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GIRO LÁCTEO

GIRO LÁCTEO

Governo do RJ

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Um dos estados brasileiros que reúnem tradicionais criatórios da raça Girolando, o Rio de Janeiro poderá contar em breve com uma parceria para garantir o avanço genético do seu rebanho. O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Odilon de Rezende Barbosa Filho, esteve reunido no dia 14 de julho com o secretário de Agricultura e Pecuária do Rio de Janeiro, Marcelo Queiroz, para alinhar uma parceria entre as duas partes. O objetivo é desenvolver ações voltadas para o melhoramento genético do rebanho local, utilizando, para isso, as ferramentas de seleção do Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG) e a genética da raça. O encontro contou com as presenças do chefe de gabinete, Nilo Félix, e do representante estadual da Girolando, por Minas Gerais, José Eduardo Junqueira.

Conselho Consultivo

O Conselho Consultivo da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando realizou no dia 23 de julho sua primeira reunião de 2021. Conduzida pelo presidente da Girolando, Odilon de Rezende Barbosa Filho, a reunião ocorreu de forma virtual, com a presença dos conselheiros dos diversos estados brasileiros. Foram apresentadas as ações realizadas pela entidade no primeiro semestre, dentre elas o Encontro Virtual da Raça Girolando, que aconteceu de 13 a 15 de julho. rintendente Técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Leandro Paiva, reuniu-se com a diretoria da Sociedade Rural de Montes Claros para explicar como funciona a oficialização de exposições ranqueadas, de torneios Leiteiros e de feiras do Pró-Genética e Pró-Fêmeas. Participaram do encontro o presidente da entidade, José Moacyr Guimarães Basso, o diretor financeiro, José Henrique Veloso, o diretor de leilões, Osvaldo Miranda Júnior, o segundo diretor tesoureiro, Durval Júnior, o secretário, Dirceu Colares, e a gestora de Marketing de Negócios, Mariah Carvalho.

Os participantes elogiaram o evento e a plataforma virtual inovadora. Por ano, o Conselho Consultivo se reúne duas vezes, conforme prevê o estatuto da entidade.

Grupo de Inteligência

Em busca de novas oportunidades para o agronegócio de Uberaba/MG, foi criado o Grupo de Inteligência Setorial do Agronegócio de Uberaba (GIS-AGRO). A Associação Brasileira dos Criadores de Girolando é uma das entidades integrantes. O GIS-AGRO é voltado para as instituições e empresas que fazem parte do Parque Tecnológico de Uberaba e tem como objetivo compartilhar ideias entre as instituições/empresas, construir projetos e buscar novas oportunidades, além de promover a integração do agronegócio com os setores de Tecnologia da Informação e Ensino Acadêmico. Segundo o superintendente Técnico da Girolando, essa é uma excelente forma da Associação buscar novas parcerias e oportunidades, além de trocar ideias com outras instituições e empresas, o que pode contribuir para projetos futuros envolvendo a raça. O grupo é liderado pelo coordenador Técnico da ABCGIL, Carlos Henrique Cavallari Machado.

Expomontes 2022

Maior evento do agronegócio do norte de Minas Gerais, a Exposição Agropecuária de Montes Claros (Expomontes) deve contar com a participação da raça Girolando em 2022. A expectativa da Sociedade Rural de Montes Claros, organizadora do evento, é ter na programação oficial o julgamento da raça. A Expomontes é realizada anualmente em julho. O supe-

