Ensaios de Inês Monteiro - menção honrosa

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Ensaio 1538

Tópico C: “Em termos morais, haverá culturas melhores do que outras?”

No presente ensaio defender-se-á que, avaliando moralmente as diferentes culturas, é possível afirmar que umas são melhores que outras. Para defender tal tese será importante esclarecer conceitos como “O que significa dizer que moralmente A é melhor do que B?” ou “O que leva a cultura A a ser diferente da cultura B?”. No seguimento da resposta a estas perguntas, serão esclarecidas as diferentes soluções filosóficas para o problema em causa, apontando por fim a que terá uma resposta mais fundamentada para o resolver, concluindo-se então a pertinência da tese defendida.

A definição do conceito “ser moralmente melhor que” Começando por responder às perguntas supramencionadas, uma cultura distingue-se de outra pelos valores defendidos, pelas suas tradições e pela forma como agem segundo esses valores e tradições. Assim sendo, os valores seguidos por uma cultura, (tendo em conta que são por estes que as pessoas dessa mesma cultura se vão guiar nas suas acções), ditam o quão moralmente correta esta pode ser. Seguindo então este critério, ao longo deste ensaio, ao afirmar que há culturas moralmente melhores que outras, querer-se-á dizer que a cultura A é melhor que B, se os valores base da cultura A forem moralmente mais correctos que os valores base da cultura B.

Como definir que os valores base de uma cultura são moralmente mais correctos? Como já mencionei, os valores de uma cultura são o motor da decisão das pessoas dessa mesma cultura, ou seja, as acções que tomamos são maioritariamente influenciadas pela cultura na qual nos inserimos. Assim sendo, dizer que uma cultura tem valores moralmente correctos é dizer que os princípios que regem essa mesma cultura levam as pessoas a agir de uma forma moralmente correcta. Põe-se então um problema já há muito trabalhado pela Filosofia: o que torna uma acção moralmente correta? Há para esta pergunta diferentes respostas, sendo que neste ensaio nos vamos focar nas duas mais importantes teses no ramo filosófico de Ética: a ética Kantiana e o Utilitarismo (cujo maior defensor e principal redactor de como conhecemos o Utilitarismo actualmente foi John Stuart Mill).


O Utilitarismo Vou iniciar a apresentação destas teorias, começando pelo Utilitarismo. O Utilitarismo é uma teoria consequencialista (ou seja, que se foca nas consequências de uma acção para determinar a sua moralidade) que defende que uma acção é moralmente correta se for aquela que trouxer a felicidade ao maior número de pessoas (hedonismo ). Dando um exemplo prático, se alguém recebesse uma herança considerável, e tivesse as opções de aproveitar para fazer uma viagem que, não tendo recebido tal montante, não poderia fazer ou dar o dinheiro para ajudar a alimentar os desfavorecidos, seria moralmente correcto decidir ajudar os desfavorecidos, pois seria essa a forma de maximizar a felicidade, fazer o maior número de pessoas felizes possível. A tese de Stuart Mill tem, enquanto teoria ética, falhas. A primeira delas, e provavelmente a mais fácil de identificar, é a óbvia constatação que a felicidade não é absoluta (é relativa, muda de pessoa para pessoa) e, sobretudo, não é mesurável. O facto de cada ser humano ter características psicológicas e emocionais diferentes, implica que aquilo que me fará mais feliz, pode não ser aquilo que fará mais feliz o próximo. Enquanto muitos de nós tiramos prazer em assistir a um concerto de música clássica, outros poderão afirmar que não fruem em nada dessa experiência, e que, analogamente seriam muito mais felizes a assistir a um jogo de futebol ao vivo da sua equipa de preferência. Sabemos também que a felicidade não é mesurável, eu não posso medir o quanto estou feliz e explicar aos outros exactamente a quantidade dessa felicidade, pois eu próprio meço a minha felicidade momentânea comparando com experiências passadas, experiências cuja “quantidade” de felicidade mais ninguém pode saber se não eu, pois qualquer que tenha sido a experiência, só o próprio a pode usar como termo viável de comparação, sendo que cada uma lida com as mesmas situações de diferentes formas. Outro problema que se põe no Utilitarismo (que será resolvido na ética Kantiana) é a possibilidade de fazer com que actos como mentir possam ser tornados actos morais. O que quero com isto dizer é que, se sempre que mentir for a solução que trouxer mais felicidade ao maior número de pessoas, mentir torna-se moralmente correto, segundo o Utilitarismo, e tal é inviável numa sociedade como a nossa na qual só se geraria um contínuo sentimento de desconfiança e, a longo prazo, isso poderia mesmo causar graves danos na comunicação, uma vez que é plausível que o ato de comunicar fosse lentamente modificado, por haver possibilidade de ausência total de veracidade na informação transmitida. Por fim, e mostrando um contra-argumento elaborado por Nozick, denominado A Máquina de Experiências, vemos que o Utilitarismo, se mesmo aceite após os contraargumentos já enunciados, servirá apenas para aqueles que não se importassem de viver uma vida ilusória. O que Nozick enunciou foi o seguinte: imaginem a existência de uma máquina que fosse capaz de identificar tudo aquilo que fosse mais prazeroso para cada um e, uma vez ligados a essa máquina, ela conseguisse simular que nós mesmo estaríamos a viver essas experiências das quais desejaríamos sempre fruir. O que se pretende mostrar com isto é que escolhendo a felicidade como motor de acção, estamos a escolher uma vida em que a nossa felicidade é o fim último, pelo que quando postos perante a possibilidade de estar ligados a tal máquina, seria difícil arranjar argumentos que nos levassem a recusá-la. Ora, escolher estar


