Revista GPS Brasília 29

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www.gpslifetime.com.br

ANO 9 « Nº 29 « 2021

RALFE BRAGA, BETTY BETTIOL E PAULINO AVERSA FAZEM ARTE POR TODA A PARTE

# 29 / 2021

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BRASÍLIA (061) A CONEXÃO COM A ESPERANÇA

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EM BREVE PISO TÉRREO

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I G U AT E M I _ B S B

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Diretora de Conteúdo Paula Santana Editora-chefe Marcella Oliveira Editora de Criação Chica Magalhães Fotografia Celso Junior e Luara Baggi Produção Executiva Karine Moreira Lima Pesquisa de Imagens Enaile Nunes Reportagem Daniel Cardozo, Giovanna, Pereira, Letícia Cotta, Marina Adorno, Morillo Carvalho, Nathália Borgo, Paulo Pimenta e Theodora Zaccara Colaboradores Bruno Cavalcanti, Edinho Magalhães, Joana França, Isadora Campos, Maria Thereza Laudares, Mário Rosa, Maurício Lima, Patrícia Justino e Vanessa Farias Revisão Jorge Avelino de Souza Diretor Executivo Rafael Badra Gerente Comercial Will Madson

GPS|BRASÍLIA EDITORA LTDA. www.gpslifetime.com.br SÓCIOS-DIRETORES

Contato Publicitário José Roberto Silva

RAFAEL BADRA PAULA SANTANA

Tiragem 30 mil exemplares

SHIN CA 04 Bloco A lojas 147/148 Shopping Iguatemi Brasília Lago Norte – Brasília-DF CEP: 71.503-504 Tel.: (61) 3364-4512 | (61) 3963-9003

Circulação e Distribuição EDPRESS Transporte e Logística

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EQUIPE

Chica Magalhães

Marcella Oliveira

Karine Moreira Lima

Celso Junior

Luara Baggi

Enaile Nunes

Marina Adorno

Giovanna Pereira

Theodora Zaccara

COLABORADORES

Bruno Cavalcanti

Daniel Cardozo

Letícia Cotta

Nathália Borgo

Paulo Pimenta

Vanessa Farias

Morillo Carvalho

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ANO 9 – Nº 29 – FEV-MAR-ABR/2021

Ralfe Braga Sem nome, técnica arte digital, RBS202

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Betty Bettiol Óleo sobre tela, sem nome, 2,50 x 2,00, abril 2021

A LEVE DENSIDADE DAS SUPERQUADRAS Os encantos da criação de Lucio Costa

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EN FRANCE: O EXÍLIO CRIATIVO Oscar Niemeyer e sua passagem pela França

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EFÍGIES IMPRESSAS E DESTINADAS A história da capital contada em selos

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MARCELO QUEIROGA – CONVOCAÇÃO EXTRAORDINÁRIA GPS entrevista o ministro da Saúde

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ARTIGO POR MÁRIO ROSA

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ENTRE FUNDADORES E HERDEIROS

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ÍCONES POR ISADORA CAMPOS

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CONQUISTAR, GERIR E PERPETUAR

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A ARTE DE FAZER GRANDES NEGÓCIOS

BRASÍLIA, BRASÓLIA, BRAXÍLIA, PURO AFÃ A cidade como personagem do cinema

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SOB O FRESCOR DO MAR

ENVELHECER: O FUTURO DO PRESENTE Urbanista planeja o futuro do Plano Piloto

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O RENASCER Museu de Arte de Brasília reabre após 14 anos

DEDICADO AOS VIVENTES HUMANOS Monja Coen, Clóvis de Barros Filho e o despertar

Paulino Aversa Brasília Monumental, estudo para mural, 2021

O cultivo de camarões da empresa Fisgo O jornalista fala sobre a força do amor A profissionalização da sucessão familiar

As histórias empresariais de pais para filhas A trajetória da VLG Investimentos

Roberto Niwa Camilo e o seu clube de vantagens

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LIBERTÉ, ÉGALITÉ ET PUBLICITÉ

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HISTÓRIAS QUE CONECTAM

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A LUZ DA EMPATIA

Os mobiliários urbanos da JCDecaux Pátio Brasil conectado com a capital

O trabalho humanizado da Luminu Home Care

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mirandacastrojoalheria 61. 99610-1300 61. 3248-5891 Gilberto Salomão

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ESPECIALISTA EM FEMINILIDADE

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BOUTIQUE SCHOOL DA HARMONIZAÇÃO

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A técnica Fast Track Recovery de implante de silicone Profissionais de saúde e também empreendedores

INTERVENÇÕES HUMANIZADAS

108 CRIAR, UM ESCAPE COLETIVO

A Mostra Museu: Arte na Quarentena

112 ABAIXO A HOMOGENEIZAÇÃO Livro elenca vinte artistas da década

116 LINHAS FRATURADAS

As telas da artista baiana Mirela Cabral

Clínica Singular investe em tecnologia de alta performance

117 LEMBRANÇAS EMOLDURADAS

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OPERAR: O FIM DO TRAUMA

118 ARTE POR MAURÍCIO LIMA

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ARTIGO POR NICOLE ARAÚJO

120 A POESIA DO CAOS

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ARTIGO NELSON WILIANS

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ARTIGO POR EDINHO MAGALHÃES

Rodrigo Lima e a cirurgia na coluna vertebral Ginecologista explana a menopausa

O advogado e as transformações do judiciário Um por todos e todos por um, ou cada um por si?

100 061 – A CONEXÃO COM A ESPERANÇA Betty Bettiol, Ralfe Braga e Paulino Aversa estampam nossa capa

Memórias pelas paredes de casa

Montando uma carteira de investimento Fotógrafos latino-americanos registram a pandemia

124 CHAPADA DOS VEADEIROS A essência sem a interferência

128 OM SHANTI OM SHANTI OM SHANTI A fazenda particular mais cobiçada do País

130 EXPLORA POR MARCELLA OLIVEIRA Hospedagem e gastronomia na Chapada

133 LA DOLCE VITA

O secular hotel La Palma, em Capri

134 CARLOS FERREIRINHA

A reinvenção da experiência do luxo

138 TETÊ COM ESTILO

O centenário da estilista Zuzu Angel

142 HISTÓRIA BORDADA

A trajetória da mineira Patrícia Bonaldi

146 NOUVELLE GÉNÉRATION

Designers brasilienses ganham o mundo

150 ENTRE NÓS POR PATRÍCIA JUSTINO As novidades da temporada

152 A CONFRARIA DO REQUINTE E DO RÚSTICO A brasilidade do handmade da marca

154 CORTE E COSTURA

Processo criativo da Louback Maison

Pulseiras em seda e gemas, coleção Chakras por Silvia Badra para a ALTRUM by GPS|Foundation

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EDITORIAL

ELA FALAVA COISAS SOBRE O PLANALTO CENTRAL...

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uito antes de Brasília tornar-se capital, ela já era esperança. Passou por 150 anos de perseverança até que se tornou concreta. Sim, Juscelino Kubitschek a executou e deu vida ao preâmbulo, mas a realidade narrativa relata que Brasília, sob várias conspirações extra monárquicas, existira em colóquios secretos de marqueses a parlamentares. O imbróglio era o Rio de Janeiro, terra maravilhosa, mas miscigenada, viciada, mal acostumada com o passado. Num país recém-republicano, o temor era eclodir uma rebelião pela volta do império. Era preciso, urgente, algo puro, nascido, gerado. Havia uma Minas Gerais no caminho, candidata a hospedar a nova capital. Até com nomes aventados... Nova Lisboa, Cabrália, Imperatória, Vera Cruz, Cidade Tiradentes, Petrópole. Era só escolher. Mal sabiam todos que ela predestinada estava. Dom Bosco, não muito distante daqueles anos mil e oitocentos que compuseram a Independência do Brasil, profetizara no Paralelo 15 a terra abundante de leite e mel. Mas tinha de ser com acesso de Norte a Sul, Leste a Oeste, cortada por caudalosos rios. No planalto. O central. Na Capitania de Goiás. Um Distrito Federal. Num quadrado. Em formato de cruz... ou de avião?! 1960. De lá até aqui, são favas contadas, vivenciadas em cada eixo, reta, curva de Lucio Costa, Oscar Niemeyer e Israel Pinheiro. Mas Brasília não é tão somente fruto sociopolítico. Há mistério. Há quem diga que a capital encontra-se na mesma disposição das pirâmides do Egito. Ou que está instalada na hot zone de um universo extraterrestre. Fala-se também em simbolismos e crenças que trouxeram centenas de

milhares de pessoas para organizar a cidade que muitos chamam de a Nova Jerusalém, a terra da nova era, que ainda está por vir. Acheguemo-nos até a Chapada dos Veadeiros. Lá, podes ver, podes crer. E, nas conexões efetivas da realidade, foi nos anos 70 que Brasília tornou-se um número, a discagem rápida da conexão com os quatro cantos do País. E não é que 61... 6+1= 7. Sete é bíblico. Sete é o número da perfeição e do contato com Deus. Sete fala de totalidade, interação. Está consumado, Brasília é sete. E nos oferta o maior lago artificial do mundo, o maior parque urbano da América Latina e ainda 400Km de trilhas naturais que cortam o quadradinho. O que mais seria necessário para crermos que estamos diante de uma Brasília mística. Dessa confluência de contemplação surgiram signos, elementos e simbolismos que consolidaram a essência da cidade. Brasília era tão sem fronteiras literais... Brasília estava sob o céu escancarado em toda a sua infinitude, cercada de nada. Brasília era livre. Para criar, para sonhar, para buscar. Ser e pertencer. Brasília era “o princípio, o fim e o meio”. E assim vieram Bettys, nasceram Paulinos, migraram Ralfes, os três artistas que estampam as nossas capas, sempre diligentes na busca da esperança. Cada um deles trouxe para este ano 61 o seu empirismo plástico. Todos agradecidos pela terra de maná na qual Brasília se transformou. Renato Russo que versou Brasília por 36 anos e ainda 25 anos depois de morrer transcende corpo e alma e se mantém nosso mais leal comissário ao evidenciar a Brasília lírica, lúdica, poética, imagética. E a revista incrivelmente se constrói sozinha. Como se personagens fossem surgindo e adentrando naturalmente essas páginas cedidas para resenhas geniais que só validam a certeza de que estamos, sim, falando de uma Brasília miraculosa. Inexplicável. Por que não? “Mas quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer... que não existe razão?...”.

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IDENTIDADE

A LEVE DENSIDADE DAS SUPERQUADRAS QUADRADOS EMOLDURADOS POR ÁRVORES FORMAM O PLANO PILOTO, PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE. MAIS QUE UM ESPAÇO ORGANIZADO, HAVIA DE SER UMA NOVA FORMA DE HABITAR. TRADUZIR A COMPOSTURA URBANA EM ESCALA DOMÉSTICA. COISAS DE BRASÍLIA POR MARCELLA OLIVEIRA « FOTOS JOANA FRANÇA

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omo é possível um bloco de concreto despertar alguma coisa no seu coração? Como transformar uma estrutura planejada e solidificada em um lar? Como fazer poesia dentro de um quadrado? As Superquadras – e nos permita, aqui, grafá-las em maiúscula – nasceram a partir de um planejamento para a nova capital. Um esboço que serviu de modelo. Um piloto. Fundamentado em referências da arquitetura mundial, com um toque de genialidade brasileira. Elaborado com papel e lápis na sala de casa. Por um homem que nasceu francês, mas fincou raízes em terras tupiniquins. “O conceito de ‘superquadra’ como extensão residencial aberta ao público, em contraposição ao de ‘condomínio’ como área fechada e privativa, foi inovador e revelou-se válido e civilizado”, explanava o franco brasileiro Lucio Costa sempre que indagado sobre tal exotismo modernista. Circular pelas Superquadras de Brasília – especialmente as primeiras – é observar um padrão. Si-

metria, mesmo dimensionamento, densidade, cinta arborizada periférica, gabarito de seis pavimentos, cobogós, pilotis. Basta um mergulho no universo arquitetônico de Lucio Costa e surge um pouco de entendimento do que foi pensado ali. Afinal, não à toa esse plano o tornou conhecido mundialmente e deu à capital o título de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco. Abrigou candangos, presidentes – o próprio Juscelino Kubitschek morou na SQS 111 –, parlamentares, ministros. Brasilienses. Arquiteto e urbanista, Lucio pensou nos traços e escalas das quadras. Uma maquete perfeita no meio do Cerrado até então inabitado. Mas também refletiu sobre sua existência. Foi denso sem perder a leveza. Era mais do que apenas um espaço organizado, elas representavam uma nova forma de habitar. Tinha de ser algo novo, mas que não intimidasse. Ele não queria que a escala milimetricamente pensada nem os blocos de concreto fossem algo sem vida. Ele sabia que ali teria sangue correndo nas veias.

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Uma vitalidade observada no ar que entra nos corredores e apartamentos pelos elementos vazados, símbolo da arquitetura modernista. Na sustentação por pilotis para livre circulação embaixo do bloco e para dar uma ampla visão de um lado para outro do prédio – para Lucio, uma característica essencial para a vida da quadra. Nas árvores que acolhem e aproximam a vida urbana da natureza. Na convivência dos vizinhos. Um plano perfeito que ganharia vida por quem chegasse ali. Um calor humano. Como dizia Aristóteles: “Uma cidade é construída por diferentes tipos de homens, pessoas iguais não podem fazê-la existir”. Como costuma dizer sua filha, Maria Elisa Costa, Lucio escreveu a partitura sabendo que contaria com um exímio intérprete: Oscar Niemeyer. A implantação das Superquadras foi feita pela Divisão de Arquitetura, sob orientação de Niemeyer, que projetou os primeiros blocos a partir dos croquis. A execução ficou a cargo da Novacap, no comando de Israel Pinheiro. O antropólogo Darcy Ribeiro, ateu, costumava dizer: “Deus estava de

bom humor quando juntou no mesmo tempo e espaço quatro brasileiros especiais: Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer, Israel Pinheiro e Lucio Costa.” Quando a gente pensa em Superquadra, surge um questionamento: por que o uso do prefixo “super”, não poderia ser apenas quadra? Super significa algo grande, superior, forte, demonstra proeminência. E

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A CRIAÇÃO DO PLANO PILOTO “Eu me vi diante de um impasse. O fato de ter que usar uma escala generosa na concentração dos edifícios simbólicos da administração pública ao longo do Eixo Monumental, com a Praça dos Três Poderes e a Esplanada nos Ministérios até a Praça Municipal, exigia uma conciliação, em escala compatível, com parte residencial da cidade. Mas como conciliar esta escala ampla, essa intenção de traduzir dignidade, compostura urbana, com a escala doméstica? As superquadras, esses quadrados de 300 metros de lado, emoldurado de árvores, se articulavam bem, estabeleciam uma unidade de composição e de criação.” – Lucio Costa, arquiteto e urbanista e criador do Plano Piloto de Brasília

A HISTÓRIA EM LIVRO

foi esse o nome escolhido para cada um dos quadrados de 280m x 280m que formam Brasília. Apenas quadra seria somente a arquitetura. O super, talvez, ouso dizer, é por causa do calor humano que existe ali. Super candangos e super brasilienses que, ao se juntarem com a palavra “quadras”, formam “Superquadras”, a marca registrada de Brasília.

As Superquadras já despertaram a curiosidade de muitos estudiosos durante os 61 anos de existência de Brasília. Em 2009, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) publicou o livro A Invenção da Superquadra, dos arquitetos Marcílio Mendes Ferreira e Matheus Gorovitz. Após anos esgotado, ele, agora, foi ampliado e atualizado. A segunda edição foi publicada neste ano, com acr scimo da bio rafia dos entre istados da correção de desenhos e da inclusão de projetos que constavam na pesquisa original dos professores. Para ilustrar as teorias, imagens da fotógrafa Joana França, arquiteta que se dedica excl si amente oto rafia desde Por pensar que muitos prédios perderam suas características originais com as reformas, Joana buscou os edifícios que mais se mantinham fi is s caracter sticas ori inais para incl ir no livro. Serão 1.700 exemplares, com distribuição organizada pelo Iphan para instituições de ensino, governamentais e uma reserva técnica para o público em geral.

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ARTÍSTICOS

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O RENASCER FORAM CATORZE ANOS À ESPERA DA RETOMADA DA ARTE DILIGENTE. A REABERTURA DO MUSEU DE ARTE DE BRASÍLIA RESGATA A MEMÓRIA CRIATIVA DE ARTISTAS QUE COMPUSERAM O REPERTÓRIO PRODUZIDO EM SEIS DÉCADAS DA CAPITAL POR GIOVANNA PEREIRA « FOTOS BRUNO CAVALCANTI

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inhas retas atravessam a imensidão do céu. Uma fachada em tons de azul e cobogós brancos reafirmam a identidade da sexagenária capital em uma arquitetura familiar. Às margens do Lago Paranoá, no Setor de Hotéis e Turismo Norte, o Museu de Arte de Brasília renasce. Inaugurado praticamente junto com a cidade, em 1961, o MAB é mais um dos espaços culturais que carrega valor histórico importantíssimo. O projeto estrutural foi as-

sinado por Oscar Niemeyer ao lado de Joaquim Cardozo. O edifício serviu de anexo para o icônico Brasília Palace Hotel, para o clube das Forças Armadas e, até mesmo, como casarão do samba. Apenas em 1985 transformou-se em galeria. O projeto arquitetônico, agora revitalizado, foi de um jovem alagoano, Abel Carnauba Accioly, à época servidor da Novacap como desenhista técnico. Mal sabia ele que estaria desenhando parte nobre de Brasília. GPSLifetime « 25

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MUSEU DE TODOS Por não estar na região central da cidade, “os desafios de tornar a instituição sempre presente é gigantesco”, afirma Marcelo. No entanto, o trabalho e a disposição em fazer deste um projeto formidável é o que mais incentiva a equipe do MAB. “Um museu sem público é como um corpo sem alma”. Exposições, formação artística e conservação do acervo estão no dia a dia do trabalho de Gonczarowska. O projeto de curadoria começou ainda em 2019. “O objetivo principal da minha gestão é torná-lo uma instituição popular, com grandes taxas de visitação. Ele será um museu gratuito com comunicação clara, sem jargões ou termos hiperespecializados”, comentou.

Foto: Matheus Lucena Foto: Jean Peixoto

Mário Jardim, sem título, série Despachos (2019)

Lis Marina Oliveira, Rastros petrificados (2019)

ARTE VIVA Brasília e seu amadurecimento no decorrer das décadas permitiram o surgimento de uma identidade cultural e artística própria, que bebeu nas raízes modernistas, mas trilhou caminhos próprios, ora aproximando-se das correntes nacionais/internacionais, ora afastando-se em prol de pesquisas singulares dos artistas, eventualmente inspirados pelas características peculiares da história, da geografia e do modo de vida na nova capital. Lêda Watson é uma dessas artistas e sua relação com o MAB até hoje é importantíssima.

Foto: Cléber Cardoso

Apesar de possuir acervo com mais de 1,3 mil obras, e assinadas por grandes nomes do segmento, como Tarsila do Amaral e Rubem Valentim, o espaço esteve abandonado por mais de 14 anos. Em 2007, o Ministério Público recomendou seu fechamento por problemas estruturais. Ele foi esquecido e tornou-se um verdadeiro esqueleto na capital. A nova geração brasiliense cresceu sem nunca saber de sua existência. “A reabertura do MAB só foi possível em razão da persistência da sociedade civil em exigir sua reativação, assim como a política da atual gestão do GDF, que definiu a reinauguração como prioridade, realizando os investimentos necessários para que a obra fosse concluída”, afirmou o gerente do espaço, Marcelo Gonczarowska, sobre os 61 anos da capital, celebrados em 21 de abril. Bacharel em Artes Plásticas e Mestre em Arte Contemporânea pela Universidade de Brasília, com passagem pela École du Louvre e um estágio junto ao curador-chefe do Museu d´Orsay, em Paris, Gonczarowska foi servidor de carreira do Instituto Brasileiro de Museus, atualmente concursado da Secretaria de Cultura do DF. Agora, Marcelo ocupa a cadeira de Diretor de Gestão dos Espaços Culturais da secretaria. Também é artista plástico e tem sua história veiculada ao MAB desde antes de seu fechamento, afinal, foi estagiário da instituição. “O MAB foi criado para suprir a carência da capital da República por um museu de arte. Durante anos, foi a única instituição do tipo na cidade, então é natural que se tenha tornado um marco e uma referência tão logo abriu as portas”, comentou.

Suyan de Mattos, Palimpesto de um museu (2019)

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“A Lêda é uma figura emblemática. Ela agita a vida cultural desde a década de 1970, tanto por meio de exposições de suas gravuras, quanto por aulas e organização de eventos. Não surpreende que tenha sido escolhida pelo então governador do DF, José Ornellas, para integrar a equipe responsável pela fundação do MAB, assim como para ser sua primeira administradora”, conta Marcelo. Lêda fez parte da gestão do museu até meados dos anos de 1990, inclusive quando se tornou Coordenadora de Museus da antiga Fundação Cultural. “Ela pode orgulhar-se, efetivamente, de ser fundadora e ‘re-fundadora’ do museu”, afirmou Marcelo.

RECOMEÇO Um catálogo impresso e a abertura da mostra virtual Obra-Arquivo MAB, marcam o retorno do MAB na rotina do brasiliense. Resultado da residência artística realizada em 2019, com a participação de 18 artistas que moram e produzem em Brasília. Idealizado por Gisel Carriconde Azevedo, o projeto teve curadoria e acompanhamento crítico de Cinara Barbosa. São memórias poéticas da transformação daquelas ruínas em um local para abrigar, novamente, a arte. “Identifiquei, naquele momento, histórias coletivas e pessoais dos artistas. Considerei importante compor essa trança temporal, já que havia artistas com diferentes relacionamentos com a instituição”, explicou. @museudeartedebrasilia @obraarquivomab www.cultura.df.gov.br/museu-de-arte-de-brasilia

O PÚBLICO Por ora, o MAB ainda não está aberto à visitação. No entanto, quem passar por lá pode apreciar o Parque de Escultura, assim como uma pequena mostra montada nos pilotis sobre sua história e seu acervo. Quando puder realmente voltar a acolher o público, terá uma exposição com cerca de 150 obras do acervo, que contam a história da arte e do design de Brasília. Para 2022, uma exposição sobre mulheres artistas e designers da cidade; uma grande mostra comemorativa dos Cem anos da Semana de Arte Moderna de 1922; e, em negociação, a exposição da mais exclusiva coleção de móveis modernistas da capital. O museu terá, ainda, uma cafeteria para os visitantes.

Lino Valente

O ACERVO

Lino Valente, Cidadão, Série: O mundo é de quem não sente (2019/2020)

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Obras de nomes expressivos da arte moderna e contemporânea brasileira compõem o acervo do museu. Dentre eles, Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, Amílcar de Castro, Lygia Pape, Tomie Ohtake e Mario Cravo Neto. Uma das pérolas é o ateliê de Rubem Valentim, doado ao MAB tal qual foi deixado pelo artista quando de seu falecimento, com seus cavaletes, pinturas inacabadas, pinceis e outros objetos. Um diferencial é a grande coleção de arte brasiliense, capaz de contar toda a história da arte na capital, dos anos 50 até hoje. Nenhuma outra instituição possui um conjunto semelhante. Para citar apenas alguns desses artistas, Athos Bulcão, Marianne Peretti, Lêda Watson, Glênio Bianchetti e Ana Miguel. GPSLifetime « 27

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GERAÇÃO

ENVELHECER: O FUTURO DO PRESENTE A URGÊNCIA EM CRIAR A CONSCIÊNCIA DE QUE MUDA A CIDADE QUEM NELA HABITA FEZ COM QUE A URBANISTA DUDA ALMEIDA PROJETASSE O PLANO PILOTO COMO O ESPAÇO URBANO IDEAL PARA ABRIGAR MAJORITARIAMENTE IDOSOS EM ALGUMAS DÉCADAS POR MORILLO CARVALHO

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imone de Beauvoir disse que “preparar-se para a velhice é principalmente lutar sempre... E continuar lutando por objetivos capazes de conferir um sentido à existência”. Essa frase é a epígrafe escolhida por Duda Almeida para a abertura de seu livro, O Desenho Urbano e o Envelhecimento Populacional – Reflexões sobre o Plano Piloto de Brasília, lançado pela Rio Books. Epígrafe que confere uma espécie de síntese sobre o que há por vir. O livro não é uma obra de literatura. É técnico, fruto da dissertação de mestrado. É denso. Mas não menos interessante. Capaz de despertar no leitor o mesmo interesse e necessidade de seguir mais algumas páginas, tal como se faz com histórias literárias. A começar pela capacidade de transcrever afetos de Duda: logo de cara, ela compara a vida que a própria mãe leva na Asa Sul com a de uma senhora da mesma idade que vive no bairro do Flamengo, na Zona Sul carioca. “Dona Vera, de 78 anos, morava no mesmo apartamento há mais de 35. Participava de grupos de dança flamenca em uma academia no térreo do prédio vizinho, ia ler nas praças, participava de grupos de leitura em um centro comunitário próximo, juntava-se às amigas. Minha mãe, Maria Thereza, tem a mesma idade de Dona Vera, e mora na 114 Sul. Hoje, não utiliza o espaço público. Tem medo do desnível e da irregularidade das calçadas. Evita sair à noite, pois a quadra fica deserta. Não se sente bem nos bancos malcuidados, próximos aos parquinhos infantis desertos”, diz, no livro.

Fotos: Bruno B. Castro

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E o que motivaria a geração mais idosa do Plano Piloto a pensar na cidade como um local inseguro, em detrimento de quem mora no Rio de Janeiro? “Existe uma teoria sobre renovação do espaço público, elaborada pela escritora e ativista política norte-americana Jane Jacobs nos anos 1960, mais precisamente no que diz respeito à segurança urbana, que descreve, entre outras coisas, o conceito dos ‘olhos da rua’. Ou seja, uma cidade segura tem gente andando no espaço público, ocupação constante, mobilidade universal, esquinas e cruzamentos; que tem edifícios com ampla visão para as calçadas, de maneira que os olhos dos moradores ‘protejam’ os espaços públicos – e vice-versa”, explica Duda. Mas o livro não se dispõe a analisar o fenômeno da violência, e, sim, como o desenho urbano ajuda a aumentar a sensação de segurança ou insegurança entre seus habitantes. E, nesse sentido, a autora conclui que “a população idosa, no Plano Piloto, tem nitidamente a impressão de que os espaços urbanos são ‘terra de ninguém’: calçadas quebradas, mal iluminadas, espaços abandonados, locais ermos à noite. Assim sendo, para se entender a cidade é preciso vivenciá-la: no Rio de Janeiro, a despeito de todo problema social, existe a identidade do morador com a cidade, com o bairro no qual reside. Isso resulta em uma teia de relações, vínculos e contatos entre moradores, comerciantes, prestadores de serviço, crianças no parquinho, que propiciam a chamada vitalidade urbana. É o que desejamos para o Plano Piloto”.

A TRANSFORMAÇÃO A partir das conclusões do livro, questionamos Duda sobre 2060. Dentro de quase 40 anos, a população idosa corresponderá a 26,1% dos habitantes do Plano. “Segundo o filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre, ‘ao mudarmos a cidade, mudamos a nós mesmos’. Uma das lições que aprendi, durante a pesquisa, é que a iniciativa da transformação urbana e de democratização do uso dos espaços públicos comuns depende do poder coletivo e não o teórico, na ‘prancheta’. É um movimento que deve abranger habitantes, gestores públicos e interventores urbanos e que deve caminhar em conjunto e com o apoio técnico do planejador urbano”, diz Duda. Ela aponta movimentos que já existem, “na sua maioria capitaneados por jovens, com piqueniques, feiras, rodas de choro, rodas de leitura, yoga nas quadras, e ações de inclusão social”. Um dos exemplos é o Instituto No Setor, que promove a ocupação, requalificação e transformação do Setor Comercial Sul. “Vejo que as mudanças partem da base da sociedade, atingem e envolvem os moradores e resultam em demandas e ações de gestão do território. Ao pensarmos assim, entendemos que fazemos parte de um grupo que decide sobre e que vive intensamente o espaço urbano, e que a sociedade atual é sensibilizável, globalizada, e pode ser baseada na cooperação – e que, no futuro, nossas cidades e nossa identidade

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do apoio financeiro da iniciativa privada, em conjunto com voluntários e associações de jovens e a grande participação dos idosos. São ações simples, que resultam em grande ganho social”, analisa.

FORA DO PLANO

social serão fruto da nossa conscientização sobre nossas necessidades atuais e, principalmente, sobre as necessidades do coletivo, aqui e agora”. Pois é. O aqui e o agora precisam atender ao chamado por transformação. O livro faz comparações com cidades que se modelaram para atender às necessidades da população idosa. Para Duda, este é um debate que urge. “Já estamos atrasados. Em Nova York, uma parceria entre a prefeitura, centros comunitários e o ambiente acadêmico desenvolveu um mapa interativo voltado especificamente aos indivíduos com mais de 60 anos, com informações em tempo real sobre cultura, segurança, serviços, saúde, e outros, de maneira a construir conexões entre setores, instituições e organizações, o que resulta em um apoio social muito grande, visando o envelhecimento ativo. Em York, na Inglaterra, iniciativas do governo local em relação ao uso do espaço público tornam os locais mais amigáveis aos portadores de limitações físicas e pacientes com demência. No Japão, existe um programa chamado ‘jardineiros intergeracionais’, que promove o cuidado de parques públicos através

Duda se debruçou sobre o Plano Piloto de Brasília, mas e fora dele? “Um bairro não representa a totalidade de uma cidade, e sim uma célula que faz parte de um todo, assim como o Plano Piloto não representa a totalidade do Distrito Federal, nem o Distrito Federal é o retrato fiel da metrópole brasileira. São realidades distintas, e por isso nossa cidade é tão peculiar. O urbanista deve e pode defender o direito coletivo do cidadão de usar, habitar, ocupar, produzir e desfrutar das nossas cidades de forma mais igualitária. O que é bom, em termos de desenho urbano, para a terceira idade, é bom para qualquer cidadão, crianças, bebês e adultos. Assim sendo, uma maior consciência sobre a qualidade do espaço público foi criada ao longo dos anos, e um dos motivos foi entender, por exemplo, que o espaço é democrático e que é necessária a convivência entre gerações, e que a não dependência do automóvel nos garante qualidade de vida no ambiente urbano e um futuro sustentável para nossos filhos e netos. É uma mudança lenta e complicada para uma cidade que foi desenhada ao redor de um eixo rodoviário”, defende. E conclui: “Sudoeste, Águas Claras e Noroeste são novos bairros criados a partir de uma nova mentalidade, de que as pessoas gostam de conviver em espaços abertos, andar a pé, ter um metrô na porta de casa e uma paisagem urbana com parques, praças, jardins, áreas recreativas, ambientes externos às edificações. Mas falamos da cidade como um todo, e infelizmente, estes são conceitos incipientes e timidamente aplicados mais nos bairros de classe média alta, dentro da realidade do nosso País”. Duda defende que deve haver um senso de ‘pertencimento’, fortalecendo uma conexão das pessoas com o ambiente urbano. “Assim, haverá maior vontade e preocupação em cuidar dos espaços compartilhados. O espaço comum é nosso”, conclui Duda. E aí... Envelhecer no Plano... bora? O Desenho Urbano e o Envelhecimento Populacional Por Duda Almeida Editora Rio Books

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MODERNISMO

EN FRANCE: O EXÍLIO CRIATIVO

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ntre o pensamento político e a sensibilidade de um dos maiores nomes do modernismo, Oscar Niemeyer conquistou o mundo e ergueu monumentos em prol de uma arquitetura que se equilibrava entre o peso do concreto e a leveza dos vazios. Além das inúmeras contribuições para a paisagem e a identidade do Brasil, no exterior Niemeyer também avançou e deixou sua marca. No começo da década de 1960, o arquiteto já havia conquistado reconhecimento por executar um dos projetos mais ousados da arquitetura moderna. Ao lado de Juscelino Kubitschek e Lucio Costa, Brasília floresceu e mesmo hoje com suas fugas dos projetos originais ainda é referência. Tão logo a nova capital deslanchou como realidade mundial, Oscar, em 1962, buscou a linha do horizonte e executou projetos em outros países. Mas foi a partir de 1965 que sua atuação no cenário internacional se alargou numa jornada sem volta. Comunista assumido, sabiamente combativo, afiado com as palavras e com os croquis que apontavam para a inovação, Niemeyer fundou, durante a ditadura militar, a revista Módulo, na qual veiculava suas ideias políticas e seu trabalho. No contexto rígido do

Foto: Fundação Oscar Niemeyer

OSCAR NIEMEYER ENCONTROU NA FRANÇA O ESPAÇO QUE PRECISAVA PARA ESBOÇAR SUAS IDEIAS. A IMPORTANTE ATUAÇÃO DO ARQUITETO FORA DO BRASIL, INCLUINDO OS INÚMEROS PROJETOS NÃO EXECUTADOS, TORNA-SE OBRA LITERÁRIA POR GIOVANNA PEREIRA

Sede Jornal L’Humanité

Brasil na época, o periódico foi proibido pelos militares. Então, o arquiteto buscou abrigo em Paris. A França o acolheu de braços abertos e olhares atentos. Diferentemente de tantos outros brasileiros, quem chegou à Cidade Luz não foi um jovem militante pego de surpresa. Aos 57 anos, com trabalho reconhecido e carreira em ascensão, Niemeyer articulou sua ida muito antes de ser impelido a deixar o Brasil. Afinal, sabido é aquele que ergue um monumento com uma boa fundação. Et voilá! A primeira grande aparição do arquiteto para se estabelecer na França foi conceber e financiar a exposição Oscar Niemeyer, Architecte de Brasília no Museu de Artes Decorativas, que ficava numa ala especial do Musée du Louvre, em junho de 1965. A mostra, que no vernissage teve JK como seu representante, serviu como termômetro de aceitação dos franceses.

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Foto: Fundação Oscar Niemeyer

Sede Partido Comunista Francês

a ocupar o posto de sumo representante do modernismo, uma vez que, dias antes de se instalar no novo endereço, o maior nome do movimento na Europa, o franco-suíço Le Corbusier, viria a falecer. Um alienígena moderno demais para a robustez histórica da bela Paris? Oscar Niemeyer era, ao lado de outros nomes, a mudança que os olhares acostumados tiveram que suportar e, mais tarde, maravilhar-se. O exílio de Niemeyer na França lhe permitiu desenvolver projetos que até hoje, como é de se esperar, são ícones da arquitetura mundial. Contrário ao que se via no Brasil, o contexto francês se mostrou propício para que o arquiteto pudesse executar suas explorações. Com um arsenal de boas ideias e uma autorização excepcional para exercer a arquitetura no país, Niemeyer se tornou, segundo estudiosos, um expatriado voluntário e solidário, poupado das durezas do exílio. Além de concedida por decisão pessoal do general Charles De Gaulle, em 1967, quem ocupava a cadeira de Ministro da Cultura na França, era o escritor e crítico de arte André Malraux, apreciador e facilitador da atuação do arquiteto.

Bolsa do Trabalho de Bobigny

LUGAR CERTO NA HORA CERTA Não há dúvida de que o acaso ajudou o percurso de grandes nomes da história. No caso de Niemeyer, pensamos na sorte, entretanto, como um elemento pouco relevante. Mas, ao chegar em Paris, ele passou

Foto: Torres1986/Monumentum

MONUMENTALIZAÇÃO Niemeyer trabalhou de graça no projeto da nova sede do Partido Comunista Francês (PCF), em 1966. Ao lado dele, nomes como Jean Deroche e Paul Chemetov. Só foi concluído em 1980, um dos mais longos projetos do arquiteto no país e nele elevou à última potência os fervores futuristas que explorou na época de Brasília. Naquele momento, o arquiteto carregava, ao mesmo tempo, a linguagem acessível do modernismo e o olhar regional refinado. A combinação, fundamentada em seu traço singular, significava o meio-termo que o partido queria assinalar em seus próprios rumos. Um favor e um prazer, Niemeyer se orgulhou de entregar o projeto sem receber por isso, mas despretensiosamente o retorno veio. Entre eles, o projeto encomendado pelo departamento de Seine-Saint-Denis, no coração da “banlieue rouge”, o cinturão vermelho na periferia de Paris, com uma série de edificações. A Bolsa do Trabalho de Bobigny, conhecido como “o albatroz” e sede do departamento, é um dos projetos dessa lista, que inclui também a sede do jornal L’Humanité. GPSLifetime « 33

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Além disso, a conexão comunista garantiu a Niemeyer trabalho em outras regiões, como em Le Havre, cidade portuária onde projetou a Casa de Cultura conhecida como vulcão por sua forma. Esta é uma das principais obras do arquiteto na França. Por sua relevância cultural, até hoje, o centro fervilha na vida dos franceses, cults de carteirinha. Apesar de sua proximidade com a esquerda, Niemeyer conseguiu manter convites vindos de outras direções. A exemplo, as casas que projetou em uma das regiões mais nobres da França: Côte d’Azur. A mais deslumbrante e relevante, na opinião de críticos, é a Villa Mondadori, para o proprietário do grupo editorial italiano, cuja matriz, em Milão, também foi encomendada ao brasileiro. Embora o arquiteto tenha retornado regularmente ao Brasil durante esse período, apenas em 1981 Niemeyer volta de vez ao País, fechando então seu escritório em terras francesas.