por Miriam Borges

Núcleo MS

O Núcleo dos Criadores de Girolando do MS está comemorando 20 anos de existência em 2021. O Núcleo foi fundado em 3 de setembro de 2000 e desde então vem atuando no fomento da raça no estado do Mato Grosso do Sul. Agora, a entidade conta com uma nova diretoria para o biênio 2021/2022, que tem como presidente Thiago Barros Xavier. Os demais membros da Diretoria Executiva e Conselhos são: Vice-Presidente: Fernanda Barbura Arantes Ribeiro; Primeiro Secretário: Thiago Nogueira Lemos; Segundo Secretário: Emeline Josino Leonardi; Primeiro Tesoureiro: Renato Prado Medrado; Segundo Tesoureiro: José Roberto Cardoso Ferreira; Diretor de Marketing: Carlos Henrique Carvalho de Oliveira; Conselho Fiscal: Ednaldo Alves da Silva, Reinaldo Vilela de Moura Leite, Paulo Cesar Doninho Pelegrinni; Suplentes Conselho Fiscal: Fernando Augusto Taveira Sandim, Dirceu Bettoni, Alessandro Oliva Coelho.

LANÇAMENTOS E INOVAÇÕES

Embaré no ranking ABRALEITE 2020

A Embaré alcançou a 4ª posição no 24º ranking das maiores empresas de laticínios do Brasil, divulgado no mês de junho pela Associação Brasileira de Produtores de Leite (ABRALEITE). A pesquisa avaliou, em 2020, o volume de captação formal de 12 empresas do segmento. No último ano, o volume total de captação agregado das empresas foi 4,2% superior em relação à 2019, aumentando de 7,2 bilhões de litros por ano para 7,4 bilhões de litros por ano. Este crescimento é maior do que o observado na captação de leite formal apresentado pelo IBGE, que foi de 2,1%, em relação à 2019.

Embaré amplia parcerias

De acordo com os resultados, a Embaré se destacou quanto ao número total de produtores parceiros, que aumentou 21,9% no último ano, e ao volume de compra de leite de terceiros, que atingiu 314,3 milhões de litros captados. “A Embaré tem uma forte ligação com os produtores rurais e cooperativas, e essa relação de colaboração e confiança mútua tem contribuído para o crescimento e reconhecimento da companhia como uma das maiores indústrias de lacticínios do país. A qualidade que entregamos começa no campo, com o trabalho competente e incansável desse time. Mesmo em um cenário de pandemia, toda a equipe está se empenhando para entregar o leite melhor touro da raça Girolando 5/8.

puro do campo e garantir que produtos de alta qualidade, sabor e nutrição cheguem a milhares de famílias em todo Brasil.”, destaca Yago Sartori, Gerente de Captação e Fomento da Embaré.

Programa Qualidade do Leite

A área de Ruminantes da DSM, detentora da marca Tortuga® de suplementos nutricionais para bovinos, anuncia uma novidade. O Programa Qualidade do Leite Começa Aqui!, da empresa, acaba de firmar parceria com a OnFarm com foco na melhora da qualidade do leite e dos resultados produtivos nas fazendas. Com a nova parceria, os primeiros colocados da etapa nacional do programa, além de serem premiados com uma tonelada de Bovigold Crina RumiStar, também serão reconhecidos com o SmartLab da startup. A partir da tecnologia da OnFarm, os produtores podem identificar o agente causador da mastite em pouquíssimo tempo (apenas 24 horas), favorecendo a agilidade na tomada de decisões para combate a essa enfermidade que reduz os ganhos produtivos nas propriedades de leite. Neste ano, o Programa Qualidade do Leite Começa Aqui! completa dez edições. Do portfólio da Tortuga®, destaque para a linha Bovigold®, que tem produtos que combinam os aditivos Crina® e RumiStarTM aos Minerais Tortuga que, juntos, promovem maior produção das vacas (até as que já têm alto desempenho).

