climática (VAC). “O projeto possibilita que as lideranças expressem e se articulem em torno desse tema das mudanças climáticas. É um assunto que afeta a vida de todo mundo. O momento é oportuno para que o mundo entenda que a Amazônia está vivenciando uma crise devido às consequências da garimpagem que afeta as populações indígenas e todos que consomem a água do rio contaminado”, ressaltou o coordenador do PSA, Fábio Pena.

A Coalizão Vozes do Tapajós é apoiada pela Fundación Avina. Diretora do programa de acesso à água e representante da organização na

Conferência, Telma Rocha destacou a presença das vozes do sul global nesse importante espaço. “Nosso principal objetivo é defender uma governança democrática da água e visibilizar as vozes do sul global, em especial para as comunidades indígenas, tradicionais e periferias urbanas. Pra gente é um prazer poder estar apoiando a participação do Saúde e Alegria e Alessandra Mundruruku com todos os desafios que os povos indígenas vêm enfrentando”, afirmou.

O principal resultado da Conferência é o lançamento da Agenda de Ação da Água, que representa comprometimentos voluntários de todos os níveis, incluindo governos, instituições e comunidades locais. A Agenda ajudará a mobilizar ações por parte de governos, setores e demais partes interessadas em alcançar os objetivos e metas globais relacionados à água. V

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Alessandra Korap, liderança indígena do povo Munduruku Crianças Munduruku. Foto: Jussara Salgado.

DO GRAN CHACO VOZES

O Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) também está na Bolívia e Paraguai. Nesses países, as ações são conjuntas e acontecem nos biomas do Gran Chaco (do quíchua: chaku, "território de caça") e no Pantanal. Essas regiões foram escolhidas devido à importância que têm para o clima e para a conservação socioambiental.

Conheça um pouco do trabalho de organização social em rede que vem acontecendo na região, e como novas narrativas e soluções viajam e se entrelaçam a partir de territórios diversos e complementares para enfrentar a emergência climática. O material foi produzido pela Muy Waso, membro de VAC na Bolívia em parceria com a Fundación Avina..

Revista vozes #1 43 vozes pelo mundo
44 Revista vozes #1 vozes pelo mundo

TAPAJÓS

NAS TELAS

Com câmeras e celulares, jovens do Tapajós evidenciam impactos das mudanças climáticas em seus territórios e conquistam visibilidade em prêmios nacionais e internacionais

apropriação dos meios tecnológicos e da linguagem audiovisual pelas populações tradicionais trouxe um olhar original sobre as questões climáticas e deu poder de fala para jovens ativistas do Tapajós, contribuindo para que a Amazônia seja mostrada pelos próprios habitantes da região. Com o protagonismo desses grupos, as produções possibilitaram criar novas linguagens e estéticas para abordar o assunto por aqueles que devem estar no centro da discussão.

Por Samela Bonfim, da Coalizão Vozes do Tapajós Combatendo as Mudanças Climáticas

Os vídeos realizados começaram a ganhar evidência e até prêmios, como o caso do curta metragem Autodemarcação Munduruku, que conta a luta deste povo pela proteção de seu território, e que foi exibido e homenageado no Festival de Cinema de Brasília; do vídeo Grito Ancestral, que narra a luta do povo tupinambá pela proteção do Rio Tapajós e sua floresta; a

Revista vozes #1 45 ações em rede
Com a câmera na mão, Rilcelia Akai Munduruku, do Coletivo Audiovisual Daje Kapap Eypi. Foto: Joana Moncau

experiência de manejo de abelhas nativas da Amazônia; e do manejo do pirarucu como solução climática. Os últimos três foram premiados no Concurso 27na27, promovido pelo Programa VAC para a COP 27.

Por meio de oficinas e suporte à qualificação das produções audiovisuais que vêm sendo experimentadas por coletivos formados por jovens de comunidades indígenas e ribeirinhas, a Coalizão Vozes do Tapajós vem destacando narrativas das populações amazônicas sobre as mudanças climáticas.

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Voadeira no Rio Tapajós visto de cima. Foto: Coletivo Audiovisual Daje Kapap Eypi Guerreiros Munduruku fixam placa no limite de sua terra durante processo de autodemarcação. Foto: Coletivo Audiovisual Daje Kapap Eypi

Movimentos premiados foram fortalecidos pelos debates sobre mudanças climáticas

Ao incorporar o debate sobre as mudanças climáticas em suas pautas, seis organizações de base comunitária representativas de povos indígenas e comunidades tradicionaisda região da bacia do Rio Tapajós se fortaleceram em 2022. Os saberes tradicionais e ancestrais aliados aos conhecimentos técnicos e científicos permitiram um aprofundamento significativo das comunidades locais acerca das graves ameaças às quais seus territórios estão submetidos.

Os coletivos e movimentos aumentaram a mobilização e o engajamento em defesa de soluções socioambientais para a superação da crise climática através da conexão entre saberes locais e globais, ao perceberem que os principais atingidos pela crise climática são os territórios tradicionais que dependem da floresta para sua sobrevivência.

Apesar da Amazônia estar no centro do debate global sobre a superação da crise climática, este debate por vezes ainda exclui os atores locais da luta pela conservação ambiental, como indígenas, ribeirinhos, extrativistas e agricultores familiares, entre outros. Neste sentido, a inserção da pauta da crise climática nos debates

movimentos

comunidades ribeirinhas na região do Tapajós permitiu o entendimento do papel de protagonismo que estes movimentos têm nesta luta, através de uma agenda compartilhada com base nas demandas das comunidades amazônicas.

