Revista Grãos Brasil - Ed. 118

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Ano XX • nº 118 Fevereiro / Março 2023

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Revista bimestral apoiada pela: F.A.O - Rede Latinoamericana de Prevenção de Perdas de Alimentos -ABRAPOS

As opiniões contidas nas matérias assinadas, correspondem aos seus autores.

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Caros Amigos e Leitores

Com alegria chegamos a vocês com a primeira edição do ano da Grãos Brasil, Da Semente ao Consumo

A produção de grãos não se detêm e nós como elo fundamental entre a produção e a comercialização/industria, devemos estar na altura dos desafios. O Brasil tem continuado com o crescimento, em todo sentido, tanto no volumem, produtividade como na eficiência produtiva. Somos capazes de produzir mais e melhor, grãos e sementes que atendem as necessidades crescentes de todo o mundo.

Esperamos poder seguir por este caminho virtuoso e os produtores, verdadeiros pilares do crescimento, tenham atendidas suas demandas. No setor da pós-colheita e especialmente do acondicionamento e armazenagem, temos muito por melhorar, são necearias novas e modernas infraestruturas, que demandam investimentos e pelo tanto linhas de crédito razoáveis.

Claro que com isso deve-se continuar com o treinamento, atualização e capacitação dos responsáveis do manejo dos grãos Os últimos meses muitas empresas requisitaram treinamentos em diversos temas, como Controle de pragas, aeração, otimização e diminuição de quebras técnicas, sistemas de secagem, desenho de ampliações, etc.

Sempre comentamos que temos 4 possíveis atitudes em nossa especialidade,1) Os que tem problemas e não sabem que tem, por o tanto não fazem nada para melhorar (normalmente a agricultura de subsistência). 2) Os que sabem que tem um problema, mas estão acostumados e não buscam soluções. 3) Os que buscam soluções para seus problemas ou limitantes, estes buscam investir bem, capacitar o pessoal, manter uma boa motivação no time de trabalho e por último 4) Os que não tem problemas, mas desejam trabalhar cada dia melhor, com maior produtividade e segurança. Devemos trabalhar para que nossas empresas, conscientes da necessidade de perfecionar, se encontram no grupo 3 ou 4.

Nesta edição, como sempre prestigio os profissionais da especialidade, de várias partes do mundo nos apresentam informações de utilidade, sobre cacau, transporte de grãos, controle de ratos, tecnologia de aeração, proteção de estruturas, entre outros.

Agradecemos aos nossos assinantes, editorialistas e especialmente as empresas e instituições que apoiam nosso trabalho de mais de 20 anos no Brasil Com afeto

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Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023
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04 EDITORIAL

04 – Proteção de Grãos de Cacau – Hagit Navarro e Shlomo Navarro

08 - Controle de Roedores. Estações de Isca Ignoradas por Roedores – Marcelo Hoyos

12 – Correias Transportadoras Bühler – Najib Hamdoun

14 - Uma Análise Sobre Reposição de Teor de Umidade - Marcos Wendt

18 – 3 Dicas para Evitar Goteiras no Galpão da Sua Fazenda– Hard

20 – Impermiabilização de silos e armazéns – Sandro Mochnacz

22 - A contribuição significativa da manipulação a graneis na cadeia alimentar mundial – Dirk Janssens

25 – Pragas de Grãos Armazenados e Suas Principais Características – José Ronaldo Quirino

35 – Inovação e Eficiência no Monitoramento de Grãos Armazenados Via Sensores de CO2 – Garten

38 – Não só de pão…

39 – UTILÍSIMAS

Críticas e Sugestões: diretoria@graosbrasil.com.br

NOSSOS ANUNCIANTES

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05 SUMÁRIO

Proteção de Grãos de Cacau

Prevenindo a Formação de Ácidos Graxos Livres em Armazenamento Hermético

A prática de produção de grãos de cacau é feita por meio de um processo de fermentação, que favorece a fermentação de leveduras devido às condições anaeróbicas parciais (Schwan e Wheals, 2004). Este processo é necessário para moderar o sabor inicialmente amargo e desenvolver o sabor típico do cacau. Após a fermentação, a infestação dos grãos de cacau começa nas esteiras de secagem e continua no armazenamento. As condições climáticas nos trópicos são caracterizadas por altos níveis de umidade de 70 a 90% H.R. e temperaturas em torno de 30oC, ideais para o desenvolvimento de insetos e bolores de armazenamento nos grãos de cacau.

A contaminação da superfície é uma importante fonte de fungos em grãos de cacau fermentados e secos. De acordo com Pitt e Hocking (1997), as espécies de Aspergillus são os fungos de decomposição predominantes em zonas tropicais e as espécies de Penicillium são encontradas em zonas mais temperadas. As propriedades da lipase fúngica e a capacidade de produção de micotoxinas de fungos isolados de grãos de cacau crus mostraram boas evidências para apoiar suas potenciais habilidades toxigênicas e teor de ácidos graxos livres (FFA) (Guehi et al., 2007). A manteiga de cacau é definida como a gordura obtida dos grãos de cacau que não deve conter mais de 1,75% de AGL (expresso

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 04 CONSERVAÇÃO
Shlomo Navarro Green Storage Ltd. snavarro@013.net Hagit Navarro

em ácido oleico) (FAO/OMS, 1999).

Os besouros de armazenamento são atraídos pelos grãos de cacau e causam danos perfurando os grãos ou alimentando-se do grão (Jonfia-Essien, et al., 2004). Atualmente, alguns métodos são aplicados para obter baixo teor de AGL nos grãos de cacau: armazene os grãos em baixa temperatura (4oC) ou seque-os. O armazenamento hermético forneceu um método de armazenamento bem-sucedido para a proteção de grãos de cacau secos, substituindo fumigantes para controle de insetos e preservação da qualidade (Navarro et al, 2007). O armazenamento hermético é obtido em estruturas plásticas flexíveis especialmente construídas e baseia-se no princípio de gerar uma atmosfera intersticial rica em dióxido de carbono e pobre em oxigênio causada pela respiração de organismos vivos em armazenamento selado.

Este trabalho tem como objetivo estudar os efeitos do armazenamento de amêndoas de cacau com teor de água de 7,0 a 8,0% em condições aeróbias e hermeticamente fechadas sobre o desenvolvimento de AGL nas amêndoas.

Materiais e métodos Conteúdo de água

Foram utilizados grãos de cacau importados de Gana e seus níveis de água foram verificados no início do armazenamento e após 90 e 160 dias de armazenamento usando sensores eletrônicos que medem a atividade da água (Rotronic, Instrument Ltd., Crawley UK) convertida em conteúdo de umidade (úmido base). Os grãos de cacau testados tinham uma umidade relativa de equilíbrio inicial (RHE) de 69% equivalente a um teor de água de 7,2%. Para aumentar o teor de água, calculou-se a quantidade total de água necessária para atingir o teor de água determinado e aplicou-se em pequenas alíquotas sucessivas sobre o feijão espalhado em camada única sobre manta de polietileno. Foi dado tempo para que a água adicionada fosse absorvida, e esse procedimento foi repetido até que a quantidade calculada de água fosse adicionada e absorvida. Após o ajuste da água, essas amostras foram equilibradas por pelo menos 4 semanas a 4o+1oC.

Condições de armazenamento

Os teores de água testados foram de aproximadamente 7,0%, 7,5% e 8,0%. A cada nível de teor de água, cerca de 0,56 kg de amêndoas de cacau foram colocados em potes de vidro de 0,95L de capacidade. O armazenamen-

to aeróbico e hermético em três teores de água foi repetido quatro vezes. Os grãos de cacau foram armazenados em temperatura controlada de 30o±1oC por 90 e 160 dias. Além dos controles mantidos a 30oC, outro conjunto de frascos foi mantido a 4oC em duas repetições.

Métodos de teste

Taxa de respiração de grãos de cacau

A taxa de respiração foi determinada com base no consumo de oxigênio e dióxido de carbono emitido pelos grãos de cacau usando o monitor de oxigênio (Emproco Ltd., HGA11-PB, Israel) equipado com portas de entrada e saída de gás que permitiam a circulação do gás através de um circuito de gás. Sistema de fluxo através de tubos flexíveis conectados aos dois tubos de cobre soldados à tampa da garrafa. A extremidade superior de cada tubo de cobre foi equipada com válvulas bidirecionais tipo T do lado de fora dos vasos localizados entre cada tubo flexível e de cobre. Semelhante à concentração de oxigênio, o dióxido de carbono emitido pelos grãos foi medido usando um analisador de dióxido de carbono Gow-Mac modelo 20-600 usando um detector de condutividade térmica.

Conteúdo AGL

No início do armazenamento, bem como após 90 e 160 dias de armazenamento, os grãos de cacau foram analisados quanto ao teor de AGL de acordo com o método do Bureau Internacional de Cacau, Chocolates e Balas de Açúcar (IOCCC 1996). Neste método, a % AGL foi calculada como % de ácido oleico.

Resultados

As Figuras 1, 2 e 3 mostram as concentrações médias de gás das quatro réplicas refletindo as mudanças na concentração de oxigênio e dióxido de carbono do teor de água de 7%, 7,5% e 8,0% dos grãos. cacau armazenado sob condições herméticas por 90 dias a 30oC , respectivamente. O esgotamento progressivo das concentrações de oxigênio foi acompanhado pelo aumento do dióxido de carbono que evoluiu dos organismos vivos que prevaleceram nos grãos testados. A menor concentração de oxigênio (<0,5%) foi registrada com teor de água de 7,0% após 35 dias, com teor de água de 7,5% após 29 dias e com teor de água de 8,0% após 26 dias de armazenamento e, posteriormente, sem aumento significativo na concentração de

graosbrasil.com.br 05 CONSERVAÇÃO
Figura 1: Alterações na concentração de oxigênio e dióxido de carbono de grãos de cacau com teor de água de 7,0% armazenados em condições herméticas por 160 dias a 30oC. Os resultados são médias de quatro réplicas.

herméticas por 160 dias a 30oC. Os resultados são médias de quatro réplicas.

AGL em condições seladas de 7,0% de teor de água após 90 dias de armazenamento são mais comparáveis aos resultados obtidos quando os grãos de cacau estavam a 4°C em vez dos controles para os quais houve uma redução significativa e aumento acentuado nos níveis de AGL de 0,70% para uma média de 0,95%.

Após 160 dias de armazenamento, os resultados de AGL não diferiram significativamente em relação ao controle, mas com 8,0% de teor de água houve um aumento acentuado no teor de AGL no controle (1,48% de AGL). Devido ao aumento moderado de AGL, e testes adicionais para infestação e grãos quebrados revelaram que os grãos de cacau eram saudáveis e de boa qualidade com uma porcentagem de grãos quebrados inferior a 1%.

Figura 3: Alterações na concentração de oxigênio e dióxido de carbono de grãos de cacau com teor de água de 8% armazenados em condições herméticas por 160 dias a 30oC. Os resultados são médias de quatro réplicas.

oxigênio foi observado. A maior concentração de dióxido de carbono a 7,0%, 7,5% e 8% de teor de água foi de 20,2, 25,3 e 25,8%, respectivamente.

Não houve mudanças significativas na porcentagem de oxigênio e dióxido de carbono do teor de água de 7,0%, 7,5% e 8,0% das amêndoas de cacau armazenadas sob condições aeradas por 160 dias a 30°C. Foram mantidas concentrações próximas a 20% de oxigênio e entre 2,8 e 5,0% de dióxido de carbono.

A Tabela 1 mostra o AGL (% de ácido oleico) de grãos de cacau a 7,0%, 7,5% e 8,0% de teor de água armazenado em condição hermética a 30°C, sob condições aeradas a 30°C e 4°C a 0 d, 90 d e 160 d de armazenamento. Os resultados foram relatados como a média de quatro réplicas e o desvio padrão calculado para cada conjunto. Os resultados da Tabela 1 indicam claramente que os níveis de

Discussão

Dentre os fungos filamentosos potencialmente micotoxigênicos encontrados por Rahmadi et al., (2008) em amostras de amêndoas de cacau, as principais espécies foram Aspergillus flavus, A. niger, A. goingii, A. clavatus, Penicillium citrinum e P. spinolosum Aspergillus spp. requer temperatura mais alta, mas menor atividade de água em comparação com Penicillium spp., e também cresce mais rápido (Hocking, 2006). Embora Penicillium spp. produz esporos mais resistentes a produtos químicos (Hocking, 2006; Pitt, 2006), Guehi et al., (2007) descobriram que o acúmulo de AGL em grãos de cacau crus pode ser atribuído principalmente à presença e ação de Rhizopus oryzae e Absidia corymbifera

Durante o armazenamento, besouros e traças danificam os grãos de cacau secos perfurando-os. Os grãos de cacau são então descascados devido ao seu mecanismo de defesa natural, atraindo larvas de mariposas (Jonfia-Essien, 2004) e permitindo que os fungos penetrem nos grãos. Aumentar os níveis de grãos quebrados e fragmentos em uma remessa pode aumentar significativamente o teor médio de AGL da gordura processada. Quanto maior o teor inicial de AGL dos grãos de cacau crus, ou quanto menor a qualidade dos grãos, maior será o aumento de AGL. Os bolores podem produzir lipase (Wood e Lass, 1985) que, em contato com a manteiga de cacau de grãos de cacau quebrados, libera AGL de triglicerídeos. Guehi et al., (2008) demonstraram que o teor de AGL em grãos de cacau quebrados artificialmente aumentou substancialmente, independentemente da qualidade inicial dos grãos de cacau. Seu baixo teor

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 06 CONSERVAÇÃO
de AGL em grãos de cacau inteiros Figura 2: Alterações na concentração de oxigênio e dióxido de carbono de grãos de cacau com teor de água de 7,5% armazenados em condições
"...O armazenamento hermético forneceu um método de armazenamento bem-sucedido para a proteção de grãos de cacau secos, substituindo fumigantes para controle de insetos e preservação da qualidade (Navarro et al, 2007). "

e saudáveis aumentou de 0,48 para 0,78% e não mostrou nenhuma mudança apreciável ao longo de 12 semanas de armazenamento. Este trabalho foi realizado usando grãos de cacau de alta qualidade importados de Gana que continham uma porcentagem muito baixa de grãos rachados ou quebrados (<1%) e, conseqüentemente, o AGL inicial era de 0,70%. De acordo com as regras de classificação e comércio de amêndoas de cacau (Governo da Índia, 1997), a porcentagem de amêndoas quebradas não deve exceder 3% para qualidade de grau A.

