Revista Keyboard Brasil número 16

Revista

www.keyboard.art.br

Keyboard ANO 2 :: 2014 :: nº 16 ::

:: Seu canal de comunicação com a boa música!

Brasil

Descuido com a música: O vergonhoso estado de calamidade que se encontra a MÚSICA BRASILEIRA!

MELLOTRON: O pai do moderno SAMPLER!

Aconteceu: Os 10 anos da Festa Nacional da Música de Canela.

Para as crianças!

SALA SÃO PAULO apresenta: Série TUCCA - Aprendiz de Maestro!

A orquestra do Sargento Pimenta embalada pelos clássicos que revolucionaram o jeito de fazer e ouvir música!

EDUARDO BOECHAT O pianista que se redescobriu com a música na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil.

Índice

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06

20

MATÉRIA DE CAPA: Eduardo Boechat, o pianista do Bolshoi no Brasil

SUAS COMPRAS: Cds, DVDs e Livros

DICA TÉCNICA: Parte 7, por Mateus Schanoski

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EVENTO: Sala São Paulo apresenta: Série TUCCA - Aprendiz de Maestro

FALANDO SOBRE NOSSA MÚSICA: parte 15, por Heloísa Fagundes

38 REVOLUÇÃO MUSICAL: Mellotron, o pai do moderno sampler!

Expediente

35

36

ANÁLISE: Segredo das Cifras

TOQUE E APRENDA: Parte 11, por Maestro Marcelo Fagundes

50

46

CRÍTICA: O vergonhoso estado de calamidade que se encontra nossa música brasileira!

24 PONTO DE ENCONTRO: Por Luiz Bersou

ACONTECEU: Festa Nacional da Música de Canela 2014

Revista

Novembro/2014

Keyboard Brasil

Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical.

Diretor e Editor executivo: maestro Marcelo D. Fagundes / Chefe de Redação e Design: Heloísa C. G. Fagundes Caricaturas: André Luíz Silva Santos Fotos: N. Jardim / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte.

Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical. www.keyboard.art.br

Editora Musical

04 / Revista Keyboard Brasil

Enquanto isso, em Stel

la Maris, na Bahia...

Editorial Heloísa C. G. Fagundes - Publisher

Em Estella Maris, na Bahia: presente da Revista Keyboard Brasil para Guilherme Arantes — capa de Outubro, com nosso colaborador e Mateus Schanoski esbanjando alegria em saber, pelo grande músico, que foi sua melhor entrevista!

Esse mês, a Revista Keyboard Brasil vai sortear para seus leitores os Cds: Piano Solos e Condição Humana, de Guilherme Arantes.

Fiquem ligados!!!

Belíssima publicação! O mercado editorial voltado à nossa área precisava desse bom sopro. Conte com o meu apoio sempre que precisar!

Marco Bernardo, pianista (comentando sobre a matéria Brasil em Dois Pianos apresentação do pianista e de Fábio Caramuru, na Sala São Paulo) – via facebook Ótima entrevista!! Parabéns Mateus Schanoski pelas excelentes perguntas também!

André Mello – via facebook.

Muito boa e bem conduzida a entrevista com Guilherme Arantes – esse gênio da música brasileira!

Késia Machado – via facebook.

Excelente entrevista!

Antônio Marcos D' Ávila – via facebook.

Parabéns meu querido Guilherme Arantes! Muito merecida! Bela reportagem!

Regina C. Ramos – via facebook.

Excellent publication!

Doutora Kim Schur – Membro do Conselho de Administração do Center for Hearing and Communication (Centro de Audição e Comunicação) de Fort Lauderdale, Flórida – por email.

Começo esse espaço agradecendo a todos pelo carinho e reconhecimento de nosso trabalho através das mensagens recebidas. Novembro é um mês muito especial para a Revista Keyboard Brasil. É o mês em que se comemora o DIA DO MÚSICO e, por isso, queremos parabenizar a todos aqueles que escolheram a música como profissão. Espero, sinceramente, que nossa edição de novembro corresponda novamente às expectativas dos ansiosos por boa leitura, pelo prazer em aprender algo novo, interessante e, por que não, importante, que é a MÚSICA! Feliz dia do músico! E, para não perder o costume: ótima leitura e fiquem com Deus!

Espaço do Leitor Nunca tinha ouvido falar de Wanda Jackson! A Revista Keyboard Brasil está me surpreendendo com matérias excelentes! Precisávamos de uma publicação desse nível!

Carla Fernanda Bicudo, por e-mail.

Adorei a matéria de Halloween! Músicas escolhidas a dedo completaram o texto!!!

Emiliano Q. Dória – por e-mail.

Não imaginava o que os pianistas sofriam naquela época. Muito boa reportagem!

Stella Spinelli, por e-mail.

Gostaria de adquirir todos os exemplares da Revista Keyboard Brasil. Como posso conseguir?

Robson Daniel, por e-mail.

Gostaria de saber como posso receber as edições da revista impressa em minha casa (sem ser baixar no site) pois sou professor e vocês tem um conteúdo muito bom para eu transmitir para meus alunos.

Um abraço e obrigado.

Gilney Silva Oliveira , por e-mail.

Prezados leitores, Nossa revista é digital e gratuita. Porém, estamos recebendo muitos pedidos para também disponibilizá-la em papel. Atualmente, seu custo e as taxas para postagens tornaria a Revista inviável para nossos leitores. Grandes anunciantes poderiam se tornar parceiros nessa empreitada. Quem sabe, ao ler esse pequeno desabafo, um deles não se sensibiliza e entra em contato? Assim, poderemos transformar o sonho de muitos em realidade!

Revista Keyboard Brasil / 05

Suas Compras

Demonstrando uma preocupação com o aparente desinteresse atual pelo gênero e pelo livro, qualquer livro, a mensagem na contracapa “Feito por roqueiros apaixonados, transmite o legado de amor ao Rock às próximas gerações”, torna o livro Classic Rock by Kiss FM, uma ferramenta importante para reacender a chama.

Criação coletiva da equipe de jornalistas, apresentadores e produtores da emissora paulista, o livro, editado pela Universo dos Livro nos fornece um breve passeio pela história do Rock. Com um projeto gráfico simples, mas bastante eficiente, misturando pequenas análises introdutórias de cada fase e cada subgênero com biografias rápidas dos principais artistas, linhas do tempo com a evolução e o surgimento de bandas, a obra apresenta, também, relatos pessoais, curiosidades de bastidores, polêmicas, episódios marcantes e alguns até engraçados, além da trajetória da rádio que é sinônimo do verdadeiro Rock and Roll.

06 / Revista Keyboard Brasil

Com uma mistura de Bossa Nova moderna e letras em português, inglês e francês, Bebel Gilberto, filha de João Gilberto e Miúcha, e sobrinha de Chico Buarque, lança seu novo disco, Tudo, após cinco anos sem gravar em estúdio.

Produzido e mixado em Los Angeles por Mário Caldato Jr. e lançado pela Sony, o novo álbum traz 12 faixas, entre composições originais, releituras (de Tom Jobim, Luiz Bonfá, Neil Young) além de duetos com Adriana Calcanhoto, Seu Jorge e Pedro Baby.

Escutar o álbum de estreia de De Brito traz a sensação de estar andando sozinho, à noite, por ruas vazias.

São sete faixas melancólicas, densas, mas que, ironicamente, trazem a sensação de tranquilidade. Com influência de artistas como Tom Waits, Bob Dylan e Leonard Cohen, as músicas flertam com Rock, Blues, Jazz e Folk americano.

Quem está por trás do trabalho é o artista independente Sérgio Brito, 26 anos, que leva no nome a única semelhança com o cantor do Titãs. Roteirista por formação, músico por amor e intenso por nascença, Sérgio gosta de ouvir histórias, assistir a cenas cotidianas e fantasiar detalhes. O disco foi gravado e mixado no NaCena, um dos maiores estúdios do Brasil, por onde já passou gente como Seu Jorge, Ed Motta, Roberta Miranda, Dominguinhos, Rogério Flausino, entre outros. Ouça De Brito clicando em https://soundcloud.com/de_brito

Revista Keyboard Brasil / 07

MatĂŠria de Capa

08 / Revista Keyboard Brasil

Eduardo Boechat O PIANISTA QUE SE REDESCOBRIU COM A MÚSICA NA ESCOLA DO TEATRO BOLSHOI NO BRASIL COMPOSITOR, PIANISTA, ENSAÍSTA E PRODUTOR MUSICAL DA ESCOLA DO TEATRO BOLSHOI NO BRASIL, O CARIOCA EDUARDO BOECHAT É UM DOS POUCOS PROFISSIONAIS QUALIFICADOS NO BRASIL A ACOMPANHAR AS AULAS E ENSAIOS DE BALLET AO PIANO. Heloísa C. G. Fagundes

Ao longo da história da música, a figura do pianista acompanhador é parte integrante de diversas formações musicais, seja junto a cantores ou atuando em diversas áreas, como as instituições de ensino de música (desde cursos básicos a ensino superior), corais, grupos de dança, entre outros.

