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CONTROLE LEITEIRO AJUDA NA MELHORIA DA SAÚDE DAS VACAS

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CONTROLE LEITEIRO

Larissa Vieira

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Dados do Controle Leiteiro ajudam na definição da linha de ordenha

Saiba como utilizar os resultados das análises das amostras de leite coletadas durante o Serviço de Controle Leiteiro Oficial para promover mudanças no manejo da ordenha e na seleção dos animais e, assim, eliminar casos de CCS no rebanho

A produção de seu rebanho anda caindo? Uma das causas pode ser o aumento nos valores da Contagem de Células Somáticas (CCS), ligada à saúde da glândula mamária de vacas leiteiras. Um problema que pode ser detectado, por exemplo, pela análise de leite feita a partir de amostras coletadas durante o Controle Leiteiro Oficial. Como a CCS alta pode ocasionar perdas de mais de 30% na produção, o produtor deve utilizar o resultado da análise para promover mudanças no manejo da ordenha caso os valores estejam acima de 200.000 células/ml de leite.

É o que tem orientado o médico-veterinário e controlador oficial da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Marcello Leite, nas propriedades que atende pelo País. Segundo ele, a coleta, seja por amostragem ou de todo o rebanho, é importante para obter parâmetros ou dados referentes à qualidade do leite produzido e precisa fazer parte das atividades de todas as fazendas. “Infelizmente, a mudança no manejo gera resistência por parte de alguns pecuaristas ou colaboradores das fazendas. O produtor quer manter a vaca que produz 35kg de leite por dia, mas que tem alta CCS, negando-se a colocá-la no último lote da ordenha. Porém, o que ele não entende é que essa vaca poderá contaminar outros animais, provocando o aumento de CCS no rebanho, que é um fator predisponente a uma mastite clínica. Isso vai gerar aumento de custo com antibioticoterapia e descarte de leite, prejudicando a eficiência econômica da atividade leiteira. Além de poder diminuir em até 33% a produção de leite por animal, podendo levar até mesmo à morte do animal acometido”, alerta o controlador.

Desde o ano passado, a coleta de amostras para análise de CCS e de gordura e proteína passou a ser obrigatória para os rebanhos participantes do Serviço de Controle Leiteiro

Médico-veterinário e controlador Marcello Leite

Oficial, que hoje totalizam mais de 350 propriedades. Uma decisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que deve impactar positivamente na seleção e qualidade dos plantéis. “Com esses dados podemos mensurar a sanidade do rebanho e até o equilíbrio da dieta fornecida. Em relação à CCS, é um dado importante, principalmente para identificarmos os animais com maior contagem e, assim, podermos realizar uma linha de ordenha adequada. Também ajuda a identificar as fêmeas que apresentam mastite subclínica. E, dependendo da pressão de seleção genética do rebanho, há a opção de fazer o descarte das vacas com CCS alta”, orienta.

Com os resultados das análises do leite em mãos, o produtor tem a possibilidade de proceder a uma melhor gestão do rebanho, manejando separadamente os animais que deram alta contagem de células somáticas. Isso evitará e/ou diminuirá a incidência de bactérias agressoras, causadoras de mastite clínica ou subclínica no plantel.

Proprietários cujos rebanhos apresentam CCS acima do recomendado devem ficar atentos, também, à qualidade da ambiência proporcionada às lactantes, que pode influenciar negativamente na sanidade do úbere e, consequentemente, na contagem de células somáticas. Ambientes com alta umidade, contaminação, precariedade na limpeza e na higienização da ordenha em geral levam a maiores casos de CCS elevada.

“Nas fazendas que atendo, oriento os pecuaristas sobre como utilizar as informações geradas pelo Serviço de Controle Leiteiro para identificar animais problemas, realizar programas de descarte e reposição, e implementar

Acesse o Relatório de Lactações Encerradas

Basta apontar a câmara do seu celular para o QR code abaixo para visualizar o documento completo do período agosto/dezembro 2020. Se preferir, acesse pelo site da Girolando (www.girolando.com.br).

linhas de ordenha. Em alguns casos, indico certos protocolos de secagem, como por exemplo, a secagem abrupta, e estipulo tratamentos específicos com base na cultura do leite analisado”, esclarece Marcello Leite.

Gordura e proteína

A coleta de amostras de leite durante o Controle Leiteiro favorece também a seleção da raça Girolando referente às outras duas características analisadas, que são gordura e proteína. Thayná Arruda, médica-veterinária da TecVet, empresa onde atua juntamente com Marcello Leite, esclarece que esses dados são fundamentais para o avanço do melhoramento genético da raça. “Apesar da baixa herdabilidade da composição de proteína no leite, é importante para o programa de melhoramento genético identificar as vacas com maior teor de proteína e poder propagar e intensificar essa genética nos rebanhos brasileiros. Estudos mais recentes mostram que dependendo da proteína contida no leite, pessoas tolerantes ou menos intolerantes podem consumir o produto sem prejuízos à saúde. Ou seja, é a possibilidade de um mercado novo,

Coleta de amostras durante o Controle Leiteiro para análise de CCS, Gordura e Proteína.

Alexandre, Maria Helena e Tatiana Cristina comandam o condomínio Fazenda Olhos D´água

com boa demanda e com valor agregado”, avalia Thayná.

Já a gordura, segundo ela, está ligada à nutrição animal, essencialmente à quantidade e qualidade de fibras efetivas. Outros fatores que influenciam no teor de gordura são a genética e o padrão racial. A raça Girolando já comprovou ter maior teor de gordura que outras raças leiteiras.

