Revista saida 12

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SaĂ­da N.12, V. 1, Setembro -1017.

O que fazer?

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Parceiros:


Redação Editor geral: Guilherme Orestes Canarim Conselho editorial: Alex Sander da Silva; Gisele da Silva Rezende; Diego Quadras de bem; Greyce Kelly.

Editorial Que fazer? Por: Guilherme Orestes Canarim Seguindo um habito que já se instaurou e tem-se consolidado na nossa revista, nosso tema é novamente a elaboração de uma questão, uma tentativa de composição de uma compreensão de um tema a partir do uso “operativo” de uma problemática. No caso desta Saída 12, nos perguntamos, e estendemos a questão aos leitores, que

Projeto gráfico:

fazer?

Greyce Kelly. Em parte por conta do cenário contemporâneo recente, no Colaboradores:

qual a situação “é catastrófica mão não é critica”, o que por

Slavoj Zizek; Giorgio Agamben;

si só implicaria na necessidade patente de renovação das

Captain Kickarse;

forças revolucionarias exauridas pela culatra da exaustão

Gisele Rezende;

das forças utópicas, e em parte para marcar a atualidade do

Josiane Custodio de Souza;

tipo de critica que estava se insinuando naquele que fazer

Jose Gustavo dos Santos da Silva;

do começo do século XX, e que voltou a se manifestar,

Bruna da Silva Ribeiro;

felizmente,uma vez mais na obra de um bocado de autores.

Peter Sloterdjik; Anderson Innocenti Colombo; Kenia Custodio.

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Sumário

Para além de Édipo e Narciso: notas sobre a

Redação........................................................................ 3

psicanálise............................................................. 21

Editorial................................................................... 3

Por: Peter Sloterdijk ............................................. 21

Que fazer?................................................................ 3

O que fazer? .......................................................... 24

Por: Guilherme Orestes Canarim........................... 3

Por: Anderson Innocenti Colombo...................... 24

Panorama .................................................................... 5

Soldados do Medo ................................................ 25

A lição da vitória de Corbyn................................... 5

Por: Kenia Custodio.............................................. 25

Por: Slavoj zizek ...................................................... 5

Defesa dos lobos contra os cordeiros ................. 28

Estudantes............................................................... 7

Por : Hans Magnus Enzensberger ....................... 28

Por: Giorgio Agamben ............................................ 7 Global Economic Crisis and the Spectre of Marx . 9 Por: Captain Kickarse ............................................ 9 Era uma vez... Mais uma vez ................................ 10 Por: Gisele Rezende e Guilherme Orestes Canarim ............................................................................... 10 O coxinha-croissant .............................................. 11 Por: jnf. .................................................................. 11 Notas de literatura.................................................... 13 Sobre escrever ...................................................... 13 Por: Guilherme Orestes Canarim......................... 13 Uma novela chamada indiferença e desamparo: a história de vida das macabéas do nosso brasil. . 14 Por: Josiane Custodio de Souza ........................... 14 Em resposta a pergunta sobre a educação ......... 16 Por: Guilherme Orestes Canarim ........................ 16 Critica roedora .......................................................... 17 Aborto, os “pró-vida” e os “pró-escolha” ............ 17 Por: Jose Gustavo Santos da Silva........................ 17 Bruna da Silva Ribeiro ............................................ 20 Ensayos ..................................................................... 21


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Panorama

mais radical, é preciso não ter medo de levantar a questão chave: a vitória eleitoral ainda é o momento decisivo de uma mudança

A lição da vitória de Corbyn1

social

radical?

Afinal,

não

estamos

testemunhando a crescente irrelevância de

Por: Slavoj zizek

nossos processos eleitorais? O inesperado sucesso de Jeremy Corbyn e do

Mas o que importa, para além do resultado

Labour Party nas urnas inglesas deixou

propriamente dito, é o significado mais

vermelha de vergonha a sabedoria cínica

profundo da (relativa) vitória do Labour Party.

predominante entre os pretensos especialistas

Esse sucesso implica uma importante mudança

políticos. Até mesmo aqueles que se diziam

ética e política, um movimento importante

simpatizar

se

contra a vulgarização de nossos discursos

esquivavam com a desculpa de que “Sim, eu

públicos. O problema aqui está naquilo que

votaria nele, mas a realidade é que ele é

Hegel chamou de Sittlichkeit: os costumes, o

inelegível, o povo está muito manipulado e

denso pano de fundo de regras (tácitas) da vida

amedrontado, o momento ainda não é ideal

social, a grossa e impenetrável substância ética

para um lance tão radical.”

que nos diz o que podemos e o que não

com

Corbyn,

mas

que

podemos fazer. Lembremos da alegação de Tony Blair de que estaria

Essas regras estão desintegrando hoje: o que

irreparavelmente marginalizado, e não seria

era simplesmente indizível em um debate

mais um partido potencial para efetivamente

público algumas décadas atrás, pode agora ser

disputar o governo. A hipocrisia de afirmações

enunciado impunemente. Trump pode falar das

como essas é que elas mascaram sua própria

flatulências de Melania e afirmar que a “tortura

posição política como um insight resignado

funciona”, Netanyahu pode alegar que os

sobre o estado objetivo das coisas.

palestinos

com

Corbyn

o

Labour

Party

provocaram

o

Holocausto,

populistas europeus podem dizer que o influxo Há, é claro, problemas e dúvidas que persistem.

de refugiados é orquestrado por judeus, e por

É

aí vai…

preciso

evidentemente

confrontar

as

limitações do programa de Corbyn: será que ele vai além do velho welfare state? O possível

Mas por que falar de educação e de conduta

governo do Labour sobreviveria às investidas

pública numa hora dessas, em que estamos

do capital global? Mas, além disso, num nível

diante

de

problemas

prementes,

aparentemente muito mais “reais”? Ao fazer 1

* A tradução é de Artur Renzo para o Blog da Boitempo.

isso, não estaríamos regredindo ao nível da famosa ironia de Thomas De Quincey sobre o


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simples ato de assassinato: “Quantas pessoas

críticos gostem de enfatizar sua rejeição à

não

normatividade

começaram

promovendo

terror

e

“norma

heterossexual

catástrofes econômicas e no final acabaram se

imposta”, por exemplo), sua posição é muitas

comportando mal em uma festa?” Mas os

vezes a de uma implacável normatividade,

modos importam sim – em situações tensas,

denunciando cada mínimo desvio do dogma

eles são uma questão de vida ou morte, a linha

politicamente correto como “fascismo” ou

divisória sutil que separa a civilização da

qualquer coisa que o valha. Essa “cultura de

barbárie.

twitter”, ao combinar uma tolerância ao

Nos anos 1960, vulgaridades ocasionais eram associadas à esquerda política: revolucionários estudantis

geralmente

usavam

linguagem

corriqueira para enfatizar sua distância em relação à política oficial, com seu jargão polido. Hoje, a linguagem vulgar é praticamente uma prerrogativa exclusiva da direita radical, de forma que é a esquerda que se vê na posição surpreendente de ter que defender a decência e os modos públicos. Infelizmente, o espaço público esquerdista-liberal está também cada vez mais dominado pelas regras da “cultura de twitter”: saturado de sacadas curtas, réplicas pontuais,

comentários

sarcásticos

ou

discurso

oficial

com

uma

abertura

à

intolerância extrema contra pontos de vista realmente diferentes, representa um entrave ao pensamento crítico. Ela é o espelho da raiva cega

populista a

la Donald

Trump,

e

é

simultaneamente uma das razões pelas quais a esquerda

tão

frequentemente

se

mostra

incapaz de confrontar o populismo de direita, especialmente na Europa de hoje. Se alguém sequer ousar mencionar que esse populismo extrai

boa

parte

de

sua

energia

do

descontentamento popular dos explorados, esse alguém é imediatamente acusado de “essencialismo de classe”.