HISTÓRIA CONTADA O recorte explorado aqui acompanha o estudo da mais recente publicação sobre a obra do arquiteto. Os arranjos e movimentações feitos para ampliar a participação de Oscar Niemeyer no novo país são narrados em Oscar Niemeyer en France – Un Exil Créatif. O livro investiga, minuciosamente, como propõe o título, o período do brasileiro na França e seu legado.

Foto: Acervo digital UNESP

Foto: Fundação Oscar Niemeyer

Residencial Nara Mondadori

Le Havre

Brasileira, a arquiteta e pesquisadora Vanessa Grossman assina, com o historiador Benoît Pouvreau, o livro publicado e editado pela Éditions du Patrimoine. Por ora, apenas em francês. A história exposta sobre o exílio de Niemeyer não é apenas gloriosa, é um elogio ao acerto e um aceite à frustração, uma vez que, segundo a autora, Niemeyer teve uma série de projetos não realizados. A leitura é um convite ao encantamento ainda pulsante no trabalho do querido arquiteto.

Oscar Niemeyer en France – Un Exil Créatif (Oscar Niemeyer na França – Um Exílio Criativo) Autores: Vanessa Grossman e Benoît Pouvreau Editora: Éditions du Patrimoine

Em entrevista com o então embaixador francês no Brasil, em 2007, ano em que completou seu centenário, Niemeyer foi saudoso e disse: “A autorização que recebi de Charles de Gaulle para trabalhar no país é uma comprovação do que a França foi pra mim. Eles foram solidários desde o primeiro dia que cheguei lá. É um povo que admiro, um povo inteligente, pronto para qualquer movimento em defesa do país”.

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POSTAIS

EFÍGIES IMPRESSAS E DESTINADAS SELOS PRECIOSOS, E QUE VALEM CIFRAS ASTRONÔMICAS, CONTAM A HISTÓRIA DO BRASIL. UMA COLEÇÃO DO FILATELISTA REINALDO MACEDO RETRATA A SAGA DE BRASÍLIA POR

Fotos: Arquivo pessoal

MORILLO CARVALHO

É

bem improvável que Rowland Hill, há 181 anos, pensasse que sua invenção chegaria a 2021 como um dos hobbies mais fascinantes do mundo. O congressista inglês apenas queria criar um sistema que pudesse identificar que uma correspondência foi paga por seu remetente, já que, até ali, quem pagava pelo envio das cartas era o destinatário. Uma lógica bastante improvável: já pensou se, ainda hoje, nós tivéssemos de desembolsar alguns caraminguás para ler uma correspondência? Foi essa pequena invenção, o selo postal, que resolveu isso. E, hoje, há exemplares que podem custar até R$ 60 milhões. Quem diria que o pequeno adesivo deixaria de ocupar mera funcionalidade e contar, às vezes, mais histórias que as próprias cartas a que estão grudados? Sim, histórias inteiras, e por vezes com H maiúsculo. A de Brasília, por exemplo, está registrada por completo neles. Além da História da construção, de 1960 para cá, a pré-História também está lá. O filatelista – como é chamado o estudioso e colecionador de selos postais – Reinaldo Macedo prova isso. Reúne, em seu imenso acervo filatélico – sobre a qual é incapaz de dizer o tamanho real – uma coleção sobre a capital federal. Paulista de Campinas, Reinaldo viveu em Brasília entre 2014 e 2017, quando recebeu uma proposta de trabalho em São Paulo (SP) e voltou ao estado natal, levando uma brasiliense como esposa. A paixão pela capital foi imediata e, pouco antes de deixar a cidade, realizou o evento Colecionar 2017, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães,

onde apresentou sua coleção Do Sonho à Realidade, iniciada nos 55 anos de Brasília, quando promoveu, junto dos Correios, uma exposição comemorativa. “Os Correios deram todo o apoio e pensei cá com meus botões: ‘vou ligar para meus amigos brasilienses, vai chover coleção sobre Brasília. Rapaz... Nenhuma! Falei: já sei, eu vou montar uma coleção sobre Brasília. A hora que eu vi, estava montando uma coleção e, acima de tudo, estava estudando sobre a História de Brasília dentro de um prisma muito diferente daquele que as pessoas veem, que é só arquitetura. Comecei a ver como ela foi concebida”, conta Reinaldo. Hoje vice-presidente da Federação Internacional de Filatelia (FIP), Reinaldo lembra que a ideia de uma nova capital “já existia desde o império”. É que a cidade foi idealizada pela primeira vez por Marquês de Pombal, em 1751. Foi ele quem contratou um cartógrafo italiano para elaborar a carta geográfica de Goiás e, nela, deu destaque ao valor estratégico do Planalto Central. “O nome, Brasília, vem desde lá de trás. Foi José Bonifácio que sugeriu que a cidade poderia se chamar Brasília”, lembra. “Comecei a buscar essa his-

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cruls” – os limites do novo Distrito Federal foram determinados pela “Missão Cruls” em 1892, uma série de duas expedições de engenheiros para avaliarem o Planalto Central como sede da nova capital. A Constituição de 1891 já previa a transferência. Estudar sobre cada efígie impressa nos selos, cada monumento, cada ponto turístico ou símbolo que represente um evento, proporciona ao filatelista um conhecimento bastante ampliado sobre os temas a que se debruça. Reinaldo, por exemplo, fez descobertas que não costumam ser contadas ao estudar a capital federal: “quando foram processar a criação de Brasília, já existiam, no Brasil, duas cidades com este nome: uma no Acre, e outra em Minas Gerais. O JK vai para Brasília (a mineira), faz um acordo com o prefeito, para que existisse uma só Brasília no Brasil”. A cidade acriana alterou o nome em 1943 para Brasiléia, já tendo em vista a futura capital do país.

BRASIL NA VANGUARDA

tória pelos materiais filatélicos e depois comecei a levantar uma coleção com outros materiais paralelos: cartões telefônicos com a imagem de Brasília, cartões postais da década de 1960 com a imagem de Brasília, jornal da inauguração, moedas ao redor do mundo que falam sobre Brasília”, revela. É empolgante conversar com o Reinaldo e dá vontade de conhecer todos os objetos, mas foquemos na filatelia.

BRASÍLIA EM SELOS No material reunido por Reinaldo, há uma prova de selo para imposto postal em Portugal, de 1925, que tinha como objetivo a construção do monumento ao Marquês de Pombal. Quem for a Lisboa, hoje, e ver a estátua de 40 metros de altura, inaugurada em 1934, pode saber: foi aquele o homem que idealizou a nova capital do Brasil. Há o selo/carimbo de 1974, que comemora o bicentenário do fundador do Correio Braziliense, Hipólito da Costa. Interessante observar que um selo de 1927, tem a imagem de um mapa do Brasil com o quadradinho já marcado: era o selo que comemorava o centenário dos cursos jurídicos no Brasil, e já demarcava o “retângulo

O Brasil foi o segundo País do mundo a circular selos postais, em 1843. Por isso, a filatelia brasileira é uma das mais ricas do planeta. A série “Olho-de-boi”, dos primeiros três selos do país, é, portanto, a segunda do planeta. No mercado, um destes selos, em cujas imagens apenas constam seus valores – de 30, 60 e 90 réis – pode chegar a custar R$ 18 mil, a unidade. Esta série teve aproximadamente três milhões de selos impressos dos quais estima-se existir somente 15/20 mil exemplares. Por isso, não estão entre os mais caros do mundo. O que abriu esta reportagem, de R$ 60 milhões, por exemplo, é o One-Cent Magent, da Guiana Inglesa. Que, como o nome diz, era o selo magenta de um centavo. E por qual motivo, hoje, é tão caro? É que há apenas um exemplar ainda existente no mundo, de uma série já restrita, já que a antiga colônia britânica imprimiu poucos exemplares, porque não havia recebido a remessa de selos da sede do Império. “É uma quantidade de informações tão grande que você tem nos selos, basicamente a História de todos os países. Você tem pontos turísticos, personalidades históricas, monumentos, costumes, arte, dados históricos. O selo sai de ser um mero comprovante de pagamento de um serviço para passar a ser um meio de transporte de todas as informações que um país pode dar”, arremata Reinaldo. E que sorte a dos brasilienses, de ter tanta História guardada nos adesivos... E gente como o filatelista para decifrá-la. GPSLifetime « 37

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CINEMA

BRASÍLIA, BRASÓLIA, BRAXÍLIA, PURO AFÃ

MESMO COMO CENÁRIO, A CAPITAL NÃO DEIXA DE SER PROTAGONISTA. DIRETORES, NATIVOS OU NÃO, A PERSONIFICAM NA TRAMA, E EMOCIONAM AQUELES QUE NELA VIVEM E APRECIAM ESTA OBRA DA ARTE QUE TAMBÉM É ARTE

Foto: Janine Moraes

POR MORILLO CARVALHO

Gabriel Leone e Alice Braga em cena do filme Eduardo e Mônica, de René Sampaio, no Parque da Cidade

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E

ra fim da manhã de um dia qualquer de agosto quando o sopro seco de um raio solar, típico dessa época do ano em Brasília, tocou os olhos de um jovem morador da 716 Sul. Percebe a hora ao celular, sem crer: perdeu a aula do cursinho e já é quase hora do simulado de sábado. Enrola. Levanta atordoado, pega um pacote de salgadinhos que será seu almoço no ônibus da linha Grande Circular. O after da festa Play, de onde havia saído perto de duas horas da madrugada, rendeu: foi uma jogatina na sala de casa, com o avô. Cochila. Ao invés de descer no ponto do colégio, está na Rodoviária do Plano Piloto. Horas antes, uma jovem chegava em casa, uma república na 407 Norte. Sol começando a pinar. Tempo de acender um incenso, praticar yoga, ler o horóscopo e tomar um café rápido: iria direto para a aula de extensão no Hospital Universitário de Brasília. Ao final da manhã, uma passada em casa, buscar os cadernos para as aulas de alemão no Instituto Goethe-Zentrum, não sem antes passar num dos bares da vizinhança e rebater a ressaca da Play. Ônibus até a Rodoviária, desce e espera o outro, para a W3 Sul. Mônica mal pôde acreditar... Esbarrara em Eduardo, que conhecera poucas horas antes! O boyzinho desengonçado da festa, que virava os olhos após a segunda cerveja mas tentava impressionar. Brasília é um ovo mesmo... O fim dessa história você já conhece: eles passaram tempos fora, batalharam grana, seguraram legal a barra mais pesada que tiveram. Voltaram pra Brasília e não podem viajar porque o filho, agora, está de recuperação. Eduardo e Mônica, canção da Legião Urbana lançada em 1986, é um roteiro completo de filme, e toda essa história contada até aqui é mera abstração de como este repórter criaria os cenários e as cenas para transformar música em audiovisual.

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Foto: Felipe Rossi

Dimer Monteiro e Henrique Bernardes Batista em cena de Requília, de Renata Diniz, na Asa Norte

Depois de colocar na telona Faroeste Caboclo, outro roteiro completo narrado pela mesma Legião, em breve, o diretor René Sampaio lançará o filme do casal que tinha tudo para dar errado, mas deu certo. Depois de ver o longa ganhar o prêmio de melhor filme internacional no Festival de Edmonton, no Canadá, em outubro, e de receber propostas para vendê-lo ao streaming, René anunciou: vai aguardar para um grande lançamento nas salas de cinema. “É um filme evento. Não é a mesma coisa de ver no sofá de casa”, diz . Ah! E pode ficar tranquilo: a introdução desta reportagem não foi spoiler. Se houver qualquer semelhança, será mera coincidência. Esse exercício de abstração foi a melhor forma de expressar o que precisamos dizer aqui com todas as letras: como é bom ver Brasília no cinema, né? “Em Eduardo e Mônica, Brasília é um terceiro personagem”, garante René. As formas, as linhas e cores e o horizonte de 180 graus fazem Brasília encher qualquer tela de forma muito particular e especial. “É bem comum que as produções estejam agendadas para o período da seca. Eu, particularmente, acho que a cidade fica muito mais bonita. As cores que a vegetação toma, banhadas de um pouco de poeira, ao mesmo tempo o pôr do sol e o degradê que fica no céu, nesse período de agosto e setembro, é de uma beleza incrível... “, conta o cineasta Iberê Carvalho. Ele é diretor de inúmeras produções, dentre as quais, o longa

O Último Cine Drive-In, 12 vezes premiado, em festivais que vão desde o de Zanzibar, na Tanzânia, aos de San Diego e Chicago, nos Estados Unidos, passando pelos do Rio e de Gramado, aqui no Brasil. Numa narrativa lírica sobre o último cinema para carros da América Latina, ele atesta o que nos disse: é só se lembrar das cenas com árvores secas na entrada do cinema às cenas do sol se pondo atrás da tela gigante – e, no meio disso tudo, a relação entre Marlonbrando (Breno Nina) e seu pai, dono do Drive-In, Almeida (Othon Bastos). “Filmar em Brasília é muito peculiar porque é uma cidade muito única visualmente, em sua disposição espacial. O urbanismo e a arquitetura fazem com que qualquer coisa filmada aqui ganhe características diferenciadas, o que também acaba fazendo da cidade mais um personagem do filme”, completa Iberê. Raras vezes protagonista, mas sempre em cena. “Apesar dos cenários naturais e artificiais serem incríveis, icônicos e inspiradores, o que sempre me despertou interesse e orgulho de filmar em Brasília foram as pessoas. Por ser uma cidade tão nova, com tanta gente oriunda de outros estados e países, minhas equipes e elencos foram formados por pessoas que, como eu, são originárias de outros territórios”, revela o cineasta Otavio Chamorro. Diretor de quatro curtas-metragens que, juntos, já foram exibidos em cinco continentes e em mais de cem festivais, Chamorro estreou com Vagabunda de Meia Tigela em 2015, e logo de cara levou prêmios nos festivais Mix Brasil e For Rainbow. Em uma sátira clara aos filmes adolescentes norte-americanos, o curta é uma comédia que se passa em uma escola pública de Brasília. “A experiência de reconstruir a vida em outro lugar é transformadora e no ciclo em que fiz parte em Brasília, majoritariamente ao redor da UnB, a mistura de hábitos, sotaques, culturas e etnias marcaram minha jornada cinematográfica”, pontua. E basta que o espectador com um pouco mais de repertório sobre a cidade preste atenção e perceberá que o cenário – que inclui uma pista de atletismo – é o Centro Integrado de Educação Física (Cief), colado ao CIL e ao Elefante Branco, na Asa Sul. Também são os filmes que se aproximam de pessoas que a diretora e professora de Fotografia e Iluminação da Universidade de Brasília, Emília Silberstein, destaca. “A experiência varia bastante de acordo com a proposta narrativa do filme. Tem um curta que eu gosto bastante, da Rafaela Camelo, cha-

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Foto: Divulgação/Copyright Pavirada Filmes® Foto: Divulgação

Othon Bastos e Breno Nina gravaram cenas no Hospital das Forças Armadas para o filme O Último Cine Drive-in, de Iberê Carvalho

No Setor Comercial Sul: João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira) se vinga ao matar um dos comparsas de Jeremias no clássico Faroeste Caboclo

mado A Arte de Andar Pelas Ruas de Brasília. Ele tem vários planos próximos, me passa uma sensação mais intimista. E sinto mais a sensação de me aproximar da cidade a partir do cotidiano dela”, diz. O filme de 2013 mostra: o uniforme das adolescentes que protagonizam suas primeiras aventuras transgressoras e íntimas é do tradicional colégio público Gisno; o primeiro cigarro é comprado num boteco simples dos típicos da W2 Norte; as conversas se dão em pilotis azulejados de Athos Bulcão... E numa cena, os antigos concertos do programa Piano ao Cair da Tarde, da Brasília Super Rádio FM, e a voz da locutora Lúcia Garófalo. Há tanta realidade brasiliense na composição desta cena que, em poucos segundos, aparece um senhor que dá um pequeno cochilo enquanto o piano toca: é José Costa Medeiros, o “sr. Costinha”, que viveu na quadra 412 Norte até a morte, aos 86 anos, vítima do Mal de Alzheimer, em 2015. Ele cumpria o rito de assistir aos concertos diariamente – eles eram ao vivo, no subsolo do Conjunto Nacional, e transmitidos pela extinta emissora.

Também foi a 412 Norte, mais precisamente a parada de ônibus da quadra para a avenida L2, o cenário do curta de estreia da cineasta Renata Diniz. Premiado pelo Festival de Brasília em quatro categorias, Requília (2014) participou de mais de 50 festivais e recebeu dez premiações, inclusive em San Diego (EUA). No curta, opera-se um diálogo entre um garotinho e um andarilho, vivido pelo falecido e genial ator Dimer Monteiro. Há tanto a carga dramática dos atores e a intimidade revelada em planos fechados quanto a beleza de uma câmera que divaga por pilotis e áreas verdes daquela quadra tão tipicamente residencial da cidade. “Gravei meu último filme em Planaltina (O Véu de Amani, de 2019, ganhador de um Kikito em Gramado e de um festival em Los Angeles, EUA) e também na beira do Lago Paranoá. É uma cidade espaçosa, na seca é cheia de luz... Então dá pra você criar planos que eu acho que fica tudo muito lindo quando você enquadra na telona”. Alguém discorda?

MAIS DE BRASÍLIA NOS FILMES •

Somos Tão Jovens, drama de 2013, de Antonio Carlos da Fontoura

Rock Brasília – Era de Ouro, documentário de 2011, de Vladimir Carvalho

Afonso é uma Brazza, documentário de 2015, dirigido por Naji Sidki e James Gama

A Noite por Testemunha, curta de 2009, de Bruno Torres

Braxília, de 2010, de Danyella Proença

Democracia em Vertigem, documentário de 2019, de Petra Costa

Fala, Brasília, de 1966, de Nelson Pereira dos Santos (sim, o famoso diretor-fundador do Cinema Novo, que dirigiu “Deus e o Diabo na Terra do Sol”)

Brasília – Contradições de uma Cidade Nova, de 1967, de Joaquim Pedro de Andrade, em 1967

Branco Sai, Preto Fica fic o cient fica antasia de 2014, dirigido por Adirley Queirós

Ratão, curta de 2010, de Santiago Dellape

Filme-Jogo A Gruta fic Gontijo

o de

de ilipe

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ROCK AND ROLL

O DIÁRIO DE MANFREDINI JÚNIOR VIDA E OBRA DE RENATO RUSSO CONCEBIDOS POR SEUS ESCRITOS E DESENHOS DESDE 1970. MEMÓRIAS CONTENDO MAIS DE SEIS MIL PEÇAS SE TRANSFORMARÃO NUM DOCUMENTÁRIO INÉDITO ONDE A TRAJETÓRIA DO POETA TERÁ UMA ÚNICA VERSÃO: A DELE PRÓPRIO POR MARCELLA OLIVEIRA

Fotos: Divulgação

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os 15 anos, Júnior passou por um difícil período por causa da epifisiólise, uma rara doença óssea. A cartilagem e os ossos que ligavam a perna esquerda à bacia foram atacados. Ele precisou ficar por mais de um ano preso a uma cama. Diferentemente do corpo, o labirinto de ideias e pensamentos que era a cabeça do então adolescente não parou. Com papel e caneta na mão, escreveu, em detalhes, a biografia da banda de rock The 42nd Street Band. Só tinha um problema. Ela não existia. Foi tudo fruto da imaginação do jovem. O líder da banda imaginária era o tecladista Eric Russell. O sobrenome inglês foi a inspiração para o nome artístico adotado por Renato Manfredini Júnior. A partir do surgimento de Renato Russo, em meados dos anos 70 – e, consequentemente, o Aborto Elétrico, a Legião Urbana e todo o movimento rock dos anos 80 –, conhecemos as histórias do cantor, um dos grandes nomes da música brasileira. A maioria delas contadas pela família, pelos amigos, por músicos, pelos fãs. Relatos criados por pessoas que conviveram com ele e que, de alguma maneira, o mantêm vivo. Mas e se o próprio Renato fosse contar sua história?

“Será o Renato falando dele mesmo”. É assim que a produtora Bianca de Felippes, da Gávea Filmes, resume a ideia do documentário que começou a produzir em 2021 sobre a vida e obra do líder da Legião Urbana. É um feito inédito, que se realiza quase 25 anos após a sua morte. Sem depoimentos. Sem ouvir o que os outros falaram e falam dele. Chegou a hora de conhecer Renato pelo olhar do Júnior.

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Bianca não mede esforços nem esconde a emoção em dizer como isso será feito: tem, em mãos, um acervo de mais de seis mil itens pessoais do próprio Renato – direitos de uso concedidos pela Legião Urbana Produções, que tem à frente o filho do artista, Giuliano Manfredini. Será a primeira vez que alguém tem autorização para fazer uma obra cinematográfica sobre Renato Russo tendo como fonte o acervo pessoal do compositor. “É uma honra e uma responsabilidade”, confessa. Entre roupas (como a famosa bata branca), objetos (como a coleção de anjos e o baralho de tarô), móveis, desenhos, fotos e gravações, os raros e íntimos diários, cadernos e manuscritos em geral. “Foi o que mais me chamou a atenção”, revela Bianca. Essas páginas íntimas e cheias da essência lírica, poética, musical, emocional e espiritual de Renato Russo serão abertas e apresentadas ao público em geral. Bianca tem um desafio nas mãos, mas muita admiração no coração. Não conviveu com Renato. Não trabalhou e nem sequer teve uma conversa profunda com ele. Só o viu uma única vez.

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A MENTE POR TRÁS DO GÊNIO

Fotos: Divulgação

Foto: Leo Aversa

O cineasta René Sampaio e a produtora Bianca de Felippes são parceiros nos filmes Faroeste Caboclo e Eduardo e Mônica e, agora, como coprodutores neste documentário

O ano era 1995. Ela, que era produtora teatral e iniciava uma carreira como produtora de cinema, com o filme Carlota Joaquina, que tinha Marco Nanini no elenco, foi celebrar o aniversário do ator em sua casa. Lá, sentado no sofá, estava Renato todo de branco. Diferentemente do agito da efervescência artística, ele era apenas um observador da festa. Então, Bianca foi apresentada ao seu grande ídolo, jamais imaginando que, mais tarde, estaria contando sua história.

Bianca tem 55 anos, é uma gaúcha que cresceu no Rio e é amante do rock. Foi adolescente nos anos 80, sabe todas as músicas, tem todos os discos. Mas ela foi mais do que uma fã que assistiu shows da Legião Urbana no Circo Voador e entoou os versos das canções compostas por Renato. “É intrigante como ele produziu tanta coisa, como era tão inteligente. Tinha muitas referências em uma época sem internet. Era muito organizado, tudo anotado. Tem diário dele desde os anos 1970. Esse documentário é muito sobre o processo criativo, especialmente a partir dos diários, para conhecer um pouco da mente por trás do gênio. Quem era esse artista que criava obras que vão ficar eternamente?”, define a produtora. “Diariamente me pergunto isso e sempre me surpreendo”, acrescenta. A partir dessa admiração, iniciaram projetos sobre a obra do Renato. Desde 2016, produz o espetáculo Renato Russo – O Musical, que está há 15 anos em cartaz, já percorreu mais de 50 cidades e foi assistido por quase 500 mil pessoas. “Tem quase 25 anos que ele morreu e não tem uma apresentação de casa vazia”, diz. Ela foi produtora dos filmes Faroeste Caboclo (2013) e Eduardo e Mônica (ainda sem data de estreia), dirigidos pelo diretor brasiliense René Sampaio. “Como a gente é muito fã, quando fazemos uma obra do Renato Russo, a primeira coisa que vem na nossa cabeça é pensar no que ele acharia, se endossaria nosso trabalho. Porque não é uma reprodução literal, é uma obra a partir de outra obra. Muita gente acha que é um filme pronto, mas, por exemplo, a gente tem o cuidado de não usar no roteiro frases da música. Sabemos que quando vem a canção, é algo tão forte que pode tirar o espectador do filme. Ao mesmo tempo, a gente precisa ser fiel a ela”, conta. René e Bianca preparam mais uma adaptação de outra música. “É uma trilogia. Mas a gente só vai contar qual é a próxima depois do lançamento de Eduardo e Mônica”, afirma. “Eu e René somos amigos, compartilhamos da paixão por Renato Russo e sua obra e somos parceiros de trabalho. René vai coproduzir o documentário comigo”, conta. Já a direção ficará a

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cargo de um especialista no gênero. O trabalho terá dois resultados: um documentário para cinema e uma série para tevê para aprofundar alguns temas. Ainda não há previsão de conclusão. Foi esse mergulho na obra do compositor que despertou em Bianca a vontade de contar a história de Renato. “Ele é uma pessoa extraordinária, um imortal, um gênio. Tenho uma admiração sem tamanho por ele. E quanto mais você se aprofunda na obra, acessa os manuscritos, toca e vê tudo que ele produziu, você se apaixona mais”, declara. Em quase duas horas de conversa com a nossa reportagem, ficou clara o que move Bianca neste projeto: o amor. “Eu vou fazer com todo respeito e com todo o meu coração.” E se você pudesse falar algo para o Renato hoje, o que falaria? “Eu converso com ele todos os dias. Claro que fisicamente a gente nunca mais vai ter ele aqui, mas tendo essa relação com a obra, com o acervo, com o que ele escreveu, com o que ele deixou. É quase fazer com que ele se solidifique. Ainda tenho muitos projetos com ele”, diz. Neste, em especial, o olhar será o dela, mas a partir de uma paixão pela obra que vai contagiar quem assistir. “Ele é um artista que tem infinitas possibilidades, daqui a duzentos anos terão pessoas fazendo obras a partir da obra do Renato”, acredita. Renato é um artista sem fronteira. Criou músicas que dialogam com pessoas de diferentes épocas. Tem canções que demorou sete anos para fazer, outras que escreveu em um guardanapo de um restaurante. Fala

de amor, política, drogas, frustrações, do Brasil. Viveu apenas 36 anos, mas viveu intensamente. Morreu há 25 anos, mas com uma obra muito atual. Era uma pessoa analógica, de papel e caneta, de fita cassete e disco de vinil. E com uma sinceridade latente. Seus manuscritos – que revelam ainda uma letra impecável e desenhos em quase todas as páginas (até mesmo os rostos de Eduardo e Mônica) – mostram a forma como trabalhava. E tudo o que deixou, tão bem organizado, é como se tivesse acabado de fazer e deixasse ali em cima da mesa para alguém ler e interpretar. Dar voz. Analisar seu traço romântico e seu traço narrativo. Conseguir entender quem foi Renato a partir de seu próprio processo de autoconhecimento. Se ele conseguiu fazer isso em vida? Só ele mesmo poderá revelar, em breve, neste documentário.

O ACERVO Após a morte de Renato Russo, em 11 de outubro de 1996, o apartamento onde o cantor viveu seus últimos anos de ida no io de aneiro fico ec ado e intacto – por mais de 20 anos. Até que, em 2015, seu fil o entro em contato com o se da ma em e do Som (MIS), em São Paulo, que iniciou um trabalho de recuperação e catalogação de tudo deixado pelo artista – hoje guardado em São Paulo nas instalações da Clé Reserva Contemporânea, uma subsidiária de uma das empresas mais respeitadas do mundo em guarda de obras de arte, respeitando as normas da museologia internacional. Objetos pessoais, peças de vestuário, oto rafias man scritos instr mentos m sicais documentos escolares, desenhos, cartas de fãs, além de prêmios, fanzines, folhetos e impressos variados. No total, são mais de seis mil itens, considerada a maior recuperação de objetos de um artista brasileiro. Destes, 1,5 mil foram exibidos ao público na mostra imersiva Renato Russo, em cartaz no museu de setembro de 2017 a fevereiro de 2018, sucesso de público. A exposição teve, inclusive, uma réplica do seu quarto, exatamente como era no apartamento. GPSLifetime « 45

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SAÚDE

MARCELO QUEIROGA

CONVOCAÇÃO EXTRAORDINÁRIA CARDIOLOGISTA, VACINADO CONTRA INTRIGAS, ASSUME PASTA COM DISCURSO HUMANISTA, TÉCNICO E PROPOSITIVO. EM SUA MESA, A FOTO DO MÉDICO ADIBI JATENE, GESTOR PÚBLICO E ATUAL REFERÊNCIA DO MINISTRO, CUJA MISSÃO É CUIDAR DE 200 MILHÕES DE BRASILEIROS QUE ANSEIAM PELA DIZIMAÇÃO DO VÍRUS POR MARCELLA OLIVEIRA « FOTOS LUARA BAGGI

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“O

s homens brasileiros servem ao Exército e, quando saem, recebem o Certificado de Dispensa de Incorporação e um recado: em caso de convocação, compareça imediatamente”. Essa foi a resposta objetiva diante da primeira pergunta da entrevista exclusiva realizada com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que recebeu a equipe da revista num sábado de trabalho em seu gabinete na Esplanada dos Ministérios. A pergunta era: “por que o senhor aceitou assumir esta pasta?”. E o médico sequenciou: “o Presidente da República me convocou e eu vim. Sim, foi uma convocação”. E ele se colocou a serviço da nação. De frente para o combate, montou seu exército e espera vencer muitas batalhas na luta contra o maior inimigo da atualidade: um vírus letal. Queiroga chegou oficialmente no prédio localizado na Esplanada dos Ministérios no dia 23 de março. Do seu gabinete, no 5º andar, uma vista esplendorosa para o Palácio do Itamaraty, o Congresso Nacional e a Praça dos Três Poderes. “Dá para ver ainda o Lago Paranoá e a Ponte JK”, destaca, enquanto ficamos parados diante da janela, contemplando a bela vista da capital da República. “Conheci Brasília em 1987. Na época, cursava o 6º ano de Medicina na Universidade Federal da Paraíba e vim para um congresso”, lembra. “O presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) era Adibi Jatene, que foi médico e ministro da Saúde por duas vezes. Eu já ocupei o lugar dele como presidente da SBC e, agora, estou como ministro. Ele é uma inspiração para a classe médica com seu humanismo, expertise técnica e gestão pública. Por isso, trouxe a foto dele e deixei aqui”, contou o cardiologista, sobre a imagem emoldurada em cima do armário ao lado da sua mesa. Quando nos recebeu, em quase três semanas no cargo, ainda não tinha dado tempo de levar nada pessoal para o novo local de trabalho. “Deixei de atender meus pacientes em João Pessoa para vir cuidar dos mais de 200 milhões de pacientes brasileiros”, disse. E como é morar na capital? “Eu nem me sinto em Brasília, me sinto no Ministério da Saúde”, brincou, emendando sobre a rotina intensa, que começa bem cedo e entra madrugada adentro. “Estamos hoje em uma situação sanitária gravíssima no Brasil e no mundo”, acrescenta o médico, de 55 anos, que vivia em João Pessoa e está na cidade acompanhado da mulher. Quarto ministro do governo Bolsonaro – e em um ano, desde o início da pandemia –, Queiroga elogia o primeiro chefe da pasta, Luiz Henrique Mandetta,

e deixa claro que não quer olhar para trás. Em suas falas, sempre bate na mesma tecla: é importante o trabalho em conjunto. E complementa: “é necessário que haja confiança no poder público, nos agentes públicos, no governo, nos estados, nos municípios, e que a gente deixe de ficar com essas discussões laterais, métodos que não são validados, que não servem para nada, só trazem ansiedade para a população”, analisa. Defensor da vacinação, Queiroga revela que já recebeu as duas doses. “E também tomei a vacina contra intriga”, brinca. “Brasília tem isso, né? Mas eu não vou lidar com bastidores da política, vou lidar com política de saúde”, enfatiza. Com um jeito calmo de falar e muito seguro do trabalho que tem à frente do ministério, insiste sobre a importância do uso da máscara. É praticamente impossível vê-lo sem o insumo. Ele não quis tirar nem para a foto. “Tenho que dar exemplo”. O cardiologista, médico intervencionista – aquele que realiza procedimentos invasivos no coração sem a necessidade de abrir o peito –, faz um trocadilho. “Estou de peito aberto para o diálogo com toda a sociedade brasileira. Essa é a missão que recebi do Presidente da República: que eu viesse aqui, constituísse uma equipe técnica e ouvisse as pessoas, os profissionais de saúde, a sociedade, para que a gente consiga um ambiente mais favorável para o enfrentamento da pandemia”, resume. “Com o apoio de todos e um voto de confiança, vamos conseguir vencer esta situação e voltar para as nossas vidas normais”, conclui. Confira a entrevista. GPSLifetime « 47

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A PANDEMIA

“Nunca imaginei viver isso. Assumi a presidência da Sociedade Brasileira de Cardiologia e a gente tinha uma agenda enorme, que foi atropelada pela pandemia. A sociedade médica realiza eventos cient ficos presenciais e toda essa pro rama o oi derrubada, trazendo a necessidade de lidar com outro tipo de educação, a educação à distância.”

RELAÇÃO COM BOLSONARO

“Conheci o Presidente da República pessoalmente em 2018. Já tinha tratado com ele por telefone algumas vezes. E ele me convidou para ir à casa dele no Rio de Janeiro na época da pré-campanha e na campanha. Nós conversamos bastante sobre a área da saúde. Na época da transição, eu participei como colaborador e logo depois o ministro Mandetta foi escolhido. Eu fui do grupo técnico que estava discutindo as propostas de saúde, foi um tempo breve.”

A POLÍTICA

“Na verdade, eu não estou exercendo um cargo político. Vim fazer política de saúde e não política na saúde. O Presidente me determinou e me deu a autonomia necessária para constituir uma equipe técnica e trazer os resultados que a sociedade brasileira precisa.”

A CHEGADA AO MINISTÉRIO

“Para ocupar este posto tem que ser uma pessoa técnica, da área da saúde. Cheguei com entusiasmo, com o propósito de trazer uma colaboração para a sociedade brasileira e ser um instrumento de harmonia. De trazer um consenso e, com ele, avançar. Discutir em cima do que é entendido como útil em relação ao tratamento da pandemia. As pequenas coisas que causam divergências nós temos que deixar de lado. Vamos trabalhar em cima da ciência e do humanismo.”

PRIORIDADE

“Criamos a Secretaria Extraordinária de enfrentamento da Covid-19, e novamente busquei um quadro técnico do ministério. Para mostrar que a prioridade é a acina o e escol i ma profissional de sa de ma en ermeira is prestar omena em aos profissionais de Enfermagem, uma maneira de reconhecer o trabalho realizado por eles. O enfermeiro se caracteriza pelo cuidado, pela atenção, pelo zelo. É uma forma nossa de levar conforto para as pessoas que estão sofrendo.”

VACINAS BRASILEIRAS

“O Brasil é um país que produz vacina. É que a gente tem a mania de querer colocar o Brasil numa situação de inferioridade quando a gente tem, por exemplo, no Butantan e na Fiocruz a capacidade de produzir 30 milhões de vacinas por mês. Claro que depende de outros aspectos, mas temos trabalhado para alcançar uma grande produção. Nós temos 37 mil salas de vacinação pelo Brasil.”

TIPOS DE VACINA

“O Brasil vacina com velocidade adequada. 85% da população quer ser vacinada. Como a discussão aqui chegou muito ampla, as pessoas discutem o mecanismo de ação da vacina, de onde ela é. Isso não é interesse das pessoas, isso é algo próprio para a classe m dica para os profissionais de sa de e para as autoridades sanitárias. Eu já me vacinei com a que estava disponível na unidade onde ela foi aplicada. Eu não fui perguntar se era vacina A, B ou C.”

SUS

“O nosso Sistema Único de Saúde é um patrimônio dos brasileiros. Muito útil para todas as situações em que vivemos em relação à promoção da saúde e ao

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tratamento das doenças. Precisamos cuidar dele, tornálo mais eficiente para e ele possa dar a resposta que a sociedade quer ouvir. Muita gente critica o SUS, muitas vezes os que não precisam de usá-lo, que não sabem o que é. Aos níveis de excelência do setor p blico ótimos ospitais profissionais altamente alificados s mesmos problemas e temos no sistema público temos no sistema privado. Quem tem plano de saúde encontra também os pronto atendimentos lotados. É necessário aprimorar o sistema de saúde como um todo. Não só o público.”

GESTÃO

“A gestão do sistema de saúde é uma gestão tripartite, em que participam o Ministério da Saúde, os estados e os municípios. O Ministério atua de maneira coordenada com os secretários estaduais e municipais. Um sistema que tem que funcionar de forma harmônica e, neste contexto em que vivemos hoje, às vezes, no calor, termina gerando desarmonia. Por isso que eu digo: nós não precisamos de calor, a gente precisa de luz.”

USO DE MÁSCARA

“Nem no Brasil nem em nenhum país do mundo a gente vai superar uma pandemia só com vacinação. Outras medidas precisam ser incorporadas de uma vez por todas, como o uso de máscaras. Não é porque tem uma lei, é porque sabemos que isso é importante por causa da circulação do vírus. Não tem que questionar, tem que usar.”

TOQUE DE RECOLHER E LOCKDOWN

“Estão sendo realizados sem disciplina própria, com resultados que são fracos. Quando se toma uma medida dessa, ela deve ser pontual, decidida tecnicamente.

Aí pode funcionar. O Ministério vai criar uma disciplina em breve para harmonizar esse tipo de iniciativa de maneira que, se trabalharmos direito, a gente não tenha necessidade de medidas restritivas assim. Pode ser que seja necessário, mas aí é uma decisão técnica.”

