Revista Keyboard Brasil número 17

Revista

www.keyboard.art.br

Keyboard ANO 2 :: 2014 :: nº 17 ::

:: Seu canal de comunicação com a boa música!

Brasil

Kitaro A mistura entre o oriente e o ocidente há mais de três décadas!

MS20 - mini da Korg: O clássico sintetizador recriado em tamanho mini!

Solar da Fossa: A pensão que mudou para sempre os rumos da cultura brasileira!

Aconteceu: Gaiteiros do Mundo 2014.

E mais: Ponto de vista: O que temos para aprender com a Orquestra Filarmônica Borusan de Istambul?

Opinião: Música clássica não é coisa de velho!

Canções Natalinas:

Callaghans Escola de Teatro & Musical:

Descubra a história das mais famosas canções que embalam o nascimento de Jesus Cristo.

Conheça os idealizadores da primeira escola de teatro musical da América Latina filiada a Broadway e a West End!

Índice

06 SUAS COMPRAS: Cds, DVDs e Livros

10

MATÉRIA DE CAPA: Kitaro

20

FALANDO SOBRE NOSSA MÚSICA: parte 16, por Heloísa Fagundes

38

34

36

TOQUE E APRENDA: Parte 12, por Maestro Marcelo Fagundes

LANÇAMENTO: Song for J.B.

48

50

54

OPINIÃO: Música Clássica não é coisa de velho!

ESPECIALISTA: Fábio Ribeiro endorser da Korg e o MS-20

DICA TÉCNICA: Parte 8, por Mateus Schanoski

Expediente

PONTO DE ENCONTRO: Por Luiz Bersou

24 PONTO DE VISTA: A competência e os ensinamentos de uma grande orquestra turca!

30 MUSICANDO: Dos palcos da Broadway para o Brasil!

42

40 TECNOLOGIA: On Soundcloud

TRADIÇÃO: Canções de Natal

60

56 MEMÓRIA: Solar da Fossa e a cultura brasileira.

ACONTECEU: Gaiteiros do Mundo 2014

Revista

Dezembro/2014

Keyboard Brasil

Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical.

Diretor e Editor executivo: maestro Marcelo D. Fagundes / Chefe de Redação e Design: Heloísa C. G. Fagundes Caricaturas: André Luíz Silva Santos Foto da capa: Meghdad Madadi / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte.

Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical. www.keyboard.art.br

Editora Musical

04 / Revista Keyboard Brasil

Espaço do Leitor

Editorial

Enquanto isso, em Joinv

ille, Santa Catarina...

Heloísa Fagundes - Publisher

Presente da Revista Keyboard Brasil para Eduardo Boechat (capa de Novembro), ao lado da professora Galina Kozlova!

Imensamente feliz com a homenagem que a Revista Keyboard Brasil prestou a mim, com a capa e matéria de capa da revista desse mês.

Eduardo Boechat, em Boechat Records – via facebook Incrível!!! Parabéns! Você é fantástico Eduardo! Adorei a matéria.

Aline D'Alessandro Alves – via facebook Parabéns Duchka!!! Fantástica a matéria! Merecido!!!

Cesar Lima – via facebook Adorei a entrevista. Muito bom saber um pouco mais da tua trajetória!! Brilhante!

Elise Burmeister Tirelli – via facebook Mais uma vez, a Revista Keyboard Brasil se superando!

Uma profissão pouco divulgada no país; perguntas inteligentes e interessantes e um pianista de grande competência e sincero! É o que faz a Revista ser referência no Brasil!

Victor Araújo Simões – via e-mail Cara! Matéria muito legal a do Mellotron!

Edgard J. Nunes – via e-mail Senhor Bersou, li seu último texto sobre pactos sociais e penso como o senhor: o trabalho é o fundamento nobre da sociedade. Todos devem trabalhar e estudar. Acho que o Brasil não consegue levar em frente os pactos sociais porque falta força de vontade!

Carmen Eduarda Lins – via e-mail Parabéns pela matéria: O vergonhoso estado de calamidade que se encontra nossa música brasileira. Li e levei para a sala de aula, onde criei um debate com meus alunos!

Maria Eduarda Dias – via e-mail

No mês de dezembro é comum avaliarmos nossa caminhada durante o ano que está acabando.

Expressamos nossa gratidão, pedimos perdão, firmamos propósitos e sonhamos com um novo ano cheio de esperança, planejando assumir compromissos, parcerias e mudar o que pode ser mudado, a partir da fonte inspiradora que é Deus, o criador de tudo e de todos, Aquele que nos ama e abraça todos os dias. Por isso, quero expressar meu sincero agradecimento a todos que passaram a caminhar conosco em 2014, lendo nossa revista, enviando textos, manifestando opiniões, anunciando seus produtos, planejando cada edição, compartilhando nossas matérias, enfim. São nossos colaboradores, anunciantes, leitores e equipe que tornam nossa revista cada vez mais admirada, além de servir de referência às faculdades, bibliotecas e afins.

A todos muito obrigada, excelente leitura, um Feliz Natal cheio de paz e um novo ano cheio de bênçãos divinas... Sempre!

AVISO: Comemorando o Natal, nossa publicação digital - pioneira no Brasil - presenteará nossos leitores com Cds e DVDs autografados pelo pianista Eduardo Boechat e o livro Música e Religião na Era do Pop, de Joêzer Mendonça (leia o regulamento no site ou em nossa página do Facebook). Fiquem ligados!!!

O músico multi-instrumentista Paulo Cesar Barbosa da cidade de Itatiba, São Paulo, foi o ganhador do novo CD de Guilherme Arantes Condição Humana.

Parabéns Paulo Cesar!!!

ATENÇÃO: Ao serem sorteados, nossos leitores terão 5 dias para entrar em contato com nossa central de atendimento. Passado a data, sortearemos outro leitor. Isso vale para o CD Piano Solos, de Guilherme Arantes e para todos os demais.

Revista Keyboard Brasil / 05

Suas Compras

Crazy diamond - syd barret e o surgimento do pink floyd Autor: Pete Anderson e Mike Watkinson Editora: Sonora 228 páginas Lançado originalmente em 1991, o livro Crazy

diamond - Syd Barrett e o surgimento do Pink Floyd , escrito pelos jornalistas ingleses Mike Watkinson e Pete Anderson, foi reeditado em versão revista e ampliada em 2006, ano da morte do vocalista, compositor e guitarrista inglês Roger Keith Barrett (6 de janeiro de 1946 – 7 de julho de 2006), o lendário Syd Barrett, eternamente associado à banda britânica Pink Floyd (fundada por ele em 1965) – uma das mais importantes da história do rock. O livro reconta a vida de Barret durante e após Pink Floyd, investigando sua vida reclusa em meio a boatos de ter desenvolvido uma loucura induzida pelo uso de drogas alucinógenas. Após dois álbuns lançados em carreira solo, que se tornaram clássicos Cult, desapareceu, o que fez surgir inúmeras especulações sobre seu paradeiro. Para relatar uma tragédia do mundo do rock de proporções épicas, Crazy Diamond baseia-se em anos de pesquisa e inúmeras entrevistas com amigos e familiares. Esta edição inclui numerosas fotos raras e discografia completa.

06 / Revista Keyboard Brasil

´ solar da fossa -^ Um Territorio

de Liberdade impertinencias, Ideias e Ousadias

Autor: Toninho Vaz Editora: Casa da Palavra 256 páginas Na décadas de 60, a pensão de 85 apartamentos localizada em Botafogo, no Rio de Janeiro, foi o abrigo de poetas, artistas do cinema e da TV, compositores, jornalistas, artistas plásticos, loucos, travestis e prostitutas que vinham de todos os cantos do país e encontravam ali o jardim ideal para plantar suas ideias e ideais. O local, que hoje é ocupado por um dos maiores shopping centers da cidade – o Rio Sul – foi a sede de um verdadeiro caldeirão cultural e cenário de inúmeras histórias engraçadas, românticas e muito polêmicas. Toninho Vaz oferece nas páginas do livro Solar da Fossa – um território de liberdade, impertinências, ideias e ousadias, imagens inéditas e histórias de antigos moradores, hoje personalidades, como Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Gal Costa, Paulo Coelho, José Wilker, Tim Maia, Betty Faria, Darlene Glória, Maria Gladys, Antônio Pitanga, Paulo Diniz, Zé Keti, Naná Vasconcelos, Adelzon Alves, entre outras, resgatando a memória de um dos períodos mais ricos da história do Brasil. O prefácio é do jornalista Ruy Castro, também antigo morador do Solar da Fossa. Segundo ele, o casarão colonial de dois andares “serviu de incubadora de talentos, ideias e ousadias e mudou para sempre os rumos da cultura brasileira”. Um livro imperdível para os admiradores da arte, música e cultura brasileira.

Revista Keyboard Brasil / 07

NAVEGA ILUMINA - 50 anos de Francis Hime em grande estilo!

Gravadora: Sesc O músico, letrista, arranjador, compositor popular e erudito, além de intérprete, Francis Hime completa 50 anos de carreira em grande estilo com o lançamento de seu mais novo álbum Navega Ilumina. O disco procura trazer elementos musicais presentes no decorrer da carreira do artista com novas canções. São 12 faixas inéditas que deixam claro a mistura de influências, tanto populares como eruditas, variando entre piano solo, piano e voz, arranjos orquestrados e sambas-enredo “Queria não só um CD de inéditas, mas também traçar um amplo painel de minha produção, navegando por áreas tão díspares como canção, samba-enredo e música de concerto, com as fantasias para harpa e para violino”, afirma o músico. Produzido pelo Selo Sesc, o trabalho traz, entre outras surpresas, parcerias com Olívia Hime, Geraldo Carneiro, Joana Hime, Thiago Amud e Vinícius de Moraes.