indignados, mas com cada vez menos espaço

É diante desse pano de fundo que devemos

para as etapas múltiplas de uma linha de

comparar

argumentação mais substancial. Reage-se a

conservador e do trabalhista na última eleição

meros recortes de um texto (uma passagem,

inglesa. A campanha do partido conservador se

uma frase, ou às vezes nem isso). A postura que

rebaixou a um nível inédito no histórico de

sustenta essas respostas de cunho de “tweet”

disputas do Reino Unido: ataques alarmistas

agrega um certo farisaísmo dono da verdade,

insinuando que Corbyn seria um simpatizante

um moralismo politicamente correto e um

terrorista, de que o partido trabalhista seria um

sarcasmo brutal: assim que qualquer coisa soar

ninho

problemática, ela é imediatamente detectada

culminando com Theresa May alegremente

provocando

automática,

prometendo rasgar direitos humanos – uma

geralmente um lugar comum do glossário

pura e simples política de medo, se algum dia

politicamente correto. Embora muito dos

houve uma. Não é de se espantar que o UKIP

uma

resposta

de

as

campanhas

anti-semitismo

do

e

partido

tudo

isso


7

[Partido de Independência do Reino Unido]

Theoretical Psychoanalysis, de Liubliana, e é

desapareceu de cena: não há necessidade para

um dos diretores do centro de humanidades da

ele já que May e [Boris] Johnson estão

University of London.

praticamente

desempenhando

seu

antigo

papel. Corbyn não se deixou enredar nesses jogos sujos: com uma franca ingenuidade, ele

Estudantes Por: Giorgio Agamben2

simplesmente abordou as principais questões e preocupações

das

pessoas

comuns,

de

problemas econômicos a ameaças terroristas,

Cem anos se passaram desde que Benjamin,

propondo contramedidas claras. Não havia

num ensaio memorável, denunciava a miséria

raiva nem ressentimento em suas declarações,

espiritual da vida dos estudantes berlinenses, e

tampouco

exatamente meio século desde que um libelo

evocação

barata

de

ânimos

populistas, mas também nada do farisaísmo

anônimo,

“dono da verdade” politicamente correto. Ele

Estrasburgo, enunciava seu tema no título Da

apenas

miséria no ambiente estudantil considerada em

focou

em

responder

às

reais

difundido

na

universidade

de

preocupações das pessoas comuns com simples

seus

decência. O fato de tal abordagem representar

psicológicos,

nada menos do que uma mudança de peso em

intelectuais.

nosso espaço político é um triste indicativo dos

impiedoso

nossos tempos. Mas é também uma nova

atualidade, mas é possível dizer, sem medo de

confirmação da velha assertiva hegeliana de

exagerar, que a miséria – ao mesmo tempo

que, às vezes, franqueza ingênua é a mais

econômica e espiritual – da condição estudantil

devastadora e sagaz de todas as estratégias.

cresceu numa medida incontrolável. E essa

Slavoj Žižek nasceu na cidade de Liubliana,

degradação é, para um observador atento,

Eslovênia, em 1949. É filósofo, psicanalista e

ainda mais evidente uma vez que se procura

um dos principais teóricos contemporâneos.

escondê-la por meio da elaboração de um

Transita por diversas áreas do conhecimento e,

vocabulário ad hoc que está entre o jargão das

sob influência principalmente de Karl Marx e

empresas e a nomenclatura do laboratório

Jacques Lacan, efetua uma inovadora crítica

científico.

cultural

terminológica é a substituição, em todo âmbito,

e

política

da

pós-modernidade.

Professor da European Graduate School e do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana,

Žižek

preside

a

Society

for

da 2

aspectos

econômicos,

sexuais Desde não

palavra

Um

políticos,

e,

em

particular,

então,

o

diagnóstico

apenas

dado

“estudo”,

não

dessa que

perdeu

sua

impostura se

mostra

Giorgio Agamben. Studenti. Disponível https://www.quodlibet.it/giorgio-agamben-studenti (tradução: Vinícius N. Honesko)

em:


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evidentemente menos prestigiosa, pela palavra

Nada de comparável acontece nas ciências

“pesquisa”. E a substituição é tão integral que é

humanas. Nestas o “pesquisador” – que de

possível perguntar se a palavra, praticamente

modo mais próprio poderia ser definido

desaparecida dos documentos acadêmicos,

“estudioso” – tem necessidade apenas de

acabará por ser apagada também da fórmula,

bibliotecas e de arquivos, aos quais o acesso é

que já soa como um naufrágio histórico,

geralmente fácil e gratuito (quando uma taxa

“Universidade dos estudos”. Procuraremos, ao

de inscrição é exigida, ela é irrisória). Nesse

contrário, mostrar que não apenas o estudo é

sentido, os protestos correntes sobre a

um paradigma cognoscitivo sob todos os

insuficiência

aspectos superior à pesquisa, mas que, no

(efetivamente escassos) são destituídos de

âmbito das ciências humanas, o estatuto

qualquer fundamento. De fato, os fundos em

epistemológico que lhe compete é muito menos

questão são utilizados não para a pesquisa em

contraditório do que o da didática e o da

sentido próprio, mas para participação em

pesquisa.

congressos e colóquios que, por sua natureza,

dos

fundos

de

pesquisa

em nada compartilham com seus equivalentes Para o termo “pesquisa”, em específico,

nas ciências naturais: enquanto nestes se trata

tornam-se

os

de comunicar as novidades mais urgentes não

incauta

apenas na teoria, mas também e acima de tudo

transferência de um conceito da esfera das

nas verificações experimentais, nada de similar

ciências da natureza à das ciências humanas. O

pode acontecer no âmbito humanístico, no qual

próprio termo remete, com efeito, nos dois

a interpretação de uma passagem de Plotino ou

âmbitos,

e

de Leopardi não é ligada a nenhuma urgência

metodologias de todo diversas. A pesquisa nas

particular. Dessas diversidades estruturais

ciências naturais implica, acima de tudo, o uso

decorre que, além disso, enquanto nas ciências

de equipamentos tão complicados e custosos

da natureza as pesquisas mais avançadas em

que

um

geral são conduzidas por grupos de cientistas

pesquisador individual possa realizar suas

que trabalham juntos, nas ciências humanas os

pesquisas

implica

resultados mais inovadores são com frequência

direções, diretivas e programas de inquirições

obtidos por estudiosos solitários, que passam

que resultam da conjuntura de necessidades

seu tempo nas bibliotecas e não gostam de

objetivas – por exemplo, o aumento do número

participar

particularmente

inconvenientes

nem

a

que

derivam

perspectivas,

mesmo sozinho;

evidentes

é

da

estruturas

pensável

além

disso,

que

de

congressos.

dos tumores, o desenvolvimento em curso de uma nova tecnologia ou as exigências militares

Se já essa substancial heterogeneidade dos dois

âmbitos

e

de

interesses

correspondentes

nas

indústrias químicas, informáticas ou bélicas.

aconselharia

reservar

o

termo

pesquisa às ciências naturais, também outros


9

argumentos sugerem restituir as ciências

sua utilidade. Por força desse princípio, as

humanas ao estudo que as caracterizou por

coisas evidentemente mais supérfluas são hoje

séculos. A diferença do termo “pesquisa”, que

inscritas

remete a um girar em círculo sem ainda ter

recodificando como necessidades atividades

encontrado o próprio objeto (circare), o estudo,

humanas que sempre foram feitas apenas por

que significa etimologicamente o grau extremo

puro prazer. Deveria ser claro, de fato, que

de um desejo (studium), desde sempre já

numa sociedade dominada pela utilidade

encontrou seu objeto. Nas ciências humanas, a

justamente as coisas inúteis se tornam um bem

pesquisa é apenas uma fase temporária do

a salvaguardar. A essa categoria pertence o

estudo, que cessa uma vez identificado seu

estudo. Aliás, a condição estudantil é para

objeto. O estudo é, ao contrário, uma condição

muitos a única ocasião para fazer a experiência,

permanente. Aliás, pode-se definir o estudo

hoje cada vez mais rara, de uma vida que se

como o ponto em que um desejo de

subtrai

conhecimento atinge sua máxima intensidade e

transformação das faculdades de humanidades

se torna uma forma de vida: a vida do

em escolas profissionais é, para os estudantes,

estudante – melhor, do estudioso. Por isso – ao

ao mesmo tempo um engano e um massacre:

contrário do que está implícito na terminologia

um engano porque não existe nem pode existir

acadêmica, na qual o estudante é um grau mais

uma profissão que corresponda ao estudo (e

baixo em relação ao pesquisador – o estudo é

isso por certo não é a cada vez mais rarefeita e

um paradigma cognoscitivo hierarquicamente

desacreditada didática); um massacre porque

superior à pesquisa, no sentido que esta não

priva os estudantes daquilo que constituía o

pode atingir seu objetivo se não é animada por

sentido mais próprio de sua condição, deixando

um desejo e, uma vez que o atinge, só pode

que, ainda antes de serem capturados pelo

conviver

este,

mercado de trabalho, vida e pensamento,

estudo.

