IMS Rio: os filmes de fevereiro/2020

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cinema fev.2020


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* Na programação de 1 a 8/3, estão apresentados somente os filmes da retrospectiva Seijun Suzuki. Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/cinemaims e ims.com.br.

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5 O paraíso deve ser aqui (97’) O filme do Bruno Aleixo 87 Detetive Bureau 3 8 A Juventude da Besta

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O paraíso deve ser aqui (97’) O filme do Bruno Aleixo 87 Nós (120’) Portal da carne (90’)

12 O filme do Bruno Aleixo 87 Nós (120’) Tudo vai mal (72’) Fera adormecida (85’)

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14:00 Antologia da cidade antasma 7 16:00 Nós (120’) 19:00 IVAL N IAS aprender vivendo 6 , sessão seguida por conversa com Maureen Bisilliat

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13 14:00 Antologia da cidade antasma 7 15:50 Nós (120’) 19:00 Sessão inética urtas metragens de Barbara agner e Benjamin de Burca, seguida de debate com os cr ticos da revista

O filme do Bruno Aleixo 87 Nós (120’) Abaixo os v ndalos 80 Pistol Ópera (112’)

20 Antologia da cidade antasma Nós (120’) Modo de produção (75’) Antologia da cidade antasma

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20:00 A Juventude da Besta

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Antologia da cidade antasma Nós (120’) Modo de produção (75’) Antologia da cidade antasma

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Antologia da cidade antasma Você não estava aqui (100’) Modo de produção (75’) Você não estava aqui (100’)

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O paraíso deve ser aqui (97’) O filme do Bruno Aleixo 87 Nós (120’) Nosso sangue não perdoa 7

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rincesa uaxinim 101


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O paraíso deve ser aqui (97’) O filme do Bruno Aleixo 87 Nós (120’) Mire na viatura (84’)

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O filme do Bruno Aleixo 87 O paraíso deve ser aqui (97’) A marca do assassino 1 legia da briga 86 Nós (120’)

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O paraíso deve ser aqui (97’) Antologia da cidade antasma Tóquio violenta (83’) legia da briga 86 Antologia da cidade antasma

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23 O paraíso deve ser aqui (97’) Antologia da cidade antasma Nós (120’) Modo de produção (75’) Antologia da cidade antasma

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O paraíso deve ser aqui (97’) Antologia da cidade antasma Nós (120’) Modo de produção (75’) Antologia da cidade antasma

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29 Antologia da cidade antasma Você não estava aqui (100’) Modo de produção (75’) Você não estava aqui (100’)

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16 O paraíso deve ser aqui (97’) Antologia da cidade antasma Detetive Bureau 3 8 A marca do assassino 1 Pistol Ópera (112’)

22 Antologia da cidade antasma Nós (120’) Modo de produção (75’) Antologia da cidade antasma

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O filme do Bruno Aleixo 87 O paraíso deve ser aqui (97’) Tudo vai mal (72’) Abaixo os v ndalos 80 O paraíso deve ser aqui (97’)

9 O filme do Bruno Aleixo 87 O paraíso deve ser aqui (97’) Nosso sangue não perdoa 7 Tóquio violenta (83’) História de melancolia e tristeza (91’)

15 Antologia da cidade antasma 7 Nós (120’) Antologia da cidade antasma 7 História de melancolia e tristeza (91’)

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O filme do Bruno Aleixo 87 O paraíso deve ser aqui (97’) Mire na viatura (84’) Fera adormecida (85’) O paraíso deve ser aqui (97’)

O paraíso deve ser aqui (97’) Antologia da cidade antasma Você não estava aqui (100’) Modo de produção (75’) Você não estava aqui (100’)

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20:00 Portal da carne (90’)

16:30 igeuner eisen 1 19:30 Kagero a 13

16:30 rincesa uaxinim 101 19:00 Yumeji (139’)

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Pistol Ópera (Pisoturo Opera), de Seijun Suzuki (Japão | 2001, 112’, 35 mm) [capa] Nosso sangue não perdoa (Oretachi no chi ga yurusanai), de Seijun Suzuki (Japão | 1964, 97’, 35 mm)


destaques de fevereiro 2020 Hiperestilizada, divertida, ligeiramente niilista – são alguns dos traços da obra do cineasta Seijun Suzuki. Entre os dias 1 e 16 de fevereiro e 3 e 8 de março, o IMS Rio apresenta em retrospectiva 17 de seus filmes, sendo 15 deles em cópias em 35 mm provenientes do Japão. Os filmes exibidos percorrem distintos momentos de sua carreira, de diretor de filmes B na Nikkatsu a seu último filme, Princesa Guaxinim. A exploração do trabalho é abordada em duas estreias deste mês. O documentário Modo de produção, de Dea Ferraz, retrata o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Ipojuca e uma promessa de desenvolvimento em torno do porto de Suape. Já o longa Você não estava aqui, de Ken Loach, tem como personagem um pai de família que investe seus últimos recursos para trabalhar como entregador autônomo. Mais recente lançamento da Coleção DVD | IMS, no filme EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo, a fotógrafa Maureen Bisilliat revisita seus mais de 60 anos de trabalho. No dia 18, a exibição do filme será seguida por uma conversa com a fotógrafa e diretora.

© 1960 Nikkatsu Corporation

Mire na viatura (Jusango taihisen yori: Sono gososha o nerae), de Seijun Suzuki (Japão | 1960, 84’, 35 mm)

Modo de produção, de Dea Ferraz (Brasil | 2017, 75’, DCP)

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EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo, de Maureen Bisilliat (Brasil | 2019, 96’, DCP)


Seijun Suzuki, o antimestre por Ruy Gardnier

Os mestres do gênero cinematográfico geralmente são aqueles que o levam ao apogeu de perfeição estilística. São frequentemente artistas que se identificam com os valores do gênero em questão e usam de sua mestria artesanal para criar peças meticulosamente equilibradas e bem-dosadas. Mas e quando o gênio organiza sua mestria para ir contra o gênero, para explodir o gênero por dentro, para sapatear em cima de suas convenções? Se pudermos chamar esse tipo de artista de antimestre, então o primeiro cineasta a quem devemos atribuir essa designação será Seijun Suzuki. Suzuki é mais conhecido pela exuberância anárquica de A marca do assassino (Koroshi no rakuin, 1967) e pelo escândalo em que se envolveu com a produtora Nikkatsu, que considerou a narrativa “incompreensível” e o baniu da indústria cinematográfica japonesa. Mas a rebeldia moral e a inquietação artística características de Suzuki já podem ser sentidas desde o começo de sua trajetória como cineasta. Depois de um período protocolar como assistente de direção, ele subiu na 2

hierarquia da indústria escrevendo roteiros e, em 1956, dirigiu seu primeiro longa, um filme de encomenda no gênero kayo eiga, ou “filme de canção popular”. Ele se estabeleceu na Nikkatsu fazendo filmes baratos e rápidos (no modelo de três semanas de filmagem e três dias de montagem), geralmente com jovens estrelas da cultura pop. A partir de 1960, ele começou a fazer filmes policiais no estilo mukokuseki akushon (literalmente, “ação sem nacionalidade”), sob a influência do cinema noir e dos filmes de gângster americanos. No mesmo ano, ele filmou também Tudo vai mal (Subete ga Kurutteru), um drama existencialista sobre juventude transviada que o aproxima estilística e tematicamente da florescente nouvelle vague japonesa. A audácia em filmar jovens despojados vadiando na rua em estilo semidocumental evoca o paralelo com Acossado, de Jean-Luc Godard, marco da nouvelle vague francesa lançado no mesmo ano. Mas é com os filmes policiais “sem nacionalidade” que o estilo visual de Suzuki se desenvolve, tomando as

