Revista Heavyrama #5

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Editorial Editora-Chefe Bia Cardin

Ressurgindo das cinzas.

Editora-Assistente Neli Sousa

Salvem! Passamos um bom tempo ausentes,mas retornamos com uma diagramação diferentes e mudanças no conteúdo (que serão mais visíveis no decorrer das próximas edições). Nesta edição trazemos também o resultado da enquete realizada no site da Revista Heavyrama “Qual banda você considera mais promissora em Goiânia ?”( 1ª, 2ª e 3ª colocação).

Colaboradores nesta edição Eduardo Paixão Aires, Vitor Nunes, Jôder Filho, Hugo O., Rinaldo (Tsavo), Raphael Fillipe Revisão Bia Cardin, Neli Sousa Design e Webdesign Neli Sousa Fotográfos (as) nesta edição: Neli Sousa, Bia Cardin Edição de Fotos Bia Cardin, Neli sousa Contatos: contato@heavyrama.com heavyrama@gmail.com heavyrama@hotmail.com

Agora estamos também com comunidade no Orkut e perfil no Facebook, qualquer sugestão e crítica podem ser enviadas que serão respondidas prontamente. Agradecemos também os e-mails que recebemos dando uma força para a revista e aos camaradas que tanto nos cobraram o lançamento dessa quinta edição. Estamos planejando alçar voos maiores nos próximos meses. Vocês serão atualizados por nossas redes sociais em breve. Fiquem de olho também em nosso site que será modificado nas próximas semanas. Ficamos por aqui, e esperamos o feedback sobre as nossas mudanças. Abraços! Equipe Heavyrama


Sum谩rio

Spiritual Carnage 06 Tsavo 14 Entrevista - Adriano

Reis 18

Spirits of the Shadows

26

Lei Rouanet 28 Godheim 30 Entrevista - Anderson

Lemmy

34

R.I.P. - Mandatory Suicide

40

Behind the Horror 44 Cibercultura e Heavy Metal

46

Contador de Hist贸ria

48

Moretools

50

Resenha -

Resenha - A

Sorrowful Dream

Resenha - Forka

51

52

Conto - As Flores de Alice

54

Making Of 56




Spiritual Carnage Texto : Bia Cardin / Fotos: Neli Sousa

www.m

Na orige

06 - Heavyrama


Spiritual Carnage

myspace.com/bandaspiritualcarnage

em do Metal Goiano

H material.

oje não seria possível relembrar a história do Heavy Metal goiano sem se lembrar da Spiritual Carnage, uma das bandas mais antigas no cenário que continua ativa, fazendo shows e planejando um novo

A banda nasceu em 1989 formada inicialmente por Hemar Messiah(baixo/ voz) que havia integrado anteriormente as bandas Sangria e Flesh Temptation, Junior(bateria) e Skowronski (guitarra). Tanto Hemar quanto Skowronski pensavam em um nome que abordasse os infortúnios que atingem a humanidade, baseados no preceito da falta de espiritualidade presente no mundo como causa, a“Carnificina Espiritual” traduziria as mensagens que a banda queria passar tanto liricamente quanto instrumentalmente, surge então a Spiritual Carnage. Durante a jornada de anos, a banda passou por algumas mudanças na formação, algumas das mais significativas foi a entrada de Greco na guitarra (ex-Encruzilhada e Agente Laranja) em 1994 e Lara em 1996 (guitarra e teclado). O uso do teclado na sonoridade da banda começou em 1992 na música de introdução “The Least Devastation”, com a presença oficial de Lara na banda, o teclado foi usado discretamente mais como uma experiência, porém foi abolido posteriormente para o acréscimo de uma segunda guitarra.

Durante as mudanças de formações a banda já obtinha no currículo a gravação dos materiais Pre-Destined Death(1990) Creeping Under Black Souls (1992), Spiritual Carnage (1997) e Sheltered In Flames (2002), todos em formato de Demo-tape. Após um período estável entre os integrantes, em 2003, Gilberto Black deixa a banda dando espaço para o baterista Natal que teve passagem pelas bandas Encruzilhada, Sentence Of Death e Tsavo. Apenas realizando shows e sem o registro de um novo disco, a banda decidiu gravar o seu primeiro full-lenght em 2006 nomeado como “Voice Of Darkness” lançado pelo selo Two beers or not two beers. Entretanto, neste mesmo ano foi a vez de Lara deixar a banda devido ao problema com a tendinite que a atingiu por três anos, com a saída de Lara, Guilherme Aguiar (ex- Killingods. ex-Tsavo. ex-Sentence of Death e atual membro da Heretic.) juntou-se ao Spiritual Carnage assumindo a guitarra. Durante os anos de carreira a Spiritual Carnage, não chegou alçar voos para Heavyrama - 07


Spiritual Carnage

realizar turnês em outros estados, mas tiveram a oportunidade de tocar ao lado de grandes nomes do Metal nacional em nossa cidade, tais como: Chakal, Overdose, Vulcano, Torture Squad, Claustrofobia, Ratos de Porão, Destruction, Master, Cannibal Corpse, Krisiun, Korzus, Dorsal Atlântica, Funeratus, Subtera, Nervochaos, Sepultura, Facada, Death Angel, Dr. Sin, etc. Atualmente a banda é reconhecida em Goiânia e é das 08 - Heavyrama

poucas do gênero que se apresentam em festivais de selos alternativos como a Fósforo Musical e a Monstro Discos. O grupo estava planejando uma turnê europeia para o ano passado, mas a mesma não ocorreu (vide a entrevista). Deste modo, no momento eles estão focados preparando o lançamento do seu novo CD ainda não-intitulado que conterá no máximo 11 músicas que foram selecionadas entre 23 faixas compostas pela banda. O lançamento está previsto para o segundo semestre deste ano.


Spiritual Carnage

Na entrevista concedida à Heavyrama, Guilherme Aguiar e Greco nos deram mais detalhes sobre o novo material que será lançado e explicaram o cancelamento da turnê Europeia que seria realizada no ano passado. Confiram mais detalhes:

HEAVYRAMA - Podemos dizer que a Spiritual Carnage está em evidência no momento, realizando shows com mais frequência em eventos de grandes produtoras de Goiânia. Como tem sido essa experiência de ter conquistado esse espaço?

GUILHERME – Fazendo uma referência até ao memorial*, você vê como era naqueles tempos, o pessoal era bem influenciado pelas bandas de fora. A galera até ia à praia com a camisa do Exodus (risos), o pessoal vivia o Metal mesmo desde o começo da banda.

GRECO - Acho que realmente foi uma conquista porque nós sempre tocamos em outros shows, de outros organizadores que eram voltados para o lado mais Metal mesmo e não flertávamos muito com o pessoal dessas produtoras. A partir do momento que começou a vir, por exemplo, Sepultura, Krisiun para o Goiânia Noise, aí sim, nós também nos interessamos, porque começou a ter mais bandas pesadas tocando nesses eventos e nós nos sentimos orgulhosos de representar Goiânia nesse lado mais Metal.

GRECO – Não sabemos nem explicar o que leva ao gosto pela música pesada, em uma terra em que não tem muito incentivo e nem espaço. Onde outros estilos são bem cultuados, mas nada disso foi obstáculo pra continuarmos. Tivemos altos e baixos, momentos mais intensos, momentos mais parados, problemas particulares que todo mundo tem, filhos que vão aparecendo, isso tudo influencia, mas a banda nunca parou.

HEAVYRAMA - Qual foi a fórmula para a banda ter sobrevivido há tantos anos? GRECO - Nós ainda somos aqueles metaleiros de antigamente, pode-se dizer que 80% do som que ouvimos é Metal, nas suas variações. Eu não acompanho tantos lançamentos assim, mas em casa e lugares que frequento, dou preferência para lugares que tocam Heavy Metal. Então é o gosto mesmo pelo som. Para nós ainda é muito bom mesmo, eu acho que o fato de ter banda e estar nesse movimento há tanto tempo também impulsiona.

HEAVYRAMA - Durante esses anos de carreira, vocês tiveram a oportunidade de realizar alguma turnê pelo país? GRECO - Essa é uma parte ruim da gente, reconhecemos que deveríamos ter feito mais shows fora do estado de Goiás, sempre tivemos convites, mas também houve a questão do trabalho, da família, sempre foi meio difícil conciliar isso. É uma coisa que devemos para nós mesmos: uma turnê pelo Brasil. Assim, como a Ressonância Mórfica fez que foi interessante, eles tiveram muita coragem. Nós temos que sanar essa falha nossa. Heavyrama - 09


Spiritual Carnage

Greco

GUILHERME – Mas acho que depois do lançamento do novo CD não vai faltar oportunidade. O Hemar estava conversando com o pessoal da Scud para nos acolher lá na região do Nordeste e do Norte. GRECO – E também os tempos são outros todas as coisas estão resolvidas, nós todos temos mais liberdade e podemos nos dedicar mais à banda agora do que antigamente. HEAVYRAMA - Atualmente, vocês acham que o Heavy Metal está em um bom momento em Goiânia? GRECO – Acho que tudo cresceu, hoje temos mais bandas. Nós tocamos em época que, por exemplo, só tinha banda de Hardcore e nós tocávamos nesses shows como únicos representantes do Metal, mas nós sempre quisemos que tivessem muito mais bandas aqui inclusive de Death Metal,que é o nosso estilo. Hoje vemos que muitas bandas acabaram, isso é normal também, mas outras persistiram, se tornaram fortes e têm seu púbico. GUILHERME – Hoje com a facilidade da tecnologia, você pode gravar a sua música em casa, fazer um Home 10 - Heavyrama

Guilherme

Studio, que é mais barato, isso incentiva as bandas a produzir de uma forma mais econômica. Se você não está fazendo nada, então vá investir em um equipamento legal, faça composição em casa mesmo. Hoje é bem mais fácil lançar um material digitalizado. HEAVYRAMA - Vocês possuem quatro demos gravadas e um álbum que foi lançado em 2006. Qual o motivo para esse intervalo de cinco anos para o lançamento de um novo material? GRECO - Um dos motivos é que nós somos muito criteriosos com as músicas, nós gastamos muito tempo nelas. Acontece que algumas saem de supetão - de repente essas são até as melhores - mas não é sempre que isso acontece, quando acontece é muito bom também. Nós demoramos a chegar em um resultado no qual fiquemos satisfeitos, somos meio enjoados com isso. Nós não ensaiamos muito, só quando temos mais compromissos mesmo, inclusive diminuímos bastante os convites para shows, ainda fazemos alguns pra manter a banda na ativa, pra novas pessoas verem e conhecerem a banda e isso é importante, ter a nossa participação em eventos como o Goiânia Noise, em eventos da Fósforo e dar a oportu-


Spiritual Carnage

Hemar

nidade às vezes de alguém se perguntar “Ah, existe esse estilo em Goiânia (em Goiás)” ou “Eu gosto mais é disso ou gosto é de Heavy Metal mesmo’”, “´É com isso que eu me identifico” GUILHERME – Sobre a gravação, depois que eu entrei na banda tive a primeira oportunidade de ver como que os caras compunham antigamente. E é engraçado demais, o Greco e o Hemar chegam com o riff gravado em um gravadorzinho em pilha, com violão (risos). Já eu digitalizo a parada, chego com 16 músicas prontas e dessas 16 nós escolhemos três para trabalhá-las para o CD. Mas eu achei interessantíssimo vê-los gravar umas bases e mostrá-las no violão. GRECO – Mas agora a coisa vai acontecer mais rápido porque estamos reativando o nosso estúdio. Todo mundo sabe que é bem melhor ter o seu próprio estúdio onde se tem liberdade de horário. Mas, nesse tempo nós fomos para outros lugares pra manter os ensaios mais regulares. Agora vai render bastante, há muitas músicas como o Guilherme falou e ideias pra colocar no próximo CD e nós acreditamos que será melhor do que o anterior.