unidos pelo estudo, para eles se separem

estudiosamente

transformar-se

com

em

num

aos

paradigma

fins utilitários.

utilitário,

Por isso, a

irrevogavelmente. Em face a tais considerações é possível objetar que enquanto a pesquisa sempre tem em mira uma utilidade concreta, não se pode dizer o mesmo

para

o

estudo,

que,

enquanto

representa uma condição permanente e quase uma

forma

de

vida,

dificilmente

Global Economic Crisis and the Spectre of Marx Por: Captain Kickarse

pode

reivindicar uma utilidade imediata. Aqui é preciso inverter o lugar comum segundo o qual

With the impending collapse of the entire

todas as atividades humanas são definidas por

capitalist system, the revolution must surely be


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at hand. More likely the media needs fuel to feed its ever expanding furnace, and Marx is useful fodder, as the most tenuous link is all

Era uma vez... Mais uma vez

that is needed to run with a story, especially in

Por: Gisele Rezende e Guilherme Orestes

the world of opinion and columnists. What we

Canarim

have learned in the past few weeks is if you are not promoting the individual in economic practice, then you are a socialist, or worse, a communist.

We

know

this

from

recent

congressional debates over the Wall Street rescue package; this is a socialism for which I will not stand called several Republicans. It is easy to see why we have seen such a surge in the term 'socialism' being bandied about in the media.

Os estudantes que, segundo a história da educação

pode

nos

apontar,

tem

sido

assujeitados pelos enfoques do sistema de ensino na instrução, polidez e cortesia, que no final da idade média a sociedade ocidental buscou, fizeram-se base substancial sob a qual a educação buscou fundamentar seus métodos. Satisfazendo a aristocracia quanto a seus

Apparently Germans have been rushing to buy

propósitos burgueses e compreensões epocais, alem de servirem de sinais orientadores de um

up Marx's Das Kapital. BBC Story.

formato de ensino que aparentemente atendeu The obvious reality is that some good old

a seu desígnio com plenitude, por ser baseado

fashioned

being

na reprodução de conceitos de forma passiva, o

deployed to solve a problem of deregulated

que permitiu separar quem vai mandar de

capitalism, so I really don't know how or why

quem vai obedecer ? de que modo os

Marx has come into any of this at all (other

estudantes em sua posição de contingência

than his analyses of capitalism is still

necessária a composição e manutenção da

fundamentally strong and some US senators

sociedade capitalista são elementos centrais na

still fear those reds under their beds to the

sua compreensão ?

Keynesian

capitalism

is

degree that even George W Bush is an evil socialist).

Em

consonância

com

a

realização

da

“finalidade” da escola, visando minimizar a Still, rather than buy yourself a copy of Kapital,

divergência na comunidade escolar e levando-

or even to read it, Librivox has recently

se em consideração a relação desta em com às

released it in free digital talking book

metas e políticas socioeconômicas do país e

form. Librivox Das Kapital.

com os cidadãos por ela assistidos, também se assinalam os limites próprios a problemática da elaboração de um novo conceito de


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educação, deste modo observa-se um contexto

mercadológica

no qual a escola perde sua potência no que ela

capitalismo enquanto outros só cimentaram as

faz de melhor: classificar o indivíduo quanto ao

articulações com este. Se não há cobrança com

conhecimento. No entanto, como se configurou

relação ao método de ensino, não há crítica em

este cenário ? por meio de quais agentes sociais

relação à drástica mudança nele, ainda que

a razão burguesa se consolidou enquanto

divirja indefinidamente da sua formação

núcleo do modus operandi do pensamento,

acadêmica.

resultando na impossibilidade subjetivação ? ou ainda, poderíamos nos posicionar de alguma maneira fora deste paradigma e desta estrutura ideológica, tendo em vista o entendimento da produção humana do ponto de vista do saber e suas implicações socioeconômicas ?

de

potencialização

do

São muitos itens a serem trabalhados para infundir uma consciência reflexiva no aprendiz, nesse

sentido,

uma

metodologia

com

abordagem dialética preconiza uma atuação despretensiosa, em relação ao saber, junto ao aprendiz e na reelaboração de conceitos, por

Na primeira metade do século XX a Escola

meio de um olhar crítico sobre o objeto de

Nova, sustentada em teóricos como John

pesquisa. Mas o que há, é uma incerteza quanto

Dewey,

à

surge

como

uma

proposta

de

sistematização

do sempre

ensino

na

presente

na

renovação do ensino existente, sugerindo que

contemporaneidade,

toda fala era relevante no processo de

história da humanidade, a educação ainda

aprendizagem, e todos os agentes são centrais

permanece sendo um campo de grandes

neste processo que resulta de uma inteiração

desafios.

social. Sob esta ótica na educação infantil, a criança aprendia conforme seu interesse numa gama de praticas sociais e objetos de estudo, uma variação em alguns momentos drástica na, que afetou o método de ensino tencionando o âmbito

educacional

em

relação

O coxinha-croissant Por: jnf.

à

individualidade. Há portanto que se considerar

O coxinha que sonha em ser croissant vomita

que o aparente “empoderamento” dos sujeitos

sua ira nas redes sociais ao lado da selfie no

do sistema de ensino neste período, que por

Arco do Triunfo. Ele acaba de visitar Paris e

um lado mostrou-se pelo intermédio do

sente saudades das delícias do "velho mundo":

trabalho

a

do

educador

que

ficou

mais

cidade

do

almanaque

não

concebe

cerebral

deste

“sossegado” quanto ao planejamento, ou no que

brasileiro

diz respeito à curiosidade do aprendiz, por

imigrantes

outro na verdade, alguns aspectos desta

acampamentos

tendência

pobres, sujas e violentas no coração da

não

atenderam

a

lógica

afogados de

no

leis

antiterror,

mediterrâneo,

refugiados,

periferias


12

"civilização". O coxinha-croissant é um místico

atoleiro chamado Brasil. A PF e suas botas. O

em busca de parques temáticos imaginários

coxinha-croissant é um ordeiro adorador de

regados a cenários de blockbuster pseudo-cult,

botas. Um pacífico e refinado lambedor de

roupas cafonas, vinhos caríssimos ruins e

botas. Un parfait lécheur.

muito fast-food gourmetizado. Bens culturais sob medida para otários colonizados. "Como é triste viver em um país subdesenvolvido, inculto e corrupto!", "que tragédia um expresidente metalúrgico", bradam os coxinhascroissants, comendo "foi gras" com notas fiscais em nome de empresas e desviando muito em seus impostos de renda. O coxinha-croissant se sente humilhado por não poder mais vestir no estrangeiro a camisa da CBF (do morto-vivo José Maria Marin) depois dos 7 a 1 - culpa do PT! -, mas pode usar ressentidamente seu modelito na avenida Paulista, mesmo que seu gosto e formação possa às vezes destoar do coxinha-hotdog (que sonha viver em Miami e votar em Trump, apesar do senhor de cabelos pintados de loiro sonhar um dia ver os latinos enterrados em fossas comuns) ou do coxinhacoxinha modesto, cujo sonho é viver em Curitiba (a cidade de Beto Richa, a mais limpa e europeizada do Brasil). O coxinha-croissant é um devoto da religião de santos da PF, eles salvarão o Brasil, higienicamente! A PF, "única instituição corporação

que que

funciona o

no

país",

coxinha-croissant

é

a

tem

intimidade quando renova seu passaporte ou precisa gentilmente pagar uma propina para poder entrar com mercadoria contrabandeada (a propósito, todos os coxinhas-croissants são brancos e fazem uso correto do vernáculo). O bom-mocismo da PF que limpará a lama do


13

Notas de literatura

possibilidade de que a própria escrita seja o seu fim, de que ele possa estabelecer-se como um cainho para o exercício das habilidades,