convenções do gênero e levando-as a extremos. O que interessa no cinema de gângster não são os confrontos e tiroteios? Então por que encher linguiça com a cadência narrativa quando, no fundo, o que importa é outra coisa? A partir de Detetive Bureau 2-3 (Tantei jimusho 23: Kutabare akuto-domo, 1963), o cinema de Suzuki começa a zombar da verossimilhança e importar-se pouco com a clareza ou a complexidade narrativa, fazendo de tudo para potencializar o espetáculo visual e cinético. A escolha de Joe Shishido para protagonista reflete a proposta cinematográfica: hiperestilização antipsicológica e insolência bem-humorada. Cores chamativas, explosões, gestualidade de interpretação expandida, cortes abruptos (jump cuts): é a poesia do movimento e do choque em plena atividade. De 1963 a 1967, Suzuki procede à radicalização de seu estilo. A quebra da verossimilhança atinge não só a interpretação e as guinadas narrativas, mas também a direção de arte e o espaço cênico, que se tornam elementos de simbologia e de beleza visual. A depuração narrativa


chega a um limite com Tóquio violenta (Tokyo nagare-mono, 1966) e A marca do assassino. A trama é desenvolvida em seu mínimo para estabelecer a vaga ideia de que todo mundo quer matar o protagonista, e depois é ele que vai tentar matar todo mundo. Uma vez que isso está assentido, o que resta é elaborar cenas de ação fragmentárias em que o importante é a construção visual, o charme da atmosfera e a excentricidade do estilo. O antimestre mostra as suas garras: ele leva o gênero ao máximo de sua expressividade, mas, ao fazer isso, não produz mais, a rigor, filmes de gênero, e sim obras abstratas e modernistas, em par com toda a reconstrução da linguagem cinematográfica que era operada pelos cinemas novos ao redor do globo nos anos 1960. Banido e ostracizado da indústria, Suzuki fica dez anos sem filmar. Quando volta, não é mais como cineasta dentro de um regime industrial, mas como autor independente, com total autonomia sobre os projetos em que se engaja. Naturalmente, a abstração e a fragmentação, que eram incidentais nas obras anteriores, passam 3

a estar no cerne dos filmes que vêm a seguir. Em História de melancolia e tristeza (Hishu Monogatari, 1977) e na celebrada “trilogia Taisho”, há uma aparente indistinção entre sonho e realidade. Tudo parece factível, e nada parece palpável. Surgem um mundo de requinte visual e rítmico pleno e um regime narrativo em que as leis de causalidade não funcionam mais: personagens que somem ou morrem reiteradamente e voltam com indefinido estatuto de realidade (eles mesmos ou fantasmas?), além de uma pronunciada sensação de inebriamento – tanto pela beleza da cor, do enquadramento, dos movimentos e da música quanto pela suspensão da lógica que imprime a tudo um caráter onírico. Pistol Ópera (Pisotoru Opera, 2001) e Princesa Guaxinim (Operetta tanuki goten, 2005) são o dístico final de uma trajetória de artista experimental que recupera elementos da cultura pop para criar beleza ríspida e abstrata. Pistol Ópera é uma espécie de reencenação de A marca do assassino, mas agora em chave declaradamente vanguardista, mais Raúl Ruiz que

Jean-Pierre Melville. Personagens morrem repetidas vezes e voltam, até mesmo a personagem principal. A linearidade dá lugar a um eterno recomeço, que é o prazer da cena, da cor, do ritmo, da ambientação. Mas nada é plácido. Afinal, Seijun Suzuki é um mestre e um antimestre do movimento. Seu último filme, Princesa Guaxinim, é um conto de fadas e uma opereta. Dois gêneros tidos como menores, não sérios. Um tendendo à simbologia; outro, ao espetáculo musical ligeiro. A concreção dos dois num filme só é uma perfeita explicitação do que Suzuki ama: o signo opulento, recheado de alusões, mas sem significado preciso; a velocidade das superfícies contra a falsa profundidade da seriedade; o poder sem limites da invenção visual e rítmica, com ênfase nas síncopes do jump cut e das quebras de sentido operadas pela montagem. Um pintor, pelo apreço à cor, um músico, pela dedicação ao ritmo, um bárbaro, pelo prazer em burlar as regras, um cineasta, pela conjugação de todos os elementos em experiências audiovisuais intensas, que pedem olhos ávidos.


O corpo em estado de imagem por Hermano Callou

Na abertura da apresentação do grupo de swingueira do Recife Cia. Extremo, ouvimos um locutor falar, acompanhado por um teclado solene e sintetizadores, segundos antes do início do espetáculo: “Brasil. Um país maravilhoso. Realmente devemos honrar o que está escrito na bandeira: ordem e progresso.” No centro da cena, encontra-se Eduarda Lemos, modelo e bailarina, mulher trans negra, protagonista de Swinguerra (Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, 2019). A sua presença é a de uma diva pop, que tem pleno domínio sobre sua própria imagem. O seu semblante na abertura é, contudo, o de uma guerreira. Com a mão firme sobre a testa, bate continência. Filme mais recente dos artistas visuais Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, Swinguerra é um estudo sobre a cena de swingueira, brega-funk e passinho dos maloka do Recife, que tem se desenvolvido nos últimos anos nas periferias da cidade. Anualmente, os grupos se encontram em competições locais e intermunicipais, em que disputam com suas próprias coreografias, figurinos e cenografia, em 4

um sistema de validação reminiscente dos desfiles de escolas de samba. O filme dedica-se a reencenar as apresentações de três grupos – a Cia. Extremo, o Grupo La Mafia e o Bonde do Passinho –, que se preparam para as disputas em rituais coletivos de concentração, disciplina e rigor, que são dramatizados no filme. Os grupos dividem-se em formações “de meninos” e “de meninas”, que dançam frequentemente segundo modelos de gênero estereotipados. As classificações dos integrantes da Cia. Extremo, contudo, subvertem o que parecia uma divisão normativa entre dois gêneros: a “formação das meninas” é composta, sobretudo, por mulheres trans, queers e não binárias, assim como os “meninos” não se conformam à imagem hegemônica de masculinidade que seus movimentos parodiam. A hipótese de Swinguerra é de que tal universo oferece uma imagem exuberante de um país contraditório, que acabara de assistir à ascensão do bolsonarismo. Os grupos presentificam em suas apresentações uma certa forma de imaginar e

