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COCCIDIOSE: ATÉ ONDE ESTAMOS VENDO O PROBLEMA?
SAÚDE ANIMAL
Bruno Marinho Mendonça Guimarães Maria Cecília Rabelo ThallysonThalles Teodoro de Oliveira
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Equipe Sanidade - Grupo Rehagro
Bezerros são mais suscetíveis à eimeriose clínica
A coccidiose, também conhecida como eimeriose, consiste em uma doença de distribuição mundial muito comum em rebanhos leiteiros, sendo causada por protozoários da ordem Coccidia. Não é raro que em fazendas brasileiras a coccidiose apresente uma prevalência próxima a 100% nas bezerras. Dentre os sinais da doença, o principal é a diarreia, mas nem sempre ela está presente. Em muitos casos os animais desenvolvem a coccidiose e permanecem em estado subclínico, representando uma fonte de infecção para o rebanho. Cuidar do ambiente, ajustar as dietas e monitorar os animais são etapas fundamentais para o controle e a prevenção da doença.
O que é a coccidiose?
Conforme mencionado, outra denominação conhecida da coccidiose é eimeriose. Essa denominação é bastante representativa quando conhecemos o agente etiológico da doença, pertencente ao gênero Eimeria. Das mais de doze espécies de Eimeria relatadas até hoje, as que atingem os bovinos com mais virulência são a Eimeria bovise a Eimeria zuernii.
O ciclo da coccidiose se desenvolve praticamente no nível intestinal, com a infecção dos bovinos ocorrendo por meio da ingestão de oocistos esporulados presentes na água ou em alimentos contaminados. Já no intestino do hospedeiro, os protozoários invadem as células e se multiplicam no interior delas, causando o rompimento dessas estruturas. Com as células rompidas, os oocistos não esporulados ganham a luz intestinal e são liberados no ambiente através das fezes. Ao serem submetidos a certas condições ambientais de temperatura e umidade, os oocistos se tornam esporulados e infectantes. Devido à alta resistência, é possível que esses oocistos permaneçam infectantes no ambiente por longos períodos até serem ingeridos, dando início a um novo ciclo.
Inimigo oculto
Relatos científicos demonstram que bezerros com idade entre 3 semanas e 6 meses são mais suscetíveis à eimeriose clínica, o que pode ser considerado um motivo a mais para se preocupar com a colostragem e proteção imunológica dos animais jovens. No entanto, também há documentação de altas taxas de infecção em animais com idade por volta de um ano, mostrando que a epidemiologia é variável. Não é comum acontecerem manifestações clínicas de eimeriose em animais adultos, mas podem ocorrer em condições de alta carga parasitária, depressão imunológica ou desequilíbrio do organismo do hospedeiro.
O sinal clássico da eimeriose é a diarreia, onde em casos severos se apresenta profusa e com traços de sangue nas fezes. Entretanto, não devemos considerar esse sinal como regra para a eimeriose, pois doenças como salmonelose também podem provocar diarreia sanguinolenta. Como consequência da diarreia, o animal pode desenvolver desidratação, apatia, anemia e, em alguns quadros, sintomatologia nervosa.
Embora a diarreia seja o principal sinal, alguns animais desenvolvem a forma subclínica da doença, comum em situações onde a pressão de infecção é baixa e/ou o animal possui imunidade devido contaminações anteriores. Dessa forma, os animais subclínicos atuam como reservatório e fonte de liberação de oocistos no rebanho, representando um perigo que nem sempre é identificado.
