WALTER BENJAMIN (1892-1940) é um dos
O TRADUTOR – João Barrento licenciou-se
em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1964) e em 1986 tornou-se professor de Literatura Alemã e Comparada. Já publicou cerca de vinte livros de ensaio, crítica literária e crônica, e traduziu, assim como editou, diversas obras da literatura alemã. Como editor e tradutor, é responsável por algumas das mais importantes publicações de autores alemães para o português, com destaque para Goethe (9 volumes, 1991-1993), Robert Musil (8 volumes, desde 2005) e Walter Benjamin (7 volumes, desde 2004). Suas traduções lhe renderam diversos prêmios, como Calouste Gulbenkian da Academia das Ciências (Tradução de Poesia, 1979); Grande Prêmio de Tradução (1993 e 1999); Prêmio de Tradução Científica e Técnica da União Latina (2005); Prêmio de Tradução do Ministério da Cultura da Áustria (2010); além da Cruz de Mérito Alemã (1991) e da Medalha Goethe (1998), entre outros.
“A modernidade é em Baudelaire uma
FILOBENJAMIN
WALTER BENJAMIN Baudelaire e a modernidade
mais importantes pensadores do século XX. Filósofo, ensaísta, crítico literário e tradutor, abandonou sua carreira acadêmica após a rejeição de sua tese de livre-docência, intitulada Origem do drama trágico alemão, pela Universidade de Frankfurt, que a considerou pouco convencional. Escreveu peças para rádio, além de artigos para diversos jornais e revistas, entre elas a Zeitschrift für Sozialforschung, revista do Instituto de Pesquisa Social (mais tarde conhecido como “Escola de Frankfurt”). Alemão, filho de judeus, deixou seu país em 1933 rumo a Paris, onde ficou até a invasão nazista. Em 1940, fugiu ilegalmente para Portbou, Espanha, onde se suicidou para não ser capturado pela Gestapo. Benjamin deixou vasta e brilhante obra literária, além de ter contribuído enormemente para a teoria estética, para a filosofia, para o pensamento político e para a história.
“Nenhuma análise de Baudelaire pode, a rigor, prescindir da imagem da sua vida. Na verdade, essa imagem é determinada pelo fato de ele ter sido o primeiro a se aperceber, da forma mais consequente, de que a burguesia estava prestes a retirar ao poeta a missão que lhe tinha atribuído. Que missão social poderia ocupar o seu lugar? Essa missão não era mais uma missão de classe; tinha de ser deduzida do mercado e das suas crises. O que ocupou Baudelaire foi a resposta não à procura manifesta e de curto prazo, mas à latente e de longo prazo. As flores do mal mostra que o seu cálculo estava certo. Mas o mercado, no qual essa procura se manifestava, determinava uma forma de produção, e também de vida, completamente diferente da dos poetas de épocas anteriores. Baudelaire viu-se forçado a reclamar a dignidade do poeta numa sociedade que já não tinha qualquer dignidade para dar.”
conquista”, eis aqui a definição de
WALTER
BENJAMIN Baudelaire e a modernidade
Benjamin. Já no primeiro poema de As flores do mal, Baudelaire convoca o leitor à ruptura da apatia. Benjamin aponta o método da aventura, a captura do presente, a intenção do poeta de revidar os atordoantes choques na grande cidade. Para não se tornar receptor inanimado ou ator automatizado, Baudelaire troca o gabinete pelas ruas, a duras penas, físicas e espirituais, e transita entre duas instâncias, flânerie e esgrima. Ao levar a vivência aos âmbitos do coletivo e do voluntário, imiscui-se no hiato da distribuição entre consciente e inconsciente. Conjura os perigos da absorção pela profundeza obscura ou da reflexão pela superfície ofuscante. Antes de o estímulo se queimar como resposta imediata, a vivência, ou se perder como memória de difícil acesso, insere poemas, contragolpes, no espaço intervalar. O modus fica em verso: “tropeçando em palavras como na calçada”. É total exposição ao presente, com mente e corpo alertas, e plena compreensão de não se tratar de processo natural: “É essa a natureza da vivência a que Baudelaire atribuiu a importância de uma experiência. Fixou o preço pelo qual se pode adquirir a sensação da
ISBN 978-85-8217-575-0
modernidade: a destruição da aura na vivência do choque”.
9 788582 175750
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Tradução João Barrento
Beatriz de Almeida Magalhães