Ganhando destaque no cenário musical como pianista acompanhador de ballet encontra-se Eduardo Boechat – compositor, pianista, ensaísta e produtor musical da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil.

Natural do Rio de Janeiro, Boechat começou a tocar piano com sete anos de idade, por influência e apoio da família, apaixonando-se pelo instrumento. Formouse bacharel em música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) conquistando o diploma de dignidade acadêmica “Magna cum Laude”, em 1999. Em 2001, foi aprovado para integrar o seleto grupo de pianistas da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, além de aperfeiçoar suas habilidades realizando estágios no Teatro Bolshoi de Moscou, na Rússia. Seu trabalho na escola brasileira vai da criação de trilhas para coreografias e trabalhos à responsabilidade técnica pelo áudio, além de acompanhar as aulas e ensaios ao piano. Através de seu talento, empenho e dedicação, Eduardo passou a atuar ao lado de renomados profissionais – tanto no Brasil quanto no exterior – entre eles: Cecília Kerche, Vladimir Vasiliev, Peter Breuer, Natalya Osipova e Ekaterina Krysanova. Compositor, Eduardo lançou CDs para aulas de balé, além de um DVD. Confira, a seguir, uma entrevista especial.

Revista Keyboard Brasil / 09

e n t r e v i s t a

Uma dupla em sintonia: Cecília Kerche – primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e Embaixatriz da Dança e o pianista Eduardo Boechat.

Revista Keyboard Brasil: Seus estudos musicais iniciaram-se muito cedo – aos sete anos. Com essa idade, você já começou com o piano ou estudou outros instrumentos musicais?

Eduardo Boechat: Inicialmente, muito obrigado pela oportunidade de poder falar um pouco mais sobre meu trabalho e minha carreira. Comecei nas aulas de Musicalização/Educação Musical na préescola, onde se aprendia a tocar – de maneira bem primitiva e com foco apenas em ritmo – alguns instrumentos infantis como tambores, flauta doce e a gaita que, até o início dos meus estudos de piano, era meu instrumento preferido. Vivia tocando em casa. Depois, na escola primária, no Colégio Marista São José, no Rio de Janeiro, toquei trompete na banda escolar.

Finalmente, na faculdade estudei órgão e trompa – como instrumentos complementares – mas o piano sempre foi meu instrumento principal.

10 / Revista Keyboard Brasil

Revista Keyboard Brasil: Sua família sempre o apoiou nessa escolha?

Eduardo Boechat: Sempre! Minha mãe sempre quis estudar piano, mas a vida difícil e a falta de tempo, impediram-na de realizar esse sonho. Meu Pai não tinha veia musical, mas sempre foi um amante da música em geral, principalmente ópera. Apoiava minha mãe em seu sonho e, por isso deu, como presente de noivado, um piano. Esse foi o instrumento que me acompanhou por vários anos. Logo que demonstrei interesse em dedilhá-lo, me colocaram para fazer aulas particulares, pois aquelas aulas de musicalização em grupo já não eram suficientes. Durante toda a minha vida musical precisei de apoio, seja na vigilância dos estudos, pelo apoio financeiro para compra de partituras (as melhores edições, sempre importadas) e para o pagamento das aulas particulares semanais. Muito investimento da parte deles, o que eu agradeço muito.

O bailarino e coreográfo Peter Breuer – diretor da companhia austríaca de ballet do Teatro Salzburger Landestheater e Eduardo Boechat. No destaque, as primeiras aulas no piano da mãe.

Revista Keyboard Brasil: Conte-nos sobre a relação entre você e o piano.

Eduardo Boechat: Na casa onde nasci já tinha piano. Então, posso dizer que o piano é meu companheiro de toda uma vida e, se Deus quiser, será até o fim.

Desde minha infância, na época do colégio, já marcava presença nas sessões lítero-musicais que o Colégio Marista São José organizava. Durante a vida toda aonde eu ia, fosse com amigos ou familiares, e tivesse um piano, era certo que teria recital (risos)!! Confesso que nem sempre eu gostava mas, no final, o reconhecimento do público me deixava muito feliz. Também confesso que nem sempre a relação com o piano foi de amor.

Em muitos momentos foi de ódio! (risos).

Mas explico: o estudo do piano erudito requer muita dedicação e disciplina.

Então, muitas vezes queria não ter de estudar. Quando se tem a faixa-etária de 7 a 12 anos, ninguém quer deixar de brincar para estudar. Mas agradeço hoje esse

apoio e insistência dos meus pais, principalmente da minha mãe, pois sou muito realizado no que faço e posso usufruir de uma base que graças a Deus pude ter.

RKB: Quais são seus compositores eruditos preferidos?

EB: Wolfgang Amadeus Mozart, em primeiro lugar, desde a infância até hoje.

Depois, gosto de vários compositores, pois cada um tem um estilo diferente e tem muita música boa para ser tocada e ouvida, mas destaco: Johann Sebastian Bach, Ludwig Van Beethoven, Frederic Chopin, Robert Schumann, Claude Debussy e os russos, que aprendi a admirar mais e ter um contato maior, depois que entrei no Bolshoi: Peter Tchaikovsky, Serguei Rachmaninov, Dmitri Shostakovich e Serguei Prokofiev.

RKB: Quando não está trabalhando, o que gosta de ouvir?

EB: Gosto de ouvir de tudo um pouco. A Revista Keyboard Brasil / 11

Alunas da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, a professora Galina Kozlova e o pianista Eduardo Boechat.

maior parte do dia estou lidando com música erudita, seja tocando, estudando ou mesmo ouvindo. Sobra pouco tempo para escutar música por prazer. Então, geralmente escuto músicas mais animadas (Eletrônica, Hip Hop ou Pop) indo para a academia ou no carro. Em viagens, escuto músicas mais relaxantes (orquestrais ou trilha sonoras de filmes, ballets e espetáculos) que servem para me inspirar e perceber detalhes e ideias novas. Muitas vezes, as ideias de um clipe que faço ou de uma música que crio vem num momento desses.

RKB: Conte-nos sobre sua trajetória pianística até chegar a carreira de pianista de ballet.

Ebt: Estudei com diversos professores, todos muito importantes na minha formação, começando por Regina Lacerda, grande organista brasileira que foi minha primeira professor, aos 7 anos de idade. Depois, dos 8 aos 11, a professora Edir Botelho, passando pelo professor Homero Capatti, dos 10 aos 12 12 / Revista Keyboard Brasil

anos. Dos 13 aos 16 interrompi meus estudos retomando, aos 17 anos, com Ondine de Mello, professora de vários talentos brasileiros (inclusive, durante um tempo, professora de meu professor Homero Capatti). Depois, estudei com o professor Telmo Côrtes, dos 20 aos 24 anos. Tive outros mestres, em períodos mais curtos, porém constantes, como a professora Maria Teresa Leidesnaider e Maria Teresa Soares, além de participar de Festivais e Masterclasses como a do professor russo Serguei Dorenski. Me formei na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1999. Lá, estudei com dois professores, Nadge Breide e Maria Aparecida – a querida professora “Cotinha”. Minha carreira estava direcionada para uma outra área, a de pianista concertista, tocando em recitais e concertos com orquestra pelo mundo. Mas, em um determinado momento, resolvi abandonar tudo e me afastei do piano. Neste período todo de estudo, já estava tocando em aulas de ballet na Escola Estadual de

Danças Maria Olenewa, na cidade do Rio de Janeiro. Porém, o que me trouxe de volta ao mundo da música foi o convite para ser pianista na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville (Santa Catarina).

RKB: Em nosso país, são muito poucas as referências sobre a profissão de pianistas atuantes no ballet. Enfrentou dificuldades ao longo de sua carreira? Quais?

EB: No início, não tinha nenhuma referência pois, no Brasil, poucas escolas de ballet oferecem aulas com piano ao vivo, e o pianista de ballet precisa ser qualificado para esta tarefa difícil que é o acompanhamento de aulas e ensaios de ballet ao piano. Outra dificuldade é a escassez de material publicado para os pianistas, as partituras para essas aulas!

Quando entrei na Escola Bolshoi, só tinha dois livros. Com meu empenho em buscar

novas músicas, contei com o auxílio de colegas, de professores russos que traziam músicas de Moscou e, assim, fui formando meu repertório.

RKB: Como surgiu a oportunidade de trabalhar como pianista para a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil?

EB: Na época, em 2001, não estava trabalhando com música, pois as dificuldades da carreira de um músico erudito no Brasil tinham me atingido e, pensando na pouca possibilidade de se viver de música em meu país, abandonei o piano por um tempo e fui para a área da informática, trabalhando numa empresa que criava e gerenciava websites de grandes empresas. Um dia, recebi uma ligação do então Coordenador Musical da Escola Bolshoi, o Maestro Sérgio Barbosa, do Rio de Janeiro, dizendo que haveria uma seleção de pianistas para a Escola Bolshoi.

