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Os riscos da desidratação de bovinos

Oferta de água precisa ser adequada para evitar a desidratação em bovinos

SANIDADE

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Depto. Marketing UCBVET

O Brasil é o segundo país com o maior rebanho de bovinos do mundo e para o sucesso deste segmento é imprescindível que as perdas econômicas sejam mínimas. As altas taxas de morbidade e mortalidade na criação de bezerros são um fator que impacta negativamente a lucratividade do produtor. Este impacto negativo se deve principalmente à elevada susceptibilidade dos neonatos a contrair infecções 9 .

Grande parte do corpo animal é constituída por líquido, sendo que cerca de 60% do peso corporal dos bezerros é composto por água e eletrólitos. Existem diversos fatores e afecções que podem ocasionar desequilíbrio nestes líquidos corpóreos, o que acaba levando à desidratação 2 .

Os animais desidratados perdem água e eletrólitos, como bicarbonato, sódio, potássio e cloro⁷. Tais componentes são essenciais ao organismo, portanto, manter o equilíbrio hidroeletrolítico é fundamental para a sobrevivência e qualidade de vida dos animais 2 .

Além disso, na desidratação o volume sanguíneo do animal também diminui, pois o sangue é composto em sua maior parte por líquido; sendo assim, a reposição de fluidos tem o objetivo de restaurar a volemia, hidratar os tecidos corpóreos que perderam líquido, corrigir o desequilíbrio hidroeletrolítico e restabelecer as funções dos órgãos 2 .

São vários os fatores e doenças que podem levar à desidratação, deste modo, devem ser observados alguns pontos desde o nascimento do bezerro para que não haja condições suscetíveis aos desequilíbrios hidroeletrolíticos. Colostragem inadequada, estresse térmico, oferecimento inadequado de água, ambiente infestado por carrapatos e protozoários são alguns exemplos1, 9, 13.

O fornecimento de colostro é um ponto muito importante e pode impactar diretamente na saúde do bezerro. O colostro deve ser fornecido o mais rápido possível e em quantidades adequadas, proporcionando imunidade através dos anticorpos presentes nele e auxiliando no combate das causas infecciosas que levam à desidratação9.

Condições extremas de temperatura vão interferir no comportamento de ingestão de água dos animais, ainda mais quando estes fatores estão relacionados à estrutura local inadequada. 1, 13. Deve-se estar atento também à quantidade e localização dos bebedouros. 1, 13.

Além disso, um dos grandes fatores relacionados à desidratação são as diarreias neonatais, ocasionadas por distúrbios gastrointestinais infecciosos ou não infecciosos, podendo apresentar uma taxa de perda de líquidos entre quatro a sete litros diários1, 9, 13.

Os sinais de desidratação variam conforme o tipo de enfermidade que a provoca e também pelo seu grau de intensidade na alteração hidroeletrolítica no organismo do animal, podendo ser classificada em leve, moderada e severa. Além da perda de água e eletrólitos há também a perda de alguns nutrientes, como ácidos graxos, gordura e proteínas, que intensificam ainda mais no processo de desidratação2, 4.

Os desequilíbrios hidroeletrolíticos podem resultar em perda de peso, diminuição na produção de urina, taquicardia, apatia, perda na elasticidade da pele, olhos profundos, ressecamento e palidez das mucosas e diminuição da temperatura nas extremidades do corpo, sendo que estes sinais podem variar conforme a classificação da desidratação. Em casos onde há perdas hídricas menores que 5% do peso do animal, o bezerro não manifesta sinais clínicos aparentes, principalmente quando há somente perda de água e não de eletrólitos2 .

Para definir o diagnóstico da desidratação diversos fatores devem ser levados em consideração, começando pela infraestrutura do local e se esta apresenta predisponibilidade para o aparecimento dos aspectos que podem levar à desidratação, como: restrição de água, estresse térmico e falta de higiene1, 5.

Bezerros merecem cuidado redobrado com a oferta de dieta líquida para evitar a desidratação

Além disso, a realização de uma boa análise do local e do rebanho, somada aos sinais clínicos apresentados pelos animais é um ponto de extrema relevância na definição da causa primária da desidratação1, 5. Alguns exames complementares também podem ser realizados a fim de diagnosticar a desidratação5.

Outro ponto importante para o diagnóstico da desidratação é o teste de turgor cutâneo, que apontará a quantidade de líquido presente na pele. Este será avaliado através do pregueamento da pele, observando o tempo de retorno à posição inicial; quanto maior o tempo, menor a quantidade de líquido presente, indicando o nível de desidratação5.

A desidratação é ocasionada por diversos fatores/doenças. Deste modo, deve-se identificar a causa primária e tratá-la corretamente. No entanto, restabelecer o equilíbrio hidroeletrolítico no intuito de reverter o quadro de desidratação, é indispensável para a total recuperação do bezerro8, 11.