Esse é o objetivo da Coalizão Vozes do Tapajós formada pelo Projeto Saúde e Alegria, SAPOPEMA, Conselho Indígena Tapajós- Arapiuns - CITA, Sindicato dos Trabalhadores

e Trabalhadoras Rurais de Santarém - STTR, Conselho Indígena Tupinambá - CITUPI, Associação Suraras do Tapajós e Coletivo Audiovisual Daje Kapap Eypi Munduruku que vem promovendo mobilizações nos territórios, a realização de ações de ativismo com foco na agenda climática e eventos de formação com lideranças de movimentos e organizações de base e formações, orientações temáticas e custeio para a produção dos vídeos. V

Revista vozes #1 47 ações em rede
Flagra de desmatamento ilegal em Terra Indígena. Foto: Coletivo Audiovisual Daje Kapap Eypi dos sociais das

JUVENTUDE EM MOVIMENTO

Jovens do Acre se juntam em formação da coalizão Rede Comunic(A)tiva para fomentar a comunicação e o ativismo na luta socioambiental

LPor Rose Farias, de Xapuri

Jovens do Acre participam de formações da coalizão Rede Comunic(A)tiva. Foto: Moisés Muálem/ WWF-Brasil

aiane da Costa Santos herdou dos pais o engajamento na luta pelos direitos dos povos da floresta. Luiris da Silva Carvalho tem orgulho de seu histórico familiar e de se reconhecer como seringueiro raiz. Já Raylane Onofres Rodrigues tem nas mãos a fotografia como ferramenta de ativismo socioambiental. E o ideal de André da Silva Marciel é produzir sem destruir a natureza. Esses quatro jovens têm em comum o desejo de manter vivo o território que habitam: a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, que se estende por 9.705,7 km² de sete municípios acreanos e, apesar de ser referência internacional de desenvolvimento sustentável, lidera o ranking de áreas protegidas mais desmatadas do Brasil. Agora eles estão na linha de frente na defesa não apenas da Amazônia, mas do planeta. Laiane, Luiris, Raylane e André fazem parte do programa Vozes

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pela Ação Climática Justa (VAC), que em dezembro de 2022 reuniu 26 jovens em Xapuri, no Acre, para um ciclo de formações. Houve diversas oficinas, como a de teatro “Do que somos feitos e em que nos transformaremos”, com o ator e bailarino acreano Marcos Luanderson; de “Comunicação técnica e emoção, como desenvolver os dois sentidos. Penso, logo escrevo e compartilho”, com Thanee Degasperi, gestora de redes sociais do coletivo Mídia Ninja; e de “Stencil”, com o Subvertivo Lab, um laboratório artístico, criativo e experimental. Outras atividades envolveram temas como o papel de cada pessoa na luta contra a crise climática e a importância do protagonismo jovem.

Thanee aplicou um processo livre de aprendizagem para que os jovens se entendessem como comunicadores e cidadãos multimídia. “Com o celular na mão, eles conseguem ser videomakers, fotógrafos, redatores, editores... Hoje temos ‘massas de mídias’, não as ‘mídias de massas’, que são poucas famílias que comandam”, afirma. “Temos um mosaico de parcialidade onde cada um pode trazer o seu olhar. Todo mundo pode ser um comunicador e criar suas mídias, conteúdos. O resultado será o surgimento de muitas narrativas, efervescência de comunicadores e comunicadoras dentro dos territórios que possam se entender como agentes de transformação.”

André, que tem 20 anos e mora na porção da Resex Chico Mendes que fica no município de Brasiléia, já espera promover mudanças. “Conheci novas ferramentas que irão me possibilitar potencializar o trabalho que já fazemos na comunidade, de conscientização sobre buscar uma vida digna consorciada com o ser humano e a natureza. Vou poder documentar, gravar, não apenas para minha comunidade, mas para o mundo. Quero expor o nosso modo de viver, como é

especial viver na Reserva. Me sinto na obrigação de usar essas ferramentas para conscientizar as pessoas do meu território, do entorno e de todo lugar sobre o perigo que estamos vivendo com a crise climática”, diz.

A troca de aprendizados durante os cinco dias de atividades do programa VAC foi intensa e antecedeu a 33ª Semana Chico Mendes, que ocorreu de 15 a 22 de dezembro, em Xapuri e também em Rio Branco. “Esse encontro mostrou que não estamos sozinhos”, comemora Laiane, de 32 anos. “Muitos jovens estão atentos em suas comunidades e têm feito um trabalho importante. Com cada um ativo em seus territórios, estamos fortalecendo uma rede pelo clima”.

A ativista, que carrega no DNA a luta pelos povos da floresta, com a mãe sendo a primeira mulher a integrar o movimento sindical dos trabalhadores rurais da região, tem emergido como jovem liderança acreana. Participou, por exemplo, do painel “Conectando Clima e Justiça Social para não deixar ninguém para trás”, promovido pela Action for Sustainable Development durante a 27ª Conferência do Clima da ONU, a COP27, em novembro de 2022, no Egito. Naquela ocasião, Laiane apresentou as ações conduzidas em seu território para a conservação da Amazônia. Karla Martins, do Comitê Chico Mendes, pontua que o objetivo do ciclo de formações realizado em Xapuri foi sensibilizar os jovens sobre a importância da comunicação como resistência e enfrentamento ao processo de desconstrução da identidade da Conheci

novas ferramentas que irão me possibilitar potencializar o trabalho que já fazemos na comunidade, de conscientização sobre buscar uma vida digna consorciada com o ser humano e a natureza(...)”
André da Silva Marciel
Revista vozes #1 49 ações em rede

floresta – evitar o apagamento sistemático desses povos que vem sendo promovido mundo afora. “A ideia é potencializar essas vozes jovens, a troca de conhecimento em redes, dialogar e identificar os desafios, o que vem sendo realizado, as estratégias de comunicação utilizadas, para cada vez mais fortalecer esse protagonismo da juventude”, diz.