Resolvi fazer a prova de seleção lá na

Além de pianista, ensaísta e compositor, Eduardo também trabalha como sound designer na Escola Bolshoi.

Revista Keyboard Brasil / 13

Escola de Música da UFRJ, onde me formei.

Fui o único que passou naquela ocasião!

RKB: Conte-nos sobre seu trabalho como pianista nas aulas de ballet. A contagem e o repertório diferem muito do tocar piano de maneira tradicional?

EB: A maneira de tocar é a mesma tradicional, postura e técnica que cada um já tem, o que

difere é a maneira de pensar musical.

A música no ballet serve ao movimento do bailarino e à ideia do professor. Geralmente, as músicas das aulas tem contagens de múltiplos de 8 compassos.

No método russo, o Vaganova, as combinações de aula sempre fecham um “quadrado” múltiplo de 8: frase de 16 compassos + frase de 16 compassos, 32 + 32 , 16 + 8 ou 32 + 16, entre outras possibilidades. Fora isso, cada movimento na aula tem seu andamento, compasso (2/4, 3/4, 6/8, 4/4, …), caráter e acento.

(1) Cartaz do Ballet Elements, na Áustria.(2) Eduardo Boechat e o ‘‘bailarino do século’’ , título recebido pela UNESCO ao russo Vladimir Vasiliev. (3) CD Ballet Class, em parceria com a bailarina Cecília Kerche. (4) DVD Dança a Caráter: 1º Ano, em parceria com Galina Kravchenko.

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RKB: As faculdades de Música no Brasil oferecem aulas especializadas para quem procura o trabalho específico com danças ou existem lugares que oferecem treinamento especializado para pianistas que desejam trabalhar com ballet? Como você se preparou?

EB: Não tenho conhecimento que exista faculdade que ofereça aulas especializadas para pianistas que acompanham ballet, infelizmente. Podem haver cursos esporádicos, mas nada muito divulgado. A “minha faculdade” e, acredito que a de vários de meus colegas, foi o “Curso Intensivo” que recebemos do pianista Aleksander Ksendzovsky, que tem mais de 40 anos como pianista do Teatro Bolshoi de Moscou e já

Professor Jair Moraes e o pianista Eduardo Boechat em aula com a Cia. Jovem Bolshoi do Brasil (alunos: Marcos Vinícius, Diego Cunha, Thais Morato, Leonardo Silveira, William Almeida, Karine de Matos e Luan Carlos).

tocou quase que todo o repertório de Ballet do Bolshoi russo. Ele frequentava a aula que tocávamos e fazia considerações sobre cada movimento da aula, isso quando não nos socorria em algum movimento que ainda não conhecíamos.

Depois, tinham laboratórios (aulas) com ele, individualmente, para trabalhar toda a intenção de cada movimento onde Aleksander explicava o por quê de cada nota. Os professores de ballet dos quais já tive a oportunidade de trabalhar sempre acrescentaram alguma coisa em minha vivência, se tornando minha faculdade.

Além desses fatores, tive a oportunidade de realizar dois estágios no Teatro Bolshoi de Moscou, um em 2009 e o outro em 2011, onde toquei em aulas para bailarinos de lá.

RKB: O senso de fraseado, respiração, tensão e silêncio, a intenção do movimento, da expressão, do sentimento são todas características da linguagem da dança e da música. De uma forma equilibrada, ambas são respeitadas e perfeitamente compatíveis, mesmo tendo suas regras próprias. Como se dá o

trabalho entre você – pianista – e o professor de ballet, onde há termos musicais, vocabulários técnicos, nomes de passos e movimentos específicos?

EB: O trabalho com o professor de ballet é um caso a parte de tão especial. A tarefa do bom pianista de ballet, coisa que não me considero ainda, pois tenho muito o que aprender já que é um terreno muito fértil e cheio de possibilidades, é transformar em realidade a ideia do professor em cada movimento, através de suas dicas, como marcar a combinação antes, cantando rudimentarmente ou mesmo apenas contando para dar a sensação de acento, andamento e ritmo que ele imagina e quantos “quadrados" serão necessários para que a música feche exatamente no final da combinação, sem sobrar nem faltar música, e que a música escolhida ou improvisada “caiba” para essa combinação. Alguns professores gostam de pedir para que o pianista toque a música que está em mente para ver se vai dar certo e, muitas vezes, dão instruções como acelerar ou alterações de andamento durante a execução da música, aí uma das importâncias do fato de que o pianista de Revista Keyboard Brasil / 15

ballet preferencialmente toque sem usar partituras (desligando os olhos das mesmas) para que possa olhar para o professor e para os bailarinos no momento em que está tocando. Muitas vezes, esse casamento não acontece e a música não combina com o passo. Aí, o professor dá novas instruções e, na segunda tentativa, já se resolve. É uma espécie de telepatia, com certeza, pois nos comunicamos apenas com um olhar. Os termos usados são sempre nomenclaturas de ballet, em francês, e quando o professor é russo, muitas vezes as indicações de rápido e lento entre outras, acontece em russo! No início, a gente se assusta um pouco, mas depois se acostuma e começa até a entender algumas palavras russas.

RKB: Podemos afirmar que o bom resultado de todo o trabalho que leva à formação de um bailarino profissional é, de certa forma, partilhado pelo ensino rigoroso da técnica por parte do professor de ballet e pelo excelente desempenho oferecido pelo pianista? Explique-nos por que nas grandes companhias de ballet o trabalho do pianista é fundamental para os bailarinos.

EB: A importância do pianista nas companhias de dança pelo mundo se dá pelo fato de quando existe um pianista tocando e não um CD, as possibilidades são infinitas. Já com um CD, a música é aquela sem possibilidades de alterar andamento entre outras nuances. Isso porque, no momento da aula, no momento do ensaio de repertório, quando o bailarino está aprendendo a coreografia, o pianista pode tocar mais lento e, pro16 / Revista Keyboard Brasil

gressivamente, acelerando, conforme a evolução do bailarino e, também, pelo fato de o pianista poder olhar para o bailarino e tocar exatamente no momento de um determinado movimento que peça aquele som. No CD, quem se adapta é o bailarino, e nem sempre acontece o sincronismo necessário.

RKB: Além de pianista, você exerce outras atividades na Escola do Teatro Bolshoi do Brasil? Quais?

EB: Além de pianista da Cia. Jovem Bolshoi, que é o grupo de profissionais que foram alunos da Escola, realizo trabalhos de sound designer, responsável por editar e masterizar todo o áudio de apresentações da Escola Bolshoi e da Cia. Jovem, e estando em praticamente todas as apresentações da Escola e da Cia. Jovem, tive a oportunidade de estar em várias cidades do Brasil e, em apresentações internacionais, como em Ravello, na Itália e Montevidéo, no Uruguai, ambas em 2010, e Schaffhausen, na Suíça e Asunción, no Paraguay, em 2013. O trabalho de edição, geralmente consiste em montagens e adaptações de andamento para a música ficar confortável para o bailarino. Um trabalho feito ao vivo com o bailarino presente executando o movimento. Na Escola Bolshoi já trabalhei com vários bailarinos do Teatro Bolshoi de Moscou e montei a trilha sonora de 3 ballets do bailarino Vladimir Vasiliev na Escola: Suíte do Ballet “O Quebra Nozes”, do ballet “Don Quixote”, do ballet “Giselle” e, agora, do ballet completo “O Quebra Nozes” com estreia prevista para o dia 26 de novembro desse ano, no

Centreventos, na cidade de Joinville, em Santa Catarina – o mesmo palco do Festival de Danças de Joinville, com a presença de Vladimir Vasiliev. Na Escola Bolshoi, também produzo os vídeos das apresentações, além de lançá-los no canal da Escola Bolshoi do Youtube. Também faço fotografias e sou colaborador da página da Cia. Jovem Bolshoi no Facebook.

elaborar a trilha musical de seu ballet “Elements” (Elementos). “Elements” é um ballet sobre os elementos da natureza: terra, fogo, ar e água. Nele, compus algumas músicas, fiz sua edição de áudio e fui o responsável pela montagem desta trilha. A música composta para a parte do elemento água surpreendeu a plateia austríaca. Confiram o trecho do pas de deux do elemento Água neste link: http://www.youtube.com/watch?v=0hCJj4oT_JA

RKB: Conte-nos sobre seu trabalho como compositor.