Touros destaque

A Alta Genetics comemora o bom desempenho de seus touros no Sumário 2021. Dentre eles está Elo Supersire FIV Kub. O resultado demonstra que o animal obteve avaliação genômica muito alta, além de valor genético bastante expressivo, o que o transformou no melhor touro provado desse teste de progênie. Já o touro Guerreiro Máxima, filho de Elo Supersire FIV Kub, foi eleito o

Nova loja on-line

A CRV Lagoa lançou sua nova loja on-line para a comercialização de sêmen bovino, botijões, descongeladores de sêmen, aplicadores, luvas, aventais e outros equipamentos necessários para a atividade de inseminação. O novo ambiente foi pensado para oferecer aos clientes uma experiência de compra inovadora em um espaço mais moderno e intuitivo, sem deixar de lado a segurança e a acessibilidade. A loja on-line já está disponível e pode ser acessada por meio do endereço https://loja.crvbrasil.com.br/. A loja on-line da unidade brasileira é a primeira do grupo CRV em todo o mundo. A busca por touros pode ser feita por aptidão (leite ou corte) e por raça. A loja oferece diversas opções da bateria de touros da empresa, selecionadas de forma criteriosa. Contempla animais em destaque e os mais vendidos da marca.

Antidiarreico

O Cursotrat® é um antidiarreico inovador de ação 2x1 que elimina os microrganismos e aumenta a resistência do organismo. Produto da linha da UCBVET Saúde Animal, ele promove alta eficácia no tratamento de diarreias de origem infecciosas dos animais.

ENTREVISTA

por Larissa Vieira

Girolando

João Durr

Como os Estados Unidos atingiram sucesso na pecuária leiteira?

Quem responde essa pergunta é João Durr, um brasileiro que conhece a fundo o assunto e já atuou na Europa, Canadá, Brasil e, atualmente, é o diretor presidente do CDCB (Council on Dairy Cattle Breeding).

Nesta entrevista exclusiva para a revista Girolando, ele explica como funciona o CDCB, instituição sem fins lucrativos formada pela cooperação de quatro setores envolvidos na pecuária leiteira nos Estados Unidos; fala sobre os trabalhos na área de genômica, controle leiteiro e por que a pecuária daquele país é referência mundial em melhoramento genético do Holandês. Confira:

Quais os principais desafios para a evolução de um programa de melhoramento genético?

Como em qualquer atividade, o ponto de partida de um programa de melhoramento genético é decidir aonde se quer chegar. A palavra “melhoramento” refere-se a objetivos de seleção que se estabelece. Por exemplo, o objetivo de seleção promovido pelo CDCB em parceria com o USDA [Departamento de Agricultura Americano] para as raças leiteiras norte-americanas é maximizar a lucratividade vitalícia das vacas. Para tal, publicamos o índice vitalício de mérito líquido (Lifetime Net Merit) que promove a seleção balanceada de todas as características de importância econômica disponíveis. Em outras palavras, a vaca leiteira mais lucrativa não é apenas a que dá mais leite, mas aquela que se mantém saudável e longeva, produz bezerros todo ano, processa alimentos de forma eficiente e produz o leite com a composição que supre as necessidades da indústria de laticínios. Uma vez que se sabe o que quer, pode-se estruturar o programa de melhoramento em torno do objetivo escolhido. E essa estruturação depende fundamentalmente dos registros de desempenho individuais coletados de forma acurada e consistente. Só é possível selecionar se tiver uma base de dados representativa da população. Mesmo na era genômica o bem mais valioso num programa de melhoramento é a informa-

Girolando

João Durr

ção fenotípica.

Como o CDCB atua nos Estados Unidos e como o produtor rural beneficia-se desse trabalho?

O CDCB é uma instituição sem fins lucrativos formada pela cooperação de quatro setores envolvidos na pecuária leiteira nos Estados Unidos: as associações de controle leiteiro, os centros de processamento de dados leiteiros, as associações de raça e as empresas de inseminação artificial. O CDCB mantém a base de dados leiteiros nacional, composta por dados genealógicos, registros de desempenho e eventos, e dados genômicos dos animais genotipados. A partir dessa base de dados se realiza pesquisa de ponta liderada pelos pesquisadores do USDA e são prestados os serviços de avaliação genética de todas as raças leiteiras realizados pelo CDCB. A estrutura é mantida com taxas de serviço cobradas por animal recebendo avaliação genômica e eventuais excedentes arrecadados são investidos em pesquisa e inovação. Hoje em dia bezerras nascidas são imediatamente genotipadas em um número crescente de rebanhos, e com base nos resultados do CDCB os produtores decidem se a fêmea será inseminada com os melhores touros genômicos para gerar a próxima geração de vacas do rebanho, se será inseminada com um touro de corte para suprir machos para o abate ou se será descartada imediatamente para minimi-

