

Estevão Ribeiro
E stevão R ibeiro
texto e ilustração





Copyright © 2025 Estevão Ribeiro
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edição geral
Sonia Junqueira
assistente editorial
Julia Sousa
revisão
Julia Sousa
Marina Guedes
edição de arte
Diogo Droschi
diagramação
Arthur Carrião
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ribeiro, Estevão
Sofia Marujo e a carga preciosa / Estevão Ribeiro, texto e ilustração. -- 1. ed. -- Belo Horizonte, MG : Yellowfante, 2025. -(Série Sofia Marujo ; v. 2)
ISBN 978-65-6065-213-2
1. Literatura infantojuvenil I. T ítulo. II. Série.
25-270508
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil 028.5
2. Literatura infantojuvenil 028.5
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
CDD-028.5
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Para Sofia Leonora e Guilhermina Vitória, meninas piratas que saquearam meu coração.

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CAPÍTULO 1 VeRGÜeNZA! VeNGANZa! (VeRGoNha! ViNGANça!) !

A-hoy, tripulantes deste livro! Se vocês são novos aqui nesta coleção, permitam que eu me apresente: sou Okun, a narradora da saga de uma garota muito corajosa e esperta, Sofia Marujo Frigideira, uma menina negra de 10 anos da Ilha de Melba que ousou sonhar em ser pirata. Para isso, ela pediu ao pai, o cozinheiro Angus Mão-de-Frigideira, e à mãe, Geovanna Marujo, conhecida em outros tempos como a temível pirata Surdez Ruiva, permissão para singrar os mares no Rainha-do-Mar, o navio-escola do Capitão Sardinha. Porém, mal pisou na embarcação e Sofia Marujo já teve que enfrentar grandes desafios.

E, quando eu digo grandes, não estou querendo elogiar a menina, não! Foram desafios impressionantes, como enfrentar a lula gigante que tentou invadir o Rainha-do-Mar. Mas, graças à esperteza da nossa aspirante a pirata e ao fio da sua espada de sucupira, a fera seguiu seu rumo, livrando do perigo as pessoas que agora ela pode chamar de amigos... ou quase. Bernardo Melville é um garoto cheio de manias e cuidados, enquanto Sara Cortez... Ah, a Sara! Ainda bem que ela foi expulsa da escola por, supostamente, atrair uma besta gigante para tomar o barco!
Fazem parte ainda da tripulação duas curiosas figuras: o suspeitíssimo Imediato Tosca e a ararajuba Benvindo, que não vale a semente de girassol que come e a titica que descome.
Na história que vou contar a vocês agora, nossa reduzida tripulação estava consertando o Rainha-do-Mar depois do ataque da fera, e isso já fazia...
– Duas semanas! – esbravejou Tosca. – Duas semanas consertando esta banheira flutuante e remendando estas velas mais rasgadas que as ceroulas do meu avô!
– Até que passaram rápido – disse a habilidosa Sofia, tapando um buraco com um remendo em formato de coração.
– Ah, deixe o mau humor de lado, Tosca! O Rainha-do-Mar está como novo e pronto para outra, não é? – O Capitão Sardinha deu um tapinha de leve em um dos mastros com a confiança de um despreocupado para provar o que dizia.

– Cuidado! – gritou Bernardo Melville, ao ver uma parte do mastro se desprender e passar pertinho do grupo, quase arrastando o capitão. Uma corda que acompanhava o mastro fez um movimento de chicote e estalou nas nádegas do Imediato Tosca, tirando gargalhadas de Benvindo.
– Ai! Maldito barco!
– Ufa! Obrigado, Melville!
– Disponha, Capitão!
– Humm... Encare os fatos, Capitão Sardinha! Não temos braços nem ouro para reformar o Rainha. É hora de fechar a escola! – aconselhou Tosca, massageando o bumbum ressentido. – Fechar a escola?! Ah, isso está fora de coguita... coguit... cogit...? Ah, eu não aceito que fechem a escola! – gritou Sofia Marujo, desesperada ao pensar que seu sonho de ser pirata poderia naufragar com o Rainha-do-Mar.
– Calma, pequena Marujo! – tentou tranquilizar o Capitão Sardinha. – Prometo que você e o garoto Melville...

– Os únicos alunos! Crá! – interrompeu Benvindo.
– Hum. Sim! Meus únicos alunos, por enquanto. Prometo que vocês sairão daqui como terríveis piratas, ou eu não me chamo Capitão João Sardinha!
Assim que proferiu seu nome completo, outra corda puída arrebentou, fazendo com que as velas caíssem sobre o grupo.
– Se for escolher outro nome, Capitão, sugiro Enzo – disse o Imediato.
– É, está em alta, né? – completou Sofia. –Igual Bernardo.
– Eu que o diga! – lamentou o menino com o nome do momento, Bernardo Melville.