constituir em cena a coletividade, que remete, às vezes, às fantasias de um corpo social harmônico, com posições de gênero bem marcadas, que anima o imaginário conservador. Os movimentos de quadril, bunda e virilha convivem, em desconcertante naturalidade, com o imaginário militarista de um corpo coletivo treinado, ordenado e sincronizado. A violência é também uma questão onipresente. Em uma das coreografias do grupo La Máfia, garotos simulam armas de fogo com as mãos, sob o som de “DJ Binho do Coque, o pai da facção”. Em outra cena, duas mulheres trans ensaiam passos de dança com nomes sintomáticos – “faz a chateada”, “chuta, não me toca”, “sai daqui que eu tô na paz” etc. –, sugerindo formas de se impor e de se afirmar em um cotidiano hostil, permeado de violência. A dança em Swinguerra torna-se a cifra de um país que ainda não fomos capazes de entender. Neste mês, a Sessão Cinética mostra o novo filme de Wagner e De Burca em conjunto com quatro outros trabalhos. Artistas visuais de grande visibilidade,


a sua presença ainda é limitada no campo de cinema, se levarmos em consideração a relevância de seu trabalho. Em uma década particularmente rica do cinema brasileiro como a de 2010, são poucos os cineastas que produziram uma obra tão vigorosa e arriscada. A pesquisa artística de Wagner e De Burca teve como ponto de partida o conceito de cultura popular, noção fundamental para a formação dos imaginários nacionais e regionais brasileiros, matriz de ideias politicamente significativas, como identidade, tradição, comunidade, pertencimento e autenticidade. O olhar dos artistas desloca-se, contudo, para formas de viver o corpo, a música e a dança que ocorrem nas bordas tanto da cultura popular oficial quanto da indústria fonográfica, espaços onde uma certa ideia normativa do “popular” é desarticulada e reinventada. O método de Wagner e De Burca é o de uma etnografia de ficção, em que a postura de observação do documentário convive com os artifícios do musical. Os seus filmes são sempre um convite a prestar atenção ao corpo, 5


quando ele entra em estado de imagem: os seus modos de vestir-se e enfeitar-se, as suas maneiras, as suas poses, as suas marcas, as formas com que presentificam os tempos e os lugares mais diversos. A sessão tem como filme de abertura um dos trabalhos mais conhecidos da dupla, Estás vendo coisas (2016). Estudo sobre a cena da música brega do Recife, o filme é um dos retratos mais fascinantes da classe trabalhadora brasileira feito nos últimos anos. Dayana Paixão é cantora, mas trabalha como bombeira, Porck é MC, mas de dia é cabeleireiro. As suas canções falam de amor, sexo, ciúme, traição, mas também de luxo, poder e de um sentimento vago, mas sugestivo, de que tudo pode não passar de uma miragem. Filmado em um momento onde o “horizonte de expectativas” do país ainda parecia vasto, mas que a crise econômica e política trataria de encurtar brutalmente, é difícil revisitar o filme sem sentir uma certa melancolia por seu mundo reluzente, em que trabalhadores antecipam no palco um pouco do futuro brilhante que eles anseiam. O filme demonstra uma 6

capacidade bastante aguçada de enxergar nos clubes de brega dos subúrbios da cidade um certo imaginário futurista, com seus letreiros néon, suas luzes estroboscópicas e suas telas onipresentes, em que até mesmo as roupas de marca, as correntes de ouro falso e os adereços dos cantores parecem vir de um futuro radiante, marcado pela ascensão social. O ponto de partida do filme realizado em seguida foi o gênero musical Schlager, da Alemanha. Bye Bye Deutschland! Eine Lebensmelodie (2017) mostra um casal de covers de Munique que personifica cantores célebres do gênero, em cenas de musical criadas colaborativamente com os artistas. Os personagens imaginam em suas performances duplos de si mesmos, que desfilam por cenas suntuosas, em que o cotidiano cinza do mundo do trabalho e da família foi suspenso. Como no filme anterior, descortina-se uma sensibilidade que tensiona com a própria distinção de bom e mau gosto. As fantasias dos personagens, contudo, são outras, que revelam agora imaginários com outro lastro cultural e social: uma vida sentimental exuberante,

onde florestas tropicais, igrejas majestosas e pianos de cauda são signos de esplendor. Terremoto santo (2017) é possivelmente o filme mais arriscado e provocador do grupo. A partir do contato com a gravadora de música gospel Mata Sul, Wagner e De Burca conheceram um grupo de jovens cantores evangélicos da Zona da Mata de Pernambuco, parte de uma classe média emergente que frequenta as igrejas pentecostais da região. Como nos outros trabalhos dos artistas, os personagens foram chamados a colaborar com a criação de uma série de performances musicais, que eles protagonizam. As cenas apresentam um mundo de artifício, em que as lógicas do espetáculo e do rito, do palco e do altar, são indissociáveis. Em uma fotografia de cores e nitidez publicitária, o filme nos convida a escutar as orações e canções como práticas de cuidado de si, profundamente imbricadas na luta diária pela emancipação espiritual e material dos personagens, que vivem em uma das regiões do país onde mais se faz presente a memória da violência


colonial. Num momento em que o setor evangélico se tornou um ator político de maior relevância no país, Terremoto santo oferece um retrato empático e ambivalente de uma parte do segmento distante das grandes igrejas e centros de poder, integrada por pessoas que encontraram na religião um forma de transformar as suas condições de vida. A posição de RISE na obra de Wagner e De Burca, por sua vez, parece de início um tanto ambígua. Os últimos três filmes se debruçam sobre gêneros musicais estigmatizados, formas de viver a música que revelam o próprio caráter conflitivo e classista da experiência social do gosto. RISE, no entanto, parte de um ambiente de criação com uma moldura institucional legitimada socialmente. O título refere-se ao movimento homônimo sediado em Toronto, criado pelo poeta canadense Randell Adjei, em torno da prática da spoken word. O projeto é uma plataforma de encontros, em que jovens, em sua maioria pertencente à primeira geração de descendentes africanos e caribenhos nascidos no Canadá, narram 7

suas experiências pessoais e constroem sua própria identidade a partir da palavra. O olhar do filme sobre o universo, contudo, parece conservar certa desconfiança da retórica do movimento. Na única cena em que vemos o idealizador do projeto, ele se encontra no centro de uma roda de participantes. A sua fala é a de um líder motivacional, movido por um entusiasmo eloquente, mas um tanto pomposo. “Você pode ser a mudança ou permanecer em silêncio”, repete, em um discurso que glorifica a função redentora da palavra. O primeiro plano de RISE mostra a imagem do poeta indígena canadense Duke Redbird em um monitor localizado na estação vazia de metrô de Toronto onde o trabalho foi filmado. Ele recita um poema de título sugestivo, “O espelho”. A repetição do mesmo dispositivo cênico no fim do trabalho o coloca em evidência: o plano final mostra Redbird concluindo o poema, segundos antes da tela desligar-se subitamente. Wagner e De Burca utilizam um procedimento de ênfase, anômalo em sua obra, que determina a função privilegiada do poema na obra. Em um filme em que

jovens talentosos enunciam pela música e pela poesia suas identidades individuais e coletivas, trata-se de um gesto significativo trazer para o centro do filme um poema que fala, justamente, do espelho: a nossa imagem refletida, diz o poema, é uma “máscara zombadora”, que “envolve e esconde”, antes de mostrar e revelar. O poema remete, curiosamente, à canção do Conde do Brega, que toca sob os créditos de Estás vendo coisas. As palavras do compositor do Recife tocam em um único filme da sessão, mas parecem comentar, contudo, todos eles: “Vou mudar,/ um dia você mesmo vai dizer,/ quem eras, quem tu sois, é uma miragem,/ podes crer.// Vou mudar,/ um dia você mesmo vai se ver/ diante do espelho do poder.” O cinema de Wagner e De Burca parece nos provocar a cada trabalho, justamente, a fitar a miragem.