Em trabalhos anteriores usando atmosferas biogeradas de produtos de cacau armazenados para preservação da qualidade e controle de insetos, onde a respiração dos grãos de cacau reduziu a concentração de oxigênio para

<1% e aumentou a concentração de dióxido de carbono em até 23%, nenhum inseto sobreviveu, portanto, a qualidade do cacau feijão foi preservado (Navarro et al, 2007, Jonfia-Essien et al, 2008 a, b).

Em conclusão, o armazenamento de grãos de cacau em estruturas hermeticamente fechadas inibe a atividade de pragas de insetos e o desenvolvimento de fungos; como consequência, o AGL derivado do desenvolvimento da microflora foi inibido. Muito provavelmente, as micotoxinas toxicogênicas também são inibidas, embora isso exija uma investigação mais aprofundada por um período prolongado em estruturas hermeticamente fechadas com uma porcentagem maior de grãos quebrados ou grãos de cacau de baixa qualidade.

Tabela 1: Teor de AGL (% ácido oleico ± desvio padrão) de amêndoas de cacau com teor de água de 7,0%, 7,5% e 8,0% armazenadas em condições herméticas e aeradas a 30° e 40°C no início do armazenamento, após 90 dias e após 160 dias de armazenamento.

07 CONSERVAÇÃO

Controle de Roedores

Estações de Isca Ignoradas por Roedores

As caixas porta iscas são implementos amplamente utilizados, recomendados e utilizados no Manejo Integrado de Roedores em todo o mundo. Compreender seu papel, pontos fortes e limitações permitirá um trabalho mais eficiente no campo. Compartilho com os profissionais técnicos minhas reflexões e comentários com base na experiência de campo e na bibliografia que trata deste importante tema.

Esses implementos foram projetados para:

• evitar que crianças e animais tenham acesso ocasional às iscas;

• permitir a fixação das iscas, prevenindo que acidentalmente se movam para área externa;

• proteger as iscas e prevenir seu deterioramento em decorrência dos efeitos do meio ambiente, tais como chuvas, ventos, calor e entre outros;

• facilitar o mapeamento dos pontos de iscagem para melhor organização e planejo bem como para programas auditáveis;

• monitorar de forma mais simplificada o consumo e reposição das iscas;

• evitar furtos das iscas caso o porta isca ofereça dispositivo de segurança;

• conceder em seu interior um ‘espaço protegido” para o roedor consumir as isca de maneira abrigada. Mas coloco esse ponto em discussão, por dois fatores, o comportamento dos roedores em mover as iscas a suas tocas e/ou abrigo que o considerem mais seguro e a própria neofobia (medo de qualquer coisa nova).

Responsável Técnico de Higiene Ambiental BASF Argentina SA Consultas: ambiental-ar@basf.com

Revisão e correção: Jefferson Andrade BASF Brasil S.A

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 08 CONTROLE DE PRAGAS
Eng. Agr. Marcelo Hoyos

As formulações, formatos e tamanhos comerciais são diversos. Em algumas indústrias são exigidas uma certa resistência a impactos, golpes, quebra e trava de segurança.

Por muitas vezes recomenda-se a fixação das porta iscas ao piso, estabelecendo o que se chama de ponto de iscagem entre outros nomes como, ponto de monitoramento, ponto permanente de envenenamento (PPE) e etc.

Os pontos de iscagem comumente levam adesivos ou placas com inscrições relacionadas às empresas de controle, contendo a o número ou identificação do porta isca, data do monitoramento e legendas alertando “Cuidado Veneno”

Mas, nestas descrições, não é indicado o real papel que os porta iscas desempenham no controle de roedores à campo. Podem-se pensar que os roedores encontrarão e consumirão em seu interior iscas rodenticidas, ou que ficarão presas em placas de colas ou até mesmo que os roedores serão aprisionados e mortos em seu interior. Isso parece ideal, mas sabemos que nem tudo é tão linear.

Na prática tudo se torna mais complexo e aspectos relacionado a caixa porta iscas, o tipo de isca utilizada e sobretudo ao comportamento dos roedores devem ser analisados.

Determinar os pontos de iscagem sistematicamente ao longo das áreas a serem tratadas não nos garante total controle das colônias de roedores que infestam o ambiente infestado em questão. Equivocadamente podemos ter falsos negativos, ou seja, nem sempre o não consumo das iscas dentro das caixas porta iscas é sinônimo de um ambiente controlado, pois muitas vezes, os roedores ao menos o visitaram.

Roedores frente as caixa porta iscas.

Uma pergunta recorrente que os profissionais de controle de pragas nos fazem é: em certos casos os roedores estão ativos, mas não entram nos dispositivos porta iscas.

Nem sempre os roedores entram nos dispositivos porta iscas, mesmo quando bem localizados. A decisão dos roedores de fazê-lo ou não, depende de múltiplos fatores. Os comportamentos dos membros de uma colônia diferem uns dos outros no mesmo ambiente.

Os roedores têm diferentes atividades e papéis para os quais a decisão de entrar em uma caixa porta iscas com

iscas ou placas de colas (com atrativo) pode não ser uma prioridade para eles.

A neofobia a caixas ou até mesos as iscas poderia ser uma das muitas explicações, mas podemos analisar outras relacionadas a hábitos circunstanciais dos roedores nos quais eles investem seu tempo em aspectos que descrevemos a seguir:

• Tempo dedicado à reprodução. Quando as fêmeas entram no cio há um ambiente caótico com brigas e correrias. Os adultos concentram-se na cópula;

• Tempo dedicado a lutas por território ou disputas entre os dominantes da mesma colônia. Nem tudo é harmonia;

• Tempo gasto em tarefas de construção de ninhos, tocas e passagens, que consomem energia;

• Tempo investido na limpeza e manutenção das tocas;

• Competição com outras fontes alimentares. Pode haver alimento suficiente para a colônia e não necessitarem buscar por fontes novas, como as próprias iscas;

• São metódicos e memorizam suas rotas de forrageamento, se o ponto de iscagem não estiver próximo aos seus caminhos pode não haver o interesse ou necessidade de ingressar nas caixas porta iscas;

• Nem todos os indivíduos saem para explorar o ambiente em busca de alimentos, pois há hierarquias e idades diferentes. Roedores jovens, por exemplo, são muito receosos, transitam normalmente são ao redor ou muito próximos fora de seus ninhos;

• Roedores dominantes (como alfas e betas) são normalmente os que podem acessar os pontos de iscagem longe de seus ninhos e de fato, esses representam apenas uma parte da colônia;

• A presença ou medo de predadores. As trilhas e caminhos por eles marcados são locais por vezes expostos a predadores e os roedores preferem correr por eles com velocidade suficiente até chegarem ao abrigo transitório, caverna de passagem, toca ou local de alimentação. Os roedores se movem sabendo que correm o risco de serem predados.

• Os roedores exploram o ambiente sabendo que correm riscos. Suas trilhas e caminhos marcadas por

graosbrasil.com.br 09 CONTROLE DE PRAGAS

eles são muitas vezes ambientes expostos a predadores, portanto, por muitas vezes preferem correr em altas velocidades entre os pontos de alimentação e seus ninhos ou abrigos, o que impedi exploração a fontes novas de alimentos.

Outros aspectos relacionados a nossas atividades de controle.

• A caixa porta iscas é um elemento geralmente feito de material plástico que pode perturbar a arquitetura do ambiente colonizado. Isso pode gerar neofobia que pode ser temporária ou até mesmo permanente;

• Que elementos ou tipo de iscas está dentro que poderia encorajar um roedor a entrar nas caixas porta iscas? Bloco rodenticida ou apenas uma placa de cola?;

• A relativa abundância de alimentos disponíveis em relação à presença e qualidade nutricional das iscas no porta iscas;

• Quantos blocos de rodenticidas (dose por ponto de iscagem) são colocados dentro dos porta iscas. Quanto mais blocos houver, maior será o interesse do roedor em entrar;

• Possível rejeição devido a caixas de iscas contaminadas com odores estranhos à colônia (por exemplo, cheiro de inseticidas, combustível, etc.);

• A localização das caixas porta iscas estão de acordo com locais estratégicos ou está distante deles? Isso é frequentemente visto em programas de controle de Rattus rattus, onde as caixas são colocadas apenas no nível do solo e não contemplam iscagens em partes altas, por onde essa espécie pode frequentar;

• Aspectos sobre a qualidade da isca rodenticida utilizada é outro ponto que não é considerado e se expressa em sua palatabilidade/atratividade e propriedades nutricional da isca, bem como seu estado (deterioração). Existem muitos aspectos que devem ser considerados ao escolher uma isca de qualidade;

• As aberturas de acesso à caixa de iscas podem ser pequenas. O tamanho das aberturas nos porta iscas, se forem muito pequenas, podem limitar a entrada dos roedores;

• As iscagens fixas em perímetros (pontos mais tradicionais) nem sempre abrangem os locais de atividades dos roedores. Em “fases de ataque” (quando estamos iniciando o controle ou há um pico de in-

festação) esses sistema de iscagem fixas em perímetros não são tão funcionais, pois não permitem a flexibilização ou adaptação de pontos de iscagem mais efetivos, conforme o programa de controle e diagnósticos aferidos anteriormente que levam em consideração o comportamento e como os roedores exploram o ambiente.

Para que um roedor seja controlado após consumir uma isca raticida localizada dentro de uma caixa porta iscas, uma cadeia de decisões prévias deve ser estabelecida:

1. Que o roedor encontre um dispositivo porta iscas em sua área de confiança ou segurança;

2. Que acesse ao interior do porta iscas sem inconvenientes;

3. Que ao fazer o contato com a isca permita manipulá-la de forma segura;

4. Que o roedor consuma a isca de forma confortável e a deguste sem rejeição;

5. Que por fim, consumam minimamente a dose letal da isca utilizada. A dose letal dos produtos comerciais pode variar aproximadamente de 1,3g a 9g por roedor. Ou seja, a dose letal muda dependendo do ingrediente ativo anticoagulante e de sua quantidade presente na formulação, além da espécie alvo a ser controlada. Se o roedor não chegar a consumir a dose letal estabelecida pelo seu peso corporal, o roedor não será intoxicado.

Sabemos que esse processo linear é afetado por muitos fatores. Sabemos que as iscas rodenticidas comerciais têm diferentes qualidades e conteúdos nutricionais e isso define claramente o interesse: neofilia/consumo, ou neofobia/rejeição as iscas.

Muitos blocos são feitos com uma base com alto teor de parafina e este produto não é um alimento palatável e nutritivo para o roedor. Não é o caso dos blocos prensados onde 99,9% do bloco é alimento nutritivo à base de grãos e farinhas, como apresentado no rodenticida Storm® com formulação exclusiva.

Resumo

Em resumo, acredito que antes de analisar a questão das caixas porta iscas, devemos começar com um bom diagnóstico prévio a cada visita, pois esta é a base de qualquer programa profissional de manejo integrado. Dessa forma, será possível determinar a escolha e o uso correto dos porta iscas, escolher o melhor rodenticida, definir a localização estratégica de acordo com as espécies presentes e analisar o risco potencial da infestação considerando o comportamento dos roedores dominantes e a colônia como um todo.

O diagnóstico correto permite, entre outras coisas, como, definir o código de comportamento específico para cada colônia dentro da espécie e entre espécies. O conhecimento desses padrões é a essência do programa de controle. Sem diagnóstico não há programa de controle bem sucedido.

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 10 CONTROLE DE PRAGAS
"Colocar caixas de iscas sistematicamente em um ambiente não nos dá garantia total de controle das colônias de roedores que se instalam naquela propriedade. "

Correias Transportadoras Bühler

Excelência em Soluções para Transporte de Grãos

Tecnologia e know-how técnico contribuem para a melhoria de desempenho e performance operacional com equipamentos para portos.

Com dimensões continentais e uma produção agrícola considerada referência no mundo todo, o Brasil tem uma longa história quando o assunto é o transporte e o manejo de grãos. E para as indústrias que atuam no segmento, é inegável a importância — e urgência — do desenvolvimento e da implementação de tecnologias e soluções integradas capazes de otimizar o desempenho e reduzir desperdícios durante o transporte de granéis sem comprometer a qualidade, desde a produção até o consumo.

