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Eixo franco-alemão

Com o título de “o mais vendido” em Portugal durante o ano 2021 e boa parte de 2022, o 2008 é “rei e senhor” de um trono (leia-se segmento B-SUV) ao qual o Taigo também aspira. Um frente a frente com motores a gasolina muito semelhantes para se perceber se têm argumentos para continuar na liderança… ou alcança-la.

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PREÇO: 31.897 €

AVolkswagen lançou este ano no mercado o Taigo. Um modelo que assenta na plataforma da atual geração do utilitário Polo e que se posiciona a meio caminho entre os SUV T-Cross e o T-Roc. Mais “maduro” que o primeiro e mais citadino que o segundo, o Taigo propõe bom espaço interior, um design apelativo que mistura os conceitos SUV e Coupé sem necessidade de deformar proporções, e muita tecnologia. A marca alemã transformou o seu Travel Assist (que não é um só sistema, mas a conjugação de vários que se complementam) num dos seus principais argumentos de vendas. E não lhe falta razão, pois todos os modelos que temos visto sair de Wolfsburgo nos últimos anos acabam por alcançar as cinco estrelas de segurança atribuídas pelo organismo europeu EuroNCAP. “Calcanhar de Aquiles?” Sim, também tem, sobretudo no facto de não dispor de qualquer mecânica com hibridação, o que pode ser visto como um ponto débil num carro pensado para “viver”, principalmente, em cidade.

Esta foi uma decisão da marca e sobre a qual não nos vamos alongar. O objetivo deste trabalho é perceber se o Taigo está à altura de um dos seus rivais mais sérios com motor e equipamento se- melhantes. Precisamente o 2008, um dos SUV urbanos mais vendidos em Portugal desde o seu lançamento, no final de 2019. Assim, tentamos juntar duas versões muito parecidas, com os acabamentos mais completos, preços aproximados e caixas automáticas para perceber qual dos dois é o melhor e porquê.

Art Nouveau

No final do século XIX em França ficou tudo “louco” com os ângulos e as arestas. Faziam-se fachadas retorcidas, edifícios carregados de decoração inspirada em elementos da natureza nos quais se procurava a liberdade criativa em oposição aos cânones industriais, mais sóbrios e funcionais. Foi mais ou menos isto que aconteceu com a Peugeot, desde que a marca apostou na linha de design partilhada por todos os seus atuais modelos. Por fora e por dentro, o atual 2008 rompeu radicalmente com o seu antecessor apostando numa imagem com muito mais caráter. Desde os faróis com as famosas “presas” em LED diurnas à sinuosidade dos painéis do tablier, parece difícil encontrar uma linha “aborrecida” neste carro. Tem muito bom ar, convence e faz com que, entre outros, o segmento B-SUV gaulês seja um caso de sucesso em termos de ven- das. Portanto, a estética é de facto um dos seus grandes argumentos, porém isso leva-nos ao segundo ponto de análise: serão estes malabarismos geométricos realmente funcionais?

GOSTOS…

Não falamos de proporções exteriores (corretas), nem de espaço interior (suficiente), mas do famoso posto de condução i-Cockpit da marca francesa. Conhecemo-lo desde a primeira geração do 208, lançada em 2013, e nove anos depois continua a não agradar a todos. O volante de dimensões reduzidas é confortável para algumas ações (entrar e sair…), mas faz com que se perca “autoridade” sobre o carro, obrigando a que alguns utilizadores sejam obrigados a modificar a sua habitual postura de condução, já que o volante “tapa” vários controlos/ informações essenciais. O cruise control, por exemplo, é ativado a partir de um comando escondido na coluna de direção e só se vê se rodarmos o aro do volante a 90º, o que não convém fazer em plena autoestrada. Claro que com o passar do tempo e de andar com o 2008 todos os dias, o condutor vai acabar por fazer o movimento sem pestanejar, mas requer habituação.