08 / Revista Keyboard Brasil

MatĂŠria de Capa

10 / Revista Keyboard Brasil

Kitaro ESPALHANDO A PAZ PELO MUNDO ATRAVÉS DA MISTURA ENTRE O ORIENTE E O OCIDENTE

ÍCONE INTERNACIONALMENTE RECONHECIDO HÁ MAIS DE TRÊS DÉCADAS, POR SUAS TRILHAS SONORAS EM DOCUMENTÁRIOS E FILMES E POR ÁLBUNS VENCEDORES DE PRÊMIOS COMO GLOBO DE OURO E GRAMMY, O JAPONÊS KITARO É UM DOS ARQUITETOS FUNDADORES DO MOVIMENTO MUSICAL NEW AGE. José Cunha

Aos 61 anos, o músico de New Age japonês Masanori Takahash, mais conhecido como

Kitaro é mundialmente famoso por suas trilhas sonoras em documentários e filmes e por inúmeros álbuns vencedores de prêmios como o Globo de Ouro e o Grammy.

Compositor e multiinstrumentista (toca teclas, guitarra, tambores e instrumentos étnicos) o estilo de Kitaro é o ideal do contemplativo e da música de sintetizador densamente melódica, frequentemente associada ao movimento New Age. Autodidata, aprendeu sozinho a tocar guitarra elétrica durante seu ensino secundário inspirado pelas sonoridades do R&B de Otis Redding.

Nos anos 70, Kitaro formou a banda “Far East Family Band”, lançando dois álbuns de rock progressivo. Em 1972, porém conheceu o músico alemão Klaus Schulze durante uma viagem à Europa. A viagem foi marcada pela construção de seu primeiro sintetizador, onde passou a experimentar uma infinidade de sons musicais novos e diferentes. E, assim,

influenciado pelo R & B e pelo Rock americanos, aliado à arte eletrônica e às Revista Keyboard Brasil / 11 09

formas tradicionais japonesas, Kitaro criou um som exuberante, harmônico e poético.

Seu primeiro álbum solo, “Astral Voyage” foi lançado em 1978 e rapidamente ganhou uma legião de seguidores.

Dois anos mais tarde, produziu o primeiro de vários álbuns utilizando uma combinação sonora completamente diferente das já existentes para uma série documental japonesa intitulada “Silk Road”.

Durante cinco anos, um crescente número de fãs internacionais passaram a admirar a combinação entre a textura exuberante e majestosa e a sutileza da harmonia criada por Kitaro. Porém, o músico era ainda considerado um artista underground nos Estados Unidos até assinar um contrato com a editora Geffen Records, em 1985, na qual relançou sete de seus álbuns anteriores, dando-lhe o suporte para se expandir ainda mais musicalmente, tornando-o um artista lendário de enorme prestígio internacional.

Pouco depois, em 1987, Kitaro foi indicado ao Grammy com “The Light Of the Spirit”, em colaboração com o baterista do Grateful Dead, Mickey Hart. O álbum ultrapassou a marca dos dois milhões de vendas somente nos EUA. Isso ajudou a elevar a carreira de Kitaro fazendo-o excursionar continuamente pelos EUA e pela Europa, atraindo seguidores em todo o mundo.

De todas as suas obras, Kitaro considera “Kojiki” como um de seus 12 / Revista Keyboard Brasil

melhores esforços. O álbum, também indicado ao Grammy, alcançou o Top 200 da Billboard em 159º lugar. Um feito incrível para um álbum do gênero New Age. Além do álbum ficar em 1º lugar no topo do gênero New Age durante 8 semanas.

Em 1992 Kitaro lançou “Dream”, em colaboração com Jon Anderson, do grupo Yes. Outro trabalho indicado ao Grammy.

Junto ao aclamado diretor Oliver Stone, Kitaro ganhou um Globo de Ouro ao criar a trilha sonora para Heaven & Earth, filme de 1994.

Em 1994, Kitaro assinou com a Domo Records. No mesmo ano, seu álbum “Mandala” foi indicado ao Grammy. No ano seguinte, seu álbum “An Enchanted Evening”, também.

Em 1997, Kitaro produzido a música para a produção da Broadway “Cirque Ingenieux”, lançando um álbum intitulado com o mesmo nome. No ano seguinte, o álbum “The Soong Sisters” recebeu o prêmio de Melhor Música Original, no Hong Kong Film Award, bem como a Taiwan Golden Film Festival and Award. Em 1998, Kitaro foi convidado para se tornar um músico olímpico participando da cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno de Nagano.

Em 2000, “Thinking Of You” foi considerado um dos mais belos CDs de todos os tempos, ganhando o Grammy de Melhor Álbum New Age. Kitaro credita esse Grammy por acreditar que sua música passa uma mensagem profunda

de paz e de desenvolvimento espiritual, tanto pessoal quanto globalmente em sua essência.

Durante o fatídico evento ocorrido no dia 11 de setembro de 2001, Kitaro estava em um jato vindo do Japão a caminho de Los Angeles quando, devido à tragédia, seu vôo transcontinental foi desviado para o Havaí. Em meio à descrença e incerteza do que estava acontecendo, Kitaro idealizou ‘‘The Sacred Journey of Ku-Kai series’’, uma viagem terrestre que transporta o ouvinte para os 88 templos sagrados localizados na Ilha de Shikoku, no Japão. A série KuKai também ganhou indicações para o Grammy de Melhor Álbum New Age. Em 2010, “Impressions of the West Lake” (em parceria com a diva pop chinesa Jane Zhang) recebeu 13 indicações ao Grammy, saudado pela crítica como uma obra-prima cultural. No ano seguinte, Kitaro participou do evento MUSE (Musicians United for Safe Energy) e dividiu o palco com Crosby, Stills & Nash, Jackson Browne, The Doobie Brothers entre outros artistas top do mundo.

Em seu mais recente álbum “Final Call”, lançado em setembro de 2013 Kitaro faz uma homenagem, uma reverência à vida, à Natureza.

Kitaro realiza, atualmente, sua primeira turnê sinfônica em conjunto com a Santa Rosa Symphony Orchestra onde o regente é Stephen Small.

Leia, a seguir, uma entrevista exclusiva com o músico!

‘ ‘

Com minha música procuro passar uma mensagem permanente de paz e amor inspirando os fãs do todo o mundo a se unirem como um só povo!

‘ ‘

– Kitaro.

Revista Keyboard Brasil / 13

Revista Keyboard Brasil: Kitaro, muito obrigado por aceitar nosso convite. É um privilégio para a Revista Keyboard Brasil.

Kitaro: Obrigado por me convidar para essa entrevista.

Revista Keyboard Brasil: Você é um artista japonês que adquiriu fama internacional e que tem vivido nos Estados Unidos por muitos anos. Sua música tem regularmente uma fusão de instrumentos antigos ou étnicos com modernos sintetizadores eletrônicos.

Como surgiu a ideia da integração de instrumentos até então inimagináveis originando essa qualidade de som?

Kitaro: Comecei minha carreira musical no ensino médio (final da década de 60 e início dos anos 70). Escutava músicas de diversos países, principalmente dos EUA e Europa. Fiquei muito surpreso com os sons impressionáveis​​. Quando conheci o sintetizador, senti como se uma porta tivesse aberto para um novo mundo.

Revista Keyboard Brasil: No que diz respeito aos instrumentos étnicos e sintetizadores eletrônicos, você achou um desafio unir as duas classificações de instrumentos em seus arranjos?

Kitaro: Para mim, não foi difícil combinar esses elementos. Esse momento sempre foi muito agradável.

Revista Keyboard Brasil: Conhecer diferentes culturas foi a maior influência para sua música?

Kitaro: Aprendi muitas coisas com isso: 08 / Revista Keyboard Brasil 14

quão importante a cultura, a natureza e viver a vida com sabedoria. Também acredito que minha música é um dos elementos da natureza.

Revista Keyboard Brasil: Sua música tem um apelo pela paz universal. É o que o diferencia de outros artistas, tornandoo especial. Como consegue a ligação entre seu público e a música?

Kitaro: Eu acredito que a música tem um poder de influenciar a mente e a alma do público. Então, tentamos pacificar as pessoas com nossos sons.

Revista Keyboard Brasil: As pessoas de vários países possuem gostos individuais na música. Como faz para atender os gostos, por exemplo, do público do Leste Europeu que é diferente do público ocidental? Ou você sempre procura apresentar um som universal?

Kitaro: Quando visito outro país, tento reorganizar a música para encaixar o público. Também apresento algumas das músicas da cultura daquele país, que as pessoas conhecem como uma canção popular. É muito divertido isso.

Revista Keyboard Brasil: Você toca diversos instrumentos tradicionais como guitarra, teclados e percussão. Conte-nos sobre os instrumentos étnicos aprendidos.

Kitaro: Viajei para muitos países e coletei muitos instrumentos musicais tradicionais. Ainda estou tentando tocar e fazer belos sons com esses instrumentos. Cada um possui uma influência profunda na cultura de cada país. Para mim, isso é um

processo de aprendizagem eterna.

Revista Keyboard Brasil: Li que todos os anos você faz uma peregrinação ao Monte Fuji para realizar uma cerimônia onde utiliza-se tambores. Poderia nos dizer sobre a tradição Wadaikos?

Kitaro: Sobre a cerimônia, toco tambores no Monte Fuji, no Japão, há mais de 24 anos. Esta cerimônia não é complicada de se explicar. É muito simples. É um apreço pela Mãe Terra, Mãe Natureza, onde criamos laços por meio da percussão.

Convidamos muitas pessoas de todas as idades para tocar tambor na noite de lua cheia, em setembro de cada ano. O mesmo que muitas tribos nativas fazem. Tentamos, com isso, nos ligar espiritualmente através da percussão.

Revista Keyboard Brasil: Seus primeiros álbuns foram a base estrutural para o gênero da música New Age. Quando você começou a produzir música décadas atrás, imaginou que elas serviriam de base para o surgimento desse novo gênero?

Kitaro: Nunca pensei. Mas acredito que é esse tipo de som que precisamos. E, por isso, vou continuar a minha música.

Revista Keyboard Brasil: Você colaborou com muitos artistas de Rock como o baterista do Grateful Dead Mickey Hart, em “The Light Of The Spirit”, e o vocalista Jon Anderson do rock progressivo YES, em “Transcendent Dream”, ambos álbuns de grande sucesso. Sua trilha sonora em parceria com o cineasta

internacional Zhang Yimou também foi um sucesso. Poderia nos contar sobre o trabalho realizado com Zhang Yimou?

