Cultivar Grandes Culturas 310

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A mancha de bipolaris no milho não é uma novidade. Mas a forma como ela ressurgiu, com força e persistência, exige um novo olhar. Desde que reapareceu com relevância no Brasil, em 2014, a doença reforça um alerta silencioso que agricultores, técnicos e pesquisadores conhecem bem: velhos inimigos podem voltar com novas armas. E é justamente por isso que escolhemos esse tema como capa desta edição.

Em 1970, essa mancha escureceu os campos dos Estados Unidos como poucas vezes se viu na história da fitopatologia. A epidemia dizimou 85% das lavouras de milho cultivadas com uma variedade específica. Quase meio século depois, os sinais de alerta se repetem. Climas quentes, manejo falho e ausência de cultivares resistentes abrem caminho para que o fungo encontre novamente espaço. No Brasil, com milhões de hectares dedicados à cultura do milho, o risco se traduz em prejuízo real e crescente.

Ainda sobre doenças foliares, os resultados da safra 2023/24 trazem boas notícias no controle da ramulária e da mancha-alvo no algodoeiro. Um esforço coletivo coordenado pela Rede de Cooperação em Pesquisa reuniu pesquisadores de 15 instituições e nove empresas. O número impressiona: 39 experimentos em diversas regiões do país. O que se vê nos dados é mais do que eficácia de produtos. É o resultado de um modelo colaborativo que pode — e deve — servir de exemplo para outros programas de defesa vegetal.

Mas nem só de fungos se alimentam os pesadelos do produtor. Pragas como a lagarta-elasmo seguem desafiando a proteção de culturas importantes como soja, arroz e cana. A espécie é versátil, silenciosa e destrutiva desde os primeiros estágios da lavoura. Nesta edição, um estudo avalia a efetividade de tecnologias transgênicas no seu controle. A mensagem é clara: diversificar estratégias, evitar a dependência de um único método e manter vigilância constante.

Tudo isso e muito mais nas próximas páginas. Boa leitura!

07 Amaranthus palmeri resistente a herbicidas

15 Capa - Manejo de mancha de

Mancha de bipolaris ganhou notoriedade em 1970, nos EUA, como uma das epidemias mais devastadoras da história da patologia de plantas; desde 2014, causa preocupação no Brasil
Foto do caderno Gabriel Augusto de Andrade Rodrigues
Foto - Paulo Garollo
10 Coluna ANPII
bipolaris em milho
Mundo Agro

Abitrigo

Daniel Kümmel assume a presidência do Conselho Deliberativo da Abitrigo para o triênio 2025-2028. Com 30 anos no setor, lidera o Moinho Arapongas e presidiu o Sinditrigo-PR por uma década. Planeja fortalecer a competitividade da indústria moageira nacional.

CropLife

Sergi Vizoso-Sansano , executivo da BASF , assume a presidência do conselho da CropLife Latin America. Ele defende inovação e ações firmes contra o comércio ilegal de insumos agrícolas. A entidade representa a indústria de ciência das culturas na região.

BASF

A BASF nomeou Eduardo Gradiz Filho como novo head de operações de negócios no Brasil. Com experiência em agritech, private equity e finanças, Gradiz liderará controladoria, finanças, operações estruturadas, barter e processos internos. A empresa busca agilidade e foco no produtor, alinhando-se às novas exigências do mercado agrícola.

Indigo

A Indigo Ag promoveu Cristiano Pinchetti a CEO internacional, ampliando sua atuação para a Europa. Reinaldo Bonnecarrere assumiu a di-

FMC

Flavio Centola assumiu a diretoria de marketing da FMC para a América Latina. Engenheiro agrônomo formado pela USP, possui MBA pela Wharton School. Com mais de 20 anos de experiência no setor agroquímico, Centola atuou em empresas como Adama e UPL.

retoria de Biológicos nos dois continentes. A empresa busca integrar operações e acelerar o uso de biológicos nos principais mercados agrícolas.

Ácaro-rajado ataca cafeeiros

No norte do Espírito Santo, produtores de café enfrentam ataque do ácaro-rajado (Tetranychus urticae) em lavouras consorciadas com mamoeiros. A praga, comum em mamão, passou a afetar mudas jovens de Coffea canephora, causando deformações, necrose foliar e queda precoce das folhas. Tecidos densos de teia cobriam a face inferior das folhas afetadas.

A infestação, registrada em Boa Esperança, alcançou até 30% das plantas em algumas áreas. O consórcio, utilizado para sombreamento e diversificação de renda, facilitou a migração do ácaro entre as culturas. A proximidade física e a presença de folhas contaminadas de mamão sobre as mudas de café contribuíram para a disseminação.

Esse comportamento sugere adaptação recente do ácaro ao cafeeiro, exigindo revisão das práticas de manejo integrado. Casos semelhantes já ocorreram em outras culturas consorciadas com mamão, como o feijão-caupi em Petrolina.

Mais informações: doi.org/10.24349/v72j-1ago

Palha de milho vira

açúcar e fertilizante

Pesquisadores dos Estados Unidos desenvolveram um método que transforma palha de milho em açúcar fermentável e fertilizante, sem gerar resíduos tóxicos. O processo utiliza hidróxido de potássio e sulfito de amônio em pré-tratamento alcalino, eliminando a necessidade de recuperação química. A técnica alcançou rendimento superior a 95% na produção de açúcares e demonstrou a eficácia agronômica do licor residual como adubo rico em potássio, nitrogênio e enxofre.

O tratamento removeu quase 79% da lignina e mais de 82% dos grupos acetilados da biomassa, aumentando a

digestibilidade enzimática. Ensaios com milho mostraram que o licor substitui fertilizantes comerciais, mantendo ou aumentando a biomassa vegetal. O custo estimado do açúcar produzido é de US$ 0,285 por libra, competitivo frente a processos convencionais. O método também permite a produção de biopolímeros, como o PHA, com rendimento equivalente ao obtido com glicose comercial. O balanço de massa indica que 100 kg de palha geram 50,9 kg de açúcares e 15,8 kg de lignina no licor residual. Mais informações em doi.org/10.1016/j.biortech.2025.132402

Besouro chinês no controle da lagarta-do-cartucho

O besouro predador Calosoma chinense, conhecido como “Rei do Apetite”, demonstrou alta eficiência no controle da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda).

Pesquisadores chineses observaram que tanto larvas quanto adultos do besouro atacam diferentes estágios da lagarta, com destaque para as fêmeas adultas, que consumiram até 38,9 lagartas de primeiro instar por dia.

A pesquisa, conduzida pelo Instituto de Proteção de Plantas da Academia de Ciências Agrícolas de Henan, avaliou o comportamento predatório do inseto em laboratório. Os resultados revelaram que tanto as larvas quanto os adultos de C. chinense atacam diferentes estágios da lagarta invasora, incluindo formas larvais e adultas.

O estudo identificou que o C. chinense mantém comportamento ativo de caça, utilizando mandíbula superior para capturar e consumir as presas. Os testes apontaram que mesmo larvas pequenas do besouro conseguem subjugar lagartas maiores. O ataque segue um padrão: busca, aproximação, ataque, perfuração do tegumento e extração de fluido corporal.

Não existem registros desse inseto no Brasil.

Mais informações em doi.org/10.3390/insects16050437

Proteína Cry1Ia36 combate nematoide

A proteína Cry1Ia36, derivada da bactéria Bacillus thuringiensis , demonstrou eficácia inédita contra o nematoide-das-galhas ( Meloidogyne incognita ). Em testes de estufa, a aplicação da proteína reduziu em até 76,95% a formação de galhas em raízes de pepino, desempenho comparável ao do nematicida avermectina.

Além disso, plantas transgênicas de tomate expressando Cry1Ia36 apresentaram 49,26% de eficácia no controle do nematoide, sem efeitos adversos no crescimento, indicando ausência de fitotoxicidade.

Análises moleculares

revelaram que a proteína atravessa o estilete do nematoide, alcança o trato digestivo e sofre alterações em sua massa molecular após a ingestão, sugerindo um processo de ativação similar ao observado em insetos.

Estudos também identificaram uma proteína do nematoide, denominada Mi-P, que se liga à Cry1Ia36; o silenciamento do gene Mi-P reduziu a suscetibilidade dos nematoides à proteína, indicando que essa interação desempenha papel essencial no efeito tóxico.

Mais informações em doi.org/10.1016/j.pestbp.2025.106419

Resistência e perdas de até 91%

Com altíssima capacidade de reprodução e disseminação, Amaranthus palmeri resistente a herbicidas torna-se uma ameaça cada vez maior

Amaranthus palmeri, conhecido popularmente como caruru ou caruru-palmeri, representa uma das mais graves ameaças à agricultura brasileira na atualidade. Originária da região desértica do sudoeste dos Estados Unidos e norte do México, esta invasora altamente agressiva destaca-se pela extraordinária capacidade de adaptação, resistência a herbicidas e potencial reprodutivo impressionante. Sua presença em lavouras brasileiras tem causado sérias preocupações devido ao impacto econômico devastador. Em termos gerais, estudos apontam reduções de produtividade que podem chegar a 91% (milho), 79% (soja) e 77% (algodão). Conhecer esta espécie e suas estratégias de manejo tornou-se essencial para produtores que buscam proteger

suas lavouras desta invasora de difícil controle.

Origem e resistência

Na América do Sul, a presença de Amaranthus palmeri foi inicialmente verificada na Argentina (há relato do século passado). Acreditava-se que, por ter sido encontrado naquele país, a região Sul seria a provável rota de introdução da planta daninha no Brasil.

Em 2013, após detecção de A. palmeri resistente ao glifosato na Argentina, instituições de pesquisa no Brasil começaram a preocupar-se com a possibilidade de entrada da espécie. Contrariando as expectativas, a primeira detecção de A. palmeri no Brasil ocorreu oficialmente no estado de Mato Grosso, em 2015, região distante da fronteira com a Argentina.

Biologia da planta

Amaranthus palmeri é uma planta anual de ciclo curto. Completa seu ciclo (germinação, crescimento, floração e produção de sementes) em períodos de quatro a seis meses, dependendo das condições ambientais.

Ela desenvolve raízes profundas e extensas, permitindo acesso a água e nutrientes em camadas mais baixas do solo, o que o torna altamente resistente a secas moderadas.

A. palmeri apresenta fotossíntese do tipo C4. Possui mecanismo eficiente de fixação de carbono, comum em plantas adaptadas a climas quentes. Isso explica seu crescimento acelerado mesmo em temperaturas elevadas.

Em termos de reprodução e genética:

Cultivar Grandes Culturas

Amaranthus palmeri é uma planta anual de ciclo curto. Completa seu ciclo (germinação, crescimento, floração e produção de sementes) em períodos de quatro a seis meses, dependendo das condições ambientais

• Dioicia: plantas masculinas e femininas são separadas, promovendo cruzamento genético e variabilidade. Isso contribui para a rápida adaptação a herbicidas e condições adversas.

• Produção de sementes: cada planta fêmea pode produzir até um milhão de sementes. Em condições de competição, o número costuma ficar entre 100 e 600 mil. As sementes são pequenas (1-2 mm) e leves, facilitando a dispersão pelo vento, água, animais ou equipamentos agrícolas.

• Dormência variável: algumas sementes germinam logo após a dispersão, enquanto outras permanecem dormentes no solo por dez anos ou mais, formando um banco de sementes persistente.

Sua velocidade de crescimento pode atingir 5 cm a 7 cm por dia em condições ideais, superando culturas como soja e milho na competição por luz.

Uma única planta pode acumular até 1 kg de biomassa seca, extraindo grandes quantidades de nitrogênio, fósforo e potássio do solo.

Além disso, apresenta plasticidade fenotípica. Adapta sua morfologia (altura, área foliar) confor-

me a disponibilidade de recursos, tornando-se mais robusto em solos férteis ou espaçamentos abertos.

Amaranthus palmeri desenvolve-se melhor com temperaturas entre 28°C e 35°C, mas tolera de 15°C a 40°C. A planta cresce vigorosamente em dias longos e com alta intensidade luminosa, sendo comum em regiões tropicais e subtropicais.

Em termos de solo e umidade, cresce em solos com pH entre 5,5 e 8, desde que bem drenados. É comum em solos arenosos, mas também prospera em argilosos se houver umidade adequada.

Suas raízes profundas permitem sobrevivência em períodos secos, porém, para máximo crescimento, prefere umidade regular (500–800 mm de chuva anual). Por outro lado, possui sensibilidade a solos encharcados. Germinação e estabelecimento de A. palmeri:

• Profundidade de emergência: sementes germinam até 5 cm de profundidade, mas o ideal é entre 0,5 cm e 2 cm.

• Gatilhos para germinação: chuvas ou irrigação após períodos secos; perturbação do solo (ex.: preparo convencional); temperaturas do solo acima de 18°C.

na ao longo de toda a estação de cultivo, tornando o controle contínuo um desafio.

Formas de controle

O manejo de Amaranthus palmeri exige estratégias integradas.

• Prevenção: monitorar áreas para identificar infestações precocemente; evitar a introdução de sementes contaminadas em equipamentos agrícolas.