EB: No campo da composição, o trabalho começou com as aulas de ballet, onde improvisamos e criamos músicas para se encaixarem aos movimentos. Inicialmente, criei algumas músicas para coreografias de dança contemporânea, na Escola Bolshoi mesmo, para coreógrafos como Cosme Gregory, Amarildo Cassiano, Erika Rosendo, entre outros. Essas composições são digitais, feitas no software Logic Pro e elaboradas por mim, durante todo o processo. Eu gravo, edito, masterizo e finalizo, mesmo nas músicas orquestrais onde toco cada instrumento da orquestra separadamente, para soar como uma orquestra real. Hoje em dia, com a evolução dos samplers e muito trabalho de edição focado nos detalhes de cada instrumento, se consegue um som muito perto do som de uma orquestra real, pois esses samplers emulam os instrumentos e suas particularidades com muita fidelidade. A oportunidade mesmo de fazer o primeiro trabalho de composição se deu quando o coreógrafo e diretor do Ballet de Salzburger Landestheater, em Salburgo, na Áustria, me convidou para

Depois, continuei fazendo trabalhos pequenos aqui no Brasil, até ser convidado novamente para fazer meu segundo ballet, de Peter Breuer, dessa vez “Marie Antoinette” (Maria Antonieta) contando um pouco da vida da Rainha da França (de 1774 a 1792), revolucionária para a época. Então, dessa vez, abusei dos sons de cravo e instrumentos de época para criar o clima de século XVIII europeu e, com isso, as surpresas foram transformar dois clássicos em ritmos atuais. Primeiro, uma música de Franscois Couperin, compositor do barroco francês, que se transformou em Jazz com uma linha de “Walking Bass”, muito interessante, e um solo de trompete real – gravado ao vivo por mim, com o trompetista de Joinville, Garga Gonzaga, dando um toque todo especial trazendo vida ao som digital. A segunda surpresa foi transformar o Minueto de Boccherini em Hip Hop, ambas músicas para cenas de festa no Palácio que Maria Antonieta realizava naquela época.

RKB: Quais seus planos futuros?

EB: Planos futuros tenho muitos! Mas cada passo de cada vez. Trabalhei minha ideia até virar realidade, formalizando Revista Keyboard Brasil / 17

minha produtora, a Boechat Records, transformando em empresa. Lancei, pela Boechat Records, um CD em 2013, em parceria com a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Cecília Kerche e, em 2014, lancei um box contendo um DVD e um CD, em homenagem à professora russa Galina Kravchenko, Dança a Caráter - Primeiro ano, material que tem no elenco seis bailarinos da Cia. Jovem Bolshoi e a professora Galina explicando cada movimento da aula. Material realmente precioso, pois a professora dançou por mais de 20 anos papéis de dança a caráter no Teatro Bolshoi de Moscou sendo, portanto, conhecedora do assunto. Agora pretendo lançar mais CDs e DVDs pela Boechat Records, continuando no mercado de CDs para aulas de ballet, que é um mercado escasso, e onde um CD novo é sempre bem vindo e pedido pelos professores.

Contudo, gostaria também de trabalhar em outras áreas ministrando, por exemplo, workshops para pianistas que desejam aprender a tocar para aulas de ballet.

Tenho ideias em estudo com o coreógrafo e diretor do Salzburger Ballet, Peter Breuer para novos trabalhos. Em meus planos, também está a ideia de estudarmos uma maneira que eu possa participar mais ativamente da Revista Keyboard Brasil, quem sabe aumentando o catálogo de partituras do site da revista, com partituras de ballet? É uma ideia a se pensar!

RKB: O foco da Revista Keyboard Brasil é o mundo das teclas. Somos uma revista 18 / Revista Keyboard Brasil

pioneira no mercado digital e totalmente gratuita. Poderia nos deixar sua opinião a respeito de nosso trabalho?

EB: Valorizo muito o trabalho da Revista Keyboard Brasil, pois é um trabalho ao meu ver Único! Proporcionar informação de qualidade, anúncios interessantes da área musical e curiosidades do mundo das teclas gratuitamente é realmente uma coisa que nunca tinha visto antes.

Parabéns à toda a equipe da Revista Keyboard Brasil e um grande abraço a todos os leitores!

RKB: Parabéns pelo excelente trabalho que vem realizando e sucesso sempre!

EB: Eu que agradeço a vocês da Revista Keyboard Brasil pela oportunidade de poder mostrar um pouquinho mais do meu trabalho e pela honra de conceder essa entrevista, desejo muito sucesso para vocês e para a parceria entre a Revista Keyboard Brasil e a Boechat Records.

ServiCos Os interessados em adquirir os Cds e o DVD de Eduardo Boechat podem enviar um email para boechatrecords@gmail.com Assista aos vídeos das apresentações da Escola Bolshoi Brasil no canal do Youtube: Acesse a página da Cia. Jovem Bolshoi B r a s i l n o Facebook: Assista aos vídeos da Boechat Records no Youtube:

- aula 7 Fotos: Acervo pessoal

Dica Técnica

APLICAÇÃO DE ESCALAS PENTATÔNICAS No exemplo 1, temos 2 tipos de escalas pentatônicas de Am. Vamos ver algumas variações destas mesmas pentas e quais outras pentas de outros tons poderemos usar em cima do mesmo acorde de Am: PENTA BLUES BEBOP: É a escala penta blues de Am, acrescentando a nota sol#.

Ou seja, além da sétima menor, você também tocará a sétima maior.

PENTATÔNICA DE GM em cima do acorde de Am, que pode ser entendido como o segundo acorde da escala de GM. Ou seja, modo dórico, então pode se usar esta penta. O mesmo acontecerá com a penta blues de GM. Veja os exemplos.

Faça o mesmo transformando esta penta blues de G em penta blues Bebop, acrescentando as sétimas menor e maior.

Dessa maneira você estará tocando as

Exemplo 1 Pentatônica Am

Penta Blues Am

20 / Revista Keyboard Brasil

* Mateus Schanoski

tenções, VIm e VIM de Am. A PENTATÔNICA E PENTA BLUES DE AM, podem ser tocadas também, em cima dos acordes dominantes: A7, D7 e E7.

Estas duas últimas escalas, são apenas um outro exemplo para o tom maior de A, pode ser tocada em cima de acordes dominantes ou AM7. Escala pentatônica e pentablues de AM. Você também pode acrescentar a VIIM destas escalas, transformando-as em Bebop.

Para transformar uma escala maior em penta, elimine os IV e VII graus da escala. Para transformar em Penta Blues, acrescente a IIIm, está é a Blues Note. Para transformar uma escala menor em penta, elimine os II e VI graus da escala.

Para trasformar em Penta Blues menor, acrescente a V diminuta.

Aula 7 Pentatônicas

Mateus Schanoski

Variações Penta Blues Bebop Am

Pentatônica GM

Penta Blues GM

Penta Blues Bebop GM

Pentatônica Am

Penta Blues AM

Penta Blues Bebop AM

Treine bastante e divirta-se.

Não se esqueça de ver as aulas das edições anteriores. Até a próxima edição. ABRASOM!

ASSISTA AO VÍDEO:

CONTATOS:

* Mateus Schanoski é graduado em Piano Erudito (Conservatório Bandeirantes), Piano Popular (CLAM e ULM), Teclado e Tecnologia (IT&T). É tecladista, pianista, organista, sideman, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

Revista Keyboard Brasil / 21

Ponto de Encontro... da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor, Prazer e Negócios

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PACTOS SOCIAIS

de

AS ORQUESTRAS QUE SE FAZEM NECESSÁRIAS PREFERIR SOLUÇÕES FÁCEIS É ASSINAR A PERDA DE LIBERDADE DO CIDADÃO. A SOCIEDADE BRASILEIRA NÃO SE DEU CONTA AINDA DESSA QUESTÃO TÃO GRAVE... * Luiz Bersou Vivemos um momento de sociedade em crise e país dividido. Sociedade em crise pelo contínuo processo de desindustrialização, pelo fracasso no ensino, na saúde, segurança, nas contas públicas e na condição competitiva do país.

24 / Revista Keyboard Brasil

Agora, além de estarmos em crise,

estamos claramente divididos.

Claramente os que trabalham e pagam impostos estão de um lado e os que vivem de subsídios estão do

outro. O ciclo maldito dos subsídios não se encerra nunca, pois não há interesse. Como está dá mais votos.

Os países que hoje formam o conjunto das nações do chamado primeiro mundo têm algo em comum na sua história. Ao longo dos séculos eles tiveram a experiência da luta por Pactos Sociais sempre baseados nos chamados Projetos Estruturantes.

Pelos Pactos Sociais eles escreveram os princípios e fundamentos da Nação. Lutaram por isso porque houve muito sofrimento. A dor os levou à união, à luta e à busca de objetivos nobres. Nada foi fácil na vida deles. Por esses princípios e fundamentos eles criaram sociedades de conhecimento.

As sociedades de conhecimento os levaram à qualidade de vida – segura e próspera. O trabalho é reconhecido e gera os frutos decorrentes deles. Importante: trabalho é o fundamento nobre da sociedade.

Todos devem trabalhar e estudar.

Nos vem, então, uma questão estratégica. Por quais razões essas nações conseguiram levar em frente os pactos sociais que os dignificaram e por quais razões não se

consegue esse efeito no Brasil?

Tenho estudado os diferentes governos desde Getúlio Vargas. Somos, desde

sempre, uma sociedade que não enfrenta de frente os problemas que nos afligem. Abrimos mão desse enfrentamento. Cabe aos outros – governo, resolver.

Como não resolve, os problemas se eternizam.

A solução política de curto prazo sempre se

sobrepõe à solução estrutural. Sempre procrastinamos as soluções verdadeiras. Sempre preferimos as soluções fáceis. Foi o que agora fizemos, mais uma vez.