Natal

HEAVYRAMA - Os ‘headbangers’ podem esperar uma sonoridade diferente no novo CD ou vocês seguirão a linha dos trabalhos anteriores? GRECO – Nós ainda temos uma preocupação e orgulho de ser uma das bandas mais pesadas de Goiânia, o que podemos ter certeza é o peso no estilo Death Metal que é o que gostamos de fazer. Ao mesmo tempo conseguimos ter influências de Heavy Metal como Iron Maiden, por exemplo, também Black Sabbath, isso entra no som da Spiritual porque ouvimos essas bandas ao longo desses anos. GUILHERME – Nós também somos bem influenciados pela própria banda, a música das antigas, nós ouvimos muito e é uma influência a mais para nós mesmos. GRECO - Acreditamos que alcançamos um estilo próprio, então acho difícil sairmos dessa linha. Conseguimos resistir ao longo dos anos e a todas as influências que apareceram em mais de 20 anos de banda, de New metal, Black metal, Heavy Metal melódico etc, e nos mantivemos. Mas também gostamos de técnica, que as pessoas ouçam e gostem, que tenham prazer de ouvir a Heavyrama - 11


Spiritual Carnage

banda. Eu gosto quando uma pessoa que nunca ouviu Metal pense “Eu entendi o que vocês fizeram, entendi a intenção”. GUILHERME - Tanto é que essa intenção que temos hoje é aceita nos festivais da Monstro , da Fósforo, então flertamos com esses festivais que não são próprios pro Metal, mas estamos sempre lá talvez por esse prazer que o pessoal tem de ouvir o som que não é só pancadaria. HEAVYRAMA – Como vocês fazem as composições líricas? GUILHERME – O novo material já tinha letras prontas, pois antigamente o Hemar fazia as letras em português e depois passava para o inglês. Depois que entrei na banda já comecei a escrever diretamente em inglês, já que é mais fácil pra mim. A maior parte desse material lírico sou eu que estou fazendo e quando eu não faço, eu ajudo o Hemar nas composições. GRECO – Uma novidade é que estamos com a ideia de fazer um novo videoclipe. Estamos com o roteiro, a letra virá depois, ou seja, vamos fazer uma letra para o videoclipe. Tanto a música quanto a letra serão construídas para esse roteiro que pensamos. Então essa é uma coisa diferente. HEAVYRAMA - A temática da banda será mais focada em letras subjetivas ou objetivas? GUILHERME - Tem dos dois, o próprio surgimento da Spiritual Carnage surgiu da época das carnificinas, da pobreza, da miséria, então criaram o nome da banda para falar sobre isso, há um leque imenso de possibili12 - Heavyrama

dades líricas. E tem o lado subjetivo também, o que me ajuda a escrever são alguns ensaios como os escritos do Sartre, do Heidegger, me inspiro muito neles pela boa estrutura, pela ideia clara e concreta. HEAVYRAMA- Vocês estavam planejando uma turnê Europeia em 2010, mas que não foi realizada. O que aconteceu? GUILHERME – O selo no qual estávamos em parceria - Death toll records - foi o mesmo que trouxe o Master. Houve aquele incidente dos dois integrantes da After Death (Inglaterra) que morreram em Maceió e isso trouxe uma dor de cabeça imensa para o produtor que é de Londres, então depois desse incidente acabou a turnê do Master no Brasil. O produtor parou de mexer com show e caímos nessa infelicidade também, foi basicamente isso o que ocorreu. Tínhamos muitas datas marcadas, mas que podem ser remarcadas GRECO- Vamos com o novo material em mãos também, o que reforça até mais, mas realmente foi um azar mesmo o que aconteceu com eles e consequentemente com o que viria depois. GUILHERME – E mesmo com a desistência deles eu já tinha muitos contatos, tentei falar pessoalmente com o pessoal, mas não funciona, é preciso ter um manager lá, alguém para marcar os shows. Uma banda que consegue fazer uma turnê europeia com contato próprio é muito difícil, quase impossível, mas tem as exceções. Consegui até marcar umas datas na Alemanha e cinco dias depois na Itália, só que não tinha o itinerário do meio e é preciso fazer um para viajar. Então consegui uma data no leste outra lá no oeste, só que estava difícil preencher


Spiritual Carnage

esses espaços, era aí que entrava o produtor para fechar essas lacunas HEAVYRAMA – Então a turnê também não será nesse ano? GUILHERME – Nesse ano estamos focados no novo trabalho e com força total, com divulgação vai surgir oportunidade, tanto no Brasil quanto lá fora. HEAVYRAMA- Se sentem satisfeitos com todo o trabalho realizado até agora na carreira da banda? Mudariam algo? GRECO – O que eu lamento não ter acontecido na carreira da Spiritual Carnage foi não termos gravado um vinil porque somos dessa época. Gravamos fitas cassetes e as divulgamos muito, mas faltou o vinil. Algumas bandas na época gravaram, não era muito fácil, naqueles anos era um pouco difícil. De resto, nós conseguimos manter a banda viva, com um estilo vivo dentro de uma cidade que não ajuda tanto, mas que tem um pessoal que é apaixonado mesmo, mais do que em muitos outros lugares e isso sempre nos ajudou. O nosso CD saiu muito em função de cobrança de amigos, de fãs da banda que falavam “Pô, vocês tem que ter um CD” e em 2006 pensamos “Temos que ter mesmo, chega de demo tape’. Então fizemos muitos shows, aconteceram coisas boas, coisas ruins. Eu me dou muito por satisfeito porque nas devidas proporções acho que o que aconteceu com a Spiritual Carnage aconteceu também com as bandas grandes, só que numa escala menor de país, de cidade, então eu me sinto bem por ter feito parte da história do Metal até hoje, de estar nessa cena há tantos anos e pretendendo continuar sem pensar em parar.

GUILHERME- Também temos que dar um crédito para o Segundo da Two Beers porque o material antigo é todo em fita e o Segundo relançou esses materiais da Spiritual em CD, CD-R e divulgou. HEAVYRAMA- Encerrando, deixem um recado para os nossos leitores. GRECO – Quero agradecer a oportunidade por poder

falar e expor o que pensamos. Dizer também que sempre quisemos que o movimento fosse grande em Goiânia. Nós nunca pensamos na banda como se existisse uma “banda principal” e depois vêm as outras. Não, não existe uma banda maior que a outra aqui em Goiânia, nós somos iguais, cada um tem seu público. E falar também para o pessoal manter a união para o movimento ficar forte e continuar. GUILHERME – Goiânia tem público pra Metal, tanto é que os shows que a Spiritual Carnage organizou, tentamos trazer algumas bandas de fora pra cá para fomentar a cena, incentivar bandas novas a querer tocar, ver o pessoal profissional mesmo cara a cara, nesses shows nós vimos que há público sim, vimos o pessoal de Black, Death , Thrash, tudo misturado e isso eu acho bem legal. Em cada show tem uma cara nova ali querendo conferir o som. Acho que o pessoal tem continuar indo nos eventos e procurar saber um pouco da nossa história. GRECO – As pessoas estão muito em casa, ficando muito atrás do computador e o legal mesmo é sair, ir pros shows, pros bares, conversar - esse contato humano é importante, então isso tem que acontecer. * Confira o memorial da Spitiual Carnage:

http://spiritualcarnage.wordpress.com/ Heavyrama - 13


Ts a v o Texto : Eduardo Aires / Fotos: Neli Sousa

15 anos de Thrash Metal 14 - Heavyrama


Ts a v o

U

tilizando tudo que os influenciou nos anos 80 e 90, a banda Tsavo, de Goiânia, está desde 1997 unindo a velocidade, cadência e harmonia do Thrash Metal. A formação atual conta com Rinaldo Macedo na guitarra, Régis Mello na bateria, Cleiton Magno no vocal, que também

faz parte da banda Disaffection, e Jadin Freza no baixo, que toca paralelamente com a Elyon. Alguns dos atuais integrantes passaram por bandas importantes do cenário goianiense, é o caso de Rinaldo Macedo que esteve na Leprosy, Death Slam (DF), Symphonic Tragedy, Refine e Arnion e Régis Mello, que fez parte da Destiny Wings, Fate Cross e Refine. A formação inicial da Tsavo era composta por Rinaldo Macedo (Guitarra), Alan Paulino (Vocal) que atualmente é vocalista na banda In Bleeding, Murilo (Baixo) que está tocando na Baba de Mumm-rá – de Palmas, e Natal (Bateria) que já está há um bom tempo com a Spiritual Carnage. Além da formação que deu origem ao grupo, a Tsavo já contou com a presença Jander (Guitarra), atual Necropsy Room e Ricardo, também guitarrista, atualmente na Symphonic Tragedy.

As influências dos membros da Tsavo passeiam pelo Thrash Metal, como Slayer, Grip Inc., Testament, Pantera, Living Sacrifice, Sodom, Meshuggah, Sepultura, Metallica, e também por outros estilos menos marcantes no som da banda, como o Heavy e o Power. Em 2002 eles lançaram um EP com três faixas: Tsavo, Humanity e Unborn. A Demo teve uma ótima repercussão e aceitação no meio underground goiano e brasiliense, rendendo vários shows com bandas locais, como também a abertura do show da lendária banda Dorsal Atlântica, na cidade de Anápolis. Heavyrama - 15


Ts a v o

Cleiton

Rinaldo

Régis

Jadin

Em 2003 a Tsavo fez a gravação do CD ao vivo, intitulado Thrash Metal Attack, no festival Metal do Cerrado, com a participação das bandas Fate Cross, Sunroad e Light Hammer. No mesmo ano participaram da coletânea Fast Food – Thrash Metal, junto com Violator, Revival e Temenon de Brasília. Alguns shows que se destacaram na carreira da banda foram o de 2005, no Gran Circular em Brasília com Dark Avenger, Death Slam e outras bandas locais. Em 2006 também em Brasília, tiveram a oportunidade de tocar ao lado de bandas como a Cirrhosis (BH), Violator (DF), e Subtera (PR). Atualmente o grupo divide o tempo entre gravação e shows. A 16 - Heavyrama

divulgação do CD começou em dezembro de 2010, e já participaram de alguns eventos nesse primeiro semestre de 2011. O álbum está previsto para fi-

car pronto no final deste ano ”es-

taremos em gravação no Fantom

http://www.myspace.com/

tsavoinc

Studio no final de abril e em maio. Neste tempo gravaremos mais cinco músicas, ou seja, em julho já

teremos novos materiais e peque-

nos vídeos para divulgação” afirma Régis Mello. Duas faixas já podem ser conferidas no YouTube, são elas: Solution, e Reborn. Outras

três gravadas em 2002 foram remasterizadas e estão disponíveis no MySpace.



Entrevista - Adriano Reis Texto : Bia Cardin / Foto: Neli Sousa

A

driano Reis, 26 anos, produtor de shows e

headbanger invete-

rado, expôs os planos futuros

da marca Under Metal e nos contou um pouco mais sobre a segunda edição da Under Metal Fest que será realizada em julho deste ano.

