Salvador - Bahia - Alto das Pombas | Setembro de 2022
EDITORIAL
Eleição e tradição O Grupo de Mulheres do Alto das Pombas - GRUMAP aproveita a nova edição do seu informativo para convidar a comunidade para fazer reflexões importantes nos meses de setembro e outubro. Enquanto o clima eleitoral tem feito parte da rotina do povo brasileiro com mais efetividade, já que a hora de escolher os representantes se aproxima, setembro também dá espaço para pensar na importância de manter viva a tradição dos carurus como forma de homenagear Cosme e Damião e abre caminhos para pensar formas de cuidar das nossas crianças. Além das eleições para escolha do próximo presidente da República, também nos deparamos com as eleições estaduais, que para nós, baianos, ainda se apresenta com muitas incertezas e sem muitas novidades, mesmo sendo uma disputa entre “direita e esquerda”. De um lado, temos um candidato que representa a família baiana que mais tempo ficou no poder em toda a história, com um discurso de que “tanto faz” escolher entre um candidato outro para para presidente. Esta família deixou para a Bahia uma herança de coronelismo, violência, atraso e dominação. De outro, temos um candidato que representa a continuidade de um governo que não dá a saúde e a educação que o povo merece e quer tirar onda de “democrata” enquanto as mulheres choram a morte de seus filhos e o representante considera cada morte desta como “um gol”. Diante disso, a GRUMAP questiona os caminhos que seguiremos e relembra a frase emblemática da filósofa, Sueli Carneiro, que afirma que entre a esquerda e direita a população negra continua sendo o principal alvo das violências e negações de direitos. Vibramos para que a força da alegria das crianças, mesmo em um cenário difícil e pouco diferente do que já vivemos em outros momentos, possa nos fortalecer e fazer seguir em frente, lembrando que ainda assim, a saída nunca será pela direita.
Eleições e os kits de soluções para "salvar o povo" É setembro, mês que iniciaram as campanhas eleitorais, o Grupo de Mulheres do Alto das Pombas - GRUMAP faz ecoar a afirmação da filósofa Sueli Carneiro: “entre a esquerda e a direita continuo preta!”. Isso, porque acreditamos na Primavera do Poder Popular que estamos construindo com o Bem Viver. O GRUMAP convive nesse momento eleitoral com a pergunta: em quem devemos votar? São mulheres, homens e jovens da comunidade que deixam transparecer, diante do cenário político, a preocupação e insegurança da encruzilhada eleitoral da democracia burguesa. Para responder à pergunta, o GRUMAP olhou para seu espelho e viu na imagem mulheres, negras, feministas e educadoras com a trajetória de 40 anos fazendo a luta política de combate ao racismo, patriarcado e machismo... Também o espelho refletiu as ações em defesa da educação, saúde, emprego e salários, moradia, cultura, mobilidade urbana, defesa da vida da juventude negra, segurança alimentar, direito à água, preservação do meio ambiente, equipamentos públicos, garantia de justiça e tantas outras pautas que perpassam o cotidiano do povo negro na comunidade do Alto das Pombas e na sociedade brasileira. A consciência do feminismo negro que habita nosso Orì (palavra da língua yourubá, que significa cabeça) nos conduz a perceber as armadilhas que os candidatos de direita e esquerda representam com seus projetos políticos racistas, reformistas e neoliberais.
"ENTRE A ESQUERDA E A DIREITA, CONTINUO SENDO PRETA!” SUELI CARNEIRO FILÓSOFA
Nas eleições estaduais, assim como na eleição para presidente, existem candidaturas que não apresentam nada de novo, falam as mesmas coisas que a esquerda e direita falavam há trinta, quarenta anos atrás. Claro, muitos problemas seguem os mesmos, mas só o que essas candidaturas fazem é pegar gente boa, que está na luta, e desviar suas forças para candidaturas que vão disputar um poder que nada pode. Pior: como o fundo partidário é pequeno, terminam as eleições endividados até o pescoço. Alguém vai perguntar: “Por que isso? O GRUMAP não está sendo radical demais? Não temos que escolher alguém para nos governar? Estão querendo que eu perca meu voto?” Só consegue se eleger quem já tem poder vindo de algum lugar. Infelizmente, por trás de cada candidato eleito, existe a exploração e a opressão de muitos. Nas eleições, o “poder do povo” é como um tipo de mágica, um ritual da branquitude, em que o “povo” é chamado para “exercer o poder” a cada dois anos, mas perde-o assim que coloca o voto na urna. São os donos disso tudo quem aparece de dois em dois anos pedindo ao povo que escolha quem, entre os poderosos, terá mais poder do que já tem. Sabemos quem são, e como são, esses donos do poder. É contra essa estratégia da branquitude que o GRUMAP vem ajudando a construir, com suas lutas, o Poder Popular. Só um povo que tenha onde morar, o que comer, como trabalhar, com quem se curar e nada a temer, só um povo assim é forte para criar, juntos, o Bem Viver. Não é nas eleições que o poder é “ocupado” ou “tomado”; ele é construído, dia a dia, nas lutas de nossa comunidade. Ao lado disso, o GRUMAP reconhece que o voto racial aflora na subjetividade coletiva das mulheres negras como instrumento de enfrentamento a tradição brancocêntrica dos partidos de direita e esquerda. Seguimos os passos ancestrais potencializando nossa existência, resistência e sobrevivência, principalmente com encantamento da nova ordem social, o Bem Viver.
Ilustração Yara Santos, para a Nova Escola.