Revista Vozes pela Ação Climática Justa - Edição 4

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Edição 4 • Outubro 2025

ELAS EM REDE: FORTALECIMENTO DE GRUPOS DE MULHERES E AGROECOLOGIA NOS TERRITÓRIOS DE BABAÇUAIS (P. 25)

PROPOSTA DE NDC PARA A COP30 (P. 34)

POVOS INDÍGENAS DA AMAZÔNIA APRESENTAM
VOZES PELO MUNDO: HISTÓRIAS DA BOLÍVIA, PARAGUAI, TUNÍSIA E ZÂMBIA (P. 33)

A Revista Vozes é uma publicação do Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) no Brasil. VAC é uma aliança global idealizada por seis organizações da sociedade civil (WWF, Hivos, Fundación Avina, SouthSouthNorth (SSN), Akina Mama wa Afrika e Shack Dwellers International (SDI)) e financiada pelo Ministério das Relações Exteriores da Holanda.

No Brasil, o Programa é coordenado por Fundación Avina, Hivos, Instituto Internacional de Educação do BrasilIEB, WWF-Brasil e Fundo Casa, tendo apoiado, desde 2021, mais de 120 organizações, movimentos e coletivos, articuladas em 15 coalizões.

www.voicesforjustclimateaction.org

Edição 4

Outubro | 2025

Redação

Adriano Maneo (IEB), Anaís Cordeiro (Comitê Chico Mendes), Andreia Bavaresco (IEB), Angélica Mendes (Comitê Chico Mendes), Amanda Martins (COP das Baixadas), Carlos Pereira (AQK), Cleonice Silva Soares (Grupo de Mulheres Josina’s de Fibra), Conceição Amorim (Centro de Direitos Humanos Padre Josimo), Danielle Almeida de Carvalho (Hivos), Eva Duarte (Avina), Francy Júnior (Movimento das Mulheres Negras da Floresta – Dandara e Ykamiabas Produções), Hannah Lydia (Comitê Chico Mendes), Horácio Antunes de Sant’ana Júnior (UFMA), Jakeline Carvalho Xavier (Hivos), Karim Benchaaban (GDA Tamaghza), João Paulo Serra (Tapajós de Fato), Jonaya Castro (Megafone Ativismo), Lara Vaz (Avina), Lucía Santalices (Instituto Eqüit), Noelia Díaz Esquivel (Revista Emancipa) Paula Moreira (Hivos), Raimundo Alves Silva (Acesa), Ramzi Laamouri (OSAE), Rodrigo Montaldi (Fundo Casa), Rogenir Costa (Avina), Ruth Ferreira (COP das Baixadas), Samela Bonfim (Coalizão Vozes do Tapajós), Sarah Tamiosos (Associação Onça D’água), Valdeniza Vasques (Coiab) e Vanessa Cristina Neco (Acesa).

COLABORADORES

Bruna Bastos (Estúdio Jambo), Dânia Silva Baré (COIAB), Eduarda Batista (Rede Jandyras), Graciela Rodriguez (Instituto Eqüit), Haydee Svab (Open Knowledge Brasil), Isabela Callegari (Instituto Eqüit), João Paulo Serra (Tapajós de Fato), Jonaya Castro (Megafone Ativismo), Kayo Moura (Decodifica & Gaia), Laura Torres (Decodifica & Gaia), Livia Santos (Decodifica & Gaia), Luísa Arancibia Arce (WWF-BO), Marcos Wesley (Tapajós de Fato), Moni Bareiro (Revista Emancipa), Nanci Darcolléte (Pimp my Carroça), Reg Coimbra (Estúdio Jambo), Trícia Oliveira (WWF-BR), Sayonara Malta (Casa Preta Amazônia).

Conselho Editorial

Adriano Maneo (IEB), Danielle Almeida de Carvalho (Hivos), Eva Duarte (Avina), Paula Moreira (Hivos), Rodrigo Montaldi (Fundo Casa), Rogenir Costa (Avina) e Trícia Oliveira (WWF-BR)

Edição

Adriano Maneo (IEB)

Revisão

Adriano Maneo (IEB), Danielle Almeida (Hivos), Eva Duarte (Avina), Jakeline Xavier (Hivos), Paula Moreira (Hivos), Rogenir Costa (Avina) e Trícia Oliveira (WWF-BR).

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO jamboestudio.com

iLUSTRAÇÃO

Bruna Bastos (@brunenha), Reg Coimbra (@regcoimbra_), Rafael Melgueiro e Renata Segtowick (@enataseg.art)

Fotografia

Adriano Maneo, C. Durigan, ORE, Acervo Projeto Saúde e Alegria, Arquivo CPT Acre, Arquivo Coalizão, Jean Costa - Ookami Films, Leonor de Blas, Sarah Tamioso, Vozes do Tocantins e Pulsar imagem.

editorial

Bem vindes, leitoras e leitores queridos. Estamos chegando ao final desta jornada ao seu lado. Com esta quarta edição da Revista Vozes pela Ação Climática Justa caminhamos para o final desta bonita trajetória do programa VAC no Brasil. Nos despedimos, mas com o coração quente, certas e certos de que as bases levantadas ao longo dos cinco anos de programa estão sólidas.

Como um pequeno afluente, nosso movimento foi crescendo, confluindo com outras águas, ganhando corpo e se tornando um grande e belo rio que deságua em um mar de soluções, inovações e conexões que cada uma das mais de 120 organizações apoiadas oferecem para o mundo. São propostas e ações que podem até não impedir o curso das Mudanças Climáticas, mas que contribuem para que seus efeitos sejam menos injustos e desiguais.

É a tal da Justiça Climática, que esta revista buscou tornar conhecida e reconhecida. Justiça Climática nos lembra que as Mudanças Climáticas têm responsáveis principais, e que não são eles os mais impactados por seus efeitos. Ela nos faz entender que justamente as populações que menos contribuem para o problema e que mais oferecem soluções para mitigá-lo e para nos adaptarmos, são as mais afetadas e vulnerabilizadas nesta emergência que vivemos.

As vozes dessas pessoas precisam ocupar os espaços de decisão, cada vez mais. Precisam ser escutadas em todos os canais disponíveis. Precisam ganhar o mundo. A Revista Vozes foi uma humilde contribuição para a construção dessa narrativa, que precisa atravessar pessoas e fronteiras e fazer parte do nosso cotidiano.

Ao longo destas quatro edições construídas coletivamente, reunimos uma enorme diversidade de vozes e visões de mundo. Publicamos 80 histórias e 18 artigos de opinião, de 80 autoras e autores. Essas contribuições vieram de toda a Amazônia e também de parceiras e parceiros de outros territórios do Brasil e do mundo. De nossos aliados de outros cantos do Sul Global, recebemos histórias e artigos de 5 países para a seção Vozes pelo Mundo. Na seção Clima de Arte também trouxemos 24 iniciativas de artivismo. São ações que juntam a arte e o ativismo, tocando pessoas e alcançando lugares que somente a arte é capaz. No Xibé Climático, nosso espaço para se alimentar de conteúdo climático, divulgamos 28 iniciativas e materiais.

Tudo isso esteve disponível em português, mas também em inglês, garantindo que as vozes ecoassem para além-mar, conscientes de que este movimento precisa ser global. Foram 3700 revistas impressas distribuídas pelo planeta, e mais de 4000 leituras online, de 37 países.

A poucos dias da COP 30 - a primeira COP amazônica da história e uma das mais importantes e decisivas dos últimos tempos - convidamos vocês a mergulhar nesta nossa edição final. Mas, não só: contamos com vocês para que o alcance de nossas histórias seja muito maior do que esses números apresentados. Afinal, eles podem se multiplicar por meio das suas vozes, ecoando o trabalho fundamental realizado por cada uma das organizações de VAC e a importância de seguirmos lutando, sempre, por Justiça Climática.

Obrigada/o/e, de coração,

Time Regional VAC Brasil

NESTA EDIÇÃO

INSTITUCIONAL

Soluções que nascem do território

Por Time Regional VAC Brasil

AÇÕES EM REDE

Fundo emergencial VAC Brasil

Por Fundo Casa e Time Regional VAC Brasil

AÇÕES EM REDE

Da proa da canoa

Por Por João Paulo Serra - Tapajós de Fato e Coalizão Rádio Banzeiro

AÇÕES EM REDE

Rede de reporteres comunitários

Por Samela Bonfim - Coalizão Vozes do Tapajós

AÇÕES EM REDE

Elas em rede

Por Cleonice Soares, Raimundo Silva, Vanessa Cristina Neco e Horácio Júnior

4 14 20 22 25 30 34 38 42 44 47

AÇÕES EM REDE

Contas Climáticas e seus enfrentamentos

por mulheres do Sul Global

Por Hivos Brasil, TdF, Jandyras, COIAB, Casa Preta, Equit, Pimp my Carroça, Decodifica & Gaia e Open Knowledge

VOZES PELO MUNDO

NDC Indígena

Por Valdeniza Vasques - Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab)

Da dor à esperança

Por Noelia Díaz Esquivel / Revista Emancipa e Time VAC Paraguai

Comunidades Ayoreo na Bolívia retomam o controle sobre suas florestas

Por VAC Bolívia

Zâmbia, um microcosmo do futuro

Por Zâmbia e South South North

Raízes Cruzadas

Por IEB, VAC Brasil, Associação Quilombo Kalunga, GDA Tamaghza e OSAE

51 55 58 60 63 69

AÇÕES EM REDE

Juventude da Amazônia

protagoniza a 3ª COP das Baixadas, em Belém do Pará

Por Amanda Martins e Ruth Ferreira, COP das Baixadas

AÇÕES EM REDE

A rede ComunicAtiva de Jovens flui

Por Hannah Lydia, Angélica Mendes e Anaís Cordeiro, do Comitê Chico Mendes e Coalizão Rede Comunic(A) tiva de Jovens

AÇÕES EM REDE / CLIMA DE ARTE

Entre a fúria e o medo: a crise climática e a resistência performática na Cidade de Manaus/Amazonas.

Por Francy Júnior

AÇÕES EM REDE

Mutirão Esperançar: A transformação floresce na Ocupação Vila

Nova Conquista Por Conceição Amorim

OPINIÃO / CLIMA DE ARTE

Aonde a monocultura não pode-nos levar: um ensaio sobre as relações entre arte e clima

Por Lucía Santalices, Instituto Eqüit e Coalizão Na Piracema das Mudanças Climáticas

CLIMA DE ARTE

Iniciativas de artivismo para sensibilizar política e socialmente.

Por Time Regional VAC Brasil

72 76 78 83 86

OPINIÃO

Tempos de emergência

exigem respostas com raízes

Por Eva Duarte, Lara Vaz e Rogenir Costa, Programa de Biomas da Fundación Avina

AÇÕES EM REDE

O Valor da Memória - Por que registrar o ativismo importa

Por Jonaya Castro, Coalizão Megafone Ativismo

AÇÕES EM REDE

Cuida! - Juventudes amazônidas encerram formação em incidência climática durante Semana Chico Mendes

Por Time Regional VAC Brasil

AÇÕES EM REDE

Vozes do Tocantins: A Coalizão que fortalece a luta por Justiça Climática no coração do Brasil

Por Sarah Tamioso, da Associação Onça D’Água e da Coalizão Vozes do Tocantins

XIBÉ CLIMÁTICO

Para se alimentar de conhecimento sobre justiça climática

Por Time Regional VAC Brasil

SOLUÇÕES QUE NASCEM DO TERRITÓRIO

Cinco anos fortalecendo vozes locais e soluções no enfrentamento à crise climática: o impacto do programa VAC na agenda climática do Brasil e do mundo

Por Time Regional VAC Brasil

Semeando ações por Justiça Climática desde 2021, o Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) vai chegando ao final, enquanto projeto. Foram cinco anos apoiando o posicionamento das vozes locais da Amazônia Legal na agenda climática, chamando a atenção para a proteção da floresta amazônica, de forma sistêmica, considerando os saberes e vivências de povos e comunidades tradicionais como soluções vitais para a resiliência climática de toda a humanidade.

A primeira lição que aprendemos, a partir das vivências no coletivo, foi de que a proteção e a regularização dos territórios de povos e comunidades tradicionais é uma das principais soluções climáticas. Sem isso, é impossível viabilizar qualquer outra solução climática, por mais viável que possa vir a parecer, uma vez que são justamente esses territórios, que se mantidos conservados, seguem prestando um serviço climático essencial. Um serviço altruísta, que não beneficia apenas estes povos, mas toda

a humanidade, considerando o potencial que a Amazônia em pé representa para o mundo.

“Na preparação das ações de VAC no Brasil, identificamos que a maioria das organizações que atuavam na região amazônica não posicionavam suas ações no campo de ações climáticas. Com o trabalho que foi desenvolvido pelo programa, hoje as organizações se reconhecem como protagonistas desse processo de soluções climáticas e liderança de uma pauta que está diretamente voltada a gerar resiliência climática a partir de ações que acontecem no dia-a-dia dos territórios”, relembra Rogenir Costa, coordenadora do programa pela Fundación Avina.

Logo no início das atividades de VAC, a voz de uma jovem mulher indígena brasileira fez-se ecoar globalmente, chamando a atenção do mundo para seu apelo por ação climática urgente e imediata, criticando promessas vazias e destacando a importância de os povos indígenas estarem no centro das decisões relacionadas à proteção do meio ambiente e às mudanças climáticas. Na abertura da COP 26, em Glasgow, na Escócia, Txai Suruí ressaltou que os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática e, por isso, devem ter um papel central nas decisões que afetam o planeta, questionando a ausência deles nas tomadas de decisão, apesar de serem os mais afetados pela crise.

“Me orgulho muito de ver os meus participando de espaços importantes, indo pra COP, conquistando seus lugares, organizações que foram formalizadas recebendo o primeiro recurso com VAC mas que já estão captando outros recursos. (...)Com esse movimento, a gente tem a Amazônia protagonizando a própria história”

“Não estou falando que VAC mudou só a minha realidade, mas de um território inteiro, porque hoje a gente consegue alcançar muito mais gente. Hoje a nossa voz está muito amplificada”

Angélica Mendes, uma das coordenadoras do VAC pela WWF-Brasil
Ruth Ferreira, da COP das Baixadas

“Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza. Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo. Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis”, alertou Txai. “É necessário sempre acreditar que o sonho é possível. Que a nossa utopia seja um futuro na Terra”, concluiu.

Durante os últimos anos, mais de 120 organizações, coletivos, ONGs e redes participaram do programa e estiveram à frente de ações que demonstraram, na prática, que o desenvolvimento de soluções climáticas na Amazônia só é possível quando nascem dos próprios territórios. A resposta à crise climática está nos territórios e precisa ser protagonizada por quem tem propriedade para isso. É preciso fomentar e garantir a participação qualificada de Amazônidas em espaços de tomada de decisão local, estadual, nacional e internacional.

Para Angélica Mendes, que foi coordenadora de VAC pela WWF-Brasil durante a maior parte do programa, a ocupação desses espaços é uma grande conquista de VAC.

“Me orgulho muito de ver os meus participando de espaços importantes, indo pra COP, conquistando seus lugares, organizações que foram formalizadas recebendo o primeiro recurso com VAC mas que já estão captando outros recursos. Então acho que me orgulho de ver cada vez mais esse tecido social, essa organização da sociedade civil amazônica se fazendo presente nesses espaços porque a gente vem de um histórico de que o Brasil inteiro fala sobre a Amazônia mas não está lá dentro. Com esse movimento, a gente tem a Amazônia protagonizando a própria história”, reflete.

Ruth Ferreira, da COP das Baixadas, é uma dessas vozes, que da periferia de Belém pode levar sua voz para o mundo.

“Não estou falando que VAC mudou só a minha realidade, mas de um território inteiro, porque hoje a gente consegue alcançar muito mais gente. Hoje a nossa voz está muito amplificada”, comemora. A comunicação foi peça central das ações de muitas dessas organizações, uma comunicação popular que mostra desafios, que reivindica, que apoia a incidência, mas que acima de tudo mobiliza, engaja e gera esperança. A construção de narrativas vindas do território mostrou a Amazônia brasileira em toda a sua diversidade: contextos de periferias urbanas, das juventudes, das mulheres e das diversas comunidades extrativistas, indígenas, quilombolas e ribeirinhas.

Uma história que foi construída e contada de nós, para nós. Um desses vários exemplos é o podcast Raízes.

“Por meio de VAC e da Coalizão NÓS, nós criamos, no Baixo Amazonas, o coletivo de comunicação popular Raízes, um podcast que aborda as temáticas voltadas à mineração dentro do território com uma linguagem popular, com uma linguagem local, para que as pessoas que estão na cidade de Santarém e Juruti entendam, mas principalmente os moradores das comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas ribeirinhas entendam o que a gente está falando na questão mineral’, explica Alan Hills, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração - MAM.

Outro grande aprendizado, foi que o que pode ser considerado recursos pequenos para grandes instituições, para essas organizações foi o impulso necessário para realizar transformações lideradas localmente. Os exemplos são inúmeros: construir instrumentos políticos de governança territorial; fortalecer o desenvolvimento de novas habilidades em jovens, mulheres e lideranças; criar fóruns municipais para debates climáticos; implementar soluções

baseadas na natureza em territórios onde falta água para a agricultura familiar; recuperar, documentar e valorizar saberes tradicionais sobre os modos de vida; criar redes de juventudes indígenas e extrativistas para proteção do território; ampliar o acesso à espaços de tomada de decisão, entre tantas outras ações.

Paula Moreira, gerente de engajamento do programa pela Hivos Brasil, reforça esse ponto e lembra do desafio de promover soluções realmente lideradas localmente.

“Foi muito desafiador no início, mas a gente aprendeu junto a respeitar o ritmo das organizações locais que às vezes nem sequer tinham CNPJ. E os princípios do programa foram fortalecer a liderança local e implementar o modelo de gerenciamento adaptativo às demandas locais, então quem ditava as regras e o ritmo eram as organizações locais. Foi também um processo de aprendizado institucional, do local ao global”, diz.

Encerramos o programa com a certeza de que, quando a semente é lançada em solo fértil, ela floresce e dá frutos em abundância. E abundância é uma habilidade ancestral das populações amazônicas. O VAC não foi apenas um projeto. Foi um campo de experimentação de um novo paradigma de apoio: aquele que reconhece o protagonismo local não como algo complementar, mas como o centro da mudança, a gestão compartilhada, o respeito aos tempos e saberes dos territórios, e o investimento direto em organizações pequenas - muitas delas lideradas por mulheres, jovens e lideranças tradicionais. V

ao menos 5 organizações receberam recursos pela primeira vez 15 89 8

coalizões organizadas 142

MAIS DE 3 MIL VAGAS EM FORMAÇÕES MULHERES 1.250

soluções climáticas fortalecidas políticas municipais, estaduais e/ou nacionais influenciadas

MAIS DE JOVENS 11 MIL

MAIS DE

AMAZÔNIA LEGAL BRASILEIRA organizações apoiadas em espaços internacionais sobre clima 50 participações produtos de comunicação 5.000 atingindo 6 milhões de visualizações/leituras/ acessos de 4500 territórios tradicionais em 450 municípios em todos os estados da Amazônia Legal beneficiários indiretos 850 MIL

MAIS DE JOVENS 1.690 MAIS DE

MAIS DE MULHERES 13 MIL beneficiários diretos 25 MIL processos formativos apoiados mobilizações em pautas de incidência climática, do nível local ao global. 330 120

Maranhão
Pará
Amapá
Roraima
Acre
Rondônia
Mato Grosso
Tocantins

Comitê Chico Mendes

rede

Fundo Casa

Avina

WWF Brasil

Hivos

IEB

Observatório do Marajó

IEB

Malungu

Colônia de Pescadores e Pescadoras de Araguacema

Ass. Indígena Pyka Mex (Apinajé)

Ass Quilombola Kalunga do Mimoso Tocantins (AKMT)

Centro de Trabalho Indigenista (CTI)

COOPTER

Ass. Onça D´Água

vozes do tocantins

Colônia de Pescadores e Pescadoras de Araguacema Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN)

Fortalecimento do ecossistema de dados e inovação cívica na Amazônia Brasileira

Coletivo Varadouro

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (STR)

Casa Ninja Amazônia

Conselho Nacional das populações Extrativistas (CNS)

AMOPREX Rede comunic(A)tiva de jovens

Liga de quadrilhas Juninas do Acre (LIQUAJAC)

Mandí

Clima de Política

Coletivo Miri Rede Jandyras

Ass. Cultural Kyjre (Povo Krahô)

Ass. Wyty Catè (Povos Timbira)

Ass. de Mulheres do Cantão

Ass. Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores de Mateiros – Jalapão

advocacy dos povos indígenas pela justiça climática

APUAMA

COIAB

APOIANP

FOCIMP

FOIRN

UMIAB

OPIROMA

Casa Preta

Open Knowledge Brasil

InfoAmazonia

INDIA/Coletivo Puraqué

ARPIT

FEPIPA CIR

COAPIMA

FEPOIMT

Movimento de Pimpadores (Pimp my Carroça)

megafone ativismo

Engajamundo

Instituto Socioambiental

Sumaúma Jornalismo

AIHHUAM

Guardiões do Bem Viver bambuim Tapajós de Fato

FEAGLE

NÓS - Educação, comunicação e mobilização popular em defesa das bacias dos rios Juruena e Tapajós

