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FEBRE DO LEITE: SAIBA COMO COMBATER
SAÚDE ANIMAL
Equipe técnica da UCBVET
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Período pós-parto precisa ser monitorado A doença pode ocasionar perdas econômicas significativas, além de outras complicações na saúde do animal
A hipocalcemia, também conhecida como febre do leite, é uma doença metabólica que acomete vacas leiteiras durante o período de transição (3 semanas pré-parto e 3 semanas pós-parto). Nessa fase ocorrem tanto mudanças nutricionais quanto hormonais, visto que os nutrientes do organismo são redistribuídos por meio de mecanismos que visam manter o equilíbrio corporal. Com isso, um manejo adequado dos animais nesse período é crucial para evitar um declínio considerável na produção.
Com a ocorrência da hipocalcemia surgem perdas econômicas significativas na produção leiteira, visto que além das consequências causadas pela hipocalcemia, como a diminuição da produção, ela permite o surgimento de outras complicações, como: metrite, retenção de placenta, atonia ruminal e prolapso uterino, podendo levar o animal ao óbito.
As vacas acometidas pela hipocalcemia apresentam desajuste no mecanismo de controle das concentrações de cálcio nos tecidos, devido à alta demanda desse mineral na produção de colostro, no momento da parição e na composição do leite. A manifestação da doença pode acontecer de duas maneiras: de forma clínica e de forma subclínica, sendo a primeira quando há apresentação dos sinais clínicos, e na segunda, estes são ausentes, dificultando o diagnóstico e o tratamento.
Rebanhos de alta produção de leite são mais suscetíveis à hipocalcemia, pois quanto maior a produção de leite maior será a mobilização de cálcio dos tecidos para o colostro e para o leite. Além disso, a cada lactação a fêmea aumenta em 9 vezes a chance de desenvolver hipocalcemia e vacas mais velhas tendem a ter maior incidência de hipocalcemia por diminuírem a capacidade de absorver cálcio pelo intestino.
O tratamento da hipocalcemia é baseado nas manifestações clínicas da doença. No que diz respeito a manifestações subclínicas da hipocalcemia, recomenda-se administrar por via oral o formiato de cálcio, que é uma fonte de cálcio de rápida absorção intestinal em vacas no período de transição, proporcionando aumento de cálcio na corrente sanguínea e prevenindo a hipocalcemia. O formiato de cálcio também é usado como tratamento, uma vez que ele pode apresentar rápida melhora no quadro clínico do animal. Além disso, é muito importante que vacas no periparto recebam fontes de energia para acelerar sua recuperação.
A administração de probióticos em vacas leiteiras, principalmente na fase de transição, mostrou-se essencial, pois nesse período os animais precisam receber alimentação que atenda suas exigências nutricionais. Para melhorar a digestibilidade e absorção dos alimentos, o uso de probióticos é indispensável, uma vez que eles garantem que a microbiota do rúmen se mantenha estável e permitem que os alimentos ingeridos sejam mais aproveitados.

MATÉRIA DE CAPA
Larissa Vieira
Da seleção empírica à seleção orientada

Técnicos da Girolando receberam treinamento para aplicar o SALG
O Sistema de Avaliação Linear está em fase final de desenvolvimento e será utilizado como a principal ferramenta de seleção da raça Girolando para as características de conformação, vindo somar com o PMGG
Dentro do processo de evolução da raça Girolando mais uma ferramenta estará em breve, à disposição dos criadores, para auxiliar na seleção do rebanho para as características de conformação e possibilitar a classificação linear dos animais com base em um “Tipo Ideal Girolando”. O Sistema de Avaliação Linear Girolando (SALG) já vem sendo desenvolvido há alguns anos e a expectativa é de que os primeiros resultados sejam publicados em 2022, nos Sumários de Touros e de Vacas.