CPI DA COVID

“Estou mais preocupado com CTI. CPI é problema do parlamento. Eu cuido da política de saúde, ou seja, CPI não é problema meu. Se eles me convidarem para ir lá responder alguma questão, eu vou.”

LIÇÕES DA PANDEMIA

“Primeiro, de que o Brasil não está blindado para o acontecimento de outras pandemias. Que a gente precisa fortalecer o nosso sistema de saúde; melhorar as estratégicas de vigilância; desenvolver um complexo industrial de saúde, para produção de máscaras, por exemplo analisar a dific ldade de ter al ns medicamentos, como os para sedação para intubação. o poss el e o rasil fi e só exportando comodities o tempo inteiro, tem também que produzir tecnologia de ponta e temos potencial.

POLÍTICAS PÚBLICAS

"Tem que haver esse direcionamento. Quem faz um sistema de saúde para atender 200 milhões de pessoas tem que pensar em criar um complexo industrial de saúde forte para produzir insumos em um valor que garanta a sua sustentabilidade. Isso vinha sendo feito, vinha se buscando de uma maneira muito tímida. Só que, agora, a gente precisa consolidar essas medidas, colocar a iniciativa privada para participar. Eu estou trabalhando nesse sentido, chamando as pessoas para participarem da discussão dentro do Ministério da Saúde. É o trabalho em conjunto que transforma.”

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ESPIRITUALIDADE

O RESPEITO À VIDA NA SUA PLURALIDADE, A EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA E O CUIDADO COM TODOS OS SERES. ESTE É O VERDADEIRO DESPERTAR SOB A ÓTICA DA MONJA COEN, ANALISANDO A DIALÉTICA DO FILÓSOFO CLÓVIS DE BARROS FILHO POR PAULO PIMENTA

DEDICADO AOS VIVENTES HUMANOS S

eis da manhã. A essa hora, a luz do poste da rua começa a se espremer entre o clarão de um novo dia. Nos dias ensolarados é mais fácil perceber, mas, até mesmo nas manhãs cinzentas, é possível enxergar a despedida da noite. Em abril de 2020, ao mesmo tempo em que esse efeito acontecia, o professor Clóvis de Barros Filho se preparava para conversar com uma plateia da qual rosto algum ele não conseguia ver. Ele sabia que estava acompanhado, só não sabia por quem. O despertar daquele dia puxava uma multidão de pessoas para a frente da tela para assistir às re-

flexões do filósofo. Essa série de vídeos ganhou o justo nome de Despertar Inspirado. Os episódios foram pensados para dar conta da quarentena iniciada no Brasil devido à pandemia do novo coronavírus. Nos primeiros dias, em um misto de incertezas e medos que, na verdade, perduram até hoje, ninguém sabia o que esperar das horas seguintes. E ali, às seis da manhã, de segunda a sexta-feira, assim que soava a sexta badalada do sino no Mosteiro de São Bento, o professor Clóvis estava pronto para fazer companhia e, mais do que isso, mostrar que a vida, naquele dia, já havia começado.

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“Se fosse para ouvir amenidades óbvias, você bem que podia ter dormido mais um tiquinho”, instiga o professor no segundo dia. Muitos ali escutavam atentos o que era dito. Uma dessas pessoas era a Monja Coen Roshi, missionária oficial da tradição zen-budista Soto Zenshu e já amiga do filósofo, que, após cada vídeo, escrevia a ele um comentário com as suas percepções. O potencial dessa troca não passou despercebido e, neste ano, a Citadel Editora lançou o livro Despertar Inspirado. Nas páginas, estão as transcrições e adaptações de 15 reflexões dos vídeos de Clóvis seguidas das ponderações da Monja Coen.

INSPIRAÇÃO Antes da pandemia, o professor nem mesmo possuía redes sociais. Então, do cruzamento da habitualidade com a necessidade de se comunicar com a sociedade em torno de um sentimento (ou sofrimento, como ele ponderou) comum, nasceu o Despertar Inspirado. “Essa inspiração a que eu me refiro não são orvalhos provenientes de Júpiter que caem sobre a minha cabeça. A inspiração é uma forma criativa, particular e singular de produção de algumas ideias a partir de uma matéria-prima colhida a partir de estudos. Ninguém tira nada do nada”, enfatizou.

ATENÇÃO Antes de acompanhar os vídeos do professor Clóvis e enviar a ele suas ponderações logo em seguida, Monja Coen abria as janelas de casa – é uma rotina. Ela, que trabalha com o estar absolutamente presente onde está e no que está fazendo, ouve o som da janela subir e se fechar. Se ela está abrindo a janela, está apenas abrindo a janela. “Despertar, para mim, é uma coisa boa. Eu gosto de acordar. Na frente da minha janela tem uma parede branca e, de manhã cedo, ela só tem uma listra amarela em cima que é o Sol batendo. Em poucos minutos, está inteiramente dourada”, conta a Monja ao descrever o cenário de céu azul em cima, parede branca na frente e uma mangueira com folhas bem verdinhas ao lado.

ROTINA Quando Monja Coen acorda, ainda não tem ninguém na rua. Ela não passa horas meditando logo cedo, no entanto, faz preces em frente ao altar, reza pelos doentes, prepara a comida de suas três cadelas mestiças, Prajna Paramita, Piti Panpan e Mori Chan, e limpa a caixinha do seu gato Charlie. “A minha meditação é com a música da vida. Tem pássaro, tem gente...”, conta. E, então, o computador começa a chamá-la para os seus outros compromissos. A casa também pede cuidados e ela lava a roupa, cozinha e faz faxina, o que ela diz gostar de fazer e destaca o prazer imediato que a atividade dá, mas não passa roupa. “Passar eu nunca passei”, brinca.

RITUAL Clóvis é categórico ao fazer uma espécie de confissão: “Sou uma pessoa extremamente ritual, eu não me incomodo de comer todos os dias a mesma coisa, de assistir, de segunda a sábado, à novela e lamento que domingo não seja igual aos outros dias da semana. O que tem um pouco a ver com minhas convicções de que o aperfeiçoamento exige um pouco de repetição”. Quando o professor não está em uma palestra, escreve – depois de Despertar Inspirado já existem outros quatro livros prontos. “Se você me perguntar o porquê, eu vou dizer que existe no trabalho de escritura um trabalho de conhecimento de si. A necessidade de escrever obriga a minha alma pensante a produzir e, quando ela produz, eu me dou conta de como ela produz, do que ela pensa e vou me descobrindo, dando à alma a chance de se manifestar.” GPSLifetime « 51

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da manhã. Então, por volta das 5h30, 5h45, um novo dia começa novamente. “Sou um grande fã da dramaturgia brasileira. É bem verdade que sempre houve, por parte dos intelectuais, certo preconceito com telenovela, que é a mais importante forma de manifestação da nossa cultura popular, a mais conhecida no exterior, mas, como eu não sou intelectual, posso me permitir assistir. E eu assisto porque eu gosto”, revela.

INTERDEPENDÊNCIA Despertar Inspirado Citadel Editora – 176 páginas

FÃ Parte dos ritos do professor está em sua rotina noturna. Ele acorda muito cedo e dorme muito tarde. O motivo? As novelas que são reprisadas no Canal Viva. Às 23h, começa a primeira. Perto da meia-noite, a segunda. E a terceira novela que ele acompanha termina por volta de 1h15. Até desacelerar, ele conta, já são duas

No texto que escreveu no décimo dia de reflexão, após o professor falar sobre esperança, a monja ecoou na fala dela a importância do momento presente e de se perceber interconectado. “Coexistimos, e neste instante tudo é exatamente como é. Mas nada é fixo. Tudo flui, tudo se transforma”. Monja Coen acredita que, por meio das práticas meditativas, pode-se despertar e que essa ação significa se perceber em perfeita comunhão com tudo e todos. “Não tem exceção, não tem um time. É como se você assistisse a um jogo de futebol sendo o treinador. Você vê os dois times. Você vê as qualidades

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e os defeitos dos dois. Você não torce para nenhum. Você aprecia o jogo com outro olhar. E é isso um pouco o que a meditação pode nos fazer: a capacidade de apreciar a vida como ela é”, explicou.

AQUI No presente, Monja Coen diz que pelo menos uma vez por dia deveria ser possível parar e não fazer nada. Nem contemplar nem meditar. Segundo ela, essa ação é dificílima. Então, depois de alguns minutos assim, passa a respirar de forma consciente. “Com isso, você se põe presente no agora. Eu tenho que fazer desses instantes os mais sagrados porque é onde está a minha vida agora. Se eu não aprecio o agora, quando vou apreciar?”, orienta a monja, que finaliza a explicação: “Porque, quando eu chegar lá, eu vou querer apreciar o que está adiante e nunca vou aprender a apreciar onde estou”.

DESPERTAR Para a Monja, que passou toda a entrevista com um sorriso acolhedor, “todos nós somos corresponsáveis pelo despertar inspirado”. Segundo ela, muitas pessoas não despertaram e despertar é estar presente onde se está e ter o discernimento correto para tomar decisões que sejam éticas. “A palavra Buda, originalmente, quer dizer ‘quem despertou’, ‘desperto’. A minha vida tem sido a procura do meu despertar e, depois, como fazer com que o maior número de seres despertem”, afirmou. No fim da conversa, Monja Coen deixou uma mensagem: “Que todas as pessoas possam despertar. E inspirações maravilhosas para o verdadeiro despertar da mente, a expansão da consciência, a acolhida amorosa, o respeito à vida na sua pluralidade e o cuidado com todos os seres”.

HUMANOS Questionado sobre para quem o livro seria direcionado, Clóvis diz que o material foi feito para “viventes humanos”. Um ano depois, este mesmo mundo segue inserido em uma das mais graves crises sanitárias da História. “A Filosofia nos prepara para entender que viver não é para amadores e que o mundo é um espaço onde a vida acontece, no qual a chance de haver tris-

teza é muito significativa. Um orgasmo leva cinco ou seis segundos e uma depressão cinco ou seis anos, mas, mesmo com toda essa preparação, a gente nunca está suficientemente preparado, de tal maneira que nunca poderia me passar pela cabeça um tipo de experiência de vida como a que estamos vivendo todos”, reflete. Ler Despertar Inspirado é sentir um verso de Manoel de Barros ganhar vida: “quebraram dentro dele um engradado de estrelas”. Iluminados, os leitores tocam o restante do dia. Agora, independentemente do horário. Clóvis de Barros Filhos e Monja Coen Roshi entrelaçam os pensamentos de tal forma que nada importante escapa. “Diferentemente do que diz uma autoajuda mais rasa, nem tudo na vida depende de nós. Diferentemente do que dizem os fatalistas, muito na vida depende de nós. Portanto, surja daí uma sabedoria, que é a identificação do que depende e do que não depende de nós. E, quem sabe, a partir daí um aprendizado sobre a vida que possa nos ajudar a enfrentar acontecimentos vindouros de maneira um pouco mais preparada do ponto de vista existencial”, finaliza Clóvis ao comentar sobre o período de pandemia. GPSLifetime « 53

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EXPORTAÇÃO

UMA FAMÍLIA DESTEMIDA TRANSFORMOU O CULTIVO DE CAMARÕES NUM RENTÁVEL NEGÓCIO DO MERCADO ATUAL. E VENCEU O DESAFIO DE PRESERVAR FRESCOR, TEXTURA E SABOR DO PRODUTO MESMO CRUZANDO FRONTEIRAS POR NATHÁLIA BORGO

O

brasiliense apaixonado pela cidade não se exaure em repetir: “JK só esqueceu o mar”. É que amamos tanto o céu azul, o concreto, o lago, o pôr do Sol que poderíamos ousar dizer que o mar nem faria tanta falta assim. Será? Talvez se tivéssemos por perto as iguarias culinárias que as águas do litoral nos ofertam. E, os bons ventos trouxeram o mais sofisticado sabor do litoral para a capital da República: um camarão cultivado há cerca de dois mil quilômetros daqui, no estado do Ceará. Chama-se Fisgo. A empresa é familiar, dedica-se ao ofício em fazendas próprias. Também industrializa e comercializa o produto. Leandro Chaves Vidal é o fundador e o CEO à frente da empresa. O samba diz: “camarão que dorme, a onda leva”. Mas esse não foi o caso do empreendedor Luiz Vidal Filho, pai de Leandro. Intrigado pelo interesse de um grupo espanhol em comprar uma das fazendas da família para cultivo da espécie, o então bancário, prestes a se aposentar, aproveitou o momento, pesquisou e decidiu ele próprio investir no cultivo de camarões marinhos (carcinicultura). Em 2001,

Foto Bruno Cavalcanti

SOB O FRESCOR DO MAR

inaugurou a primeira fazenda de cultivo no município cearense de Paracuru. Infelizmente, a Covid-19 levou o Sr. Vidal, mas Leandro não hesitou em sequenciar o legado deixado pelo pai. “Eu devo tudo a ele, que me ensinou, desde pequeno, a acordar cedo, trabalhar muito e ser extremamente honesto. Inclusive, ele trabalhou incansavelmente até o fim da vida. Toda a produção era por conta dele, enquanto eu cuidava da comercialização. O gosto pelo agronegócio passou para mim e, hoje, é a minha paixão”, conta. Destemido, Leandro expandiu o projeto, fundando, em 2010, a Fisgo que nasceu com o objetivo de comercializar toda a produção das fazendas do pai. Além do e-commerce em andamento para este ano, trilha também o caminho para a exportação. A Fisgo tem apostado imensamente na mudança de conceito e comportamento do consumidor quanto ao pescado congelado. O empresário ressalta a expertise desde a despesca do camarão nas fazendas até a chegada na mesa do consumidor. “Vender online surgiu em plena pandemia. Vamos, dessa maneira, dar mais credibilidade à marca e fazer com que

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Fotos: Divulgação/Fisgo Camarão

as pessoas comprem sem a insegurança de atravessadores no processamento do alimento. Com base no crescimento da empresa nos últimos três anos, que atingiu a marca de 500%, o projeto é sermos a maior rede de vendas online do país no segmento de camarões, frutos do mar e pescados”, diz. Ele explica que, aliado ao fato do camarão cearense ser considerado o melhor do Brasil, aproximadamente 80% da produção nacional vem de lá e do Rio Grande do Norte. Além disso, outras regiões do País não se apropriam do cultivo por fatores climáticos impeditivos. “O Nordeste tem o ambiente favorável para a carcinicultura brasileira e o mercado estava pedindo essa expansão. Hoje, nossos produtos chegam em praticamente todas as capitais brasileiras, nas maiores redes de supermercados”, salienta. O CEO admite que o consumo per capita do alimento no País ainda pode melhorar, incluindo os pescados no menu do dia a dia. “O Brasil precisa crescer para alcançar grandes nações da União Europeia, América do Norte e Ásia”, ressalta. Em 2020, as exportações mundiais de pescado atingiram o valor de USD 160 bilhões, enquanto as do

Brasil representaram apenas 0,16% (USD 260,2 milhões). No entanto, no mesmo ano, a carcinicultura produziu 120 mil toneladas, em plena pandemia, com pouco ou quase nenhum apoio financeiro. Um aumento de 100% em quatro anos, segundo a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC). Selos e certificações Para findar todas as dúvidas sobre congelados, a Fisgo apostou em técnicas que mantêm as características principais do camarão. Assim, mesmo após viajar quilômetros de distância, o produto continua com o frescor, textura e sabor único das águas salgadas cearenses. A partir do congelamento Individual Quick Freezing (IQF), a embalagem não é tomada por gelo. O processo evita os cristais de gelo no interior do alimento. Ainda, o descongelamento é rápido e o glaciamento do produto garante que o peso seja exatamente igual ao indicado na embalagem após o descongelamento. Além disso, os camarões são congelados individualmente, permitindo que o cliente só descongele a quantidade a ser consumida. Tudo isso sob padrões nacionais e internacionais, inclusive com o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), vinculado ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). O carimbo é garantido pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) após algumas etapas de fiscalização e inspeção do DIPOA. Além do SIF, a empresa está em processo de aquisição do selo Camarão Livre de Antibióticos e do selo de Camarão Sustentável. A garantia dos selos, da qualidade e da inovação ficam por conta, ainda, das equipes de promotores em pontos de vendas e da variedade de camarões que a Fisgo leva aos supermercados. De acordo com o CEO, o contato direto com o cliente, a exemplo das ações de degustações oferecidas nas lojas, é fundamental para manter a excelência do produto. Tanta sapiência, no entanto, começou cedo. Ainda adolescente, crescendo em meio aos negócios do pai, em 2005 abriu a sua primeira empresa de cultivo de tilápia em outra fazenda. E sua formação em Comércio Exterior será essencial para ganhar continentes. “Comecei com a cara e a coragem. Lembro da minha primeira venda para uma grande rede de supermercados, Pão de Açúcar Nordeste”, relata o empreendedor. @camaraofisgo www.camaraofisgo.com.br

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ARTIGO POR MÁRIO ROSA

Jornalista e escritor

O AMOR FALA MAIS FORTE NO QUE ACONTECE E NO QUE TIRA E OFERECE

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amor fala mais forte. Que o dinheiro, que os poderes, que os tiranos, que todos os projetos que façamos, o amor fala mais forte. Que os delírios, que os sentimentos elevados, que os braceletes cravejados, o amor fala mais forte. Fala mais forte o amor que todas as outras vis e vãs fantasias de grandeza, todos os projetos mais bem elaborados, todo o futuro mais lindo e mais bem calculado. Eu já ouvi o amor falar, eu já ouvi seu som com sobressalto. Por isso, eu sei que o amor, o amor fala mais alto. O amor fala através dos gestos mais inconsequentes, das contradições mais indecentes, das escolhas contundentes. O amor fala mais alto através das recusas mais incontestáveis, dos afastamentos mais inexoráveis, das reviravoltas mais inacreditáveis. O amor fala mais alto através do silêncio mais absoluto, da perpetuação do mais extenso luto, do gesto mais gentil ou do mais bruto. O amor fala mais alto e é tão, tão eloquente, que seu som, seu som potente, ressoa e assim eu o escuto. Eu ouço o amor que grita na angústia dos amantes. Eu ouço o amor gritante nos sonhos delirantes, nas tramas dos farsantes, nos corpos trepidantes, nas faces hesitantes, nos olhares distantes. O amor fala mais alto nas atitudes dos que se rebelam contra sua finitude. Fala mais alto por tudo que encanta e ainda mais por

tudo que ilude. O amor fala mais alto em todo o prazer que só ele é capaz de proporcionar, mas também em todo o desespero e a angústia que fazem as lágrimas brotar. Amor, como fala alto esse sentimento, como reverbera ao mundo o ser que o possui por dentro. O amor fala mais alto e sempre tem razão. Mesmo irracional, contraditório, mesmo que ao fim produza o caos e destruição. Porque o amor é uma voz que não é só pulsão. É um salto para o destino, é uma impulsão. Que nos remete não para aquilo que queremos, mas para o inevitável, para o rumo que sem saber é aquele que fomos feitos para sermos. O amor fala mais alto não porque não faça encontrar o outro, mas para que nos encontremos. Não, não subestime nunca esse grito que acontece às vezes nos silêncios. O amor se faz ouvir como um estrondo por vezes camuflado, mas sempre intenso. O amor fala mais alto também com suas crueldades. É quando desintegra o palpável e desfaz as realidades. O amor é essa fonte poderosa, incontrolável e que parece tão serena. Mas sua frequência é tão alta que, quando se libera, mostra sua força plena. O amor fala mais alto em tudo que nos cerca. Nos olhos que se abrem, na boca que se fecha. Em tudo que não foi, em tudo que acontece, em todos os encontros e desencontros que a vida oferece.

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JORNADA

ENTRE FUNDADORES E HERDEIROS SUCESSÃO FAMILIAR NÃO É MAIS ASSUNTO DELICADO. ESTUDOS INDICAM QUE 73% DOS EMPRESÁRIOS PASSAM O COMANDO EM VIDA. O QUE EVITA FRAGILIZAR NEGÓCIOS E RELACIONAMENTOS, VITIMADOS POR FALECIMENTOS, DIVÓRCIOS, APOSENTADORIAS POR DANIEL CARDOZO

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roteiro é bastante conhecido. Um empreendedor começa um pequeno negócio que se consolida através de décadas e se torna um império. Na primeira geração, a capacidade operacional e de gestão é lapidada com erros e acertos. Muitas vezes é preciso dar um passo rumo à modernização para evitar ser pego de surpresa pelo mercado. A participação da família do fundador da empresa acaba se tornando inevitável. Mas quando chega a hora de parar, deixar o comando e integrar o conselho, o visionário tem que ter um plano para o futuro. Formar o sucessor é uma tarefa de décadas e precisa ser feita com estudo e planejamento. Além das incertezas do mercado, também, a relação familiar deve ser levada em conta na hora de pensar na sucessão dos negócios. O perfil familiar

prevalece em 90% das empresas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estimativas dão conta de que esse tipo de empreendimento é responsável por 65% do PIB nacional e de 75% dos empregos. Foi em junho de 2020, durante um dos períodos mais agudos da pandemia, que a família Cunha Campos perdeu o patriarca, Arnaldo Cunha Campos, vítima da Covid-19. Fundador do Complexo Brasil 21, dentre tantos outros empreendimentos, ele chegou a Brasília em janeiro de 1960 e, apesar da formação de médico, percebeu que a construção civil precisaria mais de seus talentos do que a área da saúde. Arnaldo

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Foto: Vieair produções

deixou a esposa, quatro filhos e onze netos. A família já se preparava para a aposentadoria do fundador. O grupo recorreu a um programa de desenvolvimento de acionistas para começar a preparação dos filhos. A morte de Arnaldo pegou a família de surpresa, já que os negócios iam bem e um projeto nos Estados Unidos estava em andamento. O responsável por gerir os negócios já estava escolhido. A tarefa coube ao filho mais velho, Fabiano Cunha Campos. Junto do pai, ele trabalhou por 37 anos e absorveu conhecimentos de gestão, trabalhando na empresa da família. O atual diretor do grupo é formado em Administração de Empresas e Engenharia Civil, mas a preparação foi muito além. “Comecei tomando conta da loja de automóveis importados usados, que ele adorava dizer que era uma escola e tanto. Depois passei para as fazendas e, em seguida, fui finalmente trabalhar no escritório da empresa, em uma sala ao lado da dele”, relembra. O empresário reconhece que existe preconceito com quem assume empresas familiares. Fabiano até pensou em trilhar o próprio caminho e abriu um negócio ao lado de colegas de universidade para mostrar a própria competência. Entretanto, a vivência ao lado do pai foi fundamental para que ele aderisse ao projeto já encaminhado. “Quando você consegue se livrar da negação, do complexo de herdeiro e tirar partido de tudo que lhe é oferecido, aí é um paraíso. Tem ao seu lado um mestre experiente e toda uma estrutura para poder entrar por baixo, aprender e vivenciar, ainda mais quando já está consagrado e com sucesso”, conta, orgulhoso. Fabiano acredita que, além das técnicas de gestão, aprendeu com o pai a dedicação, o pensamento fora da caixinha e, principalmente, a honestidade. “Ele dizia que não podemos ter que atravessar a rua para ninguém. Ao fazer qualquer negócio, temos que agir com a maior retidão possível”, resume.

O engenheiro Fabiano Cunha Campos tornou-se presidente das empresas fundadas pelo pai, o pioneiro Arnaldo Cunha Campos, vitimado pela Covid-19

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O COMBINADO NÃO SAI CARO Para Silvia Martins, diretora de programas de desenvolvimento de famílias empresárias da Fundação Dom Cabral, não existe um modelo único para a sucessão familiar, mas é necessário delimitar regras para diferentes situações, como falecimentos, casamentos e divórcios. Quanto mais preparados os herdeiros estiverem e melhores os acordos, mais chances de sucesso. “O programa tem todas as ferramentas para contribuir para que imprevistos não peguem a família de surpresa. Acionistas e novos acionistas muitas vezes não têm a consciência e o conhecimento sobre os impactos que vão haver”, explica. “É preciso preparar os familiares para executarem o seu papel independentemente de estarem ou não no negócio. Apoiamos de forma customizada, com transição, estratégia, formação de acionistas e criação de regras”, completa. Estar ou não dentro do negócio significa que o familiar pode optar por participar das decisões da empresa. Existem casos em que se contrata um profissional de mercado para gerir os negócios ou quando um dos herdeiros é preparado para sentar na cadeira de CEO no futuro. Em algumas situações, é possível até que os familiares vivam dos lucros e dividendos da empresa sem ter que trabalhar. “Tudo é aceitável dentro de uma família empresária, desde que seja acordado com todos”. E qual seria a hora de pensar na sucessão nos negócios? “Essa é a pergunta de um milhão de dólares”, brinca Silvia. Esse momento chega quando a família tem abertura e encara a necessidade de pensar no futuro. “Existem casos de segunda e terceira geração que nos procuram. Temos que criar consciência sobre o que um acionista precisa saber. A família tem que enxergar os riscos e as consequências, o que muitas vezes não está claro agora”, adverte.

VOCAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO O início de um negócio geralmente tem a ver com a materialização de um sonho por parte do fundador. Pode ser um hobby que se torna profissional ou até um empreendedor que decide abrir o próprio negócio. Costuma prevalecer o conhecimento operacional de um líder, que, com o passar do tempo, recebe competências complementares dos filhos e dos cônjuges.

DADOS A Pesquisa Global de Empresas Familiares de 2021, desenvolvida pela consultoria PwC, mostra que só 36% desse tipo de empreendimento enfrenta forte resistência à mudança na organização. O alto nível de confian a nos membros do consel o oi relatado por 73% dos entrevistados. Um ativo importante nos grupos empresariais familiares é a informação. 67% dos empresários ouvidos relataram ter dados relevantes compartilhados de forma transparente e oportuna entre membros da família.

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Segundo Enio Pinto, gerente de relacionamento do Sebrae, o herdeiro acaba se tornando um sócio e, por esse motivo, deve ter habilidades complementares para poder contribuir no sucesso da empresa. Assim, o filho deve se preparar ao longo do tempo para poder ser útil. “Quase sempre o fundador não tem muita capacitação na gestão. Conquistou êxito na raça. O sucessor tem a condição de preparar o lado de gestor enquanto o pai ainda toca a operação, o que traz muitos benefícios”, argumenta. “O herdeiro pode ser um gestor mais lapidado. Enquanto o fundador era o faz-tudo no começo. Ele mesmo atendia, colocava a mão na massa”. O Sebrae atende empresas com faturamento de até R$ 4,8 milhões por ano. Existem empresas em que o próprio filho estimula a saída do pai, para que ele possa aproveitar a aposentadoria. O ideal é que essa transição seja suave e planejada, mas as mudanças do mercado e questões tecnológicas acabam forçando que as novas gerações tomem as rédeas. “Chega uma hora que, quando o fundador se deu conta, o sucessor já assumiu as operações”, completa o gerente de relacionamento.

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@fundacaodomcabral @sebrae

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ÍCONES POR ISADORA CAMPOS @isadoracampos

LEGADOS ENOBRECIDOS Há quem sugira que herdeiros não têm o comprometimento profissional de se s antecessores ou que negócios familiares possuem limites ao crescimento. Livros como Pai Rico, Filho Nobre, Neto Pobre e populares dizeres como “costas largas” o fil in o de papai s o desmistificados por uma nova geração de empreendedores obstinados em enobrecer os legados deixados por suas famílias. Defensores de que as oportunidades favoráveis trazem consigo mais responsabilidade, os herdeiros dedicam esforços e inovações sustentáveis na atualização, modernização e engrandecimento dos empreendimentos. Inspirem-se com essas gestoras que honram seus antecessores e buscam deixar um mundo melhor para os seus descendentes.

DE FABIANI PARA LUIZA CHRISTINE LIMA Certa de que o empenho, ou mesmo o suor do trabalho, compõe o sucesso tanto quanto a concepção da ideia, Luiza Christine Lima, 22 anos, não se desmotivou diante do reconhecimento de sua mãe, Fabiani, como uma das mulheres mais criativas de Brasília há quase duas décadas. Pelo contrário, i a se i desafiada a alori ar se s conhecimentos, tanto acadêmicos, obtidos como Publicitária, quanto pela s a experi ncia profissional em agências de criação, consultorias de marketing e promotoras de evento. “Uma empresa familiar tem o melhor e pior dos mundos. Tenho amadurecido a cada dia e percebido que estou onde deveria estar: ao lado da pessoa que mais amo, minha mãe”. Fabiani desde cedo convidou Luiza a frequentar o negócio da família e acompan ar as di erentes reas elabora o composi o cria o financeiro administrativo e logística. Hoje, como diretora administrativa da Remembear, Luiza emprega os talentos herdados e o empreendedorismo nato. “Desde pequena sou fã de como a minha mãe exerce a arte de ser empresária. O nosso nicho exige que sejamos criativas 100% do tempo. Felizmente, tenho um exemplo maravilhoso da minha mãe que sempre soube orquestrar muito bem toda a equipe. Levo comigo a sua resiliência, criatividade e o propósito da profiss o encantar as pessoas por meio de presentes personali ados assegura ela, que almeja um palpável crescimento para os próximos cinco anos. “Sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho. Aspiro que nos tornemos uma empresa de capital aberto”.

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DE ROGÉRIO E ROMELITA PARA ROGY TOKARSKI Sócios, Rogério e Romelita Tokarski fundaram há 45 anos a pioneira Farmacotécnica. Do casamento, muitos frutos foram gerados, em especial as fil as om e o t al diretora da empresa, Rogy Tokarski, 34 anos, seguiu os passos do pai ao se formar em Farmácia, e aprimorou seus conhecimentos nas pósgraduações em Comunicação com o Mercado, pela ESPM, e Gestão de Pessoas, pela FGV. “Meu pai criou a Farmacotécnica com a missão de fazer fórmulas personalizadas”. A empresa hoje tem sete unidades, laboratórios de alta tecnologia, chácara para cultivo das ervas medicinais e 215 funcionários. Desde que Rogy assumiu o empreendimento, o destaque é para a implementação da chamada Gestão Disney, que visa melhorar a experiência do consumidor. “Buscamos trazer o cliente para mais perto de nós, que cada um saiba a importância que tem para nós”, diz. Além disso, criou projetos para valorizar o time, buscou novas tecnologias em congressos fora do Brasil, novas técnicas de embalagens, projetos para descarte correto de medicamento e sua embalagem, entre outros. “Eu me lembro de quando iniciamos o WhatsApp da empresa. Na época, ainda tínhamos o número do FAX sendo divulgado. São pequenas mudanças que geram muito impacto”, orgulha-se Rogy.

DE GILBERTO E MÁRCIO PARA MARIA VICTORIA SALOMÃO A arquiteta Maria Victoria Salomão é uma multifacetada gestora. “Atuo em tudo que precisar. Se eu não souber fazer, eu aprendo”, garante a neta de Gilberto Salomão, personalidade pioneira de Brasília e fundador do icônico e homônimo centro comercial no Lago Sul. Aos 25 anos, coleciona cursos complementares em gestão de pessoas, de investimentos e empreendimentos familiares e até administrati os t almente a oficial dministradora Síndica e Arquiteta do Centro Comercial Gilberto Salomão. “Sou responsável por vários braços da empresa: além do comercial, o de inovação e renovação, estratégia, negociações e orçamentário. E, como síndica, cuido também do condomínio”, conta. A entrada na empresa foi há três anos. “Coloquei na cabeça que teria espaço pra muitas melhorias e queria aprender com as pessoas que mais admiro e, ao mesmo tempo, estar dentro de algo que não só é a história da vida da minha família, como pertence a eles”. Logo, a sua primeira atribuição foi observar seu pai e avô. “Foi contra a vontade de todos. Eles falaram: vai para casa, aqui está tudo resolvido, não tem nada para você fazer”. E lá, obstinada, ela seguia. Cuidou de redesenhar a identidade visual, iniciou reformas, renovou o comercial, montou equipe. “O que pintar, estou dentro e, se precisar, eu dou um jeito. Estou sempre pronta para mais”. A inspiração? O avô, claro. “Até hoje ele é um workaholic. Todas os comandos gerais de alinhamento passam por ele. Ele tem opinião sobre tudo e acompanha de perto”, conta. A receita de trabal o das tr s era es de certo ai fil a e avô têm uma convivência respeitosa, saudável e de complementares talentos e atribuições. GPSLifetime « 63

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DE IVANA PARA ANA CAROLINA VALENÇA A graduação de Ana Carolina Valença, 30 anos, em Comunicação Social e Marketing (CEUB) e pós-graduação em Administração de Empresas (FGV) são primordiais para as suas atribuições como coordenadora de marketing do shopping CasaPark. Entretanto, é o trabalho lado a lado e em observância à gestão de sua mãe, Ivana, diretora do empreendimento, e a alifico para ass mir tantas responsabilidades no legado de sua família. “Além de minha chefe, ela é meu maior exemplo e fonte de inspiração. Ela foi essencial no meu início, quando eu nem sabia ao certo qual seria meu futuro dentro do CasaPark. Lembro de acompanhá-la nas reuniões e eventos do shopping e observar a maneira como ela, sempre muito querida, sabia falar de todos assuntos, nunca emitindo opiniões vazias ou sem embasamento, mas com muita humildade para escutar e aprender do que não sabia”. Há 13 anos, ela ingressou no negócio como estagiária. Depois, assistente, analista e, hoje, coordenadora. “É preciso conhecer cada pedacinho do negócio para poder coordená-lo”. Primeiro membro da terceira geração da família que assume papel na empresa familiar, Carol é responsável hoje pela gestão das 76 lojas que integram o shopping. “Tenho orgulho e admiração do legado que meu avô e tios construíram e isso me gera um senso de responsabilidade gigantesco para tentar retribuir e continuar fortalecendo e maturando. É uma autocobrança de manter a qualidade e os padrões que eles tanto batalharam para construir e que fazem do CasaPark hoje tudo que é”.

DE CELSO AUGUSTO E SIMONE PARA LUIZA JABOUR Formada em Gastronomia pelo IESB, com especialização em Pâtisserie pela École Ferrandi em Paris, Luiza Jabour, 29 anos, assumiu por oito anos a coordenação de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos da Sweet Cake, tradicional e pioneiro buffet da cidade, fundado pelo casal Celso e Simone Jabour em 1993. Tão logo ingressou na faculdade noturna, passou a trabalhar lá durante o dia. “Pude aprender na prática o dia a dia de ma co in a e de m empres rio s desafios “Adorava o fato de estar perto deles todos os dias, mas muitas vezes nós não sabíamos separar o trabalho dos momentos em família, então acabávamos levando os problemas da empresa para casa, e momentos que eram de descanso ou lazer viravam uma reunião fora de hora”, lembra. Segura dos muitos aprendizados que recebeu, Luiza de m passo al m o final de abri o lmer a resta rante de in ncia mediterr nea criado em sociedade com seu marido, irmão e cunhada. Ela atua na gestão da cozinha, na criação de novos pratos e na parte administrativa, compras com fornecedores e cálculo os custos dos pratos. “Mas a parte que eu mais gosto é a de criar!” Fidedigna aos ensinamentos familiares, Luiza diz que eles transcendem a vida profissional credito e o maior le ado e meus pais vão me deixar é o nosso nome. Graças a Deus eles são pessoas honestas, de fé e que sempre honraram com seus compromissos. Esse é o maior valor que aprendi com meus pais e que espero passar para me s fil os tamb m

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O GDF não para de ajudar quem mais precisa nos momentos mais difíceis.

No período da pandemia, os programas sociais do DF foram fundamentais para atender aos mais necessitados. Foram mais de 400 mil pessoas beneficiadas pela maior rede de proteção familiar já realizada em nosso país. O GDF segue pensando nas pessoas e vai continuar investindo ainda mais em ações que levam bem-estar e tranquilidade para todos, principalmente nos momentos mais difíceis.

68 mil famílias beneficiadas pelo DF Sem Miséria

35 mil famílias com o Cartão Prato Cheio

68 mil estudantes recebendo Bolsa Alimentação Escolar

Bolsa Alimentação Creche para 21.500 famílias

Retorno do preço dos Restaurantes Comunitários a R$ 1,00, com 5,3 milhões de refeições em 2020.

Cartão Creche para mais de 10 mil famílias

6.471 pessoas recebendo Renda Emergencial

71 mil Cestas Verdes distribuídas em 2020

3 mil pessoas qualificadas pelo Programa Renova DF

Cartão Material Escolar, que vai ajudar 70 mil famílias na volta às aulas

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EMPREENDEDORISMO

CONQUISTAR, GERIR E PERPETUAR DILIGENTES NO UNIVERSO FINANCEIRO, A ASSESSORIA VLG INVESTIMENTOS GANHA ROBUSTEZ NO PAÍS AO ATUAR NA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO. NO COMANDO, TRÊS MESTRES DO MERCADO QUE PRETENDEM ADMINISTRAR R$ 17 BILHÕES EM CINCO ANOS POR GIOVANNA PEREIRA « FOTOS BRUNO CAVALCANTI

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arreiras consolidadas. Resultados satisfatórios. Clientes fiéis. Mas a certeza de que poderiam fazer muito mais e melhor fez com que três profissionais mudassem o rumo e seguissem empreendendo. A primeira pergunta então veio rápido: como abandonar a segurança de uma vida profissional

já em andamento para começar do zero? A resposta foi simples, porque o desafio era gigantesco: “Não tinha plano B. É isso. A convicção de que estaríamos fazendo o melhor para os nossos clientes nos guiou e continua a nos incentivar diariamente”, afirma Hugo Villas, CEO e sócio-fundador da VLG Investimentos.