FPMM (Fórum Permanente de Mulheres de Manaus)

Dandara

na piracema das mudanças climáticas

Floresta ativista amazônia

PSA - Projeto Saúde e Alegria

Escola de Ativismo

Movimento

Tapajós Vivo - MTV

Coletivo Tapajós de Fato

Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade - ANMIGA

Mídia Ninja Conselho Nacional das populações Extrativistas (CNS)

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR)

vozes do tapajós combatendo as mudanças climáticas

Movimento pela Soberania Popular na Mineração - MAM

Rede Juruena Vivo

Instituto Equit

Coletivo de Mulheres do Xingu

Coletivo Maravaia

CPCDDH Padre Josimo

Agroecologia para a Proteção das Florestas da Amazônia

Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA)

Sociedade para Pesquisa e Proteção do Meio Ambiente (SAPOPEMA)

Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós

Conselho Indígena Tupinambá (CITUPI)

Coletivo Audiovisual Munduruku Daje Kapap Eypi

Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura (ACESA)

Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA)

Associação Justiça dos Trilhos

Associação Agroecológica Tijupá

Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA)

OUTROS APOIOS ESTRATÉGICOS DE VAC

Gueto Hub • COP das Baixadas • LACIGS+ Liga Acadêmica de Cuidados Integrais a Diversidade Sexual e de Gênero • Na Cuia Produtora • Kanindé • Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes dos Quilombos do Pará (MALUNGU) • Abayomi - Grupo de Juventude Negra Quilombola de Salvaterra • Associação das Mulheres Indígenas do Rio Negro em Manaus - NUMIÂ KURA (AMARN) • Instituto Democracia e Sociedade (IDS) • GT Infra pelo Movimento Tapajós Vivo (MTV) • GTA pelo Instituto Madeira Vivo (IMV) • Mulheres Negras Decidem (MND) • UMIAB - União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Amazônia Legal) • Instituto TJNS - Todos Juntos Ninguém Sozinho (Petropólis) • Guerreiras da Floresta da Terra Indígena Caru (MA) • LabJaca (RJ) • Youth Climate Leaders

Apoios na Chamada Pública Defensores ambientais:

Vozes pela ação climática

1. Associação das Famílias da Transamazônica e Xingu (AFATRAX)

2. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST-Roraima

3. Associação de Educação Socioambiental do Tapajós – AESTA (Tapajós Vivo)

4. Emaranhadas - Maranhão

5. Rede Cuira – Jovens Protagonistas dos Manguezais Amazônicos e Associação de Usuários da Reserva Extrativista Marinha Chocoaré Mato Grosso - AUREM/C-MG

6. PALMARES LABORATÓRIO AÇÃO

7. Colônia de Pescadores Z-03 de Oiapoque

8. Organização das Aldeias Marubo do Rio Ituí - OAMI

9. Grupo Quilombando E Semeando Arte - Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura - ACESA

10. Coletivo de Juventude Guardiões do Bem Viver - Sociedade Para Pesquisa E Proteção Do Meio Ambiente -Sapopema

11. Rede de Mulheres das Águas e das Florestas- REMAF

12. Movimento dos Atingidos por Barragens - Associação de Educação e Cultura Agroecológica Zumbis – AECAZ

13. Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais do PDS Brasília – AMTRAB

14. Instituto de Formação Juvenil do Maranhão

15. Associação da Comunidade Quilombola e Indígena Gibirié de São Lourenço

16. Rede dos Povos e Comunidades Tradicionais de Rondônia - Comissão Pastoral da Terra Regional Rondônia

17. Associação dos Povos Indígenas do Rio Aneba - APIRA

18. Coletivo Pororoka - Instituto Teko Pora Amazônia

Apoios emergência climática

1. Comissão Pastoral da Terra - Acre

2. Associação de Seringueiros, Produtores e Artesãos Kaxinawá de Nova Olinda-ASPAKNO

3. Organização das Lideranças Indígenas Mura de Careiro da VárzeaOLIMCV

4. Associação Sóciocultural Yawanawa ASCY

5. Associação Brasileira de Juristas pela Democracia - ABJD

6. Associação de Moradores Agroextrativistas do Lago do Capanã GrandeAMALCG

7. Organização do Povo Indígenas Tenharin do Igarapé – Preto – APITIPREOrganização dos Povos Indígenas do Alto Madeira

8. ASSOCIACAO DO POVO PARINTINTIN DA TERRA INDIGENA IPIXUNAAPPTI

9. Rede de Trabalho Amazonico - GTA - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Amazônico - IPDA

10. Centro de Estudos Avançados de Promoção Social e Ambiental

Apoios na Carta Convite Agenda Climática e Soluções Locais

1. Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós

2. Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande

3. Megafone Ativismo - Movimento de Pimpadores (Pimp My Carroça)

4. Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática - Associação Onça D’água

5. Rede Jandyras - Associação Coletivo ParáCiclo

6. Coalizão Floresta Ativista Amazônia - Associação Coletivo Cultural

7. Tapajós de Fato

8. Coletivo Mirí - ASSOCIACAO CULTURAL SOCIAL DA ETNIA QUILOMBOLA PERPETUAR - ACSEQP

9. Rede de Agroecologia do Maranhão (Rama) - Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura - ACESA

10. Coletivo Varadouro - Comitê Chico Mendes

11. Coletivo de Mulheres Pretas Marias - Coordenação das Associações Remanescente de Quilombos do Pará - MALUNGU

12. COP das Baixadas - Associação Perifaconnection

13. Centro de Promoção da Cidadania e Defesa dos Direitos Humanos Pe Josimo

Apoios a defensores de direitos humanos emergenciais de segurança e proteção

• 22 apoios

• 18 para pessoas físicas*

• 4 apoios a pessoas jurídicas

• Associação Folclórica de Bumba Meu Boi dFlor do Brasil do Quilombo Onça

• Associação Indígena Ka’a Iwar Federação das Organizações Quilombolas de Santarém-FOQS

• Sindicato dos Trabalhadores Trabalhadoras Rurais de Timbiras

*Por motivo de segurança, os apoios individuais não serão mencionados

FUNDO EMERGENCIAL VAC BRASIL

Mecanismo de financiamento rápido, flexível e orientado localmente apoia a resiliência e resposta a emergências climáticas, e a proteção de defensores ambientais.

Por Rodrigo Montaldi Morales, gestor de programas do Fundo Casa e do Time Regional VAC Brasil

oprograma Vozes Pela Ação Climática Justa (VAC) no Brasil tem desempenhado um papel fundamental no fortalecimento das representações da sociedade civil amazônica na tomada de decisões locais, regionais e globais sobre a agenda climática. O objetivo estratégico do Programa VAC é fortalecer diversos grupos e setores da sociedade civil local a assumirem um papel central como inovadores, facilitadores e defensores de soluções climáticas justas até 2025.

Como parte da estratégia para consolidar tal objetivo, a Aliança VAC Global, que opera em sete países (Brasil, Bolívia, Paraguai, Indonésia, Quênia, Tunísia e Zâmbia), criou o Next Level Grant Facility (NLGF), sigla para denominar o Fundo Emergencial VAC. Tal fundo busca capacitar organizações de base, ativistas e comunidades vulneráveis, fornecendo mecanismos

Foto: Acervo Projeto Saúde e Alegria

de financiamento rápidos, flexíveis e orientados localmente para apoiar a resiliência e resposta a emergências climáticas, bem como a defesa e proteção para defensores(as) ambientais em riscos e ameaças.

Lançado em 2024 e com um orçamento total de € 3,5 milhões aplicado nos sete países, o NLGF (Fundo Emergencial VAC) é gerido regionalmente por fundos locais que por entenderem os contextos específicos de cada país, conseguem ser mais ágeis e flexíveis com o financiamento das organizações locais e comunidades. No Brasil, o Fundo Emergencial VAC é gerido pelo Fundo Casa Socioambiental. Prestes a completar 20 anos de atuação, o Fundo Casa possui uma larga experiência em ser uma ponte crucial entre recursos financeiros, fortalecimento de capacidades e as comunidades que lideram a

ações em rede

preservação e a promoção da justiça socioambiental e climática no Brasil, demonstrando que soluções locais têm o poder de gerar mudanças globais.

A aproximação do Fundo Casa com a Aliança VAC Brasil ocorre por conta dessa longa experiência de apoio que o Casa tem, mas também devido ao Programa de Apoio a Defensoras e Defensores de Meio Ambiente e Justiça Climática e ao “Fundo de Resposta Rápida”. Esse programa, existente desde 2019, já destinou aproximadamente R$ 4,3 milhões para mais de 330 apoios emergenciais a indivíduos e coletivos em risco e ameaçados por conta de suas atividades de proteção dos biomas e dos direitos coletivos.

Ao todo, o Fundo Casa vem gerenciando através do Fundo Emergencial VAC, R$ 2,5 milhões em doações diretas para organizações, ativistas e comunidades da Amazônia Legal durante os anos de 2024 e 2025.

Pelo Eixo 1 (Fundo Emergencial de Resposta Rápida) foram realizados 22 apoios para ativistas e coletivos de defensores(as) de direitos humanos e meio ambiente em situação de risco e ameaça com foco em ações de proteção da vida, integridade física e de segurança, bem como em ações de proteção jurídica. Desse total, 41% dos(as) ativistas apoiados(as) (apoio à pessoa física) se declararam ser pessoas do gênero masculino e 41% do gênero feminino, enquanto 18% dos apoios foram para coletivos e organizações jurídicas.

Ainda no escopo dos 22 apoios emergenciais de resposta rápida, 41% foram realizados para pessoas que se declaram pretas, 32% para pessoas indígenas, 18% para pessoas pardas, 4% para pessoas que se declaram brancas e 5% para coletivos e organizações que não se declararam sobre essa informação.

Esses apoios acontecem em três eixos estratégicos, sendo eles:

Eixo 1

Fundo Emergencial de Resposta Rápida (via demanda espontânea)

Foco: Apoiar emergencialmente defensores(as) de direitos humanos e meio ambiente (ativistas e coletivos) afetados pela emergência climática em contexto de urgência/ emergência que estejam sofrendo violações de direitos humanos fruto de sua atuação socioambiental.

Eixo 2

Chamada de Projetos para organizações que atuam na agenda de defensores(as) ambientais (via processo seletivo de projetos - edital público)

Foco: Fortalecer organizações e redes de apoio que atuam com defensores(as) de direitos humanos em assuntos ambientais afetados pela emergência climática nas seguintes linhas de apoio: i) Acesso aos espaços de tomada de decisão; ii) Geração de evidências; iii) Campanhas de comunicação e conscientização; iv) Capacitação, desenvolvimento e fortalecimento de capacidades; e v) Proteção jurídica.

Eixo 3

Carta Convite para organizações que atuam com ações de soluções locais e no fortalecimento da agenda climática (via carta convite direcionada para organizações das Coalizões VAC Brasil)

Foco: Fortalecer ações em andamento voltadas para soluções climáticas locais em territórios severamente impactados por mudanças climáticas (secas intensas e inundações severas), bem como ações em andamento para o fortalecimento da agenda climática com foco na incidência, participação em espaços de tomada de decisão, geração de evidências e produção de conhecimento. Além disso, incluía também campanhas e comunicação; capacitação, desenvolvimento e fortalecimento de capacidades; e proteção jurídica.

Povos indígenas representam 32% dos beneficiários dos apoios realizados, 27% foram para quilombolas, 23% para agricultores(as), 14% extrativistas e 4% ativistas LGBTQIAP+. O Pará foi o Estado que mais recebeu apoios nessa modalidade, representando 64% dos repasses, seguido do Maranhão (23%), Amazonas (9%) e Tocantins (4%).

As ações nessa modalidade de defensores(as) ambientais ameaçados(as) ou em risco envolveram atividades apoiadas para segurança pessoal e comunitária, gastos com comunicação, gastos com deslocamentos, realocação temporária, realocação definitiva, transportes, gastos médicos, saúde física e mental e outras formas alternativas de autocuidado e cuidado coletivo, assim como gastos com assistência e proteção jurídica.

Como os apoios nessa modalidade se voltam a temas sensíveis e que necessitam do anonimato das pessoas e coletivos apoiados, por questões de segurança, abaixo seguem alguns relatos dos apoiados sem citar a autoria:

“O apoio cumpriu a finalidade de instalação do sistema de segurança na casa da defensora e nos demais lotes do Assentamento, mas também um acompanhamento jurídico da defensora sobre sua atual situação de risco e ameaça”.

“O apoio foi relevante, pois possibilitou ter acesso a comunicação de forma rápida. Além de me ajudar no diálogo com meus parentes que estão em outra cidade, também possibilitou que, em caso de necessidade, possa fazer contato com os parceiros e órgãos responsáveis pela minha segurança”.

“O apoio me ajudou financeiramente, mas também teve uma influência direta em minha segurança pessoal e na minha saúde mental. Embora ainda continue com sensação de perigo e com estresse pós-traumático, o sentimento de solidariedade e de preocupação vindos de aliados e aliadas, refletiu no meu dia a dia e no meu trabalho”.

“O apoio recebido para o pagamento de aluguel durante o período que precisei ficar realocado em outra cidade foi essencial para garantir minha segurança pessoal. Atuando sozinho, o risco de exposição às ameaças era ainda maior. Esse recurso permitiu me realocar temporariamente em um local mais seguro. Isso foi fundamental para reduzir o estresse e me afastar de situações de risco imediato,

Gênero perfil dos apoados • eixo 1

Fundo Emergencial de Resposta Rápida

Raça / Cor

Declaração pessoa / Coletivo apoiado

Feminino Masculino
Coletivo

garantindo um espaço protegido onde pude me recuperar e planejar minhas próximas ações com mais tranquilidade. Sem esse apoio, seria muito mais difícil manter o foco no meu trabalho, pois a insegurança seria uma constante preocupação”.

Ainda no Eixo 1 (Fundo Emergencial de Resposta Rápida) foram realizados 10 apoios de enfrentamento às respostas emergenciais em catástrofes climáticas. Esses foram apoios emergenciais realizados após eventos extremos (secas intensas e inundações severas), como as secas intensas que aconteceram no Pará em 2024 e no Amazonas em 2025, bem como as inundações severas que aconteceram no Acre em 2024 e no Amazonas em 2025.

Segundo Aldeni de Matos, da Associação de Seringueiros, Produtores e Artesãos Kaxinawá de Nova Olinda, no Acre, o apoio emergencial que receberam “contribuiu na sustentabilidade de alimentação para as famílias enquanto trabalharam na recuperação de suas produções agrícolas, tendo em vista que a produção é a fonte de suas alimentações e sustentabilidades de geração de renda econômica. E com os equipamentos adquiridos, o território está sendo monitorado, evitando a invasão dos não indígenas”.

Nessa modalidade de respostas às emergências climáticas foram apoiados:

• Adequação de infraestrutura com instalações de tecnologias como GPS e rádios comunicadores para monitoramento e alerta sobre o nível dos rios (sala de situação e risco na comunidade);

• Reestruturação, recuperação estrutural e reforma de casas e sedes de organizações atingidas por inundações severas;

Reconstrução e manutenção da infraestrutura de logística e acesso em estradas e pontes que conectam os territórios atingidos, restabelecendo o deslocamento, o acesso a direitos e serviços básicos, bem como à circulação de alimentos, medicamentos e ajuda humanitária;

• Ações emergenciais para promover o acesso à água potável em comunidades afetadas pela seca extrema por meio da distribuição de filtros de nanotecnologia;

Por estado

E ações de conscientização da população para boas práticas com o meio ambiente através da educação ambiental buscando minimizar os impactos das catástrofes climáticas ao modo de vida das populações atingidas.

Pelo Eixo 2 (chamada de projetos para fortalecimento de organizações e redes de apoios que atuam na agenda de defensores/as ambientais afetados/as pela emergência climática), foi realizado, em maio de 2024, um processo seletivo de projetos via chamada/edital público O objetivo foi impulsionar projetos que ampliem o fortalecimento de comunidades, organizações e redes de apoio que atuam como defensoras e defensores de direitos humanos em assuntos ambientais afetados(as) pela emergência climática. No total, foram recebidos 52 projetos e, ao final, foram selecionados 18 projetos

no valor de até R$ 50 mil, totalizando R$ 900 mil em doações diretas para as seguintes linhas de apoio:

• Linha 1: Acesso aos espaços de tomada de decisão;

• Linha 2: Geração de evidências, denúncias e dados sobre impactos das emergências climáticas para defensoras e defensores de direitos humanos em assuntos ambientais;

• Linha 3: Campanhas e comunicação;

• Linha 4: Capacitação, desenvolvimento e fortalecimento de capacidades;

• Linha 5: Proteção jurídica.

Para Emilly Schwingel, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB-MT), o projeto apoiado fortaleceu a percepção de que as violações de direitos não são apenas individuais, mas afetam coletivamente toda a comunidade. E como resultado, as ações desenvolvidas contribuíram para o fortalecimento do ativismo social e prepararam as comunidades para enfrentar futuros conflitos e ameaças aos seus territórios. Diz ela: “O projeto fortaleceu a defesa das comunidades afetadas e dos defensores ambientais ao articular campanhas de comunicação e conscientização que ampliaram o engajamento e a mobilização popular. Essa estratégia possibilitou a reivindicação de indenizações justas e o reconhecimento territorial, empoderando os moradores na luta contra os impactos da emergência climática e suas consequências diretas sobre seus modos de vida”.

Dos 18 projetos apoiados e com execução de atividades até julho de 2025, 8 são do estado do Pará, 3 do Amazonas e do Maranhão, respectivamente, e 1 em cada um dos estados de Rondônia, Roraima, Mato Grosso e Amapá. Sobre o formato das organizações apoiadas, 8 projetos aprovados são executados por associações, 4 por redes e articulações, 3 por coletivos, 2 por movimentos sociais e 1 por ONG.

Sobre o componente de gênero, 67% desses projetos têm mulheres como responsáveis pela organização e pela execução dos projetos, liderando esses processos. O perfil dessas organizações, em ordem decrescente, vai de cidadãs(ãos) ativistas, a organizações extrativistas, de agricultores(as), quilombolas, povos indígenas, pescadores e ribeirinhas e, por fim, moradores(as) (associações de bairro).

Tipos de Organizações apoiadas • eixo 2

Chamada de Projetos para organizações que atuam na agenda de defensores(as) ambientais (via processo seletivo de projetos - edital público)

Rede e articulação

4 projetos executados

Associação

8 projetos executados

ONG

1 projeto executado

Coletivo

3 projetos executados

Movimento

2 projetos executados

67%

das mulheres são responsáveis pela organização e pela execução dos projetos

E por fim, pelo Eixo 3 (Carta Convite para organizações que atuam com ações de soluções locais e no fortalecimento da agenda climática) foi realizado em março de 2025 um chamamento, via carta convite, direcionada para as organizações das 15 Coalizões VAC Brasil. O objetivo foi fortalecer ações em andamento voltadas para Soluções Climáticas Locais em territórios da Amazônia Legal severamente impactados por mudanças climáticas, em especial, por secas intensas e inundações severas, bem como apoiar ações em andamento para o fortalecimento da agenda climática com foco na incidência, participação em espaços de tomada de decisão e construção

ações em rede de políticas climáticas locais, regionais e nacionais, como a COP 30. Também visou gerar evidências e produzir conhecimento sobre os impactos das mudanças climáticas nos territórios, desenvolver/ fortalecer campanhas e estratégias de comunicação que contribuam para a implementação de ações que assegurem a resiliência, a sustentabilidade e o protagonismo dessas comunidades na agenda climática global.

Desse processo das cartas convites, o Fundo Casa recebeu 17 projetos e estamos apoiando, até outubro de 2025, 13 projetos de até R$ 63 mil, totalizando R$ 819 mil doados diretamente para o fortalecimento da agenda climática e soluções climáticas locais.

O Fundo Emergencial VAC (NLGF) foi uma conquista decisiva dentro do Programa VAC desempenhando um papel crucial no fortalecimento da resiliência das comunidades da Amazônia Legal frente aos desafios das emergências climáticas e da defesa de direitos de ativistas, coletivos e territórios.

Outro grande impacto do Fundo Emergencial VAC no Brasil tem sido sua contribuição para a conscientização climática e influência política. Vários projetos financiados estão apoiando pesquisas e documentação sobre injustiças climáticas, fornecendo evidências críticas usadas para envolver os formuladores de políticas e defender proteções climáticas mais fortes. Além disso, com a COP 30 marcada para acontecer em Belém, no coração da Amazônia Brasileira, as iniciativas apoiadas pelo Fundo Emergencial VAC estão preparando ativamente lideranças e defensores(as) do meio ambiente para participar do diálogo climático global, garantindo que suas perspectivas influenciem as discussões climáticas internacionais. V

Foto: Arquivo CPT Acre
Foto: Arquivo CPT Acre

ações

DA PROA DA CANOA

As ondas banzeirearam comunicação popular no rio Arapiuns

Por João Paulo Serra, Coordenador de Projetos do Tapajós de Fato, Coalizão Rádio Banzeiro

Ahistória começou e culminou na Vila Brasil, recuso-me a dizer que terminou. Não foi apenas um projeto, foi também um sopro de esperança plantado no território da Amazônia. O que fizemos ali não se limita a relatórios ou atividades concluídas: plantamos sementes. Sementes de qualidade, lançadas em solo fértil, um solo que pulsa vida, que respira resistência, que ecoa a força da coletividade e da unicidade de um povo que não se cala. A história que vou te contar aqui é da coalizão

Rádio Banzeiro (uma aliança de sonhadores: Tapajós de Fato, Guardiões do Bem Viver e FEAGLE, apoiada pela Hivos).