Não obstante, o sistema não deixou de evoluir desde as primeiras versões. Atualmente mudou um pouco de posição e o painel de instrumentos de efeito 3D é pura fantasia, sem comparação. Em tudo o resto, o 2008 é um SUV amplo e os bancos nesta versão GT são uma maravilha em conforto e envolvência. Mecanicamente, conta com um 1.2 turbo de três cilindros que é ágil e move-o de forma rápida. É melhor o motor do que a caixa automática de oito velocidades por conversor de binário. Funciona bem quando se rola de forma tranquila e cumpre nas redu-

Ficha T Cnica

PEUGEOT 2008 GT 1.2

PURETECH 130 EAT8

TIPO DE MOTOR Gasolina, 3 cilindros em linha, turbo

CILINDRADA 1.199 cm3

POTÊNCIA 130 CV às 5.500 rpm

BINÁRIO MÁXIMO 230 Nm às 1.750 rpm

TRANSMISSÃO Dianteira, caixa auto. 8 vel. (conversor de binário)

V. MÁXIMA 198 km/h

ACELERAÇÃO 9,1 s (0 a 100 km/h)

CONSUMO (WLTP) 5,9 l/100 km (misto)

EMISSÕES CO2 (WLTP) 134 g/km (misto)

DIMENSÕES (C/L/A) 4.300 / 1.770 / 1.530 mm

PNEUS 215/60 R17

PESO 1.280 kg

BAGAGEIRA 434 l

PREÇO 30.090 €

GAMA DESDE 23.290 €

I.CIRCULAÇÃO (IUC) 103,12 €

LANÇAMENTO Janeiro de 2020

Avalia O

1. O desenho e a forma como o painel de instrumentos do 2008 transmite a informação é espetacular: parece um holograma tridimensional.

2. As patilhas atrás do volante são mais intuitivas para a utilização manual-sequencial do que o seletor da consola.

3. O equipamento digital é complementado por outro ecrã tátil de 10’’ no tablier.

Equipamento

SÉRIE Airbags frontais, laterais (dianteiros) e de cortina; controlos de estabilidade e tração; travagem de emergência automática (câmara e radar) com alerta de risco de colisão; alerta de fadiga do condutor; reconhecimento dos sinais de trânsito; alerta de transposição involuntária da faixa de rodagem; assistência ao arranque em subidas; sensor da pressão dos pneus; cruise control com limitador de velocidade; sensores de chuva e luz; ar condicionado automático; faróis Full LED; luzes diurnas em LED; faróis de nevoeiro; ajuda gráfica e sonora ao estacionamento dianteiro e traseiro; câmara de marcha atrás; volante multifunções com regulação em altura e profundidade; arranque mãos livres; retrovisores elétricos aquecidos; vidros elétricos; estofos em tecido Capy e couro; bancos do condutor regulável em altura; painel de instrumentos Peugeot Digital Cockpit; sistema multimédia com ecrã tátil de 10’’, 2 entradas USB, Bluetooth, navegação e funções Apple CarPlay e Android Auto; Peugeot Connect SOS e assistência; e jantes de liga leve de 17 polegadas.

OPCIONAIS Pintura metalizada (550 €); grip control (200 €); teto de abrir panorâmico (800 €); acesso e ligação mãos livres (300 €); pack Drive Assist Plus (400 €); sistema de vigilância do ânulo morto (100 €); alarme (250 €); jantes de 18’’ (300 €); estofos Alcantara (1.400 €).

OS BANCOS SÃO CONFORTÁVEIS E SEGURAM BEM O CORPO; ESPAÇO SUFICIENTE PARA QUATRO ADULTOS

1. Instrumentação Digital Cockpit Pro com ecrã de 10,25’’ personalizável; pode incluir a navegação quando esta faz parte do equipamento.

2. O cruise control adaptativo é comandado a partir do volante. 3. Modos de condução Eco, Normal, Sport e Individual: permitem variar, entre outros, a resposta do acelerador.

Equipamento

SÉRIE Airbags frontais, laterais (dianteiros) e de cortina; controlos de estabilidade e tração; sistema “Front Assist” com sistema de travagem de emergência em cidade com deteção de peões e ciclistas; cruise control adaptativo; sistema Travel Assist com manutenção na faixa de rodagem (Lane Assist); sistema de deteção de fadiga do condutor; sensor de pressão dos pneus; faróis IQ.LIGHT LED Matrix; faróis de nevoeiro em LED; farolins em LED; câmara multifunções; sensores de estacionamento dianteiros e traseiros; sensores de chuva e luz; ar condicionado automático Climatronic; bancos dianteiros com regulação em altura e aquecimento; barras de tejadilho em preto; capas dos pedais em alumínio; retrovisores elétricos retráteis; vidros traseiros escurecidos; volante multifunções em couro com patilhas; painel de instrumentos Digital Cockpit Pro com 10,25’’; sistema multimédia “Ready 2 Discover” com ecrã tátil de 8’’, entradas Portas USB-C à frente e 2 atrás, Bluetooth, e funções Apple CarPlay e Android Auto; App Connect Wireless; chamada de emergência “ecall”; e jantes em liga leve de 17 polegadas.