• Métodos culturais: rotação de culturas (usar espécies competitivas, como gramíneas); uso de palhada ou culturas de cobertura para suprimir a germinação; capina manual ou mecânica antes da floração; cultivo em linha para remover plântulas jovens.

• Controle químico: usar produtos registrados; populações resistentes a múltiplos herbicidas exigem rotação de princípios ativos e modos de ação.

A resistência a herbicidas, já documentada em vários países, torna Amaranthus palmeri uma das piores invasoras do século XXI. Seu manejo inadequado pode causar perdas de até 90% na produtividade em culturas como a soja.

A espécie já demonstrou resistência documentada a várias classes de ingredientes ativos, como inibidores de ALS (como imazethapyr e chlorimuron); inibidores de PPO (como fomesafen e lactofen); dinitroanilinas (como pendimethalin); inibidores de HPPD (como mesotrione e tembotrione); e herbicidas auxínicos (como dicamba e 2,4-D).

Até maio de 2025, Amaranthus palmeri resistente a glifosato está oficialmente presente nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Naviraí e Aral Moreira). Outros estados monitoram o desenvolvimento da planta daninha, mas ainda sem confirmação de novos casos.

• Período de emergência: germi- C

Dalci de Jesus Bagolin
Rogaciano Araceli

O programa interlaborarial da ANPII Bio

No ano passado, a Associação Nacional de Promoção e Inovação da Indústria de Biológicos - ANPII Bio, dentro de um de seus pontos fundamentais, que é o de reunir empresas produtoras de bioinsumos em torno da busca das mais modernas ferramentas para o aumento da qualidade de seus produtos, iniciou o seu programa de análises interlaboratoriais, em princípio para as empresas associadas, mas logo estendido a outras empresas que se interessassem.

A primeira versão foi coroada de sucesso, o que levou a ANPII Bio a reeditar o programa no corrente ano. A adesão foi imediata. Até o momento, estão inscritas 30 empresas para a participação no interlaborarial, o que demonstra a linha de conduta das empresas produtoras de bioinsumos no compromisso de ter um sistema que assegure a qualidade dos produtos oferecidos ao produtor rural.

O controle de qualidade é um dos pontos fundamentais nas empresas modernas, e que visam utilizar as melhores tecnologias para a produção de insumos biológicos, que se tornaram uma das ferramentas mais utilizadas pelos agricultores. Mas para que esta linha de produtos atue com a eficiência necessária para entregar bons resultados, a qualidade deve ser assegurada e o controle dos parâmetros que asseguram esta qualidade deve ser rigidamente observado.

O interlaborarial coordenado

pela ANPII Bio visa justamente equalizar as boas práticas dos laboratórios de controle das empresas, para que tenham implementadas, e avaliadas, as boas práticas de controle de qualidade em seus laboratórios.

O programa contempla a contratação de um laboratório de referência do setor, o Ideelab Biotecnologia, de Piracicaba (SP), credenciado junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária. Este laboratório produzirá as amostras padrão para servir como referência.

Inicialmente, será ministrado um curso para os técnicos das empresas, visando mostrar as melho-

O programa contempla a contratação de um laboratório de referência do setor, o Ideelab Biotecnologia, de Piracicaba (SP), credenciado junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária. Este laboratório produzirá as amostras padrão para servir como referência

res técnicas para avalição da qualidade de bioinsumos, curso este ministrado por pessoal altamente especializado no setor.

As amostras serão enviadas para as empresas participantes, que farão suas análises do produto recebido e remeterão os resultados para o Ideelab, que montará um mapa dos números obtidos, avaliando quais estão em conformidade e quais estão fora do padrão de análise. Cada empresa receberá apenas os resultados da análise de sua amostra, sem acesso aos resultados individualizados dos demais participantes.

Os que estiverem fora dos padrões poderão repetir e refazer os procedimentos ou, então, optar por novo treinamento no laboratório de referência.

Com todo este contexto de alta tecnologia na aferição no controle de qualidade, as empresas participantes terão uma enorme margem de confiabilidade em suas análises, podendo oferecer ao mercado somente produtos com excelente nível, com padrões de qualidade assegurados, para a tranquilidade dos que os utilizarem em suas lavouras.

A ANPII Bio continuará em sua política de escutar permanentemente seus associados, seguindo no trabalho de buscar soluções coletivas para a oferta de bioinsumos cada vez melhores para o agricultor nacional.

Coluna ANPII Bio
Solon C. Araujo, Conselheiro da ANPII Bio

Eficácia contra ramulária e mancha-alvo

Estudos indicam a situação atual de pesticidas no controle dessas doenças na cultura

Na safra do algodoeiro de 2023/24, altas incidências da mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, foram registradas nas principais regiões produtoras do Brasil. Tais incidências foram mais pronunciadas em Mato Grosso, oeste da Bahia, Maranhão, sul do Piauí, Goiás e Mato Grosso do Sul, mas também afetou regiões com menores áreas de produção em outros estados. As grandes incidências chamaram a atenção de produtores e profissionais da cultura,

que observaram talhões com altas severidades, impondo dificuldades no manejo da cultura. Apesar da menor incidência, a mancha de ramulária, conhecida popularmente como ramulária e causada predominantemente pelo fungo Ramulariopsis pseudoglycines, continua sendo uma das principais ameaças fitossanitárias à cultura do algodão. Durante a safra 2023/24, a Rede de Cooperação em Pesquisa de Doenças do Algodão - Ramulária e Mancha-alvo conduziu 39 experimentos nas principais regiões pro-

dutoras de algodão do país. Com o objetivo de gerar resultados sobre a eficácia de controle dessas doenças foliares. Os experimentos contaram com a participação de 18 pesquisadores de 15 instituições de pesquisa e nove empresas detentoras de fungicidas registrados ou em fase de registro.

Esta publicação visa apresentar, de forma resumida, os resultados desses ensaios cooperativos conduzidos para o controle da ramulária e da mancha-alvo, realizados durante a safra

Cultivar Grandes Culturas
Fabiano Perina

O manejo da mancha-alvo e da ramulária do algodoeiro deve ser realizado por meio da integração de estratégias de controle, priorizando práticas culturais que se antecipem às doenças, como a rotação de culturas e a redução no espaçamento e na densidade populacional de plantas

2023/2024 pela rede nacional de doenças do algodão.

Sobre o manejo

O manejo da mancha-alvo e da ramulária do algodoeiro deve ser realizado por meio da integração de estratégias de controle, priorizando práticas culturais que se anteveem às doenças, como a rotação de culturas, a redução no espaçamento e na densidade populacional de plantas, o manejo adequado da altura das plantas com o uso de reguladores de crescimento, a aplicação de insumos biológicos e a escolha de cultivares menos suscetíveis. No entanto, nas duas últimas safras, mesmo com a adoção dessas práticas integradas, a mancha de ramulária e, especialmente, a mancha-alvo têm apresentado aumentos significativos na incidência e severidade no campo, tornando preeminente o uso de um programa de controle químico equilibrado.

Sobre os experimentos

Os objetivos dos experimentos foram: Experimento 1 - avaliar a eficiência de fungicidas para o controle da ramulária; Experimento 2avaliar a eficiência de fungicidas pa-

ra o controle da mancha-alvo; bem como, em ambos os experimentos, avaliar o efeito dos fungicidas na produtividade do algodoeiro.

Os experimentos seguiram metodologias padronizadas e foram conduzidos em delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro repetições por tratamento. Em todos eles foram realizadas oito pulverizações com fungicidas em avaliação (Tabelas 1 e 2). A severidade da ramulária foi avaliada antes de cada pulverização e aos sete, 14 e 21 dias após a última aplicação. Para a mancha-alvo, as avaliações de severidade ocorreram semanalmente e continuaram até sete, 14 e 21 dias após a última aplicação.

Nesses experimentos cooperativos, os fungicidas são avaliados individualmente, em aplicações sequenciais, para determinar a eficiência de controle, não sendo esta modalidade uma recomendação de controle da Rede de Ensaios. Essas informações devem ser utilizadas na determinação de programas de controle, priorizando a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação e adequando os programas à época de semeadura. Aplicações sequenciais, do mesmo princípio ativo e de forma curativa, devem ser evi-

tadas para diminuir a pressão de seleção de resistência aos fungos.

Resultados das pesquisas

Os resultados apresentados na Tabela 1 representam as médias de eficácia de controle, alcançadas nos locais que se agruparam na análise conjunta, para o experimento de fungicidas para o controle da ramulária (Experimento 1). A maior porcentagem de controle da ramulária foi obtida nos tratamentos com hidróxido de fentina (T7 - 75%), seguido dos tratamentos com pulverizações de metiltetraprole + protioconazol (T9 - 73%) e metiltetraprole + difenoconazol (T8 - 72%). Esses resultados foram mensurados pela redução da área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) de cada tratamento, em comparação com a testemunha (T1), sem aplicações de fungicidas. O tratamento com isofetamid (T12) também reduziu consideravelmente a severidade da ramulária e apresentou um nível de controle de 66%. Nos demais tratamentos, a eficiência de controle ficou entre 52% e 61%.

A produtividade de algodão em caroço nos tratamentos que se destacaram e superaram a testemunha ficou com médias que variaram en-

Fotos
Fabiano Perina

tre 301,90 e 317,04 @/ha, enquanto a testemunha (T1) apresentou 279,93 @/ha. Esse resultado destaca a importância do uso de fungicidas no manejo integrado dessa doença. A redução de produtividade da testemunha, em relação ao tratamento com melhor performance produtiva, foi de 11,7% (Tabela 1).

Nos ensaios de fungicidas para o controle da mancha-alvo (Experimento 2 - Tabela 2), as maiores porcentagens de controle, mensuradas pela redução da AACPD, foram obtidas com o tratamento que utilizou a mistura do fungicida sítio-específico fluxapiroxade + protioconazol com o multissítio mancozeb (T5 - 42%), superando os demais tratamentos avaliados. Em seguida, destacaram-se os tratamentos com metiltetraprole/ protioconazol (T9 - 40%), metiltetraprole/difenoconazol (T8 - 38%) e azoxistrobina/mancozebe/protioconazol (T3 - 38%). Os demais tratamentos apresentaram porcentagens de controle variando de 34% a 36%.

Os resultados para a safra 2023/2024 indicam uma eficiência de controle da mancha-alvo semelhante à obtida no ano anterior, 2022/2023 (Perina et al., 2024), apesar de ter sido avaliado um número maior de tratamentos, e da inclusão de fungicidas multissítios associados a alguns tratamentos com fungicidas sítio-específicos. Uma das hipóteses que podem explicar a baixa eficiência média de controle, é a constatação de maior severidade da mancha-alvo nas regiões onde os ensaios foram realizados neste ano, quando o aumento da área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) foi um fator relevante.

Os valores médios obtidos na parcela da testemunha (AACPD = 978,6) nos experimentos cooperativos deste ano foram, aproximadamente, duas vezes maiores do que os do ano anterior, que atingiram valores médios de AACPD na testemunha de 499,8 (Perina et al.,

2024). Esse aumento evidencia a necessidade contínua de implementação de estratégias robustas no manejo dessa doença nas regiões produtoras de algodão.

Nesse sentido, além das estratégias de controle mencionadas anteriormente, é importante que os produtores e profissionais direcionem esforços no sentido de promover melhorias na tecnologia de aplicação, visando atingir, com mais eficiência, o dossel inferior e médio da cultura, a fim de alcançar maior eficácia de controle da mancha-alvo no algodoeiro.

Em relação à produtividade de algodão em caroço neste conjunto de experimentos, todos os tratamentos que receberam aplicações de fungicidas apresentaram produtividade significativamente superior à da testemunha. A produtividade de algodão em caroço variou entre 250,78 @/ha e 240,25 @/ha nos tratamentos com fungicidas. A testemunha apresentou uma redução

Tabela 1 - área abaixo da curva de progresso da severidade da mancha de ramulária (AACPD ramulária), porcentagem de controle (C), produtividade de algodão em caroço (Prod.) e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento de maior produtividade, para os diferentes tratamentos agrupados nas análises conjuntas - safra 2023/2024. Experimento 1 - Fungicidas para a ramulária do algodoeiro

Tratamentos

T1. Testemunha

T2. Fluxapiroxade / Mancozeb / Protioconazol

T3. Azoxistrobina / Difenoconazol / Clorotalonil ¹Adicionado

T4. Tebuconazole / Clorotalonil

T5. Metominostrobin / Tebuconazol1 + Clorotalonil

T6. Difenoconazole / Picoxistrobina / Impirfluxam2

T7. Hidróxido de fentina

T8. Metiltetraprole / Difenoconazole2,5

T9. Metiltetraprole / Protioconazol3,5

T10. Difenoconazole / Trifloxistrobina / Clorotalonil4,5

T11. Ciproconazole / Trifloxistrobina / Clorotalonil4,5

T12. Isofetamid3,5

T13. Clorotalonil / Tebuconazole5

de Mees; 4Adicionado 0,25% v/v de Aureo. 5Registro Especial Temporário (RET III); 6CV: Coeficiente de variação; 7r: Correlação de Pearson entre a variável u AACPD e a produtividade; 8n = número de experimentos agrupados na análise conjunta para cada variável. Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de agrupamento de Scott-Knott (p<0,05).

