Anais VII Mostra Científica de Turismo

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ANAIS DA VII MOSTRA CIENTÍFICA DE TURISMO

SUSTENTABILIDADE NO TURISMO

ORGANIZADORES DOS ANAIS: Ivanir Azevedo Delvizio Leonardo Giovane Moreira Gonçalves

REALIZAÇÃO:

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COMISSÃO CIENTÍFICA DA VII MOSTRA CIENTÍFICA DE TURISMO Profa. Ivanir Azevedo Delvizio (Presidente da Comissão Científica) Prof. Eduardo Romero de Oliveira (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Fábio Luciano Violin (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Francisco Barbosa Nascimento Filho (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Guilherme Henrique Barros de Souza (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Juliana Maria Vaz Pimentel (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Renata Maria Ribeiro (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Roberson da Rocha Buscioli (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Roberta Dias de Moraes (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Rosângela Custodio Cortez Thomaz (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Vagner Sérgio Custódio (UNESP - Câmpus de Rosana)

COMISSÃO ORGANIZADORA DA X SEMANA DE TURISMO Profa. Roberta Dias de Moraes (Presidente da Comissão Organizadora) Alexandre Balbino Domingos Alexya Cristina Alabi Macedo Amanda Otilia Andre Beatriz Gomes Pinheiro Galeno Camila de Jesus Assunção Floriano Clarissa Fagundes Gabriel Prando Ruiz Jennifer Bruna Dos Santos Oliveira José Eduardo Brunhara Leandro Braz Nicolo Maria Carolina San Martin Mariana Batista da Silva Souza Mariana de Fátima Cópola Lasas Murilo Henrique Barbiero Renan Ricardo Galdino Inácio Shara Oliveira Victor Hernandes Alves dos Santos Williane Nunes Matioli

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APRESENTAÇÃO É com grande satisfação que apresentamos os Anais da VII Mostra Científica de Turismo, realizada em conjunto com a X Semana Acadêmica de Turismo, eventos promovidos pelo Curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus Experimental de Rosana.

A X Semana Acadêmica de Turismo foi realizada entre os dias 24 e 26 de outubro de 2018, tendo como tema central a sustentabilidade.

A VII Mostra Científica de Turismo foi realizada no dia 26 de outubro de 2018, com apresentação de trabalhos inseridos em cinco eixos temáticos: Turismo e Cultura; Turismo e Desenvolvimento Local; Turismo, Marketing e Serviços; Turismo e Políticas Públicas e Outros Segmentos do Turismo, que foram organizados em cinco grupos de trabalho (GTs).

Os trabalhos apresentados estão organizados de acordo com o eixo temático em que se inseriram, dividindo-se em duas categorias: artigos completos e resumos expandidos.

Agradecemos a todos que colaboraram para o sucesso da VII Mostra Científica de Turismo e esperamos que esta publicação contribua para o desenvolvimento dos estudos na área do Turismo .

Rosana, 25 de agosto de 2019.

Ivanir Azevedo Delvizio Presidente da Comissão Científica

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SUMÁRIO ARTIGOS CIENTÍFICOS Turismo e Cultura Os Traços Culturais Alimentares Relacionados à Trajetória de Vida e Origem: Os Resquícios da Memória no Futuro Museu do Assentado ....................................................................................................................................10 GONÇALVES, Leonardo Giovane Moreira; THOMAZ, Rosangela Custodio Cortez. A Percepção do Grafite como Atrativo no Turismo ................................................................................................19 SAN MARTIN, Maria Carolina Pereira da Silva; VIOLIN, Fábio Luciano. Um Levantamento das Consequências que São Produzidas a Partir da Implantação do Turismo Cultural .........28 ANDRE, Amanda Otília Galeno; BARBIERO, Murilo Henrique; GALENO, Beatriz Gomes Pinheiro; PIMENTEL, Juliana Maria Vaz. Reconhecimento da Cultura Afro-Brasileira Através do Patrimônio Cultural: Caso do Maracatu na Noite dos Tambores Silenciosos ...............................................................................................................................................35 PESSOA, Ismael Muniz; PIMENTEL, Juliana Maria Vaz.

Turismo e Desenvolvimento Local Identificação de Um Cluster Turístico a Partir de Métodos Quantitativos e Qualitativos: O Caso de Olímpia – SP ..................................................................................................................................................................................40 AFONSO, Lara Cleaver; BUSCIOLI, Roberson da Rocha. O Papel Do Planejamento Estratégico Na Promoção De Destinos: O Caso De Rosana-Sp ....................................52 SANTOS, Brenda Letícia Lichewiski dos; VIOLIN, Fábio Luciano. O Destaque dos Municípios de Interesse Turístico, Estâncias Turísticas das Regiões Turísticas do Pontal Paulista, Águas Do Oeste, Sol Do Oeste e a Importância Do Planejamento Turístico ............................................59 INÁCIO, Renan Ricardo Galdino; RIBEIRO, Renata Maria. O Trabalho Produtivo Feminino e as Atividades Não Agrícolas como Fatores Contribuintes para a Manutenção De Famílias No Meio Rural ......................................................................................................................................69 SUART, Lucas Galvão; COSTA, Maria Luiza Carucci Alves; THOMAZ, Rosângela Custodio Cortez.

Turismo e Políticas Públicas Legislação do Estado de São Paulo: Estudo de Caso da Lei 1.261/2015 Aplicada às 32 Primeiras Estâncias Turísticas ..................................................................................................................................................................83 OIOLI, Alessandra Scavassa Oioli; TATINI, Victoria De Azevedo Braga Tatini; MORAES, Ewerton Henrique de Moraes. A Efetividade dos Benefícios do Cadastur nos Meios de Hospedagem em Campo Grande/MS .............................90 ASSUMPÇÃO, Flávio Dallglio; FERREIRA, Gustavo Estevam; GONÇALVES, Leonardo Giovane Moreira; SALIRROSAS VELAZCO Julia Alejandra; RIBEIRO, Renata Maria.

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Outros Segmentos do Turismo Economia Solidária e Turismo: Uma Equação Mercadológica Viável ...................................................................98 ANDRE, Amanda Otilia; GALENO, Beatriz Gomes Pinheiro; VIOLIN, Fábio Luciano.

RESUMOS EXPANDIDOS Turismo e Cultura Turismo Gastronômico: O Acarajé como Símbolo da Resistência da Cultura Africana...................................... 108 MARCOS, Shara Gabrieli Santos de Oliveira; PIMENTEL, Juliana Maria Vaz; NASCIMENTO FILHO, Francisco Barbosa.

Turismo e Desenvolvimento Local Projeto de Sinalização Turística do Município de Rosana/SP: Como sua Aplicação Contribui para o Planejamento do Turismo Municipal de Rosana-SP ............................................................................................. 111 BRANQUINHO, Jefferson; COROCHER, Julia; SOARES, Thiago Pedroso; ROCHA, Roberson Buscioli da. Análise das Condições de Visitação da Estação Cultura Em Campinas-SP.......................................................... 114 TATINI, Victoria de Azevedo Braga, OLIVEIRA, Eduardo Romero de. Desenvolvimento de Roteiros Alternativos em Assentamentos Rurais: Trilha Eco Rural no Assentamento Porto Maria, Rosana-SP .................................................................................................................................................. 117 SILVA, Caio Borba; THOMAZ, Rosângela Custodio Cortez

Turismo, Marketing e Serviços Análise dos Recursos Humanos nas Agências de Viagem Localizadas nos Shopping Centers de Ribeirão Preto-SP ................................................................................................................................................................................ 120 ARRUDA, Carolina Ferraz; NASCIMENTO FILHO, Francisco Barbosa do. Análise dos Meios de Hospedagem de Foz do Iguaçu: Wish Resort Golf Convention e Hostel Poesia ................. 123 DEUS, Júlia Moreira de; FALCÃO, Victória Rui; LIMA, Gabriela Butzer de; OIOLI, Alessandra Scavassa; NASCIMENTO FILHO, Francisco Barbosa do. Diáspora.Black: Transformando a Segregação em Segmentação no Turismo. .................................................... 127 DOMINGOS, Alexandre Balbino; PIMENTEL, Juliana Maria Vaz. Análise do Potencial e dos Serviços Turísticos na Autovia Litoral Sul para Praticantes de Viagens com Motocicleta ............................................................................................................................................................. 131 FERREIRA, Gustavo Estevam; RIBEIRO, Roberta de Moraes.

Turismo e Políticas Públicas O Planejamento do Turismo sob o Ponto de Vista dos Gestores Locais ............................................................... 134 SANTOS, Victor Hernandes Alves dos; RIBEIRO, Renata Maria. ;

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Outros Segmentos do Turismo Diagnóstico dos Equipamentos e Atividades de Lazer de Clubes de Empresa: Clube Da Ford e GM ................. 138 SILVA, Rafaela Santos da; CUSTÓDIO, Vagner Sérgio As Dimensões da Experiência Turística: Análise Comparativa da Prática de Campismo e Glamping................ 142 POSO, Pablo Henrique; NASCIMENTO FILHO, Francisco Barbosa. Projetos de Extensão: Ligação entre Discentes e Comunidade Local ................................................................... 145 DEUS, Júlia Moreira de Deus; MARTINEZ LARA, Ana Patricia Martinez Lara; THOMAZ, Rosangela Custódio Cortez Thomaz. Metodologia para Elaboração de Definições de um Conjunto de Termos da Hotelaria ....................................... 149 DIAS, Camila da Silva; DELVIZIO, Ivanir Azevedo. Narcoturismo: Análise de uma Nova Segmentação ............................................................................................... 153 PEDROSO, Thiago Soares Pedroso; ROCHA, Roberson Buscioli da. Uma Reflexão Sobre o Turismo Náutico: Potencialidades para Desenvolvimento no Brasil................................ 157 AZANHA, Augusto César Oliveira; BARCIELA, Isadora de Oliveira Pinto; RIBEIRO, Roberta Dias de Moraes.

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OS TRAÇOS CULTURAIS ALIMENTARES RELACIONADOS À TRAJETÓRIA DE VIDA E ORIGEM: OS RESQUÍCIOS DA MEMÓRIA NO FUTURO MUSEU DO ASSENTADO¹ GONÇALVES, LEONARDO GIOVANE MOREIRA2 THOMAZ, ROSANGELA CUSTODIO CORTEZ³ leonardo.giovane@unesp.br, rosangela.thomaz@unesp.br 1

Trabalho vinculado às Iniciações Científicas financiadas pelo Pibic/CNPq (2015-2016) e pela Fapesp (2017-2018) e ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Turismo no Espaço Rural-GEPTER. 2 Graduado em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Pós-doutorado em Turismo, Universidade de Santiago de Compostela (USC - Espanha), Professora Assistente do Curso de Graduação em Turismo e de Pós-graduação em Geografia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo.

RESUMO - Na modernidade líquida as memórias desvanecem e os resquícios memorativos recobram novos significados. Assim, o projeto O Museu do Assentado teve o intuito, por meio deste trabalho, de retratar as memórias obtidas de 9 assentadas sobre os pratos típicos, hábitos, métodos de conservação e obtenção de alimentos e outros traços culturais alimentares que versam sobre a trajetória de vida e origem dos entrevistados. Para atingir tal objetivo, utilizou-se a metodologia de história oral na obtenção dos relatos orais durante as visitas aos lotes dos entrevistados e, para analisar os relatos obtidos, foi realizada uma pesquisa bibliográfica exploratória sobre os assuntos memorados. Por conta disso, pode-se observar a existência de métodos de conservação de alimentos, como o charque, carne seca e carne de sol, além de pratos geracionais, como o doce de feijão, tutu de feijão, chá de amendoim e outros, que se distanciam dos hábitos culturais atuais da região.

Palavras-chave: Museu do Assentado, Alimentação, Cultura, Assentamentos Rurais. ABSTRACT - In the liquid modernity, the memories fade and the memory flashes recover new meanings. Thus, the Museu do Assentado project was intended, through this work, to portray the memories obtained from 9 interviewed about the typical dishes, habits, methods of conservation and obtaining food and other cultural traits that talk about the life trajectory and place of birth of the respondents. In order to achieve this objective, the oral history methodology was used to obtain the oral reports during the visits to lots of respondents and, to analyze the reports obtained, the realization of an exploratory bibliographical research on the subjects remembered. Because of this, it can be observed the existence of methods of conservation of food, such as beef jerky, dry meat and sun meat, besides generational dishes, such as bean candy, tutu de feijão, peanut tea and others, that distance themselves from the current cultural habits of the region Key words: Museu do Assentado, Alimentation, Culture, Rural settlements.

1 INTRODUÇÃO O campo do turismo possui inúmeros segmentos de mercado que vêm se ramificando e se aprofundando ano após ano e entender esses segmentos, assim como as suas potencialidades e possíveis problemáticas, deve fazer parte do trabalho inicial dos futuros turismólogos e pesquisadores da área.

Primeiramente, iniciemos nossas discussões com o papel do turismo nas comunidades rurais, sendo necessário entender que o ambiente rural pode ofertar às famílias relações que extrapolam o trato com a terra, assim como menciona Blos (2000, p. 199), “há o entendimento de que é possível abrigar nesse espaço também o oferecimento de serviços e a produção de bens não agrícolas”.

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Silva e Almeida (2002, p. 166) discursam sobre o novo olhar, ou também entendido como os múltiplos olhares para a propriedade rural, segundo eles: Além de produzir alimentos, o rural passa a ser visto como um espaço multifuncional de funções ambiental, econômica, social e cultural. O conceito de multifuncionalidade contraria a ideia de que a agricultura tem apenas a função de produzir bens alimentares, mas atribui-se a ela um papel determinante na manutenção das populações locais, na preservação do ambiente e das paisagens, acolhimento das populações urbanas entre outros. Partindo do conceito de multifuncionalidade do rural, observa-se que as atividades das propriedades que outrora estavam voltadas unicamente para a pecuária e agricultura, uma vez transformadas, podem gerar motivações, expectativas e atrair uma determinada demanda, a qual usufrui das atividades agrícolas e não agrícolas para o aproveitamento turístico (FUCKS; SOUZA, 2010, p. 97). Assim, o turismo pode ser inserido no aspecto multifuncional do rural, e a sua adoção acaba por transformar a vida das comunidades. O turismo no espaço rural auxilia na diversificação da economia, age como um agente mitigador do êxodo rural, ressignifica o espaço e, além disso, trabalha como agente formador de ideias e desmistificador de conceitos por meio do turismo rural pedagógico (PIRES, 2004, p.5). Além dos benefícios citados, a atividade turística pautada no planejamento sustentável (econômico, social e ambiental) no meio rural pode promover uma série de outros benefícios, tanto para a comunidade autóctone quanto para as flutuantes. Rosária (apud BANDUCCI JÚNIOR, 2014, p. 10), sobre a motivação e impacto do turismo, disserta que: O turismo promove o intercâmbio, gera conhecimento, o respeito entre as pessoas, valoriza o estilo de vida. O turismo cresceu pela necessidade do homem de se ligar à natureza e de entender as outras pessoas. [...] De maneira geral o turismo promove conhecimento, intercâmbio e valorização, não precisa ser só econômico e sim retratar a realidade toda.

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Segundo Almeida e Riedl (2000, p. 67), as atividades que podem ser desenvolvidas dentro do turismo rural são inúmeras, dessa forma para fim de classificaçã13o o autor utiliza dois grandes grupos: o turismo rural tradicional, que se subdivide em de origem agrícola e colonização europeia e a categoria de turismo rural contemporâneo, que se subdivide em hotéis-fazenda, pousadas rurais, spas rurais, segunda residência campestre e campings rurais. Trabalhos acadêmicos abordam de que forma o turismo se apropria das atividades agrícolas e não agrícolas, mas pouco se comenta da visão do local que, transformando seus saberes e fazeres, adota a atividade turística como um novo estilo de vida. É necessário entender que, quando abordamos as relações turísticas, possuímos dois atores principais: os turistas e os visitados, e analisar os anseios e motivações do pequeno agricultor também é algo necessário para compreender a dinâmica turística como um todo. Fucks e Souza (2010, p. 97) argumentam que, na maioria das vezes, é o camponês que escolhe a atividade turística, e não o turismo que o escolhe. Segundo os autores: [...] Entre as motivações para a adesão dos agricultores está o fato de o trabalho, tradicionalmente realizado no campo, nem sempre prover o capital e os recursos necessários para uma produção econômica eficiente, a manutenção da infraestrutura da propriedade, a preservação do patrimônio, o sustento digno da família e a sua permanecia no meio rural. Pela citação, é possível entender que, muitas vezes, a escolha pela aplicação das atividades turísticas se dá pela necessidade do capital. No entanto, a atividade turística também pode promover uma valorização das raízes, dos hábitos, costumes, vestimentas, culinária, atividades e muitos outros aspectos de cunho cultural no meio rural. Thomaz (2012, p. 199) afirma que “ainda que não seja o único fator a determinar a atratividade geral de uma região turística, a cultura é muito rica e diversa. Os elementos da cultura de uma sociedade é um reflexo complexo da forma como seu povo vive, trabalha e se diverte” e, assim, a cultura pode ser produto passível de comercialização pela atividade turística em ambientes rurais. Entre os elementos da cultura, podemos citar o cotidiano local, que, segundo Meneses (2004, p. 23):

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[...] mais que estimulador de curiosidade, é elemento problematizador do objeto que se quer fluir, e as intermediações que se fazem entre a cultura passada e o cotidiano é o que possibilita o entendimento, a contextualização instigante e a memorização prazerosa. O cotidiano é um entre os inúmeros aspectos existentes no universo do patrimônio cultural. As noções de patrimônio podem ser entendidas por meio de inúmeros autores, entidades e órgãos normativos. No entanto, Fucks e Souza (2010, p. 100) dissertam que o patrimônio cultural: [...] engloba os modos de vida, as relações humanas e de produção, as representações do passado e do presente, a ciência, a sabedoria popular, a história, o artesanato, o vestuário nativo, a culinária e gastronomia, as moradias e arquiteturas típicas, os costumes e as particularidades da vida folclórica, das festas típicas e demais manifestações artístico culturais da localidade ou região. Embasado nas possibilidades de desenvolvimento da atividade turística de cunho cultural no espaço rural, o presente artigo pretende discutir quais são os traços culturais alimentares evidenciados durante o processo de inventariação do patrimônio material e imaterial para a constituição do futuro Museu do Assentado. Além disto, o presente trabalho pretende discutir a importância dos saberes e fazeres à mesa, como, por exemplo: o preparo, a conservação e o armazenamento dos alimentos, hábitos e modos à mesa, para a formação cultural dos atores sociais estudados. 2. METODOLOGIA De certa forma, para a criação deste trabalho, utilizou-se uma pesquisa bibliográfica exploratória em livros, revistas, artigos e em sites que auxiliassem no entendimento e na contextualização acadêmica dos eixos verticais e transversais sobre a importância dos alimentos para a cultura, métodos de conservação de alimentos, turismo rural, cultura e patrimônio. Na constituição deste artigo científico, também foram utilizados fragmentos das entrevistas realizadas com as assentadas ao longo do projeto. Salienta-se que esses fragmentos fazem referência aos modos de preparos de alimentos, culinária típica, conservação,

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modos à mesa e outros assuntos elucidados por nove assentados, pertencentes aos assentamentos: Nova Pontal, Gleba XV de Novembro e Bonanza do município de Rosana/SP. Para obtenção desses fragmentos, utilizou-se a metodologia da história oral. Com visitações in loco (aos lotes dos assentados), os pesquisadores aplicam um roteiro de entrevista e gravam as conversas com os entrevistados e, após esse estágio, as entrevistas são transcritas na íntegra para servir de base aos materiais científicos e sociais desenvolvidos. Quanto à elaboração do roteiro de entrevista, a mesma se dividia em cinco principais partes. Sendo a 1ª ‘Trajetória de vida e origem’, a qual buscou percorrer em uma linha cronológica os fatos que ocorreram na vida dos entrevistados até a obtenção do lote, assim como de qual modo os mesmos cozinhavam, dormiam, viviam e faziam suas atividades cotidianas, seja no período do acampamento, ocupações e/ou em outras fases de suas vidas; a 2ª, denominada ‘Crescimento’, que teve a pretensão de obter informações sobre as lendas, mitos, histórias, brinquedos e brincadeiras de que os entrevistados faziam uso no passado. A 3ª, por sua vez, intitulada ‘Trabalho’, buscou relatos sobre os modos de trabalho dos pais e dos entrevistados, com o intuito de relacionar esses relatos com os anteriores e criar um perfil social dos entrevistados, bem como as suas relações com o trabalho, lazer, educação, militância e demais áreas. Os ‘Aspectos Vivenciais’ que pertencem à 4ª parte tiveram como intuito evocar memórias sobre o casamento e crescimento dos filhos, assim como escola, educação e diferenças culturais entre gerações e outros assuntos. Já a 5ª e última, intitulada ‘História’, almejou realizar uma espécie de overview a partir dos relatos orais dos entrevistados, em outras palavras, os entrevistados respondiam perguntas como: “Ao longo de sua trajetória de vida teve algo que te marcou?”, pois, assim, tornava-se possível identificar os pontos mais importantes após dezenas de minutos de entrevista. A elaboração desse roteiro de entrevista teve como base o modelo de entrevistas e relatos expostos no livro “A voz do passado” (THOMPSON, 1992), mas que, devido ao perfil das entrevistadas, objetivo da pesquisa e objeto de estudo, houve mudanças significativas na supressão e adição de perguntas e apontamentos, diante do ‘roteiro modelo’ apresentado pelo autor no livro. Além disso, destaca-se que os autores se reservam o direito de utilizar os nomes reais dos entrevistados, primeiramente pelo fato de os mesmos

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terem autorizado a veiculação de seu nome em materiais científicos por meio de um Termo de Consentimento de Uso de Entrevista e porque acreditase que a oralidade possui personalidade, atores e protagonistas de sua própria história e descartar seus nomes seria apagar sua identidade, trajetória e significação. Mas, conforme citado anteriormente, para este trabalho utilizou-se somente alguns fragmentos dessas entrevistas sobre o tema proposto. 3 FUTURO MUSEU DO ASSENTADO: UMA PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO

O intuito inicial do projeto parte da inventariação do possível acervo do Museu Assentado, ou seja, a pesquisa busca inventariar quais são os traços culturais, inerentes à trajetória de vida e origem dos assentados que futuramente poderiam compor o acervo do Museu. Basicamente, o pressuposto inicial é realizar um inventário e diagnóstico de quais são os elementos culturais desses assentamentos e, em um segundo momento, partindo da catalogação das fotos, objetos, móveis, relatos orais, documentos e outros elementos, com o auxílio de entidades competentes no âmbito da museologia, findar a implantação do Museu. Como uma iniciativa pioneira, o projeto, em todas as suas fases, bem como a inventariação, implantação e gestão do espaço museal, estrutura-se em quatro eixos principais: a reconstrução dos traços tradicionais, a preservação, a disseminação cultural e, por fim, utilizando-se da educação patrimonial, por meio do turismo, objetiva-se a desmistificação dos traços culturais. (GONÇALVES; THOMAZ, 2016) De cunho coletivo, o acervo do futuro Museu está sendo criado pelos próprios assentados que contam suas histórias, doam objetos, fotos e outros elementos que um dia se fizeram presentes em sua trajetória de vida e origem. Assim, com a construção coletiva e futuramente uma gestão comunitária, objetiva-se a instauração de um espaço de reconhecimento, no qual os assentados possam ver a história e se identificar como atores protagonistas.

4 O PREPARO E A CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS

Durante a trajetória de vida e origem, as assentadas, uma vez ou outra, já produziram seus alimentos no fogão à lenha e, esse espaço, está presente

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nas memórias de todos os entrevistados, continuando vivo e materializado na atualidade. Maria José da Silva, pertencente ao assentamento Gleba XV de Novembro, nascida em Buíque/CE, reviveu que, em sua infância, sua mãe cozinhava no fogão à lenha e na construção do fogão se colocava “[...] umas prensas, uns tijolos, era umas pedras né e, aí ela ponhava as panelas ali, panelas de barro não era nem panela de alumínio, era de barro” (SILVA, 2016a). Sobre os alimentos que eram feitos, a entrevistada mencionou que: [...] ali ela fazia a nossa comida, uma comida péssima, não era nem arroz, era feijão, farinha, farinha de mandioca, e às vezes quando não era farinha de mandioca, era cuscuz. Conhece cuscuz de milho né? Feito com o milho, ralava, é, como eu disse, lá era difícil, mas às vezes dava plantava e colhia e tão quando o milho tava seco ou maduro que fosse, seco ponhava ele de molho numa água quente, ai dali vinha ralando a espiga, me lembro como se fosse hoje, ralando no ralo, ali tirava aquela farinha, aquela fubá que a gente fala fubá hoje né, e dali fazia o cuscuz que naquela época chamava pão de milho e ali a gente comia com feijão, era, nosso alimento era aquilo. Arroz a gente nem sonhava, não sabia nem o que era arroz. Era difícil, era difícil e era bom, porque era o costume né naquela época [...]. (SILVA, 2016a) A dificuldade na variação da comida diária foi um fato não sentido somente para Maria José, mas parte dos entrevistados relataram o mesmo. Maria Jesus da Silva, pertencente ao assentamento Gleba XV de Novembro, natural de Novo Exu/PE, conta que, no período de ocupações, não se tinha o que comer e a mesma “tirava um palmito coqueiro, as meninas não queriam comer, e ele” (referência ao marido) dizia “Come fia, é gostoso, come! Ele mesmo não tava comendo, não tava achando gostoso, mas tinha que comer, [...] gente nós sofremos hein!”. (SILVA, 2016b) Por meio da fala das entrevistadas, se torna-se possível identificar vários insumos que não estão tão presentes diariamente na mesa nacional atualmente, como é o caso do cuscuz, farinha de mandioca, palmito coqueiro e o fubá, mas, em contraposição à realidade atual, parte considerável das entrevistadas elucidaram que não comiam o arroz na infância. O motivo desse

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cardápio “diferenciado” se deve há inúmeros fatores. Dentre eles, podemos citar a falta de recursos financeiros para compra de alimentos e a dificuldade de produção de certos legumes, vegetais, cereais e hortaliças, um exemplo disso é o arroz. Esse fato foi ressaltado na memória de Maria de Lurdes Oliveira, pertencente ao assentamento Nova Pontal, natural de Diamante do Norte/PR, ao mencionar que as pessoas: [...] plantava roça, então tinha algodão, ai na época de algodão a gente ia ajuda a colher algodão, tinha uma casa de farinha que a gente ia ajudar o senhorzinho que era arrancar a mandioca, raspar né, para fazer a farinha, e a gente ganhava a farinha para comer e um bijuzinho para comer. Porque não tinha essas riquezas que nois tem hoje. (OLIVEIRA, 2016b) Francisco Alaor Pinheiro Siqueira, pertencente ao assentamento Bonanza, nascido em 1964 em Solonópolis/CE, afirma que se alimentava de inúmeros grãos, cereais e legumes, mas a fava foi um dos alimentos importantes em sua infância e que permanece em seu cardápio, sendo plantado em seu lote até os dias atuais. A fava é uma: Planta da família das leguminosas, nativa da região do mar Cáspio e do norte da África, com folhas paripenadas, flores brancas, róseas ou arroxeadas, com manchas negras nas asas, dispostas em racemos axilares, e vagem comestível, verde ou preta, rica em proteínas, hidratos de carbono, vitaminas e minerais; é cultivada desde a Antiguidade e foi introduzida na América pelos navegadores europeus: fava-do-brejo, fava-dos-pântanos, favaordinária, faveira, faveira-do-campo. (MICHAELIS, 2018) Segundo o entrevistado, o alimento era consumido em alguns períodos da semana por conta da sua alta concentração de ferro. Além desse produto, Francisco relatou que consumia muito a carne de carneiro e, por não haver geladeira, “quando você mata, você pega pimenta do reino, mistura no sal grosso, e joga na carne assim, e põe no varal, igual põe em roupa, e ai pega a carne seca dá um batido assim e corta e, ai frita cozinha” (SIQUEIRA, 2018). Sobre os doces, Maria Nilza de Souza, pertencente ao assentamento Bonanza, nascida em Tataíra/CE em 1955, rememorou que sua mãe fazia

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vários doces, segundo a assentada: “lá no Norte era mais rapadura, o alfenim, a batida, a rapadura, e as paçoca que as mamãe fazia, minha mãe fazia mais assim era doce de melancia, doce de abóbora” (SOUZA, 2018). Maria Nilza contava que sua família trabalhava no engenho de cana-de-açúcar e os produtos mencionados eram confeccionados e vendidos diariamente. A entrevistada também ressaltou a diferença entre o alfenim, batida e rapadura. Câmara Cascudo (2004, p. 12) afirma que o alfenim “no Brasil é guloseima em todas as festas religiosas, vendida nas ruas das cidades de vários estados brasileiros”. Além disso, o alfenim é um doce “oriundo do árabe e popular doce em Portugal desde o século XV; doce fino que adquire diversas formas de animais, flores, objetos de uso, vasos, cachimbos, estrelas, entre outros; formado apenas por açúcar e água” (FERREIRA; MELO, 2009, p. 135) A batida de cana-de-açúcar, por sua vez, segundo Macedo (2008, p. 37), é uma: Rapadura branco-amarelo claro, produzida com a mesma matéria-prima, o caldo concentrado, só que esse é batido, puxado e esticado com as mãos até ficar bem claro, daí, é só colocar nas formas para resfriar e solidificar totalmente. Esse processo é iniciado com a colocação do caldo concentrado, que está sendo batido na gamela, na superfície de uma cana selecionada e raspada para tal fim. Torna-se interessante ressaltar a variedade de insumos elencados pelos entrevistados e, além disso, a origem histórica desses produtos. Segundo Govêa, (apud MACEDO, 2008, p.35) a fabricação da rapadura: Teve seu início nas Ilhas Canárias, no século XVI, e foi exportada para toda a América espanhola no século XVII. A rapadura, na realidade, originou-se da raspagem das camadas (crostas) de açúcar que ficavam presas às paredes dos tachos utilizados para fabricação de açúcar. No Brasil, os engenhos de rapadura existem desde o século XVII, ou antes. Já sobre a conservação de outros alimentos, Amerentina Carneiro de Matos, pertencente ao assentamento Bonanza, nascida em Valente/BA, elucidou que “comprava carne a gente tinha que por

