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Newton Peter
Schubert Peter
• Diretor
Newton Peter
Editorial
Nesta edição da revista Cultivar Máquinas, destacamos as inovações e tecnologias que transformam o setor agrícola no Brasil. A matéria de capa trata do test drive de tratores Valtra Série Q5. Esse lançamento marca um avanço significativo no mercado de tratores, oferecendo modelos de 265 cv a 305 cv com transmissão CVT. São máquinas projetadas para trabalhar em conjunto com a semeadora Momentum.
Exploramos também os avanços tecnológicos nos pulverizadores para cultivos perenes. Essas inovações devem aumentar a eficiência da aplicação, reduzindo a quantidade de produto necessário e melhorando a cobertura do pomar.
Outra novidade que merece destaque é a introdução dos tratores da série 700 Vario Gen7 e da semeadora Fendt Momentum no Brasil. Este combo, chamado Suplantar, apresenta tratores com potência de 262 cv e 283 cv. Trata-se de nova solução para os produtores brasileiros, combinando alta performance e precisão na semeadura.
• Editor Schubert Peter
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Já a semeadura de qualidade é um tema crucial para o sucesso agrícola. Discutimos como os cuidados com cada elemento da semeadora podem aumentar a eficiência da operação, levando a um estande de cultivo perfeito. Essa atenção aos detalhes é essencial para maximizar a produção e a qualidade das colheitas.
Também abordamos a manutenção preditiva, um ideal ainda não totalmente alcançado na agricultura brasileira. Essa abordagem requer uma equipe qualificada e pode significar uma revolução na manutenção de equipamentos agrícolas, antecipando-se a possíveis falhas.
Tudo isso e muito mais nas próximas páginas. Boa leitura!
Nossa capa
A Série Q5 da Valtra chega ao mercado com três modelos de 265 cv a 305 cv de potência e transmissão CVT, formando conjunto com a Semeadora Momentum
56 Como e quando trocar
Tecnologias para uma irrigação inteligente
Mundo Máquinas
a graxa em mancais 46
08
Índice 06 Rodando por aí 38 Máquinas para fenação e pré-secado
Crédito Valtra
Cultivar Máquinas • Ano XXIII • Nº 245 • ISSN - 1676-0158
Expediente
Milton de Sousa Guerra (in memoriam)
CIRCULAÇÃO FUNDADORES 24 Como realizar uma semeadura de qualidade 42 Vantagens da manutenção preditiva em máquinas
Design
• Revisão Aline Partzsch de Almeida
• Coordenação Charles Ricardo Echer
Coordenação
Assinaturas Natália Rodrigues
Expedição Edson Krause 28 Capa - Test Drive trator Valtra Série Q5 abril 2024 50 Publieditorial - tecnologias para aumentar a produtividade 52 Como calcular a compactação com base em análises 17 Ficha Técnica - 700 Vario Gen7 e semeadora Fendt Momentum 12 Tecnologias para pulverização em pomares
• Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano Franciele Ávila •
Simone Lopes •
•
Goplan tem novo CEO
A Goplan, empresa franqueadora sediada em Campinas e com foco no agronegócio, anunciou José Henrique Galli como seu novo CEO. Galli, engenheiro agrônomo com experiência em multinacionais do setor, assume com o objetivo de expandir a atuação da empresa e impulsionar seu crescimento, visando quintuplicar o faturamento nos próximos três anos. A estratégia inclui consolidar o modelo de franquias, fortalecer a rede de franqueados e ampliar a presença no mercado, mantendo a valorização dos proprietários das franquias e oferecendo apoio com um portfólio especializado em nutrição e biológicos. Com mais de 20 anos de experiência, Galli planeja reforçar a proposta de valor da empresa, baseada na exclusividade com parceiros e em um portfólio próprio de produtos e serviços.
John Deere, Kinze e Ag Leader anunciam acordo para colaboração
John Deere, Kinze e Ag Leader uniram forças em um acordo de colaboração para facilitar a integração de soluções de equipamentos de qualidade e soluções digitais para agricultores. Sob o acordo, os agricultores que usam produtos de plantio e exibição da Kinze e da Ag Leader poderão integrar seus dados agronômicos ao John Deere Operations Center. O acordo também resolve litígios pendentes, com a John Deere licenciando tec-
nologia de plantio para ambas as partes, garantindo que os clientes continuem tendo acesso às tecnologias True Speed e SureSpeed. "Estamos orgulhosos das soluções que desenvolvemos, e este acordo coloca os clientes em primeiro lugar", disse Aaron Wetzel, vice-presidente de sistemas de produção e agricultura de precisão da John Deere. Embora os benefícios sejam promissores, o produto ainda não está disponível no Brasil.
Polo de irrigação deve ser instalado em MS
O governo do estado e o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) discutiram a criação de um polo de irrigação em Mato Grosso do Sul, em uma reunião virtual. A iniciativa visa apoiar e desenvolver a produção agrícola nas regiões onde a irrigação é relevante. Mato Grosso do Sul tem experimentado um forte crescimento na área de irrigação, apesar de enfrentar desafios
como oferta de energia e logística. O secretário da Semadesc, Jaime Verruck, destacou que o governador Eduardo Riedel considera o projeto uma prioridade, e lembrou que o FCO (Fundo Constitucional do Centro-Oeste) possui linhas específicas para o setor, com mais de R$ 20 milhões em projetos de irrigação aprovados neste ano em diversos municípios do estado.
RODANDO POR AÍ
06 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 245
Yanmar aposta em portfólio de máquinas compactas
Os modelos de tratores compactos da Yanmar foram os diferenciais da fabricante japonesa durante a sua participação na feira Expoagro Afubra, em Rio Pardo (RS). Os visitantes e clientes da marca conferiram, durante o evento, máquinas de 26 a 100 cv de potência, além da menor colheitadeira de grãos do mercado brasileiro, voltada especialmente à agricultura familiar, principal foco do evento.
“Acreditamos que a agricultura familiar é a base do agronegócio brasileiro. Por isso, nos dedicamos a oferecer soluções inovadoras e personalizadas para os pequenos e médios agricultores”, destacou Fernando Figueiredo, gerente comercial agrícola da Yanmar South America.
A Yanmar apresentou máquinas como a colheitadeira de grãos YH 880, com alta capacidade de colheita e baixo índice de perdas, e embarcada com o SA-R (“Smart-Assist Remote”), dispositivo inteligente que realiza o monitoramento remoto do equipamento. Outros destaques foram o trator YM 347, os modelos Yanmar Solis 26, o trator Solis 80, o trator Solis 90, o Solis 60 e o Solis 75.
Tecnologias Advanced Farm 360 e Massey
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) inaugurou, na segunda quinzena de abril, a Sala de Tecnologias Advanced Farm 360, em parceria com a Massey Ferguson, referência no mercado agrícola brasileiro. O local está sediado na Área Agrícola do Colégio Politécnico da UFSM, em Santa Maria (RS).
“Será um espaço dedicado ao desenvolvimento de conhecimento e práticas avançadas na área, com o objetivo de impulsionar a agricultura de precisão e a tecnologia aplicada ao campo. A parceria entre a UFSM e a Massey Ferguson representa um compromisso com o futuro do setor, ao investir na formação de profissionais qualificados e na pesquisa de novas tecnologias”, explica Rodrigo Carmo Cardoso, coordenador de marketing de produto da Massey Ferguson.
"A Sala de Tecnologias Advanced Farm 360 é um marco importante para o Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria, consolidando a instituição como referência na formação de profissionais na área da agricultura de precisão. O espaço, certamente, irá potencializar as atividades práticas dos cursos oferecidos atualmente pela instituição, além de
Ferguson
possibilitar a oferta futura de cursos de capacitação de profissionais que já atuam na área, como operadores de máquinas agrícolas, por exemplo. Isso sem contar as atividades de pesquisa, extensão e inovação que são inerentes às atividades de ensino e que também serão beneficiadas com a Sala de Tecnologias”, diz Luciano Pes, professor do Colégio Politécnico da UFSM e coordenador do projeto Advanced Farm 360.
O local sediará aulas práticas de diversas disciplinas, incluindo agricultura de precisão, eletrônica embarcada em máquinas agrícolas, mecanização agrícola, eletrotécnica, agricultura digital, culturas de verão e culturas de inverno. Destinada aos estudantes dos cursos técnico em agricultura de precisão, técnico em agricultura, técnico em agropecuária e mestrado profissional em agricultura de precisão, a iniciativa beneficiará aproximadamente 600 alunos ao ano.
Na Sala de Tecnologias Advanced Farm 360 também serão oferecidos cursos de capacitação profissional para operadores de máquinas agrícolas, focados nas tecnologias da Agricultura 4.0.
08 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 245 MUNDO MÁQUINAS
LS Tractor apresenta tratores na Expoagro e Femagri 2024
A produção de tabaco no Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, está, essencialmente, na mão da agricultura familiar. É com isso em mente que a LS Tractor, com a sua tecnologia sul-coreana, oferece para esse mercado tratores especificados para os agricultores familiares, como os modelos compactos G40, R50 e U60, que estiveram em exposição na Expoagro Afubra, em Rio Pardo (RS).
O trator agrícola G40 apresentado na feira é equipado de fábrica com todos os itens tecnológicos que caracterizam os produtos da LS Tractor, e promete maior agilidade e rapidez nas operações, além de contar com motor certificado Tier 3. Já o U60 é considerado o SUV dos tratores agrícolas, e foi projetado para os pequenos produtores familiares que buscam desempenho operacional, conforto e economia de combustível. Enquanto o R50 conta com uma qualidade importante: o modelo é compacto e eficiente para trabalhar dentro de aviários.
Já na Femagri 2024, em Guaxupé, Minas Gerais, a LS Tractor
apresentou a nova série de tratores MT7, projetados especialmente para a cafeicultura. A série MT7 entra no mercado para completar o portfólio, oferecendo uma linha completa para este segmento que começa com o modelo G40, de 40cv, os modelos da série R de 50 cv e 65 cv, o modelo U60, de 65cv, e agora os novos modelos MT7.80 e MT7.90, de 80 cv e 93 cv.
Os dois modelos MT7.80f e MT7.90f são equipados com motores Perkins de quatro cilindros com 80 cv e 93 cv, tecnologia MAR-1/ Tier3, com características de baixo ruído e menor vibração, além de um moderno projeto de Transmissão LS, que entrega 20 opções de velocidades à frente e 20 à ré (20x20), com a reversão Synchro Shuttle, que oferece muita agilidade nas manobras, e o super-redutor Creeper, que permite trabalhos específicos com implementos que necessitam uma velocidade abaixo de 1 km/hora no seu deslocamento. A tomada de força oferece três opções de velocidade (540, 750 ou 1.000 rpm), com potências máximas de 76 cv e 87 cv.
Mahindra destaca
“Família 6000”
A Mahindra marcou presença durante a Expoagro Afubra 2024, maior feira nacional voltada à agricultura familiar e que ocorreu em Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Para a 22ª edição, a marca apostou na apresentação de quatro modelos de tratores da “Família 6000”. Os visitantes puderam conferir as máquinas nas suas versões estreita e normal, cabinada e plataformada, com faixa de potência entre 57 cv e 80 cv. Os modelos da “Família 6000” foram especialmente desenvolvidos para a agricultura familiar, ideal para os produtores que cultivam frutas de caroço, cítricos, fumo e café. Além disso, eles contam com financiamento através das linhas de crédito dos programas do governo federal: Pronaf Mais Alimentos e Pronamp. “Participar da Expoagro Afubra é de suma importância para a Mahindra. É uma feira que traz o produtor ligado à agricultura familiar. Fortalecemos a imagem da marca e revitalizamos as relações de confiança com os produtores da região”, afirmou Jak Torretta Jr, CEO da Mahindra no Brasil. Outros tratores em exposição foram os modelos 2024, de 25 cv de potência, + carregador frontal L15 com o pulverizador Mahindra de 600 litros acoplado e o modelo 5050, de 49 cv, + carregador frontal T41 com o pulverizador Mahindra de 1.500 litros.
Cultivar Máquinas 245 • revistacultivar.com.br • 09
Stara leva produtos e soluções financeiras para a Tecnoshow Comigo
Stara marcou presença na Tecnoshow Comigo, realizada em Rio Verde, Goiás, de 08 a 12 de abril, onde expôs suas inovações tecnológicas. Entre os produtos apresentados, a plantadeira Eva se sobressai por sua capacidade de plantio em cultivos diversos, como milho, soja e algodão, oferecendo funcionalidades que facilitam a manutenção e promovem a precisão no plantio. Outro destaque foi o Imperador 2500, um pulverizador com um sistema recirculante contínuo para a calda, que busca otimizar a uniformidade e a precisão na aplicação de defensivos.
Além disso, a Stara introduz a nova linha de carretas agrícolas Reboke, com modelos 11000 e 15000, projetadas para agilizar o processo de descarga de grãos. A empresa também lançou o Twister 1500, um distribuidor de fertilizantes granulados e sementes finas, que permite ajustes na taxa de distribuição conforme a necessidade do solo.
A área da agricultura conectada foi outro ponto de foco da Stara na feira, onde foram apresentadas tecnologias desenvolvidas para integrar e otimizar as operações agrícolas através de sistemas de gerenciamento eficazes. Com a presença do Consórcio Stara e da Stara Financeira na feira, a empresa ofereceu soluções de financiamento e investimento para os participantes, enquanto a Stara Mania disponibilizou uma gama de produtos da marca.
AGCO e Trimble anunciam criação da PTx Trimble
A AGCO Corporation e a Trimble anunciaram o fechamento de sua transação de joint venture (JV), batizada de PTx Trimble. O acordo visa integrar o negócio de agricultura de precisão da Trimble e a JCA Technologies da AGCO, criando uma empresa destinada a oferecer soluções inovadoras para agricultores, abrangendo aplicações "factory fit" e "retrofit" no mercado de agricultura de precisão para frotas mistas.
A AGCO adquiriu uma participação majoritária de 85% na PTx Trimble, enquanto a Trimble mantém uma participação de 15%. Com esta estrutura, a PTx Trimble será consolidada nas demonstrações financeiras da AGCO. O acordo reforça também a oferta tecnológica da AGCO em áreas como guia, autonomia, pulverização de precisão, agricultura conectada, gestão de dados e sustentabilidade.
De acordo com o presidente, chairman e CEO da AGCO, Eric Hansotia, a PTx Trimble fornecerá aos agricultores um acesso maior às ferramentas de agroprecisão de próxima geração, independentemente das marcas de tratores e implementos que operam. Rob Painter, presidente e CEO da Trimble, também destacou a importância da joint venture, comemorando a combinação da expertise das empresas e seus recursos para acelerar o ritmo da inovação.