Tabela 2 - área abaixo da curva de progresso da severidade da mancha-alvo (AACPD mancha-alvo), porcentagem de controle (C) em relação à testemunha, produtividade de algodão em caroço (Prod.) e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento de maior produtividade, para os diferentes tratamentos agrupados nas análises conjuntas da safra 2023/2024. Experimento 2 - Fungicidas para mancha-alvo do algodoeiro

Tratamentos

T1. Testemunha

T2. Protioconazol / Mancozebe

T3. Azoxistrobina / Mancozebe / Protioconazol1

T4. Difenoconazole / Picoxistrobina / Impirfluxam2

T5. (Fluxapiroxade / Protioconazol)3 + Mancozeb

T6. (Fluxapiroxade / Protioconazol)3 + Clorotalonil

T7. (Fluxapiroxade / Protioconazol)3 + Oxicloreto de cobre

T8. Metiltetraprole / Difenoconazole2,4 T9. Metiltetraprole / Protioconazol3,4

¹Adicionado 0,25% v/v de Strides ; ²adicionado 0,25% v/v de AdGreen; ³Adicionado 0,25% v/v de Mees.4Registro Especial Temporário (RET III); 5CV: Coeficiente de variação; 6r: Correlação de Pearson entre a variável AACPD e a produtividade; 7n = número de experimentos agrupados na análise conjunta para cada variável. Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de agrupamento de Scott-Knott (p<0,05).

média de produtividade de 8,8%, em comparação com o tratamento de maior produtividade (Tabela 2).

Considerações finais

A pressão de seleção, resultante do elevado número de aplicações empregadas ao longo do ciclo do algodoeiro no campo, tem favorecido o risco de surgimento de isolados ou biótipos de fungos resistentes aos fungicidas utilizados (Perina et al., 2023), portanto, salienta-se que é imprescindível a utilização das estratégias de controle cultural, genético e biológico supracitadas de forma integrada, visando à redução de inóculo nas áreas de cultivo e à consequente redução do problema no campo. É importante destacar que o uso contínuo dos mesmos ingredientes ativos na mesma área e no mesmo ano agrícola aumenta a pressão de seleção sobre o fungo causador da mancha-alvo, o que pode agravar o problema e resultar em surtos epidêmicos ainda maiores no futuro. Assim, programas de controle químico baseados na alternância de ingredientes ativos e na adição de fungicidas multissítios devem ser

priorizados no manejo da mancha-alvo, sendo essa abordagem também válida para o controle da ramulária do algodoeiro no cenário atual.

Dessa maneira, a união de esforços realizados por meio da Rede de Cooperação em Pesquisa de Doenças do Algodão - Ramulária e Mancha-alvo é de extrema importância no sentido de aumentar o conhecimento, estimular e impulsionar ações de pesquisas aplicadas e básicas, capazes de contribuir para o avanço do conhecimento e do manejo dessas doenças no campo. Em última análise, busca-se, com essas ações, cooperar em favor do produtor de algodão brasileiro e da sustentabilidade da cultura do algodão no país.

Os resultados resumidamente apresentados são provenientes de uma união de esforços entre instituições de pesquisa públicas e privadas e empresas obtentoras de produtos fitossanitários e do setor produtivo, por meio do apoio institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Os autores agradecem a todos que compõem direta ou indiretamente este trabalho e atuam na cultura do algodão do Brasil. C C

Fabiano José Perina, Embrapa Algodão; Mônica Cagnin Martins, FAAHF; Luiz Gonzaga Chitarra, DSc. em Fitopatologia; João Luís da Silva Filho, Embrapa Algodão; Dulândula Silva Miguel Wruck, Embrapa Agrossilvipastoril; Lucas Henrique Fantin, Fantin Agro; Alfredo Ricieri Dias, Desafios Agro; Rafael Galbieri, IMAmt; Nédio Rodrigo Tormen, Staphyt; Emerson Cappellesso, Círculo Verde Pesquisa; Fabiano Andrei Bender da Cruz, Ide Pesquisas; Jairo dos Santos, Agrodinâmica; João Paulo Ascari, Mônica Anghinoni Müller, Fundação MT; Iolanda Alves dos Santos, Fundação BA; Márcio Marcos Goussain Júnior, Assist; Maurício Silva Stefanelo, Ceres; Tiago Fernando Konagesky, Rural Técnica

Doença em crescimento

Mancha de bipolaris ganhou notoriedade em 1970, nos EUA, como uma das epidemias mais devastadoras da história da patologia de plantas; desde 2014, causa preocupação no Brasil

Achamada mancha de bipolaris na cultura do milho é considerada uma importante doença em várias regiões produtoras deste cereal e que merece atenção especial em regiões tropicais e nas temperadas com clima quente.

Historicamente, esta doença ganhou notoriedade como uma das epidemias mais devastadoras da história da patologia de plantas, quando, no ano de 1970, aproximadamente 85% da área cultivada com milho nos

Paulo Garollo

Estados Unidos foi plantada com cultivares contendo o citoplasma T (Texas), o qual confere a condição de macho-esterilidade às plantas e esta configuração genética se mostrou altamente suscetível a uma “nova raça” do fungo Bipolaris maydis denominada raça T.

A destruição dos campos de milho foi realmente marcante, deixando as plantas murchas, secas, colmos exauridos e quebradiços, espigas malformadas, com grãos murchos, causando

apodrecimento, e com registro de perdas superiores a US$ 1 bilhão (Ullstrup, 1972).

Nas regiões de clima tropical, temperado quente e úmido, as perdas podem alcançar níveis superiores a 70% na produção, sendo capazes de provocar grandes prejuízos aos agricultores.

No Brasil, apesar de não termos tido registros históricos de severas epidemias da mancha de bipolaris, desde o ano de 2014 vem se notando um aparecimento mais intenso e recor-

No Brasil, apesar de não termos tido registros históricos de severas epidemias da mancha de bipolaris, desde o ano de 2014 vem se notando um aparecimento mais intenso e recorrente desta doença

rente desta doença, especialmente nos estados de Rondônia, Mato Grosso, Goiás e Tocantins, demandando maior atenção em realização de trabalhos de pesquisa no sentido de identificar a raça ou as raças, as espécies prevalecentes e as condições que estão propiciando o aumento da severidade desta doença nestas regiões.

Características do fungo

Bipolaris maydis , espécie predominante no Brasil, possui três diferentes raças fisiológicas, denominadas raça T, raça C e raça O. As raças C (cms-C) e T (cms-T) são patogênicas somente aos genótipos de milho com citoplasma macho-estéril C e T, respectivamente; a raça O ocorre em genótipos com qualquer tipo de citoplasma, incluindo os promotores de macho-esterilidade. O fungo Bipolaris maydis (Telemorfo: Cochlobolus heterostrophus) pertence ao filo Ascomycota (ascomiceto), à classe dos Dothideomycetes e à família Pleosporaceae. No seu ciclo de vida, a reprodução assexuada é predominante e ele se dissemina através de conídios, espalhados facilmente pelo vento ou água de chuva, propiciando infectar novas plantas dentro ou fora da área. Os conídios (esporos assexuados) são produzidos pelas células denominadas conidiogênicas, normalmente localizadas nas extremidades das hifas especializadas, chamadas conidióforos.

Existem registros raros de reprodução sexuada, onde ocorre a produção de esporos sexuais, chamados ascósporos, que são produzidos e alojados em estru -

Ronaldo
H. Bastos

turas em forma de saco, denominadas ascos, geralmente observadas em meio de cultura.

Sintomas da doença

Todas as partes da planta do milho são suscetíveis à infecção pelo fungo.

Os sintomas da mancha de bipolaris do milho são variáveis, dependendo do material genético infectado e da raça do fungo.

A raça O, que prevalece no mundo, usualmente ataca somente as folhas e causa lesões inicialmente pequenas e ovaladas, que vão tornando-se alongadas à medida que ficam maduras, desenvolvendo-se “limitadas” pelas nervuras, porém não predominantemente retilíneas, mas com bordas tortuosas e coloração palha.

Já a raça T (cms-T), causa lesões ovais e maiores, apresentando borda de coloração marrom-escura e ocorre em toda parte aérea das plantas, podendo causar também podridão nas espigas.

Os sintomas causados pela raça C (cms-C) são caracterizados por lesões estreitas, alongadas e necróticas.

As lesões provocadas pelo fungo da mancha de bipolaris, em condições de alta pressão, clima favorável, material genético (grau de tolerância) e, principalmente, quando infecta as plantas antes do florescimento, poderão coalescer e resultar em queima de todo o limbo foliar (altamente destrutiva).

Em algumas situações, as lesões de bipolaris são confundidas com lesões causadas por outros fungos, mais comumente a cercosporiose, que, neste caso, se distingue pelo tamanho das lesões e a delimitação dos bordos pelas nervuras, por serem bastante retilíneos, mais estreitos e alongados (sintomas da cercosporiose).

Condições para ação do agente

Uma das características de alta severidade deste fungo é

em relação ao ciclo da doença, a qual, em condições favoráveis de clima úmido (>/= 80% UR) e temperatura entre 20oC/32oC, ocorre em um período de 60 horas a 72 horas (raça T) - dois e meio a três dias (Munkvold, White, 2016).

O fungo da bipolaris é necrotrófico e seus conídios e micélios sobrevivem nos restos de milho já existentes nos sistemas, sendo dispersos pelo embate de água da chuva ou por correntes de ventos, podendo penetrar pelos estômatos das folhas ou diretamente no tecido foliar, através do processo de adesão dos mesmos, seguido da germinação do tubo germinativo polar e da penetração.

Seguindo este processo, após a penetração do tubo germinativo polar, ocorre a formação das hifas e dos micélios, que, por sua vez, invadem as células do parênquima, resultando na formação das lesões foliares, as quais irão produzir novos conidiósporos e conídios, que irão

Figura 1 - Sugestão de manejo de Bipolaris maydis e Bipolaris zeicola
Observar que o tratamento de sementes com fungicida também será de fundamental importância dentro do processo de manejo. O fungo de Bipolaris spp. poderá ser transmitido via semente e o tratamento dela com fungicida será o primeiro passo para obtenção de maior efetividade em todo processo de controle

refazendo o ciclo da doença através da recontaminação de outras folhas e/ou plantas.

A condição ideal para a esporulação e a penetração do fungo ocorrerem consiste na presença de água livre na superfície foliar e na existência de temperatura entre 18°C e 26°C, permitindo que em até seis horas se efetue a penetração nos tecidos foliares.

É importante se considerar o Índice de Molhamento Foliar para entender a severidade deste fungo, observando o ponto de orvalho obtido nos relatórios de estações meteorológicas.

Ouro fato importante, é entender que a velocidade no de -

senvolvimento do fungo dentro das plantas é muito rápida, exigindo manejo antecipado, com produtos de maior eficiência protetiva e que possa ter alta eficácia no processo de evitância na contaminação das plantas.

Mesmo sem plantas hospedeiras no campo, o fungo persiste em restos culturais, como micélios e esporos, por até 18 meses, mesmo sob condições climáticas desfavoráveis. Portanto, é fundamental observar que é imprescindível ter foco na manutenção de plantas sadias, reduzindo a oportunidade de aumento do potencial de inóculos no campo.

O fungo Bipolaris maydis, em seu ciclo de vida, a reprodução assexuada é predominante e ele se dissemina através de conídios, espalhados facilmente pelo vento ou água de chuva

Medidas de controle

O manejo deste fungo está particularmente atrelado a estratégias mais eficientes de controle, levando-se em consideração o conhecimento sobre o fungo, suas particularidades biológicas acima citadas, os materiais genéticos disponíveis e sua classificação em relação ao nível de resistência ou tolerância, o ambiente de produção onde se implantará a cultura (particularmente histórico de ocorrência da doença e predominância climática), as opções de defensivos fungicidas, mais especificamente o modo de ação e os locais de atuação do agente causal, o momento e a tecnologia de aplicação mais adequados.

Até os idos de 2014, a forma mais efetiva de controle estava na seleção de materiais genéticos resistentes. Resistências monogênicas e poligênicas são detectadas em germoplasmas diferentes de milho e os isolados da raça O são prevalescentes, uma vez que, tendo citoplasma normal, se restringem às raças T e C. A principal fonte de resistência tem sido resistência do tipo HR e detectada em algumas cultivares disponíveis no mercado.

Igualmente é válido reforçar que o uso de rotação de culturas é também uma medida de controle da doença, pois poderá reduzir o potencial inóculo do fungo e atua de forma efetiva contra todas as raças.

Atualmente, porém, o recurso na utilização de fungicidas passa a ser uma “ferramenta” de grande importância dentro do processo estratégico de manejo.

De modo geral, o controle

Paulo Garollo

das doenças foliares em milho é fundamental, especialmente nos períodos de 15 dias antes do florescimento e 20 dias após; é o período de maior suscetibilidade a danos causados pela queima das folhas.