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Em 2016, em um contexto político-econômico complicado, a oportunidade apareceu. Ousados, Hugo Villas, Leandro Vasconcelos e Paulo Cardoso criaram a VLG Investimentos, com a vontade de oferecer serviços mais completos para o cliente que, cada vez mais, pretendia investir e fazer movimentações certeiras com seu patrimônio. “Após vinte anos no mercado financeiro e trabalhando em grandes instituições financeiras, juntos percebemos que havia vida fora do banco, que esse ainda era um grande mercado a ser desbravado, que tínhamos espaço para empreender e fazer um trabalho primoroso. Sempre com credibilidade, lealdade e serviços completos”, declara Paulo Cardoso. O que começou com uma conversa cheia de sonhos e vontades de fim de noite transformou-se em uma empresa de porte relevante no mercado e atuação com índices de crescimento. “Nascemos de maneira simples, com atmosfera familiar de carinho e respeito. Nesse começo, vivemos muitas histórias que nos ajudaram a chegar até aqui, desde o McDonald’s que comemos debaixo do pilotis da 304 sul no dia em que pedimos nossa demissão e efetivamente batemos o martelo à viagem de ultraleve cheia de turbulência para ir a uma das principais feiras de mercado financeiro do País e que foi muito importante para nossa história, uma vez

que oficializamos, na ocasião, a pareceria com a XP Investimentos. E, claro, trabalhar longas horas para fazer dar certo até chegar ao reconhecimento. Hoje, continuamos assim, repletos de histórias e trocas, mas com uma estrutura muito maior”, dizem, orgulhosos. Não demorou e o trabalho executado pela VLG foi reconhecido nacionalmente. Em 2017, a empresa foi indicada ao prêmio de Escritório Revelação dentro da XP, com um dos crescimentos mais fortes do ano. “Ampliamos a atuação em Brasília e, com nossa experiência no mercado bancário, entendemos que havia uma lacuna de atendimento ao público do Centro-Oeste, Norte e Nordeste do País. Decidimos, então, focar nisso. Sair do comum, que são os grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, para expandir. Essa é também uma proposta alinhada ao que a XP Investimentos tem se comprometido a fazer e, hoje, somos uma empresa de agentes autônomos credenciada à XP, que desenvolve um trabalho de assessoria para clientes pessoas física e jurídica no Brasil e no mundo”, contam. Com essa estratégia, o crescimento da VLG Investimentos foi meteórico e a participação nacional cresceu. Tanto que, em 2018, fora dos planos iniciais, a empresa abriu uma operação em São Paulo, com a gestão de um novo sócio, já conhecido no mercado, Leonardo Milane. GPSLifetime « 67

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Fotos: Marcella Lasneaux / VLG

“Leonardo atuou como estrategista chefe do Santander durante 20 anos e tornou-se peça fundamental em nossa empresa, traçando metas ousadas e apostando no nosso potencial de crescimento”, destaca Hugo Villas. Em 2019, o escritório foi agraciado com selo Net Promoter Score (NPS) da XP Investimentos, sendo o primeiro escritório do Centro-Oeste a receber o selo. “Foi muito importante quando recebemos esse reconhecimento, afinal é uma métrica utilizada internacionalmente para medir a satisfação e a lealdade dos clientes de uma empresa. E é resultado de um trabalho constante nosso de entregar o melhor aos nossos clientes”, disseram. Em 2020, uma crise sem precedentes. A pandemia de Covid-19 abalou o mundo financeiro em escalas gigantescas, mesmo assim, a abordagem comprometida, segura e de respeito ao cliente permitiu que a empresa segurasse as pontas durante esse cenário de incertezas e continuasse a crescer.

EXPANSÃO Ainda em 2020, a VLG fez sua primeira aquisição e expandiu seus negócios para o Nordeste, especificamente em Feira de Santana na Bahia. Logo a empresa percebeu a importância de se tornar uma referência nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e abriu também um escritório em Unaí – MG. Em 2021, um plano de ação claro e pragmático: ampliar o corpo de atuação em solo nacional. O processo de expansão busca levar o mood VLG de performar no mercado financeiro para novas praças, entregando para famílias e empresas a segurança de uma assessoria com um elevado nível de diligência e solidez. Até porque muitas vezes o cliente não sabe exatamente do que precisa. Situações como questões tributárias e fiscais, sucessão familiar e proteção dos bens são temas relevantes que influenciam na continuidade do patrimônio. Este ano, a VLG segue positiva e com foco em crescimento. Atualmente são geridos R$ 2,1 bilhões sob custódia com mais de 2,7 mil clientes e diversos escritórios sendo abertos Brasil afora. A meta, segundo os sócios, é ultrapassar os R$ 3 bilhões em 2021. “Ao que parece devemos nos surpreender e, quem sabe, alcançar números ainda mais relevantes. Não queremos aparecer como melhores que ninguém, mas, sim, mostrar que estamos aqui para trabalhar em um mercado diverso e saudável. Alguns, dentro da empresa, acreditam que chegaremos aos R$ 5 bilhões este ano, ousados...”, brincaram otimistas. 68 « GPSLifetime

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“Em 2021, ainda passando por esta crise de Covid 19 no mercado financeiro e em escala pessoal também, entendemos que era o momento de acreditar e de continuar a expandir. Então, uma empresa que nasceu em Brasília, com DNA da capital, agora, atua em diversas regiões, como em Feira de Santana (BA), Unaí (MG) e em Fortaleza (CE), após uma fusão superimportante com a empresa Start. Isso foi possível, também, pela chegada de um novo representante, Daniel Meira, ex-executivo da XP e do Banco Safra. Uma pessoa que sempre foi nosso parceiro e com a cultura alinhada à nossa”, relatam. No processo de expansão em andamento, a Bahia que já conta com uma filial em Feira de Santana, deverá ampliar sua atuação com a abertura de mais três a quatro filiais até o fim deste ano – incluindo a capital Salvador. A empresa também tem conversas avançadas para abrir escritórios em Campo Grande (MS), Goiânia (GO), Recife (PE), além de interior de São Paulo e Rio de Janeiro (RJ), tudo isso sem deixar de fortalecer o time de profissionais nas sedes da capital de São Paulo e Brasília. Além disso, o time VLG também está crescendo, até o final deste ano, os sócios entendem que chegarão a mais de 160 pessoas envolvidas, desde colaboradores a sócios e associados. “Um número bem relevante para uma empresa com menos de cinco anos de nascimento”, comentou Hugo Villas. Com o objetivo de atingir R$ 17 bilhões sob custódia nos próximos cinco anos, os caminhos daqui em diante serão ousados e o plano de ação arrojado, tudo isso para que a empresa brasiliense continue a desenhar uma história de sucesso ao lado de seus clientes.

FATOR HUMANO Uma das fortes características da marca VLG é o relacionamento humano, em que afeto e zelo são tão elementares quanto preservar e gerenciar o patrimônio do cliente. Mais do que apenas cuidar do que o cliente construiu, existe um compromisso educacional. “O nosso trabalho é o de direcionar e assessorar o cliente ao que é mais interessante para o seu perfil, seja agressivo, moderado ou conservador. Atendemos de uma maneira próxima e personalizada, buscamos conhecê-los de maneira genuína. E queremos que ele entenda de fato a decisão que está tomando, com clareza”, explicou Leandro Vasconcelos. Uma forma de se manter próximo ao público foi a criação da plataforma Mercado 1 Minuto, que diariamente traz notícias relevantes do universo econômico.

PRESENÇA NA CAPITAL A VLG Investimentos terá uma nova unidade, no Lago Sul, a VLG Lago, onde haverá momentos de formação, conversas e palestras sobre mercado financeiro nossa ideia para o espaço é a de proporcionar um modelo de atendimento que o brasiliense preza, um ambiente mais intimista. Queremos entregar resultados bem positivos para o público de Brasília. A proposta é trazer pessoas para ministrarem palestras, gestoras e parceiros que queiram apresentar seus produtos. E fortalecendo um dos nossos maiores pilares, que é o relacionamento com o cliente”, explicou Hugo.

SERVIÇOS E SOLUÇÕES ASSESSORIA DE INVESTIMENTOS Modelo especializado nas necessidades do cliente com proximidade, expertise e experiência SEGUROS Um leque de opções e variedades em todos os tipos de modalidades PREVIDÊNCIA & CONSÓRCIOS Um amplo universo de oportunidades com um time capacitado FUNDOS DE INVESTIMENTOS Plataforma extremamente di ersificada com mais de gestoras do Brasil e do mundo INTERNACIONAL cesso di ersifica o de investimentos por meio de ativos internacionais CORPORATE Acesso de empresas a um port ólio amplo e sofisticado tanto para o recurso de liquidez da empresa quanto para os investimentos de longo prazo @vlginvestimentos www.vlginvestimentos.com.br

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MERCADO ROBERTO NIWA CAMILO DESCOBRIU CEDO QUE NÃO PRECISAVA DEIXAR A CAPITAL PARA FAZER BOAS NEGOCIAÇÕES. E EM BRASÍLIA CRIOU A SEDE DA MAIOR EMPRESA DE CLUBE DE VANTAGENS NA AMÉRICA LATINA POR NATHÁLIA BORGO « FOTOS LUARA BAGGI

A ARTE DE FAZER GRANDES NEGÓCIOS

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os 37 anos, o empresário Roberto Niwa Camilo acumula uma história que parece não caber na sua própria linha do tempo, uma caminhada marcada por uma palavra que o acompanha desde criança: desafio. Para descrever o jovem empresário, talvez seja melhor por meio da atividade que pratica nas horas vagas, o Muaythai, que nasceu para o campo de batalha, mas hoje virou arte, esporte e caminho para a inclusão social. Este é Roberto: nasceu para a guerra, mas faz negócios construindo diálogos e criando pontes. Natural de Araçatuba (SP), chegou em Brasília aos 18 anos. Publicitário de formação, trabalhou em grandes agências, inclusive de referência internacional, onde atendeu a empresas como o Banco do Brasil. Assim que ganhou vivência, seguiu como empresário. Primeiro como sócio em empresa familiar de participações, que atuava nas áreas financeira, de energia eólica, de seguros e agronegócio, entre outras coisas. Chegou a coordenar a área comercial de 13 operações, simultaneamente. Aos 28 anos sofreu um infarto, resolveu abandonar tudo e recomeçar a vida.

UM NOVO PASSO Naquele momento, concentrou seu foco no Markt Club, empresa especializada em programa de relacionamento e clube de vantagens. Hoje é a maior da América Latina, atendendo mais de dois milhões de pessoas, com uma rede de cerca de 17.500 lojas parceiras em todo o Brasil. Para se ter uma ideia do tamanho expressivo do negócio, no ano passado, durante a primeira onda da pandemia de COVID-19, a empresa cresceu 128%. Se os usuários da plataforma fossem um país, ele teria um PIB anual de R$ 67,2 bilhões. O quadro de colaboradores cresceu no mesmo período mais de 30%, com uma característica importante: Roberto aposta na diversidade. Mais de 50% do quadro dos seus funcionários é formado por mulheres, sendo 66% dos cargos de chefia também ocupados pelo sexo feminino. Para falar das conquistas do presente, o empresário recorre ao aprendizado que leva da vida. Lembra dos tempos de menino, quando ajudava o avô em cima do caminhão de melancia. “Meu avô sempre foi um grande exemplo. Veio dele a inspiração para fa-

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zer o bem e ser honesto, independentemente da função desempenhada. Já fui office-boy e garçom. Lavei banheiro, limpei chão, servi mesas. Meus maiores aprendizados vieram de onde menos esperava”, comenta Roberto. O incentivo pelo trabalho desde cedo veio da mãe, que também começou trabalhar cedo para sustentar o filho com apenas 17 anos. Foi apenas aos oito anos de idade que conheceu o pai. A convivência se aprofundou quando Roberto se mudou para Brasília e teve a oportunidade de aprender com ele. “Creio que aprendi com meu pai um pouco da inteligência para negócios”, conta o empresário. Ele também atribui ao pai o incentivo aos estudos e à formação profissional. Na área profissional, depois de aproximadamente um ano da cirurgia, resolveu mudar de rumo. “Abandonei tudo. Morava em uma casa no Lago Sul e fui para uma quitinete, fiquei sem renda, vendi itens pessoais e contei com o apoio da minha ex-esposa”, declara. Com 28 anos, quando parecia estar chegando ao auge, Roberto foi vítima de um infarto, devido a uma má formação congênita rara, quinto caso registrado no mundo. Depois disso, a vida nunca mais foi a mesma. A cirurgia foi invasiva e ele teve o coração retirado para ser reparado. A recuperação foi mais rápida do que imaginavam. Roberto voltou a trabalhar com pouco mais de um mês. Pai do Heitor, de seis anos, o empresário procura transmitir ao filho os valores aplicados nos negócios: coerência, fidelidade e, principalmente, respeito. Professor de artes marciais há mais de 14 anos, vem

daí a competitividade, concentração e segurança. “Quando o lutador fica no canto do ringue apanhando, ele tem a seguinte alternativa: ou cai ou junta forças de onde não tem para se reerguer. Eu nunca tive o perfil de cair e aceitar”, garante.

DEU TUDO CERTO Roberto relembra o começo da história da Markt Club, quando a empresa tinha outra cara e precisou ser repaginada. O que antes era um subsolo com goteiras ganhou ares mais modernos e, hoje, ocupa um dos mais luxuosos prédios comerciais da capital. A nova sede, inaugurada em janeiro de 2021 no Setor de Indústrias Gráficas de Brasília (SIG), tem sua estrutura pensada para o conforto dos clientes e dos colaboradores. São 300 metros quadrados com estações de trabalho, salas de reunião, mesa de sinuca, fliperama, área de treinamento e cafeteria. Essas empresas contratam o Markt Club para ofertar descontos aos clientes e associados por meio

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de uma rede personalizada e pensada estrategicamente para o contratante. Uma grande vitrine onde todos se indicam e saem ganhando. Mesmo em meio à pandemia, houve um fortalecimento nas vendas online e no crescimento dos negócios de convênios, sistemas de pontos e descontos para associados. Com o Markt Club, uma creche parceira chega a oferecer R$ 600 de desconto aos pais que são clientes. A partir do clube de vantagens de Roberto, uma montadora chegou a vender 400 veículos no primeiro ano de pandemia. “Já temos firmada a entrada de mais de 1,5 milhão de usuários no sistema este ano e esses resultados aumentarão mesmo em um 2021 tão cheio de desafios para o nosso país”, ressalta. A empresa realiza todas as atividades com base na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Em breve, vai lançar um portal próprio de e-commerce

junto a uma das maiores redes varejistas do país. Um legado positivo da pandemia? “O mundo virou digital e a tendência é aumentar. Pesquisas já apresentam uma retenção de 78% de usuários, pessoas que antes não compravam pela internet. A tecnologia cresceu cinco anos em um”, conclui. Para alcançar números expressivos, o segredo é dividir responsabilidades. Segundo Roberto, em todas as suas operações existem participações vitais. No caso do Markt Club, ele deixa claro que nada teria acontecido sem que houvesse a presença de seu sócio, André Rodrigues, a quem atribui características como comprometimento, profissionalismo e muita paciência. Essa última falta ao próprio Roberto, que não se esquiva de assumir seu temperamento forte. Ele garante que não vai parar por aí. Outra empresa administrada por Roberto na área de benefícios teve crescimento de 98% em 2020. Está em processo de abertura de outras duas empresas, uma na área de relações governamentais e outra no setor financeiro. “Precisamos parar de procurar culpados e fazer um esforço adicional em tempos difíceis. Quem tem a chance de empreender e gerar empregos tem a obrigação de fazer alguma coisa para ajudar na recuperação do país”. O jovem empresário, que tem cursos pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativo, Universidade de Stanford e Colégio de Comunicação de Londres, parece estar pronto para novos desafios e a história tem mostrado que onde ele toca as coisas andam. @marktclub www.marktclub.com.br

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PROPAGANDA

LIBERTÉ, ÉGALITÉ ET PUBLICITÉ

André Timóteo é o head comercial da empresa em Brasília

A JCDECAUX, CRIADA PELO FRANCÊS JEAN-CLAUDE DECAUX, TORNOU-SE A MAIOR ALIADA DE EMPRESAS QUE PRECISAM ANUNCIAR SEUS PRODUTOS PARA SE MANTEREM VISTOS E VIVOS NA MENTE DO CONSUMIDOR POR NATHÁLIA BORGO « FOTOS LUARA BAGGI

O

ano é 1964, na maior cidade da França. Jean-Claude Decaux passou um verão cuidando do empreendimento da família, que vendia sapatos de luxo em Paris. Como a região ficava sem grandes movimentos durante a estação, era preciso ter criatividade para garantir as vendas. Jean, então, teve a ideia de fixar cartazes com promoções nos abrigos de ônibus da Champs-Élysées, uma das avenidas mais famosas do mundo, em Paris. Nascia o conceito de mobiliários urbanos financiados por publicidade e a JCDecaux, em homenagem ao criador. Depois disso, tudo é uma grande história de inovação e liderança para se acompanhar quando se pensa no segmento de Out Of Home. O pioneirismo da JCDecaux em pensar em comportamento do consumidor e sua interação com mensagens de marcas foi o que garantiu às empresas se aproximarem do seu público-alvo de forma segmentada diante da sua interação com a rua. O formato de publicidade criado por Jean-Claude Decaux veio para salvar as empresas, especialmente as pequenas, por meios acessíveis e de grande impacto. Mobiliário urbano pode ser pensado como qualquer equipamento inserido no cotidiano das cidades, que está ao alcance da visão, com diversas alternativas de exposição inteligente e mídia espontânea, como as próprias paradas de ônibus, comumente conhecidas em Brasília, cabines de segurança, propagandas em

trens e metrôs, totens, relógios digitais espalhados pelas avenidas, pirulitos ou mesmo os bancos de praça. A JCDecaux trabalha com mais de 15 mil faces estrategicamente localizadas em todo o Brasil. É a única rede nacional de mobiliário urbano, com todos os equipamentos necessários, distribuídos nas mais importantes vias das cidades brasileiras, com veiculação semanal a partir de uma distribuição inteligente da marca dos clientes.

EM TODO CANTO DO DF Em Brasília, a multinacional francesa presente em 80 países, tem um líder que sabe unir o que há de melhor da capital federal com o olhar vanguardista da companhia que representa. André Timóteo é o head comercial da multinacional em Brasília e conta com entusiasmo a história da empresa na capital federal. “O grupo continua sendo de controle familiar

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LIVRE E CRIATIVA

e se expandiu por todo o mundo. Sou muito honrado por fazer parte da empresa há três anos”, comemora. Há mais de dez anos atuando no mercado publicitário de Brasília, André contabiliza experiência como executivo de vendas. Trabalhou também na TV Globo, onde mantinha relacionamento com o governo federal, governo local e empresas privadas da região. Nascido e criado na capital federal, André ficou um ano fora, em intercâmbio nos Estados Unidos, onde cursou o último ano do high school e pôde vivenciar a cultura norte-americana, o idioma e experiências com intercambistas globais. Apesar das oportunidades chamarem pelo mundo, ele optou por continuar na terra onde os filhos estão, a Clara, de dois anos, e o Davi, que nasce no mês de agosto. “Escolhi Brasília pelo apego que tenho à cidade, o carinho e a qualidade de vida que a capital federal nos proporciona. Em nível nacional, nossa empresa tem uma cobertura em sete capitais com diferentes tipos de soluções, como o mobiliário urbano, que chegou ainda na pandemia a 92 milhões de impactos diários em 2020, o metrô em São Paulo, que teve uma circulação diária de 3,3 Milhões de passageiros, e os aeroportos, tanto de Guarulhos como Internacional Juscelino Kubitschek, o chamado ‘maior hub doméstico do Brasil’ e hoje segundo aeroporto regional do país onde estamos desde 2015. Este aeroporto especificamente é um dos pontos estratégicos onde as marcas premium apostam para se conectar numa conversa qualificada com o público AA”, destaca André Timoteo.

Líder mundial em mídia OOH (Out-of-Home), a JCDecaux é experiente também em publicidade sobre duas rodas, em bicicletas de livre-serviço, transportes, grandes formatos e em shoppings. Chegou ao Brasil em 1998, consolidando-se em algumas das principais capitais brasileiras, como São Paulo, onde fica a sede do grupo no País, Rio de Janeiro, Fortaleza, Brasília, São Luís, Belém e Manaus. A companhia sinaliza que continua em avaliação permanente de novas cidades para ampliar seu leque de soluções integradas em mídia. Para manter o império de pé, André garante que a multinacional aposta no corpo de mais de 13 mil colaboradores de qualidade em todo o mundo. “Braço direito e o esquerdo do head”, como ele mesmo credita, Liana Rollemberg é a experiente publicitária que trabalha na gestão da equipe, na execução de atendimentos, além de cuidar de muitos processos de comercialização da JCDecaux em terras brasilienses. É com estudos, reflexões sobre o segmento e com o investimento em inovações que a empresa JCDecaux consegue sair à frente da concorrência. Graças ao time global, a tradução do comportamento do consumidor e os aprendizados em cada praça são catalizadores da evolução da empresa. E com o cenário atual em que o mundo vive, não é possível não construir a estratégia de 2021 sem pensar no que está sendo a pandemia para todo e qualquer negócio. E a JCDecaux Brasil, como toda empresa com olhar inovador e de vanguarda, utiliza o espírito do tempo para dar os próximos passos. Todo o board de gestão da companhia olha para o desejo do consumidor, que é o de viver tudo que vai acontecer lá fora, quando tudo isso passar. “Tivemos em 2019 o nosso melhor ano, mas em 2020 foi um ano desafiador. A pandemia nos fez compreender muito melhor as relações humanas, a gestão do negócio, tendo atitudes rápidas e conscientes. Foi um momento de olhar para dentro e para fora com sabedoria e estratégia, e rapidez. Seguimos otimistas para 2021. Acreditamos que a vacinação da população vai fazer a vida voltar aos poucos à normalidade, com a geração de emprego e renda”, avalia o head comercial.

@jcdecauxbrasil www.jcdecaux.com.br

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Fotos: Telmo Ximenes.

HISTÓRIAS QUE CONECTAM NO CORAÇÃO DA CIDADE, O PÁTIO BRASIL SHOPPING COMPÕE O QUADRO DE RECORDAÇÕES DE QUEM PASSOU POR ALI E SEGUE COMO CARTÃO-POSTAL BRASILIENSE

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espertar boas lembranças é um dos pontos fortes do Pátio Brasil. O shopping é sinônimo de memória, saudade e vivências. Considerado um clássico da história local, compõe uma paisagem afetiva que já reuniu de adolescentes a executivos de agenda apertada. É fácil encontrar brasilienses que têm algum fato interessante vivido nesse canto especial da cidade.

“O Pátio foi palco de encontros marcantes para mim. No fim do ensino médio e no início da universidade, passei muito por ali: um almoço, um date, um cineminha, um lanche. E, hoje, continua sendo o meu escolhido para compras rápidas e almoços de domingo no Madero”, conta a doutoranda em Antropologia Manuela Muguruza. Foram esses convívios e encontros memoráveis que levaram o endereço ao patamar de clássico candango. Em frente a um dos lugares mais movimentados da capital, o Setor Comercial Sul, o prédio chama a atenção desde a inauguração, em 1997. Em dezembro de 2016, voltou a ser destaque com o lançamento da nova fachada, um marco na história do shopping e o início de uma fase mais conceitual da marca, em uma proposta mais moderna e contemporânea. Há oito anos, Lorena Galvão Kimo Aguilar escolheu o Pátio para abrir seu negócio. “Além da excelente localização, é de fácil acesso, possui estacionamento amplo, tem paradas de

ônibus na porta e o metrô perto. Um excelente ponto para o comércio varejista”, avalia. Hoje, conta com 182 operações, 118 empregos diretos gerados somente na administração e 540 vendedores nas mais diversas áreas comerciais. Esses números, claro, refletem-se nas vendas e nas novidades que nunca deixam de aparecer. Em abril, por exemplo, a Tok&Stok desembarca no 2º piso. “Estamos muito felizes com a chegada de uma marca de peso como a Tok&Stok. Além da praticidade e do bom gosto, vai ser mais uma opção para quem vem ao Pátio em busca de produtos para a casa”, comemora o superintendente do Pátio Brasil, Augusto Brandão. Ainda neste primeiro semestre, o Pátio ganha outras duas novas lojas: o Shopping dos Cosméticos, referência em produtos de beleza no DF, e uma filial da Dunkin’ Donuts. A proximidade com o brasiliense é o mote do novo momento do empreendimento. As campanhas e promoções das próximas datas comemorativas, como Dia das Mães e Dia dos Namorados, estão sendo pensadas no sentido de valorizar a conexão do Pátio Brasil com Brasília – e com quem vive aqui. Além das tradicionais ações de “comprou, ganhou”, a ideia é promover concursos culturais para valorizar essa conectividade com o público. “Percebemos que todo mundo tem uma história boa para contar no Pátio Brasil, que o shopping foi palco de muitas amizades, namoros, relacionamentos e histórias. E queremos continuar sendo. Principalmente porque, neste ano tão difícil para todos, muitos têm buscado força nas boas lembranças”, conclui Brandão. @patiobrasil

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Fotos Bruno Cavalcanti

DOMICILIAR

A LUZ DA EMPATIA UM OLHAR ACOLHEDOR DIANTE DA FRAGILIDADE. A TERAPIA EM PROL DO FORTALECIMENTO. A DELICADEZA FRENTE AO CUIDADO. BEM ALÉM DA ESTRUTURA HOSPITALAR EM CASA, HUMANIZAR TODA A JORNADA FAZ PARTE DA MISSÃO LUMINU

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uminu significa luz. Aquela que ilumina, que traz claridade. Pode ser a luz do dia, a luz da vida. Dar à luz a um bebê. A luz que acolhe, que tira da escuridão. Não apenas da escuridão literal, mas que transforma e dá aconchego. Leva alento, conforto e esperança. Luminu foi o nome escolhido pelo enfermeiro João Flávio, pela geriatra Silvana Coelho e pela oncologista Janyara Teixeira Souza para a empresa de home care criada por eles. Mais do que apenas um atendimento médico domiciliar, a proposta veio acompanhada de uma palavra que é o fio condutor do trabalho do trio: a humanização. “Entrar na casa das pessoas é sempre delicado, ainda mais em momentos de fragilidade, quando envolve cuidados com a saúde. Nós queríamos oferecer soluções e não virar um grande problema na vida delas. E, assim, com um olhar afetivo, vimos que era possível fazer mais pelos pacientes e suas famílias”,

explica Silvana, sobre o conceito da empresa que surgiu há quase um ano na capital federal. O atendimento domiciliar é algo que existe desde os primórdios da Medicina, como retratados em filmes e novelas de época, quando os médicos visitavam os doentes em casa. Mas o home care como conhecemos hoje é uma atividade regularizada desde o início dos anos 2000, que ganhou força nos últimos anos e tornou-se uma tendência mundial, integrando discussões de políticas de saúde pública e privada. Segundo o Censo 2019/2020 do Núcleo Nacional das Empresas de Serviços de Atenção Domiciliar (Nead), realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o setor expandiu 22,8% entre 2018 e 2019. Isso representa um salto de 676 para 830 estabelecimentos. A pesquisa também aponta que em julho de 2012, eram apenas 18. Diferentemente do que se imagina, o home care não é apenas ter uma estrutura hospitalar em casa,

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mas, sim, proporcionar um conforto e uma comodidade ao paciente, que transcende a medicina. Junto com os respiradores, com os concentradores de oxigênio e com a cama hospitalar, pelas mãos da Luminu vêm cores, sons, arte e, acima de tudo, amor. “Não importa a durabilidade do serviço, queremos levar qualidade de vida ao dia a dia do paciente. É um momento naturalmente difícil, mas que não precisa ser o pior da vida”, afirma Silvana. A equipe multidisciplinar é composta por 35 profissionais. Além de atendimento médico e de todos os cuidados hospitalares, o rol de serviços complementares varia de acordo com as necessidades e é totalmente personalizado, com a criação de um planner terapêutico após a avaliação inicial. A Luminu oferece reiki, aromaterapia, massoterapia, podoatria, musicoterapia, pet terapia, arte terapia, estética paliativa, capelania e até a doula de fim de vida. “Temos um processo seletivo exigente que, claro, prioriza a avaliação curricular e a qualificação profissional, mas sem deixar de levar em conta a postura e a habilidade para ouvir e saber calar. Ele lida com pessoas que estão passando por um momento muito delicado, que exige um cuidado e uma atenção maior”, analisa Flávio, que destaca, ainda, a busca por uma educação continuada para os colaboradores da empresa. Quando se pensa em home care, há um preconceito de que é um serviço para pacientes idosos. Cla-

ro que a crescente demanda tem o envelhecimento populacional do Brasil como fator importante, mas Flávio ressalta que a Luminu atende qualquer pessoa que precise de um cuidado médico em casa. É um serviço indicado para quem tem dificuldade de se locomover ou uma doença crônica. “Não necessariamente são pessoas mais velhas, mas tratamos, por exemplo, diabéticos, vítimas de acidentes, casos de demência e insuficiências cardíacas, pacientes oncológicos, com vírus HIV e também de reabilitação de Covid-19”, exemplifica. “Quando se trata de jovens, o foco é prolongar a vida. Ao envelhecer, dar conforto”, completa Silvana. Ao ouvir João Flávio, Silvana e Janyara falarem sobre a Luminu, fica nítida a premissa da empresa. “Olhamos para os pacientes não como números, mas como pessoas. Nosso propósito não é atingir metas numéricas”, garante Silvana. Em um trocadilho, podemos dizer que a Luminu veio para atualizar o significado da expressão “visita de médico”. Se originalmente é um termo usado quando se tem uma “visita rápida”, a empresa brasiliense de home care constrói um legado que faz o tratamento médico ser doce, acolhedor e sensível. Momentos, com certeza, cheios de luz, como o próprio nome diz. @luminuhomecare www.luminuhomecare.com.br

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ESPECIAL PARA GPS

ESPECIALISTA EM FEMINILIDADE ATENTA À EVOLUÇÃO DA CIRURGIA PLÁSTICA MUNDIAL, A MÉDICA MILENA CARVALHO, ESPECIALISTA EM MAMOPLASTIA DE AUMENTO, INVESTE NA TÉCNICA FAST TRACK RECOVERY. POR NATHÁLIA BORGO « FOTOS LUARA BAGGI

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paixonada por cirurgias e pela beleza, a cirurgiã plástica Milena Carvalho uniu o útil ao agradável: o sonho de ser cirurgiã à paixão pelas técnicas de melhorias da autoestima.

Natural de Campina Grande - PB, cursou medicina na Universidade Católica de Brasília (UCB) e se especializou em cirurgia geral pela Universidade de Brasília (UnB). Além disso, passou por grandes nomes da rede hospitalar do Distrito Federal, como Hospital de Base, o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) e o Hospital Daher, do Lago Sul, onde se especializou em cirurgia plástica com José Carlos Daher, discípulo de Ivo Pitanguy. Morando em Brasília há 16 anos, a médica é proprietária da Clínica Lapidat, localizada no Lago Sul. A clínica foi idealizada por Milena com apoio do esposo, o engenheiro civil Henio Galdino. Idealização, vontade e expertise juntas frutificaram um espaço que, além das técnicas mais modernas de cirurgia plástica, atende também os segmentos de nutrição e dermatologia. A cirurgiã transforma vidas a partir da mamoplastia de aumento, abdominoplastia, lipoescultura, face, blefaroplastia, bichectomia, mentoplastia, rinoplastia, ninfoplastia, ginecomastia e mais procedimentos, conforme a melhor avaliação e as reais necessidades das pacientes. E, em breve, a Lapidat deve ganhar ainda mais atendimentos, com áreas que possam até convergir na hora de retomar a autoestima na mesa de cirurgia.

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A MENINA DOS OLHOS Mas, apesar de tantas especialidades, uma está na lista dos procedimentos favoritos da cirurgiã: a técnica de implante de silicone Fast Track Recovery. Criado pelo norte-americano John Tebbets, em 2002, o procedimento garante a recuperação em apenas 24 horas. Os estudos de Tebbets foram publicados na Plastic and Reconstructive Sugery Journal, uma das revistas mais respeitadas do mundo no segmento. Atualmente, quase 100% dos cirurgiões norte-americanos preferem a prótese inserida em dual plane com menos trauma e dor para as pacientes. Realizada há cerca de oito anos no Brasil, a técnica já é procurada por 80% das mulheres que buscam a Lapidat para aumentar as mamas. “Hoje eu sou especialista nesse tipo de cirurgia. Para alcançar o melhor resultado, é preciso seguir rigorosamente 14 passos de um protocolo cirúrgico. Assim, a paciente recebe menor trauma durante o procedimento, praticamente sem sangramentos. É feita uma sustentação interna com fios farpados, como uma espécie de sutiã interno. As medicações da cirurgia e a anestesia também são diferentes”, detalha. A nova técnica, de acordo com Milena, além de retomar a autoestima, torna a recuperação mais eficaz. “Cuidar das mamas é a minha paixão. Focar nessa área é como trazer de volta a feminilidade de muitas mulheres e torná-las mais autoconfiantes. É um símbolo feminino muito associado ao poder”, conclui.

OS PROTOCOLOS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.

Usar antibióticos intravenosos antes do ato anestésico;

Não realizar incisões periareolares (ao redor do mamilo) ou pela axila;

Utilizar protetores de mamilo para evitar o derramamento de bactérias dos ductos mamários no bolso da prótese; Realizar dissecção atraumática cuidadosa para minimizar os danos ao tecido mamário;

Evitar maiores sangramentos durante a cirurgia; Evitar cortar o tecido mamário;

Realizar a irrigação da loja com soluções apropriadas, incluindo soluções de betadina 50% ou antibióticos comprovados; Sempre que possível, utilizar um funil introdutor para evitar que o implante mamário entre em contato direto com a pele e suas bactérias;

Utilizar novos instrumentos e afastadores e trocar as luvas cirúrgicas antes de manusear o implante;

10. Minimizar o tempo entre a retirada do implante mamário de sua embalagem estéril e a introdução na loja (dentro da mama); 11. Evitar o uso de provadores e retirar e colocar novamente o implante pela pele; 12. Realizar fechamento em camadas;

13. Evitar, sempre que possível o uso de drenos, potencial entrada de bactérias,

14. E uma recomendação futura: aconselha-se o uso de profilaxia com antibióticos para cobrir procedimentos subsequentes que violam a pele ou a mucosa. @lapidat @dramilenacarvalho

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ESPECIALISTAS

BOUTIQUE SCHOOL DA HARMONIZAÇÃO FACELAB INSTITUTE TRANSFORMA PROFISSIONAIS DA SAÚDE EM EMPREENDEDORES AO MESMO TEMPO EM QUE AMPLIA SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO NOS MERCADOS CLÍNICO E DE ESTÉTICA POR NATHÁLIA BORGO

do DF: Clinica Dimas Dutra e Dutra Clinic, no Guará, um espaço com área total de 1000 m², com 14 consultórios individuais, salas cirúrgicas, centro radiológico e o próprio laboratório de análises clínicas.

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Qualquer pessoa pode se inscrever para ser um paciente modelo do instituto. Cada cadastro é analisado pela equipe do Facelab e agendada uma primeira avaliação, gratuita. “Harmonização é trabalhar a harmonia da face, sem deixar que as pessoas percam a sua identidade. É feito um planejamento, e, dependendo do caso, pouco a pouco, com tempo de adaptação e novas sessões até obter um resultado satisfatório”, explica Marcelo. Desde a abertura dos cursos, já foram formados quase 200 alunos. O conceito de ensino prega o aprendizado exclusivo, visto que para cada dupla de alunos há sempre um professor e um assistente. A escola aplica o ensino teórico sob evidências científicas, com cursos ministrados por profissionais conhecidos nacional e internacionalmente, como o cirurgião dentista Marcelo Germani, professor do curso Black Diamond, uma residência sobre harmonização facial, uso de toxina botulínica, fios, preenchedores faciais e bioestimuladores. Outro curso aberto é o Diamond Exclusive, com a doutora em odontologia Tatiana Clementino, que dá aulas sobre harmonização facial não invasiva, tratamento e planejamento de pele, tecnologias avançadas, operação de equipamentos de ponta, toxina botulínica, bioestimuladores de colágeno, preenchedores faciais, entre outros.

m apaixonado por comunicação e oportunidades, vindo de gerações de tipógrafos e gráficos, Marcelo Augusto Machado conhece a fundo o poder da divulgação e da disseminação de informações para transformar vidas. Para ele, em qualquer segmento, comunicar é fundamental. E foi por meio de consultorias e assessorias para médicos, odontólogos, biomédicos e farmacêuticos, que o empreendedor nato descobriu um nicho exclusivo para atuar. Investiu em um selo para profissionais interessados em trabalhar harmonização facial e procedimentos estéticos de ponta e, dessa maneira, melhorar a vida de outras pessoas. “Desenvolvi uma pesquisa, durante um ano e seis meses, para entender o mercado. Nas consultorias, eu me deparei com profissionais com agendas lotadas, mas com conversões muito baixas. Fui entender o porquê. Além disso, encontrei especialistas altamente capacitados e habilitados, mas sem a estrutura adequada para ministrar cursos pelo País”, conta o empresário. Nascia, então, o Facelab Institute, em 31 de janeiro de 2020, a primeira boutique school da América Latina focada na capacitação em harmonização facial. A escola surgiu sob o aspecto socioeconômico e sustentável, atenta a parcerias, a começar pela localização. O Facelab se instalou em dois dos melhores espaços

FILOSOFIA

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Foto: Bruno Cavalcanti

“As aplicações das técnicas são regulamentadas pelos conselhos regionais de Medicina, Odontologia, Biomedicina e Farmácia. Então, qualquer profissional habilitado por seu respectivo conselho pode estudar na nossa escola e ser certificado”, afirma o empreendedor.