A mente por trás da Under Metal Entrevista exclusiva com Adriano Reis

18 - Heavyrama


Entrevista - Adriano Reis

HEAVYRAMA - Como surgiu a proposta de criar a Under Metal Zine (UMZ)? ADRIANO - A UMZ surgiu no final de 2007, exatamente no dia 19 de dezembro. Na época eu organizava uma excursão para o show do Iron Maiden em São Paulo, na primeira passagem da turnê “Somewhere Back in the Time” pelo Brasil e procurava uma forma de divulgar a excursão, então criei um blogzinho, mas ainda não

se chamava Under Metal Zine. O criei com o meu nome mesmo só para divulgar a excursão. O tempo foi passando, alterações foram feitas e depois de algumas semanas eu comecei a pesquisar notícias de bandas que eu gosto e pensei: “vou criar um novo nome para o zine e divulgar novidades sobre bandas, excursões e outras coisas mais”, porque eu já tinha a ideia de fazer um portal de conteúdos para as bandas e com o tempo o blog foi crescendo. HEAVYRAMA - A UMZ tornou-se maior do que você esperava a princípio? ADRIANO - Com certeza, eu não esperava que em pouquíssimo tempo, pouco mais de um ano, já estivéssemos com mais de 1.000 posts no zine, para um blog é muita coisa. Hoje em dia nós praticamente nem precisamos pesquisar notícias pra postar no portal, porque muitas delas vêm das assessorias de imprensa do Brasil e algumas de Portugal, Argentina e Chile. Então atualmente estamos em uma crescente bem legal, mas ainda tem muita coisa pra crescer. Temos um projeto de fazer o blog virar um grande site para facilitar e dar mais oportunidades para as bandas, assessorias de imprensa e produtores de shows se comunicarem e manterem mais contato. Também estamos com colaboradores daqui de Goiânia – Ellen Maris, Silvio Mercydiamond, Juliano

Nunes - temos também o Rômel Santos que fez parte da Metal Militia Web Radio e é um ótimo parceiro, que veio diretamente do Maranhão. Então assim, aos poucos estamos nos organizando e criando uma equipe que vai trabalhar em prol desse objetivo que é fazer da UMZ um grande portal de conteúdo. HEAVYRAMA - Como ocorreu o seu envolvimento com a organização de eventos? ADRIANO - Bom, eu sempre frequentei e frequento muitos shows e festivais em Goiânia e pelo Brasil afora e sentia a necessidade de fazer e buscar algo diferente, de valorizar mais as bandas, a cena, entende?! A Under Metal Fest (UMF), por exemplo, já existia na minha cabeça há pelo menos três anos antes de acontecer, mas eu estava meio que “será que conseguimos fazer um festival com essas proporções?”. Então, no ano passado, conversando com o Murilo Ramos (Necropsy Room), falei “Cara, vamos fazer a Under Metal Fest?” e ele “Vamos!”. Assim começamos uma correria para realizar um evento em que a galera se sentisse confortável, que curtissem e valorizassem as bandas também, porque na maioria dos eventos em Goiânia e por todo o Brasil, o público vai para ver as bandas principais e nem sabem quais são as outras atrações, isso porque os produtores não costumam fazer uma divulgação legal para as bandas menores, que são muito importantes e também levam público aos eventos. Com a organização da segunda edição do festival tem bandas de todo o Brasil enviando material e procurando a gente pra poder tocar. Então a ideia é fazer eventos de Heavy Metal de grande porte em Goiânia e colocar a cidade, de vez, na rota de grandes bandas nacionais e internacionais, porque isso pouco funciona por aqui. Heavyrama - 19


Entrevista - Adriano Reis

HEAVYRAMA - O resultado final da primeira edição da Under Metal Fest alcançou as suas expectativas? ADRIANO - Bastante, apesar dos vários problemas que tivemos. O evento estava planejado pra ser em um local e teve que ser em outro e assim, em tempo de duas semanas, tivemos que mudar tudo e armar uma estrutura totalmente nova para o evento, isso atrapalhou muito. Acredito que muita gente deixou de ir, pois não viram as noticias sobre a mudança de local ou algo do gênero, mas de modo geral o evento trouxe bastante resultado para nós, pois as pessoas conheceram um pouco mais a Under Metal e os trabalhos que realizamos. HEAVYRAMA - E que o público pode esperar de diferente no evento desse ano em relação ao que foi realizado em 2010? ADRIANO - Para esse ano faremos um evento ainda maior do que o do ano passado. Em 2010 foram 13 bandas, cinco palestrantes e um workshop. Nesse fechamos parceria com a Pizzicato Produções, do meu amigo Luciano Lima. Vamos trazer 26 bandas de várias partes do país e de Goiás. Estamos conversan20 - Heavyrama

do com Shaman, Almah e estamos cogitando até Krisiun e Musica Diablo também, então estamos pensando em bandas que não tocam em Goiânia há algum tempo para trazer o público que está ausente de volta. Além de tudo, terá novamente os workshops e palestras e a grande novidade dessa segunda edição serão as oficinas profissionalizantes para pessoas que queiram trabalhar com música, pois vejo muitas bandas reclamando que faltam profissionais dessa área aqui em Goiânia e queremos dar oportunidade para essas pessoas a trabalharem com esse tipo de coisa, saber operar uma mesa de som, regular um P.A, regular um retorno ou até mesmo se tornar um Roadie, além de outros temas. O público aqui está carente de novidades, de coisas diferentes. Enfim, a ideia do evento não é apenas ter bandas tocando 12, 14 horas por dia, é um evento que vai trabalhar toda a parte musical, formar opiniões fortes, sem esquecer também do lado social. HEAVYRAMA - Quais são as atrações que estão 100% confirmadas e quais possivelmente poderão estar presentes? ADRIANO - Até o momento as atrações confirmadas são: Torture Squad, Spiritual Carnage, Alltorment, Apocalyptichaos, Just Another Fuck, Violator, Coral de Espíritos, Device, Mork, Scania e High Sky de Brasília, além de outras bandas de Goiânia como Sunroad, Skulls On Fire, Spirits of The Shadows, dentre outras que fecharemos em breve. Também entramos em contato com algumas bandas minas como o Hammurabi, o próprio Shaman, Almah, o Gangrena Gasosa e NervoChaos, pra que alguma dessas bandas possam vir. Em relação aos workshops, entramos em contato com o Kiko Loureiro, Max Kolesne, Chocolate, baterista do Lulu Santos que é um exímio baterista, é de Goiânia e poucos o conhecem. Trocamos uma ideia com ele sobre a proposta do evento para esse ano e ele gostou muito do projeto e quer participar também. Sobre as palestras, provavelmente teremos um replay do professor Fábio Sabbath falando sobre a história do rock e os principais fatos, teremos algumas pessoas ligadas a assessorias de imprensa de Goiânia e de outros estados para falar um pouco sobre essa área que vem crescendo muito no cenário nacional.


Entrevista - Adriano Reis

Tem muita gente com quem queremos conversar e trazer para o evento, essas são apenas algumas das atrações que estamos em negociação. Estamos bem ansiosos e animados com tudo que estamos planejando. HEAVYRAMA - Você também teve a ideia de fazer a coletânea Under Metal Zine Collection. Qual foi o principal objetivo desse projeto? ADRIANO - Essa ideia veio em parceira com o Friederich, da banda Devon. No GO MOSH do ano passado ele falou “Cara, o que você acha da gente fazer uma coletânea?”, eu falei “Vamos nessa” e aí a fizemos. Ele me ajudou a selecionar umas vinte bandas. Queríamos mostrar para o Brasil, nessa primeira edição da coletânea, que Goiás tem uma cena muito forte. Tanto é que muitas bandas legais ficaram de fora da primeira edição. Para 2011, faremos uma coletânea com bandas de todo o Brasil e de Goiás, pra mostrar a força do nosso metal e de repente até exportar essas bandas pra outros países. Para mim seria um grande orgulho ver bandas do nosso estado se aventurando por grandes países da Europa, Ásia e

Estados Unidos. Também queremos conhecer bandas novas de todo o país! Acho que essa é a grande ideia: fazer intercâmbio entre cidades, estados e até países, que sempre dá muito certo. A UMZ Collection será realizada todo ano, sempre casando com o festival Pré-Natal Metal, que comemora o aniversário do UMZ e do grupo, também. HEAVYRAMA - Quais são os planos futuros para o desenvolvimento da UMZ? Planeja expandi-lo até que ponto? ADRIANO - Bom, nossos planos para o futuro são: agregar tudo que for relacionado à música. Seja zine, festivais, excursões, selo, assessoria de imprensa, loja virtual, bar, radio, escola de música – onde o nome Heavy Metal aparecer, queremos trabalhar. A meta para esse ano é consolidar o que já temos e que está funcionando, que são os festivais, zine, excursões e a assessoria de imprensa. Acredito que ainda esse ano lançaremos nossa loja virtual e venderemos os produtos do próprio Under Metal, das bandas goianas e de outras partes do Brasil que tenham interesse em disponibilizar seus produtos em nossa loja. Ainda tem muita coisa por vir, isso é só o inicio. HEAVYRAMA - A assessoria da UM Press trabalha com alguma banda de Goiânia? ADRIANO - Nossa assessoria, além de fazer o trabalho de divulgação dos braços do grupo, também trabalha com as bandas Mugo e Necropsy Room, mas queremos trabalhar com muitas bandas legais daqui de Goiânia. Uma que está praticamente acertada conosco é a Apocalyptichaos, que é uma banda bem legal e, apesar do pouco tempo de estrada, está com um trabalho bem profissional, assim como outras bandas que temos observado e entraremos em contato no futuro. Outra banda com quem devemos trabalhar, em breve, é o Coral de Espíritos de Brasília, que é uma ótima banda e já se tornaram nossos amigos e parceiros. HEAVYRAMA - Voltando aos eventos, em abril teremos a seletiva Metal Battle em Goiânia para o Wacken Open Air. Como foi o processo de negociação para trazer essa oportunidade para a capital? Heavyrama - 21


Entrevista - Adriano Reis

bandas locais, a cena, a cidade e o público.

ADRIANO - Ano passado fui com o Necropsy Room à Brasília. Eles foram convidados para encerrar a Metal Battle de lá. Vimos as bandas tocarem, inclusive o Rising Cross de Goiânia, e pensamos “a gente consegue fazer um evento desses em Goiânia também”, ao final da seletiva conversamos com o Airton Di-

niz, um dos donos da revista Roadie Crew, e demonstramos o interesse em realizar a seletiva em Goiânia. O Airton gostou da ideia e após isso passamos quase um ano trocando emails até que em fevereiro ele me disse: “estamos finalizando a seleção das bandas, escolha uma data e o local para realizarmos a seletiva em Goiânia”. Foi assim que conseguimos fechar o acordo para a realização da seletiva na cidade. Essa será uma grande oportunidade para as bandas de Goiás mostrarem o seu valor. Após o anúncio oficial com as bandas que participarão esse ano, muitos insinuaram, em comunidades do Orkut, que o evento é panela, que sabem quem vai ganhar etc. O que posso dizer a essas pessoas é: a oportunidade está aí e é para todos. Vai ganhar quem se apresentar melhor durante o evento e o resultado disso não vai apenas para a banda vencedora, mas para as 22 - Heavyrama

Todo mundo pode mandar material para a revista, durante o ano todo, eles escolherão as bandas que acharem melhor para tocar, naquela ocasião. Não adianta meia dúzia de pessoas reclamarem porque queria

Vai ganhar quem se apresentar melhor durante o evento e o resultado disso não vai apenas para a banda vencedora, mas para as bandas locais, a cena, a cidade e o público.”

ver um ou outro. Se tal banda não entrou para o cast desse ano, com certeza outra oportunidade aparecerá no próximo ano. Se depender de mim, teremos essa seletiva em Goiânia por muitos e muitos anos. HEAVYRAMA - Sobre a nossa cena, como figura de espectador, que evoluções você acha houveram no nosso meio para o desenvolvimento do Metal? ADRIANO - O underground em Goiânia há nove anos era muito forte, haviam muitos festivais bacanas e entre 2005 e 2007 deu uma caída e pouca coisa aconteceu. Muitas bandas pararam de tocar por um tempo, outras acabaram, muitos headbangers saíram da cena, outros entraram, mas muitos também continuaram e acho que por causa dessas pessoas que continuaram - Two Beers, One Voice,


Entrevista - Adriano Reis

HicCup, Tattoo Rock Fest e tantos outros - que a cena continuou viva e vem se fortalecendo novamente. Então, de alguns anos pra cá, as bandas e os produtores perceberam que o negócio tem que ser profissionalizado, que não adianta ficar preso ao passado. As bandas começaram a se preocupar mais com gravações de qualidade e tem investido nisso.