É por isso que a Bühler aplicou todo o seu conhecimento técnico na área de transporte de grãos para criar um portfólio completo de correias transportadoras. A tecnologia das correias Bühler permite manter os mais elevados padrões de excelência operacional, aumentando a eficiência e o cuidado no transporte dos grãos, diminuindo perdas e assegurando ciclos de trabalho ainda mais longos e completos.

Tecnologias de transporte têm impacto direto na qualidade final

O nível da tecnologia empregada em correias transportadoras está direta-

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 12 TECNOLOGIA
Najib Hamdoun Gerente de Vendas najib.hamdoun@buhlergroup.com www.buhlergroup.com

mente ligado à melhoria de desempenho, performance e disponibilidade operacional que os equipamentos oferecem. Não por acaso, esse é, hoje, um critério de suma importância para a rentabilidade de qualquer operação — em especial para os processos de carga, descarga e movimentação para portos e terminais graneleiros.

Isso porque essas soluções de transporte para grãos devem ser precisas, resistentes e delicadas durante todo o ciclo operacional, evitando a quebra dos grãos e reduzindo os índices de desperdício durante a movimentação. Nesse contexto, a Bühler apresenta em seu portfólio de correias transportadoras uma tecnologia projetada especificamente para grande durabilidade, com componentes de alta qualidade para assegurar uma vida útil longa.

Além disso, outra característica importante das correias transportadoras da Bühler é que elas foram desenvolvidas para a aplicação em portos e terminais de carga para navios. Uma solução que oferece robustez e alta capacidade de transporte por longas distâncias, com total integração para silos e instalações portuárias.

Tudo isso com especificações que ajudam a garantir a segurança da operação. Afinal, as transportadoras Bühler contam com uma interface de controle prática, automatizada e intuitiva, para oferecer mais segurança aos operadores.

Vale destacar ainda que nossas soluções para transporte e manuseio de grãos em portos são desenvolvidas em conformidade com normas globais de responsabilidade ecológica. Na prática, isso significa o mínimo de emissão de partículas e pó, minimizando o impacto ambiental nos portos e nas comunidades ao redor.

Entenda as principais vantagens das correias transportadoras da Bühler

São diferentes opções de equipamentos e ampla gama de recursos opcionais modulares, que oferecem as soluções ideais para atender às suas necessidades específicas. Assim, quando falamos em tecnologia Bühler para o transporte de grãos, as soluções chegam até o mercado portuário em dois modelos:

• Correia Transportadora Enclausurada (LBIA): Projetada para atender às necessidades do mercado atual, oferecendo um manuseio de grãos silencioso, ágil e livre de poeira, oferecendo duas configurações de suporte à correia, com carretel ou com roletes.

• Transportador de Correia Convencional (LBAB): Equipamento projetado para funcionar com ampla variedade de capacidades, tudo no conhecido design aberto clássico, como uma solução econômica e eficiente, pode ser ofertado com cobertura para ambientes abertos.

Construídas para transporte cuidadoso dos grãos Sabemos que grãos sensíveis e abrasivos exigem muito cuidado. Sendo mais suaves do que outros equipamentos mecânicos, as correias transportadoras Bühler criam menos atrito e praticamente não causam quebras. O grão corre apenas na esteira e, por isso, os resíduos de produtos causados pelo contato com outros componentes são eliminados.

Instalação simplificada, rápida

e segura

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Além disso, clientes e parceiros Bühler ainda contam com a mais ampla gama de equipamentos e componentes de reposição do mercado, disponíveis ao alcance de um clique e prontos para atender necessidades customizadas nas mais variadas aplicações e condições de trabalho, com robustez e eficiência.

Por isso, converse com nosso especialista, conheça nossas soluções e descubra como podemos, juntos, criar um futuro melhor!

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Uma Análise Sobre Reposição de Teor de Umidade

Conta o relato da Sagrada Escritura que em certa ocasião São Pedro questiona o Cristo acerca do número de vezes que se deveria perdoar algum ofensor reincidente, se sete vezes seria satisfatório, ao que Jesus lhe responde prontamente que não apenas sete, mas setenta vezes sete, apontando assim para um padrão de virtude e piedade extremamente elevado, de modo que deixa o apóstolo perplexo com a resposta.

O assunto que pretendo abordar nesta edição não tem qualquer relação com teologia, embora o diálogo acima me faça lembrar de outra afirmativa que já ouvi inúmeras vezes, porém envolvendo teor de umidade de grãos.

Diz a lenda que umedecer os grãos depois de secos é sete vezes mais difícil do que secá-los. Quem fez a conta, por horas não tenho a menor ideia de quem seja, no entanto afirmo que, não apenas sete, mas seguramente “setenta vezes sete”.

Trocadilhos à parte, cabe entender alguns pontos básicos envolvendo o tema de modo a evitar algumas conclusões e expectativas por vezes irrealizáveis na prática.

Em primeiro lugar, devemos ter em mente algumas questões sobre o comportamento higroscópico dos grãos.

Por serem higroscópicos, os grãos buscam constantemente uma relação de

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Marcos Wendt Instrutor do Curso Excelência em Conservação de Grãos Linkedin: marcoswendt

equilíbrio com o ambiente à sua volta, de modo a encontrarem uma condição em que a pressão de vapor interna encontre igualdade com a pressão externa.

Uma vez encontrada essa razão dizemos que os grãos estão em equilíbrio higroscópico com o ambiente, no nosso caso o ar intersticial da massa de grãos.

Essa razão de equilíbrio por sua vez é diferente para cada tipo de grão, ou seja: para uma mesma condição de temperatura e umidade relativa ambiente, grãos diferentes encontram razões de equilíbrio diferentes.

Para uma umidade relativa ambiente de 75% grãos de soja, milho e trigo, apresentam teores de umidade de equilíbrio de 14%, 15% e 16% respectivamente.

Devemos considerar, no entanto, que o alcance desse equilíbrio não ocorre de maneira instantânea.

São necessários vários dias, as vezes semanas, para que os grãos encontrem essa razão de equilíbrio de forma plena.

Isso pode ficar mais claro no gráfico a seguir (figura 01), onde podemos ver a evolução do teor de umidade quando em dessorção (grãos em processo de secagem).

No gráfico os grãos (de trigo) partem de um teor de umidade inicial de 22% e temperatura estabilizada em 22,5°C sendo submetidos à 03 condições diferentes de umidade relativa, 35%, 60% e 80%.

Podemos perceber, analisando o gráfico (figura 01), uma queda acentuada no teor de umidade dos grãos nos primeiros 03 dias. Após o terceiro dia a queda de teor de umidade diminui e inicia-se um processo de “ajuste fino” dos mesmos à condição ambiente.

Podemos perceber que os grãos levam cerca de 10 a 15 dias para atingirem o equilíbrio higroscópico.

Vale frisar também que o ajuste se torna mais lento à medida que os grãos estejam mais próximos de atingirem o ponto de equilíbrio.

Podemos ver, observando o gráfico (figura 02), que os grãos com 12% de teor de umidade levam em torno de 15 dias para alcançar teor de umidade de equilíbrio de 12,5% para umidade relativa de 60% (ver curva vermelha do gráfico).

Para uma análise mais segura sobre o tema, entretanto, é necessário ainda levarmos em conta outro fenômeno que atinge os grãos, a sorção.

Devido sua característica higroscópica os grãos tendem a perder (dessorção) ou absorver (adsorção) água em forma de vapor do ambiente.

No entanto, quando os grãos perdem umidade (dessorção) acabam passando por algumas modificações em sua estrutura, de modo que os espaços porosos que continham água acabam se contraindo. Com isso suas relações de equilíbrio higroscópico acabam sendo alteradas, pois perdem a capacidade de repor a mesma quantia de água que tinham sob a mesma umidade relativa ambiente. Essa diferença no teor de umidade de equilíbrio dos grãos quando em dessorção ou adsorção chamamos de histerese. Veja o gráfico a seguir (figura 03) onde podemos visualizar esse fenômeno para uma melhor compreensão. Como podemos perceber analisando o gráfico, para uma umidade relativa ambiente “X” os grãos encontram diferentes teores de umidade para dessorção (A) e adsorção (B).

Um movimento semelhante ocorre quando temos uma situação de umedecimento dos grãos (adsorção), conforme podemos observar no gráfico da figura 02 onde temos novamente grãos de trigo, agora partindo de um teor de umidade próximo de zero, novamente com temperatura estabilizada em 22,5°C em três valores distintos de umidade relativa, 35%, 60% e 80%.

Observando o gráfico podemos notar novamente um movimento rápido nos primeiros 04 dias e depois uma estabilização sendo alcançada em torno de 15 dias.

Podemos perceber também que, para recuperar o teor de umidade em adsorção (B), de forma a buscar equivalência com o teor em dessorção (A), necessitamos uma umidade relativa ambiente “X+”. Ou seja: uma vez que os grãos foram secos, fazer a reposição do teor de umidade requer uma umidade relativa de equilíbrio consideravelmente mais alta e, como vimos no gráfico da figura 02, os grãos necessitam ficar expostos à essa condição por vários dias.

A seguir temos uma tabela (figura 04), onde podemos ver a diferença de teor de umidade em adsorção e dessorção para grãos de arroz em casca com temperatura estabilizada em 25°C.

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Figura 1: Tempo em dias para equilíbrio em dessorção. Figura 2: Tempo em dias para equilíbrio em adsorção.

Podemos perceber que, para uma umidade relativa de 70%, por exemplo, encontramos teores de umidade de 11,8% e 13,4% para adsorção e dessorção, respectivamente; uma diferença de 1,6%.

Observando os dados da tabela e as curvas do gráfico podemos facilmente chegar a uma conclusão simples: repor teor de umidade requer umidades relativas mais elevadas.

Vejamos ainda outro ponto interessante: se compararmos teores de umidade (figura 04) com valores semelhantes em adsorção e dessorção encontraremos umidade relativa de equilíbrio com 10% de diferença entre ambos, confirmando o que demonstra o gráfico da figura 03. Veja:

Dessorção: teor de umidade 13,4% - UR equilíbrio 70%

Adsorção: teor de umidade 13,6% - UR equilíbrio 80%

Dito isto, considerando a ideia de “devolver” umidade aos grãos, devemos avaliar também algumas questões quanto à psicrometria e as alterações nas caraterísticas do ar ocorridas durante a realização de aeração, considerando este ser o meio utilizado para insuflar ar na massa visando a manipulação das condições de temperatura e umidade intersticiais.

Para que a aeração seja feita de forma correta e preservado o teor de umidade dos grãos sem provocar secagem, devemos considerar a perda de umidade, devido o acréscimo de temperatura, a qual ocorre no sistema de aeração devido à pressão, atrito e turbilhonamento do ar no interior de ventiladores e canalizações. Assim, é de extrema importância que essas correções sejam feitas.

Fazendo uma ligeira análise na Carta Psicrométrica (figura 05) podemos perceber que, com elevação de 03°C na temperatura do ar ambiente (valor geralmente considerado para esse cálculo na maioria das literaturas técnicas) temos uma quebra de umidade relativa próxima à 10%.

Observando o gráfico (figura 05) temos temperatura de Bulbo Seco em 25°C (linha vermelha) com umidade relativa em 70% (curva verde).

Elevando a temperatura de bulbo seco em 03°C (linha laranja) vamos encontrar umidade relativa próxima a 60% (curva magenta), uma queda de cerca de 10%.

Assim, para obtermos (no caso da soja, por exemplo) um teor de umidade de equilíbrio de 14% (Umidade relativa de equilíbrio de 75%) em condições normais iremos necessitar uma umidade relativa ambiente próxima a 85% para aeração, considerada a perda ocorrida.

Finalmente, visto isso, considerando que por alguma razão promovemos secagem excessiva na massa de grãos e pretendemos então recuperar o teor de umidade, devemos levar alguns fatores em conta:

1. Necessitamos umidade relativa de equilíbrio mais alta para repor umidade dos grãos, seguramente na casa de +10%;

2. Necessitamos considerar a perda de umidade no sistema de aeração, portanto devemos acrescer ainda +10% de umidade relativa;

3. Devemos considerar submeter a massa de grãos por vários dias, talvez semanas, em condições de alta umidade relativa para buscar essa recuperação de teor de umidade, o que constitui um risco elevado para a conservação.

Resumindo, se para conservar os grãos em um teor de umidade adequado tínhamos necessidade de umidade relativa de equilíbrio na massa de grãos na casa de 75%, para recuperar o teor de umidade após secagem excessiva teremos necessidade de ar ambiente com umidade relativa próxima ou acima de 90% (75%+10%+10%=95%, um acréscimo de +20%), ou seja:

75% - umidade relativa de equilíbrio em dessorção

10% - acréscimo para compensar a adsorção

+10% - compensação devido perda no sistema de aeração 95% - Umidade relativa ambiente total para aeração

Como podemos verificar em várias literaturas técnicas, é dito que os grãos absorvem água mais rapidamente quando sujeitos à umidade relativa acima de 70-75%. Nota-se, no entanto, que tal condição na massa de grãos é bastante difícil de ser obtida por meio de aeração, visto que nossas médias máximas de umidade relativa dificilmente ultrapassam 85%, exceto em caso de ocorrência de chuva.

