Ánálise do Espaço

ANÁLISE DO ESPAÇO O impa c to do P orto Ma ra vilha no c ená rio a tua l e futuro e na funç ã o s oc ia l da regiã o

Proposta de Projeto Final

AR Q 1109 – 2016.2 _G uilherme Assis da Motta _Mariana Vieira – Professora Orientadora

SUMÁRIO

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TE MÁTIC A INIC IAL

J US TIFIC ATIVA DE US O Ocupação e desenvolvimento da região portuária

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O projeto Porto Maravilha

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C ONC E ITUAÇ ÃO DA ANÁLIS E

7

O Terrain Vague

8

C R IAÇ ÃO DE HIPÓTE S E S , E S TR ATÉ G IAS E MÉ TODOS

9

NE C E S S IDADE S PR OG R AMÁTIC AS

R E FE R Ê NC IAS B IB LIOG R ÁFIC AS

9 11

TEMÁTICA INICIAL

3

O seguinte trabalho visa entender as mudanças provocadas pela reestruturação da região portuária do R io de J aneiro, através do projeto Porto Maravilha , com foco no que é feito para a manutenção da função social existente no entorno. O foco do estudo é o G alpão Aplauso; um espaço que cumpre essa função através de oficinas e aulas para jovens em situação de vulnerabilidade social. As atividades acontecem em um antigo galpão da C ompanhia das Docas, cedido para o projeto. S eu espaço, contínuo e sem barreiras, permite trocas de experiências entre os alunos, onde os espaços não são delimitados fisicamente.

Percebe-se hoje a dificuldade de se prever o futuro da região. As grandes mudanças no porto não contemplam o atual propósito do G alpão Aplauso, que se mantém como um espaço de valor social. No novo zoneamento proposto, a área é destinada à construção de torres de 150m que causarão impactos não só no entorno próximo, mas nas zonas mais distantes do centro e em municípios vizinhos, por conta do adensamento de uma área de acesso direto à cidade. E sse pensamento para a área vai de encontro a ideia do espaço, que visa reunir diferentes pessoas a fim de dar oportunidades, e não segregar o espaço de acordo com as necessidades do mercado.

S endo o contexto de mudança da região ainda indefinido após os grandes eventos da cidade do R io de J aneiro (J ornada Mundial da J uventude, C opa do Mundo de Futebol, Olimpíadas e Paraolimpíadas), se faz presente a necessidade de entendimento sobre os resultados obtidos até a presente data e o que acontecerá daqui em diante nesse perímetro urbano. A necessidade de entender também como construir um plano de ação nesse atual contexto (ou falta de um) para que se construa a manutenção do espaço do G alpão Aplauso cumprindo sua função social.

O GALPÃO APLAUSO

JUSTIFICATIVA DE ESTUDO OC UPAÇ ÃO E DE S E NVOLVIME NTO DA R E G IÃO POR TUÁR IA 1769

“A

cidade

nasce

como Porto.”

(ME LLO, 2003)

1831

Originalmente, o bairro S anto C risto tinha em seus limites o S aco dos Alferes e o S aco do S ão Diogo, na B aía de G uanabara, que possuía esse nome pois o Alferes Diogo de Pina era o dono da região. E m 1879, ocorre a aumento

1929

da área do bairro, graças ao aterro provindo do desmonte do Morro do S enado.

A área do bairro aumentou cerca de 175.000 m², e essa área passou a contar com um desenho urbano regular,

2016

em oposição a malha urbana existente, e a região desenvolve-se como o C ais do Porto do R io.

As ilhas existentes no local (Ilha das Moças e Ilha dos Melões) foram extintas nesse processo. A Igreja de S anto C risto remete à história do entorno; foi

S obrepor

construída

a

B eira

desenvolve-se o bairro.

E volução do tecido urbano

http://www.skyscrapercity.com/

Mar

e

daí

4

C om

a

ampliação

e

conservação e reurbanização da área

consequente implementação do C ais

do S anto C risto e os bairros adjacentes,

do Porto, a região recebeu forte público

no entanto, a proposta desconsiderava

relacionado

o

a

da

área

mercadorias

e

seu

conjunto

arquitetônico,

social e

transporte. A companhia das Docas

econômico

ficou responsável por grande parte da

sempre esteve pairando um medo de

área. É

uma possível gentrificação do lugar.

em um dos

terrenos

da

da

região.