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ela, charquear né, ela, a gente salgava e botava no, botava lá no varal para secar né, não tinha jeito, senão estragava” (MATOS, 2016). Já Eleonice Maria da Silva Nascimento, pertencente ao assentamento Gleba XV de Novembro, natural de Cuiabá Paulista/SP, relatou que “não tinha conservação, se você comprasse alguma carne [...] a mais você tinha que salgar e pôr no sol, o se não se fritava e ia comendo aos poucos” (NASCIMENTO, 2016). A técnica de cura da carne por secagem e salga é um “recurso que nasceu da necessidade de conservar carnes, estendendo a sua vida útil e permitindo que fossem transportadas por longas distâncias”. (JANUÁRIO, 2015). Existem três tipos mais comuns de conservação da carne, sendo eles: a carne seca, o charque e a carne de sol e, em todos eles, a carne sofre um processo de desidratação, sendo que as principais diferenças estão na quantidade de sal, tempo de cura e local em que ocorre o processo. No processo da carne seca, os cortes bovinos são esticados “em mantas, salgados e depois expostos ao amanhecer até que percam, pelo menos, 50% da sua umidade. Por levar mais sal e ter mais tempo de exposição que a carne de sol, é menos úmida e tem maior prazo de validade” (JANUÁRIO, 2015). O Charque, “nascido no Rio Grande do Sul, tem mais tempo de preparo e mais sal que a carne seca. Os cortes exclusivamente bovinos, geralmente do dianteiro e mais gordurosos, são expostos geralmente à salga úmida, salga seca, lavagem e secagem” (JANUÁRIO, 2015). Por fim, a carne de sol, “tradicional do Nordeste, é a mais artesanal das carnes curadas. O corte (bovino ou caprino) recebe uma camada de sal fino e é deixado em locais cobertos e bem ventilados para secagem gradual, não é mais seca ao sol como antigamente”. (JANUÁRIO, 2015) Outro método de conservação de líquidos e alimentos foi o relembrado por Eleonice, que mencionou que, durante o acampamento para manter a água fresca, colocava-se na “[...] porunga ou senão moringa. Ai de noite ponhava, cava um buraco, e ponhava lá para ir refrescando” (NASCIMENTO, 2016). A porunga elucidada também é conhecida como cabaça e é uma planta que produz frutos com cascas resistentes que também são utilizados na fabricação de peças artesanais. Mesmo que atualmente as assentadas não tenham mais a necessidade de curar a carne, conservar a água e cozinhar no fogão à lenha esses imóveis, móveis, objetos e saberes ainda estão presentes no cotidiano das assentadas, pois, ao adentrar em suas

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residências, observa-se o fogão à lenha compartilhando o mesmo espaço com fornos elétricos, micro-ondas e fogões a gás. Maria das Dores mencionou que, no passado, “gostava muito de cozinhar era feijão na lenha, fazer um frango caipira na lenha, quando acabava o gás que a gente não tinha dinheiro para comprar ai fazia, era tudo na lenha também” (BARBOSA, 2016). Não obstante, o uso atual do fogão à lenha, além de evocar as memórias do passado, fazer lembrar a comida dos avós e dos pais, tornou-se parte do cotidiano das famílias, um símbolo de autenticidade, bucolismo e resistência. 5. CONSUMO DE ALIMENTOS E MODOS A MESA Torna-se interessante ressaltar que, além dos diferentes alimentos consumidos pelos diversos entrevistados provenientes de regiões diferentes do Brasil, há diferentes modos, ritos e costumes de se portar à mesa e consumir os alimentos. Helena Francisco de Carvalho Pino, pertencente ao assentamento Nova Pontal, nascida em Ibiassucê/BA em 1960, evocou que sua mãe possuía um costume singular. Segundo a entrevistada: Era costume de sentar no chão, não sei se era índio ou o que, que era aquilo, que sentava no chão, era o que os costumes. Botava os filhos para sentar no chão e fazia o tutuzinho na gamela e colocava na boca, não sei porque não sentava naquela mesa, era uma mesa enorme que eu me lembro, era uma casa bem bonita e grande, não era pequena. (PINO, 2017) É interessante observar e evidenciar o trecho citado por Helena, relatando que sua mãe, mesmo havendo mesas e cadeiras na casa, fazia questão de unir os filhos no chão para realizar as refeições. Tal fato mostra que o traço cultural mencionado é proveniente de outras gerações e foi evocado por Helena como uma história do tempo presente. Além desses modos e costumes, o senhor Francisco Alaor, também rememorou alguns saberes e fazeres sobre se portar a mesa. Segundo o entrevistado, “no norte tem que comer junto, e não pode botar nada no prato antes do dono da casa se servir. Na cadeira dele, que é na testa da mesa e não pode começar a servir antes do dono da casa se servir. Mesmo quando tem visita” (SIQUEIRA, 2018). Os relatos de Francisco permitem observar a importância da hierarquia na família e, sobretudo, o

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patriarcado típico das famílias nordestinas. Além disso, o respeito à família e, sobretudo, o hábito de se sentar à mesa com todos os membros da família, que vem se perdendo na atualidade com o avanço das tecnologias e usos diários. Nesse contexto, Sonia de Paula Hoshiro Kotaki, nascida em Cianorte/PR em 1960, atualmente residente no assentamento Nova Pontal, relembrou sua infância: Os meus irmãos ia pra escola estudavam a noite na época, alguns estudava de dia e outros estudava a noite e ai durante a época de frio, em cima daquele fogão cumprido grande ela fazia chá de amendoim, né, batido, e cada um que chegava da escola, pegava uma caneca de chá de amendoim, pra ir dormir então, a gente sabia, a gente ficava envolta daquele fogão ali, né, durante, ali, ali tinha história, ali tinha causo, ali tinha é cantoria, ali tinha brincadeira, é tudo isso. (KOTAKI, 2018) A fala de Sonia elucida dois pontos principais, a importância do fogão à lenha no processo sociocultural, pois, no caso da entrevistada, a família vivenciava um matriarcado e, então, era em volta do fogão à lenha que a vida na casa se desenvolvia, o estudo dos filhos, os afazeres domésticos, a educação e o sustento da família. Não obstante, a entrevistada também rememora e salienta o respeito com os mais velhos e com os costumes (de chegar e tomar o chá de amendoim) e, também, de que modo o fogão à lenha ficou gravado em sua memória, como um espaço de brincadeiras, cantigas, educação e alimentação.

6. OS HÁBITOS ALIMENTARES PATRIMÔNIO CULTURAL

COMO

Os traços culturais são transmitidos de geração em geração. Baldini (2010, p.4) afirma que “por meio da prática cultural, os sujeitos transmitem valores, constroem memória (individual e coletiva), compartilham histórias, expressam uma visão de mundo com críticas, saberes e fazeres identificáveis pelo povo”. A alimentação faz parte desses saberes e fazeres que são transmitidos no decorrer da vida do indivíduo e, assim, muitas características culturais podem ser diagnosticadas por meio dos hábitos alimentares, DA

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preparação e conservação dos alimentos e, também, dos modos à mesa. Segundo Leal (2007, p. 98): A cozinha sempre vem acompanhando o homem através dos tempos, misturando ingredientes, técnicas, usos e costumes, regras morais e religiosas, aspectos geográficos, políticos e sociais. Portanto, sua origem foi sempre regional, embora não ficasse restrita a esses limitas. Ela acabava viajando para outras regiões, viagem essa que se tornou cada vez mais acelerada, possibilitando que diferentes cozinhas se espalhassem pelo mundo a fora. Analisando a afirmação de Leal pelo ponto de vista geográfico, faz-se importante evidenciar que os diferentes territórios vividos acrescentam e dispersam traços culturais nos atores sociais, ou seja, em diferentes lugares, por meio da interação pessoal, pessoas assimilam e dissipam cultura. E quando falamos do Museu do Assentado, as populações que são estudadas passaram por inúmeras localidades antes de fincar suas raízes em Rosana/SP, ou seja, vários processos de territorialização, desterritorialização e reterritorialização ocorreram até o presente momento na vida desses personagens. Tais afirmações podem ser observadas no item abaixo, ao parafrasear que: [...] Aquilo que comemos pode nos dizer muito sobre quem somos e sobre a cultura na qual vivemos. A comida é um meio pelo qual as pessoas podem fazer afirmações sobre si próprias. Ela também pode sugerir mudanças ao longo do tempo bem como entre culturas. [...] o consumo de alimentos pode indicar o quão ricas ou cosmopolitas as pessoas são, vem como sua posição religiosa e étnica. (WOODWARD, 2000, p. 42-43) No sentido cosmopolita da palavra, os traços culturais alimentares, diagnosticados pelo projeto “O Museu do Assentado”, em sua variedade, auxilia no entendimento do potencial cultural e da diversidade cultural existente em um único espaço: os assentamentos rurais de Rosana/SP. CONCLUSÕES

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Uma vez evidenciados os traços culturais alimentares pertencentes a alguns assentados entrevistados pelo projeto “O Museu do Assentado”, torna-se mais fácil dissertar sobre o potencial cultural dos relatos orais e dos assentamentos de Rosana/SP. Observou-se a existência de insumos como rapadura, alfenim, batida, chá de amendoim, cuscuz, biju, mandioca, carne de carneiro, doce de melancia, doce de abóbora, tutu de feijão, fava e outros produtos, além de técnicas de conservação como o charque, carne de sol, carne seca, imersão em banha de porco e outras. Tal diversidade, em sua maioria, pertencia à origem dos entrevistados, ou seja, sua terra natal. Mas, na atualidade, esses saberes e fazeres ainda persistem na memória e auxiliam na constituição do patrimônio cultural dessas famílias e do plano coletivo rural do município. Os traços culturais evidenciados são e serão utilizados no futuro Museu do Assentado para educação patrimonial, salvaguarda da memória e disseminação cultural, pois, na história desta nação, nunca se ouviu falar do patrimônio cultural dos sem terras, mas, sim, sobre suas ocupações, lutas e resistências pela posse de terra.

DE LINGUÍSTICA, 6., 2009, João Pessoa. Anais [...]. João Pessoa: Ideia, 2009. p. 133-137.

8. REFERÊNCIAS

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A PERCEPÇÃO DO GRAFITE COMO ATRATIVO NO TURISMO¹ SAN MARTIN, MARIA CAROLINA PEREIRA DA SILVA2 VIOLIN, FÁBIO LUCIANO3

carolina-sanmartin@hotmail.com, fabio.violin@unesp.br 1

Pesquisa de Campo. Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional (UNIDERP), Professor Assistente Doutor do Curso de Turismo, Universidade E stadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO - O turismo cultural, por ser uma atividade abrangente, possui vários segmentos, dentre eles destacam-se a arte urbana e suas mais diversas vertentes. Em especial, este estudo analisou a percepção a respeito do grafite, uma das formas de arte urbana mais populares do mundo. O estudo contou com a análise de percepção de diversas obras brasileiras e duas estrangeiras para que se aferisse sua contribuição de modo primário ou secundário com o destino turístico. O estudo contou com quarenta questionários respondidos, os quais indicaram forte senso de contribuição do grafite para a oferta turística. Desse modo, observa-se que tal tipo de arte pode, se não de modo contundente, ao menos complementar e contribuir com os destinos ou mesmo localidades em que se encontram. Palavras-chave: Arte Urbana, Mercadologia, Turismo Perceptivo. ABSTRACT - Cultural tourism as a comprehensive activity, has several segments, among them the urban art and its most diverse aspects. In particular, this study analyzed the perception of graffiti, one of the most popular forms of urban art in the world. The study counted on the perception analysis of several Brazilian and two foreign works so that its contribution to the tourist destination could be gauged in a primary or secondary way. The study had forty questionnaires answered, which indicated a strong sense of contribution of the graphite to the tourist offer. In this way, it can be observed that this type of art can, if not conclusively, at least contribute to the destinations or even localities in which they are.

Key words: Urban Art, Marketing, Perceptive Tourism.

1 INTRODUÇÃO O Turismo tem se apresentado de modo recorrente como uma das áreas que permanecem em crescimento apesar das condições do ambiente em que se encontra. Isso significa que o consumo de bens materiais ou imateriais por meio de produtos, serviços, pessoas, ideias ou lugares ocorre mesmo em condições adversas.

Contudo, a oferta turística em praticamente todas as áreas abrangidas pelo setor aumentou em volume, profissionalização, dispersão da informação e nível de concorrência. Em outras palavras, a quantidade de opções atualmente oferecidas aos turistas apresenta-se de modo severamente elevado, especialmente a partir do advento da internet como forma de propagação da informação.

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Nesses termos, diversas são as tentativas de tornar um ou mais locais atraentes por meio da combinação de recursos, sejam eles naturais ou produzidos pelo homem, sejam eles rurais ou urbanos, recentes ou históricos, o que imputa aos responsáveis pelas estratégias públicas ou privadas de promoção de atrativos a necessidade de estruturarem sua forma de atuação junto aos consumidores. O uso do grafite como elemento de ligação visual entre um atrativo e o seu entorno ou mesmo o espaço do grafite como um atrativo tem se apresentado, tanto em pequenas quanto em grandes localidades, como elemento positivo dessa forma de promoção direta ou secundária de um destino ou mesmo atrativo. Estudar o potencial de colaboração desse recurso pode gerar a capacidade de repensar, de modo primordial ou suplementar, os possíveis impactos visuais que podem ser causados por uma “obra de arte urbana” ao ar livre ou mesmo em ambientes fechados. Desse modo, este estudo representou um primeiro esforço no sentido de discutir o grafite e sua capacidade de contribuição para o turismo, especialmente em localidades em que o turismo não se apresenta ainda desenvolvido em maior extensão, ou mesmo para localidades que necessitem desse tipo de recurso para revitalizar-se, por exemplo. Indica-se que o recurso visual, nesse caso o grafite, é capaz de gerar percepções positivas nos turistas que passam pela experimentação desse tipo de arte. 2 TURISMO CULTURAL De acordo com Barreto (2007, p. 87), “o turismo cultural é todo o turismo no qual o principal atrativo não é a natureza, mas um aspecto da cultura humana, que pode ser a história, o cotidiano, o artesanato ou qualquer dos aspectos abrangidos pelo conceito de cultura”. Desse modo, o turista entra no desconhecido, nas histórias e no cotidiano com os quais ele não convive, nas diferentes formas de artesanato, ou em qualquer característica que envolve a cultura. Já o Ministério do Turismo (2006) define que turismo cultural “compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura”. O turismo cultural representa um conjunto de bens materiais e imateriais expressos por meio de elementos significativos que remetem à cultura de uma certa comunidade. Cultura é um termo bastante abrangente e encerra diversas nuances, desse modo,

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caracterizá-lo de modo definitivo e único é tarefa delicada e possivelmente inglória em seu sentido mais amplo. Desse modo, considerando o contexto deste estudo, recorreu-se a Curvello (2017), o qual indica que “o Turismo de arte urbana é um segmento que está inserido no Turismo Cultural e é favorecido por estar nas ruas, podendo ser desfrutado de forma gratuita”. Por meio dessas definições, observa-se que o turismo pautado no ambiente cultural ou em seus instrumentos encerra para o turista a capacidade de usufruto de aspectos materiais e imateriais que pode envolver, entre outras possibilidades, elementos naturais, materiais ou de contemplação. 2.1 Arte urbana, grafite e percepção Segundo Pallamin (2000, p. 46 apud DIÓGENES 2015, p. 538), “a arte urbana, de modo geral, diz respeito às práticas sociais de natureza estética, de uso e apropriação visuais dos espaços da rua, não assumindo necessariamente um caráter ilegal.” Dessa forma, como a arte urbana dispõe da cidade para se manter viva, torna-se potencialmente pública para todos sem que haja uma necessidade de pagar para ser apreciada. Desde a antiguidade, o homem pinta e escreve deixando suas marcas nas cavernas como forma de se expressar e de mostrar que alguém viveu naquele recinto. Por meio dessas expressões artísticas, de acordo com Gomes (2017), a arte urbana hoje é encontrada de diversas formas, sendo elas monumentos, esculturas, fontes, intervenções, performances artísticas, como: grafite, stencil, lambe lambe, projeções de vídeos/imagens, teatro de rua, apresentações musicais, palhaços, mímicos, estátuas vivas e várias outras que acontecem a todo momento em cada canto do mundo. Esses segmentos artísticos elevam cada vez mais a autoestima do morador e chama a atenção de pessoas, o que, além de embelezar a cidade, movimenta economicamente o mercado local. Por meio de tantos elementos que possui a arte urbana, iremos nos aprofundar melhor sobre o grafite. De acordo com Diógenes (2015), “o grafite é uma expressão significativa das artes de rua (street art), tendo como sua principal marca a transgressão e a irreverência”. Atualmente, foca-se na arte baseada no grafite como expressão de arte urbana. Segundo Araújo (2003): Na década de 1980, basicamente radicado em São Paulo até a segunda metade da década seguinte, o grafite de muros ganhou diferentes formas,

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volumes e combinações de cores em suas composições, associando-se diretamente às práticas musicais e de lazer juvenis. Ligado, deste modo, às dimensões do lazer urbano, à crítica social e política e a uma filiação ideológica específica, os grafites surgem como exercícios indispensáveis para a constituição autônoma das identidades individuais e coletivas dos sujeitos envolvidos (ARAÚJO, 2003, p. 112). Basicamente, o grafite foi evoluindo tanto em cores, volumes, formas, ajudando, assim, jovens a se expressar tanto nas suas críticas sociais e políticas quanto em descobrir sua própria identidade. Curvello (2017) acaba ressaltando que: Para os grafiteiros, essa arte representa a identidade de cada um, um modo de falar, mostrar sentimentos, ideias. Destacam que a sociedade como um todo está incorporando os discursos das classes mais baixas, da favela e da periferia, que passam a conquistar mais espaço (CURVELLO, 2017, p. 119). O grafite atualmente é considerado uma forma de arte, contudo, ainda é confundido em muitas situações com a pichação. A pichação utiliza-se também da cidade, mas é considerada como vandalismo. No Brasil, ela é ilegal, por ser considerada uma forma de depredação do patrimônio público ou privado, distinguindo-se do grafite, pois, geralmente, contém apenas alguns símbolos, frases ofensivas ou de apologia e praticamente nenhum conteúdo. Gomes (2017) aponta que: [...] movimento do grafite chegasse onde está hoje, o avanço da internet junto com as mídias sociais foi essencial. Antes para se tomar conhecimento de uma arte urbana e disseminar para outros, era uma tarefa difícil. Um grafite em uma cidade ficaria praticamente restrito aos moradores e visitantes que passassem por ali. Hoje, basta uma foto postada na rede, para que uma infinidade de pessoas. (GOMES, 2017, p. 18) Atualmente, por meio das mídias sociais, a fluidez e o volume de informações apresenta-se em níveis elevados, como, por exemplo, por meio da

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postagem de algum tipo de material visual pode-se divulgar e propagar a arte, o artista que a fez, pode gerar o repasse de conteúdo a interessados ou potenciais interessados ao redor do mundo por meio da forma virtual de comunicação. Especificamente, considerando o presente estudo, pode-se elucidar de modo amplo elementos como a distinção entre grafite e pichação, podendo elevar o nível de atenção em relação aos locais e às obras que podem encontrar-se nas cidades ou localidades específicas. O grafite possibilita uma democratização da arte ao trazê-la diretamente ao público, podendo fomentar o interesse por obras artísticas, o que levará um maior número de pessoas a explorar o mundo da arte. [...] há uma migração do grafite para as galerias de arte e museus, e isso pode representar uma possibilidade para um público mais seletivo conhecer o trabalho do artista e prestar mais atenção aos trabalhos feitos na rua. (CURVELLO, 2017, p. 120) Com a migração do grafite para as galerias, essa arte foi se tornando mais valorizada e quebrando o preconceito de ser somente rabiscos ou desenhos em paredes, ganhando gradativamente expressão em praticamente todos os países. O grafite atrelado ao turismo é mais comumente explorado em localidades de maior porte, considerando a possibilidade de maior volume de obras. Mas, segundo Curvello (2017), a divulgação tanto de órgãos públicos quanto dos grafiteiros é deficitária e poderia, se adequadamente trabalhada, ampliar e criar mais dessa arte, assim chamando atenção e tornando o local mais atrativo. Considerando o aspecto ligado à percepção, aponta-se que ele é: [...] o processo mental através do qual nos relacionamos com o mundo, a partir de sensações transmitidas ao cérebro pelos cinco sentidos. Esse processo é seletivo, ou seja, nossa mente conscientiza-se apenas de parte dessas sensações, e a visão é o sentido que mais se destaca. (RIO, 1995, p. 94) Como a visão é o sentido que mais se destaca, cada indivíduo possui sua própria percepção, no qual ele se torna o observador e o ambiente é o observado, essa interação se forma de acordo com a sua relação

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com a sociedade, principalmente por meio do espaço em que se vive, destaca-se que: A percepção das pessoas, sobre determinado assunto, é sempre carregada de uma visão própria de cada indivíduo, formada a partir de variáveis como meio social, história de vida, nível de escolaridade, religião, atividade econômica, entre outros. Consequentemente, cada indivíduo percebe o mundo qualitativa, efetiva e valor ativamente, e é a partir dessa percepção que define seu modo de relação com a sociedade (OLIVEIRA, 2006, p. 3). Nesse caso, os espaços urbanos têm o potencial de destacar maior desenvolvimento e interesse quanto à percepção pelo grafite. Segundo Machado (2012 p.49), o homem desenvolve na paisagem procedimentos como a observação e identidade, tendo como consequência o avanço da conscientização da imagem da cidade, assim podendo atrair recursos para o investimento da mesma, sendo a atividade perceptiva a que: [...] realiza-se em um continuum entre a percepção e a inteligência, permitindo ao homem desenvolver na paisagem operações como: observação, identificação, exploração, compreensão, seleção, transposição, descentração, entre outras. Aumenta com a idade em número e em qualidade (MACHADO, s/d). 2.2 Cores Desde os nossos ancestrais mais remotos, as cores se apresentaram como elementos importantes para a comunicação, tanto como expressões culturais, de fé, de contagem ou outras possibilidades. Observase que os: Registros históricos indicam que as cores começaram a ser utilizadas por nossos primeiros ancestrais para atrair a caça, passando ao longo dos anos a ter maior papel nas culturas e religiões, como na Índia e China, cuja aplicação se dá em forma de energias, ou no Ocidente, onde as religiões utilizaram coloração das roupas para definir hierarquias cristãs. (MAIA, 2018, s.p.).

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De diversas formas, as cores influenciam o cotidiano das pessoas de modo geral, tanto em ambientes quanto em roupas, na alimentação e em uma diversidade de outros campos e situações de interação que basicamente podem influenciar nossas percepções e sensações sobre algo. Indica-se que: As ondas eletromagnéticas responsáveis pela percepção das cores são extremamente importantes em nosso cotidiano, a cada segundo somos submetidos a uma gama enorme de combinações que provocam diferentes sensações na mente humana. Diante disso, é necessário compreender que há dois tipos de misturas de cores, as aditivas e as subtrativas. A primeira se restringe a mistura de pigmentos (tintas) que tem como resultado a cor preta quando misturadas. A segunda, por sua vez, resulta no branco e se caracteriza pela mistura de luzes (BALDISSERA, 2016, s.p.). Ainda de acordo com o autor, “nossos olhos têm sempre tendência a perceber primeiramente as cores primárias e, logo após, os seus complementos.” Os complementos são as cores mais refinadas, que se observam após a atenta análise sobre uma obra, por exemplo. Desse modo, cada cor é marcada por um hábito, cada uma tem seu significado, sua história, sendo, assim, uma ferramenta ativa para cada cultura. Assim, “o significado de cada cor, assim como o efeito que cada uma delas têm, depende de onde ela está aplicada” (SILVEIRA, 2011, p. 133) De acordo com o dicionário das cores de Michel Pastoureau (1997 apud SILVEIRA, 2011, p. 133), serão colocados, a seguir, o significado e seu efeito psicológico, assim devem ser pensados no ambiente ou no objeto em que se encontram. Cor

Significado

Efeito

Vermelho

A mais belas das cores, cor da excelência, da marca, perigo, proibição, criatividade, amor, erotismo, sangue, fogo, entre outros

causa sensações de alegria, felicidade intensa, poder da beleza, paixão, do calor forte, comemoração e comunicação,

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dentre outros.

Amarelo

Cor da luz, calor, alegria, prosperidade, riqueza, energia, loucura, doença, mentira, entre outros.

sensação de calor, riqueza, sol, ardente, poder, estímulo à alegria nos dias de sol, com o tempo gera stress, insegurança entre outros.

Azul

cor do infinito, do sonho, da fidelidade, da fé, do frio, da água da frescura, do longínquo.

Sensação de paz, tranquilidade, infinito espacial, do céu, sonho e desejos, conforto entre outros

cor da fortuna, do dinheiro, do destino, acaso e da esperança, da natureza, ecologia, liberdade, do que é estranho, entre outros.

sensação de controle próprio, esperança, prosperidade, sorte, estar em um ambiente natural, de energia, entre outros.

Branco

cor do frio, da inocência, paz, pureza, divino, simplicidade, sabedoria, do divino, da velhice, entre outros.

sensação de paz, harmonia, de ordem, equilíbrio, de calma, tranquilidade, entre outros.

Preto

cor da tristeza, solidão, morte, renúncia, melancolia, autoridade, modernidade e elegância.

Sensação de escuridão, julgamento, perda, poder de julgamento, entre outros.

Verde

Quadro 1 – Dicionário de cores segundo Pastoureau. Fonte: autores

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3 METODOLOGIA A multidimensionalidade do turismo permite sua análise a partir de diversos elementos pertencentes ao campo dos métodos, tendo íntima relação com o tipo de objetivo, sua natureza de análise dentro do contexto da investigação proposta. Alves (2011) indica que o esforço de desvelar as particularidades, as contradições e as subjetividades que marcam a dinâmica do campo do turístico apontam para as reflexões de natureza qualitativa no seu escopo de pesquisa, pois a interpretação dos dados aferidos tem nesse elemento quantitativo forte respaldo em diversas instâncias da área. A abordagem qualitativa opõe-se à indicação de um modelo único de pesquisa para todas as ciências, entende-se que as ciências sociais apresentam particularidades as quais pressupõem a existência de uma metodologia própria para a área. Os pesquisadores não podem e não devem realizar julgamentos direcionados e nem mesmo permitir que sua visão de mundo, preconceitos ou mesmo crenças contaminem a pesquisa (GOLDENBERG, 2011). O presente estudo apresenta, por suas características, natureza qualitativa, considerando sua extensão, abrangência e capacidade de extensão de resultados, os quais limitam-se ao público alvo aferido e também às suas características particulares, ou seja, a extrapolação dos dados analisados somente será possível a partir da junção com outros estudos similares, se houver. A pesquisa de natureza descritiva exige do investigador um conjunto de informações sobre a temática de interesse que permita inferências a partir da descrição de fatos ou fenômenos baseados em determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987). Por seu turno, a pesquisa exploratória, para Gil (2007), é indicada nos casos em que se pretende gerar maior familiaridade com a problemática, tendo como função maior a de explicitar ou ainda construir hipóteses, podem fazer parte desse tipo de pesquisa o levantamento bibliográfico, entrevistas, análise de exemplos ou mesmo estudos similares anteriores. A base estrutural de análise se dá dentro do contexto exploratório e descritivo. Exploratório, pois a temática e a particularidade da temática encaminham o estudo para o condicionante específico desse tipo de estudo, ao mesmo tempo, o caráter descritivo apresenta-se como elemento complementar ao trazer o indicativo do modo de explanação dos resultados auferidos. A amostra do estudo se deu por conveniência, considerando a possibilidade de acesso ao público alvo específico e teve o indicativo de 40 (quarenta) pessoas dentro de um universo de aproximadamente 120

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universitários do curso de Turismo no câmpus de Rosana. O questionário valeu-se da escala de Likert, a qual pode ser entendida como a que apresenta estrutura centrada na utilização de cinco pontos, conforme sua projeção original em 1932. As questões foram disponibilizadas em meio digital para grupo fechado de estudantes. As questões mantiveram-se disponíveis no período de quatro a oito de setembro de 2018, ao se atingir o número proposto. Tal proporção indica que, ao menos, um terço dos discentes do curso foram submetidos ao questionário. A coleta de dados se deu através de questionário, que contou com questões fechadas com perguntas do tipo sim e não e também com questões estruturadas segundo a lógica da escala de Likert, com linguagem adequada ao público alvo. Optou-se por inserir na escala, como segue: Interessante, Gostei, Legal, Tanto faz, Desnecessário. Tal linguagem foi escolhida por assimilar-se ao entendimento do público alvo pretendido. O questionário contou com sete perguntas, sendo quatro que partiram da percepção dos respondentes baseado em um foto (figura) e as demais buscavam a opinião, nesse momento, de modo fechado, dos respondentes. As perguntas foram as seguintes: 1-Qual a sua opinião sobre o mural das Etnias no Rio de Janeiro? 2-Qual a sua opinião sobre esse grafite em Buenos Aires? 3-Qual a sua opinião sobre essa interação entre a arte e a natureza? 4-Qual a sua opinião sobre esse grafite em São Paulo? 5-O grafite pode servir como atrativo complementar ao turismo? 6-As obras podem servir para caracterizar lugares? 7-Você acha que o município de Rosana poderia usufruir mais dessa arte? O conjunto das questões foram acompanhadas das figuras de referência quando necessárias. 3 RESULTADOS Ao longo do processo de coleta de dados, foi possível inserir um conjunto amplo de questionamentos que objetivaram aferir a percepção dos envolvidos na pesquisa a respeito da relação entre o grafite, que é uma forma de arte, e o turismo, segundo a ótica dos respondentes.

