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Grandes formatos e preços baixos ditam crescimento nos iogurtes

MERCADO

A nova realidade socioeconómica trazida pela pandemia tem tido diversos impactos na categoria de iogurtes e sobremesas lácteas. Se, por um lado, se assistiu a um ligeiro aceleramento da categoria, que cresceu em volume, por outro lado, houve uma forte transferência entre marca de fabricante e marca da distribuição. Em momentos de crise económica, é normal que haja um maior foco, da parte dos lares, na construção de um cabaz mais básico, o que, em contrapartida, não invalida o crescimento em categorias de maior valor e de indulgência.

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TEXTO Carina Rodrigues FOTOS Shutterstock

No ano móvel findo a 5 de julho, a categoria de iogurtes cresceu 1%, quer em volume, para os 177,7 milhões de quilogramas, quer em valor, para os 457 milhões de euros, de acordo com os dados da Nielsen. Nas sobremesas, o desempenho não foi idêntico. A consultora reporta, para o mesmo período, uma queda de 2% em volume, para os 185,6 milhões de unidades, embora, em valor, tenham estabilizado nos 63 milhões de euros. Com a pandemia de Covid-19, as vendas destes produtos aceleraram. João Magueijo, Sales Development Director da Longa Vida, avança um crescimento de 1,8% em volume, que foi, no entanto, acompanhado de um foco nas marcas de distribuidor, que cresceram 12,2%, em detrimento da queda de 5% nas marcas da indústria. “Apesar do número de lares portugueses compradores de iogurtes e sobremesas lácteas se encontrar estável, nos 97%, por um lado, assistimos a uma ligeira redução na frequência média de compra, enquanto, por outro, se notou a um aumento mais pronunciado da compra média, levando o mercado a crescer ligeiramente”, analisa. De acordo com João Magueijo, em momentos de crise económica, é normal que haja um maior foco na construção de um cabaz mais básico e esta crise não é exceção, com as categorias de aromas, natural e líquidos básicos a crescerem acima do mercado. “No entanto, assistimos também a categorias ditas menos básicas com performances bastante interessantes, como é o caso de proteínas que, com a ajuda do recente lançamento de Lindhals Pro+, cresceu quase 60%, ou da categoria de ‘indulgence’, que cresceu, principalmente, devido à boa performance dos gregos de marca própria. Portanto, assistimos a tendências positivas vindas de polos opostos, por um lado, produtos básicos e focados em preço e, por outro lado, produtos com um benefício muito claro para o consumidor e, normalmente, com preços ligeiramente mais elevados”, reforça.

Inovação

Nesta fase mais complicada para os consumidores, é normal que as marcas se coloquem ao lado deles e apostem na relação qualidade/preço, sem que isso signifique descurar a inovação. E a inovação neste universo acompanha muitas das tendências que são transversais ao sector agroalimentar, como a da redução de açúcares. Esta não é uma realidade apenas visível em iogurtes infantis, mas um pouco por todos os segmentos. “A marca Yaos, por exemplo, que beneficiou de um relançamento no início do mês de junho, viu as suas receitas reduzirem em 30% a percentagem de açúcares. A marca Yoggi, por outro lado, também ajustou ligeiramente a sua fórmula, reforçando a naturalidade dos seus ingredientes, que passaram a ser 100% naturais, e baixou mais de 10% a quantidade de açúcares presentes. Agora, para passar de preocupação a realidade ainda falta um pouco. Há, por isso, um trabalho, ainda, a ser feito por mais ‘players’, de forma a garantir que consigamos ter uma categoria cada vez mais saudável e que continue a responder às necessidades de prazer que o consumidor procura quando consome um iogurte”, defende João Magueijo.

Saúde vs prazer

Tanto mais que o consumidor é, cada vez mais, sensível a questões como a saúde e o bem-estar, mas sem sacrificar o sabor. “A preocupação com a saúde está, cada vez mais, no ‘top of mind’ dos consumidores portugueses e, por consequência, continua a ser um enorme ‘driver’ de consumo. Assistimos, hoje, no entanto, a uma ‘nova saúde’ com crescimentos bastante acelerados”.

Esta nova realidade é o resultado de um consumidor que passou a trocar ofertas ditas “mais tradicionais”, como os bifidus ou o light, por subsegmentos mais “completos”, como é o caso de proteínas, sem lactose e bio, entre outras. De facto, o consumidor é, cada vez mais, exigente, mas a exigência deixou de ser apenas organolética, para passar a ser também uma satisfação emocional. Daí que categorias como as sobremesas lácteas e os gregos estejam a crescer, enquanto as ofertas light estão em queda. “O consumidor tornou-se ainda mais atento e exigente e tem, hoje, ofertas mais completas, como é o caso de proteínas, que apresenta um elevado nível de novos compradores vindos da categoria light, que substituíram uma oferta baixa em calorias por uma oferta baixa em calorias e rica em proteínas”, exemplifica.

Tradição ainda é o que era

O consumidor português é, de facto, adepto da inovação, mas o mercado nacional ainda continua a ser conservador em alguns aspetos. Portugal é, por tradição, um país de iogurtes líquidos, ao contrário da maior parte dos países da Europa, onde esta continua a ser uma tipologia residual. Em Portugal, mais de 50% dos iogurtes vendidos são líquidos, independentemente do segmento ser saúde, light, básico ou outros. “Em parte, esta unicidade do mercado português deveu-se ao papel inovador da marca Yoggi, ainda na década de 80, e ao momento de consumo de iogurtes. Em França, por exemplo, há um elevado consumo de iogurtes depois das refeições, enquanto, em Portugal, o consumo ‘on the go’ é extremamente forte”, sublinha o Sales Development Director da Longa Vida. Não obstante, neste momento tão atípico da realidade mundial, a categoria dos sólidos tem vindo a ganhar um novo ímpeto, mostrando-se como a mais dinâmica do mercado português, com um crescimento em volume acima dos 10% e com a maioria dos “players” a evoluírem favoravelmente. Este dinamismo acontece, em parte, porque este segmento responde a alguns dos principais “drivers” de crescimento da categoria de iogurtes, isto é, grandes formatos e preços baixos.

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