Levando-se em consideração o tempo muito rápido no ciclo do fungo e seu potencial infectivo na planta, vemos a necessidade de adequar um sistema mais estratégico no manejo e que será diferente do que fazíamos até então.

Proteger a planta de ser infectada pelos conídios do fungo é, sem dúvida alguma, a estratégia mais assertiva para se manter um certo domínio em relação à evolução da população de hifas.

Partindo da premissa de que o Bipolaris maydis é necrotrófico, sobrevive nos restos culturais de milho, tem estruturas reprodutivas extremamente resistentes a variações ambientais, possui ciclo rápido de contaminação e é facilmente disseminado pelo embate da água de chuva e ventos, precisamos de total atenção às fases iniciais do desenvolvimento da planta, no sentido de “evitar” a contaminação inicial.

Pensando em efeito protetivo - “evitância” - da doença na planta, o uso de fungicidas dos grupos químicos - estrobilurinas e carboxamidas -, de forma associada, será o primeiro passo para se estabelecer um melhor manejo. Ambos os grupos químicos são sistêmicos não vasculares - mesostêmico e epsistêmico - com baixa movimentação “horizontal” nas folhas e mais fortemente na translocação vertical - translaminar.

Proteger a planta de ser infectada pelos conídios do fungo é, sem dúvida alguma, a estratégia mais assertiva para se manter um certo domínio em relação à evolução da população de

Também é importante termos associado nesta combinação, um triazol e/ou triazolintiona, para atuar nas possíveis hifas e/ou micélios já possivelmente instalados dentro da planta. Os triazóis/triazolintionas são fungicidas sistêmicos e translocados pelo xilema das folhas - translocação vascular.

A combinação triazol/triazolintiona com carboxamida e estrobilurina, já encontrada em produtos comerciais, será a base da primeira aplicação do defensivo na cultura. Esta aplicação deverá ser feita no estádio fenológico de V4 (vegetativo com quatro folhas expandidas), utilizando, preferencialmente, gotas médias e seguindo rigorosamente a indicação do óleo indicado pela bula do produto comercial adotado e na dosagem correta (tanto o fungicida quanto o óleo).

Reforçando que esta tripla associação de grupos químicos neste processo de manejo será a chave principal para se alcançar maior eficiência no controle da doença e evitar a sua proliferação.

Para a segunda aplicação, será importante a colocação de fungicidas contendo pelo menos a associação de estrobilurina com triazol/triazolintiona e, dependendo da pressão de inóculo, da condição climática e do híbrido escolhido, associar um produto protetivo, o qual, neste momento, poderá ser do grupo químico dos ditiocarbamatos alquilenobis - comercial Mancozeb, com modo de ação multissítio - não sistêmico - e que trabalha fortemente no processo de “evitância” da penetração do fungo no tecido vegetal.

Ainda temos a opção de outro fungicida protetor do grupo químico isoftalonitrila, não sistêmico, interagindo com as glutationas e interrompendo o processo de respiração celular, especialmente no tubo germinativo dos conídios, e a produção e o fornecimento de energia, o que acaba por impedir o crescimento e o desenvolvimento do fungo.

Estes dois produtos chamados de protetivos, embora tenham ampla ação dentro do processo de respiração mito -

hifas
Fotos Ronaldo H. Bastos

condrial, não são sistêmicos nas plantas e tornam-se vulneráveis à ocorrência de precipitação pluviométrica, podendo ser lavados da superfície das folhas, deixando as plantas suscetíveis à contaminação.

Outro detalhe que precisamos observar é que especialmente os conídios do Bipolaris mayids presentes na palhada do sistema e que poderão ser dispersos pelo embate de água de chuvas, muitas vezes são aderidos na parte abaxial das primeiras folhas da cultura e também podem entrar pelas aberturas naturais - estômatos - que se concentram em maior quantidade naquela área e não serão alcançados pela ação dos protetivos, por não terem translocação sistêmica (translaminar).

Nos estádios fenológicos de pré-florescimento (VT) será fundamental o reforço do manejo para controlar qualquer tipo de doença na cultura do milho. Nestes momentos, a “velocidade” no desenvolvimento e a expansão vegetativa atingem o

pico máximo e as folhas acima e a da própria espiga serão responsáveis por aproximadamente 60% do “açúcar” que formará os grãos, as quais precisam ser muito bem saudáveis para executarem o máximo do processo fotossintético e garantir o enchimento dos grãos.

Neste momento, recomenda-se a aplicação de fungicidas mais “robustos”, equivalentes aos utilizados também na primeira aplicação, preferencialmente a combinação tripla de carboxamida, estrobilurina e triazol/triazolintiona, garantindo maior proteção das folhas. É de fundamental importância evitar misturas com outros produtos químicos nesta aplicação, trabalhando a calda com água de qualidade, o fungicida e o óleo recomendados em bula para o produto comercial escolhido, tudo na dosagem de bula, e evitar qualquer outro adjuvante e/ ou micronutrientes na mesma calda.

Desta forma, espera-se que se tenha um excelente contro-

le da doença e que nem mais necessite de outra aplicação. Porém é fundamental manter o monitoramento durante os três primeiros estádios reprodutivos e, se por ventura acontecer de ocorrer evolução de lesões nas folhas de cima da planta, refazer mais uma aplicação com estrobilurina + triazol/triazolintiona e garantir proteção até finalizar o estádio fenológico de R4.

As aplicações aqui sugeridas serão decididas durante o desenvolvimento da cultura e não devem ser interpretadas como regra de manejo. É indispensável o acompanhamento in loco durante todo o período de desenvolvimento da cultura, pois através de monitoramento contínuo é que as decisões devem ser tomadas.

Observações finais

Temos detectado que atualmente Bipolaris maydis não está ocorrendo de forma isolada e que há a presença de Bipolaris zeícola (sin. Helminthosporium carbonum), que apresenta sintomas semelhantes e com alto potencial de dano para a cultura do milho.

Portanto, atualmente, utiliza-se a expressão Complexo de Bipolaris para identificar a doença, uma vez que os manejos e resultados são semelhantes para ambas as doenças.

Bipolaris zeicola também apresenta três raças diferentes: raças 1, 2 e 3. No Brasil, as raças 1 e 3 são as que foram identificadas.

Paulo Roberto Garollo, Fitolab - Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola C C

Os sintomas da mancha de bipolaris do milho são variáveis, dependendo do material genético infectado e da raça do fungo
Ronaldo H. Bastos

Nitrogênio no trigo

Aplicação do macronutriente na fase reprodutiva garante melhor aproveitamento

Todas as culturas necessitam de nitrogênio (N) para a formação de suas estruturas (raízes e copa), o que é crucial para otimizar o uso de recursos ambientais (água, luz, temperatura e nutrição) e, consequentemente, a produção de grãos. No trigo, o N é essencial não apenas para a estrutura da planta, mas também para o armazenamento de proteínas no grão, um fator importante para a qualidade da panificação. O manejo eficiente do N é fundamental para a sustentabilidade da cultura, pois ajuda a reduzir cus-

tos de produção e a evitar impactos ambientais negativos, como a contaminação de águas por nitrato e a emissão de gases de efeito estufa. Assim, a quantidade adequada de N, o momento de aplicação durante o desenvolvimento da planta e as condições ambientais são essenciais para maximizar a eficiência do seu uso.

A quantidade de nitrogênio a ser utilizada no trigo depende de vários fatores, especialmente do teto de produtividade desejado pelo produtor. Cultivares de trigo tendem a responder melhor a doses mais altas de nitrogênio em anos com

maior radiação solar. É importante que o produtor monitore o desenvolvimento da cultura e consulte assistência técnica para determinar a dose adequada de N. Dado que a margem de rentabilidade é estreita, o produtor deve planejar estratégias para maximizar o rendimento antes de iniciar o cultivo. Para otimizar a absorção de nitrogênio na cultura do trigo e reduzir os riscos ao ambiente, o momento da aplicação do nutriente é mais crítico do que a quantidade utilizada. A adubação em cobertura com N2 deve ser realizada no início da fase reprodutiva do trigo (duplo

anel), quando ocorre a definição do primeiro primórdio de espigueta no meristema apical, coincidente com o surgimento dos primeiros afilhos (Rodrigues et al., 2001; 2011a). Nesta fase, a aplicação de nitrogênio promove o aumento do tamanho dos grãos, consolida o número de espigas e eleva a quantidade de grãos por espiga, prevenindo o aborto de flores. Além disso, a aplicação adequada de nitrogênio minimiza o impacto ambiental, pois uma maior absorção pela planta reduz o risco de lixiviação para o lençol freático.

Maior eficiência

Estudos na Embrapa Trigo (Rodrigues et al., 2007) e em diversas áreas tritícolas no mundo nas últimas décadas indicam que a fase entre a espigueta terminal e a antese (início do alongamento - floração) é crucial para a alta produtividade de grãos, no ciclo do trigo. Esta fase pode variar em início e duração entre cultivares, mesmo em cultivares com a mesma duração total de ciclo (Rodrigues et al., 2014). Portanto, cada cultivar apresenta características específicas e responde de forma diferenciada à adubação nitrogenada em cobertura. Por exemplo, a cultivar BRS Tarumã (ciclo tardio, 150 dias) e a BRS Guamirim (ciclo precoce, 130 dias), apesar de possuírem diferença de apenas 20 dias na duração total, têm fases de desenvolvimento distintas com variações que podem chegar a 40 dias (Rodrigues et al., 2011b). Por isso, é fundamental considerar não apenas a disponibilidade de recursos do ambiente, especialmente radiação, mas também as características de cada cultivar para determinar a quantidade e o momento adequados para a aplicação de nitrogênio.

O produtor deve prestar atenção especial às cultivares que utiliza pela primeira vez.

Nitrogênio na semeadura

Na semeadura, em geral, a recomendação é aplicar de 20 kg a 30 kg de nitrogênio/ha, deixando a maior quantidade para ser usada em cobertura, quando a planta aproveitará melhor esse nutriente. Essa dose inicial, principalmente em resteva de soja, é para melhorar a área foliar inicial da planta (Tabela 1), com repercussão positiva no afilhamento, no número de espiguetas por espigas e no peso médio de grãos (Figura 3). Mas é importante que o produtor também procure orientação da assistência técnica.

Diagnóstico da área é importante

O diagnóstico da área de cultivo de trigo é essencial para aumentar a produtividade e otimizar o manejo de nitrogênio. Exemplificando

com as duas principais "restevas" utilizadas: a de milho e a de soja. A resteva de milho requer um manejo específico, pois sua palhada, em maior quantidade, demanda mais nitrogênio do solo para decomposição. Assim, é necessário aumentar a dose de nitrogênio na pré-semeadura para compensar o N consumido pela palhada e evitar deficiência nas plântulas após a emergência. Após a emergência do trigo, o manejo em cobertura não requer ajustes para a resteva de milho. Em relação à resteva de soja, a abundância de palhada, especialmente de cultivares de grupo de maturação alto ou má distribuição durante a colheita, pode aumentar a sensibilidade das plântulas ao frio, afetando negativamente a área foliar e a população de plântulas (Rodrigues et al., 2010). A perda de área foliar resulta em diminuição da capacidade de redução e assimilação de nitrogênio. Portanto, para o estabelecimento do trigo, prioriza-se o uso de cultivares de soja de ci-

Figura 1 - diagrama de representação das fases de desenvolvimento da planta de trigo (Triticum aestivum L). Destaque para a seta indicando o momento da aplicação de nitrogênio. (Rodrigues et al., 2011b)

Figura 2 - duração das fases de desenvolvimento das cultivares BRS Guamirim (Gua) e BRS Tarumã (Tar), semeadas em 26/5/2009. As setas indicam os estádios de duplo anel (DA) e espigueta terminal (ET). (Rodrigues et al., 2011b)

clo precoce (GM baixa) com menor quantidade de palha, minimizando os riscos de perda de produtividade devido às geadas.

Estratégia de aplicação

A estratégia de aplicação de nitrogênio em cobertura não deve ser a mesma todos os anos. Em anos de muita chuva (El Niño), com reduzida disponibilidade de radiação, é interessante fracionar a dose para evitar maior perda de nitrogênio por lixiviação para o lençol freático, decorrente da baixa absorção e redução do nutriente pela planta. Já em anos mais secos (La Niña), com maior disponibilidade de radiação, podemos utilizar o nitrogênio em dose única, reduzindo os custos de produção. Contudo, é importante que o produtor observe o desenvolvimento da cultura durante o ano corrente para definir a melhor estratégia para aplicação de N2 em cobertura, levando em conta sempre, principalmente, a disponibilidade de radiação. Assim, não se deve perder o momento ideal no desenvolvimento da planta, que é o início da fase reprodutiva (estádio de duplo anel - Figura 4 A) para uti-

Figura 3 - relação entre o peso médio de grãos e o número de espiguetas por espiga em função da dose de nitrogênio aplicada em cobertura nas cultivares de trigo BRS Guamirim e BRS Tarumã. Passo Fundo (RS), 2009

lização de dose única ou fracionada com mais uma dose no início do alongamento do colmo (estádio de espigueta terminal - Figura 4 B).