E, hoje, anseio pelo dia em que o caminho da comunicação tenha novas caras, comunicando junto da gente as notícias sobre as suas comunidades. Não sermos apenas nós, os comunicadores de hoje, a escrever as notícias sobre o Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande. Que sejam eles (os jovens dos territórios), comunicadores populares do PAE Lago Grande, que apoiem as lideranças e que falem pelo seu povo (e pelo que podemos ver, já está acontecendo). Serão aqueles que participaram das nossas caravanas de comunicação, realizadas pela Coalizão Rádio Banzeiro.

Mas deixa eu te contar como tudo começou

Era 2022. O VAC Global embarcou em uma jornada pelos territórios apoiados pelo programa, e foi assim que, em meio aos rios Tapajós, Amazonas e Arapiuns, conhecemos o time da Hivos. E, em uma dessas conversas, dentro de um barco ancorado em Vila Brasil, compartilhamos um sonho: “Queremos comprar pendrives para distribuir nossos podcasts nas comunidades mais distantes para reproduzir nas rádios comunitárias.”

Mas, nesse mundo tem algumas surpresas que dão um up na nossa rotina. Aquele sonho pequeno deixou de ser apenas do Tapajós de Fato. Virou sonho da Hivos, do Coletivo Guardiões do Bem Viver, da FEAGLE— e assim, de repente, estávamos todos remando na mesma direção, a direção do eco da resistência e do fortalecimento do território. Foi assim que nasceu a Coalizão Rádio Banzeiro, uma corrente de vozes que não se contentou em apenas produzir podcast e distribuir pendrives, mas decidiu criar algo maior.

E o sonho cresceu

Criamos a Web Rádio Banzeiro. Cortamos rios, andamos por estradas para levar comunicação popular a cada canto do Assentamento

Agroextrativista da Gleba Lago Grande. E, onde dava de atar as redes, mergulhar nas águas geladas dos afluentes, ouvir os mais velhos, aprender com os jovens, nós parávamos por três dias para o trabalho construir. Cada comunidade era espaço de troca a céu aberto, cada encontro, um solo, cada pessoa, uma semente.

Passamos por mais de 30 comunidades, fortalecemos 90 jovens, atravessamos três regiões, envolvemos coletivos, associações e escolas, e em cada lugar, o solo era fértil. Porque essa não era uma semeadura qualquer. Ela foi feita na época em que a juventude desse território vinha se mobilizando e fazendo grandes ações com todas as comunidades do PAE.

O que vimos foi além do esperado

Esses jovens não só aprenderam a gravar podcasts ou editar vídeos. Eles se tornaram narradores de suas próprias histórias, defensores de seus territórios. Hoje, que a resistência contra a mineração cresce e a justiça climática se tornou bandeira, são eles que estão à frente, mostrando ao mundo que comunicação popular não é apenas ferramenta, é arma, é escudo, é grito de conquista.

E a culminância? Ah, a culminância foi em abril de 2025, quando reunimos parte dessa juventude e demos um passo a mais: trabalhamos com vídeocast. A ideia foi mostrar as diversas possibilidade de criação de conteúdos, tudo isso explorando os locais das comunidades. Foram gravados podcasts na beira do igapó, na beira do barranco e na proa da canoa. E, no movimentos das águas dos rios, que chamamos de banzeiro, acreditamos que as ondas da comunicação popular vão junto, fruto de quase 2 anos de trabalho em parceria direta com organizações e pessoas dos territórios. V

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Rede de repórteres comunitários se consolida como ferramenta de comunicação em territórios do baixo Amazonas, no Pará

Iniciado com apoio da coalizão ‘Vozes do Tapajós combatendo as mudanças climáticas’, projeto ganhou escala e ampliou número de comunicadores que mostram cadeias produtivas em treze municípios do baixo Amazonas

Por Samela Bonfim, da Coalizão Vozes do Tapajós

“Tem época que fica tudo cheio e fica mais fácil porque a gente faz a captura deles aqui perto de casa. Agora quando secar, a gente precisa ir para longe”, explica o pescador Antônio Rosires da Comunidade Costa do Tapará à repórter Anaiara Santos, de Santarém no Pará, sobre a pesca do camarão para alimentação familiar.

A região vive a dinâmica de sazonalidade dos rios, com cheias e vazantes mais intensas nos últimos cinco anos. Essas mudanças nos ciclos e dinâmicas dos rios foram marcantes nas produções dos jovens comunicadores do programa de repórteres comunitários iniciado pela Sapopema em 2022 com apoio do Programa VAC, representado na região pela ONG Projeto Saúde e Alegria que coordenou a coalizão composta por sete organizações.

Ao longo de dois anos, o programa envolveu diretamente 66 repórteres populares, com faixas etárias diversas, majoritariamente jovens entre 10 e 24 anos, oriundos de 41 comunidades distintas, localizadas nas regiões do Tapajós, Arapiuns, Ituqui e Baixo Amazonas. As ações priorizaram a participação de mulheres, lideranças indígenas, quilombolas e jovens em situação de vulnerabilidade social.

Ao todo, foram produzidos mais de 80 vídeos-reportagem, que tratam de temas como: os impactos da seca severa e das mudanças climáticas, os desafios da educação escolar ribeirinha, o fortalecimento da agricultura familiar e extrativista, o protagonismo feminino e juvenil, a valorização da identidade cultural e a defesa dos territórios. As reportagens foram publicadas em canais digitais da Sapopema, redes sociais, e em alguns casos, repercutiram em meios de comunicação regionais e nacionais.

80 vídeosreportagem produzidos

ações em rede

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Em 2025 o projeto se expandiu para novas comunidades e temas, alcançando também as cadeias produtivas da socioeconomia local por meio de outros apoiadores, como a Fundação Moore e parceria com as Colônias de Pescadores da região por meio do Mopebam e organizações como a Turiarte, sindicados e cooperativas.

“A atuação dos jovens comunicadores tem ampliado a visibilidade de atividades como a pesca, a agroecologia e a agricultura familiar sustentável, conectando práticas tradicionais e dados sistematizados com ferramentas de comunicação. A ideia é fortalecer essas organizações e empoderar esses jovens como futuras lideranças nos territórios”, destacou a coordenadora do programa, Samela Bonfim.

Narrativas da sociobioeconomia

Nos três primeiros meses (maio-julho), 28 repórteres produziram 75 vídeos que relatam o processo de produção em 13 municípios da região do Baixo Amazonas. Eles abordam temas em três cadeias produtivas principais: pesca, agricultura familiar e artesanato, incluindo a produção de camarão, atividades de pesca, manejo do pirarucu, produção de alimentos como farinha, tapioca, hortaliças, caldo de cana, cultivo de plantas ornamentais, artesanato de jacitara. Além do empoderamento feminino.

A proposta é que os jovens, por meio de suas produções audiovisuais, demonstrem as potencialidades, desafios e oportunidades dos territórios. Com imagens e depoimentos dos moradores, o material servirá para subsidiar o poder público, que poderá se nortear pelas proposições apresentadas para criar políticas mais eficazes.

“Lembrando que se a gente leva uma alimentação saudável na nossa mesa e nós mostramos o quanto é importante trabalhar e lutar pelo meio, a gente já vai estar ajudando.”Selma Ferreira, coordenadora da Amabela em entrevista para a repórter Bruna Nerys.

“O ordenamento pesqueiro, ele vem para suprir a necessidade não de agora, mas para futuras gerações, garantindo um estoque pesqueiro para o equilíbrio ambiental e também para outras espécies, porque os peixes eles migram de um lugar para o outro e isso ajuda a sustentabilidade da questão alimentar” - Aldeci Dias, Comunidade de São José para o repórter Bruno Ezequiel. V

“A atuação dos jovens comunicadores tem ampliado a visibilidade de atividades como a pesca, a agroecologia e a agricultura familiar sustentável, conectando práticas tradicionais e dados sistematizados com ferramentas de comunicação. A ideia é fortalecer essas organizações e empoderar esses jovens como futuras lideranças nos territórios”

acompanhe no youtube

Samela Bonfim, coordenadora do programa

Quebradeira do coco de babaçu. Foto: Pulsar Imagem/Adobe Stock

ELAS EM REDE

Fortalecimento de Grupos de Mulheres e Agroecologia nos Territórios de Babaçuais

Por Cleonice Silva Soares1, Raimundo Alves Silva2, Vanessa Cristina Neco3 e Horácio Antunes de Sant’ana Júnior4

1Grupo de Mulheres Josina’s de Fibra, defibrajosinas@ gmail.com; 2Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura (Acesa), acesa.coordenacao@gmail. com; 3Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura (Acesa), acesa.mulheres@gmail.com; 4Universidade Federal do Maranhão (UFMA), horacio. antunes@ufma.br

ilustração: Jambo Estúdio

Apresentação e Contextualização da experiência

A Acesa, desde sua criação em 1986, tem buscado fortalecer mulheres agricultoras e homens agricultores da região do Médio Mearim. Algumas ações foram desenvolvidas, no sentido de visibilizar o trabalho da mulher quebradeira de coco / agricultora / artesã, bem como, de trazer para o cerne sua atuação no processo de organização local. A partir de 2000 que se nota uma preocupação com a violência enfrentada por elas nas suas relações sociais e de gênero, daí inicia-se os primeiros seminários de gênero e agroecologia. Essas novas abordagens possibilitaram uma maior participação das mulheres nas atividades da instituição e o acesso a novos debates que apontavam para novas formas de compreensão das relações sociais possibilitando a elas adquirirem uma percepção de si enquanto sujeitas de direitos e, desse modo, contribuir no combate à violência contra as mulheres, para a luta em defesa da vida e para a contextualização das relações de gênero.

Em 2015, por meio do projeto “Agricultura Familiar de Base Agroecológica: Construindo Igualdade”, a organização passou a abordar mais efetivamente a importância do trabalho com mulheres agricultoras e quebradeiras de coco babaçu, nas comunidades de sua atuação.

A Acesa oportuniza informações sobre equidade, autonomia e visibilidade do trabalho produtivo feminino, visando apoiar e fortalecer as mulheres e grupos de mulheres da região. Essas ações visam não apenas melhorar as condições de trabalho das quebradeiras de coco babaçu, mas também promover a igualdade de gênero, empoderando as mulheres e reconhecendo seu papel fundamental na sustentabilidade e conservação dos saberes locais e ancestrais.

Como resultado destas ações, ainda em 2015 surgiu o grupo Josina’s de Fibra, criado por 10 mulheres agricultoras, quebradeiras de coco babaçu e artesãs, das comunidades Centro da Josina, quilombo Santa Cruz e Centro dos Mouras, todas no município de São Luís Gonzaga do Maranhão/MA.

Essas comunidades estão situadas na região do Mearim. Nessa região, na década de 1980, o avanço da agropecuária resultou em consequências negativas significativas nas comunidades locais. Atualmente, as comunidades continuam enfrentando essas mesmas problemáticas, além de outras que surgiram com os efeitos do latifúndio, dos desmatamentos de suas florestas de babaçu, dos cercamentos impedindo ou dificultando o acesso das quebradeiras aos babaçuais, do uso de agrotóxicos gerando grandes perdas da sociobiodiversidade e afetando diretamente as palmeiras e as quebradeiras.

Nos anos de 2022 a 2025, com apoio do Programa Vozes pela Ação Climática Justa, implementamos o projeto Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazônia numa coalizão com Acesa, Rama, Tijupá, Justiça nos Trilhos e GEDMMA, que muito apoiou nos processos de formação acerca da temática das mudanças climáticas e os impactos nos modos de vidas tradicionais.

Desenvolvimento da experiência

As mulheres das comunidades acima descritas, enfrentam também o forte patriarcado, além de serem as primeiras a sentir os impactos das mudanças climáticas em seus corpos-territórios, como o comprometimento da disponibilidade de água, da produção de alimentos nos quintais produtivos e de outras atividades produtivas. Pensando nessa relação em que os corpos são das mulheres são uma extensão do próprio território, Muniz (2025, p.145) afirma que:

É necessário refletir sobre o conceito de corpo-território, como local de cura como bem expressa Rosa, quebradeira de coco, quilombola: “quando estamos falando em território, estamos falando de corpos, de palmeira [babaçu]. Corpo e território que cuida e é cuidada e cura. Pertencer a esses espaços é também se curar. O local de cura deve ser aquele em que podemos andar descalço”.

Nesse sentido, as mudanças climáticas afetam condições e modos de vida e trabalho das quebradeiras de coco babaçu e das comunidades em geral. Essas mudanças no clima colocam em risco a saúde física, emocional e a sustentabilidade das mulheres e das atividades das quebradeiras de coco babaçu, bem como comprometem a preservação das palmeiras, que são importante fonte de riqueza e de sobrevivência das quebradeiras.

Assim, o Grupo Josina’s de Fibra surgiu para o fortalecimento coletivo das quebradeiras, visto que são mulheres que trazem no seu histórico a luta em defesa dos territórios e dos babaçuais, o cuidado e a proteção das sementes crioulas e as ações de enfrentamento ao agronegócio, sendo elas as protagonistas no processo de transição agroecológica, principalmente a partir dos seus quintais (cultivo de hortas e plantas medicinais, experimentação de variedade de sementes, criação de pequenos animais).

As Josina’s de Fibra sabem que, ao salvar sementes e a biodiversidade, estão protegendo a diversidade cultural, o que se diferencia fortemente da lógica capitalista, empresarial e industrial, que quer continuar impondo o colonialismo, inclusive, dentro dos sistemas alimentares. Entendendo isso, Vandana Shiva (2024, p. 30) se posiciona afirmando que:

As estratégias de reprodução empresarial e industrial não só são incapazes de lidar com as mudanças climáticas, como as sementes geneticamente modificadas estão matando os agricultores. Na Índia, milhares de agricultores cometeram suicídio em razão de dívidas causadas pelos altos custos e pelas sementes não confiáveis que são vendidas pelas grandes corporações. Os suicídios concentram-se em áreas que se tornaram dependentes de sementes comerciais e são mais intensos onde o algodão Bt (geneticamente modificado) foi vendido. Essas sementes são sementes do suicídio e da escravidão. Não há suicídios onde os agricultores usam sementes ancestrais e variedades tradicionais.

Desafios

As mulheres do Grupo Josina’s de Fibra têm como principais motivações a preocupação com a saúde física e mental, a alimentação da família e a conservação da sociobiodiversidade. No entanto, são as que mais sofrem e enfrentam uma variedade de violências que resultam de ações de atores externos, como os grandes empreendimentos e o latifúndio que violam seus territórios e o Estado quando deixa de efetivar leis e políticas públicas para proteção dos territórios e quem neles vivem, flexibiliza a fiscalização e, mesmo, as leis existentes e incentiva os grandes empreendimentos através de financiamentos e políticas voltadas ao tipo de produção por eles implementadas. Sofrem e enfrentam, também, violências internas dentro das suas comunidades, dentro de casa, geradas pelo machismo que as excluem dos espaços de decisões sobre suas produções e participação políticas, culminando em violências doméstica, psicológica e patrimonial.

Principais resultados alcançados

Desde sua criação, o Grupo teve o apoio da Acesa e da coalizão Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazônia, do Programa Vozes Pela Ação Climática Justa/Fundácion Avina e outras parcerias. Reaproveitando a fibra de bananeira e o coco babaçu, desenvolveram técnicas de artesanato que conectam ancestralidade, sustentabilidade e geração de renda, melhoraram seus quintais produtivos, fortaleceram ainda mais a produção agroecológica. Tem se apropriado de discussões sobre os direitos das mulheres e passou a ocupar espaços dentro das organizações e discussões políticas em seus territórios, acessar políticas públicas, aumentar a renda com vendas locais, regionais e nas feiras. Assim o grupo passou a ser referência em organização coletiva feminina para mulheres e grupos de mulheres de outras comunidades da área de atuação da Acesa.

ações em rede

Disseminação da experiência

Foi a partir dessas experiências e com apoio da coalizão Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazonia, do Programa Vozes Pela Ação Climática Justa/Fundácion Avina que, em 2024, surgiu o Elas em Rede, uma articulação de grupos de mulheres fortalecida por formações conjuntas, trocas de saberes e estratégias coletivas de resistência. Além do Josina’s de Fibra, compõem essa rede os grupos: Mulheres Quilombando e Semeando Arte (Comunidade Quilombola Catucá, Bacabal-MA); Mulheres do Babaçu de Marmorana (Comunidade Marmorana, Lago Verde-MA); Mulheres das Semeadoras de Esperança (Alto Alegre do Maranhão-MA).

Juntas, essas mulheres formam uma rede de 52 agricultoras, com idades entre 19 e 70 anos, quebradeiras de coco, quilombolas, artesãs e guardiãs dos saberes tradicionais, que seguem construindo caminhos de luta, solidariedade e autonomia. O Elas em Rede é, hoje, um espaço estratégico de fortalecimento da agroecologia, da defesa dos territórios, do enfrentamento às mudanças climáticas, da construção de uma economia do cuidado e da resistência coletiva das mulheres do Mearim. Cada grupo tem sua autonomia, estratégias, mas buscam coletivamente fortalecer lutas comuns. Como bem diz Leinha, da comunidade Quilombola Catucá.

Com o Elas em Rede aprendemos a conhecer o mundo diferente, saímos da nossa bolha, a valorizar o nosso trabalho. Nós não tinhamos voz, não tinhamos vez. E hoje a gente é mais segura, empoderada, aprendemos a falar. Aprendemos a dizer não na hora certa. As trocas de saberes, várias mulheres, as culturas de cada comunidade, que cada grupo tem seu jeito. E por isso a gente tá crescendo ainda mais, com a nossa cultura e com o respeito umas com as outras.

Cada grupo de mulheres tem melhorado suas estratégias de produção e comercialização, mas para além disso, as mulheres têm cada dia mais fortalecido o empoderamento socioeconômico, valorizando e se reconhecendo como as guardiãs dos seus territórios. As discussões sobre mudanças climáticas e outros temas sobre clima, têm possibilitado ações de defesa reais dos territórios, como bem disse Luísa, da comunidade Marmorana em Lago Verde:

Eu nunca na minha vida tinha participado de nada, de grupo de nada. Aí já no grupo, fomos para a oficina sobre mudanças climáticas, lá no quilombo Catucá. Nenhuma de nós nunca tinha saído de casa. Aí, com aquela oficina, eu vi que os açougueiros que mata gado, fazia era errado. Matava gado e os resto tudo era jogado no nosso igarapé, que é onde nós pescava. Aí voltando pra casa depois da oficina, a primeira coisa que eu fiz, foi ir no igarapé, mais duas, e colocamos uma placa de proibido. Aí o professor da escola viu o movimento e foi perguntar o que a

gente tava fazendo. Eu disse! Aí, ele fez um vídeo e jogou no mundo e eu mandei no grupo da associação, falando que, quem jogasse, ia se ver porque nós ia atrás da justiça e do que fosse. Aí, aquilo tudo chegou nos ouvidos do povo e pronto, nunca mais jogaram no igarapé. E só fizemos isso por causa da oficina e de tanta mulher que encoraja nós.

Assim, cada comunidade tem reconhecido aos poucos a existência dos grupos de mulheres e outras mulheres têm chegado nos grupos para se tornar integrante.

Cada grupo tem buscado construir na comunidade o seu local de reunião e produção, visando principalmente fortalecer a coletividade, a autonomia financeira e a afetividade entre as mulheres. E sempre se conectam no Elas em Rede para traçar caminhos em defesa das lutas coletivas. O intuito atual é fazer com que o Elas em Rede chegue em mais mulheres e comunidades, para potencializar a luta em defesa dos territórios e contra tantas ameaças e ampliar a luta por direito e a consciência da agroecologia como modo de vida.

Referências

MUNIZ, Ariana Gomes da Silva. Coco e cocar: lutas, resistências e identidades compartilhadas das indígenas e quebradeiras de coco Akroá Gamella em Viana, Maranhão [recurso eletrônico]. São Luis: EdUEMA. 2024.

SHIVA, Vandana. Terra Viva: minha vida em uma biodiversidade de movimento. Tradução Marina Kater. São Paulo: Boitempo, 2024.

CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio. Agroecologia: Enfoque científico e estratégico. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, v.3, n.2, abr-jun, 2002.

BARBOSA, Viviane de Oliveira. Mulheres do Babaçu: Gênero, Maternalismo e Movimentos Sociais no Maranhão. Tese. 267f. (Doutorado em História Social), Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2013.

A Coalizão Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazônia

As ações desenvolvidas pelo projeto da Coalizão Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazônia entre 2022 a 2025, contribuíram significativamente para ampliar o debate acerca das mudanças climáticas, envolver lideranças comunitárias na luta pela defesa de seus modos de vidas e territórios, denunciar as violações de direitos humanos e da natureza, estruturar as estratégias de comunicação para anúncios e denúncias, assim como, para transformar as relações de gênero ao colocar as mulheres na centralidade das ações, possibilitando-lhes conhecimento e fortalecendo suas capacidades para organização produtiva e incidência política.