APOIO EM 360º Além da formação, o instituto dá oportunidades às pessoas com novas perspectivas a partir dos cursos. Por exemplo, aqueles com dificuldades em conseguir um espaço físico adequado para trabalhar vão poder fazer uma assinatura mais em conta com a Sua Clínica (uma espécie de coworking da área), no DF Plaza, e, com isso, ter acesso a um local sofisticado, com aparelhos de ponta, para dar os primeiros passos na carreira. “O espaço foi pensado para atender as demandas dos alunos do Facelab que não têm um local adequado para realização dos procedimentos. O conceito passeia pela ideia de não apenas oferecer a formação, mas ajudar nos primeiros passos fora do instituto”, conta Denis Fadul, responsável pelo espaço. Já para aqueles que não têm o perfil de empreendedor, o Facelab vai inaugurar a D+ Estética,

também no DF Plaza, que vai ofertar oportunidades de trabalho a esses profissionais, que receberão por cada procedimento realizado. “Temos a pretensão de em três ou quatro anos ter 80% dos profissionais do instituto formados por nós. Além dessas oportunidades da nossa escola, outras 50 unidades do Brasil já estão cadastradas para futuras visitas técnicas, que ainda não começaram por conta da pandemia de Covid-19. Como aprimoramos o conceito de ocupação de espaços, essas unidades nos procuraram com o interesse em oferecer nossos cursos em suas regiões”, conta Marcelo. A partir dessas parcerias, o Facelab vai ganhar mais braços. O sonho do empresário, que de tão apaixonado pela área acabou se matriculando no curso e está no 7º semestre de Odontologia, era mostrar para as pessoas o quanto empreender no mercado da beleza é promissor. No próximo semestre, o Facelab Institute vai lançar um curso especial somente para médicos de todo o País, voltado para cirurgias complementares da harmonização da face e das áreas de implante capilar, otoplastia, ginecomastia, entre outras técnicas cirúrgicas relacionadas à especialidade médica. @facelab_ifl www.institutofacelab.com

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ESTÉTICA

INTERVENÇÕES HUMANIZADAS DOIS IRMÃOS DA ÁREA DE SAÚDE QUE ELEGERAM BRASÍLIA PARA EMPREENDER FRUTIFICAM E TORNAM-SE UM DOS DETENTORES DE TECNOLOGIAS DE ALTA PERFORMANCE NA DERMATOLOGIA POR THEODORA ZACCARA « FOTOS BRUNO CAVALCANTI

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o dia 11 de abril de 2021, Liliane Lima completou dez anos desde que pisou no solo da capital. Na data, o marco passou batido, mas foi lembrado dois dias depois, quando a equipe da revista visitou a clínica de medicina estética Singular. “Na época, Brasília tinha muita demanda e inúmeras oportunidades”, relembra. Vinda do interior de Minas Gerais, Lili chegou à capital com um sonho e um plano. Fonoaudióloga por formação, diz não se lembrar de um dia ter desejado

uma carreira que não fosse na área de saúde. “Meu início foi no ramo de home care, quando me despertou a paixão pelo zelo com o paciente”, recobra. Poucos anos depois, o irmão, Wesley Ferreira, também pousou no Planalto Central. Por aqui, concluiu o curso de Medicina na Universidade de Brasília, com especialidade em Dermatologia. Juntos, começaram o negócio. Nos fundos do primeiro escritório, montaram uma “clínica puxadinho”. “Fazíamos o peeling em algumas poucas clientes em um local improvisado”, lembram.

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Tudo bem diferente do pomposo espaço – na quadra 105 do Sudoeste – inaugurado em 2018 e que está prestes a ganhar nova estrutura em julho, com projeto do arquiteto Marcos Dourado. “Adoramos esse clima intimista que nosso local atual tem, mas sentíamos a necessidade de uma divisão melhor, com salas mais amplas, áreas de relaxamento e outros elementos que elevam a experiência da clínica ao próximo nível”, explica Lili Entre as novidades que despertam aquele “uau!” caloroso, uma recepção que mescla coworking e wellness bar promete impressionar logo de cara. “O cliente pode trabalhar enquanto espera seu horário ou tomar um chá e já entrar na atmosfera da terapia”, exemplifica. Nas paredes, neons que gritam “pele”, “corpo” e “amor” acompanham um gigante “singularize-se”, um aceno ao atendimento personalizado e humanizado. Plantas e quadros sopram vida ao hall, que com linhas geométricas e iluminação aconchegante dão o sinal: “você está em casa”. Em sequência, uma sala pré-atendimento para aplicação de anestesias e outros preparos que precedem o tratamento. O consultório de Wesley ganha paredes pretas e estofados brancos: mistura de design contemporâneo e funcional. Por todo lado, toques de um rico dourado. E um centro médico de spa capilar também está nos planos. Entre os procedimentos, há de um tudo: cabelos, corpo, rosto, região íntima. Ultrassom micro e macrofocado, radiofrequência 3 deep, microagulhamento robótico, luz intensa pulsada, botox, preenchimento com ácido hialurônico, bioestimuladores de colágeno, hidratação profunda Skinbooster, jato de plasma, lipoenzimática para papada, tratamentos para acne, cicatrizes, manchas, melasma e outras opções mais cotidianas, como limpeza de pele e máscaras faciais. Para o físico, drenagem linfática convencional, depilação a laser, hidratação profunda com Skinbooster, massagens modeladora e pós-cirúrgica, subcisão e outros tratamentos reúnem medicina e estética no mesmo point, com a certeza de um acompanhamento médico confiável. “Cada pessoa que entra pela nossa porta é diferente. Tem seus traços, suas inseguranças, seu jeito. Nossa missão é oferecer não apenas o melhor serviço, mas também o mais humanizado. Afinal, nossas clientes são singulares”, finalizam.

“O QUERIDINHO DAS KARDASHIANS” Não se engane pelo tamanho: apesar de não ser muito maior que um ar-condicionado portátil, o InMode Bodytite é um milagre encapsulado. No Brasil, apenas quatro máquinas estão à disposição da clientela – em Brasília, a única delas mora sob o teto da Singular. ara tratamentos de acide na pele e r as de fato não há nada mais tecnológico no mercado. Você consegue resultados cirúrgicos com um rápido tratamento de mínima intervenção”, assegura o especialista sobre a tecnologia desenvolvida em Israel. “É gerada uma grande troca de energia que estimula a produção de colágeno. Assim, conseguimos essa retração de pele”, esclarece. Segundo ele, ideal para quem quer evitar uma cirurgia com cortes e internação. @singularmedicinaestetica www.singularestetica.com.br

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OPERAR: O FIM DO TRAUMA

Foto Luara Baggi

MEDICINA

TECNOLOGIA QUE TRATA A COLUNA VERTEBRAL SEM AGRESSÕES À ESTRUTURA DO CORPO É UTILIZADA PELA PRIMEIRA VEZ EM BRASÍLIA, CONDUZIDA PELO MÉDICO RODRIGO LIMA POR NATHÁLIA BORGO

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inco centímetros separam uma vida de dor de uma vida confortável. Por uma única passagem, minimamente invasiva, com menos de 24 horas o paciente volta para a rotina. Esse tipo de cirurgia já é realizada em Brasília pelo ortopedista Rodrigo Lima, desde 2018, quando ele importou o método dos Estados Unidos. E foi também pelas mãos do médico que a capital federal ganhou, em abril de 2021, o que há de mais revolucionário quando o assunto é o processo cirúrgico: o Viper Prime System, criado há cerca de dois anos pela empresa Johnson & Johnson Medical Devices Companies (EUA). É a segunda vez que esse material é utilizado na América Latina, sendo as duas no Brasil. No Distrito Federal, Rodrigo Lima contou ainda com o apoio da equipe formada pelos especialistas Luciano e Luciana Ferrer. “O paciente apresentava dores nas costas, na lombar, degeneração e desgastes que não melhoraram com fisioterapia e medicação. Devido à falha no tratamento conservador, foi necessário recorrer à cirurgia”, explica. O procedimento com o Viper Prime leva em torno de 40 minutos, é mais rápido, sem agressões profundas às estruturas do corpo humano. “O Viper Prime nos permite realizar uma técnica sem sangramento ou danos ao paciente”, ressalta. O Viper facilita a colocação de parafuso pedicular percutâneo e a estabilização posterior do membro. Além disso, elimina a necessidade de fios-guia, agulhas Jamshidi e instrumentos de preparação de

pedículos. “O conceito cirúrgico é o mesmo dos procedimentos que vínhamos realizando, mas esse material reduz o tempo de procedimento e de internação. Representa um avanço em termos de tecnologia”, destaca Rodrigo. Mais de 90% dos casos operados com Viper Prime são bem-sucedidos. Em média, em quatro semanas, a pessoa pode retomar a rotina. De acordo com o especialista, a técnica está disponível para todos no Brasil, porém, são necessários conhecimento e prática profissionais. Rodrigo Lima, graduado em Medicina pela Escola Superior de Ciências da Saúde, em Brasília, com residência médica em ortopedia e traumatologia pelo Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) e em cirurgia da coluna vertebral, pelo Hospital Lifecenter de Belo Horizonte, ainda, Fellowship em cirurgia minimamente invasiva no Cedars Sinai, de Los Angeles (EUA), é o primeiro profissional a atuar na mesa cirúrgica com o Viper Prime System no DF. O próximo passo do ortopedista é compartilhar o conhecimento e disseminar a tecnologia no País. A cirurgia minimamente invasiva, por exemplo, é um procedimento realizado há cerca de 15 anos no exterior. “O Brasil continua na corrida a favor da tecnologia. Estamos corrigindo a defasagem na medicina em relação ao restante do mundo. A ideia é trazer para o país o que há de melhor e mais moderno em instrumentais, portfólios e capacitações”, vislumbra.

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ARTIGO NICOLE ARAÚJO

Ginecologista e mastologista, graduada há mais de vinte anos na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Registrada nos Conselhos Regionais de Medicina de Minas Gerais e do Distrito Federal

A MENOPAUSA DO SÉCULO XXI

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eriam os famosos fogachos coisas do século passado? Tudo indica que sim. E também o ressecamento de pele e cabelo, aquela triste sensação de estar despencando da noite para o dia, um ganho de peso até se beber só água, um ressecamento vaginal que inviabiliza qualquer relação, sem contar uma libido que nos leva a não querer ver o marido nem de binóculos. Sim, a memória vai embora. E o sono? Acordar cansada virou uma regra. E o acúmulo de gordura na barriga? E a preguiça social? Socializar? Malhar, então? Um tormento. O que fazer? Se fosse no século passado, eu diria que tal fazer um crochê ou um bordado. O quê? Sim. As mulheres do século passado sentiam tudo isso e não tinham solução. Para piorar, os recursos existentes eram hormônios de baixa qualidade, que ameaçavam sua saúde. O que lhes restava: resignarem-se, esquecer a vida amorosa e sexual e partirem para o bom e velho bordado. As mulheres são as mesmas. Mas os tempos são outros. Nascemos com um número definido de óvulos, nossos ovários têm morte programada, têm prazo de validade. E quando eles param de funcionar, não é só a fertilidade que vai embora. Nossa sexualidade e nossa saúde também vão. A queda da produção hormonal deflagra uma cascata no organismo, como se acionássemos um botão de autoimplosão, que nos

leva ao adoecimento e nos encaminha para a morte. O risco de doenças crônicas aumenta, começamos a ganhar peso, a resistência à insulina, os riscos de doenças cardiovasculares e a pressão arterial aumentam, a capacidade cognitiva cai, a memória vai embora, e nossos ossos e músculos já não são os mesmos. Se não cuidarmos, nossos ossos passarão a quebrar com facilidade, é a osteoporose. Mas a Ciência hoje proporciona um envelhecimento digno, saudável e com mais autonomia. Assim que se detectar a queda dos níveis hormonais, já está indicada a reposição, com hormônios semelhantes aos que produzimos. Resgatamos nossa dignidade, nossa vontade de viver, nossa sexualidade. A expectativa de vida mudou. A sociedade mudou. Hoje, aos 50 anos, a mulher está no auge. Sua carreira, suas relações sociais, família constituída ou iniciando um novo relacionamento. É preciso estar com força total para usufruir do nosso bem mais valioso! Cuide-se! Procure seu médico. Faça reposição hormonal. *Gostaria de dedicar este texto ao nosso saudoso Dr. Elsimar Coutinho, meu mestre. Um gênio, responsável por uma guinada exponencial na trajetória para a busca da qualidade de vida das mulheres, com a criação dos seus implantes hormonais. Uma honra poder ter convivido e aprendido com ele.

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ARTIGO NELSON WILIANS

Empreendedor, advogado, fundador e presidente do Nelson Wilians Advogados

COM O VENTO CONTRA

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m dos mentores do RH moderno, o americano David Ulrich, pondera que a habilidade de se transformar nunca foi tão importante para o sucesso de um negócio. Empresas que não se transformam não são capazes de sobreviver ao atual cenário volátil e complexo. Já escrevi sobre isso, mas achei oportuno voltar ao assunto. Nesse momento de pandemia, vê-se o país em uma intensa tempestade de transformação. Como estamos no meio desta tormenta, a visibilidade está prejudicada e o rumo ainda nos parece incerto. Acredito, porém, que a colocação de Ulrich vale também para a advocacia. Nossas instituições estão sendo colocadas à prova constantemente, centradas na perspectiva das grandes questões jurídicas que estão em andamento, nas mais diversas esferas (social, econômica, sanitária, política). Assim, o Judiciário brasileiro também se vê obrigado a passar por transformações, que, por consequência, contribuem para mudanças em outras áreas do Poder Público. Com o comprometimento e a intenção de contribuir para a reflexão do crescimento da advocacia, acredito que do limão desse momento podemos fazer uma refrescante limonada. Novos personagens surgem como alento à crise, unidos em torno de um objetivo que traga reflexos promissores ao cenário nacional.

Discretamente, procuro, no meio dessa tempestade, ser um farol aos mais jovens, recém-formados ou ainda estudantes de Direito. Os jovens têm “o poder de mudar o mundo”. Mas, para isso, precisam acreditar que possuem habilidades para fazerem essa transformação e se atirarem de cabeça em busca das mudanças. Como já me pronunciei em outras ocasiões, a advocacia ainda está envolta em certa nuvem que a pressupõe como um mundo à parte. É preciso, sobretudo, uma transformação em busca do advogado do futuro. Com a pandemia e a intensificação do uso da tecnologia, o mercado passou a valorizar um novo profissional jurídico, imbuído de novas funções, tornando-se vital, por exemplo, uma atualização curricular nas faculdades, com a introdução de novas disciplinas, como a tecnologia da informação, empreendedorismo, gestão financeira, marketing jurídico, entre outras. Sem o radicalismo de querer jogar o passado no lixo ou execrar aqueles que muito têm contribuído, a questão é transformar para crescer. Uma nova mentalidade deve nos guiar no presente para enfrentar esse grande desafio. Nas palavras de Gandhi, “temos de nos transformar na mudança que queremos ver”. É preciso que os operadores do Direto estejam capacitados frente à nova dinâmica de mercado, impulsionada pelo desenvolvimento de novos negócios, e sem hesitação. Afinal, o avião decola mesmo com o vento contra.

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“O céu é o mar de BrasíliA” Um brinde aos 61 anos da nossa cidade!

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ARTIGO EDINHO MAGALHÃES

Jornalista e advogado, atua como consultor parlamentar no Congresso Nacional – edinho.assessoria@gmail.com

UM POR TODOS E TODOS POR UM, OU CADA UM POR SI?

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om o aumento do número de infectados e mortos pela Covid-19 em todo o País e no Distrito Federal, o subconsciente das pessoas parece ter encontrado uma forma simplista de encarar o problema: culpar alguém pelo momento trágico que estamos vivendo. Oras, se o vírus não passasse de pessoa pra pessoa, talvez até houvesse algum sentido em ninguém se achar culpado. Por esse senso “meio comum”, nos parece natural então que as pessoas, ao culparem alguém, apontem, em primeiro lugar, para os governantes. O raciocínio é simples: somente eles podem exercer essa autoridade coletiva enquanto o cidadão comum, não. Mas, será que o Governo é culpado por todo cidadão comum que se expõe ao vírus? Ou, ainda que seja, continuaria tendo culpa se o cidadão faz isso de forma repetida e consciente? O Governo tem que ser responsável também pelo irresponsável? Não seria mais lógico o cidadão evitar o vírus fazendo a sua parte? A parte do Governo é tratar o problema coletivamente. Pois bem, opiniões à parte, resta entender que sem essa consciência não adianta apelar pra ciência. Quanto menos consciente for uma população, mais trabalho terá seu Governo. Se um Governo tiver que remediar, o primeiro a sofrer é o próprio cidadão: de cara, deixa de existir o direito de ir e vir. O de “ir e ficar”, então, nem pensar! O novo Ministro da Saúde comentou que o lockdown é o resultado da falência dos cuidados básicos que cada um deveria ter. Com aglomeração, tudo fica prejudicado e a pandemia cria um pandemônio na economia. É nessa

hora que ninguém é culpado de nada e, ao mesmo tempo, passa a culpar todo mundo. O desentendimento é generalizado, inclusive sobre o que pode ou não funcionar, e quem decide se pode. Empresários batem cabeça com gestores, gestores com juízes, Prefeitos e Governadores com o Presidente e até um (ex) comandante da PM se torna mais importante do que todos esses juntos. Não tem como dar certo. Embora cada um tenha seu dever de casa, Governo & Cidadão são corresponsáveis por algumas aglomerações que poderiam ser evitadas, como as que existem em aviões, ônibus e igrejas, por exemplo. O primeiro não organiza a vida coletiva e o segundo não abre mão de sua vida individual. De novo: sem consciência nem a ciência salva: a tão esperada vacina já chega com ares de desconfiança: “É eficaz? Tem pra todos? Autoridade tem prioridade? Será rápida? Tem pra vender? O SUS vai dar conta?”. O importante aqui seria que todos estivessem imbuídos no mesmo sentimento de autoajuda e de ajuda coletiva, como bons “mosqueteiros” lutando contra um inimigo comum: a pandemia. Mas, infelizmente, não é isso o que ocorre: “Politizaram” o vírus, “judiciaram” a pandemia e executaram o bom senso. Tudo agora é “esquerda ou direita”, “negacionismo ou tratamento precoce”, “número de mortos ou de curados”, ou que “no Brasil agora só se morre de Covid”. A maior vítima da pandemia, o brasileiro, vem se tornando o maior aliado do pandemônio. Deveríamos ser um por todos e todos por um, mas parece que estamos mesmo é no cada um por si. Deus nos ajude!

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LIMINAR JUDICIAL INÉDITA NO BRASIL AUTORIZA A COMPRA DIRETA DE VACINAS CONTRA A COVID-19

Foto: Divulgação

TODDE ADVOGADOS SAI NA FRENTE E CONSEGUE GARANTIR IMUNIZAÇÃO PARA A SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA

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om tese autoral em matéria constitucional, em prol da sociedade e acolhida pelo Tribunal Regional Federal, a ação inédita teve o pedido de tutela antecipada deferida, autorizando a imediata importação de vacinas destinadas ao combate do coronavírus aprovadas perante agências sanitárias internacionais, sem a necessidade de se submeter ao processo regular de autorização e registro perante a ANVISA, permitindo que milhões de vidas sejam efetivamente salvas. A medida proporcionou uma mudanças de paradigmas jurídicos, teóricos e logísticos, como também uma mudança do pensamento social, sendo defendida por todos os grandes veículos de comunicação do país, além de ter conquistado o apoio de mais de 200 representantes de categoria econômicas e sociais, além da proteção real daqueles que estão à frente da linha produtiva e de seus familiares que, por força da natureza peculiar das atividades profissionais, estão totalmente expostos a níveis maiores de risco de contaminação pelo vírus. “Nós temos o orgulho e a honra de sermos precursores da primeira e mais importante decisão brasileira acerca do combate da Covid-19, que é viabilizar a importação, aquisição e distribuição direta para os seus membros da sociedade civil organizada, como também para os seus familiares, em combate a essa doença tão maldosa e malograda que nós estamos agora vivenciando e combatendo. Com essa decisão, não só fazemos história como também podemos dizer que finalmente temos uma ferramenta efetiva para que o empresariado e a sociedade civil organizada possam

adquirir, distribuir e, acima de tudo, salvar vidas, que é o que mais nos importa”, afirmou o João Paulo Todde, CEO da TODDE Advogados, celebrando a vitória com a sua equipe jurídica. Em sua bela decisão, o magistrado Spanholo, destacou que após um ano, desde a confirmação do primeiro caso de infecção no país, o mundo voltou a vivenciar nova onda de contaminação em massa da população. Segundo ele, a vacina veio como uma esperança renovada. “Especificamente no caso do Brasil, por mais que tenhamos um respeitado parque de desenvolvimento e de produção de tecnologias farmacêuticas, acabamos tragados por uma confusa conjuntura política nacional que desfavoreceu a adoção de medidas eficazes para o controle da disseminação do vírus”. Assim, é com grande orgulho que a TODDE Advogados, considerada uma das cinco maiores firmas de advocacia em resultados do Brasil, especializada em atuações estratégicas e de repercussão para empresas de grande porte e de capital aberto, cumpre seu papel social, mais uma vez, cravando na história contemporânea brasileira sua existência não apenas como firma de advocacia, mas como agente imprescindível na defesa da vida, da liberdade e da livre iniciativa privada, pedras fundamentais da constituição do estado de direito democrático brasileiro.

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Fotos: Vicepresidencia.gob.do

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IMPLEMENTAR INOVAÇÕES E GERAR RIQUEZAS JOÃO PAULO TODDE, PRESIDENTE DO GRUPO TODDE, LIDERA COMISSÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS FOCADAS NO DESENVOLVIMENTO BINACIONAL

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relação bilateral entre o Brasil e a República Dominicana ganha força. Uma série de acordos bilaterais está em andamento, na expectativa de beneficiar os setores produtivos dessas duas grandes nações. Quem lidera a delegação de empresas brasileiras envolvidas é o advogado e empresário João Paulo Todde, presidente do Grupo TODDE e da ban-

ca jurídica TODDE Advogados. “Estamos ávidos em construir pontes entre necessidades e soluções, bem como equalizar dificuldades e oportunidades, visando unir ainda mais as relações comerciais de investimento e inovação entre esses países coirmãos”, afirma. Todde fundou a Câmara de Comércio Binacional no Brasil, a qual passou a presidir. Co-irmã da que exis-

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te na República Dominicana, a Câmara de Comércio Brasil & República Dominicana, criada em abril, reúne, pelo menos, 200 empresários. A expectativa é que os investimentos cheguem à monta de USD 1 bilhão na nação caribenha. As negociações abrangem os setores de defesa, tratamento de resíduos sólidos, energia, imobiliário, transporte, turismo, médico-hospitalar, dentre outras três subcâmaras econômicas. O projeto principal, avaliado em cerca de UDS 300 milhões, contempla a construção de estações de tratamento de lixo, que serão estabelecidas por meio de licitação, no âmbito da nova Lei de Resíduos Sólidos aprovada no ano passado no país antilhano. Na área de defesa, as empresas brasileiras têm interesse em oferecer veículos blindados leves, drones, sistemas de cartografia para mapeamento de fronteiras aéreas, marítimas e terrestres, sistemas de reconhecimento facial, entre outros. Também está em estudo um projeto de construção de pequenas centrais hidrelétricas e outro de abertura de um centro logístico no porto de Caucedo, próximo à capital Santo Domingo, para a importação de madeira brasileira.

COMO TUDO COMEÇOU Em uma reunião informal na sede da TODDE Advogados em Brasília, João Paulo Todde foi apresentado ao deputado dominicano pelo Distrito Nacional, Orlando Jorge Villegas. O encontro foi intermediado pelo cientista político, apresentador e administrador Gylwander Peres. Todde, acompanhado do sócio e diretor jurídico, Érico Rodolfo, e da diretora de comunicação, Graciela Todde, ao debater sobre a relação entre os países, percebeu uma oportunidade para estabelecer algumas diretrizes visando o estreitamento do mercado binacional, primeiramente como forma de escape da crise brasileira e segundo como oportunidade de gerar investimentos mútuos. O deputado dominicano, retribuindo o interesse, convidou Todde para conhecer pessoalmente a Embaixadora da República Dominicana, Patrícia Villegas de Jorge, sua mãe. O encontro aconteceu na embaixada em Brasília. Em seguida, Todde e sua mulher, Maria Fernanda, realizaram um jantar em sua residência no Lago Norte para recepcionar a comitiva da embaixada. Estiveram presentes o deputado dominicano Orlando Jorge

Villegas e sua noiva, Mônica de Jorge; o conselheiro de Política Bilateral, Multilateral e Cooperação Técnica, José Loreto Julián; e as assessoras Carolina Nunez e Vanessa Florentino. Também participaram do jantar os sócios-diretores da TODDE Advogados, Érico Rodolfo e Carlos Henrique Nóra Sotomayor Teixeira, sendo este acompanhado por sua esposa Katiuscia Teixeira; a diretora Tributário Estratégico, Sofia Pelegio; a diretora de Comunicação, Graciela Todde; e o cientista político Gylwander Peres. A embaixadora retribuiu a gentileza convidando a equipe do Grupo TODDE para a festa de celebração dos 177 anos da independência da República Dominicana. O evento aconteceu em formato drive thru no

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dia 25 de fevereiro, na embaixada em Brasília. “Estamos convictos que o reforço das nossas zonas francas, o incentivo ao investimento estrangeiro, as alianças público-privadas e a promoção das exportações constituem o eixo da recuperação da economia da República Dominicana, cuja posição geográfica favorece a proximidade para os principais mercados consumidores do mundo”, discursou a embaixadora durante o evento. Demonstrando o interesse mútuo nas atividades empresariais e advocatícias do Grupo TODDE, Patrícia Villegas de Jorge, acompanhada do Ministro Conselheiro do Setor Econômico e Comercial, Marino Castillo Lacay, do conselheiro de Política Bilateral, Multilateral e Cooperação Técnica, José Loreto Julián, e de sua assessoria, visitou a belíssima sede do grupo TODDE e da TODDE Advogados, que conta com mais de 5 mil m² e adornada com centenas de obras de arte.

VIAGEM PARA SANTO DOMINGO Em março, João Paulo Todde liderou uma comitiva brasileira que realizou uma visita oficial a Santo Domingo, capital da República Dominicana, para estudar quais seriam os investimentos a serem realizados no país. O grupo foi recebido pela assessoria

da Embaixada no Salão de Autoridades do Aeroporto Internacional da capital dominicana e acomodado no complexo hoteleiro Small Luxury Hotels of The World, Casas del XVI, na Zona Colonial da cidade. Após um almoço de negócios, a comitiva brasileira realizou uma jornada de visitações e de reconhecimento dos principais poderes, órgãos e instituições públicas do Distrito de Santo Domingo. “Embora já tivesse visitado o país a lazer, estar na primeira cidade das Américas e conhecer de perto o início de toda a história americana é uma experiência necessária para todos. Visitar a primeira catedral das Américas, o primeiro forte, a primeira universidade, o primeiro palácio e assim por diante, realmente nos faz refletir. Nos faz dar um mergulho introspectivo em nossas origens, sobretudo na compreensão de vida e de relacionamento social. Observo este país tão antigo e me dou conta de que, ainda assim, as possibilidades são infinitas”, enfatizou Todde, ao lado do sócio Érico Rodolfo. O grupo, composto também pelo conselheiro político e futuro deputado federal pelo Estado do Tocantins, Gylwander Peres, iniciou sua agenda oficial visitando o Ministério da Defesa. Em seguida, a comitiva brasileira foi recepcionada pelo então presidente Don Angelo Viro e pelo vice-presidente, Don Leonel Castellanos, na Cámara de Comercio Dominico – Brazileña.

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A comitiva ainda se encontrou com oito dos maiores empresários dominicanos. Com eles, Todde debateu sobre temas como: produtos médico-hospitalares; matrizes energéticas; tratamento de resíduos sólidos; defesa civil e defesa nacional; logística; zonas francas; distritos financeiros; operações macros de pequenas usinas hidrelétricas; negócios bilaterais com rum e tabaco e cerveja artesanal DÜMF; ecoturismo e estruturação de resorts; além da possibilidade de estruturação de fundo de participação em investimento em trust fund para empresários brasileiros e dominicanos. No Palácio Nacional, a delegação foi recepcionada pela vice-presidente da República Dominicana, Raquel Peña de Antuña, e fizeram um tour nos principais salões. Também estiveram na Firma de Advocacia Jorge Mera & Villegas, onde foram entrevistados pelo editor-chefe Manuel Muniz da EFE, a maior agência de notícias do país. No Congresso Nacional de La República Dominicana, o grupo brasileiro foi recepcionado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Alfredo Pacheco. O sistema bicameral e as instalações das duas Casas Legislativas (Câmara dos Deputados e Senado Federal, assim como é no Brasil) foram apresentados, incluindo informações sobre a recente história da República e várias obras de artes que remontam a cultura e a história dominicana.

No Consejo Nacional de la Empresa Privada (CONEP) e Conselho Nacional de Indústria, a comitiva esteve tratando com o presidente e com o diretor executivo sobre indústria e comércio; área de desenvolvimento estratégico; conexão com os maiores empresários dominicanos; conexão com grandes empresários e empresas brasileiras que operam na República Dominicana; abertura de oportunidades para a Câmara de Comércio do Brasil e República Dominicana. A delegação brasileira ainda se reuniu com o ministro do Meio Ambiente, Orlando Jorge Mera; com o diretor do Centro de Inteligência Militar C5i, o contra-almirante Luis Rafael Lee Ballester; com o ministro da Indústria e Comércio; com o diretor executivo de Parcerias Público-Privadas; com o ministro do Trabalho; com o ministro de Minas e Energia; com empresários do ramo de bebida, tabaco, tecnologia, logística e construção civil; e com o advogado Ralf Patino que representa os interesses dos Estados Unidos junto à República Dominicana, em conexão com o Presidente Joe Biden dos Estados Unidos. A visita dos empresários brasileiros se estendeu à região da Bahía de las Águilas (sudoeste), onde o governo dominicano pretende promover um novo projeto de turismo sustentável, e os tradicionais polos turísticos de Punta Cana e La Romana, para estudar projetos imobiliários.

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CAPA

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CONEXÃO COM A ESPERANÇA BRASÍLIA SEMPRE SE MANIFESTOU PELA ARTE. DE TRAÇOS EM TELAS A LINHAS URBANAS. A EFERVESCÊNCIA CULTURAL ECLODIU, CONTAGIANDO ALMAS ARTÍSTICAS COM SUAS PLÁSTICAS ROBUSTAS DA CAPITAL QUE TANTO SE AMA POR MORILLO CARVALHO « FOTOS CELSO JUNIOR E LUARA BAGGI

É

bem provável que o brasiliense goste mais do aniversário de 61 anos da capital do que da data redonda do ano passado, 60. Brasília, enfim, chegou à idade do número que a representa ao telefone. Não desde sempre: o sistema de discagem direta à distância (DDD), que deu o 61 à capital, só começou a ser implantado em 1969 no Brasil. Mas é tão indissociável dos símbolos que representam a cidade quanto as pombinhas do painel da Igrejinha nos azulejos de Athos Bulcão, as obras de Oscar Niemeyer e os ipês. Símbolos, cores, luzes, números. É neste cenário idílico que ainda vivemos em 2021. E é por isso que não poderíamos deixar de estampar, na nossa capa, cores e formas de quem se esmera em presentear a cidade com arte. É gente daqui, ainda que tenha nascido em outras paragens. 100 « GPSLifetime

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Betty Bettiol está na cidade desde que tudo ainda era sonho: 1962. Veio recém-casada de São Paulo para pintar, esculpir e pilotar as asas deste avião – e aguarde, pois esta frase não é meramente metafórica. Ralfe Braga deixou seu Amapá na juventude em busca de estudar arte – e encontrou uma imensa tela em branco chamada Brasília para habitar e colorir. Paulino Aversa nasceu em Coronel Fabriciano, Minas Gerais, um mês antes da capital nascer. Acompanhou o pai na supervisão de todos os monumentos de Niemeyer. Levou para sua arte o olhar de menino que encara um céu amplo e disponível, os feixes de luz solar sendo tingidos pelos vitrais da Catedral, o vermelho do chão. Três artistas estampam nossa capa nesta edição. Três presentes para Brasília que, como num ciclo que se retroalimenta, vivem a presentear a cidade com suas obras de cores e olhares distintos. Três apaixonados por essa cidade, que presenteiam você, nosso leitor, com seus trabalhos apaixonantes. Conheça, aqui, as histórias deles. GPSLifetime « 101

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BETTY BETTIOL ALMA SEM FRONTEIRAS “O repórter pode vir aqui sem problemas. Ficamos ao ar livre e eu já tomei as duas doses da vacina há 40 dias e, de quebra, a de gripe, aquela simplesinha. Pode marcar o dia que eu espero por ele”. A mensagem de Betty para a diretora desta publicação, Paula Santana, já deixava claro quem é a artista: alguém acostumada ao contato pessoal. A casa é monumento do arquiteto Zanine Caldas. A sala de estar, envidraçada, de frente para o Lago Paranoá, é recoberta de arte. Sentamo-nos na poltrona mole de Sérgio Rodrigues. “Boa parte dos meus móveis são dele”. E seguiu: “Zanine construiu isso, começou em 1974, quando a madeira não tinha esse problema que tem hoje. Éramos muito amigos e ele dizia que essa casa era a menina dos olhos, porque eu dei carta branca. Às vezes, eu sento aqui e fico olhando pra esse teto, eu mesma... É minha casa, mas eu acho ela muito linda”, conta. Betty está prestes a completar 80 anos. Ano que vem, fará 60 como moradora de Brasília e como esposa de Luiz Carlos Bettiol, que conhecera cinco anos antes de se encontrarem e se casarem, em menos de seis meses. A família formada foi numerosa: além dos três filhos, tem três noras e oito netos. Até a pandemia, a sala de jantar era ocupada pela família, religiosamente, todas as quintas-feiras. Um pequeno pavilhão é seu ateliê. Do lado de fora da casa, um vagão de trem é destinado apenas às gravuras. No ex-quarto das ex-crianças estão as tintas, os pinceis, as telas, as esculturas e as cerâmicas que nascem de suas mãos. Inclusive a que estampa nossa capa. Que é, na verdade, imensa e ganhará uma gêmea, que está em pleno processo de criação. “É Brasília”, a artista explica. “São os tons de verde presentes na bandeira de Brasília, se encontrando e se entrelaçando, como é a vida aqui”, explica. Há, ainda, os tons amarelados – também presentes na bandeira distrital – e os azulados, que remetem ao céu da cidade.

É que, para Betty, o céu não é o limite. Depois de criar os filhos, tornar-se artista plástica e fazer sucesso, no final dos anos 80, resolveu realizar o mais ousado sonho: o de pilotar. Ela e Luiz Carlos tiraram o brevê e foram, cada um em um avião, até Goiânia, para dar início a essa nova paixão. Desde então, ganharam o Brasil. “Quase todas as obras vieram no meu aviãozinho. Não existe distância pra gente porque a distância é muito relativa”, completa. Quando se casaram, Betty e Luiz pegaram um Fusca e percorreram os Andes, de lua de mel. Quando fizeram Bodas de Ouro, refizeram o caminho, porém pelo ar. E pensar que essa história começou num dia em que ele, à época repórter da revista Visão, em São Paulo (SP), e estudante de Direito, estacionou o seu Chevrolet Bel Air na porta da jovem Betty – aos 14 anos “eu era apaixonada por carros”, diz –, e quando ela observou que o carro seria guinchado, encontrou o telefone da mãe de Luiz na lista telefônica. “Vi a carteirinha com o nome dele no carro e fui avisar”, conta. Cinco anos depois, se reencontraram. Ela estava com 19, ele com 25 anos. Menos de seis meses a filha de um artista italiano boêmio e de uma figurinista de teatro desembarcava em Brasília como esposa do jovem advogado. A vida é boa para Betty. E Betty retribui para a vida. Apaixonada por Brasília, ela abre a casa – em tempos normais, sem pandemia – para quem quiser conhecer as obras de arte: as dela ou as que coleciona, que são mais de duas mil peças. Escolas, grupos de estudantes de arquitetura e artistas são frequentadores, desde sempre, na casa que ficou pronta em 1978. Era lá onde se hospedavam Tomie Othake, Alfredo Volpi, Arcangelo Ianelle, quando vinham a Brasília. “E não existia buffet, era uma convivência simples, de todo mundo ir junto para a cozinha e fazer uma macarronada”, lembra. Se pensa em parar? A verdade é que nem tocamos neste assunto. A profusão de temas da conversa foi tamanha que não houve espaço para pensar nesse tipo de pergunta. Depois de conhecer a fachada, conversarmos na sala e visitarmos o ateliê, a prosa foi tomando o rumo de uma mesinha na área externa. Aguardavam-nos bolos feitos há pouco e cafés, para serem tomados na porcelana estampada com arte de Betty e talheres Alvorada.