Assim, contabilizadas as perdas de umidade ocorridas no sistema de aeração, insuflar ar na massa de grãos com umidade relativa acima de 70% é bastante desafiador, considerando nosso clima.

Além da limitação climática, o risco envolvido é elevado, visto nossas temperaturas médias de armazenagem

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Figura 3: Isotermas da histerese Figura 4: Teor de umidade em adsorção e dessorção

serem consideravelmente altas (entre 2427°C em média), o que poderia facilmente contribuir para o rápido desenvolvimento de fungos e deterioração.

Talvez venha daí a afirmação que diz ser sete vezes mais difícil repor umidade nos grãos do que tirar.

Se é esta a origem da colocação, não sei, mas diante dos dados apresentados, acredito que o leitor concorde que estamos mais para setenta vezes sete, praticamente uma Missão Impossível.

Observando os gráficos aqui apresentados, podemos ver que a operação, além de alto grau de dificuldade, possui também um enorme potencial para provocar efeitos extremamente prejudiciais para a massa de grãos.

Podemos afirmar sem grandes riscos de errar que tal operação, ainda que milagrosamente encontre viabilidade operacional, é sinônimo de perdas e prejuízos potenciais.

Visto isso, cabe atenção ao manejo da aeração, fazendo-se as devidas correções de quebra de umidade relativa de modo a evitar secagem excessiva para que, na hora de expedir os grãos, não necessite recorrer à métodos mirabolantes (quem lê entenda) para remediar as perdas.

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Figura 5: Carta psicrométrica

Dicas para Evitar Goteiras no Galpão da Sua Fazenda 3

No agronegócio, tornou-se comum o uso de estruturas metálicas para abrigar maquinários modernos e de alto valor. Mas, para garantir que esses equipamentos não serão danificados por alguma goteira, é extremamente importante investir nos produtos certos para a cobertura metálica. Pensando nisso, reunimos os três principais pontos que você deve prestar atenção durante a construção ou reforma do telhado do seu galpão.

Invista na vedação

Você sabe que ponto do telhado metálico está mais suscetível a goteiras? Muitos acreditam que é no parafuso, outros nas sobreposições de telhas, há quem aposte nas passagens de tubulações e terá quem dirá que é em locais como rufos e calhas. Sabe o que todas essas respostas têm em comum? Todas são interferências na cobertura. A verdade é que quanto mais interferências, maior a chance de infiltrações. Por isso, é extremamente importante investir na vedação dessas áreas com produtos de qualidade.

Para vedar as sobreposições de telhas, o ideal é usar uma solução como a Fita Tacky-Tape®. Como é aplicada entre as telhas, este produto age como uma barreira física que impede o empoçamento entre as chapas em casos de chuva com vento ou por causa do efeito de capilaridade, comum em telhados pouco inclinados.

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Entre em contato, leia o QrCode acima!

Como você já sabe, calhas e rufos também precisam de vedação e, neste caso, o recomendado é utilizar um selante de alta durabilidade e resistência. O Selante MS 435 Telhado, por exemplo, conta com a maior durabilidade do mercado e é extremamente resistente às ações do tempo e clima. Além da sua aderência em concreto e metal, é um dos únicos produtos do mercado que adere ao galvalume.

As passagens de tubulações precisam de uma solução de alta tecnologia como a Flange Master Flash, que envolve a base dos tubos e elimina a possibilidade de infiltrações nesses pontos. Quando comparado ao uso de retalhos metálicos para vedar esses locais, a aplicação da Master Flash é muito mais ágil e fácil, além de garantir a maior durabilidade do mercado.

Sobre a prevenção de infiltrações nos parafusos, vamos falar com mais detalhes a seguir. Continue a leitura!

Escolha corretamente os parafusos

Quem não investe tempo em escolher o parafuso certo para a sua cobertura metálica, provavelmente não demorará a sofrer com as goteiras. Afinal, um fixador inadequado ou de baixa qualidade pode ser o início da corrosão no telhado, que colocará em risco os itens estocados ali.

Dessa forma, escolha o parafuso conforme o ambiente em que ele será aplicado, garantindo que o item tenha o revestimento com a resistência necessária. Para áreas rurais, que normalmente tem um índice baixo de corrosão, recomenda-se o uso de parafusos da linha Durs Ecoseal, que têm a maior durabilidade do mercado devido ao seu exclusivo revestimento Ecoseal®.

Esses itens tem uma bitola com diâmetro maior, que proporciona uma laminação de rosca completa e garante as cargas de arrancamento necessárias para aplicação.

Além do revestimento, preste atenção no design do parafuso. Os fixadores da linha Durs contam com arruela EPDM com 97% de pureza, o que diminui as chances do rompimento da arruela e o surgimento de problemas nesse ponto. Essa arruela é alojada perfeitamente na cabeça com flange de rebaixo profundo, dessa forma absorvendo até 10° de inclinação sem risco de vazamento.

E se seus parafusos precisam ser trocados, o portfólio do Grupo Hard também contempla fixadores de reparo.

Conte com parceiros especialistas

Tão importante quanto escolher corretamente os produtos que serão utilizados, é contar com uma equipe capacitada para efetuar o serviço corretamente. Afinal, nem mesmo a melhor solução terá um bom desempenho se aplicada de forma errada, não é mesmo?

Também é extremamente importante contar com fornecedores comprometidos com a qualidade, como é o caso do Grupo Hard. Seu portfólio de produtos premium cumpre normas de qualidade nacionais e internacionais. E, para levar a melhor solução até você, tem um laboratório completo para certificar a qualidade dos produtos, além de oferecer todo o suporte técnico necessário com uma equipe especializada.

Quer ter essa qualidade no seu galpão ou silo? Ligue agora mesmo para (47) 40097200.

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Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 20 INFORME EMPRESARIAL
graosbrasil.com.br 21 INFORME EMPRESARIAL

A contribuição significativa da manipulação a graneis na cadeia alimentar mundial

O crescimento e distribuição de trigo, milho e soja foi optimizado , resultando na sua utilização generalizada como matéria-prima na produção de alimentos em todo o mundo. O trigo, em particular, tornou-se cada vez mais popular como ingrediente base em vários artigos alimentares (tais como pão, bolachas, bolachas, massas e macarrão, ...) devido à sua versatilidade, vida de prateleira, e procura de fast food. Países como o Bangladesh, Taiwan e as Filipinas tornaram-se importantes importadores de trigo para satisfazer as necessidades das suas populações em rápido crescimento.

A indústria de moagem e os seus desafios

A indústria de moagem tem vindo a acompanhar estas tendências, com grupos de moagem a investirem em novos moinhos de farinha a nível mundial para tirar partido da crescente procura de produtos à base de trigo. A África Subsaariana, que já foi um importador significativo de farinha, é agora um grande importador de trigo, com grandes moinhos capazes de processar até 5000-10.000 t por dia, tornando-se cada vez mais comuns. Com populações em rápido cres-

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Dirk Janssens da VIGAN, Bélgica, destaca o papel vital desempenhado pelo manuseamento agribulk na cadeia de abastecimento alimentar. Dirk Janssens Vigan infor@vigan.com

cimento em países como a Nigéria e a Etiópia, é crucial que a indústria de moagem disponha das infra-estruturas necessárias para satisfazer a procura. Para o conseguir, as operações de moagem devem ser em grande escala e estrategicamente localizadas para tirar partido das economias de escala e para aumentar o poder de compra. As organizações de moagem levaram as suas operações para o nível seguinte, estabelecendo as suas próprias empresas e navios de comercialização de trigo. Estes navios, tais como o Panamax, têm a capacidade de transportar 60.000 toneladas de trigo. Para assegurar a qualidade do seu stock, estes grupos de moagem adquirem estrategicamente o trigo e armazenam-no cuidadosamente. Este é o estado da indústria de moagem em 2023, com um forte enfoque na satisfação das exigências dos consumidores.

Próximas tendências

No futuro, as novas técnicas agrícolas, a genética e as alterações climáticas são susceptíveis de trazer novos actores para a indústria. A cadeia logística sofreu alterações significativas, com embarcações de maiores dimensões, canais alargados, e rios e portos dragados a acomodar a procura crescente. A recente pandemia da COVID-19 destacou os estrangulamentos na cadeia, tais como a fiabilidade do equipamento e os custos de manutenção, tornando os potenciais clientes mais cautelosos quanto às suas compras de equipamento logístico. A manipulação do agribulk está a tornar-se cada vez mais complexa devido a normas de qualidade, regulamentos de segurança alimentar e preocupações de contaminação. Para minimizar estes riscos, toda a cadeia, desde a exploração agrícola até à mesa, está a evoluir para garantir o manuseamento seguro e eficiente do agribulk.

Os avanços na tecnologia levaram a transformações notáveis em várias técnicas utilizadas na indústria. Por exemplo, carregar, transportar, elevar, e descarregar. Estes processos têm sofrido melhorias substanciais nos últimos tempos.

Técnicas de carregamento e descarregamento ecológicas

Outra tendência é a proximidade de áreas industriais e urbanas, levando a uma maior preocupação com a poluição atmosférica, poeira e ruído. Os carregadores e descarregadores devem não só ser fiáveis, eficientes em termos energéticos, mas também limpos e silenciosos para satisfazer os elevados padrões estabelecidos pelas fábricas de alimentos para consumo humano e animal. Devido à actual crise energética e aos limitados recursos fósseis, o equipamento energeticamente eficiente é também muito procurado. Os carregadores e descarregadores devem ser capazes de manusear diferentes tamanhos de embarcações e cargas e ser de fácil utilização, seguros, sem pó, e silenciosos. .

A crise energética e os esforços globais para reduzir as emissões de carbono colocaram as pelotas de madeira, uma solução de economia circular, no centro das atenções. Tanto indivíduos como empresas estão a recorrer a pellets de madeira para cumprir as suas responsabilidades ambientais, mantendo os custos sob controlo. As centrais eléctricas e os produtores de energia estão a modernizar-se com inovações de ponta, incluindo pellets de madeira, para se manterem à frente da curva.

A filosofia de Vigan

O manejo de Agribulk é a actividade principal da VIGAN Com experiência na manipulação de grandes volumes de produtos, os descarregadores pneumáticos da empresa são conhecidos como uma solução conveniente e eficiente para descarregar pellets de madeira, com menos ruptura de material e quase nenhuma emissão de pó.

A utilização de filtros e compressores eficientes, sistemas de recolha de poeira, materiais à prova de som em torno de motores e sistemas de tubagem, e design inteligente (optimização do isolamento através da concentração, tanto quanto possível, de peças produtoras de ruído) fazem todos parte da engenharia mecânica. trouxe uma dimensão adicional para 5 a 10 anos nos últimos anos. Poder-se-ia pensar que os navios seriam fáceis de carregar de acordo com as famosas leis da gravidade, mas é um pouco mais complicado. Carregar navios (incluindo camiões, comboios, silos e tremonhas) pode criar grandes quantidades de poeira. Num sistema de tremonha fechada, isto pode ser facilmente controlado fechando a estrutura e utilizando um filtro para expelir o ar, mas não o pó. Podem ser utilizadas câmaras de ar especiais ou outros tipos de válvulas especiais para carregar camiões e comboios empoeirados por baixo. Nos navios, os carregadores devem proporcionar uma manobrabilidade 3D para encher correctamente as escotilhas. Assim, é possível utilizar pórticos móveis, anéis giratórios e lançadores. Se o pó for a sua principal preocupação, recomenda-se um compartimento de carga coaxial. A pressão negativa é criada por um tubo de carga exterior coaxial sob a aba que estabelece contacto entre a borda do porão de carga e a carga na escotilha. O pó deslocado é recolhido e continuamente redistribuído no fluxo do produto. A carga pode ser menos ruidosa do que a carga e descarga pneumática. Ainda as-

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sim, pode ser utilizado um certo isolamento para silenciar motores e certas partes móveis. .

Com mais de 50 anos de experiência em carga e descarga de granéis agrícolas, VIGAN segue uma filosofia semelhante. A empresa conta com uma tecnologia fiável e robusta. O serviço ao cliente da VIGAN está também totalmente integrado na venda de peças sobressalentes. É uma filosofia que parte da concepção porque queremos fornecer soluções flexíveis aos nossos clientes. Isto é conseguido através da selecção de marcas fortes e bem conhecidas de terceiros com fortes redes globais de vendas e serviços que trabalham de perto com os clientes antes e depois da venda de equipamento. Com uma vida útil de 30 anos de máquinas, não é surpresa que a tecnologia tenha avançado nesse tempo. Por conseguinte, a VIGAN mantém as suas máquinas de acordo com os padrões da indústria e esforça-se por satisfazer os clientes existentes, em vez de vender necessariamente novas máquinas aos clientes existentes. Evidentemente, a qualidade e o controle de todo o processo de fabrica é o foco da empresa. Na VIGAN, tudo é fabricado e pré-montado na Bélgica, em Nivelles (cerca de 30 km a sul de Bruxelas, no coração da União Europeia). Todas as actividades têm lugar no local de produção de 12.000 m².