Retrospectiva Seijun Suzuki © 1960 Nikkatsu Corporation

A partir do dia 1 de fevereiro, o cinema do IMS Rio recebe uma retrospectiva do cineasta japonês Seijun Suzuki (1923-2017), que ficou conhecido por seu trabalho iconoclasta e seu senso de humor particular, além de trabalhar com a desconstrução espaço-temporal em filmes como Tóquio violenta e Portal da carne. Suzuki teve uma carreira longeva de cerca de 50 anos, quando produziu filmes formativos para nomes como Quentin Tarantino, Jim Jarmusch e Takeshi Kitano. Serão apresentados 17 filmes, 15 em cópias em 35 mm, com o apoio da Fundação Japão. A mostra acontece entre os dias 1 e 16 de fevereiro e 3 e 8 de março. As sinopses foram escritas pelo crítico Ruy Gardnier. Entrada gratuita. Sujeita à lotação da sala. Ingressos distribuídos 30 minutos antes de cada sessão. Uma senha por pessoa.

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© 1960 Nikkatsu Corporation

Mire na viatura

Fera adormecida

Um camburão é atacado no meio da estrada, e dois prisioneiros morrem alvejados por um franco-atirador. Daijiro Tamon, o policial encarregado de fazer a segurança do carro de polícia, é acusado de negligência e suspenso por seis meses. Indignado, ele começa a fazer por si mesmo uma investigação para descobrir os mandantes do atentado. À medida que desvenda fatos novos sobre algumas mulheres ligadas aos presos assassinados, surgem outros crimes relacionados ao caso, e diversas pistas apontam para a empresa Hamaju, uma agência de talentos dirigida pela misteriosa Yuko Hamashima, que gerencia modelos de striptease e garotas de programa. Este é um dos primeiros filmes dirigidos por Suzuki no subgênero do mukokuseki akushon (borderless action), filmes de ação e mistério caracterizado pela influência dos filmes de gângster do cinema americano.

Depois de dois anos trabalhando em Hong Kong, o executivo Junpei Ueki volta a Tóquio e está prestes a se aposentar, mas desaparece misteriosamente depois de uma festa de despedida oferecida pela empresa em que trabalha. Preocupada com o sumiço do pai, a jovem Keiko começa a investigar as circunstâncias do desaparecimento, em conjunto com seu namorado, o jornalista Shotaro Kasai. As primeiras descobertas fazem Shotaro mergulhar na vida noturna de Tóquio e de Yokohama, onde ele descobre que o pai de Keiko está envolvido com um grupo criminoso que tem origens numa seita de culto ao Deus-Sol. Keiko se recusa a acreditar que seu pai leva uma vida criminosa, e Shotaro explica que toda pessoa tem um “animal dormente” dentro de si, podendo ser acordado a qualquer momento. Narrativa detetivesca típica da produção “B” da Nikkatsu no período, à qual Suzuki incrementa seu estilo visual marcante.

Jusango taihisen yori: Sono gososha o nerae Seijun Suzuki | Japão | 1960, 84’, 35 mm

Kemono no nemuri Seijun Suzuki | Japão | 1960, 85’, 35 mm


© 1960 Nikkatsu Corporation

© 1960 Nikkatsu Corporation

© 1963 Nikkatsu Corporation

Tudo vai mal

Abaixo os vândalos

Detetive Bureau 2-3

Relato de um grupo de adolescentes que rouba carros e organiza estupros coletivos, dentre os quais está Jiro, que convive com eles, mas não se mete em crimes ou em promiscuidade. Jiro vive com sua mãe, Misayo, uma viúva que há anos é sustentada pelo amante, o sr. Nanbara, um executivo da indústria bélica. Quando descobre que o sr. Nanbara estará presente no aniversário de sua mãe, Jiro revolta-se e entra para a vida transviada de seus amigos. Depois de seu primeiro roubo, os amigos vão ao bar para comemorar, e a bela Toshimi se oferece para passar a noite com ele. Enquanto isso, Etsuko, uma estudante que vive um relacionamento sem compromissos, descobre que está grávida e tenta correr atrás de dinheiro para o aborto. A vida de todos esses personagens se entrelaçará de modo surpreendente. Narrativa de juventude desenfreada, que contém muitos pontos de contato com Conto cruel da juventude (Nagisa Oshima, 1960), marco da nouvelle vague japonesa.

Criado como órfão, Sadao Matsudaira é um jovem que trabalha como assistente de pintor, até descobrir que é o único herdeiro de uma família nobre que vive numa ilha paradisíaca. Seu senso de integridade faz com que ele recuse a herança num primeiro momento, mas, diante da promessa de que ele conheceria finalmente sua mãe, aceita viajar até a ilha ancestral da família. Lá, ele conhece sua avó, que parece recebê-lo com efusividade excessiva para um neto ilegítimo, e também trava contato com um suspeito grupo de empresários que quer transformar a ilha na “Mônaco do Oriente”. Com o dinheiro herdado, ele constrói um parque público e um albergue para jovens. O que Sadao não sabe é que a namorada do chefe dos empresários é ninguém menos do que aquela que ele busca desde que chegou à ilha: sua mãe. Neste primeiro filme em cores de Suzuki, a narrativa mescla elementos de melodrama com filme de rock’n’roll.

A polícia japonesa fica apreensiva depois que um carregamento de armas do exército americano é roubado e ocorre um violento tiroteio entre gangues Yakuza rivais. O inspetor Kumagai prende Manabe, um dos sobreviventes do tiroteio, a fim de interrogá-lo e conseguir informações sobre as ações criminosas recentes. Sem acusação contra Manabe, a polícia precisa soltá-lo, mas isso significaria entregá-lo nas mãos dos criminosos. Aí entra o detetive particular Hideo Tajima, chefe do Bureau 2-3, que se oferece para ser o guarda-costas de Manabe e envolver-se nos meios criminosos para recuperar as armas roubadas. O que se segue é um carnaval de cenas de tiroteio, música e comédia. Primeiro longa de Suzuki protagonizado por Joe Shishido, que atuaria no papel principal de mais cinco de seus filmes, incluindo sua obra mais conhecida, A marca do assassino. O filme teve uma continuação, dirigida por Nozomu Yanase.

Subete ga Kurutteru Seijun Suzuki | Japão | 1960, 72’, 35 mm

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Kutabare gurentai Seijun Suzuki | Japão | 1960, 80’, 35 mm

Tantei jimusho 23: Katubare akutodomo Seijun Suzuki | Japão | 1963, 89’, 35 mm


© 1964 Nikkatsu Corporation

A juventude da besta

Portal da carne

Nosso sangue não perdoa

Joji Mizuno era policial até ir para a cadeia, vítima de uma cilada da Yakuza. Depois de cumprir a pena, ele tem notícias da morte de um amigo, no que parece ter sido um duplo suicídio. Desconfiado, ele fará de tudo para descobrir a verdade sobre a morte do amigo. Assim, ele começa a agir como um bandido brutal, até chamar a atenção de um chefe da Yakuza, que o chama para a organização. Uma vez lá, ele começa a negociar com uma facção rival e cria situações para instigar uma guerra de gangues, ganhando muito dinheiro e status, enquanto os dois grupos se esfacelam. Será Mizuno desmascarado antes de descobrir como morreu seu amigo? A juventude da besta é considerado um marco na obra de Suzuki pelo modo como o estilo visual excêntrico começa a tender para a abstração, sendo o início do momento mais rico da primeira metade de sua carreira.

