Tempos do Espaço Urbano - Caderno

TEMPOS DO ESPAÇO URBANO Inserção do Galpão Aplauso na nova região portuária e seus futuros possíveis cenários

Proposta de Projeto Final - ARQ1109 PUC- Rio - 2016.2 Guilherme Motta Orientadora: Mariana Vieira

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CAPA - FRANCIS ALŸS | A STORY OF DECEPTION Em seu trabalho, Alÿs tenta encontrar metáforas para explicar a crise do mundo, da economia, da política, da sociedade. O furacão é uma dessas metáforas.

O furacão altera dinâmicas.

As crises alteram dinâmicas.

O Porto Maravilha altera dinâmicas.

A reconstrução altera dinâmicas.

Allÿs se envolve e entra no centro do furacão, Não somos observadores imparciais do Porto Maravilha e suas alterações da paisagem, da sociedade, da cidade.

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SUMÁRIO FRANCIS ALŸS | A STORY OF DECEPTION

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MAPA - REGIÃO PORTUÁRIA

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TEMA A FLOR E A NÁUSEA INTENÇÕES TEMÁTICA DE TRABALHO

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JUSTIFICATIVA OCUPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO PORTUÁRIA EVOLUÇÃO DO TECIDO URBANO IMAGENS - O GALPÃO APLAUSO O PROJETO PORTO MARAVILHA PORTO MARAVILHA HOJE

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CONCEITUAÇÃO FUTUROS EXTREMOS ABORDAGENS

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PRINCÍPIOS DE AÇÃO EM BUSCA DE UM OUTRO CENÁRIO

ANTHONY VIDLER | O CAMPO EXPANDIDO DA ARQUITETURA

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COMO AGIR | JOSÉ SARAMAGO | O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA USOS E VIVÊNCIAS | MARTIN HEIDEGGER | A ORIGEM DA OBRA DE ARTE A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE | EMÍLIO SANTORO | PENSANDO A CIDADE:

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CIDADE E MIGRAÇÃO O ALGO ALÉM | MATTA-CLARK INTERIOR E EXTERIOR | WALTER BENJAMIN | AS PASSAGENS

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METODOLOGIA PROJETUAL E DE TRABALHO

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NECESSIDADES DE PROJETO

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PLANO DE TRABALHO - PRODUTO

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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REGIÃO PORTUÁRIA

O GALPÃO APLAUSO

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A FLOR E A NÁUSEA

(...)

Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.

Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto.

Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.

Suas pétalas não se abrem.

Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura.

Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.

Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Carlos Drummond de Andrade Publicado em Antologia Poética 12a edição Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, ps. 14,15 e 16

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INTENÇÕES A zona portuária da cidade do Rio de Janeiro vem passado por muitas mudanças provocadas pela reestruturação da região, através do projeto Porto Maravilha. Com isso, surge a preocupação com o que é feito para a manutenção da função social existente no entorno. O foco do estudo é o Galpão Aplauso; um espaço que cumpre essa função através de oficinas e aulas para jovens em situação de vulnerabilidade social. As atividades acontecem em um antigo galpão da Companhia das Docas, cedido para o projeto. Seu espaço, contínuo e sem barreiras, permite trocas de experiências entre os alunos, onde os espaços não são delimitados fisicamente.

O Galpão é a flor. É ele que rompe a lógica de revitalizão comercal e especulativa que acontece na região portuária.

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TEMÁTICA DE TRABALHO Percebe-se hoje a dificuldade de se prever o futuro da região. As grandes mudanças no porto não contemplam o atual propósito do Galpão Aplauso, que se mantém como um espaço de valor social. No novo zoneamento proposto, a área é destinada à construção de torres de 150m que causarão impactos não só no entorno próximo, mas nas zonas mais distantes do centro e em municípios vizinhos, por conta do adensamento de uma área de acesso direto à cidade. Esse pensamento para a área vai de encontro a ideia do espaço, que visa reunir diferentes pessoas a fim de dar oportunidades, e não segregar o espaço de acordo com as necessidades do mercado.