Vendas, engenharia, fabrica (processos completos de conformação e corte de chapas, soldadura, chapeamento, desenhos eléctricos e instalação), controle de qualidade,

pré-montagem e serviço ao cliente. Este processo totalmente interno assegura uma troca de informação óptima entre diferentes equipos e permite um controle preciso e eficiente de todo o processo de fabrico da máquina. Esta é a chave para fornecer aos nossos clientes as máquinas mais personalizadas, adequadas e fiáveis.

Conclusão

Embora a história recente tenha levado a VIGAN a prestar mais atenção a certos aspectos do manuseamento de material logístico e equipamento pneumático, isto não é novidade. À medida que o mundo regressa lentamente ao "normal", a pandemia COVID-19 e o conflito entre a Rússia e a Ucrânia provocaram um repensar.

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TECNOLOGIA

Pragas de Grãos Armazenados e Suas Principais Características

Os principais insetos de grãos e subprodutos armazenados pertencem à ordem Coleoptera, pequenos gorgulhos, e à ordem Lepidoptera, mariposas ou traças. Os gorgulhos, também conhecidos como carunchos, são muito resistentes, o que lhes permitem o movimento pelos reduzidos espaços entre os grãos, inclusive nas grandes profundidades dos silos e graneleiros, onde os espaços são muito comprimidos. Os insetos desta ordem apresentam o primeiro par de asas muito resistentes (élitros), que permite sua movimentação e sobrevivência em grandes profundidades da massa de grãos. O tamanho dos besouros é função do tamanho do grão e do valor nutritivo do substrato. As mariposas são frágeis e, em geral, permanecem na superfície da massa de grãos, onde colocam seus ovos, causando assim, menores prejuízos que os gorgulhos (Tabela 1) (Pacheco & Paula, 1995; Puzzi, 2000; Lorini, 2002a; Lorini, 2006).

Os insetos que vivem nos grãos armazenados apresentam características para adaptação em ambientes que apresentam uma estrutura porosa constituída pelo próprio grão e espaços intergranular (Faroni & Silva, 2000). Outra característica importante daspragas dos grãos armazenados é a adaptação a dietas à base de materiais mais secos.

Muitas delas têm estruturas que lhe permitem viver em condições de baixa disponibilidade de água. Em geral, os insetos de grãos armazenados possuem

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José Ronaldo Quirino

características próprias como elevado potencial biótico, polifagia e infestação cruzada (Pacheco & Paula, 1995; Gallo et al., 2002; Lorini, 2002).

Os insetos que atacam produtos armazenados apresentam alta fecundidade e elevado número de gerações por ano. Uma pequena infestação inicial pode atingir densidades populacionais elevadas em curto período, o que pode, em poucos meses, danificar grandes quantidades de produtos. De acordo com Puzzi (2000), se analisada, numa postura normal de uma fêmea (50 ovos) e considerando que apenas 20 ovos são viáveis devido aos fatores adversos, o número de indivíduos, no final de seis gerações, atingiria dois milhões de indivíduos, caso tenham disponibilidade de alimentos.

Os insetos que atacam produtos armazenados alimentam-se de diversos produtos, o que permite que mauritanicus, destroem a parte exterior do grão (casca ou embrião) e posteriormente, se alimentam da parte interna, sem, no entanto, se desenvolverem no interior do grão. Estas favorecem o ataque de outras pragas que são incapazes de romper a película do grão.

as pragas se reproduzam mesmo na ausência do alimento preferido. A infestação cruzada é uma das características deste grupo de insetos e se refere à capacidade que alguns insetos têm de infestar os grãos tanto no campo como nos locais de armazenagem (Gallo et al., 2002).

O conhecimento do hábito alimentar de cada inseto é uma ferramenta importante para definir o manejo a ser implementado. Quanto ao hábito alimentar as pragas pode ser classificado em primárias, secundárias e insetos associados. As pragas primárias são capazes de atacar grãos íntegros e sadios e podem ser divididas em pragas primárias internas e externas (Pacheco & Paula, 1995; Lorini, 2002; Lorini, 2005).

As primárias internas, que compreendem algumas das espécies mais importantes, completam seu ciclo evolutivo no interior de apenas um grão. Em espécies como Sitophilus spp. e Araecerus fasciculatus, os adultos rompem a película dos grãos com as mandíbulas e depositam o ovo no seu interior. As larvas eclodem e se desenvolvem deixando o grão apenas após atingir a fase adulta. Estes, além de causarem danos, abrem caminho para o ataque de outros insetos e também possibilitam a instalação de outros agentes de deterioração de grãos (Pacheco & Paula, 1995; Faroni & Silva, 2000; Lorini,2002; Lorini, 2005).

No caso de Sitophilus spp. se vários ovos forem deixados no interior de um único grão, geralmente ocorre canibalismo e só uma larva atinge o estágio de pupa. Outras pragas como as espécies S. cerealela, R. dominica, Zabrotes subfaciatus e A. obtectus, consideradas pragas internas, seus ovos são depositados externamente nos grãos. As larvas ao eclodirem, penetram no grão, onde completam o ciclo e saem para o exterior como adulto (Faroni & Silva, 2000; Lorini, 2002a). De acordo com os mesmos autores as pragas primárias externas como Plodia interpunctela, Corcyra cephalonica, L. serricorne e Tenebroides

As pragas secundárias dos grãos armazenados não conseguem atacar grãos inteiros e sadios, pois requerem que os grãos estejam danificados ou quebrados para se alimentarem. Estas pragas ocorrem na massa de grãos quando estão trincados, quebrados e mesmo danificados por pragas primárias. Preferem locais de muita concentração de resíduos e ali se multiplicam rapidamente. As pragas secundárias infestam praticamente todas as espécies de grãos armazenados e também seus subprodutos, como farinhas, farelos, fubás, entre outros. Seus ovos são colocados geralmente na massa de grãos ou produtos. As espécies que são encontradas mais comuns em graneleiros são T. castaneum, C. ferrugineus e O. surinamensis (Pacheco & Paula, 1995).

Os insetos associados são aqueles que não atacam os grãos, alimentando-se de detritos e fungos. No entanto, contribuem para prejudicar a qualidade dos produtos armazenados. Os insetos da ordem Psocoptera, os parasitos, predadores e ácaros, além do besouro Tenebrio molitor são exemplo deste grupo (Faroni & Silva, 2000; Puzzi, 2000).

De acordo com Puzzi (2000), os fatores que impedem, favorecem ou reduzem as infestações de insetos são: temperatura, umidade do grão e impurezas. A temperatura e a umidade dos grãos são os fatores mais importantes para o desenvolvimento dos insetos que atacam grãos armazenados de origem subtropical e que não hibernam. Em regiões frias, as populações destes insetos atingem níveis tão baixos que não chegam a se caracterizar como pragas (Pacheco, 1996; Puzzi, 2000).

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 26 CONTROLE DE PRAGAS
Tabela 1: Principais pragas de grãos armazenados em armazéns graneleiro horizontal.
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Faroni & Silva (2000) relatam ser a umidade de 9% (base úmida), crítica para a reprodução dos insetos. À medida que aumenta a umidade do grão ou subproduto, entre os limites de 12% a 15% b.u., os insetos se desenvolvem e se reproduzem com maior intensidade. Bains (1971), citado por Padilha & Faroni (1993), verificou que para R. dominica a fase de pupa não teve sobrevivência afetada pela mudança de temperatura, e o grau de umidade teve maior influência na sobrevivência das pupas do que na duração deste estágio. Observou baixa sobrevivência em baixa umidade e temperaturas mais elevadas.

A principal fonte de água para os insetos de grãos armazenados de acordo com Fields (2006) é seu alimento. Em alguns insetos de grãos armazenados, como L.serricorne, sua larva pode absorver água diretamente da atmosfera, se acima de 55% de umidade relativa do ar. A umidade contida no alimento afeta o número da prole, taxa de desenvolvimento, longevidade e sobrevivência dos adultos. Para a espécie S. oryzae a 14% de umidade b.u, há somente 10% de mortalidade de imaturos e as fêmeas colocam, em média, 344 ovos, em 10,5% de umidade há 75% de mortalidade de imaturos e as fêmeas colocam apenas um total de 10 ovos. No mundo inteiro os grãos são vendidos na base úmida, e há um desincentivo de se armazenar grãos mais secos, mesmo sabendo que os armazenamentos com umidades nos níveis comerciais são favoráveis ao crescimento dos insetos e de microorganismos que contaminam a massa de grãos.

PERDAS CAUSADAS POR INSETOS EM GRÃOS ARMAZENADOS

As perdas causadas pelos insetos durante o armazenamento dos grãos merecem atenção e cuidados especiais, pois se trata de um processo definitivo e irrecuperável. Os governos têm realizado esforços no sentido de aumentar a produção, através do incentivo à incorporação de novas técnicas visando o aumento da produtividade e, através da incorporação de novas áreas, no entanto, deveria estabelecer também, concomitantemente, uma política com o objetivo de redução dos danos provocados por insetos. As pragas dos grãos afetam tanto a qualidade como a quantidade dos produtos (Almeida Filho et al., 2003).

As perdas causadas pelos insetos durante o armazenamento de grãos podem equivaler, ou mesmo superar, aquelas provocadas pelas pragas que atacam as culturas no campo, entretanto, os danos sofridos pela planta em desenvolvimento podem ser compensados, em parte, por uma recuperação pela própria planta atacada ou pelo aumento de produção das plantas não atacadas, mas os danos sofridos pelos grãos são definitivos e irrecuperáveis (Fontes et al., 2003).

Em um armazém, na massa de grãos, é criado um ecossistema sujeito a transformações, deteriorações e perdas devidas a interações entre os fenômenos físicos, químicos e biológicos (Santos, 1993). Estes elementos são relatados por Faroni & Silva (2000) como: 1) físico: temperatura, umidade da massa de grãos, umidade do ar intergranular, propriedades físicas da massa de grãos (porosidade, higroscopicidade e propriedades térmicas), estrutura da unidade armazenadora; 2) químico: disponibilidade de oxigênio no ar inter granular; 3) biológico: fontes internas (respiração e maturidade) e de fontes externas (fungos, bactérias, ácaros, roedores e insetos).

As perdas no armazenamento podem ser em quantidade e qualidade dos grãos quando estes são atacados por insetos, ácaros, roedores, pássaros e microorganismos levando à diminuição no valor comercial dos grãos (Neethirajan et al., 2007). As quantitativas (redução no peso e/ou volume dos grãos, devido a consumo dos grãos) e qualitativas (contaminação, degradação do valor nutricional), implicando em prejuízos sócio econômicos (Padilha & Faroni, 1993). Os insetos não só consomem os grãos diretamente, mas também contaminam o produto com seus metabólicos, partes de seus corpos e produzem aquecimento e aumento da umidade, devido à sua atividade metabólica e isso pode conduzir ao crescimento da microflora. Os grãos infestados não são adequados para sua finalidade e são impróprios para consumo humano (Lorini, 2005).

Os insetos são a primeira causa de perda total em armazéns em todo o mundo (Scussel, 2002), destacando-se os fungos que fazem parte das principais causas de deterioração dos grãos armazenados, sendo superados quantitativamente apenas pelos insetos (Elias, 2007).

Nas áreas tropicais, o ataque de insetos alcança maior

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 28 CONTROLE DE PRAGAS

intensidade, pois as condições de temperaturas elevadas favorecem a multiplicação das espécies que infestam grãos armazenados, provocando perdas (Braccine & Picanço, 1995).

As perdas devido a pragas no Brasil, em estimativas da FAO e do Ministério da Agricultura, são de aproximadamente 10% do total produzido anualmente (Lorini, 2005). Faroni & Silva (2000) descrevem que não há dados concretos sobre perdas causadas somente por pragas em estruturas modernas e tradicionais para o armazenamento de grão.

Estes mesmos autores estimam que, em Países desenvolvidos, estas perdas sejam insignificantes, quando comparadas com valores superiores a 15% em muitos Países em desenvolvimento, onde as contínuas crises econômicas e a deficiente ligação entre o conhecimento teórico e a aplicação prática, são os principais empecilhos para colocar as perdas em níveis toleráveis, isto é, abaixo de 5%.

A armazenagem deve ser considerada na determinação das perdas durante o armazenamento de grãos a granel, em silos, graneleiros, em sacas e paióis. Em silos e graneleiros, as perdas estimadas ficam em torno de 1% a 2%, enquanto em paióis chegam a 15%, devido aos armazéns, silos e graneleiros serem dotados de tecnologias mais adequadas na prevenção de fungos e controle de pragas (Santos & Mantovani, 1997).

Os danos causados pelos insetos nos grãos e subprodutos armazenados podem ser resumidos em: (1) danos diretos: perda de peso, de poder germinativo e vigor das sementes (Santos, 1993; Faroni, 2000); (2) perda de valor nutritivo (Santos, 1993); (3) danos indiretos: perdas devidas à redução do padrão comercial (Santos, 1993); (4) perdas por contaminação da massa (Santos, 1993); (5) perda por propagar e facilitar o desenvolvimento de fungos na massa de grãos (Santos, 1993; Lazzari, 1997; Faroni & Silva, 2000).

Almeida Filho et al. (2003) alertam que as perdas cau-

sadas pelos insetos durante o armazenamento dos grãos merecem atenção e cuidados especiais, devido ser um processo definitivo e irrecuperável. O governo tem feito empenho muito grande em estar aumentado, a cada safra, a produção do país através de inclusão de técnicas que elevam a produtividade. No entanto, deveria também estabelecer políticas para redução dos danos provocados pelo ataque de insetos em grãos armazenados. Esta questão pode anular as políticas de incentivo à produção, em quantidade e qualidade.