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João Durr

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João Durr

zar custos. Ou seja, as avaliações genômicas do CDCB além de ser a base para o programa de melhoramento de touros de inseminação artificial, se tornaram uma ferramenta de manejo diário nos rebanhos leiteiros.

Quais estratégias para captação de fenótipos têm sido adotadas pelo CDCB para a inclusão de mais informações nas avaliações?

A principal estratégia de captação de fenótipos segue sendo as associações de controle leiteiro. Não existe milagre. Os dados têm que ser coletados de forma consistente e essa estrutura requer muito trabalho e comprometimento de parte dos produtores. No Brasil ainda falta essa consciência em muitas regiões e o motivo é simples: muita gente pensa que os produtores têm que fazer controle leiteiro para poderem selecionar touros e vacas. Esse não pode ser o objetivo do programa, pois não apresenta nenhum benefício imediato aos produtores que estão investindo na coleta de dados. A grande razão para o controle de desempenho é a profissionalização do manejo diário do rebanho. Não há como planejar e administrar qualquer atividade econômica sem informações sobre inventário, custos, vendas, produtividade, projeções, estoques e tudo mais que afete o negócio. O produtor tem que basear suas decisões em dados concretos e isso tem de vir do programa de controle leiteiro. Uma vez que os dados são coletados regularmente e o produtor faz uso desses dados na sua função de gestor, um benefício adicional vem da disponibilização desses dados para uma base centralizada de todos os rebanhos que irá viabilizar programas de melhoramento genético.

Essa coleta de dados inclui informações que são mais caras e difíceis de mensurar em um rebanho leiteiro, como consumo alimentar?

Sim. Além dos dados tradicionais provenientes do controle leiteiro, o CDCB também investe na coleta de dados em características alternativas, que demandam uma estrutura especial para serem coletados. A tecnologia genômica nos possibilita fazer previsões confiáveis para a população como um todo, baseados no monitoramento de um número limitado de animais. O melhor exemplo é a eficiência alimentar, cuja coleta de dados é realizada em rebanhos experimentais de universidades e do USDA, onde equipamentos capazes de medir consumo individual de matéria seca de forma precisa são instalados, além do controle regular de peso corporal, produção e composição do leite, e composição da dieta. Esse tipo de informação possui um grande valor para a pecuária leiteira, mas sua obtenção em rebanhos comer-

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ciais é praticamente inviável. Por isso, o CDCB investe diretamente na coleta de dados.

E, em relação aos dados qualitativos do leite, como proteína e gordura, e também à contagem de células somáticas, como essas informações têm sido trabalhadas dentro da raça e qual o seu impacto no melhoramento genético do rebanho? Há uma boa adesão dos produtores na coleta dessas análises?

Como eu já mencionei, o controle leiteiro é a ferramenta de manejo mais importante em uma fazenda leiteira. Esse controle de desempenho inclui a análise periódica da composição do leite e da contagem de células somáticas. Sem esse controle não se pode fazer o ajuste fino da nutrição nem tampouco o manejo racional das mastites subclínicas. Na maioria dos rebanhos americanos realiza-se esse monitoramento. Como o pagamento do leite ao produtor é baseado na produção de sólidos no leite (gordura e proteína) e não no volume de leite fluido, essas duas características recebem o maior peso econômico nos índices de seleção. Eles determinam a receita gerada pela operação e, portanto, devem receber prioridade.

Que outros ganhos a genômica trouxe para o progresso genético do rebanho norte-americano?