Difundir novas formas de luta é fundamental para que os jovens se sintam impulsionados a manter o legado de gerações que vieram antes. Um dos momentos que mais emocionaram Luiris durante o evento do VAC foi o encontro com Raimundão Mendes, de 77 anos, primo de Chico Mendes e uma das principais lideranças vivas do Acre. “Me inspiro nele. É uma grande figura, como se fosse da família. Ele lutou junto com meu pai, ao lado do Chico Mendes, me inspiro no jeito dele de ser um seringueiro raiz. Com a fala dele, vi que preciso me reconhecer como seringueiro. Eu sou um seringueiro e não vou mais negar isso. Sou um quebrador de castanha, eu amo o que faço”, frisa Luiris, de 22 anos.

Esse encontro mostrou que não estamos sozinhos”

A jovem, de 18 anos, acrescenta que os cinco dias de imersão nas oficinas promovidas em Xapuri fortaleceram seu desejo de seguir firme no ativismo. “Preservar a floresta, falar da minha cultura com orgulho, de onde vim, me inspirou para mobilizar cada vez mais os jovens da minha comunidade”, diz.

Diálogos entre a tradição e a modernidade

Raylane faz coro. “Ouvir Raimundão, Sabá Marinho e Leide Aquino foi muito emocionante e me estimulou a carregar comigo a luta por justiça social e climática no meu território”, salienta.

Ouvir Raimundão, Sabá Marinho e Leide Aquino foi muito emocionante e me estimulou a carregar comigo a luta por justiça social e climática no meu território”

Como motivar a conexão entre a modernidade e a tradição? Por onde você estava com 17, 18 e 19 anos? Essas perguntas foram estimuladas para que lideranças e companheiros de Chico Mendes – como Raimundão, Sabá Marinho, Leide Aquino e a filha dele, Angela Mendes, que é presidente do Comitê Chico Mendes – contassem aos jovens como foi no passado e como tem sido a luta hoje dos mais velhos para manter a Amazônia viva e para que os povos da floresta tenham os seus direitos respeitados.

Angela falou sobre sua relação com o pai e que seu despertar para o chamado de preservar a floresta veio com a carta de Chico Mendes, escrita poucos meses antes de ele ser assassinado, em dezembro de 1988. Dirigida aos jovens do ano de 2120, a narrativa utópica celebra o centenário de uma revolução mundial que, na imaginação do ativista ambiental, Raylane

Onofres Rodrigues
50 Revista vozes #1 ações em rede
Laiane da Costa Santos

tornou o planeta socialmente justo para todos os povos.

“Fui chamada pela carta do meu pai e acho que vocês estão aqui pelo mesmo motivo, para assumir essa revolução. Essa luta resultou na Aliança dos Povos da Floresta e na criação das reservas extrativistas. Ele chama a juventude dessa geração para fazer isso e agir pelo planeta. O que vocês estão fazendo aqui é uma revolução nesses dias. Uma revolução a partir da comunicação, da escrita e oralidade, da vivência. Vocês são as vozes em defesa do território, da identidade cultural, e isso é importante para a comunidade de vocês e para o mundo”, destaca Angela.

Rede Comunic(A)tiva

Com a fala dele, vi que preciso me reconhecer como seringueiro. Eu sou um seringueiro e não vou mais negar isso. Sou um quebrador de castanha, eu amo o que faço”

A Rede Comunic(A)tiva de Jovens, é uma coalizão formada pelo Comitê Chico Mendes em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (STR), a Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes em Xapuri (AMOPREX), o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), a Casa Ninja Amazônia e a Liga de Quadrilhas Juninas do Acre (LIQUAJAC).

O propósito da Rede Comunic(A) tiva de Jovens é criar uma potente rede de fortalecimento mútuo e agendas comuns. “O que se pretende é incidir de forma direta na criação de políticas públicas e aportes financeiros, estabelecendo alianças e conscientização em seus territórios e com a sociedade em geral”, ressalta Karla Martins, do Comitê Chico Mendes. Estão sendo beneficiados com encontros e formações sobre comunicação cerca de cem jovens da Resex Chico Mendes em Xapuri, Brasiléia, Epitaciolândia, Assis Brasil e Sena Madureira e de áreas urbanas desses municípios, além de Rio Branco. V

Revista vozes #1 51 ações em rede
Luiris da Silva Carvalho Karla Martins (da esq. para dir.), Raimundão Mendes, Sabá Marinho e Leide Aquino contaram aos jovens como foi no passado e como tem sido a luta hoje dos mais velhos para manter a Amazônia viva. Foto: Moisés Muálem/WWF-Brasil

A articuladora Tatianny Queiroz no Solar da Beira, com vista para o Mercado Ver-o-Peso, em Belém-PA

Foto: Dalissa Cabral/ Jandyras

daqui, em 2050, desapareci para você

Rede Jandyras evidencia riscos da emergência climática em Belém e mostra urgência de incorporar agenda do clima nas políticas municipais

“d

Por Rede Jandyras

aqui, em 1976, acenei para você”, a frase estampada em uma intervenção artística no Solar da Beira, ponto turístico e histórico da capital paraense, inspirou o conceito da nossa campanha #ForumClimaticoJa, resultando na adaptação “Daqui, em 2050, desapareci para você”. A campanha pelo Fórum Climático foi lançada em julho de 2022, durante a abertura do Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA), e rapidamente foi abraçada por diversas organizações locais que também pautam a temática ambiental. A campanha seguiu para a esfera do advocacy, com o objetivo de apoiar

52 Revista vozes #1 ações em rede

a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) na construção do Fórum.