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PAULINO AVERSA BRASÍLIA ESSÊNCIA

“Senta que vai demorar”. É o título de uma obra de Paulino Aversa que corresponde à expectativa de quem já usou o transporte público em Brasília: há uma parada de ônibus no formato clássico, de alvenaria, com um banco de concreto, os azulejos retangulares como os do metrô de Londres, uma espécie de janela. E uma pessoa à espera do coletivo. É cena comum, dessas que basta parar um dia no Eixão e observar os pontos de ônibus. Mas que, pelo olhar de Paulino, transformam-se em arte. Ele nasceu no mesmo ano que Brasília, 1960. Cresceu por entre os canteiros de obras e esqueletos de monumentos de Niemeyer: o pai era engenheiro da Novacap. “Eu gostava muito de desenhar, desde pequeno, o tempo todo. Eu acompanhava meu pai nas visitas às obras e ele queria que eu seguisse na carreira de engenheiro. Acabei o convencendo a fazer arquitetura, porque, como tinha muito desenho e eu não gostava de engenharia... Fiz, mais ou menos, até a metade, e na UnB o curso era parecido, no começo, com o de artes. Troquei e não falei para ninguém. Quando eu me formei que eu avisei, e aí já estava feito o estrago”, conta, aos risos. Achou essa história meio rock’n roll? Pois é, o Paulino tem mesmo essa pegada. Na vida e na arte. “Eu fui muito influenciado por um pintor norte-americano, o Edward Hopper. Ele pintava muito o espaço, e Brasília nos anos 80 era diferente de hoje, era muito vazia. Naquela época ninguém dava muita importância e eu já achava legal. Aí entrou na moda. Hoje em dia eu pinto Brasília de uma forma diferente, faço de uma visão mais macro”, revela. Fato: a tela que descrevemos no início deste texto lembra, demais, a proposta de Hopper. E essa visão ampliada sobre a cidade significa não se ater apenas aos monumentos, mas inserir o cotidiano e histórias em suas obras.

“Eu pinto quadro sobre Graminha. Graminha era um cara que, nos anos 70, era pago em Brasília para tomar bola de criança”, conta. Eram como policiais, que percorriam as superquadras com essa missão, de recolher as bolas do futebol da molecada. A prática era proibida no gramado. “Eu tô saindo um pouco desse formato tradicional de pintar Brasília, de monumento. Meu trabalho está focado nessa pegada da cidade: de trabalhar com a memória e como essa memória me influenciou”, atesta. Dentre as memórias, o rock da cidade – lembra da tal pegada rock’n roll de que falamos? Não é à toa. Amigo de Dinho Ouro Preto e de Renato Russo na juventude, integrou o grupo de intervenção urbana Raul de Athayde, junto com Sérgui Béssa e Zé Guilherme Brenner, que buscavam debater a ocupação dos espaços da cidade. Casado há mais de 30 anos com Adriana Couto, de quem era amigo de faculdade, Aversa teve um filho que seguiu o rumo da arte. Antônio, de 23 anos, nunca foi de desenhar, mas convivendo com pais artistas, aprendeu a reconhecer valor artístico, precificar e vender. É marchand e curador. O resultado de tanta inquietude se traduziu em pelo menos 30 exposições individuais até aqui. São recorrentes, em sua obra, a presença de crianças. Em Karmas Instantâneos, de 2017, ele desenhou um menino projetando a própria sombra no chão e imitando o formato das pombinhas do Athos Bulcão, no painel lateral da Igrejinha da 107 Sul. Noutro, uma criança olha para a Catedral em construção, com certo deslumbramento. E há um Fusca também. “Essa criança sou eu, na verdade. Estou vendo o espaço da cidade e tentando passar a emoção que estou sentindo para as outras pessoas verem”, diz. Conseguiu, Paulino. É lindo mesmo o seu trabalho. Olha você, aqui, na nossa capa também. Instagram: @paulinoaversaoficial

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RALFE BRAGA ARTE UNIVERSAL

As lufadas de ar quente do sábado de manhã que marcamos para estar no ateliê dele dominavam a sensação térmica do brasiliense. Mormaço de um fim de março sem águas fechando o verão, apenas calor, que dura até a entrada do sítio Dona Nelita, cravado no final de uma das ruas do Lago Oeste e tendo a Reserva Biológica da Contagem à espreita, o que torna tudo mais fresco. A manhã foi cuidadosamente escolhida pelo entrevistado, que também vive de publicidade há 40 anos e, sendo diretor de arte, sabe bem que é o horário da melhor luz para as fotos. O sítio, comprado há 25 anos, é fruto de um retorno ao Brasil, após dias em Miami e um conselho precioso: “sua arte é universal e aqui você será reconhecido, mas está disposto a esperar vinte, trinta anos? Volte ao seu País, mande suas obras para cá. Lá, você é um cidadão”. Tal conselho veio de uma microgalerista, que o olhava com brilho nos olhos e beijava sua mão. “Sabe quem é ela? Uma das maiores críticas de arte dos Estados Unidos. Nunca a vi beijar as mãos de ninguém”, alertou o funcionário do local, após a conversa. Resolveu, então, frustrar os planos de viver na Flórida ou em Nova York e voltar ao Brasil e a Brasília. Amapaense, 62 anos, está feliz. Teve cinco filhos e três casamentos. Colore a cidade há tempos, e não se cansa de gostar de Brasília. “Para mim, é uma tela em branco. É como se o movimento das pessoas colorisse essa tela todos os dias”, define. “Desenho desde a mais tenra idade, e era o tempo todo. Meus irmãos brincando, eu desenhando”, conta. Chegar à capital deu a Ralfe uma nova perspectiva sobre cores, luz, sombra, traços. E pensar que Brasília quase perdeu este nome grandioso na arte para, em seu lugar, ganhar um bancário. Ralfe passou num concurso do Banco de Brasília, ainda no início da carreira de artista, mas desistiu. O Amapá da origem de Ralfe é estado marcado por traços culturais únicos. Assim é com o marabai-

xo, ritmo criado pela população escravizada no estado, e apenas lá. Tudo isso está impresso na obra de Ralfe. “Recentemente entreguei dois painéis e uma escultura para o Mercado Central de Macapá, que viraram atrações turísticas. São painéis que homenageiam estes patrimônios do estado”, revela. A obra de Ralfe esteve bastante solicitada nos últimos anos. Pelo traçado preto e forte das linhas de parte de suas artes, aliado às cores usadas sem pudor, muita gente já o comparou com Romero Britto. “Já dei respostas pouco simpáticas, dizendo que se você compara o que eu faço com o Romero Britto, você não conhece nem minha obra nem a dele. Mas não tenho mais respondido assim, para não soar grosseiro”, diz. Há outra coisa a que Ralfe também é avesso: o circuito das galerias de arte. Acostumado a estampar suas obras em canecas, cartões postais e calendários, o artista prefere obter, dessa forma, meios para se manter com sua própria arte e fazê-la conhecida a aprisioná-la em espaços exclusivos. Também se opõe à ideia purista de que sua obra só pode ser concebida em tinta sobre tela, já que também cria ilustrações digitais, “e para cada trabalho desses eu desenvolvo um pincel digital, uso somente naquela obra e o deleto logo em seguida”, conta. E anuncia a novidade para o pós-pandemia: “levarei minhas coleções de obras para expor em escolas públicas”. Avesso a conversar sobre dramas pessoais, tão comumente explorados pela mídia e pela História quando se fala sobre artistas plásticos – e citando Frida Kahlo e Van Gogh como exemplos –, ele preferiu gastar três horas conosco conversando sobre a alegria de viver. Combinado, Ralfe: não faria mesmo o menor sentido falarmos sobre uma escala de cinzas, havendo tantas cores em você. Instagram: @galeriaralfebraga

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REFLEXO

CRIAR, UM ESCAPE COLETIVO UNIR A ARTE PELO MUNDO EM UM PROJETO SENSÍVEL QUE TEM COMO DESTINO A NOSSA TRANSFORMAÇÃO. FOI O QUE A MOSTRA MUSEU PROPÔS COM ARTISTAS E SUAS MENTES PRODUTIVAS EM PERÍODO DE PANDEMIA POR PAULA SANTANA

Confinement 19, Sazky

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Reset, Paula Costa

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uanta diversidade de pensamento e sentimento não deve ter atingido artistas durante essa transformação pela qual o mundo atravessa neste momento. Muitos sustentam que a arte tem sido a forma mais veraz de protestar. Situada no agora, tudo ganha mais sentido em mundo de polaridades ideológicas, econômicas, políticas e salutares. Deste contexto seria, portanto, natural que aparecesse uma plataforma cujo fim seria reunir de alguma forma artistas que emanassem essa vibração. Foi assim que surgiu o The Covid Art Museum (CAM) – museu digital criado no início da pandemia, na Espanha, por Emma Calvo, Irene Llorca e José Guerrer. O movimento chegou ao Brasil este ano, com iniciativa da Amarello Projetos Integrados, e une arte, música e tecnologia em diferentes formatos. O critério se fez numa seleção produzida mundo afora desde o início da pandemia, com apresentação no projeto Mostra Museu: Arte na Quarentena. Com curadoria de Ana Carolina Ralston e co-curadoria do próprio CAM, cerca de duzentos artistas pertencentes ao acervo espanhol e outros inscritos no Brasil mostram esculturas, fotografias, grafites, gravuras, pinturas, poesias visuais, videoarte, colagens, instalações e performances.

atacama, Antonio Bokel

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Summer 2020, Hugh Kretschmer

Yes we do feel a bit caged, Irina Werning

Eles são de países como Alemanha, Brasil, Cuba, Emirados Árabes, Filipinas, Itália, Índia, Líbano, Paquistão, Ucrânia. “A partir da eletrizante onda criativa que turbinou a Internet neste período, viu-se o total brilho da mente humana. Aqueles que se consideravam ou não artistas, criaram. E um pouco do que vimos nascer em um ano tão fatal reuniu-se e, agora, mostra seu rosto em um projeto híbrido, que mistura tecnologia, presença e, claro, arte”, reflete Ana Carolina Ralston. “E 2021 começa unindo a arte pelo mundo em um projeto sensível que costura essa sinuosa trama que tem como ponto de partida a nossa transformação”, completa. As obras serão exibidas não apenas na plataforma, como também em mobiliários urbanos de São Paulo, formando uma exposição a céu aberto. O eixo de música curado por Pedro Henrique França lança luz na produção musical brasileira e apresenta obras realizadas desde o início da pandemia. Artistas terão suas criações em uma coletânea sonora da Mostra Museu, disponível na plataforma e via QR Code junto às obras expostas em espaço público. @mostramuseu www.mostramuseu.com

Frame de Oxigênio, Lillian Hastings e Maurizio Mancioli

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22.944 dias

ENTRE O SONHO E A REALIDADE

Lá se vão 22.944 dias desde aquela manhã de 1957, quando os primeiros tratores começaram a cavar o cerrado. Uma bela história de determinação e coragem que fizeram de Brasília um marco na vida do Brasil moderno. História que celebra a capacidade realizadora dos brasileiros e inspira a PaulOOctavio há 46 anos. Neste aniversário de Brasília, nosso presente são as obras que construímos. Realizações que muito nos orgulham. Afinal, por trás de cada edifício existe trabalho, emprego e renda para milhares de profissionais. Homens e mulheres, dos mais diversos setores produtivos, que, com talento e determinação, continuam a realizar o sonho de JK e seus companheiros: acolher e abrir oportunidades para os brasileiros.

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IMPRESSÃO

ABAIXO A HOMOGENEIZAÇÃO A ESCANDALOSA DIVERSIDADE DA ARTE CONTEMPORÂNEA DA AMÉRICA LATINA GANHA ROBUSTEZ NO LIVRO QUE ELENCA OS VINTE ARTISTAS DA DÉCADA NUM CENÁRIO ONDE ESTEREOTIPIA NÃO FAZ PARTE DA POÉTICA POR PAULA SANTANA

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uem são os artistas que irão definir o horizonte artístico e cultural nesta década tumultuada que se inicia? A dupla Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes, fundadores da Art Consulting Tool, aprofundou-se numa ampla pesquisa curatorial cujo resultado pode ser apreciado na publicação inédita 20 em 2020, Os artistas da próxima década: América Latina. O livro destaca a obra de vinte artistas latino-americanos e, mais além, de artistas que se relacionam com o continente por meio de suas pesquisas. A questão fundamental recaiu menos sobre os artistas e mais sobre a pergunta “O que é a América Latina?”, e se haveria nela uma unidade estética e cultural. “Qual recorte mais adequado para entender este vasto continente? (...) Será que podemos falar de uma voz artística da América Latina?”, indaga Fernando Ticoulat no texto de apresentação. “Longe de querer interpretar o outro, este livro procura sustentar dissidências, realçar a periferia e sugerir imaginários variáveis. (...)

Red Chain, Johanna Unzueta (2014)

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Apparitions, Carolina Caycedo (2018)

Aguas Calientes (La Comunidad), Gabriel Chaile (2019) Peaceful Warrior, Tabita Rezaire (2015)

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Dalton Paula

Yuli Yamagata Abstracción Geométrico-Galáctica, Ad Minoliti (2019)

OS VINTE ARTISTAS

Cybertruck, Frieda Toranzo Jaeger (2020)

Ad Minoliti (Buenos Aires, Argentina) | Adriano Amaral (Ribeirão Preto, Brasil) | Alia Farid (Kuwait, Kuwait) | Carolina Caycedo (Londres, Reino Unido) | Dalton Paula (Goiânia, Brasil) | Frieda Toranzo Jaeger (Cidade do México, México) | Gabriel Chaile (Tucumán, Argentina) | Gala Porras-Kim (Bogotá, Colômbia) | Iván Argote (Bogotá, Colômbia) | Jill Mulleady (Montevideo, Uruguai) | Johanna Unzueta (Santiago, Chile) | Jota Mombaça (Natal, Brasil) | Katherinne Fiedler (Lima, Peru) | Naufus RamírezFigueiroa (Cidade da Guatemala, Guatemala) | Pia Camil (Cidade do México, México) | Reynier Leyva Novo (Havana, Cuba) | Sheroanawe Hakihiiwe (Sheroana, Venezuela) | Tabita Rezaire (Paris, França) | Tania Pérez Córdova (Cidade do México, México) | Yuli Yamagata (São Paulo, Brasil)

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Adriano Amaral

FF_2017_ThisMortalCoil_56, Jill Mulleady

Así Desaparecemos, Jota Mombaça (2019)

O que fica claro a partir de nossa pesquisa é a resistência oferecida pelos artistas latino-americanos, cada um com suas poéticas e sensibilidades, sem panfletagem. Resistência contra a homogeneização e comodificação de nossas almas, ritos e mitos. Resistência ao enquadramento raso de clichês antigos, contra qualquer estereotipização”, afirma. O livro traz ainda análises de 14 críticos e curadores de diversas nacionalidades, entre os quais o cubano Gerardo Mosquera – que assina o texto introdutório –, as brasileiras Diane Lima, Júlia Rebouças e Kiki Mazzucchelli, o mexicano José Esparza Chong Cuy e o peruano Miguel A. López. “Os 20 artistas emergentes, cuidadosamente selecionados, proclamam a diversidade da arte contemporânea da América Latina e rechaçam qualquer tipo de exercício totalizante. (...) Os artistas aqui apresentados nos dão um panorama abrangente de tendências, poéticas, lugares, dinâmicas, risos, obsessões, sensibilidades, ações, reações, desprendimentos, ataques… Enfim, de todo o caleidoscópio da arte que consideramos latino-americana devido ao seu âmbito geográfico ou por afinidades históricas, culturais e linguísticas compartilhadas”, reflete Gerardo Mosquera.

Bota Suja, Yuli Yamagata (2020)

Rita Cebola, Dalton Paula (2020)

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TRAMAS

LINHAS FRATURADAS Pedra (2021)

DOMINADA PELO TEMPO E PELO ESPAÇO, A ARTISTA BAIANA MIRELA CABRAL SE DESPRENDE DAS TELAS E SUBMERGE NA OBRA SINGULAR DOS BORDADOS DESCONTINUADOS POR PAULA SANTANA

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spaços vazios de uma casa, cantos com vasos de plantas, nichos desocupados e a natureza reduzida ao jardim, com muito mato e um lago quase seco – o cenário cotidiano durante o isolamento social e sua incessante funcionalidade quase secreta explodem em obras que compõem O Rebento, exposição inédita de Mirela Cabral, em cartaz no site da Galeria Kogan Amaro. Ao longo de oito meses de 2020, Mirela Cabral morou no interior de São Paulo. Acompanhada de sua pequena família, aplicou-se a leituras extensas, estudou catálogos, praticou rituais diários e passou a observar a casa que habitava, constatando que tudo ao seu redor, como plantas, insetos e fungos, está prestes a rebentar ou em movimento. Esta consciência a levou a trabalhar durante madrugadas em desenhos, pinturas e bordados expressivos. “O que importa são as linhas, a exuberância do grafismo, o modo peculiar como a artista plasma e pensa sua expressão. Esvisceradas as formas, dilacerados os contornos, as linhas, por elas, assumiram a preponderância do processo. Não lhes cabia mais representar nada, passaram a ter vida própria”, pontua o curador Agnaldo Farias sobre a baiana também comunicóloga e cineasta. A curiosidade em vivenciar outra prática artística, com um tempo mais lento, distinto da alta velocidade das telas, levou-a até o bordado, experimentando engrossamentos de linhas, mudanças súbitas de cor, planos texturizados e formas sutis. “Eu sempre achei meus desenhos explosivos e queria entender se eram

Bambu Lírio IV (2021)

Aquática I (2021)

mesmo ou não. Assim, eu comecei a perceber o tempo das coisas, a existência da desaceleração. Foi uma espécie de pesquisa rítmica do meu próprio corpo em ação com a matéria”, esclarece Mirela. As obras permitem entrever-se uma figura, uma planta, um objeto ou uma paisagem. No entanto, a forte característica de irromper o que é referente, prezar pela descontinuidade de composições e de faturas coerentes, por meio de linhas interrompidas, entrecortadas e fraturadas, tornam suas obras singulares e aproximam o espectador do que há de selvagem em si.

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AMBIENTE

LEMBRANÇAS EMOLDURADAS

Fotos: Luara Baggi

UM NOVO COMPORTAMENTO SE FORMA QUANDO UM ÚNICO ESPAÇO GANHA FUNÇÕES E AMBIENTAÇÕES DISTINTAS. ESSA É A NOVA REALIDADE. ASSIM, CRIAR PAREDES QUE SEJAM FAMILIARES FAZ COM QUE MEMÓRIAS E SENSAÇÕES BOAS SE TORNEM PRESENCIAIS POR NATHÁLIA BORGO

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possível enquadrar a memória? E emoldurar as lembranças? Talvez redimensionar os sonhos? Enquanto o mundo não se ajeita, as novas maneiras de viver ganham formatos definidos. Em casa, passar o tempo livre quiçá seja, literalmente, ficar olhando para as paredes. Já foi uma maneira pejorativa de exemplificar o tédio, mas, atualmente, há de ser um bom motivo... especialmente se nestas paredes houver belos quadros. Estar em casa tornou-se um programa. Em um ambiente, o escritório. No outro, a área de lazer. Tudo junto, misturado e harmonizado. Como definir a funcionalidade de cada espaço dentro do mesmo espaço... decorando-o. “Quando menos a pessoa percebe, já mudou os móveis de lugar, fez uma pintura nova e redecorou os ambientes. E com a sua própria identidade”, comenta Higino França, fundador da Casa da Moldura. Super bem relacionado com sua clientela, o que é fundamental para que ele crie novos projetos, Higino diz que a pandemia trouxe a vontade de as pessoas serem também um pouquinho decoradoras, pintoras, fotógrafas. Por que não? “É uma mudança perceptível de comportamento”. Nesse contexto identificado no salão de vendas, Higino tem sugerido que sejam transformadas em arte tudo o que é familiar, que se remeta ao aconchego, que traga recordações positivas. “Costumo dizer que a decoração segue a tendência de conviver com a vivência”, analisa. “O décor personalizado não é emoldurada apenas com imagens da pessoa. Vai além... uma praia onde se passou mo-

mentos inesquecíveis, por exemplo. O que importa é saber que cada vez que olhar para a parede e visualizar o quadro, tudo de bom será revivido”. Higino conta que a procura aumentou ainda mais durante a pandemia. Ele remete essa performance não somente ao fato decorativo do lar, mas à saudade que o isolamento gera nas famílias e entre amigos. Daí vem a vontade de deixar à mostra um pouquinho da história de cada um. Um novo comportamento que parece estar se tornando característica dessa fase de isolamento. Indo aos fatos, o processo é moderno. O foco na Casa da Moldura não é somente o papel. Há o método canvas, por exemplo. Uma impressão mais nítida em tecido. Um estilo parecido com tela de pintura. No formato contemporâneo, as imagens podem ser avivadas em vidro. A impressão ganha ainda mais realce nas cores e lembram as imagens em 3D. No metacrilato, a figura escolhida ganha impressão entre duas lâminas de acrílico, o que dá uma espécie de vida própria à montagem quando há luminosidade especial. No empreendimento de Higino, tudo é talhado à mão. E mesmo com atendimento digital, há um extenso banco de imagens que podem inspirar os neoartistas, sejam eles decoradores ou fotógrafos. E em seu charme peculiar, Higino lembra: “O que precisa ganhar destaque é a eternização da lembrança”. @casadamoldura www.casadamoldura.com.br

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ARTE POR MAURÍCIO LIMA

mauricio@galeriaclima.com.br

O artista Eduardo Sued está com 95 anos e tem uma carreira muito importante, foi representante do Brasil na Bienal de Veneza em 1984. Considerado por muitos como o segundo maior colorista brasileiro, ficando atrás do Volpi. Sua obra pode ter uma valorização parecida com a do Amilcar de Castro e Burle Marx.

MONTANDO UMA CARTEIRA DE INVESTIMENTO EM ARTE

U

ma das palavras mais usadas pelos consultores em investimentos é a diversificação. Para se montar uma boa carteira, que lhe traga segurança, é importante variar e para isso pode-se escolher ações, fundos, renda fixa, dólar, imóveis, ouro, criptomoedas, arte e muitas outras formas, para que se um entrar em baixa, as outras garantam estabilidade para a pessoa. Nos grandes centros do mundo, como Nova York, Londres, Paris, Hong Kong e São Paulo, a arte já compõe a carteira dos grandes e médios investidores. Comprar arte como forma de investimento é algo feito há centenas de anos, uma prática antiga, mas que

ainda gera muitas dúvidas e que muitos não sabem como dar o primeiro passo nessa direção. Muitos veem arte como uma simples peça de decoração para casa ou trabalho, mas uma boa obra é muito mais. Diferente de outros tipos de investimento, a arte tem alguns benefícios únicos. Quando se compra uma ação na bolsa de valores, o que a pessoa tem é apenas um registro digital, o mesmo ocorre com outros tipos de investimento. Com arte passa-se a ter um objeto que deixará uma casa culturalmente rica, mais bonita, mais agradável e interessante. Arte demonstra e agrega cultura, estimula o estudo e o conhecimento e é por isso que cada dia mais e mais pessoas colecionam.

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Para fazer um bom investimento é importante acompanhar a carreira do artista, ganhar mercado internacional é muito importante para valorização da obra. Na foto acima exposição do artista Sergio Lucena que começou em março na famosa galeria Mariane Ibrahim em Chicago.

Entretanto, além desse lado maravilhoso, arte pode ser vista como investimento. É possível se ganhar dinheiro investindo em arte e para isso ocorrer, como no mercado de ações na bolsa de valores, é preciso escolher a obra correta, que tenha chance de se valorizar. Essa é uma análise complexa e ter um Marchand de confiança lhe ajudará muito a escolher artistas e obras com maiores potenciais de valorização. Para quem já tem um conhecimento do mercado de arte e deseja montar sua carteira de investimento em arte sozinho é importante ter em mente alguns aspectos. Quanto mais consagrado for o artista, mais cara será sua obra, porém o fato de já se ter uma carreira bem desenvolvida, com exposições em bons museus, com suas obras participando de boas coleções privadas e institucionais, trazem mais estabilidade ao investimento, menos risco, mas é necessário um aporte maior. Já os artistas jovens estão começando suas carreiras e, em muitos casos, ainda estão fazendo pesquisas em busca de um caminho para desenvolver suas obras. Seus currículos apresentam poucas exposições e participam de poucas coleções importantes. Com isso, o preço de sua obra é menor e mais acessível, mas pensando exclusivamente em investimento, há um risco maior, pois não é possível saber se a linha de pesquisa do artista o levará a um caminho de reconhecimento. Essa análise é muito importante, pois, se o artista for jovem, sem um bom currículo e o preço de sua obra já for alto, isso pode trazer um maior risco ao investimento. Há artistas jovens com bons currículos e consequentemente com preços altos, então não é uma

regra que todo artista jovem deve ter preços mais baixos. O importante é analisar a carreira. O investimento em arte deve ser encarado como um investimento de longo prazo. É possível ter valorização em curto prazo, mas o mais comum é que essa valorização venha com tempo, aumento da importância do artista e abrangência do mercado. O artista pode ser muito conhecido em sua cidade, mas desconhecido no resto do país, nesse caso a sua valorização fica limitada. Quanto maior o alcance de outros mercados a obra tiver, melhor, principalmente quando o artista participa do mercado internacional. Nesses casos, o investimento ganha uma nova barreira de proteção, pois, se houver uma crise no país, é possível vender o trabalho no mercado internacional. É importante saber que investimento em arte, como em imóveis, tem baixa liquidez. Isso ocorre principalmente com obras de artistas menos conhecidos. Os artistas mais importantes têm uma venda mais fácil no mercado. Outra forma de melhorar a liquidez é comprar obras mais importantes e bonitas. Ter um bom quadro ajuda muito na hora da venda e todos os artistas têm obras melhores e piores, todos os artistas passam por fases mais importantes e outras menos. Após algum tempo com a obra, havendo uma valorização no mercado, a pessoa pode desejar vender sua obra e apurar seu lucro. As negociações com obra de arte também estão sujeitas à cobrança de 15% de Imposto de Renda sobre o ganho de capital, se uma obra foi comprada por 100 e vendida por 150, houve um ganho de 50 e sobre esse valor incide o imposto de 15%. Como todos os objetos que agregam valor (relógios, joias, bolsas etc.), no mundo da arte há falsificações e elas não são raras, pelo contrário. Esse é o fator que pode zerar o seu investimento, por isso é importante encontrar um Marchand de confiança e, além disso, sempre conferir as informações da obra. Se o artista estiver vivo, tente entrar em contato com ele ou com a galeria que o representa oficialmente para ver se a obra que você está comprando é verdadeira. O certificado também precisa ser conferido. Mesmo que a obra que você esteja negociando tiver um certificado de autenticidade, é importante você entrar em contato com os representantes do artista. A última dica é que por ser um investimento de longo prazo, escolha um artista/obra que você goste, pois ela provavelmente ficará na sua sala e você conviverá com ela por algum tempo, e isso em si já pode ser o maior ganho desse investimento. GPSLifetime « 119

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REALIDADE

A POESIA

Rodrigo Abd

Victor Moriyama

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DO

Rafael Vilela

Rafael Vilela

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Ana Carolina Fernandes

COLETIVO DE FOTÓGRAFOS LATINO-AMERICANOS LEVA O MAIOR PRÊMIO MUNDIAL DO SEGMENTO, REGISTRANDO A FACTUALIDADE DA DOR, DA SOBREVIVÊNCIA E DA MORTE NA PANDEMIA POR LETÍCIA COTTA

Pablo Piovano

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Tamara Merin

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morte nos traz tantos questionamentos. Para onde vamos. Direto para o céu, uma pausa no purgatório... Os que ficam pela Terra, no entanto, de alguma forma entendem que manter alguém vivo é honrar suas memórias. Muitos foram os que perderam alguém querido para a Covid-19. A pandemia já integra uma página nebulosa da história da humanidade. E, pela primeira vez, o século XXI, que mal começou, tem uma praga, que carrega mortes e dor para seu currículo. Há, no entanto, aqueles que conseguem extrair poesia do caos. Foi com essa proposta que um grupo de fotógrafos latino-americanos, pertencentes ao coletivo Covid Latam, decidiu tomar uma atitude diante do vírus: registrando-o, para que jamais nos esqueçamos deste momento. Eles publicaram, em um perfil no Instagram, o cotidiano de países da América Latina afetados pela doença. Desde março de 2020, as fotografias realizadas em 14 países (Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Costa Rica, Guatemala, El Salvador, Cuba e México) ganharam as redes sociais. E os cliques foram além da internet. O projeto abocanhou o Prêmio World Press Photo e, consequentemente, tornou-se um denso livro batizado de Red Flag, publicado e comercializado pela Foto Evidence, uma associação francesa que contribui e atua no apoio contra injustiças vividas no mundo. Um belo

reconhecimento, uma vez que o World Press Photo é uma organização independente e sem fins lucrativos, fundada em Amsterdã, Holanda, em 1955, e reconhecida por ter a maior e mais prestigiada premiação de fotojornalismo. Anualmente, o material eleito é publicado em seis idiomas. “Não foi um livro planejado, foi a consequência de um trabalho feito com muita dificuldade, num período de pandemia. A situação mais marcante que passei foi fotografar os coveiros da Vila Formosa, em São Paulo, o maior cemitério da América Latina, onde muitas pessoas vítimas de Covid foram enterradas. Normalmente em crises e conflitos existe uma distância da história fotografada, mas ali não. Fotografei uma família que perdeu um ente querido e, na semana seguinte, poderia ser alguém da minha própria família”, afirmou o brasileiro Rafael Vilela à revista. Além de Vilela, o projeto conta com o olhar meticuloso dos profissionais Rodrigo Abd, Johis Alarcón, Sara Aliaga, Eliana Aponte, Matilde Campodónico, Alejandro Cegarra, Federico Ríos Escobar, Ana Carolina Fernandes, Fabiola Ferrero, Andrea Hernández, Tamara Merino, Sebastian Gil Miranda, Pablo Piovano, Fred Ramos, Iván Valencia, Daniele Volpe e Glorianna Ximendaz. Red Flag, por Covid Latam @covidlatam www.fotoevidence.com

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DESTINO

CHAPADA DOS VEADEIROS

Foto: Fabio Knoll

A ESSÊNCIA SEM INTERFERÊNCIA

MILENARES NASCENTES ROCHOSAS DE ÁGUAS LÍMPIDAS. REGIÃO COM A MAIOR LUMINOSIDADE VISTA DA ÓRBITA DA TERRA. PORTAIS PARA UMA NOVA ERA. PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE. E FICA APENAS A 230 KM DE BRASÍLIA POR GIOVANNA PEREIRA

N

a literatura, a obra escrita por Lewis Carroll, em 1865, conta a jornada ilusória de Alice ao entrar no País das Maravilhas por um portal mágico. A expectativa da personagem era trocar o tédio por surpresas, mesmo que todas as razões fossem desafiadas. A história nonsense jamais fez sentido algum no mundo real, salvo conceitos filosóficos interpretados por estudiosos. Entretanto, reconfigurando a dialética para o contexto místico, há quem aposte que... sim, existem portais que nos transportam para um mundo novo. Mas não... não podemos comprovar. Apenas vivenciar. E

essa possibilidade de coexistir numa dimensão existencial é um dos atrativos que move legiões até a Chapada dos Veadeiros desde 1970, tão logo garimpeiros abandonaram a região localizada no estado de Goiás, a 230 quilômetros de Brasília. Além da mística que envolve o local, trata-se também de um dos pontos mais exuberantes do bioma Cerrado. A reflexão que nos induz a um novo universo nos movendo para buscas veio com os hippies que habitaram as terras atraídos pela energia do imenso cristal abaixo do solo. Minério este que faz com que região seja o ponto de maior luminosidade visto da órbita da Terra, segundo estudo da NASA. Também despertou imensa curiosidade a descoberta de que a Chapada encontra-se no Paralelo 14, o mesmo que corta Machu Picchu, no Peru, santuário inca. Tal perspectiva geográfica indicaria a presença de um portal ligando ambos territórios, o que obviamente faria do local um espaço dotado de situações sobrenaturais. E na comunhão de esoterismo e ecologia, em 1990, começou o êxodo urbano de artistas, ecoturistas, músicos, yogues, astrólogos, terapeutas, agricultores, filóso-

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Foto: Fabio Knoll

Vale da Lua, um dos lugares mais visitados na região

fos, além de profissionais de mercado, vivendo em ritmo acelerado na cidade grande, que foram em busca de reconfigurar a vida de modo simples e essencial. Pessoas do mundo, do Brasil e especialmente de Brasília. E ao chegarem, antes de adentrarem no novo mundo, todos passam por portais bem especiais: um que se remete a uma nave espacial. E outro com grandiosos cristais em sua parte superior. A partir daí, a Chapada oferece três cidades de apoio, compondo seis municípios. Alto Paraíso de Goiás responde por 60% da região. Vila de São Jorge e Cavalcante ficam com os 40% restantes. Estudiosos associam a cidade de Alto Paraíso, especialmente, a um novo centro espiritual do mundo, onde o início de uma era despertará a nova humanidade ainda por se consolidar. Isso a torna um dos redutos espirituais mais emblemáticos do mundo. Haja vista o fato de a chapada estar no ponto mais alto do Planalto Central, cerca de 1,7 mil metros acima do nível do mar, bem no meio do continente sul-americano, o que leva a crer que o local resistiria incólume à qualquer catástrofe.

PARQUE NACIONAL Criado em 1961, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros está localizado no nordeste do Estado de Goiás e ocupa uma área de proteção 240.611ha de Cerrado, abrigando espécies e formações vegetais únicas, cente-

nas de nascentes e cursos d’água, rochas com mais de um bilhão de anos – segundo dados da prefeitura de Alto Paraíso –, além de paisagens de inigualável beleza que se alteram ao longo do ano. Em 2001, foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO e, além da conservação, prioriza a pesquisa científica, a educação ambiental e a visitação pública.

PARA LAVAR A ALMA As cachoeiras da Chapada dos Veadeiros são os grandes atrativos da região. Há mais de 300 catalogadas e, em toda a região, são cerca de 70 abertas para visitação. Visitar todas em uma mesma viagem é tarefa impossível. Para aqueles que querem conhecer a fundo a grandiosidade, a dica é contratar um profissional nativo, afinal, algumas trilhas são perigosas – a GPS conversou com o guia turístico Marcelo Galli Sampaio, que deu dicas sobre os principais passeios e a melhor época do ano para conhecê-los.

AS ESTAÇÕES A Chapada dos Veadeiros pode ser visitada o ano inteiro, mas é importante dizer que a região tem duas temporadas bem definidas. Entre os meses de maio e setembro, o clima é seco com ausência quase total de

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PASSEIOS IMPERDÍVEIS Em cada uma das três cidades principais, encontra-se o que fazer. Nos arredores da Vila de São Jorge há o Parque Nacional, que é riquíssimo. Por lá, a Trilha dos Santos; a Trilha dos Cânions com passagem pelos Cânions e Cachoeira da Carioca; a Travessia das Sete Quedas, que é lindíssima, com pernoite em camping dentro do parque; e também a Trilha Carrossel, que leva a diversos mirantes. A partir de São Jorge é fácil chegar ao Vale da Lua, conhecer as Cachoeiras Almécegas I e II, a Cachoeira São Bento, a Cachoeira Raizama e a Cachoeira Morada do Sol. Para relaxar, vale ainda um bom banho nos parques de águas termais ou um percurso mais animado de boia-cross no Vale Dourado.

Foto: Fabio Knoll

Foto: Bruno Cavalcanti Foto: Luara Baggi

chuvas. Os dias são quentes e ensolarados e as noites costumam ser bem frescas. Maio e junho são perfeitos, pois a Chapada não terá tantos turistas, a vegetação ainda apresentará tons de verde, as cachoeiras estarão com muita água e o céu estará limpo para apreciar as estrelas. É, sem dúvida, a melhor época. Já nos meses de outubro a abril as chuvas tomam conta da região. Época das temidas trombas d’água.

Bem próxima de São Jorge está Alto Paraíso, que divide com a vila muitas das atrações. A partir de Alto Paraíso, vale visitar a Catarata dos Couros, um passeio grandioso. Também percorrer a trilha com diversas quedas na Cachoeira dos Cristais, os poços de águas transparentes da Cachoeira Loquinhas e dar um mergulho na Cachoeira Poço Encantado. As três são boas pedidas para quem procura acesso fácil e infraestrutura para passar o dia. Já quem busca aventura certamente irá gostar da Cachoeira Macaquinhos, Cachoeiras Anjos e Arcanjos e da trilha Sertão Zen – ideal para quem quer ir mais a fundo nos encantos da região. Em direção a Cavalcante mais algumas: a lindíssima Santa Bárbara, Candaru e Capivara, todas com acesso pela comunidade Kalunga – uma tribo que remonta aos tempos da escravidão, uma vez que sua formação atual é resultado das miscigenações entre povos africanos com índios, posseiros e fazendeiros brancos. A tribo de Cavalcante é a maior comunidade de remanescentes de quilombolas de todo o País e agrega à Chapada ainda mais história e cultura. Continuando, é por lá também as cachoeiras do Complexo do Prata, com saltos ótimos e uma vista fenomenal.