Por meio da seleção genômica foi reduzido drasticamente o intervalo entre gerações de animais selecionados e, com isso, a taxa de progresso genético aumentou significativamente. Assim é possível melhorar o mérito genético de um rebanho ou da população como um todo em poucas gerações de seleção. Quando associada a tecnologias reprodutivas como: transferência de embriões, inseminação in vitro e sexagem de sêmen, a avaliação genômica acarreta um progresso genético sem precedentes na história da produção animal.

O Sumário de Touros e Vacas Girolando de 2021 está trazendo pela primeira vez a PTA para Longevidade. Na raça Holandesa, como essa característica vem sendo trabalhada e quais os resultados já alcançados?

O CDCB trabalha com Vida Produtiva, que na verdade é a combinação das observações diretas da longevidade da vaca com características correlacionadas que permitem que previsões sejam feitas em animais jovens que ainda não tiveram a oportunidade de demostrar a característica. Vida Produtiva é uma das características com maior valor econômico nos índices de seleção publicados pelo CDCB, e receberá ainda mais ênfase a partir de agosto de 2021. Graças à inclusão dessa característica, que é altamente correlacionada à eficiência reprodutiva, foi possível reverter uma tendência

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João Durr

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João Durr

negativa na performance reprodutiva da raça Holandesa.

Em relação às tendências mundiais de mercado, a produção sustentável é um ponto importante para atender as exigências dos consumidores?

Sim, essa é a nova fronteira do melhoramento. Até recentemente tinha-se uma visão quase exclusivamente focada nos desafios que a pecuária leiteira enfrenta dentro da fazenda. Aumentar a produção, melhorar o desempenho reprodutivo, prolongar a vida produtiva, reduzir os problemas de parto etc. Hoje estamos cientes das demandas do mercado consumidor que priorizam o bem-estar animal e a sustentabilidade. Por isso, o CDCB e outros centros de avaliação genética em diferentes países têm investido pesado em avaliações genômicas para resistência a doenças, eficiência alimentar, redução das emissões de carbono, resistência ao calor e muitas outras características funcionais. Muitas delas já são publicadas regularmente.

Como tem sido sua trajetória na pecuária leiteira, tanto com relação à experiência no Brasil quanto nos Estados Unidos?

Eu me formei em agronomia na UFRGS [Universidade Federal do Rio Grande do Sul], em Porto Alegre, e fui direto para Montreal, Canadá, fazer meus estudos de mestrado e doutorado em melhoramento animal na Universidade McGill. Como Quebec é a mais tradicional província leiteira do Canadá, me especializei em genética de gado de leite trabalhando com dados do controle leiteiro oficial. De volta ao Brasil fui contratado com professor na UPF [Universidade de Passo Fundo] e voltei minha atenção no sentido de desenvolver um programa de controle leiteiro e de qualidade do leite para o Rio Grande do Sul nos moldes da experiência norte-americana. Foi um período de muito aprendizado pela intensa interação com as cooperativas de produtores e as indústrias de laticínios. Quando começamos a trabalhar no Serviço de Análise de Rebanhos Leiteiros da UPF, o primeiro desafio foi introduzir a contagem de células somáticas como ferramenta de manejo. Como era o primeiro laboratório na região, o teste era desconhecido até mesmo dos técnicos e extensionistas. Isso nos proporcionou a oportunidade de investir em formação de recursos humanos em todos os níveis e ampliou rapidamente a adoção da tecnologia. A questão da baixa qualidade do leite processado no Brasil também motivou a formação da RBQL [Rede Brasileira de Laboratórios de Análise da Qualidade do Leite] para servir de suporte a uma legislação mais moderna, implementada pelo Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento]. No mesmo momento surgiu o CBQL [Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite], criado para servir como um fórum acadêmico que facilitasse a divulgação de conceitos técnicos sobre mastite e qualidade do leite entre os vários elos da cadeia produtiva. E se avançou muito naqueles anos, mesmo que às vezes sejamos tentados a enxergar mais o que ainda precisa mudar.