Com a consolidação desta parceria, a AGCO prevê que sua receita consolidada em agricultura de precisão excederá US$ 2 bilhões até 2028. Para financiar a transação, a marca utilizou uma combinação de US$ 1,1 bilhão em notas sênior não garantidas recentemente emitidas, um empréstimo a prazo de US$ 500 milhões, outros empréstimos e disponibilidades em caixa.
10 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 245
Avanços no pomar
Tecnologias em pulverizadores aumentam a eficiência da aplicação em cultivos perenes, garantindo diminuição na quantidade de produto aplicado e melhor cobertura
PULVERIZAÇÃO 12 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 245
Cultivos perenes demandam tratos fitossanitários diferenciados de acordo com a espécie, a fase fenológica, a região de cultivo, a condição ambiental e a pressão de inóculo de pragas e doenças. Esses fatores geram uma complexidade de manejo e, por vezes, favorecem a ocorrência de falhas por conta de uma tentativa de simplificação do sistema.
Neste artigo é dada ênfase aos cultivos cítricos, elucidando a variabilidade de situações que ocorrem no campo e, com isso, as oportunidades em soluções mecanizadas para controle de pragas e doenças do pomar. Todavia, diversos exemplos aqui mencionados podem ser aplicados para outros cultivos.
Variabilidade do pomar
Enxergar diferenças entre um pomar de laranja conduzido em uma fazenda tradicional do estado de São Paulo e um pomar de uvas finas que se desenvolve no polo produtivo do Vale do São Francisco é tarefa fácil. Contudo, dentro de cada um desses exemplos citados, há uma grande diversidade de situações que não são triviais, todavia, carecem de ser consideradas nas rotinas de manejo das fazendas.
Considerando o cultivo de cítricos, as maiores variações de características do pomar estão relacionadas ao tamanho das copas das plantas, com suas dimensões de altura e largura; ao espaçamento entre as linhas de culti-
vo; à densidade da copa, levando-se em conta folhas, ramos e frutos, que variam ao longo da safra.
Dimensões da copa
É característico aos pomares cítricos o acúmulo de massa vegetal com o passar do tempo, ampliando o volume da copa. O vigor de crescimento e o tamanho de copa são influenciados por clima, fertilidade do solo e disponibilidade hídrica, região de implantação (latitude e altitude), porta-enxerto e cultivar enxertada.
A realização de podas pode ser uma prática amplamente requerida em pomares que apresentam fluxos vegetativos vigorosos, no intuito de manter as plantas com estatura que favoreça tratos fitossanitários, práticas de manejo e colheita. Essas podas, por abrirem espaços para a passagem de radiação solar, podem favorecer a ocorrência de fluxos de brotação e frutos em zonas internas das copas. De maneira geral, os alvos biológicos que ocorrem em pomares cítricos podem ser encontrados em todas as zonas vegetativas da planta e, por isso, espera-se que toda a copa seja atingida com o tratamento fitossanitário.
Distância do alvo
A distância entre o ponto onde as gotas são formadas e o alvo onde estas deverão ser depositadas exerce grande influência na eficiência do processo de aplicação. Em qualquer situação, é desejável que a nuvem de gotas seja projetada ao longo de toda a projeção da copa.
Jacto
Cultivar Máquinas 245 • revistacultivar.com.br • 13
Melhorias no layout dos pulverizadores
A depender da altura da planta, o desafio em se colocar o produto fitossanitário no alvo pode ser maior, requerendo-se características específicas do conjunto mecanizado que favoreçam a aplicação. Nesse sentido, a altura e o formato do defletor recebem grande relevância. A intensidade do vento, que transporta as gotas de pulverização do pulverizador até o alvo, que é muito influenciada pela velocidade de trabalho, também afeta a qualidade dessa distribuição de gotas, bem como a penetração das gotas para o interior da copa.
Para pomares com plantas de grande tamanho, tratados com pulverizadores de baixa estatura, se requer, de maneira geral, ventiladores de grande capacidade, e com isso demanda-se elevado consumo de potência. Além disso, ao fazer as gotas viajarem por distâncias maiores, estas ficam mais suscetíveis a perdas por evaporação e deriva, com maiores chances de serem perdidas e não atingirem o alvo, sobremaneira em condições ambientais adversas, como com baixa umidade relativa, elevadas temperaturas e incidência de vento ambiental de moderada intensidade.
Ao se considerar os turbopulverizadores convencionais, dotados de defletor axial, combinar as dimensões do pulverizador com as dimensões da copa contribui muito para a melhoria da qualidade de aplicação. Deseja-se que o centro do ventilador da turbina se localize o mais próximo possível do centro da planta, e assim possibilite a distribuição de gotas
para ambos os lados, de maneira uniforme, diminuindo a distância entre o pulverizador e os pontos mais distantes da copa da planta.
As torres de pulverização permitem uma diminuição da interferência do ambiente sobre a aplicação, uma vez que as gotas são formadas à menor distância do alvo, permitindo melhorias na qualidade da aplicação e diminuição das perdas.
Os pulverizadores com multidefletores articulados representam uma evolução em relação aos pulverizadores do tipo torre, uma vez que permitem ajustes finos de cada um dos defletores em relação à copa, possibilitando performar boas aplicações em pomares com diversas condições de copa. Quanto à abertura independente de seções, é possível alcançar economias de produto a partir da abertura e do fechamento de ramais em posições cuja projeção de pulverização não esteja encontrando a copa de cultivo a ser atingida.
Oportunidades tecnológicas para melhorar as aplicações passam por soluções que otimizem a distribuição de gotas em toda a copa, com o mínimo de desperdício e com a máxima eficiência. O uso de multidefletores, cujo posicionamento individual em relação à copa seja regulável, e com intensidade de vento ajustável à demanda, permite melhorias importantes na proteção dos cultivos e tende a ser cada vez mais adotado.
Sensores Sonar e Lidar para aplicação seletiva
Por mais que se deseje um pomar uniforme, formado por plantas com características morfológicas semelhantes, é frequente que algumas plantas apresentem estatura diferente das demais, especialmente em pomares cítricos. Um dos motivos que favorecem essa ocorrência é a incidência de doenças cuja prática sanitária exige a erradicação das plantas contaminadas. Em algumas situações, é comum que essas lacunas deixadas pelas plantas erra-
Combinar as dimensões do pulverizador com as dimensões da copa das árvores contribui muito para a melhoria da qualidade da aplicação
14 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 245 Jacto
dicadas sejam ocupadas por novas mudas, que demorarão certo tempo até atingirem o porte das outras plantas do talhão. Em outros casos, por razões diversas, o replantio não é realizado e essas lacunas sem plantas permanecem até o final do tempo de vida do pomar.
Outra situação em que são observadas lacunas sem plantas é nos espaços entre os talhões, como carreadores, e nesses casos também é importante que a pulverização seja interrompida para se evitar desperdícios.
Em sistemas convencionais, esse acionamento dos ramais é realizado de maneira manual, exigindo-se que o operador tenha a sensibilidade de abrir/fechar a pulverização na presença/ausência de plantas. Em operações realizadas em maiores velocidades, esses acionamentos são difíceis de serem realizados, permanecendo o sistema ininterruptamente aberto.
A utilização de sistemas automatizados para realizar a abertura/fechamento das seções de pulverização, de acordo com a real necessidade, possibilita gerar economias significativas de calda, evitando desperdícios e diminuindo os impactos ambientais.
No caso dos sensores do tipo Sonar, as ondas sonoras são emitidas pelo dispositivo e, a partir do tempo em que essas ondas retornam ao dispositivo, é possível calcular a real distância do obstáculo, percebendo a presença ou a ausência de massa vegetal
No caso do sensor do tipo Lidar, uma varredura ainda mais detalhada é possível, sendo que o sistema é capaz de reconhecer padrões tridimensionais do ambiente, com a possibilidade de estimar a altura e o tamanho das plantas, bem como a distância que o sensor se encontra do alvo. A partir da definição dos parâmetros de pulverização, é possível realizar a abertura/fechamento de seções de acordo com as dimensões das plantas.
Controle de vazão
A alternância entre abertura/ fechamento dos ramais e a mudança de velocidade de deslo-
camento e da rotação do motor do trator representam causas de variação importantes no decorrer de uma pulverização. Sistemas convencionais de pulverização não dispõem de soluções que reduzam os efeitos dessas variações na operação e geralmente acabam gerando prejuízos na qualidade de aplicação: Fecha-se um ramal, ocorre aumento de pressão no ramal que permanece aberto; reduz-se a velocidade, ocorre aumento no volume de aplicação; reduz-se a rotação do conjunto motorizado para realizar manobras, ocorre diminuição no fluxo de calda da bomba e prejuízo na vazão dos bicos de pulverização.
Os controladores de vazão possuem soluções que evitam diversos tipos de falhas quando essas variações no processo de aplicação ocorrem. O fechamento de alguma seção de pulverização não afeta a pressão das demais seções devido à ação de mecanis-
Cultivar Máquinas 245 • revistacultivar.com.br • 15
Figura 1 - ilustração para adequação de layout de pulverizador para tamanho da copa, com ênfase para a altura de inserção do ventilador e conjunto de pulverização
Figura 2 - ilustração de serviços de telemetria, com algumas informações possíveis de serem filtradas na plataforma de gerenciamento de dados Ekos, como mapas de volume de aplicação, velocidade, pressão de trabalho, sobreposições e indicadores operacionais
mos que direcionam esse excedente de calda diretamente para o reservatório do pulverizador; mudanças na velocidade são percebidas por dispositivos satelitais ou sensores de rodas e as devidas correções na vazão são feitas; variação na rotação do conjunto motorizado afeta a rotação da bomba, e esta, por sua vez, influencia na vazão de calda: os atuadores fazem o trabalho de ajustar a quantidade de calda que volta pelo retorno, de acordo com a necessidade.
Homogeneidade da calda
No que se refere aos produtos aplicados em pulverização, é crescente a necessidade de utilização de diversos produtos de maneira simultânea em uma única aplicação. Com essa estratégia, ganha-se capacidade operacional e é possível realizar as aplicações em momentos mais adequados do dia, com condições de temperatura, umidade relativa e incidência de ventos
adequados à pulverização. Além disso, reduz-se o tráfego de máquinas na área, diminuindo os impactos na compactação dos solos.
Quando se trata de calda pronta, devemos estar atentos à agitação da calda desses veículos durante todo o tempo em que dispor de produtos na calda, para garantir homogeneidade no momento de abastecer o pulverizador. Todavia, com a mistura de produtos no tanque, o desafio em manter a calda homogênea cresce. É importante garantir a qualidade na aplicação do início ao fim, com a concentração constante de todos os produtos presentes na calda. Para isso, sistemas de homogeneização (ou agitação) eficientes assumem grande importância. Dentre as tecnologias mais empregadas para essa função, destacam-se os agitadores mecânicos, providos de uma hélice, e os agitadores hidráulicos, providos de tecnologia Venturi. Agitadores mecânicos
são preferidos quando há situações mais desafiadoras de uso, visto que os agitadores hidráulicos apresentam risco de entupimento que pode inviabilizar a função de agitação.
E o que esperar para o futuro?
Para se aprimorar a qualidade da aplicação em pomares, alguns parâmetros devem ser observados durante a operação. Entre eles, se destacam o volume de aplicação, a pressão de trabalho, a velocidade de aplicação, a rotação do motor e as condições ambientais durante o dia, que geralmente podem ser complementadas com o horário do dia em que se fez a aplicação.
Algumas soluções em telemetria transmitem, em tempo real, todas as informações da operação. Assim, o gerenciamento das operações pode ser acompanhado remotamente e as falhas no processo podem ser corrigidas ao tempo em que são percebidas pelo gestor. Além de atuar em tempo real, é possível confrontar dados e extrair informações valiosas para tomadas de decisão futuras, perceber o que deu certo no manejo e o que deve ser evitado, organizar informações das operações realizadas e relacioná-las com dados reais de campo. A partir dos dados coletados durante as operações, é possível compreender todo o processo, e, se necessário, atuar nos pontos-chave para que os resultados sejam melhorados.
Fabiano Griesang, Máquinas Agrícolas Jacto; José Antônio Brandão Bonadio, Fatec Shunji Nishimura
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Pulverizador equipado com defletores articulados. Promove ganhos significativos na qualidade de aplicação, sendo possível se ajustar à copa
M
700 Vario Gen7 e Fendt Momentum
Com potências de 262 cv e 283 cv, os tratores da série 700 Vario Gen7 chegam ao Brasil, formando com a semeadora Fendt Momentum, de 18 a 24 linhas, o combo Suplantar, uma nova solução para os produtores brasileiros
Oconjunto de plantio perfeito é composto pelas séries Vario de tratores da Fendt, juntamente à família de semeadoras Momentum, que é consagrada no mercado. Devido a isso, a Fendt lançou um conceito de plantio “Suplantar”, o qual é composto pelos dois grandes lançamentos da Fendt ao mercado, o trator 700 Vario e a semeadora Fendt Momentum, de 18 a 24 linhas, por conta da capacidade de adaptabilidade a diferentes topografias e condições de trabalho, fornecendo eficiência operacional, maior economia de insumos e maior produtividade.
Maior eficiência
operacional
Ao passar dos anos, o tempo hábil para realizar a semeadura das áreas se torna menor, aliado a isso, o incremento de área plantada nas diferentes regiões do país cria a necessidade de máquinas mais eficientes para suprirem essa demanda. Dessa forma, a Fendt, sempre buscando entregar as melhores soluções do mercado para os agricultores, desenvolveu semeadoras autotransportáveis que revolucionaram o mercado.
A Fendt Momentum possui um sistema de transporte que deixa a máquina, em 45 segundos, menor
que o rodado duplo do trator ou até mesmo em posição de trabalho, com isso o agricultor ganha tempo durante as trocas de áreas. Além disso, pensando em maior rendimento operacional, a Fendt desenvolveu um sistema, de buchas “infinity”, que anulam a necessidade de lubrificação diária na semeadora, com isso o tempo é convertido em plantio.
A Fendt Momentum de 18 a 24 linhas conta com reservatórios centrais, os quais facilitam a operação de reabastecimento, quando comparados a caixas suspensas sobre as linhas. Estes reservatórios possuem a capacidade de 3.500 L para fertili-
FICHA TÉCNICA
Cultivar Máquinas 245 • revistacultivar.com.br • 17 Fendt
Em 45 segundos, a semeadora passa da posição de trabalho para a posição de transporte, com largura inferior à dos rodados do trator
zante e 3.500 L para sementes, isso faz com que a máquina possa trabalhar mais horas com menos paradas para reabastecimento dos insumos.