Algumas bandas estão se destacando na cena nacional, como o Mugo, Deadly Curse, Necropsy Room, Hypnotica, Spiritual Carnage e a Ressonância Mórfica que fez uma turnê por mais de 20 cidades em 2009. Sempre que posso vou a shows, festivais e analiso as bandas, público, organização, troco ideia com os headbangers, procuro ficar sempre ligado em tudo que está acontecendo, vou até mesmo a eventos alternativos pra ver como que eles trabalham, ver bandas, etc. Não adianta ficar preso apenas aos eventos undergrounds, sabendo que o negócio é muito maior do que isso. Acredito que nos próximos três ou quatro anos a cena vai se fortalecer ainda mais e teremos grandes shows aqui em Goiânia, temos muito potencial para isso, faltam apenas os produtores e o público acredita-

rem que realmente isso seja possível. De alguma forma estamos buscando mudar um pouco essa visão.

Já vi produtores e músicos dizerem: “Cara, eu faço isso por paixão, não quero ganhar dinheiro com metal, porque metal não dá dinheiro”, e eu digo: “Se você entrou nisso, é porque você quer ganhar dinheiro e não quer ficar a vida toda tomando prejuízo e ficar endividado”

HEAVYRAMA - Há um divisor de águas em Goiânia entre a trupe “Old School” e “New School”, ou seja, de quem acredita que as bandas devem manter-se no underground, sem a ilusão de querer ganhar dinheiro com banda ou que o produtor de shows queira lucrar com os mesmos. Mas, muitas bandas atuais da nossa cidade almejam serem conhecidos tanto no resto do Brasil quanto no exterior, enquanto os produtores mantêm o preço dos ingressos mais elevados. Como você observa essa relação controversa? ADRIANO - Essa filosofia de que headbanger tem que ser pobre, fodido, que só tem que beber pingorante e não deve ganhar dinheiro para ter uma qualidade de vida bacana, pra mim é furada. Quem gosta de ficar sem dinheiro?! Se algum dia um cara pensou em montar alguma banda é porque ele de alguma forma quer atingir um objetivo, que eu acredito que seja o sucesso. Essa onda de “Ah, não quero ganhar dinheiro com metal” isso pra mim é conversa fiada. Eu trabalho com isso, eu ganho dinheiro com isso. Heavyrama - 23


Entrevista - Adriano Reis

Deixei um emprego sólido, uma zona de conforto para me dedicar a esse objetivo que aos poucos vem se tornando realidade. Vejo que a cena é muito maior do que esse tipo de pensamento. Tem pessoas que não querem?! Sim, tem, mas não puxe o tapete de quem quer. Acho que cada tem que correr atrás do que é melhor pra si. Ajudo muitas bandas que querem conquistar um objetivo, que não querem ficar presos tocando para sempre nos porões de Goiânia, entendeu?! Tem que pensar em algo grande também, não querer crescer não é muito concebível na minha cabeça. Já vi produtores e músicos dizerem: “Cara, eu faço isso por paixão, não quero ganhar dinheiro com metal, porque metal não dá dinheiro”, e eu digo: “Se você entrou nisso, é porque você quer ganhar dinheiro e não quer ficar a vida toda tomando prejuízo e ficar endividado”, todo mundo tem paixão pela música, mas somente pela paixão é difícil. Como o cara vai sobreviver, como ele vai pagar suas próprias contas? Esses pensamentos freiam muita coisa. Não estou dizendo que não devemos ter eventos undergrounds, em locais pequenos, pra 40, 50 pessoas. Isso também é legal e divertido, pois vou a vários, mas também tem que haver eventos maiores, com bandas maiores, com um público muito maior. Temos que dar estrutura para as bandas e para o público.Tem que ser tudo bem dosado e eventos pequenos são bons pra bandas novas que estão começando e para a cena também. HEAVYRAMA - Gostaria de encerrar com alguma mensagem?

ADRIANO - Quero dizer para a galera que a Under Metal veio para ficar. Estamos prontos para ajudar e apoiar à nossa cena no que for possível. Quem quiser ser ajudado por nós, que nos procurem. Muitas bandas esperam a oportunidade aparecer ao invés de correr atrás dela. Nós também corremos atrás das nossas oportunidades, não é para menos que já temos três eventos com a marca do Under Metal, várias excursões realizadas, um zine com três anos de vida e fazendo nossa assessoria crescer com bandas que têm objetivos definidos. Ainda não sei como é a Under Metal na cabeça das pessoas, qual a opinião delas sobre nós, e acho que agora é um bom momento para sabermos o que todos pensam sobre nós. Estamos aqui pra ajudar de alguma forma e queremos fazer de Goiânia uma grande força do metal nacional e temos a certeza de que isso é possível. Obrigado, Headbangers!

Under Metal Zine

www.undermetal.com.br/undermetalzine

Under Metal Press

www.undermetal.com.br/undermetalpress

Under Metal Fest

www.undermetal.com.br/undermetalfest

Under Metal Excursões

www.undermetal.com.br/undermetalexcursoes

Pré-Natal Metal

www.undermetal.com.br/prenatalmetal

Metal Battle Goiânia

www.undermetal.com.br/metalbattle 24 - Heavyrama



Spirits of the Shadows Texto : Vitor Nunes / Fotos: Neli Sousa

Persistência e paixão pela música 26 - Heavyrama


Spirits of the Shadows

Laysson Everton

E

Wolmer

m um estúdio caseiro no fundo da casa de um dos integrantes, no dia 26 de abril de 2003, com Rodrigo Carelli, Marco Bauer, André Caçapava e Luismar Rosa, nascia a então chamada Silver Spiked Skulls. O grupo influenciado principalmente por Iron Maiden, Death, Pantera e Children of Bodom começaram a ensaiar com a proposta de fazer simplesmente Heavy Metal. No entanto, ainda insatisfeitos com o nome decidiram mudá-lo para Shadow Skulls, este permaneceu até certa noite em que o baterista ainda incomodado com o título teve um sonho sombrio e ao acordar concebeu uma epifania. Após contar aos amigos sobre a nova proposta e conseguir a apro-

Cássio

Rodrigo

vação de todos da banda, o nome vindo das sombras de um sonho é o qual os colocou entre a gama de bandas que resistiram ao tempo. Spirits of the Shadows como hoje é conhecida, passou por várias mudanças até a formação atual composta por Cássio (vocal), Carelli (bateria), Evertom (guitarra), Laysson (baixo) e Tim (guitarra). O grupo possui cinco músicas, duas gravadas e poucas aparições. Para Carelli a dificuldade em achar músicos bons e dedicados foi o fator principal pela pouca produção musical e aparições nos palcos. Ele também cita a conhecida panelinha na organização dos eventos, a falta de incentivo e de pessoas compromissadas no meio. Atualmente consolidada e completando oito anos de existência, a banda pretende gravar seu primeiro Demo nesse segundo semestre, regravando as músicas ‘Innovation’ e ‘Scream for Solution’. O grupo já conseguiu espaço em alguns eventos no primeiro semestre deste ano e confessam que possuem um interesse especial no Under Metal Fest, que acontecerá em Goiânia em meados do mês de julho.

myspace.com/

spiritsgo

Heavyrama - 27


Lei Rouanet Texto : Eduardo Aires

Lei Rouanet A

Lei de Incentivo a Cultura, conhecida também como Lei Rouanet surgiu para educar as empresas e cidadãos a investirem em cultura, e inicialmente daria incentivos fiscais, pois com o benefício no recolhimento do imposto a iniciativa privada se sentiria estimulada a patrocinar eventos culturais, uma vez que o patrocínio além de fomentar a cultura, valoriza a marca das empresas junto ao público.

Cada lei tem um funcionamento específico. As leis federais oferecem isenção no Imposto de Renda das pessoas físicas ou jurídicas. Já as estaduais proporcionam isenção de ICMS e as municipais, de IPTU e ISS. O produtor deve ficar atento a região onde o projeto cultural será realizado e as necessidades dos possíveis patrocinadores.

Ela oferece benefício fiscal (à pessoa física ou jurídica) como atrativo para investimentos em cultura. Existem hoje leis de incentivo federais, estaduais e municipais. Dependendo da lei utilizada, o abatimento em impostos pode chegar até a 100% do investimento.

O órgão do governo responsável pela aplicação da lei, precisa primeiramente aprovar o projeto apresentado. Para isso é necessário que sejam atendidos os parâmetros exigidos pelo órgão governamental responsável pela aplicação da lei.

Como uma empresa patrocina um projeto cultural:

O que é e como funciona 28 - Heavyrama


Lei Rouanet

Após a aprovação, o produtor cultural (que pode ser o próprio artista) procura uma empresa que queira patrocinar o seu projeto, essa empresa fornece o dinheiro para a realização do projeto cultural. Esse dinheiro (ou parte dele) voltará para a empresa em forma de abatimento de imposto na hora do pagamento do tributo (Imposto de Renda, ICMS ou IPTU/ ISS, dependendo da lei utilizada), além de ter sua marca divulgada pelo evento.

Funcionamento da Rouanet: Para beneficiar-se dos incentivos fiscais, a empresa deverá escolher projetos que tenham recebido o aval do Ministério da Cultura do Brasil (MinC), através da CNIC-Comissão Nacional de Incentivo à Cultura. Dela, parte a autorização para a captação de recursos a qualquer projeto. Cada empresa pode destinar por ano um valor máximo para projetos culturais ou doação de bens, com fins culturais correspondentes a 5% do valor bruto do Imposto de Renda. Não só as grandes, mas as pequenas empresas podem também utilizar os benefícios do incentivo à cultura.

O MinC recebe os projetos segundo formulário próprio e aprova ou reprova em 60 dias, expondo os motivos da reprovação. Publica no Diário Oficial da União os aprovados, acompanhando e avaliando a execução desses projetos.

Lei Municipal de Incentivo a Cultura: A lei oferecida pela Prefeitura de Goiânia contempla projetos de artes plásticas e gráficas, música, cinema, literatura, artes cênicas, cultura popular e patrimônio histórico. Entre as iniciativas que podem obter o benefício público municipal estão: produção de espetáculos teatrais, livros, CDs, vídeos e filmes, exposições, mostras e festivais de artes. A lei prevê também custeio parcial ou integral para participação de artistas em grandes eventos culturais no Brasil, financiamento de projetos para restauração de monumentos e obras de arte, apoio ao folclore e estímulo à pesquisa na área da cultura. A Lei de Incentivo a Cultura atende pessoas físicas ou jurídicas que residam, no mínimo, há três anos em Goiânia e comprovem atividade cultural de, no mínimo, um ano. Heavyrama - 29


Godheim Texto : Bia Cardin / Fotos: Neli Sousa

Das terras célticas ao sertão goiano 30 - Heavyrama


Godheim

Thales

L

onge dos gêneros mais populares em Goiânia como Thrash e Death Metal, a banda Godheim é uma marca do Viking Metal em toda sua vitalidade.