Contas Climáticas e seus enfrentamentos por mulheres do Sul Global

Por Jakeline Carvalho Xavier, Danielle Almeida de Carvalho e Paula Moreira, da Hivos Brasil. Equipe de Pesquisa Rede VAC Vozes pela Ação Climática Justa: João Paulo Souza (TdF), Eduarda Batista (Jandyras), Dânia Silva Baré (COIAB), Sayonara Malta (Casa Preta), Isabela Callegari (Equit), Nanci Darcolléte(Pimp my Carroça), Livia Santos, Kayo Moura e Laura Torres (Decodifica & Gaia), Membros do Comitê Orientador: Marcos Wesley (TdF), Haydee Svab (Open Knowledge Brasil), Graciela Rodriguez (Equit), Paula Moreira e Danielle Almeida de Carvalho (Hivos).

Ilustração: Jambo Estúdio

Pações em rede or meio de conhecimentos tradicionais, soluções criativas, trabalho de cuidado e ampliação das redes de apoio, mulheres do Sul Global têm liderado os trabalhos para o enfrentamento das mudanças climáticas, provendo soluções e assumindo seus custos. Para revelar este trabalho feito pelas mulheres e traduzir em números e propostas de políticas públicas, a Hivos, em parceria com o WRI e com pesquisadores da Rede VAC, lançará, na COP 30, os resultados da pesquisa “Custos Sociais e Econômicos da Mudança do Clima sobre Domicílios Femininos: Evidências do Brasil e da Zâmbia (2022–2025)”. O processo reúne resultados da aplicação de entrevistas em lares liderados por mulheres em áreas rurais e urbanas no Brasil e Zâmbia, apoiado com robusta revisão bibliográfica, para compreender os custos das mudanças do clima na economia doméstica.

“Com este estudo, queremos evidenciar o custo real do enfrentamento às mudanças climáticas para as mulheres que lideram iniciativas de mitigação e adaptação, e propor recomendações para políticas públicas nas áreas de clima e de cuidado. Sabemos que o custo é muito alto quando falamos de saúde mental, mas é ainda maior no âmbito financeiro”, afirma Paula Moreira, Gerente de Engajamento do programa VAC, pela Hivos.

A primeira etapa da pesquisa analisou 23 artigos sobre os custos sociais e econômicos das mudanças climáticas. A investigação concentrou-se na análise de impactos concretos, como perdas de renda, aumento de despesas domésticas e exposição a riscos, considerando, ainda, as estratégias de resposta adotadas por mulheres em situação de vulnerabilidade. A segunda etapa da pesquisa inclui a aplicação de questionários em territórios de abrangência do VAC no Brasil e Zâmbia.

Impactos sobre orçamentos familiares

Constatou-se que os efeitos da mudança do clima sobre o orçamento familiar são significativos. No Brasil, o recorte urbano revela que domicílios chefiados por mulheres, especialmente negras e residentes em periferias, são os mais impactados por enchentes, deslizamentos e falhas em infraestrutura básica. Os custos adicionais com saúde, alimentação, energia e transporte são agravados pela precariedade dos serviços públicos e pela sobrecarga do trabalho de cuidado aos familiares. Em 68% dos casos analisados, houve perda total ou parcial de bens domésticos após inundações.

Brasil

Domicílios chefiados por mulheres, especialmente negras e residentes em periferias, são os mais impactados por enchentes, deslizamentos e falhas em infraestrutura básica.

68%

dos casos analisados, houve perda total ou parcial de bens domésticos após inundações.

ZâMBIA

Aumento expressivo do endividamento informal e da insegurança alimentar e violência contra as mulheres.

63%

relataram ter sido obrigadas a cortar gastos com alimentação e educação em razão de eventos climáticos extremos.

Na Zâmbia, o cenário rural apresenta desafios distintos, mas igualmente severos. A redução da produtividade agrícola, provocada por secas prolongadas, irregularidades nas chuvas e erosão do solo, afeta de forma direta as mulheres agricultoras, que enfrentam restrições sistemáticas ao acesso à terra, crédito e tecnologia, como por exemplo, acesso a um telefone celular. Como consequência, observa-se um aumento expressivo do endividamento informal e da insegurança alimentar: em artigo acadêmico, 63% das mulheres relataram ter sido obrigadas a cortar gastos com alimentação e educação em razão de eventos climáticos extremos. Observou-se também o aumento da violência contra as mulheres.

Fragilidade de políticas públicas e implicações sociais

A análise revelou que no Brasil e na Zâmbia, há ausência ou fragilidade de políticas públicas pensadas para as mulheres. Apenas 30% dos estudos revisados identificam alguma medida governamental que considere as especificidades de gênero nos impactos climáticos. Outro ponto crítico diz respeito à escassez de dados sobre gênero no território, o que limita a visibilidade dos efeitos climáticos sobre os orçamentos domésticos e dificulta o monitoramento das desigualdades associadas à crise do clima.

Diante desses fatores, torna-se evidente que as mudanças climáticas ampliam as desigualdades preexistentes. Os custos enfrentados por domicílios femininos não se restringem ao plano econômico — afetando renda, consumo e segurança financeira —, mas também geram implicações sociais. Entre elas, destacam-se os efeitos sobre a saúde física e mental das mulheres, a intensificação da sobrecarga de cuidados e as dificuldades ampliadas de acesso à educação, tecnologia, mobilidade e proteção social.

Respostas às mudanças climáticas

A maior parte das respostas identificadas frente aos impactos climáticos parte das próprias comunidades e mulheres afetadas. Soluções como redes de solidariedade, hortas comunitárias, práticas agroecológicas e reconfigurações dos espaços de cuidado, operam como mecanismos de resiliência em seus territórios. No entanto, tais iniciativas, apesar de efetivas, ainda são pouco reconhecidas ou apoiadas institucionalmente.

Recomendações para políticas públicas e caminhos possíveis.

Para ampliar o alcance e a efetividade dessas estratégias, o resultado da pesquisa aponta que é

fundamental que equipes técnicas de programas de entidades governamentais, organizações da sociedade civil e organizações parceiras reconheçam e fortaleçam as capacidades já existentes nos territórios. Isso passa, segundo recomendado pela pesquisa, por viabilizar o acesso das mulheres a crédito climático, tecnologias adaptativas, assistência técnica e regularização fundiária. Além disso, o investimento na escuta ativa das comunidades e na valorização das soluções que já demonstram resultados positivos no enfrentamento das mudanças climáticas, são ações recomendadas pela investigação.

As mulheres como pontos centrais no enfrentamento à crise climática

Para qualificar o debate e as informações sobre o papel das mulheres nos impactos sociais da mudança do clima, a Hivos lançará, junto com a pesquisa acima citada e em conjunto com Instituto Equit Gênero, Economia e Cidadania Global, a publicação “Extremos climáticos, saúde mental e cuidado: o papel das mulheres do Sul Global na sustentação da terra”. O estudo de caso é realizado no Brasil, com organizações parceiras VAC no Brasil, Tunísia, Quênia, Zâmbia e Indonésia.

A iniciativa parte do registro e sistematização de histórias de soluções climáticas lideradas por mulheres em diferentes comunidades brasileiras e africanas - quilombolas, periféricas, quebradeiras de coco, amazônidas e rurais - para entender a conexão das mulheres com a natureza, quais conhecimentos tradicionais são usados para enfrentar as mudanças climáticas e como elas se organizam para proteção dos territórios.

Espera-se que os lançamentos na COP 30 do relatório “Custos Sociais e Econômicos da Mudança do Clima sobre Domicílios Femininos: Evidências do Brasil e da Zâmbia (2022–2025)” e da publicação “Extremos climáticos, saúde mental e cuidado: o papel das mulheres do Sul Global na sustentação da terra” contribua e qualifique os debates em torno da valorização econômica do trabalho de cuidado não visto e não remunerado das mulheres e os custos ocultos das mudanças do clima na vida doméstica delas. E que estes temas sejam considerados seriamente quando discute-se o financiamento climático. V

Não é só no Brasil... Em outros cantos do mundo, as vozes que vêm do chão também estão em busca de justiça climática. O que está acontecendo no movimento por justiça climática em outros países e no cenário global? Como essas vozes estão atuando? O que elas têm a dizer?

NDC INDÍGENA

Povos indígenas da Amazônia apresentam proposta de NDC para a COP30 e pedem a priorização do reconhecimento dos territórios indígenas como política climática e como zonas livres de atividades de exploração.

Por Valdeniza Vasques, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) • Ilustração: Rafael Melgueiro

Autoridades e lideranças indígenas dos nove países da Bacia Amazônica apresentaram, em junho, em Brasília–DF, uma proposta de NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) indígena, com ações climáticas para os Estados adotarem até a COP30. O documento foi entregue durante a Pré-COP Indígena à ministra brasileira dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e à representante do Ministério de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, Maria Violeta Medina.

“Não haverá futuro possível sem os Povos Indígenas no centro das decisões globais. Os Estados devem respeitar nossos direitos, incorporar nossos conhecimentos ancestrais e garantir a proteção dos territórios indígenas para conceber estratégias de mitigação e adaptação mais eficazes”, diz o documento, assinado por 28 organizações indígenas da Bacia Amazônica.

A NDC indígena elenca como prioridades para a COP30: o reconhecimento e proteção de todos os territórios indígenas como política e ação climática em especial os territórios com presença de povos indígenas isolados e de recente contato; financiamento direto e autonomia financeira; representação e participação efetiva nos espaços de decisão climática; proteção dos defensores e defensoras indígenas; inclusão de sistemas de conhecimento indígena como estratégias de mitigação, adaptação e restauração ambiental; e estabelecimento dos territórios indígenas da Amazônia como áreas livres de atividades extrativas.

As demandas são endereçadas aos Estados que integram a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, à Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e aos governos dos países amazônicos. O documento já foi apresentado em agendas estratégicas globais, como a Conferência de Clima de Bonn, na Alemanha.

A Pré-COP Indígena foi uma realização da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da coalizão internacional G9 da Amazônia Indígena.

“Esta NDC é o resultado das vozes dos povos indígenas de toda a Bacia Amazônica. São nossas reivindicações, nossos conhecimentos e nossos caminhos traçados para superar os desafios que ameaçam a floresta e o clima do planeta. Não aceitamos mais promessas vazias. Exigimos compromissos reais dos países, que incluam e respeitem as autoridades indígenas. Não há solução para a crise climática sem a proteção dos territórios indígenas, sem a garantia dos nossos direitos e sem a nossa participação efetiva nas decisões. Que esta NDC seja um chamado à justiça climática e ao respeito aos povos indígenas”, afirmou Toya Manchineri, coordenador-geral da Coiab.

Sonia Guajajara destacou a preparação para a incidência indígena na COP30, que tem o objetivo de ter a maior delegação indígena das histórias das COPs, com credenciais para 1000 indígenas do mundo inteiro. “Temos essa incidência direta para que os países tomem realmente as decisões que importam, com compromissos assumidos e a garantia dos acordos nacionais, com segurança para os povos indígenas dentro dos seus territórios”, declarou a ministra na Pré-COP Indígena.

Ministra Sonia Guajajara recebeu a proposta de NDC indígena

O caminho até aqui

A Pré-COP Indígena é um dos passos na caminhada do movimento indígena da Amazônia brasileira rumo à COP30, mas a incidência dos povos indígenas na agenda climática vem sendo construída há anos. Ao lado de parceiros estratégicos como a iniciativa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC), desde 2023, a Coiab vem realizando uma série de ações e mobilizações que visam ampliar e qualificar a participação dos povos indígenas no debate climático. Um exemplo foi o curso sobre Mudanças Climáticas, Carbono e REDD+ na Amazônia Indígena, realizado pelo Centro Amazônico de Formação Indígena (Cafi) em três módulos ao longo de 2023, com a participação de 230 lideranças.

VAC também apoiou a realização da Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia, em Belém-PA em 2023, que reuniu 800 indígenas de todo o Brasil e da Bacia Amazônica para promover a importância dos povos e territórios no enfrentamento da crise climática. Naquele ano, o apoio de VAC também viabilizou a participação da delegação da rede Coiab na COP28, realizada nos Emirados Árabes Unidos, onde as lideranças participaram de debates sobre temas como financiamento climático direto, transição energética justa, perdas e danos, entre outros.

Em 2024, o destaque foi a incidência na Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, realizada em Calí, na Colômbia, onde a Amazônia indígena brasileira reforçou o papel das terras indígenas para a conservação da biodiversidade e equilíbrio climático. Um dos frutos desse apoio foi a construção do ‘G9 da Amazônia Indígena’, uma estratégia conjunta de incidência política internacional entre as organizações indígenas dos nove países da Bacia Amazônica, para atuar nas agendas de clima, biodiversidade e desertificação a nível global.

Essas incidências pavimentaram o caminho até a Pré-COP Indígena e representam o fortalecimento contínuo do movimento indígena brasileiro nos espaços de discussão global - não só para a COP30, mas além. V

Pré-COP Indígena, realizada em Brasília (DF)

DA DOR À ESPERANÇA

O Paraguai tem uma das maiores taxas de concentração de terra do mundo. A luta por um pedaço de terra para plantar e viver é hostil e já tirou vidas humanas. É o caso de San Oscar Romero – antigo Marina Kué –, onde, após duas décadas de luta, transformou dor em esperança e hoje celebra o início da titulação das terras. Um território de resistência, cultivo e sonhos construídos com esforço coletivo.

Por Noelia Díaz Esquivel / Edição de Mónica Bareiro, da Revista Emancipa e do Time Regional VAC Paraguai. Foto: Leonor De Blas

Certeza

“Sempre tivemos esperança de que essas terras seriam dos camponeses. Nunca deixamos de lutar”, diz Cristina Ozuna, a primeira pessoa a pagar pelo seu título de propriedade na colônia San Oscar Romero, em Curuguaty, a cerca de 270 km de Assunção, capital do país.

As terras de que Cristina fala foram cenário do pior massacre da história da luta pela terra no Paraguai. Em 15 de junho de 2012, 11 camponeses e 6 policiais morreram durante uma operação de despejo em que os agricultores exigiam a posse do terreno conhecido como Marina Kué, que estava nas mãos de um latifundiário. O caso foi alvo de investigações e denúncias por supostas irregularidades e violações de direitos humanos, e levou inclusive à destituição do então presidente Fernando Lugo.

Após anos de luta judicial, tanto pela memória dos falecidos quanto pela justiça da terra, o presidente paraguaio Santiago Peña oficializou a transferência das terras de Marina Kué para o Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra (INDERT) em 25 de outubro de 2024. Esta instituição é responsável pelos trâmites de regularização da colônia.

Hoje, como Cristina, já são 15 moradores que realizaram o primeiro pagamento por seus títulos de propriedade. No total, cada um deve investir Gs$. 17 milhões (cerca de R$ 12.987) no prazo de 10 anos. Até agora, 211 famílias foram cadastradas, mas estima-se que o número possa chegar a 250.

Cristina, agricultora e dona de casa, pagou pelo título de um lote de 9 hectares. Tem 39 anos e é mãe de duas filhas, Yamili e Estrella. No lote número 4 está sua casa de madeira, cheia de dignidade, e atrás, a vários metros mata adentro, está o kokue (roça). Até pouco tempo, tudo o que produziam era para consumo próprio. No entanto, no último ano ela conseguiu colher e vender uma hectare de mandioca.

“Não foi o melhor preço, mas ganhei R$ 6.111. Antes era só para consumo porque não havia estrada. Agora que temos, o caminhão pode entrar e transportar a produção”, diz com uma emoção difícil de conter.

Cristina Ozuna

Concentração de terra

Segundo dados do Censo Agropecuário Nacional de 2022 do Instituto Nacional de Estatística (INE), a estrutura fundiária no Paraguai continua altamente concentrada: das 291.497 propriedades agropecuárias registradas, 55% (160.273) têm título definitivo, 29% (84.965) têm documentos provisórios e 22% (64.352) estão em situação de arrendamento, parceria, ocupação ou outras formas de posse.

A concentração de terra no Paraguai é uma das maiores do mundo, com um índice de Gini (medida estatística da desigualdade na distribuição da riqueza) de 0,93, indicando extrema desigualdade fundiária.

Segundo a organização Base-IS, Horacio Cartes, empresário e ex-presidente do Paraguai, é considerado um dos maiores proprietários de terra do país. Além disso, durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954–1989), cerca de 8 milhões de hectares destinados à reforma agrária foram irregularmente entregues a aliados do regime. Essas terras, conhecidas como “mal-habidas”, continuam nas mãos de particulares e empresas, sem que tenha havido uma redistribuição efetiva, conforme mostrou uma investigação do do veículo de comunicação paraguaio El Surti, que criou uma ferramenta para identificar os “invasores VIP do Paraguai”.

A titulação de terras permitirá que a população de Marina Kué melhore sua qualidade de vida.

Esses dados refletem uma persistente concentração fundiária, com distribuição desigual que afeta especialmente pequenos produtores e comunidades rurais.

Em 24 de fevereiro de 2025, data em que se comemora o Dia da Mulher Paraguaia, Cristina entregou um milhão de guaranis (R$ 764), a primeira parcela do título de propriedade do lote número 4. “Me emocionei, chorei, porque é uma conquista muito importante”, relata.

Assentamento modelo

San Oscar Romero é uma comunidade rural localizada no distrito de Curuguaty, no departamento de Amambay, nordeste do Paraguai, muito próxima da fronteira com o Brasil. O território está em uma zona de transição entre a mata atlântica e o Chaco úmido, com rica biodiversidade e diversos cursos d’água, como o rio Aguara’y Guazú, que atravessa a região.

Historicamente conhecido como Marina Kué, o território foi rebatizado pelos moradores como San Oscar Romero, em homenagem ao bispo salvadorenho canonizado, símbolo de justiça social e defesa dos direitos humanos.

A conquista do pagamento dos lotes, mais do que um trâmite, significou o reconhecimento

legal de um direito há muito negado. Mas eles não pararam por aí: com o apoio de diferentes órgãos do Estado e organizações da sociedade civil, desenvolveram um plano de habilitação territorial que inclui a proteção de áreas florestais, a identificação de fontes de água e a delimitação de espaços comunitários como hortas, viveiros e áreas de assembleia.

A comunidade conta com um plano original registrado que reserva 270 hectares como área florestal protegida, conforme determina uma lei nacional específica para Marina Kué. Essa lei também promove a integração das reservas às propriedades como parte de um modelo produtivo sustentável.

A comunidade também embarcou em um projeto de resgate de sementes nativas, recuperando variedades originais que são distribuídas gratuitamente como prática de economia solidária, com o objetivo de preservá-las nas propriedades familiares e garantir sua transmissão entre gerações.

Desde 2023, uma horta comunitária baseada em técnicas agroecológicas também vem sendo desenvolvida. Essa experiência busca se expandir para outros setores do assentamento, beneficiando mais famílias.

Solidariedade

Darío Acosta é outro grande protagonista dessa história de dor transformada em luta. Nunca se rendeu, entendendo que a aliança com diferentes setores era indispensável para alcançar o objetivo: serem os únicos e legítimos donos de San Oscar Romero.

Com essa estratégia política, fez todo o possível para abrir espaços de diálogo com o Estado. Mas também soube administrar a solidariedade dos apoiadores, respondendo com responsabilidade e compromisso ao apoio de diversas organizações da sociedade civil.

O projeto Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) apoiou com fundos de incidência, permitindo que

as lideranças da Associação de Vítimas e Familiares de Marina Kué pudessem se mobilizar e realizar suas gestões na capital do país.

Emma Timermann, da coordenação do VAC WWF-Paraguai, explica que “o apoio consistiu em recursos para coordenação e logística das viagens dos porta-vozes da associação e sua participação em reuniões e mesas de diálogo interinstitucionais e intersetoriais com entidades governamentais como o INFONA, INDERT, a Escrivania-Geral do Governo, a Direção Geral dos Registros Públicos, e outras organizações sociais”.

Don Darío admite que muitos camponeses desconhecem seus direitos, e nesse sentido o acompanhamento do VAC foi crucial para oferecer assessoria técnica no avanço da regularização das terras. Também receberam apoio técnico para o desenvolvimento sustentável de suas propriedades.

Hoje, onde antes havia desalento, brotam frutos de esperança. Cada semente colhida guarda a memória da luta. A terra, enfim, responde ao amor de quem a cuidou. V

vozes
Darío Acosta

COMUNIDADES AYOREO NA BOLÍVIA RETOMAM O CONTROLE SOBRE SUAS FLORESTAS

Na região do Pantanal, na Bolívia, comunidades Ayoreo mostram o que é possível quando o financiamento climático chega diretamente até elas. Duas comunidades Ayoreo, com cerca de 160 pessoas –Pilay e Manantial – dependem fortemente das florestas para sua subsistência. A floresta fornece alimento, remédios, abrigo e renda. Mas elas tinham pouca voz sobre o que acontecia em seu território.

Sem o pleno conhecimento da comunidade, representantes legais haviam assinado contratos de exploração madeireira em espanhol – idioma que muitos Ayoreos não falam. Decisões eram tomadas a portas fechadas sobre as florestas em que viviam, a confiança interna se perdeu e os lucros desapareceram.

Assumindo o controle

Em 2024, a comunidade decidiu que era hora de mudar. Com o apoio da ONG local ORE e do Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC), foi criado um comitê florestal composto por homens e mulheres das comunidades Pilay e Manantial. Foi a primeira vez que as mulheres foram incluídas nos processos de tomada de decisão. O objetivo: criar regras justas e garantir que os lucros provenientes da floresta sejam distribuídos de forma equitativa.