Uso racional e eficiente dos insumos
Cada vez mais a agricultura busca tornar-se mais eficiente, ou seja, produzir mais com a mesma quantidade de recursos. Para isso, a tecnologia é um aliado fundamental nessa busca. Por esse motivo, observamos um aumento da tecnologia empregada nas sementes, por exemplo. Frente a essa necessidade, a Fendt Momentum foi desenvolvida para minimizar o desperdí-
cio dos principais insumos utilizados na semeadura, semente e fertilizante.
Atualmente, todas as semeadoras da família Fendt Momentum contam com o “vDrive”, o qual realiza o controle linha a linha, transformando “cada linha em uma semeadora individual”. Na prática, a máquina consegue realizar compensação de curvas na dosagem de sementes, além disso o corte linha a linha nos locais onde já se realizou o plantio, evitando a sobreposição de sementes e, consequentemente, a competição entre plantas, o que, além de economizar recursos, melhora a produtividade.
A tecnologia faz parte do DNA da Fendt Momentum, por isso, nas versões de 18 a 24 linhas, a máquina conta com o sistema do “vApply Granular”, o qual realiza o controle do fertilizante diretamente pelo monitor “20|20 seed sense”. Ainda, este sistema divide as semeadoras em duas seções, reduzindo também a sobreposição do fertilizante em locais onde o mesmo já foi aplicado. Isso faz com que a operação se torne mais eficiente e racional.
Mais produtividade
A busca por mais produtividade cresce ano após ano, fazendo com que cada vez mais se aplique tecnologia que possibilite que a planta entregue o seu máximo potencial produtivo. Para isso, o plantio é a operação fundamental, visto que a correta deposição de sementes na distância e no espaçamentos corretos, bem como profundidade, garante que a cultura tenha uma emergência uniforme e, consequentemente, maior produtividade.
A Fendt Momentum de 18 a 24 linhas é uma semeadora desenvolvida e pensada para entregar melhor emergência de plantas. Prova disso são os sistemas do Smart Frame, Wing Flex e Weight Transfer, que trabalham para que os pen-
18 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 245
tes da máquina se mantenham em contato com o solo tanto em relação à angulação dos módulos laterais, quanto em relação à pressão dos pentes em relação ao terreno e ao peso transferido para os módulos laterais, possibilitando o plantio em terrenos irregulares, com deposição de sementes sempre uniforme.
A Fendt Momentum traz um conceito inovador de ajuste de pressão da linha para com o solo, o Delta Force, que atua tanto com pressões positivas quanto negativas, focando em melhorar a construção do sulco de plantio, consequentemente, ambiente para desenvolvimento das raízes e maior produtividade. O Delta Force acaba substituindo a mola de pressão, trazendo mais precisão para o controle da pressão sobre a linha, visto que possui um sensor que mede a resistência do solo e aplica a carga correta, realizando cinco ajustes por segundo.
Fendt 700
VARIO GEN7
Inspirados pelas necessidades e ideias dos nossos clientes e pela nossa vontade de produzir as melhores inovações e tecnologias, desenvolvemos um trator perfeito
A cabina e o assento do motorista possuem suspensão pneumática, aumentando ainda mais o conforto do operador
para produtores que visam ampliar sua produtividade com o uso dos melhores equipamentos do mercado. Clientes em todo o mundo con-
fiam nesses tratores, que em 2024 estreiam no Brasil para revolucionar o mercado com os modelos Fendt 726 Vario (262 cv) e 728 Vario (283
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Fotos Fendt
cv), tornando-se a solução ideal para o ciclo de plantio quando combinados com a nova Fendt Momentum de 18 a 24 linhas.
Desde o seu lançamento em 1998, o Fendt 700 Vario ganhou diversos prêmios e tem sido a série de tratores mais vendida da Fendt desde então, sendo também líder de mercado na Europa. A sétima geração da renomada série de tratores, o 700 Vario Gen7, consolida a posição de liderança recebendo o prêmio Farm Machine 2023 durante a feira internacional Sima, em Paris.
Rendimento operacional incomparável
Os altos custos operacionais e o encurtamento das janelas de operação, seja em preparo de solo, plantio ou transporte de grãos em carreta graneleira, exigem atualmente que o trator seja versátil e altamente eficiente em seu consumo de combustível.
Para isso, o novo Fendt 700 Vario conta com motor AGCO Power Core 75, com volume de 7,5 litros, que entrega excepcionais 1.450 Nm de torque. Aliado ao novo motor, o conceito FendtID possibilita alto torque em baixas rotações, sendo este torque máximo atingido a 1.200 rpm. Além disso, o modelo Fendt
728 possui o conceito Fendt Dynamic Performance, que fornece mais 20 cavalos de potência para consumidores auxiliares, podendo chegar a 303 cv. Para facilidade e menor custo de manutenção, o motor Core conta com tucho hidráulico, eliminando a necessidade de ajuste de válvulas manual.
A série 700 Vario Gen7 foi idealizada e desenvolvida para as aplicações da agricultura tropical, por isso conta com o exclusivo conceito de arrefecimento Concentric Air System (CAS), já comprovado nos tratores de maior potência. Esse sistema possui uma hélice com acionamento hidráulico, que atua independente da rotação do motor e possui função reversível, realizando a limpeza da grade frontal e pacote de arrefecimento, permitindo uma maior disponibilidade de máquina.
Aliado ao motor eficiente, o 700 Vario Gen7 é equipado com a renomada e comprovada transmissão continuamente variável VarioDrive ML 190, desenvolvida com o
objetivo de transmitir alta potência do motor em qualquer situação, independentemente das condições do solo e mantendo as rotações do motor muito baixas.
A transmissão VarioDrive é responsável por uma condução contínua e dinâmica, entregando alta potência a qualquer velocidade, desde 0,02 km/h até 50 km/h. Isso é possível graças a uma bomba hidráulica, que aciona os motores hidráulicos dos eixos dianteiro e traseiro de forma independente através da energia hidrostática. Além disso, o conceito de distribuição inteligente de torque distribui o torque de forma dinâmica, e em caso de patinagem de um dos eixos, transfere o torque para o outro, aproveitando-o ao máximo, atingindo uma maior capacidade de tração e rendimento operacional. No campo, toda a força de tração está disponível e as tensões são evitadas ao dirigir em estradas ou curvas. O chamado efeito “pull-in-turn” puxa a máquina para dentro da curva du-
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rante as curvas, resultando em um raio de giro aproximado de 11,8 m, com potência de tração total e menor compactação do solo.
Para longas jornadas de trabalho e maior eficiência operacional, o Fendt 700 Vario Gen7 é equipado com três níveis de conforto: suspensão ativa, livre de manutenção e com controle de estabilidade no eixo dianteiro; suspensão pneumática de dois amortecedores na cabina e suspensão pneumática no assento do operador.
FendtONE
Na nova geração do Fendt 700 Vario, o trator e os implementos são operados de forma simples e customizável através do joystick multifuncional, painel digital de 10” e dois terminais de 12”, um no apoia-braço e outro no teto. De forma integrada e centralizada, a plataforma do operador FendtONE é perfeita para operação da nova Momentum, pois executa funções de controle da plantadeira via rede Isobus,
A transmissão VarioDrive é responsável por uma condução contínua e dinâmica, entregando alta potência a qualquer velocidade, desde 0,02 km/h até 50 km/h
como elevar e abaixar as linhas de plantio em um só toque no joystick. Funções inteligentes, como o sistema de orientação Fendt Guide e o sistema TI Headland que automatiza a manobra de cabeceira e a funcionalidade de controle de tráfego controlado (CTF), são grandes aliadas do
operador, pois garantem precisão, maior rendimento operacional e ainda menor fadiga. Para uso racional de insumos, o trator ainda conta com sistema de controle de sessão (SC) e taxa variável (VRC).
O Fendt Connect é a solução de telemetria da Fendt, gratuita por cinco anos e compatível com diversas operadoras de telefonia, o trator transmite uma enorme gama de informações, que podem ser acessadas em tempo real pela plataforma web, bem como pelo aplicativo Fendt Connect. Informação digitalizada em tempo real na palma da mão.
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M Fotos Fendt
Semeadura de qualidade
Os cuidados com cada elemento da semeadora ajudam a tornar a operação de semeadura mais eficiente, aumentando as chances de ter um estande perfeito
Aoperação de semeadura é uma das etapas mais importantes para ter êxito na produção de grãos. Por isso, é fundamental ter atenção em uma gama de detalhes, dentre eles, a qualidade das sementes, a adequação dos dosadores, a utilização de grafite, sulcadores adequados, a pressão e o ângulo das rodas compactadoras e a velocidade de deslocamento do conjunto trator-semeadora. Quan-
do todos esses fatores estiverem ajustados às características da lavoura, a semeadora-adubadora terá condições para cortar a palha, abrir o sulco, dosar e incorporar ao solo o fertilizante e a semente na profundidade correta e, por fim, compactar e conformar adequadamente o sulco de semeadura.
Sementes
A semeadura de qualidade inicia-se com a escolha das sementes, visto que poderão afetar o nú-
mero de plantas por hectare quando apresentarem baixa germinação e vigor. Além disso, é fundamental a classificação, uma vez que os dosadores demandam de um padrão de tamanho e de forma para que cada semente seja alocada em um alvéolo do disco dosador ou, para dosadores pneumáticos, nos “furos de sucção do disco dosador”. De maneira geral, a utilização de sementes certificadas, as quais possuem os melho-
SEMEADORAS
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qualidade
res padrões de classificação e uniformidade proporcionados pelo alto investimento e profissionalização do setor sementeiro e com tratamento industrial de sementes (TSI), é o melhor caminho para garantir um bom estande inicial de plantas. No TSI, as sementes recebem os ativos na quantidade e uniformidade corretas, com revestimento de um filme protetor, denominado polímero, e também talco ou pó secante.
Chassi
O chassi das semeadoras-adubadoras deve operar nivelado quando localizado em terreno plano, por isso é importante manter os pneus calibrados e reali-
zar o nivelamento longitudinal. Assim, todos os sulcadores receberão forças semelhantes para realizar a operação a campo, proporcionando melhor uniformidade de incorporação dos fertilizantes e das sementes ao solo.
Sulcadores
Os primeiros elementos de ataque, como o disco corta-palha, sofrem desgastes e, com isso, apresentam diminuição do seu diâmetro, fato que prejudica o corte, pois altera o ângulo de ataque. Em algumas operações de semeadura demanda-se a afiação em virtude da resistência da palhada ao corte, aliado ao solo com presença de pedras que comprometem a capacidade de corte. Esse problema é acentuado em operações imediatamente após a colheita do trigo, onde pode ocorrer o envelopamento das sementes. Além da afiação dos discos, o aumento da pressão das molas dos discos de corte colabora para o corte satisfatório.
Um elemento importante dos sulcadores do tipo haste é a ponteira. Seu ângulo de ataque e a largura influenciam diretamente na qualidade do sulco. Por isso, é fundamental a substituição deste
componente ao se verificar desgastes, pois a alteração na sua geometria resulta em sulcos com menor área de solo mobilizado.
Os discos duplos são responsáveis por incorporar a semente ao solo na maioria das semeadoras em linha. Nos sistemas “triplo disco” também se realiza a incorporação dos fertilizantes. A maior preocupação está relacionada ao fato de que o desgaste dos discos resulta na menor profundidade de deposição das sementes. Portanto, é fundamental regular a profundidade de semeadura, considerando o desgaste dos discos e realizar o acompanhamento durante a operação. Sulcadores de discos duplos mais desgastados estarão mais suscetíveis ao embuchamento, uma vez que aumenta o espaço aberto entre os discos na parte frontal, de ataque ao solo.
Dosadores de sementes
Os dosadores de sementes podem ser mecânicos ou pneumáticos. Vale destacar que ainda existe ampla área semeada com dosadores mecânicos, necessitando o correto ajuste em relação ao tamanho
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Stara
dos alvéolos e das sementes. Indica-se que a semente fique alojada num alvéolo com tamanho 10% superior, com isso diminuem as deposições duplas e falhas, uma vez que facilita a entrada das sementes nos orifícios do disco dosador e, por outro lado, dificulta-se o alojamento de duas sementes num mesmo alvéolo. Para sementes maiores e arredondadas, os anéis rebaixados apresentam melhor desempenho. Vale ressaltar que a escolha do disco e do anel inadequados às características da semente, além de incrementar os problemas relacionados às deposições duplas e falhas, ocasiona maior dano mecânico, principalmente quando as sementes ficam expostas acima do disco, sofrendo forte ação dos gatilhos raspadores.
Para minimizar o desgaste das peças que compõem o sistema de dosagem, bem como diminuir o atrito entre as sementes, é fundamental utilizar 4 g de grafite em cada quilo de semente. A utilização exagerada ou a mistura desunifor-
me de grafite nas sementes é prejudicial ao sistema de dosagem, tanto mecânico como pneumático.
Para a operação com semeadoras equipadas com dosadores mecânicos de precisão, o limite de velocidade de operação, do conjunto trator-semeadora, é de 5 km/h. Velocidade superiores incrementam o número de deposições falhas e duplas.
Para sistemas a vácuo, é importante manter o fluxo de ar na pressão indicada para cada cultura e regular os ejetores, a fim de evitar as deposições duplas quando tiverem ação insuficiente, e falhas, quando a atuação for exagerada. Os dosadores pneumáticos também demandam a lubrificação das sementes, utilizando 3 g a 4 g de grafite por quilo de semente.
Para a operação com semeadoras equipadas com dosadores pneumáticos de precisão, a velocidade é variável dentre os modelos disponíveis no mercado. Para sistemas mais simples, em torno de 7 km/h, e os mais sofisticados ultrapassam os 15 km/h.
Dosadores de fertilizantes
Os dosadores de fertilizantes passaram por evoluções consideráveis, mas ainda existem problemas relacionados ao próprio fertilizante. Essas características alteram o escoamento dos fertilizantes nos dosadores, além de colaborar para formar crosta nos helicoides. Portanto, a limpeza deve ser periódica, principalmente quando utilizados fertilizantes com presença de pó e/ ou com maior umidade.
Destaca-se que esses fatores afetam a quantidade distribuída pelos dosadores, por isso as tabelas de dosagens, elaboradas pelos fabricantes de semeadoras-adubadoras, podem apresentar variações. Portanto, é importante aferir a vazão do fertilizante periodicamente e, quando alterar fórmula ou o tipo de adubo, realizar a calibração dos dosadores para atingir a demanda necessária por hectare de forma precisa.