Sobre escrever

competências,

capacidades,

objetividades,

comunicações e ou seja la o que elas se

Por: Guilherme Orestes Canarim

pretenderem, mas que também se construam enquanto um lócus própria a colaboração na [...]cada vez mais as exigências estão se

produção do conhecimento, tácito é claro,

reduzindo[...](DAITX, 2017,)

daqueles

Quanto a questão da escrita, se e apenas se, por

comunidade acadêmica. Portanto a questão da

um lado, podemos hoje mais do que em

possibilidade de um “paper” ter alguma

qualquer outra época da história, ter algum

validade ou cientificidade, de carregar consigo

razoável acesso aos meios necessário para a

de um autor alguma dimensão e de uma serie

produção de um texto, por outro igualmente é

de fontes outros tanto elementos constitutivos,

este o ponto em que a humanidade poderia

e de este produto alcançar algum grau de

facilmente marcar no tempo a sua débâcle

clareza ou de solidez conteudal fica numa

derradeira.

desiderato

espécie de impasse, numa encruzilhada, no

moderno de formar sujeitos capazes para a

sentido de Baudelaire e de Breton, se

utilização

contextualiza e se reconhece a partir de sua

A

realização

da

língua

do em

seu

pleno

tais

membros

sua operação, custou-nos, e talvez ainda

necessariamente uma preocupação com o que

continue custando, um imenso esforço de

tange a sua própria natureza. Talvez as

manutenção e estruturação das condições

implicações econômicas do neoliberalismo

necessária ao aparecimento do fenômeno da

grassante no mundo acadêmico esteja por traz

civilização. Parece a alguns economistas e

da canalha que tem se tornado a produção

sociólogos que há uma evidencia clara e mais

acadêmica, e com suas novíssimas e sempre

ou menos auto-explicativa em relação a isso, ou

mais

seja de que o capitalismo global e sistematizado

melhoramento e promoção da realização do

vem-se perscrutando no gênero humano

pleno

enquanto

sua

científicos e sua inquestionável qualidade total

constituição. No entanto para alem disso a

e comunicabilidade precisa, de cuja exatidão,

produção dita acadêmica sofre se não mais

clareza, profundidade, utilidade, e ou mérito

tanto quanto a literatura em geral em sua

poder-se-ia pelo menos duvidar. Quem sabe as

condição de meio, quero dizer, ninguém ou

transformações e as reconverções culturais

pouquíssimos

dinâmicas e fluidas do contexto social de livre

de

suporte

estudiosos

para

consideram

a

arranjadas

potencial

seja

não

da

própria

bem

ou

cegos

desenvolvimento, dando conta do aparato de

serve

deslocalidade,

pares

estratégias

comunicativo

dos

de meios


14

transição e os ambientes de favorável apoio e

e aos dois anos já era mais um número no

suporte a educação e cultura, que brindam

registro de órfãos. depois disso foi morar com

nossa civilização ocidental com uma inigualável

uma tia beata que lhe infringia castigos físicos e

homogeneidade apedeutica, estejam na base do

uma vida de privações, inclusive privação da

empobrecimento e do dilaceramento do que

própria infância, deixando-lhe um legado de

um dia pretendemos ser.

pensamentos

duvidosos

sobre

seu

comportamento. Com a morte da tia mudou-se para o Rio, dividindo um quarto miserável com mais

Uma novela chamada indiferença e

quatro Marias, trabalhadoras como ela que

desamparo: a história de vida das

vinham para casa apenas para se aliviar da

macabéas do nosso brasil.

exaustão. Mas a vida não é assim? Horas de trabalho ininterrupto, minutos de intervalo

Por: Josiane Custodio de Souza

para se dividir, se alimentar frugalmente, aliviar a pressão da bexiga e dispensar um

As Macabéas estão em todos os lugares. podem

pensamento a qual tarefa terá prioridade no

lhe entregar o pão no balcão da padaria, passar

“tempo livre”?

com crianças entrelaçadas em suas pernas,

“Pois que a vida é assim.”Macabéa “nem se

num diálogo desgastante cuja repetição

se

dava conta de que vivia numa sociedade

percebe infinita, podem estar sentadas no

técnica onde ela era um parafuso dispensável”,

banco da praça com um olhar perdido entre as

ou se questionava

folhas das árvores que balançam com a brisa e

sociedade imediatista e multi-tarefa? Somos

caem

aparente

propriamente uma mistura da heroís com

similaridade delas conosco não se pode esperar

pitadas de desconforto, indignação, rebeldia e

que se compreendam os motivos que levaram à

ideologia? Ou ainda de fé?

sem

sentido,

apesar

da

quem somos nós nesta

sua existência, cabe-nos apenas experimentar os sentimentos se elevam no interior da alma

Esse imediatismo que nos cerca como um

ao saber sua história, que serão muitos e nem

animal selvagem carnívoro, saboreando cada

todos benignos para o leitor, porque para

pedaço de nos com tanto séquito que não

Macabéa “não tendo conhecido outros modos

conseguimos

de viver, aceitara que com ela era “assim”.

mesmos,fazendo o “pensar sobre”, se tornar

nos

manter

em

nós

cada dia mais utópico. Se para executar o A história de Macabéa se passa no Rio de

direito ao ócio, exercitar o pensamento crítico

Janeiro, mas ela também não era de la. Nasceu

corre-se o risco de ser o “parafuso trocado”,

em Alagoas, “ lá onde o diabo perdeu as botas”,

como escapar deste dilema ileso? Se nossos


15

hobbies, nosso trabalho já são controlados por

seu “namorado” Olímpico de Jesus, que “fora

uma

consegue,

criado por um padrasto que lhe ensinara o

condicionar até pensamentos, como pode –se

modo fino de tratar pessoas para se aproveitar

pensar que Macabéa escaparia sem marcas

delas e lhe ensinara como pegar mulher”.

deste destino ? já que para ela “ pensar era tão

Olímpico era operário em uma metalúrgica,

difícil, ela não sabia de que jeito se pensava”?

ambicioso, desejava ser deputado, e quem dirá

Sim, Macabéia só vivia, sua vida simples

que não acabou conseguindo realizar seu

resumia-se a ir ao trabalho, alimentar-se de

desejo? Freqüentemente perdia a paciência

cachorro quente ou pão com mortadela e goles

com Macabéia e insultava-lhe com palavras, até

de café frio antes de dormir. Também era

mesmo após ter trocado a moça pela sua colega

apaixonada por ouvir no rádio anúncios e

de trabalho, Glória, “ Você, Macabéa, é um

cultura, de onde armazenava mentalmente

cabelo na sopa. Não dá vontade de comer. Me

informações e palavras que jamais ouvira, mas

desculpe se lhe ofendi, mas sou sincero” disse-

que talvez precisasse, pois como diz o ditado

lhe Olímpico, pondo um fim no curto e peculiar

“quem espera sempre alcança”.

relacionamento.

indústria

que

tenta,

e

Ela tinha

desejos: como o de usar os cremes que apareciam na sua coleção de recortes de anúncios, e quem irá dizer que é fácil este desejo não sabe que ir ao cinema uma vez por mês quando recebia o pagamento que era seu luxo.

E é nessas horas que até mesmo o narrador da história se vê impelido por seus sentimentos, porque ela não reage? Nunca havia conhecido o que supunha ser o amor de um homem, nem alimentado a ilusão de se casar até conhecer Olímpico.

Então seria este o momento de

Era feliz? Sim, era feliz. Por que não haveria de

chorar ? e se desesperar pelas infindáveis

ser? Afinal estava viva. Nesta nordestina o que

moléstias que circundaram sua vida?

tanto

faltava-lhe

em

atributos

físicos

e

intelectuais, sobrava em sentir-se inundada de alegria ao ouvir o cantar de um galo, ou um arco-íris. Prestava atenção nas pequenas coisas,

aquelas

que

como

ela,

eram

insignificantes para a maioria, como um portão enferrujado ou um capim crescendo entre as pedras.

Esperaríamos que sim, porém seguiu como se nada tivesse acontecido “também o que ela podia fazer?” para quem apenas existe “tristeza era coisa de rico, era pra quem podia, pra quem não tinha o que fazer. Tristeza era luxo.” E o que fazemos em nossos dias para auxiliar pessoas que se encontram neste estado de apatia? Precisamos sim cada um cuidar de sua

Como a maior parte das Marias, ela

vida mas por que não dispensar este olhar de

também sofreu a violência das palavras, usadas

cuidado com o seu próximo? Com certeza

para humilhar e depreciar, quando conheceu

muitos de nós já amargamos um “podia ter


16

feito mais” em nossas vidas, e esse pensamento

prepara um chão suficientemente ressequido

geralmente sucede um ato irrevogável que por

para acolher com avidez a prosápia e a

muitas vezes é a morte. A morte é a única

superstição.”

certeza que temos nesta vida e Macabéa na sua pouca sabedoria define a morte como um espetáculo.