ligado a uma máquina de igual calibre, seria escolher viver uma vida ilusória, se tal se poderia chamar de “viver”. Assim sendo, rejeitando a hipótese de uma vida simulada, a felicidade falha como finalidade da acção moral. Pelos contra-argumentos enunciados vemos que o Utilitarismo não representa uma resposta inteiramente aceitável para o problema da moralidade. Analisemos então a resposta Kantiana a este problema.

A ética Kantiana Kant apresenta uma resposta bastante diferente do Utilitarismo para a pergunta “O que torna uma acção moralmente correta?”. Ao contrário do Utilitarismo, a ética Kantiana não se baseia nas consequências da acção, mas sim na vontade boa que leva a essa acção. O que significa isto da vontade boa? Kant quer com isto dizer que agimos moralmente quando agimos de certa forma porque é esse o nosso dever. Para ilustrar este conceito, coloquemos a situação hipotética de alguém me perguntar uma coisa e a minha resposta poder ser mentira; desconfiando eu que a pessoa sabe a resposta verdadeira, devo responder com a verdade porque vai fazer o outro ou a mim feliz ou até mesmo porque ficaria bem frente à outra pessoa dizer a verdade? Segundo Kant, não. Eu, se com o intuito de agir moralmente, diria a verdade pois é esse o meu dever. E como saber qual é o meu dever? Face a esta questão, Kant formulou uma máxima absoluta e universal que serviria como crivo para saber se se age moralmente ou não, o Imperativo Categórico. O Imperativo Categórico, numa das suas formulações, diz o seguinte: Age de maneira a que a tua acção possa ser tornada uma máxima universal. Kant responde desde já ao problema da mentira levantado pelo Utilitarismo: não devemos mentir, pois esta não é uma máxima universalizável pelas razões já mencionadas. O filósofo enunciou ainda uma máxima que segue quase como um corolário do mesmo Imperativo que diz: Trata cada pessoa como um fim em si mesma, e não como um meio para um fim. Não sendo uma teoria infalível, a ética Kantiana falha num ponto fulcral: o dilema entre deveres. Imaginando-nos confrontados por uma situação em que dois deveres se oponham, Kant não dá solução para este caso. Uma das situações hipotéticas mais célebres que se põe para mostrar a pertinência deste contra-argumento é a do episódio do aparecimento de um assassino perante um pai, que escondera os seus filhos para os proteger. Quando perguntado pelo assassino onde se encontram os seus filhos, segundo Kant, a opção moralmente correta a tomar pelo pai seria dizer onde estes se encontram, pois mentir não é uma máxima universalizável. Kant argumenta que o pai não é moralmente responsável pela morte dos filhos pois não foi ele que violou uma máxima universal de não matar outro ser humano. No entanto, se tomarmos a protecção da vida humana também como uma máxima universalizável (que o pode ser, quando posta em prova pelo Imperativo Categórico), o pai fica com um dilema entre deveres: não mentir/dizer sempre a verdade e proteger a vida humana, que é, neste caso, a dos próprios filhos. Elizabeth Anscombe deu uma resposta a este problema. A filósofa fez uma reformulação do Imperativo Categórico no qual, mantendo os mesmos princípios, acrescentou


uma permissão da mentira se, e só se, esta fosse em prol de salvar uma vida humana. Claro que, aplicando isto ao Imperativo Categórico Kantiano, este deixa de se tornar absoluto como Kant o elaborou, no entanto, perante situações como a hipotética anteriormente exposta do caso do assassino, esta reformulação serviria para ultrapassar as limitações da ética Kantiana, que em qualquer outro ponto se encontra extremamente bem fundamentada. Usando o Imperativo Categórico (com a salvaguarda sugerida por Anscombe) para a definição da moralidade de uma acção, encontramos aquele que pode ser o critério para definir se uma acção é correta ou não do ponto de vista moral, encontrando assim também o critério que permite definir que valores base de uma cultura são moralmente correctos.

A resposta à moralidade de um valor No seguimento do que foi já dito, e reiterando a tese defendida neste ensaio, é possível arranjar um critério que permita afirmar que umas culturas são moralmente melhor do que outras. Será fácil de afirmar que valores são intrínsecos a uma cultura, ou seja, quais os princípios que determinada cultura escolheu para guiar as suas acções; ora, analisando, as diferentes culturas e os seus valores, podemos afirmar que uma cultura é tanto melhor moralmente quanto mais os seus valores incitarem a agir de uma forma correta do ponto de vista ético que acontece se, aceitando tudo o que foi dito até agora, a acção estiver de acordo com o Imperativo Categórico reformulado já mencionado, pelas mesmas razões já defendidas, estando o(s) valor(es) culturais que guiou/guiaram a acção, por extensão, também de acordo com o mesmo Imperativo Categórico aqui considerado.