Condutores
Todos os condutores devem ser
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Ponteira sem desgaste (a) e ponteira desgastada (b) Fotos Marcos Antonio Zambillo Palma
A B A B
Fertilizante com diferentes granulometrias e presença de pó (a) e crosta de fertilizante formada na helicoide do dosador (b)
Disco corta-palha submetido a operação em solo com presença de pedras (a) e sementes de soja não incorporadas ao solo devido à deficiência de corte da palhada de trigo e envelopamento (b)
Escolha inadequada de disco e anel para semeadura de milho
Limitadores de profundidade
São dois os sistemas principais de limitadores de profundidade, os denominados fixos, em que ambas as rodas limitam a profundidade, e os do tipo balancim, em que as rodas limitadoras operam com um balanço pré-regulado.
Rodas compactadoras
Em condições de baixa umidade, recomenda-se aumentar a pressão das rodas compactadoras, a fim de incrementar o contato entre a semente e o solo. Isso facilita a absorção de água, fundamental para desencadear o processo de germinação. As rodas compactadoras em “V” apresentam vantagens por deixarem o solo sobre a semente com menor compactação, ou seja, a atuação ocorre nas laterais da semente, facilitando o rompimento dessa camada de solo pelo hipocótilo da semente.
vistoriados, antes de iniciar a semeadura, pois podem ser obstruídos por pragas e insetos presentes no galpão onde a máquina fica alojada. Também, é importante realizar a limpeza e os ajustes dos sensores de sementes para evitar paradas durante a semeadura.
A utilização da pulverização de sulco com jato dirigido, simultaneamente à semeadura, pode provocar a obstrução parcial ou total do condutor de sementes, quando a aspersão estiver mal posicionada.
Em semeaduras em solos com impedimentos à mecanização (pedregosos), o sistema limitador balancim apresenta performance e desempenho superiores ao sistema limitador fixo, resultando em melhor estande de plantas. No sistema fixo, toda vez que surgir um obstáculo, paralelo à linha de semeadura, o conjunto pantográfico receberá um golpe oriundo das rodas limitadoras, uma vez que não existe a articulação entre elas.
Os cuidados abordados no texto são fundamentais para proporcionar um bom estande de plantas e alcançar altas produtividades nas culturas que demandam a utilização de semeadoras-adubadoras de precisão.
Marcos Antonio Zambillo Palma, Decio Adair Rebellatto da Silva, Universidade Federal da Fronteira Sul; Dailson Guimarães Dugato, engenheiro agrônomo; Josias Emanuel Schardong Kotz, engenheiro agrônomo; Flávio Castro da Silva, Universidade Federal Fluminense - UFF
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M Kuhn A B
Valtra Série Q5
Com muita tecnologia, a Série Q5 da Valtra chega ao mercado brasileiro com três modelos de 265 cv a 305 cv de potência e transmissão CVT, formando conjunto com a semeadora Momentum
Durante muito tempo sofremos e reclamamos com a defasagem tecnológica dos tratores produzidos no Brasil, em relação àqueles do exterior, principalmente da Europa Ocidental. Era comum o comentário de que as nossas máquinas tinham atraso de anos nos quesitos tecnologia e ergonomia.
A partir da ação de alguns fabricantes, entre os quais a Valtra, hoje podemos ter disponível ao produtor brasileiro uma máquina exatamente igual à que se comercializa atualmente nos mercados mais exigentes, com todos os recursos tecnológicos na operação e com con-
forto e segurança.
Neste teste de campo, pudemos conhecer um dos tratores da nova Série Q5 da Valtra, que confirma todo esse argumento, pois são oferecidos no Brasil os mesmos tratores produzidos na Finlândia, com todas as configurações que já são destaque naquele exigente mercado. Esta série, lançada em 2022 na Europa, está sendo trazida ao nosso país com três modelos: o Q265 de 265 cv, o Q285 de 285 cv e o Q305 de 305 cv, que testamos no norte do estado de São Paulo, para apresentar aos leitores da Cultivar Máquinas.
Esses três modelos preenchem uma lacuna no portfólio da Valtra, pois atualmente são oferecidos modelos até 250 cv, da Série T CVT com o Valtra T250 CVT, depois há um va-
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zio de oferta de potência, entre 250 cv e 325 cv, pois a série de maior potência da marca, hoje oferecida no nosso país, é a Série S4, com dois modelos, o S324 e o S374. Essa faixa de potência abrangida pela Série Q5 não é muito concorrida, sendo que o Q265 encontrará dois modelos de outras marcas a concorrer. O Q285 terá maior concorrência, com quatro modelos ofertados com potência similar de motor, e o Q305 não tem concorrente direto, embora se possa considerar um modelo de 311 cv de motor, de outro fabricante.
Quando a Valtra mundial completa seus 70 anos de atividade,
a Série Q5 é lançada na Europa como um destaque tecnológico, com cinco modelos que vão dos 230 cv aos 305 cv – Q225, Q245, Q265, Q285 e Q305. Essa série, que é uma das mais qualificadas da linha de produtos da Valtra no exterior, já entrou no mercado com um destaque, pois foi premiada com a distinção “Farm Machine” 2023, que a revista Traction organiza e entrega o título durante a Feira de Hannover, Agritechnica, nos anos pares e no Salão Internacional de Máquinas Agrícolas, Sima, em Paris, nos anos ímpares. A Série Q5 também recebeu o prêmio “Red
Dot Design”, um destaque alemão para equipamentos avançados em projeto de Produto.
Para o Brasil, estão sendo trazidos três modelos da série, com o propósito de avançar no mercado competitivo de grãos e cana-de-açúcar, principalmente oferecendo o conjunto do trator com a semeadora Momentum, mas também para a produção de grãos, em geral, com os escarificadores e outros equipamentos de preparo do solo, e na cana-de-açúcar, principalmente para a operação de transbordo e preparo de solo.
Já de antemão é possível visualizar os principais pontos de destaque no ingresso dessa série no mercado brasileiro. O primeiro deles é a expectativa de confiabilidade de um trator, que usa a nova geração do motor já consagrado de 7.4 litros, da mesma família da Série T CVT, combinado com a nova transmissão CVT, ainda mais moderna e inteligente, seguindo o mesmo conceito da Série S4. Outro ponto a destacar são os itens que estão presentes
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Charles Echer
no trator - como standard, principalmente quanto à agricultura de precisão do receptor de satélites - que melhor atendam à necessidade do cliente. Todos os tratores vêm predispostos a receber todos os itens de tecnologia "smart farming", mas o cliente poderá escolher quais ele deseja adquirir no início, como, por exemplo, a precisão do piloto automático ou mesmo a manobra automática de cabeceira. Mesmo assim, se ele desejar fazer a aquisição posterior, o trator estará já preparado para receber o opcional. A configuração é livre.
Outros pontos que podem dar destaque a esses modelos da Série Q5 são a suspensão pneumática, a ergonomia de acessos e de cabina e os itens de tecnologia embarcada, principalmente a capacidade de realizar manobras automaticamente.
Para o teste de campo fomos apoiados pelo concessionário Mer-
cadão, loja de São José do Rio Preto, e a área em que trabalhamos era da Fazenda Nossa Senhora de Lour-
des, próxima ao município de Paulo de Faria, região norte do estado de São Paulo, quase na divisa com Minas Gerais.
Motor
O motor que equipa a Série Q5 é o modelo 74 LFTN-D5 de última geração, com seis cilindros e um volume total de 7,4 litros. Como característica positiva, que pudemos comprovar no teste, este motor oferece a potência máxima a um regime de rotações bastante baixo, de 1.850 rpm, o que provoca redução de consumo de combustível e de emissões de poluentes. A zona de aparecimento dos maiores torques vai desde 1.000 rpm a 1.500 rpm. Quanto ao torque máximo, muito importante para operações pesadas, o motor proporciona 1.200 Nm no Q265 e 1.280 Nm nos modelos Q285 e Q305, sempre na rotação de 1.500 rpm. Durante o teste, operando a aproximadamente 1.400 rpm, vimos que as 22 linhas da Momentum eram poucas para ele, mesmo
Sistema hidráulico de três pontos possui capacidade de levante de 10 mil kg. O eixo dianteiro possui suspensão pneumática, com bolsas de ar e dotada de amortecedores
Três modelos serão comercializados no Brasil: Q265 de 265 cv, Q285 de 285 cv e Q305 de 305 cv
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Escada principal com degraus em alumínio, material antiderrapante e com todos os itens de segurança que se requer, com destaque para a inclinação e altura do primeiro degrau (esq.) e escada auxiliar para manutenções, limpezas e troca de fusíveis (dir.)
trabalhando com sulcador de fertilizante tipo facão. Como é natural nesta classe e nível tecnológico, o motor da Série Q5 utiliza um turbocompressor de geometria variável. Outro dos pontos destacados por nós é o fato de o motor ser montado com camisas úmidas, o que reduz a concentração de temperatura no local, prolongando a vida útil do motor. A redução das emissões, para atendimento das normas internacionais, se dá por meio de pós-tratamento de gases, com ureia, cujo reservatório fica ao lado do depósito de combustível.
Transmissão
A transmissão de potência e torque na Série Q5 é do tipo CVT, nos
três modelos. Especificada como ML260, a nova geração da transmissão CVT é ainda mais moderna e conta com gerenciamento eletrônico inteligente e segue o mesmo conceito da transmissão da Série S4, com dois motores hidráulicos e uma bomba de alta capacidade. A CVT da série tem duas áreas de trabalho: A e B, uma dedicada às menores velocidades, com maior exigência de torque, até os 28 km/h, e a segunda direcionada às operações de deslocamento e transporte, até a velocidade limite de 40 km/h. Para o sentido de marcha à ré, utilizando o inversor, o limite de velocidade é de 38 km/h.
Durante o teste, verificamos que há diferentes modos de empre-
go da transmissão, que serão utilizados pelos operadores, de acordo com o tipo de operação, o nível de treinamento, a habilidade e a preferência. De uma forma geral, os modos são o automático e o manual, sendo que no primeiro, se seleciona a rotação do motor, preferencialmente mais baixa, com o objetivo de economizar combustível, o sistema ajustará a velocidade de deslocamento de forma automática. No modo manual, o operador assume o comando multifuncional e trabalhará com o avanço da velocidade do veículo e do motor.
A tomada de potência (TDP) desses modelos apresenta duas velocidades padrão: a primeira de 540E (540 rpm econômica), a 1.577 rpm
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Fotos
Charles Echer
A cabina da Série Q5 impressiona pelo nível de conforto e tecnologia que oferece. O operador tem uma ótima experiência ao se deparar resfriamento. Além disso, à direita do operador estão localizados quatro monitores "SmartTouch", com todas as informações do trator
de motor, e a segunda de 1000 (1.000 rpm), a 1.882 rpm de motor. Também tem a opção de 1000E (1.000 rpm econômica), a 1.605 rpm. Como escolha, o cliente pode ainda adquirir o trator com a TDP dianteira, de 1000 (1.000 rpm), a 1.900 rpm de velocidade do motor.
Cabina
Particularmente a nossa melhor avaliação do modelo testado foi para a cabina, que consideramos “top” em ergonomia. Várias boas impressões se notam, desde o início da entrada à cabina. Uma escada posicionada no lado esquerdo do trator, com degraus em alumínio, material antiderrapante e com todos os itens de segurança que se
requer, inclinação ótima e altura do primeiro degrau excelente. Chamam a atenção o detalhe da iluminação e os materiais refletivos que facilitam o acesso à escada à noite. No lado direito, encontramos outra escada de quatro degraus, colocada na posição vertical, que serve para ações de manutenção e limpeza, além de ser a porta do compartimento de relés e fusíveis.
A porta de acesso à cabina é enorme, com medidas bem superiores ao padrão da Norma ISO 4250. Na parte inferior, onde se exigem 270 mm, ela tem 340 mm, na parte mediana, onde se esperam 750 mm, ela tem mais de 1.000 mm e na parte superior, onde a norma pede uma largura de 670 mm,
ela possui 870 mm. Portanto, muita amplitude para uma entrada fácil e acesso ao posto do condutor. Um dos destaques da nova cabina é que ela tem um sistema de amortecimento pneumático da vibração, denominado “Auto-
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deparar com uma grande área envidraçada, de 6,2 m2, e assento "premium" com diversas regulagens, aquecimento e trator e do implemento utilizado e um console com os comandos que acompanha a movimentação do assento
Comfort”, e ainda conta com o efeito da suspensão colocada no eixo dianteiro, também pneumática, com bolsas de ar e dotada de amortecedores. É um item opcional, mas muito importante, pois, além do conforto que traz ao operador, serve para
aumentar a aderência das rodas dianteiras ao solo e incrementar o efeito de tração do eixo dianteiro. Durante o uso se nota a sua ação, que promove até nove graus de oscilação, para cima e para baixo, resultando em um curso de aproximadamente 50 mm. Também, para evitar a transferência de vibração e ruído para o interior da cabina, um espaço foi criado entre o cofre do motor e a cabina, separando os dois compartimentos.
Impressiona também a grande área envidraçada, com 6,2 m² de área de vidro e um enorme para-brisa, com 1.130 mm de altura e 1.400 mm de largura. O escapamento está colocado em posição estratégica para não atrapalhar a vi-
são, atrás da coluna do lado direito. O ar-condicionado é digital e apresenta 12 saídas estratégicas de ar para as diferentes partes do corpo. Como era de se esperar, dada a qualidade da cabina, o assento do operador é “premium”, com todas as regulagens que se espera nesta classe de trator, inclusive ajuste de pressão pelo peso do operador, aquecimento e resfriamento. O assento do acompanhante é amplo e bipartido para facilitar a entrada. Todas as configurações personalizadas dos operadores que usam este trator podem ser armazenadas e recuperadas pelo monitor principal (“SmartTouch”). À frente, a coluna de direção é ajustável e o volante é tipo automotivo. Na coluna da dire-
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ção estão colocados os comandos de sinal intermitente, alavanca do inversor de sentido e neutro, diferente do que conhecíamos, pisca-alerta, alavanca do limpador de para-brisa e buzina. Por falar em limpador de para-brisa, a solução encontrada de co-
locá-lo no espaço à frente da coluna com um ângulo enorme de cobertura de 270 graus foi muito interessante, assim como a colocação de outro limpador na janela lateral direita.