Parece-me que eles estão indicando um processo que mais tardiamente em adorno será conhecido

pelo

conceito

de

mundo

administrado, quer dizer, que a gestão do recursos miméticos recalcados é como diz

Em resposta a pergunta sobre a

adorno a forma do funcionamento da indústria

educação

da cultura que não só não tem assim condições de solapar-se a si mesma como esta fundada na

Por: Guilherme Orestes Canarim

“superfluidade” não apenas dos textos como na citação acima mas, arrisco-me, de todas as No prefacio da dialética do esclarecimentos adorno e Horkheimer elementos

da

apontam para alguns autodestruição

do

esclarecimento,destruição esta que se funda na racionalidade moderna a ratio burgoise, em meio a esses pontos eu gostaria de retira uma citação e a partir dela tomar um caminho talvez pouco explorado cito: “O processo a que se submete um texto literário, se não na previsão automática do seu produtor, pelo menos pelo corpo de leitores, editores, redactores e ghost-writers dentro e fora do escritório da editora, é muito mais minucioso que qualquer censura. Tornar inteiramente supérfluas suas funções parece ser, apesar de todas as reformas benéficas, a ambição do sistema educacional. Na crença de que

ficaria

excessivamente

susceptível

à

charlatanice e à superstição, se não se restringisse à constatação de factos e ao cálculo de probabilidades, o espírito conhecedor

coisas (sache) do mundo moderno produzidas pela humanidade.


17

Critica roedora

questões sobre este tema? c) quando um feto é de fato uma vida?

Aborto, os “pró-vida” e os “pró-escolha”

O estado brasileiro, segundo o decreto de lei nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940, nos seus

Por: Jose Gustavo Santos da Silva

artigos 124 a 126 tornam crime o aborto no Brasil, sendo que no seu artigo 128, tornam

“Um milhão de mulheres abortam todos os anos

possível a prática em casos de estupro ou risco

na França. Elas abortam em condição arriscada

de vida para a mulher. (BRASIL, 1940). A

por causa da clandestinidade a que são

declaração mundial dos direitos humanos em

condenadas, ainda que essa operação, se

seu artigo terceiro diz que “Todo indivíduo tem

praticada sob supervisão médica, seja muito

direito à vida, à liberdade e à segurança

simples. Silenciamos sobre esses milhões de

pessoal” (ONU, 1948). Baseando-se nestes

mulheres. Declaro ser uma delas. Declaro ter

pretextos

abortado. Da mesma maneira que demandamos

defendem com unhas e dentes a não legalização

acesso livre aos métodos contraceptivos, nós

do aborto, por ser uma ameaça a vida, mas qual

pedimos o aborto livre”.

vida? Não a uma unanimidade de opiniões a

constitucionais

os

“pró-vida”

respeito do aborto, mas alguns cientistas Manifesto 343 - Simone de Beauvoir, 1971

defendem que entre a terceira e a vigésima quarta semana, outros defendem até a vigésima semana que a ocorrência de vida é nula, a não

As questões religiosas e morais acercadas discussões a respeito do direito à vida, são provavelmente as mais significantes quando se analisa a atual posição do estado brasileiro em relação ao aborto. SAGAM (1997) considera a questão do aborto com duas vertentes distintas os “pró-vida” e os “pró-escolha”. Durante séculos de existência a humanidade gosta de pensar em termos de opostos diferentes (DEWEY, 1938 apud SAGAM, 1997, p. 120). Acredito

que

algumas

questões

são

apropriadas a nossa análise da conjuntura da legislação brasileira sobre esta questão, a) o estado deve interferir em uma escolha pessoal? b) por que a religião tem interferência nas

coerência entre a comunidade cientifica abre brechas para argumentos dos “pró-vida” em favor a não legalização. A igreja, principalmente a católica vem defendendo que a vida ocorre a partir do momento da fecundação, e este já tem alma própria. O que pode ser um pouco contraditório, colonização

quando a

própria

nos

séculos

igreja

de

católica

considerava os indígenas e negros dois povos sem alma. Um atraso no pensamento religioso da época? Talvez, mas que murmura nos dias atuais. E o que dizer de uma bancada evangélica dentro de um senado federal dito “laico” pela constituição de 1988? Homens que vestem um terno e misturam política e religião


18

como se estivéssemos no século XVI onde a

cidade do México também libera esta prática. É

igreja era o centro político/decisório da

visto um atraso nas leis nos países latinos, Chile

sociedade, mas em pleno ano de 2017 do século

Nicarágua e El Salvador proíbem em quais quer

XXI, acredito ser um pouco atrasado a

circunstâncias

interferência

colonização de exploração pode ser uma das

do

pensamento

religioso

e

conservador de uma bancada deste cunho, na qual prega regras religiosas baseadas em crenças de mais de vinte séculos, que obviamente não se aplicam mais a nosso tempo. Outro ponto que pode se mostrar contraditório com as questões religiosas são baseados em dados do ministério da saúde, os quais indicam que entre 44,9% e 91,6% do total das que têm experiência de aborto induzido declaram-se católicas. Entre 4,5% e 19,2% declaram-se espíritas, e entre 2,6% e 12,2%

declaram-se

protestantes

(BRASIL,

2009).

O processo de

causas deste atraso político. Podemos levantar aqui outra questão relevante como

argumento

dos

“pró-escolha”,

a

desigualdade social de classes é vista como um dos principais fatores para que ocorra a legalização do aborto. Por exemplo o maior número de abortos encontra-se no nordeste e sudeste brasileiro, e a quantidade de mulheres negras que abortam são o dobro das mulheres brancas, a educação também é um fator quando mais de 30% das mulheres que aborto não tem instrução completa e outra 33% tem apenas ensino médio completo, então o aborto tem

As propostas da frente pró-escolha das quais comungo, são que até a terceira semana de gestação

a prática.

o

totalmente,

aborto sem

seja

quais

descriminalizado quer

punição

as

mulheres que o fizerem. Com a legalização e a padronização dos atendimentos, a paciente passa a ter acompanhamento psicológico, para ter certeza de sua escolha, esta forma de atendimento

possibilitaria

uma

discussão

prévia antes que qualquer decisão seja tomada. Este sistema é empregado em alguns países como o Uruguai e vem tendo resultados positivos, após a legalização a desistência subiu para 30% e não se registraram morte

raça e classe? Hoje no Brasil são mais de 850.000 abortos por ano (provocados), e mais de 75.000 mulheres morrem em consequência do aborto de forma clandestina, em más condições higiênicas e de cuidados, muitas abortam em casa com auxílio de medicamentos e um cabide de guarda roupa, ou até mesmo uma agulha de crochê, outras em clinicas clandestinas com maior “segurança” pagando valores absurdos para médicos de “araque” para na maioria das vezes tirar suas vidas em cima de uma mesa de cirurgia.

decorrentes deste procedimento. Apenas mais

A

legalização

não

seria

necessariamente

dois países da América Latina descriminalizam

colocar este como um método contraceptivo,

o aborto, são eles, Cuba e Guiana, sendo que a

no qual a mulher recorreria sempre a ele.


19

Pensando em um contexto mais rotineiro seria

BRASIL. Ministério da Saúde. Aborto e saúde

a pílula do dia seguinte um crime também?

pública no Brasil: 20 anos / Ministério da

Ao meu entender compreender a diferença de ser contra abortar e ser contra a legalização do aborto deve ser vista de um ponto racional, se você se posiciona contra o aborto, sem problemas, quando você estiver grávida tem a livre

escolha

de

não

ter

a

gestação

Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Ciência e Tecnologia. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009.

Disponível

em:

>http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/l ivro_aborto.pdf. Acesso em: 30 abr. 2017.

interrompida, mas não deve interferir nas

SAGAM, Carl. Bilhões e bilhões na virada do

escolhas de outras mulheres, as quais são livres

milênio. São Paulo: Schwarcz, 1997. 173 p.

e deveriam sim ser as donas de seus corpo, e

Disponível

não um estado corrupto e controlador, que usa

<http://www.us.esags.edu.br/conteudo/releas

de argumentos religiosos e morais para

es/arquivo/bilhoesebilhoes-

defender suas opiniões baseadas em códigos

carl_sagan_f1963b30.pdf>. Acesso em: 30 abr.

canônicos de séculos atrás e legislativos de

2017.