O objetivo da Campanha Fórum Climático Já é mobilizar a sociedade civil e as autoridades locais para ações urgentes de enfrentamento às mudanças climáticas em Belém e na região Amazônica. A campanha busca sensibilizar a população sobre a gravidade do problema e a necessidade de medidas concretas para mitigar e adaptar-se aos impactos das mudanças climáticas, bem como, envolver diferentes setores da sociedade, como organizações não governamentais, movimentos sociais, universidades, empresas e órgãos públicos, para que juntos possam construir soluções mais efetivas e integradas para o enfrentamento das mudanças climáticas na região de Belém e na Amazônia.

Há diversos estudos com previsões sobre as mudanças climáticas no mundo, que alertam sobre a ameaça do aumento do nível do mar e inundações em diversos territórios. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o nível do mar global pode subir até 1 metro até o final do século XXI, devido ao derretimento das geleiras e à expansão térmica dos oceanos. Além disso, o IPCC também projeta que as mudanças climáticas podem levar a uma mudança nos padrões de chuva em todo o mundo, incluindo a região amazônica, o que pode levar a secas mais frequentes e prolongadas. Todas essas mudanças poderão afetar significativamente as áreas costeiras do país, incluindo Belém do Pará, que corre o risco de desaparecer nos próximos anos.

As mudanças climáticas tem potencial de agravar ainda mais problemas históricos da nossa cidade e a grande urgência em debater e buscar soluções para a crise climática tem reforçado o papel importante de organizações,

Enquanto integrante da Rede Jandyras, acredito que a campanha do Fórum Climático é fundamental para que possamos reivindicar a efetivação desse espaço e ampliar o debate climático no município. Além disso, defendo que a concepção, construção e operacionalização do fórum sejam inclusivas, participativas e protagonizadas pela população belenense. Somente assim, conseguiremos democratizar o acesso a uma pauta tão importante e construir políticas climáticas que considerem a visão e a realidade da população.”

Waleska Queiroz

coletivos e redes que atuam na linha de frente do enfrentamento às mudanças climáticas. Nesse sentido, a Rede de Articuladoras

Ambientais Jandyras, formada por mulheres engajadas na luta pela justiça climática na cidade de Belém e na Amazônia, surge no território como uma forte rede de mobilização local e reivindicação de espaços de participação social na área socioambiental, tendo como um dos principais objetivos o fortalecimento e ampliação da participação das mulheres no debate político sobre questões ambientais e na construção de políticas socioambientais adequadas à realidade da população.

Revista vozes #1 53 ações em rede

Para fortalecer o trabalho e o apoio ao que tem sido desenvolvido no território, a Rede Jandyras se uniu em uma coalizão composta por três outras organizações, incluindo a ONG Mandí, além do Clima de Eleição e do Movimento Moara, que também foram parceiros da Campanha Fórum Climático Já, promovida pelo Programa Vozes pela Ação Climática Justa. Dessa forma, a Coalizão tem desempenhado um papel crucial no desenvolvimento de ações e projetos em Belém e na Amazônia relacionados a mudanças climáticas com recorte interseccional, incidência política, advocacy, participação social, preservação do território e protagonismo de lideranças locais.

A forte mobilização da Rede Jandyras em prol do Fórum Climático tem resultado em avanços significativos, e as ações para a operacionalização do Fórum continuam em andamento. Após conquistar espaço na esfera municipal, a Rede trabalhou em parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Belém na construção da minuta que instituirá o Fórum Municipal de Mudanças Climáticas. No entanto, para garantir uma maior participação da sociedade civil, a Rede Jandyras, com o apoio da ONG Mandí, promoveu em

Jandyras e Mandí com o exsecretário da SEMMA, Sérgio Brazão | Coalizão Jandyras no lançamento da Campanha pelo Fórum Climático, durante o X FOSPA, em Belém-PA. Fotos: Acervo Jandyras.

15 de fevereiro de 2023 a leitura coletiva da minuta. O objetivo da reunião foi colocar em prática a reivindicação da Rede por um processo transparente e participativo desde o início. Organizações da sociedade civil e cidadãos

interessados no tema puderam ler na íntegra o documento, tirar dúvidas, fazer sugestões e propor medidas para estabelecer um Fórum Climático plural, democrático e participativo. V

54 Revista vozes #1 ações em rede

(Des)envolvimento e RESISTÊNCIA POPULAR

Representantes de territórios e movimentos sociais do Maranhão debatem crise climática e resistência coletiva para apoiar criação de Observatório Popular de Política de Sociobiodiversidade e Clima

Resistência e envolvimento popular são pontos chave para enfrentar os impactos do desenvolvimento desenfreado na Amazônia que contribuem diretamente para as mudanças climáticas e o racismo ambiental. No Maranhão, cinco entidades estão se mobilizando para construir processos coletivos de resistência junto a diversas vozes dos territórios, povos e comunidades tradicionais do estado por meio da criação do Observatório Popular de Política de Sociobiodiversidade e Clima do Maranhão.