Alguns anos depois do fim da 2ª Guerra Mundial, um grupo de prostitutas habita um bairro sujo e destroçado. Elas moram num prédio em ruínas e seguem um código de comportamento severo, que envolve a proteção do território, a recusa de cafetões e a proibição estrita de fazer sexo não remunerado. Maya, uma jovem que perdeu toda a família na guerra, aparece por lá e começa a fazer parte do grupo. Em seguida, chega Shintaro, um ladrão que matou um soldado americano do exército de ocupação. Como ele está baleado e muito fraco, elas permitem que ele se esconda no prédio. À medida que o tempo passa, as mulheres passam a desenvolver sentimentos conflitantes em relação a Shintaro, especialmente Maya. Mas apaixonar-se é um tabu, e isso pode levar à expulsão dos dois do grupo. Segunda adaptação cinematográfica do popular romance homônimo de Taijiro Tamura, publicado em 1947.

Ryota e Shinji eram crianças quando o pai deles foi assassinado pela Yakuza. Em seu leito de morte, a vontade final do pai foi que seus filhos jamais entrassem para a organização criminosa. Dezoito anos passados, o clamor de vingança reaparece. Ryota não obedeceu aos desígnios do pai e é um eficiente chefe na Yakuza, apesar da fachada de empresário bem-sucedido e da reputação de chefe de família. Shinji, por sua vez, trabalha como publicitário, mas seu sangue quente faz com que ele também se sinta tentado a flertar com o mundo do crime, principalmente depois que é demitido do emprego por suas arruaças. Ryota fará de tudo para que seu irmão menor não enverede pelas mesmas vias que ele. Mas, quando os dois irmãos têm a chance de fazer justiça a seu pai, eles se unem, e a narrativa conduz a um desfecho violento.

Yaju no seishun Seijun Suzuki | Japão | 1963, 92’, DCP

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Nikutai no mon Seijun Suzuki | Japão | 1964, 90’, DCP

Oretachi no chi ga yurusanai Seijun Suzuki | Japão | 1964, 97’, 35 mm


© 1966 Nikkatsu Corporation

© 1966 Nikkatsu Corporation

A marca do assassino

Koroshi no rakuin Seijun Suzuki | Japão | 1967, 91’, 35 mm

Tóquio violenta

Elegia da briga

Kurata, um chefe da Yakuza, decide abandonar as atividades criminosas e dedicar-se apenas aos negócios lícitos. Ele desmembra seu grupo, mas Tetsuya “Phoenix Tetsu” Hondo, seu fiel escudeiro, decide acompanhá-lo. Depois de recusar a oferta de participar do clã Yakuza liderado por Otsuka, Tetsu começa a ser vítima de atentados, mas sempre escapa. Kurata convence Tetsu a sair de Tóquio e virar um andarilho, evitando assim novos ataques. Tetsu obedece, mas os atentados continuam, aonde quer que ele vá. Quando se encontra com Umetani, um aliado de Kurata, Tetsu descobre que seu antigo chefe uniu-se a Otsuka para matá-lo. Sentindo-se traído, o andarilho volta a Tóquio para confrontar-se com todos aqueles que planejaram matá-lo. Tóquio violenta é um dos filmes mais delirantes de Suzuki, e talvez aquele em que ele vai mais longe no uso da abstração e da cor em seu período na Nikkatsu.

Okayama, anos 1930. O jovem Kiroku frequenta o ensino médio e fica hospedado na casa de uma família católica. Ele se apaixona por Michiko, a filha da família. Incapaz de expressar seus sentimentos, por timidez e culpa católica, Kiroku canaliza sua libido na violência. Ele faz amizade com Turtle, um arruaceiro da área, aprende a lutar e entra para uma gangue da escola, a OSMS. Sua vida é brigar com as outras gangues da escola. Depois que Turtle desentende-se com o líder do bando, Kiroku assume a liderança do grupo e impõe um severo regime de desobediência total às regras da escola, além de proscrever o convívio com mulheres. Posteriormente, Kiroku é expulso e foge de Okayama junto com Turtle. Kiroku vai morar com seus tios em Fukushima e retoma a escola, mas novamente tenta entrar em gangues da área. Roteiro adaptado por Kaneto Shindo para o romance de Takashi Suzuki, tendo como âncora histórica a tentativa de golpe de Estado pelo exército imperial, em fevereiro de 1936.

Tokyo Nagramono Seijun Suzuki | Japão | 1966, 83’, 35 mm

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Kenka erejii Seijun Suzuki | Japão | 1966, 86’, 35 mm

Goro Hanada é o “Número 3” no ranking de assassinos de aluguel do submundo japonês. Chegando a Tóquio, ele reencontra Kasuga, um ex-assassino de aluguel que trabalha como taxista. Juntos, eles são contratados para escoltar um cliente até Nagano. No trajeto, eles sofrem uma série de emboscadas, em que estão envolvidos o “Número 2” e o “Número 4” do ranking, que morrem no tiroteio. Ninguém conhece a identidade do “Número 1”, mas supõe-se que ele também esteja envolvido no esquema. Na volta para casa, ele conhece Misako, uma mulher misteriosa com obsessão por coisas mortas. Ela oferece a Hanada um contrato para matar quatro pessoas. Por causa de uma borboleta que pousa no cano de sua arma, ele erra o último alvo e precisa se esconder para continuar vivo. O estilo selvagem e elíptico do filme levou Suzuki a ser banido da indústria, por ter realizado uma obra “incompreensível”. Hoje, o filme é considerado um marco de invenção formal, fonte de inspiração para incontáveis cineastas.


Zigeunerweisen

Kagero-za

Aochi, um professor universitário de alemão, encontra com seu antigo colega Nakasago quando viaja de férias para um vilarejo à beira-mar. Nakasago vive como nômade e é perseguido por um grupo local, acusado de ter seduzido e assassinado a mulher de um pescador. Depois que Aochi resolve a situação do amigo com a polícia, os dois jantam e conversam sobre a vida, acompanhados pela gueixa Koine. Seis meses depois, Aochi volta para visitar o amigo e descobre que ele está casado com Sono, uma mulher incrivelmente parecida com Koine. Repentinamente, Nakasago foge com Koine, abandonando Sono, que está grávida. Mas tudo pode ser sonho, delírio ou realidade. Acompanhando a trama, a peça musical “Zigeunerweisen” (1878), de Pablo de Sarasate, toca com insistência. Primeiro filme da “trilogia Taisho”, que faz referência ao Japão dos anos 1910-1920, foi vencedor de quatro prêmios da Academia Japonesa em 1981, incluindo os de Melhor Filme e Melhor Diretor.