OPCIONAIS Pintura metalizada (542 €); Bluetooth com carregamento por indução (118 €); câmara traseira (282 €); alarme (303 €); sistema de navegação Discover Media (884 €); sistema Keyless (374 €); jantes de 18” (340 €); teto panorâmico com abertura elétrica (902 €).

A caixa automática DSG de 7 relações cumpre com eficácia e tem a capacidade de retirar todo o rendimento do motor.

OS BANCOS R-LINE SÃO MAIS SIMPLES QUE OS DO RIVAL, MAS AJUDAM A ASSEGURAR UM ESPAÇO DESAFOGADO

Ficha T Cnica

VOLKSWAGEN TAIGO

1.0 TSI DSG R-LINE

TIPO DE MOTOR Gasolina, 3 cilindros em linha, turbo

CILINDRADA 999 cm3

POTÊNCIA 110 CV às 5.000 rpm

BINÁRIO MÁXIMO 200 Nm entre as 2.000 e as 3.000 rpm

TRANSMISSÃO Dianteira, caixa auto. 7 vel. (dupla embraiagem)

V. MÁXIMA 191 km/h

ACELERAÇÃO 10,9 s (0 a 100 km/h)

CONSUMO (WLTP) 5,9 l/100 km (misto)

EMISSÕES CO2 (WLTP) 134 g/km (misto)

DIMENSÕES (C/L/A) 4.266 / 1.757 / 1.515 mm

PNEUS 204/45 R18

PESO 1.260 kg

BAGAGEIRA 440 l

PREÇO 31.897 €

GAMA DESDE 24.425 €

I.CIRCULAÇÃO (IUC) 103,12 €

LANÇAMENTO Abril de 2022

Avalia O

ções e ultrapassagens, mas a sua utilização em modo manual é algo artificial, até a partir das patilhas no volante, provocando alguns solavancos a baixa velocidade. Dinamicamente, tem um bom chassis, é confortável e estável. Bom para viajar e muito ágil na cidade. Em relação ao consumo, situa-se na casa dos 6 l/100 km em estrada a ritmos legais e um pouco mais sedento do que o esperado em cidade: 7,7 l/100 km.

Marca Da Casa

O Taigo é muito Volkswagen. Visualmente é menos extravagante e tem uma simplicidade que convence. Conta com uma excelente direção e um pisar muito bem trabalhado. Depois há a caixa automática DSG, que tanto surge a acompanhar este pequeno três cilindros (menos de um litro) como domina um Golf R de 320 CV. Uma dupla embraiagem, qual espécie de maravilha da engenharia que faz um excelente trabalho num carro com menos 20 CV (15%) que o rival, quase equiparando as prestações. Relevante quando falamos de uma faixa de potência em torno da centena de cavalos.

É verdade que na ficha técnica o Taigo anda menos e é mais lento nas acelerações, mas proporciona uma condução mais intuitiva graças à DSG (com patilhas no volante neste acabamento R-Line) e um consumo ligeiramente inferior.

Em tudo o resto, oferece o habitual ambiente digital do construtor alemão e, neste nível de equipamento, bancos mais bonitos, mas menos envolventes que os do Peugeot.

Conclus O

No 2008 agrada-nos a originalidade que a marca tem vindo a implementar nos seus desenhos contemporâneos; o efeito 3D do ecrã do painel de instrumentos é insuperável. Por seu lado, o Taigo tem na tecnologia e na qualidade de construção argumentos válidos que se complementam com um design que tem por objetivo convencer um público jovem e, quiçá, masculino. O Peugeot anda mais e o Volkswagen conduz-se melhor. Os equipamentos de ambos são aproximados, mas o preço mais elevado do Taigo não deixa de o penalizar.

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