Se não fosse o meu amor (Sucesso no TikTok)

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“Sensual, poético e cheio de um desejo delicioso e dilacerante.”

Hazelwood, autora best-seller do New York Times

KATE

KATE GOLDEN

TRADUÇÃO : Natália Chagas Máximo

Copyright © 2025 Natalie Sellers

Copyright desta edição © 2026 Editora Gutenberg

Publicado em acordo com a autora, representada pela Baror International, Inc., Armonk, Nova York, EUA.

Título original: If Not for My Baby

Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

editora responsável

Flavia Lago

editoras assistentes

Samira Vilela

Natália Chagas Máximo

preparação de texto

Samira Vilela

revisão

Vitória Galindo

ilustração de capa

Kei-Ella Loewe

adaptação de capa

Alberto Bittencourt

diagramação

Waldênia Alvarenga

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Golden, Kate Se não fosse o meu amor / Kate Golden ; tradução Natália Chagas Máximo. -- 1. ed. -- São Paulo : Gutenberg, 2026.

Título original: If Not for My Baby

ISBN 978-85-8235-849-8

1. Ficção norte-americana I. Título.

25-308713.0

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura norte-americana 813

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

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Para Jack.

As músicas só me tocam da mesma forma por causa do amor que conheci com você.

E para o canal de transmissão, vocês sabem quem são. Fizemos isso juntos.

Halloran

de junho – Tallahassee, FL

de junho – Atlanta, GA

de junho – Charlotte, NC

de junho – Raleigh, NC

de junho – Richmond, VA

de junho – Charleston, WV

Turnê Kingfisher

de julho – Nova York, NY

de julho – Nova York, NY

de julho – Nova York, NY

de julho – Cleveland, OH

de julho – Chicago, IL

de julho – St. Louis, MO

de julho – Kansas City, MO

de junho – Washington, DC

de junho – Pittsburgh, PA

de julho – Atlantic City, NJ

de julho – Filadélfia, PA

de julho – Bangor, ME

de julho – Shreveport, LA

de julho – Austin, TX

de agosto – Santa Fé, NM

– Phoenix, AZ

– Dedicar toda sua vida a uma busca por outra pessoa, quando os seres humanos são falhos por natureza, e esperar que essa pessoa conserte as peças quebradas dentro de você só para se convencer de que está inteira… é a fórmula perfeita para a decepção.

Pego mais uma batatinha e a mergulho até a metade no molho.

– Sendo justa… isso costumava fazer mais sentido antigamente. Numa época em que as mulheres precisavam de um parceiro para garantir um teto sobre a cabeça ou colocar comida na mesa. E os homens precisavam de uma esposa para gerar herdeiros pro seu negócio de sapateiro, reino, ou o que quer que fosse. Hoje em dia é diferente, sabe? Parece meio antiquado. Coloco a batatinha na boca. Só então me dou conta da expressão de espanto no rosto do homem sentado à minha frente. Seu cabelo perfeitamente modelado nem se mexe quando ele dá um gole demorado na água. A música de mariachi está tocando alto demais no restaurante, e o rubor de constrangimento começa a subir pelo meu pescoço.

– Você acha que o amor é… antiquado?

Termino de mastigar, tentando encontrar as palavras certas.

– Acho que colocar um relacionamento como prioridade absoluta é antiquado. Parece bem difícil encontrar alguém que valha a pena. E, mesmo que você tenha essa sorte, vai acabar sofrendo de um jeito ou de outro. Existem coisas menos dolorosas na vida, não acha?

– É… – Ele se recosta na tentativa de checar discretamente a hora no celular que está em seu bolso. – Entendo o que você quer dizer.

Suspiro. O Sr. Gelzinho no Cabelo e eu definitivamente não vamos dar certo.

– Tá tudo bem, Hank… – Henry.

– Henry! – Faço uma careta. – Eu sabia. Olha, Henry… dá pra ver que você não tá curtindo, e tá tudo bem, mesmo. Podemos encerrar por aqui.

Henry-que-não-é-Hank franze as sobrancelhas bem aparadas.

– Encerrar?

– Sim, tipo quando o médico declara a hora da morte. – Finjo estar sentindo meu pulso e faço uma careta de “ih”.