Neste sentido, como a fluidoterapia tem por objetivo corrigir os desequilíbrios hidroeletrolíticos, ela será a terapia de escolha para os diversos quadros de desidratação. Existem três modalidades para administrá-la: oral, enteral e parenteral11 .

Em bezerros leve ou moderadamente desidratados indica-se o uso de soro hidratante oral, capaz de repor os líquidos e eletrólitos perdidos e, além disso, fornecer uma fonte de energia de rápida absorção, acelerando a recuperação do bezerro.

A hidratação por via oral é uma prática rápida, fácil e eficaz e deve ser utilizada nos pacientes que ainda conseguem sugar ativamente, possibilitando que a solução seja deglutida diretamente para dentro do abomaso. Nos casos de bezerros com sucção lenta, o hidratante oral deve ser administrado via sonda (modalidade enteral), para garantir que o medicamento seja absorvido de forma adequada3,11 .

Em casos severos de desidratação, em que o animal se encontra muito debilitado, pois já perdeu mais de 10% do seu peso corporal, as hidratações oral e enteral tornam-se ineficazes, sendo ideal a terapia intravenosa. Essa via permite a infusão contínua da solução e uma rápida expansão da volemia, promovendo efeitos imediatos e tornando seu uso obrigatório em desidratações severas3, 9, 11 .

A diarreia é o fator que mais ocasiona a desidratação; por isso, é importante ressaltar alguns medicamentos que podem auxiliar no tratamento. Em casos em que o bezerro manifesta febre e sinais de dor, indica-se administrar megluminato de flunixina. Além disso, a fim de combater o curso da diarréia, deve-se fazer uso de antimicrobianos 4,10.

Por fim, é de suma importância ressaltar que o Médico Veterinário é o único profissional capaz de prescrever um tratamento eficaz. Sendo assim, é necessário sempre acioná-lo para realização de um exame detalhado e instituição do tratamento, levando-se em consideração a dosagem e duração do tratamento.

Referências

1. BENEDETTI, E. Água na nutrição de ruminantes. Curso de Pós-graduação “lato sensu” em Nutrição e Alimentação de Ruminantes das Faculdades Associadas de Uberaba, 2007.

2. DEARO, A. C. O. Fluidoterapia em grandes animais. Parte I: água corpórea, indicações e tipos de fluidos. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, São Paulo, v. 4, n. 2, p 3-8, 2001.

3. DEARO, A. C. O.; REICHMANN. P. Fluidoterapia em grandes animais. Parte II. Quantidade e vias de administração. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV- SP, São Paulo, v.4, n. 3, p 3-11, 2001.

4. FACURY FILHO, E. J., et al.. Diarreias em bezerras: Causas e consequências. 2013. Disponível em: <Revista Leite Integral - Diarréias em bezerras: Causas e consequências> Acesso em: 30 mar. 2021.

5. FEITOSA, F. L. F. Semiologia Veterinária: a arte do diagnóstico. 3ª edição. São Paulo: Roca; 2014.

6. IBGE. PPM 2014: rebanho bovino alcança 212,3 milhões de cabeças. 2014. Disponível em: <https:// agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/ releases/10086-ppm- 2014-rebanho-bovino-alcanca-212-3-milhoes-de-cabecas> Acesso em: 28 mar. 2021.

7. KASARI, T. A. Metabolic acidosis in diarrheic calves: the importance of alkalinizing agents in therapy.Veterinary clinics of North America: Food Animal Pratice, Philadhelfia, v.6, n. 1, 1990.

8. NAYLOR, Jonathan M.; ZELLO, Gordon A.; ABEYSEKARA, Saman. Advances in oral and intravenous fluid therapy of calves with gastrointestinal disease. WORLD, v. 6, n. 7, 2006.

9. OLIVEIRA, M. C. S. Cuidados com o bezerro recém-nascido em rebanhos leiteiros. Embrapa Pecuária Sudeste-Circular Técnica (INFOTECA-E), São Carlos. 2012.

10. RECK, M. V. M. Diarreia Neonatal Bovina. 36 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Medicina Veterinária, Porto Alegre, 2009.

11. RIBEIRO FILHO, J. D. et al.. Hidratação em ruminantes adultos e neonatos: abordagem prática e objetiva. Revista brasileira de buiatria, clínica médica, v. 1, n. 1, 2021.

12. SMITH, G. W. Treatment of calf diarrhea: oral fluid therapy. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, v. 25, n. 1, p. 55-72, 2009.

13. SOARES, M. C. Diarreia e acidose metabólica em bezerros leiteiros: efeito da composição do concentrado inicial e avaliação de probiótico. Mestrado – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2013.

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