Esse processo começou com passos para compreender seus direitos. Foi realizada uma capacitação jurídica de dois dias na língua Zamuco, que é a língua nativa da comunidade. Para muitos, foi a primeira vez que as leis florestais e os contratos realmente fizeram sentido. Juntos, trabalharam em um novo modelo de contrato que define claramente o que é permitido, o que deve ser pago e como a comunidade será informada. Isso lhes garante voz nas decisões.

Inventário florestal e práticas de medição de madeira, contribuindo para um processo de manejo florestal sustentável e legal. Foto: ORE

Capacitação jurídica com as comunidades Ayoreo. Foto: ORE

Após gerações sendo excluídas das decisões sobre seus territórios, as comunidades agora estão assumindo a liderança na gestão e proteção de suas florestas com base em seus próprios termos.

O NLGF na Bolívia

O Next Level Grant Facility é um fundo de VAC que oferece pequenos subsídios diretos para grupos de base e indivíduos que normalmente não teriam acesso ao financiamento climático tradicional. O NLGF se diferencia por sua natureza acessível, mecanismo de resposta rápida a emergências e abordagem de tomada de decisão de baixo para cima. O fundo permite que grupos de base e indivíduos cocriem, implementem e governem soluções que reduzem a vulnerabilidade climática e aumentam a resiliência.

Na Bolívia, a implementação do NLGF tem desempenhado um papel vital no fortalecimento da resiliência climática entre comunidades indígenas e organizações de base, especialmente nas regiões do Pantanal e do Chaco. No país, o NLGF é gerido pela organização parceira local Community in Action (COMUNA), responsável pela seleção dos beneficiários e distribuição dos fundos. Os projetos financiados pelo NLGF na Bolívia abordam questões que vão desde a segurança hídrica, defesa ambiental e proteção legal, até a preparação para desastres ambientais. V

ZÂMBIA, UM MICROCOSMO DO FUTURO

No sul da África, VAC apoia organizações locais que estão na linha de frente da ação climática a moldar e implementar soluções climáticas inovadoras e duradouras

Por VAC Zâmbia e South South North

A Zâmbia, país de 21 milhões de habitantes no sul da África, é um microcosmo do futuro, enfrentando as duras realidades das mudanças climáticas. As planícies alagadas do rio Kafue são um exemplo marcante. Milhões de pessoas vivem e dependem das áreas baixas e alagadiças do baixo rio Kafue. Muitas delas são agricultoras e pescadoras, e enfrentam um futuro incerto à medida que as mudanças climáticas destroem os recursos naturais dos quais dependem. Como resultado, as pessoas são forçadas a adaptar suas dietas, consumindo refeições menores, menos nutritivas e alimentos silvestres. Os setores de alimentação, água, energia e saúde enfrentam desafios significativos.

Embora o novo clima traga grandes dificuldades, alguns estão descobrindo oportunidades de prosperidade. Grupos marginalizados, como mulheres, jovens e Povos Indígenas, estão recorrendo à sua sabedoria ancestral para encontrar formas sustentáveis de viver nesse mundo em transformação. Com base em seu profundo conhecimento da terra e de seus recursos, esses grupos se adaptam às novas realidades e encontram maneiras de prosperar.

Soluções

locais impulsionando a resposta à crise climática

Na Zâmbia, os parceiros de VAC implementaram coletivamente uma variedade de intervenções locais de resiliência climática em dez dos 116 distritos do país, onde as mudanças climáticas já têm impacto grave. VAC apoia diversas organizações locais a executar iniciativas climáticas voltadas a fortalecer as comunidades locais, contribuindo para que se adaptem às mudanças climáticas e a construir meios de vida mais resilientes.

Em Bunda Bunda, distrito de Rufunsa, a Zambia Alliance for Women (ZAW), com apoio da Akina Mama Wa Afrika, auxilia agricultores na diversificação de culturas, redução do uso de pesticidas e implementação da agricultura orgânica. Essas práticas melhoram a saúde do solo, a biodiversidade e a retenção de água.

No distrito de Luangwa, a Katondwe Alliance of Women lidera iniciativas como bancos comunitários, reflorestamento e adoção de tecnologias de energia limpa. Essas ações

mitigam os efeitos das mudanças climáticas, aumentam a produtividade agrícola e fortalecem o papel das mulheres na tomada de decisões e no acesso a recursos.

Em Musaya, distrito de Chikakanta, a Climate Smart Agriculture Alliance (CSAAZ) apoia comunidades locais na reconstrução de estruturas de captação e armazenamento de água da chuva, garantindo fontes confiáveis de água durante os períodos de seca.

No bairro de Kanyama, na capital Lusaka, o People’s Process on Housing and Poverty in Zambia (PPHPZ), com apoio da SDI, está formando mulheres para liderarem iniciativas de cultivo em sacos, produção de adubo orgânico e de fertilizantes líquidos. Essas atividades ajudam a enfrentar a insegurança alimentar e a desnutrição.

Impactos multiplicadores das histórias

Em Itezhi Tezhi, onde a produção de carvão ameaça as florestas locais, a Panos, parceira de gestão do conhecimento de VAC, provocou mudanças ao distribuir um boletim que conscientizou sobre o impacto devastador do desmatamento nas áreas de Itumbi e Kaanzwa, pedindo reformas políticas para proteger o meio ambiente. “Percebemos que era uma questão importante que precisávamos enfrentar”, afirma Kondwani Thindwa, da Panos

Em outubro de 2023, a Panos organizou um diálogo nas comunidades afetadas, reunindo chefes, mulheres, lideranças civis, autoridades governamentais e especialistas em clima para discutir soluções para a crise da produção de carvão. O tema central foi a produção sustentável de carvão e alternativas de subsistência. “A reunião permitiu preencher lacunas de informação, e os membros da comunidade puderam fazer perguntas para entender melhor o impacto da atividade. Ao mesmo tempo, tiveram a oportunidade de destacar o impacto sobre seus meios de vida caso deixassem de produzir carvão”, explica Thindwa. Seis meses após o evento, o

Ministro da Economia Verde anunciou a proibição da produção de carvão no distrito.

Em outra ocasião, a equipe da Panos visitou o distrito de Rufunsa, onde a ZAW, com apoio de VAC, ajuda agricultores a adotarem técnicas de agricultura inteligente para o clima. “Queríamos entender o que eles estavam fazendo, registrar algumas de suas histórias de mudança e documentar soluções climáticas lideradas localmente”, conta Thindwa. Durante as conversas, uma mulher mencionou ter lido um artigo sobre o trabalho da Federação de Mulheres de Kanyama (produzido pela Panos em VAC). Ela disse que gostaria de aprender com o que suas colegas em Kanyama estavam fazendo. “Assim, uma oportunidade de troca de ideias e habilidades foi fortalecida por meio da publicação, o que pode levar a mudanças de comportamento em termos de mitigação e adaptação”, comenta Thindwa. “Esse é um grande exemplo do impacto do nosso trabalho”.

O trabalho continua. Nervious Siantombo, Gerente Regional de Programas da Panos, relata ter visto um comunicado do Ministério do Governo Local sobre financiamento para alívio da seca. “Essa é uma oportunidade que precisamos aproveitar”, diz ele. “Já estamos fortalecendo nossas bases de dados nesses locais para ajudar a construir essa ponte entre as comunidades locais e os formuladores de políticas”.

Uma visão para uma Zâmbia sustentável

Assim como nos outros seis países onde VAC atuou ao longo desses cinco anos, VAC Zâmbia conseguiu levar iniciativas inovadoras a um público mais amplo e influenciar a tomada de decisões em níveis nacional e subnacional. No entanto, ainda há muito a ser feito. O objetivo final é criar uma sociedade em que a sociedade civil local e os grupos sub-representados estejam na linha de frente da ação climática, moldando e implementando soluções inovadoras e duradouras. V

RAÍZES CRUZADAS

Uma jornada sobre conhecimentos tradicionais do Brasil e da Tunísia como ferramentas para combater as Mudanças Climáticas e a perda de biodiversidade

Por Adriano Maneo e Andreia Bavaresco, do IEB e Time Regional VAC Brasil; Carlos Pereira, da Associação Quilombo Kalunga (AQK); Karim Benchaaban, do Grupo de Desenvolvimento Agrícola do Oásis de Tamaghza (GDA Tamaghza); e Ramzi Laamouri, do Observatório de Soberania Alimentar e Meio Ambiente da Tunísia (OSAE). • Fotos: Adriano Maneo

Vista da cidade e oásis de Tamagzha, no oeste tunisiano.

Karim Benchaaban, do oásis de Tamaghza, visita assentamento da agricultura familiar na Chapada dos Veadeiros.

O voo que vinha de Tunis aterrissou no último mês da maior seca da história de Brasília. Era 14 de setembro de 2024, o 143º dia dos 167 sem chuva na cidade, e desembarcavam em solo brasileiro os tunisianos Ramzi Laamouri e Karim Benchaaban, representantes do Observatório da Soberania Alimentar e Meio Ambiente (OSAE) e do Grupo de Desenvolvimento Agrário de Tamaghza (GDA Tamaghza), para o início de um mergulho no Cerrado brasileiro.

“Nossa! O clima é parecido com o de casa”, se surpreendeu Karim ao descer do avião. Sintomático.

Karim é liderança do milenar Oásis de Tamaghza, no oeste tunisiano, fronteira com a Argélia e na beira do deserto do Saara. É acostumado à seca extrema.

Ali começava o Raízes Cruzadas, uma jornada de troca de saberes para conhecer e entender como agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais de regiões diferentes do Sul Global lidam com as ameaças climáticas e não-climáticas aos seus modos de vida, ao conhecimento tradicional, à sociobiodiversidade e à sua soberania alimentar.

A jornada consistiu em duas visitas de cerca de uma semana, uma no Cerrado brasileiro e outra na Tunísia,

entre representantes do Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB e Associação Quilombo Kalunga (AQK), do Brasil, e do Observatório de Segurança Alimentar e Meio Ambiente (OSAE) e do Grupo de Desenvolvimento Agrícola de Tamaghza (GDA), da Tunísia.

Visitamos quilombos no Cerrado, oásis no deserto, ilhas no Mediterrâneo, assentamentos resistindo ao agro, grupos de mulheres resistindo ao patriarcado, Parques Nacionais, cooperativas, museus e organizações da sociedade civil. Em comum, fomos sempre recebidos por gente que inspira, guardiões e guardiãs do clima e da biodiversidade que persistem em acreditar que o planeta pode ser um lugar mais diverso, mais equilibrado e mais justo, “um mundo em que cabem vários mundos”.

“Como eles conseguem fazer tanto com tão pouca água! É muito conhecimento, muita coisa para aprender”, exclamou Carlos Pereira, presidente da Associação Quilombo Kalunga, no mês seguinte, ao conhecer o Oásis de Tamaghza e a tecnologia ancestral de gestão da água nos sistemas agrooasenses da região oeste da Tunísia.

Além de Carlos, a delegação brasileira também teve a equipe do IEB, composta por Andreia Bavaresco, coordenadora-executiva, e Adriano Maneo, socioambientalista e comunicador.

“O que mais me impressionou durante essa experiência foi o movimento das mulheres em busca de autonomia econômica. Isso me emocionou profundamente e me fez refletir sobre a importância de promover intercâmbios reais e significativos entre países que sofreram colonização e ainda hoje lutam para alinhar práticas anticoloniais com a promoção da justiça social e ambiental”, destacou Andreia já no fim da visita à Tunísia.

Na perspectiva de que a emergência climática é fruto do modelo de desenvolvimento colonialista do Norte Global, que em diferentes tempos e contextos massacrou e dominou à força os povos do Sul Global - incluindo o Brasil e a Tunísia -, a conexão e a troca de conhecimentos entre povos, movimentos sociais de agricultores familiares e comunidades tradicionais desses dois países é uma fonte rica para ampliar a compreensão sobre as mudanças climáticas e suas raízes, suas implicações, seu entrelaçamento com problemas anteriores e persistentes e também as formas de combatê-las da escala local à global, com o protagonismo e a aliança dos mais afetados: os povos do Sul do planeta.

O que mais me impressionou durante essa experiência foi o movimento das mulheres em busca de autonomia econômica. Isso me emocionou profundamente e me fez refletir sobre a importância de promover intercâmbios reais e significativos entre países que sofreram colonização e ainda hoje lutam para alinhar práticas anticoloniais com a promoção da justiça social e ambiental”
Visita da delegação brasileira ao Grupo de Desenvolvimento Agrário Feminino de Takelsa, na Tunísia.

Visita da delegação brasileira ao Grupo de Desenvolvimento Agrário Feminino de Takelsa, na Tunísia.

Por meio de uma página interativa online, convidamos você a viajar junto com a gente pelas paisagens lindas da Tunísia e do Brasil, conhecer os amigos e amigas e as organizações aguerridas que cruzamos pelo caminho, além de compartilhar das reflexões e análises que esse encontro tão rico proporcionou.

Acesse a história completa, em português, inglês e árabe, no link. Na página, apresentamos essa contextualização inicial que você leu aqui, muitas fotos e vídeos e também: um mapa guiado com II. Os caminhos que percorremos; na sequência, uma análise sobre as III. Ameaças climáticas e à sociobiodiversidade nos territórios; seguimos com uma apresentação sobre os IV. Povos do Cerrado brasileiro e da Tunísia: enfrentando as ameaças, em especial os que encontramos e visitamos na jornada; trazemos também uma análise das oportunidades e desafios do V. Diálogo multilinguístico e multicultural, que neste caso envolvia ao menos quatro línguas diferentes; e por fim relembramos as

mensagens de VI. Despedidas e agradecimentos com memórias do nosso último momento juntos, quando celebramos com um churrasco tunisiano o encerramento do encontro.

A conexão Brasil-Tunísia entre essas organizações se deu por meio dos grants de colaboração interregional, promovidos pela organização sul-africana South South North, no âmbito do Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC), do qual IEB e OSAE são parte. Na jornada pelo Cerrado brasileiro, a iniciativa também teve apoio indireto do Fundo Global pelo Meio Ambiente (GEF) e do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), no âmbito do projeto Baru da Chapada. V

Foto:Amarilis

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JUVENTUDE DA AMAZÔNIA

PROTAGONIZA A 3ª COP DAS BAIXADAS, EM BELÉM DO PARÁ

Realizada na Vila da Barca e no Curro Velho, a conferência reuniu cerca de 700 pessoas em três dias de debates, oficinas, tribunais simbólicos e celebrações culturais, reforçando o protagonismo juvenil no enfrentamento às mudanças climáticas

Por Amanda Martins e Ruth Ferreira, da COP das Baixadas

Entre os dias 22 e 24 de agosto de 2025, Belém foi palco da 3ª edição da COP das Baixadas, conferência que se consolida como um dos principais espaços de articulação juvenil pela justiça climática na Amazônia. Realizado na Vila da Barca, na Fundação Cultural Curro Velho, o encontro reuniu jovens, moradores, coletivos sociais, pesquisadores e organizações nacionais e internacionais. Estima-se que cerca de 700 pessoas participaram das atividades gratuitas, que ocuparam tanto espaços institucionais quanto áreas comunitárias.

Com a proposta de construir coletivamente “a conferência que queremos”, a edição de 2025 da COP das Baixadas deu ênfase à necessidade de visibilizar soluções já em prática nas periferias de Belém e cidades vizinhas. Os debates abordaram desde o financiamento climático até a relação entre cultura e clima, reafirmando que as respostas às crises ambientais emergem de dentro dos territórios.

“Nosso objetivo é mostrar que a periferia não é apenas vítima da crise climática, mas também produtora de alternativas”, destacou Jean Ferreira, fundador da COP das Baixadas e coordenador do Gueto Hub.

Celebração e pertencimento

Além dos painéis e mesas de discussão, a conferência também foi espaço de celebração. Cortejos culturais, apresentações de carimbó, batalhas de hip hop, teatro de sombras e a Ball House of Carão foram umas das atividades que marcaram a programação. Essa diversidade reforçou a dimensão simbólica do

encontro: realizar a COP das Baixadas na Vila da Barca e no Curro Velho, deu ainda mais peso à mensagem de resistência e protagonismo comunitário. “Trazer a conferência para dentro da comunidade é reafirmar que é aqui, onde os impactos são sentidos primeiro, que a luta por justiça climática precisa se intensificar”, afirmou Suanne Barreirinhas, da Barca Literária e integrante da comissão organizadora.

Programação em destaque

A agenda foi intensa e múltipla. O primeiro dia contou com mesa de abertura sobre o tema “Do Global ao Local: Como a COP30 Pode Transformar o Financiamento Climático nas Periferias”, reunindo representantes da Fundación Avina, WWF, Oxfam, Gueto Hub e Barca Literária. Também foi lançada a terceira edição da revista “Vozes da Vila”, produzida por adolescentes da Vila da Barca.

O segundo dia teve oficinas, rodas de conversa e atividades culturais simultâneas, mas dois momentos se destacaram:

Tribunal das Crianças – realizado ao meio-dia, trouxe denúncias feitas por crianças da comunidade sobre desigualdades, falta de saneamento e os efeitos da crise climática em seu cotidiano.

Tribunal da COP30 – ocorrido no início da noite, chamou atenção para os crimes ambientais que atingem diretamente os territórios periféricos, exigindo visibilidade e responsabilização.

Essas iniciativas simbólicas funcionaram como espaços de denúncia pública, tornando explícitas as injustiças socioambientais que muitas vezes ficam invisíveis nos debates institucionais.

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No domingo, o encerramento teve início no Espaço Cultural Ruth Costa, com o “Pedal Rumo à 3ª COP das Baixadas”. Em seguida, cortejos culturais, oficinas de autocuidado, atividades para crianças e apresentações artísticas deram o tom de celebração e de reafirmação da identidade comunitária.

O protagonismo das Zonas

Amarelas

Um dos pontos altos da edição foi o fortalecimento das Zonas Amarelas, espaços comunitários criados para debater e articular soluções frente à crise climática. Hoje, já são sete Zonas Amarelas ativas em Belém e Castanhal, funcionando como polos de mobilização e formação.

O conceito surgiu a partir da Yellow Zone, programa de desenvolvimento comunitário promovido pela Coalizão COP das Baixadas. A proposta é descentralizar o debate climático, levando-o para além dos centros institucionais e ampliando a participação das periferias. As Yellow Zones nasceram a partir do polígono chamado “Territórios das Baixadas”, apresentado na 2ª Conferência das Baixadas, em março de 2024, e têm como perspectiva se expandir para outras cidades nas futuras Conferências das Partes (COPs), criando zonas descentralizadas em diferentes territórios urbanos. Seus objetivos são múltiplos: levar discussões sobre mudanças climáticas para fora dos espaços

Foto: Amarilis
Fotos: Lírio

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tradicionais, garantindo a inclusão das periferias; deixar um legado comunitário com formação profissional; promover turismo social e hotelaria de base comunitária, valorizando a cultura local e gerando renda; e manter uma mobilização permanente em torno da pauta climática, com envolvimento comunitário contínuo.

Durante a organização da 3ª COP das Baixadas, as Zonas Amarelas foram responsáveis por engajar moradores, coletivos e lideranças, garantindo que a conferência não fosse apenas um evento pontual, mas parte de um movimento permanente de resistência e ação comunitária.

“Cada Zona Amarela é um território vivo de voz, participação e construção coletiva. É nesses espaços que a comunidade se organiza, debate e encontra caminhos para enfrentar a crise climática a partir da própria realidade. São também Zonas de Esperança,

onde a juventude amazônica se prepara para pautar a COP30, mas principalmente todos os processos que virão depois dela. O protagonismo que nasce nas periferias é a base de uma nova forma de pensar justiça climática.” Ruth Ferreira, Coordenação do Gueto Hub e Comissão Organizadora.

A 3ª COP das Baixadas reafirmou seu papel como espaço estratégico para o debate climático na Amazônia. Entre debates técnicos, manifestações culturais e ações simbólicas de denúncia, a conferência mostrou que a juventude amazônica não apenas participa do debate global, mas também o redefine a partir de suas realidades e práticas de resistência. V

Fotos: Amarilis
Foto: Lírio
Foto: Amarilis

Varadouros na COP30, evento organizado com apoio do VAC/ Fundo Casa. Foto: Alexandre Cruz-Noronha

A rede ComunicAtiva de Jovens flui

Coalizão mobilizou juventude historicamente invisibilizada do Acre e segue legado de Chico Mendes

Por Hannah Lydia, Angélica Mendes e Anaís Cordeiro, do Comitê Chico Mendes e Coalizão Rede Comunic(A) tiva de Jovens.

chico Mendes deixou uma carta aos jovens. Nela ele dizia que em 6 de setembro do ano de 2120 haveria uma revolução liderada pelas juventudes de todo mundo. Hoje, 36 anos depois do seu assassinato e faltando 95 anos para essa revolução, o que vemos faz de Chico além de tudo, visionário.

Foi com esse espírito de continuidade e resistência que o Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) chegou ao Comitê Chico Mendes, pouco tempo depois de sua formalização como organização. Fundado na noite em que Chico foi assassinado, o Comitê nasceu com a missão de manter vivo seu legado. No entanto, foi somente em 2021 que a instituição se formalizou juridicamente, buscando fortalecer sua atuação na defesa dos territórios e dos povos da Amazônia.