Experiências bem sucedidas em Minas e Sergipe

Participante do Serviço de Controle Leiteiro Oficial da Girolando há seis anos, a Fazenda Olhos D’água, em Pompéu/MG, utiliza a ferramenta para auxiliar na seleção do rebanho, hoje composto por 360 cabeças. “Usamos as informações para definir a separação de lotes para dietas específicas e para selecionar o rebanho, levando em consideração também os resultados das análises das coletas de leite. Fazemos uma seleção pesada nos animais, com descarte das vacas com CCS muito alta”, conta o criador Alexandre Freitas que, com a mãe Maria Helena e a irmã Tatiana Cristina, comandam o Condomínio Fazenda Olhos D’água.

Uma das medidas tomadas contra a CCS acima do recomendado foi fazer linha de ordenha onde as vacas de pior qualidade são ordenhadas por último, para evitar o contágio dos animais sadios. “Já fazíamos essa coleta de dados referente à qualidade do leite, antes mesmo de ser obrigatória, para evitar a transmissão de mastite subclínica e, também, com o objetivo de melhorar o resultado financeiro junto ao lacticínio”, explica Freitas.

A família cria Girolando há 30 anos e a opção pela raça foi pela facilidade de adaptação em diversos sistemas de manejo. Com a evolução genética, a propriedade conseguiu formar um rebanho com animais com produções muito interessantes. A produção média durante o ano de 2020 foi de 24kg/ animal/dia, em sistema de piquetes rotacionados no verão e pista de trato no inverno.

Segundo o criador, para acelerar essa evolução do rebanho, são utilizadas todas as ferramentas disponíveis no mercado, sempre com orientações de técnicos e especialistas visando otimizar resultados, tanto na produção de leite quanto na formação de um rebanho consistente e eficiente. “Produzimos genética para produzir leite, sempre com a meta de gerar um produto de boa qualidade para os consumidores finais”, diz Alexandre Freitas, que é presidente do Núcleo de Criadores Girolando das Gerais.

Girolando em expansão em Ser-

gipe- Com o rio Jacaré contornando boa parte da área da Fazenda Cotovelo, que leva este nome justamente porque, vista de cima, a volta que o rio faz na propriedade lembra o formato de um cotovelo fechado, a região é palco da seleção de Girolando há muitos anos.

O criador sergipano Lafayette Sobral sabe bem como a ciência tem beneficiado o agronegócio brasileiro e, por isso, não abre mão de investir em melhoramento genético. Agrônomo e pesquisador da área de fertilidade de solo da Embrapa, ele utiliza as informações de cada vaca controlada para definir os acasalamentos. Desde 2004, ele é criador de Girolando.

A Fazenda Cotovelo está localizada no município de Estância/SE e tem atualmente cerca de 50 vacas em lactação, com média de produção de 20 kg/leite/dia. A ordenha merece cuidado redobrado dentro do sistema de

Criador Lafayette Sobral seleciona a raça desde 2004

produção da propriedade. “A higienização de todos os equipamentos e dos animais é bem criteriosa para evitar a contaminação do leite. Também tomamos medidas para garantir o conforto térmico das vacas que, antes de irem para a ordenha, ficam em uma sala de espera com banho e ventilador para baixar a temperatura e, assim, conseguirem produzir melhor quando forem ordenhadas”, explica Sobral.

Essas medidas têm ajudado a produzir diariamente 1000 litros de leite de qualidade, que são entregues ao laticínio local. De acordo com o criador, o controle leiteiro e as análises das composições qualitativas do leite são parte importante dentro do sistema de produção da Fazenda Cotovelo. “Para mim, esta é uma ferramenta fundamental para o melhoramento genético da raça. Selecionar sem o controle leiteiro é como soltar uma pessoa com os olhos vendados para procurar um objeto dentro de uma casa, ou seja, pode até achar, mas demora”, compara o titular da Fazenda Cotovelo.

Segundo ele, os dados do Serviço de Controle Leiteiro vão direto para uma planilha que é consultada regularmente, orientando na gestão do rebanho. Entre as diversas características que o criador leva em conta na seleção, estão a produção e o padrão racial. Em breve, pretende utilizar, também, os dados de proteína e gordura. “No futuro, e não vai demorar, o leite será pago por gordura e proteína, e nós criadores de Girolando precisamos estar preparados para atender este mercado”, acredita Sobral.

A Fazenda Cotovelo está localizada perto da costa de Sergipe, onde a umidade é muito alta entre os meses de maio, junho e julho. Dentro dessa condição climática, a composição racial CCG 1/2 tem apresentado maior adaptabilidade, correspondendo a 60% do rebanho da propriedade. Sobral ainda seleciona Girolando (5/8) e CCG 3/4, este para atender produtores de regiões mais secas do Nordeste.

O cuidado com a pastagem é redobrado. No inverno, o manejo é em regime rotacionado, em pastagem adubada de capim-mombaça. No verão, como não tem sistema de irrigação no pasto, os animais recebem silagem de milho e cevada para completar a alimentação. A produção diária de algumas vacas chega até a 40kg/leite, sendo a média geral acima de 20kg/leite.

Um dos pioneiros da raça em Sergipe, Sobral diz que os rebanhos de Girolando têm crescido em sua região. Para atender esse mercado aquecido, ele investe em biotecnologias de reprodução, como a FIV, e está produzindo embriões de doadoras que adquiriu de tradicionais criatórios de Gir Leiteiro. “Quando comecei, tinha um gado misturado. Com a orientação do técnico Ranilson, que na época era o técnico da Girolando que atendia a região e hoje esse serviço é realizado por seu filho, Breno Cavalcanti, fui aprimorando meu rebanho e hoje tenho um gado muito bom. Inclusive tivemos reconhecimento nas pistas, conquistando premiações importantes em várias exposições nordestinas”, finaliza Lafayette Sobral.

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