Vivemos um país em que os governos se apresentam como provedores de tudo, que pensam pelo povo, dizem que o povo não precisa pensar, pois ele faz isso por todos.

Interferência excessiva na vida da sociedade. Perda de liberdade do cidadão que não se dá conta dessa questão tão grave.

Eu me lembro muito bem em debates sobre o Plano Real ter dito que ele funcionou e trouxe os resultados benéficos que se esperava porque a sociedade o quis. A sociedade estava exausta da inflação e entrou no jogo do Plano Real. Queria uma solução e contribuiu para isso.

Algo parecido precisa acontecer agora. Nós precisamos que a sociedade queira um país competitivo e não subordinado a ideologias milagreiras que propõem resolver nossos problemas por promessas e não por trabalho.

Para isso, precisamos começar a construção de um Pacto Social. Essa construção começa em casa, com cada um, quando pessoas se encontram e se propõem a fazer algo de bom. Esse debate precisa envolver todos, empresários, entidades de classe e, nesse envolvimento, precisamos definir o que queremos para a nação.

A orquestra sinfônica é um exemplo muito bem acabado da Revista Keyboard Brasil / 25

Foto: Arquivo Pessoal

Programação cultural gratuita

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12ª EDIÇÃO DO ENCUN Encontro Nacional de Compositores na Praça Victor Civita sábado - 8 de novembro 15h Carlos Issa

Anarquitetura

(Eletrônica ao vivo)

Nunzio-Porres (Alexandre Torres Porres: eletrônica e Mário Del Nunzio: guitarra)

Verjault (Verjault: baixo e eletrônica)

4zero4 (Fred Fonseca: acordeom, baixo, calimba, eletrônica e teremim; Robert Anthony: eletrônica, guitarra, teremim, violão; Stanley Palmeira: eletrônica e percussão; Yago Franco: didjeridu, eletrônica e flauta)

domingo - 9 de novembro 15h PatchShop Orchestra GEXS

Brinks

(Alex Pacheco, Esteban Viveros, Gabriel Madeira, Joceles Bicalho, Marcus Neves: instrumentos eletrônicos diversos)

Luiz Eduardo Galvão & Flávio Lazzarin

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Local: Rua Sumidouro, 580 Pinheiros - Zona Oeste

~ [.. ] Sempre preferimos solucoes faceis. Foi o que agora fizemos, mais uma vez! ´

– Luiz Bersou

contribuição para o resultado brilhante. A grande característica é que todos se esforçam e todos contribuem igualmente para a beleza do resultado. Precisamos, com os pactos sociais, fazer a mesma coisa.

Para evoluirmos nos Pactos Sociais precisamos fazer algo que não ocorre no Brasil. A discussão permanente dos programas de governo, e não apenas nos períodos eleitorais. Essa iniciativa pode começar nos clubes sociais, clubes esportivos, clubes de serviço, escolas, faculdades, até nos próprios partidos políticos, onde existir espírito de cidadania verdadeira. Poderá ser uma grande experiência que vai enriquecer a todos nós.

E você? Compartilha da mesma ideia?

Diga o que pensa, clicando contato@keyboard.art.br

(Flávio Lazzarin: bateria e eletrônicos; Luiz Galvão: guitarra)

Pano

Pano

(Chico Pina: pintura ao vivo; Lucas Rodrigues Ferreira: guitarra, computador)

INFORMAÇÕES: www.pracavictorcivita.org.br

26 / Revista Keyboard Brasil

* Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior.

Espetáculo

Série TUCCA Aprendiz de Maestro

A Orquestra do Sargento Pimenta VISTAM UM SORRISO LINDO, TRAGAM AS CRIANÇAS E SE DIVIRTAM NESTA 'SALADA MUSICAL' EMBALADA PELOS CLÁSSICOS QUE REVOLUCIONARAM O JEITO DE SE FAZER E OUVIR MÚSICA. Carol Dantas [...] De um lado havia uma horta bem tradicional, cultivada da mesma maneira por séculos e séculos, e quem mais se apegava às tradições, era a “quadradona” família Tubérculo – com suas raízes fortes e profundas. Nesta família havia uma linda Batata, a Julieta.

Do outro lado do quintal, no

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jardim, as plantas cresciam livres, sob os caprichos da Natureza. E lá, quem mais aproveitava a vida sem compromisso com nada era a “prafrentex” família Composta, da qual faziam parte a Margarida e a Alcachofra. Um dos membros mais “avoados” dessa família era Romeu, o Girassol [...]

Orquestra Sinfonieta Tucca Fortíssima. No destaque, o maestro João Maurício Galindo, diretor artístico e regente titular da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo e da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí, além de se dedicar a concertos didáticos, entre eles a série “Aprendiz de Maestro”. Incansável, também apresenta um programa semanal onde, de maneira informal, aborda temas, verbetes, movimentos e ciclos de obras em audições comentadas e ilustradas – todas as segundas-feiras, às 22 horas (com reapresentação aos domingos, 10 horas) – na rádio Cultura FM (103,3).

ServiCos

Série Aprendiz de Maestro – “A Orquestra do Sargento Pimenta” Data: 8 de novembro Horário: 11 horas Local: Sala São Paulo Praça Júlio Prestes, nº 16 - São Paulo-SP Classificação: 3 anos Duração: 60 minutos Informações e vendas: TUCCA (11) 2344-1051 / 2344-1052 ingressos@tucca.org.br www.tucca.org.br

Para “viajar” nessa história de amor impossível, o pessoal do 'Aprendiz de Maestro' vai contar com uma pequena ajuda de seus amigos: os cientistas Botânicos Dr. Desmond e Dra. Molly...

Tudo embalado pela trilha sonora de uns besouros, ou melhor, dos Beatles, que definitivamente viraram a música de cabeça para baixo!

ou SALA SÃO PAULO (11) 3223-3966 Ingressos: bilheteria do 1º subsolo. www.salasaopaulo.art.br

* Programação sujeita a alterações.

Revista Keyboard Brasil / 29

Falando sobre nossa Música

´ Musica Brasileira ´ Dos primordios ate´ os dias atuais - Parte 15

Ainda no final da década de 1960, vários músicos brasileiros incorporaram o Jazz em suas músicas. Buscando um formato brasileiro estão o saxofonista Paulo Moura, a pianista Eliane Elias, a cantora Flora Purim, 30 / Revista Keyboard Brasil

Heloísa C. G. Fagundes

Airto Moreira, Leo Gandelman, César Camargo Mariano, Victor Assis Brasil (1945-1981) – um dos maiores saxofonistas de Jazz do país –, Egberto Gismonti, Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, André Geraissati, Zimbo Trio e tantos

Desde cedo, César Camargo Mariano chamou atenção por seus dotes musicais. Influenciado por Nat King Cole e Erroll Garner, ele aprendeu a tocar de ouvido. Autodidata, teve suas primeiras lições de teoria musical dadas pelo pai. Aos 13 anos, não entendia direito as definições teóricas, mas no piano era capaz de executar de modo comovente o que lhe era pedido.

outros. Contudo, a dificuldade em situar a atuação do Jazz no Brasil está no fato dele aparecer diluído no conceito abrangente de música instrumental.

Passado o fenômeno do Rock'n' Roll dos anos 60, e graças à Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicália e o início da chamada MPB surge, na sequência, uma importante geração intermediária de novos nomes da MPB que continuaram renovando a música popular brasileira durante o começo do século XXI, tais como Djavan, Fafá de Belém, Fagner, Belchior, Zé Ramalho e outros. Alceu Valença, Morais Moreira e Elba Ramalho trazem o baião de Luiz Gonzaga valorizando, ainda mais, os ritmos nordestinos.

O início da década de 1970 marca o amadurecimento da carreira da cantora gaúcha Elis Regina (1945-1982) – uma das maiores intérpretes brasileiras de todas as épocas que grava e passa a lançar uma série de músicas de grandes compositores/cantores, até então desconhecidos, revelando-os nacionalmente, como Ivan Lins (Madalena); João Bosco e Aldir Blanc (O bêbado e a equilibrista; O Caçador de Esmeraldas, Mestre-salas dos Mares e Dois Pra Lá, Dois Pra Cá); Belchior (Como Nossos Pais e Velha Roupa Colorida); Renato Teixeira (Romaria) e Guilherme Arantes (Aprendendo a Jogar).

Também em princípio da década de 1970, acentuava-se as estilizações dentro da música brasileira. Em especial, o meio musical predominante definia os cânones da chamada MPB, gênero cada vez mais distante de outras vertentes populares da música brasileira, como o samba, a música caipira, além do Rock feito no Brasil e da Jovem Guarda - que teria em Roberto Carlos o seu maior representante. O cantor capixaba era um dos poucos artistas que fazia da música romântica um sucesso de crítica e de público. Para a maio-

ria dos artistas brasileiros românticos populares, mesmo que grandes vendedores no mercado fonográfico brasileiro, sobrava a alcunha nada positiva de “cafona”. O termo passou a estigmatizar artistas como Paulo Sérgio, Altemar Dutra, Odair José, Reginaldo Rossi, Nelson Ned e Waldick Soriano dentro do amplo leque da música brasileira.