O projeto está na quinta fase, que consiste na coleta de dados e que será permanente para garantir a continuidade da ferramenta. Na próxima fase ocorrerá a avaliação e a análise dos primeiros dados pela Embrapa Gado de Leite, que deverá ter início no final de 2021. “Estão sendo avaliadas vacas de todas as composições raciais e em todas as fazendas ativas, que estão inscritas na Associação, mas sendo priorizadas aquelas fazendas que são participantes do Serviço de Controle Leiteiro Oficial e as fazendas colaboradas do PMGG, por possuírem maior número de informações fenotípicas já cadastradas na Associação e que poderão contribuir muito no processo de análise. Com a nova metodologia adotada, a

Técnicos da Girolando receberam treinamento sobre o SALG
coleta dos dados está sendo muito dinâmica e produtiva, o que proporcionou um aumento significativo de vacas avaliadas em cada visita”, explica Leandro Paiva, superintendente Técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando.
As primeiras fases de implantação do SALG consistiram na definição e validação das características avaliadas e na estruturação do banco de dados para receber as informações dessa nova metodologia. Ficou definido que as características avaliadas seriam as mesmas 22 que são analisadas pelos jurados nos julgamentos da raça. “Entende-se que a vaca que deve ser selecionada no campo é a mesma vaca da pista de julgamento, ou seja, uma vaca produtiva e de muita funcionalidade”, ressalta Paiva. Entre os profissionais que ao longo destes anos vêm contribuindo para o projeto estão técnicos da Girolando e de outras associações; jurados; alguns criadores que já participaram do Conselho Deliberativo Técnico; pesquisadores da Embrapa Gado de Leite; e integrantes do Fundo de Investimento do PMGG e da Diretoria Executiva da Girolando.
Para que o SALG possa ser colocado em prática em breve, a Girolando fez o treinamento e capacitação da equipe de técnicos responsáveis pela coleta de dados no campo. Atualmente, existem dez técnicos habilitados para esse procedimento: Leandro Paiva, Gustavo Gonçalves, Edivaldo Júnior, José Wagner, Frederico Martins, Raphael Stacanelli, Diogo Balderramas, Samuel Bastos, Nilton Barcelos Jr. e Wewerton Bibiano.
As características avaliadas pelo SALG e os parâmetros que são levados em consideração foram publicados no Sumário de Touros Girolando 2020. Com essas informações o criador poderá ter ideia do que está sendo feito e utilizá-las como parâmetro para ajudar na seleção do seu rebanho. Como é um trabalho que exige muito conhecimento técnico e profundo conhecimento da metodologia de avaliação, somente os técnicos da Associação que estão habilitados podem executar o SALG oficialmente e orientar os criadores no uso dessas informações para a seleção dos seus rebanhos.
Paiva acredita que a principal contribuição do SALG será a de disponibilizar avaliações genéticas para características de conformação, auxiliando os criadores na seleção dos seus rebanhos, melhorando a funcionalidade e produtividade dos animais. “As características ligadas ao sistema mamário (úbere) são as de maior peso na avaliação e as que mais despertam interesse entre os criadores. Existe uma tabela de peso para cada uma das 22 características avaliadas. O peso está diretamente ligado à importância de seleção da respectiva característica, ou seja, quanto maior o peso, mais importância aquela característica tem para a seleção da raça”, destaca.
Na visão do pesquisador da Embrapa Gado de Leite e coordenador Geral do PMGG, Marcos Vinicius G. Barbosa da Silva, haverá importante impacto no desempenho da raça. “Quando a Classificação Linear for usada no âmbito do PMGG, espera-se que seja possível melhorar a produção de leite, aumentar o número de lactações das vacas nos rebanhos, bem como reduzir a taxa de substituição do rebanho. Assim, será possível que os criadores conheçam melhor a genética dos seus animais, executem os acasalamentos de forma dirigida para determinadas características e aumentem a longevidade das vacas no rebanho”, assegura o pesquisador.
De modo geral, em sua maioria as características lineares são importantes para vacas leiteiras. Algumas delas podem influenciar o manejo dos animais e a produção de leite. Por exemplo, algumas instalações construídas para a vaca de médio porte podem causar problemas quando usadas por vacas de grande porte. Outras características, como as ligadas ao úbere, estão relacionadas ao manejo durante a ordenha e podem predispor a doenças, especialmente mastite, enquanto algumas características corporais podem estar relacionadas à facilidade de parto.
