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Silagem de milho de qualidade
Bruno Marinho Mendonça Guimarães, Rafael Santana Ferraz, Alexandre Moreira Equipe Rehagro
NUTRIÇÃO
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Conheça os principais pontos para produzir esse alimento com a qualidade necessária para maximizar o desempenho dos animais
Nos sistemas de produção de leite é reconhecida a relevância dos custos com a alimentação das vacas, geralmente ultrapassando 50% do custo total de produção. Sendo assim, é de grande importância realizar o manejo alimentar corretamente e oferecer alimentos de qualidade para maximizar o desempenho dos animais. Dentre os alimentos que compõem as dietas de vacas leiteiras, frequentemente observamos a silagem de milho como um dos principais componentes. Fazer uma silagem de milho de boa qualidade é fundamental, mas não é uma tarefa simples, pois requer muito planejamento e gerenciamento dos processos.
Uma silagem de boa qualidade possui grande impacto nos custos de produção do leite e no desempenho dos animais. Como exemplo, uma silagem de qualidade pode diminuir a necessidade de grandes suplementações com concentrados energéticos e fornece fibra fisicamente efetiva capaz de estimular a ruminação e a saúde do rúmen. Vale ressaltar que a produção de silagem de boa qualidade começa muito antes do plantio da semente, dependendo também do manejo de fertilidade do solo, do local e época do plantio, do híbrido utilizado e do preparo e ajuste do maquinário necessário.
A escolha da semente deve ser pautada em avaliações técnicas, como a adaptação do híbrido ao clima, altitude e pluviosidade da região, características de sanidade da planta, adequação ao perfil do solo, produção de grãos e de matéria verde, tipo de grão e risco de tombamento da planta. Além disso, o valor estimado em quilo de leite produzido/tonelada de matéria seca (MS) representa um importante parâmetro a ser considerado, sendo um indicador que avalia aspectos de qualidade do híbrido, devido ao fato de considerar, também, a digestibilidade dos componentes (fibra, amido, etc.).
Maquinário utilizado
Atualmente, as opções de máquinas existentes no mercado são as colhedoras tracionadas por trator e as máquinas autopropelidas, sendo que cada uma proporciona diferentes possibilidades e estratégias de corte que devem ser observadas.
Uma das características das máquinas autopropelidas (automotrizes) é o seu maior rendimento de serviço, ou seja, maior quantidade de silagem colhida por hora. Outra vantagem das colhedoras autopropelidas consiste na possibilidade de processamento dos grãos de forma eficiente, mantendo um adequado tamanho de partícula, através dos rolos processadores. A maximização da silagem produzida é obtida com um material de tamanho adequado de fibra e alta disponibilidade de amido. No entanto, existem algumas limitações operacionais para utilização das máquinas autopropelidas em determinados perfis de propriedades. Dentre as limitações operacionais temos a inviabilidade na colheita em áreas de topografia acidentada, capacidade da propriedade em fornecer de forma adequada o fluxo de máquinas, capacidade de descarga e compactação da massa ensilada, dentre outras. Algumas máquinas autopropelidas quando trabalhadas em uma topografia pouco acidentada, por exemplo, são capazes de colher aproximadamente dois hectares de lavoura de milho por hora; por isso há necessidade de ajustar a capacidade de descarga e compactação do material colhido.


Automotriz Fonte: Rehagro Consultoria
Silagens bem processadas podem reduzir custos alimentares, aumentar produção de sólidos do leite, promover a saúde de vacas leiteiras e contribuir para maior competitividade de fazendas produtoras de leite com outros setores do agronegócio. Para cada situação existe um tipo adequado de colheita e de maquinário, sendo que o importante é conciliar bom rendimento, bom processamento e baixo custo da operação.
Colheita
Após o plantio e condução agronômica durante o período de crescimento da planta, chega o momento da colheita. Caso ultrapasse o período ideal de colheita, a planta de milho acumula MS, reduz o teor de fibra em detergente neutro (FDN), aumenta os teores de lignina e tem a sua digestibilidade reduzida. Veja na imagem a seguir onde está representada a relação do estágio de maturidade do milho com os teores de MS, amido e FDN.