Henry balança a cabeça como se tivesse compreendido, mas dá para perceber que ele não entendeu nada. Na verdade… Sim, ele deve achar que sou péssima.

– Sério, eu adoraria terminar essas enchiladas em paz antes de voltar ao meu turno. Sem ressentimentos mesmo, caso você queira cair fora.

O confuso Henry guarda o celular e as chaves nos bolsos e começa a se levantar, um pouco sem graça. Em sua defesa, talvez nem exista uma forma elegante de se fazer isso. Mas, então, ele se detém no meio do movimento.

– Você me disse… que era garçonete. Você marcou nosso primeiro encontro no restaurante onde trabalha… no meio do seu turno?

– Eu… – Engasgo nas palavras, com a boca cheia de enchilada.

Henry bate o joelho com força na parte de baixo da mesa ao se levantar. Ele faz uma careta e eu também, sentindo uma dor fantasma em solidariedade.

– Aqui – diz ele, jogando duas notas de vinte sobre a mesa.

– Não, não. – Empurro o dinheiro de volta para ele, engolindo o que eu estava mastigando. – Com o desconto de funcionária, isto aqui sai quase de graça.

Henry não acha o gesto tão generoso quanto eu pretendia. Ele deixa os quarenta dólares ali mesmo e sai bufando, quase trombando em dois meninos que correm em direção ao banheiro, vindos da mesa de um aniversário.

Excelente. Mais um encontro bem-sucedido de Clementine Clark.

Uma voz grita para os garotinhos eufóricos:

– Ei, nada de correr!

Olho por cima do ombro e vejo Mike. Seu cabelo loiro-acinzentado está espetado para todos os lados, e há olheiras roxas sob seus olhos. Para alguém que queria tanto aquela promoção, o cara está completamente sobrecarregado. Não sei o que ele esperava, já que o Happy Tortilla é o melhor restaurante tex-mex de Cherry Grove. Só fica vazio quando está fechado.

– Tá bom, polícia da diversão – resmungo, voltando à minha janta. Devo comer essas enchiladas de frango umas duas vezes por semana, mas

nunca me canso. Normalmente, eu precisaria muito delas para lidar com mais um encontro fracassado, mas hoje é noite da Ladybird Playhouse, então mal sinto a rejeição.

– Se eles se machucarem – diz Mike, deslizando para o banco de vinil vermelho do caixa e soltando um grunhido –, a gente pode ser responsabilizado.

– Oooh, “responsabilizado”. Típico linguajar de gerente.

– Ei. – Ele ri. – Sou seu chefe agora.

– Tem arroz no seu cabelo, chefe.

Mike dá uns tapinhas na própria cabeça.

– O encontro não foi grande coisa?

– Não vou falar sobre isso com você.

– Comigo? – Mike rouba um nacho do potinho de plástico entre nós. – Eu te conheci na época em que você achava que “bar” significava loja de Barbies.

– A gente tinha 4 anos!

– Exato. Então… o que tinha de errado com o Sr. Apple Watch?

Mike insiste, mas sabe que não vou contar nada sobre o encontro. É um dos poucos assuntos proibidos entre a gente. E não é só porque ele é meu ex – mesmo que isso tenha sido no ensino médio –, nem porque a gente ainda dorme junto de vez em quando.

É porque eu sei que Mike não é nada diferente da minha mãe: os dois alimentam a esperança de que um dia vou sair do meu casulo de cínica e me revelar uma borboletinha apaixonada, voando direto para os braços de algum pretendente de classe média alta. Talvez devesse ter dito isso para o Henry: “Oi, eu só tô aqui pra tranquilizar minha mãe de que não vou acabar sofrendo o mesmo destino miserável que ela. Casamento na primavera?”.

– Vai, Clementine. Conta.

– Ele não gostava de cachorro.

– Ah. – Mike assente, satisfeito. – Sentença de morte.

Um guincho agudo corta o som ambiente do restaurante e, quando olho para a frente, vejo os dois meninos levando um tombo feio no carpete. Choro instantâneo.

Mike suspira. Seu olhar carrega zero vontade de viver.

– Deixa que eu resolvo. – Dou risada. – Quer terminar minhas enchiladas?

