Prólogo •
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Você acha que já conhece esta história. Ah, já a ouviu antes, não é? Por isso, vamos repetir: você acha que já conhece esta história. Sob todos os aspectos, é uma boa história: uma jovem órfã e sem um tostão se torna preceptora em uma mansão, desperta os olhares do patrão rico e austero e (ai, ai...) se apaixona profundamente. Muita paixão, muitos suspiros, mas, antes de eles se casarem — oh! —, uma traição terrível é revelada. Seguem-se fogo e desespero, vaga-se um pouco sem rumo, fome, certo abuso psicológico, mas, no final, o romance se concretiza. A garota (a Srta. Eyre) fica com o rapaz (o Sr. Rochester). Eles vivem felizes para sempre. E é claro que isso significa que todo mundo fica feliz, certo? Hum... não. Não é bem assim. Temos uma história diferente para contar. (E sempre temos!) E o que estamos prestes a revelar é mais do que um reconto de um dos romances mais queridos da literatura. Esta versão, caro leitor, é verdadeira! Existiu mesmo uma garota. (Existiram duas, na verdade!) Ocorreu, de fato, uma terrível traição e um grande incêndio. Mas descarte praticamente tudo o que você sabe desta história. O que vamos contar não será nem um pouco parecido com algum romance clássico que você já tenha lido. Tudo começou, se quisermos ir muito, muito lá atrás, em 1788, com o Rei George III. O rei via fantasmas. Não era nada demais, na verdade. Ele não se assustava com eles. Às vezes, travava conversas divertidas com cortesãos mortos há muitos anos e com rainhas injustamente decapitadas que, naquele momento, flutuavam sobre as terras do palácio. •
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