Nos estágios iniciais de desenvolvimento a planta de milho possui os grãos pouco preenchidos por amido. Já no estágio de maturidade fisiológica os grãos possuem maior concentração de amido, o teor de MS encontra-se elevado e a planta também aumenta o teor de lignina em suas estruturas, fato que reduz sua digestibilidade por parte das vacas. A relação dos teores de amido, matéria seca e FDN podem variar em função do híbrido de milho utilizado.
Assim sendo, o ponto ideal para a colheita do milho é quando a planta atinge entre 34 e 38% de MS e entre 1/2 e 2/3 do grão preenchido por amido. Nesse ponto o milho apresenta proporcionalmente o maior acúmulo de amido e o menor teor de fibra. Entretanto, esse método tende a variar também de acordo com o híbrido escolhido.
Uma alternativa prática para estimar o teor de MS da planta de milho e determinar a época de colheita é o uso de um forno de micro-ondas. Para isso, são necessários um forno de micro-ondas, uma balança, um prato de vidro, um copo d’água (~250 ml) e uma amostragem de plantas da lavoura bem picadas ou trituradas.
A metodologia consiste em:
1. Pese o prato, anote o seu valor e coloque cerca de 300 gramas de amostra da planta picada nele, alojando-o no interior do forno micro-ondas junto ao copo d’água para evitar o superaquecimento da amostra.
2. Programe o micro-ondas para uma primeira rodada de cinco minutos na potência de 100%. Após esse período, retire o prato, pese-o novamente com a amostra das plantas e anote o valor. Revire o material do prato tomando o cuidado para não perder nada da amostra e renove o copo d’água.
3. Ajuste o tempo para mais três minutos na mesma potência. Retire, pese, anote novamente o valor, revire o material no prato e renove o copo d’água.
4. Continue o processo com intervalos de um minuto de secagem, sempre revirando a amostra até que o peso seja constante por três rodadas consecutivas.
5. Ao final, desconte o peso da amostra seca do peso da amostra úmida, divida pelo peso da amostra úmida e multiplique por 100. O resultado é o teor de umidade, que, quando subtraído de 100, obtém-se a MS.
Durante a colheita, deve-se monitorar no processamento do milho analisando se a quebra dos grãos está sendo eficaz ou não. Um dos métodos mais simples para avaliar o processamento dos grãos da silagem é o teste do balde. Os materiais necessários para realizar esse teste são um balde, água e amostra da silagem processada.
A silagem processada deve ser colocada no balde até a sua metade, completando o restante com água e mexendo todo o material. A parte vegetativa da planta, por ser menos densa, tende a permanecer na superfície, enquanto os grãos, por serem mais densos, afundam na água. Após os grãos decantarem e as folhas estiverem sobre a superfície, deve-se retirar toda a água juntamente com o material vegetativo de modo a deixar no balde somente os grãos. Após a decantação, deve-se avaliar visualmente o grau de processamento dos grãos. A presença de muitos grãos inteiros indica processamento inadequado. Se não houver muitos grãos inteiros, mas sua maioria estiver apenas cortada ou quebrada, então o processamento realizado foi razoável. Já o processamento adequado é obtido quando o material não apresenta grãos inteiros ou parcialmente quebrados.
Outra análise importante realizada no material a ser ensilado é a avaliação de fibra efetiva, feita por meio da peneira de Penn State. Essa ferramenta é composta por três peneiras mais um recipiente de fundo, possuindo a função de separar as partículas do alimento; nesse caso a silagem, em tamanhos pré-determinados (>19 mm, 8–19 mm, 4–8 mm e <4 mm). Sua utilização é essencial, pois duas das principais funções da fibra efetiva dos alimentos são estimular a ruminação e promover a saúde ruminal.