– Com prazer – ele responde, com uma expressão de gratidão profunda.

Visto meu avental vermelho, jogo as rancorosas notas de vinte do Henry no pote de gorjetas e volto ao trabalho.

A farmácia já está quase fechando quando termino meu turno. Uma música icônica dos anos 1980 toca lá dentro, e eu balanço a cabeça no ritmo majestoso dos sintetizadores até encontrar Lou atrás do balcão. Para garantir o relaxante muscular da minha mãe, preciso suborná-lo com passeios grátis para o seu husky siberiano, mas pelo menos consigo o remédio… e ainda saio com um pote de sorvete novinho. Quando chego em casa, já dá para ouvir a voz de Mulder e Scully ecoando antes mesmo de passar pela porta da frente. – Ainda tá rolando a maratona? – grito. Jogo minhas chaves na bandejinha em formato de vaca e tiro as botas com a ponta dos pés, deixando-as ao lado da nossa sapateira pintada à mão com tema de jardim. Um sorriso me escapa ao ver a tinta descascada e os pequenos cogumelos feitos com tampinhas coloridas. Minha mãe e eu nunca tivemos uma ideia fixa de como seria nosso lar – simplesmente sabemos quando algo tem o estilo “Dianentine”, uma junção dos nossos nomes que inventamos para descrever qualquer coisa que agrade as duas. Um vaso amarelo de cerâmica em formato de banana com suporte para flores nas duas pontas? Dianentine. Guardanapos tie-dye? Dianentine. Uma almofada bordada com os dizeres “As mais procuradas pelo FBI”? Totalmente Dianentine. Essa última, aliás, é a principal – já vimos todas as temporadas de Arquivo X juntas pelo menos umas três vezes.

– Rápido! – A voz da minha mãe vem do porão. – É o episódio do Frankenstein! Ele tá prestes a convidar ela pra dançar!

– Já tô indo! – grito, revirando o freezer cheio de potes de sorvete em busca do meu Ben & Jerry’s Phish Food pela metade e pegando um refrigerante na geladeira. – A Willow tá com o ossinho dela?

– Não! – ela grita. – Você pode pegar?

Volto rapidinho para pegar o osso favorito em formato de Y da nossa cachorra na caminha dela. Munida de todos os apetrechos, desço correndo para o porão e encontro minha mãe no sofá, com Willow enroscada ao seu lado. Um cheiro cítrico domina o ar – com certeza vem das velas acesas há horas.

– Como foi o trabalho? – ela pergunta, ainda com os olhos na TV.

Meu coração se comprime no peito. Só por sua voz percebo que está em meio à uma crise de fibromialgia. Seus olhos, que costumam ser brilhantes, estão um pouco opacos, o cabelo loiro e reluzente preso em um coque frouxo

na nuca. Ela massageia o ombro distraidamente, como se aquilo a estivesse incomodando o dia inteiro.

– O de sempre. – Não há necessidade de contar do encontro desastroso. Francamente, isso já devia fazer parte do “de sempre”.

Entrego o remédio e o refrigerante e a vejo engolir tudo de uma vez, como a profissional que é. Depois, dou o osso para Willow e faço uma anotação mental de que preciso cortar a franja dela logo – o nome da nossa sheepdog já revela que o pelo cobre seus olhos. Me pergunto se ela consegue ver o osso de couro cru que está enfiando na boca. Dou um beijo na cabeça dela e espirro bem alto logo em seguida. Willow nem se mexe.

– Pelo amor de Deus, você acabou de passar na farmácia e não pegou o antialérgico?

– Custa uns trinta dólares – respondo, afastando a mão da minha mãe para massagear seu ombro. – Meus espirros fazem parte de quem eu sou. E se um dia você ficar cega? Como vai saber onde estou?

Ela revira os olhos.

– Se eu ficar cega, é só me levar pro quintal e fazer como naquele filme antigo, O meu melhor companheiro.

Dou um tapinha na cabeça dela.

– Ei, não teve graça.

– A Beth me contou que o Mike foi promovido. Muito impressionante, né?

– Uhum. – Me concentro no nó do ombro dela.

– Talvez nós quatro pudéssemos sair pra jantar e comemorar?

– Com certeza.