Para estruturar a iniciativa, a coalizão Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazônia, composta pela Rede de Agroecologia do Maranhão - RAMA, Justiça nos Trilhos, Tijupá, ACESA e GEDMMA, realizou o I Seminário sobre (Des) envolvimento, Mudanças Climáticas e Resistência Popular no Maranhão, em dezembro de 2022. Com representantes de territórios e entidades dos movimentos sociais do campo e da cidade,

o evento teve como objetivo a reflexão sobre as mudanças climáticas que afetam tanto áreas urbanas quanto rurais.

No espaço da CUT, em São Luís, a discussão colocou os grandes projetos desenvolvimentistas, que sempre desconsideram os direitos territoriais e ambientais dos povos e comunidades tradicionais no estado, como principais causadores de conflitos. Em contraposição, são esses povos e comunidades os que mais mantêm o ambiente natural conservado por meio de seu modo de vida tradicional.

Através das diferentes falas e experiências de territórios diversos, o encontro proporcionou a troca de saberes e a reflexão sobre as mudanças climáticas, e reforçou a importância da união de diferentes atores sociais na luta pela preservação do meio ambiente.

Revista vozes #1 55 ações em rede
Por Ingrid Barros, da Rede de Agroecologia do Maranhão – RAMA e Raimundo Alves, da Coalizão Agroecologia para a Proteção das Florestas da Amazônia

As consequências climáticas do capitalismo contemporâneo

Na mesa de abertura, o debate girou em torno da tendência do neoliberalismo em transformar tudo em mercadoria, incluindo a natureza, e como as mudanças climáticas têm impactado diretamente os períodos de produção das comunidades.

Cindia Brustolin, professora da Universidade Federal do Maranhão (Ufma) e pesquisadora do GEDMMA, destacou que o capitalismo nos faz pensar que a natureza e o ser humano são separados. Diante desta crise, estamos entrando em um novo regime climático, onde a natureza é vista como um ator político.

“É necessário mudar a mentalidade de que a natureza é barata e negociável e entender que a Terra é nossa casa comum, o que implica em preservar o meio ambiente e proteger as comunidades que dependem dele”.

O avanço capitalista na Amazônia Maranhense

Em contrapartida ao desenvolvimento desenfreado do agronegócio e empreendimentos, Máxima Pires, liderança da comunidade Rio dos Cachorros, zona rural de São Luís, declarou que sua comunidade não considera a terra como mercadoria e defende o território sagrado porque possui um sentimento de pertencimento e respeito que deve

É necessário mudar a mentalidade de que a natureza é barata e negociável e entender que a Terra é nossa casa comum, o que implica em preservar o meio ambiente e proteger as comunidades que dependem dele”.

ser preservado para as futuras gerações.

Máxima também destacou a importância da união das comunidades na luta contra esses empreendimentos e afirma que é fundamental confiar uns nos outros para conseguir resistir. “A luta pela preservação do meio ambiente e da terra é vital para a vida”.

Horácio Antunes, professor e pesquisador do GEDMMA, afirmou que é necessário mudar o pensamento dos gestores em relação às comunidades tradicionais, que consideram seus modos de vida como algo arcaico, e enfatizou que não podemos enfrentar as mudanças climáticas sem mudar esse pensamento.

Convidadas na mesa de debate
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“Principais formas de resistência e organização frente ao avanço capitalista no Maranhão. Foto: Ingrid Barros - Arquivo Rama 2022 Cindia Brustolin, pesquisadora e professora do GEDMMA

“Não queremos ser extintos. Não só como indivíduos, mas também como forma de organização social, pois ela é a garantia de sobrevivência do planeta. A destruição dos modos de vida é um sinal da destruição do planeta”.

Formas de resistência e organização no Maranhão

Na última mesa, mulheres no foco. Lideranças femininas de comunidades tradicionais, como quebradeiras de coco, quilombolas, indígenas e pescadoras, destacaram como têm resistido à violência, ao racismo e à degradação ambiental em seus territórios.

Convidadas na mesa de debate “Mudanças estruturais e consequências climáticas do capitalismo contemporâneo”.

Um futuro possível

Maria Alaídes, quebradeira de coco e coordenadora geral do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu - MIQCB, relatou como elas conseguiram se organizar e resistir às privatizações e opressões dentro do sistema capitalista. Através da luta política com mobilização em manifestações públicas, da articulação com outros movimentos sociais e da incidência e criação de espaços de diálogo, as quebradeiras conseguiram se fortalecer e criar alternativas de produção, como a cooperativa.

Vanusa Guajajara, indígena da TI Pindaré, de Santa Inês (MA), reflete como a resistência contra a privatização do coco mostra que a organização e a cooperação podem ser importantes para combater os interesses do capitalismo. Além disso, a valorização da espiritualidade e da ancestralidade é um elemento chave para fortalecer a identidade das comunidades e sua relação com a terra.

“Quando vamos à reunião com a Vale e fazemos nosso canto, eles ficam com medo da gente. Eu digo aos nossos parentes que não precisamos de licenças, porque o território é nosso, quem precisa de licença são eles”.

Durante os dois dias de encontro, representantes de comunidades quilombolas e negras urbanas, quebradeiras de coco, extrativistas, pescadores e indígenas apontaram as diferentes formas como sentem as mudanças climáticas em seus territórios e as consequências na qualidade de vida com as mudanças no solo, no ar, nos rios e mares.