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Um primeiro ponto aferido foi o questionamento a respeito da opinião sobre o mural das etnias no Rio de Janeiro. Segue a figura para melhor compreensão:

Figura 1- Mural das Etnias. Fonte: Thiago Jansen, 2017.

Figura 2- Percepção sobre o Mural das Etnias no Rio de Janeiro. Fonte: Autores, 2018

Os resultados indicam que aproximadamente 97,5% do público alvo avaliaram positivamente a obra. O que indica, a princípio, possibilidade de contribuição ao turismo. Uma segunda figura foi inserida e buscou a opinião a respeito de uma loja em Buenos Aires, capital da Argentina, conforme observa-se na figura a seguir:

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Por conseguinte, a interação entre a natureza e o grafite foi a terceira figura a ser avaliada, verificou-se que 72.5% optou por escolher a opção interessante. Assim a forma de interação entre uma “obra de arte” e a natureza pode sim acontecer sem degradar a mesma e causar interesse para o turista.

Figura 3 - Fachada de loja em Buenos Aires Fonte: Adventures of Yoo, 2018

Os resultados obtidos foram que 62.5% se interessaram pela obra em Buenos Aires, desse modo, ocorreu outra avaliação otimista, sendo assim mais uma contribuição para o turismo.

Figura 6 - Percepção sobre a arte e a natureza. Fonte: autores, 2018

Figura 4 - Percepção sobre a fachada da loja em Buenos Aires. Fonte: autores, 2018 Figura 7 - Muro de São Paulo Fonte: Família Viagem, 2018

A análise da última imagem, sobre um grafite em São Paulo, 52.5% das pessoas avaliaram como interessante, sendo, assim, possivelmente interessante para o turismo.

Figura 5 - Interação da arte com a natureza Fonte: Pinterest, 2018

Figura 8 - Percepção sobre o muro de São Paulo. Fonte: Autores, 2018

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Com relação à pergunta sobre o grafite ser complementar ao turismo, 97.5% responderam que sim, pode ser um complemento para o turismo. E somente 2,5% optou pela opção “outros” e assim respondeu que o grafite pode ser em si o próprio atrativo. Citando como exemplo o Beco do Batman, em São Paulo, e o grafite na parede da Cacau Show da Raposo Tavares sentido São Paulo.

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Boa parte das obras, em destaque as aqui analisadas, apresenta grau de rebuscamento superior, e o grupo de respondentes observa e valida tal tipo de compreensão por meio do destaque da positividade de contribuição das obras analisadas. Considera-se como positiva a inserção do grafite, partindo do grupo referencial do estudo, e indica-se a ampliação do estudo, considerando essa e outras formas de arte como complementares ou mesmo elementos centrais na disputa pela atenção dos turistas nos mais diversos espectros da inserção do consumidor na lógica de funcionamento das estruturas de busca, análise e ampliação da base de compreensão de determinada oferta por parte dos consumidores. REFERÊNCIAS

Figura 9 - A percepção sobre o grafite ser complementar ao turismo Fonte: Autores, 2018

Sobre a segunda pergunta, se essas obras que o grafite proporciona pode servir para caracterizar lugares, houve exatidão nas avaliações e 100% optaram por responder que sim, podem caracterizar lugares. Em relação à última pergunta, se o Município de Rosana poderia usufruir mais do grafite, também ocorreu a avaliação positiva com 100% de precisão. Assim, o grupo avaliado deseja, sim, ver mais grafite no Município onde vivem. CONCLUSÃO O objetivo central do estudo partiu da perspectiva de que diversas formas de arte podem integrar-se ao trade turístico como forma de alavancar e/ou potencializar localidades ou atrativos específicos. De modo amplo, observa-se que a oferta turística se apresenta em volume elevado no mundo todo, o que torna cada vez mais complexo disputar a atenção dos consumidores, em especial nos casos que envolvem deslocamento para distâncias maiores. Diversos estudos têm apontado o uso desse tipo de material, considerando-o como elemento aditivo da percepção positiva de um destino ou localidade por parte dos turistas ou usuários, exemplos mais amplos são observados em Portugal e também no próprio Brasil. O conjunto de informações levantado aponta para a positividade da percepção dos respondentes, com especial atenção às obras de maior porte. Indica-se que existe percepção distintiva entre uma pichação e uma obra de grafite, ou seja, essa segunda apresenta elevado grau de especialização de quem o executa, bem como, em geral, exige espaços físicos consideravelmente grandes para sua execução.

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UM LEVANTAMENTO DAS CONSEQUÊNCIAS QUE SÃO PRODUZIDAS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DO TURISMO CULTURAL¹ ANDRE, AMANDA OTÍLIA2 BARBIERO, MURILO HENRIQUE 2 GALENO, BEATRIZ GOMES PINHEIRO 2 PIMENTEL, JULIANA MARIA VAZ 3

amanda.otilia@unep.br, murilo.barbiero@unesp.br, beatriz.galeno@unesp.br, jmvpimentel@outlook.com 1

O presente texto parte de discussões e reflexões oriundas da disciplina de Antropologia e Cultura. Graduando(a) em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutora em Geografia, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, Mato Grosso do Sul. 2

RESUMO – Devido à expansão do turismo, podemos perceber que, em alguns casos, ocorre a apropriação de bens, sejam eles materiais ou imateriais. Isso ocorre para atender um público que se torna gradativamente mais específico e rigoroso. Entre os segmentos do turismo, encontra-se o turismo cultural, um segmento que, por atrair diversos turistas, acaba tornando a cultura um produto turístico artificializado. Assim sendo, o artigo aborda a aculturação, um processo que acontece por meio da interação de duas ou mais culturas e acarreta a modificação ou transformação da mesma, além do etnocentrismo, uma ideologia que apresenta uma cultura como superior às demais. E, por fim, o relativismo cultural, ideologia que afirma que nenhuma cultura é superior a outra. Diante disso, o trabalho tem como objetivo identificar os impactos e as características que essas consequências do turismo cultural mal planejado produz. Para executar a pesquisa, foi realizado um levantamento bibliográfico a respeito dos temas abordados para uma melhor compreensão dos mesmos. Palavras-chave: Cultural, Aculturação, Etnocentrismo, Relativismo cultural. ABSTRACT – Due to tourism expansion, appropriation of tangible or intangible assets is observed in some cases in order to meet the needs of an audience that is gradually stricter and more rigorous. Among tourism segments, there is the cultural tourism, a segment that attracts many tourists and can turn the culture into an artificial tourism product. Thus, this article addresses acculturation, a process that happens through the interaction of two or more cultures that entails the modification or transformation of the same. Besides that, it addresses ethnocentrism, an ideology that shows that one culture is superior to the others. Finally, relativism culture, another ideology that states that no culture is superior to another. In view of this, the work aims to identify the impacts and features produced from poorly planned tourism. For this, it was carried out a bibliographical survey on the topics covered for a better understanding of them. Key words: Acculturation, Ethnocentrism, Cultural relativism.

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1 INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial do Turismo – OMT (2001, p. 38): O turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras. Diante disso, é essencial afirmar que a atividade turística vem conquistando cada vez mais seu espaço e se tornando fundamental para diversos campos do desenvolvimento, como por exemplo, o econômico e também o social. Vieira (2016, p. 01) afirma que O turismo é uma indústria-chave a nível mundial e, tendo-se difundido rapidamente nas últimas décadas, é uma atividade com uma importância crescente no desenvolvimento econômico. [...] Assim, muitas economias apostam neste setor com o objetivo de estimular o crescimento económico. Dall’agnol (2012, p. 04) destaca ainda outros fatores positivos do turismo: No plano cultural, o turismo contribui para preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural; Gera uma atividade socioeconômica sobre o mercado receptor e cria empregos; Facilita os laços de comunicação e entendimento entre os povos e sociedades que produzem problemas raciais ou de xenofobia; No âmbito trabalhista produz aumento social de emprego e criação de novos postos de trabalho; Pode permitir a comunicação e a paz com os mercados emissores. Assim sendo, devido ao seu amplo campo de atuação, o mesmo se destaca com diferentes segmentos, como o turismo de aventura, ecoturismo, turismo religioso, turismo de sol e praia, turismo cultural e etc. Entre esses, o destaque do trabalho é o turismo cultural, uma vertente que está sendo cada vez mais explorada pelo turismo.

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Podemos compreender o Turismo Cultural, segundo a definição do MTur, em parceria com o Ministério da Cultura e o IPHAN quando afirmam que o Turismo Cultural: compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura. (BRASIL 2006, p. 10) Brasil (2010, p. 07) explica a importância que o turismo cultural tem no Brasil, uma vez que: a pluralidade da cultura brasileira tem sido aclamada pelos governos e pela sociedade como uma das principais características do patrimônio do país, ao lado dos recursos naturais, o que pode significar para o turismo a possibilidade de estruturação de novos produtos diferenciados, com o consequente aumento do fluxo de turistas. O grande mérito desta possibilidade é fazer do turismo uma atividade capaz de promover e preservar a nossa cultura. Nesse caso, cultura e turismo configuram, em suas diversas combinações, um segmento denominado Turismo Cultural – que se materializa quando o turista é motivado a se deslocar especialmente com a finalidade de vivenciar aspectos e situações que podem ser considerados particularidades da cultura. Porém, ele ainda afirma que: o inegável potencial do Brasil para este segmento está longe de ser aproveitado em sua magnitude – a maioria dos produtos turísticos carece de qualificação e há, ainda, muito a ser trabalhado para se chegar à competitividade e à sustentabilidade. (BRASIL, 2006, p. 07) Entretanto, essa apropriação que a atividade turística tem sobre a cultura, traz consequências positivas ou negativas, principalmente quando não se tem um planejamento adequado para a implantação do turismo na localidade. Pode-se ter como consequências positivas:

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A valorização da herança cultural [...]. Normalmente vem associada com a valorização e preservação do patrimônio artístico, histórico e cultural da localidade ou região. Também são relevantes as manifestações de orgulho étnico que valorizam e trazem grande auto-estima para as populações locais. (NAIME, 2010) Além disso, Pires (2004) ressalta também como consequências positivas: [...] o discurso de que o Turismo pode contribuir, consideravelmente, para a valorização social das comunidades e de seus hábitos culturais, trazendo para o autóctone também efeitos e impactos positivos. Especialmente no que concerne a sua capacidade de sustentação de uma comunidade turística, mantendo em seus ofícios tradicionais a população dessas regiões. (PIRES, 2004, p.15)

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também questionar estas e contribuir para a sua mudança, criando novos padrões de valor e de reconhecimento dentro do grupo. Desta forma, anteriores padrões de valor como a idade, o género, a origem ou o status, podem perder força face a outros como o poder para obter dinheiro, o conhecimento de idiomas, o trabalhar no turismo e com turistas e a adopção de pautas e comportamento próprio dos turistas. (PÉREZ, 2009, p.88) Dessa maneira, o trabalho teve como objetivo abordar, mesmo que brevemente, algumas consequências que o turismo cultural gera a partir da ausência de um planejamento e como o relativismo cultural mostra-se como um importante auxiliador para minimizar esses impactos. A partir disso, o artigo apresenta inicialmente a introdução com uma breve descrição sobre o impacto do turismo nas comunidades receptoras, em seguida será retratado o conceito do turismo cultural e seus impactos e posteriormente será discutido a definição de aculturação e relativismo cultural. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Todavia, esse modo que o turismo possui de comercializar a cultura de uma comunidade, acaba muitas vezes gerando impactos como a aculturação, o etnocentrismo e a alteração da cultura daquele povo, principalmente “[…] na manifestação de suas tradições culturais, no efeito sobre os seus valores e comportamentos sociais; e, portanto, no reflexo sobre a identidade das comunidades […]” (PIRES, 2004, p.15). Perez (2009) ao discorrer sobre os impactos do turismo sobre as comunidades receptoras, diz que: para melhor entender os impactos do turismo nas comunidades, é muito importante analisar a estrutura social antes da chegada do turismo, pois só assim entenderemos os seus impactos sociais. O turismo não gera sempre os mesmos processos de mudança e depende da estrutura social sobre a qual actua. O turismo pode reforçar a estrutura social da comunidade mas também pode dar oportunidades de mobilidade social ascendente a determinados elementos dessa estrutura social. Assim, o turismo pode servir de instrumento de confirmação das relações de poder e autoridade dentro do grupo, ou pode

2.1 Turismo e Cultura O turismo é um fenômeno social que “[...] pode ser analisada sob diversas perspectivas, já que ela é objeto de várias áreas disciplinares [...]” (RAMOS, 2013, p. 92). Ele também proporciona o contato entre povos e culturas distantes. De facto, o turismo é, juntamente com o processo migratório, o grande veículo atual do contacto de culturas, o instrumento privilegiado das relações interpessoais, o elo potenciador da ligação com estranhos, forasteiros, hóspedes e estrangeiros. (RAMOS, 2013, p. 94) . Sendo assim, uma dessas visões que o turismo proporciona para ser analisado são os impactos que ele provoca em algumas comunidades e localidades. Diante disso, para Ramos (2013), Como qualquer outro fenómeno sócio económico, o turismo tem consequências positivas e/ou negativas na vida das populações, no processo de desenvolvimento

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económico e na continuidade sócio cultural e é parte da mundialização da economia e da cultura. (RAMOS, 2013, p. 94)

diferentes e sociedades mais avançadas tecnologicamente que outras. Assim, diante do que foi apresentado até aqui, o autor Ramos (2013) afirma que

Logo, é incontestável a importância que o turismo tem para a economia e seu desenvolvimento, pois movimenta milhões de visitantes. Entretanto, “[...] ele é encarado, muitas vezes, como a única forma de conter o êxodo rural e melhorar a qualidade de vida das populações locais [...] De facto, o fenómeno é multidimensional, abarcando o económico, o social, o histórico, o cultural, o ambiental, etc.” (RAMOS, 2013, p. 92) Em vista de como o turismo atinge tantas áreas, a atividade turística para continuar atraindo públicos cada vez mais exigentes e específicos, não engloba mais somente o alojamento, mas outros fatores que tornam a atividade mais interessante.

se não se criarem e organizarem estratégias que se direcionem nesse sentido, deixaremos de falar de identidade cultural de um território, para passarmos a falar da identidade cultural dos turistas, quer dizer, de culturas que vêm de fora e que se tendem a instalar em territórios alheios.” (RAMOS, 2013, p. 95)

Assim, a riqueza monumental, as acessibilidades, a qualidade do alojamento, os equipamentos sociais, a segurança, a cultura local, a gastronomia, a animação, o artesanato, a paisagem, a hospitalidade e outras componentes qualificam os “pacotes” e tornam os destinos desejáveis. Naturalmente que, nem sempre, tal conjugação existe e é viável na sua totalidade (RAMOS, 2013, p. 93). Com a necessidade de atender esse público que cada vez consome mais, o turismo se apropria, por exemplo, da cultura de uma comunidade, trazendo consequências negativas para a mesma. Um desses resultados é a aculturação, que será discutido mais adiante. Desse modo, para o autor Greenwood (1989) quando a cultura local é usada como atração turística é afetada e eventualmente destruída. “De facto, a mercantilização da cultura local, tornada um recurso natural ou um serviço, é uma atitude destrutiva, que precisa de ser repensada por todos os envolvidos na indústria turística [...]” (RAMOS, 2013, p. 93-94). Diante da necessidade que se tem de discutir o turismo e o impacto que ele tem na cultura onde a atividade turística é inserida, é importante ressaltar alguns aspectos da cultura, como por exemplo, que “[...] cultura é um conceito imanente em todas as sociedades; todos temos acesso à cultura da sociedade, grupo, classe, aldeia ou família onde vivemos.” (RAMOS 2012 apud RAMOS 2013 p. 95). E ainda é fundamental deixar claro que não existe uma cultura ou sociedade culturalmente superiores, mas culturas

Ainda para o autor, o turismo: só poderá permitir o desenvolvimento sustentável de um determinado território, se os valores, os saberes, os costumes, as tradições e as práticas vivenciais desse território se mantiverem preservadas, evitando, assim, a mercantilização da cultura.” (RAMOS, 2013, p. 95-96) Diante disso, é notável a importância do planejamento para que o turismo em um determinado local seja desenvolvido de uma maneira que não vá prejudicar a cultura local. 2.2 Aculturação A aculturação surge quando acontece o contato entre duas culturas e resulta na modificação ou transformação das mesmas. “A noção de aculturação associava-se também à de difusão, ou seja, a aquisição e a adoção, por uma sociedade, de um fato cultural característico de outra (PANOFF; PERRIN,1973, p. 55 apud SANTOS; BARRETTO, 2006, p. 246). Para Burns (2002, p.128), citado por Santos e Barretto (2006, p. 249), aculturação "[...] é o processo pelo qual o empréstimo de um ou de alguns elementos da cultura ocorre como resultado de um contato de qualquer duração entre duas sociedades diferentes." O turismo, como já foi retratado, é um fenômeno social que proporciona o contato com o turista e a comunidade e por isso, acaba muitas vezes utilizando da cultura dessa comunidade para transformá-la em uma atração turística. Diante disso, surgiu uma preocupação por parte dos estudiosos em entender se o turismo era ou não responsável pelas grandes mudanças na cultura das comunidades. Diante dessa necessidade em entender o impacto da atividade turística, a autora Nash (1997),

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citada por Santos e Barretto (2006), em uma análise a uma comunidade percebeu como o turismo estava agindo na cultura da mesma e o resultado disso era a aculturação. Já Santana (1997), citado por Santos e Barretto (2006), diferencia as mudanças no aspecto social e impactos culturais nas comunidades. Para ele, os impactos sociais acontecem como mudança direta na qualidade de vida. E os impactos culturais ou aculturação são às mudanças em longo prazo que modifica as normas sociais, como também as formas de culturas “animadas”, como as festas. Um exemplo de como essa aculturação está ocorrendo em Bali, local onde aconteceu à revitalização de danças, manifestações culturais tradicionais, além do artesanato que também foi modificado, tudo em função do gosto dos turistas. Um processo semelhante a esse, é visto no grupo indígena Pataxó, no estado da Bahia: cujo "artesanato turístico" tem se adequado, progressivamente, ao gosto dos consumidores europeus que visitam a sua reserva, num processo que também pode ser definido como hibridação, desde que eles não deixam de produzir suas peças autênticas mas, ao contrário, as enriquecem com idéias de outras culturas, aliando artesanato, tradição e arte (criação de novas formas de expressão. (SANTOS; BARRETTO, 2006, p. 252) Já em Tonga, quando a população local notou a interferência dos turistas no seu cotidiano, reagiram. Eles elaboraram leis para evitar que danças e outras tradições fossem transformadas em produtos para o turismo.

2.3 Etnocentrismo e Relativismo Cultural O etnocentrismo é a tendência de pensar em sua própria cultura como um modelo, e defende-lo como a única visão de mundo válido. É um fenômeno comum e é encontrado em muitas culturas. Meneses (2000, p. 245) define que o etnocentrismo: julga os outros povos e culturas pelos padrões da própria sociedade, que servem para aferir até que ponto são corretos e humanos os costumes alheios.

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Desse modo, a identificação de um indivíduo com sua sociedade induz à rejeição das outras. Para aqueles que não experimentaram outras culturas em profundidade, pode-se dizer que eles são etnocêntricos e sentem que suas vidas são o modo mais natural de viver. Algumas culturas podem ser semelhantes ou se sobrepor em ideias ou conceitos, no entanto, algumas pessoas encontram-se chocadas ao vivenciar culturas opostas à sua nas localidades em que encontram indivíduos culturalmente diferentes. Em casos extremos, um grupo de indivíduos pode ver outro modo de vida cultural e considerá-lo errado, devido a isso, o grupo pode tentar converter o outro grupo em seus próprios modos de vida. Guerra e genocídio podem ser o resultado devastador se um grupo não estiver disposto a mudar seus modos de vida. Um exemplo que Meneses (2000, p.246) cita, é que “[...] Perto de nós, foi a "solução definitiva" que Hitler quis dar ao problema judaico, e que Slobodan adotou, em relação aos bósnios e kosovares, com sua famigerada "limpeza étnica". Nosso século se destacou por seus etnocídios e massacres.” E da continuidade dizendo que: [...] rejeição do Outro, combinada com a dominação, assume também outra forma: não tirar a vida do Outro, mas apenas a diferença, ou seja, extirpar-lhe a alteridade que o constitui como Outro, assimilando-o e reduzindo-o à imagem e semelhança do Mesmo. (MENESES, 2000, p.246) Meneses (2000), ainda discorre sobre outras maneiras mais leves e situacionais para lidar com o Outro, que é “preservando a sua razão para usar contra ele e assim oprimi-lo”. Nota-se na atualidade como a mídia descaracteriza diversas culturas de forma indireta, apresentando seus costumes, crenças como uma forma de entretenimento. Assim como formas de opressão e /ou dominação entre sexo, raças, nações. A cultura diferente não é tomada a sério, e sim como uma diversão dos espectadores que a consomem: e quase sempre as imitações da cultura popular criam personagens cômicos, o que vale dizer que, no fundo, considera-se a cultura alheia hilariante ou ridícula. (MENESES, 2000, p. 248)

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Um exemplo de etnocentrismo é o colonialismo. O colonialismo pode ser definido como dominação cultural com uma mudança social forçada. A dominação portuguesa no Brasil é um bom exemplo de colonialismo, assim como a colonização da África, destruição da cultura dos povos andinos e a influência da cultura americana em países subdesenvolvidos. Mas enfim, etnocentrismo é ruim ou bom? Por um lado, o etnocentrismo pode levar a julgamentos negativos dos comportamentos de grupos ou sociedades. Também pode levar à discriminação contra pessoas diferentes. Por exemplo, em muitos países, as minorias religiosas (religiões que não são a religião dominante) frequentemente enfrentam discriminação. Mas, por outro lado, o etnocentrismo pode criar lealdade entre o mesmo grupo social ou pessoas da mesma sociedade. Por exemplo, durante a Copa do Mundo ou Olimpíadas, você pode tender a torcer pelo seu próprio país e acreditar que os jogadores ou equipes que representam seu país são muito melhores. O orgulho nacional também faz parte do etnocentrismo. Segundo Meneses (2000), enquanto o etnocentrismo é um preconceito gerado a partir de variações de racismo, evolucionismo cultural e de ideologias, o relativismo cultural faz parte da esfera da ciência. O relativismo cultural aborda culturas estrangeiras sem etnocentrismo (ou pelo menos com menos preconceitos) e está pronto para aproveitar a diferença em vez de vê-la como algo desviante da norma. Ele está ciente de que a cultura evolui em contextos diferentes, e que eles não devem ser comparados, mas entendidos em sua própria peculiaridade. Dessa forma, compreende-se que as culturas são relativas, assim como os elementos que a compõem, ela estará: […] certa e boa para a sociedade que a vivencia, e na medida em que nela se realiza e em que a exprime. Não há, pois, um padrão absoluto para julgar a priori o certo e o errado, o belo e o feio entre as culturas, pois cada uma traz em si mesma seu padrão de medida. (MENESES, 2000) Assim, é possível perceber que uma cultura é tão valida quanto outra, elas são manifestações humanas que retratam a história do homem de diferentes modos. As consequências que se obtêm por meio do relativismo cultural como assim apresentada, é o

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respeito sincero pela cultura e sociedade dos outros povos, mostrando que o costume de um povo é tão digno quanto o de qualquer outro. Assim, para que se possa entender/compreender a cultura alheia é necessário que indivíduo a estude com base no contexto que a mesma está inserida, a fim de que isso ocorra é necessário o não julgamento do outro, e a partir de então sujeito passa a ser neutro, ele está ali para aprender com aquele povo, a descobrir com eles o valor que aquele povo carrega (MENESES, 2000). Nosso objetivo é apontar uma evidência: de que as sociedades outras também são cultas e vivenciam valores humanos dignos de todo o respeito, sabem dar a seus membros uma qualidade de vida em que a alegria e a felicidade estão ao alcance de todos […] (MENESES, 2000, p. 254). O relativismo cultural promove a coesão social, que é fundamental para a sobrevivência de uma sociedade. Uma vez que a aceitação das normas morais determina a solidariedade social e consequentemente a unidade e coesão sociais. Nos dias atuais podemos notar muitos movimentos que surgem através do relativismo cultural, como movimentos direcionados a minorias étnicas que sofrem com “[…] a opressão cultural que as maiorias exercem […]” (MENESES, 2000, p.251) sobre a mesma, movimentos contra a discriminação, tendo como exemplo a luta contra o preconceito racial, sexual (homofobia), linguísticos, entre outros, ou também a luta feminista, que busca a conquista pela igualdade de direito e deveres entre homens e mulheres, por respeito, pela liberdade de escolha. São movimentos que se apresentam para contrapor o etnocentrismo que ainda está presente em nossa sociedade atual. O relativismo também promove a tolerância entre diferentes sociedades, pois nos leva a ver as outras culturas como diferentes e a uma atitude de não violência para com os outros povos e culturas. Isso não quer dizer que uma abordagem relativista cultural seja inerentemente melhor do que uma abordagem mais etnocêntrica, mas mostrar que o relativismo cultural (quando usado como uma ferramenta metodológica e não uma ideologia política) pode nos fazer superar o preconceito natural que emana do etnocentrismo.

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3 METODOLOGIA Para a realização deste trabalho, foi necessário um levantamento bibliográfico a respeito dos temas abordados para uma melhor compreensão dos mesmos, em livros, artigos, teses, dissertação, além dos conteúdos abordados referentes à matéria de Antropologia Cultural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos observar que a cultura está presente na atividade turística, uma vez que o turismo é um fenômeno social que possibilita a interação de uma ou mais comunidades. Além disso, um dos aspectos positivos que essa atividade proporciona para a cultura de um povo é o resgate da mesma, que se encontrava perdida. Desse modo, a atividade turística quando planejada de forma coerente, pode trazer desenvolvimento econômico a comunidade, além de fortalecer sua identidade cultural. Entretanto, em alguns casos a atividade turística se apropria da cultura local, para torná-la um atrativo turístico, comercializando-a. Em decorrência disso, algumas variações começam a acontecer nesta cultura. Uma delas, como abordado é a aculturação, que acontece quando há uma mistura de culturas, a qual ocasiona a apropriação de características culturais de um povo. Apesar disso, o turismo não é o único agente responsável para esse efeito acontecer, mas é uma atividade que o estimula. Outro fator que é influente na atividade turística e o etnocentrismo. Uma ideologia ao qual um grupo se considera excedente a outro culturalmente. Dessa forma, sua influência no turismo ocorre quando, o turista conhece outra cultura diferente da sua e a julga como errada ou incorreta. Isso é resultante da falta de informações previas sobre a comunidade em questão, além da ausência de um preparo para que o turista não se veja superior a mesma. Diante desse cenário, o relativismo cultural vem para afirmar que a ideia de uma cultura superior à outra está equivocada. Assim sendo, percebe-se que está abordagem pode contribuir para que a atividade turística não ocorra de maneira que leve ao etnocentrismo, ou a uma aculturação inadequada, uma vez que, a mesma ocorra mediante a proximidade entre

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culturas, todavia, para que se possa minimizar seu impacto, as práticas do relativismo cultural são indispensáveis. Por esse motivo, se faz necessário um planejamento da atividade turística que vise atrelar a cultura de uma comunidade ou localidade de uma forma que a mesma não seja prejudicada. Cabe ressaltar que um planejamento eficaz, deve integrar os princípios do relativismo cultural, possibilitando assim, benefícios a comunidade, de maneira que a mesma, não perca seus valores ou seja suprimida por outra cultura mediante a atividade turística implantada no local.

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RECONHECIMENTO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA ATRAVÉS DO PATRIMÔNIO CULTURAL: CASO DO MARACATU NA NOITE DOS TAMBORES SILENCIOSOS¹ PESSOA, ISMAEL MUNIZ2 PIMENTEL, JULIANA MARIA VAZ3 is.munis2@gmail.com, juliana.vaz@unesp.br 1

Trabalho de Conclusão de Curso, vinculado com o projeto de extensão TAUR - Tons Afro Unesp Rosana. Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutora em Geografia, Universidade Federal da Grande Dourados (UFDG), Dourados, Mato Grosso do Sul. 2

RESUMO - Devido à sua beleza natural e riqueza cultural, Pernambuco é um dos estados brasileiros que atualmente está desenvolvendo a atividade turística para melhor comportar o crescente número de turistas que recebe anualmente, principalmente no período carnavalesco. Com o suporte de pesquisas bibliográficas e documentais acerca do turismo cultural e sobre o carnaval pernambucano, este trabalho aborda o ritmo Maracatu no evento Noite dos Tambores Silenciosos de Recife PE, assim como sua contribuição no fortalecimento da identidade afro-brasileira e sua relevância no desenvolvimento do turismo no estado de Pernambucano. Nesse sentido, pode-se concluir que a atividade turística pernambucana transformou-se em grande potencial para preservação da cultura afro-brasileira. Palavras-chave: Maracatu, Cultura Afro Brasileira, Turismo. ABSTRACT - Due to its natural beauty and cultural richness, Pernambuco is one of the Brazilian states that is currently developing tourism to better accommodate the growing number of tourists it receives annually, especially in the carnival period. With the support of bibliographic and documentary research on cultural tourism and carnival in Pernambuco, this paper approaches the Maracatu rhythm at the Night of the Silent Drums of Recife PE, as well as its contribution to the strengthening of the Afro-Brazilian identity and its relevance for the development of tourism in the state of Pernambuco. Thus, it can be concluded that Pernambuco tourist activity has become a great potential for the preservation of AfroBrazilian culture. Key words: Maracatu, Afro-Brazilian Culture, Tourism.