O grupo foi idealizado em 2006 pelos integrantes Pedro Nasser (guitarra e vocal), Thales Braga (bateria) e Yago Sant’anna (guitarra). Entretanto, a Godheim sofreu uma série de alterações na sua formação passando de um Power trio para um atual sexteto. Yago deixou a banda e em 2010, Maycon Dias (ex-NightSorrow, ex-Dark Ages, atual Smegma e Unhealer) assumiu seu posto, acompanhado pelo vocalista Erick Z (ex-Necropsy Room, ex-Dark Ages, atual Smegma e Unhealer), ambos convidados por Pedro Nasser via rede social para integrar à banda. Pouco depois Raul Izidoro, que já era

Erick

Pedro

conhecido dos membros atuais, fixou-se como baixista. Com a formação estável em 2010, a banda preparou a gravação da sua primeira faixa profissional “Unbreakable Spirits”. Logo após aderiram ao grupo a sonoridade do teclado, liderado por Augusto César (ex-Moon Clef, ex-Luciferin), também recrutado via rede social. A intenção da Godheim convém ao que sugere o próprio nome, ou seja, explorar tanto liricamente quanto instrumentalmente os campos da mitologia nórdica, as histórias vikings, batalhas e festas em Valhalla. Na musicalidade da banda é possível encontrar rastros das influências dos integrantes, como as bandas Amon Amarth, Equilibrum, Turisas, Ensiferum etc. O grupo ainda não teve oportunidade de se apresentar Heavyrama - 31


Godheim

com a sua formação atual, mas já contam com a popularização da faixa gravada que, segundo o vocalista Erick Z, está sendo acessada em países exteriores e já obteve um total de mais de 3.000 reproduções em poucos meses. Apesar da quantidade de integrantes, Erick Z afirma que na banda as composições são feitas em conjunto e que as ideias dos membros normalmente se encaixam “Na Godheim todos estão focados e caminhando na mesma direção”. Desta maneira, ainda que tenham passado por uma fase estática, tudo indica que eles estejam adentrando em um bom momento e já recebem o retorno pelo seu trabalho “Há casas de shows de São Paulo perguntando da possibilidade de tocarmos por

lá, estamos muito satisfeitos com o que está acontecendo com a gente”, comenta Erick Z. É visível que a Godheim esteja determinada e centrada em conquistar novos espaços, segundo o vocalista “Esse está sendo o momento em que o pessoal está nos conhecendo e estamos tomando proporções para nos tornar uma banda séria e promissora”. No momento, a Godheim está gravando o seu primeiro full-lenght que conterá sete faixas e pretendem realizar o lançamento desse material no evento folk/medieval Odin’s Krieger Fest II em agosto em São Paulo. O grupo também está fechando uma data pra tocar em Goiânia em breve.

Maycon Augusto Raul

www.myspace.com/

officialgodheim 32 - Heavyrama



Entrevista - Anderson Lemmy Texto : Hugo O. / Foto cedida por Anderson Lemmy

Entrevista Exclusiva com Anderson Lemmy Músico há sete anos e técnico em sonorização há cinco, Anderson Cardoso Lemes, um dos profissionais mais conhecidos no cenário underground goianiense concede entrevista à Heavyrama.

34 - Heavyrama


Entrevista - Anderson Lemmy

HEAVYRAMA - Como se dá o processo de gravação musical? Há alguma diferença entre o tratamento sonoro feito ao vivo e de um feito em estúdio? O que é equalização? Essas são perguntas frequentes que muitos dos ouvintes de quaisquer estilos existentes devem se fazer em algum ponto de sua experiência musical. LEMMY - Numa apresentação ao vivo, as coisas mais notadas pelos espectadores são desempenho, habilidade, harmonia, letras, iluminação e, posteriormente, artigos de decoração de palco. A maioria esquece que a pessoa que

está situada, geralmente nos cantos do estrado, o técnico de som, desempenha função fundamental para que os acordes e batidas cheguem sem ruídos, e não como faca aos tímpanos de quem se prostra como plateia num show. Para um operador de mesa ser considerado eficaz, não basta a técnica apurada durante anos de prática. Ao longo do tempo, este deve construir uma espécie de memória musical, formado pela audição de tons reproduzidos por instrumentos e equipamentos de alta qualidade, que serve de parâmetro para adequação de som a cada estilo e necessidade.

P

ara que os leitores/ouvintes possam entender a função e importância de um operador e técnico de som, o músico e técnico em sonorização, Anderson Cardoso Lemes, vulgo Lemmy, fala à Heavyrama sobre o assunto. Acompanhe:

HEAVYRAMA - Quem é você e como iniciou sua vida musical? LEMMY -Sou músico há sete anos e trabalho com sonorização há cinco. Comecei trabalhando

com produção de eventos, onde fui me interessando pelo ramo de áudio, tecnologia e de estar sempre dividindo o palco com bandas, principalmente, da cena goiana de Rock e Metal, que é minha praia. Entrei efetivamente no ramo após montar um Heavyrama - 35


Entrevista - Anderson Lemmy

estúdio de ensaios para bandas, chamado Espaço Musical, que ficava no Centro. No estúdio, sempre apareciam bandas interessadas a locar equipamentos para tocar em bares e pequenas festas. Com a entrada de um ex-sócio, passei a investir na área de sonorização ao vivo, na qual atuo até hoje. Atualmente, sou técnico de som do Centro de Cultura Goiânia Ouro e do Teatro Casa das Artes, guitarrista da banda Sunroad e proprietário do Espaço Musical

HEAVYRAMA - Qual deles é o mais importante? Por quê?

Locações. Lá eu trabalho com gravação, juntamente com o engenheiro de som Marlúcio Rezende, um dos mais consagrados e profissionais de Goiânia. Nos últimos anos, venho me dedicando e estudando áudio em busca de me formar em Engenharia de Áudio.

LEMMY - Essa é uma pergunta difícil de responder, pois se tratando de áudio todos os equipamentos estão correlacionados sendo que a qualidade final está diretamente relacionada com o bom desempenho dos mesmos. Assim, para um som chegar com boa sonoridade ou, como nós chamamos, com boa inteligibilidade aos nossos ouvidos, o sinal produzido por uma fonte emissora (guitarra, baixo, voz etc) será influenciado por todos os equipamentos que percorrer, desde posicionamento adequado de microfones e qualidade de cabos aos alto falantes e construção das caixas acústicas.

HEAVYRAMA - Quais os equipamentos que compõem um sistema de som?

HEAVYRAMA - Quais são as habilidades esperadas de um operador de som?

LEMMY - Varia bastante de acordo com o tipo de situação ao vivo ou em estúdio. Mas, se tratando de um som ao vivo, basicamente, o sistema é composto pelas caixas acústicas direcionadas ao público (conhecidas popularmente como P.A.), os amplificadores de potência, que fornecem energia aos alto falantes das caixas, processadores de áudio, que fazem o alimento do sistema (processo de correções e ajustes juntamente com os equalizadores do sistema, dando maior qualidade e adaptação de acordo com as caixas acústicas e acústica do local), os periféricos, que são processadores de dinâmica (compressor, limiter, gate) e de efeito (reverb, delay), os consoles de mixagem (mesas de som), microfones, monitores de palco (retorno), enfim são muitos equipamentos e acessórios que não citei, mas que são fundamentais para uma boa reprodução sonora.

LEMMY - Um operador de som teve ter uma boa capacidade de audição crítica tanto no quesito musical, quanto no quesito técnico. Ter uma boa referência musical, conhecer questões tais como dinâmica, feeling, pegada e saber sobre as peculiaridades dos instrumentos são aspectos tão importantes quanto reconhecer frequências, fatores de compressão, acústica e manuseio do equipamento. Para mim, existe ainda outros fatores que são fundamentais que é ser educado e gentil com os músicos, e ter sempre a preocupação de fazer o melhor. Muitos profissionais, com o tempo, começam a dar pouca atenção e auxílio às bandas e artistas e, por isso, muitos nos vêem mais como inimigos do que amigos (risos).

36 - Heavyrama

HEAVYRAMA - Como as adquirir tais habilidades?


Entrevista - Anderson Lemmy

LEMMY - Primeiramente é preciso ter referências musicais, pois, na hora de mixar, o que fazemos é comparar o som que ouvimos no palco com as características dos timbres e aspectos musicais que temos em nossa mente, para isso, ouvir muita música é um dos principais pontos de partida para se educar o ouvido. O outro fator é estudar muito, mas muito mesmo. A vantagem no áudio é que não existe uma receita de bolo, não existe isso é certo ou errado, mas modelos que são seguidos de acordo com o que nosso ouvido julgar o que é bom ou o que é ruim, mas para isso é preciso conhecer muito bem a teoria, e experiências de outros profissionais do ramo. Nesse ponto, conhecer o mundo do áudio aqui em Goiânia é muito complicado, pois quase não temos cursos profissionalizantes, é ser autodidata e meter as caras ou ir para outro estado. HEAVYRAMA - O que é equalização? LEMMY - O termo equalização diz respeito ao ajuste dos graves, médios e agudos. No contexto da mesa de som, através da atuação dos seus controles e no contexto de um sistema de som, pelo o ajuste de

equipamentos como equalizadores gráficos ou paramétricos, que acertam a resposta das caixas e, eventualmente, reduzem frequências que estejam sobrando na conjuntura da captação, projeção e acústica do ambiente.

Para mim, existe ainda outros fatores que são fundamentais que é ser educado e gentil com os músicos, e ter sempre a preocupação de fazer o melhor”

HEVAYRAMA - Em aparelhos de som comuns, o equalizador é utilizado para ajuste de áudio de acordo com as preferências do ouvinte. Como funciona a equalização profissional e em quais momentos e tipos de trabalho ela deve ser empregada? No áudio profissional, usamos a equalização para ajustar um som de uma voz ou instrumento, por exemplo, de modo que ele pareça o mais natural possível, corrigindo deficiências ou características de timbre (qualidade do som) que impedem que ele [o som] seja bem percebido entre outros sinais na mixagem. É como temperar uma salada, tem que ser tudo na dosagem certa, sem exageros, pois a intenção e melhorar o sabor e não consertar o gosto de um tomate azedo (risos). HEAVYRAMA - Há diferenças entre a equalização feita no moHeavyrama - 37


Entrevista - Anderson Lemmy

mento da gravação e na pós-edição? LEMMY - Sim, em estúdio, durante a fase de captação, o som já deve chegar com alguns tipos de cortes de freqüência e, dependendo do instrumento e estilo, já com compressão. Geralmente, a galera se engana muito em achar que na edição o timbre irá melhorar completamente. Na verdade, o som deve chegar com uma boa qualidade para um bom resultado final e a mixagem irá dar um “tempero” melhor a esse instrumento ou voz.

HEAVYRAMA - Quais são os elementos sonoros que podem ser tratados numa mesa de som? Quais são os recursos utilizados para editar cada um deles? LEMMY -Atualmente com o avanço das mesas digitais encontramos praticamente tudo que precisamos para tratar cada peculiaridade sonora que necessitamos. Podemos corrigir frequências (equalizadores), colocar efeito de ambiência (processador de efeito), corrigir variações de dinâmica de força (compressores), além de efeito de modulação (flanger, chorus etc) muito conhecidos pelos guitarristas entre outros. HEAVYRAMA - O que é mixagem? LEMMY - A mixagem é um processo que corresponde ao uso da equalização e dos processadores (dinâmica e efeito) para melhorar e realçar os timbres dos instrumentos e vozes. Nela, regulamos o volume de cada instrumento, vozes e ainda podemos criar uma imagem estereofônica, mais ou menos, “deslocando” os sons para o centro, direita ou esquerda, de acordo com o sistema que estiver sendo usado (stereo, LCR e os formatos usados em cinema como o 5.1), em que 38 - Heavyrama

os sons chegam aos nossos ouvidos quase que num ângulo de 360°. HEAVYRAMA - O que é masterização e qual é sua importância para um trabalho musical? LEMMY - “Masterizar é maximizar a sonoridade da música.” Essa é uma boa definição para a pergunta. Depois do processo de mixagem será a masterização que

irá realçar certas frequências dará melhor inteligibilidade e volume à música. Mixagem também tem um papel fundamental, pois é ela que fará que a música soe bem, tanto em sistemas de som profissionais, quanto em sistemas caseiros, automotivos etc. HEAVYRAMA - Há como o leigo perceber “de ouvido” o trabalho do operador de som? LEMMY - Nossos ouvidos, quase que instintivamente, percebem quando uma mixagem nos agrada ou não. Quem tem o costume de ouvir muita música consegue comparar os sons que tem na mente com o que está se escutando. O que muitas vezes não se consegue é explicar e expressar o que estamos ouvindo. Muitos sabem dizer o que está com o volume baixo, o que está alto, sabe dizer se está grave ou se está agudo, mas o que acontece é que muitas vezes nossos ouvidos nos enganam por fatores e efeitos que acontecem de acordo com a acústica do local e tipos de sistema de sons. Efeitos como Overlap, Comb Filter, Efeito Haas, Fator RT60 acontecem direto e parecem ser normais para nós. A dica que dou é sempre estar conversando, trocando uma ideia com o técnico de som do evento, pois a opinião de vocês é fundamental, afinal de contas um bom técnico é aquele que agrada a banda e o público.