Ao alcance do braço direito há um console, que acompanha a movimentação do assento, com todos os principais interruptores e tomadas elétricas de 12A e 10A, assim como a conexão Isobus e a tomada
USB. No lado esquerdo do assento, há uma caixa refrigerada para armazenamento de bebidas e comidas. Quatro monitores estão colocados à direita do operador, sendo o primeiro o monitor do trator, pegado à coluna dianteira direita da cabina, em forma de painel vertical e que apresenta todas as informações de funcionamento do trator, onde se pode receber todos os dados de motor e transmissão, da operação e os alertas de advertência. O segundo monitor, que consideramos o principal, é o “SmartTouch”, colocado no console, à frente do comando multifunção. O terceiro é o monitor 20-20, dedicado ao acompanhamento do trabalho da semeadora Momentum, e o quarto é o “SmartTouch Extend”, que informará e receberá os comandos de acionamento do piloto automático e, se for o caso, o projeto de linhas. Colocado mais alto, ao nível dos olhos, ele poderá transmitir imagens de câmeras e apresentar informações de outras aplicações, que estejam conectadas pelo padrão Isobus. Sentado no posto do operador, ainda nos chamou a atenção a presença de dois espelhos duplos, bipartidos, um de cada lado, que mostram imagens com regulagem de profundidade e ângulo de visão, contando com ajustes tanto do espelho como para estender ou recolher o braço de forma telescópica feita eletricamente desde o assento.
Sistema hidráulico
O sistema hidráulico de três pontos desta série é standard na parte traseira e opcional da frente do trator, com capacidade de elevação máxima de 10.000 kg e 4.800 kg, respectivamente. O trator que testamos tinha apenas o sistema hidráulico de três pontos na parte tra-
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seira. Nos últimos anos, o uso de sistemas hidráulicos para acionamento das máquinas aumentou consideravelmente e, por isso, no dimensionamento do conjunto, cada vez mais se torna importante levar em conta a demanda hidráulica e não somente a mecânica, decorrente da tração do equipamento pela barra. A semeadora Momentum que utilizamos no teste usa um acoplamento semimontado, com a tração sendo executada em uma barra transversal, ligada aos dois braços inferiores do sistema de três pontos.
O sistema de bombeamento utilizado na série é de sensor de carga central fechado, com bomba de engrenagens. A vazão indicada pelo fabricante é de 200 L/min a uma rotação de 1.950 rpm, mas com o auxílio de uma bomba extra, denominada como ECO, pode ser obtida uma vazão de até 230 L/min na mesma rotação do motor, ou os mesmos 200 L/min a uma rotação de 1.650 rpm. Nessa série, o lubrificante utilizado na transmissão não é o mesmo do sistema hidráulico, que é exclusivo e em volume de 200 litros, sendo que 75 litros podem ser exportáveis, ou seja, podem sair do trator, indo para as máquinas que estão sendo acionadas pelas cinco válvulas de controle remoto, VCRs, que utilizam Power Beyond.
Especificações
Os três modelos da Série Q5 são tratores com distância entre eixos de 3.005 mm e peso máximo por volta de 15.500 kg, dependendo do modelo do trator, da dimensão dos pneus e dos opcionais de escolha do cliente. Os pneus dianteiros que equipavam o modelo testado eram da especificação 600/70R28 no eixo dianteiro e 710/70R42 no eixo traseiro, sempre com estrutura radial. O eixo traseiro é do tipo passante,
A Série Q5 será comercializada no Brasil junto com a semeadora Momentum
portanto predisposto a receber rodado duplo, que é standard para a versão grãos e simples para a versão cana. O lastro traseiro metálico presente no trator de teste era constituído por dois pesos de 250 kg em cada roda e na dianteira havia 16 peças de 55 kg cada, mais o suporte e uma massa metálica por baixo do suporte.
Analisando a concorrência e comparando com os tratores ofertados no mercado nacional, chamam bastante a atenção para a reduzida rotação que se obtém a potência máxima de motor, de 1.850 rpm, e o volume deslocado por esse motor, de 7.400 cm³, quando os demais oscilam entre 8.700 cm³ e 9.000 cm³. Também nessa faixa a configuração padrão de transmissão é a “full powershift”, enquanto que a CVT é “standard” nos modelos da Série Q5.
Operação
No teste, utilizamos um combo oferecido pelo fabricante, com uma semeadora Momentum de 22 linhas e sulcador de fertilizante tipo facão. Essa dimensão de máquina é utilizada pelo Valtra T250 CVT, com esse mesmo número de linhas,
portanto, estava subdimensionada para o Valtra Q305. Com isso, pudemos realizar a nossa avaliação com maior profundidade e incrementando a velocidade de deslocamento, sem afetar o desempenho do trator.
Tivemos uma grata surpresa em operar no modo pedal. Nessa forma de operação, o cliente pode começar colocando o inversor na posição à frente, iniciando o movimento com o pedal do acelerador e, em seguida, com um leve deslocamento do comando multifunção para a direita, indica ao trator que recupere a velocidade de operação pré-configurada. É uma maneira muito rápida e que tem a vantagem de liberar a mão direita do operador para trabalhar com os monitores, acionando piloto automático, por exemplo, mas também outros comandos. No modo manual, fazendo o movimento de empurrar o comando multifuncional para frente, também é uma forma de iniciar o trabalho e cada uma das maneiras poderá ser escolhida pelo operador, de acordo com o seu treinamento e sua preferência.
Uma das características que nos impressionou foi a capacidade de manter uma operação de semea-
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Fotos Charles Echer
dura com sulcador de facão, mesmo a baixas rotações do motor, com torque e com muita economia de combustível. Em uma das passadas, registramos as informações, trabalhando a 1.400 rpm de motor e uma velocidade de deslocamento de 6,8 km/h, estávamos fazendo 6,06 hectares por hora, com consumo de 35,4 litros por hora, gastando apenas 5,8 litros por hectare. O operador pode ir acompanhando essas informações, verificando a melhor e mais econômica condição de trabalho no monitor de desempenho localizado na coluna direita da cabina.
Durante o teste nos interessou avaliar uma das virtudes dessa série, que é a capacidade de realizar a manobra de forma automática. O sistema “SmartTurn”, standard da série, proporciona que ao final do trajeto, já na zona de manobra, através de um toque no painel, o trator comece a realizar automaticamente a manobra, esterçando a direção para o lado contrário e, em seguida, faça o giro de
180 graus, sem a ação do operador, retomando novamente o trajeto de trabalho, na linha previamente adotada pelo sistema de piloto automático, denominado pela empresa como “Valtra Guide”. Mas também é possível que o operador configure a manobra que deseje, gravando uma sequência de ações, e o sistema “U-Pilot” fará a repetição tal qual foi programado. Até três sequências de ações podem ser gravadas pelo usuário da máquina.
Tecnologia
Até por ser um trator produzido em um mercado de alta tecnologia como o dos países nórdicos, já ele-
vamos o nosso critério de avaliação neste item. E o Valtra Q305 testado não nos decepcionou.
Vários itens estavam presentes e utilizamos no nosso teste. A Valtra oferece um sistema de telemetria, o “Valtra Connect”, que tem integração com o FMIS, que é o “Farm Management Information Software”, ou, em uma tradução livre, software de informação de gestão agrícola. Nele é possível fazer a gestão do trator, da frota e da operação. Com o “Agrirouter” é possível comunicar-se com outras máquinas, mesmo aquelas que usam softwares diferentes, adotando um padrão universal, e com o recente “TaskDoc” é possível ge-
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renciar tarefas e transferir documentos para FMIS. Com o “Valtra Connect” é possível desenvolver relatórios personalizados, sobre uma ou mais máquinas, e disparar avisos quando a máquina sair de um perímetro demarcado.
Com o novo monitor principal, “SmartTouch”, standard para a série, é possível personalizar perfis de operadores e controlar todas as funções em uma tela de nove polegadas, bastante interativa e que segue um padrão dos smartphones atuais, com possibilidade de atender o celular, pelo sistema de som do trator, como é comum nos carros modernos.
Outras duas habilidades que se pode explorar no Valtra Série Q5 é o controle de até seis seções, denomi-
nado “Multiboom”, quando se utilizam o pulverizador e o controle de taxa variável da distribuição de insumos e sementes.
Enfim, um trator com várias inovações em relação ao que existe na sua classe de potência e com grandes possibilidades de influir positivamente no mercado. Talvez a sua maior virtude pos-
sa estar na possibilidade de atender uma demanda com um “downsizing” de motor e muita economia de combustível e redução de emissões. Quanto à tecnologia embarcada, por certo está à frente da maioria dos seus concorrentes.
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O Test Drive foi realizado em Paulo de Faria, região norte do estado de São Paulo
Fotos Charles
M
Echer
José Fernando Schlosser, Laboratório de Agrotecnologia - UFSM
Fenação e pré-secado
A produção de feno e pré-secado exige máquinas adequadas, realizando cada uma das etapas no seu devido tempo para garantir a qualidade final do produto
Asazonalidade da produção de alimentos faz com que os produtores busquem alternativas para suprir a demanda de alimentação animal. Com a alternância de temperatura, umidade e radiação solar durante o decorrer do ano, o volume de forragem produzida pode sofrer variações significativas, influenciando diretamente na disponibilidade para a alimentação de bovinos, equinos, ovinos, dentre outros. Para que não ocorra a perda de produtividade/rendimento das criações, existem diferentes métodos de conservação da forragem, possibilitando o fornecimento de alimentação mesmo em épocas onde a forragem não está disponível a campo em
quantidades necessárias.
A produção de feno e pré-secado é uma das alternativas que possibilitam a armazenagem da forragem por longos períodos sem que sejam perdidas as principais características nutricionais.
A fenação consiste em realizar a redução da umidade da forrageira a níveis que permitam o seu armazenamento sem que ocorra o surgimento de fungos ou bactérias que prejudiquem a palatabilidade do material pelos animais.
Já o pré-secado, a forrageira é cortada e deixada por algumas horas no campo para que
ocorram o pré-murchamento e a perda do excesso de umidade.
Corte
A primeira etapa que ocorre dentro desses processos é o corte, para isso, são utilizadas as segadoras, equipamentos que possuem discos de corte dotados de facas. As configurações de barra de corte variam para cada fabricante, alguns modelos são acionados por eixos hexagonais e em cada disco existe uma coroa e pinhão de acionamento. Existem também barras de corte acionadas por engrenagens em linha, as quais possuem redutores entre os pares de engrenagens.
Ambos os modelos possuem mecanismos de segurança contra sobrecarga durante o trabalho de corte, o que evita a ocorrência de danos à barra de corte em sua totalidade, normalmente permitindo
FENAÇÃO
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que o trabalho continue mesmo sem o funcionamento de um disco da barra.
Outra característica importante no desempenho desses equipamentos é a presença de suspensão hidropneumática para barra de corte. Esse mecanismo permite um melhor desempenho mesmo em solos com relevo bastante irregular, garantindo altura de corte e rebrote da forrageira uniformes por permitir o trabalho em modo de flutuação.
Para que o processo de perda de umidade da forrageira seja acelerado, podem ser utilizados condicionadores acoplados à segadora, os quais podem ser de dedos de ferro ou rolos de borracha. Cada modelo possui uma especificidade de uso, os rolos de borracha são mais recomendados para espécies forrageiras que possuem maior sensibilidade à desfolha, já os com dedos de ferro são mais utilizados em forrageiras mais rústicas e resistentes à desfolha. A principal função desses mecanismos é realizar a maceração de folhas e caules, quebrando a cerosidade superficial dos mesmos e permitindo a saída da umidade da planta de maneira mais rápida.
Espalhamento
A segunda etapa consiste no espalhamento da forrageira cortada, essa atividade é realizada pelos espalhadores. Para uniformizar e acelerar a perda de umidade da forrageira, os espalhadores são usados com a finalidade de virar a massa vegetal, fazendo com que ocorra a aceleração do processo de secagem para posterior enfarda -
A primeira etapa da produção de feno é o corte, para isso, são utilizadas as segadoras, equipamentos que possuem discos de corte dotados de facas
mento. Esses mecanismos podem ser utilizados em diferentes disposições, acoplados no sistema hidráulico de três pontos do trator ou até mesmo tracionados pela barra de tração.
Para que ocorra o espalhamento eficiente, os espalhadores que possuem rodado abaixo do rotor apresentam maior vantagem, por realizarem, de maneira mais precisa, a cópia do relevo do solo. Outra característica importante para esses equipamentos é o ajuste de ângulo de ataque dos dedos de ferro, essa regulagem interfere diretamente no espalhamento e revolvimento da forrageira na superfície do solo.
Enleiramento
Para tornar a forrageira menos exposta à ação do orvalho e elevar a eficiência de recolhimento pela enfardadora, a terceira etapa do processo de fenação e pré-secado consiste em enleirar a massa vegetal cortada, ou seja, agrupar o vegetal cortado em fileiras. Essa função é realizada pelo enleirador,
que possui diferentes modos de acoplamento, na barra de tração ou montado no sistema hidráulico de três pontos do trator.
O tamanho da leira é regulado de acordo com a observação da capacidade de recolhimento das enfardadoras, as quais podem ter pickups recolhedoras de até 2,40 m de largura. A regulagem no enleirador é efetuada de acordo com a distância dos rotores e também da cortina de contenção da forrageira.
O tamanho do equipamento normalmente é dimensionado de acordo com a demanda de área de produção. Os enleiradores podem ser equipados com um, dois ou quatro rotores, que possibilitam fazer leiras laterais ou centrais.
Outros fatores importantes de serem observados nos equipamentos são a presença de regulagem do ângulo de ataque dos dedos recolhedores - os quais proporcionam uma raspagem mais eficiente da forrageira na superfície do solo, evitando a perda de material e tam -
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Fotos Massey Ferguson
bém a contaminação por terra e pedras, o que pode reduzir a qualidade e a palatabilidade da forrageira - e a presença de rodados em tandem para aumentar a eficiência do rotor, possibilitando a cópia do relevo de maneira uniforme e evitando a perda de material cortado. A presença de mecanismos de segurança também é um importante fator para evitar que danos às estruturas do enleirador façam com que a máquina fique parada, ocasionando perda de qualidade da forrageira no campo. A transmissão possui fusíveis que protegem o sistema contra choques e esbarradas, permitindo o livre funcionamento após as ocorrências desses eventos.
Enfardamento
Após realizado o processo de enleiramento, a quarta etapa consiste em enfardar a forrageira. Essa atividade pode ser realizada com diferentes configurações de máquinas presentes no mercado. A escolha por um método ou outro é de acordo
com o material a ser enfardado e também a espécie de animal que será destinada a forrageira.
O formato do fardo pode ser cilíndrico ou retangular, de modo que os fardos retangulares são exclusivamente para feno, já os fardos cilíndricos podem ser constituídos de feno ou pré-secado.