1940. Notem que em pleno ano de 2017, ainda seguimos um código penal com 77 anos, frente a isto deveríamos rever nossas leis, e notar que muitos dos artigos ali escritos não são mais aplicáveis nos dias atuais. Muito ainda deve ser discutido sobre o assunto, mas tenho claro para mim que a legalização já passou do tempo de ser aprovada, já basta em pleno ano de 2017 que mulheres pobres morram e mulheres ricas abortem. Referências: BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940. Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/ acervo_gestao_classificacao/referencias.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2017.

em:


20

Bruna da Silva Ribeiro


21

Ensayos

narcisista em um amor maduro pelo objeto. Nunca lhe vem em mente, no entanto, conceber uma via educativa análoga para a produção de

Para além de Édipo e Narciso: notas

adultos

orgulhosos,

de

guerreiros

e

de

sobre a psicanálise

portadores de ambições. Para os psicanalistas a

Por: Peter Sloterdijk

palavra "orgulho" é, no máximo, somente uma recorrência vazia no léxico dos neuróticos. Com os exercícios para desaprender, os quais se

Em correspondência com sua aproximação

chamam formação, os psicanalistas perderam o

erótico-dinâmica, a psicanálise trouxe à luz

acesso àquilo que a palavra designa.

muito daquele ódio que forma a obscura inversão do amor. Ela chega a mostrar como odiar seja sujeito a leis similares àquelas do amar e que, em ambos, projeções e coações repetidas dirigem o comando. Por longo tempo a psicanálise permaneceu muda diante da ira que

surge

da

busca

por

sucesso,

da

consideração, da auto-estima e das suas repercussões. A teoria do narcisismo é o sintoma

mais

voluntária

que

evidente seguiu

dessa o

ignorância

afirmar-se

do

paradigma analítico. Representa o segundo desdobramento da doutrina psicanalítica com o qual se deveria eliminar as imprecisões do teorema edípico. É claro que a teoria do narcisismo coloca significativamente o seu interesse na auto-afirmação do homem, mas na esfera de influência deveria incluir, contra toda plausibilidade, um segundo modelo erótico. Assume-se o cansaço inútil de deduzir do autoerotismo e das suas divisões patogênicas a obstinada riqueza dos fenômenos timóticos. Certamente

a

psicanálise

formula

um

respeitável programa de educação para a psique, com o objetivo de transformar o estado

Todavia, Narciso não está à altura de ajudar Édipo. Escolher como modelos essas pessoas míticas nos revela mais de quem os escolheu do que da natureza do objeto. Como uma criança com traços que mostram fraqueza mental e que não pode distinguir entre si e a sua imagem refletida poderia compensar a fraqueza de um homem que conhece o pai somente no momento em que o mata e, num erro, gera os seus descendentes com a própria mãe? Ambos são apaixonados que encetaram caminhos enlameados,

ambos

vagueiam

tanto

na

dependência erótica que não seria simples decidir qual dos dois seria o mais miserável. Com Édipo e Narciso poder-se-ia começar de modo convincente uma galeria dos protótipos da miséria humana. Dessas figuras tem-se compaixão, não admiração; e nos seus destinos, quando se trata do ensinamento escolástico, está por se reconhecer o modelo mais potente de todos para os dramas da vida. Não é difícil descobrir

a

tendência

de

base

dessa

preferência. Quem quer transformar os homens em pacientes - isto é, em pessoas sem orgulho não pode fazer nada melhor do que promover


22

figuras como essas como emblemas da conditio

segundo a concepção do eros mais alta e

humana. Na verdade, a sua lição deve ter

unificadora, na medida em que a alma é

estado no aviso relativo ao fato de que o amor

assinalada pela lembrança de uma perfeição

desconsiderado e unilateral zomba de seus

perdida; segundo a concepção do eros popular

sujeitos. Somente quando o fim é ab ovo a

e dispersivo, na medida em que esta é

representação do homem como marionete do

constantemente submetida a um variado

amor serão explicados o miserável adorador da

número de "desejos". De todo modo, não pode

própria imagem e o também miserável

abandonar-se

apaixonado pela sua mãe como modelos da

desejantes. Com uma energia muito grande

existência humana. De resto, pode-se constatar

deve vigiar as pretensões do seu thymós e, se

como os fundamentos da psicanálise foram, no

necessário, vigiar até mesmo sob os custos das

meio-tempo, soterrados pela excessiva difusão

tendências eróticas. Ele é desafiado a defender

das suas ficções mais eficazes. Observando-os

a sua dignidade e a ganhar tanto auto-estima

de longe, também o jovem mais cool dos nossos

quanto estima por meio de outros à luz de

dias sabe ainda o que se entende por Narciso e

critérios superiores. É assim e não pode ser

Édipo, mas participa de seus destinos de modo,

diferente. A vida de cada indivíduo singular

antes de mais nada, aborrecido. Não vê mais

pede por manifestar-se sobre nos palcos

neles uma imagem originária do ser humano,

externos da existência [Dasein] e por fazer

mas, com compaixão, falidos sem importância.

valer entre pares as próprias forças, por uma

Quem se interessa pelo homem como portador

exclusivamente

às

paixões

vantagem própria e coletiva.

dos movimentos orgulhosos e auto-afirmativos

Quem quer superar a segunda determinação do

deveria decidir-se a cortar o nó górgio do

homem a favor da primeira evita, desse modo,

erotismo

necessário

a obrigação de uma dupla formação psíquica e

retornar à opinião de base da psicologia

transforma a relação entre as energias em

filosófica dos gregos, segundo a qual a alma não

questões de balanço interno - tudo em

se manifesta somente no eros e nas suas

detrimento

intenções, mas muito mais nos movimentos

observam-se no passado, sobretudo nas ordens

do thymós. Enquanto a erótica mostra vias para

religiosas e nas subculturas inebriadas pela

os "objetos" que nos faltam e cuja possessão ou

humildade, nas quais as almas belas dão

proximidade nos faz sentir completos, a

reciprocamente saudações de paz. Nesses

timótica abre aos homens a estrada sobre a

círculos etéreos todo o campo timótico foi

qual eles fazem valer aquilo que têm, podem,

bloqueado pela censura de superbia, enquanto

são e querem ser. O homem, nas convicções dos

se preferiu deliciar-se com os prazeres da

primeiros psicólogos, é produzido inteiramente

modéstia. Honra, ambição, orgulho, elevado

pelo amor, precisamente em dois modos:

amor próprio - tudo isso foi ocultado atrás de

sobrecarregado.

É

do

senhorio.

Tais

inversões


23

uma espessa parede de prescrições morais e

permitem parar o ataque permanente à

"conhecimentos" psicológicos. Todos juntos

dignidade da sua inteligência.

procuravam banir o dito egoísmo. Esse ressentimento contra o Eu e a sua tendência a valorizar-se, ao invés de ser felizmente sujeitado, que precocemente se instituiu já nas culturas

imperiais

e

nas

suas

religiões,

distanciou por pelo menos dois milênios a convicção de que, na verdade, o tão censurado egoísmo representa freqüente e unicamente a incógnita das melhores possibilidades do homem.

Somente

novamente

com

estabelecer

Nietzsche

vamos

claramente

as

condições desse problema.