A utilização desses estádios, para ancorar a disponibilidade de N2 para a planta atende simultaneamente duas condições fundamentais para alta e moderna produção de trigo, com menor impacto negativo ao ambiente. A primeira, refere-se à condição para o maior aproveitamento do N2, portanto aplicação na fase mais importante para produção de trigo. A segunda, diz respeito à precisão na disponibilidade de N2 no tempo, pois as fases de desenvolvimento das plantas não estão ancoradas em “dias calendário”. Portanto, a disponibilidade de N2 em função do número de dias após a emergência (DAE) das plantas não contribui para o melhor aproveitamento de N2, pelo contrário, contribui para maior impacto negativo no ambiente.

Opções de fontes nitrogenadas

O produtor tem hoje, à disposição, várias fontes nitrogenadas, algumas, inclusive, com outros elementos agregados, como é o caso do enxofre na fonte “sulfato de amô-

nia”. São tecnologias que podem agregar produtividade, mas o ideal é sempre estar atento à questão econômica. É preciso lembrar que a produção de trigo, embora seja importante dentro do sistema produtivo, é uma atividade comercial e o produtor precisa buscar retorno econômico. Do ponto de vista de qualidade, fontes que têm outros elementos agregados são mais adequadas.

Fontes que disponibilizam nitrogênio lentamente também apresentam bom resultado. Nesse sentido, a utilização de inibidores de nitrificação pode contribuir para maior eficiência de uso desse nutriente, tão agressivo ao ambiente. Assim, a nitrificação é a conversão de amônia em nitrato, tendo o nitrato maior propensão à lixiviação. A maior parte do N2 aplicado no trigo está na forma de amônio, e retardar sua conversão a nitrato pode melhorar a eficiência de sua captura. O amônio pode ser uma fonte melhor de N2 para a planta, pois requer menos energia para a assimilação. Inibidores químicos de nitrificação estão disponíveis no mercado, mas são caros. Algumas espécies de plantas produzem exsudatos, que

são inibidores da nitrificação, e a transferência dessa característica de forma mais ampla tem sido proposta como meio de melhorar a EUN (Eficiência de Uso de N2). Os custos potenciais de energia para a planta em relação a diferentes sistemas agronômicos podem tornar esta solução atraente, em alguns sistemas agrícolas.

A aplicação no final da estação

Estudos recentes avaliando artigos publicados entre 1980 e 2021, nas principais revistas internacionais, especializadas no assunto, permitiram a comparação direta do rendimento de grãos do trigo e a concentração de proteína nos grãos (CPG), com aplicação de N2 após estádio GS 37 (Zadoks et al., 1974). Nesse estudo, foram avaliados 38 artigos, onde foram analisadas 542 comparações pareadas em 127 ambientes (Giordano et al., 2023). A conclusão desse estudo foi de que a produção de grãos não foi afetada pelo N2 tardio em uma ampla gama de ambientes e que o N2 tardio aumentou o teor de proteína nos grãos (CPG) em 3,96%, e seus efeitos foram heterogêneos. Ainda, ambientes com baixa temperatura, alto quociente fototérmico e longa duração do período crítico estão associados à maior resposta CPG às aplicações tardias de N2. Com relação à qualidade industrial do trigo, o índice de alveograma e a extensibilidade da massa aumentaram quando o N2 no final da estação aumentou o CPG.

Sustentabilidade deve ser a meta

O histórico da produção de trigo no Rio Grande do Sul aponta que as maiores médias de produtividade foram alcançadas em anos mais secos, quando o fenômeno La

Osmar explica como o uso do nitrogênio na fase reprodutiva pode garantir um melhor aproveitamento

Niña influenciou o clima no estado, tornando o inverno mais seco e ensolarado. Nessa perspectiva de clima, o produtor deve planejar sua lavoura pensando em aumentar a disponibilidade de N2 e, consequentemente, sua produtividade (sustentabilidade). Uma área bem implantada, com adequada adubação de cobertura, aplicada no momento adequado do desenvolvimento da planta e, principalmente, em função das condições de ambiente (por exemplo, La Niña), deve dar o retorno que o produtor espera em produtividade.

Por outro lado, o que não pode acontecer é o produtor fazer o chamado “cultivo meia boca”. Neste, segue aplicando N2 a qualquer momento e dose, seguindo recomendação em função do número de dias (DAE), contrariando o próprio desenvolvimento da planta de trigo

Tabela 1 - efeito da dose de N em pré-semeadura na área foliar de trigo (IAF) no início do afilhamento (duplo anel). Cultivar BRS Guamirim. Passo Fundo (RS), 2009

que não reconhece o nosso dia de 24 horas (Rodrigues et al., 2011a). Nessa situação, o produtor, além de não obter o resultado esperado em produtividade, pois está disponibilizando o N2 no momento inadequado, coloca em risco o ambiente, por aumentar a disponibilidade de N-poluentes, como nitrato em cursos d'água ou liberação de gases de efeito estufa.

Nesse quadro, para uma triticultura mais sustentável, para enfrentar os gargalos econômicos, será melhor que o produtor reduza a área de semeadura e conduza sua lavoura de trigo de forma mais adequada às exigências da cultura, do que gastar tempo e recursos em áreas grandes que podem não dar o retorno esperado.

Figura 4 - meristema apical de trigo mostrando os estádios de: (a) duplo anel, em que se visualiza a formação do primeiro primórdio de espigueta e marca o início do período reprodutivo, e (b) o estádio de espigueta terminal que marca a diferenciação da última espigueta na espiga
Osmar Rodrigues, Embrapa Trigo
Rodrigues et al ., 2011

Manejo erva-de-santa-luzia

Euphorbia hirta é uma planta daninha de ciclo anual comumente encontrada infestando lavouras de culturas anuais; dificuldades de controle geram preocupação e motivam estudos

Euphorbia hirta L. (sin. Chamaesyce hirta (L.) Millsp.), popularmente conhecida pelos nomes "erva-de-santa-luzia", "burra-leiteira" e "erva-de-sangue", é uma planta daninha de ciclo anual comumente encontrada infestando lavouras de culturas anuais. Relatos de dificuldade com controle no pré-plantio da soja usando herbicidas à base de glifosato se iniciaram há mais de cinco anos, principalmente devido à rebrota de plantas da espécie. Neste artigo, são apresentadas informações sobre a biologia e a fisiologia da espécie, além de opções de controle para a espécie.

Biologia e fisiologia

A erva-de-santa-luzia é uma espécie pertencente à família Euphorbiaceae, na qual também se incluem espécies atualmente

Manejo da erva-de-santa-luzia

problemáticas, como o leiteiro ou amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla L.; Figura 1) e a mamona (Ricinus communis L.). Trata-se de uma planta herbácea de pequeno tamanho (até 60 cm) e porte ereto ou subereto.

A erva-de-santa-luzia geralmente apresenta baixa ramificação e muita secreção lactescente (Figura 2), que atua na proteção contra herbivoria. As folhas são simples, opostas, elípticas, com base assimétrica e ápice agudo a obtuso. Possuem coloração bastante variada, oscilando entre verde e avermelhado, com margens serrilhadas, podendo apresentar uma mancha arroxeada próxima à nervura central. Além disso, a superfície adaxial é glabra ou levemente pubescente, enquanto a face abaxial é densamente pilosa, igual ao caule.

A erva-de-santa-luzia possui um interessante mecanismo de autodispersão de suas sementes, conhecido por autocoria, em que as sementes são lançadas da inflorescência para longe da planta-mãe quando maduras, prevenindo, assim, uma competição intraespecífica mais intensa. A espécie é uma planta anual de metabolismo C4, nativa da América tropical, mas não endêmica do Brasil, estando amplamente distribuída por todas

1 -

foto no canto inferior esquerdo foi tirada após a aplicação de herbicida à base de diquate

as regiões do território nacional, assim como em diversas partes do mundo, como Índia, Ásia, Austrália e África.

Apresenta preferência por condições ambientais ensolaradas a levemente sombreadas, atuando como uma colonizadora precoce de solos descobertos. Comumente, é encontrada em formações antrópicas, ou seja, em áreas modificadas pela ação humana, tais como campos de cultivo e espaços urbanos.

Uma ampla variedade de componentes bioativos, como polifenóis, antioxidantes, ácidos ascórbicos, antocianinas, flavonoides e terpenoides, já foi identificada em estudos empregando a erva-de-santa-luzia. Suas diversas aplicações na medicina tradicional asiática evidenciam seu reconhecido valor terapêutico. Estudos fitoquímicos e farmacológicos demonstram que seus constituintes naturais apresentam diversas

propriedades medicinais, incluindo atividades anti-inflamatória, antimicrobiana, antidiarreica, sedativa, analgésica, antipirética, antioxidante, antiasmática, antitumoral, larvicida, diurética, entre outras. A espécie é amplamente empregada na medicina tradicional para o tratamento e a prevenção de distúrbios gastrintestinais e patologias do sistema respiratório.

Problemática em lavouras

Nos últimos anos, a distribuição e a importância da espécie em grandes áreas agrícolas aumentaram, tornando-se relevantes nos sistemas produtivos do Centro-Oeste e do Cerrado brasileiro. Pesquisas verificaram uma maior incidência de erva-de-santa-luzia em áreas de cultivo de soja geneticamente modificada para tolerância ao herbicida glifosato. Tolerância e resistência de plantas daninhas aos herbicidas são

Figura
amendoim-bravo ou leiteiro (canto superior direito) e erva-de-santa-luzia (demais fotos), importantes espécies de plantas daninhas na família botânica Euphorbiaceae. A
Fotos Rafael Munhoz Pedroso
Davi Rosa

conceitos distintos. A tolerância é uma característica natural e inata da espécie, que nunca foi controlada pelo herbicida, pois possui mecanismos fisiológicos que a tornam mais insensível ao produto. Já a resistência é uma característica adquirida e herdável ao longo do tempo, resultante da pressão de seleção causada pelo uso repetido de um mesmo herbicida, levando à sobrevivência e multiplicação de indivíduos com mutações genéticas que os tornam insensíveis ao produto.

Para constatar a resistência de uma planta daninha a um herbicida, segundo o Comitê de Ação à Resistência aos Herbicidas (HRAC), o processo começa com a observação em campo de falhas no controle, descartando fatores como

erro de aplicação ou condições climáticas inadequadas. Em seguida, são coletadas sementes da população suspeita e de uma população suscetível conhecida, que são utilizadas em ensaios de curva de dose-resposta, onde se avalia a resposta das plantas a diferentes doses do herbicida. Caso a população suspeita sobreviva a doses que controlam a população suscetível, há indício de resistência, que deve ser confirmada por testes repetidos às plantas originadas das sementes das plantas sobreviventes e, se necessário, por análises moleculares.

Diversos autores apresentam divergências quanto à classificação da erva-de-santa-luzia em relação à sua resposta ao glifosato. Enquanto alguns pesquisadores

a consideram uma espécie tolerante ao composto químico, estudos mais antigos indicam uma elevada suscetibilidade ao herbicida, sugerindo que a planta era eficientemente controlada por sua aplicação. Plantas rebrotadas de erva-de-santa-luzia semanas após a aplicação de glifosato foram encontradas em lavouras de soja no MT, em 2023 (Figura 3), fato que vai de encontro aos relatos de possível presença de populações resistentes a este ativo na região.

Estratégias de controle químico

Uma prática amplamente adotada e eficaz nos sistemas produtivos brasileiros é a realização de pulverizações de herbicidas em múltiplas etapas. Essa estratégia é comumente empregada durante a dessecação em pré-semeadura, com o objetivo de proporcionar um manejo mais eficiente da área em situações de elevada infestação por espécies daninhas de difícil controle (notadamente aquelas tolerantes ou resistentes a determinados mecanismos de ação) e com porte elevado. As aplicações são, em geral, realizadas com um intervalo de sete a dez dias, utilizando-se herbicidas sistêmicos e/ ou de ação de contato na primeira aplicação e produtos de contato na segunda.

Nesse contexto, Freitas e colaboradores (2023) avaliaram a associação de diferentes ingredientes ativos com glifosato, simulando uma primeira aplicação, seguida de uma aplicação sequencial de glufosinato de amônio, visando ao controle de plantas adultas de Euphorbia hirta (erva-de-santa-luzia). Os resultados indicaram que a aplicação isolada

Figura 2 - erva-de-santa-luzia e sua exsudação de látex
Fotos Rafael Munhoz Pedroso

de glifosato (1.440 g e.a./ha), sem aplicação sequencial, apresentou o pior desempenho em termos de controle, equiparando-se estatisticamente ao tratamento sem aplicação. A inclusão do glufosinato de amônio como aplicação sequencial, por si só, não foi suficiente para melhorar de maneira significativa o desempenho, mantendo o tratamento entre os de menor eficácia.

Por outro lado, destacaram-se entre os tratamentos mais eficazes as associações de glifosato com 2,4-D, seguidas pela aplicação sequencial de glufosinato de amônio, demonstrando elevada eficiência no controle da espécie avaliada.