Nesse momento de virada, o VAC se aproximou. E o que antes era semente, começou a ganhar estrutura. A primeira captação de recursos do Comitê Chico Mendes veio através desse encontro. A partir daí, o Comitê passou a atuar com mais força na Reserva Extrativista Chico Mendes, em especial junto às juventudes que vivem e resistem dentro dela.

Desse encontro do Comitê e VAC, nasceu a Rede ComunicAtiva de Jovens, iniciativa que se tornou essencial na mobilização de uma juventude historicamente invisibilizada. Afinal, muitos preferem acreditar, ou fingem acreditar, que não há gente vivendo na floresta. Mas há. E essa juventude carrega o peso e a potência de sustentar o futuro do território. Mesmo sem acesso ao mínimo, como uma educação de qualidade, ela resiste.

Foi a partir dos encontros da Rede ComunicAtiva, das trocas, formações e conexões entre as realidades, que surgiu o Coletivo Varadouro. Com o lema “Juventude unida pela Resex viva”, o coletivo nasceu após a Semana Chico Mendes, realizada em dezembro de 2022. Jovens que não apenas existem, mas resistem, decidiram caminhar juntos.

Desde então, o Comitê se fortaleceu. Passou a atuar também nas agendas de justiça climática, aprovou mais de oito projetos de médio porte, firmou parcerias, ocupou espaços. Em conjunto com o Varadouro, assumiu uma cadeira no Conselho

Comitê Chico Mendes e o Varadouro participando da SB62 em Bonn

Deliberativo da Resex Chico Mendes, participou de articulações nacionais e levou sua voz a espaços internacionais, como as Conferências do Clima (COPs).

Neste mês de julho, mais uma semente foi plantada: nos dias 26 e 27, jovens do Coletivo Varadouro se reúnem na comunidade Dois Irmãos, dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes, para uma imersão formativa que conecta o território às pautas globais. A chamada “Pré-COP” marca não apenas o encerramento simbólico de um ciclo do projeto VAC, mas também o início de uma nova marcha rumo à COP30, guiada pelos passos firmes da juventude extrativista. Será um momento de escuta, criação coletiva e articulação política, com os próprios jovens conduzindo o debate sobre justiça climática e os efeitos reais das mudanças do clima sobre seus modos de vida. Uma construção que reafirma: o futuro da floresta já caminha e tem voz própria.

Entre as experiências que nasceram dessa caminhada está o Projeto Fluentes, uma parceria entre o Comitê e a Correnteza. Com o apoio do VAC, o Fluentes ofereceu aulas de inglês para 15 jovens extrativistas e urbanos do Acre, ao longo de dez meses de encontros remotos e intensos.

Mas o Fluentes não é um curso de idioma. É uma experiência de afirmação e escuta. Uma construção coletiva em que o inglês se torna ferramenta, não para “sair da floresta”, mas para levar a floresta para os lugares onde as decisões são tomadas.

Nas aulas, os participantes aprenderam vocabulários que nomeiam suas lutas, seus territórios, suas feridas. Discutiram os caminhos da incidência política, entenderam as estruturas que sustentam a agenda climática internacional e trocaram entre si os aprendizados que carregam da vida, das comunidades, dos enfrentamentos. Tudo isso enquanto fortaleciam sua voz para o mundo.

O Fluentes parte do princípio de que o centro da formação não é a língua, mas quem aprende. Que ninguém deve abrir mão da própria identidade para dialogar com o mundo. Que ocupar espaços internacionais exige técnica, mas exige também raiz. E essas juventudes têm de sobra.

Anaís, uma das responsáveis pelo Fluentes e a Kailane que é extrativista e é uma das alunas do Fluentes

Ainda estamos longe do que queremos. A Resex Chico Mendes continua ameaçada, a floresta segue sendo explorada, e a violência política não arrefece. Mas quando olhamos para os caminhos abertos, e para quem caminha, há uma certeza que não nos abandona: A revolução anunciada por Chico Mendes já começou, e nela repousa o futuro da floresta, falado em muitas línguas, mas sobretudo na língua do território. V

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Centro de Manaus.

Foto: C. Durigan

ENTRE A FÚRIA

E O MEDO

A crise climática e a resistência performática na Cidade de Manaus (AM)

Por Francy Júnior, do Movimento das Mulheres

Negras da Floresta – Dandara, Ykamiabas

Produções e da Coalizão Na Piracema das Mudanças Climáticas.

Na cidade de Manaus, o céu já não anuncia apenas a chegada das chuvas. Expressa o medo. O trovão, raios que antes eram só som de chuva, agora ecoam como sinal de alerta. Com as nuvens carregadas, cresce a angústia de quem já viu o igarapé virar rio dentro de sua casa, de quem perdeu móveis, memórias e chão.

A comunidade manauara, amazonense, vive entre extremos: da enchente ao pó seco da estiagem, do calor escaldante aos temporais severos, com rajadas de ventos que arrancam telhados, árvores e a pouca paz que ainda resta.

A crise climática por aqui não é apenas debate teórico, é vivência cotidiana. É o medo da próxima cheia histórica, é o corpo do rio que desaparece deixando atrás de si barcos encalhados e comunidades inteiras isoladas. Isso é a certeza de que algo mudou profundamente na relação entre o tempo e o território. O que antes era ciclo da natureza virou violência anunciada.

A população mais vulnerável, sobretudo as periféricas e as comunidades ribeirinhas, são as que mais sofrem

com a negligência, o racismo ambiental e o descaso. Falta estrutura, falta resposta, faltam políticas públicas, mas sobra dor. E, ainda assim, resiste-se. E se dança.

Foi nesse cenário de urgência, fúria e medo que nasceu a performance Ensaio da Loucura Ensaio é resultado de um processo continuado de escuta, acontecido a partir de uma série de rodas de conversas sobre crise e justiça climática, desenvolvidas por projeto com mulheres e jovens da periferia da zona norte de Manaus, dando continuidade à formação de atrizes e atores engajados iniciada ainda na primeira etapa do projeto (e que desembocara na criação e apresentação da peça teatral Oxigênio). Esses novos atores e atrizes são frutos e raízes da Coalizão Na Piracema das Mudanças Climáticas: mulheres e jovens na Amazônia nadando contra a corrente.

Formada por organizações de três municípios da região amazônida (Imperatriz, Maranhão; Altamira, Pará; e Manaus, Amazonas) e pelo Instituto Eqüit, com o apoio do Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC), em Manaus, a coalizão Piracema contou com a coordenação sensível do Movimento das Mulheres Negras da Floresta – Dandara; o suporte da Ykamiabas Produções, e o apoio essencial da Comunidade São Paulo, que solidariamente, cedeu diversas vezes espaço para os ensaios e conversas.

Ensaio da Loucura é uma resposta poética, visceral e necessária para despertar o senso da ecologia integral. Em cena, corpos que

carregam o desespero das águas, o peso do calor, a fúria dos ventos e a terra rachada nos pés, e que ecoa o grito de uma floresta em colapso, de um povo que recusa silenciar.

Ensaio da Loucura não é só arte, é denúncia. É a tradução sensível e potente de um estado de coisas que nos adoece, nos fragiliza, mas também nos convoca à ação. Em um Estado onde os fenômenos naturais já não são mais naturais, mas consequências de um modelo predatório que desmata, que seca, que mata, a arte se faz necessária como respiro e como protesto.

Ensaio da Loucura é cena, mas não delira. A performance sabe bem o que diz, mesmo quando a palavra não é verbalizada. Precisamos escutar esses corpos que gritam, precisamos agir antes que a próxima cheia leve o que ainda resta. A cidade de Manaus (AM) está em estado de emergência climática, emocional, existencial. E se o poder público não responde, que respondamos com arte, com denúncia, com coragem.

Porque o medo é real. Mas a resistência também. V

MUTIRÃO ESPERANÇAR

A transformação floresce na Ocupação

Vila Nova Conquista

Por Conceição Amorim, coordenadora do Centro de Direitos Humanos Padre Josimo, e membro da Coalizão Na Piracema das Mudanças Climáticas

Fotos: Acervo CDH Padre Josimo

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Desde 2015, a Ocupação Vila Nova Conquista, localizada na cidade de Imperatriz, no Maranhão, tem sido um campo de batalha para seus moradores, especialmente para as mulheres e jovens, na incessante luta por moradia digna. Três despejos violentos já haviam marcado a memória da comunidade, mas a ameaça mais recente, em novembro de 2024, pairava com uma intensidade devastadora. O ar estava pesado com o temor da perda do lar, da desestabilização de vidas inteiras e da sensação de impotência que acompanhava cada notificação. Era um momento crítico, onde a resiliência da comunidade estava sendo testada ao limite.

Foi nesse cenário de tensão que a coalizão “Na Piracema das Mudanças Climáticas” e, em particular, o Centro de Direitos Humanos Padre Josimo, uma das organizações participantes dela, agiu como um dique de proteção. A equipe do Centro de Direitos Humanos, com seu compromisso inabalável, mergulhou na defesa da comunidade. Sua atuação foi decisiva: mobilizaram recursos, articularam apoios e, o mais importante, garantiram que a voz dos moradores fosse ouvida nos tribunais. A visibilidade da luta, que a coalizão ajudou a amplificar, pressionou as autoridades e a opinião pública, sendo determinante para a suspensão da ação judicial de despejo.

A suspensão não apenas evitou a remoção forçada, mas também abriu um espaço precioso para que a iniciativa “Na Piracema” pudesse fincar raízes mais profundas, oferecendo um novo horizonte de esperança e fortalecimento. Na efervescência da Ocupação Vila Nova Conquista, em Imperatriz, Maranhão,

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as mulheres jovens da comunidade, muitas delas mães e chefes de família, já estavam engajadas nas diversas oficinas do projeto. Elas aprendiam sobre agroecologia, trocavam saberes em artesanato e discutiam os impactos das mudanças climáticas em suas vidas. O projeto já semeava novas ideias sobre direitos, meio ambiente e coletividade.

Como forma de continuar semeando sementes na ocupação, moradores e moradoras visando transformar uma praça degradada da localidade, juntaram-se em um mutirão, revitalizando-o em um espaço público verde, vibrante e funcional, promovendo assim a qualidade de vida, a sustentabilidade e o fortalecimento da comunidade local. Juntos, limpamos, plantamos e melhoramos a praça do bairro, transformando-a em um espaço ainda mais agradável para todas e todos. Neste dia também houveram apresentações de poesias e músicas com os artistas Paulo Maciel e Lília Diniz e finalizamos as atividades na Ocupação com a entrega da 20ª Medalha “18 de Janeiro”, honraria dada

anualmente pelo Centro Padre Josimo, que neste ano homenageou Maria da Luz Estácio, companheira que se destacou por sua trajetória e compromisso com a luta pela educação de qualidade no campo, direito à terra e pela defesa ao meio ambiente.

O mutirão para a construção da praça, na Ocupação Nova Conquista, foi um grande sucesso, demonstrando a força da união da comunidade e a importância das ações do Centro de Direitos Humanos Padre Josimo, por meio do programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC). A nova praça é um patrimônio da comunidade, um símbolo de esperança e um exemplo de como pequenas ações podem gerar grandes transformações. A coalizão “Na Piracema das Mudanças Climáticas” não é apenas sobre adaptação e resiliência; ela é uma tapeçaria tecida com as linhas da esperança, da luta e do fortalecimento. Em meio aos desafios da Ocupação Vila Nova Conquista, em Imperatriz, Maranhão, as histórias acima se destacam como faróis da mudança que o projeto e a comunidade estão co-construindo. V

AONDE A MONOCULTURA NÃO PODE-NOS LEVAR

Um ensaio sobre as relações entre arte e clima

Por Lucía Santalices, do Instituto Eqüit e Coalizão Na Piracema das Mudanças Climáticas

Este texto foi elaborado a partir da rica e fértil execução do projeto Na Piracema das Mudanças Climáticas: mulheres e jovens na Amazônia nadando contra a corrente, que em seus mais de três anos, possibilitou nossa abertura política, coletiva, ética e estética para o entendimento da relação profunda existente entre arte e clima.

Mesmo que me colocassem um ânus artificial na palma da mão, eu não estaria ali, quase vivendo suas vidas de homem, de homem apenas, de homem o bastante para poder ser um de verdade, à sua imagem, um dia, cumpridos os meus avatares.

Samuel Beckett, O inominável

Rocha
do Velho Bushman

A arte é parte do reino da cultura, que surge em uma espécie de “resposta constante” ao reino natural. Quer dizer, o reino das coisas que existem, e o reino daquilo que criamos a partir da relação com o que existe e com o que sentimos que nos falta. Esse diálogo, essa falta, são o reino cultural. Isto não significa dizer que essa relação seja linear, segundo a qual “o homem transformaria, progressivamente, natureza em cultura pelo processo chamado ‘história’”. Ao contrário, trata-se mais de uma relação circular, na qual

o homem vai transformando natureza em cultura pelo processo da “produção”, cultura em lixo pelo processo do “consumo”, e o lixo se transforma espontaneamente em natureza pelo processo da “decomposição”. O problema atual é o lixo: vai crescendo e sua decomposição em natureza é lenta (lixo atômico, matéria plástica, etc.).

O acúmulo do lixo freia a circulação da história, e a história estagna.

Essa circularidade que entendemos haver entre natureza / cultura (e lixo), permite-nos de certa forma dizer que a cultura é a natureza humana, e que a distinção entre natureza e cultura não se sustenta propriamente. Seguindo essa picada, podemos afirmar que a ecologia não deveria ser compreendida enquanto ciência meramente da natureza, mas sim enquanto ciência arqueológica, tratando tanto dos ambientes naturais como dos ambientes culturais. Para pensadores como Flusser, a ecologia deve incorporar os feitos e interferências humanas, o que de algum modo significa dizer que o reino da cultura também é reino da natureza e nesse sentido, propõe a existência de uma ecologia da cultura e da comunicação.

A ideia de conservação da natureza parece-nos equivocada justamente porque pressupõe uma relação estática – não se conserva a natureza como sardinha em lata – e não dinâmica, e que, de alguma forma, acredita numa floresta virgem, intocada donzela romântica, livre do mal das mãos humanas, mas entendemos que, muito pelo contrário, e é cada vez mais aceita, por exemplo, a teoria de que a floresta amazônica é, na verdade, fruto do manejo humano, quer dizer, da relação ameríndia com a natureza, de sua conversa ou, em outros termos, sua cultura. Frases como “sem mulher, não tem floresta em pé” deixam clara essa relação profunda que ainda persiste em territórios cuja cultura ainda não foi totalmente devastada pelo afã devorador neoliberal. Quer dizer, nossa cultura é moldada em grande parte pelo ambiente, a natureza, nossa relação com o entorno, bem como nossa cultura interage e oferece um mundo humano, que inevitavelmente altera a natureza, dialoga com ela. E esse diálogo pode ser harmonioso, sustentável ou um nefasto monólogo destrutivo e produtor de lixo excessivo, a depender, precisamente… das culturas de cada povo.

E nesse sentido, a relação entre cultura e natureza é estruturante. Talvez possamos arriscar dizer que a cultura, e também mais especificamente, a arte, um seu braço, são o diálogo humano com a terra e o cosmos.

1FLUSSER, 11/10/1982, p. 7 apud. DADBAD, R.; BAITELLO JR, N.; MENEZES, J. E. O. “As Crateras de Itabira”. Correspondência entre Vilém Flusser e Rodolfo Geiser Sobre a Ecologia. Revista eletrônica do Programa de Mestrado em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero. Ano XXIII- No 45, p.16. JAN / JUN. 2020. Disponível em: https://seer.casperlibero.edu.br/index.php/libero/article/viewFile/1153/1079. Acesso em 15/06/2025. 2Ibiden

A bem da verdade, é possível encontrar inúmeras relações entre os temas: arte para falar sobre clima, artes que dependem de recursos naturais para serem realizadas (e se levarmos ao pé da letra, toda arte depende deles, porque a vida em si depende, e porque um violão leva madeira, a bateria, elementos ferrosos e petróleo beneficiado e a tela de qualquer pintor é de algodão), a influência da degradação ambiental na produção de trabalhos artísticos (já seja nas dificuldades que acarretam ao dia a dia dos artistas, já seja no conteúdo de suas obras) ou a influência do agronegócio nas dez mais tocadas no Brasil e naquilo que o público “quer”. As imbricações entre arte e clima, natureza e cultura, são complexas e remontam a tempos tão antigos quanto nossa imaginação possa alcançar.

Não é à toa que cultura (do latim cultura - particípio do verbo colere, cultivar, habitar -, aquilo que foi cultivado, resultado do trabalho) é uma palavra com dois expressivos significados. Pode ser a designação ampla e múltipla de um complexo de valores, conhecimentos, normas, crenças, costumes, tecnologias e artes de determinado grupo social; e pode igualmente significar especificamente a (agri)cultura ou o cultivo de plantas (ou mesmo de animais). A plantação é um traço de cultura dos mais longínquos. Plantar e colher a cultura. Daí, cultura estendeu-se para o espectro amplo de hábitos, condutas, formas de agir e pensar de cada sociedade. Quer dizer, tudo aquilo que uma sociedade planta, colhe e de que se alimenta, para muito além daquilo que mastigamos e que o intestino deglute - “você tem fome de quê?”3

Por que escolhemos passar de plantadores de água a criadores de desertos“computadores fazem arte”?4

O patriarcado constrói sua estética de acordo com seus interesses. Sabemos que os valores patriarcais se mantêm através da violência imposta nos corpos e territórios diariamente, mas é também através do convencimento cultural, que legitima comportamentos misóginos, cerceantes e hierarquizantes entre as vidas, entre outros princípios duvidosos. Ao longo da história, a arte foi um grande disseminador de valores e sedimentador de culturas. Por isso, e apesar da cultura hegemônica atual agir como grande cooptador de subjetividades, é fundamental que a contracultura busque disputar as narrativas estéticas que precisam ser desmontadas, para buscar substituir os valores patriarcais dominantes por outros de maior amorosidade e respeito pela vida e os comuns. A arte feita pela comunidade, quer dizer, por nós e para nós, pode alcançar transformações profundas.

A arte hegemônica atual é braço da cultura atual, que sem cerimônia, autodenomina-se com termos como “a indústria da cultura”, deixando clara sua perspectiva de massas. Uma indústria não produz diversidade, esse é o diferencial justamente do artesanato, cada peça, única. Ao contrário, o interesse da industrialização é precisamente a reprodução em larga escala de um mesmo produto, repetido ao infinito, igual, em velocidade aceleradíssima,

3 FROMER, M.; ANTUNES, A.; BRITTO, S. Comida. Do álbum Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas, 1987.

4 ZERO QUATRO, F.; SCIENCE, C.; NAÇÃO ZUMBI. Computadores fazem arte. Do álbum Da lama ao caos, 1994.

mesmo que isso signifique perda de qualidade. Na indústria cultural, o que se vê é um processo bastante similar: a reprodução global e massiva de determinados materiais (cada vez menos) artísticos, (cada vez mais) produtos do entretenimento a serem consumidos a partir de um estímulo midiático que implica a injeção pornográfica de recursos financeiros para impulsionar determinades artistes reprodutores do status quo, em que conta mais ter do que ser, e o “meu ser” é sempre melhor, mais bonito e mais poderoso que o “teu”.

Outra expressão que chama a atenção é o famoso slogan “o agro é pop”. Numa tentativa de limpar sua imagem intoxicada (é o que acontece quando mexemos com tanto veneno…), a elite ruralista nacional buscou fazer um gracejo, associando sua produção em massa com um estilo musical e plástico que, “coincidentemente”, também pretende alcançar multidões. Entretanto, nas entrelinhas da frase, é possível fazer uma leitura das intenções culturais do agronegócio. E não estamos falando da cultura de soja, mas talvez possamos falar em cultura da soja.

Monocultura gera monocultura

A cultura da soja, para nossa tristeza, vai muito além dos milhões de hectares com uma única espécie vegetal, cultura de soja, em uma forma de exploração dos nutrientes do solo bastante ignorante e incessante. Ela apresenta a monocultura não apenas em sua forma de plantação alimentícia nos campos, mas, cada vez mais, busca interferir naquilo que alimenta nossas mentes. E, não por acaso, o agro vem investindo pesado na agromusic. Músicas que exaltam a utilização de aviões de pulverização de agrotóxicos, o peão machista e a objetificação da mulher, o enriquecimento individual acima dos bens comuns, entre outros temas e valores degradantes, sequestrando inclusive narrativas das periferias (como do hip hop), que em outro contexto, falam sobre conquistar um lugar ao sol, sobre “subir na vida” e enriquecer mesmo contra todas as expectativas e dificuldades. Os agroboys colocam-se como vencedores que batalharam muito para chegar a ter um avião de envenenar. O que os versos escondem são os recursos injetados nessa produção e distribuição sonora para que ela se torne paixão ou mais bem febre nacional (a febre não é uma doença, mas é um sintoma de que algo não vai bem). Como bem ouvi em algum podcast o BNegão dizer, se antigamente, o ritmo sertanejo narrava as peripécias do povo trabalhador sertanejo e pantaneiro, agora elas parecem falar sobre os desejos do patrão, dono da fazenda…

Na transformação da arte cada vez mais em entretenimento e em braço armado da comunicação hipertecnoneoliberal, ela é parte do que afirma, atesta, legitima e garante estabilidade ao hegemônico. É o que dá bases morais, afetivas, o que convence populações, em territórios totalmente distintos entre si, de que a forma neocolonial e patriarcal do hegemon, apesar de ser alheia às necessidades e filosofias e fisiologias locais, é melhor para si... a arte monocultural abre a porteira pra boiada passar, e devastar.