C om

isso,

companhia que está funcionando o

A área foi ignorada por muito tempo,

Projeto

da

tratada como reduto de uma população

C ompanhia das Docas foi cedido ao

marginal da cidade, graças ao seu

projeto que funciona desde 2004. S ão

passado como habitação proletária,

14 mil m². A área estava abandonada;

atividades

por ela passava a linha férrea que

comercio de escravos, entre outros,

transportava mercadorias e materiais

marcando o bairro como local perigoso

pelos galpões da zona portuária. E ssa

e insalubre, criando um estereótipo ruim

região sempre foi direcionada à prática

para o resto da cidade. E ssa má

mercantil, devido a sua proximidade

visibilidade acaba por fazer com que a

com o mar. E ra ali que desembarcavam

região fique à parte e abandonada

os

do B rasil

apesar do seu rico acervo histórico

escravocrata. O lugar foi caracterizado

cultural. O Porto do R io tornou-se

como reduto de atividades comerciais

ultrapassado e não possui força para

marginais,

de

competir por exemplo com o Porto de

está

intimamente

S antos, em S ão Paulo. Hoje, há a

prática

comercial

Aplauso.

escravos

como

prostituição, ligada

na

à

que

O

G alpão

época

a

atividade

característica da região.

A

mudança

da

de

reestruturação

produção

do

industrial,

espaço

e

reurbanização do local. A região é

capital

do

país

caracterizada

como

um

local

contribuiu para a decadência dos

potencialmente valorizado devido à sua

bairros, devido a diminuição de sua

proximidade

importância. A legislação de uso e

C idade. C om o advento dos grandes

ocupação do solo urbano permissiva e

eventos que a cidade sediou, começa a

a falta de articulação entre os poderes

existir uma preocupação em reformular

municipais,

federais

o espaço urbano. Inúmeros projetos

também dificultaram a manutenção do

são propostos para dar uma nova vida

ambiente.

à região.

estaduais

e

No início dos anos 1980, observou-se o surgimento do projeto R IOPAR T para a

da

Área

C entral

da

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O PR OJ E TO POR TO MAR AVILHA “ O Porto Maravilha foi concebido para a recuperação da infraestrutura urbana, dos transportes, do meio ambiente e dos patrimônios histórico e cultural da R egião Portuária. No centro da reurbanização está a melhoria das condições habitacionais e a atração de novos moradores para a área de 5 milhões de metros quadrados. A chegada de grandes empresas, os novos incentivos fiscais e a prestação de serviços públicos de qualidade estimulam o crescimento da população e da economia. (...) A operação urbana consorciada é um recurso previsto no E statuto das C idades (Lei Federal nº 10257/2001) para recuperação de áreas degradadas. (...) Para conseguir recursos para a operação urbana, a prefeitura aumentou o potencial de construção de imóveis da R egião Portuária, área que atrai a atenção de investidores do setor imobiliário para projetos comerciais e residenciais. ” Disponível em: http://www.portomaravilha.com.br/

A mudança da região se baseia no discurso da R evitalização, em atrair recursos e investidores para fomentar o crescimento da área. E ssa proposta altera toda a dinâmica existente e a paisagem atual, altera as relações entre as pessoas que vivem na área.

Novo aspecto da região após consolidação de investimentos e novas construções Disponível em: http://www.portomaravilha.com.br/

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CONCEITUAÇÃO DA ANÁLISE Após a passagem dos grandes eventos pela cidade, o que resulta do Porto Maravilha? Hoje ainda são percebidos

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diversos canteiros de obras abandonados por conta da crise financeira do país. Foi aí que a consolidação do projeto esbarrou e encontrou dificuldades de seguir adiante.