As chuvas, cheias e deslizamentos não atingem a todos de forma igualitária. Essas tragédias climáticas afetam principalmente as comunidades negras, tradicionais e indígenas, vítimas de invasões de seus territórios, consumo desenfreado dos bens naturais e do racismo ambiental. Todavia, são essas mesmas populações, a partir dos seus saberes tradicionais, cuidado e manejo com a terra, as possibilidades de um futuro.

O capitalismo fragmenta as lutas e, posteriormente, domina. A “economia verde” é uma forma de usurpação do território. É fundamental ampliar as vozes e encontrar espaços onde a desmoralização não possa afetar-nos. Por fim, é preciso pensar em processos que garantam maior autonomia, especialmente em um Estado que muitas vezes não permite isso. Somente assim talvez possamos alcançar uma justiça climática mais próxima da realidade dos territórios. V

Revista vozes #1 57 ações
Foto: Ingrid Barros
Arquivo Rama 2022
em rede

FAMAZÔNIDA MILITÂNCIA

Engajamentoefortalecimentosdos Movimentos Sociais na defesa da bacia do rioTapajós:ocasodaEscoladeMilitância Socioambiental Amazônida - EMSA

Por Alice de Matos Soares

Lindon Johnson Pontes Portela

Maurício Alves de Sousa

Kamila Mayara Sampaio Souza

Lucidalva Cardoso do Nascimento

Raimundo Carlos Ferreira Alves

(Equipe da Escola de Militância

Socioambiental Amazônida - EMSA e Militantes do Movimento Tapajós Vivo - MTV)

Frente aos problemas de disputas e ameaças do território tapajônico nos últimos anos, como agronegócio, mineração, desmatamento, garimpo, entre outros, percebeu-se a necessidade da criação de um espaço de formação para fortalecer e engajar a militância na região. Assim, inicia a Escola de Militância Socioambiental Amazônida- EMSA.

A EMSA, iniciativa do Movimento Tapajós Vivo - MTV com parceria da Escola de Ativismo, se concretizou em 2022, na coalizão NÓSeducação, comunicação e mobilização popular em defesa das bacias dos rios Juruena e Tapajós, formada pelo Movimento Tapajós VivoMTV, Escola de Ativismo, Tapajós de Fato, Movimento pela Soberania Popular na Mineração -MAM - Coletivo baixo Tapajós/Amazonas e Rede Juruena Vivo.

A EMSA, que faz uso de uma metodologia de ensino popular, propõe uma educação mais horizontal, participativa e democrática, que valoriza o diálogo e a troca de experiências entre as pessoas. Nesse sentido, enfatiza a importância da educação como um processo de construção coletiva do conhecimento e da ação, valorizando os saberes populares e locais e

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incorporando as perspectivas críticas e reflexivas sobre a realidade social e ambiental (FREIRE, 2013).

A escola é resultado de ações e parcerias com sujeitos internos e externos do território da bacia do Tapajós, que se preocupam com o avanço dos grandes projetos já implantados e os que estão em planejamento, desta forma, a EMSA é pensada como uma “ferramenta para fortalecer as lutas dos atores locais através das formações de base”.

A EMSA vem sendo idealizada e sonhada desde 2019 a partir do Encontro das Águas. O encontro reuniu em Santarém-PA movimentos e organizações da bacia do rio Tapajós: Juruena e Teles Pires, com participação também dos rios Madeira, Amazonas e Xingu. NO encontro, debateu-se as ameaças à bacia do Tapajós e vida dos povos da região. Também foram pensadas maneiras de fortalecer a luta pela vida dos povos desta bacia. Assim sendo, nos indicativos das ações conjuntas surgiu a proposta e o comprometimento de formação de base dos militantes destes territórios. Posteriormente no encontro de consolidações das atividades do encontro, em Sinop/MT (2019) foi construída a proposta de uma escola de formação para militância de base da Amazônia. É dentro desse cenário que surge o que vem ser hoje a Escola de Militância Socioambiental Amazônida- EMSA.

A missão da EMSA é: “Oferecer conhecimentos e partilhas de saberes (científicos e conhecimento popular) para fortalecer a consciência crítica e comprometimento dos vários moradores afetados ou ameaçados pelos empreendimentos que destroem o território e os povos da Amazônia e as estratégias da luta conjunta das três bacias do Tapajós”.

A EMSA realizou, no ano de 2022, seis módulos presenciais e dois seminários de forma online, debatendo eixos

A missão da EMSA é: “Oferecer conhecimentos e partilhas de saberes (científicos e conhecimento popular) para fortalecer a consciência crítica e comprometimento dos vários moradores afetados ou ameaçados pelos empreendimentos que destroem o território e os povos da Amazônia e as estratégias da luta conjunta das três bacias do Tapajós”.

formativos, tais como: Sociopolítico, Mobilização e Agitação e Comunicação Popular. Os módulos contaram com a participação de diversos coletivos e organizações sociais urbanas e tradicionais, sempre se atentando à equidade de gênero, e garantindo ainda a diversidade cultural, ampliando o debate de desafios e ferramentas para a nossa resistência.

Nas formações de 2022 foi possível trazer alunos para espaços de grandes debates. Exemplos disso

Revista vozes #1 59 ações em rede
Pirarucu e faixa no Campus da UFPA durante o FOSPA

ocorreram em maio de 2022, com a participação dos alunos na Audiência Pública que visou debater os impactos da contaminação mercurial na bacia do Tapajós e criação do Fórum de Combate à Contaminação de Mercúrio. Para a maioria foi a primeira vez em uma Audiência Pública, assim como a participação em uma ação direta, contouse com a parceria da Escola de Ativismo, Rede Juruena Vivo e Tapajós de Fato.