Kitaro: Senhor Zhang Yimou me ofereceu para fazer a trilha sonora para “Impression of the West Lake”, em 2007. Primeiro, sua ideia foi eu viajar para a China realizar uma reunião com as pessoas da produção.

A produção não foi fácil, porque ao mesmo tempo que se construía a produção e se compunha a música, esperávamos pelos comentários do senhor Zhang Yimou e por sua direção no palco. Gostei de trabalhar com ele tanto por sua direção dinâmica como por sua mente brilhante.

Revista Keyboard Brasil: Você foi homenageado com o prêmio de melhor composição pelo Golden Globe Awards por sua maravilhosa trilha sonora de “Heaven & Earth” (Entre o Céu e a Terra), filme dirigido por Oliver Stone. Contenos sobre esse trabalho.

Kitaro: Este filme foi o terceiro sobre a Guerra do Vietnã feito pelo senhor Oliver Stone. Aprendi muitas coisas: sobre a trilha sonora para o filme, a filmagem, produção e etc. Viajei para o Vietnã com o senhor Stone, sua equipe, atores e atrizes.

Ele decidiu tudo: sons, edição e todos os detalhes, até quando minha composição era ideal para tal cena. E isso levou quatro anos! Seu trabalho era minucioso!

Revista Keyboard Brasil: A série “The Sacred Journey of Ku-Kai” foi concebida durante a tragédia de 11 de setembro ocorrida em 2001. Essa foi a razão para Revista Keyboard Brasil / 15

Atualmente, Kitaro realiza sua primeira turnê sinfônica em conjunto com a Santa Rosa Symphony Orchestra, com regência de Stephen Small. Nessa foto, a turnê se apresentava em Teerã.

16 / Revista Keyboard Brasil

Revista Keyboard Brasil / 11

Foto: Meghdad Madadi Revista Keyboard Brasil / 17

você produzir a jornada sagrada de séries Ku-Kai? Kitaro: Eu me concentrei em pensar sobre o que é a “paz mundial”. Então, vim com esse projeto. Ele ainda não terminou.

Ainda está no caminho para se tornar “a Paz Mundial”, pois acredito nisso ainda.

Revista Keyboard Brasil: “The Silk Road Series” é considerado por muitos, como uma obra-prima musical. Quais foram as circunstâncias que envolveram essa produção?

Kitaro: Fui influenciado pelo tema da Silk Road, que é uma antiga estrada entre a Ásia e a Europa. Minha imaginação tem crescido muito com este tema. Também tinha uma viagem para a China e União Soviética depois de terminar a composição. Foi uma viagem divertida. Todos os lugares que visitei eram pacíficos.

Infelizmente, mudaram muito hoje.

Revista Keyboard Brasil: Acreditamos que haverá muitos músicos iniciantes que lerão essa entrevista. Muitos talvez olhem para você como um mentor, esperando alcançar o nível de sucesso que você alcançou em sua carreira. Você tem conselhos para oferecer ou acredita que cada um deve ter em mente sua própria estratégia para o curso de sua carreira musical?

Kitaro: Cada artista tem um tema diferente. Portanto, não é fácil dizer alguma coisa. Talvez o que possa dizer apenas é: “Você pode compor e criar música como um presente. Um presente para todos os seres vivos e para o planeta. Isso seria ótimo.

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Confie no seu coração”.

Revista Keyboard Brasil: O seu ponto de vista filosófico é uma questão de registro. Ele é de paz, respeito e unidade, compartilhada por muitas pessoas.

Como se sente em ser um artista respeitado, que tem a oportunidade de expressar a sua mensagem de paz em todo o mundo?

Kitaro: Apenas espero proporcionar esse efeito da minha música em todo o mundo para que as pessoas possam sentir e pensar sobre o futuro.

Revista Keyboard Brasil: Há algo que gostaria de dizer aos nossos leitores e fãs que o admiram, para finalizarmos nossa entrevista?

Kitaro: Eu realmente aprecio todos que ouvem minha música, esperando que eles reflitam sobre um mundo melhor para todos. Muito obrigado!

Para obter informações e atualizações sobre a agenda de shows de Kitaro, visite a página domoMusicGroup.com

Dance of Sarasvati Kitaro Transcrição: maestro Marcelo Fagundes

Solicite a partitura completa clicando: contato@keyboard.art.br Revista Keyboard Brasil / 19

Falando sobre nossa Música

Música Brasileira Dos primórdios até os dias Heloísa C. G. Fagundes atuais - parte 16 20 / Revista Keyboard Brasil

PARTIDO ALTO, FUNK CARIOCA, MÚSICA MINEIRA, Pop rock e discothéque Os anos 70 foram anos frutíferos para a música brasileira. Além do Jazz e da música demasiadamente romântica, como falado na edição passada, diversos outros estilos passaram a despontar no país. É o caso do samba, que

agora ressurge nos morros cariocas, valorizando o subgênero, denominado Partido Alto – inclusive, com o lançamento comercial de discos. Sambistas como Cartola, Bezerra da Silva, Candeia e Nelson Cavaquinho também puderam gravar, pela primeira vez, sua obra em LPs e novos artistas destacavam-se no meio, como Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes.

Caracterizando o som do Partido Alto estão os primeiros versos de improviso e instrumentos como pandeiro, banjo, violão, tambor e a caixinha de fósforo.

Um fenômeno que se caracterizaria como tipicamente carioca também surge no Rio de Janeiro no começo da década de 70: os bailes funk. Os “bailes da pesada”, como eram conhecidos, espalharam-se para os clubes do subúrbio. Ouviase James Brown (“Sex Machine”, “Get On The Good Food”, “Soul

Bezerra da Silva: cantor e compositor de verve ácida.

Power”), Kool and The Gang, Wilson Picke entre outros. Com a proliferação de uma multidão de dançarinos populares adeptos do movimento, trajados com roupas black de ocasião, cabelos afro, sapatos plataforma coloridos, surgiram as equipes como Soul Grand Prix, Black Power, Dynamic Soul, Furacão 2000 e União Black. Também

surgiram importantes nomes da Funk Music carioca como Gerson King Combo, Tony Tornado, Tim Maia, Sandra de Sá, Cassiano, Robson Jorge e Rosa Maria. O estouro do Funk em território nacional se deu na década de 2000 e, atualmente, suas letras apresentam cunho romântico, de protesto, de ostentação ou erótico. Muitos recriminam. O fato é que o Funk agora pertence a todas as classes sociais.

O início dos anos 70 também foi a vez dos mineiros. Com a música ''Clube da Esquina'', de autoria de Milton Nascimento, com Lô Borges e Márcio Borges, inaugura-se o movimento de uma música que revigoraria a canção popular brasileira do começo da década e tornaria a sensação nas décadas seguintes.

Com o enorme sucesso, Milton Nascimento obteve definitivamente êxito comercial e todos os seus amigos mineiros também. Dentre o Revista Keyboard Brasil / 21

Raul Seixas foi um dos pioneiros do Rock nacional.

seleto grupo, citamos Lô Borges, Tavinho Moura, Márcio Borges, Wagner Tiso (e seu grupo Som Imaginário), Ronaldo Bastos e Beto Guedes.

Cada um, individualmente, atingiria carreira de sucesso com discos e shows dentro e fora do Brasil.

Raul Seixas foi o maior roqueiro da história da música pop brasileira. Sucessos como ‘‘Ouro de Tolo’’, ‘‘Metamorfose Ambulante’’, ‘‘Mosca na Sopa’’, ‘‘Al Capone’’ e ‘’Como Vovó Já Dizia’’ (ambas com Paulo Coelho), ‘’Há Dez Mil Anos Atrás’’, ‘’Rock das Aranhas’’ e seu último sucesso ‘’Cowboy Fora da Lei’’.

Desfrutando de um dos maiores públicos da história da música popular brasileira, Raul foi o primeiro artista nacional a ter um disco organizado e lançado por um fãclube, a coletânea de gravações raras 'Let Me Sing My Rock-and-roll', de 1985. Com o passar dos anos, sua importância e influência na música brasileira só se fariam aumentar. A

década de 1970 também foi uma época áurea para uma nova geração de grupos de rock brasileiros de variadas tendências como O Terço, de influências do rock progressivo com o guitarrista Sérgio Hinds como seu líder – que desembocaria no 14 Bis; do Joelho de Porco, com o seu som pré-punk anarquista cômico formado pelo popular baixista Tico Terpins; o Moto Perpétuo, formado pelo cantor e 22 / Revista Keyboard Brasil

compositor Guilherme Arantes; o Casa das Máquinas, formado por Netinho, exIncríveis, o Som Nosso de Cada Dia; e o lendário Made In Brasil, formado por Oswaldo Vecchione e seu irmão Celso Vecchione, talvez o mais popular e roqueiro da época, dentre outros mais. Desta-

que para os Secos & Molhados (com Ney Matogrosso), o mais criativo grupo da década a misturar pop-rock com música brasileira, portuguesa e outras influências.

Sua curta duração (1971-74) atingiu grande sucesso nacional.

Finalizando a década de 1970 e, embalados pela era disco, que teve seu auge de 1975 a 1979, temos como símbolo incontestável o clássico Os Embalos de Sábado à Noite, filme estrelado por John Travolta. Além do filme, artistas como Gloria Gaynor, Donna Summer, grupos como Bee Gees, Abba, entre tantos outros, fizeram com que a novela global Dancing Days fosse um sucesso, deixando sua marca, com o grupo composto só por

mulheres As Frenéticas.

(Continua na próxima Revista Keyboard Brasil...)

Surgido em plena era repressiva do governo Médici, em meio a um marasmo musical, o trio paulista Secos & Molhados utilizava linguagens cênicas e musicais nunca vistas, agregando teatro, música brasileira, rock, folclore português, poesia e androginia.

Revista Keyboard Brasil / 23

Ponto de Vista

24 / Revista Keyboard Brasil

Foto: Arquivo pessoal

Apresentamos aos nossos leitores, o mais novo colaborador da Revista Keyboard Brasil: o ilustre maestro Osvaldo Colarusso!

*

A competência e os ensinamentos de uma grande orquestra turca!