A Operação Urbana C onsorciada responsável pelo projeto visava utilizar capital privado para as construções de infraestrutura, vindos dos C ertificados de Potencial Adicional de C onstrução (C epacs). No entanto, a C aixa E conômica Federal foi a responsável pela compra de todos os certificados num primeiro momento, e a procura e revenda não aconteceu da forma esperada. “ O vaivém de operários é intenso na Zona

Portuária, onde os primeiros arranha-céus começam a transformar a paisagem. Ali, o futuro parece já dar as caras para os mercados comercial e corporativo, porém, no que diz respeito a empreendimentos residenciais, a região ainda é um deserto. ”

http://oglobo.globo.com/ - 25/12/14

“ Porém, mais de um ano depois, o que se vê no local

são apenas blocos de concreto. O trabalho foi interrompido no primeiro semestre do ano passado, com apenas 25% das obras concluídas. O que antes era objeto de propaganda, hoje é assunto sobre o qual a prefeitura não deseja comentar. ”

http://noticias.uol.com.br/ - 11/02/15

“Diante do sucesso do B oulevard Olímpico, no Porto, a prefeitura adotou uma nova estratégia, focada em imóveis residenciais, para impulsionar a ocupação da região, que caminha lentamente. Tanto é que, do potencial construtivo da área de cinco milhões de metros quadrados, mais da metade — três milhões de metros quadrados — ainda está disponível. Segundo a C ompanhia de Desenvolvimento Urbano da R egião do Porto do R io (C durp), até agora, a construção civil só se interessou por dois milhões de metros quadrados, através da compra de C ertificados de Potencial Adicional de C onstrução (C epacs).

S ão os C epacs que permitem aos empreendedores aumentarem o potencial construtivo e atingirem novos gabaritos. S em eles, a edificação não pode exceder a área do terreno. E cabe à C aixa E conômica — detentora dos certificados, adquiridos por leilão em junho de 2011 — revendê-los. Disposta a estimular a ocupação residencial da região, a prefeitura resolveu recomprar lotes de títulos e oferecê-los, ela mesma, às empresas interessadas.”

http://oglobo.globo.com/ - 02/09/16

O TE R R AIN VAG UE Dois dos empreendimentos mais esperados para a região estão situados nas margens do G alpão Aplauso. O Porto Vida (imagem1), empreendimento imobiliário que iria abrigar atletas nas Olimpíadas do R io teve suas obras paradas desde 2014. Hoje o que se encontra no local é sua obra inacabada sem sinal de voltas à construção (imagem 2).

O segundo deles, as Trump Towers (imagem 3). Projetados para as margens da Av. Francisco B icalho, via de acesso ao centro da cidade vindo das zona norte e oeste, baixada fluminense e região metropolitana. Aumentaria a concentração e fluxo de pessoas nessa região. No entanto, nenhum sinal de contrução se apresenta ainda hoje (imagem 4).

S olà-Morales apresenta o termo Terrain Vague ao falar dos espaços da cidade que são vistos como espaço do possível, da expectativa do indertemidado, do impreciso. E spaços que se encontram em áreas improdutivas. E ssa é uma das formas de se entender a área. A região do porto e seu entorno ainda são imprecisos e indeterminados. A transformação dessa área não aconteceu efetivamente, o que vemos são esboços, e por isso ainda não é possível determinar seu sucesso ou fracasso enquanto balizador de mudanças. Qual é o futuro do G alpão?

Qual é o futuro do único espaço que hoje traz vida e atua na região de maneira a cumprir uma função social do solo urbano? O G alpão Aplauso é o verdadeiro espaço do possível, o entanto, possui ainda mais dilemas para enfrenter que surgirão com o futuro de seu entorno.

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CRIAÇÃO DE HIPÓTESES, ESTRATÉGIAS E MÉTODOS Qual é o futuro da região?

A atração de investimentos, aumento do custo de vida e do preço do solo, com a consequente expulsão de atividades que não tem papel na grande geração de lucros?

Ou será: O abandono de um projeto de revitalização ainda indefinido na sua totalidade, com esqueletos inacabados e maior afundamento da área no antigo ostracismo vivido, sem adequada infraestrutura?

E m qualquer um desses cenários, entende-se a preocupação da manutenção das atividades do G alpão Aplauso, como um espaço capaz de cumprir uma função social.

Um espaço que atua sobre o vazio urbano. Um espaço que sobreviveu ao desenvolvimento caótico da cidade.

A Arquitetura Líquida (S olà-Morales, 2003) fala do tempo tonando-se a quarta dimensão do objeto, e é a essa dimensão que o G alpão esteve atrelado, sobrevivendo às mudanças e usos desde sua concepção mercantil até os dias atuais na sua utilização enquanto espaço de trocas e atividades. Um espaço que vai além da forma e do espaço, encontrando o tempo como geradora de seus usos.

Qual será o tempo futuro?