Para a formação dos fardos retangulares, as enfardadoras que possuem recolhimento central da leira apresentam a vantagem de menor perda de material, visto que o feno se torna quebradiço pela baixa umidade. Além disso, proporcionam menor exigência de potência do trator, economia de combustível e fardos homogêneos devido ao caminho percorrido pela forrageira ser do recolhedor diretamente para a câmara de enfardamento. Existe a possibilidade de regulagem de tamanho e pressão dos fardos de forma hidráulica, o que auxilia na manutenção de qualidade e no aspecto visual durante o armazenamento.
Quanto ao sistema de segu -
rança, é imprescindível que as máquinas sejam equipadas com embreagem no cardã de acionamento e pino fusível no volante da transmissão, de modo que os mesmos sejam acionados em situações de sobrecarga no recolhimento do material, evitando danos ao sistema de transmissão e componentes da câmara de enfardamento. Outro sistema que contribui para a redução de erros no sistema de atamento de nós é o ventilador, este mecanismo atua mantendo o atador limpo e evitando o mau funcionamento pelo acúmulo de material sobreposto. O rendimento poderá chegar em até 400 fardos por hora, dependendo da velocidade de operação e do volume de forrageira na leira.
Já para a confecção de fardos cilíndricos de feno e pré-secado, temos as opções de enfardadoras com câmara fixa e variável. A segunda normalmente é mais vantajosa para trabalhos com pré-secado, visto que possui maior poder de compactação e, com isso, retira o ar contido no meio do fardo, evitando a fermentação aeróbica, o que é indesejável durante o armazenamento dos fardos. Esse modelo de máquina, normalmente, é equipado com esteiras de borracha, e através de pistões hidráulicos realiza a alteração do tamanho da câmara de enfardamento, possibilitando a confecção de diferentes tamanhos de fardos e com pressão desde o núcleo até a periferia do mesmo.
Já a câmara fixa possui roletes fixos revestidos com chapas metálicas que não possibilitam a variação de tamanho
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Uma das últimas etapas antes do armazenamento do produto é o seu envelopamento, para garantir que as propriedades nutricionais sejam preservadas
Fotos Massey Ferguson
do fardo, somente a alteração de densidade do mesmo. Ambos os modelos contam com facas de corte, que permitem que a forrageira seja picada a tamanhos de 4 cm a 15 cm de comprimento, facilitando e aumentando a eficiência da alimentação do animal.
Com relação à segurança operacional desses equipamentos, as enfardadoras normalmente possuem embreagem no cardã de acionamento e também na transmissão do rotor, evitando sobrecargas no sistema de alimentação. A resistência estrutural também é um aspecto importante a ser considerado. Com relação à distribuição de força recebida pela TDP do trator para a transmissão e o acionamento da transmissão geral da máquina, a robustez e número de correntes presentes influenciam diretamente no correto funcionamento da máquina no campo. Além disso, existe uma estrutura abaixo da câmara de enfardamento, chamada de fundo ou piso móvel, que tem a função de evitar embuchamentos da máquina ou, até mesmo, se houver esta ocorrência, permitir que o material que está causando o embuchamento e parada da máquina seja retirado para baixo, sem que o fardo em confecção seja prejudicado.
Ambas também contam com sistema de lubrificação automá -
tico, que direciona o óleo para todas as correntes da transmissão e central de pinos graxeiros, o qual concentra os pinos dos componentes de difícil acesso da câmara de enfardamento.
O controle e a configuração da operação de enfardamento podem ser feitos de dentro da cabina do trator. Monitores com tela sensível ao toque permitem os principais ajustes da máquina, como número de voltas da rede, pressão e densidade do fardo, número de facas do picador, informações de rendimento como número de fardos por hora trabalhada e rendimento geral da máquina. Com relação ao rendimento operacional dessas máquinas, o número de fardos obtidos por hora poder ter variações de acordo com o relevo, o tipo de forrageira, a velocidade de deslocamento, o volume e a umidade, podendo alcançar uma produção de 30 a 40 fardos por hora trabalhada.
Embalagem dos fardos
A última etapa do processo de produção de feno e pré-secado é a embalagem dos fardos, realizada pelos mecanismos embaladores. Estes podem apresentar torre de bobina individual ou dupla, o que interfere diretamente no rendimento operacional do equipamento, e sua operação pode ser re -
alizada de duas formas, onde o carregamento, o giro de mesa dos fardos, o corte com a faca e a descarga são efetuados de maneira totalmente manual em modelos que são operados por alavancas conectadas ao sistema de controle remoto do trator ou até mesmo por monitores controladores. Também é possível realizar a operação semiautomática, em que é possível determinar no monitor controlador o número de voltas da mesa, o corte do plástico e o retorno da mesa para a posição de recarga, que são automatizados, o carregamento e descarregamento devem ser realizados de forma manual através do controlador.
Um dos fatores a serem observados no desempenho desses mecanismos é a qualidade de deposição da película plástica, de modo que isso influencia diretamente na manutenção da qualidade do fardo pela correta vedação do mesmo.
O filme plástico normalmente é aplicado em camada dupla em fardos de pré-secado, porém, atualmente, vem sendo utilizado também em feno. Essa aplicação permite o armazenamento dos fardos a campo sem que os mesmos percam a qualidade, não dependendo, necessariamente, de estruturas de armazenamento para a produção.
Dauto Pivetta Carpes, consultor em mecanização agrícola M
Cultivar Máquinas 245 • revistacultivar.com.br • 41
Manutenção ideal
Considerada ideal, a manutenção preditiva requer uma equipe qualificada e ainda é uma realidade pouco presente na agricultura brasileira
Aprática do dia-a-dia na manutenção de máquinas e as novas tecnologias, bem como as definições e planejamentos dos serviços, sempre envolvem diversas opções que devem serem muito bem analisadas pelos administradores. Agora, a manutenção deve estar presente, pois do contrário os custos disparam, e não há administração que consiga sobreviver. Três são os tipos possíveis de planejar a manutenção: manutenção corretiva, manutenção preventiva e manutenção preditiva; nos processos industriais com controle de qualidade através de normas mais rigorosas há ainda a manutenção produtiva total.
Na nossa realidade rural atual, a manutenção preventiva começa a se fazer presente em substituição a tradicional corretiva que ainda marca presença com muita ênfase. Apenas para lembrar: a corretiva é aquela manutenção que é feita somente quando o equipamento apresenta problema de funcionamento ou acontece a quebra de algum componente. A preventiva é planejada através de um controle periódico de uso, no caso do maquinário agrícola é por tempo (horas) de funcionamento, evitando os serviços sem planejamento e substituição de peças, portanto mais econômica. A corretiva é evidente que os custos são bem maiores, além dos custos do
equipamento parado no momento em que mais se necessita. E a preditiva? É a manutenção ideal, pois é planejada de acordo com cada realidade do serviço que o equipamento executa, claro que requer uma equipe qualificada, ferramental e equipamentos de diagnósticos diversificados. Poderia afirmar com bastante convicção que para o técnico de manutenção é o seu objetivo profissional, qual seja: planejar e executar a manutenção preditiva. É a manutenção que ele como profissional elabora de acordo com suas experiências e conhecimentos e conforme a realidade que está presente junto ao maquinário que deve ser mantido em pleno funcionamento. Sem dúvidas, nós, agentes de
MANUTENÇÃO
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manutenção estudamos para isso – é o nosso “sonho de consumo”. O profissional de manutenção existe para manter o pleno funcionamento, com um mínimo de intervenções possíveis, mas dentro do necessário, e fazendo com que a vida útil do maquinário seja a maior possível.
Prolongar o uso adequado do equipamento? Numa sociedade em busca permanente de consumo, será ainda um objetivo? Entendo que sim, mas sou obrigado a reconhecer que tal situação entra em confronto com outros segmentos dessa nossa sociedade atual. Não posso furtar-me de fazer essa ressalva pois já convivi com tal situação.
Portanto faz-se necessário cautela e buscar informações fidedignas para implantação adequada da manutenção preditiva. O administrador rural deve avaliar muito bem para não entrar na onda de modismos passageiros voltados para segmentos financeiros e especulativos.
A seguir elencamos alguns procedimentos básicos para que seja possível implementar a manutenção preditiva:
Objetivos da manutenção
Os objetivos da manutenção são fundamentais para garantir a eficiência e a longevidade dos equipamentos industriais. Primeiramente, busca-se determinar, de forma antecipada, a necessidade de serviços de manutenção, com o intuito de eliminar desmontagens desnecessárias e otimizar o uso dos recursos. Isso, por sua vez, contribui para aumentar o tempo de disponibilidade dos equipamentos, garantindo que perma -
neçam operacionais por mais tempo e reduzindo a necessidade de trabalho de emergência não planejado. Outro objetivo crucial é impedir o aumento dos danos, aproveitando ao máximo a vida útil dos componentes e do equipamento como um todo. Isso não só melhora o retorno sobre os investimentos feitos em maquinário, mas também aumenta o grau de confiança no desempenho do equipamento. Adicionalmente, um planejamento eficaz permite determinar previamente as interrupções de operação necessárias para executar a manutenção, minimizando impactos na produção e assegurando uma gestão mais eficiente do processo produtivo.
A manutenção preditiva, geralmente, adota vários métodos de investigação para poder intervir nas máquinas e equipamentos. Entre os vários métodos destacam-se os seguintes: estudo das vibrações; análise dos óleos; análise do estado das superfícies e análises estru -
turais de peças.
Por meio da medição e análise das vibrações de uma máquina em serviço normal de produção detectam-se, com antecipação, a presença de falhas que devem ser corrigidas, tais com: rolamentos deteriorados; engrenagens defeituosas; acoplamentos desalinhados; rotores desbalanceados; vínculos desajustados; eixos deformados; lubrificação deficiente; folga excessiva em buchas; falta de rigidez; problemas aerodinâmicos; problemas hidráulicos; cavitação.
Análise das vibrações
O aparelho empregado para a análise de vibrações é conhecido como analisador de vibrações. No mercado há vários modelos de analisadores de vibrações, dos mais simples aos mais complexos; dos portáteis - que podem ser transportados manualmente de um lado para outro - até aqueles que são instalados definitivamente nas má -
A manutenção preditiva é a ideal, pois mantém as máquinas sempre em condições para o trabalho
Cultivar Máquinas 245 • revistacultivar.com.br • 43
Yanmar
manutenção preditiva prolonga a
quinas com a missão de executar monitoração constante.
Análise dos óleos
Os objetivos da análise dos óleos são dois: economizar lubrificantes e sanar os defeitos. Os modernos equipamentos permitem análises exatas e rápidas dos óleos utilizados em máquinas. É por meio das análises que o serviço de manutenção pode determinar o momento adequado para sua troca ou renovação, tanto em componentes mecânicos quanto hidráulicos.
A economia é obtida regulando-se o grau de degradação ou de contaminação dos óleos. Essa regulagem permite a otimização dos intervalos das trocas. A análise dos óleos permite, também, identificar os primeiros sintomas de desgaste de um componente. A identificação é feita a partir do estudo das partículas sólidas que ficam misturadas com os óleos. Tais partículas sólidas são geradas pelo atrito dinâmico entre peças em contato. A análi -
equipamentos
se dos óleos é feita por meio de técnicas laboratoriais que envolvem vidrarias, reagentes, instrumentos e equipamentos. Entre os instrumentos e equipamentos utilizados temos viscosímetros, centrífugas, fotômetros de chama, peagâmetros, espectrômetros, microscópios etc. O laboratorista, usando técnicas adequadas, determina as propriedades dos óleos e o grau de contaminantes neles presentes.
As principais propriedades dos óleos que interessam em uma análise são: índice de viscosidade; índice de acidez; índice de alcalinidade; ponto de fulgor; ponto de congelamento.
Em termos de contaminação dos óleos, interessa saber quanto existe de: resíduos de carbono; partículas metálicas; água ou outros fluídos.
Assim como no estudo das vibrações, a análise dos óleos é muito importante na manutenção preditiva. É a análise que vai dizer se o óleo de uma máquina ou equipamento precisa ou não ser substituído e quando isso deverá ser feito.
Análise do estado das superfícies
A análise das superfícies das peças, sujeitas aos desgastes provocados pelo atrito, também é importante para se controlar o grau de deterioração das máquinas e equipamentos. A análise superficial abrange, além do simples exame visual - com ou sem lupa - várias técnicas analíticas, tais como: endoscopia; holografia; estroboscopia; molde e impressão.
Análise estrutural
A análise estrutural de peças que compõem as máquinas e equipamentos também é importante para a manutenção preditiva. É por meio da análise estrutural que se detecta, por exemplo, a existência de fissuras, trincas e bolhas nas peças das máquinas e equipamentos. Em uniões soldadas, a análise estrutural é de extrema importância. As técnicas utilizadas na análise estrutural são: interferometria holográfica; ultra-sonografia; termografia (termologia); radiografia (raios X); gamagrafia (raios gama); magnetoscopia; correntes de Foucault; infiltração com líquidos penetrantes.
Periodicidade dos controles
A coleta de dados é efetuada periodicamente por um técnico que utiliza sistemas portáteis de monitoramento. As informações recolhidas são registradas numa ficha, possibilitando ao responsável pela manutenção preditiva tê-las em mãos para as providências cabíveis.
A periodicidade dos con -
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A
vida útil dos
e máquinas
Fotos Charles Echer
troles é determinada de acordo com os seguintes fatores: número de máquinas a serem controladas; número de pontos de medição estabelecidos; duração da utilização da instalação; caráter "estratégico" das máquinas; meios materiais colocados à disposição para a execução dos serviços.
O aperfeiçoamento da manutenção preditiva, consiste em um conjunto de procedimentos que visam determinar o momento ótimo para a execução da manutenção em substituição das intervenções periódicas. É feita através da análise estatística e sintomática.
Vantagens da manutenção preditiva
A manutenção preditiva oferece múltiplas vantagens, melhorando a eficiência operacional e prolongando a vida útil dos equipamentos, o que reduz a necessidade de substituições frequentes. Essa abordagem permite um controle mais eficaz de materiais e peças, contribuindo para a redução de custos de reparos. Além disso, otimiza a produtividade e competitividade, ao manter os equipamentos funcionando de forma eficiente, e ajuda a diminuir estoques de produção e a quantidade de peças de reposição necessárias. A segurança dos ambientes de trabalho é significativamente melhorada, elevando a credibilidade do serviço oferecido. Por fim, a motivação dos profissionais de manutenção aumenta, e a imagem dos serviços de manutenção é fortalecida, refletindo positivamente na reputação da empresa.