UMA ORQUESTRA TURCA, ONDE 99% DOS MÚSICOS SÃO DO PRÓPRIO PAÍS, SUSTENTADA POR UM PODEROSO GRUPO INDUSTRIAL

LOCAL,

COM

UM

REPERTÓRIO

COMPROMETIDO COM SUA CULTURA, COM UM EXTENSO SERVIÇO DE FORMAÇÃO CULTURAL NA COMUNIDADE, ONDE O DIRETOR MUSICAL ESTRANGEIRO É RESPONSÁVEL POR 80% DAS APRESENTAÇÕES DA ORQUESTRA, NÃO HÁ DÚVIDA, PODE NOS LEVAR, COMO BRASILEIROS, A UMA PROFUNDA REFLEXÃO. Orquestra Filarmônica Borusan de Istambul, sob a regência de seu atual diretor musical, o austríaco Sascha Goetzel.

** Maestro Osvaldo Colarusso Revista Keyboard Brasil / 25

A Orquestra Filarmônica Borusan de Istambul, uma das melhores orquestras da atualidade mostra, de forma clara, a extensão dos benefícios de um aparelho cultural em meio a uma sociedade de um país em desenvolvimento.

Fundada em 1999 e custeada por um gigantesco “holding” industrial da Turquia, a orquestra tem feito uma carreira cheia de consistentes êxitos. Seu sucesso mais recente foi o concerto que a Orquestra, sob a regência de seu atual diretor musical, o austríaco Sascha Goetzel, realizou no Proms de Londres, o mais importante festival de música clássica do mundo. Antes disso a orquestra, em 2010, obteve outro êxito no Festival de Salzburg.

O primeiro diretor musical da orquestra foi o turco Gürer Aykal e, desde janeiro de 2009, atua neste cargo Sascha Goetzel. Com ele a orquestra já gravou 3 Cds, com uma fórmula extremamente inteligente: nada de gravar Sinfonias de 26 / Revista Keyboard Brasil

Schubert ou Beethoven e, sim, gravar obras que tenham a ver com a linguagem musical turca ou, em termos mais genéricos, do mundo muçulmano. O primeiro CD desta série inclui, por exemplo, Belkis, rainha de Sheba, de Ottorino Respighi, partitura com uma orquestração primorosa e com inúmeros empréstimos do idioma do oriente próximo. O sucesso deste lançamento foi enorme, e o último CD da orquestra traz uma realização estonteante do clássico oriental do compositor russo RimskyKorsakow: Sheherazade. Alguns trechos da parte de harpa são substituídos, por exemplo, pelo instrumento que Korsakow quis imitar, o Qanun, um instrumento muito usado na música folclórica turca.

Além deste detalhe, há um comprometimento tal da orquestra que faz com que os críticos coloquem esta versão no alto da lista das inúmeras gravações desta obra.

A inteligência da escolha do repertório, tanto no Proms quanto em Salzburg e nos Cds, vem do fato que seria

uma estupidez levar uma orquestra tão boa para Inglaterra ou a Áustria para tocar obras que as Orquestras de lá tocam muito bem. Não há dúvida que a Orquestra Filarmônica Borusan de Istambul tem competência para tocar sinfonias de Schubert, de Beethoven, de Mahler, mas ao escolher o tipo de repertório que inclui

em suas turnês, a contribuição da orquestra fica mais evidente. Em resumo, seu repertório é pensado para a consolidação da qualidade artística da orquestra.

No entanto, sua marca quanto ao

resto do mundo, é de um flagrante comprometimento com sua herança cultural.

O Concerto no Proms

O concerto que a orquestra realizou no Proms de Londres, no final de julho deste ano, recebeu uma aclamação tanto do público (6000 pessoas assistiram o concerto) quanto da imprensa. Este concerto foi transmitido pela BBC (Santo Deus, que excelente filmagem). O repertório iniciou-se com Islamey, do russo Balakirev, calcado em temas orientais. A obra seguinte foi Beni Mora, uma partitura de cunho oriental composta pelo inglês Gustav Holst (aquele de Os Planetas). O mundo turco passou também pela abertura de O rapto do Serralho, de Mozart. Outra homenagem

aos ingleses foi a execução de um trecho do oratório Sansão, de Handel: A entrada da rainha de Sheba. Daí a obra de Respighi Belkis, Rainha de Sheba e, como extra, a obra clássica turca mais prezada em seu país: Köçekçe, rapsódia para orquestra, do compositor turco Ulvi Erkin. O público delirou no final tanto pela esplendorosa sonoridade das cordas, quanto aos estonteantes solistas de sopro, e um naipe de percussão que acabou sendo o mais aplaudido da noite. Mas creio que uma parte considerável do êxito deste concerto se deve ao carisma e também à competência do maestro Sascha Goetzel. Sua Revista Keyboard Brasil / 27

Fotos: Divulgação

Orquestra no Proms, sob a direção do austríaco Sascha Goetzel.

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integração com a orquestra é algo raramente vista.

Sua competência levou, a meu ver, ao ponto alto desta noite: ele regeu de memória Köçekçe, com todos os seus intrincados ritmos, com uma incessante mudança de compassos. Köçekçe para os turcos equivale para nós à Abertura de O Guarani, de Carlos Gomes ou O Moldávia, de Smetana para os Tchecos.

O respeito dele pela obra ficou evidente. Outra coisa boa: a Orquestra Filarmônica Borusan de

Istambul acabou de vez com qualquer preconceito a respeito do mundo muçulmano (a Turquia é um país laico): inúmeras (belas) mulheres (mais do que a metade) e uma delas inclusive tocando trombone! Esta orquestra pode ser um bom motivo para a Turquia finalmente entrar na Comunidade Europeia.

ESTA ORQUESTRA PODE SER UM BOM MOTIVO PARA A TURQUIA FINALMENTE ENTRAR NA COMUNIDADE EUROPEIA!

– Maestro Osvaldo Colarusso

Vale a pena assistir ao Concerto da Orquestra no Proms em sua forma integral!!!

O programa contou com a estreia de um Concerto para violino de Gabriel Prokofiev, neto do compositor russo!!!

* Texto retirado do Blog Falando de Música, do Jornal paranaense Gazeta do Povo. Conheça o blog clicando em http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/ **Premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) o maestro Osvaldo Colarusso é paulistano. Foi aluno de Enzo Pedini, Eleazar de Carvalho, Michel Philippo e de Genady Roshdestvensky.

No passado, esteve à frente de grandes orquestras, como a do Coral Lírico do Teatro Municipal de São Paulo e a Orquestra Sinfônica do Paraná, além de ter atuado como solista. Como maestro convidado, tem atuado frente às principais orquestras do país, como a Petrobrás Sinfônica e a Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Além de participar dos principais Festivais de Música do país. Desenvolve, paralelamente, atividades como professor, produtor e apresentador de programas de Música Clássica na Emissora Estadual do Paraná. Desde 2011, Colarusso é responsável por um dos blogs mais importantes de música clássica no Brasil, Falando de Música, do jornal paranaense Gazeta do Povo.

28 / Revista Keyboard Brasil

Musicando

Dos palcos da

BROADWAY para o BRASIL

APÓS INÚMEROS WORKSHOPS SOBRE MUSICAIS E IMPROVISO PELO SUL DO PAÍS, A DUPLA MARTIN RODRIGUES CALLAGHAN E

WILL RODRIGUES CALLAGHAN ANUNCIA A CRIAÇÃO DA PRIMEIRA ESCOLA DE TEATRO MUSICAL DO BRASIL, A CALLAGHANS ESCOLA DE TEATRO & MUSICAL, EM JOINVILLE (SANTA CATARINA)!

Heloísa Fagundes Que o Brasil é um país de forte cunho artístico, ninguém pode negar.

Afinal, num país extremamente multicultural, a arte exala de diferentes formas, influenciando o cotidiano do brasileiro, que cada vez mais se vê cercado por grandes inspirações e obras. E, por estar se destacando cada vez mais, principalmente, no estilo musical e no improviso, o Brasil ganhará nos próximos meses, sua primeira escola de teatro musical.

Possuindo enorme experiência 30 / Revista Keyboard Brasil

internacional, Will e seu companheiro Martin Rodrigues Callaghan escolheram a cidade de Joinville para tornar real um projeto único e diferenciado, com professores vindos diretamente da Broadway (Estados Unidos) e de West End (Inglaterra) compartilhando com os brasileiros, o vasto conhecimento adquirido por ambos. Esse é o objetivo da Callaghans Escola de Teatro & Musical. Se você canta, dança e atua, essa é a oportunidade de mostrar o seu trabalho.

William Rodrigues Callaghan, 30 Natural de Criciúma, Santa Catarina, Will viveu sua infância entre sua cidade natal e Joinville.

Sua carreira artística tomou impulso em 2010, quando se mudou para a Europa. Se formou no Espaço Evoé de Artes, no curso de interpretação e direção de atores, em Lisboa (Portugal) e, em Dublim, na Irlanda, ampliou sua arte para as áreas de dança e expressão corporal nos palcos através da Abbey Theatre. Estreou nos palcos europeus com a comédia Super Funny, protagonizou seu 1º papel na TV, no seriado português Pai à Força. No Brasil, repetiu o sucesso com a comédia romântica Nuno, Ana e Tinha que ter um Gay e o show de humor Djalma, o Cabeleireiro.

Martin Rodrigues Callaghan, 46 Britânico, Martin nasceu na cidade de Manchester, Inglaterra. Formou-se em teatro pela Abraham Moss Centre e canto pela R.N.C.M, ambas na Inglaterra. Um dos atores preferidos do aclamado escritor e diretor Andrew Lloyd Webber, Martin faz parte do cast de atores da Broadway (nos Estados Unidos) e de West End (na Inglaterra), participando de grandes musicais como Cats, Chicago, Noviça Rebelde, Jesus Cristo Superstar, My Fair Lady, Chess e O Mágico de OZ. Atuou, recentemente, em Merrily We Roll Along, peça que recebeu o Olivier, de melhor revival (a maior premiação de teatro musical do West End).

Entrevista Revista Keyboard Brasil: Como surgiu a ideia de criar uma escola de teatro musical nos moldes da Broadway e West End no Brasil?