1 INTRODUÇÃO Com o crescente número de turistas e a grande repercussão que se deu na mídia durante o carnaval de Pernambuco de 2018, o presente trabalho surgiu a partir das discussões realizadas pelo grupo de estudos TAUR - Tons Afros Unesp Rosana com o intuito de desenvolver pesquisas atrelando o turismo a seu potencial de preservar culturas de matrizes africanas. A Noite dos Tambores Silenciosos se refere ao encontro de todos os grupos de Maracatu Nação do Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

estado de Pernambuco e é realizada desde o ano de 1968 em homenagem aos escravos que não tiveram o direito de comemorar as festividades carnavalescas. Visto que o Maracatu, em suas duas variações (Nação e Rural), é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) desde o ano de 2014, a pesquisa visa investigar se a interpretação por parte dos turistas que frequentam o cortejo da Noite dos Tambores Silenciosos resulta, de alguma forma, no reconhecimento da cultura afro-brasileira ou ISSN 2595-1440


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se o evento é apenas uma motivação de entretenimento para os foliões. A capital Recife é considerada pelo Ministério do Turismo - MTur (2015) o sexto destino mais procurado pelos brasileiros. O G1 (2018) divulgou que o estado do Pernambuco recebeu mais de 1,7 milhão de turistas, movimentando cerca de R$ 1,6 bilhão só no carnaval de 2018. O valor é quase 30% maior se comparado ao carnaval anterior. O Maracatu é um ritmo que se destaca principalmente no carnaval pernambucano e carrega grande riqueza cultural e pode comunicar elementos como a memória, a identidade e a formação da população afro-brasileira; permite o compartilhamento de práticas e fortes vínculos com o sagrado e ainda remete às antigas coroações de reis e rainhas congo (IPHAN, 2018). A Noite dos Tambores Silenciosos é um evento de alta atratividade, para sua realização é preciso de um planejamento e organização da atividade para melhor comportar o número de intérpretes que recebe. Devido a esse contexto, é notória a importância de analisar, de forma mais aprofundada, alguns conceitos teóricos para melhor compreender a dinâmica do turismo cultural, especificamente o evento Noite dos Tambores Silenciosos, e sua colaboração para o fortalecimento da identidade do negro e dos afrodescendentes no Brasil. 2 METODOLOGIA Para entendimento do tema, foi realizado uma pesquisa de caráter exploratório advinda de um levantamento bibliográfico e documental com assuntos voltados para a discussão sobre o turismo cultural e o ritmo maracatu do carnaval pernambucano. Para coleta de dados, será realizada uma viagem para o estado de Pernambuco no carnaval de 2019, no qual será aplicado, no evento Noite dos Tambores Silenciosos, um questionário qualitativo com perguntas fechadas, voltadas para a análise do perfil do turista e seu reconhecimento sobre a cultura afro-brasileira. 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA De acordo com o conceito estabelecido pela Organização Mundial do Turismo - OMT (2001), adotado oficialmente pelo Brasil, o turismo compreende “as atividades que as pessoas realizam durante viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras”. Dentro do turismo, há um leque de segmentos que compreendem as demandas do mercado. Dentre as Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

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diferentes segmentações, destaca-se o turismo cultural associado a: outras atividades turísticas, como uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciência do visitante e sua apreciação da cultura local em todos os aspectos - históricos, artísticos etc. Desse modo, turismo cultural é uma segmentação do mercado turístico que incorpora uma variedade de formas culturais, em que se incluem museus, galerias, eventos culturais, festivais, festas, arquitetura, sítios históricos, apresentações artísticas e outras, que, identificadas com uma cultura em particular, fazem parte de um conjunto que identifica uma comunidade e que atraem os visitantes interessados em conhecer características singulares de outros povos. (DIAS, 2006. p. 39) Nesse contexto, a principal motivação para o turismo cultural é a combinação do espaço, da cultura e da história local. Cada destino passa a receber turistas que possuem interesses específicos em relação às suas atratividades, como é o caso do estado de Pernambuco, que se destaca também pela oferta de manifestações culturais e artísticas. Estudar cultura no território brasileiro é algo complexo, que envolve um contexto histórico de colonização, questões raciais e etnias. Nesse sentido, torna-se fato a afirmação de que o Brasil se constituiu por meio da fusão de três etnias principais: o branco, o negro e o índio. Porém, ao se analisar o quadro de interpretação social, é notável a posição de superioridade da raça branca na construção da nacionalidade brasileira sobre as outras duas raças. Por outro lado, ocorre uma ausência de dados sistematizados a respeito dos povos africanos e sua cultura, o período da escravidão foi um longo silêncio sobre as etnias negras que povoam nosso país (ORTIZ, 2006). 3.1 Cultura Pernambucana O povo pernambucano aprendeu, desde cedo, a lutar por liberdade, gerando o espírito guerreiro e de amor à terra. Foi essa garra que fez com que os pernambucanos se unissem para combater a ocupação holandesa na região Nordeste do Brasil, em meados do século XVII. Tal confronto refere-se à Insurreição Pernambucana. Essa resistência foi um marco importante para o Brasil, tanto militar quanto ISSN 2595-1440


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sociopolítico, com o aumento da miscigenação entre as três raças (negro africano, branco europeu e índio nativo) e o começo de um sentimento de nacionalidade (OLIVEIRA et al, 2016). Desde muito cedo, percebese a luta e participação da população pernambucana no processo de formação do estado quanto população territorial. A imagem de Pernambuco está associada com uma série de referências em práticas da cultura popular: o carnaval com seus clubes e blocos de frevo, os maracatus, os afoxés, os caboclinhos, a literatura de cordel, os bonecos de Olinda, a feira de Caruaru, o xote, o xaxado, o baião, entre outras, que conferem identidade ao estado. A cultura pernambucana é fortemente marcada pela diversidade cultural e histórica, constituindo um espaço pluriétnico, devido à presença das raízes dos negros, índios e europeus. Essa multiculturalidade pode ser identificada nas expressões literárias, musicais, teatrais, nas artes plásticas, arquitetura, danças, festas populares e religiosidade. As trocas culturais contribuíram para a formação de uma cultura diversificada e rica. No entanto, é oportuno destacar o quanto a influência da cultura africana resultou na formação da identidade pernambucana e nacional. No que se diz respeito à musicalidade, a mesma pode ser entendida como elemento caracterizador das culturas. É válido ressaltar a colaboração dos negros africanos para a formação dos ritmos brasileiros, como é apontado por Santos (2005): Todos os povos sempre utilizaram o canto, a dança e os ritmos nos momentos de trabalho, alegria e louvor. No Brasil, os índios já utilizavam a flauta de madeira e alguns instrumentos de percussão. Os instrumentos de fole, teclados e cordas seriam trazidos da Europa, pelos brancos. Já os tambores e atabaques viriam da África, com os negros (SANTOS, 2005 p. 10). Dessa forma, podemos afirmar que a música popular brasileira, assim como os ritmos de Pernambuco são a junção das três etnias que agregam uma grande riqueza cultural. Dentre os ritmos do carnaval pernambucano, o maracatu se destaca como manifestação cultural, que auxiliam na idealização da identidade pernambucana e atraem um grande número de espectadores de vários lugares do mundo, tanto de nível regional, nacional e internacional.

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O maracatu tem sua origem afro e surgiu em Pernambuco no século XVIII. Foi uma forma de manter viva a tradição da coroação do Rei do Congo após o fim da escravatura. A figura surgiu para administrar os escravos negros que foram trazidos para o Brasil. O ritmo é baseado nas danças tradicionais africanas, com movimentos e passos que representam força. Os diferentes baques estão ligados à religiosidade, e as personagens são incluídas em homenagem aos povos negros e indígenas (CALADO, 2018). Em 2014, o maracatu, em suas duas variações, Nação e Rural, recebeu o título de Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil como expressão cultural genuinamente pernambucana, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Figura 1 – Maracatu Rural. Fonte: Marcos Michael/Reuters/VEJA, 2011. Figura 2 – Maracatu Nação. Fonte: Reprodução/TV Globo, 2014.

Essa forma de expressão cultural apresenta um conjunto musical percussivo e um cortejo real, evocando as coroações de reis e rainhas do antigo Congo africano. Os grupos são compostos pelos personagens: ➢ Porta-estandarte: que leva o estandarte; ➢ Dama do paço: mulher que leva a calunga (boneca de madeira, ricamente vestida, que simboliza uma entidade ou rainha já morta); ➢ Rei e rainha: as figuras mais importantes do cortejo. ➢ Vassalo: um escravo que leva o pálio (guardasol que protege os reis); ➢ Figuras da corte: príncipes, ministros e embaixadores; ➢ Damas da corte: senhoras ricas que não possuem título nobiliárquicos; ➢ Yabás: mais conhecidas como baianas, que são escravas;

3.2. Maracatu Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

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➢ Batuqueiros: responsáveis por animar o cortejo tocando vários instrumentos, como caixas de guerra, alfaias (tambores), gonguê, xequerês e maracás. Além de ajudar a preservar a expressão da nossa cultura popular, o reconhecimento do maracatu como patrimônio cultural cria condições necessárias para que ele possa se desenvolver e continuar interagindo com as futuras gerações. A certificação dá visibilidade à tradição, possibilitando sua presença no cenário cultural do estado e do Brasil. Para o Iphan (2018), o valor patrimonial do Maracatu Nação reside em: sua capacidade de comunicar elementos da cultura brasileira e carregar elementos essenciais para a memória, a identidade e a formação da população afro-brasileira. Entendido como uma forma de expressão que congrega relações comunitárias, o Maracatu Nação permite o compartilhamento de práticas, memórias e fortes vínculos com o sagrado, evidenciadas por meio da relação desses grupos com os xangôs (denominação da religião dos orixás em Pernambuco) e a Jurema Sagrada (denominação da religião de características afroameríndias que cultua mestres e mestras, caboclos, entre outras entidades) e ainda pode remontar às antigas coroações de reis e rainhas congo (IPHAN, 2018). Com a grande maioria dos grupos concentrada nas comunidades de bairros periféricos da região metropolitana de Recife, O Maracatu Nação também é conhecido como Maracatu de Baque Virado. Os grupos apresentam um espetáculo repleto de simbologias, marcado pela riqueza estética e pela musicalidade, assim podem ser traduzidas as apresentações de grupos de maracatu em Pernambuco (IPHAN, 2018). Hoje o ritmo está escrito no Livro de Registro das Formas de Expressão pelo Iphan e designa uma manifestação cultural pernambucana. O momento de maior destaque consiste na saída às ruas para desfiles e apresentações dos grupos, principalmente no período carnavalesco. Moradores e visitantes se encantam com o enredo e a animação das apresentações. 3. 3. Noite dos Tambores Silenciosos

é

Desde 1968, a Noite dos Tambores Silenciosos realizada no Pátio do Terço, lugar onde

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tradicionalmente aconteciam as festividades afrodescendentes. Hoje, o ritual é destaque no carnaval pernambucano, faz parte do calendário das festividades de Momo, sendo prestigiado por foliões, curiosos e turistas de toda parte do Brasil e até do exterior. As festividades de Momo trata-se do encontro das nações de maracatus de baque-virado, procedentes de todo o estado de Pernambuco, com a finalidade de louvar a Virgem do Rosário, padroeira dos negros, e reverenciar os ancestrais africanos, que sofreram durante a escravidão no Brasil Colonial.

Figuras 3 e 4: Noite dos Tambores Silenciosos. Fonte: Calado, 2018.

A cerimônia tem início com a leitura do poema Lamento Negro, em memória dos escravos que nunca tiveram direito de brincar o carnaval, motivo pelo qual o evento é realizado nessa época. À meia-noite, o ritual chega ao auge quando as luzes do bairro de São José são apagadas e todo mundo silencia. Tochas são acesas e levadas até a porta da Igreja pelos líderes dos maracatus. Uma voz entoa loas (verso de louvor, louvação em versos improvisados ou não) em louvor à Nossa Senhora do Rosário. O silêncio é interrompido pela batida intermitente dos tambores de todas as nações de maracatus, que entoam cânticos de Xangô (um dos mais populares, prestigiosos e divulgados orixás dos candomblés, terreiros, macumbas). A marcha dos dançarinos é marcada pela batida dos tambores. Nesse momento, o babalorixá, responsável pelo ritual, alinha os batuques e rege um coro de mães-de-santo que rezam com ele e termina o culto abençoando os membros dos maracatus e o público presente na cerimônia (ANDRADE, 2018). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da riqueza cultural presente no carnaval de Pernambuco, percebe-se que o turismo cultural pode contribuir para o reconhecimento da cultura afrodescendente no estado. Este segmento possibilita o resgate da identidade cultural dos negros e ISSN 2595-1440


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afrodescendentes, apropriando-se de forma benéfica de sua cultura como elemento fomentador da visitação. Entretanto, vale ressaltar a importância de que o turismo cultural não seja divulgado apenas como uma atividade econômica, mas também de modo a dar visibilidade étnica à cultura visitada, o que, consequentemente, promove o reconhecimento e fortalece a identidade negra como elemento fundamental no processo de formação histórica do Brasil. A cultura africana deu origem a diferentes ritmos carnavalescos e manifestações artísticas que hoje fazem parte do patrimônio cultural imaterial do Brasil. Os ritmos são capazes de alavancar e contribuir para o desenvolvimento do turismo em Pernambuco. Portanto, a partir das discussões realizadas, verifica-se que o turismo, além de potencializar a economia local, pode também contribuir para a valorização e preservação da cultura afro-brasileira. O patrimônio Maracatu Nação transformou-se em atrativo turístico principalmente no período carnavalesco, por meio do seu ritmo e devido ao seu legado histórico, imbuído de tradições pluriétnicas.

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IDENTIFICAÇÃO DE UM CLUSTER TURÍSTICO A PARTIR DE MÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS: O CASO DE OLÍMPIA – SP¹ AFONSO, LARA CLEAVER2 BUSCIOLI, ROBERSON DA ROCHA3 laracleaver@hotmail.com, roberson.buscioli@unesp.br 1 Este

trabalho é parte dos resultados do trabalho de conclusão de curso defendido em 2017 no Curso de Turismo da Unesp, Câmpus de Rosana - SP. Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Mestre em Geografia (UFGD), Professor do curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO – Este trabalho busca analisar e descrever a formação de um “Cluster Turístico” no Município de Olímpia – SP. Para tanto, realizamos a aplicação do Quociente Locacional, para dados do emprego em turismo fornecidos pelo CAGED, a fim de identificar a existência de um potencial cluster turístico no município, dada a especialização do turismo em Olímpia frente a sua Região Turística. Na pesquisa em lócus, foi caracterizada a fase em que este Cluster se encontra. Embora tenhamos observado um alto valor de QL para o turismo, em campo, foi possível observar que o município ainda carece de um conjunto de elementos para consolidar-se como um Cluster Turístico. Dentre eles, a falta de colaboração mútua entre as empresas do setor. Concluímos, assim, tratar-se de um cluster emergente e que dependeria agora de políticas e estratégias específicas para consolidar-se como um cluster em ascensão e, enfim, consolidado, proporcionando para a Região todos os benefícios de um Cluster Palavras-chave: Cluster Turístico, Quociente Locacional, Turismo. ABSTRACT - This work aims to analyze and describe the formation of a "Tourist Cluster" in the City of Olímpia - SP. To do so, we applied the Locational Quotient for tourism employment data provided by CAGED, in order to identify the existence of a potential tourist cluster in the city, given the specialization of tourism in Olympia vis-a-vis its Tourist Region. In the research in locus, the phase in which this cluster is was characterized. Although we observed a high QL value for tourism, in the field it was possible to observe that the city still lacks a set of elements to consolidate itself as a Tourist Cluster. Among them is the lack of mutual collaboration between companies in the sector. We conclude that this is an emerging cluster, and that it would now depend on specific policies and strategies to consolidate itself as a growing and ultimately consolidated cluster, providing the Region with all the benefits of a Cluster. Key words: Tourist Cluster, Locational Quotient, Tourism.

1 INTRODUÇÃO Este estudo visa averiguar a possibilidade de formação de um cluster turístico na Estância Turística de Olímpia - SP, no contexto de sua região turística. A atividade turística afeta diretamente diversos setores da economia, podendo ser tratada como uma base econômica importante quando se trata de determinadas localidades, como é o caso do município de Olímpia – SP, dada a geração de renda e empregos. Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

O município de Olímpia – SP tornou-se Estância Turística em 03 de julho de 2014, impulsionado particularmente pelo Parque Thermas dos Laranjais, que oferece águas termais e é considerado um dos maiores e mais importantes atrativos da cidade, ademais de outros atrativos, fazendo com que a localidade receba uma demanda altíssima de turistas nacionais e internacionais (CLASSIMAISOLÍMPIA, 2017). ISSN 2595-1440


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Diante dessas características, observamos a predisposição para a formação de um cluster turístico. A formação de Clusters Turísticos incide em benefícios diversos para o setor, tais como uma localidade mais bem estruturada para a recepção da atividade turística, uma vez que um cluster turístico pressupõe a troca de informações entre indivíduos que fazem parte do cluster, uma infraestrutura diversificada para o turismo, desenvolvimento de especializações e vantagens competitivas coletivas. Desse modo, clusters turísticos podem ser entendidos como:

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município e reconhecer a importância dessa atividade para a localidade. Para isso, esta pesquisa baseou-se nos métodos quantitativos, ou seja, de acordo com Oliveira (2002, p. 155):

Um conjunto de atrativos com destacado diferencial turístico, concentrado num espaço geográfico delimitado dotado de equipamentos e serviços de qualidade, de eficiência coletiva, de coesão social e política, de articulação da cadeia produtiva e de cultura associativa, e com excelência gerencial em redes de empresas que geram vantagens estratégicas comparativas e competitivas. (BENI, 2003, p. 74).

Significa quantificar dados, fatos ou opiniões, nas formas de coleta de informações, como também com o emprego de técnicas e recursos simples de estatística, tais como média, porcentagem, moda, desvio padrão e mediana, como o uso de métodos mais complexos tais como análise de regressão, coeficiente de correlação etc., bastante comum em defesa de teses. O método quantitativo é bastante usado no desenvolvimento das pesquisas nos campos social, de opinião, de comunicação, mercadológico, administrativo e econômico, representando de forma geral a garantia de precisão dos resultados, evitando enganos e distorções na interpretação dos dados.

A formação de um cluster turístico em uma localidade é fundamental para intensificar os benefícios gerados pela atividade. Uma vez que um cluster turístico é a troca de informação entre entidades que trabalham com a atividade turística em uma determinada área geográfica, assim, ao mesmo tempo em que competem, também colaboram entre si. Nesse contexto, esta pesquisa torna-se importante para que se entenda como o turismo pode funcionar enquanto vetor de desenvolvimento econômico de uma localidade, a partir da formação de um cluster turístico, tendo como objetivo geral analisar a dinâmica da atividade turística em Olímpia – SP, no sentido de compreender o processo de clusterização e, mais especificamente: i) Verificar a dinâmica da atividade turística de Olímpia – SP no contexto regional; ii) Avaliar o grau de especialização/clusterização a partir da aplicação do Quociente Locacional (QL) para dados do emprego na região turística Águas Sertanejas / Vale do Rio Grande e iii) Identificar a interação dos três níveis básicos para a formação de um cluster turístico. Para tanto, o trabalho se apoiou na seguinte metodologia: Pesquisa bibliográfica sobre o tema turismo, desenvolvimento e cluster turístico, assim como também levantamento de dados secundários sobre o município estudado. Além disso, aplicaram-se métodos estatísticos para identificar a existência de um cluster turístico no

Desse modo, para a identificação de um cluster turístico, utilizou-se inicialmente a metodologia aplicada por Suzigan em seu trabalho aplicado na indústria calçadista do Estado de São Paulo, que consiste na elaboração do Quociente Locacional (QL), para identificar a concentração relativa de uma determinada indústria numa região ou município comparativamente à participação desta mesma indústria no espaço definido como base (SUZIGAN et al, 2003). Neste caso, será aplicado para os dados do emprego em turismo no município de Olímpia – SP em relação à Região Turística de Águas Sertanejas / e Vale do Rio Grande em que Olímpia está inserida. Consideramos, para esta análise, os municípios categorizados como turísticos pelo Ministério do Turismo em 2016, sendo eles: Olímpia, Barretos, Colômbia, Guaíra, Guaraci e Severínia. Utilizamos os dados do emprego do CAGED (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego) para classes da CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) em até 5 dígitos, disponibilizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Diante disso, utilizou-se de métodos como a pesquisa de campo para identificar a atividade turística no município, a fim de levantar dados relevantes para caracterizar em que nível este cluster se encontra. Para tanto, foram realizadas as coletas sobre o trade turístico

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além de duas entrevistas semiestruturadas, sendo uma com a Diretora da Divisão de turismo do município de Olímpia, Cristina Prado Rodrigues, e a outra com o Alessandro Montanhana, presidente da Associação Olímpiense de hotéis, pousadas, bares e restaurantes (AOHPBR) e proprietário da Pousada Vitalis. Em ambas as entrevistas, buscou-se evidenciar a existência de práticas de colaboração mútua do trade turístico, uma vez que se trata de uma das principais características de um cluster. Este estudo está estruturado em três tópicos. No primeiro, abordou-se o referencial teórico sobre a atividade turística como base econômica no contexto de um cluster turístico. No segundo, apresentamos a área de estudo. E, por fim, no último, apresentam-se as análises dos dados obtidos com a pesquisa, seguidas de um tópico de conclusão. 2 TURISMO

COMO VETOR DE DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO

Ao tratar-se de desenvolvimento, devemos entender que ele é a melhoria de “algo” ou o aperfeiçoamento, desse modo, devemos conceituar o desenvolvimento local de acordo com Fischer (2002) de duas ideais em que uma está ligada ao espaço concreto e delimitado, como os municípios, microrregiões e entre outros, a outra se refere ao espaço abstrato das relações sociais e indica movimento, como a economia, o turismo e etc. De acordo com Oliveira (2002, p. 39): O desenvolvimento deve ser encarado como um processo complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente, humana e social. Desenvolvimento nada mais é que o crescimento - incrementos positivos no produto e na renda transformado para satisfazer as mais diversificadas necessidades do ser humano, tais como: saúde, educação, habitação, transporte, alimentação, lazer, dentre outras. Podendo, portanto, o conceito de desenvolvimento econômico ser entendido como as mudanças qualitativas nas condições de vida da sociedade, na qualidade e eficiência das instituições e também das estruturas produtivas do país, de acordo com Pereira (2006): O desenvolvimento econômico é assim um fenômeno histórico, de um lado relacionado com o surgimento das Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

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nações e a formação dos estados nacionais ou estados-nação, e, de outro, com a acumulação de capital e a incorporação de progresso técnico ao trabalho e ao próprio capital, que ocorrem sob a coordenação das instituições e principalmente de mercados relativamente competitivos. O desenvolvimento é, portanto, um fenômeno relacionado com o surgimento das duas instituições fundamentais do novo sistema capitalista: o estado e os mercados. Assim sendo, quando tratamos do turismo como uma atividade econômica, percebemos que ele tem todos os potencias para promover o desenvolvimento de uma localidade. De acordo com Arendit (2002, p. 103), o desenvolvimento do turismo pode ser definido da seguinte forma: Nessas regiões o turismo pode se transformar de fato num produto, visto que, em outras coisas, o turismo é uma forma de compensação aos desgastes provocados pelo cotidiano das grandes cidades – rotina de trabalho, meio artificial, ausência de contato com a natureza, poluição, congestionamentos etc. Por essa razão, preponderantemente o turismo se desenvolve mais em regiões com menor desenvolvimento industrial, mas que possua infraestrutura e serviços sociais básicos. Essa situação permite ao turismo transferir benefícios da região mais rica para a região mais pobre. Dessa forma, o desenvolvimento do turismo nas localidades pode estruturar-se a partir da formação de um cluster turístico, intensificando seus benefícios, pois nota-se que a concentração de empresas ligadas à atividade turística em uma mesma região atuando em conjunto pode proporcionar um conjunto vantagens competitivas que não seriam verificadas se elas atuassem individualmente. 2.1 CLUSTER TURÍSTICO, CLUSTERIZAÇÃO COMO FENÔMENO DE ORGANIZAÇÃO Pesquisando sobre as vantagens competitivas de países com aglomerações industriais, Porter acabou observado uma lógica de aglomeração e colaboração entre e intrassetores que geravam grandes benefícios para os locais que estavam instalados. Assim, vários ISSN 2595-1440


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autores começaram a estudar e pesquisar sobre o que seria, então, descrito como - “cluster” (PORTER, 1999). Desse modo, cluster pode ser definido como uma concentração de empresas que são interrelacionadas, ou seja, um conjunto de empresas que se localizam geograficamente “perto” e trabalham em conjunto gerando benefícios. Porter (1999) define cluster como sendo uma “concentração geográfica de empresas interrelacionadas, fornecedores especializados, prestadores de serviços, empresas de diferentes setores e outras instituições específicas, como universidades, sindicatos e associações comerciais que competem e também cooperam entre si”. Assim sendo, podemos entender que os clusters turísticos podem ser definidos como teoria dos aglomerados conforme apontado por Porter (1999, p. 239): “a teoria dos aglomerados focaliza a maneira como a justaposição de empresas e instituições economicamente interligadas numa localidade geográfica especifica afeta a competitividade”. Desse modo, entende-se que um cluster turístico é um conjunto de “empresas do setor turístico” que visam aumentar a qualidade do serviço, ou seja, trabalharem juntas para ajudar a desenvolver o turismo. De acordo com isso, define-se cluster turístico como: [...] conjunto complexo de diferentes elementos, entre os quais se encontram os serviços prestados por empresas ou negócios turísticos (alojamento, restauração, agência de viagens, parques – aquáticos/temáticos etc.); a riqueza que proporciona a experiência das férias de um turista; o encontro multidimensional entre empresas e indústrias relacionadas; as infra-estruturas de comunicação e transporte; as atividades complementares (dotação comercial, tradição em feiras etc.); os serviços de apoio (formação e informação etc.); e os recursos naturais e as políticas institucionais (MONFORT, 2000, p. 46). Sendo assim, Beni (2001) destaca que “um cluster não precisa ter um Plano Diretor Regional ou regras e diretrizes direcionadas para um único setor de atividade, mas é preciso ter estratégias de desenvolvimento da região”, deixando claro que os clusters não precisam ser limitados somente ao setor industrial, mas a formação de clusters como, por exemplo, os clusters turísticos. O cluster possibilita o aprofundamento do tema desenvolvimento regional, tanto no meio privado Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

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quanto no público, tanto no meio industrial quanto no meio da prestação de serviços, como no caso específico desta pesquisa, o turismo. Assim, de acordo com Petrocchi (2009, p.12), “clusters são aglomerados de atrativos turísticos, infraestruturas compatíveis, equipamentos e serviços receptivos, e organizações turísticas concentradas em âmbito geográfico bem delimitado”. Assim sendo, entendemos que os clusters turísticos são empresas que tem relação com a atividade turística, que estão localizadas em um determinado espaço delimitado e que trabalham juntas para obter benefícios para si e também gerando um benefício para a localidade em que este cluster turístico está instalado, pois esses serviços e empresas que estão relacionados com o turismo têm uma ligação ou um relacionamento entre elas, impulsionando, dessa forma, um desenvolvimento maior para o turismo. Diante dessas definições dos estudiosos, podese observar que é possível a existência de um cluster turístico, quando se discorre sobre o envolvimento de serviços e infraestrutura dentro de um espaço geográfico específico, assim como da relação direta existente entre o cluster e os consumidores. Com isso, entende-se, de acordo com Zaccarelli (2008), que as empresas componentes de um cluster desfrutam de vantagens competitivas sobre empresas concorrentes isoladas. Desse modo, um cluster surge em uma determinada localidade onde se encontram várias empresas com relações comerciais ligadas ao mesmo setor produtivo, como, por exemplo, o turismo, sejam elas concorrentes ou fornecedoras entre si, objetivando melhorar a competitividade da região e o desenvolvimento sustentável individual de cada empresa individualmente. É importante entender que os aglomerados, ou seja, os clusters, surgem em uma região geralmente de forma espontânea ou a partir de incentivos governamentais, tais como políticas e apoio institucional. Dessa forma, entendemos que um cluster turístico pode surgir como fruto de políticas públicas estratégicas para o seu melhor desenvolvimento, assim como de forma espontânea diante de vantagens comparativas de uma região. Contudo, na maioria dos casos, trata-se de uma combinação de ambos os casos. Porém, na formação de um cluster turístico existe uma série de características que devem ser averiguadas, e é nesse quesito que esta pesquisa se justifica. Nessa ótica, os clusters podem ser classificados por seu tamanho, amplitude e estágio de desenvolvimento, que, segundo Thomazi (2006), são ISSN 2595-1440


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classificados em: i) Pré-cluster: que são as empresas que atuam de forma independente; ii) Cluster emergente: verifica-se um agrupamento e uma concentração interempresas; iii) Cluster em expansão: pode-se observar uma intensificação nas relações interempresas; e, por fim, iv) Cluster Independente: há considerável número de relações interempresas e uma massa crítica. Desse modo, para analisarmos a existência de um cluster turístico em uma localidade, podemos contar com o diagrama simplificado de um cluster de turismo, ou seja, o que se faz necessário para que se haja um cluster turístico.

Figura 2 - Localização do município de Olímpia /SP Fonte: Prefeitura da Estância Turística de Olímpia

Figura 1 – Diagrama simplificado de um cluster de turismo Fonte: ARTAVIA, Roberto, 2000.

Dessa maneira, este capítulo buscou entender e definir o que é o turismo e sua relação com a economia, entendendo que o mesmo pode ser uma atividade econômica geradora de renda e empregos e que traz um desenvolvimento econômico para a localidade. Com isso, também define um cluster turístico e como o mesmo pode ser formado.