Depois de onze anos em Passo Fundo fui convidado a dirigir o Centro Interbull, na Suécia, que congrega 35 países num esforço de padronizar e validar avaliações genéticas nacionais das raças leiteiras, prestando serviço fundamental a um setor que é altamente globalizado, como o da genética leiteira. Minha chegada ao Interbull coincidiu com o início da revolução genômica, constituindo-se num privilégio, para mim, estar no centro das discussões mundiais sobre essa tecnologia que veio transformar profundamente a pecuária leiteira e as outras cadeias de produção animal. Após seis anos de Escandinávia fui desafiado a liderar a transição das avaliações genéticas americanas do setor público para o setor privado, e assim estruturar o CDCB na forma como hoje atua.

Em sua opinião, quais os pontos fortes da seleção genética leiteira dos Estados Unidos?

Os Estados Unidos seguem sendo a pecuária leiteira mais avançada do mundo e vêm se reinventando rapidamente na última década, em função de uma série de fatores. Observa-se uma forte tendência de concentração e consolidação em vários elos do setor produtivo e os próprios rebanhos estão aumentando de tamanho numa proporção nunca concebida antes. A automação de rebanhos grandes é diferente do que ocorre na Europa, por exemplo, mas certamente está avançando rapidamente e gerando uma quantidade de dados que ainda estamos aprendendo a interpretar. A pecuária leiteira de precisão veio para ficar, ainda que não estejamos no patamar já alcançado pela produção vegetal. Finalmente não posso deixar de mencionar o aumento significativo do cruzamento entre raças leiteiras nos Estados Unidos, motivado pelas tendências de mercado. O conhecimento genômico também abriu fronteiras nessa área em que a comunidade Girolando tem muito a nos ensinar.

O acesso à informação hoje está muito facilitado, mas a quantidade e a qualidade dos materiais são um desafio para quem deseja se manter atualizado. Meu melhor conselho é definir rígidos critérios para a seleção de fontes confiáveis e se manter fiel a elas. E podem incluir o CDCB nessa lista, pois nosso compromisso é trabalhar para o benefício do produtor de leite de forma transparente, independente e baseados no mais avançado conhecimento científico disponível.

Girolando

João Durr

MATÉRIA DE CAPA

Larissa Vieira

Vida produtiva longa e lucrativa

A longevidade na raça Girolando agora conta com um índice no Sumário de Touro

O Sumário de Touros Girolando 2021 inova e traz Índice de Longevidade, permitindo ao criador adotar uma estratégia de seleção capaz de melhorar a eficiência do uso de recursos disponíveis para produzir leite com sustentabilidade

Descarte de vacas de rebanho leiteiro não pode ser, em geral, uma decisão baseada em apenas um ponto. Vários fatores precisam ser considerados pelo produtor para garantir que a escolha foi certeira, pois terá reflexo em outra característica que vem sendo perseguida pelas principais raças leiteiras. A longevidade está ligada não só ao desempenho econômico das fazendas, mas também à sustentabilidade da cadeia produtiva e ao bem-estar animal. Ter vacas longevas significa que o criador soube combinar bem vários aspectos diferentes durante a vida útil do animal.

A raça Girolando dá um passo importante nessa direção, com o lançamento do ILG (Índice de Longevidade), publicado pela primeira vez no Sumário de Touros da Raça. Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinícius Barbosa da Silva, trata-se de uma característica influenciada por diferentes fatores ligados ao ambiente, como: alimentação adequada, cuidados veterinários, disponibilidade de novilhas, custo de recria, entre outros. Mas também está relacionada a fatores genéticos. “Com esse novo índice, será possível selecionar touro cujas filhas tenham maior taxa de permanência no rebanho, o que pode reduzir os gastos com a recria e aumentar os lucros da atividade. Quando a longevidade é aumentada, abre-se a oportunidade para o maior descarte de vacas menos produtivas, gerando impacto positivo na lucratividade da atividade leiteira, em virtude da redução dos custos de reposição e do aumento da produtividade por animal, que é obtido em sua maturidade”, explica o pesquisador.