Perda de peso, poder germinativo e vigor das sementes

Santos et al. (1997) verificaram em levantamentos realizados no Estado de Minas Gerais, que entre a período da colheita (maio-agosto) e meses de agosto, novembro e março do ano seguinte, os índices de danos (grãos carunchados), causados por insetos ao milho armazenado em paiol, atingiram 17,3%, 36,4% e 44,5%, respectivamente. A estes índices de carunchamento corresponderam a reduções nos pesos de 3,1%, 10,4% e 14,3%.

Os carunchos da espécie S.oryzae e larvas podem consumir em média 30% do peso de grãos de trigo em que se desenvolve. Também as larvas de Rhyzopertha dominica causam perdas de peso 9,5%, em média, em trigo no período de 20 dias. As perdas causadas pelos adultos de R. dominica foram de 19,4%, 12,0%, 12,0% e 6,5% durante a 1a,2a, 3a e 4a semanas, após a emergência dos adultos, respectivamente (Faroni & Silva, 2000).

Na cultura do trigo em populações de mesmo tamanho, a espécie R. dominica mostrou ser a maior causadora de perdas em trigo armazenado que a espécie S. zeamais, eesta diferença é maior com o crescimento da população. Para infestações de 0 a 100 insetos kg-1 para os mesmos valores de matéria seca entre as espécies, as perdas com umedecimento, peso hectolitrico e grãos danificados foram, aproximadamente, duas vezes maiores para R. dominica em comparação com S. zeamais. A perda de massa no trigo é oficialmente avaliada por meio de medida do peso hectolítrico (Silva et al., 2003).

Smiderle et al. (1995) verificaram que as populações de R. dominica são mais ativas na redução da qualidade física da semente de arroz irrigado, durante o armazenamento, em relação às de Sitophilus sp. O mesmo autor observou que as populações de R. dominica e Sitophilus sp reduzem, a partir de 20 insetos100-1 g-1 de arroz, o peso da semente em 14,3% e com aumento de 7% na perda de peso durante o armazenamento e 22,3% na percentagem de sementes infestadas.

Almeida Filho et al. (2003) relatam que as perdas causadas pelos insetos em grãos de milho estão intimamente relacionadas com a afinidade dessas pragas com as cultivares. A perda de peso é devida principalmente à transformação do substrato em gás carbônico e energia dissipada. Em seu trabalho, os autores observaram que a variedade savana teve a preferência alimentar de S. oryzae, provocando uma perda de peso de 47,70%, enquanto nesta mesma variedade, o S. zeamais provocou uma perda de peso de 29,74%. Na variedade 22-ME (SIBA), a preferência

graosbrasil.com.br 29 CONTROLE DE PRAGAS

foi do S. zeamais causando perda de 15,54%, enquanto o S. oryzae provocou perda de 10,14%.

Puzzi (2000) relata que algumas espécies de insetos que atacam os grãos, somente destroem o germe, deixando o endosperma intacto. Embora esse tipo de ataque possa representar pequena percentagem de perda de peso, o efeito em seu valor alimentício e na redução acentuada da capacidade germinativa da semente ocasiona grandes prejuízos. O efeito da infestação pelo Sitophilus sp. e Sitotroga cerealella sobre a germinação de sementes de milho foi estudado por Santos & Maia (1991). Os autores observaram que o efeito prejudicial da infestação foi tanto maior quanto maior a idade dos insetos no interior da semente. Em relação à testemunha não infestada, com 95% de germinação, a presença do Sitophilus sp. na fase de ovo (0-4 dias) reduziu a germinação em 13%. Com relação à S. cerealella, foi observado que somente a partir de 24 dias de idade, no interior da semente, é que a infestação diminuiu significativamente a germinação. Matioli & Almeida (1979) verificaram que o aumento de populações de S.oryzae em sementes de milho reduziu o poder germinativo das sementes, devido à infestação pela praga.

Perda do valor nutritivo

O conteúdo de carboidratos, proteínas e ácidos graxos fazem do milho importante produto comercial e que, armazenado em condições inadequadas, pode sofrer perdas no valor qualitativo e quantitativo devido ao ataque de insetos e fungos, desde o campo até o consumo (Stringhini et al., 2000). Os autores alimentaram aves com rações de matéria prima de grãos infestados por insetos e fungos em rações de 1 a 28 dias e observaram que não alteraram o desenvolvimento dos frangos, mas aumentaram a incidência de alterações hepáticas, no aparelho locomotor, portanto, influíram no metabolismo das aves.

Lopes et al. (1988), trabalharam com níveis de 5%, 20%, 30%, 40% e 50% de infestação dos grãos de milho e verificaram perdas de peso dos grãos da ordem de 0,5%; 8,0%; 10% e 13%, respectivamente. Os mesmos autores verificaram perda na energia bruta com o aumento dos níveis de

infestação.

Vilela et al. (1988), citados por Santos & Montovani (1997), estudaram por um período de um ano e a intervalos de quatro meses, em diferentes regiões do Estado de Minas Gerais, o valor nutritivo do milho em função do ataque de insetos, durante o armazenamento. Foi verificado pelos autores que, os teores de carboidratos solúveis decresceram de 73 para 29% em 12 meses. No mesmo período, a digestibilidade “in vitro” da matéria orgânica do grão passou de 78,47% para 33,30%. Por outro lado, os teores de proteína bruta e lipídios aumentaram, segundo os autores, provavelmente devido à preferência do inseto em se alimentar mais do endosperma do que do embrião, que é mais rico em proteína e óleo.

Souza et al. (1999), avaliaram a alteração na composição química do milho devido ao carunchamento, sendo que à medida que houve aumento do nível de carunchamento, ocorreu um aumento linear na matéria seca, fibra bruta e cinzas, e de forma quadrática da proteína bruta, extrato etéreo e energia bruta até os níveis de carunchamento estimado de 19,58 e 20%. O extrato não nitrogenado reduziu de forma quadrática até o nível estimado de 18%, com o aumento do nível do carunchamento.

Observaram-se variação quadrática de densidade dos grãos, que diminui em razão do nível de carunchamento do milho. Matiole & Almeida (1979) obtiveram os mesmos resultados com proteína bruta e descreveram que, quando a disponibilidade de endosperma para alimentação dos carunchos diminui, as larvas passam a se alimentar do embrião e pode resultar em redução dos níveis de lipídeos e proteína bruta do milho.

Perda por contaminação da massa de grãos e de padrão de qualidade

Os insetos não só consomem os grãos, mas também os poluem com a presença de ovos, larvas, pupas, e insetos adultos. Parte dos insetos como exoesqueletos, excrementos e microrganismos associados são outros agentes contaminadores queconstituem importante problema para saúde humana e animal (Puzzi, 2000).

Larvas, pupas e adultos, vivos ou mortos, no interior do grão são impossíveis de serem removidos completamente antes do processamento do grão, o que resulta em fragmentos como contaminantes de produtos processados. Para a farinha de trigo o Food and Drug Administration –FDA nos EUA tem estabelecido um nível de 75 fragmentos por 50 gramas de farinha como nível de contaminação aceitável (Faroni & Silva, 2000).

Padilha & Faroni (1993) relatam que tanto grãos como farinhas, podem ser atacados por R. dominica, onde os grãos, as larvas e os adultos dos insetos provocam perdas ao se alimentar destes. Os excrementos dos insetos levam à contaminação das farinhas reduzindo a qualidade das mesmas a tal ponto que elas se tornam impróprias para uso. Alem disto o ataque de R. dominica confere um odor característico de ranço adocicado aos substratos.

Wehling et al. (1984), citados por Pinto et al. (2002), observaram que a infestação de insetos no trigo, além de reduzir a qualidade da proteína, aumenta a quantidade de

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 30 CONTROLE DE PRAGAS
Oryzaephilus surinamensis

ácido úrico e cria más condições higiênicas na massa de grãos. Pinto et al. (2002) verificaram que o ataque de insetos em trigo incrementou os níveis de proteínas totais, e que aumentaram do centro do grão para a periferia, e o teor de carboidrato de forma inversa, mostrando que o S. zeamais se alimenta principalmente do centro do grão. Observaram, também, que os níveis iniciais de quatro insetos praga por 1,5kg de trigo e períodos de armazenagem maiores do que 60 dias deixam o trigo impróprio para a panificação.

Puzzi (2000) relata que na exportação de soja no ano de 1975, a defesa sanitária vegetal do Ministério da Agricultura, no porto de Santos, local de clima quente e úmido, constatou uma infestação intensa de L. serricorne junto com outras pragas. Neste ano, como em todos os portos para exportação, exigiu produto isento de insetos vivos e a soja teve de ser expurgada a bordo devido à inadequação técnica e econômica dos armazéns portuários para o tratamento. Lorini (2006) relata a presença de L. serricorne em armazéns com soja no Sul do Brasil. Como o armazenador de soja até há pouco tempo não se preocupava com controle de pragas no armazém, esta praga pode se tornar uma ameaça.

A Instrução Normativa No 15 (Brasil, 2004) estabelece-se que a soja que apresentar insetos vivos deverá ser considerada fora do padrão básico, e sofrerá tratamentos fitossanitários antes de ser comercializada. Quando destinada ao consumo humano, não poderá apresentar insetos

vivos, mortos ou partes destes acima dos limites estabelecidos na legislação em vigor. É comum veículos com cargas contaminadas voltarem dos portos devido à constatação de insetos vivos na classificação da commodittie, trazendo prejuízos econômicos ao país.

Para o milho, pela Portaria No11 (Brasil, 1996), grãos carunchados são grãos ou pedaços de grãos que se apresentam perfurados ou infestados por insetos em qualquer de suas fases evolutivas. Os grãos carunchados entram na somatória dos grãos avariados, um dos itens que definem diretamente o tipo, podendo depreciar um lote que esteja contaminado por insetos. No milho também, pela mesma portaria, quando na amostra é encontrado inseto vivo o lote é taxado como fora do padrão básico temporariamente até que se realize tratamento fitossanitário.

Silva et al. (2003) relataram que os insetos não apenas consomem grande quantidade de grãos, como também reduz a sua qualidade, porque danificam e alteram o ambiente da massa de grãos. Segundo Lorini (2006), as perdas de grãos, ocasionadas por pragas de grãos armazenados, incidem na presença de fragmentos de insetos nos subprodutos alimentares, na deterioração da massa, na contaminação fúngica e, principalmente, na presença de micotoxina prejudicial à saúde humana e animal.

Stringhini et al. (2000) estudaram a contaminação de aflatoxina B1 e G1 em milho, em função da sua infestação por insetos, percentagem de grãos infestados na amostra e por infecção de fungos no grão de milho. Verificam que à

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medida que aumentava a percentagem de infestação dos grãos por insetos de 20 para 40%, no milho não infectado por fungo, não houve aumento da produção de aflatoxina B1 e G1 em relação ao milho não infestado.

Silva et al. (2003) relataram que para os grãos de trigo a norma brasileira permite o valor máximo de umidade de 13% para todos os tipos comerciais 1, 2 e 3, e com relação ao percentual de grãos danificados, o máximo permitido é de 0,5%, 1,0% e 1,5% em massa de grãos carunchados por insetos, para os tipos 1, 2 e 3, respectivamente.

Danos indiretos - aquecimento e disseminação de microorganismos na massa de grãos

Os insetos são capazes de aumentar a temperatura dos grãos mesmo que estes estejam secos. Faroni & Silva (2000) relatam que os fatores que determinam a quantidadede calor gerado estão relacionados com a espécie de inseto, com o tamanho da população e com a temperatura e umidade dos grãos. Pacheco (1996) relata que o metabolismo dos insetos presentes em uma massa de grãos provoca a elevação da umidade e da temperatura local. Como os grãos têm baixa condutividade térmica (1/3 da cortiça), a quantidade de calor gerada neste foco de infestação não é dissipada, formando bolsa de calor.

Puzzi (2000) diz que o aumento da temperatura incrementa a atividade metabólica dos insetos, aumentando a área de infestação, até que toda massa fique danificada. Massa de grãos atacada por inseto apresenta maior taxa de respiração quando comparada com grãos sadios. O metabolismo dos insetos, comparado com o dos grãos, é muito mais elevados, pois os grãos são órgãos em estágio de repouso e os insetos estão em constante atividade.

Lazzari (1997) descreve que os insetos favorecem o crescimento de fungos de armazenamento através de sua atividade metabólica, que aumenta a umidade e a temperatura dos grãos. Os bolsões de calor dentro da massa de grãos fornecem condições para o desenvolvimento de fungos. Aumentando a infestação de inseto aumenta

o percentual de grãos contaminados por fungos. Pacheco (1996) cita que estes bolsões criam uma diferença de temperatura dentro da massa, produzindo uma corrente de convecção e causando o movimento do ar quente. Esse ar quente, ao encontrar uma superfície fria, irá aumentar sua umidade relativa e, ao atingir a temperatura do ponto orvalho, provocará a condensação da umidade, aumentando umidade dos grãos e favorecendo, então, a sua deterioração por fungos.