Previamente houve a divisão em grupos para a participação na Audiência Pública, conseguindo organizar a ação em três etapas: (1) comunicação, usando a divulgação em massa um pouco antes da audiência, assim como uma chamada para dar visibilidade à audiência com fotos e denúncias no local; (2) preparação de falas para audiência e produção de cartazes sempre enfatizando os perigos da contaminação mercurial, a importância do Sistema Único de Saúde - SUS e testagem em massa do nível de mercúrio, bem como ampliação das pesquisas científicas na Bacia do Tapajós; (3) ação de Artivismo para sensibilizar e visibilizar a contaminação de mercúrio.

Uma outra atividade importante foi a participação no X Fórum Social Pan Amazônico - FOSPA em Belém. O objetivo da EMSA no FOSPA era de realizar um intercâmbio e um espaço de formação sobre Comunicação Popular. Para além disso, a coalizão NÓS levou uma roda de conversa para discutir mudanças climáticas e transformações do Território na Bacia do JuruenaTapajós. A participação da coalizão e da EMSA também foi marcada pela presença de um grande pirarucu e faixas na Marcha de abertura do FOSPA. Foi uma experiência muito positiva para os alunos que participaram pela primeira vez do maior fórum internacional pan-amazônico, organizado pelos Movimentos Sociais da Amazônia, tendo a oportunidade de troca e conexão com as Amazônias.

Nesse sentido, Educação popular e ambiental é uma abordagem educativa crítica que tem como objetivo promover a curto prazo a sensibilização e a longo prazo a conscientização para a transformação social por meio da participação ativa das pessoas em sua própria educação e na busca por soluções sustentáveis para os problemas ambientais (GADOTTI, 2016). O primeiro ano da escola de militância foi essencial para experimentar métodos, trocar conhecimentos e fortalecer as organizações e movimentos que resistem no nosso território. Esperamos que esse ano de 2023 possamos alcançar mais pessoas e instigar a luta pelo bem viver de todos. V

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 58. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra: Ecopedagogia e Educação Sustentável. 5. ed. São Paulo: Editora Peirópolis, 2016.

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Roda de Conversa com os Alunos no FOSPA

PROCURAM-SE ativistas

Primeiro prêmio de ativismo do Brasil mapeia e visibiliza ações, incentiva a participação social e mostra as novas caras ativistas do país

quais foram os ativismos mais marcantes de 2021? Assim de cabeça é difícil de dizer, não é? Mas não precisa fritar muito os miolos, porque, desde o ano passado, o Prêmio Megafone de Ativismo está celebrando as principais ações ativistas no país e mapeando colaborativamente grande parte do que aconteceu de mais mobilizador, inovador e inspirador nesse universo do ativismo.

“O Prêmio Megafone vem para contribuir com a visibilidade das ações ativistas, fomentando a prática do ativismo como catalisador de transformação social e o surgimento de novos agentes no ativismo, principalmente jovens e mulheres, no debate e na ação do combate à crise climática e causas relacionadas”, conta Jonaya de Castro, da Coalizão Megafone Ativismo. “A premiação dá legitimidade aos ativismos no contexto atual político, tanto nos centros urbanos como no espaço digital, com foco principal em ativismo socioambiental, mas sem restringir-se somente à ele”, completa. Na primeira edição, em 2022, foram mais

de 700 inscrições de ações ativistas feitas em 2021 em todo o Brasil. Nesta segunda edição, em 2023, o número chegou a 951 inscrições de ações realizadas em 2022. Desses, 70 são indicados como finalistas em 14 categorias de ativismo diferentes. A avaliação é feita por um júri especializado e os inscritos são avaliados por 3 critérios principais:

CRITÉRIOS PRINCIPAIS

Capacidade de informar, mobilizar e inspirar outras pessoas através do ativismo.

Impacto na causa ao qual o ativismo se dirige e no debate público sobre o tema.

Capacidade de transmitir a mensagem de forma criativa e coerente ao tema.

Revista vozes #1 61 ações em rede
Por Coalizão Megafone Ativismo

“O Prêmio Megafone é também uma forma de registrar a história do ativismo em cada ano, por isso para atingir o máximo de ações e regiões do território brasileiro, é permitido que as pessoas inscrevam não apenas uma ação sua ou do seu coletivo, mas também ações que tenham visto ou ficado sabendo e que acham que merecem ser inscritas”, reforça Digo Amazonas, também da Coalizão Megafone. “Toda ação ativista é importante, grande ou pequena, com muitas ou poucas pessoas. Vale tudo!”

OS ATIVISTAS

Entre os premiados deste ano, estão:

• Categoria Ação Direta - Rabetaço em Defesa do Rio Arapiuns, promovido pelo Coletivo Guardiões do Bem Viver.

• Categoria Cartaz - Justiça por Bruno e Dom

• Categoria Perfil de Rede SocialSamela Sateré Mawé

• Categoria Documentário - O Território

• Categoria Megafone do Ano - Txai Suruí

Categoria Prêmio do JúriMarina Silva

Para conhecer todos os indicados de 2022 e 2023 nas 14 categorias, acesse o site e siga as redes do Megafone de Ativismo.

O Prêmio Megafone de Ativismo é uma realização da Coalizão Megafone de Ativismo, formada por Pimp My Carroça, Instituto Socioambiental (ISA), Greenpeace Brasil e Engajamundo.