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Foto: Bruno Cavalcanti

O tradicional disco voador é o portal de entrada da Chapada dos Veadeiros

SANTA BÁRBARA

VALE DA LUA

A menina dos olhos. Queridinha entre os turistas, a Cachoeira Santa Bárbara já se tornou uma das principais atrações da Chapada dos Veadeiros. A água, com intensos tons de azul claro, hipnotiza. A cachoeira não muito alta, 30 metros, forma um poço que cerca a queda d’água com uma beleza de apaixonar. Em dias de água perfeita, a transparência do poço atrai amantes do mergulho e, claro, fotógrafos. Chegar à Cachoeira Santa Bárbara não está entre as tarefas mais fáceis da Chapada dos Veadeiros.

Já imaginou como seria pisar na lua? Um dos passeios favoritos dos visitantes é o Vale da Lua. Difícil não se encantar com as pedras lapidadas pela água do Rio São Miguel, que desce desenhando formas inusitadas. Com grande sequência de corredeiras e caldeirões. De fácil acesso é perfeito para relaxar. Já na temporada de chuvas, o Vale se torna uma opção arriscada para ban os e o espa o fica com di ersos pontos inacessíveis ao turismo.

Localizada a 120 km de Alto Paraíso, na cidade de Cavalcante. Trilha de nível fácil, com 1,5 km de caminhada leve, por trecho. É possível um transfer que faz a parte do trajeto por R$ 20, ida e volta. É obrigatório guia.

CATARATA DO RIO DOS COUROS Localizada a 53 km de Alto Paraíso, a Catarata dos Couros é indicada para quem deseja fugir do movimento das atrações mais populares. O complexo de cachoeiras e poços conta com diversos pontos para banho e paisagens com olhares repletos de gratidão. Com trilha nível fácil e pontos de parada para visitação, é o tipo de roteiro que agrada a quem busca passeios que tomam um dia inteiro. Durante o trajeto, as principais atrações são a Cachoeira da Muralha e a ac oeira lm ce as o final ma ista exuberante no mirante para o vale formado pelo Rio dos Couros. Acesso a 53 km de Alto Paraíso (18 km de asfalto e 35 km de terra). Trilha de nível fácil 6 km (ida e volta). Não é obrigatório guia.

Acesso a 9 km de São Jorge. Trilha de nível fácil, com apenas 1,2 km de caminhada (ida). Não é obrigatório guia.

JARDIM DE MAYTREA E MORRO DA BALEIA A paisagem que cerca a Chapada dos Veadeiros pode ser bem resumida na beleza do Jardim de Maytrea. Localizado às margens da estrada, esse campo aberto do Cerrado é permeado de buritis, chuveirinhos e montanhas grandiosas que dão o tom da diversidade do bioma. O spot per eito para apro eitar o final de tarde e se maravilhar com o pôr do sol. Dalí é possível observar a forma do Morro da Baleia, o cartão-postal da região, o imponente Morrão e a estrada que parece levar direto para dentro do entardecer. Não deixe de apreciar os raios de sol que passam entre as delicadas ores nos campos de c eirin o d rante a golden hour e se o tempo permitir fi e at o anoitecer quando a Via Láctea aparece imponente em meio à escuridão da área preservada. *As informações podem variar devido à pandemia.

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REFÚGIO

OM SHANTI OM SHANTI OM SHANTI O MANTRA HINDU QUE INVOCA A PAZ INTERIOR É O NOME DE UMA FAZENDA IMERSA NO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DOS VEADEIROS. ASSINADA POR ALEX HANAZAKI, A PROPRIEDADE PARTICULAR É COBIÇADA POR VISITANTES DE TODO O PAÍS POR PAULA

Fotos: Fabio Knoll

SANTANA « FOTOS FABIO KNOLL

N

a extensão do Parque Nacional, em meio a uma densa mata ciliar à beira do Rio São Miguel, envolto por longilíneas rochas minerais, encontra-se uma residência de nome Shanti. Fazenda Shanti. Ali, há cinco anos vive uma brasiliense que transformou o local num dos spots mais charmosos do Brasil. Ana Paula Gonçalves, ex-empresária de moda, trocou as roupas grifadas por moletons confortáveis. As bolsas importadas por mochilas. O circuito europeu de desfiles pelas trilhas nas cachoeiras. 128 « GPSLifetime

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Envolveu-se com a comunidade local, aprendeu a curar-se com plantas cedidas pela natureza, entendeu o nascer e morrer de cada flor, estudou sobre bacias e reflorestamento e atualmente dedica-se a cuidar da biodiversidade do Cerrado e da fazenda, que se tornou também um abrigo de refugiados das grandes capitais, que lá desembarcam para beber desta inesgotável fonte reparadora de energia vital. E assim vive Ana Paula, recebendo familiares e amigos a cada fim de semana. O telefone não para. Todos querem conhecer, apreciar, viver a experiência da tão afamada Shanti. Mais ainda quando ela conta que a propriedade fica a um quilômetro do Vale da Lua. Shanti vem do hinduísmo. É um termo sânscrito que significa paz. Como um mantra a ser repetido várias vezes ao dia. Om shanti om shanti om shanti... Tudo começou pelo jardim. A mata fechada abrigava um pequeno bangalô. Era preciso iniciar por algum lugar. Ana Paula optou pelo jardim. Ela sentia falta de cores que se harmonizassem com o verde. Chamou o nobre paisagista, Alex Hanazaki, um dos discípulos de Roberto Burle Marx e também o único brasileiro a levar a premiação da American Society of Landscape Architecture, a mais respeitada associação de arquitetura paisagística mundial. Encantado, ele também quis fazer o projeto da fazenda. Com carta branca dada pela proprietária, ele transformou o local num refúgio indescritível. Além dos bangalôs, criou a piscina integrada ao verde, um foyer para descanso e refeições e uma oca com fogueira para momentos de contemplação com pintura assinada pela tribo Yawalapiti, vinda especialmente do Alto Xingu para a missão. A ambientação ficou por conta da moradora. Com sua expertise de montar as inúmeras casas e apartamentos que teve vida afora, Ana Paula deu seu toque pessoal. Levou mobiliário de sua antiga loja, encomendou tecidos de artesãos de Trancoso, transportou objetos de sua casa em Brasília, investiu no artesanato local. A Shanti é desejo de quem busca conforto, luxo cool e proximidade com a exuberância natural da floresta. Sabendo que não será surpresa se um animal selvagem, quiçá uma onça bebê, atravessar o caminho durante um banho de rio ou uma trilha pelas redondezas. GPSLifetime « 129

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EXPLORA POR MARCELLA OLIVEIRA @marcella_oliveira

RECANTOS COM ENCANTOS m le ado e os tempos desafiadores nos deixou foi a possibilidade de dar aquela escapadinha da capital de carro por alguns poucos dias. Desconectar. Estar em meio à natureza. E se puder conciliar o scape com a renovação da alma, melhor ainda. A Chapada dos Veadeiros é o refúgio aqui pertinho e queridinho do brasiliense – com hospedagens e restaurantes que seguem todos os protocolos de segurança que o momento exige. Sinta a energia!

SOFISTICAÇÃO E REFINAMENTO A Pousada Inácia é diferente de tudo o que se está acostumado a ver na Chapada. Com uma localização ora do b rb rin o m con ite a c e ar e ficar o precisa sair de lá para nada. São apenas dez quartos com conceito de antiquário, decorados a partir da compra de itens em lojas de antiguidades, e repletos de obras de arte. “A ideia inicial era fazer uma casa para passar o fim de semana mas depois trans ormamos o espaço em pousada. Cada quarto tem uma decoração

e a ideia é que a pessoa se sinta em casa”, contou Gabriela Alcoforado, que comanda o local ao lado do marido, Luis Carlos. Ao acordar e abrir a janela, você se depara com o Morro da Baleia – uma das vistas mais bonitas da Chapada. Trilhas particulares e banhos de cachoeira fazem parte da experiência. Espaços para meditação e leitura são um convite à desconexão. As diárias custam a partir de R$ 1.500 (inclui café da manhã). A gastronomia é um capítulo à parte, ofertada pelo restaurante L’Alcofa, abastecido por horta orgânica, além de uma adega com mais de 700 rótulos. Visita inesquecível. @pousadainacia

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Foto: Marília França

CONECTADO COM A NATUREZA Uma das mais disputadas hospedagens da Vila de São Jorge é a Baguá Bangalôs. Vide sua história. Ela surgiu em 2003 como um camping, em 2006 vieram os quatro primeiros bangalôs e, hoje, já são 16 – alguns com jacuzzis exclusivas e podem chegar a 140 metros quadrados. Uma das características mais charmosas do local é o café da manhã servido individualmente na varanda de cada bangalô, um feito implementado por conta da pandemia, mas que será mantido pelo caráter intimista. As diárias custam a partir de R$ 398. A imersão na natureza é especial aqui, pela localização próxima ao Parque Nacional. Tanto que a área com vista para a vegetação foi a escolhida para receber uma novidade em breve: um restaurante em parceria com o chef brasiliense Paulo Tarso.

CLIMA FAMILIAR Entre os morros de Alto Paraíso encontra-se a charmosa pousada Meu Talento. Localizada a 500 metros da rua principal e a cerca de 2,5km da cachoeira mais próxima, o santuário da Loquinhas, a hospedagem existe há apenas dois anos, mas tem chamado atenção por seu clima intimista e acolhedor. Na área comum, redário, piscina aquecida e fogueira para aquecer as noites estreladas mantendo a energia mística da região. A arquitetura tem brasilidade e sustentabilidade, a partir do uso de madeira de re orestamento o reapro eitadas de demoli o valorização da luz e da ventilação natural, aquecimento solar na piscina e nos chuveiros e com sistema de reaproveitamento da água da chuva. São dez suítes, com decoração rústica, estilo bangalô praiano, com diárias a partir de R$ 420. O clima familiar vem também da cozinha: o café da manhã é bem caseiro e quase tudo produzido lá. po sada fica a m da entrada do ar e acional dentre os atrativos, os cativantes tucanos e araras que de vez em quando aparecem por lá. @pousadameutalento | www.pousadameutalento.com.br

@baguabangalos | www.baguabangalos.com.br

Fotos: Marcelo Ísola

PIONEIRISMO INTIMISTA Também localizada na Vila de São Jorge, a pousada Casa das Flores tem uma história pioneira. Um dos proprietários, Tom Zé, chegou ao povoado em 1993, quando havia apenas 253 habitantes. Foi a energia mística da região que encantou o servidor público com uma carreira estabilizada em Brasília. “Na época, não havia iluminação nas ruas, nem energia elétrica nem telefone. Mas me envolvi de uma forma sobrenatural. Larguei tudo e decidi me dedicar exclusivamente à pousada. E com muito amor”, conta. Dos tempos anti os fico a ess ncia r stica mantida nos detal es da hospedagem, como a ausência de televisão nos quartos e a iluminação à luz de velas. Mas o a mento do t rismo na re i o exi i sofistica o na hospedagem, que se modernizou para oferecer mais conforto, mas sem perder o objetivo principal: ser um reduto em meio à natureza. São 21 unidades, entre mezaninos, duplex, triplex, jiraus e apartamentos, com diárias que variam de R$ 357 a R$ 967 + 10% de taxa de serviço. Boas opções para um merecido descanso. @pousadacasadasflores | www.pousadacasadasflores.com.br

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OS SABORES DA CHAPADA RÚSTICO PREMIUM GRILL Foi em uma viagem despretensiosa de cinco dias para conhecer a Chapada que o casal Carla Vasconcelos e Raif ibran fincaram ra es por l omos literalmente abduzidos”, brinca Carla. Assim, surgiu o restaurante, que é famoso na Vila de São Jorge pelo seu ambiente cheio de charme e por um menu especializado em carnes, com destaque para o Short Rib e a parrilla na brasa. Em um momento de mudanças, o chef brasiliense Lui Veronese vai assinar as novidades do cardápio. “Fortalecer o turismo na região é uma forma de proteger a Chapada e o Cerrado. Então, procuro trazer para o Rústico um viés gastronômico que enalteça o Cerrado. Além das cachoeiras, o turista poderá provar o sabor da nossa rica terra”, disse o chef. A noite por lá também é cultural, com apresentações de músicos de diversos estilos, muitos deles de Brasília. O palco é carinhosamente chamado de Nave do Rústico.

LUA NOVA Em 1999, quando São Jorge nem existia direito, surgiu a pizzaria Lua de São Jorge, inovando na região ainda pouco conhecida com s as pi as de massas finas eitas no forno à lenha e um bar cheio de drinks diferentes. Com o encerramento das atividades em 2014, Uelio Ferreira e Patrícia Leite assumiram o espaço e rebatizaram de Lua Nova, dando novo vigor ao local. Além das pizzas, o cardápio tem, hoje, uma deliciosa lasanha com massa fresca e crepes com sabores variados. @pizzarialuanova

NA MATA

O próprio nome já entrega o conceito do restaurante: uma experiência ao ar livre e em contato com a natureza. A ideia surgiu após um período de isolamento no Rio da Lua do casal Mara e Luciana Alcamin. Depois de conquistar o paladar brasiliense com o Universal Diner, o menu no novo negócio foi criado a partir do fogo, após Impossível passar pela Chapada e não conhecer essa uma rica troca de experiências entre a chef e risoteria. Um cantinho cheio da energia de São Jorge – vide o renomado chef argentino Francis Mallmann. as várias imagens do santo que compõem a decoração, Os preparos na brasa trazem cortes ricos de boa parte deles presentes que o proprietário ganhou. Você carnes e legumes, e ainda com a proposta Farm pode sentar na área interna ou externa, mas saiba que as to Table (da fazenda à mesa). A cada garfada, o mesas embaixo das árvores deixam o local mais acolhedor. acalento de um comfort food, tipo comida de vó, A música ao vivo completa a experiência. No cardápio, com direito até a frango caipira, leitoa e cordeiro criações autênticas. Um dos mais pedidos é o Cavalo no cardápio. “Nós duas acreditamos muito na de Jorge, um risoto de goiabada vermelha com energia espiritual e energética desse novo projeto, camarão, envolvido em folhas de bananeira com dessa nova mudança. Queremos ser acolhidas pela redução de vinho tinto e goiabada. Uma comunidade trazendo esse projeto que revisita a explosão de sabores. culinária brasileira, feita no fogo, com carinho e com @santocerrado tantas pessoas boas envolvidas”, explicou Luciana.

@rusticopremiumgrill

RISOTERIA SANTO CERRADO

@namata.chapada

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NOBREZA

LA DOLCE VITA UM RETIRO MEDITERRÂNEO EXCLUSIVO E ELEGANTE, IDEAL PARA QUEM QUER VER E SER VISTO. PERFEITAMENTE POSICIONADO PRÓXIMO DE LOCAIS NOTÁVEIS. ESTE É O SECULAR HOTEL LA PALMA POR PAULA SANTANA

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stá pronto para ser restaurado o primeiro hotel Oetker Collection na Itália, o Hotel La Palma. Precisamente em Capri, cuja construção data o ano de 1822. Ao lado dos atuais proprietários, Reuben Brothers, a elegante propriedade de 50 suítes será a reinvenção do hotel original, que por muito tempo hospedou um coletivo de artistas, poetas, escritores e músicos notáveis de todo o mundo e, mais uma vez, estará no epicentro da cena social na ilha. A poucos passos da famosa Piazzetta, será composto por restaurante e bar no rooftop sob a direção culinária do chef Gennaro Esposito, um verdadeiro nome na região. Cool, terá seu próprio beach club nas praias

mais famosas da ilha. Este será o lugar onde pessoas fabulosas vêm e vão, bem como barcos e iates. E ainda piscina com deck, spa e boutiques high-fashion. A aquisição também inclui as lendárias La Taverna Anema e Core Nightclub, famosa casa noturna frequentada por celebridades, localizada no mesmo local. Dois arquitetos aclamados, Francesco Delogu e Tihany Design, assinam os interiores da propriedade. A concepção é de um retiro mediterrâneo exclusivo, ideal para quem quer ver e ser visto na descontraída Capri, uma ilha na Baía de Nápoles, famosa por sua paisagem acidentada, restaurantes icônicos, lojas requintadas. Timo Gruenert, CEO da Oetker Collection, comenta: “Simplesmente não consigo pensar em nada mais emocionante do que a perspectiva de abrir uma verdadeira obra-prima em um dos destinos mais bonitos e glamorosos do mundo”. A abertura do La Palma está prevista para abril de 2022. @hotel_lapalmacapri www.oetkercollection.com

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AUTORIDADE

CARLOS FERREIRINHA Foto: Namour Filho

LUXURY GOODS

LUXO, MERCADO, COMPORTAMENTO. NFTs, INVESTIMENTOS… LV, THIERRY MUGLER, TIFFANY, LADY GAGA. SE NÃO SABIA, POIS FIQUE CIENTE AGORA: CONVERSAR COM ESTA AUTORIDADE DO MERCADO HIGHEND É UMA VIAGEM DE CONHECIMENTO POR THEODORA ZACCARA

“NINGUÉM SE MANTÉM RELEVANTE POR TANTO TEMPO SEM ACOMPANHAR OS DIÁLOGOS ATUAIS” 134 « GPSLifetime

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mpresário e consultor mega entendido do mercado deluxe, “Ferreirinha”, como prefere ser chamado, foi presidente da Louis Vuitton Brasil e diretor da divisão de Moda do grupo LVMH na América Latina – para citar alguns de seus muitos “chapéus”. Hoje, preside a MCF Consultoria & Conhecimento, empresa focada em consultoria integrada de negócios sobre gestão do luxo. Assina embaixo da primeira conferência internacional do negócio do luxo, a Atualuxo, e da concepção da Associação Brasileira das Empresas de Luxo, a BRAEL. Com um currículo que força longas “roladas” pelo LinkedIn, o paulista é, na falta de um termo melhor, “o cara”. E mesmo que o comunicólogo seja dessas pessoas com quem é fácil se perder no papo, os cinquenta minutos divididos entre GPS|Lifetime e o empresário já tinham uma pauta afinada: “Como o mercado de luxo foi afetado pela pandemia?”. Foi a forma como começamos. E com jeito brilhante de

te “desmontar” sem perder a simpatia, “o cara” corrigiu o roteiro logo na primeira pergunta. “A pandemia apenas acelerou aquilo que já vinha acontecendo há alguns anos”, explicou. “Marcas como Chanel, Fendi e Balmain são praticamente centenárias. Ninguém se mantém relevante por tanto tempo sem acompanhar os diálogos atuais”. Não à toa, o segmento deluxe nadou contra a maré e “saiu por cima” da crise. Enquanto outros setores sofreram com o baque da pandemia, a esfera de luxury goods, incluindo mas não se limitando a roupas e acessórios, conseguiu se manter constante e crescente. O motivo? “Momentos desafiadores como este nos forçam a lembrar de uma tônica muito básica da economia norte-americana: em situações desse porte, os mais fortes ficam mais fortes, e os mais fracos ficam mais fracos”, dita. “Uma crise dessa proporção traz automaticamente uma concentração de riqueza”. E os dados estão do lado do estudioso.

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Um pesquisa do grupo LuxuryLab projeta que o mercado crescerá aproximados 20% até 2023. Outro estudo, dessa vez publicado pelo portal Infracommerce, constatou um aumento de 93% na procura por itens de luxo em 2020. “Os clientes que costumavam viajar para o exterior agora suprem a necessidade de compra domesticamente, o que favorece o turismo de luxo. Além disso, muito do dinheiro direcionado à gastronomia, ao entretenimento e a outros gastos cotidianos ficou parado na carteira, sendo assim revertido em consumo high-end”, esclarece. E não foi só a esfera da moda que tirou a melhor: nem os longos períodos em lockdown, movimentados por tags como #fiqueemcasa e ruas vazias, desaceleraram, também, o crescimento de gigantes automobilísticas. Veja o caso da Bentley, que teve seu maior ano de produção na história. Com vendas 30% maiores que no ano precedente ao ataque pandêmico, a montadora britânica não foi a única: as concorrentes Bugatti e Porsche também colheram louros recordistas. “Produtos que gerem valorização em médio a longo prazo, como joias, carros e bolsas são fontes estáveis de investimento”, oferece o expert. Ainda que seja pomposo exibir uma Ferrari nas idas ao mercado, Ferrerinha reforça que, mesmo

sendo um bem de aplicação confiável, luxo não se resume a um esportivo na garagem: a palavra mágica, aqui, é experiência. “Tudo que for mais experiencial passará a ser protagonista, além da posse. Com isso, turismo, gastronomia e entretenimento devem ganhar mais destaque”, prevê. Parte independente da rede Iguatemi, o shopping virtual Iguatemi 365 oferece de um tudo: roupas, bolsas, calçados, bebidas, design & décor… uma Mecca do consumo. Durante os meses pandêmicos, o portal cresceu cerca de 20% – o que para Marcelo Miranda, vice-presidente comercial e de marketing do grupo, é resultado de um “atendimento às expectativas do cliente”. Para o universo de decoração e utensílios domésticos, o ex-LVMH profetiza uma explosão hors-concours. “É o melhor momento da história de tudo que fala direta ou indiretamente com o mundo casa, seja mobiliário ou imobiliário”, apresenta. E como tudo (ou quase tudo) é hoje feito via Internet, o profissional frisa a diferença entre as on e offline experiences: “Existe um equívoco da interpretação geral quando se acha que se tem de transportar a experiência de luxo para o digital. São duas coisas distintas, você não tem que ‘levar’, você tem que ‘criar’”, abre.

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A necessidade de manter a conexão viva por intermédio de uma tela exigiu jogo de cintura das grandes maisons, que, entre semanas de moda phygital e rios de dinheiro investidos em marketing digital, esbarraram num “ponto fora da curva”: Bottega Veneta. Em fevereiro de 2021, a grife italiana decidiu nadar contra a corrente e se abster de qualquer presença digital. Ao invés de competir por likes e cliques, a label fechou o círculo com um educado “Não, obrigada”, concentrando as forças da operação num diálogo tête-à-tête com os “poucos e bons” clientes da casa. “Eu achei genial!”, confessa o estudioso. “A Bottega possui uma identidade muito própria, de um luxo menos acessível, sem logo, para quem entende de moda e consome além da etiqueta. Diferentemente da Louis Vuitton ou da Gucci, que são empresas que sustentam todo um conglomerado, a Bottega pode, literalmente, se dar ao luxo de preservar esse código da exclusividade”, afirma. “Se vai funcionar ou não são outros quinhentos, mas só de ter apostado nessa sacada, o mundo está falando sobre ela”, destaca. “Contudo”, adverte, “não dá para se dizer que essa será uma tendência de marketing. Muitas marcas devem, por sua história e papel no mercado, continuar investindo muito em seus portais de comunicação”. O aceno é para as grifes de Ghesquière e Michele, que em nada alardam a possibilidade de dar esse “passo para trás”. “Essas marcas querem viver mais cem anos. Para isso, elas não podem falar apenas com os clientes que estão envelhecendo como elas – precisam dialogar com o cliente que é jovem, com alinhamento aos códigos contemporâneos”, desvenda. “Existe uma geração de consumidores e de comportamento de consumo que equipara a posse virtual à posse física. Não é autoafirmação, é um novo mundo em desenvolvimento”. Esse mundo, nem precisa frisar, é tecnológico. Em contrapartida, pergunto se a “velha guarda do consumo”, os patriarcas e as matriarcas que se identificam com o lifestyle dessas grifes, sofrem com o choque desse novo modus operandi. “Com certeza! A Chanel, a Balmain são grifes de gerações muito antigas, de pensamentos muitas vezes tradicionais. Para mantê-los, as marcas criam linhas limitadas e pegam pesado no atendimento exclusivo, mas elas precisam continuar inovando para permanecer em relevância”.

GRANDE GABRIELLE

“A Chanel tem o melhor marketing e planejamento digital de todas as casas de luxo. O YouTube deles é uma obra de arte!”

ENTRE O ONLINE E OFFLINE, FICA COM QUAL?

“São experiências distintas e propostas diferentes. Não devem competir nem tentar se imitar”

BOM E VELHO

“O boom dos brechós e lojas de moda second hand obriga as marcas a se manterem cada vez mais inovadoras e tecnológicas, trazendo algo que o cliente não consegue encontrar em coleções passadas e artigos vintage”

HASHTAG EM CASA

“A M2 Investimentos Imobiliários está tendo o melhor resultado da história de corporações imobiliárias na comercialização de imóveis alto padrão”.

ENTREGA RÁPIDA

“O delivery é uma realidade há anos, a maior parte da gastronomia de luxo estava atrasada com isso”.

TCHAU, NUTELLA!

“A pandemia fortaleceu o ‘luxo raiz’, um luxo exclusivo, bem diferenciado. Tem dado alguns dos melhores resultados das marcas nos últimos anos”.

TRENDING TOPIC

“Não acredito em tendências no formato que sempre oi sada o ol ar para rente desafio a trad o do tempo presente”

LUXO É…

“Abordo luxo pela visão de negócios, de inteligência de mercado, de um consumo diferenciado, emocional. Luxo é o estado da arte da excelência. O estado da arte do extraordinário”. GPSLifetime « 137

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TETÊ COM ESTILO POR MARIA THEREZA LAUDARES mtlaudares@gmail.com – @mtlaudares

ZUZU ANGEL, PRESENTE! Fotos: Instituto Zuzu Angel

Z

uzu era mineira, era mãe, era guerreira e para sempre será moda. Homenagear Zuzu Angel no ano do centenário de seu nascimento é reconhecer a capacidade feminina de criar na alegria e na tristeza, pois brasileira nasce colorida e sabe falar de amor. Devota de Santo Antônio, Zuleika nasceu no dia 5 de junho de 1921, em Curvelo, Minas Gerais. Ainda jovem, mudou-se para Belo Horizonte, onde se casou com o americano Norman Angel. O casal transferiu-se para Salvador e, de lá, para o Rio de Janeiro. Da união nasceram os filhos Stuart, Ana Cristina e Hildegard. A estilista foi a primeira brasileira a ser reconhecida internacionalmente por sua originalidade na criação de moda ao levar para o mundo o que hoje entendemos como brasilidade. Zuzu Angel foi e sempre será a pioneira da moda como manifesto no Brasil.

as etiquetas não fazia parte da personalidade nem da mãe nem do filho. Zuzu era independente e, nadando contra a corrente, criava para as mulheres que assim como ela superaram as grades do portão de casa e ganharam espaço profissional.

DISRUPTIVA POR NATUREZA

BRASILIDADE

A visão empreendedora da designer fez nascer sua marca, Zuzu Saias, em tempos de questionamento de poder, de um mundo marcado por movimentos que abalaram as estruturas da sociedade conservadora de controle. Stuart, filho de Zuzu, teve voz importante no movimento estudantil brasileiro. Em 1961, após separar-se do marido, Zuzu encarou o mundo como mulher desquitada (rótulo preconceituoso da época) e criou seus filhos com seu trabalho. Abaixar a cabeça e conformar-se com

Zuzu era uma estilista completa, sabia criar, modelar, costurar, desenvolver produtos, analisar o público-alvo e, ainda, planejar seus desfiles. Ela levantava a bandeira da cultura brasileira, criando roupas em algodão estampado, florais que lembravam nossas chitas, inserindo rendas feitas à mão e bordados artesanais. Do período vivido em Salvador ficou a maestria da valorização das cores. Flores, borboletas e pássaros representavam nossa riqueza traduzida em materiais

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Foto: Acervo Itaú Cultural

Batizado de International Dateline Collection, o desfile foi dividido em: As Baianas; Lampião e Maria Bonita; e As Rendeiras. Na passarela, os americanos tiveram contato com a nossa cultura ao conhecerem as rendas do Nordeste, o cangaço valorizado em estampas coloridas e, ainda, o frescor do nosso algodão de qualidade. Da sua terra natal, as Minas Gerais, vieram pedras semipreciosas que adornaram bordados em vestidos. O sucesso foi tamanho que Zuzu voltou aos Estados Unidos com a International Dateline Collection II, uma coleção completa do biquíni ao vestido de noiva.

como contas, rendas, bordados, conchas e até mesmo pedras semipreciosas. Nossos ares tropicais combinados às referências de tendência de moda internacional fizeram nascer coleções com caráter único. O Brasil de Zuzu influenciava e sabia traduzir em seus desfiles o nosso maior tesouro: nossa riqueza cultural. Adotar o Brasil como inspiração temática para suas coleções foi inovar em um país onde a cópia buscava especialmente reproduzir a elegância francesa. “Zuzu Angel é um nome que se está impondo no campo da moda carioca, com criações da alta-costura cheias de bossa e requinte, tanto no que se refere à criação como à execução. É justamente o que faltava por aqui, pois sempre as mulheres nesse ramo se limitavam a copiar os grandes costureiros internacionais, deixando os louros da profissão para os homens” (Jornal do Brasil, 7 de agosto de 1966, p. 42). Em 1967, sua coleção Fashion & Freedom (Moda e Liberdade, em português) foi vista como uma expressão de independência, mas, para outros, uma crítica ao regime militar. Liberdade era algo inexistente naqueles tempos quando a ditadura perseguia pessoas e controlava todos os meios de comunicação de informações. A carreira internacional teve início com o convite para desfilar na loja de departamentos Bergdorf Goodman, em Nova York, onde suas criações foram vendidas. Suas coleções eram divididas em dois, às vezes três momentos, sendo um dedicado ao dia a dia e, outro, à noite ou ocasiões. Se o dia buscava praticidade, a noite brilhava com tecidos sofisticados.

SUA ARTE, SEU PROTESTO O ano de 1971 guardava um triste evento para Zuzu e sua família. Stuart, seu filho mais velho, estudante de Economia e militante ativo contra o governo militar ditatorial imposto pelo Ato Constitucional n.º 5 – AI5, de 13 de dezembro de 1968, desapareceu. Naquele tempo, desaparecer era sinônimo de ser preso e torturado. No caso de Stuart Angel não foi diferente. Ele foi torturado até a morte com todos os requintes de crueldade que o regime oferecia. Desolada com o desaparecimento de seu filho, em vez de calar-se, Zuzu arregaçou as mangas e fez daquilo que tinha nas mãos a sua maior força de expressão. Sim, Zuzu Angel usou sua arte para comunicar ao mundo as atrocidades que aconteciam no Brasil com todos aqueles que se posicionavam de forma considerada ofensiva ao governo. Para a historiadora e professora da UFJF Maria Claudia Bonadio, “quando lançou a coleção Date Line Collection III, em Nova York, a estilista já sabia do “desaparecimento” de seu filho e percebeu que podia usar o espaço do desfile e as peças produzidas como denúncia e, assim, juntar moda e política. Zuzu não ergueu cartaz contra a ditadura, nem precisou”. Foi com a coleção International Dateline Collection III – Holiday and Resort, desfilada em setembro de 1971, que a moda tomou corpo de protesto. O desfile, como de costume, foi dividido em três momentos: Holiday, Resort e, por fim, aquele que pegou todos de surpresa: “Protesto”. GPSLifetime « 139

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As criações intituladas Holiday apresentaram roupas leves, práticas para dias de verão; enquanto a Resort se aproximava da sofisticação com vestidos em organza ou seda em modelagens esvoaçantes. Quando a terceira parte do desfile iniciou, os bordados em sua maioria feitos em tons claros pareciam saídos de desenhos infantis e pontuavam canhões e soldados em contraste com pombas da paz. Os vestidos em linho branco comunicavam a pureza e neles os bordados desalinhados contavam a vida e a dor do filho desaparecido como um menino soltando uma pipa preta, barquinhos que faziam alusão ao clube de regatas Flamengo, onde Stuart tinha remado. Cada ponto e cada linha tinham seu significado e mensagem. Apoiado em seu nome, Angel, os anjos ensanguentados, em luto, e também os engaiolados povoaram as estampas que emocionaram a plateia da casa do Consul do Brasil em Nova York, onde o desfile ocorreu. O preto ocupou o espaço em forma de andorinhas, braçadeiras de luto, e o sol ficou quadrado. A dor de uma mãe que pedia notícias do paradeiro de seu filho fechou o desfile quando Zuzu entrou na passarela vestida de luto, com vestido e xale pretos, no pescoço um pingente de anjo e uma corrente carregada de crucifixos na cintura. A partir daí, o luto faria parte da imagem pessoal da designer que militou por seu filho até a morte. A imprensa internacional compreendeu a mensagem enquanto a brasileira ignorou ou talvez tenha sido censurada. “A percepção de que as roupas e os desfiles de moda podem ser utilizados não apenas para exibir produtos, mas também ideias de contestação, foi a principal contribuição de Zuzu Angel. Ao fazer do desfile um ato político, muito antes que os protestos se tornassem frequentes nas passarelas e de forma mais suave do que as camisetas com frase, usando a delicadeza do bordado na denúncia, trouxe nova força para a moda”, conclui Bonadio. A International Dateline Collection IV – The Helpless Angel foi lançada em Nova York em 1972, com

os símbolos da marca que já conquistara os Estados Unidos e o Canadá. Zuzu Angel seguiu em frente questio questionando o regime de governo instaurado no Brasil e abraçou a defesa das mulheres in independentes que buscavam voz em nossa sociedade machista. A Nova Mulher de Zuzu Angel, “A década de 70 trouxe uma nova mulher, mu aquela que sai profissionalmente, a mudimens da lher que tem uma nova dimensão vida, a mulher que realmente acredita no que diz. É esta a mulher que eu quero que vista a minha roupa” (in A Nova Bra Mulher de Zuzu Angel – Jornal do Brasil, 22 de agosto de 1972.). O ano seguinte assistiria a um grande reconhecimento, pois ao abrir sua loja no Leblon, Zuzu decidiu desfilar primeiro no mu Brasil como forma de valorização à mulher brasileira que, segundo ela, estaria à altura da americana. E, assim, em 1973, vieram as coleções International DateliVI ne Collection V e VI. Nos anos de 1974 e 1975, vieram as coleções International Collection VII – Contemporary Classic e a Brazilian Butterfly, respectivamente. As estampas receberam flores, borboletas e os anjos, símbolos da marca. Once Zuzu, Always Zuzu (Uma vez Zuzu, Sempre Zuzu, em português) foi a coleção internacional lançada no início de 1976. A marca Zuzu Angel tinha o chamado DNA de moda, elementos e signos que servem de referência para criação e reconhecimento da marca. Com o passar dos anos, Zuzu soube que seu filho tinha sido assassinado sob tortura e, agora, ela clamava pelo corpo para poder dar-lhe um sepultamento digno. Zuzu incomodava, tanto que passou a ser perseguida pelo regime e, assim, no dia 5 de abril de 1976, ao voltar para casa sozinha ao volante, teve seu carro empurrado da Estrada do Joá abaixo. Zuleika Angel se foi, mas Zuzu Angel vive até hoje na imagem forte de sua moda apoiada em nossas raízes brasileiras sem medo de denunciar. Zuzu Angel, presente!

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TRAJETÓRIA

RIHANNA, PRIYANKA CHOPRA, ALICIA KEYS, JANELLE MONÁE SÃO ALGUMAS DAS MULHERES QUE SE ENCANTARAM COM AS MÃOS HABILIDOSAS DA MINEIRA PATRÍCIA BONALDI, COM LOJA RECÉM-INAUGURADA NO IGUATEMI BRASÍLIA POR MARINA ADORNO

Foto: Pedro Fonseca

“O ENCANTAMENTO É O QUE ME MOVE. SEMPRE QUERO FAZER O MAIS DIFERENTE POSSÍVEL. VIVO EM BUSCA DAQUELE ‘UAU’”

HISTÓRIA BORDADA B ordados impecáveis fizeram o nome dela ultrapassar as fronteiras. O preciosismo mineiro foi utilizado de modo que o desenho desejado se destacasse. O resultado? Peças espalhadas pelo Brasil e por outros 25 países. Mas foi por muito pouco que a técnica não foi utilizada para gravá-lo em jalecos brancos. “Patrícia Bonaldi, patologista clínica”. Consegue imaginar? A patologista de formação ainda migrou para o Direito até entregar-se para seu verdadeiro dom. Nascida em Uberlândia (MG), em 2002, ainda na universidade, abriu sua multimarcas. Um projeto paralelo ao qual pretendia dedicar-se até concluir a graduação. Hoje, percebe que subestimou o início de seu relacionamento com a moda. Um interesse que veio da vaidade juvenil. “Quando criança, colocava anéis em todos

os dedos”, recorda, entre risadas. Quando a clientela chegava à loja, as peças que Patrícia Bonaldi usava ofuscavam os artigos que preenchiam as araras. Aos poucos, ela foi dando início a uma produção própria. Autodidata, montou uma fábrica, capacitou e treinou 90% da equipe – que ela se orgulha ao dizer que a acompanha até hoje – e emprestou seu nome à marca. As coisas ganharam nova proporção com o boom das redes sociais. Quase da noite para o dia seu nome estava por toda parte. Blogueiras como Camila Coutinho, Lalá Noleto e a conterrânea Thássia Naves exibiam looks assinados por Patrícia. “As pessoas acham que foi rápido, mas nesse momento, eu já estava presente no Brasil inteiro e, inclusive, já exportava. Foi um processo de evolução gradativo, mas realmente a internet impulsionou”, defende.