Martin: Surgiu da minha junção com o meu companheiro Will. Sempre tivemos o sonho de trabalharmos juntos em algo nosso, onde poderíamos conciliar o nosso casamento e a nossa profissão. Então, quando viemos ao Brasil, tínhamos esse projeto em nossos corações, já que sabíamos que o gênero “musical” estava ganhando repercussão e cada vez mais força por aqui. Porém, não sabíamos ainda em qual cidade fixaríamos o

projeto, mas tínhamos em mente que não seria São Paulo ou Rio, pois a nossa ideia era descentralizar os grandes centros e darmos oportunidade a outras cidades e Estados. Em relação aos moldes Broadway e West End isso não teria como estar separado ou a parte do nosso projeto, pois essa tem sido a minha realidade por 23 anos.

Revista Keyboard Brasil: Algum motivo especial para escolherem a cidade de Joinville como sede?

Will: Simples e direto! Primeiro porque viemos de Londres e estávamos cansados Revista Keyboard Brasil / 31

dos grandes centros. Como recém casamos, tudo o que precisávamos era de tranquilidade longe do agito da cidade grande, então São Paulo e Rio, já descartamos de cara. E, depois porque os melhores e maiores talentos encontramos nos workshops que ministramos em Joinville, acredita? Fortes cantores, grandes atores, os melhores dançarinos. Um público extremamente fiel. Ah, e sem dizer que meu pai e a minha melhor amiga vivem em Joinville.

Revista Keyboard Brasil: Martin, já assistiu algum musical realizado no Brasil? Fazendo parte do cast de atores da Broadway, qual foi sua impressão?

Martin: Desde que chegamos ao Brasil não paramos, foram mais de 40 workshops em seis meses. Infelizmente, não tive tempo ainda de conferir musical algum, mas estou ansioso para assistir as produções americanas e inglesas na versão brasileira. Mas sei que o gênero musical do Brasil tem tido repercussão em todo o mundo e sei que minha futura impressão será a melhor possível.

Revista Keyboard Brasil: Workshops, espetáculos e agora a escola. Como conseguem administrar a agenda de vocês com tantos compromissos?

Will/Martin: Complicado! Por exemplo, agora estamos dando essa entrevista para a Revista Keyboard Brasil, mas em uma hora já temos que estar no local onde ministraremos mais um workshop, e após o workshop temos uma entrevista na rádio e, assim, as coisas são. Com a abertura da escola em Janeiro, os workshops 32 / Revista Keyboard Brasil

deixarão de existir literalmente. Estaremos focados 100% na escola e nos espetáculos que estamos colocando na estrada.

Revista Keyboard Brasil: Will, sabemos que você está sendo sondado para projetos televisivos. Pode nos falar sobre isso?

Will: Posso sim! Bom, no ano de 2013 fui chamado na MTV para fazer parte do novo time da VJ's da emissora, que estava passando por um processo de reciclagem devido a transição de venda e compra da emissora para novos investidores do entretenimento. Cheguei a ter várias reuniões em São Paulo mas, por fim, acabei negando. Não me sentia preparado ainda! Já nesse ano com tanta repercussão por causa dos workshops e por já ser conhecido do público no teatro e na comédia, a Rede Globo me propôs algo bem bacana para o próximo ano e super a minha cara, e claro, algo que não vai tomar tanto o meu tempo nem vai me ausentar de estar presente na escola. Mas como sempre, ainda estou pensando bem para que eu possa tomar a melhor decisão para minha vida conjugal, pessoal e profissional. Mas posso adiantar, me querem para apresentar algo na tv. É isso!

Revista Keyboard Brasil: Explique para nossos leitores como, quando e onde será realizada a audição de seleção dos futuros alunos da Callaghans.

Will/Martin: A audição será realizada no dia 17 de Janeiro de 2015, em Joinville, SC. Todos os candidatos devem estar no local do evento às 10h da manhã para fazerem suas inscrições e por ordem de chegada

Revista Keyboard Brasil: Podemos imaginar que, para 2015, os brasileiros serão presenteados com um grandioso musical realizado pela Callaghans?

Martin: Podem sim! Em março já estaremos com um grande evento rodando todo o Brasil. Uma noite de muita Broadway e West End para todo o público. Aguardem! E mais outros dois musicais que estamos em fase de negociações.

Revista Keyboard Brasil: Parabéns pela iniciativa e que seja um sucesso a Callaghans Escola de Teatro & Musical!

Will/Martin: Nós só temos que agradecer pela parceria com a Revista Keyboard Brasil e desejar sucesso para todos nós juntos, pois a escola não é nossa e, sim, de vocês. Os parceiros, colegas de profissão, produtores culturais, amigos e claro, os alunos. Deus é fiel!

Fotos: Divulgação

cada um faz sua audição individual e, no final do dia, daremos a resposta para os aprovados e para os ainda não aptos a estarem conosco no momento.

Martin Callaghan participou de inúmeros musicais como o leão de O Mágico de Oz.

Serviço Audição para a seleção dos futuros alunos.

Data: 17 de janeiro de 2015.

Horário: das 10 às 19 horas.

Local: Hotel Tannenhof Rua Visconde de Taunay, 340 – Centro, Joinville / SC Maiores informações: (47) 4101-8408 (48) 9948-7616 callaghansproducoes@outlook.com

Revista Keyboard Brasil / 33

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Toque e Aprenda

- continuação...

APRENDA OU MELHORE SEU DESEMPENHO NAS TÉCNICAS DO

André Luiz

JAZZ-BLUES * Maestro Marcelo Fagundes

ESCALAS MENORES NATURAL - HARMÔNICAS E MELÓDICAS ESCALA MENOR NATURAL OU RELATIVA Para facilitar a compreensão da formação das ESCALAS MENORES, costuma-se derivá-las da escala MAIOR. Cada escala maior tem uma escala menor relativa e viceversa, formada sempre a partir do VI grau da escala MAIOR ou III grau da escala menor.

Veja o Exemplo.

Na verdade, as ESCALAS MAIORES e menores são relativas entre si. Elas apresentam sempre os mesmos sinais de alteração da sua escala derivada.

Outra forma de se entender as escalas menores é pela organização dos TONS e SEMITONS nelas contidas, contudo, essa prática torna-se desnecessária ao aluno que já tiver memorizado todas as escalas MAIORES.

A escala MAIOR, como já vimos, terá sempre um SEMITOM entre os graus III e IV e entre os graus VII e VIII. A escala menor terá sempre um SEMITOM entre os graus II e III e entre os graus V e VI da escala.

ESCALA MENOR HARMÔNICA Com o estudo da harmonia musical, ou seja, as tríades e tétrades, o intervalo existente entre os graus VII e VIII, tanto na escala maior quanto na escala menor, passou a ter muita importância. No entanto, sabemos que esse intervalo difere de uma escala a outra.

Na escala maior teremos um SEMITOM entre os graus VII e VIII, enquanto que na escala menor teremos um TOM entre estes mesmos graus. Essa diferença prejudica muito a elaboração dos acordes dentro da escala menor.

34 / Revista Keyboard Brasil

Para tentar resolver este problema, foi criada a ESCALA MENOR HARMÔNICA. A única diferença da escala menor relativa para a escala menor harmônica está exclusivamente no VII grau da mesma. Na ESCALA MENOR HARMÔNICA, este grau sofrerá a alteração ascendente de um SEMITOM. Notas naturais passarão a ser sustenizadas e notas bemolizadas passarão a ser naturais.

Observe.

Podemos observar que a nota SOL (VII grau da escala de LÁ menor relativa) era natural. Já na ESCALA de LÁ MENOR HARMÔNICA, essa mesma nota sofrerá uma alteração ascendente de um semitom, passando a ser SOL#. No entanto, entre os graus VI e VII temos um intervalo grande, um TOM e um SEMITOM.

ESCALA MENOR MELÓDICA

Essa será a única escala musical que terá duas formas distintas: subirá de uma maneira, com o VI e VII graus alterados e descerá como uma Escala Menor Antiga (relativa). Ou seja, subirá e descerá de modos diferentes.

Essa escala é derivada da escala menor harmônica, isto é, ela terá também o VII grau elevado de um SEMITOM e, além desse grau ser alterado ascendentemente, o VI grau também o será. Veja:

ENTENDENDO Na Harmonia Funcional existem cinco escalas musicais, são elas: as ESCALAS MAIORES, com os semitons entre os graus III-VIII. Desta derivamos as ESCALAS MENORES, ou seja, elas terão os semitons entre os graus II-III e V-VI, facilmente localizadas através do VII grau de uma escala maior. A partir da ESCALA MENOR RELATIVA, também chamada de natural, primitiva ou antiga, acharemos as outras duas, a ESCALA MENOR HARMÔNICA e a ESCALA MENOR MELÓDICA. As escalas menores harmônicas são iguais às escalas menores primitivas. No entanto, seu VII grau será alterado ascendentemente. Assim, alterando-se o VI grau ascendentemente, além do VII já alterado, acharemos as escalas menores melódicas sendo estas escalas ascendentes e descendentes onde, na sua descida, o VI e VII graus serão naturais e perderão as alterações feitas na subida. Minha sugestão é que você monte a partir de uma escala maior todas as suas possibilidades, Menor Relativa, Menor Harmônica e Menor Melódica. Pode fazer isso numa folha com pentagrama e depois tocá-las observando as alterações. Bons estudos e até a próxima...

*Marcelo Dantas Fagundes é músico, maestro, arranjador, compositor, pesquisador musical, escritor, professor, editor e membro da ABEMÚSICA (Associação Brasileira de Música).

Revista Keyboard Brasil / 35

Lançamento

SONG FOR J.B.