Como alternativas viáveis para o manejo da erva-de-santa-luzia em condições de pós-emergência, Freitas e colaboradores (2022) indicam a eficácia de diferentes grupos de herbicidas, especialmente quando aplicados em plantas no estádio de duas a quatro folhas. Dentre os herbicidas avaliados, destacam-se os inibidores da enzima protoporfirinogênio oxidase (Protox), como saflufenacil e flumioxazina; os inibidores do fotossistema I, como o diquate; e os inibidores do fotossistema II, como a atrazina. Além disso, herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS), como imazetapir e nicossulfuron, também demonstraram alta eficiência. O glufosinato de amônio isolado, bem como as associações de 2,4-D com glufosinato de amônio e com glifosato, revelou-se igualmente eficaz nesse estádio de desenvolvimento da planta.

Para plantas em estádio mais avançado, especificamente durante a fase de florescimento, os herbicidas atrazina e trifloxissulfuron,

assim como as combinações de 2,4-D com glufosinato de amônio e com glifosato, apresentaram os melhores resultados em termos de controle, evidenciando-se como as estratégias mais adequadas para o manejo químico da espécie nesse estádio fenológico. No presente experimento, a aplicação do herbicida glifosato (1.080 g e.a./ ha), de forma isolada, resultou em controle total das plantas nos dois estádios de desenvolvimento avaliados.

Todos os herbicidas avaliados demonstraram elevada eficácia no controle de erva-de-santa-luzia em condição de pré-emergência, aos 28 dias após a aplicação, com índices de controle superiores a 90%. Destacam-se, entre os princípios

ativos testados: pendimetalina, s-metolacloro, piroxassulfona, diclosulam, sulfentrazona, flumioxazina, isoxaflutole e clomazona.

Até o momento, não há registros oficiais que indiquem resistência da erva-de-santa-luzia a qualquer mecanismo de ação de herbicidas em nível global. Essa informação reforça a importância do monitoramento contínuo da resposta da espécie aos herbicidas, visando evitar a seleção de biótipos resistentes e garantir a eficácia das estratégias de controle químico. C

Davi Rosa Moreira de Freitas, Rafael Munhoz Pedroso, Esalq/USP em parceria com a Elevagro

Figura 3 - exemplar coletado a campo de erva-de-santa-luzia apresentando rebrota após aplicação de glifosato em doses geralmente recomendadas para o controle e constantes em bula

Menos vigor

Estudo avalia efeitos de infecção por Cercospora kikuchii no vigor das sementes, seu desenvolvimento inicial e como o tamanho das plântulas de soja pode ser afetado

Grande parte do sucesso da sojicultura brasileira se deve, além das condições favoráveis para seu cultivo, aos investimentos em ciência e tecnologia, os quais resultaram na expansão das áreas de plantio, bem como no desenvolvimento de maquinários agrícolas e

de insumos - sementes, fertilizantes e agroquímicos de alta tecnologia. Dentre estes, merecem destaque nesse cenário as sementes, principais propulsoras de evolução da agricultura brasileira. Além de desencadear todo um setor agroindustrial, a produção de sementes de alta qualidade visa atender, prin-

cipalmente, os agricultores e, com isso, gerar lavouras de soja com maior potencial produtivo.

Nessa perspectiva, para se obter lavouras com elevado desempenho agronômico é preciso contar com sementes de alta qualidade fisiológica e sanitária. A qualidade fisiológica é definida como a capacidade da semente de desempenhar funções vitais - caracterizadas pela germinação e pelo vigor (Krzyzanowski et al., 2018). A qualidade sanitária das sementes é também um fator de extrema importância, pois a presença de fitopatógenos é capaz de interferir nos atributos fisiológicos das mesmas, além de ser um meio de disseminação de doenças, o que pode repercutir negativamente na implementação da lavoura.

Entre os inúmeros patógenos que atacam a cultura da soja, iremos destacar o fungo Cercospora kikuchii, causador da manchapúrpura ou do crestamento-foliar - doença considerada de final de ciclo na soja. Esse fungo pode atacar todas as partes da planta e causar perdas consideráveis na produção. As perdas podem variar de 7% a 30%, no caso de ataques severos a algumas cultivares (Schuh, 1993; Wrather et al., 1997) e em condições propícias para o desenvolvimento da doença (altas temperaturas e alta umidade).

O sintoma de sementes arroxeadas, característico da manchapúrpura, tem alta ocorrência em lotes de sementes de soja no Brasil (Henning et al., 2019). A coloração roxa que acomete o tegumento da semente decorre da ação do fungo, o qual produz a cercosporina, uma toxina perilenoquinona que é ativada pela luz; ao absorver a energia luminosa, esse pigmento gera espécies reativas de oxigênio, as quais, por sua vez, danificam as membranas das células hospedeiras (Daub et al., 2005).

Não há consenso quanto aos efeitos da mancha-púrpura na qualidade fisiológica das sementes. Ainda são limitados os relatos de que sementes com o sintoma apresentam decréscimo no vigor e até mesmo nos teores de óleo, proteína e outros compostos, e nas propriedades antioxidantes.

Material e métodos

Sementes de soja de um lote com alto percentual de mancha-púrpura foram utilizadas nesse experimento. Foram preparadas amostras com 0%, 10%, 25% e 50% de sementes com alguma coloração arroxeada no tegumento. Para ca-

da amostra foram feitas avaliações de germinação e comprimento de plântulas.

Para o teste de germinação foram utilizadas 400 sementes, divididas em oito repetições de 50 sementes. Elas foram semeadas em substrato papel, umedecido com 2,5 vezes a sua massa seca. Foram constituídos os rolos de germinação e mantidos em germinador por oito dias, a 25°C.

O teste de comprimento de plântulas foi realizado com o objetivo de determinar o vigor e a uniformidade das plântulas, por meio de análise de imagem computadorizada no programa Vigor-S. Me-

todologia semelhante ao teste de germinação foi executada, porém, a avaliação consistiu na obtenção de imagens de plântulas após três dias da semeadura.

Os resultados foram, inicialmente, submetidos à análise de variância (Anova). Em se constatando efeito significativo do teste F, procedeu-se a análise de regressão e, para o efeito do tratamento de sementes, fez-se a comparação das médias, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade de erro.

Resultados e discussão

Não houve diferença significativa para o percentual de manchapúrpura na germinação das sementes de soja (Tabela 1). Ou seja, o percentual de mancha-púrpura não interferiu na capacidade das sementes de formarem plântulas normais em condições ótimas, que são as condições oferecidas no teste de germinação.

Já para o comprimento de plântulas, houve efeito significativo. Como consequência do impacto da

Tabela 1 - germinação de sementes de soja com diferentes níveis de mancha-púrpura
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (5%)
Figura 1 - comprimento de hipocótilo, raiz e comprimento total de plântulas de soja, em função do percentual de mancha-púrpura em amostras de sementes de soja

mancha-púrpura sobre hipocótilo e raiz, houve diminuição de 0,0187% no comprimento total de plântulas para cada percentual de acréscimo no percentual de mancha-púrpura. Na ausência de mancha, o comprimento foi de 2,8 cm; a 10%, o modelo estimou o comprimento em 2,6 cm; com 25% e 50%, o comprimento total seria, em média, 2,4 cm e 1,9 cm, respectivamente.

Os efeitos da mancha-púrpura no comprimento de plântulas podem estar relacionados à quantidade de reservas acumuladas nas sementes, em função da ocorrência de doenças de final de ciclo, como é o caso da mancha-púrpura. A qualidade das sementes pode ser influenciada por fatores bióticos e abióticos e, dentro dos fatores bióticos está a ocorrência de doenças, as quais, quando ocorrem no final do ciclo das plantas, podem resultar em sementes com qualidade reduzida.

A ocorrência da doença é tardia o bastante para não prejudicar a maioria dos constituintes da composição das sementes, mas ocorre um efeito residual, levando a efeito no vigor para o próximo ciclo gerado por essas sementes (Turner et al., 2020).

Na avaliação de imagem (Vigor-S), os resultados também apon-

taram para o efeito deletério da contaminação de sementes com C. kikuchii, com impacto similar no crescimento de plântulas (Figura 2).

O modelo linear mostrou elevado ajuste (R2 = 98%) à variação desse atributo em função do percentual de mancha-púrpura: com aumento de 1% de mancha, estimou-se 1,327 de redução no vigor. Em sementes oriundas de lotes com 0% de mancha-púrpura, o vigor de plântulas, por meio dos parâmetros adotados pelo Vigor S, seria próximo a 300, mas, com 50% de mancha-púrpura, a estimativa do modelo foi de 232, o que represen-

O sintoma de sementes arroxeadas, característico da mancha-púrpura, tem alta ocorrência em sementes de soja

tou cerca de 22% de redução em relação ao que se obteria com 0% de sementes com sintomas do patógeno. Já, para o crescimento de plântulas, ao aumento de um ponto percentual de mancha-púrpura estimou-se redução linear na taxa de 1,0614; com 50% de manchapúrpura, o modelo estimou 37% de redução no crescimento.

Conclusões do trabalho

Há efeito negativo dos sintomas de infecção por Cercospora kikuchii sobre o parâmetro de tamanho das plântulas de soja que está relacionado ao vigor das sementes e seu desenvolvimento inicial.

Érica Fernandes Leão Araújo, Thaís Rezende de Morais, Instituto Federal Goiano

Figura 2 - vigor e crescimento de plântulas de soja em função do percentual de mancha-púrpura em lotes de sementes
Érica e Thaís avaliam os efeitos de infecção por Cercospora kikuchii no vigor das sementes de soja

Lagarta-elasmo sob controle

Estudo analisou tecnologias transgênicas e alguns inseticidas no manejo do inseto

Alagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus (Zeller, 1848) (Lepidoptera: Pyralidae), é uma espécie que está associada com a fase inicial de estabelecimento de diversas culturas de importância agrícola. Este inseto tem ocorrência em áreas tropicais, preferencialmente em algumas regiões dos Estados Unidos até a América do Sul. Tem a capacidade de atacar mais de 60 espécies de plantas, causando danos significativos em culturas como soja, milho,

algodão, arroz, cana-de-açúcar, entre outras.

Sua ocorrência é mais comum em regiões com solos leves, bem drenados e preferencialmente arenosos; por consequência, sua incidência é menor em sistemas de plantio direto. A faixa de temperaturas entre 27°C e 33°C é a mais favorável para este inseto. Períodos de estiagem (veranicos) que coincidem com a fase de estabelecimento inicial das culturas também podem contribuir para um ataque desta espécie.

Bioecologia do inseto

A duração do ciclo de vida (ovo até adulto) é de em torno de 42 dias, sendo a maior parte compreendida pela fase de larva. As condições de solo seco favorecem a postura das mariposas. Além disso, este inseto possui hábito noturno, ou seja, as mariposas preferem períodos noturnos para realizar a oviposição. Uma única fêmea tem a capacidade de ovipositar de 100 a 120 ovos, os quais são depositados

em solo próximo às plantas, favorecendo o deslocamento das lagartas recém-eclodidas para as plantas.

Danos na cultura da soja

O dano provocado ocorre, principalmente, na fase de estabelecimento inicial da cultura da soja. Seu hábito de alimentação consiste em perfuração do colo da planta e posterior entrada. O dano pode ser potencializado quando o ponto de crescimento está localizado abaixo da linha do solo, podendo levar à precoce morte das plantas e, por consequência, à redução do “stand” de plantas.

Na safra de soja 2024/2025, na região oeste do Paraná, foram detectadas algumas áreas com tombamento de plantas devido ao ataque de lagarta-elasmo, em locais onde a cultura se encontrava nos estádios iniciais (VE-V2), principalmente em cultivares que não expressavam nenhuma proteína inseticida (cultivar RR). Curiosamente, estas áreas tinham característica de solos com teor de areia mais elevado, que coincidiu com períodos de falta de chuva, os quais potencializaram os danos deste inseto.

Com base na importância deste

inseto para a cultura da soja, é fundamental compreender o potencial de controle das biotecnologias de cultivares que expressam proteínas inseticidas e, também, como o tratamento de sementes com inseticidas pode contribuir no manejo desta importante espécie na cultura da soja.

Trabalhos realizados

Foram realizados dois estudos na safra 2024/2025, no Centro de Pesquisa Agrícola (CPA) da Copacol, localizado em Cafelândia (PR).

O primeiro estudo teve como objetivo avaliar a eficácia de cultivares de soja que contemplam as diferentes biotecnologias (cultivares que expressam proteínas inseticidas, conforme a Tabela 1).