A aceitação da mudança dá ao G alpão o fôlego necessário até os dias de hoje, e é dessa maneira que ele se perpetua. O entendimento desses cenários possíveis é a chave para o próximo passo, em como o G alpão se consolidará novamente como esse espaço sobrevivente. E le se tornará o concentrador de usos e trocas do bairro, fornecendo a estrutura necessária para que agora as pessoas possam, assim como ele, permanecer, indo de encontro a um possível fim de suas atividades locais.

NECESSIDADES PROGRAMÁTICAS DUC TILIDADE s.f. qualidade ou característica do que é dúctil DÚC TIL adj. Que se adapta à circunstância e conveniência; elástico, flexível, moldável Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

Ductilidade química: grau de deformação que o material suporta até o momento de sua fratura Irá ocorrer essa fratura?

A adaptação do G alpão Aplauso nesse entorno desordenado vem acontecendo de maneira muito atrelada à suas atividades, ao uso livre e apropriação do espaço.

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Faz-se necessária uma preocupação com a criação de ambiente livres. Qual a função do programa aqui? Talvez a maneira mais correta de pensá-lo seja a de oferecer suporte para que as atividades aconteçam, sem delimitar espaços e restringi-los aos aspectos formais. Tratar o “silêncio como matéria” (PIANC A, 2015).

O G alpão irá fornecer espaço físico em seu terreno para a consolidação de práticas de seus utilizadores e dos moradores do entorno. S eu espaço físico deixa de estar atrelado apenas ao meio de aprendizagem, mas vincula-se também à prática, ao mostrar para o exterior o que é aprendido e produzido, e participar da vida do entorno seja ela qual for no futuro.

Faz-se necessário um entendimento das atividades locais e em seguida projetar o espaço para recebê-las. E ssas atividades podem ser identificadas como comerciais, artísticas, educacionais, profissionalizantes etc, e funcionarão em comunhão num terreno consolidado, atrelado às mudanças, que garanta a manutenção delas.

G alpão Aplauso G oogle Maps

S ubsetores e número máximo de pavimentos permitido em cada área passível de acréscimo de potencial construtivo http://portomaravilha.com.br/

O G alpão fica no subsetor D1, junto ao maior potencial construtivo de toda a região. É e aí que percebe-se que futuro do G alpão Aplauso vai além, vai para fora dele. O espaço do G alpão e seu terreno se tornaram um epicentro de diversos núcleos, que surgem para dar vazão a programas não contemplados num primeiro momento.

Núcleos agregados que atuem em conjunto, como centros de atividades, centros de aprendizagem, centro de comercialização e serviços locais , em contraponto à uma mudança do entorno com o único objetico corporativo. A estrutura do G alpão facilitará o contato e troca entre atividades, e seu amplo espaço externo servirá para a alocação de demais núcleos necessários.

A área agregará: _Demandas futuras _Necessidades locais _Manutenção da função social

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS C AR LOS , C laudio Antonio S . Lima; Uma olhar crítico à zona portuária do R ío de J aneiro; 17 de fevereiro de 2010, Universidad Nacional de C olombia, B ogotá FE LLE T, J oão e R AMALHO, Daniel; Por que o maior empreendimento de Trump no B rasil encalhou?; 28 julho 2016, disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/brasil-36901182> ME LLO, Fernando Fernandes de; A Zona Portuária do R io de J aneiro: antecedentes e perspectivas; R io de J aneiro,Março de 2003; IPPUR . Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e R egional, Universidade Federal do R io de J aneiro PIANC A; G uilherme; Lacaton & Vassal, o ordinário como extraordinário; outubro de 2015; R evista AuE ducação, E dição 259 R IB E IR O, Fabíola Macêdo; Arquitetura na era eletrônica: a imagem absorvida pela informação / Fabíola Macêdo R ibeiro ; orientador: R ejane S pitz. – R io de J aneiro : PUC R io, Departamento de Artes e Design, 2006.

S OLÀ-MOR ALE S , Ignase de; Arquitectura Líquida; Territorios; 2003; E ditora: G ustavo G ili S OLÀ-MOR ALE S , Ignase de; Terrain Vague; Tradução ao português: Igor Fracalossi; março e 2012; Texto original em espanhol: Ignasi de S olà-Morales (Territórios, G ustavo G ili, 2002); disponível em: < http://www.archdaily.com.br/br/01-35561/terrainvague-ignasi-de-sola-morales>

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