Conforme pode ser observado na Figura 2, encontra-se localizada próxima a grandes centros, como São Paulo capital além de cidades médias como São José do Rio Preto, Marília entre outras. A localidade chama a atenção pela existência de águas termais, que impulsionou a construção de um parque aquático de expressiva captação de recursos e turistas de origem regional, nacional e internacional, e também por ser considerada a capital nacional do folclore. O município de Olímpia é considerado um dos polos turísticos mais importantes do interior do Estado de São Paulo, tendo o Parque Aquático Thermas dos Laranjais seu principal atrativo turístico, pois o mesmo recebe um número relevante de turistas.

2. município de olímpia – sp e o turismo A cidade de Olímpia está localizada a 430 km da capital São Paulo, possui uma área de 804 km², uma população de 53.702 mil habitantes, e o setor terciário como o mais relevante para a economia local, dados estes retirados do IBGE de 2016.

Figura 3 – Foto do Thermas dos Laranjais localizado no município de Olímpia /SP Fonte: Guia Thermas.

O Thermas dos Laranjais encontra-se atualmente localizado em um vale com fonte mineral de água, naturalmente aquecida pelas rochas submersas a mais de mil metros. Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

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Olímpia tornou-se em 03 de julho de 2014 uma Estância Turística, o município está localizado na região turística Águas Sertanejas, composta por 13 municípios (Olímpia, Barretos, Guaraci, Colômbia, Guaíra, Colina, Viradouro, Bebedouro, Pirangi, Taiaçu, Vista Alegre do Alto, Cajobi e Tabapuã). Segundo Cristina Prado Rodrigues, Diretora da Divisão de turismo de Olímpia, os municípios que fazem parte desta região turística têm como objetivo fortalecer a Região Turística Águas Sertanejas. Desse modo, representantes dos municípios integrantes estão se reunindo frequentemente para fomentar o processo de regionalização, pois a proposta é elaborar um Plano Regional de Turismo para direcionar o desenvolvimento das ações regionais. O município de Olímpia, que antes baseava sua economia totalmente na agroindústria, agora tem sua economia voltada para o turismo. Diante disso, o município passou por mudanças, para que fosse possível receber por ano o fluxo de turistas que a cidade atrai, que é cerca de três milhões de pessoas por ano. Assim, pode-se notar que o município de Olímpia vem se destacando em relação à atividade turística. Segundo a Pesquisa de Ocupação Real realizada pela Prefeitura do município em 2018, os meios hoteleiros da Estância Turística de Olímpia registraram ocupação recorde durante o feriado de Ano Novo, entre os dias 29 de dezembro de 2017 e o dia 1° de janeiro de 2018, os meios de hospedagem atingiram 95,6% de ocupação. Ainda nessa mesma perspectiva, em junho de 2017, foi inaugurado mais um parque aquático no município. Investidores do Grupo Ferrasa, uma empresa do próprio município implantou na localidade mais um parque de águas termais junto ao Thermas dos Laranjais, o Hot Beach, que é a união de um parque aquático e um resort, que podem ser considerados como as duas principais infraestruturas de entretenimento em Olímpia. Além disso, segundo Santos (2017), o grupo Playcenter vem estudando a implantação de mais um parque na cidade, com brinquedos “secos” e não apenas atrações aquáticas, como os outros dois parques já existentes no município. Com isso, ainda de acordo com Santos (2017), uma visão que o município de Olímpia traz é que tanto a população local quanto a administração pública já sabem no que a cidade quer se transformar, o município pretende reunir parques aquáticos e parques secos e, assim, pretende virar uma das capitais do entretenimento do país. A atividade turística é importante tanto para o município bem como para a população local devido ao Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

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incremento da renda por meio da geração de empregos. A implantação de empreendimentos voltados para a prestação de serviços turísticos no município de Olímpia - SP totaliza 1739 (mil setecentas e trinta e nove) empresas, dentre elas: transportes, hotéis, restaurantes, agências, museu, parques, entre outras, que movimentam a economia local (CAGED, 2018). O município apresenta, devido a esse número de empresas, uma acentuada geração de empregos no segmento turístico, de acordo com a tabela 1. Tabela 1 – Dados do emprego na área do turismo da região Águas Sertanejas / Vale do Rio Grande. Empregos em Turismo - Olimía 2006 - 2016 Ano 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Emprego 547 649 761 1326 953 1060 1490 1770 1947 2110 2051

Fonte: CAGED 2018. Org. AFONSO, L. C & BUSCIOLI, R. R.

Destacamos que a Região turística Águas Sertanejas / Vale do Rio Grande, Olímpia, desde 2013 tem se colocado como o município com maior geração de emprego no contexto regional, passando à frente de Barretos em geração de empregos no setor. Esses dados também podem ser analisados no gráfico 1, tornando-se claro que os dois municípios que mais se destacam em relação aos empregos na área do turismo são Barretos e Olímpia. Já os demais, quando comparados, têm pouca relevância em relação a empregos no setor turístico para a região em que se encontram. Gráfico 1 –Dados do emprego na área do turismo da região Águas Sertanejas / Vale do Rio Grande.

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Fonte: CAGED 2018. Org. AFONSO, L. C. & BUSCIOLI, R. R.

No gráfico 01, é evidente o desempenho de Olímpia na geração de empregos em turismo na região, mantendo-se à frente dos demais municípios desde 2013. Desse modo, uma vez confirmada a importância do setor de turismo em Olímpia, iniciaremos a análise da formação de um Cluster Turístico. . III – IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE UM CLUSTER TURÍSTICO EM OLÍMPIA – SP O primeiro passo da análise será a aplicação do Quociente Locacional - QL para os dados de emprego da região. O QL é uma medida estatística capaz de identificar se em alguma localidade de uma região está ocorrendo processo de especialização, identificando um possível Cluster, daí a importância desta medida para identificação de possíveis Clusters, ou Cluster em ascensão. Assim, a verificação de um QL elevado em determinada indústria ou serviço numa região indica a especialização da estrutura de produção local, ou seja, a existência de um cluster turístico. Para a realização deste cálculo, utilizou-se a seguinte equação: QL = Eij/Ej -----------Ein/En Onde Eij corresponde ao total de empregos na área do turismo existente na localidade, ou seja, em Olímpia – SP, Ej corresponde ao total de empregos gerais, ou seja, todos os empregos existentes na localidade. O Ein corresponde ao total de empregos na área de turismo existente na região turística que se encontra Olímpia, que no caso é a região de Águas Sertanejas / Vale do Rio Grande, e o En que corresponde ao total de empregos gerais, todos os Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

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empregos existentes na região turística. Nesta análise, consideramos apenas os municípios categorizados como turísticos pelo Ministérios do Turismo em 2016, sendo eles: Olímpia, Barretos, Colômbia, Guaíra, Guaraci e Severínia Sendo assim, se QL1, existe algum nível de especialização do setor na localidade j, pois a participação do setor fica acima da participação média da região em análise. Se QL=1, significa que as localidades apresentam o mesmo nível de especialização no setor i. Se QL1, a participação do setor i no total de emprego da localidade é inferior do necessário para ser considerado um nível de especialização da mesma neste setor. O cálculo do QL possibilita uma primeira identificação de clusters potenciais de turismo na região estudada. Entretanto, o QL apresenta alguns problemas na mensuração da importância do cluster em termos absolutos. Neste caso, estamos trabalhando com dados do emprego para o ano de 2016, último ano disponibilizado pelo CAGED, conforme a tabela 02. Tabela 2 – Quociente Locacional dados emprego. Quociente Locacional dados emprego 2016 Municípios da Região

Ql

SP-COLOMBIA

0,093

SP-GUARACI

0,185

SP-SEVERINIA SP-GUAIRA

0,24 0,345

SP-BARRETOS

0,81

SP-OLIMPIA

2,48

Fonte: CAGED 2018. Org. AFONSO, L. C. & BUSCIOLI, R. R.

Neste caso, é possível observar que dos seis municípios da Região, Olímpia se destaca com um QL de 2,48 indicando uma forte especialização da localidade no setor de turismo. Seguida de Barretos, com QL de 0,81, este valor mesmo estando abaixo de 1, é significativo, uma vez que Barretos é uma localidade importante no que diz respeito à contribuição do total de empregos em turismo para a Região. Contudo, ainda não ocorre uma especialização da região para o setor como pode ser observado na tabela 03. Tabela 3 – Participação Relativa do Emprego em Turismo no Total de emprego (%) da Região em 2016. ISSN 2595-1440


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Municípios

COLOMBIA GUARACI SEVERINIA GUAIRA BARRETOS OLIMPIA Total

Emprego Emprego em Total Turismo

17 23 29 269 1499 2051 3888

3304 2248 2222 14138 33627 15019 70558

Participação relativa do Emprego em Turismo no Total de emprego (%) 0,51 1,02 1,31 1,90 4,46 13,66 5,51

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Desse modo, pode-se analisar os três níveis do diagrama simplificado de um cluster turístico aplicado ao município de Olímpia na figura 03:

Fonte: CAGED 2018. Org. AFONSO, L. C & BUSCIOLI, R. R.

Quando se observa a participação relativa do emprego em turismo em cada município da Região, mais uma vez Olímpia se destaca, uma vez que o setor de turismo é responsável por mais de 13,66% dos empregos do município, enquanto Barretos, segundo município com maior número de empregos em turismo da região, participa no total de empregos com 4,46% do total de empregos gerado na localidade. Outro dado importante a ser observado é que, na Região, o setor de turismo é responsável por 5,51% do total de empregos, sendo mais uma vez Olímpia o município com maior contribuição para esse total, sendo responsável por gerar 53% dos empregos em turismo na Região, enquanto Barretos ficou responsável por gerar 39% dos empregos. Desse modo, destacamos que, embora não se observe uma especialização do setor de turismo na localidade de Barretos, a mesma é extremamente importante no contexto setor de turismo na Região, exigindo, portanto, uma análise mais aprofundada de apontar se ocorre ou não processos de clusterização em Barreto. O setor de turismo de Olímpia, por outro lado, mostra-se de extrema importância para a própria localidade, assim como para o setor de turismo da região. De modo que avançaremos para uma análise qualitativa do turismo em Olímpia, nosso objeto de estudo nesta pesquisa. De acordo com Rodrigues (2017), diretora da Divisão de turismo de Olímpia, é possível afirmar que o turismo traz o desenvolvimento econômico positivo para a cidade, aumentando, com isso, o empreendedorismo no local com a abertura de novos hotéis, pousadas, restaurantes, entre outras variedades que são ligadas à atividade turística.

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Figura 3 – Diagrama simplificado de um cluster de turismo com dados do município de Olímpia – SP. Fonte: Autores, 2018.

Com isso, de acordo com a pesquisa de campo, foi possível distribuir as empresas do ramo do turismo nos três níveis que compõem um cluster turístico, conforme proposto por Artavia (2000). O primeiro nível está composto pelos órgãos de apoio, que são aqueles que dão suporte para o turismo se desenvolver no município, como as secretarias, conselhos, entre outros. Também estão presentes no primeiro nível os meios de alimentação e hospedagem, junto com os serviços de apoio, que são aqueles que prestam assistência aos turistas que visitam a localidade. Já no nível dois, temos as atrações, que são os pontos turísticos do local, sendo assim, aqueles que recebem um fluxo de turistas. A motivação, que é o que leva os turistas a visitar o município, o transporte, que é fundamental para o deslocamento dos visitantes dentro da localidade, e a infraestrutura que a cidade possui, como as vias de acesso, os postos de saúde etc. O terceiro nível está composto pela capacitação, ou seja, tudo que a localidade possui em relação a estudos e aprendizado para a sua população, podendo ser desde escolas até mesmo cursos preparatórios na ISSN 2595-1440


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área do turismo. Também se encontra no nível três a promoção, que são as agências operadoras que atuam no local e os outros serviços como, por exemplo, o artesanato, o sistema de segurança, área de eventos e outros que podem ser fundamentais para o turismo. Portanto, podemos dizer que, em relação aos números de estabelecimentos e infraestrutura turística, o município está preparado para receber os turistas, pois nota-se que o mesmo possui uma diversidade de empresas que atuam com a atividade turística. Esses elementos, como já apontamos, ainda não são suficientes para provar a existência de cluster turístico na localidade, pois, como já dito, um Cluster exige a existência de um trade turístico trabalhando em conjunto e gerando economias de escalas e vantagens competitivas. Nesse sentido, segundo Cristina Prado Rodrigues, diretora da Divisão de Turismo de Olímpia, durante a entrevista, existe dificuldade de se trabalhar em conjunto com algumas empresas do município, assim como de se formar um Convention & Visitors Bureau, que foi proposto em 2013, mas não avançou, pois a maioria dos empresários de Olímpia não entendem a importância de se trabalhar o destino. A mesma ainda relata que estão trabalhando com a clusterização em relação à regionalização, pois alguns municípios da região turística em que Olímpia está inserida mostraram interesse em criar um Roteiro Turístico da Região. Sendo assim, a mesma acredita ser mais possível um cluster surgir por meio da regionalização do que dentro do próprio município, por conta de as empresas não entenderem o quão importante é trabalharem juntas. Com relação à possibilidade de ações e estratégias conjuntas, em 2017, foram realizadas pesquisas pela Secretaria Municipal de Turismo com os dois estabelecimentos, ou seja, com o Hot Beach e com o Parque Aquático Thermas dos Laranjais, e foi possível observar que ambos os estabelecimentos não concorrem entre si, e sim trabalham em conjunto com o marketing do destino, buscando divulgar o mesmo (RODRIGUES, 2017). Assim, como os dois parques aquáticos que trabalham em conjunto, entendendo a importância dessa união, pode-se observar que outros estabelecimentos, como os que fazem parte da formação da Associação Olimpiense de hotéis, pousadas, bares e restaurantes, também entendem essa importância de trabalharem juntos. Desse modo, por meio da entrevista realizada com o Alessandro Montanhana, proprietário da Pousada Vitalis em Olímpia e presidente dessa Associação, foi possível entender mais sobre como as mesmas trabalham. Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

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De acordo com o entrevistado, são 48 empresas que fazem parte da mesma, sendo 4 restaurantes e 44 hotéis e pousadas. Essa Associação surgiu em 2009, tendo como finalidade agregar e unir os associados em prol de um objetivo em comum, que é o desenvolvimento e o crescimento do turismo no município de Olímpia (MONTANHANA, 2017). Segundo Montanhana (2017), a Associação busca benefícios para os associados. Por exemplo, hoje a mesma já tem parceria com a VR Benefícios, proporcionando que as empresas que fazem parte da Associação não tenham custo com o vale alimentação dos seus funcionários, pois a VR Benefícios fornece um cartão de alimentação para que as empresas associadas possam fornecer aos seus funcionários. Outra parceria da associação que traz benefícios para os associados é com o Hot Beach e o Thermas dos Laranjais, pois os turistas que fazem uso dos serviços das empresas da Associação Olimpiense de hotéis, pousadas, bares e restaurantes, associados ganham um desconto no valor do convite dos parques aquáticos, Hot Beach e Thermas dos Laranjais. Segundo o presidente Alessandro Montanhana, a associação está sempre buscando parcerias que podem trazer benefícios para os associados. Além disso, os estabelecimentos que fazem parte da Associação criaram em conjunto meios de divulgar o destino, desenvolvendo o marketing do município de Olímpia em relação ao turismo. Sendo assim, as empresas associadas fazem feiras e mídias na internet divulgando o turismo em Olímpia e, recentemente, criaram juntas um portal de marketing, o maisolimpia.com, tendo como principal finalidade a divulgação do turismo no município de Olímpia.

Figura 4 – Foto da Página do Portal criado pelas empresas da Associação Olimpiense de hotéis, pousadas, bares e restaurantes. Fonte: maisolimpia.com.

Na figura 4, mostra-se a página do site criado pelos associados, no qual a aba “onde se hospedar” contém os hotéis, pousadas e resorts que fazem parte ISSN 2595-1440


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da AOHPBR (Associação Olimpiense de hotéis, pousadas, bares e restaurantes), contendo os preços de cada um, como chegar, fotos, entre outras informações. A aba “onde comer” disponibiliza os restaurantes que também fazem parte da Associação, contendo também o valor e detalhes de cada um deles, detalhes como, por exemplo, como chegar, quais os pratos que o restaurante serve, número para contato, etc. Na aba “atrativo”, pode-se encontrar alguns atrativos do município de Olímpia, que foram considerados pelos Associados que recebem mais visitantes, portanto, nota-se que o site é criado para divulgar a localidade como um todo e também os estabelecimentos que fazem parte da AOHPBR. Desse modo, torna-se notório que essas empresas entendem a importância de trabalhar o marketing do município e de trabalharem em conjunto. De acordo com Montanhana (2017), no município de Olímpia é mais fácil fazer com que os estabelecimentos hoteleiros entendam com mais facilidade a atividade turística e a formação de um cluster turístico na localidade, do que outros estabelecimentos como restaurantes, atrativos, entre outros. São poucos os restaurantes que fazem parte da associação, dada a dificuldade de entenderem a importância de se unir em prol de um objetivo como Marketing. Já foram criados vários tipos de benefícios que poderiam ser executados na junção dos meios hoteleiros com os estabelecimentos de alimentos e bebidas, mas não houve interesse por parte dos restaurantes em desenvolve-los (MONTANHANA, 2017). Nota-se, com a entrevista que foi realizada, que o presidente da Associação tem uma visão sobre o que é cluster turístico e que o mesmo pode trazer benefícios para os empreendimentos. Uma das iniciativas que, de acordo com Montanhana (2017), o mesmo está tentando implantar é a comunicação entre as empresas quanto à compra de mantimentos, como, por exemplo, os restaurantes terem uma comunicação para a compra de alimentos, assim poderiam adquirir de um mesmo fornecedor e, dessa forma, os restaurantes poderiam obter um desconto, ou seja, uma economia pela quantidade de produtos que vão adquirir. Contudo, já é perceptível que, com os meios hoteleiros, existe uma visão mais próxima do conceito de cluster, uma vez que os meios de hospedagens que fazem parte da Associação Olimpiense de hotéis, pousadas, bares e restaurantes apresentam maior colaboração entre eles. Um exemplo disso é que quando um dos meios de hospedagem já está com ocupação máxima, ele indica para os turistas os outros hotéis e pousadas que fazem parte da Associação, Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Rosana/SP.

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dessa forma, um ajuda o outro (MONTANHANA, 2017). Apesar de algumas empresas do município de Olímpia trabalharem em conjunto, como é o caso dos meios hoteleiros e alguns restaurantes que fazem parte da Associação, e também dos dois parques aquáticos que tem uma parceria visível entre eles, ainda se nota que muitos estabelecimentos não entendem a importância do turismo para a localidade, tornando perceptível isso nas duas entrevistas que foram realizadas, em que tanto a turismóloga Cristina Prado Rodrigues, Diretora da Divisão de turismo de Olímpia, quanto o Alessandro Montanhana, proprietário da Pausada Vitalis em Olímpia e presidente da Associação, alegam uma falta de interesse por parte das empresas do município em trabalhar o destino como um todo, focando suas ações votadas apenas as suas empresas, nesse caso, observamos poucas interações entre o setor público e privado. CONCLUSÕES Pode-se perceber, com os resultados que foram levantados sobre o município de Olímpia, que o mesmo possui o começo de uma formação de cluster turístico, ou seja, na fase 2, no qual algumas empresas do ramo turístico estão trabalhando já em conjunto. Porém, não se observa ações continuadas e com a inserção de todo o trade de modo que, apesar de Olímpia ser um destino turístico que se destaca na região, o seu trade turismo trabalha conjuntamente em ações importantes com a divulgação do destino. Como observamos, algumas empresas apresentam ações com características de ações de cluster turístico, assim como a ideia de se apresentar um plano para a criação de um cluster regional. Contudo, a constituição de um cluster turístico depende de um processo de conscientização do setor, de que as empresas não concorrem entre si, mas entre outros Clusters Regionais. Nesse sentido, apontamos que o setor público poderia estar à frente de tais ações. A formação de um cluster turístico em uma localidade pode trazer benefícios. De acordo com Amato Neto (2000), os benefícios obtidos em um cluster dependem de um conjunto de fatores facilitadores, os quais são chamados de eficiência coletiva. Estes fatores são:  A divisão do trabalho e da especialização entre produtores;  A estipulação da especialidade de cada produtor;  O surgimento de fornecedores de matéria-prima e de máquinas; ISSN 2595-1440


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 O surgimento de agentes que vendam para mercados distantes;  O surgimento de empresas especialistas em serviços tecnológicos, financeiros e contábeis;  O surgimento de uma classe de trabalhadores assalariados com qualificações e habilidades específicas.

etapa, que é quando se verifica um agrupamento e uma concentração interempresas.

Entende-se, desse modo, que são várias as vantagens que podem ser adquiridas pelas empresas, ou nesse caso em específico do turismo, os benefícios podem ser adquiridos para os municípios e as empresas que trabalham nesse ramo turístico. É perceptível que a formação de um cluster turístico entre as empresas pode trazer benefícios para elas como para o próprio destino turístico, como, por exemplo, as empresas que trabalham em conjunto e ampliam as possibilidades de sobrevivência e crescimento no mercado. As empresas que trabalham em união para um mesmo objetivo, ou seja, que fazem parte de um aglomerado produtivo, podem adquirir vantagens, como a mão-de-obra especializada, pois a aglomeração de empresas facilita a especialização de mão-de-obra específica para o segmento, como, por exemplo, a ampliação de cursos de formação para o setor. O marketing coletivo pode ser considerado outra vantagem que as empresas podem desfrutar quando estão trabalhando como um cluster turístico. Com isso, a facilidade devido à proximidade geográfica das empresas facilita o marketing coletivo. Nesse caso, a divulgação do município é feita como um todo e não de cada empresa isoladamente. Portanto, com este estudo que foi realizado no município de Olímpia, tornou-se possível perceber que o mesmo não obteve resultados totalmente positivos em relação à formação de um cluster turístico na localidade de acordo com a análise dos resultados. Pois, de fato, Olímpia pode ser considerada um destino turístico, conforme os dados que foram apresentados. Entretanto, as empresas que compõem o trade turístico do município ainda estão começando a entender a importância de se trabalhar o destino e como fazer isso em conjunto. Dessa maneira, pode-se considerar que a formação de um cluster turístico em Olímpia ainda está em desenvolvimento, não se tem no momento atual um cluster turístico desenvolvido. De acordo com Thomazi (2006), que classifica o cluster turístico em quatro etapas, sendo elas a 1- Pré-cluster, 2- Cluster emergente, 3- Cluster em expansão e 4- Cluster independente, Olímpia pode se encontrar na segunda

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O PAPEL DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA PROMOÇÃO DE DESTINOS: O CASO DE ROSANA-SP SANTOS, BRENDA LETÍCIA LICHEWISKI DOS1 VIOLIN, FÁBIO LUCIANO2 brenda.leticia@unesp.br, fabio.violin@unesp.br 1

Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional (UNIDERP), Professor do Curso de Turismo, Universidade E stadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO - É sabido que o planejamento, em suma, é a procura em alcançar metas futuras mediante a elaboração de um plano no presente, sendo assim, vale destacar a sua relevância para a realização e organização de diversas atividades. No caso do turismo, percebe-se que o planejamento se torna extremamente prioritário para que o mesmo se desenvolva com êxito em uma localidade. Desse modo, o objetivo desse artigo foi ressaltar a importância do planejamento público e privado para a promoção de um destino, apresentando elementos que auxiliam na compreensão das localidades a respeito do planejamento para a promoção de um destino, além de destacar a parceria do planejamento público e privado. A metodologia esteve baseada na coleta e análise de materiais produzidos por meio de estudos de conclusão de curso da Unesp-Rosana, e reunião de dados a respeito do município e das suas ações dentro da temática de interesse em jornais, revistas, sites ou outros veículos conforme disponibilidade e fidelidade de conteúdo. Os resultados demonstraram a ocorrência de feitos públicos e privados relativos ao turismo, porém se mantiveram de maneira precária ou não foram continuados. A partir disso, concluímos que a aliança entre essas duas esferas de planejamento pode contribuir para o desenvolvimento da imagem turística local. Palavras chave: Planejamento estratégico, Planejamento público, Planejamento privado, Promoção da imagem local. ABSTRACT - Planning, in short, is a quest to achieve future goals through the elaboration of a plan in the present, so it is worth highlighting its relevance to the organization of various activities. In the case of tourism, it is perceived that planning becomes an extremely high priority so that it can be successfully developed in a location. Thus, the objective of this paper is to highlight the importance of public and private planning for the promotion of a destination, presenting elements that help to understand localities in relation to destination promotion, besides highlighting the partnership between public and private planning. The methodology was based on the collection and analysis of materials produced through Unesp-Rosana course completion studies, and data collection regarding the city of Rosana and its actions within the theme in newspapers, magazines, websites or other vehicles as availability and fidelity of content. The results showed the occurrence of public and private events related to tourism, although they were maintained in a precarious way or were not continued. From this, we conclude that the alliance between these two spheres of planning can contribute to the development of the local tourist image. Keywords: Strategic planning, Public planning, Private planning, Local image promotion.

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1 INTRODUÇÃO O planejamento pode ser compreendido, em suma, como sendo a procura por alcançar metas futuras por meio da elaboração de um plano no presente. Sendo assim, vale destacar a sua relevância para a realização e organização de diversas atividades. No caso do turismo, percebe-se que o planejamento se torna extremamente prioritário para que a atuação turística se desenvolva com sucesso em uma localidade. Tendo em vista o crescimento da atividade turística, é indispensável analisar como pode ser dada a relação dos ambientes públicos e privados na elaboração do planejamento estratégico. Dessa maneira, objetivou-se explorar a aplicabilidade dessa programação estratégica nos setores públicos e privados, avaliando-a no aspecto turístico e levando em consideração que se for realizada pode resultar na promoção de um destino. 2 REFERENCIAL TEÓRICO Nos próximos tópicos serão apresentados os termos referentes ao planejamento estratégico, público e privado, apontando a importância desses elementos para diversas atividades. 2.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Inicialmente, vale dizer que o ato de planejar sempre esteve presente no mundo, mesmo sendo, a princípio, aplicado pelos humanos de maneira intuitiva. No entanto, um dos primeiros passos para que o planejamento fosse melhor formulado foi com a chegada da Revolução Industrial ocorrida entre 1760 a 1860, a qual impactou significativamente a economia da sociedade e gerou um aumento da produção, tornando-a exponencial. Sendo assim, consequentemente houve a necessidade de ser sistematizada a forma de gerir e organizar essa produtividade. Além disso, cumpre observar que, conforme avançaram os anos, esse termo passou a ser melhor compreendido, devido à fragilidade sofrida pela sociedade em virtude de eventos ocorridos em diferentes períodos históricos, por exemplo, as duas grandes guerras mundiais, que deixaram seus impactos socioculturais, econômicos e políticos sobre o mundo, e isso obrigou “os Estados... e os segmentos industriais a desenvolverem técnicas e ferramentas que otimizassem seus recursos, especialmente, os logísticos” (ANDREUZZA, 2012, p.6). Então, com isso, notou-se que o planejamento estratégico foi utilizado como uma ferramenta decisiva para o desenvolvimento de ações de médio e longo prazos, diz Andreuzza (2012).