O segundo estudo teve por finalidade avaliar inseticidas químicos aplicados na forma de tratamento de semente, conforme a Tabela 2. Para a realização dos trabalhos, foram utilizados canos de PVC (150 mm x 30 cm), alocados seis dias após a semeadura. Os canos de PVC foram utilizados para confinar uma lagarta-elasmo (tamanho de 8 mm - 10 mm) para cada duas plantas de soja, configurando densidade

O dano pode ser potencializado quando o ponto de crescimento está localizado abaixo da linha do solo, podendo levar à precoce morte das plantas e, por consequência, à redução do “stand” de plantas

Tabela 1 - cultivares utilizadas e respectivas proteínas inseticidas expressas. CPA, 2024

Cultivar

P96Y90 RR

NEO 610 IPRO BMX Fúria CE BMX Torque I2x

de 0,5 lagarta/planta. Para simular uma condição próxima da favorável para o inseto, foram adicionados, em cada cano de PVC com as plantas de soja, 50 gramas de areia. Foram realizadas cinco replicadas em cada parcela (dez plantas de soja e cinco lagartas), em quatro repetições por tratamento (blocos). Para conduzir as avaliações, foram quantificadas as plantas tombadas em quatro momentos: um, dois, cinco e dez dias após a infestação (DAI).

Performance das biotecnologias

O Gráfico 1 representa a porcentagem de plantas tombadas em função das diferentes biotecnologias utilizadas. Para a cultivar sem nenhuma proteína inseticida, foi observada alta porcentagem de tombamento, alcançando 78% após dez dias da infestação, observando-se alto potencial de dano do inseto.

Para a cultivar que expressa apenas a proteína Cry1Ac, notou-se redução significativa no tombamento, onde foi observado o potencial máximo de dano aos 5 DAI (28% das plantas tombadas), sugerindo moderada eficiência, ainda com um impacto relevante. Para a cultivar que expressa Cry1Ac + Cry1F, maior redução no tombamento em relação à cultivar que expressa apenas uma proteína, mensurando apenas 18% das plantas tombadas aos 10 DAI, indicando uma proteção mais eficaz contra o ataque desta praga.

2 - tratamentos inseticidas, concentrações e dose utilizada.

Imidacloprido + Tiodiodicarbe

Ciantraniliprole

Por fim, quanto à cultivar que expressa Cry1Ac + Cry1A.105 + Cry2Ab2, nenhuma planta tombada foi detectada nos diferentes períodos de avaliação, demonstrando a eficácia da biotecnologia para o controle deste alvo.

Eficácia de tratamentos

No tratamento testemunha, observou-se o maior tombamento de plantas, com uma progressão significativa ao longo do tempo: 30% (1 DAI), 50% (2 DAI), 70% (5 DAI) e 73% aos 10 DAI, conforme o Gráfico 2, evolução semelhante ao estudo anterior, indicando que sem controle químico (para cultivar convencional) a lagarta-elasmo pode provocar perdas severas, alcançan-

Para a realização dos trabalhos, foram utilizados canos de PVC (150 mm x 30 cm), alocados seis dias após a semeadura

do grande potencial de dano em intervalo curto.

Com relação aos tratamentos de sementes com inseticidas, os ingredientes ativos do grupo das diamidas (ciantraniliprole e clorantraniliprole) apresentaram maior proteção para as plantas. Embora não tenham ocorrido diferenças estatísticas significativas, a porcentagem de danos causados por lagarta-elasmo nestes tratamentos foi igual e inferior a 50% das plantas tombadas no final do período de avaliação.

Considerações finais

De acordo com os resultados obtidos nestes dois estudos, o uso de cultivares que expressam pro-

Gráfico 1 - porcentagem de plantas tombadas em função das diferentes biotecnologias aos 1, 2, 5 e 10 dias após a infestação

teínas Bt são fundamentais para o controle de lagarta-elasmo. Ainda, é importante a associação com inseticidas, preferencialmente para ingredientes ativos do grupo das diamidas, no tratamento de sementes, a fim de contribuir para o manejo de lagarta-elasmo. Por fim, as aplicações de foliares de inseticidas podem contribuir para o manejo deste inseto, salientando a preferência pelos períodos noturnos, devido ao hábito noturno deste inseto.

Junior Cesar Somavilla, Vanei Tonini, João Maurício Trentini Roy, Vinicius Caneppele Pereira, Aline Gomes de Carvalho, Kelen Benatto Bordignon, Copacol

Gráfico 2 - porcentagem de plantas tombadas em função dos diferentes tratamentos inseticidas aos 1, 2, 5 e 10 dias após a infestação

Tabela
CPA, 2024
*Letras diferentes implicam diferença estatística significativa pelo teste de Skott-Knott a 5% de probabilidade de erro (em cada data de avaliação)
*Letras diferentes implicam diferença estatística significativa pelo teste de Skott-Knott a 5% de probabilidade de erro (em cada data de avaliação)

Crisopídeo contra o bicho-mineiro

A larva possui um comportamento generalista; sua busca pelo alimento é randômica e ela se alimentará do primeiro artrópode que conseguir

Nos últimos anos, com o avanço do aquecimento global e as consequentes mudanças climáticas, os produtores de café têm enfrentado períodos de estiagem. Esses períodos influenciam diretamente em uma das pragas-chave do cafeeiro: o

bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) (Lepidoptera: Lyonetiidae). Esse inseto é um microlepidóptero, em outras palavras, uma pequena mariposa com o tamanho de cerca de 2 mm de comprimento e 6,5 mm de envergadura, de coloração prateada e comportamento noturno. É comum ao fim

da tarde, ao andar pela lavoura, perceber esses pequenos insetos voando entre uma folha e outra. Os adultos ovipositam geralmente no terço médio da planta e, ao eclodir, as larvas penetram o parênquima paliçádico e se alimentam do mesófilo foliar, criando galerias popularmente

conhecidas como minas. Como consequência, há um processo de necrose e, dessa forma, a folha perde área fotossintética. Em altas infestações, pode ocorrer desfolha. Esses danos impactam diretamente na produção e podem ocasionar redução de 87% da produtividade, em especial nas regiões com altas temperaturas e baixa umidade relativa, que favorecem o ciclo biológico do bicho-mineiro, uma vez que o encurtam, proporcionando mais gerações em um ano.

Atualmente, o método de controle mais utilizado é o químico, entretanto, o uso desenfreado e irresponsável de inseticidas tem selecionado populações resistentes, cujo controle se torna mais difícil e oneroso. Recentemente, houve um acréscimo na demanda por uma agricultura sustentável e regenerativa, com práticas que tenham menor impacto sobre o agroecossistema, e, nesse sentido, o crescimento do mercado de bioinsumos também aumentou. Um dos agentes de controle biológico que foram registrados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) é o crisopídeo Chrysoperla externa (Neuroptera: Chrysopidae).

Papel dos crisopídeos

Os crisopídeos são insetos de coloração esverdeada, com asas membranosas na fase adulta. Seus ovos são depositados sobre um fio de seda, uma estratégia que ajuda a evitar o canibalismo. As larvas, de formato campodeiforme, passam por três instares de desenvolvimento antes de atingirem a fase de pupa. O ciclo de vida desses insetos dura, em média, cinco dias na fase de ovo,

três a quatro dias em cada instar larval e cerca de 12 dias como pupa. Na fase adulta, podem sobreviver por aproximadamente 40 dias na natureza. É importante ressaltar que apenas a fase larval é predadora, enquanto a adulta se alimenta de substâncias açucaradas, como o “honeydew”, néctar e pólen. Além do mais, apesar do nome popular ser bicho-lixeiro, essa espécie não possui o hábito de carregar detritos em seu dorso (Figura 1).

Atualmente, apenas uma empresa possui o registro do crisopídeo para o controle do bicho-mineiro, contudo, outras empresas o comercializam para o controle de insetos de corpo mole, como pulgões e tripes. Sua comercialização é feita através dos ovos em pré-eclo-

são, o que significa que, ao serem liberados no campo, a larva eclode em até 24 horas, e já iniciará a busca por alimento. A larva possui um comportamento generalista, portanto, essa busca pelo alimento é randômica e ela se alimentará do primeiro artrópode que conseguir localizar e apresentar facilidade na predação. Sabe-se da capacidade das larvas em encontrar e predar ovos, larvas e pupas do bicho-mineiro, entretanto, isso ocorre ocasionalmente, e, dessa forma, quanto maior o número do predador em campo, maiores as chances do encontro com a praga.

Outro ponto a ser levado em conta, é que as larvas mais jovens apresentam o aparelho bucal mais frágil e isso tem impacto sobre a

Figura 1 - A) ovos do crisopídeo em Brachiaria spp. em área de café. B) primeiro, segundo e terceiro instar do crisopídeo. C) pupa de crisopídeo em microscópio estereoscópico. D) adulto do crisopídeo em Brachiaria spp. em área de café
Fotos Nívia Borges Palhari

predação das lagartas do bicho-mineiro, devido a estarem protegidas no interior da mina. Na medida em que as larvas do predador ficam mais velhas, elas se tornam mais vorazes, devido à necessidade de acúmulo de substâncias que vão favorecer o “fitness” do predador e auxiliar nos recursos que serão utilizados na fase de pupa, aumentando o consumo de presas.

Para o controle do bicho-mineiro, atualmente a recomendação é feita baseada no nível de infestação. De uma forma geral, as empresas recomendam liberações de mil a três mil ovos do predador por hectare, em três ciclos de 15 dias. Essas liberações são efetuadas por meio de drones para áreas extensas, os quais voam a cerca de 25 metros de altura e dez metros/segundo de velocidade (Figura 2). Assim como para defensivos agrícolas, as condições meteorológicas devem ser monitoradas. Para pequenos produtores, há a opção de liberar através de cartelas, o que diminui o custo da liberação. Após os três ciclos de liberação, caso não haja redução no nível de infestação, recomenda-se mais uma, conhecida por liberação de manutenção.

Pesquisas realizadas no Laboratório de Controle Biológico com Entomófagos (LCBE), do Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras (DEN/Ufla), demonstram que o crisopídeo é uma excelente ferramenta para o manejo de pupas do bicho-mineiro. No período de empupamento, as lagartas da praga descem para o baixeiro da planta, com o auxílio de um fio de seda, se abrigando na face inferior do vegetal. Muitas vezes, essa característica, aliada com uma aplicação ineficiente de defensivos, resulta no baixo índice de controle, contudo, através do uso dos crisopídeos, devido ao seu caminhamento pela planta, pode haver a interrupção do ciclo da praga (Figura 3).

Associação ao manejo

O crisopídeo é um importante aliado nas lavouras cafeeiras, especialmente para produtores orgânicos ou sistemas de produção sem agrotóxicos (SAT). Aqueles que utilizam defensivos seletivos também podem contar com esse predador natural, desde que respeitem os períodos de liberação e apliquem os produtos ape-

nas em situações emergenciais, quando o nível de controle for ultrapassado.

O controle biológico com macrorganismos não deve ser visto como uma solução emergencial para atenuar altas infestações, mas sim como uma estratégia preventiva. Estudos realizados no LCBE/DEN/Ufla indicam que os crisopídeos são mais eficazes quando a infestação da praga ainda está em níveis baixos, ajudando a conter o problema desde o início. Caso o nível de controle seja ultrapassado, recomenda-se a adoção do controle químico, para evitar prejuízos econômicos. Por isso, o monitoramento constante da lavoura é essencial, pois auxilia na tomada de decisões e na implementação de estratégias mais eficazes.

Como os adultos dos crisopídeos não são predadores, é recomendável adotar estratégias que garantam sua sobrevivência e reprodução. A criação de “spot” ou ilhas com plantas companheiras que forneçam recursos alimentares, assim como a manutenção de plantas espontâneas na entrelinha, desde que não interfiram na rotina da lavoura, são práticas benéficas

Figura 2 - exemplo de modelo de drone utilizado para realizar a liberação dos ovos de crisopídeos
Figura 3 - Chrysoperla externa predando pupa de Leucoptera coffeella em condições laboratoriais
Fotos Nívia Borges Palhari

(Figura 4). Além disso, a presença de fragmentos de mata próximos às áreas cultivadas favorece a permanência desses insetos. Ao oferecer suporte aos adultos, assegura-se a continuidade do ciclo do crisopídeo, garantindo a geração de novas larvas predadoras. Embora esses descendentes sozinhos não sejam suficientes para o controle total da praga, sua presença, aliada a novas liberações, aumenta a população no campo e, consequentemente, a chance de encontro do predador-presa, tornando o controle mais eficaz.

Desafios e perspectivas

Embora os crisopídeos já sejam comercializados e sua habilidade de predar o bicho-mineiro tenha sido comprovada, ainda existem questões a serem respondidas para otimizar seu manejo. Um dos principais desafios é entender o impacto da liberação sobre a viabilidade dos ovos do predador. Como esses ovos podem cair tanto na linha quanto na entrelinha da lavoura, ficam suscetíveis a fatores abióticos, como variações de temperatura e exposição à radiação UV, além de fatores bióticos, como a predação por outros insetos. Sabe-se que há uma perda de ovos após a liberação, mas a magnitude desta perda ainda precisa ser quantificada.