Não me incomodo em fazer a vontade dela. Adoro sair com Mike e a mãe dele, e a minha mãe só está tentando ajudar. Ela foi abandonada pelo amor da vida aos 16 anos sem nada para se lembrar dele, além de uma filha que é a cara cuspida do pai. Depois, passou a ser assombrada pela dor do coração partido, desenvolveu uma doença debilitante e incurável e foi tropeçando de um pretendente ruim atrás do outro enquanto criava a filha sozinha. É compreensível que mamãe esteja determinada a me ver desfilar feliz até o altar.

E Mike é um ótimo candidato. Conheço ele a minha vida inteira – a mãe dele, Beth, sempre foi como uma segunda mãe para mim. As duas eram as únicas mães solo da cidade. Então, Mike entendeu a minha vida desde o começo. Ele me viu passar pelo ensino médio com uma mãe apenas dezesseis

anos mais velha do que eu – e significativamente mais bonita. Mesmo hoje, ela é alta e tem um bumbum perfeito, enquanto eu tenho um metro e cinquenta e três de altura e sou reta tanto de frente quanto de costas. Ela tem olhos amendoados de gata, do tipo modelo de passarela, e eu tenho olhos enormes de cervo que faziam os professores do ensino fundamental me chamarem de “Pixar”.

Naquela época, em termos de pretendentes, o Mike era como uma margarida no meio do asfalto. Gentil, prestativo e tão apaixonado por cachorros e feiras de antiguidade quanto eu. No último ano do colégio, aceitei que nós dois éramos um daqueles casais óbvios que só eu ainda não tinha percebido. A gente namorou por um ano, até ele começar a falar em casamento… e aí eu terminei. Foi a vez que minha mãe ficou mais decepcionada comigo na vida.

– Recebi a resposta da seguradora – revela minha mãe.

– Más notícias?

Ela faz cara de quem está considerando os prós e contras, mas eu entendo. São ruins.

Aperto um pouco mais o ombro tenso dela.

– Eles vão cobrir alguma coisa?

– Tecnicamente não, mas…

– Isso é um absurdo. A gente precisa trocar de convênio. Qual é o sentido de fazer estudos clínicos se ninguém pode participar porque é tudo caro pra cacete?

Percebo que estou começando a me exaltar. Willow ergue o olhar do osso, preocupada.

Minha mãe franze a testa para mim também. Mesmo assim, ela continua linda. E tão cansada. Minha pobre mãe.

– Clementine, está tudo bem.

– Não tá, não. Amanhã eu ligo pra eles.

– Já tô começando a me sentir melhor – ela diz, pegando o pote de sorvete com esforço.

– Deixa isso descongelar mais um pouco.

Ela alega se sentir melhor pelo menos uma vez por semana – e já faz mais de dez anos que está doente. No começo, achavam que era anemia. Depois, suspeitaram de artrite, lúpus, câncer – esse foi um período horrível –, até descartarem tantas hipóteses e acabarem presumindo que era fibromialgia.

Uma das piores partes de uma doença invisível como esta é que não dá para confirmar o que ela é, só o que não é. Para alguém como eu, que gosta de resolver problemas de forma racional, é o tipo de coisa que tira o sono. Porque não existe um diagnóstico definitivo, muito menos uma cura. Isso significa que os remédios para aliviar os sintomas – tanto as crises de dor crônica por todo o corpo quanto a fadiga intensa, a insônia e a rigidez nos membros – vivem mudando e parecem ficar mais caros a cada ano. Minha mãe quase não consegue mais trabalhar, então sou grata por trabalhar com um amigo de infância que me deixa sair mais cedo quando preciso levá-la às consultas.

Na TV, Scully tenta entender algo que desafia a lógica. Pelo canto do olho, vejo minha mãe sussurrando a resposta charmosa de Mulder: “Às vezes, a única resposta sensata para um mundo insano é a insanidade”. Ela estende a mão até a minha, os olhos ainda fixos no casal “fica ou não fica”, e eu respondo ao pedido silencioso apertando a mão dela de volta, com carinho. Ela volta a comer o sorvete e, com a boca cheia, comenta com um suspiro sonhador:

– O David Duchovny era tão gato. Não dá pra acreditar que ele é viciado em sexo.

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