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Acrescenta-se que também houve pessoas que participaram direta e indiretamente para que ocorresse o aprimoramento do planejamento noutro tempo. Assim sendo, entre o final do século XIX até a década de 20 do século passado tivemos vários autores com trabalhos expressivos acadêmicos ou não que influenciaram o modo de gerir as empresas e instituições, o que sem dúvida estimulou o uso do planejamento estratégico, como ferramenta de gestão. Taylor, Gant, Fayol, Ford e Weber estão entre eles. (ANDREUZZA, 2012, p. 5). E, segundo afirma Bromley (2000 apud DIAS, 2003, p. 87), o planejamento busca definir e alcançar objetivos para o futuro, de tal maneira que as transformações que ocorram nas sociedades humanas não sejam determinadas por circunstâncias fortuitas ou externas, mas como resultado de decisões e propósitos gerados por um conjunto de pessoas determinadas. Para que aconteça, eficazmente, o planejamento deve ser dinâmico, ou seja, estar em constante aprimoramento acompanhando a ocorrência da complexa realidade em que se pretende organizar. E isso aparece em concomitância com as palavras de Barreto (2002 apud Dias, 2003, p. 88), uma vez que aponta o caráter dinâmico do processo de planejamento. A autora afere a necessidade de haver “[...] a permanente revisão, a correção de rumos, pois exige um repensar constante, mesmo após a concretização dos objetivos”. Então, partindo dessas afirmativas, as dificuldades em se planejar e estruturar em escalas maiores, para buscar adequar-se a situações que possam surgir em dado período, além de procurar solucionar possíveis dilemas do ambiente local, são cada vez mais visíveis nos meios públicos e privados, assim sendo é observada a seriedade que precisa ser levada em conta para cumprir este papel. 2.2 PLANEJAMENTO PÚBLICO Devido às inovações e ao aumento da competitividade alimentada pela procura em participar de ambientes globalizados, o planejamento estendeu-se não só às empresas industriais de grande porte, como também aos setores públicos. E, tendo em conta que o turismo usufrui do território para que se realize suas atividades e, consequentemente, esse espaço é delimitado pelo poder, faz-se necessário ter claramente

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quais os objetivos econômicos que se deseja obter e avistar os espaços que serão protegidos, buscando usar de forma racional e os viabilizar por meio de medidas sustentáveis. Vendo a utilização do espaço, “o planejamento constitui uma técnica de uso imprescindível pelas administrações públicas municipais que apostam no desenvolvimento do turismo” (DIAS, 2003, p. 37). Complementando, conforme Rattner (1979 apud DIAS, 2003, p. 88), “no âmbito do poder público, o planejamento pode ser definido como uma técnica de tomada de decisão que dá importância para a escolha de objetivos bem determinados e indica os mais apropriados para atingi-los”. E, quando se trata de planejar, partindo dos administradores públicos, é indispensável que essa abordagem corresponda às expectativas da sociedade como um todo. 2.3 PLANEJAMENTO PRIVADO Muito parecido com o planejamento público, porém com algumas distinções, e uma delas é a direção que se dá ao planejamento, ou seja, enquanto as organizações públicas gerem atendendo a área social, as empresas privadas estão atentas aos níveis de competição do mercado, procurando manterem-se neste meio, mas ambas estão relacionadas com os atos de gerir organizações e suas respectivas funções organizacionais (REZENDE, 2012). Evidencia-se isso a partir da compreensão de que a gestão privada “requer os conceitos e [...] métodos da administração [...] e da inteligência empresarial. É orientada para a produção e comercialização de produtos e para a prestação de serviços privados [...] focada no lucro da organização” (REZENDE, 2012, p. 15). E a mesma proposta do planejamento estratégico é aplicada nas empresas públicas e privadas, mas o que difere consideravelmente são algumas nomenclaturas e rumos, traçados de acordo com os objetivos de cada setor. As macroatividades presentes em todas as organizações para seu funcionamento integrado e efetivo são chamadas de funções organizacionais. Nas organizações públicas também são chamadas de funções públicas e nas organizações privadas também são chamadas de funções empresariais (REZENDE, 2012, p. 5). Analisando a presença do planejamento no que se refere às organizações não governamentais, pode-se dizer que “[...] são um dado novo e importante [...] e que vem-se acentuando nos últimos anos [...] que atuam tanto no nível local, como no nacional, ou global

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e que podem ser parceiras ou adversárias num processo de planejamento” (DIAS, 2003, p. 115). Portanto, mais uma vez se apresenta a relevância de ser levada em consideração essa temática sobre o planejamento, haja vista que esse termo também abrange essas instituições, e a partir disso, elas podem agir de forma colaborativa ou não com relação ao ato de planejar nos órgãos públicos. 3 METODOLOGIA Por ser um campo multifacetado, o turismo apresenta a permissividade do uso de diversos tipos de elementos metodológicos, partindo sempre dos tipos de objetivos que se tem e da forma de análise possível/necessária dentro do contexto de investigação. A natureza qualitativa do estudo se faz perceber considerando o tipo de dados, a sua forma de tratamento bem como o contexto em que a pesquisa foi conduzida. A pesquisa de origem qualitativa não tem preocupação direta com a representatividade numérica dos dados ou informações, e sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização ou de fenômenos característicos de uma área. Nem a percepção pessoal, preconceitos ou mesmo crenças dos pesquisadores devem contaminar a interpretação e análise dos dados gerados pela pesquisa (GOLDENBERG, 2011). Considerando ainda a natureza do estudo, indica-se que o mesmo se caracteriza como estudo de caso, o qual pode ser apontado como aquele que: [...] reúne o maior número de informações detalhadas, por meio de diferentes técnicas de pesquisa, com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto. Através de um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado, o estudo de caso possibilita a penetração na realidade social, não conseguida pela análise estatística (GOLDENBERG, 2004, p. 34). A pesquisa exploratória faz parte da proposta analítica do estudo e, segundo Gil (2007), é indicada para gerar maior familiaridade com a problemática tendo o objetivo de explicitar ou construir hipóteses. Boa parte desse tipo de pesquisa pode envolver o levantamento bibliográfico, entrevistas pessoais,

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análise de exemplos ou ainda estudos anteriores, sendo classificadas como bibliográficas e estudo de caso, conforme já indicado. A pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade, sendo exemplos desse tipo de pesquisa o estudo de caso, a análise documental além da pesquisa ex-post-facto (TRIVIÑOS, 1987). A natureza desse estudo então partiu da coleta e análise de materiais produzidos por meio de estudos de conclusão de curso, materiais referências do curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” do câmpus de Rosana, além de dados coletados a respeito do município e das suas ações dentro da temática de interesse em jornais, revistas, sites ou outros veículos conforme disponibilidade e fidelidade de conteúdo. Desse modo, considerando o aspecto documental do estudo, aponta-se que tal pesquisa é caracterizada como: [...] aquela em que os dados obtidos são estritamente provenientes de documentos, com o objetivo de extrair informações neles contidas, a fim de compreender um fenômeno [...] é caracterizada como documental quando essa for a única abordagem qualitativa, sendo usada como método autônomo (KRIPKA et al., 2015, p. 58). Desse modo, aponta-se que o conjunto de informações buscou aferir as ações públicas privadas e públicas explicitadas por meio de pesquisas e notícias, contudo, delimitou-se o período de análise de documentos partindo de 2006, dados os primeiros estudos a respeito da temática.

4 ANÁLISE DE DADOS Para notar algumas das ações feitas para a promoção do turismo em uma localidade, um primeiro ponto de destaque nos materiais analisados foi o repassado por Silva, que indica que:

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[...] a elaboração de políticas públicas municipais para o desenvolvimento do setor nos Assentamentos faz-se de extrema importância, visando o desenvolvimento local e contando com o apoio da UNESP de Rosana no planejamento e implantação da atividade turística, além do ITESP e SEBRAE na organização e capacitação dos assentados para o recebimento de visitantes em seus lotes. (SILVA, 2017, p. 70) Observa-se, desse modo, a indicação da necessidade de estabelecimento de política pública centrada nas características do município. Haja vista, ainda, que essas atividades em conjunto podem influenciar na promoção de dado local devido à organização efetuada no ambiente. Outra forma de promover a melhoria da visibilidade turística sobre um local é incentivando o atendimento capacitado com parcerias do planejamento público e privado. Com relação a isso, elaborou-se em 2016 um projeto de capacitação dos funcionários que estariam em contato com os turistas, o qual é denominado Empresa amiga do turista, e que visa bem receber os visitantes para fornecer a eles informações sobre o turismo no local. Abaixo, na figura 1, pode-se conferir o logotipo do projeto.

Figura 1 – Logotipo do selo (Empresa amiga do turista). Rosana – SP. Fonte: Rosana, Prefeitura, 2016

Além disso, dentro do Plano Diretor de Turismo desenvolvido pela prefeitura de Rosana, foram elaborados programas de incentivo à atividade turística no município. Essas ações podem ser feitas por meio de campanhas sistemáticas de conscientização dos benefícios diretos e indiretos da atividade turística, vale salientar o quanto o turismo pode contribuir no âmbito cultural, preservando o patrimônio histórico, resguardando a memória e identidade

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local, sendo gerador de atividade socioeconômica com a ampliação de empregos e a criação de novos postos de trabalho, e o intercâmbio de experiências entre visitantes e visitados. (SANTOS, 2017, p. 63) Nesse sentido, como citado acima, o projeto empresa amiga do turista é um exemplo de como essas ações, consequentemente, produzem uma valoração tanto sobre a atividade turística quanto às experiências que são vivenciadas por todos os que fazem parte dessas relações, sendo que elas se estabelecem em volta do atrativo/local. E que, nesse caso, também contribui para a conscientização dos benefícios diretos e indiretos que o turismo provoca. No simples projeto realizado que pretendeu capacitar funcionários para bem receber os visitantes, já se demonstrou que, direta e indiretamente, essa atuação auxilia com relação ao aspecto cultural, ao patrimônio histórico, à memória e identidade local e age como potencializador da economia desse ambiente. Então, na medida em que os turistas passam por esse lugar, eles irão colaborar nesses aspectos, pois poderão consumir essa imagem posta por intermédio dessas ações desenvolvidas. E, ainda não se pode esquecer de que a preocupação relativa ao meio ambiente pode atrair mais o público, resultando no alargamento da visibilidade turística em uma localidade. Por isso, precisa ser levado em conta que se o ambiente visitado estiver mais limpo, ele proporcionará um passeio mais agradável, que terá como fim uma satisfação desse visitante em relação ao destino Assim, no distrito de primavera ocorreu uma iniciativa pública, mas em um aspecto mais amplo, pois foi desenvolvida pela CESP (Companhia Elétrica de São Paulo), referente à ação ambiental, porém devido a erros no percurso não pôde ser continuada. A CESP implantou a Coleta Seletiva no distrito com uma forte campanha conscientizadora, a maior parte da população aderiu e participou. Foram construídos LEV’s (Locais de Entrega Voluntária) em vários pontos de Primavera. Infelizmente a campanha durou em torno de cinco anos e acabou antes da prefeitura assumir a administração do distrito, aproximadamente oito anos atrás. Não houveram explicações definitivas por parte da prefeitura que justificassem o fim do programa (KASHIWAGURA, 2007, p. 39).

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E, no âmbito de uma gestão menor no que se refere ao planejamento, a “Prefeitura do Município de Rosana não apresenta uma gestão integrada dos resíduos sólidos” (KASHIWAGURA, 2007, p. 31), e isso é perceptível quando se vê a atuação relacionada a esses elementos. Na figura 2, demonstra-se como estava sendo estocado o lixo domiciliar no distrito de Rosana.

Figura 2: Vala domiciliar do aterro sanitário de Primavera. Fonte: Kashiwagura, 2007.

Salienta-se, dessa maneira, que também no aspecto ambiental, o conjunto de atividades feitas visando adequar o prosseguimento turístico é bemvindo, ainda mais se houver a união entre o turismo e o ambiente natural. Sendo assim, Loureiro et al. (2003, apud TAKARA, 2007, p. 9) destaca que o “planejamento orientado para a proposta do ecoturismo se constitui como um importante instrumento para a conservação da diversidade biológica e para a promoção do desenvolvimento local”. Por isso, como apontado, a junção entre o turismo e planejamento estratégico só vem a somar para o destaque da imagem turística. Relacionando o lado ambiental com turismo, nessa perspectiva, tem-se um problema em detrimento ao desenvolvimento de ações relacionadas ao planejamento dos usos do atrativo, pois a má gestão traz como resultado o decaimento do local. Um exemplo é que o “Balneário Municipal de Rosana, carece de um programa voltado à conservação” (ALVES; GRANADO, 2015, p. 901). Para mostrar isso, apresentam-se dados sobre o desvio padrão referente às alterações ambientais em dois locais do balneário nos meses de junho e julho de 2015 (ver tabela 1).

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Anais da VII Mostra Científica de Turismo, UNESP, Rosana - SP, 26 de outubro de 2018. n.1, v.7. Tabela 1 – Valores médios, desvio padrão e coeficiente de variação da avaliação ambiental aplicados em junho e julho de 2015. Rosana – SP. Fonte: Alves; Granado, 2015.

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[...] a Primarosa já está na sua 23º edição, se tornando um evento tradicional na região, a cada ano que passa aumenta o número de expositores e público. Turistas e visitantes prestigiam a feira durante os dias de evento, a participação do público vem sendo fundamental para o sucesso do evento (ROSANA, 2018).

Com base nisso, vendo que há defasagem nesse quesito, em se tratando de ações da Prefeitura, estimase que, mesmo sendo relativamente pequenos, esses valores já demarcam o acontecimento de interferências e/ou modificações nos espaços. Desse modo, ações planejadas referentes à preservação podem abarcar esses locais atuando como mantedoras desse ambiente de lazer que é o principal atrativo da cidade. No entanto, nesse sentido, pouco se tem feito.

Nesse contexto, observa-se alguns dos elementos que permeiam ações ou indicações de vários feitos relacionados ao planejamento tanto público quanto privado.

5 DISCUSSÃO

CONCLUSÃO

É importante destacar que, para haver a promoção da imagem de um destino, precisarão ser desenvolvidas ações de planejamento pelos administradores públicos e/ou privados. Essas ações são elaboradas de diversos modos, bem como,

O conjunto de análise dos elementos da pesquisa denota a existência de ações vinculadas ao planejamento tanto na esfera pública quanto na privada. Indica-se que, estruturalmente, as ações dentro do contexto privado apresentam atividades nos meios de hospedagem, alimentação e bebidas dentre outros campos, contudo, sem indicação de estudo referencial a respeito do comportamento do consumidor nem mesmo suas motivações para consumo ou uso. Na esfera pública, aponta-se a existência do desenvolvimento dessas ações ao longo do tempo. No entanto, persiste a falta de direcionamento em relação ao conjunto integrado e planejado dos atos em prol do turismo. Tanto a iniciativa pública quanto a privada, apesar de apresentarem programas/atividades de melhoria e interesse referentes aos aspectos turísticos, em nenhum momento se têm em vista a inserção de estudos mais aprofundados a respeito das características do visitante e outras experiências em outros municípios ou até mesmo em outras épocas. Tal atitude indica que possivelmente o planejamento de médio e longo prazo poderiam auxiliar de modo substancial para o alargamento dos benefícios gerados pelas ações realizadas junto aos turistas ou usuários do trade turístico. Nesses termos, a união do setor público com o privado apresenta potencial para elevar a possibilidade de ampliação do público alvo visitante dos atrativos na cidade.

[...] contatando-se especialistas que criarão um logotipo apropriado e desenvolverão uma campanha de fortalecimento de uma identidade corporativa ou criando-se uma imagem de acordo com um planejamento participativo. Ou podem mesclar as duas alternativas. No processo de criação da imagem, há inúmeras ações que deverão ser realizadas como: feiras, workshops, criação e página na Internet, de CDROM, relações públicas, publicidade, etc.; (DIAS, 2003, p. 167). Considerando esses aspectos, em Rosana, podem ser constatadas algumas ações efetuadas no município, assim como é exposto pelo site da Prefeitura Municipal de Rosana. Vejamos o exemplo da união entre setores públicos e privados, como ocorreu para a elaboração do Diagnóstico Turístico de Rosana, “[...] compreendendo o levantamento e análise geral da atividade no município. O diagnóstico foi elaborado pela agência Criação Boas Ideias em parceria firmada com a Prefeitura Municipal de Rosana” (ROSANA, 2014, p. 4). Também, como exposto acima, a realização de eventos é uma das atividades propostas e que podem impulsionar a imagem de uma cidade, quando são efetuados mediante um planejamento participativo. Esses eventos auxiliam no aumento do volume de pessoas que são incentivadas, a cada edição, a retornarem outras vezes para o evento. Em Rosana,

REFERÊNCIAS ALVES, Glenda L. M.; GRANADO, Danielli C. Turismo e impactos ambientais no balneário de Rosana – SP. Colloquium Humanarum, Presidente Prudente/SP, v. 12, n. Especial, 2015, p. 894-902.

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O DESTAQUE DOS MUNICÍPIOS DE INTERESSE TURÍSTICO, ESTÂNCIAS TURÍSTICAS DAS REGIÕES TURÍSTICAS DO PONTAL PAULISTA, ÁGUAS DO OESTE, SOL DO OESTE E A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO1 INÁCIO, RENAN RICARDO GALDINO2 RIBEIRO, RENATA MARIA3 renansinho_vgs@hotmail.com, renata.ribeiro@unesp.br 1

Pesquisa bibliográfica e documental. em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2 Doutora em Geografia (UFPR), Professora Assistente do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 1 Graduando

RESUMO – Este trabalho, primeiramente, apresentou algumas definições sobre turismo, planejamento turístico e apropriação de território. Após, o mesmo ressaltou o objeto de estudo, que foi destacar os Municípios de Interesse Turístico, Estâncias Turísticas e seus atrativos turísticos das regiões do Pontal Paulista, Águas do Oeste e Sol do Oeste. Posteriormente, foi apresentado qual o objetivo da pesquisa, o referencial teórico aprofundando os temas anteriormente mencionados, o procedimento metodológico que foi baseado em pesquisa bibliográfica e documental, o desenvolvimento da análise obtida com base nos municípios e seus atrativos. Evidenciou-se, em seguida, os resultados da compreensão da importância do planejamento turístico, mostrando quais são os respectivos municípios classificados e titulados das regiões turísticas anteriormente mencionadas. Também foi essencial salientar que tais municípios necessitam de requisitos para serem titulados e, por fim, acentuar as compreensões da conclusão final do trabalho como um todo. Palavras-chave: Turismo, Planejamento Turístico, Atrativos Turísticos, Municípios de Interesse Turístico, Estância Turística. ABSTRACT – This paper first presents some definitions of tourism, tourism planning and land appropriation. Afterwards, the object of study was designated to highlight the Municipalities of Tourist Interest, Tourist Cities and its tourist attractions of the regions of Pontal Paulista, Águas do Oeste and Sol do Oeste. Subsequently, the objective of the research was presented, the theoretical framework deepening the previously mentioned themes, the methodological procedure that was based on bibliographical and documentary research, the development of the analysis obtained based on the municipalities and their attractions. The results expose the importance of understanding tourism planning, showing which are the respective classified and titled municipalities of the previously mentioned tourist regions. It was also essential to point out that such municipalities need the requisites to be titled and, finally, to accentuate the understanding of the final conclusion of the study as a whole. Key words: Tourism, Tourism Planning, Touristic Attractions, Cities of Turistic Interest, Turistic Resort.

INTRODUÇÃO O turismo constitui-se como uma atividade relacionada ao desenvolvimento do lazer em destinações que possuem atrativos naturais e/ou culturais, que influenciam fluxos de visitantes e

potencializam os setores produtivos da economia. Pode-se dizer que: O turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupo de

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pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exerce nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas interrelações de importância social, econômica e cultural (DE LA TORRE, 1992 apud BARRETO, 2014, p. 13). Desse modo, de acordo com a concepção do autor, compreende-se que o turismo está associado com o deslocamento de um indivíduo ou grupos de indivíduos por um determinado tempo. Sendo assim, Dias (2003, p. 42) discorre que o turismo é: [...] reconhecido como um direito do ser humano, indicador de qualidade de vida, a atividade turística permeia toda a sociedade, existindo inúmeras unidades produtivas dependentes da demanda periódica por viagens, que buscam completar o produto turístico procurado pelos consumidores (turistas), tornando-o capaz de satisfazer a suas necessidades e exigências. (IBID, 2003, p. 42) De acordo com a concepção de Dias (2003), o turismo pode ser considerado uma estratégia de desenvolvimento para um determinado local que permitirá um aprimoramento na qualidade de vida de uma comunidade receptora, juntamente com a satisfação das necessidades de turistas e moradores com base na economia. Nesse quesito, é essencial o uso do planejamento como um fator primordial ao aprimoramento dos benefícios socioeconômicos, ambientais e culturais. Pode-se ressaltar que um planejamento adequadamente organizado e estruturado é capaz de transformar e modificar para melhor diversas questões como aspectos materiais e imateriais. Molina e Rodríguez (2001, p. 79) afirmam que: O planejamento é o resultado de um processo lógico de pensamento, mediante o qual o ser humano analisa a realidade abrangente e estabelece os meios que lhe permitirão transformá-la de acordo com seus interesses e aspirações. Disso resulta que a forma de planejar consiste em analisar objetivamente uma realidade e condicionar as ações ao problema. (IBID, 2001, p. 79).

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É notório que na concepção de Molina e Rodriguez (2001), o planejamento é indispensável para a funcionalidade de ações, pois entende-se que a elaboração de caminhos e técnicas para alcançar respectivos objetivos são cruciais para a prevenção de falhas no decorrer do processo. Pode-se desenvolver a ideologia que o planejamento engloba diversas questões, pois além da elaboração de técnicas, deve-se criar uma projeção do futuro para que se tenha determinada noção das consequências e ações que poderão causar impacto, sejam, negativos ou positivos. No que tange ao entendimento sobre planejamento, pode-se dizer que, no turismo, o uso desse procedimento se faz essencial, pois o mesmo se apropria do planejamento para que seu desenvolvimento e aprimoramento sejam eficientes e eficazes. Desse modo, Dias (2003, p. 61) ressalta que: o turismo é uma das atividades em que os aspectos territoriais assumem tal importância que não pode ser excluído de nenhuma análise como um fator social relevante. O turismo é um consumidor de espaço, e a referência a este é permanente, pois o turista desloca-se do espaço de sua residência para outro em que permanecerá durante algum tempo; por outro lado há o espaço onde ocorre o deslocamento de um ponto ao outro [...]. Estendendo a concepção anterior de Dias (2003), salienta-se que o turismo é um consumidor de espaço, apropriando-se de um local e tornando-o motivacional aos turistas que pretendem visitá-lo futuramente. Desse modo, ocorre uma certa interrelação entre um ponto e outro, deslocamento esse entre as residências dos turistas e os destinos turísticos. Uma forma de territorializar o turismo é definir nomenclaturas de identificação em regiões turísticas, pois a região turística: [...] é o espaço geográfico que apresenta características e potencialidades similares e complementares, capazes de serem articuladas e que definem um território, delimitado para fins de planejamento e gestão. (MTUR, 2006) Desse modo, faz-se necessário que se tenha a compreensão de regiões turísticas e sua afinidade para o destaque das regiões turísticas de objeto de estudo desta pesquisa, juntamente com os Municípios de Interesse Turístico e Estâncias Turísticas destas determinadas regiões.

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De acordo com o site do G1 (2015), o estado de São Paulo possui 51 regiões turísticas, sendo que esse ensaio está direcionado a discutir as regiões do Pontal Paulista, Águas do Oeste e Sol do Oeste. Sendo as mesmas compostas por 53 municípios inseridos, analisados apenas 6 como municípios de interesse turístico e 1 como estância turística. Sendo eles apresentados de modo geral no Quadro 1: Municípios da região turística Águas do Oeste Adamantina, Dracena, Flórida Paulista, Inúbia Paulista, Irapuru, Junqueirópolis, Lucélia, Mariápolis, Monte Castelo, Nova Guataporanga, Osvaldo Cruz, Ouro Verde, Pacaembu, Panorama, Paulicéia, Pracinha, Sagres, Salmorão, Santa Mercedes, São José do Pau D’Álho e Tupi Paulista. Municípios da região turística Pontal Paulista Estrela do Norte, Euclides da Cunha, Iepê, Marabá Paulista, Mirante do Paranapanema, Nantes, Narandiba, Pirapozinho, Rosana, Sandovalina, Taciba, Tarabai e Teodoro Sampaio. Municípios da região turístico Sol do Oeste Alfredo Marcondes, Álvares Machado, Anhumas, Caiabu, Caiuá, Emilianópolis, Flora Rica, Indiana, Martinópoli, Piquerobi, Presidente Bernardes, Presidente Epitácio, Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Rancharia, Regente Feijó, Ribeirão dos Índios, Santo Anastácio e Santo Expedito. Quadro 1. Regiões turísticas Águas do Oeste, Pontal Paulista e Sol do Oeste. Fonte: Autores, 2018.

As regiões abarcadas neste estudo possuem recursos e atrativos naturais e culturais que, ao serem planejados, modificam a centralidade do turismo de litoral ou próximo a grandes concentrações populacionais em uma visão ampla, ao planejar o turismo nessas regiões, pode-se observar uma nova possibilidade ao turismo regional e ao mesmo tempo uma diversidade de novos atrativos, que a longo prazo podem trazer turistas nacionais e internacionais. Sendo assim, ressaltar a importância de destacar os Municípios de Interesse Turístico e Estâncias Turísticas é necessário para indivíduos que buscam destinos com atrativos turísticos em distintas regiões. Apresentado o objeto de estudo, tem-se como objetivo do ensaio, destacar os Municípios de Interesse Turístico e as Estâncias Turísticas das três regiões turísticas, juntamente com seus respectivos atrativos turísticos e, por fim, destacar quais foram as compreensões adquiridas com base no referencial teórico.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Turismo Com base na definição de turismo, a OMT (Organização Mundial do Turismo) o define como a "Soma de relações e de serviços resultantes de um câmbio de residência temporário e voluntario motivado por razões alheias a negócios ou profissionais." (DE LA TORRE 1992, p. 19 apud BARRETO, 2014, p. 12). Compreende-se que a OMT destaca o turismo como um fator provedor de serviços para indivíduos que se deslocam temporariamente de suas residências em busca de razões pessoais. Porém, em contrapartida, Ansarah (2001, p. 11) afirma que: A atividade turística pode ser considerada um “agrupamento de setores”, existindo entre eles uma complementaridade técnica […] pode-se afirmar que o turismo, como setor econômico é um conceito difícil de se definir de maneira uniforme. Muito mais que um setor, é uma atividade que se estende de forma direta por vários setores da economia, e, de forma indireta, por todos os demais setores. Desse modo, com base na concepção anterior de turismo, entende-se que o mesmo abrange diversidades de setores que implicam com a segmentação turística e prestação de serviço, mas o turismo não possui uma definição ou área concreta que possa defini-lo. Sendo assim, pode-se averiguar que: O turismo assume um papel no desenvolvimento, devido à modificação das expectativas da sociedade em função das mudanças estruturais no processo produtivo que ocorrem em função da revolução científico-tecnológico. Uma das principais consequências sociais dessas mudanças é o aumento do tempo livre nas sociedades de modo geral, e nas desenvolvidas em particular [...]. (DIAS, 2003, p.35). O turismo é caracterizado na concepção anterior, como um instrumento de modificação das estruturas de uma sociedade, impactando nas motivações de indivíduos que passam no decorrer do tempo, a apropriar do turismo para suprir suas necessidades de acordo com seus objetivos individuais e pessoais. Pode-se salientar que:

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[...] a razão de ser do turismo dentro de um sistema econômico pode ser encontrado inicialmente na satisfação das necessidades próprias do descanso e do relaxamento, indispensáveis, por sua vez, para o indivíduo reassumir o processo produtivo. (DIÁZ, 1998 apud DIAS, 2003, p. 42). Por conseguinte, é crucial que o turismo possua segmentos que desenvolvam aspectos de relaxamento, descanso e lazer para indivíduos que necessitam suprir suas necessidades de usufruir seus tempos fora da rotina de trabalho e obrigação. Não obstante às concepções anteriores, de forma geral, o turismo agrega valor no setor social e econômico por possuir agrupamentos de setores com uma inter-relação entre si. O turismo também pode suprir necessidades de satisfação econômica, pois atrai indivíduos com determinados tipos de motivação para sustentar este mercado. 2.2 Planejamento/planejamento turístico Com relação às definições anteriores de turismo, pode-se averiguar sobre os conceitos de planejamento turístico que é o quesito importante deste artigo, sendo assim, com base na conceituação de planejamento, entende-se que: [...] o planejamento busca definir e alcançar os objetivos para o futuro, de tal maneira que as transformações que ocorram nas sociedades humanas não sejam determinadas por circunstâncias fortuitas ou externas, mas como resultado de decisões e propósitos gerados por um conjunto de pessoas determinadas. (BROMLEY, 1992 apud DIAS, 2003, p. 87). Já em contrapartida, Molina e Rodríguez (2001, p. 81) destaca que: Planejar [...] implica a identificação de uma série de variáveis com objetivo de adotar um rumo de ação que, baseado em análises científicas, permite alcançar os objetivos e metas [...] É um processo contínuo de tomada de decisões coerentes com os objetivos propostos [...] É um processo sistemático e flexível, cujo único fim consiste em garantir a consecução dos objetivos que, sem este processo, dificilmente poderiam ser

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alcançado. (MOLINA; RODRIGUEZ, 2001, p. 81). Compreende-se com base no excerto anterior que utilizar o planejamento é essencial para alcançar as metas e objetivos propostos em determinadas ações, pois o mesmo é útil para criar um processo metódico e sistemático capaz de facilitar na ocorrência de algo. Molina e Rodríguez (2001) também ressaltam que dentro do planejamento podem existir diversos aspectos, como o aspecto temporal que se baseia nas ações do planejamento que serão, de certa forma, empreendidas por um determinado tempo a serem executadas e alcançadas. Deste modo, Molina e Rodriguez (2001) ainda ressalta que o aspecto geográfico possui uma ideologia que o planejamento pode se desenvolver em níveis: nacional; regional; estadual; municipal. Destacando por fim as questões sobre a prática de planejar em si, entende-se que o planejamento turístico seja de adequada importância para o desenvolvimento em um destino turístico, sendo assim, de acordo com Teles (2006, p. 49): [...] a displicência com um planejamento turístico mais comprometido com a realidade local a partir de recortes territoriais tem acarretado grande dominação de empresas estrangeiras que estão fortemente inseridas no setor turístico com uma base econômica já consolidada em seus países de origem e passam a ser atores na configuração de novos territórios, os chamados territórios turísticos [...]. (IBID, 2006, p. 49). É considerável que a afirmação anterior de Teles (2006) transmite a compreensão de que o território é um fator importante para o planejamento, sendo que é a partir dele que o turismo se apropria e se desenvolve, acarretando em dominações de empresas do exterior como visto anteriormente no excerto. Porém, a partir destas ideologias, ainda se destaca que: O turismo hoje apresenta diversificação cada vez maior da oferta, e cada vez se consolidam mais os grupos homogêneos (terceira idade, jovens interessados em festas do peão, ecoturistas, turismo rural, espeleoturismo etc.) que configuram uma demanda diferente e um mercado cada vez mais diversificado. Essa é a realidade que deve ser considerada em qualquer planejamento turístico: identificar os segmentos específicos que

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poderão ser trabalhados com a oferta de produtos específicos que atendam às necessidades e aos desejos de uma demanda localizada. (DIAS, 2003, p. 37). Cada localidade ou região que desenvolver um planejamento turístico deve sempre considerar quais segmentos podem coexistir a ser planejado e aprimorado em prol da utilização dos turistas, ou seja, é crucial que se explore cada recurso turístico natural ou cultural, para que se tenha um feedback positivo e com ótimo desenvolvimento do local. Por fim, nota-se uma outra percepção sobre o turismo e o planejamento turístico, a utilização de um espaço: Considerando o uso do espaço, o planejamento constitui uma técnica de uso imprescindível pelas administrações públicas municipais que apostam no desenvolvimento do turismo. [...] o território é um elemento básico do desenvolvimento turístico, pois abriga os recursos ambientais e culturais dos destinos turísticos, além de ser o espaço física destinado à instalação de infraestrutura e dos equipamentos que irão atender ao fluxo de visitantes. [...] o turismo manifesta-se como uma atividade econômica que condiciona a organização do território, pois o utiliza, consome e transforma, o que coloca o turismo como, potencialmente, um dos principais agentes de destruição dos recursos em que se apóia [...]. (DIAS, 2003, p. 37). Para um adequado desenvolvimento do turismo é necessário que haja uma apropriação de um determinado território, no qual será explorado, usufruído e sofrerá intervenções humanas para que se ocorra os objetivos e metas estabelecidos pelos agentes do planejamento turístico. 2.3 Apropriação de território do turismo Como visto anteriormente, o turismo se apropria de um determinado espaço e território para desenvolver suas devidas atividades, sendo assim, Carmo (2006, p. 34) afirma que “O lugar é o referencial da experiência vivida. O turismo, ao transformar espaços em lugares turísticos, responde a um intricado complexo de informações, imagens e mensagens, [...]”. Ou seja, um local que obteve a inserção do turismo pode transmitir determinadas mensagens dependendo da interpretação

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de cada indivíduo que o visita, interpretação esta que se refere ao aspecto cultural. Desse modo, Dias (2003, p. 37) acentua que: O turismo é um consumidor intensivo de território, e portanto deve-se planejar seu desenvolvimento numa ótica que aponte claramente quais objetivos econômicos se deseja alcançar, quais espaços devem ser protegidos e qual a identidade que será adquirida ou fortalecida. O patrimônio natural e cultural está integrado ao território e, portanto, qualquer iniciativa de desenvolvimento deve contemplar utilização racional dos recursos dentro de uma perspectiva de um modelo de desenvolvimento sustentável. (IBID, 2003, p. 37). Por meio da afirmação anterior de Dias (2003), entende-se que o mesmo ressalta que o território que será planejado a fins de desenvolvimento econômico por meio do turismo deve sempre levar em consideração a integração dos tipos de patrimônios que podem estar inseridos no local, tanto natural quanto cultural e assim, selecionar métodos e fatos sistemáticos adequados para a iniciação dos projetos e planejamentos. Supondo que em um local não ocorra um planejamento consideravelmente adequado, podese ocorrer de: [...] a falta de planejamento adequado na utilização dos recursos naturais de uma destinação turística poderá acarretar, a médio prazo, no esgotamento destes recursos, que, na maioria dos casos, são irrecuperáveis, inviabilizando a comercialização e, consequentemente, acarretando o abandono do local por parte da demanda. (ROSE, 2002, p. 25 apud DIAS, 2003, p. 38). Com relação à afirmação de Rose (2002 apud DIAS, 2003, p. 38), é essencial que na utilização e intervenção de uma determinada área, espaço ou território ocorra um desenvolvimento e planejamento adequado para que não haja uma desterritorialização, degradação no ambiente e perda da originalidade dos recursos naturais e culturais. Por fim, é essencial que seja ressaltado quais são os principais aspectos e requisitos que um município deve desenvolver para possuir determinado título de classificação. Sendo assim, de acordo com a LEI COMPLEMENTAR Nº 1.261, DE 29 DE ABRIL

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DE 2015, para um município ser classificado como Estância Turística é essencial que se tenha determinadas características como:

Conselho terá regimento próprio, com regras para a eleição de seu presidente e duração do respectivo mandato.