Tóquio, 1926. Shunko Matsuzaki é um dramaturgo de teatro shinpa (moderno), e tem como mecenas o poderoso Tamawaki. Um dia, ele se depara com a bela Shinako numa ponte. Ela pede que Matsuzaki a acompanhe até o hospital para fazer uma visita a uma mulher moribunda. Ela deseja sua companhia pois tem medo de encontrar uma senhora vendedora de fisális, fruta que supostamente contém as almas das mulheres. Matsuzaki recusa, mas Shinako retorna em outras aparições, e torna-se sua amante. Em seguida, ela desaparece. Tempos depois, Matsuzaki descobre que Shinako pode ser o fantasma de uma antiga esposa de Tamawaki. Depois de receber uma carta de Shinako, Matsuzaki viaja para Kanazawa a fim de encontrá-la. No trem, ele encontra Tamawaki, que diz estar viajando para presenciar um suicídio por amor. Segundo filme da “trilogia Taisho”, que segue o mesmo estilo alucinatório do primeiro.

Zigeunerweisen Seijun Suzuki | Japão | 1980, 144’, 35 mm

História de melancolia e tristeza Hishu Monogatari Seijun Suzuki | Japão | 1977, 91’, 35 mm

Reiko Kashiwagi é uma modelo profissional. Ela é contratada e transformada em golfista por uma revista de moda que pretende usá-la como garota-propaganda de uma nova marca de roupas para golfe. Reiko sagra-se campeã logo em seu primeiro torneio e torna-se famosa da noite para o dia. Ela vira uma sensação televisiva, aparecendo frequentemente de biquíni e com um taco de golfe. Tudo começa a degringolar quando a sra. Semba, sua vizinha, desenvolve uma obsessão por Reiko, telefonando insistentemente e pedindo autógrafos no estúdio da TV. Saindo de uma noitada, Reiko e seu empresário atropelam acidentalmente a sra. Semba, e fogem sem prestar ajuda, temendo que o caso arruíne a carreira da modelo. Mas a sra. Semba sobrevive e passa a chantagear Reiko. Primeiro filme de Suzuki depois de dez anos de ostracismo, em estilo mais sereno e depurado, em comparação com as obras dos anos 1960.

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Kagero-za Seijun Suzuki | Japão | 1981, 139’, 35 mm


Princesa Guaxinim

Operetta tanuki goten Seijun Suzuki | Japão | 2005, 101’, 35 mm

Yumeji

Pistol Ópera

A vida ficcionalizada do pintor e poeta Yumeji Takehisa (1884-1934). Yumeji está em Kanazawa, esperando a chegada de sua amante Hikono, quando se depara com a bela viúva Tomoyo, que perambula pelas cercanias de um lago procurando o corpo de seu marido Wakiya, supostamente assassinado por um bandido. O pintor fica impressionado com Tomoyo e ajuda a viúva em sua busca. Em seguida, eles se tornam amantes. A trama fica mais complexa quando aparecem Matsu, o suposto bandido assassino, e a modelo Oyo, também amante de Yumeji. Até que o próprio Wakiya reaparece, sem que saibamos tratar-se de um fantasma ou de uma presença real. Último volume da “trilogia Taisho”, o filme intensifica os procedimentos oníricos e alucinatórios dos filmes anteriores, chamando mais a atenção para os elementos simbólicos e as atmosferas do que para a trama.

Miyuki Minazuki, apelidada de Gata de Rua, é a “Número 3” no Sindicato de Assassinos. Ela mora com sua avó, e sua arma preferida é uma pistola. Gata de Rua recebe suas ordens de Sayoko Uekyo, uma mulher enigmática de vestido branco. Ela parece confortável com sua posição no ranking, mas a rivalidade se intensifica quando o misterioso “Número 1”, apelidado de 100 Olhos, começa a atacar os outros assassinos que estão no topo da hierarquia. Quando Sayoko informa Gata de Rua de que 100 Olhos agora é um alvo para o sindicato, surge a oportunidade para matá-lo e assumir o primeiro lugar. Espécie de remake e continuação de A marca do assassino (Goro Hanada, protagonista em 1967, é agora “Número 0”, um conselheiro de Gata de Rua), o filme aplica o estilo tardio de Suzuki à matriz dos filmes de gângster que ele fazia na Nikkatsu, resultando num painel delirante de cores e ritmos, um balé ou uma ópera de sedução e morte.

Yumeji Seijun Suzuki | Japão | 1991, 128’, 35 mm

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Pisoturo Opera Seijun Suzuki | Japão | 2001, 112’, 35 mm

A vida do príncipe Amechiyo está em risco depois que um profeta ou oráculo anuncia a seu pai, o lorde Azuchi Momoyama, que ele deixará de ser o mais belo entre todos os seres do universo. Lorde Azuchi ordena então que um monge vá até a Montanha Sagrada e mate o príncipe. Este é salvo por uma horda de guaxinins, que atacam o monge na floresta. A Princesa Guaxinim, em sua forma humana, encontra Amechiyo adormecido na floresta e cuida dele até que ele recobre os sentidos. No caminho para o palácio Guaxinim, a princesa fere seu pé numa armadilha, e agora é Amechiyo que salva sua vida. Os dois se apaixonam. Quando chegam ao palácio Guaxinim, os nobres rejeitam a união, pois é tabu que humanos e guaxinins possam se amar. Enquanto isso, lorde Azuchi descobre o paradeiro do filho e declara guerra ao reino guaxinim. Em seu último filme, Suzuki mergulha na fantasia do conto de fadas e da comédia musical, criando uma apoteose de cor e movimento.


Em cartaz

Antologia da cidade fantasma Répertoire des villes disparues Denis Côté | Canadá | 2019, 97’, DCP

Simon Dubé morre em um acidente de carro em Saint-Irénée-les-Neiges, cidade pequena e isolada, com uma população de 215 habitantes. Atordoados, os demais moradores relutam em discutir as circunstâncias da tragédia. Daquele momento em diante, tanto para a família Dubé quanto para várias outras pessoas, o tempo parece perder todo o sentido, e os dias se arrastam sem fim. Nesse período de luto e sob a neblina, estranhos começam a aparecer na cidade. Realizado a partir do romance homônimo de Laurence Olivier, o filme se inspira, nas palavras do diretor Denis Côté, na Quebec dos dias atuais. Em entrevista disponível no site da distribuidora Zeta Filmes, Côté declara: “Sinto que, hoje, as pessoas sentem muito medo de perder a sensação de conforto que a terra natal oferece. Esse medo se apresenta de várias maneiras, e nossa resistência à mudança é feroz. A ascensão do populismo 14

na mídia, a crise migratória, a relutância em se abrir para outras pessoas e o fechamento identitário são temas que me interessam. O livro de Laurence Olivier é uma coleção poética sobre extratos de vida e estórias desconexas; tentei manter este espírito. As mudanças e lágrimas que ocorrem no tecido social são fenômenos fascinantes, então criei uma estória com buracos nos quais o sobrenatural pode se infiltrar, introduzindo vários anticlímaxes. Não é um roteiro complexo, mas gosto de brincar com o tom; gosto quando as coisas não são fáceis de serem definidas ou categorizadas. Basicamente, queria escrever um roteiro sobre o Outro e o medo que ele inspira.” [Íntegra da entrevista em: bit.ly/antodc] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).