A eficácia da manutenção preditiva está subordinada à efi -
cácia e à confiabilidade dos parâmetros de medida que a caracterizam. Não podemos negar que há custos relativamente altos no momento da implantação, que tendem a se diluir, mas a longo prazo. Portanto, é necessário um estudo realista da sua viabilidade. Destacamos que realizar manutenção preditiva parcial, ou seja, com análise de alguns itens apenas, dificilmente terá os resultados esperados, e até o contrário pois terá os custos de equipamentos de diagnósticos, transformando-se em verdadeiros “franksteis” dentro das oficinas. Cito exemplo prático que já presenciei: o administrador adquiriu alguns equipamentos para análise de vibração e temperatura, terceirizou a análise dos óleos e ficou nisso. E o restante? Percebe-se que faltou muito. Então, não funcionou. Portanto, na manutenção preditiva a tal “meia-boca” não serve, ou se implanta de forma correta ou
mantém-se a preventiva.
O meu dever ético profissional de Técnico de Manutenção e com algumas décadas de vivência sinto-me bastante confortável para afirmar: o agro brasileiro ainda está se equilibrando na manutenção preventiva e deveria tirar mais proveito dessa manutenção. Claro que ressalvas aquelas empresas rurais já estabelecidas com equipes de manutenção qualificadas, então sim o próximo passo seria a preditiva.
Tudo tem o seu tempo, e mais do que qualquer outro, o homem do campo sabe muito bem disso; há tempo de plantar e o tempo de colher, mas também o tempo de espera. Não adianta se precipitar ou pular etapas, pois os estragos serão homéricos. A carreta na frente dos bois não anda.
Quando feita em máquinas com pouco uso, a manutenção preditiva possibilita a redução de substituição de peças
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Joel Sebastião Alves, instrutor de operação e manutenção de máquinas e implementos agrícolas e rodoviários M
Irrigação inteligente
Tecnologias já disponíveis no mercado são capazes de oferecer decisões operacionais baseadas em algoritmos que processam atributos físicoambientais relacionados à ocupação espacial da cultura e aos complexos processos fisiológicos determinantes da produção vegetal
Os notáveis avanços tecnológicos observados na agricultura atual e, particularmente, na irrigação em culturas agrícolas, áreas públicas, esportivas e ornamentais, trouxeram para este valorizado recurso tecnológico um vocabulário de neologismos ainda pouco esclarecedores para a maioria de seus atuais ou potenciais usuários. Recursos disponíveis em tecnologias abri-
IRRIGAÇÃO 46 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 244
gadas em “Internet of Things” (IoT), “Artificial Intelligence” (AI), “Cloud Computing”, “Big Data”, “Machine Learning” etc. têm sido incluídos como protagonistas da recém-denominada “Irrigação Inteligente”, onde as decisões operacionais podem ser oferecidas por algoritmos que processam, prioritariamente, atributos físico-ambientais relacionados à ocupação espacial da cultura e aos complexos processos fisiológicos determinantes da produção vegetal.
Evidentemente, todos esses recursos tecnológicos estão associados a sofisticados sensores e plataformas, capazes de mensurar, processar e disponibilizar informações relacionadas a um almejado desempenho dos sistemas de irrigação, cujo dimensionamento deve prognosticar eventuais modificações de procedimentos operacionais acionados no local ou remota-
mente. Além disso, há um desafio inerente às tecnologias inovadoras representado pelos custos significativos para aquisição, operação e avaliação criteriosa dos resultados.
Limitações dimensionais
Existe considerável concordância que o dimensionamento de sistemas de irrigação deve ser conduzido em função de informações que definem a capacidade operacional do projeto, embasada em rigorosos protocolos tecnológicos, econômicos, ambientais e sociais. Assim, para favorecer a economia do projeto, as vazões adotadas no dimensionamento nem sempre satisfazem demandas hídricas relativamente elevadas das culturas, com probabilidades de ocorrência consideradas aceitáveis no contexto econômico-financeiro do empreendimento. Até mesmo a capacidade de retenção de água disponível no solo tem sido considerada para complementar a demanda
durante o período de maior exigência hídrica da cultura. Em adição, pelo mesmo motivo, o período operacional procura excluir apenas o pico na demanda de energia elétrica determinado pela concessionária. Portanto, solicitações que possam exceder essa capacidade operacional tornam-se praticamente inviáveis.
Ainda relacionado ao dimensionamento, existem poucos locais na estrutura dos equipamentos que permitem algum controle da vazão nas unidades aplicadoras de água, como os aspersores e emissores. Em geral, esse controle localiza-se apenas na entrada das linhas laterais que abrigam esses aplicadores. Portanto, com reduzida possibilidade de alteração dimensional, resta modificar a pressão para se obter variações de vazão em aspersores ou emissores especificados, um recurso relativamente complexo e oneroso para satisfazer exigências de “irrigação de precisão” na área cultivada. Os recursos já disponíveis em tecnologias embarcadas para a aplicação localizada de defensivos agrícolas poderiam orientar eventuais adaptações para disponibilizá-los nas linhas laterais de sistemas de irrigação pressurizados. Deve-se considerar, também, a relação custo/benefício que cada recurso poderá proporcionar ao projeto, não apenas no aspecto econômico, mas também em suas implicações ambientais e sociais.
Avaliação do desempenho
A complexidade na avaliação da qualidade da irrigação pode se constituir em outro desafio. Há uma pro-
Cultivar Máquinas 244 • revistacultivar.com.br • 47
Wenderson Araujo
As decisões sobre momento e volume de irrigação cada vez mais são tomadas com auxílio de diferentes tecnologias
posição amplamente reconhecida que o desempenho da irrigação pode ser avaliado sob três índices sugeridos: eficiência de aplicação, de armazenamento de água disponível e de uso de água para a produção quantitativa e qualitativa da cultura irrigada. O primeiro, adimensional, determinado pela relação entre a quantidade de água tornada disponível à cultura e aquela aplicada, reflete a grandeza das perdas de água por evaporação, observada na fragmentação do jato lançado no ar atmosférico, e localização fora do alcance efetivo das raízes de absorção (percolação e aplicação em áreas desprovidas de raízes das plantas de interesse). Portanto, assumindo uma cobertura total da superfície pela cultura e uma evaporação inevitável do jato, enquanto não ocorrer percolação, a eficiência de aplicação será máxima, mesmo que a quantidade aplicada seja insuficiente para suprir a cultura na frequência considerada. O segundo índice, também adimensional, corrige essa limitação, sendo calculado pela relação entre o mesmo numerador fracionário anterior pela quantidade
de água requerida no evento considerado. Permite avaliar a adequação da reposição de água nas frequências de irrigação adotadas no projeto, porém, insensível para avaliar eventuais perdas de água no processo de aplicação. Finalmente, o terceiro índice, o único dimensional, procura revelar, entre diversas interpretações, a quantidade e qualidade do produto de colheita por unidade de água fornecida através da irrigação.
A complexidade nessa avaliação reside nas incertezas associadas à determinação de cada índice. Por exemplo, uma aplicação aparentemente excessiva, por ter ultrapassado o ambiente radicular da cultura, poderá reingressar à zona de absorção por movimentação associada à condutividade hidráulica do solo e manifestação de gradientes de potencial matricial decorrente do processo de absorção radicular. Mesmo que seja incorporada à superfície freática, o critério de perda deve ser reavaliado, uma vez que ainda permanecerá disponível naquela microbacia hidrográfica, provavelmente retornando aos mananciais com melhor qualida-
de pelo efeito filtrante-depurador do solo. Por outro lado, uma aplicação supostamente deficitária poderá promover reações fisiológicas direcionadas ao processo produtivo das plantas, determinando uma utilização mais efetiva da água aplicada, contribuindo para aumentar a eficiência de uso de água.
Irrigação deficitária e desempenho
financeiro do projeto
É importante destacar que todo projeto de irrigação tolera um grau aceitável de desuniformidade espacial na aplicação de água, inevitável em qualquer sistema e condição tecnológica. Esta limitação depende do dimensionamento e, portanto, tem uma relação com os custos fixos e variáveis do projeto. Além disso, em tese, pode contribuir para um acréscimo na eficiência de uso de água pela cultura e ampliar a área de recarga hídrica no solo em eventos de precipitação pluviométrica. Portanto, mesmo que seja identificada por sensores específicos, pode não merecer ações operacionais corretivas que poderiam estar disponibilizadas em sistemas de irrigação diferenciados, pelas implicações tecnológicas e econômicas associadas.
Desafios ambientais
Apesar das notáveis possibilidades para aprimorar a qualidade da irrigação, esses recursos tecnológicos ainda parecem não estar suficientemente habilitados para corrigir intensidades de precipitação excessivas em sistemas por aspersão, que determinam perdas significativas de água por escoamento superficial, além de induzir processos erosivos nos solos e comprometer a uniformidade de distribuição espacial da água aplicada. Essa condição pode ser normalmen-
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Fotos Wenderson Araujo
te observada em pivôs centrais com grandes dimensões, decorrente, entre outros fatores, do aumento da intensidade de precipitação com o comprimento da tubulação que abriga os aspersores ou “sprayers”. Essa intensidade independe da velocidade de rotação do equipamento. Entretanto, velocidades reduzidas agravam o problema devido ao maior volume de água aplicado em cada ponto da linha lateral autopropelida. Por outro lado, lâminas reduzidas associadas às maiores velocidades de rotação, praticamente repõem a evapotranspiração ocorrida durante o período de rotação do equipamento e, por essa razão, revelam características de alta frequência de irrigação, com maiores perdas por evaporação, porém, flexibilizando as avaliações do teor de água no solo.
Implicações
econômico-sociais
Como toda tecnologia inovadora, os custos de aquisição, manutenção e até mesmo interpretação dos resultados representam acréscimos significativos nos investimentos. Em grandes áreas irrigadas, esses cus-
tos serão beneficiados pela economia de escala, o que não ocorre em pequenas áreas. Muitos sensores têm sido vantajosamente instalados nas estruturas dos equipamentos pivôs centrais, beneficiando-se da facilidade de instalação e mobilidade espacial do equipamento. Raramente, porém, pivôs centrais serão viabilizados em pequenas áreas irrigadas, marginalizando seus irrigantes desses reconhecidos benefícios. Assumindo que 38% das propriedades agrícolas no país apresentam áreas totais inferiores a 10 ha, e 70% em áreas de até 50 ha (https:// censoagro2017.ibge.gov.br) pode-se avaliar a representatividade que essa realidade impõe aos agricultores do país. Basta considerar que o CensoAgro referido revelou a existência de 5,07 milhões de propriedades rurais no país. Entretanto, há uma grande expectativa para que o custo dessas inovações possa ser reduzido o suficiente para possibilitar sua implementação por um número mais expressivo de agricultores-irrigantes.
Considerações finais
Em resumo, à semelhança do que ocorre em outras valorizadas inovações tecnológicas, há o risco de potenciais irrigantes em pequenas áreas agrícolas sentirem-se desmotivados, pela impossibilidade econômico-financeira de inserção a essas propagadas tecnologias, que atualmente ocupam todos os espaços midiáticos, restringindo na-
turalmente as opções de outras reconhecidas possibilidades de irrigação, consolidadas nas mais diversas regiões e condições de desenvolvimento agrícola, capazes de satisfazer, satisfatoriamente, as requeridas exigências de desempenho tecnológico, econômico, ambiental e social. Além disso, não se deve ignorar que a presença do agricultor nas áreas irrigadas contribui para torná-lo, progressivamente, em competente gestor de seu projeto, pela inspeção permanente do processo produtivo conduzido sob sua supervisão. Essa realidade foi demonstrada em uma pesquisa conduzida em 2010 pelo Agricultural Water Management Council e California Farm Water Coalition, em San Joaquín Valley, Califórnia, EUA, revelando que a maioria dos agricultores controlava as irrigações baseadas em experiências anteriores, adquiridas através de inspeções visuais da condição da água no solo e na cultura, mesmo dispondo de informações da evapotranspiração de referência em tempo real, fornecidas pela reconhecida plataforma estadual Cimis (California Irrigation Management Information System). Outros recursos tecnológicos representados por sensores do teor ou potencial da água no solo também não mereceram grande aceitação pelos agricultores. M
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Edmar José Scaloppi, FCA/Unesp
Tecnologias para aumentar a produtividade
Em tempos difíceis, conceitos de manejo, soluções tecnológicas e sustentabilidade, evidenciados pela FertiSystem, além de ajudar na redução de aplicação de insumos, garantem mais assertividade e produção lá no final da colheita
Aagricultura é uma atividade que vive em constante mudança. A cada safra, os cenários se modificam, se adaptam e se transformam. Especialmente o período em que o setor tem passado nos últimos meses, com adversidades climáticas e preços de insumos mais elevados ou instáveis, é preciso que o produtor busque por uma alta produtividade, sempre. Neste cenário, a tecnologia representa um papel importante, tornando-se uma verdadeira aliada.
Além de incentivar essa vertente, a FertiSystem - empresa brasileira que se propõe a revolucionar a forma de plantar com soluções inteligentes, e que está presente em 95% das indústrias de máquinas e implementos agrícolas nacionais - se destaca como parceira da classe produtora. A empresa disponibiliza ferramentas sustentáveis, com orientações para práticas de manejo de solo, e de quebra, melhora no ganho operacional na fazenda com a adoção das soluções que desenvolve.
O primeiro ponto a ser considerado é o “manejo 4Cs da nutrição”, um conceito desenvolvido por uma coopera-
ção entre as indústrias de fertilizantes e a comunidade científica internacional ligado à fertilidade do solo, que traçou como ideais: fonte certa, dose certa, local certo e época certa. Essa junção proporciona, além de redução de custos, maior rendimento e melhor sustentabilidade agrícola. Para colocar em prática e testar esse modelo de produção, a FertiSystem implementou este manejo em algumas de suas áreas de testes. “Mesmo em anos de estresse hídrico, como o que vivenciamos nos últimos dois anos, conseguimos performar bem em relação à produtividade e ao uso dos recursos”, comenta Evandro Martins, presidente da companhia.
Outra questão importante é o encurtamento das janelas de plantio, que tem ficado em evidência safra após safra. Pensando nesse aspecto, as tecnologias da empresa também contribuem para otimizar os processos no campo e torná-los, assim, mais eficientes. “Calibrar uma linha de adubo, por exemplo, que antes demorava uma hora, com o uso da nossa solução, isso muda para três minutos, e isso é per-
formance para uma boa produtividade”, explica.
Soluções que impactam
A FertiSystem desenvolveu ao longo dos últimos anos um portfólio que ajuda o produtor a colocar em prática, tanto o “manejo 4Cs da nutrição” quanto outras técnicas necessárias para alcançar os melhores cenários agrícolas de produção. Uma dessas ferramentas são os dosadores de adubo, como o Auto-Lub AP NG, que garantem uniformidade e precisão ao longo da linha de plantio de diferentes culturas, além de fornecer a dose certa no local certo. Comprovando sua eficácia e confiabilidade, recentemente, esta tecnologia registrou a impressionante marca de mais de 1,5 milhão de unidades vendidas.