Outras perguntas recorrentes são: como a larva do predador encontra a lagarta no interior da galeria? Qual é o nível de controle que deve ser utilizado quando pensamos na utilização de agentes biológicos? Qual o número ótimo de ovos a serem liberados? A altura e a velocidade do

voo impactam na liberação? Como ocorre a dispersão de larvas e adultos após a liberação? Para isso, diversas instituições estão trabalhando em pesquisas para elucidar as questões e otimizar os protocolos de liberação. O custo inicial para a adoção dos crisopídeos pode representar um desafio, pois estima-se um valor de R$ 150 por hectare, sem considerar o custo da aplicação via drone. Esse valor pode variar entre R$ 12/ha e R$ 20/ha, dependendo do tamanho da área tratada. Para áreas inferiores a 50 ha, o custo é de R$ 20; para aquelas entre 50 ha e 500 ha, é de R$ 15; e para áreas acima de 500 ha, o valor reduz para R$ 12. Os valores podem variar conforme a empresa fornecedora. Entretanto, a longo prazo e com as ações para garantir a permanência do predador em campo,

o agroecossistema pode se equilibrar e reduzir a necessidade do controle químico e de sucessivas liberações do predador.

Por fim, devido ao seu hábito generalista, o crisopídeo também pode auxiliar no controle de outras pragas do café, como ácaros e cochonilhas. Sua versatilidade o torna um inimigo natural altamente eficaz, sendo um aliado essencial para as lavouras cafeeiras.

Nívia Borges Palhari, Ufla; Lucas Garcia Pereira, Letícia Vilela Barbosa, Lívia Maria Ferreira Santos, Alexandre Augusto Peres Pereira, Ufla/Esal; Brígida de Souza, Rosangela Cristina Marucci, Departamento de Entomologia

Cultivar Grandes Culturas
Figura 4 - área de café Catuaí Vermelho IAC 99 com mix composto por oito plantas, entre poligonáceas, gramíneas e leguminosas na entrelinha, em Varginha (MG)

População ocupada no campo, passado e futuro

Em 2024, o agronegócio representou 27,75% dos empregos no Brasil, ocupando 28,2 milhões de pessoas, segundo o Cepea/USP. É o maior contingente desde 2012, um aumento de 1,3 milhão de colaboradores em 12 anos. Segundo os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o impulso entre 2023 e 2024 decorreu do aumento de posições no setor de insumos (alta de 3,6%), nas agroindústrias (5,2%) e nos agrosserviços (3,4%).

Entrementes, os números apresentados no gráfico permitem uma reflexão. Enquanto percentual da população brasileira (POP), a população ocupada na agropecuária

(POA) manteve-se relativamente estável (13,7% em 2012 e 13,3% em 2024). Já em relação à população economicamente ativa, aquela empregada, houve uma redução de 31% para 27,65% no período.

Em um seminário promovido pela Rede de Socioeconomia da Agricultura (Embrapa) para debater o assunto, concluiu-se que esse movimento reflete a migração da mão de obra rural para outros elos da cadeia produtiva, impulsionada pela mecanização, automação e pelas novas tecnologias no campo, pela busca por maior qualificação, e devido ao crescimento da produtividade do trabalho na agropecuária.

Outras conclusões do seminá -

População ocupada na agropecuária (POA) em milhões; relação percentual entre a POA e a população brasileira (POA/POP) e entre a POA e a população economicamente ativa (POA/PEA)

rio mostraram que: a) no médio e longo prazo, as inovações tecnológicas levarão a um decréscimo na ocupação setorial; b) fatores como crescimento da economia, educação, treinamento, capacitação e desenvolvimento tecnológico são essenciais para o aumento da ocupação e da qualidade do trabalho; c) inovação conduz ao aumento da produtividade, devendo ser acompanhada de ações para equilibrar eficiência produtiva e inclusão social; e d) novas estratégias para garantir ocupação no meio rural, incluindo setores como serviços e agroindústria.

Em relação ao futuro, as propostas emanadas do seminário apontam para:

a) Necessidade de capacitação e treinamento dos colaboradores para eficiência, sustentabilidade e rentabilidade das cadeias produtivas.

b) Adequação da linguagem de comunicação, devido às exigências mais intensas de escolaridade dos colaboradores.

c) Transferência de tecnologia e incorporação contínua de novos conhecimentos, mantendo elevado o nível de capacitação dos colaboradores.

O agronegócio continuará sendo um grande empregador no Brasil, porém o perfil do colaborador está passando por grande transformação, com maior produtividade e maior exigência de escolaridade e capacitação.

Décio Luiz Gazzoni, Embrapa

Rumos do agro brasileiro em tempos de tarifaço de Trump

Oano de 2025 entrará para a História porque o presidente dos EUA, Donald Trump, mudou o rumo da economia mundial. Para isso, criou um tarifaço sobre todos os países que negociam com os Estados Unidos, começando com a marca dos 10%, grupo no qual o Brasil foi inserido, e chegou a níveis acima dos 100%, como mostrou no começo da guerra comercial com a China.

O agro do Brasil deve ganhar espaços importantes nesses novos tempos que estão por vir. O país é líder mundial na exportação dos principais alimentos, como soja, carne, açúcar, café, laranja, algodão e fumo, e muito forte no milho, que está em segundo lugar, além de exportar arroz, feijão, frutas e até trigo. Assim sen-

do, mercados devem se abrir em muitos países da Europa, África, Ásia e América Central, por países que devem sofrer com o tarifaço. Será a possibilidade de o Brasil se consolidar como o maior exportador mundial de alimentos.

Mais cedo ou mais tarde, os EUA farão acordo com todo mundo e, então, o quadro tende a se normalizar. Precisamos estar preparados para continuarmos competitivos. Para isso, é fundamental mantermos o avanço na produtividade interna e na melhoria da logística para atendimento dos novos mercados que surgirão, além dos que já são parceiros comerciais.

Uma nova página se abre para o agro brasileiro e tudo aponta que a guerra tarifária nos dará condição de crescimento.

A safra do milho do Brasil agora entra na colheita da safrinha, ou seja, maior a produção nacional, a qual neste ano teve início com problemas climáticos. O potencial produtivo desta colheita está entre 95 milhões e 100 milhões de toneladas, frente aos 90 milhões de toneladas que tinha no mês anterior. Com grandes chances de furar a projeção maior, se as chuvas avançarem neste mês de maio, o Brasil deve ter milho para atender a demanda interna que será recorde.

Os produtores colheram a melhor safra da história da soja, mesmo ocorrendo perdas. O Rio Grande do Sul sofreu e perdeu próximo de 10 milhões de toneladas do potencial que possuía. Chegou ao final da colheita muito perto de 170 milhões de toneladas, mesmo em tempos de guerra comercial. Desta forma, o que vemos é exportação acima de 90 milhões de toneladas de soja para a China, frente a níveis de 75 milhões de toneladas que tinham sido exportadas nos anos anteriores. Outro recorde será o de exportação do complexo soja, farelo e óleo, que neste ano pode chegar perto de 130 milhões de toneladas.

Curtas e boas

TRIGO - o mercado continua de olho na safra do Hemisfério Norte, que neste ano mostra potencial menor, com área menor nos EUA e safra menor na Rússia. Está sendo um ano de baixo volume exportável e tudo nos aponta que teremos cotações externas maiores. Com os níveis dos US$ 5,50 aos US$ 6,00 por bushel em Chicago.

EUA - os produtores estão plantando a safra na janela ideal, com o milho avançando entre 1,5 milhão e 2 milhões de hectares acima do ano passado, agora podendo bater os 38,5 milhões

O mercado do feijão neste primeiro semestre mostrou ofertas que atenderam a demanda. Houve limitação de oferta do produto nobre, com este chegando a ser trabalhado acima dos R$ 320 por saca no carioca do padrão 9 ao 10. Com muito feijão preto que deixou o grão abaixo dos R$ 200 por saca no primeiro semestre, mas esperando que tenhamos evolução das cotações neste meio de ano em diante, em cima da demanda que deve crescer, por que o feijão está barato aos consumidores.

Arroz

O mercado do arroz viu a supersafra chegar. Foram mais de 12 milhões de toneladas e consumo esperado entre 10,5 milhões e 11 milhões de toneladas. Temos sobra de arroz e, desta forma, as cotações em março e abril foram ao fundo do poço. De agora em diante, veremos as cotações começando a reagir e os produtores recebendo um pouco mais, com as exportações crescendo. Ainda temos no Mercosul a maior safra de arroz da História. Parte vem para o Brasil e, assim, o ano não será muito fácil para o setor arrozeiro.

de hectares, frente aos 36,7 milhões plantados na safra passada. A soja recua dos 35,3 milhões para menos de 33,8 milhões de hectares. Mesmo com esta mudança, o milho continuará com déficit mundial e a soja terá um ano mais ajustado.

CHINA - deve jogar duro com os EUA. E deve comprar mais do agro brasileiro. Tudo isso nos traz garantia de forte demanda e de fornecimento dos principais insumos que iremos usar nas lavouras, como fertilizantes e defensivos.

ARGENTINA - continua mostrando

uma grande safra. Há expectativa de que, do meio do ano em diante, as “retenciones” venham a ser reduzidas. A boa notícia é que o governo argentino deixou o câmbio livre e, não tendo mais câmbio oficial, o setor produtivo é favorecido. A expectativa da safra de soja está próxima de 48 milhões de toneladas; para o milho, esperam-se 50 milhões de toneladas.

Vlamir Brandalizze Brandalizze Consulting Instagram: @brandalizzeconsulting

Coluna Mercado Agrícola
Milho Soja
Feijão

Tópicos importantes na colheita da soja

Estamos no período da colheita da soja, etapa de maior importância na produção de grãos, por se referir à retirada do produto final do campo, com alto valor agregado e inúmeros fatores que podem diminuir a qualidade do produto colhido, além dos desafios logísticos no processo, como o dimensionamento de colhedoras, equipamentos de apoio e caminhões.

Perdas qualitativas

As perdas qualitativas são referentes aos descontos implicados no momento da recepção do grão no silo. Os dois principais parâmetros são grãos quebrados e impurezas.

Perdas quantitativas

As perdas quantitativas ocorrem no campo, na colhedora e no transporte dos grãos, sendo as que ocorrem na plataforma de corte a principal fonte de perdas durante o processo, responsável por perdas entre 75% e 85% (Aguila et al., 2011) e perdas nos mecanismos internos da colhedora, atingindo o somatório destas o total perdido na safra.

Holtz & Reis (2013) observaram que existe uma dinâmica das perdas na colheita de soja sob a influência da umidade e da temperatura, refletida na umidade da palha, na condição de que quanto menor a umidade da palha, maior a perda de grãos nos mecanismos de corte e alimentação. Os danos mecânicos são minimizados quando essa operação é realizada com o teor de umidade entre 13% e 15%.

Pontos de atenção

Tratando das principais fontes de perdas, serão listados, a seguir, pontos impor-

tantes na regulagem das colhedoras e da plataforma de corte.

• Rotação do molinete da plataforma de corte: o ideal é que encoste na cultura uma vez, para evitar a debulha das vagens.

• Altura da plataforma e altura da rosca sem fim para o caso das plataformas comumente conhecidas como caracol.

• Regulagem da abertura do côncavo: variável em função da umidade. Em baixa umidade, a tendência é trabalhar mais aberto, para evitar a quebra dos grãos.

• Regulagem da abertura das peneiras superior e inferior: importante estarem na abertura adequada, para não aumentar as perdas no industrial e sobrecarregar a retrilha.

• Rotação do rotor: quanto menor a umidade, menor a rotação, para minimizar os impactos nos grãos.

• Sequência de côncavos e grades nas porções posterior e anterior do côncavo: em cultivares de debulha difícil é comum se usar côncavos e grades mais agressivos, como barra quadrada e arame grosso, ao passo que em cultivares de fácil debulha pode-se usar côncavos de barra redonda.

• Taxa de alimentação: é o indicador

Existe uma dinâmica das perdas na colheita de soja sob a influência da umidade e da temperatura

que ditará a velocidade de colheita. A variabilidade espacial das lavouras, seja por causas naturais ou por ações antrópicas, exige que a velocidade de deslocamento da colhedora seja variável, para manter o fluxo de massa constante nos mecanismos internos da máquina.

Dados compilados do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), de cinco anos de colheitas em todas as regiões brasileiras, mostram uma diferença de 0,4 sc/ha nas perdas totais de colheita entre uma plataforma draper e uma de rosca sem fim (caracol), o que, na prática, é uma diferença muito singela. Assim, é possível constatar que, independentemente da tecnologia utilizada nas plataformas de corte, estas, quando reguladas e aferidas corretamente, oferecem resultados muito semelhantes.

Outro ponto interessante é a diferença das perdas em função das regiões. O sul de Minas Gerais, conhecido pelo relevo declivoso, está ganhando relevância na produção de grãos no estado. Em um compilado de cinco cidades, utilizando o banco de dados do Cesb, constata-se que as perdas são, em média, 3 sc/ha maiores, quando comparado com regiões de relevo mais plano. Nesse caso, o uso de tecnologias, como peneiras autonivelantes e plataformas de corte flexíveis, é interessante para minimizar estas perdas. Portanto, o processo de colheita é dinâmico e não segue padrões. É dependente das condições edafoclimáticas, como clima, temperatura e relevo, além de uma série de combinações possíveis de regulagens no equipamento, conforme descrito no artigo.

Coluna Cesb
Breno Araújo, Cesb; Vinícius Grillo, Rehagro

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