Insetos e ácaros têm se envolvido em transporte de esporos de fungos na massa de grãos. Os insetos-praga mais comuns nos grãos armazenados transportam grandes quantidades de inóculos de fungos. Estes insetos também têm grande potencial de transmissão de bactérias patogênicas, possivelmente introduzidas no armazém por pombos e roedores, como Salmonella sp., Streptococus sp.. O gorgulho do arroz (S. oryzaes) reteve, internamente e externamente, a bactéria S. montevides por pelo menos cinco semanas e foi capaz de transmiti-la para um trigo não contaminado (Faroni & Silva, 2000).

As pragas primárias internas como R. dominica, S. oryzae e S. zeamais, perfuram os grãos e neles completam seu desenvolvimento, e isso possibilita a instalação de outros agentes de deterioração de grãos (Lorini, 2002).

RESISTÊNCIA DE INSETOS DE GRÃOS ARMAZENADOS AOS INSETICIDAS

A baixa disponibilidade de inseticidas registrados para o controle de pragas de grãos armazenados é outro agravante. Para lavouras, há dezenas de inseticidas registrados, no entanto, para pragas de grãos armazenados há apenas seis ingredientes ativos registrados e comercializados, sendo que nem todos podem ser utilizados para todas as pragas e situações (Lorini, 1993). A aplicação indiscriminada destes inseticidas, devido à falta de conhecimento técnico na aplicação e escolha do produto correto, tem levado o desenvolvimento de resistência por parte das pragas.

Collins (2006) afirma que a incidência de resistência para os protetores de grãos é de grande extensão. Populações das principais espécies têm desenvolvido resistência para organofosforados, piretróides, carbamatos e outros agentes como methoprene e Bacillus thuringiensis. Em algumas regiões, a situação é precária, com populações de insetos contendo resistências múltiplas, partindo para a não eficácia e tirando dos protetores uma opção viável.

Segundo Sartori (1993), o primeiro caso de indício de resistência foi registrado em 1908, no entanto, só nos últimos 50 anos que foi observado um crescimento bastante acentuado de resistência principalmente em artrópodes envolvendo insetos e ácaros. O mesmo autor relata que

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em levantamentos realizados entre 1989 e 1991, em oito estados brasileiros, para resistência a inseticidas protetores organofosforados, foram obtidos os seguintes resultados: (1) resistência ao malation foi detectada em 90% das populações de S. oryzae, 73,3% de R. dominica e 100% de T. castaneum; (2) resistência a pirimifhos methyl foi detectada em 20% das populações S. oryzae e 53,8% de T. castaneum e nenhuma resistência a R. dominica; (3) resistência ao fenitrothion foi detectada em 10% das populações de S. oryzae, 27% de R. dominica e 39% de T. casteneum; (4) nenhuma resistência foi detectada em S. zeamais a todos os inseticidas testados; (5) T. castaneum mostrou maior habilidade de desenvolver resistência, exibindo a mais alta freqüência de indivíduos resistentes.

Em dez linhagens brasileiras de R. dominica foi avaliada resistência cruzada a permetrina, pirimifhos methyl e chlorpirimifos methyl. Os resultados indicam resistência cruzada a permetrina em duas linhagens, mas nenhuma evidência clara de resistência cruzada ao pirimifhos methyl e ao chlorpirimifos methyl, em nenhuma das linhagens testadas (Sartori & Lorini, 2002).

Segundo Faroni & Silva (2000), no Brasil foi encontrada resistência de S. oryzae ao DDT, lindane e malathion. Também foi observada resistência a organofosforados em T. castaneum e R. dominica. Nestas três espécies foi relatada resistência a fosfina. Resistência a DDT e piretróides foi detectada em seis raças de S. zeamais, coletadas em

quatro estados do Brasil. A resistência a malathion foi generalizada em S. oryzae, R. dominica, T. castaneum e S. zeamais. Em poucas linhagens de S. oryzae, R. dominica e T. castaneum, foram encontradas resistência ao pirimifós methyl e fenitrotion. Algumas linhagens de T. casteneum foram resistentes ao pirimifós methyl e ao fenitrotion.

Santos (1988) relata a resistência de quatro populações de S. zeamais,infestadas artificialmente, ao inseticida deltamethrin 2,5 CE. Observou que o deltamethrin não controlou satisfatoriamente os carunchos do armazém de Jacarezinho-SP e de Santa Cruz do Sul - RS, e que os fosforados eliminaram por completo os insetos das quatro populações. Num último ensaio, em testes com outros piretróides, além do deltamethrin, os resultados indicaram que todos os piretróides testados não controlaram bem os carunchos de Jacarezinho, donde se concluiu que a maior tolerância deste inseto foi adquirida contra o grupo e não somente contra o deltamethrin.

Steverwald et al. (2006), estudaram a tolerância de fosfina em pragas de grãos armazenados, concluíram que a suscetibilidade para fosfina decresce com a seqüência: L.serricorne, T. castaneum, S. granarius e O. surinamenis Esta seqüência está de acordo com o teste de mortalidade, sendo o mais sensível à fosfina o L. serricorne, e o mais resistente O. surinamensis

Lorini et al. (2007) estudaram resistência de R. dominica originada do Brasil a fosfina e verificaram que estas

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apresentaram alta resistência e frequência nas amostras analisadas. Das 19 amostras coletadas entre 1991 e 2003, 100% foram resistentes a fosfina e 74% foram diagnosticadas como genótipos de alta resistência. A maioria das amostras que apresentou forte resistência foi coletada em 1991, indicando que estes genótipos têm estado no Brasil desde, no mínimo, aquele tempo.

Segundo Sartori (1993), as conseqüências da resistência podem ser graves. Usualmente, a primeira medida tomada pelo usuário quando um inseticida está perdendo a eficácia é aumentar a dosagem aplicada e a freqüência de aplicação. Quando a primeira passa a ser antieconômica, faz-se a mudança para outro produto, geralmente mais caro.

Entretanto, a mudança para novos produtos químicos, sem alterar a forma de utilização, é uma solução transitória, porque, com o tempo, a resistência a cada um deles provavelmente vai se desenvolver.

Lorini et al. (2007) descreveram os diversos fatores que podem levar à alta resistência à fosfina, como: 1) Alta população de insetos, por causa do clima favorável e ao não gerenciamento das aplicações; 2) A fosfina é o tratamento selecionado junto ao maior número de gerentes, por causa dos grandes problemas de resistência de insetos aos inseticidas protetores; 3) Os armazéns geralmente não são lacrados antes da fumigação, deste modo, sub-doses são rotinas e as concentrações não são monitoradas. Subdoses têm permitido a sobrevivência de insetos heterozigotos para genes de resistência e a ocorrência de refumigações, devida falhas na anterior, têm resultado em seleções de populações com alta freqüência de insetos homozigotos para genes resistentes; 4) É muito pequeno o conhecimento da correta aplicação nas indústrias e unidades armazenadoras.

Sartori (1993) relata que no Brasil a fosfina tem sido nas duas últimas décadas, praticamente o único fumigante utilizado em grãos armazenados e produtos derivados. Isso se deve à facilidade de aplicação, à boa penetrabilidade na massa de grãos e à degradação em compostos que não apresentam problemas de resíduos. No Estado São Paulo, pesquisadores do ITAL constataram no ano de 1985 que o tratamento com fosfina estava sendo realizado principalmente em graneleiros, sob condições altamente insatisfatórias de vedação, com conseqüente sub-dosagem e tempo inadequado de exposição e, também que junto a esses outros fatores, como estruturas de armazenagem inapropriadas com grandes quantidades de “locais de refúgios” para insetos, limpeza e sanitização deficiente das instalações e métodos operacionais inadequados.

Beckel et al. (2006) estudaram a detecção de resistência da espécie O. surinamensis, exposta a inseticidas piretróides e organofosforados. Os autores concluíram que esta espécie apresenta variado nível de resistência aos inseticidas fenitrothion, deltamethrin, pirimifhos methyl e bifethrin, em concordância com o histórico de exposição para o ingrediente ativo, evidenciando que o uso de inseticidas para controle de pragas de grãos armazenados necessita ser manejado cuidadosamente num programa de manejo de resistência.

Collins (2006) registra que gerentes de unidade de grãos armazenados, em todos os níveis, devem introduzir um instrumento integrado de controle de insetos-praga usando diversas técnicas, como resfriamento, secagem e sanitização e outras estratégias. Entretanto, comumente e capaz para antecipar o futuro, a ferramenta mais efetiva e confiável em controle de insetos está na introdução, integrando maior número de tratamentos, seja tratamento químico, incluindo fumigantes, desinfetantes e protetores.

Estes instrumentos irão capacitar para manter a segurança dos alimentos, para acesso ao mercado, para implementar efetivo sistema de garantia, proteger o suprimento da cadeia e prover as pessoas com alimentos de alta qualidade.

Segundo Lorini et al. (2007), as quebras no controle são comuns. A típica opção de um gerente de armazém é para refumigação e para aplicação de altas doses de fosfeto de alumínio. Cita o trigo como exemplo, que é tipicamente fumigado três a quatro vezes ainda no armazém. Nisso é evidente uma urgente necessidade para troca na fumigação e manejo de práticas no Brasil para o gerenciamento da resistência a fosfina.

Santos & Maia (1991), estudaram a resistência de S. Zeamais e de S. cerealella à fosfina e verificaram que na prática é difícil de obter hermeticidade necessária para manutenção da dose letal de fosfina em silos e armazéns graneleiros e devido ao escape de gás é comum encontrar expurgos realizados com sub-doses, podendo haver sobrevivência de alguns insetos criando condições para o aparecimento de resistência ao inseticida. Neste mesmo trabalho observaram que nas doses de um a dois g de fosfina m-3 houve 100% de mortalidade, no entanto nas doses de 0,25 e 0,5 de fosfina m-3 houve sobrevivência de insetos na fase de ovo e pupa, mostrando que estes ínstares são mais resistentes a fosfina.

Sartori (1993) descreve que a resistência é um fenômeno natural resultante de alterações nas populações de pragas ou patógenos, que levam à perda de eficácia do produto. Ela tem origem genética, sendo, portanto, transmissível por hereditariedade. O planejamento de manejo e gerenciamento da resistência, visando evitar, retardar ou reverter a sua evolução, exige um completo conhecimento dos fatores que influenciam na pressão de seleção.

Os insetos de grãos armazenados têm sido extensivamente controlados por métodos químicos há décadas, mas a crescente limitação ao uso de inseticidas convencionais tem incentivado as pesquisas sobre sistemas de controle integrado, envolvendo métodos químicos e não químicos, na seqüência e no momento apropriado para se alcançarem os resultados desejados (Silva et al., 2003). Em todo mundo, a forma mais utilizada para a proteção de grãos contra ataque de pragas é o controle químico; no entanto, o crescente desenvolvimento de resistência dos insetos aos agentes químicos, a possibilidade de intoxicação de operadores e a presença de resíduos de ingrediente ativo nos alimentos levaram à busca de alternativas para se alcançar maior nível de proteção da saúde humana e com menor impacto ambiental (Santos et al., 2002; Lorini, 2005).

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 34 CONTROLE DE PRAGAS

Inovação e Eficiência no Monitoramento de Grãos Armazenados Via

Sensores de CO2

Através da tecnologia patenteada da GARTEN, o GAS METER monitora a concentração de CO2 nos silos de armazenagem, que relaciona diretamente com a qualidade da massa de grãos. Esse método de monitoramento, além de mais eficiente que outros métodos, é mais confiável, detectando alterações na massa de grãos até 5 semanas antes do sistema de termometria convencional.

O armazenamento de grãos seguro e rentável depende da manutenção da qualidade e da integridade física (peso) do produto armazenado. Para que isso seja possível, variáveis físicas, químicas e biológicas devem ser controladas ao longo da estocagem.

O uso da termometria é uma forma de monitorar o que está acontecendo na massa de grãos, medindo a elevação da temperatura, mas a elevação da temperatura é uma consequência do processo metabólico dos grãos, da agressão dos mesmo por insetos e más condições de conservação. O tempo necessário para que a massa de grãos se aqueça e seja detectada pela termometria é muito grande, sendo que quando enfim é detectada pela termometria um grande prejuízo já foi causado e o dano é irrecuperável.

A fim de minimizar esses danos, a Garten desenvolveu o sistema de medição GAS METER, que é baseado na medição dos gases resultantes dos processos metabólicos dos grãos e ainda faz a análise e tomada de decisão para o perfeito controle de grãos armazenados. Essa tecnologia permite que se faça a aeração e conservação dos grãos no grau máximo de qualidade e segurança, pois não haverá aquecimento e consequente deterioração dos grãos ou perda de suas características.

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Sendo a respiração e a emissão de CO2 um fator inerente não só dos grãos, mas também do metabolismo de organismos associados, os sensores de CO2 são altamente sensíveis e capazes de analisar a totalidade da massa de grãos com apenas um sensor instalado por silo. Isso é possível porque o equipamento é instalado na parte superior da estrutura (chapéu), e o CO2 gerado na massa de grãos é transportado para parte superior do silo via correntes de ar de convenção natural, possibilitando assim a medição do gás acumulado e suas alterações ao longo do armazenamento através do sensor único, sem a necessidade de periféricos adicionais distribuídos na massa de grãos.