As perdas ocasionadas pela eimeriose não são restritas somente aos casos clínicos. Estudos compreendendo a situ-


Diarreia com sangue Diarreia com sangue Fonte: Thallyson de Oliveira, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro Fonte: Thallyson de Oliveira, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro
Diarreia com sangue Diarreia com sangue Fonte: Thallyson de Oliveira, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro Fonte: Thallyson de Oliveira, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro

afetados depende da extensão das lesões, para os bovinos são E. bovise E. zuenii. que é dependente da carga infecciosa de oocistos e da patogenicidade da espé- Fatores de riscos associados ao hoscie de Eimeria. Na maioria das vezes, a pedeiro principal causa de morte dos animais Animais jovens são mais suscetíveis com coccidiose é a gravidade provocada à coccidiose justamente por ainda não pela desidratação severa e queda no con- terem desenvolvido imunidade para sumo de alimentos. combater a Eimeria. Dessa forma, animais mais velhos que já desenvolveram
Fatores de riscos associados ao pa- a doença e que se encontram em estado rasita subclínico são potenciais fatores de risco
A quantidade de oocistos ingeridos, para contaminação dos animais jovens, associada à patogenicidade da espécie de ao continuarem liberando oocistos no Eimeria, são os principais fatores rela- ambiente. Considerando essa informacionados ao parasita que determinam o ção, sabe-se que a ausência de separação nível de destruição de células intestinais de animais em lotes por faixa etária cone a gravidade dos casos de coccidiose, tribui de forma substancial para a proindo desde casos subclínicos, passan- pagação do parasita no rebanho. do por leves casos clínicos e até mesmo Promover situações que ocasionam levando o animal ao óbito. Em concor- aumento do nível de estresse e condância com o que já foi dito, as espécies sequente redução da funcionalidade de Eimeria com maior patogenicidade imunológica dos animais é outro fator
Diarreia com traços de sangue Fonte: Bruno Guimarães, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro Diarreia com traços de sangue Fonte: Bruno Guimarães, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro ação atual da eimeriose na espécie bovina relatam que a apresentação subclínica Diarreia com traços de sangue Fonte: Bruno Guimarães, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro Diarreia com traços de sangue Embora a diarreia seja o principal sinal, alguns animais da doença é a mais frequente nas fazendas e que também prejudica a fisiologia Fonte: Bruno Guimarães, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro desenvolvem a forma subclínica da doença, comum em situações onde a pressão de infecção é baixa e/ou o animal possui imunidade devido Embora a diarreia seja o principal sinal, alguns animais desenvolvem a forma subclínica da doença, comum em situações onde a intestinal, reduz a conversão alimentar e o desenvolvimento dos animais. Isto se Embora a diarreia seja o principal sinal, alguns animais Embora a diarreia seja o principal sinal, alguns animais desenvolvem a forma subclínica da doença, comum em situações onde a contaminações anteriores. Dessa forma, os animais subclínicos atuam como reservatório e fonte de liberação de oocistos no rebanho, representando um perigo que nem sempre é identificado. pressão de infecção é baixa e/ou o animal possui imunidade devido contaminações anteriores. Dessa forma, os animais subclínicos atuam como reservatório e fonte de liberação de oocistos no rebanho, representando um deve ao fato de que, da mesma forma que nos casos clínicos, nos casos subclínicos também ocorrem lesões intestinais que comprometem a digestão e a absorção dos nutrientes de forma permanente. desenvolvem a forma subclínica da doença, comum em situações onde a pressão de infecção é baixa e/ou o animal possui imunidade devido contaminações anteriores. Dessa forma, os animais subclínicos atuam como reservatório e fonte de liberação de oocistos no rebanho, representando um pressão de infecção é baixa e/ou o animal possui imunidade devido perigo que nem sempre é identificado. O nível com que o animal terá o seu desenvolvimento e a sua vida produtiva Ambiente com acúmulo de umidade e matéria orgânica, condições favoráveis para o desenvolvimento da Eimeriose perigo que nem sempre é identificado. Ambiente com acúmulo de umidade e matéria orgânica, condições favoráveis para o desenvolvimento da Eimeriose Ambiente com acúmulo de umidade e matéria orgânica, condições favoráveis para o desenvolvimento da Eimeriose contaminações anteriores. Dessa forma, os animais subclínicos atuam como Fonte: Thallyson de Oliveira, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro Fonte: Thallyson de Oliveira, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro Fonte: Thallyson de Oliveira, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro reservatório e fonte de liberação de oocistos no rebanho, representando um perigo que nem sempre é identificado.