R . I . P. - M a n d a t o r y S u i c i d e Texto : Bia Cardin / Fotos cedidas por Homero

H

á bandas que simplesmente acabaram, outras marcaram e mantêm-se vivas na memória como é o caso da Mandatory Suicide – nome inspirado pela música de Slayer do álbum “South Of Heaven” (entre outras possíveis hipóteses). Desde sua fundação o objetivo da banda era permear os terrenos do Thrash Metal. Todavia, em sua sonoridade há claros resquícios do puro Heavy Metal. O line-up de origem era constituído por Rogério “Pafúncio” (voz/guitarra), Evandro “Putz” (guitarra), Rodrigo “Pézão”(baixo) e Marcelo “Macaco” (bateria). O primeiro material lançado por eles foi o álbum 40 - Heavyrama

“Tripping With Stars” (1990). Como é inevitável em muitas bandas, a Mandatory Suicide sofreu diversas alterações em sua formação, entretanto foi apenas em 1990 que ocorreu uma das mudanças mais marcantes em seu histórico, quando o guitarrista e vocalista Rogério os deixou. Nesse momento Homero que já havia substituído o baterista Marcelo Macaco, passa a ser o vocalista da banda; Evandro convocou Léo Baiocchi que já conhecia Homero e soube pelo baixista da época que a Mandatory estava a procura de um segundo guitarrista. Por fim, Leandro comandou o baixo enquanto a bateria ficou por conta de Tommy.


R . I . P. - M a n d a t o r y S u i c i d e

sava gravar duas músicas saía por R$ 4.000 eu acho”. Homero esclarece os motivos que dificultavam a gravação dos títulos dentro da capital goiana na época “Em Goiânia podia até não ser caro, mas a falta de produtores e técnicos em rock tornava o trabalho impossível. Os nomes mais expressivos em estúdio em Goiás só surgiram na segunda metade dos anos 90, como Guilherme Bicalho, Geovani Fernandes, Alexandre Inox, Anderson ‘Robocop’ Resende”, conclui.

Como um atual quinteto eles gravaram o EP “Dead Society” em 1991, mas não tiveram a chance de fazer apresentações com essa formação, logo voltariam a ser um quarteto com a saída do guitarrista Evandro. Em 1992, Léo Baiocchi chamou o seu irmão para ver um ensaio da banda e assim Rodrigo Baiocchi substituiu Leandro no baixo, seguido pela entrada de Marcelo Hanna na bateria no mesmo ano. Enfim, essa foi a formação mais estável durando até 1997. Ainda em 1993, eles gravaram em Brasília uma espécie de singles, o “93” e no ano posterior gravaram o EP “Shout The Crowd”. Em 1995 lançaram o full álbum “Rehearsal Tape” e em 1997 fizeram seu último material o “Taste, Feel & Enjoy”. Segundo o vocalista Homero apenas dois títulos foram gravados em Brasília devido ao custo financeiro “Gravar em Brasília era caro, não sei dizer em valores, mas talvez por conta de todo o processo financeiro no qual o país pas-

Apesar dos percalços financeiros, “93” e “Shout The Crowd” lançaram a banda no Brasil inteiro e lhes deu oportunidade de realizarem turnês fora de Goiás. O guitarrista Léo Baiocchi relembra um dos shows mais marcantes para a banda foi a abertura para o Dr.Sin em Americana (SP) “Foi legal, pois foi uma experiência nova e não sabíamos como seria a reação do público, em Americana fomos muito bem recebidos! O pessoal gostou tanto que no final estavam gritando ‘Goiânia, Goiânia’, muito emocionante por ser a primeira vez.”. Já Homero destaca o primeiro show do grupo fora do estado de Goiás em Santa Bárbara do Oeste e em Piracicaba “Depois desses dois shows, muitas portas se abriram.”, afirma. Heavyrama - 41


R . I . P. - M a n d a t o r y S u i c i d e

Hanna e consequentemente precisaram interromper a turnê de divulgação do quinto título “Rehearsal Tape”. Após o breve período inerte, Marcelo voltou à ativa na banda, mas eles já haviam perdido a sintonia, conforme Homero relembra “A cabeça dele estava focada em outras coisas muito mais importantes que uma banda de rock, e nós o apoiamos nisso. O Hanna é um dos maiores amigos que tenho até hoje.” Com a saída de Marcelo Hanna, Paulo Henrique “Paulera” entrou no grupo e prosseguiram até 1999 quando a banda parou de fazer shows constantemente e a gravar novos discos. Alguns dos motivos da interrupção das atividades são pontuadas pelo vocalista “Além da perda de sintonia, não víamos mais nada que pudesse ser feito em torno da banda, tínhamos atingido todos os objetivos desse projeto, tínhamos ido a todos os lugares possíveis nos anos 90, aparecido nos maiores e melhores veículos de comunicação. Eu atribuo também o início do fim da banda na saída do Hanna,a sincronia que tínhamos foi rompida, e isso abalou a estrutura do Mandatory”. Entre tantas experiências que foram possíveis através da banda, Léo Baiocchi recorda espercialmente o relacionamento que tinham com o público “Quando começamos o pessoal meio que virava a cara pra gente e achava que éramos ‘playboys’. Eu achava muito engraçado, pois o que queríamos era tocar e agitar com a galera. Bem, depois de algum tempo ficamos conhecidos pelas pessoas e os mesmos caras que nos esnobavam viraram amigos e pudemos mostrar para eles que o que interessava era a música.” Eles passavam por um bom momento e compunham juntos as músicas, entretanto tiveram que dar uma parada em 1996 devido aos problemas particulares de Marcelo 42 - Heavyrama

Todavia, de acordo com Léo Baiocchi a banda nunca encerrou suas atividades oficialmente “Não chegamos a nos reunir e dizer: ‘É caras, acabou mesmo’. Acho que fui o que sentiu menos, pois ainda restava e resta em mim aquele sentimento de que um dia tocaremos junto. Como realmente vem acontecendo de vez em quando em show muito especiais.” Após o “término” da Mandatory Suicide, Léo Baiocchi nunca mais entrou em uma banda oficialmente e atualmente além de marido e pai, ele mora em Brasília e trabalha na Diretoria Comercial do Banco do Brasil, mas obtém planos de montar o seu próprio estúdio. Contudo, Homero integrou outras bandas como a Hang The Superstars, The Planets, Litro, Motherfish,


R . I . P. - M a n d a t o r y S u i c i d e

Rollin’ Chamas, Tokyo Radio Station, Periga, Tia Velha E Os Cara-De-Pau, Macaco Velho, Cine Capri, etc. O próprio ainda relembra a contribuição que a Mandatory Suicide lhe deu “Graças a essa banda eu conheci muita coisa, muita gente, amadureci bastante, fiz amizades de vida, viajei por vários lugares. posso afirmar, com certeza, que a Mandatory Suicide é um dos capítulos mais importantes da minha vida.” Diferente do previsível sumiço de muitos integrantes após o fim de suas bandas, Homero ainda continua na cena, não somente como músico, mas como público e observa as tendências dos grupos da atualidade “Há pessoas que mereceriam prestígio sendo engolidas por gente mediana. Há muita banda que tem um músico bom sendo obrigado a tocar com gente ruim por falta de opção. Têm bandas apontadas como novidade, mas fazendo repetição dos seus ídolos, muita gente fazendo “cover” e dizendo

que é música própria. É o que eu acho.” Posteriormente, o baixista Rodrigo Baiocchi fez parte apenas de projetos diferentes da Mandatory Suicide. Atualmente ele integra a banda goiana Mr.Gyn. Já Paulo Henrique “Paulera” fez parte da banda Heaven’s Guardian e não está se apresentando mais no momento. Para quem se pergunta se a Mandatory Suicide irá voltar definitivamente ao vê-los no Kuka e no Bananada recentemente, Homero dá a resposta “A banda não volta mais, paramos em 1999. O que aconteceu em 2009 no Kuka foi uma repetição do que fizemos em 2008 no Bananada, uma celebração”. Ele ainda confirma a possibilidade de fazerem mais um show neste ano no Tattoo Rock Fest, o convite foi feito, mas ainda não há nada confirmado, resta esperar e torcer para vê-los em cima do palco mais uma vez.

Heavyrama - 43


Behind The Horror - ANP Texto redigido por Gabriel Alves e enviado por Raphael Fillipe / Fotos cedidas pela banda

Metal, caos e destruição! 44 - Heavyrama


ANP - Behind The Horror

Lucas

Leonardo

Gabriel

A

Behind The Horror foi formada em 2007 ini-

ele também deixa o grupo e Marcelo “Profeta” (Mob

Gabriel Alves (Guitarra/Vocal) e Lucas Alves

shows com esses membros, mas logo Marcelo abdica o

cialmente por quatro integrantes, os irmãos

Alves (Bateria), Diego Morais (Baixo) e Rafael Morais

(Guitarra). No começo o grupo tocava apenas covers

de suas principais influências, tais como Black Sabbath, Sepultura, Death e Dream Theater. Após o primeiro show, o guitarrista Rafael deixa a banda.

Assumindo uma postura musical mais definida e já

com suas próprias composições, lançam a Demo inti-

tulada “...And The Horror Begins” o que os levou a se apresentarem em muitos festivais de sua cidade e região.

Em agosto de 2009 o baixista Diego Moraes sai da

Behind The Horror e então, João Lobo (Cerimonial),

um velho conhecido da cena, assume o baixo até dezembro de 2009. Entretanto, como João morava em ou-

tra cidade os ensaios se tornaram inviáveis, dessa forma,

Ape) se torna o novo integrante. A banda fez alguns

posto, dando assim lugar para Leonardo Enio (Vox Populi) que já havia se apresentado com a banda algumas vezes. Desta vez, conseguiram estabilizar sua formação.

Com o novo line-up, a banda gravou o Single “Me-

tal, caos e destruição” e fez algumas apresentações em

sua cidade, mas se concentrando principalmente na composição das faixas para seu debut que deverá ser lançado no final de 2011.

A proposta da Behind The Horror é fazer um som focado no dinamismo de suas variadas influências sem se apegar a um estilo pré-definido, se focando na composição técnica, porém sem deixar de lado riffs e refrões fortes carregados de feeling.

www.myspace.com/behindthehorror Heavyrama - 45


Artigo -Cibercultura Texto : Hugo O.