Sendo o contexto de mudança da região ainda indefinido após os grandes eventos da cidade do Rio de Janeiro (Jornada Mundial da Juventude, Copa do Mundo de Futebol, Olimpíadas e Paraolimpíadas), se faz presente a necessidade de entendimento sobre os resultados obtidos até a presente data e o que acontecerá daqui em diante nesse perímetro urbano. A necessidade de entender também como construir um plano de ação nesse atual contexto (ou falta de um) para que se construa a manutenção do espaço do Galpão Aplauso cumrindo sua função social.

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OCUPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO PORTUÁRIA Originalmente, o bairro Santo Cristo tinha em seus limites o Saco dos Alferes e o Saco do São Diogo, na Baía de Guanabara. Em 1879, ocorre a aumento da área do bairro, graças ao aterro provindo do desmonte do Morro do Senado, e a área do bairro aumentou cerca de 175.000 m².

Com a ampliação da área e consequente implementação do Cais do Porto, a região recebeu forte público relacionado a mercadorias e seu transporte. A companhia das Docas ficou responsável por grande parte da área. É em um dos terrenos da companhia que está funcionando o Projeto Aplauso. O Galpão da Companhia das Docas foi cedido ao projeto que funciona desde 2004. São 14 mil m². A área estava abandonada; por ela passava a linha férrea que transportava mercadorias e materiais pelos galpões da zona portuária. Essa região sempre foi direcionada à prática mercantil, devido a sua proximidade com o mar.

O lugar foi caracterizado como reduto de atividades comerciais marginais, como a atividade de prostituição, que está intimamente ligada à prática comercial característica da região.

A mudança da capital do país contribuiu para a decadência dos bairros, devido a diminuição de sua importância. A legislação de uso e ocupação do solo urbano permissiva e a falta de articulação entre os poderes municipais, estaduais e federais também dificultaram a manutenção do ambiente.

A região é caracterizada como um local potencialmente valorizado devido à sua proximidade da Área Central da Cidade. Com o advento dos grandes eventos que a cidade sediou, começa a existir uma preocupação em reformular o espaço urbano, e inúmeros projetos são propostos para dar uma nova vida à região. Com isso, surge o medo de uma possível gentrificação do lugar.

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EVOLUÇÃO DO TECIDO URBANO Saco do Alferes

Saco de São Diogo

Saco da Gamboa

Prainha

1769

1831

1929

2016

O GALPÃO APLAUSO

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O GALPÃO APLAUSO

Principal fachada do galpão, com edifício anexo à frente

Acesso ao interior do galpão, com Ivonete, fundadora do projeto

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O PROJETO PORTO MARAVILHA “ O Porto Maravilha foi concebido para a recuperação da infraestrutura urbana, dos transportes, do meio ambiente e dos patrimônios histórico e cultural da Região Portuária. No centro da reurbanização está a melhoria das condições habitacionais e a atração de novos moradores para a área de 5 milhões de metros quadrados. A chegada de grandes empresas, os novos incentivos fiscais e a prestação de serviços públicos de qualidade estimulam o crescimento da população e da economia. (...) Para conseguir recursos para a operação urbana, a prefeitura aumentou o potencial de construção de imóveis da Região Portuária, área que atrai a atenção de investidores do setor imobiliário para projetos comerciais e residenciais. ” Disponível em: http://www.portomaravilha.com.br/

A mudança da região se baseia no discurso da revitalização, em atrair recursos e investidores para fomentar o crescimento da área e entorno, como a região do centro da cidade. Essa intenção de revitalização existe desde a década de 90, com planos de demolição do Viaduto da Perimetral, com o mesmo discurso de devolução da Baía de Guanabara para a população. A área total de intervenção do projeto abrange 5 milhões de metros quadrados, com custo total de 8 bilhões e reais.

Toda a região foi denominada como “área de especial interesse urbanístico“, e tem sua conclusão de revitalização prevista para 30 anos após o começo da intervenção.

Essa proposta altera toda a dinâmica existente e a paisagem atual, altera as relações entre as pessoas que vivem na área.

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PORTO MARAVILHA HOJE Após a passagem dos grandes eventos pela cidade, o que resulta do Porto Maravilha? Hoje ainda são percebidos diversos canteiros de obras abandonados por conta da crise financeira do país. Foi aí que a consolidação do projeto esbarrou e encontrou dificuldades de seguir adiante.

