Healthcare Brazil 11ª Edição

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farmacêuticos, e melhor treinamento para atuarem como “conselheiros oficiais na automedicação” (e não do modo informal e arriscado como é hoje), certamente teríamos mais luz ao final do túnel. O que temos hoje é pouca luz, muito túnel e nenhum final. A melhor forma de “fomentar” o bom senso das pessoas é a Educação. Só ela, ao longo do tempo, pode construir mecanismos individuais de ponderação, mediação e redução de riscos. Na falta de educação sobre Saúde Básica, que como já dissemos deveria ser implantada desde a mais básica escolaridade, a informação pode ajudar, principalmente se for Oficial, bem comunicada e parametrizada em protocolos médicos. Ocorre que o Estado tem muitas restrições a qualquer tipo de ação que de alguma forma beneficie ou promova a indústria farmacêutica, e não sem razão, já que esta é uma das manufaturas mais oportunistas da Era Industrial. Fica difícil aparecer na foto ao lado dela, mesmo que a distância. Mas de alguma forma isso deve ser feito, para o bem do país e da população. Encarcere os abusos, mas não encarcere a realidade. Na Europa, por exemplo, até a década de 80, era inconcebível qualquer ingestão de medicação sem uma prescrição médica, e o fato não ocorria só por conta da legislação, mas principalmente porque a população tinha total confiança no Sistema de Saúde, tinha menos confiança na sua própria capacidade de se cuidar e tinha baixa informação de como fazê-lo adequadamente. A automedicação só era utilizada em casos de alguma dor leve, tosse, resfriados, constipação ou pequenos problemas cutâneos. Nos últimos 20 anos, no entanto, as coisas mudaram dramaticamente. É crescente o volume de pessoas interessadas em assumir mais responsabilidade nas questões relacionadas à sua saúde. Em 2001, a Comissão Européia apoio financeiramente um projeto de pesquisa da AESGP (“Development of an Information Policy for Medicinal Products”) para examinar que tipo de informação o público e os profissionais de Saúde precisariam ter para um cenário em que mais medicamentos fossem utilizados sem receita médica (incluindo medicina alternativa, como homeopatia, fitoterapia, etc.). Esse projeto identificou a necessidade de se desenvolver, em vários estágios, políticas centradas no cidadão, e numa abordagem de Saúde Pública que desse mais responsabilidade aos indivíduos e condições para a gestão de sua própria Saúde. A conclusão, que teve apoio da OMS, mostrava claramente que a automedicação, por exemplo, “deveria ser sustentada por reformas na educação dos

profissionais de saúde alocados nas farmácias”. Na China, entre 2004 e 2006, mais de 4500 drogas foram reclassificadas (switching) para serem usadas sem prescrição, sendo cerca de 3500 baseadas em ervas e 994 em produtos químicos. Estima-se que em março de 2006, 25% de todos os medicamentos comercializados na China foram vendidos sem receita médica, embora o conceito de assistência e prescrição médica por lá seja bem diferente dos países Ocidentais. No Japão, o Ministério da Saúde e Bem-Estar emitiu um comunicado em 1967 informando que haveria uma classificação de produtos médicos. Em 1983, apareceram as primeiras reclassificações (medicamentos que entraram para o regime de “nonprescription”) e o processo só se acelerou, sendo incentivado em 2002 com a publicação de um relatório que “linearizava” alguns dos chamados OTC (over-the-counter drugs), medicamentos que podem ser vendidos sem prescrição médica. O Japão foi mais longe, e em 2008 o Governo chamou a indústria farmacêutica para estudar a troca de determinados componentes químicos que 13

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