Mesmo em cima da moto ou da voadeira, correndo na conversa pra caber nestas páginas, cabe mencionar outra forma eficiente de captura das subjetividades que a direita compreendeu e vem utilizando fortemente na contemporaneidade, que são as teorias conspiratórias; que não são arte, mas são quase. Segundo Paolo Demuru, os mecanismos do conspiracionismo e suas narrativas, além de oferecer respostas simples para problemas complexos e assustadores como as mudanças climáticas, proporcionam uma boa dose de maravilha contra as frustrações e a dureza do mundo competitivo e individualista em que

vivemos (em vidas isoladas, deprimidas, ansiosas, individualizadas). Quem crê nessas teorias não encontra dados concretos, mas encontra encanto, maravilhamento.

Nos últimos tempos, a esquerda parece tão ocupada em “apagar incêndios” (reais e simbólicos), e tão preocupada em não perder seu “pequeno quinhão democrático” (conquistado a duras penas, é verdade) que parece estar-se esquecendo de disputar a maravilha, o encanto e os futuros possíveis. E os movimentos de extrema direita, nos últimos anos, vêm fazendo isso muito bem. Quer dizer, não é através de mudanças sociais nem de dados reais que ela vem conseguindo convencer as massas de seu projeto nefasto e manter seu apoio; é, antes de tudo, pela fantasia, pela literatura. Saber de uma verdade escondida, que me é revelada na condição de “escolhido”, pois não todos compreendem A Verdade, permite que as pessoas sintam-se ainda especiais, possam encontrar um propósito e se sintam parte de uma comunidade seleta. Quer dizer, ativa a luta e o senso comunitário (propósitos ainda latentes em nossos corpos, mesmo que os novos mandatos desvalorem isso e ponham no lugar a idolatria do eu), ao mesmo tempo que segrega entre aqueles que sabem (seletos) e os que não sabem (massa ignorante).

Por tudo isso, enxergamos a importância das esquerdas e dos movimentos sociais populares aliarem sua luta ao trabalho de artistas engajados e sensíveis com os comuns. É preciso que voltemos a olhar para a vida via poesia, via sonho. Não apenas adiar o fim do mundo, mas apostar no futuro, voltar a desenhar qual futuro queremos, e não só o que não queremos.

A arte pode ser, em si, uma arma contra as desigualdades e dominações, posto que pode funcionar como um abrir de olhos. A potência, velocidade e profundidade comunicativa da arte não podem ser menosprezadas pelos movimentos sociais. Monocultura nos campos gera monocultura nas mentes, e esta abre a porteira para a boiada passar.

A importância da arte contra-hegemônica

A arte é uma ferramenta central para transformar a realidade. Como diz Safatle, “a sensibilidade é um campo de batalha”, ela define ou pode redefinir o que é a experiência, como cada sujeito experiencia a arte e a própria vida. A arte é uma espécie de pressão sobre a realidade, não uma válvula de escape, que obriga a realidade a ser diferente do que é; a arte coloca a realidade em movimento. Ela disputa a cultura. Disputa o que será plantado e, portanto, disputa futuros e esperanças, apresenta sonhos e lembra, é memória. A arte é um campo de batalha da disputa do imaginário. Ela é ainda uma potente ferramenta de comunicação, que opera sinapses imapeáveis e em um verso, pode tocar-nos profundamente, mudar nossa visão; é vetor de transformação sensível que não podemos deixar que continue sendo instrumentalizada pelo arrastão hegemônico.

A arte pode ser uma ferramenta aliada à denúncia das mudanças climáticas, por exemplo, a partir de uma arte engajada que visibilize explicitamente o tema, mas é, em si, um pilar que mantém as florestas em pé. São as culturas que fortalecem o sentimento de pertencimento das populações; são (algum)as tradições culturais que nos ensinam a ter uma relação de profundo respeito com a natureza. A arte influencia nossos modos de pensar e ser, e mantém vivas tradições culturais autóctones dos territórios: as danças e cantos de um povo, sua gastronomia, seus mitos e ritos são parte significativa do que lhes confere sentimento de

pertencimento ao ponto do cuidado com aquele território; a arte é coletiva (porque mesmo o artista mais solitário precisa de público para de fato existir), e nesse sentido, ela pode colaborar para o fortalecimento das relações comunitárias; ela também é um canal com os jovens, sendo portanto uma porta de diálogo com essa parcela tão fundamental de ser reacendida para as lutas sociais. E, finalmente, a arte pode ser entendida enquanto saúde mental e cuidado da alma, “órgão transversal” de pulsão vital humana para a produção de novos pensamentos e, consequentemente, transformações sociais profundas.

O ensaio precisa terminar e é bom saber que a conversa não acaba aqui, e não caber tudo o que eu tinha pra dizer, significa ter de continuar mais à frente, e isso me deixa feliz. Então, para fechar abrindo, explicando pra confundir e confundindo pra tentar esclarecer, como tão lindamente o fez e ainda faz Tom Zé com a minha cabeça ainda criança, ainda garota, e por tudo o que foi exposto, gostamos de propor o desenvolvimento e cultivo da conceitualização de uma ecologia da cultura, talvez, não tanto nos moldes teóricos de Flusser, mas que contemple um olhar pragmático voltado para as lutas e criatividades nos territórios, dia a dia. Quer dizer, uma proposta cultural (em termos de políticas públicas, mas também de ética e estética) que esteja em harmonia com as diversidades e com o clima, com a sustentabilidade das vidas, humanas e não humanas neste planeta; uma cultura menos mercadológica e hegemônica e mais cuidadosa; uma cultura menos monocultural e mais agroecológica, cujas políticas públicas não sejam tão verticais e reprodutoras de uma lógica elitista e patriarcal, e que incorporem as vozes dos territórios na prévia construção dos planos de cultura. Entender como a cultura pode ser mais ecológica e menos devoradora, buscando valorizar e respeitar as diversidades culturais, promovendo menos lixo, guiada pelo ritmo da decomposição e não da avidez da composição fabril, super hiper produtividade; que não precise de bilhões em dinheiro para acontecer; que seja democrática, para todos e o ano todo; contra megaeventos cujos orçamentos devoram as pastas de cultura de dezenas de pequenas cidades Brasil afora, deixando um cenário de terra arrasada por onde passam e desertificando a programação cultural do restante do ano, mantendo as populações sem acesso a lazer e fruição artística, bálsamos do bem-viver e geradores de pensamento crítico.

E aonde o conceito chegar, que sementes de outros frutos, os frutos de cada terra, possam ser trocadas e incorporadas, em um diálogo com as realidades e necessidades de cada território porque cada um terá sua própria cultura e ecologia. É preciso que voltemos, coletivamente, a forjar os sonhos, as subjetividades, o futuro, o desejo e a capacidade de imaginação… plantemos arte!. V

Festival Jovens do Futuro: encantarias amazônicas rumo à COP30

Para mudar o cenário de colapso climático que vivemos é preciso criar um novo modelo de sociedade, com um novo conceito de desenvolvimento. Mas como conquistar e engajar corações e mentes, denunciando o desastre e seus responsáveis e propondo novos rumos? Com Clima de Arte a gente registra a história, amplifica o barulho e sensibiliza política e socialmente! Entra no Clima com a gente!

Inspirado pelas encantarias da Amazônia, o Festival Jovens do Futuro reuniu em Rio Branco uma potente rede de juventudes amazônicas em preparação para a COP30. Com arte, cultura, formação política e muita troca de saberes, o evento foi um espaço de protagonismo juvenil, onde os sonhos e lutas dos territórios periféricos e rurais ganharam voz e forma. Mais do que um festival, foi um chamado à ação: jovens de diferentes regiões da Amazônia se encontraram para debater justiça climática, direitos socioambientais e estratégias de incidência política. A programação incluiu rodas de conversa, oficinas, apresentações culturais e momentos de celebração da diversidade amazônica.

O Festival reafirma que o futuro da Amazônia está nas mãos de quem vive e resiste nela todos os dias. E que a COP30 precisa ouvir essas vozes — múltiplas, criativas e profundamente conectadas com a floresta e seus saberes.

Alerta climático

Se o orvalho da manhã não cai mais, como antes;

Se a cigarra não canta mais, como outrora;

Se o ipê não floresce mais, no tempo da sua florada;

Se os redemoinhos aumentam;

Se os rios secam;

Se os peixes somem;

Se o fogo queima, impiedosamente, o que ainda resta das florestas;

O que será da nossa gente?

O que será da cultura?

O que será da poesia?

O que será da vida?

Os impactos do clima são reais e velozes;

A ação humana precisa de novos imaginários;

O tempo não espera;

Urge mudar;

Urge fazer;

Urge desarmar o que desequilibra o eixo da terra;

E que leva a humanidade para o olho do furacão.

Precisamos juntes bordar novas paisagens;

Juntes! Somente no plural seremos capazes!

MOBILIZAÇÃO NACIONAL DE ARTIVISMO CONTRA O PL DA DEVASTAÇÃO

Em uma iniciativa da Coalizão Megafone Ativismo, com participação do Instituto Hivos, do Observatório do Clima e de diversas outras organizações da sociedade civil, foi mobilizado 27 coletivos, um de cada capital brasileira, para uma ação de colagem de lambes de grande escala contra o PL da Devastação. Após a aprovação do projeto no Congresso, começou a etapa #VetaLula da campanha e a mobilização cresceu junto com a pressão popular pelo veto presidencial, engajando mais de 150 coletivos em 70 cidades de todas as regiões do Brasil, que colaram 250 grandes lambes com ilustração da artista Thaís Trindade e a frase “Quem sobe a rampa com o povo, defende a vida do povo. Veta, Lula!”. Uma ação de arte e ativismo em rede que colaborou na pressão popular e conquistou vetos importantes

CAMPANHA CONTRA OS AGROTÓXICOS

O Tapajós de Fato tem colocado energias em ações de ativismo que conectam cultura, mobilização social e incidência política. Uma das ações ainda em curso é a campanha contra os agrotóxicos, que une comunicação popular, produção de conteúdos multimídia e articulação com movimentos parceiros, pesquisadores e parlamentares. A iniciativa trouxe à tona relatos de comunidades afetadas, reforçando a urgência de regulamentações mais rigorosas e transformando a denúncia em ferramenta de sensibilização coletiva; e o próximo passo é a realização do Tribunal Popular dos Agrotóxicos e a recriação do Fórum dos Agrotóxicos. Essas ações miram na criação de uma Lei Estadual para colocar regulamentos ao uso de agrotóxicos e diminuir o envenenamento das populações tradicionais esmagadas pela força do agronegócio no Pará.

Esta é foi uma forma que encontramos para fazer ativismo junto com incidência política. Um caminho que passa pela informação, mobilização, denúncia e articulação com tomadores de decisão. Não são ações isoladas, essa frentes somam-se a mobilizações criativas em eventos como o Círio de Nazaré, que acontece todos os anos em Belém (sede da COP 30), além da Pré-COP 30 promovida pela Universidade Federal do Oeste do Pará, em Santarém, oeste do Pará, reforçando a urgência e a necessidade da descentralização do debate, da cidade sede da COP 30, unindo cultura, informação, ativismo e incidência política.

ÁGUA PARA BEBER

Música de Paulo Maciel, part. Lucía Santalices. Clipe por Lucía Santalices

O clipe da música Água para Beber é uma obra de arte daquelas que toca a gente. A partir de colagens feitas por Lucía Santalices, a artista nos faz mergulhar na letra que denuncia o risco que as nossas águas correm, seja pela emergência climática ou pelos grandes empreendimentos que veem a água como negócio, e não como um elemento fundamental para a vida na terra. Veja o clipe no link e confira a letra da música abaixo:

Corre um boato na beira do rio que suas águas vão-se acabar o pescador que viu e me contou o que será de nós, desse lugar?

O que será de nós o que será de nós água pra beber água pra viver

Tibumbum n’água o canoeiro viu o boto amigo saiu e não voltou peixe em fartura não existe mais água potável já se limitou

O que será de nós o que será de nós água pra beber água pra viver

Grandes barragens controlam o rio e muitas vidas podem dizimar detêm as águas, chuvas de meu deus e o ribeirinho a se lamentar

O que será de nós o que será de nós água pra beber água pra viver

tempos de emergência exigem respostas com RAÍZES

Por Eva Duarte, Lara Vaz e Rogenir Costa, colaboradoras no Programa de Biomas da Fundación Avina. Foto: Emanuel/Pulsar Imagem

Introdução

A mudança climática é uma questão estrutural que afeta o futuro da humanidade e aprofunda as desigualdades sociais, na proporção do contexto social de cada país. Em sociedades estruturalmente desiguais os eventos extremos impactam principalmente os segmentos historicamente vulnerabilizados pelos sucessivos modelos econômicos predominantes ao longo de milênios da existência humana na terra.

Frente ao colapso climático que vivemos, onde os efeitos da mudança climática se manifestam cotidianamente e comprometem a vida de milhares de pessoas em várias partes do planeta, a adaptação climática é condição sinequanon. Seja nas áreas rurais ou urbanas, as estratégias de adaptação são desenvolvidas por povos, comunidades tradicionais e periféricas, especialmente por mulheres, que constroem a resiliência a partir da observação, do conhecimento ancestral e da relação direta com os territórios.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) países de baixa renda receberam menos de 10% do financiamento climático mobilizado pelos países desenvolvidos entre 2016 e 2022. A maior parte do financiamento climático é direcionada para grandes projetos de infraestrutura e mitigação, com menos recursos para adaptação e projetos comunitários.

muitas comunidades são excluídas do acesso a informações sobre os mecanismos de financiamento climático disponíveis e como acessá-los.

Por um lado, processos burocráticos complexos e baixa capacidade local dificultam o acesso ao financiamento para comunidades e organizações menores; por outro, muitas comunidades são excluídas do acesso a informações sobre os mecanismos de financiamento climático disponíveis e como acessá-los. A arquitetura atual do financiamento climático exclui estas comunidades do acesso direto aos seus recursos.

Neste cenário, uma questão persiste: será que o modelo atual de financiamento e as ações isoladas para a adaptação climática em si são suficientes para ampliar a resiliência nos territórios vulnerabilizados?

Partir da raiz: território, o lócus de conhecimento, dados e iniciativas resilientes

Foi vivendo o propósito do Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC), no dia a dia, que o coletivo ganhou força, e os caminhos possíveis foram ficando ainda mais nítidos, abastecidos pelo conhecimento que é gerado de nascença, apropriado com o tempo e enraizado no território. Não existem caminhos viáveis para a Adaptação Climática sem a reconstrução dos modelos mentais que forjaram a realidade atual, para que possamos entender, em sinergia, que só existe uma metodologia eficiente de se adaptar: as soluções são desenhadas sentadas no chão dos territórios vulnerabilizados pelas consequências das mudanças climáticas. É preciso escutar com atenção quem acompanha mudanças históricas no tato, quem inventa e desenha gambiarras pela resiliência de continuar resistindo no solo que abriga gerações, culturas e histórias.

A contracolonização precisa ser o ponto de partida, porque tirar essas vestes dá coragem para se vestir como um rio que correlevando consigo tudo o que tem e se retroalimentando de tudo o que encontra, como os afluentes, e por fim, tornando-se abundância.

Valorizar a sombra da árvore

A memoria ancestral é essencial para nortear futuros possíveis. Cada território carrega em si uma memória coletiva, em saberes e capacidades construídas por gerações, tecidos por vínculos, práticas e resistências. E todo legado coletivo que existe é importante num processo de construção de novas soluções!

A mobilização do tecido social já presente nos territórios é um sinal potente de que estamos mais próximos de ações concretas e efetivas. Isso porque ela ativa dois motores fundamentais: o pertencimento, reconhecendo que os atores locais são os que mais conhecem e vivem o território; e a valorização das decisões compartilhadas, por meio de uma governança coletiva desde o início dos processos. Parece simples quando colocamos no papel, mas por que tão difícil aplicar isso de forma consistente na prática?

As organizações que protagonizam as ações locais têm se dedicado, de forma incansável, a alcançar os padrões e critérios definidos, e muitas vezes atualizados por organizações financiadoras. Por muito tempo, esses critérios serviram como barreiras que dificultaram ou até impediram que os recursos fossem geridos diretamente pelas organizações locais. Hoje, muitas dessas métricas já estão ultrapassadas, porque as realidades e capacidades dos territórios mudaram. Comunidades tradicionais e periféricas têm se colocado no centro dos debates, não apenas sendo ouvidas, mas também ocupando espaços de decisão. Ainda que de forma lenta, este é um movimento profundamente revolucionário.

Cada território carrega em si uma memória coletiva, um legado construído por gerações, feito de saberes, vínculos, práticas e resistências. E todo legado coletivo que existe é importante num processo de construção

de novas soluções!

Artesão de arte marajoara. Foto: Pulsar Imagem

Entendemos que o financiamento climático, que por si só já representa um grande desafio de aterrisagem, não é suficiente para gerar as condições de resiliências necessárias no contexto atual, especialmente para povos e comunidades que historicamente vem sendo negativamente afetados por políticas estatais e por políticas e práticas do setor privado, como por exemplo a mineração ilegal, o uso de agrotóxicos, o desmatamento para a agricultura extensiva etc. Por mais eficiente que possa a aplicação do financiamento climático em uma determinada iniciativa, de forma isolada, não será capaz de promover resiliência.

Faz-se necessário que as ações de adaptação climática, desenvolvidas nas comunidades mais vulnerabilizadas, alavanquem outros recursos e ações, com um olhar integral para território, mobilizando distintos esforços e atores, e assim, contribuir para a redução das desigualdades, as quais estão submetidas estas comunidades, vulnerabilizadas ao longo de séculos de injustiças promovidas por sucessivos modelos econômicos e políticos.

Além disso, a adaptação climática não pode ser imposta de forma externa ao território. É fundamental adotar metodologias colaborativas, centradas na escuta ativa e na participação equitativa, especialmente daqueles e daquelas que historicamente foram colocados no papel de meros “beneficiários”, e não de protagonistas das iniciativas.

A governança compartilhada, desde a elaboração até a implementação dos projetos, pode ser uma ferramenta poderosa para fortalecer as estratégias de adaptação, baseada no conhecimento local e ancestral; para descentralizar o poder, garantindo decisões democráticas e participação de diferentes identidades nos espaços de tomada de decisão; e para abrir caminhos para futuros resilientes construídos coletivamente.

Adaptar é também reaprender a caminhar juntos - com escuta, confiança e disposição para mudar a forma como fazemos.

Nutrir o solo

Tudo o que chega no território deve partir do que já existe para fortalecer o tecido social e gerar resiliência

climática que se sustentará no engajamento das comunidades e na criação de mecanismos e políticas públicas que aterrizem localmente para sustentar estas ações. É somando, e não substituindo, que se constrói transformação verdadeira.

Reparar dívidas históricas: No contexto brasileiro, o racismo ambiental e a iniquidade de gênero são fatores enraizados estruturalmente na sociedade e que se refletem, historicamente, na formulação de políticas públicas, especialmente quando se trata do contexto amazônico, onde diferentes populações enfrentaram – e algumas ainda enfrentam – a tentativa de negação de sua existência partir de estratégias governamentais. Para que possamos imaginar um futuro resiliente, é essencial enfrentar essas desigualdades de frente, garantindo que os projetos não reproduzam exclusão, mas se tornem ferramentas para reverter ciclos históricos de injustiça.

Investir na participação ativa de grupos historicamente vulnerabilizados nos espaços de decisão se trata também de uma estratégia de adaptação e justiça climática. Garantir que suas vozes e experiências colaborem na formulação de políticas públicas não corrige somente a injustiça histórica, mas gera soluções eficazes a partir de quem já enfrenta diretamente e diariamente os impactos das mudanças climáticas.

Por fim, faz-se fundamental aumentar o financiamento climático diretamente para comunidades e organizações locais, como estratégia climática e reparação histórica, com foco em projetos de adaptação e resiliência, para que fortaleçam as práticas locais de adaptação climática já existentes nos territórios. Simplificar os processos de acesso ao financiamento, tornando-os mais acessíveis e transparentes. Capacitar comunidades e organizações locais para desenvolver e implementar projetos climáticos, garantindo sua participação ativa nos processos e assegurar que o financiamento climático seja distribuído de forma justa e equitativa, priorizando as populações mais vulnerabilizadas. V

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O valor da memória “Eu

Por que registrar o ativismo importa

Por Jonaya Castro, da Coalizão Megafone Ativismo

Ilustração: Bruna Bastos

continuo a luta.”

Construir uma memória do ativismo no Brasil é fundamental por dois motivos centrais. O registro histórico reconhece o ativismo como arte e como expressão legítima da democracia, uma forma de participação política que combina emoção, linguagem e ação coletiva. E em segundo lugar, porque os protestos, os cartazes, os corpos nas ruas e as criações visuais e digitais formam uma espécie de fotografia do imaginário coletivo de cada época. Eles nos ajudam a compreender como a sociedade pensava, sentia e reagia diante das injustiças e das mudanças do seu tempo. Registrar e valorizar essas expressões é também preservar a imaginação política de uma geração.