A Operação Urbana Consorciada responsável pelo projeto visava utilizar capital privado para as construções de infraestrutura, vindos dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (CEPACs). No entanto, a Caixa Econômica Federal foi a responsável pela compra de todos os certificados num primeiro momento, e a procura e revenda não aconteceu da forma esperada.

Dois dos empreendimentos mais esperados para a região estão situados nas margens do Galpão Aplauso. O Porto Vida, empreendimento imobiliário que iria abrigar atletas nas Olimpíadas do Rio teve suas obras paradas desde 2014. Hoje o que se encontra no local é sua obra inacabada sem sinal de voltas à construção.

O segundo deles, as Trump Towers. Projetados para as margens da Av. Francisco Bicalho, via de acesso ao centro da cidade vindo das zonas nortes e oestes, baixada fluminense e região metropolitana. Aumentaria a concentração e fluxo de pessoas nessa região. No entanto, nenhum sinal de construção se apresenta ainda hoje.

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Projeto Porto Vida

Projeto Trump Towers

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Porto Vida - 2016

Terreno Trump Towers - 2016

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FUTUROS EXTREMOS CENÁRIO 1:

Projeto Trump Towers

“Saia do Morro Hoje” Marcação de casas pela Secretaria Municipal de Haitação

CENÁRIO 2: Retomada da Ocupação do Entorno

Abandono Total dos Novos Projetos

Consolidação de novas atividades

Esqueletos de intervenção abandonados

Aumento do valor do solo

Ausência de Infraestrutura e Investimentos

Residencial Porto Vida com obras paradas

Gentrificação

Insegurança

Expulsão de atividades sociais não geradoras de lucro

Degradação Urbana

Avenida Generel Luís Mendes de Morais

_Ausência de função social no espaço _Espaço desagragador de atividades _Falta de identidade _Nova paisagem que não faz parte do presente, passado ou futuro

Galpão Aplauso _Espaço atuante no vazio urbano e social _Agregador de usos e atividades _Gerador de pontenciais _Resignifica o lugar _Se insere no(s) tempo(s)

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ABORDAGENS Qual é o futuro da região?

A atração de investimentos, aumento do custo de vida e do preço do solo, com a consequente expulsão de atividades que não tem papel na grande geração de lucros?

Ou será o abandono de um projeto de revitalização ainda indefinido na sua totalidade, com esqueletos inacabados e maior afundamento da área no antigo ostracismo vivido, sem adequada infraestrutura?

Em um outro cenário, em que nem todos os projetos previstos se consolidem, existirá algum que, após concluído, impulsione uma nova urbanização devido à sua força?

Imagina-se que entre os trinta anos de consolidação do projeto Porto Maravilha, muito irá acontecer, projetos surgirão, projetos não sairão do papel.

Em qualquer um desses cenários, entende-se a preocupação da manutenção das atividades do Galpão Aplauso, como um espaço capaz de cumprir uma função social. Um espaço que atua sobre o vazio urbano. Um espaço que sobreviveu ao desenvolvimento caótico da cidade.

O tempo é a quarta dimensão do objeto, e é a essa dimensão que o Galpão esteve atrelado, sobrevivendo às mudanças e usos desde sua concepção mercantil até os dias atuais na sua utilização enquanto espaço de trocas e atividades. Um espaço que vai além da forma e do espaço, encontrando o tempo como geradora de seus usos.

Qual será o tempo futuro?

A aceitação da mudança dá ao Galpão o fôlego necessário até os dias de hoje, e é dessa maneira que ele se perpetua. O entendimento desses cenários possíveis é a chave para o próximo passo, em como o Galpão se consolidará novamente como esse espaço sobrevivente.

Espaço que sobrevive de maneira muito atrelada à suas atividades, ao uso livre e apropriação do espaço. O Galpão utiliza seu espaço para a consolidação de práticas de seus utilizadores, a fim de participar da vida do entorno seja ela qual for no futuro.