Cibercultura e suas aplicações no desenvolvimento do Heavy Metal

A

convergência das teleco-

tre outros. Esse momento histórico

mática, desenvolvida por

rais uma ferramenta que dinamiza-

municações com a infor-

projetos belicistas para funcionar

como ferramenta comunicacional na atuação e manejo de tropas, culminou na década de 1970 na produ-

ção de um espaço virtual que seria

utilizado com o mesmo fim. Porém, com acesso aberto à sociedade, o espaço real em que vivemos foi bru-

talmente modificado, acelerando e barateando as taxas de transferência de dados e dando novos horizontes

para as nações que se viam tecnicamente isoladas até o momento.

O desenvolvimento e divulgação

dessas novas tecnologias configurou

um impacto violento no modo que a humanidade vivia. Essas ferramen-

tas apresentavam além aceleração de processos antes muito burocráticos

como novas possibilidades de mercado, interações, conhecimento en-

46 - Heavyrama

propiciou às interações sócio-culturia esse processo de trocas culturais entre comunidades vizinhas e mesmo longínquas. Essa interação em

ambiente cibernético (virtual) deu origem ao termo Cibercultura.

“O beijo, amigo, é a véspera do

escarro”. Augusto dos Anjos sabe que tudo de bom tem também um

lado ruim. Perambulando pela bre-

ve história do Heavy Metal (HM) a seguir, descubramos como foi a interferência da Cibercultura no fortalecimento da cena no mundo.

Nascia, por volta dos anos 1960

e 1970, no coração dos jovens uma vontade: escutar e produzir músi-

ca que fosse nutrida pela realidade de cada país, estado, cidade e pes-

soa. Dando uma atenção especial à agressividade em que a realidade lhes era agressiva, imponente e


Artigo -Cibercultura

desmisericordiosa. Esses reflexos

ra social. Nesse contexto, compu-

ser alterados conforme o gosto e

das pessoas em todo mundo se aglu-

nos EUA, o que deixou as pessoas

virtuais. Blogs e sites de gerencia-

por poucos para poucos.

destino internet.

sociais que queimavam nas mentes

tadores pessoais chegavam às lojas

tinaram em um estilo musical feito

um passo à frente em relação ao

Antes do surgimento da inter-

Para o segmento HM, a forma

net, fãs do estilo interagiam em

como a internet funcionava e o

tas, telefonemas e meios de comu-

mundo foi uma mão na roda. Con-

à nova tribo urbana que ainda en-

armazenados por técnicos e compu-

portagens sobre a cena cultural lo-

de outro mundo, porém era muito

de mediar conversas entre pessoas

de espaços de troca específicos para

sando troca de informações, músi-

HM era somente uma questão de

no intuito de fortalecer o meio.

frenética em relação à prolixida-

isso era feito parecia artesanal, de

entre membros de bandas e fãs do

estilo de quem acessa as páginas mento de downloads, carregados

de informações digitalizadas con-

centram materiais de bandas tão longínquas que seria impossível conhecê-las sem a internet.

todos os lugares por meio de car-

momento em que ela abocanhou o

nicação que surgiram para dar voz

versar em espaços virtuais criados e

duções culturais eram feitas anti-

gatinhava. Além de notícias e re-

tadores parecia, na época, uma coisa

serem obras únicas. A forma como

cal, essas fanzines tinham a função

mais fácil. Com isso, a formulação

até de diferentes continentes, vi-

pessoas que seguiam a doutrina do

cas e bandas novas para checagem,

tempo. A troca de informações era

Nessa época, a forma como tudo

de da década anterior. A interação

tão burocrático e letárgico.

mundo inteiro cresceu tanto que

Na década de 1980, quando o

HM já caminhava sozinho, mas

guiados por bandas como Black Sabbath e Iron Maiden, ambas in-

glesas, surgia uma ramificação do

novas ramificações do estilo foram necessárias para abarcar a cultura

dos indivíduos que impulsionavam o Heavy Metal.

Atualmente, a interação ciber-

Heavy Metal, porém mais rápido e

nética é tão imensa e relevante que

ansiava por velocidade, seja na

nicação através de meios eletrôni-

mais agressivo. A sociedade jovem

métodos de dinamização da comu-

música ou em qualquer outra esfe-

cos produzem espaços que podem

Porém, a forma com que as pro-

gamente, permitia-lhes o ensejo de

o meio desejava crescer e atingir o mundo era tão grande que as músicas tinham que ser bem trabalha-

das. A paixão com que os indivíduos buscavam conhecimento e informação deixava aos indivíduos o status

de especialistas no ramo musical. Com o avanço e uso exagerado des-

sas tecnologias, essas características praticamente sumiram e configu-

ram exceções na Ciber-esfera do HM. Novas bandas e estilos surgiram, porém a maioria tem a mes-

ma cara, como se a preocupação de

imprimir criatividade não existisse. O amor em produzir música extrema está sendo deixado para trás pela

veloz interação cibernética. Não podemos admitir.

Heavyrama - 47


Contador de História

O underground goianiense no final da década de 80 Texto de Rinaldo Macedo – Tsavo 48 - Heavyrama


Contador de História

F Contador de História

alar da cena metálica de Goiânia num tempo em que só havia vinil, fitas cassetes, e a única loja especializada em metal, era a Metallize na rua 06 com a Paranaíba no centro da cidade. Ao lado tinha um bar com um espaço físico com três pequenos ambientes, que era bem parecido com o pub do Marcelo do Old stúdio atualmente. Lá rolava show quase todos os sábados com boas bandas locais...relembrar fatos deste tempo e ao mesmo tempo poder levar essas informações a vocês, é algo totalmente prazeroso, e ao mesmo tempo nostálgico, principalmente para quem vivenciou o movimento nesta época. Voltando ao ano de 1987, recordo-me bem de um grande show que rolou na academia do Sobrinho. Ficava nas proximidades da praça do sol no Setor Oeste, onde tocaram as lendárias bandas de Speed e Thrash “Executer” (SP), “Butcher” (BH), mais os anfitriões “Mortuário” e “Encruzilhada”. Foi simplesmente um show arrasador ao ponto de deixar qualquer banger com torcicolo!! (risos). O Mortuário, como também a Encruzilhada já eram bandas consagradas nesta época aqui em Goiânia, tinham uma boa quantidade de fãs. O Mortuário nesta época fazia um Death Metal ultra rápido com umas pitadas de Thrash, muito diferente do Mortuário de hoje que está mais pro lado do Hardcore. A Encruzilhada era uma porrada na orelha com o seu Death Speed Thrash, e é bom lembrar que o baterista que tocava na Encruzilhada nesta época era o canhoto Natal que atualmente toca na Spiritual Carnage. O ponto alto da apresentação foi o cover Power Thrashing Death do “Whiplash”, cabeças rolaram!!! Chegou a vez da Butcher com o seu “Técno Thrash”, com uma execução coesa e limpa, tão limpa que até perdia um pouco do peso que a mesma tinha. Finalmente chegou a vez da banda mais esperada da noite, a inesquecível “Executer” com o seu impecável Speed Metal super bem executado. Suas influências eram nada mais nada menos que os gigantes: Destruction, Whiplash e o Artillary. Levaram covers do Destruction, como também do Whiplash. O destaque foi dos guitars, pois eram muito bem entrosados, riffs matadores e ótimos solos numa sincronia total, coisa rara de si ver naquela época e hoje também. O interessante é que este show aconteceu há 24 anos, num tempo que muitos de vocês leitores não tinham nem nascido. Daquele tempo pra hoje muita coisa aconteceu, vinil hoje é uma raridade, fitas cassetes nem pensar, muitas bandas morreram, outras nasceram, e outras ainda depois de mortas renasceram! E isso é a maior prova de que o “Metal” nunca irá morrer, entra moda e sai moda e o “Metal sempre será metal”, e o nosso movimento underground apesar de seus altos e baixos ao longo destes anos que se passaram, ainda está de pé e crescendo.

Heavyrama - 49


Resenha - Moretools - DF Texto : Eduardo Aires

terna com os backs entrando mais grave.

Melódico alçado pelo Progressivo Formada em meados de 2003, a banda brasiliense Moretools, traz consigo o Death, Hardcore, Grindcore e Thrash Metal, mas sem se prender a nenhum estilo. A proposta é fazer música agressiva e pesada. Tudo isso está em seu primeiro CD, lançado independentemente em 2010, auto-intitulado Moretools. No álbum de estreia, o grupo consegue mostrar uma ótima sonoridade, por meio de riffs, guitarras encorpadas, blast beats encaixados com o baixo e a hostilidade dos vocais, que em alguns momentos al50 - Heavyrama

Entre as mais cadenciadas estão as faixas “From Beyond” e “Murder Of Innocence”, e as rápidas “Human Dependence”, “Traitor” e “Moretools”. Conforme, a passagem das músicas, vez ou outra nos confrontamos com momentos em que um estilo está em mais evidência, mas com personalidade própria da banda. Um destaque é a qualidade da gravação, produzida pelo renomado estúdio Orbis, que soube transformar o peso e a agressividade em ondas sonoras. São trilhas feitas para bater cabeça e abrir rodas gigantes nos shows. A maioria das músicas não passa de 3 minutos. Se você se deixar levar pelo som pode passar de música sem perceber que já está na próxima, talvez pelo pouco tempo de duração das faixas ou por seguirem para o mesmo lado em termos sonoros.

O material possui 12 faixas no total, distribuídos em cerca de 35 minutos de som. No geral o álbum tem recebido ótimas criticas do público, de blogs e sites especializados. O CD conta também com o videoclipe da música “Pain Screams”, produzido pela Agência Cria, que por sinal, contou com um excelente trabalho do diretor de fotografia.

Line – up: Rhavi – Voz Hudson Arsênio - Guitarra e voz Alu Pedrotti – Guitarra J. H. Alcântara – Baixo Riti Santiago – Bateria. Myspace: www.myspace.com/moretools


RS - A Sorrowful Dream- Resenha Texto : Bia Cardin

A predominância do sentimentalismo A banda de Dark Metal de Porto Alegre (RS), A Sorrowful Dream , apresenta o sexto disco lançado oficialmente e que ainda está em fase de divulgação,“Toward Nothingness” (2009). Vale ressaltar a bela arte da capa e do encarte neste trabalho. Suas letras caminham entre a nostalgia e a melancolia acompanhadas por vocais limpos tanto masculino quanto feminino, além da presença da técnica gutural em outros trechos. Desta maneira, há uma infinidade de combinações na performance vocal. Na primeira faixa “ Last Whisper From a Winter Gale” é uma amostra dessa

possibilidade com o vocal grave em cima da sutileza do soprano, apontando também, nuances de técnicas rasgadas nas partes mais densas. O instrumental possui forte presença do teclado que determina a climatização da música – nesta, o violino também desenha melodias agradáveis.

decorrer do tempo, voltando ao ápice em alguns pontos. “Harpies” segue a mesma estrutura de momentos interessantes e outros nem tanto. E por fim, “ A Sorrowful Dream”, uma bônus track de 10 minutos encerra o disco com uma suscetibilidade perceptível aplicada até o final.

Em “The River that Carries My Love” há uma sintonia mais forte entre as vozes e o instrumental apresenta-se mais ritmado que a música anterior. Todavia, estes momentos são interrompidos e voltados para o clímax melancólico novamente. Entre as alternâncias, a música oferece riff mais pesados, capazes de agitar alguns pescoços, paralelo a boa velocidade da bateria. Essa faixa se destaca.

No geral, o CD “Toward Nothingness” é um trabalho sensível, um pouco repetitivo na sua duração, mas com o intuito de se diferenciar das outras bandas do mesmo gênero ao oferecer um leque de tipos de vocais sobre instrumentos comuns. Aos que se agradam com esse estilo, compensa dar uma conferida na obscuridade da A Sorrowful Dream.