Além do Prêmio, a Coalizão promove oficinas sobre Emergência Climática; Elaboração de Projetos; Engajamento e Mobilização; e Artivismo. Desenvolve, também, um programa de mini-apoios para a realização de ações ativistas espalhadas pelo Brasil. Veja algumas delas na seção Clima de Arte.

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Infográfico sobre mudanças climáticas e agenda urbana, construído participativamente, vem sendo utilizado por escolas e universidades da região e está disponível para download em 3 línguas

Por Coalizão

Até recentemente, a questão climática era comumente vista apenas como uma questão ambiental, como parte da “agenda verde”. Afinal, os principais problemas das cidades, a chamada “agenda urbana”, eram outros, relacionados ao acesso à terra, à moradia, aos serviços urbanos e outros temas afins.

Com o objetivo de aproximar esses temas e mostrar que as mudanças climáticas precisam compor a agenda urbana, a Rede Interação e a SOMECDH formaram a Coalizão Engajamento Urbano na Agenda Climática: Vozes Amazônicas. Afinal, os impactos das mudanças climáticas se fazem sentir tanto nas áreas rurais quanto nas cidades.

Para deixar essa relação ainda mais evidente, a Coalizão criou um conteúdo que aproximasse as duas realidades, demonstrando que uma série de fenômenos observados em cidades amazônicas têm origem ou estão relacionados às mudanças climáticas.

A partir de um texto base, a Coalizão debateu a questão do clima na agenda urbana com grupos de multiplicadores das quatro comunidades onde está atuando, apoiando processos de organização comunitária, enquanto trabalha o tema das mudanças climáticas: Terra Firme e Cotijuba em Belém - PA, e Maracanã e Maipiri em Santarém - PA.

A partir das visões e realidades destas comunidades foi construído o infográfico Cidades & Clima, disponível em 3 idiomas (português, inglês e espanhol). Com um conteúdo chamativo, claro e objetivo, o material está disponível para escolas e universidades de todo país. V

Revista vozes #1 63 ações em rede
Vozes Amazônicas: Engajamento Urbano nas Mudanças Climáticas

Conheça parte do infográfico e faça o download do material no link.

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CLIMÁTICO

Para se alimentar de conhecimento sobre justiça climática!

O xibé é a mistura de farinha de mandioca com água, pra beber ou pra comer. Também conhecido como Jacuba, é um ícone da riqueza da comida amazônica, presente no dia-a-dia de muitos ribeirinhos, indígenas e extrativistas. Devore este xibé e delicie-se!

PUBLICAÇÃO

Agenda Climática para Belém

A Agenda

Jandyras é uma sistematização de dados, análises e propostas de ações de mitigação e adaptação aos efeitos da crise climática em Belém. O objetivo é fortalecer uma Agenda Climática para Belém que oriente e cobre o poder público a agir nesse sentido. O material pode servir de inspiração para outros municípios.

Baixe aqui

Boletim Fala Juruena

O Boletim Fala Juruena é um podcast da Rede Juruena Vivo, criado coletivamente e feito a várias mãos, trazendo informações, novidades e alertas sobre a sub bacia do Juruena e as perspectivas locais dos sujeitos, que vivem e atuam nessa região, ampliando suas vozes para além dos territórios. No episódio 4, o boletim traz informações sobre as mudanças climáticas, racismo ambiental e justiça climática, e também a percepção de quem vive nos territórios da região sobre como as mudanças climáticas têm sido sentidas e enfrentadas. A Rede Juruena Vivo é parte da Coalizão “NÓS”

Acesse: YouTube Spotify

66 Revista vozes #1
PODCAST

PUBLICAÇÃO

Quem Precisa de Justiça

Climática no Brasil?

A partir de uma série de reflexões, a publicação do Observatório do Clima aponta para a necessidade de compreensão sobre o que a justiça climática realmente significa. Buscando pavimentar o caminho para essa conceituação a partir de perspectivas interseccionais, ouvimos algumas das vozes que protagonizam o tema no país para entender quais são suas cores, raças e etnias, seus caminhos de luta, percursos de vida e atuações, dentre outras perspectivas que, quando analisadas em conjunto, evidenciam as múltiplas realidades e injustiças vividas por essas pessoas.

Conheça mais

PUBLICAÇÃO

PODCAST

RAÍZES

Raízes é um podcast que traz uma cobertura popular do problema mineral na região do baixo TapajosAmazonas.O podcast é uma produção do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM baixo Tapajós-Amazonas), da Coalizão “NÓS”.

Acesse aqui

Um ecossistema de dados na Amazônia: investigações preliminares

Dados são fundamentais para a ação climática e a defesa de direitos — mas quem produz, utiliza e detém esses dados? Para iniciar um debate em torno dessa questão, a Open Knowledge Brasil (OKBR) lança o e-book elaborado em conjunto com organizações parceiras da Coalizão Ecossistema de Dados “Um ecossistema de dados na Amazônia: investigações preliminares”, que pode ser acessado gratuitamente aqui.

Neste mapeamento, buscou-se compreender como coletivos e organizações atuantes na Amazônia brasileira compõem esse “ecossistema de dados”, com diferentes estratégias e práticas de uso, publicação e geração de dados nas agendas socioambientais — com enfoque em mudanças climáticas, proteção territorial e desigualdades.

Revista vozes #1 67

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Revista Vozes pela Ação Climática Justa - Edição 1 by institutointernacionaldeeducacaobr - Issuu