Foto: Doni Maciel

EP inspirado pelos ares de New Orleans

O EP Song for J.B., do pianista Luciano Leães – considerado um dos principais pianistas de Blues do país e vencedor do Prêmio Açorianos de Música na categoria de melhor instrumentista Pop, é uma amostra do que será o disco de estréia, com lançamento programado para 2015. Acompanhado dos Big Chiefs – banda formada por Edu Meirelles (contrabaixo), Alexandre “Papel” Loureiro

(bateria), Vicente Guedes (Percussão), Gabriel Guedes (guitarra) e Caetano Maschio Santos (mandolim), Leães mostra que Song for J.B. tem sua sonoridade calcada no Blues, R&B e na música de New Orleans, evidenciada nas faixas Song for J.B. (homenagem a James Booker, um de seus ídolos), Sinner Not a Saint e On My Own. Saiba mais sobre Luciano Leães clicando em www.lucianoleaes.com

QUER DIVULGAR SEU TRABALHO? ENVIE SEU MATERIAL Revista Keyboard Brasil / 05 PARA A REVISTA KEYBOARD BRASIL: contato@keyboard.art.br

Ponto de Encontro

(da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor, Prazer e Negócios)

COMUNICAÇÃO, HUMANIDADE, S U C E S S O E M P R E S A R I A L E F O R M A Ç Ã O D E R I Q U E Z A DESCUBRA COMO EQUILIBRAR SUAS FORÇAS E CAPACIDADES PARA OBTER O SUCESSO ESPERADO EM SUA CARREIRA! * Luiz Bersou Todos aqueles que convivem com a música e vivem dela, buscam sempre um ponto no horizonte de suas vidas, onde querem encontrar o sucesso em suas atividades. Esse sucesso vem sempre da satisfação pelo trabalho que realizam, de uma visão de futuro e do sucesso econômico decorrente.

A carreira de músico é muito árdua. Domínio da técnica, capacidade de expressão de sentimentos, virtuosismo, são fundamentos do trabalho de quem sempre busca a perfeição, como é cultura 38 / Revista Keyboard Brasil

do setor. Esse caminhar nos dá

sempre uma sensação de força e de sentimento de trabalho realizado.

Nem sempre nos dá o resultado econômico sonhado. Em geral é o que mais acontece. Ponto!

Sabemos que o trabalho em si raramente gera a riqueza tantas vezes pretendida. A história de Samarkand na Rota das Sedas, a nós trazida pelo veneziano Marco Polo, nos conta de como o comércio e a capacidade de relacionamento é a verdadeira base pela qual se

constrói a riqueza. Os mapas mostram o caminho aberto pelo comércio de relacionamento em todos os países que enriqueceram. Tema também de muitas grandes empresas. Abre o caminho rentável para o trabalho de cada um.

Ocorre aqui um desequilíbrio de nossas forças e capacidades. Temos, com muita frequência, o trabalho árduo na busca da perfeição. Muita energia focada nesse tipo de trabalho. Percebe-se, de outro lado, a falta de energia no relacionamento e na comunicação ao mercado, à sociedade, de quem somos e do que é o nosso trabalho. O sucesso

econômico depende muito disso!

Relacionamento e comunicação são áreas de interesse onde também se requer muita visão, competência, disciplina e rigor de atuação. Há, também, que haver muita dedicação e conhecimento para que nós nos relacionemos e nos comuniquemos bem. Temos, também, a questão da vocação natural para o relacionamento de cada um.

Tudo aqui começa por um conceito mágico.

Nosso posicionamento em relação ao mercado, em relação ao nosso público. Quem somos, o que propomos entregar, como queremos ser vistos? O que queremos significar para os outros? Qual é o significado do nosso cartão de visitas?

O que percebemos, na prática, é que a facilidade de relacionamento e comunicação começa sempre com a identificação desse nosso próprio perfil. O que acontece na prática é que raramente cuidamos bem dessa questão tão importante.

Temos aqui uma outra questão a considerar, que torna a questão ainda mais importante. Com quem o público se relaciona? Com o profissional ou com o ser humano? Muitas vezes nos apresentamos como profissionais, mas a relação apaixonada entre público e o ator se dá, na maioria das vezes, na figura

do humano. A simples busca de um autógrafo nos expõe o fenômeno. Quem assina é o ser humano, não o profissional. A dedicatória de um livro é sempre para o ser humano, raramente para o profissional.

Desse nosso diálogo, querido leitor, vem que a construção da humanidade de cada um, no sentido de sua identidade, é a base de referência mais sólida que podemos construir em termos de relacionamento, seja na família, na sociedade ou na vida profissional.

A pergunta, então, que se coloca: estamos nos dedicando a essa questão tão importante?

Estamos nos dando conta de que é pela nossa humanidade que seremos reconhecidos e melhor aceitos na sociedade, nos mercados, na vida profissional?

Foto: Arquivo Pessoal

O mexicano Abdiel Vázquez é um grande pianista da atualidade.

* Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em Engenharia Naval, Marketing e Finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior.

Revista Keyboard Brasil / 39

Tecnologia

On soundcloud: EMPRESA ESTÁ SE UNINDO À WARNER MUSIC PARA LIBERAR OFICIALMENTE O CATÁLOGO DE CENTENAS DE ARTISTAS POR STREAMING. ALÉM DISSO, IDEIA É PAGAR ROYALTIES TAMBÉM PELO CONTEÚDO HOSPEDADO PELOS USUÁRIOS. Da Redação Anunciado pelo SoundCloud os primeiros passos para deixar de ser um serviço de música "clandestino" e se tornar mais um grande player no mercado de streaming. A empresa está se unindo à Warner Music Group não apenas para criar um programa pago de músicas mas, também, para lançar uma plataforma que dará aos artistas e bandas controle completo sobre seus trabalhos publicados no sistema.

Chamado On SoundCloud, o serviço funcionará de maneira semelhante a sistemas de anúncios para website ou smartphones. Por meio de propagandas, os autores originais das músicas poderão receber algum dinheiro a partir do conteúdo hospedado e criado pelos usuários, como 40 / Revista Keyboard Brasil

remixes, mash ups e outros. Além disso, a segunda etapa dessa nova estratégia é o pagamento de royalties da maneira mais tradicional, a cada execução de faixa. É justamente aqui que entra a questão do serviço de assinaturas, já que apenas a renda oriunda de anúncios no serviço gratuito não é suficiente para sustentar toda a plataforma. Por meio de pagamentos mensais de valores ainda não revelados, os usuários passam a ter acesso total e legítimo ao acervo de centenas de artistas disponíveis pelo selo da Warner, podendo baixar canções ou ouvi-las online por meio de smartphones ou tablets.

A empresa diz estar atenta aos novos recursos para que estes não impactem de forma negativa sua base de

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os próprios criadores de conteúdo poderão comecar a fazer dinheiro com suas obras, bem como os artistas, que ganharão a partir de trabalhos derivativos.

usuários. O SoundCloud é reconhecido como o local cujo artistas independentes, DJs experimentais e até mesmo podcasters podem publicar seus trabalhos gratuitamente e disponibilizá-los rapidamente para toda a base de internautas, além de incorporar as próprias obras de maneira fácil em sites externos.

Para a direção da companhia, esse é um movimento que garante benefícios para todos.

De um lado, estão os próprios criadores de conteúdo, que agora poderão começar a fazer dinheiro com suas obras, bem como os artistas, que ganharão a partir de trabalhos derivativos. Do outro lado está a própria companhia, que ganha uma fonte de renda considerável para se manter relevante e funcional pelos anos que vem por aí.

Por enquanto, não existem muitos detalhes sobre as novidades do SoundCloud, como preços de assinaturas ou o funcionamento do sistema de anúncios e pagamento para criadores. Mas, desde já, o anúncio marca a entrada de mais um grande player no mercado de streaming, que se configura cada vez mais como o grande futuro da música

online.

Revista Keyboard Brasil / 41

Tradição

Natal

Canções

de

42 / Revista Keyboard Brasil

Marcelo Fagundes

Em 2007, um Papai Noel acordeonista foi o solista convidado a tocar com a Northwest Indiana Symphony Chorus, sob a batuta do maestro Kirk Muspratt em dois concertos (Star Plaza Theater, em Merrillville/Indiana e no Raue Center Theater, em Crystal Lake/Illinois.

Revista Keyboard Brasil / 43

Foto: Larry Mickow, Jr.

O NATAL ESTÁ CHEGANDO E NADA MAIS JUSTO DO QUE ESCREVER SOBRE ALGUMAS DAS MÚSICAS DESSA DATA TÃO IMPORTANTE, ONDE SE COMEMORA O NASCIMENTO DE JESUS CRISTO, NOSSO SALVADOR.

Muitos não sabem, mas as canções natalinas surgiram devido aos esforços da Igreja Católica em retirar a importância dada às músicas e danças pagãs, com o intuito de contribuírem para despertar no homem, sentimentos de fraternidade, reconciliação e caridade.

As primeiras músicas de Natal surgiram no século IV e ainda hoje são cantadas. É o caso da cantiga de natal

mais antiga que a história da música registra Jesus Refulsit Omnium (em inglês Christe Redemptor Omnium e, em português, Jesus, luz de todas as Nações). Sua letra é atribuída ao Santo Hilário de Poitiers.

Em relação à autoria da letra e música de Adeste Fidelis, sempre existiu uma grande controvérsia, sendo atribuída a portugueses, ingleses, franceses, alemães, enfim. Tentam demonstrar – alguns através de poucos fatos – quem é o autor da música. Os ingleses, por exemplo, consideram que a Adeste Fidelis pertence a John F. Wade, tanto a letra quanto a música. No entanto, John F. Wade, não poderia ter escrito a obra, já que o seu manuscrito data de 1743!

O mais provável é que Wade tenha traduzido o Hino Português, como era chamado em Londres na época, e ficado com os louros.

Já os portugueses, afirmam que Adeste Fidelis é de autoria do rei português D. João IV¹, pois foram achados dois manuscritos desta obra, datados de 1640, no palácio de Vila Viçosa. ¹ Conhecido como o 'Rei Músico', D. João IV nasceu em 1604. Foi um mecenas da música e das artes, assim como um sofisticado autor e compositor. Durante seu reinado, foi dono de uma das maiores bibliotecas do mundo.

44 / Revista Keyboard Brasil

A partir do século XIX, surgiram muitas melodias de Natal de origem pagã. A primeira e a mais conhecida, no entanto, é Noite Feliz.

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A CANcÃO NOITE FELIZ (STILLE NACHT, HEILIGE YACH OU, EM INGLÊS, SILENT NIGHT, HOLLY NIGHT) FOI OUVIDA, PELA PRIMEIRA VEZ NA ALDEIA DE OBERNDORF, NA ÁUSTRIA, NUMA MINÚSCULA CAPELINHA DE NOME SÃO NICOLAU, EM 24 DE DEZEMBRO DE 1818. NO INÍCIO, NEM NOME TINHA. ERA CHAMADA APENAS DE CANcÃO FOLCLÓRICA TIROLESA.