Os custos da erotização unilateral são altos. O obscurecer do timótico torna efetivamente incompreensível, em muitos e vários âmbitos, o comportamento humano - se toma em conta o fato de que a sua realização podia vir somente com ma educação psicológica, encontramo-nos diante de um resultado surpreendente. Como de costume essa não-compreensão pressupõe em toda parte o erro, não somente na própria ótica. Tão logo nos indivíduos ou nos grupos aparecem "sintomas" como o orgulho, a ambição, uma mais alta vontade de auto-

Com o atual consumismo atinge-se, de modo

afirmação e uma aguda combatividade, o

digno de nota, a mesma exclusão do orgulho a

partido

favor

desculpas

do thymós esquecido representa essas pessoas

distinguido

como vítimas de um complexo neurótico.

ulteriormente, conquistando, com facilitações

Assim, os terapeutas se encontram dentro da

materiais, o interesse dos homens pela

tradição cristã dos moralistas cristãos. Falam

dignidade. Assim, aquela construção, de início

dos demônios naturais do amor próprio, tão

completamente

do homo

logo as energias timóticas se fazem reconhecer

oeconomicus atinge o seu objetivo no usuário

abertamente. Não é, talvez, desde os tempos

pós-moderno. Um simples consumidor é quem

dos padres da Igreja que os europeus têm a

não conhece mais, ou não deve conhecer,

oportunidade de ouvir dizer que o orgulho e a

desejos a não ser aqueles que, para exprimir-se

ira são apenas movimentos que indicam aos

com Platão, provêm da "parte da alma" erótica

abjetos a via do abismo? Efetivamente a partir

ou desejante. Não é por acaso que a

de

instrumentalização da nudez é o sintoma

encabeça a lista dos pecados capitais. Quase

principal da cultura do consumo, admitido que

duzentos

a nudez seja sempre acompanhada por um

descreve-a como a matriz para a retirada do

toque de desejo. Ao menos os clientes,

divino.

exortados à demanda, não são totalmente

a superbia significa uma ação de fato do

desprovidos de armas de defesa. A ironia

consciente não-querer-assim-como-o-Senhor-

permanente ou uma indiferença adquirida lhes

quer (um movimento cuja presença acumulada

de

um

altruísticas,

erotismo

holísticas

sem ou

incerta,

contrário

Gregório

I

anos Para

da

o

orgulho,

antes os

cultura

aliás superbia,

Aurélio padres

terapêutica

Agostinho da

Igreja


24

aparece já clara nos monges e nos servidores

O que fazer se, a verdade ainda machuca? O que

do Estado). Quando se diz que o orgulho é o pai

fazer?

de todos os vícios, exprime-se a convicção de que o homem seja feito para obedecer - e todo

O que fazer se, ainda furo a fila? O que fazer?

movimento que leva para fora da hierarquia

O que fazer se, a fila tem preferências? O que

pode significar unicamente a passagem para a

fazer?

ruína. Peter Sloterdijk. Ira e Tempo. Roma: Meltemi editore, 2007. Trad. para italiano: Francesco Pelloni. pp. 22-26. (re-tradução ao português: Vinícius Nicastro Honesko) Não gosto muito de re-traduções, mas achei o trecho muito interessante e decidi compartilha-lo.

O que fazer se, ainda roubo? O que fazer? O que fazer se, o que ganho não me sustenta? O que fazer? O que fazer se, ainda mato? O que fazer? O que fazer se, não matar, sou eu quem morre? O que fazer? O que fazer se, ainda sou corrupto? O que

O que fazer?

fazer?

Por: Anderson Innocenti Colombo

O que fazer se, eu não sou corrupto, sou corruptível? O que fazer?

O que fazer se, penso, logo existo?

O que fazer se, ainda acredito que sou movido pelo instinto? O que fazer?

O que fazer se, não sei por que existo? O que fazer?

O que fazer se,meu instinto é parte primitiva do meu ser? O que fazer?

O que fazer se, quando penso, não sou eu quem pensa? O que fazer?

O que fazer se, ainda ultrapasso pela direita? O que fazer?

O que fazer se, penso, logo sou? O que fazer? O que fazer se, pela direita é mais rápido? O O que fazer se, minha consciência é parte

que fazer?

ínfima da minha psique? O que fazer? O que fazer se, ainda jogo lixo no chão? O que O que fazer se, meu inconsciente é o que tenho

fazer?

de melhor no meu pensamento? O que fazer? O que fazer se, não tem lixeira suficiente? O que O que fazer se, ainda minto? O que fazer?

fazer?


25

O que fazer se, ainda escravizo os oprimidos? O que fazer? O que fazer se,sou obrigado a comprar? O que fazer?

Soldados do Medo Por: Kenia Custodio Esta produção é uma reflexão sobre o texto

O que fazer se, ainda sou homofóbico? O que

“Murar o Medo” de Mia Couto. “Murar o medo”

fazer?

faz pensar sobre esse sentimento ou estado,

O que fazer se, a sociedade me obriga a ter preconceito? O que fazer?

que assola e até mesmo assombra os soldados do medo, por um curto período ou até mesmo por uma vida inteira. O medo de criaturas

O que fazer se, ainda sou racista? O que fazer?

celestiais, medo o que o mundo acabe, as

O que fazer se, a história me ensinou que as

diversas formas de medo cria fantasmas, tira a

minorias não tem direitos? O que fazer?

coragem de ir além das fronteiras e lhes da uma falsa sensação de proteção. O medo cala o

O que fazer se, ainda vendo o meu voto? O que

pensamento

fazer?

escraviza e empareda mentes torturadas e

O que fazer se, não tenho em quem votar?

transforma poesia em lamento de um triste

crítico,

interrompe

sonhos,

contentamento. O que fazer se, ainda não tenho o hábito da leitura? O que fazer?

Desde cedo as pessoas são expostas ao medo. Seria o medo uma espécie de segurança, o

O que fazer se, não me ensinaram a ler? O que fazer?

medo rouba a coragem de viver ou protege de possíveis

desventuras,

“Antes

de

ganhar

O que fazer se, ainda quero que o tempo passe

confiança em celestiais criaturas, aprendi a

rápido? O que fazer?

temer monstros, fantasmas e demônios.” O

O que fazer se, quando velho, busco a fonte da juventude? O que fazer? O que fazer se, ainda sou egoísta? O que fazer? O que fazer se, não me ensinaram o significado de altruísmo? O que fazer?

medo passado de geração para geração, a fim de evitar o pecado e o julgamento inquisidor das criaturas celestiais, deve preservar a moral e os bons costumes e manter as aparências. “Vivemos como cidadãos, e como espécie, em permanente situação de emergência. Como em qualquer outro estado de sítio, as liberdades

O que fazer se, o mundo está com os problemas

individuais devem ser contidas, a privacidade

que está? O que fazer?

pode ser invadida e a racionalidade deve ser

O que fazer se, eu não sei o que fazer...

suspensa.”


26

Não falar com estranhos é um principio básico

breve refletir apenas sentar, calar, copiar e

de segurança, assim, enquanto criança vive-se

repetir. Assim numa imposição de obediência,

uma ilusão de que o perigo está apenas no

“a escola e a cultura separam-lhe a cabeça do

estranho e os que a preserva dele, muitas vezes

corpo. Disseram-lhe que ali é que se aprende

não vê o perigo que está naqueles que são

que se torna gente! Mas que tipo de gente! Que

próximos

lugar é esse que faz gente interrompendo e

a

ela.

Aquele

conhecido

e

considerado inofensivo interrompe o brincar e

zombando da

o falar, desfalecendo a infância e calando a

fraqueza! “Dizem-lhe de pensar sem as mãos,

criança que por medo não revela o monstro ao

de fazer sem a cabeça, de escutar e não falar, de

seu redor. “Na realidade, a maior parte da

compreender

violência contra as crianças sempre foi

maravilhar-se só na Páscoa e no Natal. “Dizem-

praticada, não por estranhos, mas por parentes

lhe de descobrir o mundo que já existe e de

e conhecidos.” Além disso, quem dá ouvido a

cem, roubaram lhe noventa e nove.”

uma criança! Crianças obedecem seguindo as regras que também foram impostas a sua família. Assim passam a infância com medo do “chinês que comia crianças” e dos “terroristas que atacavam em nome da independência e da paz mundial.” E na cultura do medo nascem os soldados do medo.

sua

sem

poesia! Expondo sua

alegrias,

de

amar

e

À medida que o soldado avança o medo cala o pensamento, abandona a brincadeira e a poesia se torna lamento. E mais uma vez superar o medo é imprescindível. Como ter coragem para atravessar o medo, e ao atravessar, enxergar mais muros que horizontes iluminados! Onde o medo foi mestre a insegurança esconde a