I - ser destino turístico consolidado, determinante de um turismo efetivo gerador de deslocamentos e estadas de fluxo permanente de visitantes; II possuir expressivos atrativos turísticos de uso público e caráter permanente, naturais, culturais ou artificiais, que identifiquem a sua vocação voltada para algum ou alguns dos segmentos abaixo relacionados, sintetizados no Anexo I desta lei complementar: Turismo Social; Ecoturismo; Turismo Cultural; Turismo Religioso; Turismo de Estudos e de Intercâmbio; Turismo de Esportes; Turismo de Pesca; Turismo Náutico; Turismo de Aventura; Turismo de Sol e Praia; Turismo de Negócios e Eventos; Turismo Rural; Turismo de Saúde; III dispor, no mínimo, dos seguintes equipamentos e serviços turísticos: meios de hospedagem, serviços de alimentação, serviços de informação e receptivo turísticos; IV - dispor de infraestrutura de apoio turístico, como acesso adequado aos atrativos, serviços de transporte, de comunicação, de segurança e de atendimento médico emergencial, bem como sinalização indicativa de atrativos turísticos adequada aos padrões internacionais; V dispor de infraestrutura básica capaz de atender às populações fixas e flutuantes no que se refere a abastecimento de água potável, sistema de coleta e tratamento de esgotos sanitários e gestão de resíduos sólidos; VI - ter um plano diretor de turismo, aprovado e revisado a cada 3 (três) anos; VII - manter Conselho Municipal de Turismo devidamente constituído e atuante.

Artigo 3º - Somente poderão ser classificados como Estâncias Turísticas os municípios com até 200.000 (duzentos mil) habitantes, observado o censo demográfico decenal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, salvo aqueles assim classificados antes da publicação desta lei complementar.

§ 1º - O Conselho Municipal de Turismo, de caráter deliberativo, deve ser constituído, no mínimo, por representantes das organizações da sociedade civil representativas dos setores de hospedagem, alimentação, comércio e receptivo turístico, além de representantes da administração municipal nas áreas de turismo, cultura, meio ambiente e educação. § 2º - Cada

Já com base ainda na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, para um local se tornar (MIT), é necessário que se tenha: Artigo 4º - São condições indispensáveis e cumulativas para a classificação de Município como de Interesse Turístico: I - ter potencial turístico; II - dispor de serviço médico emergencial e, no mínimo, dos seguintes equipamentos e serviços turísticos: meios de hospedagem no local ou na região, serviços de alimentação e serviço de informação turística; III - dispor de infraestrutura básica capaz de atender às populações fixas e flutuantes no que se refere a abastecimento de água potável e coleta de resíduos sólidos; IV - possuir expressivos atrativos turísticos, plano diretor de turismo e Conselho Municipal de Turismo, nos mesmos termos previstos nos incisos II, VI e VII do artigo 2º desta lei complementar. Nota-se a complexidade das características que um município deve desenvolver para receber o título de Município de Interesse Turístico e Estância Turística, pois tais características são cruciais para o desenvolvimento do turismo e do deslocamento de turistas para com o local. 3. METODOLOGIA O procedimento metodológico foi baseado em pesquisa bibliográfica e documental com embasamento bibliográfico nos seguintes autores: Ansarah (2001), Barreto (2014) com relação às definições de turismo e suas características; Carmo (2006), Dias (2003), Molina e Solha (2006), Teles (2006) para as definições sobre o planejamento com ênfase no desenvolvimento turístico e também aspectos que ocasionam a

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apropriação de territórios para o planejamento da atividade turístico no espaço. A pesquisa se deu pela análise quantitativa para a identificação de Municípios de Interesse Turístico (MIT) das Regiões Turísticas do Pontal Paulista, Águas do Oeste e Sol do Oeste, e Estâncias Turísticas presentes nesta mesma região e municípios que não possuem determinados títulos e desenvolvimento da atividade turística. Buscou-se apresentar ao leitor quais são os atrativos principais de cada município que possua o título de (MIT), de Estância ou que tenha uma atividade turística desenvolvida para a recepção de visitantes/viajantes/turistas. A busca para ressaltar os atrativos dos determinados municípios se deu por documentos online, sendo mais preciso, o Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico de cada local que possua seu respectivo título. A iniciativa da construção metodológica desta pesquisa se seu pela importância de destacar quais são os Municípios de Interesse Turístico e Estâncias Turísticas que predominam no oeste do estado de São Paulo dentre as regiões turísticas Águas d’oeste, Pontal Paulista e Sol do Oeste, pois apresentar seus dados, seus atrativos e ressaltar ao leitor, que tais municípios possuem um certo nível de valorização foi crucial para o desenvolvimento deste artigo. O principal público desta pesquisa são os turistas que possuem curiosidades sobre quais são os atrativos turísticos diferenciados que existem no oeste do estado e que procuram informações que definem e ressaltam suas características de forma aprofundada para satisfazer suas dúvidas dos locais. Como dito anteriormente, o Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico teve papel crucial na construção desta pesquisa, pois o mesmo contribuiu na aquisição de dados e dos atrativos turísticos que coexistem em determinados municípios.

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Matriz Paróquia São José; Igreja Capela São José; Terra e Fogo Artesanato - João do barro; Carnaval; Semana Santa; Quermesse Paroquial; Aniversário da cidade; Feira; Praça Marreca; Praça Bela Vista; Praça Nosso Teto; Praça da Estação; Praça do Povo; Ecorotary; (Econômico) Estabelecimentos Comerciais (Hotelaria, Restaurantes, Quiosques). Quadro 2. Municípios de interesse turístico da região águas do oeste. Fonte: Autores, 2018.

Rosana

(Ecológico) - Encontro dos Rios Paraná e Paranapanema; Horto florestal e Viveiro de mudas; Trilha das Três Rampas; Reservas florestais de Primavera; Rio Paraná e Paranapanema; Ilhas no Rio Paraná; Ilha Jurerê; Balneário Municipal; (Social/Cultural) - Usina Hidrelétrica Sérgio Motta; Museu Regional; Eucalipto e Pista Cooper; Igreja Católica de Primavera; Igreja Católica de Rosana; Praça dos pioneiros; Praça de alimentação; Prédio FEPASA; Casa da Cultura; Museu Regional; Feirinha livre de Primavera; Arquitetura de Primavera; Sítios Arqueológicos; Casa do ex governador Adhemar de Barros; (Econômico) - UNESP (Universidade Estadual Paulista) “Júlio de Mesquita Filho”; Sítios de produção agrícola em assentamentos; Estabelecimentos comerciais (Hotéis, Restaurante).

Quadro 3- Municípios De Interesse Turístico Da Região Pontal Paulista. Fonte: Autores, 2018.

4. DESENVOLVIMENTO Com base na aquisição de conhecimento sobre o turismo, planejamento turístico e apropriação de território, pode-se destacar na tabela 1 os Municípios de Interesse Turístico da região Águas do Oeste na tabela 2 da região Pontal Paulista e por fim, na tabela 3 além dos municípios de interesse turística, a estância turística, localizados na região Sol do Oeste. Panorama

(Ecológico) - Rio Paraná; Córrego Taquaruçu; Paredão das Araras; Ilha dos Biguás; Ilha das Flores; Ilha do Mamão; Travessia do Rio Paraná; Labirinto; Balneário Municipal; Camping; (Social/Cultural) - Casa do Artesão; Botique da Arte; Igreja

Martinópolis

(Ecológico) - Represa Laranja doce; Barragem da Represa Laranja Doce; Balneário Municipal; Áreas de camping; (Social/Cultural) - Casa do Artesão; Clube Recreativo; Estação Ferroviária; Igreja Santa Bibiana; Praça Municipal Getúlio Vargas; Torres de Cerâmica; Carnaval MartFolia; Miss Martinópolis; Festa da barraca com comidas típicas; Aniversário da cidade. (Econômico) -Condomínio village (chalés); Hotel/Restaurante Ouro Verde.

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Presidente Epitácio (Estância Turística)

Rancharia

(Ecológico) - Trilha Epitácio Caiuá; Fazenda Engenho Velho; Trilha Assentamento São Paulo; Trilha Pousada Laureano; Reserva Florestal do Córrego do Veado; Rio Paraná; Praia da Orla - Prainha; CEA – Centro de Estudos Ambientais; Córrego do Caiuazinho; Rio do Peixe – Divisa Presidente Epitácio / Panorama; Horto Florestal; Rios Caiuazinho; Distrito do Campinal; (Econômico) - Pousada Paranazão; Restaurantes, bares, pousadas, hotéis e ranchos (Estabelecimentos comerciais); Aeroporto Regional de Presidente Epitácio; (Social/Cultural) - Parque Municipal “O Figueiral”; PIT - Posto de Informação Turística; Eventos esportivos (Desafio / Decathlon / Pára-quedismo); Sítio Arqueológico; Lagoinha; Fogueirão de São Pedro (Festa Cultural); Orla Fluvial (Festa de final de ano); Festival Gastronômico; Cavalgada de São Sebastião; Carnaval; Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes; Páscoa dos Militares; Conscientização das Raças; Igreja de São Pedro; Igreja Evangélica Assembléia de Deus; Colônia Arpad; Cine Azenha; Cine Azenha; Cemitério dos Pioneiros; Casa do Artesão. (Ecológico) - Corredeiras; Balneário Municipal; Lago da Gardênia; Quedas D’Águas de Quatiara; Cachoeira Cantinho do Céu; Cachoeira Bartira; Cachoeira Dois Irmãos; Parque Ecológico Ramon Esteves Jr.; (Cultural/Social) - Cristo; Capela Nossa Senhora de Aparecida; Igreja Matriz de Santo Antônio; Museu Municipal Manir Haddad; Estação Ferroviária Bartira; Estação Fepasa Rancho Quarto de Milha; Chaminé Matarazzo; Fábricas – Turismo Tecnológico; Eventos; Teatro Municipal; Sítios/ETEC (Ecoturismo/Turismo Rural); (Econômico) - Pesqueiros; Estabelecimentos comerciais (Hotéis, Restaurantes).

Quadro 4 - Municípios de interesse turístico e estância turística da região sol do oeste Fonte: Autores, 2018.

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Vale destacar que o município de Santo Expedito da região turística Sol do Oeste é um Município de Interesse Turístico, porém com a falta de disponibilidade do Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico no site oficial da Prefeitura Municipal, não obteve-se a aquisição de seus dados e de atrativos, dado que um dos principais métodos da construção desta pesquisa se deu pela análise documental pelo Plano. Dentre os demais municípios, percebe-se que os mesmos possuem diversidades de atrativos turísticos evidenciados nas tabelas 2,3 e 4, pois como visto na LEI COMPLEMENTAR Nº 1.261, DE 29 DE ABRIL DE 2015, um município necessita de determinados requisitos para uma classificação. Uma Estância Turística necessita de atrativos com características consolidadas e com um conjunto de aspectos para receber o título de Estância e o Município de Interesse Turístico precisa obter recursos turísticos e atrativos em fase de desenvolvimento para ser titulado com tal classificação. 5. RESULTADOS Os resultados obtidos se deram pela aquisição de dados de quais são os Municípios de Interesse Turístico nas três regiões mencionadas, quais seus respectivos atrativos turísticos e também pela compreensão dos conceitos de turismo, planejamento turístico e apropriação de território. Obteve a ideologia que para o desenvolvimento de um recurso, é crucial que se tenha um planejamento adequado para o envolvimento dos projetos em prol do desenvolvimento em atrativos turísticos. No que tange à região Pontal Paulista, analisouse que a mesma possui apenas o município de Rosana como interesse turístico, onde estão inseridos recursos naturais e culturais com as devidas características de um município com tal classificação. Sendo assim, na região Águas do Oeste, também se notou a identificação de apenas um Município de Interesse Turístico, sendo Panorama denominado como tal no ano de 2017. Não obstante à região Sol do Oeste, a mesma possui a Estância Turística de Presidente Epitácio, com atrativos turísticos culturais e naturais consolidados e por fim, os municípios de Martinópolis e Rancharia, denominados interesse turístico com atrativos que estão em fase de desenvolvimento e consolidação. Para que ocorra o desenvolvimento dos atrativos turísticos, foi necessário que cada município utilizasse um adequado planejamento para o desenvolvimento de seus recursos.

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Contraiu-se também que um Município de Interesse Turístico e uma Estância Turística possuem o Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico, sendo o mesmo um documento de caráter público que geralmente está inserido no site oficial da Prefeitura Municipal de um determinado município no âmbito “turismo”, contendo assim todas as informações necessárias que existem dentro do município, aspectos essenciais básicos, turísticos e gerais do município. Por conseguinte, uma das questões básicas adquiridas como resultado por meio da análise foi a compreensão de que os atrativos turísticos dos municípios podem ser subdivididos, classificados e organizados por âmbitos, ou seja, cada Município de Interesse Turístico ou Estância Turística deverá no Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico organizar e classificar determinados atrativos turísticos nos âmbitos: ecológico; social; cultural; econômico. Tais aspectos são básicos para o planejamento turístico, pois faz-se necessário esta subdivisão para melhor visão e organização dos atrativos e também para facilidade dos turistas aos escolherem um atrativo para visitação a partir do Plano. CONCLUSÃO Primeiramente, pode-se concluir que os Municípios de Interesse Turísticos inseridos nas regiões turísticas do Pontal Paulista, Águas do Oeste e Sol do Oeste, possuem atrativos turísticos no qual o turista usufruir no decorrer de sua permanência no local, com relação à Estância Turística de Presidente Epitácio, observa-se que a mesma possui diversos atrativos turísticos que, por sua devida classificação de Estância, os atrativos devem estar em fase de consolidação e passaram também por um processo de desenvolvimento mais constante do que os municípios de interesse turístico. Tal conclusão se deu a partir da compreensão de requisitos pela Lei Complementar nº 1.261 de que uma Estância Turística deve obter para tal título um processo de desenvolvimento maior e um grau de consolidação dos atrativos do que os Municípios de Interesse Turístico. Notou-se que para a ocorrência de um adequado planejamento e desenvolvimento da atividade turística, sendo por recursos naturais ou culturais, é crucial que se estabeleça um planejamento com seus respectivos processos, pois o turismo após sua inserção em um local, deverá haver um recurso que tenha potencial para despertar motivação em turistas para sua devida visita empírica. Deste modo, o planejamento começa a partir do estabelecimento de metas, objetivos e métodos a serem executados, pois para se alcançar determinado objetivo é necessário que sejam desenvolvidos plano

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de execução para determinadas ações propostas. Dentro do planejamento, existem indivíduos responsáveis pela execução das ações que levarão ao desenvolvimento do recurso, por conseguinte, é notório a complexidade de execuções e processos para o desenvolvimento ou aprimoramento de uma atividade turística tenha eficiência e eficácia. Por fim, pôde-se adquirir, de fato, um adequado entendimento sobre os conceitos de turismo, planejamento turístico e apropriação de território, o destaque dos Municípios de Interesse Turístico das regiões turísticas Pontal Paulista, Águas do Oeste e Sol do Oeste, juntamente também com o destaque da Estância Turística de Presidente Epitácio da região Sol do Oeste. Não obstante aos atrativos turísticos de cada município classificado nas tabelas, foi destacado quais os atrativos turísticos, culturais, sociais, econômicos e ambientais existentes em cada município para a compreensão do leitor perante os atrativos dos municípios. REFERÊNCIAS ANSARAH, M. G. dos R. (org.). Turismo. Como aprender, como ensinar. 2. ed. São Paulo: Senac, 2001. SÃO PAULO (Estado). Assembleia Legislativa. LEI COMPLEMENTAR Nº 1.261, DE 29 DE ABRIL DE 2015. 2015. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei.com plementar/2015/lei.complementar-126129.04.2015.html. Acesso em: 17 set. 2018. BARRETO, M. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 20. ed. Campinas: Papirus, 2014. DIAS, R. Planejamento do turismo: política e desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003. CARMO, E. S do. O Espaço do fenômeno turismo no contexto atual. In: RUSCHMANN, D.; SOLHA, K. T. Planejamento Turístico. Barueri: Manole, 2006. MINISTÉRIO DO TURISMO. Orientações para a atualização do mapa do turismo brasileiro. 2017. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/images/pdf/doc_orientador_ mapa2017.pdf. Acesso em: 19 set. 2018. MOLINA, S.; RODRÍGUEZ, S. Planejamento Integral do Turismo: Um enfoque para a américa latina. Bauru: EDUSC, 2001. RANCHARIA. Prefeitura Municipal. Plano diretor de desenvolvimento turístico do município de

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Rancharia – SP. 2016. Disponível em: http://www.rancharia.sp.gov.br/var/www/html/prefeitu rarancharia.com.br/web/sites/default/files/var/www/ht ml/prefeiturarancharia.com.br/web/index.php%3Fq%3 Dimce%26app%3Dckeditor%7Csendto%40ckeditor_fi leUrl%7C%26CKEditor%3Deditbody%26CKEditorFuncNum%3D1%26langCode%3D pt-br/Plano%20Diretor%20de%20Turismo%20%20Rancharia.pdf. Acesso em: 10 set. 2018. PANORAMA. Prefeitura Municipal. Plano diretor de desenvolvimento turístico do município de Panorama – SP. 2016. Disponível em: https://www.panorama.sp.gov.br/?pag=T1RjPU9EZz1 PVFU9T0dVPU9HST1PVEE9T0dFPU9HRT0=&idm enu=273. Acesso em: 17 set. 2018. PRESIDENTE EPITÁCIO. Prefeitura Municipal. Plano diretor de desenvolvimento turístico do município de Presidente Epitácio – SP. 2018. Disponível em:

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http://www.presidenteepitacio.sp.gov.br/pdf/doc_pmpe _pddt2017_2018_001.compressed.pdf. Acesso em: 03 set. 2018. PREFEITURA MUNICIPAL DE ROSANA. Plano diretor de desenvolvimento turístico do município de Rosana – SP. 2015. Disponível em: http://www.rosana.sp.gov.br/plano-diretor-deturismo/plano-diretor-desenvolvimento-turisticomunicipio-rosana.pdf. Acesso em: 03 set. 2018. TELES, R. M. de SÁ. A importância do território na prática do planejamento turístico: Reflexões acerca do Brasil. In: RUSCHMANN, D.; SOLHA, K. T. Planejamento Turístico. Barueri: Manole, 2006. HAMADA, H. Mapa aponta baixo fluxo turístico no Oeste Paulista. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regia o/noticia/2015/08/mapa-aponta-baixo-fluxo-turisticono-oeste-paulista.html>. Acesso em: 14 set. 2018.

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O TRABALHO PRODUTIVO FEMININO E AS ATIVIDADES NÃO AGRÍCOLAS COMO FATORES CONTRIBUINTES PARA A MANUTENÇÃO DE FAMÍLIAS NO MEIO RURAL¹ COSTA, MARIA LUIZA CARUCCI ALVES2 SUART, LUCAS GALVÃO2 THOMAZ, ROSÂNGELA CUSTÓDIO CORTEZ3 luke.suart@gmail.com, marialuizacarucci@gmail.com, rosangela.thomaz@unesp.br 1

Trabalho de Conclusão de Curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Graduado(a) em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Pós-doutorado em Turismo, Universidade de Santiago de Compostela (USC – Espanha), Professora do Curso de Graduação em Turismo e de Pósgraduação em Geografia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO - A pesquisa consiste em abordar a representação da mulher no processo socioprodutivo de atividades não agrícolas uma vez que ela desempenha múltiplas funções e tarefas na organização interna das unidades rurais e tem no seu trabalho uma das principais estratégias de reprodução social do campesinato. A partir da análise da realidade social e econômica das famílias residentes no meio rural, ressalta-se a importância do entendimento de um ator específico que constitui o grupo familiar, trazendo à discussão a figura e o papel desempenhado pela mulher no funcionamento da unidade em que se estabelece, organiza-se e vive a família. Busca-se, também, entender as transformações sociais e econômicas causadas às unidades familiares rurais com a inserção da mulher na esfera do trabalho produtivo e o seu grau de influência na manutenção dessas famílias nesse ambiente por meio da análise de dados secundários da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) entre os anos de 2000 a 2011 referentes ao volume de famílias residentes no meio rural e ao número de mulheres rurais que exercem trabalho remunerado. Palavras-chave: Rural, Relações de gênero, Turismo, Empoderamento. ABSTRACT - This study aims to approach the woman representation on the social productive process of nonagricultural activities, since she performs multiple functions and tasks on the internal organization of family units and has on her job one of the main strategies of social reproduction of the peasantry. Through the analysis of the social and economic realities of the families living in the rural areas, it emphasizes the importance of understanding a specific actor that constitutes the family group, bringing to the discussion the figure and the role performed by woman in the operation of the unity in which the family is established, organized and lives. The aim is also to understand the social and economic transformations caused to rural households with women entering the sphere of productive work and the degree of influence in the maintenance of these families in this environment through secondary data analysis from PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) between the years 2000-2011 regarding the volume of families living in rural areas and the number of rural women engaged in remunerated work. Key words: Rural, Gender relations, Tourism, Empowerment.

1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo analisar as relações de gênero que regem atualmente a divisão de tarefas realizadas em âmbito familiar no meio rural,

bem como a influência das atividades laborais femininas nos aspectos sociais e econômicos de suas famílias. Ao mesmo tempo, buscou-se pesquisar sobre as transformações do espaço rural brasileiro do ponto

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de vista territorial, bem como suas mudanças em esfera econômica. Esta pesquisa parte de um estudo teórico que visa ressaltar a importância do estudo sobre as mudanças territoriais, econômicas e sociais dentro do ambiente rural. Por meio deste, busca-se delimitar as principais atividades econômicas executadas no meio rural atual e entender como as alternativas não agrícolas de geração de renda têm encontrado espaço nesse ambiente. O trabalho em questão se utilizou de metodologia qualitativa, que Bodgan e Biklen (1994 apud BOAVENTURA, 2007, p. 56) descrevem como “uma pesquisa descritiva, em que os investigadores, interessando-se mais pelo processo do que pelos resultados, examinam os dados de maneira indutiva e privilegiam o significado.” Realizaram-se também pesquisas bibliográficas acerca de assuntos pertinentes abordados durante a pesquisa, tais como: constituição do território, pluriatividade, agricultura familiar, atividades não agrícolas, relações de gênero, empoderamento feminino e turismo rural. Para entender a realidade demográfica e a composição de renda familiar do panorama rural brasileiro, foram analisado os dados do Censo Demográfico realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) dos anos de 2000 e 2010. Esse levantamento é feito apenas de dez em dez anos. Complementarmente, foram analisados dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) entre os anos de 2001 e 2011. A PNAD é uma pesquisa que completa os dados captados pelo Censo e, por isso, não é publicada nos anos em que este é atualizado. Por fim, foram feitos levantamentos de dados secundários para dar suporte à análise dos resultados. O panorama contemporâneo do meio rural brasileiro carrega consigo o exercício de atividades que transcendem o caráter meramente agrícola que foi atribuído a esse espaço durante grande parte da história. O desenvolvimento de novas atividades e multifuncionalidades no meio rural traz consigo uma série de mudanças estruturais nos modos de vida das famílias que ali residem, bem como no trabalho. Desse modo, alteram-se alguns valores sociais, culturais e também o processo de organização e alocação do trabalho no interior do grupo doméstico, possibilitando a redefinição dos papéis exercidos pelos membros da família e a abertura do mercado de trabalho para os jovens e as mulheres. As mulheres, que durante muito tempo foram encarregadas das tarefas reprodutivas familiares, ou seja, aquelas ligadas ao ambiente doméstico, atualmente vislumbram no cenário pós-industrial e multifuncional do campo a oportunidade de exercerem

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atividades não agrícolas, que vêm ganhando espaço entre os produtores da agricultura familiar como alternativa de renda e forma com que as famílias se utilizam para continuarem residindo no meio rural, uma vez que somente a renda proveniente da agricultura já não mais satisfaz as necessidades econômicas dessas famílias. Dentre as diversas atividades não agrícolas desempenhadas no campo, destaca-se o turismo rural, por absorver grande volume de mão de obra feminina em seu desenvolvimento. Isso se dá pelo caráter domiciliar dessa tipologia de turismo, uma vez que as atividades que a compõem ocorrem dentro das propriedades rurais. Além disso, o trabalho feminino, nesse caso, mostra-se muito relevante, pois as mulheres carregam consigo as competências de dona de casa, o que torna a atividade turística rural mais característica do ambiente familiar rural. Percebeu-se também o trabalho produtivo feminino no campo como importante elemento valorativo para as mulheres em âmbito familiar, uma vez que essas passam a assumir papel significativo na complementação da renda doméstica. Por outro lado, o empoderamento concedido por meio do desenvolvimento de atividades produtivas também permite às mulheres uma participação mais significativa nas decisões importantes relacionadas à suas vidas e às de suas famílias.