Foto: Arquivo pessoal

– MARCELO FAGUNDES

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A canção Noite Feliz (Stille nacht, heilige yach ou, em inglês, Silent night, holly night), que se tornou o hino oficial do natal para a Igreja Católica, foi composta pelo padre Joseph Mohr, jovem sacerdote austríaco que, enquanto caminha em direção à casa de seu avô, em 1816, no distrito de Mariapfarr, na Áustria, escreveu o texto, em forma de poema.

Em 1817, o jovem sacerdote foi transferido para a Oberndorf, onde conheceu o professor de música Franz Gruber. Na véspera do natal de 1818, mostrou-lhe o poema e pediu-lhe uma melodia que pudesse ser cantada na Missa de Galo daquela noite, já que o órgão de sua paróquia não estava funcionando. No mesmo dia, na capela de São Nicolau, a canção já estava sendo entoada na voz de seus compositores, acompanhados de um pequeno coro que repetia o refrão ao final de cada estrofe.

Duas famílias que viajavam cantando canções populares do vale de Ziller, incorporaram a canção a seu repertório e a entoaram em dezembro de 1832, na cidade de Leipzig, em um concerto de músicas folclóricas. A partir de então, a difusão progrediu, até que Noite Feliz foi cantada na presença do imperador da Áustria, Francisco I e do Czar da Rússia, Alexandre I. A canção natalina passou a ser a preferida, também, do rei Frederico Guilherme IV, da Prússia.

Certamente, seus compositores não imaginariam a repercussão que sua obra faria em todo o mundo e nos séculos vindouros!

O tema musical Noite Feliz é simples e nos dá muitas possibilidades de reharmonização nos vários estilos musicais como Blues, a capela para corais, Big Band, entre outros.

Então, a seguir, apresento aos leitores da Revista Keyboard Brasil, um bom exemplo de Noite Feliz na reharmonização de Jazz contemporâneo .

Revista Keyboard Brasil / 45

Noite Feliz

Letra: Joseph Mohr Música: Franz Gruber Versão: Frei Pedro Sinzig Arranjo especial com harmonização de Jazz contemporâneo: Maestro Marcelo Fagundes

Essa foi a minha pequena lista de canções natalinas preferidas. Quer mandar a sua? contato@keyboard.art.br Feliz Natal !!!

46 / Revista Keyboard Brasil

Dica Técnica - aula 8

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Padroes LICKS - PATTERNS Fotos: Acervo pessoal

* Mateus Schanoski

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São padrões bem conhecidos e muito utilizados. todos estão em am, que é o acorde proposto desde o início das nossas aulas!

‘ ‘ – mateus schanoski

48 / Revista Keyboard Brasil

Não basta ler música. O bom pianista deve possuir habilidades para tocar o piano, além de saber também improvisar.

Você já ouviu esses termos: “Licks”, “Patterns”? São termos muito usados

pelos músicos. São pequenas frases sempre utilizadas. Aqui chamamos de Padrões.

Nesta aula, você estudará 13 padrões gradativos em grau de dificuldades e diferentes ritmos. São padrões bem conhecidos e muito utilizados. Todos estão em Am, que é o acorde proposto desde o início das nossas aulas.

Estude bastante e treine também em outros tons menores. Analise os intervalos de cada padrão também, assim irá decorálos mais fácilmente.

Bons estudos, divirta-se e um Feliz Natal!

Aula 8 Padrões Menores Mateus Schanoski

* Mateus Schanoski é graduado em Piano Erudito (Conservatório Bandeirantes), Piano Popular (CLAM e ULM), Teclado e Tecnologia (IT&T). É tecladista, pianista, organista, sideman, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

CONTATOS:

Revista Keyboard Brasil / 49

OpiniĂŁo

50 / Revista Keyboard Brasil

MÚSICA CLÁSSICA

não é coisa de velho!

ENTENDA

PORQUE,

ASSOCIAR

MÚSICA

CLÁSSICA

COM

CARETICE E MÚSICA POP

COM

MODER-

NIDADE TRUQUE

É

UM

B A R AT O

DOS

PUBLICITÁRIOS

PARA

VENDER

IMAGEM DUTO

UMA

DE

PRO-

HYPE

PARA

DESCOLADOS E AFINS. * Joêzer Mendonça Revista Keyboard Brasil / 51

Não sei se você lembra ou se já era nascido, mas não faz tanto tempo que passou na TV um comercial de refrigerante (?) que era mais ou menos assim: “um adulto todo engomadinho ouvia ópera com uma expressão de profundo tédio.

Aí, o narrador dizia: mas enquanto esse tempo (de ouvir ópera feito um velho caidaço?) não chega, aproveite para...

Então aparecia uma menina toda feliz e animada ouvindo música pop e tomando seu xarope com gás”.

Associar música clássica com caretice e música pop com modernidade é um truque barato dos publicitários para vender uma imagem de produto hype para descolados e afins. Uma pena, porque

Escutar uma ópera nem sempre é tarefa fácil. Tem coisa muito longa (4 horas!) que está além da minha capacidade de me concentrar e de ficar sem ir ao banheiro. É covardia colocar uma peça clássica sonolenta e contrapor a um pop sacolejante. Mas não importa, sempre vai haver uma criatura que vai achar a nossa música preferida uma chatice.

E qual a solução para rejuvenescer o público da música clássica? Aí é que está. O público de música clássica não é composto só pelas faixas da melhor idade.

Vá a um concerto e veja quantos jovens estão interessados em assistir música orquestral ao vivo.

música clássica não é coisa de velho!

Mas há quem insista em “rejuvenescer” o repertório e que, na ânsia de atrair novos públicos,

Foto: Divulgação

Música pop também pode ser absurdamente entendiante e chata como um bate-estaca, uma Macarena, uma Celine Dion cantando o tema do Titanic, uma Beyoncé se esgoelando e fazendo pose de stripper, uma Shakira rebolando pior que a Gretchen, um Restart que deveria ser reinicializado, um discurso de político...

52 / Revista Keyboard Brasil

põe uma bateria de escola de samba pra acompanhar um concerto de Mozart ou, então, tocam a Quinta Sinfonia de Beethoven numa rave. O pessoal acredita que basta colocar percussão de axé e bateria eletrônica que os jovens virão. Isso parece estratégia evangelística gospel de tocar funk e pagode com letra religiosa para atrair a moçada...

Nem todos os nossos leitores eram nascidos quando foi lançado o LP Hooked on Classics (foto), um disco com medleys dos trechos mais conhecidos das peças clássicas mais conhecidas tocadas por uma orquestra acompanhada de uma batida eletrônica de dance music ou balada romântica (era o tempo dos Bee Gees)!

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Por outro lado, música pop não deve ser entendida como sinônimo de coisa descartável (embora muita coisa o seja, felizmente).

Música pop não é feita só de sanduba com fritas e refrigerante. Tem uma dieta pop bem melhor. Pense em Stevie Wonder, Beatles, Bruce Springsteen, Michael Jackson, U2 (estou tentando escrever um nome brasileiro, mas não consigo ir além de Roupa Nova e Guilherme Arantes).

Se você sentiu falta de um artista mais contemporâneo nessa pequena lista, peço desculpas! Não consigo ir além dos anos 80.

O importante é que a música, seja clássica ou pop, não se torne adversária dela mesma. Rótulo é

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a cabeça dos compositores de música clássica e rendeu obras maravilhosas, do barroco ao moderno. Pense em VillaLobos, em George Gershwin, em Aaron Copland, em Manuel de Falla, em Bartók, em Chopin, em Schubert... E a lista não termina.

O disco pode ter fisgado alguma gente para a música clássica. Mas não sei se incentivou à escuta consciente das peças. Eu devia ter uns onze anos e lembro que eu gostava, mas meu professor de piano abominava. O Hooked on Classics de hoje é a mesma coisa que o André Rieu tocando o Bolero de Ravel. E agora sou eu que não consigo engolir isso.

Foto: Arquivo pessoal

Isso não significa que as fusões do “erudito” com o “pop” resultam sempre em obras pavorosas. Até porque o popular sempre rodeou

A única coisa que não dá para tolerar é o gosto musical dos outros num volume alto. Sou velho, mas não sou surdo!

– Joêzer mendonca

coisa da universidade ou do mercado, de gente que precisa dar nome aos animais para dissecá-los ou vendê-los.

Como ouvintes e apreciadores, temos somente que escutar, compreender e tolerar os gostos alheios. Aliás, educação e tolerância melhoram a convivência, produzem paz mundial e preservam os dentes. A única coisa que não dá

para tolerar é o gosto musical dos outros num volume alto. Sou velho, mas não sou surdo! * Joêzer Mendonça é mestre e doutor em Musicologia pela UNESP. É professor do curso de Música da PUC-PR e pesquisador as áreas de música popular e sacra. É autor do livro ‘‘Música e Religião na Era do Pop’’.

Revista Keyboard Brasil / 53

Especialista

MS-20 mini O clássico MS-20 recriado em tamanho mini!

O SINTETIZADOR MONOFÔNICO KORG MS-20, ORIGINALMENTE INTRODUZIDO EM 1978, É UM INSTRUMENTO CULTUADO ATÉ OS DIAS DE HOJE, GRAÇAS A SEU SOM ROBUSTO E ESPESSO, SEU PODEROSO E ICÔNICO CIRCUITO DE FILTRO ANALÓGICO E SUAS VERSÁTEIS OPÇÕES DE ENCAMINHAMENTO DE SINAL.

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o ms-20 possui Timbres agressivos, metálicos e mais sonoros!!!

– Fábio ribeiro

54 / Revista Keyboard Brasil

Júnior Rodrigues

Fábio Ribeiro, 45 anos, é produtor musical,

tecladista, pianista e guitarrista mas foi como tecladista que o músico se consolidou como um dos grandes nomes no Brasil.

Com passagens por bandas lendárias como A Chave Do Sol, Violeta de Outono, Angra e Shaman e, com uma carreira sólida desde a década de 80, Fábio é um exemplo de versatilidade na música e hoje vive uma nova fase com sua banda Remove Silence.