Com o passar do tempo, superar certos medos

estrada além do horizonte. Ao encontrar uma

se faz necessário, ultrapassar a linha do

nova estrada, uma força oculta lhe interrompe

conhecido para o desconhecido que até então, o

mais uma vez a ousadia de tentar ser gente no

que sabia é que um dia todos irão ou pelo

meio de um monte de “gente” que pouco se

menos deveriam passar por esse lugar. E

importa com qualquer um que queira ser

aquele cujo medo acompanha, segue em frente,

diferente. Sendo assim, o medo o obriga a ser

preparado com a melhor roupa, o melhor

“mais um tijolo no muro”. Além das fronteiras

sapato e carregando dentro de uma bolsa um

do conhecido e da segurança dos seus, tomado

caderno, um lápis, uma borracha, no fundo está

por uma obediência moral e aniquiladora deve

o medo, medo de esquecer as instruções, “Ser

trabalhar

educado, obedecer, não reclamar, agradecer e

reclamar e não fazer qualquer crítica que seja.

se despedir.” Ao deparar-se com uma figura

Ali de onde vem o seu sustento quase tudo o

séria

lhe

que é feito é consumido pelas mesmas pessoas

interrompem o pensar e o falar, pois ali só tem

que o fizeram, pois não há outro modo de se

espaço para um ensinar, e o que lhe resta num

obter um objeto de desejo a não ser pelo

e

autoritária,

mais

uma

vez

sem

questionar,

obedecer

sem


27

esforço do seu trabalho, desejo este que é

grito de liberdade

imposto pela indústria da propaganda de

precisamos de controle mental.” Por que

consumo.

guerras são travadas em nome da paz mundial

O que fizeram daquele que teve interrompido o sonho, a fala e a poesia! Impuseram lhe uma felicidade ilusória, um sonho medíocre e uma falsa formação. Que lugar é esse que condena as

pessoas

ao

instrumentalismo

e

ao

fala a si mesmo “Não

ou de entidades divinas em pleno século XXI! As pessoas que estão no poder não tem medos! “O que era ideologia passou a ser crença. O que era política tornou-se religião. O que era religião passou a ser estratégia de poder.”

imediatismo moderno! Que pessoas são essas

E na guerra entre dominante e dominado está o

que se submetem a um estado de deformação!

medo, medo de perder o poder e o medo da

?Por que deixou de se preocupar consigo e com

liberdade.

os outros! Por que não faz perguntas, apenas

ilusoriamente livres que não vão a lugar algum

copia respostas! O soldado audacioso avista

sem um passaporte. Seu direito de ir e vir, só

mais estradas que muros e com isso os

lhe são concedidos, desde que fiquem sob os

fantasmas começam a esvaecer. Os olhos

olhos do sistema. “Liberdade” que aprisiona o

daquele que até então, cobertos pela névoa do

pensamento crítico e cala a voz dos milhares de

medo, ousam a olhar além dele. “Nessa altura

soldados

algo me sugeria o seguinte, que há, neste

reproduzir sem questionar.

mundo, mais medo de coisas más do que coisas más propriamente ditas.” E para alguém seguir a corrente do aniquilamento do pensar, já não é possível,

tomado

por

uma

desconhecida

lucidez, uma euforia esclarecedora surge ele, o medo, interrompendo a doce poesia do conhecimento. Mas, aquele que prova de tal iguaria, não lhe é possível esquecê-la, e mais uma vez, forças ocultas e encorajadoras se fazem presente ecoando dentro do seu pensamento que não precisa de controle mental.

Ali

dentro,

onde

o

sonho

foi

abandonado e o pensamento calado, acende-se uma luz, será uma luz divina! Será um pecado! O que querem criaturas celestiais! Aos poucos o pensamento se assenta e num rompante dá-se conta de que é a luz do esclarecimento. E num

Mas

que

fadados

a

liberdade!

ouvir,

Soldados

obedecer

e

“A nossa indignação, porém, é bem menor que o medo. Sem darmos conta, fomos convertidos em soldados de um exército sem nome e, como militares sem farda, deixamos de questionar.” Suas vidas pertencem a quem! Desde pequeno lhe foi ofertado e dado como certo, um modelo de vida semipronto, de obediência seguindo um padrão tido como moral e ético. Vida essa que lhe é constantemente controlada por muitos meios. As instituições de formação oferecem um modelo padrão de ensino e como um soldado exemplar submete-se a esse sistema. Como mudar um padrão imposto há séculos! Por que questioná-lo! A indústria cultural por meio da mídia os distrai com discursos previsíveis, positivos e de ordem em meio ao


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caos. “Em nome da segurança mundial, foram colocados e conservados no poder alguns dos ditadores mais sanguinários de toda a história.” Formadores de exércitos de soldados do medo

Defesa dos lobos contra os cordeiros Por : Hans Magnus Enzensberger

incumbidos de uma missão de ordem irracional criou-se “rapidamente outras geografias do medo: a Oriente e a Ocidente e, por que se trata de entidades demoníacas, não bastam os seculares meios de governança. Precisamos de intervenção com legitimidade divina.”

Querem que o abutre coma miosótis? O que exigem do chacal, do lobo, que mude de pele? Querem que ele mesmo extraia seus dentes? O que é que não apreciam

Essa guerra impostas pelos donos do “poder”

nos comissários políticos e nos papas,

demanda uma astuciosa equipe especializada

por que olham, feito burros,

que de maneira misteriosa determinam o que

o vídeo mentiroso?

podem e devem fazer cada soldado. Soldados ilusoriamente livres passam a ser vigiados e controlados por aqueles que de modo arcano dizem proteger. Proteção que requer um alto preço, restrições essas que tem como função inibir qualquer questionamento. “Eis o que nos dizem:

para

superarmos

as

ameaças

domésticas, precisamos de mais polícia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade. Para enfrentarmos as ameaças globais, precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária da nossa cidadania.” Desligar-se desse sistema exige coragem e resistência, pois um soldado desertor tem sua voz calada e sua vida psicologicamente ameaçada. Mas soldados não desistem de sua luta, principalmente quando a luta é por esclarecimentos que darão outro sentido a vida.

Quem costura a faixa de sangue nas calças do general? Quem trincha, diante do agiota, o capão? Quem pendura orgulhoso, a cruz de lata sobre o umbigo que ronca de fome? Quem aceita a propina, a moeda de prata, o centavo para calar-se? Há muitos roubados, poucos ladrões; quem os aplaude, quem lhes põe insígnias no peito, quem é sequioso de mentiras? Olhem-se no espelho: covardes, temendo a fadiga da verdade, sem vontade de aprender, entregando o pensar aos lobos um anel no nariz como adorno preferido nenhuma ilusão burra o bastante, nenhum consolo barato o suficiente, cada chantagem ainda é clemente demais para vocês.


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Ó cordeiros, irmãs

seht in den spiegel: feig,

são as gralhas comparadas a vocês:

scheuend die mühsal der wahrheit,

vocês se arrancam os olhos uns aos outros.

dem lernen abgeneigt, das denken

Fraternidade reina

überantwortend den wölfen,

entre os lobos:

der nasenring euer teuerster schmuck,

andam em alcatéias.

keine täuschung zu dumm, kein trost

Louvados sejam os salteadores: vocês convidam para o estupro

zu billig, jede erpressung ist für euch noch zu milde.

deitando-se no leito preguiçoso

ihr lämmer, schwestern sind,

da obediência. Mesmo gemendo

mit euch verglichen, die krähen:

vocês mentem. Querem

ihr blendet einer den anderen.

ser devorados. Vocês

brüderlichkeit herrscht

não mudam o mundo.

unter den wölfen:

Verteidigung der Wölfe gegen die Lämmer soll der geier vergissmeinicht fressen? was verlangt ihr vom schakal, dass er sich häute, vom wolf? soll er sich selber ziehen die zähne? was gefällt euch nicht an politruks und an päpsten, was guckt ihr blöd aus der wäsche auf den verlogenen bildschirm? wer näht denn dem general den blutstreif an seine hose? wer zerlegt vor dem wucherer den kapaun? wer hängt sich stolz das blechkreuz vor den knurrenden nabel? wer nimmt das trinkgeld, den silberling, den schweigepfennig? es gibt viel bestohlene, wenig diebe; wer applaudiert ihnen denn, wer steckt die abzeichen an, wer lechzt nach der lüge?

sie gehen in rudeln. gelobt sein die räuber: ihr, einladend zur vergewaltigung, werft euch aufs faule bett des gehorsams. winselnd noch lügt ihr, zerrissen wollt ihr werden. ihr ändert die welt nicht.


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