Na segunda metade dos anos setenta, uma nova vertente, agora denominada ‘‘brega”, surgia com destaque. Era um estilo de roupagem “moderna”, bastante influenciado pela discotéque e pelo Pop dançante em voga à época, e que enfatizava danças e gestos sensuais (para alguns, no limite do vulgar). Este “novo cafona” foi capitaneado por artistas como SidRevista Keyboard Brasil / 31

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^ ´ Nos anos 70, a musica popular mais roman´ tica era chamada de cafona. No inicio dos anos 80, passou a se chamar de brega, que ~ usada para designar o era uma expressao ´ baixo meretricio (a zona), principalmente no interior da Bahia. Nesses locais tocava-se muito Waldick, Odair Jose´ e esses cantores ´ mais populares. No inicio dos anos 80, isso ´ passou a ser adjetivo. A musica do brega, ´ passou a ser musica brega. E o termo cafona foi perdendo forca. E ate´ hoje se chama de ´ musica brega. Acho ate´ mais sonoro..

Paulo César Araújo – Jornalista e historiador, autor da biografia censurada que virou polêmica sobre Roberto Carlos Roberto Carlos em Detalhes.

ney Magal (de Sandra Rosa Madalena e O Meu Sangue Ferve por Você) e Gretchen (Melô do Piripipi e Conga La Conga).

A partir da década de 1980, o termo “brega” passou a ser cunhado largamente na imprensa brasileira pelos meios de comunicação para designar, de maneira pejorativa, música sem valor artístico. Embora sem uma conceituação

aprofundada, isso servia para designar uma música de mau gosto, geralmente feita para as camadas populares, com exageros de dramaticidade e/ou letras de uma insuportável ‘ingenuidade’. Era o caso, por exemplo, do trabalho de cantores da linha romântica “cafona”, como os ainda populares Amado Batista e Wando, ou de outros cantores românticos constantemente presentes em programas de auditório da TV, como Gilliard, Fábio Junior e José Augusto.

Ao mesmo tempo em que críticos esboçavam uma conceituação estilística pejorativa sobre o “brega”, o estilo passou a influenciar e se 32 / Revista Keyboard Brasil

Graças a Jovem Guarda que o caminho foi aberto para novos artistas que desafiaram os padrões de bom gosto da classe média brasileira na década de 1970, já que alguns dos artistas que tiveram uma ligação com o movimento viriam a se tornar populares cantores ‘‘cafonas’’ na década seguinte. É o caso, por exemplo, do pernambucano Reginaldo Rossi, que liderou a banda The Silver Jets (1966), denominados os ‘‘Beatles do Nordeste’’.

fundir a outros artistas e gêneros musicais, o que tornava, na verdade, cada vez mais impreciso estabelecer uma definição clara sobre o que seria “música brega”. Como resultado desta ausência de conceito exato e preciso sobre o que seria “brega”, o termo passou a abarcar artistas vinculados a outros gêneros musicais, como Alcione e Chitãozinho e Xororó – ligados, respectivamente, ao samba e ao sertanejo. Mesmo cantores do time da chamada MPB, como Gal Costa, eram criticados quando interpretavam canções consideradas de pouco valor artístico pela crítica, como o caso do dueto Um Dia de Domingo, com Tim Maia – canção composta pela dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas, que se especializou em composições tidas como “bregas”. Entre elas, Me Dê Motivo, na voz de Tim Maia, e Deslizes, na voz de Raimundo Fagner.

Havia, também, artistas do brega propriamente dito, como Ovelha, Nahim e Harmony Cats, hoje lembrados nas festas "trash".

Dentro desta confusão, jovens artistas do sudeste brasileiro (alguns até universitários) assumiram traços do que seria um ‘‘estilo brega’’ em seus trabalhos. Entre os quais, o compositor pianista e ator carioca Eduardo Dusek (autor do LP Bregachique). Finalizando a lista, surge na década de 90, o inigualável Falcão, notado pelo estilo irreverente e cômico com seu termo xadrez e um girassol na lapela.

(Continua na próxima Revista Keyboard Brasil...)

Revista Keyboard Brasil / 33

Análise SEGREDO DAS CIFRAS AUTOR: Maestro Marcelo Fagundes EDITORA: Keyboard 101 páginas Da Redação

Disponível no site: www.keyboard.art.br

Moderno, de fácil consulta e indispensável ao desenvolvimento do estudante de música, Segredo das Cifras contém os acordes utilizados na música popular, com suas posições para teclado, violão ou guitarra. Contém, ainda, lições sobre formação de acordes, escalas maiores, menores, Blues, modos, com exemplos em diversas tonalidades. Em sua última edição, o maestro Marcelo Fagundes acrescenta exemplos de improvisações para os tons mais utilizados da música popular.

Revista Keyboard Brasil / 35

11

Toque e Aprenda

- Continuação

APRENDA OU MELHORE SEU DESEMPENHO NAS TÉCNICAS DO

JAZZ-BLUES * Maestro Marcelo Fagundes

ESCALAS PENTATÔNICAS MAIORES E MENORES E ESCALAS BLUES A Escala Pentatônica Maior é uma escala de cinco notas. Penta, significa 5, muitas vezes usado em Jazz - Blues, bem como nos estilos R & B e Pop . Ela pode ser construída com a tradicional escala Maior, removendo os IV e VII graus. Observe:

ESCALA PENTATÔNICA MAIOR DE DÓ

Observe que esta escala contém os seguintes intervalos: a partir de baixo para cima, essa escala contém os seguintes intervalos: Segunda Maior (1 TOM), Segunda Maior (1TOM), Terça Menor (1 SEMITOM e 1 TOM), Segunda Maior, (1 TOM) e Terça Menor (1 TOM e 1 SEMITOM).

A Escala Pentatônica Menor pode derivar da escala pentatônica maior. Por exemplo, se tomarmos agora a escala pentatônica maior e deslocá-la para começar na nota A (que é a relativa menor de Dó Maior), criamos um Escala Pentatônica Menor de Lá. Observe:

ESCALA PENTATÔNICA MENOR DE LÁ

Observe que esta escala agora contém os seguintes intervalos: T E R ÇA MENOR (1 TOM e 1 SEMITOM), SEGUNDA MAIOR (1 TOM), SEGUNDA MAIOR (1 TOM), TERÇA MENOR (1 TOM e 1 SEMITOM) e 1 SEGUNDA MAIOR (1 TOM).

Dica: Monte as Escalas Pentatônicas Maiores e Menores e toque-as, assim terá bastante familiaridade com estas escalas tão importantes para o estilo Jazz-Blues.

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ESCALA DE BLUES: Podemos ter uma Escala Blues pegando a Escala Pentatônica Menor e adicionando uma QUARTA AUMENTADA. Na escala Pentatônica Menor de Lá, exemplo dado anteriormente, basta adicionar a QUARTA AUMENTADA a ela, a nota RÉ #, teremos, então, a seguinte formação (observe que a escala terá dois intervalos de QUARTA).

A Escala de Blues é especialmente útil em aplicações de Jazz - Blues, e você deve torná-la um exercício diário e, em todos os tons, como segue:

(...Continua na próxima Revista Keyboard Brasil). *Marcelo Dantas Fagundes é músico, maestro, arranjador, compositor, pesquisador musical, escritor, professor, editor e membro da ABEMÚSICA (Associação Brasileira de Música).

Revista Keyboard Brasil / 37

Revolução Musical

MELLOTRON O ‘pai’ do moderno sampler

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NUMA ÉPOCA EM QUE OS SINTETIZADORES AINDA ESTAVAM ENGATINHANDO, SURGIU UM INSTRUMENTO QUE OFERECIA AO MÚSICO, A POSSIBILIDADE DE TOCAR AMOSTRAS PRÉ-GRAVADAS DE INSTRUMENTOS ACÚSTICOS NUM TECLADO, PRODUZINDO UM EFEITO MUITAS VEZES ESTRANHO. PASSANDO PELOS BEATLES, ROLLING STONES E BLACK SABBATH, A LED ZEPPELING E DAVID BOWIE, ATÉ AOS MAIS ATUAIS COMO U2, LENNY KRAVITZ, OASIS, RED HOT CHILI PEPPERS, MARILLION E THE BLACK EYED PEAS, O MELLOTRON CONQUISTOU, ENFIM, O POSTO DE INSTRUMENTO CULT. José Cunha Hoje, estamos homenageando um dos grandes instrumentos da idade prédigital. Numa época em que você pode recriar praticamente qualquer som em um notebook ou telefone celular, o Mello-

tron, nas décadas de 1960 e 1970, O início O Mellotron é um teclado eletromecânico polifônico desenvolvido por Leslie C. Bradley e seu filho John, na Inglaterra no início da década de 1960, baseado no Chamberlin, um instrumento americano criado na década de 1940.