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EM BUSCA DE UM OUTRO CENÁRIO

ANTHONY VIDLER | O CAMPO EXPANDIDO DA ARQUITETURA

A arquitetura não se limita em si. Vidler entende que ela está inserida num campo que vai além do tradicional de estudo e pensamento. Ela vai além do limite físico, é moldada e construída por outros diversos fatores. O reconhecimento de um campo expandido é necessário para a reinterpretação do que se entende como bases do pensamento da arquitetura. As relações são aspectos fundamentais para essa construção: as relações humanas, relações de contexto, relações de utilização dos espaços, relações que a arte trava com o mundo. É essa ampliação de conceitos que complementam o pensar a cidade e a arquitetura. As conexões entre os pensamentos que vão além das disciplinas fundamentais, auxiliam na compreensão da cidade.

Esse pensamento se aplica no Rio de Janeiro, que vem sendo alterada por conta das diversas nuances que surgem com a revitalização do porto, e suas diversas formas de entendimento. Não cabem mais nesse pensar -assim como no pensamento universal da arquitetura e do urbanismo- as dualidades seculares da “forma e função, historicismo e abstração, utopia e realidade, estrutura e delimitação”.

A arquitetura vai além, o pensamento deve ir além. É com essa percepção que o trabalho se estrutura. A busca do entendimento parte de diferentes eixos, tanto na literatura, filosofia, arte, sociologia. Busca-se o entendimento da cidade e arquitetura dentro desse campo ampliado.

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COMO AGIR

SARAMAGO | O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA Em “O conto da ilha desconhecida”, Saramago nos apresenta o embate com o Status Quo. O rei até então nunca pareceu disposto a se preocupar com as necessidades dos súditos, e apenas com o que lhe agradava, apenas aos obséquios. O personagem principal do conto, o homem, desafia o imaginário existente ao propor partir em busca de alguma ilha que ainda fosse desconhecida, enquanto todas as pessoas que o ouviam tomava como natural o fato de todas as ilhas já serem conhecidas. Percebe-se uma aceitação natural com o estado das coisas, e é a inquietação, o não estar satisfeito que se torna o estopim para o novo, para as descobertas. É o embate com o status consolidado, o enfrentamento de adversidades, ao mesmo tempo que vai descobrindo suas necessidades para alcançar seu objetivo, para vencer as barreiras.

A atenção às necessidades e não só as concessões atuais, irá encontrar caminhos para ir de encontro à iminente gentrificação.

A lógica construída para a região do Galpão desconsidera o usuário local, desconsidera as dinâmicas existentes e propõe outra. Propõe novos usos, novos programas, novas características.

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USOS E VIVÊNCIAS

HEIDEGGER | A ORIGEM DA OBRA DE ARTE Heidegger trata do poder transformador da obra de arte. Ela tem o potencial de alterar estruturas do mundo, reconfigurar o tempo. Ele fala também de como o próprio mundo se reconfigura.

No momento que vivemos, a região portuária está em processo de reconfiguração, surgindo com uma nova lógica de ocupação. Com uma nova arquitetura, um novo espaço, uma nova lógica imoboliária, as dinâmicas do lugar serão alteradas. O ciclo de abandonos e recomeços da região gera cada vez mais incertezas e desconhecimento do que está por vir, pois altera as dinâmicas. Se por um lado o abandono do projeto causa problemas, o recomeço advindo da lógica atual causa outros. O Galpão se coloca então como o espaço de resistência, de permanecimento.

Ali de pé a obra arquitetônica repousa sobre o solo rochoso. Este assentar da obra extrai da rocha a obscuridade do seu suportar rude e, no entanto, a nada impelido. Ali de pé, a obra arquitetônica resiste à tempestade furiosa que sobre ela se abate, e, desta forma, revela pela primeira vez a tempestade em toda a sua violência. Só o brilho e o fulgor da rocha, que aparecem eles mesmos apenas graças ao Sol, fazem no entanto, aparecer brilhando a claridade do dia, a amplitude do céu, a escuridão da noite.

Martin Heidgger, A Origem da Obra de Arte O se colocar, se impor, se consolidar enquanto espaço local é que irá garantir que as vivências não se percam, e ao mesmo tempo, agregar novas possiblidades.

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A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

EMÍLIO SANTORO | PENSANDO A CIDADE: CIDADE E MIGRAÇÃO

De que maneira o espaço da cidade adquire identidade? Em um espaço com diversas zonas de abandono como o porto, seus galpões e armazéns, ocorre uma facilidade maior de resignificação. O Galpão Aplauso segue esse lógica ao propor novos usos para um objeto antes desocupado, abandonado, vazio, da mesma maneira que os migrantes resignificam o espaço vazio. São nesses espaços que Santoro fala da facilidade de imprimir uma nova identidade, devido ao seu caráter ou falta de um.