O Prêmio Megafone de Ativismo, criado em 2021, é um marco pioneiro no Brasil dedicado a reconhecer e documentar o ativismo em suas múltiplas linguagens, da arte ao jornalismo, das campanhas digitais às mobilizações de rua. Anualmente, uma coalizão diversa avalia 14 categorias, premiando criatividade, coragem e impacto.

Histórias que inspiram: Elizabeth e Davi

Das histórias que afetam e nos inspiram, separo duas que são memória viva da luta por justiça no Brasil: Elizabeth Teixeira e Davi Kopenawa Yanomami.

Elizabeth Teixeira, aos 99 anos, foi homenageada no Prêmio do Júri, em 2025. por sua trajetória na luta pela reforma agrária. Mulher de coragem e símbolo da resistência camponesa, Elizabeth tornou-se líder da Liga Camponesa de Sapé, na Paraíba, após o assassinato de seu marido, o líder camponês João Pedro Teixeira, em 1962, a mando de latifundiários. Com a repressão da ditadura militar, foi obrigada a viver na clandestinidade com seus filhos por mais de duas décadas.

Elizabeth não apenas sobreviveu à perseguição — ela persistiu. Em suas palavras:

“Eu continuo a luta.”

Elizabeth Teixeira
“Os brancos não conhecem o céu. Eles pensam que ele é apenas o que seus olhos veem. Mas o céu é vivo. E se os xapiri forem embora, ele cairá.”
Davi Kopenawa Yanomami

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Sua história foi eternizada no documentário Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, que percorre décadas de sua vida e revela a profundidade da injustiça no campo brasileiro. Elizabeth é, até hoje, uma das maiores referências do feminismo rural e da luta por terra, dignidade e memória.

Davi Kopenawa Yanomami, líder e xamã do povo Yanomami, também recebeu o Prêmio do Júri, em 2025. Sua atuação é internacionalmente reconhecida pela defesa intransigente da floresta, dos saberes ancestrais e da vida de seu povo. Presidente da Associação Hutukara Yanomami, Davi combate o garimpo ilegal e denuncia as ameaças ao seu território com coragem e sabedoria.

Em A Queda do Céu — livro escrito em parceria com o antropólogo Bruce Albert — ele alerta: “Os brancos não conhecem o céu. Eles pensam que ele é apenas o que seus olhos veem. Mas o céu é vivo. E se os xapiri forem embora, ele cairá.” (A Queda do Céu, Cia. das Letras, 2015)

Essa frase, profundamente simbólica, articula espiritualidade e ecologia política. Davi nos lembra que o mundo depende do equilíbrio entre seres humanos e natureza, e que destruir os guardiões da floresta é colocar em risco o próprio céu que nos protege.

Essas vozes revelam a força do ativismo como memória viva, enraizada tanto na sua origem quanto em seus frutos futuros. Ao reconhecer Elizabeth e Davi, o Prêmio Megafone não apenas homenageia duas trajetórias, mas reafirma o valor da persistência, da ancestralidade e da justiça.

Inspirar para agir: memória e justiça climática em diálogo global

Mais do que uma premiação, o Prêmio Megafone consolida o ativismo como elemento legítimo da democracia, fortalece narrativas invisibilizadas e registra as lutas climáticas e sociais do Brasil, numa linguagem plural, conectando arte, jornalismo e mobilização digital. A memória estimula e inspira para novas ações, novos ativismos e estratégias inspiradoras para continuar lutando pela justiça climática, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. V

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Juventudes amazônidas encerram formação em incidência climática durante Semana Chico Mendes

Por Adriano Maneo, do Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB e do Time Regional VAC Brasil Ilustração: Reg Coimbra

Em 2024, a formação Cuida! Incidência Amazônida pelo Clima percorreu caminhos de aprendizado, trocas e fortalecimento de vozes. Criada a partir da parceria entre o Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) e o Observatório do Clima, a iniciativa reuniu jovens e mulheres de diferentes estados da Amazônia Legal em uma jornada de formação sobre justiça climática e incidência política.

A caminhada começou em Brasília, no primeiro módulo presencial, quando os participantes puderam dialogar diretamente em importantes espaços de decisão política como o Ministério do Meio Ambiente e o Congresso Nacional sobre planos e políticas climáticas brasileiras. Mas a formação não parou por aí: dois módulos online, realizados ao longo do semestre, aprofundaram temas essenciais para a ação. O primeiro tratou dos caminhos da incidência política, explorando como articular estratégias de advocacy eficazes. O segundo mergulhou em comunicação, campanhas e artivismo, oferecendo ferramentas para potencializar narrativas e dar ainda mais força às mobilizações. Como resultado, os participantes desenvolveram campanhas de comunicação coletivas, com alto alcance e impacto.

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Mas o melhor ficou para o final com um grande encerramento, em dezembro. O espaço era simbólico: a Semana Chico Mendes, no Acre. Durante alguns dias, em Brasiléia e Xapuri, os participantes vivenciaram de perto o legado do líder seringueiro, que se tornou referência global na luta pela floresta e pelos povos da Amazônia, ao liderar a criação do modelo de Reservas Extrativistas.

As atividades incluíram visitas à Resex Chico Mendes, encontros e rodas de conversa com juventudes e com lideranças que participaram dos empates junto a Chico Mendes. Foi um mergulho na memória e na resistência amazônica, mas também uma oportunidade de projetar o futuro.

Essa imersão marcou não apenas o fim de um ciclo de formação, mas o início de novas possibilidades de articulação. Os jovens e mulheres que participaram do Cuida! saem mais preparados para atuar em seus territórios, para influenciar políticas públicas e para dialogar com o mundo sobre as urgências da Amazônia — especialmente em um cenário em que o Brasil se prepara para sediar a COP30 em Belém, em 2025.

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“Acredito que como Chico Mendes na sua época, ele não tinha só companheiros no Acre, ele tinha companheiros em diversos cantos do nosso país, e isso VAC está nos proporcionando, então é importante estar fortalecendo a busca de troca de conhecimentos entre nós”

Lukas Tupinambá, liderança indígena da região do Tapajós e vice-coordenador do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA)

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Mais do que uma formação, o Cuida! foi um espaço de construção coletiva. A mistura entre os módulos online — que trouxeram teoria, estratégias e ferramentas — e os encontros presenciais — que fortaleceram vínculos e raízes — resultou em uma experiência única. Cada participante carrega agora não apenas conhecimento, mas também histórias, conexões e inspirações para seguir atuando.

“A gente conseguiu interagir com mais coalizões do Brasil e claro, a gente cria grandes amizades de luta, companheirismo e de conhecimento entre nós. Isso é muito importante”, reflete Lukas Tupinambá, liderança indígena da região do Tapajós e vicecoordenador do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA) “Acredito que como Chico Mendes na sua época, ele não tinha só companheiros no Acre, ele tinha companheiros em diversos cantos do nosso país, e isso VAC está nos proporcionando, então é importante estar fortalecendo a busca de troca de conhecimentos entre nós”, completa.

E a experiência não termina aqui. Todo o material produzido, as sínteses dos módulos e os registros da caminhada estão reunidos em um espaço online aberto ao público. Quem quiser conhecer mais sobre o projeto pode acessar o hotsite oficial: cuidaamazonia.org.

Com o Cuida!, VAC e o Observatório do Clima reafirmam a importância de fortalecer lideranças locais e de colocar juventudes e mulheres amazônidas na linha de frente da ação climática. Afinal, são elas e eles que já constroem, todos os dias, as soluções que a floresta — e o mundo — precisam. V

A Coalizão que fortalece a luta por Justiça Climática no coração do Brasil

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Por Sarah Tamioso, da Associação Onça D’Água e da Coalizão Vozes do Tocantins

Começou com dez. Dez organizações que, provocadas pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), se reuniram para se fortalecer e conectar suas atuações para enfrentar um desafio comum a todos: a crise climática. O que tinham em comum era a captação de recursos pelo Fundo Ecos, gerido pelo ISPN, e a atuação em soluções baseadas na natureza.

Assim, se formou a Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática, que teve sua primeira reunião em fevereiro de 2022, ainda com uso de máscaras e testes rápidos devido à pandemia de COVID-19. Estiveram à mesa a Associação dos Remanescentes Quilombolas Kalunga do Mimoso do Tocantins (AKMT), a Associação Pyka Mex (aldeia Prata, T.I. Apinajé), o Centro Cultural Kajré (aldeia Pedra Branca, T.I. Krahô), o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST Tocantins), a Associação Onça D’Água de apoio ao manejo em Unidades de Conservação, a Colônia de Pescadores Profissionais de Araguacema/TO (Copesca Z-5), a Universidade Federal do Tocantins (Neruds e curso de Turismo de Arraias/TO), a Escola Família Agrícola Bico do Papagaio Padre Josimo (EFABIP), a Cooperativa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Coopter) e o ISPN.

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Alunos da Formação de Jovens em Comunicação e Justiça Climática. MAR

Com eixos de atuação em comunicação, incidência em políticas públicas (advocacy) e formação de jovens, a Coalizão conquistou credibilidade e se firmou como uma rede de parceria, fortalecimento e proteção socioambiental. Com o apoio da Fundación Avina e do programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC Brasil) foi possível fazer importantes intervenções na Lei Estadual de Licenciamento Ambiental como amicus curiae (amigos da corte), tornando trechos inconstitucionais; realizamos Audiência Pública para debater Terras e Territórios e um seminário sobre os impactos dos agrotóxicos; consolidamos nossa presença nas redes sociais e imprensa; qualificamos cerca de 30 jovens em comunicação e justiça climática; e conseguimos provocar mobilizações para o avanço da alimentação escolar em territórios tradicionais, entre outros. Participamos ainda da COP28, em 2023 em Dubai, levando bandeiras, produzindo conteúdos, trocando experiências e fazendo incidências por onde passamos.

Alan Dias Apinajé, membro do Conselho Gestor da Coalizão pela Associação Pyka Mex, reafirma a relevância da atuação em rede para uma maior visibilidade dos desafios dos territórios tradicionais e articulação em defesa dessas comunidades.

2023. Foto: Sarah Tamioso
Audiência Publica de Terra e Territórios. JUN 2024. Foto: Arquivo Coalizão Vozes do Tocantins
1º Reunião da Coalizão Vozes do Tocantins. FEV 2022. Foto Sarah Tamioso

“A gente tem que valorizar mais e ter mais força para a gente manter essa organização, que hoje está à frente das reuniões, das audiências públicas e formações. Então tudo isso a gente vê que é uma ideia construída junto com as organizações da base. A gente está dando essa força junto, levando uma luta coletiva com essa organização”, relata.

A experiência coletiva foi tão valiosa que em 2024 uniram-se à rede o Movimento Estadual de Direitos Humanos (MEDH/TO), o Centro de Trabalhos Indigenistas (CTI), a Wyty Cate (associação dos povos Timbira do Tocantins e Maranhão), a Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores de Mateiros (ACAPPM), a Associação de Mulheres

Agroextrativistas do Cantão (AMA Cantão) e a Cooaf Bico, somando uma rede de quinze organizações.

A reunião de diferentes organizações na Coalizão Vozes do Tocantins fortaleceu a luta de povos e comunidades tradicionais no Tocantins e a luta por justiça climática, que atinge aspectos da vida como saúde, alimentação, acesso e qualidade da água, segurança, trabalho, direitos humanos, lazer, bemestar, entre outros. Nossa vida depende do clima e por isso precisamos lutar - juntos - em todas as frentes.

Mesmo com a finalização do projeto Vozes pela Ação Climática Justa (VAC Brasil) a Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática segue sua atuação com a captação de novos recursos e com o fortalecimento das organizações, que também tem novos projetos para fortalecer as soluções baseadas na natureza, na Amazônia Legal, no Cerrado e no Tocantins. V

Reunião da Coalizão para seguir os trabalhos. Fev 2025. Foto: Jean CostaOokami Films

CLIMÁTICO

Para se alimentar de conhecimento sobre justiça climática!

O xibé é a mistura de farinha de mandioca com água, pra beber ou pra comer. Também conhecido como Jacuba, é um ícone da riqueza da comida amazônica, presente no dia-a-dia de muitos ribeirinhos, indígenas e extrativistas. Devore este xibé e delicie-se!

Acesse o site e confira todos os episódios.

Lições da Amazônia

Série Soluções da Amazônia retrata mais de 30 histórias reais de soluções climáticas a partir dos territórios

Em parceria com a Fundación Avina e o WWF-Brasil, o Amazônia Vox lançou a terceira temporada da série Lições da Amazônia, dessa vez com foco em soluções climáticas lideradas localmente. Com conteúdo original e autoral, a série utiliza a perspectiva do Jornalismo de Soluções para ampliar a visibilidade dos desafios da Amazônia, a partir de uma narrativa de que as respostas aos problemas estão justamente nas iniciativas desenvolvidas no território.

No ar desde agosto, a série especial tem novos episódios toda semana é composta por mais de 30 histórias reais de soluções climáticas, detalhando os projetos e iniciativas realizados no contexto das organizações participantes de VAC. A proposta é mostrar, a partir dos territórios, que é possível enfrentar os desafios climáticos com ações sustentáveis, incidência política, mobilização e fortalecimento de coletivos da sociedade civil no contexto das soluções e justiça climática.

O protagonismo amazônida também foi reforçado na equipe por trás das câmeras. O conteúdo foi produzido por mais de 20 profissionais, entre jornalistas, filmakers e fotógrafos que atuam nos cinco estados que são cenário das histórias, Pará, Acre, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso. No site do Amazonia Vox é possível ler o texto na íntegra, conferir as fotos, assistir aos vídeos e conhecer um pouco mais desses personagens. Além disso, o conteúdo também está disponível no Instagram nos perfis @amazoniavox e @wearevca. Em breve, parte desse material em vídeo será exibido pela RedeTV no telejornal nacional RedeTV News, na programação aos sábados, e também no Canal Futura.

vídeo

Vozes que ecoam da Vila da Barca

Durante a 3ª Edição da COP das Baixadas, realizada em Belém, um momento especial marcou o evento: o lançamento da 3ª edição da Revista Vozes da Vila, fruto do projeto Memória e Cultura Periférica da Vila da Barca.

A revista nasce da potência criativa dos jovens da comunidade, que participaram de oficinas de escrita, fotografia, edição e diagramação mobile ao longo do primeiro semestre. Nesta edição, o foco é clima e a COP30, mas sob uma lente única: a vivência e o olhar sensível da juventude periférica. Com linguagem acessível e estética envolvente, a revista transforma temas globais em narrativas locais, revelando como as mudanças climáticas atravessam o cotidiano da Vila da Barca.

Para ler e se inspirar com essas vozes que transformam a memória em resistência, acesse o Instagram do projeto @museumemorialviladabarca.

PUBLICAÇÃO

Revista FEBRE #2

Arte e clima

Em um ano histórico, com a COP30 no Brasil e diante de um Acordo de Paris ainda negligenciado, a sociedade civil se levanta. A Revista FEBRE, realização do labExperimental e Instituto Lamparina, registra e inspira ações criativas climáticas, reunindo vozes de artistas, coletivos, instituições e movimentos que enfrentam a crise climática global com coragem e imaginação.

Conheça no link

SANEA MENTE: Vozes da Amazônia pela dignidade e pelo direito ao saneamento O coletivo Miri, a Comunidade da Paz e Habitat para humanidade, lançaram a cartilha SANEA MENTE. Uma publicação que nasce da força coletiva da comunidade, localizada na Bacia Hidrográfica do Rio Apeú, em Castanhal. Mais do que um material informativo, ela é um manifesto construído por e para os territórios rurais e periféricos, que enfrentam diariamente a negação de direitos básicos como terra, água, moradia e saneamento.

Com base em dados e vivências locais, a publicação denuncia as desigualdades sociais, raciais e territoriais que marcam o acesso ao saneamento. E, ao mesmo tempo, propõe caminhos na construção de uma agenda de educação socioambiental e resistência, que reconheça os sujeitos amazônidas como agentes transformadores de suas realidades.

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Hotsite Cuida!

Cuida foi uma formação em incidência política para lideranças amazônidas que lutam por justiça climática, como foco em mulheres e juventudes. A formação foi organizada pelo Time Regional VAC Brasil, em parceria com o Observatório do Clima.

Todo o material produzido, as sínteses dos módulos e os registros da caminhada estão reunidos em um espaço online aberto ao público. Quem quiser conhecer mais sobre o projeto pode acessar o hotsite oficial: cuidaamazonia.org

PUBLICAÇÃO

“Água, saneamento e clima: estratégias para outros futuros a partir de cidades amazônicas

A pesquisa “Água, saneamento e clima: estratégias para outros futuros a partir de cidades amazônicas”, produzida pela Mandí, propõe trazer percepções e provocar reflexões sobre os diferentes modos de vida nas cidades amazônicas e sua relação com o acesso à água. O objetivo é interligar a agenda de Adaptação Climática à de Saneamento Básico, criando estratégias a nível de infraestrutura, governança, informacional e social conectada aos territórios.

A pesquisa nasce a partir de análises sociais, ambientais e ecológicas feitas em Belém (PA), Macapá (AP) e Manaus (AM), três capitais da Amazônia, buscando entender quais os caminhos para adaptação climática considerando a universalização do saneamento básico, e vice e versa, especialmente em países do sul global.

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Povos indígenas frente às mudanças climáticas

“Povos Indígenas frente às Mudanças

Climáticas” é o título da nova publicação lançada para comunidades indígenas, servidores públicos que atuam diretamente com esses povos e demais interessados no tema. A obra reúne informações e discussões relevantes sobre mudanças climáticas, políticas climáticas e o mecanismo de REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal). Com textos didáticos, gráficos explicativos e fotografias, o material contextualiza conceitos fundamentais e os relaciona com as negociações climáticas internacionais, como a próxima COP30, que será realizada em Belém. Além disso, destaca o papel crucial dos Povos Indígenas na conservação das florestas e oferece orientações sobre o REDD+, mecanismo criado para financiar a preservação florestal.

A publicação é resultado de uma parceria entre a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), o IPAM Amazônia e o IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), e conta com o apoio da Hivos, do Fundo Amazônia e da Gordon and Betty Moore Foundation. O acesso ao material já está disponível e pode ser realizado no link.

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Construindo ambientes seguros - guia para construção e implementação de políticas de salvaguarda para meninas e mulheres

No dia 16 de setembro, a Hivos e a Serenas realizaram o prélançamento online do Guia Construindo Ambientes Seguros - Guia para Construção e Implementação de Políticas de Salvaguarda para Meninas e Mulheres, voltado para organizações parceiras das redes

Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) e Nossos Futuros Feministas (NFF). O evento apresentou ferramentas institucionais práticas para o enfrentamento da violência contra meninas e mulheres, com foco em protocolos de salvaguarda e bem-estar físico e mental em contextos de vulnerabilidade. O guia, construído por meio de oficinas participativas com as próprias organizações da rede, reforça o compromisso com a proteção integral de comunidades atendidas por projetos de direitos humanos, equidade de gênero e desenvolvimento social.

O pré-lançamento contou com 15 pessoas de organizações da rede e destacou a importância de evitar danos, seja por ação ou omissão, em iniciativas que envolvem crianças, adolescentes e adultos em situação de risco. Com esta iniciativa, Hivos e Serenas reafirmam seu compromisso com a criação de ambientes seguros e a promoção de práticas institucionais antirracistas, antipatriarcais e anticoloniais.

O guia está disponível para acesso público aqui

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Araceles: menina toco, menina boto

No último trimestre de atuação em Altamira (PA), o projeto impulsionado pelo Coletivo Maravaia, integrante da Coalizão Na Piracema das Mudanças Climáticas, culminou na produção do livro infantil “Araceles: menina toco, menina boto”, que narra a infância e os primeiros anos de vida de Mãe Nayara, mãe de santo e mestra da cultura local. A obra, baseada em sua história real, busca valorizar e dar visibilidade ao trabalho comunitário liderado por mulheres negras e de terreiro, fundamentais para a resistência cultural e ambiental na região.

Além da publicação, o projeto viabilizou a gravação de um disco de pontos de Umbanda, reforçando a importância da preservação e difusão dos saberes tradicionais entre as novas gerações. A iniciativa aponta a centralidade de lideranças como Mãe Nayara na luta contra o avanço de forças hegemônicas, o preconceito religioso e a pressão de grupos neopentecostais no município. Com o reconhecimento formal de Mãe Nayara como mestra da cultura popular do Estado, abre-se caminho para sua participação em espaços de destaque nacional, fortalecendo redes de resistência e garantindo que suas vozes ecoem além dos limites de seu território

CONHEÇA A ARTISTA DA CAPA

Renata Segtowick é artista visual e designer, nascida em Belém, Pará e graduada em Publicidade. Sua poética percorre temas do feminino, do fantástico, do místico e do sagrado da ancestralidade amazônica, com técnicas digitais, muralismo, acrílica e óleo sobre tela.

Atualmente, é proprietária do estúdio que leva seu nome, por meio do qual produziu trabalhos para empresas como O Boticário, IPAM, Funbio, ClimaInfo e Editora MOL Impacto. É também co-curadora e produtora dos projetos “Visagentas”, “Tarô Amazônida” e “Anciãs Amazônidas”.

Acompanhe a artista: @renataseg.art

Baixe a 3ª edição da Revista, em português ou inglês! Acesse em voicesforjustclimateaction.org

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