A algumas milhas do Rainha-do-Mar, uma família viajava calada, de cara amarrada, em uma corveta espanhola, a Madre Nena. Hernán Pablo Hernando Fernandez Cortez e sua esposa, Maria Mercedes Imaculada Gutierrez Cortez, pais de Sara, lutavam contra a mágoa de ter uma filha expulsa do navio-escola que antes era o negócio da família.
– ¡Mi hija Sara, saiba que papacito não está bravo contigo! ¡Eres só una niña!
– Não sou uma menina, papi! Eu sou uma PIRATA! Aquele navio pertenceu a mi abuelo! Meu avô! Não podiam ter feito o que fizeram comigo! ¡Ay, cómo me duele el corazón! – lamentou.
– Ah, você é uma niña muy joven, sobrinha! Uma menina muito nova! – disse Esteban, tio de Sara, irmão de Maria Mercedes. – Logo essa dor passará e deixará você mais fuerte! Afinal, aquela nem era a melhor escuela de piratas!
Depois de se ouvir falar, Esteban pensou em voz alta:
¡Si bien ser expulsada de una escuela mala es mucho peor!

Ouvir do tio que a expulsão de uma escola ruim é bem pior – o que é verdade – fez a menina desidratar em lágrimas, levando a mãe também às lágrimas. Eram duas corredeiras salgadas que empoçavam os pés de uma tripulação que faria de tudo para dar um fim àquele choro.
– ¡Mira, Hernán! ¡Cómo sufre nuestra niña! O que você quer para ficar melhor, Sara?
– Eu quero VERGÜENZA, mamá! Vingança!
Maria Mercedes olhou para Hernán com olhos tão frios que a lágrima que despencava pelo seu rosto congelou. Hernán devolveu um olhar que fervia como um vulcão em erupção. Olhou para sua menina, tão bem-criada para ser sempre a primeira em tudo – e agora era a primeira de sua família a ser expulsa da escola. “Vergüenza”, pensava ele. Vergonha. Não era vergonha da menina, mas de si mesmo, por não ter confrontado o Capitão Sardinha quando a filha foi expulsa.
Que pai aceitaria as regras de um navio-escola que pertenceu ao seu pai, confiando mais na palavra de quem acusou sua filha de roubo do que na inocência de seu próprio sangue?! Quem faz isso falha como protetor da própria família.
Olhando para a tripulação de homens sensíveis a choros de meninas e senhoras vingativas, Hernán Cortez fez uma promessa:
– ¿Quieres venganza, pequena Sara? É o que terá!

CAPÍTULO 2
DiAs De BoNaNçA

Enquanto no Madre Nena o clima era de tristeza e vingança, no Rainha-do-Mar o clima de otimismo e confiança se instaurava bem devagar.
É que o navio não apresentava problemas havia dois dias, e Sofia pôde se dedicar mais à cozinha, com a ajuda de Melville. Se por um lado havia poucas pessoas para cuidar do navio, por outro a comida não faltava pelos mesmos motivos: o que se pescava – caranguejos, ostras, peixes e algas – era o suficiente para manter a tripulação do navio: dois adultos, duas crianças e uma ave.
– Mais uma refeição deliciosa, Sofia Marujo! – comentou o Capitão Sardinha, lambendo os dedos. – Incrível ver como você consegue improvisar qualquer prato! Nunca pensei em cozinhar algas com ostras!
– O Capitão tem razão, menina! – o Imediato Tosca dizia, entre um fungar e um arroto. – Eu achei que teríamos que comer a ave em alguma emergência.

Benvindo já se preparava para voar para longe do olhar glutão de Tosca quando viu o Capitão Sardinha sorrir.
– Tosca! Não fale assim do Benvindo! Assar o pobrezinho está fora de cogitação!
– Isso! Cogitação! Era a palavra que eu queria lembrar aquele dia! – disse Sofia, estalando os dedos diante de Benvindo, que suspirava, aliviado.
– Crá! Obrigado, Capitão!
– Disponha, Benvindo! Além do mais, você é tão mal-humorado que sua carne deve dar uma bela indigestão em quem se dispuser a degustá-la!
A gargalhada do Capitão Sardinha pareceu uma desculpa para todos rirem da ave mal-humorada, e cada um fez exatamente isso... menos Sofia.
Vendo como o pobre Benvindo estava incomodado, ela decidiu intervir.
– Pessoal! Por favor, não é legal caçoar das pessoas!
– Mas Benvindo é uma ave, uai! – Bernardo falou o óbvio como se tivesse feito uma grande descoberta, fazendo todos rirem ainda mais.
– E aves não têm sentimentos? – Sofia continuou sua defesa. – Ave também é gente!
– Que viagem, Sofia! Gente é a gente! Papagaio é... bicho – retrucou Melville.
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