O filme do Bruno Aleixo

João Moreira, Pedro Santo | Portugal | 2019, 92’, DCP Bruno Aleixo foi convidado a escrever um filme autobiográfico. Sem muitas ideias, resolveu pedir ajuda aos amigos mais próximos. O personagem, criado em 2008 por João Moreira e Pedro Santo, também diretores do longa, ficou conhecido em vídeos do YouTube, na rádio e na TV. Em entrevista a Luiza Wolf para a 43a Mostra de São Paulo, o diretor João Moreira comenta que, “quando recebemos o convite da produtora [O Som e a Fúria] para fazer o filme, consideramos que o Aleixo é que estava recebendo esse convite. E por isso que, no filme, o Luis Urbano, que é o próprio produtor, faz a proposta ao Bruno Aleixo.” “E pensamos que ele chamaria os amigos para ajudá-lo”, completa Pedro Santo. “E aí eles não entendem muito de cinema, mas usam referências de filmes que já viram. [...] As ideias que aparecem ali são dos personagens. Nós tentamos desconstruir os gêneros cinematográficos. Mas nós somos meros veículos daqueles personagens, então pensamos nas ideias que eles teriam e só fomos costurando isso no filme. Nós colocamos vários gêneros de filme ali e tivemos preocupações estéticas, mas fomos desconstruindo as narrativas do cinema.” [Íntegra da entrevista em: bit.ly/bamostra] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).


Modo de produção

Dea Ferraz | Brasil | 2017, 75’, DCP Um retrato do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Ipojuca, onde convergem histórias de burocracias, demissões e aposentadorias, além de um suposto sonho de desenvolvimento econômico-social que se avizinha com o porto de Suape. “Quando a gente pensou em fazer o filme, lá em 2013, ele tinha o desejo de começar a refletir e a questionar as escolhas de desenvolvimento socioeconômico que o país estava implementando, esse modelo de grandes obras, que tinha uma presença grande em Pernambuco”, relata a diretora Dea Ferraz. “A gente via que o governo vendia uma ideia de oásis brasileiro, tinha toda uma mística em torno de Suape, e a verdade é que nada mudava naquele entorno. Fora o trabalho braçal, que trazia operários temporários, a maior parte das pessoas que trabalhavam ali vinha de fora. Havia uma massa de pessoas que estava sendo movida o tempo todo por um sistema que lhes é imposto, pela necessidade de sobrevivência. A gente vai para dentro do sindicato muito mais entendendo o sindicato como um espaço de passagem daqueles trabalhadores.” [Entrevista completa no site Cine Festivais: bit.ly/ModoDeProdução]

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Nós

Us Jordan Peele | EUA | 2019, 120’, DCP Adelaide (Lupita Nyong’o) e Gabe (Winston Duke) decidem levar a família para passar um fim de semana na praia e descansar em uma casa de veraneio. Eles viajam com os filhos e começam a aproveitar a paisagem, mas a chegada de um grupo misterioso muda tudo. “Apliquei a ideia a nós enquanto comunidade e criei uma alegoria sobre o medo que os Estados Unidos têm do outro, juntando ao fato de que somos nosso pior inimigo”, explica o diretor Jordan Peele ao jornal O Globo. “Eu descreveria que minha missão como autor é apontar como as pessoas, quando em grupos, são capazes de se tornar os piores monstros. Claro que criamos coisas belíssimas, mas nossa habilidade de suprimir nossa própria responsabilidade nos leva ao ponto de reafirmar todo tipo de atrocidade.” [Entrevista completa: bit.ly/NósOGlobo] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).

O paraíso deve ser aqui

It Must Be Heaven Elia Suleiman | França, Catar, Alemanha, Canadá, Turquia, Palestina | 2019, 97’, DCP Elia Suleiman deixa a Palestina em busca de um novo lar, apenas para encontrar problemas similares em todo lugar. A promessa de uma nova vida se transforma em uma comédia de erros e em situações inusitadas com a polícia, a modernidade e o preconceito. Por mais longe que ele vá, de Paris a Nova York, algo sempre o lembra de sua terra natal. “Meu filme tenta abordar a expansão global da questão palestina, porque hoje todos os lugares vivem uma guerra não declarada”, diz o diretor em depoimento reproduzido na Folha de S.Paulo. “Em todos os lugares para onde o personagem principal vai, ele percebe que não se distanciou nem um centímetro da situação de seu país natal. Por causa da globalização e do pós-colonialismo, estamos na beira de um precipício, há um desespero existencial e econômico generalizado.” O paraíso deve ser aqui recebeu a Menção Especial do Júri no Festival de Cannes de 2019. [Íntegra da reportagem da Folha de S.Paulo em: bit. ly/eliafsp] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).


Você não estava aqui

Sorry We Missed You Ken Loach | Reino Unido, França, Bélgica | 2019, 100’, DCP Ricky, Abby e seus dois filhos vivem em Newcastle, na Inglaterra. Enquanto ela trabalha diligentemente cuidando de idosos, ele só consegue trabalhos que pagam mal. Eles percebem que nunca se tornarão independentes ou mesmo donos de sua própria casa. Até que uma oportunidade aparece em meio à revolução digital. Abby vende seu carro para que Ricky possa comprar uma van e se tornar um motorista de entregas por conta própria. Mas os excessos dessa mudança terão grande repercussão em toda a família. Vencedor da Palma de Ouro por Eu, Daniel Blake (2016), o diretor Ken Loach conta como a pesquisa de seu filme anterior serviu de inspiração a Você não estava aqui: “Quando estávamos fazendo Daniel Blake, pesquisamos bancos de alimentos e ficamos chocados ao descobrir que muitas das pessoas que precisavam de ajuda estavam, de fato, trabalhando. Isso nos revelou 16

a quantidade de pessoas pobres trabalhando, e como essa situação está associada a um interesse de longo prazo, de como o trabalho passou de empregos seguros com horário regular – com benefícios, com férias, com atestados, com todos os ganhos que os sindicatos tinham feito ao longo dos anos – e vendo como isso agora foi corroído. E então, para pensarmos, qual é o efeito disso nas famílias? Porque as pessoas sustentam uma imagem pública sob estresse, mas quando chegam em casa esse estresse reaparece: eles não têm paciência com os filhos; eles não se veem até tarde da noite; eles estão exaustos; eles estão com fome; e é aí que o estresse e os problemas surgem.” [Entrevista completa em inglês no site do BFI: bit.ly/VocêNãoEstavaAqui] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).

Sessão Cinética Curtas-metragens de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca Neste mês, a Sessão Cinética mostra o mais novo filme de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, Swinguerra, em conjunto com mais quatro outros trabalhos da dupla, que transita entre as artes visuais e o cinema, como nota Hermano Callou. Sua pesquisa artística tem como ponto de partida o conceito de cultura popular, noção fundamental para a formação dos imaginários nacionais e regionais. O conjunto de filmes apresentados estuda o universo de gêneros como frevo, gospel, brega, swingueira e a Schlager, um tipo de música pop alemã. A exibição do conjunto de filmes será seguida de debate com os críticos da revista Cinética. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).


Bye bye Deutschland! Eine Lebensmelodie

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca | Brasil, Alemanha | 2017, 20’, DCP

Estás vendo coisas

Terremoto santo

Na paisagem social e profissional da música brega do Recife, a indústria dos videoclipes é catalisadora de uma ideia de futuro pontuada pelo desejo de sucesso tal qual encorajado pelo capitalismo. Estás vendo coisas observa esse mundo onde a autorregulação e a manipulação da imagem têm papel crucial na construção da voz, do status e da identidade de toda uma nova geração de artistas populares. Escrito e encenado por participantes do brega, o filme acompanha dois personagens principais – o cabeleireiro MC Porck e a bombeira e cantora Dayana Paixão – em seus percursos entre o estúdio e o palco.