Ambos, Mellotron e Chamberlin, operavam com o mesmo princípio – um teclado semelhante a um órgão, que acionava diversas fitas magnéticas sob suas teclas, oferecendo ao músico a possibilidade

tornou-se um instrumento sensação. Basta lembrar daquele bucólico som de flauta, na introdução da canção dos Beatles, Strawberry Fields Forever, assim como os violinos da In The Court of The Crimson King, do grupo King Crimson.

Leslie C. Bradley ou, Les Bradley, grava fitas (copiando de um conjunto de bobinas para o outro). Este gravador encontra-se no Museu Britânico.

O renascimento do Mellotron se deu no início da década de 1990, por Martin Smith e John Bradley (filho de Les Bradley).

de tocar amostras pré-gravadas de instrumentos acústicos num teclado, o que era impossível de ser feito até então. Mas, devido à oscilação natural e à vibração das fitas, o resultado foi muitas vezes um efeito estranho, de outro mundo.

Revista Keyboard Brasil / 39

O nome Mellotron é derivado de duas palavras: “melody” e “electronic” (“melodia” e “eletrônica”).

Talvez um pouco inapropriado, mas, numa época em que os sintetizadores a i n d a e s t a va m e n g a t i nhando (Robert Moog só apresentou seu primeiro protótipo em 1965), parecia uma boa opção.

Uma particularidade desse instrumento, é o fato de que o teclado da esquerda era dedicado a uma seção rítmica, combinada com sons orquestrais tocando em diferentes estilos, como Jazz, Foxtrot e Valsa, numa abordagem muito similar ao que vemos nos teclados arranjadores atuais.

O advento de instrumentos mais baratos e com resultados menos estranhos, reduziram a popularidade do Mellotron no final da década de 1970, seguido do impacto do movimento Punk.

At u a l m e n t e , o (1) Brian Jones sentado em seu MKII em 1967. Bill Wyman e Mick Jagger também possuíam um. (2) John Lennon ao experimentar seu mellotron Mark II, maravilhado pela descoberta da sonoridade do novo instrumento.

(3) Os primeiros modelos MKI e MKII continham dois teclados lado a lado: à direita havia 18 sons selecionáveis como instrumentos de cordas e flauta; à esquerda o teclado executava trilha de ritmos pré-programados (em diversos gêneros musicais). Por baixo de cada tecla, uma fita magnética e um leitor eram ativados quando as mesmas eram pressionadas.

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Mellotron é visto como uma relíquia de uma era pomposa, depois de ter adquirido o status “Cult”.

O status ‘‘Cult’’ Durante décadas, o Mellotron auxiliou diversos músicos e bandas na composição de clássicos, adquirindo status de instrumento “cult” por todo o mundo. Para se ter uma ideia, em 1965, cada um dos Beatles tinha o seu. Passando pelo Rock Progressivo e pelo Psicodélico à cena Pop/Rock da atualidade, muitos foram os que utilizaram e ainda utilizam o pai do sampler, dentre eles: The Beatles, Os Mutantes, Genesis, Yes, The Zombies, Jean Michel Jarre, The Rolling Stones, Bee Gees, David Bowie, Tangerine Dream, Pink Floyd, Marvin Gaye, Black Sabbath, Led Zeppelin, Red Hot Chili Peppers, Marillion, Oasis, Pearl Jam, Radiohead, Smashing Pumpkins, R E M , Anekdoten, Lenny Kravi , Paul McCartney, The Black Eyed Peas, The Strokes, Pär Lindh Project, White Willow e Sinkadus, são alguns dos artistas que usaram e ainda usam o Mellotron contribuindo para que o instrumento adquirisse tal condição.

A seguir, vamos prestar uma homenagem ao Mellotron selecionando 10 músicas que, ao nosso entender, melhor apresentou seus sons estranhos. Curta nossa lista!

(1) O mellotron visto por dentro. (2) Paul McCartney tocando seu Mellotron. (3) Rick Wakeman em apresentação com Jon Lord, rodeado por teclas, dentre elas um Mellotron.

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Gaspar, tecladista havaiano da banda Pearl Jam, além de tocar teclas top de linha como o Yamaha C7, o Kurzweil Sp88, o Nord Stage, o Hammond B-3 e o Korg Triton, inclui às canções, sons tirados do Mellotron M4000D.

1. 'Kashmir' – Led Zeppelin. Do álbum: 'Physical Graffiti' (1975).

De todas as músicas escolhidas, 'Kashmir' pode representar o maior desafio para descobrir em qual parte da música está inserido o Mellotron. Isso porque, John Paul Jones emprega o instrumento e uma seção de cordas real.

Por isso, nem sempre é fácil determinar se você está ouvindo o som real ou a combinação de ambos.

2. 'Phaedra' – Tangerine Dream. Do álbum: 'Phaedra' (1974).

Edgar Froese, fundador do Tangerine Dream, utiliza o Mellotron em 'Phaedra', tornando a composição ameaçadora, triste e, ao mesmo tempo, bela.

3. 'Every Christian Lion Hearted Man Will Show You' – The Bee Gees. Do álbum: 'Bee Gees' 1st' (1967).

Muito antes de estouraram com a canção “Saturday Night Fever”, os Bee Gees trabalharam grandes canções de Pop/Rock utilizando arranjos inventivos. Infelizmente, um órgão desempenhava o papel do Mellotrom nos shows pois os instrumentos eram demasiadamente pesados para serem arrastados nas viagens.

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4. '2000 LIGHT YEARS FROM HOME' – THE ROLLING STONES. DO ÁLBUM:

'THEIR SATANIC MAJESTIES REQUEST' (1967).

Durante os anos mais sonoramente experimentais dos Stones, Brian Jones utilizou o Mellotron em muitas canções psicodélicas da banda, como em “We Love You”e “She is a Rainbow”.

5. 'And You and I' – Yes. Do álbum: 'Close to the Edge' (1972).

Esta é a faixa de destaque em um álbum que foi recheado com o som do Mellotron. O tecladista Rick Wakeman utilizava o instrumento para simular instrumentos de cordas e sopros.

6. 'SPACE ODDITY' – DAVID BOWIE. DO ÁLBUM: 'DAVID BOWIE' (1969)

Falando em Rick Wakeman – antes do tecladista se juntar ao Yes, o músico tocou para Bowie no que se tornaria o primeiro hit do cantor. O plano era para que Wakeman usasse o Mellotron na gravação de estúdio pois, nos shows, o instrumento seria substituído por uma orquestra real.

Mas, o produtor Tony Visconti acabou decidindo que o som oscilante seria uma melhor opção.

7. 'Strawberry Fields Forever' – The Beatles. Do álbum:

'Magical Mystery Tour ' (1967).

'Strawberry Fields Forever' apresenta um dos usos mais memoráveis do Mellotron da história do Rock: a introdução da flauta que Paul McCartney toca para abrir o clássico psicodélico. As flautas continuam soando nos primeiros minutos da música, até serem substituídas por violoncelos reais e instrumentos de sopro.

8. 'Hey Joe' – Mutantes. Do álbum: 'O A e o Z' (1973)

Símbolo do Rock brasileiro dos anos 60-70 e um dos grupos pioneiros em perceber a importância da tecnologia dentro do processo criativo da música, após a saída de Rita Lee. No álbum O A e o Z, gravado em 1973 e lançado apenas em 1992, Arnaldo Batista utiliza o Mellotron em 4, das 6 faixas do disco.

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O Mellotron

continua atual!

– brian douglas wilson, músico e fundador dos Beach boys.

9. 'daniel' – elton john. Do álbum: 'Don't Shoot Me, I'm Only

the Piano Player' (1973).

Elton fez uso deste instrumento particular em vários álbuns, e ainda voltou a tocá-lo em um de seus mais recentes discos, ‘Songs From The West Coast’ (2001), interpretado por Pat Leonard, o produtor desse disco. Seu segundo grande hit, a balada 'Daniel' tem uma parte melódica utilizando o Mellotron fazendo os sons de flautas.

10. 'Breaking The Girl' – Red Hot Chili Peppers. Do álbum: 'Blood Sugar Sex Magik' (1991).

O grupo Red Hot Chili Peppers utilizou o Mellotron em diferentes momentos de sua discografia como, por exemplo, no álbum de 1991 'Blood Sugar Sex Magik', nas músicas ‘Breaking The Girl’ (som das flautas através do Mellotron) e ‘Sir Psycho Sexy’ (com o som das cordas).

11. 'Do not Phunk With My Heart' – The Black Eyed Peas. Do ál-

bum: 'Monkey Business' (2005).

O Black Eyed Peas parece relativamente incomum no mundo do Hip-Hop. Em seu quarto álbum 'Monkey Business', do ano de 2005, o grupo ganhou um Grammy.

Prin Board desempenha muito bem o uso do Mellotron na música 'Do not Phunk With My Heart', com sons de cordas e flautas.