Dados de campo Dados de campo Dados de campo
Observar o comportamento dos animais não representa o melhor método para identificação dos quadros de eimeriose, pois dessa forma é possível identificar somente os casos clínicos, e não os subclínicos.Sendo assim, o padrão ouro indicado para diagnóstico da coccidiose em bovinos é Observar o comportamento dos animais não representa o melhor método para identificação dos quadros de eimeriose, pois dessa forma é possível identificar somente os casos clínicos, e não os subclínicos.Sendo Observar o comportamento dos animais não representa o melhor método para identificação dos quadros de eimeriose, pois dessa forma é possível identificar somente os casos clínicos, e não os subclínicos.Sendo o exame de OOPG – oocistos por grama de fezes. Esse exame, além de assim, o padrão ouro indicado para diagnóstico da coccidiose em bovinos é assim, o padrão ouro indicado para diagnóstico da coccidiose em bovinos é o exame de OOPG – oocistos por grama de fezes. Esse exame, além de o exame de OOPG – oocistos por grama de fezes. Esse exame, além de
100% 90%100% 100%
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Distribuição da carga parasitária de Eimeria por lotes 6,67% 7,69% Distribuição da carga parasitária de Eimeria por lotes Distribuição da carga parasitária de Eimeria por lotes
26,32%
26,32%
15,79% 26,32% 13,33%6,67% 15,38% 7,69% 6,67% 7,69%
13,33% 15,38% 13,33% 15,38%

26,32% 6,67% 7,69% 13,33% 15,38%
100,00% 100,00% 15,79%
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80,00% 76,92%
Bezerreiro Lote 1 Lote 2 Lote 3 Lote 4 Lote 5
Carga baixa Carga média n = 92 animais Carga alta Fonte: Equipe Sanidade, Grupo Rehagro
de risco para a coccidiose. Um bom exemplo disso é o manejo de lotes com elevada densidade animal que aumenta a disputa por espaço, comida, água, etc.
Fatores de riscos associados ao ambiente
As características do ambiente estão diretamente relacionadas com a manutenção e o aumento da prevalência de Eimeria no rebanho. Condições como piquetes úmidos e com pouca incidência de raios solares são favoráveis para uma longa sobrevivência do oocisto. Além disso, locais e instalações de difícil higienização ou de higienização precária podem abrigar o agente e representar importantes fontes de infecção. Lotes com elevada densidade animal tendem a aumentar o desafio ambiental por favorecerem acúmulo de matéria orgânica e elevação da umidade. Realizar vazio sanitário, retirar toda a matéria orgânica das instalações após a saída dos animais e utilizar desinfetantes adequados para a limpeza são medidas importantes que devem ser adotadas.