As medições realizadas são enviadas para o sistema eletrônico de bordo, que é responsável pelo armazenamento e análise dessas informações em um banco de dados. Através dessas informações se faz o controle da aeração visando manter sempre dentro do silo as condições ambientais ideais para o armazenamento dos grãos.

Nas safras 2021 e 2022 foi realizado o acompanhamento e monitoramento da qualidade de grãos armazenados com diferentes teores de umidade (12,5% e 16%) no estado do Rio Grande do Sul. Durante o respectivo levantamento, os níveis de CO2 gerados pelos grãos secos (12,5% de umidade) e grãos úmidos (16% de umidade) foram comparados através da tecnologia Garten. Ao analisar o histórico de medições e a representação gráfica dos dados foi possível detectar comportamentos distintos entre grãos secos e úmidos, onde os níveis de CO2 de grãos úmidos (Figura 3: linha verde – silo 2) foram drasticamente maiores e com maior oscilação que os grãos secos (Figura 4: linha azul - silo 1), embora os dados de termometria de ambos os silos não apresentassem diferenças significativas

Além de sua alta eficiência no monitoramento da qualidade, com o uso do GAS METER é possível acessar ao longo do tempo o histórico de medições do dia, semana ou mês anterior (conforme ilustrado na Figura 2), facilitando assim a gestão da armazenagem.

O sensor Garten já faz parte da realidade dos armazéns do Brasil e tem sido uma ferramenta de destaque na manutenção da qualidade dos grãos e maximização de ganhos operacionais e financeiros.

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 36 CONSERVAÇÃO
Figura 1: Sensor de CO2 MEDIDOR DE GAS Figura 2: Visão geral dos níveis de CO2 no silo. Figura 3: Dados de armazenamento (texto, quantidade de grãos, umidade); observação do estado dos aeradores na unidade. Figura 4: Produção de CO2 gerada por grãos secos (linha azul-silo 1) e grãos úmidos (linha verde-silo 2) durante o armazenamento.

Além de monitorar o comportamento distinto dos grãos em função do teor de umidade de armazenamento, os sensores de CO2 também auxiliam a indicar a presença de insetos e fungos na massa de grãos de forma prévia à ocorrência de perdas qualitativas e quantitativas drásticas, o que auxilia na tomada de decisão antecipada e no manejo assertivo.

Quando há presença de insetos, o aumento nos níveis de CO2 tende a ocorrer de forma drástica, sendo notoriamente perceptível durante a observação dos gráficos de leitura e histórico de dados (Figura 5).

Além da melhoria na eficiência de monitoramento, a tecnologia Garten permite maior agilidade e praticidade na inspeção dos grãos garantindo acesso rápido aos níveis de CO2 no interior dos silos via sistema IoT.

Através do sistema GAS METER, o usuário realiza seu login e visualiza de qualquer lugar todos os dados por meio de dispositivos digitais como notebooks, tablets e smartphones.

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Figura 5: Produção de CO2 gerada na massa de grãos sem infestação de insetos (linha azul) e com infestação “(linha vermelha) durante 72 h.

KSU iniciará a primeira fase da atualização da infraestrutura agrícola - Por: Arvin Donley

A Kansas State University (KSU) levantou US$ 81,4 milhões para uma atualização de infraestrutura de vários departamentos da Faculdade de Agricultura, incluindo o Departamento de Ciência e Indústria de Grãos, disseram representantes da universidade em uma recente entrevista exclusiva com editores da Sosland Editora Co.

O dinheiro inicial arrecadado com contribuições de doadores privados e corporativos, bem como US$ 50 milhões em dotações prometidas pela legislatura do Kansas, permitirá que a KSU inicie a primeira fase da atualização nos próximos meses. Espera-se uma segunda fase, mas fundos adicionais precisarão ser garantidos para que o plano se concretize, disse Ernie Minton, reitor da Faculdade de Agricultura da KSU e diretor de Pesquisa e Extensão K-State.

O plano inclui a desativação e demolição do Shellenberger Hall, que abriga o Departamento de Ciência e Indústria de Grãos desde 1960, e a construção de um novo prédio no lado norte do campus, disse Minton. Também fará parte da primeira fase a construção de um centro agronômico que abrigará o componente de pesquisa de campo do Departamento de Agronomia, incluindo o programa de melhoramento de trigo, e reformas no Weber Hall e no Call Hall do Departamento de Zootecnia.

O pontapé inicial do projeto de infraestrutura será a construção do centro agronômico, que Minton disse que deve começar no final deste ano e ser concluído em 2024. A construção do novo Centro Global de Inovação em Grãos e Alimentos ocorrerá logo em seguida.

“Nós nos preparamos para o que esperamos ser uma experiência estudantil inigualável e continuamos o sucesso que tivemos com a divulgação e o envolvimento da pesquisa”, disse Minton.

Minton disse que a legislatura estadual inicialmente comprometeu US$ 25 milhões com o plano e prometeu US$ 25 milhões adicionais em uma proporção de 1 para 3 se a universidade levantasse US$ 75 milhões. Susan Metzger, diretora associada de agricultura e extensão da KSU, disse que as doações arrecadadas pela universidade junto com o dinheiro prometido pelo estado colocam o total geral em cerca de US$ 125 milhões. Mas há mais arrecadação de fundos a ser feita.

“O projeto vai custar pouco mais de US$ 200 milhões quando tudo estiver pronto”, disse Metzger. “Fizemos grandes progressos aqui.”

Para atingir os US$ 81 milhões em doações, Metzger disse que a KSU recebeu US$ 51,1 milhões de doadores individuais, US$ 11,5 milhões de partes interessadas e organizações agrícolas e de commodities, US$ 10 milhões de parceiros da indústria e US$ 8,8 milhões da venda de um terreno. Isso incluiu uma doação de US$ 5 milhões do Kansas Farm Bureau e uma doação de US$ 4 milhões da Kansas Soybean Association and Commission, disse ela, observando que a universidade recebeu várias outras doações significativas, mas muitos dos doadores desejam permanecer anônimos.

Minton disse que a segunda fase do projeto incluirá renovação adicional para Weber Hall e Call Hall, bem como a construção de uma arena de competição de gado de última geração no extremo norte do campus, perto do Stanley Stout Center, outra instalação de ciência animal.

Minton disse que vários fatores exigiram o plano de construir um novo prédio para substituir as antigas instalações da Shellenberger. A primeira é que, como a maioria dos edifícios construídos há mais de seis décadas, ele se tornou obsoleto e sua condição física se deteriorou.

Enquanto isso, o Centro de Pesquisa e Inovação em Agronomia será construído a oeste do Complexo de Ciência de Grãos, que inclui o Hal Ross Flour Mill, O.H. Kruse Feed Mill, IGP Institute e outras instalações. Minton disse que ter esses departamentos aproximadamente no mesmo local “eliminaria as barreiras à colaboração interdisciplinar” que existem atualmente.

“Isso removerá as barreiras físicas que impedem os alunos que estão se formando em diferentes departamentos de interagir e estudar ao lado de alunos de outra disciplina”, disse ele. “Acreditamos que os problemas realmente difíceis que a alimentação e a agricultura enfrentarão nas próximas duas décadas não serão resolvidos por nenhuma disciplina. Será um esforço multidisciplinar, e achamos que isso também é verdade neste caso.”

“Projetamos salas de aula de grande porte que podem ser utilizadas tanto pela ciência animal quanto pela ciência dos grãos”, disse Minton. “Acho que o design inicial dos laboratórios realmente abre a colaboração com menos paredes, menos portas e muita mistura de ciências de cereais com outras em um espaço de laboratório coletivo maior e, além disso, que moderniza as instalações para fabricação de alimentos para animais de estimação também .”

Além de Weber Hall e Call Hall receberem a reforma necessária, o Departamento de Ciência Animal também espera levantar fundos suficientes para construir uma arena de gado de classe mundial que substituiria a arena localizada ao lado de Weber Hall.

Minton descreveu a instalação proposta como uma “arena do tamanho de apresentações com 3.000 lugares sentados que também possui camarotes de luxo. Terá um estacionamento completo com conexões de serviços públicos e os tipos de coisas que as pessoas que trazem gado precisarão para esse tipo de evento.”

Se o plano para a nova arena pecuária for concretizado, o Departamento de Zootecnia poderá “reaproveitar estrategicamente” a Weber Arena para vários usos.

Fuente: https://www.world-grain.com/articles/18092ksu-to-start-first-phase-of-ag-infrastructure-upgrade

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Porto Ponta do Félix realiza operação inédita: transporte de trigo pela costa brasileira

O Porto Ponta do Félix, localizado em Antonina, litoral do Paraná, concluiu nesta quarta-feira (08) uma operação inédita: a sua primeira navegação por cabotagem para a expedição do transporte de trigo. O cereal - produzido no Paraná e comercializado pela Coamo Agroindustrial Cooperativa - tem como destino os moinhos do Ceará. No total, foram embarcadas 15 mil toneladas do produto.

A cabotagem é uma modalidade de transporte marítimo que acontece pela costa litorânea, de um porto a outro dentro do próprio país.

Segundo o presidente do Porto Ponta do Félix, Gilberto Birkhan, a operação abre espaço para o aumento na movimentação de grãos e cereais pelo terminal. “A navegação de cabotagem ainda é pouco explorada no Brasil, e é uma forma de movimentar as riquezas produzidas pelo agronegócio pelo transporte marítimo. Esta é uma ótima opção quando a distância entre a origem e o destino ultrapassa 1500 quilômetros”, explica Birkhan.

Navegação de cabotagem

Até o ano passado, a modalidade era realizada apenas por navios de bandeira brasileira. A Lei da Cabotagem derrubou esta exigência e liberou progressivamente o uso de navios estrangeiros no país. “As novas regras devem estimular a navegação na costa brasileira, elevando a oferta de embarcações e reduzindo os custos do setor”, destaca Birkhan.

Para realizar a operação, o Porto Ponta do Félix possui a liberação, emitida pelo governo federal, para operar mercadorias em tráfego de cabotagem.

Neste ano, o Porto Ponta do Félix prevê aumentar em 65% a movimentação de cargas. O terminal é multipropósito, com capacidade para movimentar e armazenar diferentes tipos de cargas, como fertilizantes, açúcar ensacado, sal, malte, trigo, pellet de madeira e alimentos. "Investimos cada vez mais na customização do serviço, para atender a demanda dos clientes e assim aumentamos também a diversidade dos itens movimentados", afirma o presidente do Porto Ponta do Félix, Gilberto Birkhan.

Novos investimentos

Ao longo dos próximos meses, o Porto Ponta do Félix também contará com novos armazéns, que possibilitam o aumento de 85% da capacidade de armazenagem, passando de 280 mil toneladas para 520 mil toneladas, de

forma gradativa.

“O incremento da capacidade estática abre mercados em novos segmentos. Temos também no cronograma das operações, por exemplo, além da cabotagem de trigo, a importação de barrilha, que é um produto a base de sódio usado pela indústria para a produção de alimentos”, ressalta Birkhan.

Neste início de ano, o Porto também completou os investimentos em novas defensas marítimas, equipamentos que proporcionam mais segurança durante a atracação dos navios. As defensas servem para amortecer o impacto resultante do encontro entre um navio e a estrutura de atracação, reduzindo os riscos de avarias.

“Primamos pela segurança e, com relação às embarcações, não pode ser diferente. As melhorias devem atrair ainda mais navios para Antonina, por seguir rigorosamente os padrões de instalações portuárias seguras a nível mundial”, finaliza Birkhan.

Porto Ponta do Félix

O Porto Ponta do Félix é uma empresa privada, concessionária do terminal portuário público multipropósito de Antonina -- fundada em 1995.

A concessão se deu através de contrato de arrendamento outorgado pela Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina -- APPA.

Em 2000, foi inaugurado o cais de atracação e iniciou-se exportação de produtos refrigerados, produtos florestais e aço.

Em 2009, a FTS Par assumiu a gestão do Porto Ponta do Félix e iniciou uma nova fase nas diretrizes do contrato de arrendamento do Terminal Portuário, focado principalmente na conversão da vocação do terminal, antes predominantemente de carga refrigerada, para carga geral e a granel.

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Apresentamos a última edição de nossa prima-irmã a revista Granos (em espanhol).

Entre outros temas, são apresentadas informações sobre: Sementes forrageiras, o que entendemos quando dizemos "A qualidade de uma semente se faz no campo."; Conservação de grãos em zonas tropicais e subtropicais; Comparação do frete rodoviário de grãos na Argentina em relação ao Brasil e aos Estados Unidos; Rendimento e qualidade do trigo na região centro do país; Cálculo abrangente do custo de secagem; O campo sempre presente; Pragas, quebrando as regras; Foco na Argentina. Prestigiosas empresas do Brasil, Turquia, Canadá, Bélgica e de outras partes do mundo participam desta publicação, que já cumpriu 27 anos e chega a todos os países de língua espanhola.

Interessados em fazer assinatura gratuita da revista digital ou fazer publicidade contatar: forogranos@gmail.com

Revista Grãos Brasil - Fevereiro / Março 2023 40 UTILISSIMAS
Da esquerda para a direita: Caroline Martins, Setor de Qualidade da COAMO, Marcia Cavalcante; Gerente Geral da COAMO Paranaguá, João Ivano Marson e o responsável pelo setor de qualidade do PPF, Giovanni Araujo.
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