Deixamos de fora uma de suas canções favoritas utilizando o Mellotron? Escreva para a Revista Keyboard Brasil contato@keyboard.art.br 44 / Revista Keyboard Brasil

Crítica *

O descuido com a

Música!

O VERGONHOSO ESTADO DE CALAMIDADE QUE SE ENCONTRA NOSSA MÚSICA BRASILEIRA.

Heloísa C. G. Fagundes

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INFELIZMENTE, BOA PARTE DAS MÚSICAS DESVALORIZA A MULHER, INCENTIVA A VIOLÊNCIA E CRIA UM PROCESSO DE COMERCIALIZAcÃO DE ATITUDES, IDEIAS E COMPORTAMENTOS!

Atualmente, existem certos tipos de músicas que incomodam tão somente por

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– gilmaci santos (deputado estadual pelo prb)

causa de suas letras recheadas de ostentação, violência, vulgaridade, sensualidade excessiva, sem dizer as de duplo sentido.

São estilos como Funk, Axé, Sertanejo e Pagode que passam por um momento sofrível no que diz respeito à inovação e qualidade musical. Como dizer que há crítica social ou mesmo algum tipo de criatividade nas seguintes músicas: “Cola a bunda no chão vai, cola a bunda no chão vai, cola a bunda no chão vai” (Funk); “Ponho o carro, tiro o carro, à hora que eu quiser, que garagem apertadinha, que doçura de mulher, tiro cedo e ponho à noite, e às vezes à tardezinha” (Sertanejo); ou, ainda: “eu chego no pagode chamando a atenção, todo mundo para pra ver a atração, carro importado, perfume mais caro só roupa de marca, ninguém entende nada”(Pagode)?

Letras que deseducam e agridem, tanto a ética quanto a moral da nossa sociedade.

Um desserviço prestado a juventude.

Já dizia Rita Lee: “Ai, ai, meu Deus, o que foi que aconteceu com a música popular brasileira?” e onde estão aquelas músicas que moviam multidões e que questionavam a sociedade e a realidade social? Lembremo-nos que existem músicas tão importantes que Revista Keyboard Brasil / 47

também, as emissoras brasileiras que, unidas a

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AI, AI MEU DEUS, O QUE FOI QUE ACONTECEU. COM A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA. QUANDO A GENTE FALA MAL, A TURMA TODA CAI DE PAU DIZENDO QUE ESSE PAPO É BESTEIRA!

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–trecho da musica Arrombou a Festa 2, de RITA LEE e paulo coelho

se tornaram verdadeiros registros históricos da humanidade. É o caso dos artistas que descreveram os períodos mais duros do regime militar, como, por exemplo, Chico Buarque com sua canção “Deus lhe Pague”, ao utilizar a ironia para fazer críticas à situação repressiva que os brasileiros viviam .

O Rock nacional também já foi mais frutífero. Quem não se lembra 48 / Revista Keyboard Brasil

das letras carregadas de críticas sociais da banda Legião Urbana, com a música “Geração Coca-Cola”: “Quando nascemos fomos programados a receber o que vocês nos empurraram com os enlatados dos USA, de 9 às 6.

Desde pequenos nós comemos lixo, comercial e industrial”.

Conspirando em desfavor da nossa história musical, atentando à gramática, às ideias e à poesia estão,

esse arrastão anticultural, comprometem seriamente todo o nosso velho sonho de futuro. É o que diz Jean Henrique Costa (professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte): “Não é por acaso que as relações sexuais são tão exploradas pelas canções de maior apelo comercial a ponto de se tornarem coisificadas à maneira de clichês industriais.”.

Esse descuido vai aos poucos se generalizando, ferindo de morte diversos outros setores da nossa máquina cultural.

Isso porque, quando a sociedade se acultura, todo o resto desmorona, fragiliza, corre perigo. Logo, é preciso conter este processo de substituição sistemática das nossas expressividades culturais, pois, cuidar

bem da cultura é cuidar com carinho do presente e do futuro.

Uma nação que não valoriza e nem preserva a sua cultura não tem nenhuma perspectiva de futuro gran-

dioso.

Vamos um pouco mais além? Por que será que os europeus, os alemães, por exemplo, adoram tanto a música erudita?

Ora, simples: lá, a música começa como uma disciplina (séria) escolar. As emissoras (de rádio e TV) primam pela qualidade, do contrário perdem a audiência e até a concessão pública para operar.

Penso que a música, como um patrimônio do Brasil, deveria ser bem mais protegida. E não me

digam que a culpa é do nosso povo.

Porque isso não é verdade. O povo não tem culpa da educação que não recebe. O povo só pode gostar daquilo que conhece e lhe oferece.

Mas, se querem continuar nos oferecendo o que não presta, que pelos menos permitam que as pessoas possam também ter o direito de experimentar o outro lado da moeda – ou seja, a música de qualidade. Não deixem que a nossa fantástica MPB morra pela nossa passividade e indiferença.

Fotos: Divulgação

* Compilação de textos de José Cícero (professor e poeta de Aurora/CE), Gilmaci Santos (deputado estadual pelo PRB) e Jean Henrique Costa (professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte).

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A MÚSICA FOI, DURANTE MUITO TEMPO, UM LEGÍTIMO PRODUTO DE EXPORTAcÃO MADE IN BRASIL, UM PASSAPORTE PARA NOSSA INTERVENcÃO E INSERcÃO NA CULTURA E NA HISTÓRIA MUNDIAL. – José cícero (professor e poeta de aurora/ce)

Revista Keyboard Brasil / 49

Aconteceu

F E S T A NACIONAL DA MÚSICA 10ª Edição - 2014 A FESTA NACIONAL DA MÚSICA DE CANELA, QUE ACONTECEU DE 19 A 23 DE OUTUBRO, CHEGOU A SUA 10ª EDIÇÃO COMO O ENCONTRO MAIS ESPERADO E IMPORTANTE DA MÚSICA BRASILEIRA. SEU CONCEITO SE AMPLIOU AINDA MAIS NOS ÚLTIMOS ANOS E, HOJE, É REFERÊNCIA PARA ARTISTAS E GRAVADORAS, ATRAINDO A ATENÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE TODO O PAÍS. Júnior Rodrigues Marcado pela diversidade de estilos e completando dez anos, a Festa

Nacional da Música de Canela (RS), é um evento que estimula a integração de artistas e de personalidades do mercado musical de todo Brasil e dos mais 50 / Revista Keyboard Brasil

variados gêneros musicais, além de promover shows espontâneos, parcerias improvisadas, jam sessions e debates importantes acerca da indústria fonográfica brasileira.

Foto: Graça Paes/Photo Rio New

Famosos receberam prêmios na comemoração dos 10 anos da Festa Nacional da Música, em Canela, no Rio Grande do Sul. Entre os homenageados, Ana Carolina, maestro João Carlos Martins, Thiaguinho, Joana e Ani a.

Um dos grandes momentos da Festa Nacional da Música – a noite de premiações – proporcionou uma celebração à música brasileira, reconhecendo a contribuição de profissionais à indústria musical no País, homenageando músicos, produtores, empresários e comunicadores ligados ao mercado fonográfico.

Subiram ao palco para receber o troféu Festa Nacional da Música 2014 o maestro João Carlos Martins, Ana Carolina, Ani a, Jerry Adriani, Thiaguinho, Hugo & Tiago, Péricles, Jorge Vercillo, Aviões do Forró, o cantor gospel Anderson Freire; o gerente de programação musical de Rede Pampa de Comunicação, Roger dos Reis; o

jornalista e editor da revista Backstage, Nelson Cardoso; a banda de rock gaúcho Nenhum de Nós; o empresário artístico Marcinho Costa; o presidente da Som Livre, Marcelo Soares; e o empresário e produtor musical João Mário Linhares.

Entre os momentos emocionantes esteve a homenagem ao maestro João Carlos Martins, o primeiro a subir ao palco.

“Estava na hora de receber o prêmio porque o tempo está correndo”, brincou sobre os 74 anos. Após receber o troféu e fazer o discurso de agradecimento, o regente tocou sua versão do Hino Nacional ao piano.

“A minha emoção foi enorme e eu simplesmente quis colocar o meu coração no hino para chegar ao coração das pessoas presentes. Me senti o rei da cocada preta com esta homenagem”, finalizou o maestro.

Já a mineira Ana Carolina recebeu a homenagem das mãos de Antônio Villeroy, um dos principais compositores interpretados pela cantora.

Villeroy foi o responsável pelo primeiro grande sucesso de Ana Carolina, Revista Keyboard Brasil / 51

Foto: Jackson Ciceri

O maestro João Carlos Martins.

como ela mesma fez questão de ressaltar: “Antônio Villeroy foi o primeiro compositor que me deu o prazer de gravar um hit, que é Garganta”. E continuou: “Ele acreditou em mim num momento em que eu não era

conhecida, tocava violão em bar, e isso a gente não pode esquecer. É uma coisa que me deixou realmente bastante emocionada receber esse prêmio das mãos dele”, destacando a aposta do compositor em seu talento.

FONTE: www.festanacionaldamusica.com.br

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