no rebanho são: Instalações secas e limpas; Ambientes com boa higiene e drenagem, sem acúmulo de matéria orgânica e umidade; Bebedouros e comedouros limpos e sem contaminação fecal; Divisão de lotes de recria por faixa etária e sem superlotação; Manejo adequado dos animais sem promover estresse. Outra forma de controle e prevenção do protozoário é por meio do uso de ionóforos, aditivos adicionados às dietas que possuem dupla função, atuando como coccidiostáticos e moduladores ruminais. Lasalocida (1mg/kg de peso vivo), salinomicina (1mg/kg de peso identificar a carga parasitária de Eimeria nos animais, também contribui ao direcionar os tratamentos somente para os lotes necessitados, gerando economia nos custos sanitários das fazendas e reduzindo as chances de Dados de campo Observar o comportamento dos animais não representa o melhor método para identificação dos quadros de eimeriose, pois dessa forma é possível identificar somente os casos clínicos, e não os subclínicos.Sendo assim, o padrão ouro indicado para diagnóstico da coccidiose em bovinos é o exame de OOPG – oovivo) e monensina (0,6 – 1mg/kg de peso vivo ou 16,5 – 33,0 g/ton alimento) são algumas das bases de ionóforos possíveis de ser utilizadas na dieta como profilaxia para a coccidiose, sendo esta última a base de ionóforos mais utilizada atualmente. Torna-se importante adotar uma rotina de checagem frequente das dietas para averiguar se as doses de ioformação de resistência pelo protozoário. cistos por grama de fezes. Esse exame, nóforos empregadas para cada lote estão Os dados apresentados a seguir são da equipe de consultoria em sanidade do Grupo Rehagro e demonstram resultados de exames de OOPG além de identificar a carga parasitária de Eimeria nos animais, também contribui ao direcionar os tratamentos somente em conformidade com a dose recomendada, pois assim como qualquer outra substância, subdosagens não promovem com o perfil da carga parasitária de Eimeria da recria de uma fazenda para os lotes necessitados, gerando eco- o efeito desejado e superdosagens poleiteira. Com o monitoramento da eimeriose através dos exames de OOPG o nomia nos custos sanitários das fazendas e reduzindo as chances de formação de resistência pelo protozoário. dem provocar intoxicações nos animais. Como tratamento da eimeriose o recomendado é utilizar medicamentos desejável é que no mínimo 80% dos animais de cada lote apresentem Os dados apresentados a seguir são à base de toltrazuril na dose única de contagem abaixo de 200 oocistos/grama de fezes, representando carga da equipe de consultoria em sanidade 15mg/kg de peso vivo, por via oral, senbaixa do agente. O cenário indesejável é quando 20% ou mais dos animais do Grupo Rehagro e demonstram resultados de exames de OOPG com o perfil do uma boa ferramenta para tratamentos individuais ou de grupos de animais. de cada lote tenham contagem alta para Eimeria (> 800 oocistos/grama de da carga parasitária de Eimeria da recria Caso seja possível, torna-se interessante fezes). É justamente nessas situações onde mais de 20% do lote apresenta de uma fazenda leiteira. e viável utilizar os resultados de OOPG carga alta de eimeriose que o tratamento é recomendado, devendo ser feito Com o monitoramento da eimeriose através dos exames de OOPG o desejádos lotes para balizar os tratamentos, entender o comportamento da doença no em todos os animais do grupo. vel é que no mínimo 80% dos animais de rebanho e avaliar a eficiência das dietas cada lote apresentem contagem abaixo e dos manejos de controle e prevenção. de 200 oocistos/grama de fezes, repre- De forma geral, devemos enxergar a sentando carga baixa do agente. O ce- coccidiose como uma doença presente nário indesejável é quando 20% ou mais em quase todas as fazendas, de alta predos animais de cada lote tenham conta- valência e que na maioria das vezes atua gem alta para Eimeria (> 800 oocistos/ silenciosamente, o que não a impede de grama de fezes). É justamente nessas ocasionar prejuízos permanentes. Uma situações onde mais de 20% do lote boa higiene do ambiente de permanênapresenta carga alta de eimeriose que o cia dos animais representa um dos printratamento é recomendado, devendo ser cipais métodos de controle do agente feito em todos os animais do grupo. infeccioso. Esforços devem ser aplicados de modo que seja possível a realização Controle, prevenção e tratamento de monitoramentos frequentes do reRecapitulando pontos já citados e fa- banho por meio de exames de OOPG zendo uma síntese dos processos, algu- para determinação da carga parasitária mas das ações que devem ser adotadas dos animais e direcionamento dos tratapara controle e prevenção da eimeriose mentos.
Visualização de Eimeria no exame de OOPG Fonte: ThallysonThalles, Equipe Sanidade – Grupo Rehagro