No entanto, partindo desse mesmo princípio, um espaço que possui uma identidade, como o Galpão Aplauso após essa apropriação, não a perde com essa mesma facilidade. Para que uma nova lógica surja, essa nova identidade terá que ser negociada, pois o espaço reflete quem o utiliza.

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O ALGO ALÉM

MATTA-CLARK

“[Matta-Clark é] alguém que poderia transformar o lixo da cidade em algo além.“ Jane Crawford sobre Matta-Clark Gordon Matta Clark Exhibit at Whitney walk through with Jane Crawford; disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=-NOad-06Ms4 >

A ressignificação do lugar é o estopim para o novo.

O espaço abandonado da cidade torna-se algo além, com novas possibilidades. Os resíduos e detritos de uma cidade deixada para trás podem ter nova vida, ao invés de servirem apenas como o lixo do espaço.

O espaço/estrutura/forma/usos são redefinidos e reutilizados, a fim de interromper o processo de deterioração e iminente fim.

Matta-Clark se utiliza do termo “anarchitecture“, que pode ser lido como “anarco-arquitetura”, para falar de diversos de seus trabalhos. O que ele busca é resignificar espaços subutilizados, sem utilidade, sem atenção. Trazer da impossibilidade da arquitetura algo possível, algo inimaginável.

Para ele, a cidade é instável e polimórfica, e são as inúmeras influências e ações no espaço que a configuram, assim como alteram a realidade humana.

Essas duas condições, a humana e da cidade estão interligadas. O algo além da cidade é que transforma a sociedade.

Se o espaço ao redor do Galpão aplauso conta com diversas estruturas abandonadas e sem uso, não devemos resignificá-las? Dar nova vida e utilidade? Dessa maneira, a cidade passa a ter um novo caráter.

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(Re)utilização das estruturas abandonadas do entorno do galpão: Nova vida

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INTERIOR E EXTERIOR

WALTER BENJAMIN | PASSAGENS

“As ruas são a morada do coletivo. O coletivo é um ser eternamente desperto, eternamente agitado que vivencia, experimenta, reconhece e imagina tantas coisas entre as fachadas quanto os indivíduos no abrigo de suas quatro paredes. (...) Mais do que qualquer outro lugar, a rua apresenta-se na passagem como o interior mobiliado e desgastado, habitado pelas massas” (Walter Benjamin, Passagens, p. 958) O espaço interior reflete o expaço exterior, e o inverso desse pensamento também é verdadeiro. Ao mesmo tempo, ambos os espaços são criadores, são expaços de experimentação. Benjamin, em suas passagens, fala do potencial de se estar na rua, do potencial agregador de propagador de ideias que o espaço possui. O flâneur de Boudelarie, que vive e experimenta a cidade é figura presente no pensamento de Benjamin. O espaço não se encerra nele mesmo, ou seja, o Galpão não se encerra nele mesmo. Seu potencial de mudança vai além da questão social intrínseca à sua concepção e utilização. Sua inserção na região vai de encontro ao contexto mercadológico a ser projetado para o porto; ele resiste em oposição à uma reconstrução homogeneizante.

O Galpão pulsa!

Ele deve funcionar como esse espaço pulsante que agrega o entorno e suas atividades, dando nova vida, outra vida, outro valor.

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Contraponto: O espaço morto do Porto Vida versus o vivo Galpão Aplauso, numa mesma rua, num mesmo entorno, com lógicas diferentes, com objetivos diferentes.

Os espaços não se enceram em si!

O exterior faz parte do interior.