Diante de todos esses fatores, o pesquisador da Embrapa Gado de Leite acredita que ainda é um pouco cedo para dizer quais características, na raça Girolando, serão impactadas com a aplicação do SALG. “Isso dependerá do número de informações disponíveis, da herdabilidade, do número de filhas mensuradas por touro, entre outros pontos relevantes. No entanto, o importante é dizer que o PMGG está empenhado na coleta de dados confiáveis para as análises e que, em curto prazo, essas avaliações estarão disponíveis para uso dos criadores”, explica.
Já há algum tempo que a Girolando e a Embrapa se preocupam com as avaliações de características lineares e com a sua inclusão no Sumário de Touros, de modo a oferecer aos criadores maiores e melhores subsídios para a escolha e uso desses touros. Segundo o superintendente Técnico Leandro Paiva, com a entrada da nova Diretoria da Girolando, em 2020, novas ações para a coleta de dados foram tomadas, possibilitando que um maior número de animais sejam mensurados.
Para agilizar o processo de coleta, houve alteração na tomada de algumas características. “Estamos desenvolvendo uma metodologia para conversão de algumas características do processo de mensuração antigo para o novo, de modo a aproveitar os dados coletados até 2019 e incluí-los nas próximas ava-

Protótipo do Tipo Ideal Girolando que complementa o projeto SALG
liações, tornando a predição dos valores genéticos dos touros mais precisa. Com isso feito, começaremos as análises, incluindo as avaliações genômicas. Esperamos que em futuro próximo, as PTAs genômicas para essas características sejam incluídas no Sumário de Touros”, ressalta Paiva.
Histórico do SALG
A coleta de dados do Sistema de Avaliação Linear Girolando começou a ser feita entre os anos de 2006 e 2007, com a implantação do PMGG, que consistiu na unificação das informações do Serviço de Registro Genealógico da Raça Girolando, do Serviço de Controle Leiteiro e do Teste de Progênie. Porém, no início de implantação do SALG foram feitas várias modificações na metodologia de avaliação e mensuração dos animais, visando o aprimoramento para posterior publicação dos dados.
Em 2011 foram publicados alguns dados no sumário de touros da raça. “Após esse primeiro período observou-se que a metodologia utilizada para a coleta de dados do SALG era ineficiente e que seria também necessário desenvolver uma base de dados mais consistente. Com isso, em 2014 iniciou-se um estudo para o desenvolvimento de uma nova metodologia que atendesse o propósito final do SALG. Assim, foi formada uma comissão composta por técnicos, jurados e criadores, responsável por desenvolver o que hoje está sendo aplicado em campo”, conta o superintendente Técnico.
O estudo realizado contou com a análise de várias informações que já haviam sido coletadas e com a experiência obtida por outras associações de raças coirmãs, como por exemplo, a raça Holandesa. Houve uma contribuição significativa das associações coirmãs nesse processo. Com isso, foi possível desenvolver uma metodologia moderna, de fácil aplicabilidade e que permite aumentar a quantidade de dados coletados. Além disso, todo o banco de dados da Associação foi modernizado para que as informações passem a ser processadas em menor espaço de tempo e de forma mais organizada, atendendo os critérios estabelecidos pela Embrapa Gado de Leite para a análise dos dados e posterior divulgação das avaliações genéticas das características de conformação.
Vale ressaltar que o SALG possui basicamente dois objetivos: ser utilizado como a principal ferramenta de seleção da raça Girolando para as características de conformação e possibilitar a classificação linear dos animais da raça com base em um “Tipo Ideal Girolando”. No entanto, o tipo ideal e a classificação linear fazem parte de outra etapa do projeto. “Podemos dizer que o chamado ‘Tipo Ideal’ será uma constante consequência do SALG. Na medida em que a raça evolui por meio dos dados coletados e das avaliações genéticas publicadas, as necessidades de seleção também passam pelo mesmo processo”, diz Paiva.
A expectativa é de que ao final de 2021 já tenhamos dados coletados de cerca de 10.000 novas vacas, além de cerca de 2.000 vacas com informações já existentes, que terão condições de ser aproveitadas.