Além dos dosadores de adubo, a empresa aposta no desenvolvimento de outras tecnologias focadas na sustentabilidade e voltadas a suprir as necessidades do solo e das plantas: motores elétricos, sensores, aplicativos, monitores e agora o lançamento – o dosador de sementes Virgo, que busca se apresentar como uma opção simples, confiável e precisa à classe produtora, com o selo FertiSystem de produtividade. Este é um ponto importante, já que a empresa possui mais de 22 anos no mercado e já está consolidada no meio.
Segundo o presidente, estes são alguns exemplos de como a tecnologia pode ser uma verdadeira “mão na roda” na hora de otimizar a produção. “A todo momento chegam novas soluções que, de certa maneira, prometem resultado. Porém, é preciso atenção com a escolha correta de cada produto a ser adotado e também a ser aplicado nas lavouras”, finaliza.
PUBLIEDITORIAL
M FertiSystem 50 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 244
Compactação calculada
Calcular a carga aplicada pelos rodados de máquinas agrícolas no solo é uma forma de identificar possíveis problemas com compactação, antes mesmo de colocar as máquinas na lavoura
Aintensificação da produção agrícola é uma realidade e com ela ocorre a redução dos períodos disponíveis para as operações agrícolas como semeadura,
pulverizações e colheita. O processo é irreversível, uma vez que tem permitido diversificar cultivos, e se bem conduzido, proporciona longevidade e sustentabilidade. Neste contexto, a mecanização agrícola
assume importância destacada, pois viabiliza a consecução com qualidade e em curtos períodos.
Essa necessidade de intensificar trouxe mudanças nas máquinas, usualmente por meio de maio-
COMPACTAÇÃO 52 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 245
res larguras de trabalho, aumento do peso e potência. Contudo, a elevação da capacidade das máquinas pode ser uma ameaça à produtividade, dada a aplicação de cargas sobre o solo, aumentando o risco de compactação e o desequilíbrio das suas características físicas, químicas e biológicas (Lopes et al., 2006).
Na história da agricultura, na medida em que ocorreu a intensificação também houve problemas de compactação do solo, sendo na atualidade uma das mais importantes ameaças à qualidade do solo e aos serviços ecossistêmicos, tendo como principal causa o peso dos equipamentos utilizados na agricultura (Schjønning et al., 2016). Em ambientes de clima temperado, o preparo do solo realizado periodicamente acaba por reduzir o problema, mas em nossos sistemas conservacionistas no ambiente tropical, o problema tende a ser grave. Para minimizar os problemas, os fabricantes de máquinas utilizam medidas como o aumento no tamanho e na quan-
tidade de pneus. Entretanto, a consequência destas mudanças do peso segue ocorrendo, sendo o aumento das tensões verticais dissipadas facilmente verificado, frequentemente atingindo o subsolo em profundidades de 0,3 m a até 0,7 m (Keller et al., 2012; Schjønning et al., 2015).
É evidente a importância do impacto que as operações agrícolas mecanizadas podem causar no solo, de modo que quantificá-las e buscar maneiras de mitigar essa perturbação mecânica são prementes. Na literatura há modelos matemáticos que buscam representar o fenômeno com distintos níveis de complexidade, mas que utilizam parâmetros semelhantes, como carga sobre o rodado, largura, pressão de inflação, raio e diâmetro dos pneus. Dessa forma, empregam informações facilmente encontradas em catálogos de fabricantes de pneus e máquinas para estimar a pressão do maquinário sobre o solo. Em países como Suécia, Dinamarca, Noruega e também na Alemanha o tema está bastante dominado, e os pesquisadores buscam a integração dos conhecimentos para minimizar os impactos do tráfego de máquinas no solo (e.g. alteração da densidade), essencial para a melhoria da qualidade dos solos e incremento
na produtividade dos sistemas agrícolas.
Para exercitar, tomemos um exemplo de colheita de cereais, utilizando uma colhedora da classe VI (Quevedo, 2021) com depósito de grãos de 10.600 L, rodado dianteiro 520/85 R42 Dual e traseiro 28L-26 com pesos nos eixos e medidas dos pneus descritos na Tabela 1; e um conjunto trator da classe III (Quevedo, 2021) e tanque graneleiro com capacidade de 10.500 L, equipado com pneus 11.2-28 no rodado dianteiro, 13.6-38 Dual no rodado traseiro e 18.4-30 no rodado do tanque graneleiro, cujos pesos e medidas também estão descritos na Tabela 1. Ambos os conjuntos foram pesados com a máxima carga comportada em seus reservatórios.
Conforme apresentado na Figura 1, em termos médios a pressão que o tanque graneleiro exerce é o dobro da pressão exercida pelos rodados da colhedora, evidenciando que o estresse vertical que o tanque graneleiro causa no solo é mais profundo em comparação com a colhedora, a qual consegue dissipar melhor seu peso por possuir rodados duplos no eixo dianteiro, mais largos e em construção radial. Muitos dos tanques graneleiros são comercializados com pneus mais estreitos, e normalmente em configuração simples, por isso com menor área de contato com o solo, como é o caso do implemento exemplificado.
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Kuhn
Como estratégia para minimizar o impacto sobre o solo, é interessante explorar a maior largura efetiva dos equipamentos
Na Figura 2 é possível observar que a pressão máxima na superfície do solo é de 300 kPa em ambos os equipamentos. Tal pressão representa grande risco de compactação aos solos brasileiros, principalmente se considerarmos que a época de colheita da safra de verão é a dos meses chuvosos, com o solo próximo à sua capacidade de armazenamento, e, portanto, menor capacidade de suportar cargas. Neste exemplo, para um sistema de produção de grãos, o tanque graneleiro, apesar de ter peso menor que o da colhedora, representa maior risco de compactação e prejuízos à qualidade do solo, normalmente o tanque graneleiro trafega nos talhões durante a colheita sem
nenhum controle de tráfego. Como estratégia para minimizar o impacto sobre o solo, é interessante explorar a maior largura efetiva dos equipamentos. No caso da colhedora, o uso de plataformas maiores, desde que o terreno e a capacidade da colhedora suportem, permite aumentar a distância entre passadas da colhedora, minimizando a área trafegada durante a colheita.
Se tomarmos como exemplo colhedoras com larguras de plataformas oscilando entre 30 e 50 pés, equipadas com configurações de pneus desde simples até duplos e mesmo com uso de esteiras, nota-se uma grande diversidade de soluções comercializadas. Os montantes de áreas trafegadas por estas solu-
ções oscilam desde 10% até a pouco mais de 30% em cada safra. As cargas aplicadas sobre o terreno deveriam permanecer abaixo dos 1,5 kg cm² (cerca de 150 kPa), para evitar problemas de perda da qualidade física do solo quando este está úmido, mas entre as soluções há diversas em que tal limite não é respeitado. Considerando que no Brasil a pressão média aplicada por máquinas e implementos varia entre 200 e 300 kPa, segundo Pires et al. (2012), fica evidente a importância de combater o problema da compactação por meio do controle das cargas aplicadas. O uso de manejos conservacionistas, com aporte contínuo de biomassa via plantas de cobertura associadas à das espécies comerciais, contribui positivamente para o incremento do suporte de carga do tráfego de máquinas agrícolas mesmo em condições de solo mais úmido e porque tornam os solos mais resilientes, ou seja, capazes de recuperar parte da sua qualidade física. Uma alternativa, ainda pouco explorada, é o controle de tráfego (CTF) – que não deve ser confundido com controle de amassamento. No CTF apregoa-se o uso de rastros permanentes nas lavouras, criando regiões intensamente trafegadas sa-
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Stara
Figura 1 - pressões médias exercidas pelos equipamentos na colheita de cereais
Figura 2 - pressões máximas exercidas pelos equipamentos na colheita de cereais
fra após safra, porém preservando grande parte dos campos sem receber qualquer tráfego. Para tal, é necessário o planejamento do sistema mecanizado em longo prazo, de modo a operar com máquinas cujas
larguras sejam múltiplas. Embora de grande valor para a preservação do solo, em muitas das circunstâncias de produção o sistema torna-se inviável ou mesmo desnecessário, desde que planejemos as operações
com rigor e de olho no seu impacto sobre o solo.
Como estimar a área de contado de pneus agrícolas
Alguns modelos analíticos que permitem estimar a área de contato de pneus agrícolas e a pressão exercida sobre o solo por tratores e implementos são: Frida Model (Keller, 2005), Socomo (Van Den Akker, 2004), Compsoil (O’Sullivan et al., 1999), Traksim (Goering & Hansen, 2014), FiTraM (Augustin et al., 2019), Terranimo (Lassen et al., 2013), Mialhe (1980), Schjønning et al. (2015), entre outros. De maneira simples e com poucos dados, o Frida Model permite estimar a pressão máxima sob a superfície do solo, sendo:
Prmáxima = 34,40+1,13 * Patual + 0,72 * W - 33,40
* In ( Patual Precomendada ) (1)
Em que: Prmáxima é a pressão máxima exercida no solo pelo equipamento, Patual a pressão interna do pneu (kPa), Precomendada a pressão recomendada para carga que o pneu está sustentando (kPa) e W a carga sobre o rodado (kN).
Alternativamente, é possível calcular a pressão média a partir do modelo de Schjønning et al. (2015), que permite uma noção sobre a propagação do estresse vertical exercida no perfil solo, em outras palavras, quanto maior a pressão média, maior a pressão nas camadas de solo e profundidade de propagação, calculada pela seguinte equação:
Prmédia = W * 9,82 A (2)
Em que: Prmédia é a pressão média no solo em kPa, calculada em função da carga sobre o rodado (W) e da área de contato (A) do rodado com o solo em m².
Para cálculo da área de contato de rodados pneumáticos com o solo, o modelo proposto por Mialhe (1980) permite resultados confiáveis utilizando poucos parâmetros do pneu, sendo:
A = 1,005 * R * L (3)
Em que: A é a área de contato em m², R o raio do pneu em m e L a largura em m.
Para melhor entender, o estresse vertical no solo refere-se à força exercida pelo peso dos rodados das máquinas, representada como uma medida de pressão, expressa em unidades de força por unidade de área em quilopascal (kPa) ou megapascal (MPa). O estresse vertical é variável em função da magnitude da carga aplicada no solo e da área de contato dos rodados com o solo, além de parâmetros inerentes à matriz do solo. Na figura a seguir é possível observar a diferença na propagação das tensões no solo em função de diferentes áreas de contato e carga sobre o rodado, à esquerda representando um pneu de medida 14.9-26 com carga sobre o rodado de 1.669 kg e à direita de medida 23.1-30 com 2.500 kg de carga sobre o rodado.
Propagação do estresse vertical no solo (fonte: adaptado de Jimenez et al., 2020)
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Vinícius Grillo, Leandro M. Gimenez, Esalq/USP
Olho na troca
A substituição de graxa em mancais de rolamentos por outras de marca ou especificação diferente é uma operação que deve ser realizada com bastante critério, sob pena de ocorrência de avarias catastróficas nas peças
Algumas vezes se torna necessária a substituição da graxa existente em mancal de rolamento por graxa de mesmo espessante, porém, de outro fornecedor ou por graxa de espessante diferente. O padrão industrial ASTM D6185-11 (2017) (“Standard Practice for Evaluating Compatibility of Binary Mixtures of Lubricating Greases”) define um protocolo para se avaliar misturas binárias
de graxas lubrificantes, comparando-se as propriedades ou o desempenho relativo com o das graxas individuais que compõem a mistura.
O princípio do ensaio é misturar e cisalhar, sob condições controladas e idênticas, as duas graxas em várias proporções de mistura e determinando-se, após breve período de repouso a temperatura ambiente, qualquer mudança na estabilidade estrutural da mistura quando comparada com a es-
tabilidade das graxas individuais. Porém, este procedimento é demorado, custoso e não totalmente confiável.
Quando for necessária a substituição de uma graxa por outra de mesmo espessante ou de espessante diferente, alguns cuidados devem ser tomados. O primeiro deles é analisar se os espessantes que compõem as graxas apresentam sinais de compatibilidade entre si. Sendo isso possível, o ris-
MANUTENÇÃO
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co de incompatibilidade se reduzirá e a substituição terá boa probabilidade de ser exitosa. A Tabela 1 é uma referência com respeito à compatibilidade de alguns tipos de espessante.
O segundo passo é efetuar a lubrificação do mancal de rolamen-
Monitoramento da condição do mancal de rolamento após a substituição de um tipo de graxa por outro
A tecnologia, cada vez mais presente nas máquinas agrícolas, impulsiona a produtividade quando utilizada de forma adequada
to em repouso, com pistola graxeira manual bombeando lentamente até que a nova graxa comece a ser purgada pelo bujão (plug) de alívio de graxa, situado na caixa do mancal de rolamento. Graxas de mesmo espessante, porém de diferentes fabricantes, ou graxas de diferentes espessantes, em geral, têm
colorações distintas.
Quando a nova graxa começar a ser purgada pelo bujão (plug) de alívio de graxa interromper a operação, manter o bujão (plug) de alívio de graxa aberto e operar o mancal de rolamento por cerca de 30 minutos, de forma a que a nova graxa atinja a temperatura
Fotos Divulgação Cultivar Máquinas 245 • revistacultivar.com.br • 57
Figura 1 - Tabela de compatibilidade de espessantes de graxas SKF
de operação, expanda-se e passe a expulsar graxa, ainda remanescente na caixa do mancal de rolamento. Após isso, fechar o bujão (plug) de alívio de graxa e operar o maquinário normalmente.
Essa operação deve ser repetida após uma semana de primeira troca, para assegurar que a graxa antiga, porventura existente, seja removida da caixa do mancal de rolamento. Após isso, deve-se continuar o monitoramento regular da
condição dos mancais de rolamento através da temperatura de operação, da análise de vibrações, de vazamentos de graxa pelos retentores, separação anormal entre o óleo lubrificante que compõe a graxa e o espessante (“bleeding”), inspeção por ultrassom ou inspeção por termografia.
A substituição de graxa por espessante similar de diferente fornecedor ou espessante diferente é operação que deve ser realiza-
da com bastante critério, sob pena de ocorrência de avarias catastróficas em mancais de rolamento. Porém, se a substituição for necessária e ocorrer conforme os procedimentos anteriormente sugeridos, os riscos de danos serão bastante minimizados e a disponibilidade do maquinário móvel ou industrial não será prejudicada.
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Avaria catastrófica em mancais de rolamento
Lubrificação a graxa de mancal de rolamento
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Fotos Divulgação
Marcos Lobo, Qu4ttuor Consultoria