Entre outras músicas, vale destacar a sexta faixa “Timeless” , uma bela balada, acompanhada por sentimentos e instantes que se chocam em sua duração. Já “Tree Of lies” é poderosa em sua introdução com uma jogada de passagens entre guitarra e voz que adentram no Death Metal, entretanto sua energia decai ao

Line – up: Éder – Voz Josie – Voz Lucas – Guitarra/Violino Jô – Guitarra Mari – Teclado Tuko – Baixo Myspace: www.myspace.com/ asorrowfuldream Heavyrama - 51


Resenha - Forka - SP Texto : Vitor Nunes

Ferocidade Proclamada A banda Forka traz em seu segundo álbum, Enough, mais peso à sua sonoridade inspirada no Thrash metal e no Hardcore. Com algumas seções quebradas que alternam entre a batida forte e repetitiva do HC e riffs mais complexos de guitarra e bateria trazem um pouco da sensação de angústia, sendo ampliada pelos guturais e seu tom rasgado. O vocal pode soar um pouco decepcionante, pois mesmo com seu peso e foça, ele possui uma característica que está presente em quase todas as faixas, sendo um grito gutural ascendente 52 - Heavyrama

e longo, o que não diminui sua agressividade.

Line-up:

O grupo mostrou o poder de sua nova música no palco do Go Mosh 3, no Martim Cererê, em uma apresentação de peso e bastante presença de palco. A música “Screaming In The Shadows” teve um destaque nesse show, podendo ser conferida na net.

Rodolfo - Bateria

A capa do disco retrata uma mulher jogada em um corredor escuro em meio ao sangue, passando a ideia de dor, escuridão e sofrimento. Contendo um total de doze faixas “The Human Race Is Dead” e “Knowing Your Suffering” merecem destaque pela sinergia entre guitarra e bateria, já “Blood Of Saint” pela criatividade. A produção “Enough” contou com as participações do guitarrista Márcio Garcia (Retturn) e do vocalista Fabio Prandini (Paura). Lançado em 2010 o novo disco é de sonoridade esmagadora e inteiramente recomendável.

www.myspace.com/forkametal

Alan - Guitarra Ronaldo - Voz Ricardo - Baixo Samuel - Guitarra Myspace:



Conto - As Flores de Alice

As flores de Alice – Parte Três Por Jôder Filho

C

ássio chegava ao condomínio onde Laura morava. Estacionou de frente para um boteco que havia ali, sem notar o Vectra negro de Iury parado mais atrás. Laura morava no bloco E1, bem no meio do condomínio Águas Claras. Como não tinha permissão, faria a maior parte do percurso a pé. Antes de entrar, porém, foi até o boteco comprar um refrigerante para levar. Iria aparecer de surpresa na casa de uma pessoa que não gostava muito dele e ainda era o portador de péssimas noticias. Embora também não simpatizasse muito com Laura, sentia pena dela por não ser forte o suficiente para largar do vicio. Pagou o refrigerante e entrou no condomínio esperançoso de que encontraria algumas respostas. Mal sabia ele o quanto estava errado. Cinco minutos antes de Cássio sequer estacionar seu carro, Iury já batia à porta de Laura. A pistola Smith & Wesson 44 no coldre junto ao peito. Iury era canhoto, então deixava a arma do lado direito e no esquerdo pendurava uma faca de guerra que sempre mantinha afiada. Era um assassino rápido, mas também era um sádico. Gostava de ver a vitima sofrer, implorar inutilmente por sua vida. Aquilo o divertia, o excitava e dava mais prazer que qualquer sexo no mundo. Laura abriu a porta ainda sonolenta. Iury não pôde deixar de sentir nojo internamente. Aquilo não era uma mulher. Era um monstro. Laura pesava cento e trinta e quatro quilos. Dizia a todos que engordara quando começou a usar drogas, mas era mentira. Quando tinha treze anos ela começou a dar sinais de obesidade. Seus pais eram separados e o padrasto não dava atenção nenhuma a ela ou a irmã. Na escola, era sempre motivo de chacota das outras garotas e dos meninos. Era sempre a “gordinha”, “elefante”, “bola de boliche” e outros apelidos mais pesados. Quando fez catorze anos, não ganhou festa de aniversario. A mãe estava muito estressada para se lembrar e o padrasto provavelmente nem sabia. Só a irmã de Laura, Débora, sabia. Ela havia economizado o dinheiro do lanche no colégio por dois meses. Era três anos mais velha que Laura e já estava iniciando o ensino médio. Na noite do aniversario de Laura, seu padrasto chegou bêbado de novo. Discutiu e agrediu a mãe das meninas como costumava 54 - Heavyrama

fazer. Débora resolveu intervir dessa vez e também foi agredida. Mauro, o padrasto deu um murro em Débora, arrancando dois dentes da menina, que caiu sentada chorando e soltando soluços em meio ao sangue que se esvaía da boca. Naquela mesma noite, Laura fugiria de casa. Débora a acordou no meio da noite. Saíram de fininho. Débora já havia organizado a mochila de Laura e voltava para dentro do cômodo para buscar a sua. Infelizmente, Mauro ouviu os passos de Débora pela casa e se levantou. Laura esperava do lado de fora da casa quando ouviu os gritos de Débora desesperada. A única coisa que Laura conseguiu discernir foi a irmã gritando “CORRE!” para ela, em meio aos sons de vidros quebrando e madeiras se partindo. Mauro havia agredido Débora de novo, mas dessa vez seria a ultima. Laura correu o quanto pôde até a rodoviária e se mudou para São Paulo. Era nova, mas acabou conseguindo ficar na casa de primos distantes. Eles a teriam mandado de volta se não fosse pelo jornal matutino. A noticia da morte de Débora por espancamento e do subsequente desaparecimento de Laura chocou o casal de primos que a acolhera. Eles a adotaram e a criaram como se fosse sua. Infelizmente, a morte de Débora mexeu muito com Laura. Aos 17 anos, apesar de todo o amor que recebia, acabou experimentando maconha com uma amiga do colégio. E daí pra frente não parou mais. Os primos que a adotaram eram de uma família rica, então para ela era fácil sustentar o vicio. Eles tentaram colocá-la em varias clinicas, mas ela sempre fugia ou fingia melhorar para logo depois voltar às drogas. Numa dessas clinicas conheceu Alice. Partilhavam de histórias parecidas e logo se tornaram amigas. Alice contou que era de Goiânia, mas os pais queriam uma clinica mais especializada para ela, por isso viera a São Paulo. Quando Alice finalmente deixou a clinica, convidou Laura para visitá-la em Goiânia. Prometeu abrigo e amizade. Laura saiu da clinica dois meses depois de Alice, mas o vicio era maior e mais forte que a força de vontade da garota. Quando os pais adotivos descobriram que ela roubava deles pra se sustentar foi o estopim. Numa noite, às vésperas do natal, o pai não agüentou mais e a


Conto - As Flores de Alice

expulsou de casa. Ela juntou as economias que tinha e mais um pouco que roubara da conta de seus pais adotivos e se mudou para Goiânia. Seria independente agora. Trabalharia para sustentar o próprio vício. Reencontrou Alice, que já namorava Cássio nessa época. Nunca gostou muito dele, pois ele tinha aquele mesmo olhar que ela já vira várias vezes. Aquele olhar de “a gordinha drogada... tadinha dela.”. Era assim que a olharam por tanto tempo, e ela já não suportava mais. Afastou-se de Alice e continuou nas drogas e na comida. Era assim que afogava suas mágoas. Não tinha namorado, mas transava com um ou outro viciado de vez em quando. Não tinha família, mas tinha as drogas. Aprendeu a aplicar golpes e se susteve disso. Agora, anos depois da morte da irmã, e oitenta quilos mais pesada, ela encarava o estranho que estava à sua frente. O ruivo era forte a bonito. Alto e com, no máximo, uns trinta e sete, trinta e oito anos. Ele a olhou com aqueles belos olhos verdes, abriu um sorriso charmoso e disse:

— Você é Laura, eu presumo – sua voz era firme e grave.

— E você é? – ela perguntou tentando disfarçar seu fascínio pelo Adônis à sua porta. — Meu nome é Iury. Posso tomar cinco minutos seus? – terminou a frase abrindo um meio sorriso. — Meu bem, pode tomar quantos forem necessários. – três meses sem um sexo decente. Ela estava desesperada e faminta. Cássio chegou e bateu à porta de Laura. Ela abriu a porta e o olhou com o mesmo olhar de desprezo de sempre.

— O que você quer? – ela rosnou por entre os dentes.

— Oi Laura. Precisamos conversar. – ele disse ainda sem graça – é importante. – completou.

—É sobre a Alice? – Cássio teve um sobressalto.

—Então você já sabe? Eu preciso da sua ajuda. – ela não o deixaria entrar. —E do que precisa, cara? Tô com pressa. – Cássio mal conseguia acreditar no quanto ela era egoísta. —A Alice era sua amiga – ele conseguiu dizer – cuidava de você. Gostava de você. E é assim que você age quando ela... ela... – ele se virou e saiu furioso. Foi até seu carro e ficou sentado um tempo pensando. Não gostava de Laura e nem daquela atitude, mas, precisava dela pra achar respostas. Engoliu o orgulho ferido,

saiu do carro e voltou a caminhar até o apartamento. Assim que fechou a porta, Laura se voltou bem a tempo de ver o ruivo saindo do banheiro enxugando as mãos. A conversa entre os dois foi bem produtiva. Para ela e para ele. Ele ofereceu prazer ilimitado se ela fizesse exatamente o que ele mandava. Avisou que Cássio chegaria a qualquer momento e que ele não podia entrar no apartamento de jeito nenhum. E ela o fizera direitinho. —Agora – ela disse abrindo a blusa e deixando os seios à mostra – eu quero a minha recompensa. Você me prometeu prazer sem limites, e eu vou cobrar. – ele estava de costa mexendo no casaco. — O único problema – ele disse sem se virar – é que o prazer ilimitado é pra mim. - Ele se virou tão rápido que ela nem percebeu. Enfiou a faca entre a terceira e a quarta costela de Laura, perfurando o pulmão e deixando ar vazar. Não importa o quanto ela respirasse, nunca teria ar suficiente para gritar por socorro. Ela caiu com os olhos arregalados e se debatendo com força. Ele tirou a faca de seu abdômen e a apunhalou mais oito vezes. O prazer em que sentia naquilo era doentio. Por fim, guardou as coisas rapidamente, se ajeitou e saiu do apartamento. Fez questão de deixar a porta entreaberta. Quando saiu do bloco de Laura sacou o celular de civil do bolso e discou o 190. Avisou a policia, anonimamente, do assassinato, e disse ainda que vira um rapaz entrando no apartamento pouco antes. Deu a descrição de Cássio e pediu urgência, pois ele ainda estava no apartamento. Desligou e saiu assobiando em direção ao seu Vectra. Entrou no carro e esperou por cinco minutos. Quando viu o que precisava, deu a partida e saiu calmamente, contornando por entre as viaturas de policia que chegavam. Cássio chegou ao bloco e viu a porta entreaberta. —Laura – ele disse empurrando a porta de leve – olha, me desculpa. Eu preciso da sua ajuda. – foi entrando no apartamento aos poucos. A mesa da sala tampava sua visão do canto direito do cômodo. Deu mais dois passos para dentro do cômodo. Um pequeno zunido crescendo em seu ouvido. No terceiro passo ele a viu. O corpo de Laura jazia ensangüentado e com os olhos arregalados o encarando horrendamente. Cássio ficou paralisado. Acabara de falar com ela e agora isto. Nada mais fazia sentido. Sentia-se zonzo e prestes a desmaiar, quando o zumbido que ecoava foi ficando maior e ele entendeu o que era. Eram as sirenes da policia. Heavyrama - 55


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