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A marca desembarcou em março no Iguatemi Brasília com uma loja de 160m² Fotos: Lincoln Iff

também pela nossa estamparia exclusiva, nosso estilo e identidade casual”, enaltece. Ela observa que a label amadureceu e conservou suas fidèles, ao mesmo tempo que conquistou novas. “O encantamento é o que me move. Sempre quero fazer o mais diferente possível. Vivo em busca daquele ‘uau’”, confessa.

PASSAPORTE CARIMBADO

Durante muito tempo, seu trabalho era dividido entre a Patrícia Bonaldi, marca de vestidos de festa, e a PatBO, etiqueta com apelo fashionista. Agora, ela confessa que sente alívio em ser apenas a estilista por trás das peças. As criações mais sofisticadas e exclusivas passaram a ser assinadas como PatBO Atelier. “Considerando que a PatBO nasceu do interesse das clientes pelas suas roupas, é correto dizer que ela reflete o seu estilo?”, questiona esta repórter durante entrevista para a revista. A designer fica dividida entre o sim e o não. “Eu atribuo muito do nosso sucesso a minha capacidade de ler as pessoas e enxergar o que elas querem. Claro que existe uma identificação, mas eu procuro não focar só em mim e traduzo os desejos delas com o meu olhar. Vejo que alguns designers só fazem o que eles gostam”, ressalta. Se no início da carreira os bordados eram marca registrada e possibilitavam identificar uma roupa Patrícia Bonaldi à primeira vista, hoje, à beira dos vinte anos de história, eles não são mais o centro das atenções. “Atualmente, somos reconhecidos

A entrada em outros países não é um capítulo recente na trajetória da PatBO. O convite veio logo nos primeiros anos de marca. Graças ao Minas Trend Preview, as criações da grife conquistaram o olhar de compradores do Oriente Médio. A fashion designer reconhece que, no começo, era algo muito mais experimental e menos estruturado. O olhar especializado para o novo mercado veio mais tarde. Estabelecida em Nova York, e presente nas melhores lojas de departamento de luxo do mundo, orgulha-se das participações recentes da marca na fashion week de New York – a última delas em fevereiro de 2021. “Foi algo que não procurei e imaginava que aconteceria em outro momento. O convite partiu da organização do evento e me pegou de surpresa”, comenta. As norte-americanas são um dos públicos mais fortes da PatBO e a diretora criativa atribui essa identificação justamente ao fato de que a grife oferece algo diferente. “Elas têm acesso a todas as marcas do mundo”, valoriza. A popularidade crescente nos EUA proporcionou gratas surpresas à estilista. Por lá, a lista de celebridades que usam PatBO não para de crescer. Rihanna, Priyanka Chopra, Sharon Stone, Shakira e, um exemplo mais recente, em abril deste ano, a canGPSLifetime « 143

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BRASIL AFORA “Eu ainda não conheci, mas sei que a loja de Brasília está linda. É uma loucura isso, né?”, disse Patrícia Bonaldi logo no início da conversa por videoconferência. Há três anos, flertava com a ideia de abrir uma loja por aqui. “A cliente brasiliense se assemelha muito com a de Uberlândia. Elas gostam de se arrumar, não são blasé. Muito pelo contrário, são vibrantes”, analisa a mineira declarada, mesmo que o sotaque não entregue. Por acreditar que o shopping compartilha do target da marca, fazia questão de que fosse no Iguatemi Brasília. Durante a pandemia, deparou-se com uma oportunidade que considerou irrecusável. Uma loja ampla na área internacional do mall. “Mal posso esperar para conhecer ao vivo, é a nossa loja mais linda”, ressalta. Ela é a primeira representante do novo projeto de arquitetura assinado pelo escritório Messa Penna. No ambiente contemporâneo e elegante, em tons de nude e rosé, estão as roupas, itens de casa e os afamados pijamas. A loja brasiliense faz parte de um plano de expansão e do desejo de fortalecer o varejo e a relação direta com a cliente final. Em breve, será a vez de Goiânia. Em São Paulo, até junho deste ano, a PatBO também terá um novo lar. Uma flagship de três andares em um ponto disputado da rua Haddock Lobo. “Após dez anos, a nossa primeira loja, na Bela Cintra, estava pequena. Hoje temos produtos que vão do beachwear até a noiva. Literalmente, não cabia mais.”

TEMPOS DE PANDEMIA “Sou uma pessoa do mundo, já rodei ele quase inteiro e isso reflete no meu trabalho. Digo que sou uma colcha de patchwork”. Para Patrícia Bonaldi, as viagens, seja a lazer ou a trabalho, sempre foram sua fonte primordial de inspiração. Impossibilitada de manter o ritmo jetsetter, ela afirma que o jeito foi viajar pela internet e pelas memórias. “Criar nesse período foi muito desafiador, é um processo que exige que você esteja bem e no momento atual ninguém está pulando de alegria por aí. Felizmente, eu consegui colocar a minha cabeça no eixo e tomar boas de-

Fotos: Lincoln Iff

tora Janelle Monáe optou por um vestido com estampa de cordel, da coleção Outono 2021. Uma das mais marcantes? Quando a cantora Alicia Keys escolheu um modelo PatBO para comemorar o aniversário.

cisões”, constata. Apesar das adversidades, a marca cresceu 26,6% em 2020, comparado com o mesmo período do ano anterior. Como exemplo, há a linha de objetos de casa e decoração e a coleção de pijamas. A primeira era um plano para o futuro, já a segunda Patrícia nunca havia sequer considerado. O site, inclusive, é outro ponto de destaque do último ano. A plataforma, que sempre foi a menor fonte de receita, inverteu a posição e cresceu 300% durante a pandemia. Depois de tantas conquistas, fazendo uma retrospectiva, aos 40 anos, Patrícia relembra o sonho lá do início de estruturar a marca, ter pontos de venda espalhados pelo País e lojas próprias. Check. Atualmente, o sonho não é mais uma coisa ou um destino. “Quero que a PatBO chegue aonde ela puder chegar e cresça o que puder crescer”, conclui. @patbo_brasil @patbo_atelier www.patbo.com.br

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TALENTOS

NOUVELLE GÉNÉRATION DIANTE DOS MOVIMENTOS Y E Z QUE CADENCIARAM A CRIAÇÃO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DESTE SÉCULO, MENTES COM FRESCOR E LIBERDADE COMPÕEM O NOVO MOOD DO DESIGN COM ORIGEM BRASILIENSE, MAS NUMA JORNADA SEM FRONTEIRAS POR THEODORA ZACCARA

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ói ouvir, mas falar em luxo é falar em lixo: em 2014, uma pesquisa feita pela organização Greenpeace encontrou materiais poluentes nos produtos de Giorgio Armani, Hermès, Christian Dior, Louis Vuitton e Marc Jacobs – a lista segue. Em resposta, a União Europeia enrijeceu o controle sobre o uso de químicos industriais – e de lá para cá muito mudou. Gucci, Jimmy Choo e Versace tonaram-se, ou estão se tornando, carbon neutral. Pandora prometeu comprar apenas metais reciclados. Prada jurou “de pé junto” que só venderá peles sintéticas. Stella McCartney desenvolveu um couro à base de cogumelos. Greta Thunberg é uma super star. Ter propósito é ser chique. Em escala internacional, o mercado começou a não apenas procurar, como também exigir um posicionamento evolutivo das divisões de luxo em roupas, itens decorativos, joias, e mais. Pagar caro passou a simbolizar “pagar bem”, e os cifrões nas etiquetas começam a garantir a certeza de um consumo que não vai doer no bolso do planeta, nem no da moral. A tendência foi traduzida, subsequentemente, em hábitos locais. “Pense globalmente, aja localmente”, diz a paráfrase do biólogo escocês Patrick Geddes, que pulou do livro Cities in Evolution (1915)

para cartazes e hashtags do novo milênio. Na pequena cidade grande de Brasília, o mindset pauta a operação de grifes que fazem “o novo luxo”: feito para sentir, para refletir, para fazer pensar. Conheça quem são.

EXCUSE MY FRENCH Nascida em Paris, Augusta é uma mulher que não liga muito para o Instagram. É desapegada das redes, prefere viver o que a vida oferece. Tem o tempo próprio, não se apressa por ordem de ninguém. Tem o jeito leve, singular, uma coisa ‘meio Paris, meio São Paulo’. Meio Brasília e Rio de Janeiro. “Sustentabilidade é luxo, luxo é sustentabilidade. E o que é o luxo para você? É uma logomarca? Ou é exclusivida-

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de, tempo de qualidade, peças feitas com cuidado e consciência?”, sugere Carolina Neumann, designer-fundadora da grife franco-brasileira representada por essa mulher tão eterna, tão ‘do agora’. “Desde que me mudei para a França, há mais de oito anos, sabia que minha marca na moda seria pautada pelo meu propósito: pelo respeito ao meio-ambiente, ao tempo necessário para manter uma linha de produção responsável e àquilo que eu acredito e que é a minha essência”, explica, relembrando os anos de estudante na Escola do Sindicato da Haute Couture, em Paris. De lá para cá, centralizou a operação na Europa, levando uma vida que Coco Chanel entenderia muito bem: vivendo do ateliê, trabalhando de casa. “Não opero em formato de coleções sazonais, crio peças perenes e pedidos feitos sob encomenda, com hora marcada”, afirma. E mesmo que seja ‘do mundo’, guarda a capital não só na certidão de nascimento, como também no coração. “Brasília me desperta uma sensação engraçada, enxergo ela com olhos de quem vê tanto de dentro como de fora”, filosofa. É filha do cinema, casou a paixão das telas com a paixão dos manequins, se encontrou fazendo figurinos e concebendo histórias. “As duas coisas andam muito ligadas, né?”, propõe. Mas o ponto focal de sua grife é outro: sustentabilidade. A matéria-prima tem procedência local, seja o ‘local’ no Brasil ou na França. As embalagens são criadas a partir de materiais recicláveis e até o marketing, um conceito que por essência é nímio, ganha uma abordagem mais mansa. “Não adianta pregar a ideia de conservação e apoiar uma estratégia de propaganda exagerada. O propósito slow fashion da Augusta é incorporado em todas as facetas da marca, não só na confecção”. Durante uma conversa que extrapolou o horário comercial, Carolina falou sobre herança, história e o resgate de uma moda com significado. Lembrou dos tapetes persas que os avós alemães comercializavam, e como o toque das tramas despertou o amor pela indústria têxtil. Falou de família, de Brasília, de Paris, de ser reconhecida ‘lá fora’ e de ‘reconhecer’ a cena criativa do quadrado toda vez que visita a cidade. “A massificação de produção nos últimos 30 anos afetou tudo, não apenas o varejo fashion. Hoje em dia, está na moda ser sustentável, mas será que é algo genuíno? O mercado anda muito transparente, e se essa abordagem não for verdadeira, o cliente irá perceber”, dispara.

Carolina Neumann

Nesse sentido, a descendência germânica dá uma ‘mãozinha’: “é um povo que viveu guerras, que entende a importância de uma compra, de uma posse. Não se vê tanto desse consumo desregrado por lá”. Com isso, explica que nunca irá contrariar sua visão estética em resposta às demandas do mercado – mesmo que a rotatividade da moda, por vezes transforme o que Neumann faz em tendência. “Timing é uma coisa engraçada! Percebo como hoje, após anos que montei a marca, como as tendências chegaram ao estilo da Augusta, que é clássico, campestre, real”. Faz referência à série Bridgerton, original da Netflix, e ao estilo cottagecore, ambos elementos que dispararam o interesse do público fashion por essa moda com cara de outrora. E mesmo que Daphne Bridgerton tenha vindo muito depois de Carolina Neumann, as duas teriam muito o que conversar. Afinal, Augusta, do latim, significa nobre. @augustaparis Tel.: +33 6 03 20 19 38

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O CHEIRO DO FUTURO Uma “dobradinha” com a Europa também é parte pulsante da Acqua di Profumo: marca de nome italiano, mas “100% brasiliense!” – jura a empresária Flávia Santoro. Enamorada pelo universo da perfumaria, trouxe para a cidade um conceito que casa o charme de Florença com o modernismo da capital federal. “A grafia da nossa logo é inspirada no trevo de quatro folhas, nossas famosas tesourinhas!”, explana. Com Brasília como norte e as mãos estendidas para criar uma relação com o sentido olfativo, Flávia fundou a etiqueta de “artigos cheirosos” em janeiro de 2018. Hoje, são seis diferentes tipos de produto, entre velas, águas perfumadas, colônias, aromatizadores e mais. Flávia Santoro

“Acreditamos que as fragrâncias criam impactos e fortalecem memórias. Por isso, o nosso maior objetivo é materializar sentimentos em cheiros”, abre. O carinho pelo Planalto Central move também a vontade de gerar um impacto de proporções locais, que coloque o “produto candango” como sinônimo de qualidade e virtude. “Ao falar de sustentabilidade, não tem como não passarmos pelo consumo consciente e pela responsabilidade social”, desenvolve. “Infelizmente, o brasileiro tende a valorizar mais o que vem de fora, por isso, me orgulho ao ressaltar que, apesar do nome italiano, nossa marca é brasileiríssima”, frisa. Em prática, a filosofia se materializa em embalagens de refil, campanhas que incentivam o reaproveitamento dos frascos, uso de matérias-primas e insumos naturais, embrulhos feitos com papel de origem certificada, vernizes e tintas à base de água e

uma ligação com fornecedores que atuam com base nos mesmos pilares. “Por vezes esbarramos em inúmeros problemas de logística que surgem da busca pela sustentabilidade, mas sabemos da nossa responsabilidade social e estamos sempre apostando na melhoria contínua para minimizar os impactos ambientais”. Nem por isso desanima – acredita que o material concebido com visão de futuro gera apego, esmero, e não cruza a linha final de descarte. “Nossa coleção especial Vibrazione, por exemplo, valoriza as pedras naturais brasileiras, cuidadosamente selecionadas, respeitando as formas e singularidades de cada pedra. Além de perfumar, se tornaram itens decorativos que dão um charme a mais na decoração do ambiente”, exemplifica. @acquadiprofumo www.acquadiprofumo.com.br

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ILUMINADO “Obra de arte para ser vestida”: como um poema, Luciana Narciso e Yasmim Passos deixam a gema escolher a história que quer contar. No geral, a narrativa é lírica, mistura fluente de prosa e poesia, fantasia e fábula que conglomera arte e joia. “Faz parte de nós essa busca incansável pelo belo, pela perfeição e pela satisfação de quando nosso olhar captura as vibrações dos corações”, poetiza Yasmim. Trabalhar com ouro, afinal, é trabalhar com o desejo em sua forma mais sensível. Esfumando as linhas que dividem clássico e contemporâneo, a grife criada em 2016 traz da arte as referências que pautam a moda. Entre os períodos favoritos, a Renascença Italiana é fonte de ângulos e linhas que, com esmeraldas, rubis, águas marinhas e até mármore, tomam vida. Entretanto, não vá pensando que as peças procedem de uma leitura ipsis litteris do passado, nem da manifestação de uma visão puramente jovem sobre a joalheria: são mistura simétrica de influências antigas e novas, resultando em coleções que chamam atenção com essa harmonia tão charmosa. “Cada joia reflete uma interpretação contemporânea particular, cuja inspiração é sempre baseada em referências que simbolizam o eterno, o atemporal”, explica. “Joias para serem passadas de geração em geração, levando a diante não somente a história da peça, mas também de quem a usa”. Assim, compreende-se que uma vez comprada, a peça viaja pelo tempo sustentando

Luciana Narciso e Yasmim Passos

sua essência, sem agredir nem machucar. E mesmo que o conceito de “joia de família” não seja nada revolucionário, ouvi-lo da boca de empresárias em seus vinte-e-poucos-anos, é um tanto revolucionário. “Para que isso seja possível, trabalhamos com materiais nobres e eternos, como o ouro 18k e gemas naturais”. Vênus, Madonna, Piccolomini, Marble, Timeless e Twisted são os nomes das linhas já lançadas. O approach, percebe-se logo de cara, envolve abstrações como Botticelli, Siena, arte sacra, Michelangelo e outros elementos de uma cultura tão perene. “Queremos que elas façam parte da história de quem as usa, estando presente em todos os momentos, tanto nos simples quanto nos mais memoráveis”. @lucianayasmimbr www.lucianayasmim.com

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ENTRE NÓS POR PATRICIA JUSTINO

pattyjustino@hotmail.com – @patjustinovaz

REDEFININDO O CONCEITO FASHION LUXO ECOLÓGICO Atualmente transformada em hotel, a antiga residência da família Goldsmith, na Costa Oeste mexicana, não poderia ter ganhado um nome mais apropriado: Cuixmala – “um lugar de descanso da alma”. Considerada uma das experiências hoteleiras mais inusitadas e charmosas do mundo, a Cuixmala é uma típica “hacienda” que foge dos padrões regionais, não somente por estar cercada de reservas naturais com animais exóticos e praias particulares paradisíacas, mas pelos detalhes que envolvem os serviços exclusivos para relaxamento, entretenimento, gastronomia de ponta e rituais sensoriais diversos numa estrutura física de tirar o fôlego. São poucas e excl si as as s as acomoda es sofisticadas illas bangalôs e algumas suítes temáticas que mesclam em seu decór do frescor do clima praiano à opulência dos ares palacianos. O projeto também chama a atenção pelo colorido das construções em meio ao verde das plantações na propriedade e o contraste do branco total nos ambientes internos com tons vibrantes, seja na tapeçaria vintage, no opulento mobiliário vindo da Índia e Marrocos, ou até mesmo nos poderosos objetos e nas obras de arte, perfeitamente colocados, com muito bom gosto e estilo. Um verdadeiro paraíso. www.cuixmala.com | @cuixmala

Conhecer o espaço Zak Ik, a boutique multimarcas do hotel Azvlik, em Tulum, no México, é, literalmente, vivenciar algo único e inspirador. Começando pela arquitetura extremamente peculiar, integrando elementos da natureza à artesania local de orma sofisticada e moderna, a loja nos faz imergir numa experiência multissensorial. Tanto que, a primeira sugestão no local é tirar os sapatos para interagir com o espaço, fazendo uma troca de energias ao pisar o solo que, dependendo do ambiente, pode ser de concreto, areia ou até mesmo água. De tão especiais, a música e o aroma do lugar dariam capítulos à parte, mas a curadoria, que envolve mais de 80 marcas, sendo a metade delas de designers e artistas locais, é de encher os olhos de emoção. Tudo o que é exposto na loja é peça única: roupas, acessórios e objetos de décor ganham status de design com m no o si nificado as marcas são cuidadosamente selecionadas de acordo com a sua disruptura de padrões, diversidade e valorização da cultura latino-americana. www.azulik.com | @azulik

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COZY

TABLE WEAR ada mais ostoso do e a ela pa sa no fim de tarde para degustar um chá ou café com as ami as n o mesmo or m o rit al pode ficar ainda mais especial quando se adicionam pitadas de bom gosto por intermédio das peças usadas para servir. O carinho e a atenção de quem põe uma mesa nunca passa despercebido, por mais simples que seja o que for servido, esse ato pode ser transformado numa linda experiência afetiva. Para quem aprecia arte e adora receber de forma especial, as louças da artista plástica Samia Bilachi são tudo o que você precisa para vivenciar momentos assim e imprimir lindas histórias. Seus objetos para o serviço à mesa são pintados à mão e suas inspirações vão desde a pop art às cores e ilustrações de Matisse ou até mesmo frases e palavras soltas que trazem um quê divertido e motivacional. Um verdadeiro charme!

Quem já provou, saberá exatamente do que falaremos agora: não dá para usar um produto da marca UGG e depois não lembrar as sensações causadas por ele naquele momento. É o famoso sentimento de satisfação que o australiano Brian Smith, fundador da marca em 1978, na Califórnia, tinha como propósito. E, pelo visto, ele conseguiu. Quando lançou as famosas botinhas com palmilhas em pele de ovelha e um estilo nada convencional, ele não tinha noção de que hoje elas seriam aclamadas mundialmente tanto pela elite fashion como pelos que curtem produtos diferenciados ou mostrar liberdade de expressão através da sua maneira de vestir. Sempre com o máximo de conforto e aquela “pegada” divertida, a novidade são as sandalinhas flats. Fofas e convidativas, tornaramse “best sellers” principalmente na pandemia. Caíram também no gosto de famosos como Sabrina Satto, Mariah Bernardes e diversas celebridades internacionais. Onde encontrar? Shopping Iguatemi de São Paulo ou pelo site www.ugg.com.br

@bysamiabilachi

MATRIARCAL Cada vez mais no mundo da moda as marcas seguem seus caminhos de forma intuitiva e transparente, desde a forma de conduzir a sua cadeia produtiva, passando pela escolha do tempo hábil e particular de cada coleção, à valorização de matéria prima local e parcerias agregadoras. Com essa independência, tanto elas quanto os seus consumidores saem ganhando. É o caso da hypada marca de acessórios Matri, conduzida por Maiá Zequi, a designer que já nasceu em berço criativo, herdou o talento dos pais que já trabalhavam com moda e arte e, depois da sua formação na área, elegeu as bolsas e os calçados artesanais como os produtos carros-chefes para dar início aos trabalhos da sua marca. Acabamentos como os chifres de resina, em latão ou madeira, viraram marca registrada da Matri, bem como o uso de couro com texturas e tramas diferenciadas. A bucket bag Saskia foi o produto ícone que deu visibilidade à marca, caindo no gosto dos mais antenados das cenas urbanas paulistas, atraindo assim, outros criadores com a mesma visão, surgindo na sequência as primeiras collabs com marcas como Lilly Sarti, Vanda Jacintho e André Lima. A Matri vende seus produtos pelo e-commerce ou em sua loja física no shopping Cidade Jardim. GPSLifetime « 151

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ARTESANIA

A CONFRARIA DO REQUINTE E DO RÚSTICO Fotos: Luara Baggi

Foto: Bruno Cavalcanti

INFLUENTE FORA DO PAÍS PELO HANDMADE REPLETO DE BRASILIDADE, ARTISTA PLÁSTICA TORNA-SE ARTESÃ E CELEBRA DUAS DÉCADAS DE FASHIONISMO E CONSCIÊNCIA AMBIENTAL POR MARINA ADORNO

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izem que o amor move montanhas. Por mais poético que a possa ser, as coisas do coração resumem a trajetória de Ana Paula Ávila, artista plástica à frente da Confraria. Fundada em Belo Horizonte, em 1998, a marca veio parar no quadradinho em nome do sentimento nobre. “Eu me apaixonei por um brasiliense. Aí não tinha mais como ficar lá, né? Três anos mais tarde, estava aqui. Coloquei tudo no caminhão, peguei dois funcionários e vim”, relembra. O mesmo sentimento que a trouxe até Brasília é o que impulsiona Ana Paula. Nascida em Almenara (MG), ela conta que aos nove anos fazia bolsas com papel e papelão. “Aos 12, eu já ganhava dinheiro pintando painéis pela cidade. Sinto que nasci artista”, diz. Poucos anos mais tarde, vieram as roupas e, aos 15, ela desenvolvia até mesmo sapatos.

À medida que ela crescia, ficava mais claro qual caminho queria seguir. Cursou Artes Plásticas na Fundação Mineira de Arte (FUMA), atualmente Escola de Design do Estado de Minas Gerais. A primeira experiência profissional foi dentro da loja e, posteriormente, na fábrica da Gipsy. Parece familiar? Não? Talvez você conheça pelo nome que veio alguns anos mais tarde: Grupo Arezzo. Os primeiros passos rumo à independência vieram ao acaso. E foi o couro, a mais trabalhosa matéria-prima, a eleita por Ana Paula para trilhar seu sucesso. “Artesania em couro não é para quem quer. Tem que ter talento, e isso sempre me fascinou”, valoriza. “Não me considero estilista, muito menos empresária. Eu sou artesã”, define.

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Foi em um quartinho na rua Savassi, em Belo Horizonte, que ela deu início à produção das bolsas Confraria. Foram cem peças. Hoje, orgulha-se ao dizer que tem 130 pontos de venda no Brasil e pelo menos nove pontos ativos no exterior sob gestão de clientes leais na Suíça, França, Ásia e Estados Unidos. A produção mensal gira em torno das 600 peças. “Tem bolsa que demora vinte dias para ficar pronta”, exemplifica. Na fábrica instalada no Park Way, 21 funcionários se dividem entre os nove processos produtivos que separam os materiais brutos do refinado resultado final. Todos executados de maneira artesanal e sustentável pela equipe treinada pela artista com olhos de águia. O atual ponto de venda fica na charmosa loja na QI 5, comércio local no Lago Sul.

ARTESANIA PURA Durante uma viagem por Roma, há cerca de 24 anos, Ana Paula se impressionou com o volume de acessórios criados com vime que avistava. De imediato, decidiu que buscaria material similar no

Brasil. Assim surgiram as peças em junco – fibra vegetal originária da floresta amazônica. A empresária defende que os parâmetros ambientais são uma das principais preocupações da marca em toda a sua cadeia produtiva. O couro animal, alvo de polêmicas, é retirado apenas de bois abatidos para consumo da carne pela indústria alimentícia. “Trabalho com o couro vachette. Ele tem tratamento vegetal e é livre de cromo (chrome free), por isso você enxerga algumas imperfeições do animal, como marcas de carrapatos. Isso legitima a qualidade do material e garante que ele não é sintético”, valoriza. Já a linha exótica, que inclui pele de píton, pirarucu e crocodilo, é importada da Malásia. Todos estes couros têm certificado de origem do CITES (órgão internacional que controla o comércio de fauna e flora) e, no Brasil, o Ibama é o responsável por supervisionar as licenças. Não foi um processo tranquilo fazer os lojistas entenderem a sofisticação do trabalho artesanal. Muitos desmereciam e até o comparavam a uma bolsa de palha comum. “Agora, tempos depois, o junco tornou-se sinônimo de nobreza, mas foram anos tentando fazer o brasileiro valorizar seu produto de origem”, defende. Hoje, além de bolsas, o portfólio inclui sapatos e objetos de decoração. Durante a pandemia, a marca cresceu 40%.

LEGENDA Ana Paula uniu forças com a GPS|Foundation. O resultado foi uma coleção de tote bags pensadas para acompanhar a seleta e filantropa clientela nos dias de praia. Confeccionadas em tecido off-white, com alças de couro e frases líricas estampadas. “Eu sempre quis desenvolver trabalho solidário. Este projeto me trouxe a injeção de ânimo que eu precisava”, conclui Cruzando rios além do Planalto Central, a marca mantém um endereço fixo no Quadrado, em Trancoso. “Eu tinha esse desejo e a oportunidade de concretizá-lo surgiu no último verão. Tem sido importante para o nosso branding”, afirma. Muito em breve, outra novidade da artista, artesã e empreendedora: uma franquia em solo carioca para alegria das garotas de Ipanema. @confrariastudio www.confrariastudio.com.br

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ATELIÊ

CORTE E COSTURA A CONTEMPORANEIDADE PEDE IDENTIDADE E DURABILIDADE EM ROUPAS CRIADAS A PARTIR DAS COLEÇÕES REFERENDADAS NAS PASSARELAS DOS CENTROS DA MODA EUROPEIA

POR THEODORA ZACCARA « FOTOS LUARA BAGGI

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ma sala charmosa no subsolo de sua residência no Lago Sul é onde Louback Jacoby Fernandes cria. O teto acolhe, as paredes são cor de creme, mas pouco se vê a tinta por trás dos croquis pendurados desde o firmamento, das cestas repletas de etiquetas pretas, dos tecidos, manequins e máquinas de costura. Tudo em ordem para finalizar os 30 designs do primeiro Outono-Inverno by Louback Maison. Em tempo de sazonalidades dispersas, a estilista desenvolve seu trabalho “a partir de uma interpretação do estilo parisiense, com tecidos robustos, para o inverno, mas de um modo que a mulher brasileira gosta e se identifica”, explica a criadora que é mão e mente por trás da grife brasiliense. Entre as elaborações, tweeds e grossas tramas em xadrez e amarelo relembram Cher Horowitz, a inconfundível Patricinha de Beverly Hills. Os blocos de cores são fortes: há verde, há azul, há vermelho. O acabamento é inteligente, o corte é bem feito, o nome da coleção é Rainhas. “Uma homenagem às minhas clientes”. São elas, inclusive, a principal pulsação de Louback. Num modus operandi que inverte as cadeiras entre produtor e comprador, a estilista se norteia pelas freguesas para criar. “Quando desenho, penso em cada cliente. No seu estilo próprio, em suas preferências… por isso dou o nome delas às minhas peças, quero que saibam como são apreciadas”, compartilha. Os protótipos são enviados às fideles para provar, avaliar, criticar. “Faço uso do feedback delas durante todo o processo. Quero saber se o zíper foi funcional, se o caimento ficou bacana, se as costuras estão de agrado…”, lista.

Além do olhar aguçado para o comportamento local, as referências da empresária também são de alcance mundial. Não perde um desfile das marcas queridas: Chanel, Dior, Balenciaga são estudadas de ponta a ponta em seu escritório de pesquisa, também localizado em casa. Entende que o sonho da alta-costura pode caminhar no mesmo ritmo de uma coleção desenvolvida para o cotidiano. A roupa, atualmente, deve ter funcionalidade, durabilidade, além de acompanhar o high end das passarelas mundiais. Em seu espaço no comércio local da QI 11 do Lago Sul, fica evidente esse match de propostas. “Tenho o único objetivo de criar roupas que causem desejo, mas que não sejam vencidas pelo tempo. Que sejam eternas, clássicas, e que façam brilhar os olhos da mulher contemporânea”. A missão requer delicadeza e astúcia, mas o resultado é de uma experiência para além das tendências. @loubackmaison (61) 98147-5966

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COLEÇÃO

Cartier - R$ 44.500 Rolex - R$ 70.800

TAG Heuer - preço sob consulta

Panerai para Grifith R$ 80.600

O TEMPO QUE O TEMPO TEM

IWC - preço sob consulta

Bens eternos, que vencem tendências e se tornam experiências, são os que resistem às tempestades da vida sem perder o rumo ou a hora exata de redirecionar sua rota. A alta relojoaria vive essa temporada. De validação no novo real. O que importa é manter-se exuberante na tradição, avessa à ostentação. Investir no que faz sentido, no que importa. (PS)

Bvlgari - preço sob consulta Panerai para Grifith - R$ 69.600

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PRECIOSISMO

O BRILHO QUE VEM DO CORAÇÃO Colar Catedral em prata, R$ 2.200 Grifith

O quanto uma joia pode aguçar os sentidos... o toque, o olhar. Uma gema com suas raízes oriundas da terra, um minério energético, cujo contato revigora quando manipulado e inventado em belas formas. O olhar que desperta, que traz à memória do que ainda é um desejo. Essas duas forças que mobilizam o corpo humano associadas ao design, à historia, ao viés poético... têm poder transformador. Todos merecem uma joia. Que não seja rara, desde que tenha valor para o existir no agora. (PS)

Colar Love, R$ 53.500 - Cartier Colar Paixão, preço sob consulta - Carla Amorim

Brinco geométrico em ouro 18k, R$ 3.690 Silvia Badra

Pulseira, preço sob consulta Miranda Castro

Brinco Brilho de Coralina, preço sob consulta Carla Amorim

Anel em coração com pedras diversas, R$ 4.400 - Silvia Badra

Pulseira Blue Sky com topázio, R$ 18.400 Grifith

Anel Juste Un Clou, R$ 30.500 - Cartier

Anel, preço sob consulta Miranda Castro

Anel em ouro, R$ 1.980 Silvia Badra

Pulseira articulada Vine em platina com diamante, preço sob consulta - Tiffany&Co.

Anel Vine em platina com diamante, R$ 125 mil Tiffany&Co.

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Anel Summer Mix, R$ 8 mil - Grifith

Pulseira Amor Sereno, preço sob consulta Carla Amorim

Anel Simplesmente Coralina, preço sob consulta - Carla Amorim

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PARIS

Loewe Zuhair Murad Christian Dior

Valentino

Louis Vuitton

Chloé Paco Rabanne Givenchy

Resíduos de épocas, colagem de elementos, viagens est ticas cono rafias Ruídos e rumores indicam que a nova identidade não vem do espelho, está nas ruas. Encontre-a. Não é mais sobre você, é sobre o outro. O processo semelhante ao de p rifica o ro pa agora é sobre evolução e não revolução. Transformação (PS)

Balmain Chanel

SPONTANEOUS

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LUZ Ora, ora... há quem esteja com saudade de um brilho. O que vai para a festa, o que acende um pedaço do look. O que simplesmente energiza a alma. Sim, por que se poupar de algo que lhe faz bem. Não há de haver excesso. Pois o brilho não precisa do exa ero para resplandecer final em resiste à luz. Be glow e ilumine caminhos (PS)

Gucci

Balenciaga - preço sob consulta

SHINE ON Balenciaga - preço sob consulta

Oscar de La Renta para Farfetch - R$ 27.208 Carolina Herrera preço sob consulta Dior - R$ 6.800

Balmain preço sob consulta

Louis Vuitton Chanel - preço sob consulta

Dior - R$ 8.600

Miu Miu - R$ 4.550

Miu Miu - preço sob consulta Giuseppe Zanotti preço sob consulta

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MILÃO

Prada

HABILIDADE DO FUTURO

Gucci

Miu Miu

Fendi

Silhuetas abreviadas, despojamento do excesso. Uma nova estética que se direciona para a geração que surge remodelada, modulada. Fendas que se tornam caminhos para outras dimensões. E o corredor de sombras se abre para o otimismo nascente. Há o contraste. Ele é feroz. Real, necessário, pois a inteligência se reveste de sobriedade para criar as próximas conexões (PS)

Red Valentino

Versace

Emilio Pucci

TOD’S Salvatore Ferragamo

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Prada - preço sob consulta

O SAL DA TERRA

RAIZ

Dior - R$36.500

Chanel

A cronologia da moda nos mostra que cores estratégicas são elencadas diante de situações vulneráveis provocadas por adventos coletivos. Pode parecer apocalíptico, mas em pragas ou guerras a introspecção prevalece no contexto universal. O marrom dá esse depoimento. Vem do solo, tem raiz. É denso e profundo. A cor da madeira. Da fortaleza. Tem a necessária energia vital para o presente, o agora. (PS)

Dior - R$ 3.830

Chloé - R$ 15.400

Bottega Veneta - preço sob consulta Yves Saint Laurent preço sob consulta

Balmain - R$ 15.200

Dolce & Gabbana R$ 16.500

Fendi - R$ 14.091 Chloé saia R$ 22.700

Fendi

Miu Miu - R$ 15.500

Burberry R$ 4.880

Louis Vuitton R$ 21.500

Gianvito Rossi para Farfetch - R$ 7.657 Dolce & Gabbana preço sob consulta

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CROMO

Gucci - R$ 5.830

Martha Medeiros - R$ 2.750

Dolce&Gabbana - R$ 15.500 Gentle Monster - R$ 3.435

Salvatore Ferragamo R$ 3.591 Prada - R$ 20.500

Louis Vuitton R$14.300

IMPACTO FLORESTAL

Quando os contrastes se encontram e se harmonizam. A exuberância com calmaria. Que resultado maior a cor da natureza poderia trazer ao fashionismo. Saúde, vitalidade. Essência, efervescência. Na cromoterapia, bem-estar tão almejado está instalado nas nuances desta cor e nem sempre desfila mas sabe bem como estrear Dior quando surge sob holofotes. Excepcionalmente agora, onde corpo, mente e alma precisam estar alinhados, em equilíbrio para que a vida e toda a sua beleza façam sentido. Use verde. (PS) Bottega Veneta preço sob consulta

Salvatore Ferragamo R$ 5.090 Fendi - preço sob consulta

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Ulyana Sergeenko

LUXURY

Elie Saab Fendi Couture

Christian Dior

Chanel

A ELEGÂNCIA DA REALIDADE

Rahul Mishra

A roupa tem vida noturna. Fetiche, inocência, feminilidade. Mulheres melindrosas, volumes angulares. Drama. O renascimento criativo ainda se faz distante. A exuberância pode não fazer muito sentido neste momento. Mas a emoção e o desejo do movimento resistem, persistem. O romântico intrínseco em sua forma nua, crua, tem sentido. O mundo precisa sair para o mundo novamente (PS)

Valentino Couture

Azarro

Schiaparelli

Giambattista Valli

Giorgio Armani Privé

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ÚLTIMO SUSPIRO

Livro Her Dior – La Vision de Maria Grazia Chiuri, envolto pela camiseta We Should All Be Feminists, celebra 33 mulheres fotógrafas e seus diálogos artísticos

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Livro Hotel du-Cap-Eden-Roc – A Timeless Legend on the French Riviera conta a história dos 150 anos da Grande Dama em 312 páginas, contendo relatos de Picasso, Monet, Hemingway e Scott Fitzgerald

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ANO 9 « Nº 29 « 2021

RALFE BRAGA, BETTY BETTIOL E PAULINO AVERSA FAZEM ARTE POR TODA A PARTE

# 29 / 2021

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BRASÍLIA (061) A CONEXÃO COM A ESPERANÇA

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