Endorser e especialista de produtos da Korg Brasil, Fábio Ribeiro apresenta todos os aspectos operacionais do MS-20 MINI em uma série de 8 vídeos tutorais. Para os entusiastas de sintetizadores analógicos e até mesmo para quem não conhece muito bem o produto, vale conferir esse material!

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Revista Keyboard Brasil / 55

Memória

Solar da Fossa Folhas Folhas de de sonho sonho no no jardim jardim do do Solar Solar - oo refúgio refúgio de de artistas artistas ee intelectuais intelectuais no no Rio Rio de de Janeiro Janeiro das décadas décadas de de 1960 1960 -- 1970 1970 * Marina Ribeiro

56 / Revista Keyboard Brasil

A história está se fazendo agora, neste exato momento. Se ela será relevante, se outros, no futuro, estarão interessados nela, isso é outra conversa. O fato é que, no momento em que se faz, na hora em que se vive, a história pode parecer bastante mundana.

Lá, naqueles dias, que se tornaram anos, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, os protagonistas não tinham ideia da repercussão que suas vidas teriam no futuro. No momento em que viviam suas inquietações, suas dificuldades, a pequenez de suas rotinas, seus medos e incertezas, sequer sonhavam que você poderia estar lendo, hoje, sobre coisas que aconteceram nos 7 anos em que existiu a pensão da Dona Jurema. Tão pouco valia o casarão, tão pouco interessante se julgou aquele pedaço de espaçotempo que se demoliu construindo sobre o terreno, um ícone da nova cultura: o shopping center. Que se consume o ato de consumir.

A trilha sonora é de Adoniran Barbosa: Saudosa Maloca. A maloca de Adoniran nem está no Rio de Janeiro, ela é paulista, mas não importa. O sentimento é o mesmo. De melancolia por um tempo e um lugar “dim donde nóis passemo dias feliz di nossas vida”.

Afinal é recorrente: o que passou nos parece sempre melhor, mais bonito e mais feliz.

O Solar da Fossa compunha um mix eclético de inquilinos. Eram prostitutas, jornalistas, travestis, músicos, bancários, escritores, carnavalescos, artistas, estudantes e revolucionários – um território livre de jovens inconformados e criativos que marcou uma época de muita luta, dureza e idealismo político. Lá, dona Jurema alugou apartamentos para jovens sem dinheiro como Tim Maia, Paulo Coelho, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Talma, Be y Faria, Ítala Nandi, Darlene Glória, Paulo Leminski, Antônio Pitanga, Marieta Severo, Aderbal Freire Filho, Lenny Dale, Milton Nascimento, José Wilker, Hélio Oiticica, Ruy Castro, entre outros. Só para se ter uma ideia, em seu pátio interno, canções geniais como Alegria, Alegria; Paisagem Inútil e Panis et Circenses foram criadas por Caetano Veloso; Marieta Severo e Chico Buarque se conheceram e se apaixonaram e Naná Vasconcelos realizava suas performances.

Solar da Fossa no bairro de Botafogo

Caetano Veloso

Gal Costa

Pátio interno do Solar: encontro dos jovens.

Revista Keyboard Brasil / 57

Na realidade, os tempos eram difíceis, de incerteza, de mudança, de medo e de ditadura militar em nosso país.

Alheio a tudo isto, o casarão onde

ficava a Pensão Santa Terezinha, seus dois andares e 84 quartos, sem saber, abrigou um bocado da história da cultura e da música popular brasileira de 64 a 71.

Caetano e Gilberto Gil fazem menção ao Solar na fantástica canção Panis et Circenses. Mandam plantar folhas de sonho em seus jardins. Não poderiam ser mais emblemáticos estes versos. Era uma época de procura, sobre a qual o sociólogo Edgar Morin preconizou: “serão precisos anos e anos para se entender o que se passou”.

A singela pensão atraiu moradores que buscavam independência. Jovens com pouco dinheiro que queriam sair da casa de seus pais e tentar a vida na cidade grande. Oferecia serviços inovadores, como faxina e troca de roupas de cama a preços convidativos e pagamento antecipado, o que eliminava a figura do fiador, mas isto nem de longe explica a feliz coincidência de trazer para baixo do mesmo teto nomes como Caetano Veloso, Gal Costa, Paulo Coelho, Paulo Leminski, Maria Gladys, Be y Faria, Ítala Nandi, Antônio Pitanga, Marieta Severo, Zé Kéti, Gutemberg Guarabyra, Abel Silva, Cláudio Marzo, Mauro Mendonça, Naná Vasconcelos, Paulo Diniz, Darlene Glória.

O local transformou-se em um caldeirão de criativos, em um momento em que, apesar dos perigos e do medo, 58 / Revista Keyboard Brasil

existia uma ânsia por experimentar. O compromisso não era com o consumo, mas com a descoberta. Em todas as áreas, tudo que se desejava eram novas formas de expressão, que significassem liberdade e quebra de padrões. Era o fim dos anos 60.

Experimentavam-se novas relações. As mulheres questionavam os valores do casamento “burguês”: monogamia, fidelidade, ciúme, virgindade.

Queriam deixar a condição de apêndice econômico do marido e partir para uma arriscada aventura de vanguarda. O carnavalesco Fernando Pamplona, vítima destes novos costumes, hospedou-se no Solar “curtindo a fossa” de sua separação.

Foi o que bastou para que a pensão Santa Terezinha ficasse conhecida pelo nome de Solar da Fossa.

Pronto. Estava definido o cenário.

E as histórias foram se sucedendo. Os registros são escassos, o trabalho mais completo sobre a vida no Solar é do jornalista Toninho Vaz. Sua pesquisa, mais de cem entrevistas com ex-moradores, resultou em um livro, que é a fonte primeira de informações (leia na página 7).

Foi ali que Chico Buarque conheceu Marieta Severo. Sá encontrou Guarabyra. E Gal Costa hospedou-se quando prestou vestibular sem um tostão no bolso. Precisou de um vale de garrafa de Coca Cola para comprar leite e um pedaço de bolo de fubá. Ali se esconderam os que fugiam da ditadura e do AI-5. Rolavam, entre doses de conhaque Dreher, performances de Naná Vasconcelos, e até filmagem do Cinema Novo: Luiz Carlos

Lacerda usou seu apartamento como set de Máscara de Traição. Era terreno fértil para artistas como Hélio Oiticica e Jards Macalé.

I n c l u s i ve p a r a a q u e l e s q u e n e m moravam lá, mas frequentavam quando

queriam trabalhar, namorar, conversar e ouvir música. Tinha de tudo. Rock com

O Solar da Fossa deu lugar a construção do Shopping Rio-Sul.

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[...] O carnavalesco Fernando Pamplona, vítima destes novos costumes, hospedouse no Solar “curtindo a fossa” de sua separa cão. Foi o que bastou para que a pensão Santa Terezinha ficasse conhecida pelo nome de Solar da Fossa.

Foto: Arquivo pessoal

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samba, parcerias inusitadas. Ali Caetano Veloso compôs a canção que inauguraria o Tropicalismo, Paisagem Útil, um ousado, irônico contraponto à canção de Jobim, Inútil Paisagem.

Paulinho da Viola conta: “Caetano acabou de cantar e ficou olhando para nossa cara, tentando ler nossa reação. (...) Ficamos achando estranho, pois já era a linguagem do tropicalismo funcionando”.

Mais tarde seria a vez de Alegria, Alegria.

E o próprio Paulinho compôs Sinal Fechado quando morava no Solar. Paulo Leminski começou a escrever seu famoso Catatau. Tudo girou em torno do novo, da produção cultural de vanguarda, da ousadia.

Em 72 acabava a história do Solar. Um dos últimos moradores, Paulo Romeu descreve seu sentimento de impotência frente à realidade: “Quando a demolição estava acontecendo atrás dos tapumes, a gente passava de ônibus e ficava imaginando os operários encontrando as malas enterradas com os livros proibidos, verdadeiros catecismos anticapitalistas. Tudo agora sacudido por retroescavadeiras e bate-estacas. Ironia do destino.”

Sim, ironia que se tenha erguido ali o templo do capitalismo. Eles venceram e o sinal está fechado para nós!

[Fontes: Zuenir Ventura e Toninho Vaz]

* Marina Ribeiro é profissional de marketing, atua em comunicação digital e e-commerce. Mantém uma loja virtual de roupas infantis e escreve por prazer. Geminiana, seu maior desafio é manter o foco.

Revista Keyboard Brasil / 59

Foto: Eduardo Rocha

Aconteceu

GAITEIROS

do

MUNDO

Luiz Carlos Borges e o francês Richard Galliano comandaram o espetáculo.

COM A PROPOSTA DE VALORIZAR O INSTRUMENTO E INSPIRADO EM FESTIVAIS INTERNACIONAIS, GAITEIROS DO MUNDO REUNIU ACORDEONISTAS DE DIVERSAS PARTES DO MUNDO EM PORTO ALEGRE. Júnior Rodrigues Um ícone da música regional do Rio Grande do Sul, a gaita, conhecida também como acordeom ou sanfona, foi reverenciada através da primeira

edição do projeto Gaiteiros do Mundo, idealizado pelo cantor, compositor e acordeonista Luiz Carlos Borges e inspirado por festivais similares ocorridos na Europa.

Patrono dessa primeira edição, o francês Richard Galliano recebeu, ao lado de Borges, vários nomes conhecidos: Paulinho Cardoso, Samuca, Guilherme Goulart, Bebê Kramer, Renato Borghetti, Jonatan Dalmonte, Edson Dutra, Luciano Maia, Willian Hengen e Daniel Hack (Os 60 / Revista Keyboard Brasil

Serranos), Chico Brasil e Varguinhas (Os Monarcas), além dos italianos Riccardo Taddei e Vince Abbracciante .

Depois, vieram homenagens a ícones como Chiquinho do acordeon, Albino Manique, Pedro Raimundo, Adelar Bertussi e Dominguinhos.

Com organização e produção impecáveis, Borges frisou que o objetivo do evento, além de colocar o instrumento em um lugar de destaque, transitando por todos os níveis musicais, do regional e folclórico ao popular e erudito, é transformar o instrumento musical em um símbolo do Estado do Rio Grande do Sul. Que venha a 2ª edição!!!