sufoco durante o sono
Novos estudos alertam para a gravidade da apneia obstrutiva do sono, marcada por roncos e interrupções na passagem de ar nas horas de repouso noturno por andré biernath design ana cossermelli foto getty images ilustrações Pedro hamdan
A
biomédica Monica Andersen, diretora de ensino do Instituto do Sono, em São Paulo, traça a seguinte comparação para dar uma ideia do que é ter apneia obstrutiva do sono: “Imagine que todas as noites, enquanto você dorme, um sujeito vem e o acorda até 35 vezes a cada hora”. Pois é isso o que acontece com cerca de 30% dos habitantes da capital paulista — estatística que tende a se repetir em outras cidades do Brasil e do mundo. Obviamente, não estamos falando de um pentelho que atormenta o descanso alheio, mas de uma doença que, tudo leva a crer, faz mais do que impor microdespertares (muitas vezes despercebidos) ao longo da madrugada. A apneia é caracterizada por interrupções temporárias na entrada de oxigênio durante o sono. Isso acontece porque os músculos da parte de trás da boca relaxam, bloqueando a garganta e a passagem de ar. Um de seus sinais mais comuns e barulhentos é o ronco. “Homens, obesos e idosos correm maior risco de desenvolver o problema”, conta o pneumologista Pedro Genta, do Hospital do Coração, em São Paulo. O diagnóstico depende do relato e dos sintomas do paciente. “Mas a confirmação vem por meio de um exame, a polissonografia, que avalia a qualidade do sono em vários aspectos”, diz Genta. O distúrbio passou a ser visto com mais seriedade nos últimos anos, tanto por sua incidência quanto pelo surgimento de estudos relacionando a suspensão do entra e sai de ar a encrencas da pesada. O assunto ganhou tamanho destaque que o Current Hypertension Reviews, jornal científico especializado em pressão alta, dedicou recentemente uma edição inteirinha ao elo com a apneia. “No Brasil, várias sociedades médicas começam a reconhecê-la como um problema de saúde pública”, nota a neurologista Dalva Poyares, presidente da Associação Brasileira de Medicina do Sono. A seguir, você verá 12 possíveis (e graves) desdobramentos da apneia. Eles só reforçam a necessidade de flagrar e silenciar quanto antes esse sufoco noturno.
ela Mexe com a cuca Toda vez que a garganta se fecha, o corpo precisa fazer um empenho danado para reabrir as vias aéreas, o que força pequenos despertares. Não é que o indivíduo acorde pra valer, mas deixa de atingir as etapas reparadoras do sono. Cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, resolveram verificar o que ocorre no cérebro dos apneicos. Eles mediram os níveis dos neurotransmissores GABA e glutamato, que modulam as emoções — o primeiro funciona como um inibidor e acalma as coisas, enquanto o segundo dá uma acelerada na cachola. Observaram, então, que na massa cinzenta de quem sofria com a doença os níveis de glutamato estavam bem acima do normal. “Isso explicaria o estresse dos pacientes, capaz de evoluir para ansiedade e depressão”, diz o neurocientista Paul Macey, autor do trabalho.
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