A metodologia de uso da peneira de Penn State consiste em, inicialmente, colocar uma amostra de aproximadamente 200 gramas de silagem sobre a primeira peneira (19mm). Logo após, em uma superfície plana, são realizados 5 movimentos horizontais com todo o jogo de peneiras em uma direção, repetindo este processo em todos os lados por duas vezes, totalizando 40 movimentos. Ao final, deve-se pesar o conteúdo retido do alimento em cada peneira e calcular de forma proporcional em relação à amostra total pesada inicialmente (~ 200 gramas). A proporção de alimento retido em cada peneira encontra-se na tabela a seguir:

Grão com mais de ¾ da linha do leite - Passou do ponto de colheita Fonte: Rehagro Consultoria

Linha do leite na ½ – Ponto de colheita correto Fonte: Rehagro Consultoria
Ensilagem
Após a colheita do milho, é necessário realizar a ensilagem deste material. A ensilagem deve ser feita em silo previamente dimensionado, estando a dimensão relacionada com a capacidade de compactação do material a ser ensilado e, principalmente, com a necessidade diária de descarga do material ensilado. No momento de enchimento e compactação deve- -se ter atenção à camada de silo a ser compactada; ela deve ser homogênea e com 5 a 20 centímetros de espessura. As camadas devem ser espalhadas de forma a ficarem inclinadas em direção à entrada do silo. Quanto mais compactado, maior a redução de oxigênio e da temperatura, favorecendo o desenvolvimento de bactérias produtoras de ácido lático para redução rápida do pH e evitando perdas quantitativas e nutricionais do material ensilado. Para alcançar uma compactação adequada, recomenda-se a utilização de máquinas com o peso superior a 40% da quantidade total de silo que chega por hora para ser compactada. Deve-se ter atenção durante a compactação, principalmente em períodos chuvosos, para que não haja contaminação excessiva do material ensilado por terra, alterando, assim, sua composição microbiológica.
A vedação do material ensilado é de extrema importância para garantir a qualidade e evitar contaminação microbiológica inadequada do produto, além de ser um procedimento de baixo impacto nos custos totais da silagem. O ideal é que a vedação da silagem seja feita com lona resistente a danos externos (animais, efeitos meteorológicos, etc.) e seja uma barreira ao oxigênio. Vale ressaltar que a utilização de filmes com barreira ao oxigênio reduz as perdas do silo de forma significativa, além de auxiliar na manutenção da qualidade da silagem em toda a extensão do silo. Esse filme deve ter uma lona convencional ou uma rede de proteção física, pois ele não possui tratamento contra raios UV, mas possui alta barreira ao oxigênio, permitindo excelente vedação.
Deve-se considerar, também, a máxima retirada possível de ar presente entre a lona e a superfície do material ensilado, para promover boa fermentação. Além disso, é benéfico promover certo peso sobre a lona através da colocação de terra, pneus, resíduos etc., para maximizar a vedação e reduzir perdas do topo da silagem. A vedação total deve ser mantida por no mínimo 21 a 30 dias, período em que ocorrerá a fermentação, redução do pH e estabilização da silagem.
Remoção da silagem
A remoção de porções de silagem consiste em uma fase crítica do processo, visto que o material ensilado vedado será exposto ao oxigênio. Para a remoção da silagem, trabalhos têm mostrado como ideal a meta acima de 250kg/m²/ dia. Por isso é de suma importância o dimensionamento do silo, levando em conta a compactação da silagem e a quantidade de silagem utilizada por dia na fazenda. Todas essas práticas auxiliam na redução da exposição da silagem ao aquecimento, nas perdas associadas e na proliferação de micro-organismos indesejados.
Amostragem e bromatologia da silagem
Por mais homogênea que possa ser, toda silagem de milho apresentará variações em sua composição após a abertura. Por isso, é fundamental a coleta de amostras do silo para análise bromatológica. A contemplação dos valores nutricionais e de matéria seca (MS) é essencial para o entendimento da qualidade da silagem e para o balanceamento adequado de dietas para todas as categorias animais.
Para realizar a amostragem, o recomendado é que uma faixa de silagem seja removida do topo até a base do silo, em toda sua largura. Dessa silagem removida, devem-se coletar oito ou mais amostras em pontos aleatórios, colocando-as em um balde. Essas amostras devem ser despejadas em uma superfície limpa, separadas em quatro partes iguais, sendo uma das partes enviada para o laboratório.
Considerações
A condução assertiva da lavoura de milho desde a análise de solo até a sua desensilagem representa grande impacto no desempenho dos animais e no resultado econômico/financeiro da fazenda. Com o resultado da análise bromatológica da silagem em mãos, cabe ao técnico responsável pela propriedade formular dietas de máximo desempenho para as vacas, associando-as a um manejo alimentar coerente que permita boa produção de leite e saúde do rebanho.