Problema da Identidade O critério escolhido levanta um problema acerca da identidade das culturas. Analisemos o caso hipotético de todas as culturas quererem passar a agir correctamente do ponto de vista moral, não querendo ser pior que uma outra cultura “apenas” por causa dos valores pelos quais se rege. Imaginando que tal acontece à escala global, e que se pusesse a hipótese de haver uma mudança radical de valores, o que passaria a distinguir uma cultura das outras? A isto podemos responder aquilo que, em parte, ainda agora as distingue. Neste ensaio analisou-se a possível comparação de culturas a nível moral e a implicação que isso tem nos seus valores. No entanto, uma cultura, não se resumindo só aos seus valores, resume-se também às suas tradições e ainda, por vezes, a características físicas específicas das pessoas dessa mesma cultura. Conclui-se assim que, mesmo havendo valores mundialmente aceites, a identidade não se perderia, pois mesmo agindo todos de forma correcta moralmente, continuamos a ser indivíduos únicos e diferentes na nossa fisionomia, gostos, opções de vida, tradições, entre outros.


Conclusão Encontramos assim a resposta ao problema. É possível considerar que uma cultura é melhor do que outra, sim. É possível, também arranjar um critério de comparação: os valores regentes de cada cultura. Ainda assim, é, por fim, possível identificar uma definição fundamentada de valores moralmente correctos e aplica-la globalmente sem que, para isso, uma cultura tenha de perder a sua identidade.


Student Nr 1538

Topic A – “We make our choices and our choices make us” -Shakespeare

In this present essay I’ll be defending that, assuming that we make our choices, our choices are the definition of who we are as moral individual. I’ll start by explaining the intricacies of affirming we have free will to make choices, and then I’ll explain how our freedom allows us to show our personality.

Are we free? To assume that we make our own choices is to assume that we are free. But first it is important to clear the concept of freedom. When can we say we’re free? In this thesis the term freedom will be used as the ability all human beings have to, when in front of multiple hypothesis, choose which one we want to follow through with, without any type of persuading to do so. For example, so as to understand better this definition, let’s take into account the following hypothetical situation: Picture yourself in a hot summer day and you want to make the most of it. In your house you have a pool you could take advantage of, but your house is also near the beach. You chose to go to the beach, but you know you could have just as easily gone to pool. In this case, you can say you’re free, you have free will. You could have chosen other option (and you had one) but you still chose to go to the beach, without there being any other reason but the fact that you’d rather do one than the other. If you accept this as a true statement in any given situation, you accept the idea that, according to the definition given previously, you’re free. Also, by accepting this, you’re embracing the fact that, because you have the option to do A instead of B, you are morally responsible for your actions and choices.

Why is it moral responsibility an important concept? As stated previously, moral responsibility means that, because you chose to act in a certain way, you are now responsible for what revolves around that same act. What follows from this affirmation is that, knowing that you are responsible for whatever it is you decide to do, what it is you end up doing defines you. Let’s put it this way, if you agree with what you’ve read so far, you believe that you are free, therefore (still assuming you agree with the points made so far) you agree that you are responsible for your own choices. So, knowing that, when you are to choose, let’s say, between eating your whole delicious lunch and sharing it with your friend who brought a not


so delicious meal with him, the fact that you know you can choose either, knowing the consequences of having no one to blame but yourself, choosing to do one or the other reflects what kind of person you are. If you chose to do the first, an impartial observer might say it was very un-altruistic and unfriendly of you. If, on the other hand, you chose the latter, the same observer would probably classify you as nice.

We make our choices and our choices make us indeed. Analyzing it by premises, and taking into account the examples shown, it will end up in a reasoning like this: 1- If you are free, you are responsible for your acts; 2- If you are responsible for your acts, it is your way of thinking that will lead youto act in the way you do; 3- You are free; therefore, what you do shows your principles and beliefs.

As you can see, it all lies in your idea of freedom. Once you accept you’re free (in the definition used in this essay), very hardly can you explain how it is that our choices do not reflect your thinking and, by extension, your personality. And that is very easy to see if you think your personality is shaped by the experiences live and the beliefs you have. If you imagine a domestic violence victim that later decides to be anything but violent you could say that the fact that they are not violent is a trait they have, and that trait is what’s going to cause them, when in a situation of confront, to probably stay out of it and take the non-violent approach. And they chose to take it that way because of who they are that was based on their upbringings and knowledge and cultural beliefs.

Conclusion In the present essay I began by clarifying the idea of freedom, and showing how it impacts our idea of responsibility. I then showed the importance of knowing you’re responsible in choosing your actions. Finally, I conclude that if you accept that you are free and morally responsible and you know that while choosing your course of actions, you are choosing what seems more appropriate to the situation, you are letting your choices define you.


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