Galpão: espaço que reverbera para além de seus limites, e adentra um entorno indefinido

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METODOLOGIA PROJETUAL E DE TRABALHO Passo 1 _ Visualização das dinâmicas atuais e futuras do local Passo 2 _ Entendimento da importância da inserção do Galpão nesse cenário Passo 3 _ Criação de abordagens de modo a consolidar o espaço Passo 4 _ Definição de intenções de acordo com o caminho estudado Passo 5 _ Consolidação do Galpão e seu uso no(s) cenários(s) futuro(s)

NECESSIDADES DE PROJETO _reverberação no espaço público _conexão com a área a ser construída _consolidação do espaço do Galpão _Galpão como força atuante na cidade desocupada/abandonada _promover a relação da ocupação do espaço com o tempo _reaproveitamento de estruturas a fim de dar suporte aos programas _usar o Galpão como agregador de atividades para a população do entorno Faz-se necessária uma preocupação com a criação de ambiente livres. Qual a função do programa aqui? Talvez a maneira mais correta de pensá-lo seja a de oferecer suporte para que as atividades aconteçam, sem delimitar espaços e restringi-los aos aspectos formais. Tratar o “silêncio como matéria” (PIANCA, 2015).

O Galpão irá fornecer espaço físico em seu terreno para a consolidação de práticas de seus utilizadores e dos moradores do entorno. Seu espaço físico deixa de estar atrelado apenas ao meio de aprendizagem, mas vincula-se também à prática, ao mostrar para o exterior o que é aprendido e produzido, e participar da vida do entorno seja ela qual for no futuro.

PLANO DE TRABALHO - PRODUTO A pesquisa desenvolvida aqui definirá caminho(s) para a uma nova maneira de entender a região de estudo. A partir daí, será entendido como uma intervenção poderá alterar o status atual, seguindo o que foi delimitado durante todo esse processo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNES, Luisa Xavier; Discurso de uma Intervenção; Departamento de Arquitetura e Urbanismo - PUC-Rio, 2015 BENJAMIN, Walter, 1892-1940; Passagens / Walter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo - Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007, 1ª reimpressão CARLOS, Claudio Antonio S. Lima; Um olhar crítico à zona portuária do Rio de Janeiro; 17 de fevereiro de 2010, Universidad Nacional de Colombia, Bogotá FELLET, João e RAMALHO, Daniel; Por que o maior empreendimento de Trump no Brasil encalhou?; 28 julho 2016, disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/brasil-36901182> HEIDEGGER, Martin, A Origem da Obra de Arte, tradução Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro, Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura, Faculdade de Letras, UFRJ, Agosto de 2006 HUBBARD, Sue; Francis Alÿs: A Story of Deception, 2010; disponível em < http://www.3quarksdaily.com/3quarksdaily/2010/06/francis-al%C3%BFs-a-story-of-deception.html > MELLO, Fernando Fernandes de; A Zona Portuária do Rio de Janeiro: antecedentes e perspectivas; Rio de Janeiro,Março de 2003; IPPUR. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro MOURE, Gloria, Gordon Matta-Clark Works and Collected Writings, 2006, Ediciones Polígrafa, Barcelona, Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri PIANCA; Guilherme; Lacaton & Vassal, o ordinário como extraordinário; outubro de 2015; Revista AuEducação, Edição 259 RIBEIRO, Fabíola Macêdo; Arquitetura na era eletrônica: a imagem absorvida pela informação / Fabíola Macêdo Ribeiro ; orientador: Rejane Spitz. – Rio de Janeiro : PUC-Rio, Departamento de Artes e Design, 2006.

SANTORO, Emílio, Pensando a cidade - Cidade e Migração: Um debate sobre Território, Política e Cultura, tradução por Adriana Vieira, Palestra proferida na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2016, disponível em < https://www.facebook.com/serurbanopucrio/ videos/1627684927525262/ > SARAMAGO, José, O conto da ilha desconhecida; São Paulo: Companhia das Letras - 1998 SOLÀ-MORALES, Ignase de; Arquitectura Líquida; Territorios; 2003; Editora: Gustavo Gili ______; Terrain Vague; Tradução ao português: Igor Fracalossi; março e 2012; Texto original em espanhol: Ignasi de Solà-Morales (Territórios, Gustavo Gili, 2002); disponível em: < http:// www.archdaily.com.br/br/01-35561/terrain-vague-ignasi-de-sola-morales> VIDLER, Anthony; Architecture’s Expanded Field. Em: SYKES, Krista. Constructing a New Agenda: Architectural Theory 1993-2009. Nova York: Princeton Architectural Press, 2010, tradução por Igor Fracalossi, disponível em < http://www.archdaily.com.br/br/01-59270/campo-expandido-da-arquitetura-anthony-vidler >

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