Na composição do ILG entraram algumas das diferentes medidas de longevidade associadas à vida produtiva dos animais e sua disponibilidade de informações no banco de dados da Girolando. As medidas escolhidas foram: produção total de leite em todas as lactações; número total de dias durante todas as lactações; e número de lactações completas da vaca. A pós-doutora Darlene Daltro, responsável pelo desenvolvimento do ILG, esclarece que a seleção de vacas longevas deve levar em conta vários fatores. “Para estabelecer essas três medidas que compõem o índice, desenvolvemos estudos relativos aos efeitos fixos influenciados pela longevidade, estimativa dos parâmetros genéticos e do valor genético dos animais e o tipo de modelo que seria usado. A partir dos resultados obtidos, foram feitas análises tradicionais genômicas para definir a herdabilidade para cada medida de longevidade, já que cada uma tem sua peculiaridade”, explica Darlene.

Segundo a pesquisadora, o ILG permite classificar os animais de acor-

Líder do Sumário de Vacas, Máxima Harmonia FIV da Prata, ilustra a capa desta edição da revista

do com sua habilidade para transmitir um balanço das três características que o compõem, possibilitando futuramente alterar o desempenho médio da população.

Além dos ganhos em rentabilidade, maior produção média de leite e melhor proporção de vacas adultas no rebanho, a longevidade traz impactos na fertilidade. Trabalhos científicos mostram que vacas mais longevas apresentam menor intervalo entre partos, menos problemas de parto e menor CCS (Contagem de Células Somáticas). “O aumento da longevidade de três para quatro lactações permite acréscimo no rendimento médio de leite por lactação e a elevação dos lucros, por ano, entre 11 a 13%”, diz a pesquisadora.

De acordo com o pesquisador Marcos Vinícius, o melhoramento genético da longevidade está diretamente ligado à capacidade da vaca em produzir um bezerro por ano sem assistência, de ciclar normalmente apresentando cios visíveis regularmente, com alta taxa de concepção e manutenção da condição corporal. “Um animal longevo também deve ser resistente às desordens metabólicas e mastite, apresentando altas produções de leite de qualidade. As vacas que falham em apresentar uma dessas características, em geral são descartadas prematuramente e causam prejuízos aos criadores, com gastos na cria, recria e tratamentos”, esclarece.

Longevidade na prática

O novo índice foi bem recebido pelos criadores que veem nessa característica uma possibilidade de tornar o sistema mais eficiente. “O índice trará impacto positivo importante na seleção da raça, pois é uma forma de, a cada ano, com a vaca persistindo no rebanho, mostrar sua capacidade produtiva e reprodutiva. No nosso rebanho, temos conseguido selecionar animais longevos, que apresentam uma grande capacidade de produção e agora vêm persistindo e transmitindo isso para seus filhos, tanto nas progênies de macho quanto de fêmeas”, assegura o criador Rogério Corrêa, da 2R Jataí, no município de Jataí/GO.

Segundo o criador, as avaliações da raça Girolando têm melhorado muito nos últimos anos e, com a incorporação desse novo índice, tendem a melhorar cada vez mais. O criatório 2R Jataí tem em seu plantel a vaca líder para produção de leite do Sumário de Vacas 2021. Nascida em 2008, a vaca Girolando, Máxima Harmonia FIV da Prata JAC, está na liderança das top 1.000 pelo quinto ano consecutivo. “Ela é recordista em lactações e tem PTA de 3.017kg, bem acima das outras primeiras colocadas. Vem de uma família muito importante e está passando essa genética para as progênies. Tem três filhas entre as top 15 do Sumário, uma filha entre as dez primeiras top jovens, com idade inferior a 24 meses, e dois filhos PS liderando o Teste de Progênie”, diz Corrêa. Máxima é a vaca que

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