Em Terremoto santo, Bárbara Wagner e Benjamin de Burca estabeleceram parceria com uma gravadora de música gospel da cidade de Palmares, em Pernambuco, a fim de tratar dos aspectos sociais e estéticos da prática pentecostal. A liturgia dos cultos evangélicos é especialmente musical nessa região da Zona da Mata, marcada pela história da cana-de-açúcar e habitada por jovens que buscam nos cantos de louvor uma forma de trabalho.

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca | Brasil | 2016, 16’, DCP

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Bárbara Wagner e Benjamin de Burca | Brasil | 2017, 19’, DCP

Bye bye Deutschland! Eine Lebensmelodie acompanha a vida de cantores de Münster que se tornaram conhecidos como covers das vozes mais proeminentes de diferentes eras da música Schlager. Enquanto Markus ganhou reconhecimento pelos seus tributos no YouTube para Udo Jürgens (que introduziu a chanson francesa no Schlager em 1970), Steffi executa o repertório de Helene Fischer, um ícone do Schlager contemporâneo, que abriu o gênero para um padrão de pop global. Combinando as convenções do cinema documental e do musical, o filme aborda o renascimento de uma indústria que, na imagem pública, está muitas vezes associada a um sonho de terras estrangeiras, textos simples com imaginário nacionalista ou um pesado sentimentalismo. Como gênero musical, Schlager é tão difícil de definir quanto seria improdutivo simplificar os contextos em que foi produzido nos últimos 50 anos. Hoje, o Schlager divide opiniões e toca distintas gerações.


Lançamento DVD | IMS Swinguerra

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca | Brasil | 2019, 22’, DCP

RISE

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca | Brasil, EUA, Canadá | 2018, 20’, DCP Nos espaços subterrâneos da nova extensão do metrô de Toronto, um grupo de poetas, rappers, cantores e músicos negociam seu status como primeira e segunda geração de artistas da cidade, bem como colonos que vivem em terras indígenas. Apresentando participantes da R.I.S.E. (Reaching Intelligent Souls Everywhere) EDUTAINMENT – um evento que acontece semanalmente nos centros comunitários suburbanos de Toronto –, o filme adota o conceito de “edutainment”, termo que junta as palavras “educação” [education] e “entretenimento” [entertainment], como uma ferramenta para sua estrutura e seu roteiro.

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Na quadra de esportes de uma escola pública, um grupo de dançarinos ensaia sob o olhar atento de um coreógrafo, em rotinas altamente disciplinadas. As tensões do trabalho assombram os desejos pessoais enquanto, são observados pelas companhias rivais. Comissionado para o Pavilhão do Brasil na 58ª Bienal de Veneza, o filme foca em três estilos de dança da periferia do Recife: a swingueira, o brega-funk e o passinho dos maloka, representados pelos grupos Cia. Extremo, Grupo La Máfia e Bonde do Passinho/As do Passinho S.A.

EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo Maureen Bisilliat | Brasil | 2019, 96’, DCP

O documentário traça uma ponte entre passado e presente através dos quase 60 anos da produção artística de Maureen Bisilliat e sintetiza situações vividas durante os anos de fotojornalismo, publicações, exposições e filmes. Costurando memórias com trechos de palestras, entrevistas e cenas com família e amigos, reúne dicas colhidas ao longo de uma vida de aprendiz. Muitos dos capítulos que compõem o filme foram iniciados tomando como base obras dos escritores Euclides da Cunha, João Guimarães Rosa, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Mário de Andrade e Jorge de Lima: suas realidades e regiões. Viagens a lugares fotografados no passado, revisitados e documentados 50 anos depois. As referências sonoras que inspiraram seu trabalho são uma parte importante de EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo. Este documentário é o mais recente lançamento da Coleção DVD | IMS. No dia 18 de fevereiro, no IMS Rio, a exibição será seguida por uma conversa com Maureen Bisilliat.


coleção DVD | IMS

Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras.

EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo Maureen Bisilliat | Brasil | 2019, 96’ “Vivo há 60 anos nesta casa com esta árvore, suas raízes cambojanas e copa celestial, compondo, nesta ilha, capítulos de vida: mundos e fundos de gerações. Livros e mais livros, companheiros de viagem, forças fiéis a minha formação. Caos incontrolável no chão… fitas e fotos arquivadas nos armários da memória. Gosto das coisas em que vejo o tempo, que me trazem para uma história. É uma forma de assentamento.” Com essas palavras de Lygia Segala, a fotógrafa Maureen Bisilliat abre o filme em que revisita seus quase 60 anos da produção artística, sintetizando situações vividas durante os anos de fotojornalismo, publicações, exposições e filmes. Costurando memórias com trechos de palestras, entrevistas e cenas com família e amigos, reúne dicas colhidas ao longo de uma vida de aprendiz. A edição inclui um livreto com ensaio de Roberto Gervitz e cenas não incluídas na versão final do filme.

O futebol, de Sergio Oksman O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán Photo: Os grandes movimentos fotográficos Homem comum, de Carlos Nader Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman Os dias com ele, de Maria Clara Escobar A tristeza e a piedade, de Marcel Ophüls Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual La Luna, de Bernardo Bertolucci Cerimônia de casamento, de Robert Altman Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho

Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos O emprego, de Ermanno Olmi Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna Cerimônia secreta, de Joseph Losey As praias de Agnès, de Agnès Varda A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov Elena, de Petra Costa A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper Seis lições de desenho com William Kentridge Sudoeste, de Eduardo Nunes Shoah, de Claude Lanzmann Memórias do subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade

Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja online do IMS: bit.ly/imsdvd. 19


Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho Programação de cinema e DVD Barbara Alves Rangel Programadores assistentes Ligia Gabarra e Thiago Gallego Projeção Adriano Brito e Edmar Santos

Os filmes de fevereiro

Meia-entrada

O programa de fevereiro tem o apoio da Nikkatsu, da Shochiku, da Little More Co., da NBCUniversal Entertainment Japan, da Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, das distribuidoras Universal, Imovision, Inquieta, Zeta Filmes, Vitrine Filmes e do Espaço Itaú de Cinema. E dedica agradecimentos a Bárbara Wagner, Benjamin de Burca e Maureen Bisilliat.

Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, portadores de HIV e aposentados por invalidez.

apoios

Retrospectiva Seijun Suzuki

Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Venda de ingressos Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares). Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou

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pelo e-mail imsrj@ims.com.br. Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com.br e facebook.com/cinemaims. As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo ) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea.


Você não estava aqui (Sorry We Missed You), de Ken Loach (Reino Unido, França, Bélgica | 2019, 100’, DCP)


Terça a domingo, sessões de cinema até as 20h. Visitação Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segundas), das 11h às 20h. Entrada gratuita.

Swinguerra, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca (Brasil | 2019, 22’, DCP)

Rua Marquês de São Vicente 476 CEP 22451-040 Gávea – Rio de Janeiro 21 3284 7400 imsrj@ims.com.br

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