2 DISCUSSÃO TEÓRICA

2.1 Os processos de transformação do rural brasileiro (do ponto de vista espacial e das formas de organização econômica) A Geografia, desde sua origem, tem buscado entender o estreitamento da relação entre o homem e a natureza. As necessidades humanas têm se mostrado historicamente como fator primordial para a modificação do espaço. A consideração do fator tempo também se mostra indissociável do estudo da Geografia, pois fornece o entendimento de como o homem vem reagindo às influências da natureza ao longo da história. As condições materiais de uma sociedade determinam o modo pelo qual as coisas são produzidas, distribuídas e consumidas. Estas mesmas condições materiais, também determinam a base da estrutura social, e da consciência humana de uma sociedade (MARX;

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ENGELS, 1986 apud ZAAR, 1999, p. 23). Assim, para Silva (1991), o espaço deve ser estudado a partir de uma determinação natural associada à determinação histórica, pois o espaço é também produzido, obedecendo às leis do desenvolvimento da sociedade a partir de sua categoria maior – os modos de produção. Ainda considerando a inerente relação entre transformação do espaço e os diferentes modos de produção, Santos (2008) afirma que a divisão do trabalho, movida pela produção, atribui, a cada movimento, um novo conteúdo e uma nova função aos lugares. Assim, o mundo humano se renova e diversifica, de modo que a divisão do trabalho constitui um motor da vida social e da diferenciação espacial. Ao compreender que a agricultura é a atividade econômica mais antiga da sociedade e que o estudo da Geografia surge em meio a uma sociedade agrária, na qual o econômico era o rural e o tipo de organização espacial mais visível e dominante era o rural, a ênfase nos estudos rurais foi, de certa forma, natural. Por meio da chamada Geografia Agrária, fomos possibilitados a conhecer as formas de exploração (cultivos, técnicas) do homem sobre a natureza e entender a influência que essas causam na transformação do espaço. O Brasil sofreu ao longo da sua história diferentes transformações espaciais decorrentes da exploração de suas matérias-primas. A região de São Paulo foi bastante beneficiada com a expansão da atividade cafeicultora, o que possibilitou o desenvolvimento de regiões mais no interior do estado. A ocupação efetiva do território localizado no oeste paulista só se concretizou com a abertura da Estrada de Ferro Sorocabana. De acordo com Leite (1998), a ferrovia, fortemente incentivada pelo governo federal por razões militares e políticas, cortou os sertões em busca do rio Paraná antes mesmo do início do cultivo do café. Futuramente, o oeste paulista também se beneficiaria do sucesso da atividade graças à combinação das condições naturais com o trabalho dos colonos imigrantes. Esse sistema de colonato combinava o regime assalariado com o direito do trabalhador de usar áreas das fazendas para culturas próprias. Porém, a falta de legislação de terras até meados do século XIX acarretou grandes conflitos na formação do território hoje conhecido como Pontal do Paranapanema. A prática mais comum de declaração de posse de terras antecedente às primeiras legislações era por meio de escrituração em livros paroquiais, assinada pelo próprio vigário, pelo interessado e por

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algumas testemunhas. Tal forma de declaração possibilitou que toda a atual área do Pontal fosse denominada como Fazenda Pirapó-Santo Anastácio no ano de 1856 como posse de Antônio José Gouveia. Foi apenas em 1930 que a Fazenda do Estado de São Paulo entendeu os títulos da terra como falsificados e declarou a mesma como parte do domínio do estado. E, assim, seguiu-se a ocupação do Pontal do Paranapanema, marcada por propriedades griladas e conflitos por terras. Durante esse processo, obtiveram sucesso em empossar determinadas áreas aqueles que detinham considerável poder econômico e político. Foi a partir do ano de 1990 que as ocupações de terras realizadas pelos movimentos populares de luta pela terra ganharam força no Pontal. Segundo Fernandes e Ramalho (2001), de 1990 a 2000, os semterra executaram 335 ocupações, conquistando quase cem mil hectares e desentranhando um dos grilos mais famosos do estado de São Paulo. A implantação de assentamentos rurais tem na luta pela terra o seu principal fator. Sem as ocupações de terra, a maior parte das quase cinco mil famílias assentadas no Pontal não teria a terra onde hoje moram e trabalham. A política de Getúlio Vargas define o primeiro momento da expansão econômica brasileira, no qual a mesma assume um caráter mais nacionalista e industrialista, e o Estado possui o poder de intervenção na economia. Seu sucessor, Gaspar Dutra, em 1946, decide traçar uma trajetória oposta à de Vargas. A falta de controle econômico pelo Estado e a liberação das importações nessa época favorecem os negócios dos empresários estrangeiros e nacionais, porém criam sérios problemas para a economia brasileira, como o esgotamento das reservas de dinheiro. O segundo período de expansão econômica do país acontece durante o período do Regime Militar. A política econômica nesse período aprofundava o modelo de industrialização acelerada e, por meio de empréstimos no exterior, permitia a construção de gigantescas obras e investimentos pesados na modernização do parque viário brasileiro, nas telecomunicações e na geração de infraestrutura. Segundo Moraes e Franco (2010), é durante esse momento de salto industrial e de transformação definitiva da economia que se consagra também a supremacia do setor urbano-industrial sobre o setor agrícola. Nos anos 70, a agricultura brasileira sofreu um intenso processo de modernização, com forte repercussão econômica e social. Essa modernização agrícola envolveu crescente integração da agricultura com a indústria,

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provocando profundas alterações nas formas de produzir da agricultura, do uso de sementes selecionadas, do emprego de fertilizantes e corretivos de solo e de novas técnicas de preparo da terra, de plantio e de colheita (LEONE, 2004, p. 220).

inovações genéticas e com melhoramento na mecanização, permitiu a liberação dos componentes do grupo familiar ocasionando, assim, o desenvolvimento de novas atividades no campo (GRAZIANO, 1999 apud LUNARDI, 2007).

Segundo Martine (1995 apud KAGEYAMA, 2008), houve, durante a década de 1980, uma redução significativa no dinamismo do crescimento urbano. Nesse período, o Brasil apresentou uma redução importante no processo de “metropolização” que vinha das décadas anteriores, em um movimento que a autora chama de “contra metropolização”.

A diminuição dos postos de trabalho nessas atividades, ocasionada pelas tecnologias poupadoras de mão-de-obra, possibilita o exercício de atividades não agrícolas, que vêm ganhando espaço entre os produtores da agricultura familiar como alternativa de renda e forma com que as famílias se utilizam para continuarem residindo no meio rural. Esse novo cenário propõe, implicitamente, uma agropecuária moderna e intimamente ligada às agroindústrias, uma gama de atividades não agrícolas relacionadas principalmente ao lazer, moradia e prestação de serviços e ainda um conjunto de novas atividades agropecuárias voltadas para nichos específicos de mercado. O interesse dos pequenos proprietários de terra, em geral denominados agricultores familiares, no desenvolvimento de atividades não agrícolas se dá devido à agricultura não proporcionar, por si só, grandes rendimentos. Tais atividades são, atualmente, consideradas não somente como alternativas econômicas para as propriedades rurais, mas também como dinamizadora de economias e cultura local, possibilitando aos agricultores familiares a valorização de seus produtos e de seu patrimônio cultural. Chaynov (1974 apud GODOY; WIZNIEWSKY, 2013) define, em sua obra, a organização da atividade econômica da agricultura familiar como uma família que não contrata força de trabalho externa e que tem certa extensão de terra disponível, seus próprios meios de produção e que, às vezes, se vê obrigada a empregar parte da sua força de trabalho em atividades rurais não agrícolas. Para o autor, a lógica do campesinato é diferente da lógica da empresa capitalista, de modo que o agricultor familiar realiza o trabalho com o objetivo de satisfazer as necessidades da sua família. Uma vez que essas necessidades estejam asseguradas, atribui-se um valor cada vez menor para cada unidade adicional de trabalho. A empresa capitalista, por sua vez, maximiza as unidades adicionais visando ao lucro. Lunardi (2007) afirma que a pluriatividade se apresenta como meio de revitalização do meio rural, principalmente das formas de produção. É uma das alternativas sustentáveis para o desenvolvimento rural, assim como uma proposta formada a partir dos interesses socioeconômicos dos próprios agricultores.

A desconcentração interestadual da indústria do período de 1970 a 1985 deveu-se aos efeitos positivos das políticas de desenvolvimento nacional e regional, aos volumosos investimentos e taxas elevadas de crescimento da economia, à consolidação da integração do mercado nacional e à ocupação da fronteira agropecuária e mineral (KAGEYAMA, 2008, p. 113). Esse processo de interiorização da indústria e da urbanização tem fundamental importância para o desenvolvimento rural, de modo que possibilita a intensificação dos contatos com diferentes mercados de produtos, serviços e trabalho e viabiliza a pluriatividade das famílias rurais.

2.2 As novas funções agrícolas e não agrícolas O modelo de desenvolvimento da agricultura brasileira, que provia recursos de crédito rural especialmente a médios e grandes produtores, fez com que ocorresse uma grande exclusão de pequenos produtores das políticas de desenvolvimento rural. De acordo com Elesbão (2002), como a agropecuária não possibilitava uma renda que permitisse a reprodução social dos pequenos agricultores, esses tinham duas alternativas: ou migravam para os centros urbanos, ou complementavam a renda por meio de atividades fora da propriedade e/ou com atividades não agrícolas. A dinâmica existente no espaço rural brasileiro muito se modificou desde os tempos da colônia. A modernização agrícola, que surgiu com a implementação de novas técnicas e de métodos de plantio e colheita, com ;

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Sua principal finalidade é dinamizar a economia local, diminuindo os corriqueiros problemas, as restrições e as adversidades do mercado em geral. Atualmente, discussões acerca da agricultura familiar passam a ser mais utilizadas nos discursos de movimentos sociais, por órgãos governamentais e pelo segmento acadêmico. E é nesse modelo de agricultura familiar produtor de pluriatividades que está organizada a maior parte das famílias assentadas no estado de São Paulo. O ambiente rural, atualmente, carrega consigo características que vão além da agricultura, do agronegócio e da baixa densidade demográfica, como o exercício de novas atividades econômicas, como o lazer e o turismo. As novas multifuncionalidades desse espaço derivam, portanto, da integração de elementos característicos do ambiente urbano, o que se contrapõe à dicotomia definida entre cidade e campo. O certo é que os espaços rurais do Brasil estão passando por transformações, incorporando cada vez mais ciência e técnica, perdendo o caráter de espaços tradicionais, homogêneos e de uma só função (produção agropecuária) e se convertendo em espaços heterogêneos e multifuncionais [...] (LOCATEL, 2013, p. 87). O surgimento de novas alternativas de trabalho nos setores de prestação de serviços, construção civil, comércio e área social tem contribuído para manter parte da população no campo. A quantidade de empregos não agrícolas criados na zona rural aumentou 35% entre 1990 e 2000, o que equivale a 1,2 milhão de novas vagas, segundo dados da PNAD. Isso acontece porque surgem também novos negócios nas áreas rurais ligados ao turismo e ao lazer, além do uso residencial. Na base de todas essas transformações está uma nova concepção de espaço rural, promovida pela sociedade do fim do século XX e desde uma óptica da população urbana, que entende esse espaço como novos territórios, que têm como função dar resposta às novas demandas de diversas naturezas, desde sociais até ambientais, distintas das tradições de simples espaço de produção e abastecimento de alimentos. Assim, as áreas rurais são territórios que desempenham novos empreendimentos junto à herança funcional de atividades

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produtivas eminentemente agrárias que historicamente estão definidas (PLAZA GUTIÉRREZ, 2000 apud LOCATEL, 2013, p. 96). Essas novas funcionalidades concebidas ao espaço rural quebram, portanto, o caráter homogêneo de produção atribuído historicamente a esse espaço, desencadeando o surgimento de uma nova ruralidade.

2.3 Turismo e desenvolvimento territorial Atualmente, autores como Cavaco (1996 apud BLOS, 2005) buscam desconstruir a ideia de desenvolvimento puramente econômico e quantitativo, ao adotar a terminologia desenvolvimento local, que é simultaneamente econômico, social e territorial, e que envolve processos de mudança estrutural, produção social significativa, redistribuição mais equilibrada da riqueza, melhoria dos rendimentos, das condições de vida e das expectativas, sobretudo dos grupos sociais menos favorecidos. É extremamente necessário, ao se falar de desenvolvimento local e territorial, entender as nuances do termo desenvolvimento. De acordo com Souza (2002), desenvolvimento não deve ser entendido como sinônimo de desenvolvimento econômico. A história tem mostrado – e o Brasil é exemplo a esse respeito, especialmente se recordar a época do “milagre econômico” entre o fim dos anos 60 e o começo da década de 70 – que o desenvolvimento estritamente econômico pode ocorrer sem que, proporcionalmente, haja melhoria do quadro de concentração de renda ou dos indicadores sociais. O aumento da produção de bens e o progresso técnico são, no máximo, meios a serviço da meta que é tornar mais justa e legítima uma sociedade. Notamos, então, que o simples progresso econômico de uma determinada localidade não necessariamente trará consigo o desenvolvimento local. O desenvolvimento efetivo, ainda segundo Souza (2002, p. 18), deve ser compreendido como “um processo de superação de problemas sociais, em cujo âmbito uma sociedade se torna, para seus membros, mais justa e legítima.” Segundo Coriolano (2003), o denominado turismo global, também chamado de turismo de resorts ou turismo de massa, controlado por um conglomerado que domina todos os escalões da cadeia produtiva do turismo, pouco tem contribuído para o desenvolvimento das comunidades receptoras. Esse turismo global, que vem de cima para baixo, tem priorizado as grandes cadeias hoteleiras e os fluxos internacionais, de modo que as comunidades servem

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apenas de receptoras e não interagem efetivamente com a atividade turística. Como poderiam, então, os pequenos produtores rurais conviver com um modelo de turismo que não satisfaz as necessidades de suas comunidades? Provavelmente não iriam ter interesse em conviver e participar na atividade. Portanto, para que sejam potencializados e compartilhados os efeitos positivos advindos da atividade, é necessário desenvolver uma política de desenvolvimento voltada para o homem e para o desenvolvimento social, pois, como aponta sabiamente Coriolano (2003, p. 63): O capital é necessário, mas ele não é uma prioridade. A prioridade devem ser as pessoas. Porque aquele que privilegia o ser humano, possibilita o desabrochar das potencialidades de cada um, assegura a subsistência, o trabalho, a educação, a saúde e condições de vida digna para todos. A atividade turística carregaria consigo, nesse caso, desenvolvimento em escala humana (RODRIGUES, 2002). Ainda segundo o texto do mesmo autor (MAX-NEEF apud RODRIGUES, 2002), integrar harmonicamente as necessidades humanas e o processo de desenvolvimento significa a oportunidade para que as pessoas possam viver esse desenvolvimento desde cedo, dando, assim, origem a um desenvolvimento saudável, auto dependente e participativo, capaz de criar as bases para uma ordem em que se possa conciliar o crescimento econômico, a solidariedade social e o crescimento de todas as pessoas. Atualmente, autores como Benevides (2002) buscam estudar a atividade turística como alternativa para o desenvolvimento local e humano. O turismo, nesse caso, configura uma contraposição ideológica à globalização e reúne, em torno de si, posturas críticas a esse atual processo, como, por exemplo, em relação a sua “perigosa relação com a natureza” (CORIOLANO, 1995 apud RODRIGUES, 2002, p. 26), já que a mercantilização da natureza e a transformação das paisagens são de extrema importância para a sustentação dos empreendimentos turísticos. Ainda segundo as ideias de Benevides (2002), o desenvolvimento local, concebido como um estilo contraposto às tendências e aos padrões dominantes, compreende as seguintes preocupações e orientações para o exercício do turismo alternativo: a existência de um dinamismo econômico nas localidades, por meio da possibilidade de geração local de emprego e renda; a preservação e manutenção da identidade cultural dos

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lugares, como próprio fator de atratividade turística; a construção de uma via democrática com a participação da população local na condução desse processo, de modo a articular o turismo como fator para a valorização de suas potencialidades ambientais e culturais; e a conservação do meio ambiente e da rusticidade local, num processo de valorização sem transformação dos elementos naturais da paisagem. Tipologias como o turismo rural e o turismo ecológico são contempladas na ideologia do turismo alternativo à medida em que se preocupam com as alterações ambientais e culturais, privilegiam o intercâmbio e integração entre as populações hospedeiras e os visitantes, valorizando o entendimento entre os dois atores envolvidos, e empregam recursos locais, normalmente geridos pelas comunidades receptoras. As práticas alternativas privilegiam a pequena dimensão e a localidade no que respeita à natureza dos complexos, valorizam as energias alternativas e a produção local bem como procuram o contato direto com as comunidades, tentando conhecê-las e com elas relacionar-se porque estas representam e simbolizam, em última instância, o exótico e diferente, o primitivo, a tradição, a identidade comunitária e a autenticidade, traços perdidos pelas sociedades ocidentais às quais o próprio viajante pertence e que procura recuperar (BRITO, 2000, p. 5). Ao desconcentrar as riquezas e fortalecer também os pequenos, o Brasil estaria caminhando para um processo de desenvolvimento para crescer com mais equilíbrio e menos desigualdades. Segundo o INCRA (1997), na luta contra o modelo agrícola concentrador de riqueza, contra as desigualdades sociais e pela superação da pobreza, o apoio e o fortalecimento dos pequenos produtores e atores rurais podem ser políticas tão relevantes quanto a reforma agrária que democratiza a posse da terra.

2.4 Gênero e pluriatividade no meio rural A incorporação de atividades pluriativas no meio rural se deu majoritariamente pela necessidade encontrada pelos atores do meio em reativar a economia desse espaço. Com o grande movimento de êxodo rural, as novas atividades econômicas visam aumentar a geração de renda das famílias e, consequentemente, elevar a qualidade de vida no

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campo. A terminologia “novo rural”, utilizada por autores como Graziano (1997), passa, então, a descrever o espaço rural que já não pode mais ser caracterizado somente como agrário. Esse novo cenário, como descreve Carneiro (1998), onde atividades agrícolas e não agrícolas se complementam, permite que os recursos possam ser mais bem utilizados e a renda familiar melhor distribuída. Além disso, a diversificação da produção no campo promove também alterações nas relações de gênero, no que se refere à organização e distribuição do trabalho no interior da família. O surgimento de múltiplas produções no campo estimula a participação das mulheres no desenvolvimento de novas atividades ao mesmo tempo em que possibilita a inserção remunerada das mesmas no campo do trabalho. Para discutir sobre alterações nas relações de gênero é necessário, primeiramente, ter claro o que é o conceito de gênero. Para a autora Joan Scott (1995 apud LUNARDI, 2010), o termo gênero refere-se à organização social da relação entre os sexos, ou seja, o gênero seria uma maneira de se referir aos papéis próprios aos homens e às mulheres, no que concerne às origens sociais das identidades de cada sexo. Giddens (2005) complementa a concepção de gênero como algo constituído gradualmente, de modo que os papéis socializados entre homens e mulheres são distribuídos de acordo com valores intrínsecos à sociedade. Enquanto a categoria sexo diz respeito a categorias biológicas associadas ao homem e à mulher, a noção de gênero abrange a ideia de que a sociedade, por razões culturais, sociais, econômicas e políticas, atribui diferentes papéis a ambos os sexos (BRUMER; PAULILO, 2004, p. 171). De acordo com Souza e Silva (2012), atualmente, alguns esforços têm sido realizados no que diz respeito ao estudo da participação das mulheres em atividades produtivas no meio rural, uma vez que muitas mudanças relacionadas ao papel feminino na sociedade estão ligadas à inclusão da mulher em atividades produtivas dentro ou fora do campo. Sendo assim, o meio rural vem passando por diversas transformações e as mulheres que ali residem tem grande importância na diversificação da produção e no complemento da renda familiar, fato que contribui para favorecer sua permanência no campo. Ao considerar que a formação social no Brasil usufruiu de valores oriundos da família colonial patriarcal para sua construção, observamos os papéis desempenhados pelas mulheres orientados por

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atividades denominadas “reprodutivas”, em grande parte restritas à esfera doméstica e não provenientes de remuneração. Assim como aponta Araújo (2004), é possível também observar que a sociedade brasileira vem passando por significativas transformações econômicas, sociais e demográficas nas últimas duas décadas; dentre elas, o aumento acentuado da participação feminina no mercado de trabalho e nos espaços de participação política. Mas, conforme afirma Chauí (1989 apud ARAÚJO, 2004, p. 3895), “apesar da desintegração do patriarcado rural, a mentalidade patriarcal permaneceu na vida e na política brasileira”. As desigualdades de gênero, porém, não estão totalmente extintas a partir desse período. Souza e Silva (2012, p. 211) ilustram o cenário de desigualdade no campo nos fornecendo o seguinte dado: O Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais comprovou em pesquisa que na agricultura o modo de produção familiar ainda conserva desigualdades de gênero, em que o homem-marido aparece no contexto familiar com um papel privilegiado enquanto chefe da família e da produção. Neste sentido cabe às mulheres o papel reprodutivo e o do ambiente familiar, cultivando hortaliças, criando pequenas criações e realizando os serviços domésticos. Ao homem compete todos os serviços de cunho produtivo, que estão diretamente ligados ao mercado (DESER – CEMTR/PR,1996). Essa perspectiva, contudo, tende a se modificar a partir do momento em que as mulheres assumem funções e responsabilidades referentes a atividades de cunho produtivo, com a finalidade de proporcionar uma renda extra, elevar a qualidade de vida de suas famílias e viabilizar a manutenção das mesmas no campo. Carneiro e Teixeira (2005) afirmam, em sua obra, que a construção da identidade de mulher trabalhadora é vista como um importante instrumento capaz de transformá-la em um sujeito social e político, de modo a considerar tal identidade como um meio para conquistar lugares na esfera pública. Desse modo, a mulher é inserida no contexto da produção familiar negando a identidade de “esposa de agricultor” e reivindicando a de “agricultora” e “produtora rural”. Percebemos, então, o trabalho como fator de empoderamento e autonomia para a mulher rural. As

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atividades pluriativas desenvolvidas no campo se apresentam como um possível mecanismo de desprendimento das mulheres em relação ao paradigma das atividades reprodutivas, de modo que as mesmas, ao desenvolverem atividades remuneradas no meio rural, passam a participar de forma mais ativa das decisões do âmbito familiar. A inserção da mulher no campo do trabalho remunerado traz consigo diversas transformações para a vida da família rural. Segundo Ramón (1995 apud LUNARDI, 2007), essas mudanças tangem setores como: econômico, pois a renda obtida muitas vezes auxilia a pagar contas da família, além de colaborar com as despesas referentes às atividades agrícolas; trabalho, pois a unidade familiar passa a mostrar maior reconhecimento pelo trabalho remunerado da mulher, colaborando para o bem-estar econômico da família; e sociais, de modo que as relações femininas passam a se estreitar com a família e com a sociedade.

2.5 A mulher como um dos principais agentes no desenvolvimento do turismo no âmbito das pequenas propriedades As primeiras referências que se têm em relação ao trabalho da mulher na agricultura brasileira datam da época do colonato, quando as famílias de imigrantes ocupavam as terras dos fazendeiros como colonos para cuidar das plantações de café. Nesse período, o trabalho familiar nas colônias atendia exatamente às necessidades da reprodução do capital, e o fato das famílias serem numerosas facilitava a não remuneração de muitos de seus membros. Os homens trabalhavam nos cafezais produzindo valor de troca e a participação das mulheres se restringia à produção dos valores de uso nas culturas alimentares e no trabalho doméstico (OSAKABE, 2005). O regime de colonato foi, sobretudo, mascarador do trabalho das mulheres e das crianças. Este trabalho aparece embutido no trabalho do homem adulto. O trabalho da mulher é um pressuposto do trabalho do homem nos cafeeiros. O trabalho da mulher na roça de subsistência e na indústria doméstica libera o homem para o capital. O trabalho do colono aparece individualizado na figura do homem, do chefe de família que faz o contrato de trabalho com o proprietário das terras (SILVA, 1987, p. 161).

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É possível notar, portanto, a questão da submissão feminina às decisões do homem em período recente da história uma vez que era o chefe de família quem mobilizaram e alocava a força de trabalho familiar, levando a uma divisão sexual do trabalho. À mulher foram atribuídas responsabilidades dentro do grupo familiar que permitem a reprodução desse, relacionadas ao âmbito doméstico. Heredia (1979 apud LUNARDI, 2010) comenta sobre as divisões de trabalho no rural brasileiro baseadas no espaço e no esforço que são desprendidos para a realização das atividades. O domínio da mulher é a casa e as atividades relacionadas a essa, além de algumas outras de caráter agrícola mais leve, como plantar, colher e cuidar de animais e da horta. O homem, por sua vez, tem domínio do trabalho pesado ligado à terra, que requer maior força física, como lavrar, roçar e fazer uso do maquinário. As categorias leve e pesado caracterizam a valorização do trabalho uma vez que o que é pesado tem valor e provê o sustento da família, e o que é leve carrega valor inferior e é considerado meramente como ajuda. De acordo com Lunardi (2010, p. 249), “o turismo é considerado uma atividade mais leve que a agricultura.” Desse modo, o turismo rural, visto como atividade de caráter domiciliar, uma vez que as atividades que compõem essa tipologia turística ocorrem dentro das propriedades, absorve uma expressiva participação da mulher para o seu desenvolvimento. Ainda segundo Lunardi (2007, p. 21-22), “sua participação é fundamental no desenvolvimento de tais atividades, já que ela traz consigo as competências de dona de casa, o que torna a atividade turística rural mais característica do ambiente familiar rural”. As afirmações dos autores acima nos permitem, portanto, considerar que grande parte da mão-de-obra destinada ao turismo rural é composta por mulheres. Esse forte envolvimento feminino nas atividades correlatas ao turismo é abordado por Sparrer (2003) em sua obra. Segundo o autor, grande parte dos campos de trabalho do turismo rural são naturalmente voltados às mulheres e se associam com profissões que carregam consigo um alto grau de feminização, a exemplo da atenção ao telefone com a finalidade de marcar reservas, que é um trabalho típico de uma secretária; cuidar e zelar pelos hóspedes, correspondente a uma enfermeira; executar a limpeza dos quartos, função de uma camareira; e a responsabilidade pela alimentação dos hóspedes, desempenhado geralmente por cozinheiras. Os estudos referentes à realidade atual brasileira sobre a participação feminina em iniciativas de turismo rural estão, contudo, em fase de construção.

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Lunardi (2010) apresenta em seu trabalho resultados de uma pesquisa empírica realizada em oito pousadas e fazendas com relevante participação feminina na região dos Campos de Cima da Serra, no estado do Rio Grande do Sul. Apesar de as mulheres assumirem a maior parte das responsabilidades referentes à atividade turística nas localidades pesquisadas, essas ainda se encontram inseridas na unidade familiar e fortemente condicionadas por tal inserção. A hierarquia entre os sexos não desaparece, de modo que às mulheres ainda são atribuídas atividades de cunho leve, e aos homens, as tarefas ditas pesadas. A supremacia masculina e sua posição social como chefe e provedor da família também foram fatores evidentes durante a pesquisa. As mulheres que compõem a atividade turística rural na região, contudo, ainda consideram o turismo rural uma nova opção de renda atrelada a uma melhor qualidade de vida para suas famílias, resultando também em uma possibilidade de enriquecimento cultural por meio da socialização com os visitantes. Apesar de o fato do turismo rural proporcionar uma renda extra às propriedades, outras justificativas foram apresentadas para a inserção da atividade, como a valorização sociocultural das propriedades e dos componentes familiares, como os jovens e as próprias mulheres. Mesmo que o turismo tenha se consolidado como principal provedor de renda em algumas propriedades, essas ainda mantêm a prática da agricultura em seus interiores. A renda oriunda da atividade contribui para a educação dos filhos, a manutenção interna e externa das propriedades, além de possibilitar a autonomia financeira de membros da família, como os jovens e as mulheres. Anunciação (2011) também discorre sobre iniciativas de turismo rural em seu trabalho, dessa vez no Assentamento Nova Pontal, localizado no município de Rosana, São Paulo. Durante as visitas feitas ao local pesquisado, foi possível perceber que as mulheres assentadas realizam atividades comuns ao seu cotidiano no atendimento aos visitantes, como o ato de cozinhar, de lavar a louça, de arrumação e limpeza da casa. As tarefas observadas foram desenvolvidas como extensão das atividades rotineiras realizadas para atender a própria família, culturalmente ainda assumidas, predominantemente, pelas mulheres. O desenvolvimento das atividades turísticas possibilitou também uma redefinição das funções exercidas pelos homens. Durante ambas as atividades, foi observada a necessidade dos maridos e filhos abdicarem de parte do tempo, que antes era destinado à agricultura e pecuária, para auxiliar as mulheres. A eles, mais uma vez, foram atribuídas funções consideradas pesadas, como utilizar o maquinário para

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moagem de cana e o trato dos animais. As contribuições do turismo rural observadas para a vida dos assentados foram: a desmistificação de preconceitos acerca do processo de reforma agrária; a diminuição da dependência econômica dos assentados perante a pecuária, principal fonte de renda para a maioria das famílias; maior aproximação e reconhecimento das mulheres entre a família; o contato com pessoas de diferentes culturas e realidades; e o próprio reconhecimento de 82% das mulheres entrevistadas como produtoras rurais. Desse modo, é possível constatar, em ambos os casos, a participação feminina em atividades produtivas no campo como um forte dinamizador local, pois trazem consigo o saber/fazer e impulsionam o desenvolvimento e criação de novas atividades. Além disso, o empoderamento, adquirido com o desenvolvimento das atividades produtivas, tem levado as mulheres a perceberem o quanto essas se distanciam de seus desejos nas relações permeadas pela desigualdade. O empoderamento desmistifica a ideia natural de que é assim que tem que ser, porque sempre foi assim, conduzindo ao questionamento acerca da construção social e à busca por igualdade (MENEGAT, 2009). 3 ANÁLISE DOS DADOS A análise de dados apresenta números referentes ao volume de trabalho exercido pelas mulheres no meio rural, além de dados que ilustram um novo cenário referente à permanência de famílias nesse meio. Em um primeiro momento, analisamos dados provenientes da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios dos anos de 2000 e 2010, a fim de verificar a evolução do trabalho feminino no meio rural. Tabela 1 - Pessoas de 10 anos ou mais de idade e valor do rendimento médio mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade, por sexo, segundo a situação de domicílio e as classes de rendimento mensal – Brasil Situação de domicílio e classes de rendimento mensal

Pessoas de 10 anos ou mais de idade

Valor do rendimento médio mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade (R$) (1)

Homens

Mulheres

Homens

Mulheres

Urbana

55.247.849

61.066.310

556

268

Rural

11.185.806

10.187.014

222

81

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Sem rendimento

3.494.014

Sem rendimento

5.998.999

3.881.000

78 4.805.000

Fonte: PNAD (2001)

Fonte: PNAD (2011)

Ao analisar esses dados da PNAD (2001), observamos que das mais de 71 milhões de mulheres trabalhadoras, quase 6 milhões não recebem remuneração pelo trabalho exercido. No meio rural, esse número reforça o conceito de ‘trabalho invisível’ descrito por Paulilo (2004 apud LUNARDI, 2010). Segundo o autor, as lidas femininas na casa ou na roça não são consideradas trabalho. A desvalorização das múltiplas tarefas femininas nas estatísticas oficiais (daí a expressão ‘trabalho invisível’) é um reflexo da desvalorização que perpassa a sociedade e suas instituições, incluindo a família. É o caso das atividades reprodutivas, sinônimo de atividades domésticas, já tratadas anteriormente nesse trabalho, que não são passíveis de remuneração. Outro dado interessante a ser analisado é a discrepância da renda mensal entre homens e mulheres rurais. Enquanto os homens recebem uma média de 222 reais, as mulheres auferem apenas 81 reais. Esse cenário é claramente explicado por Saffioti (1976 apud LUNARDI, 2010, p. 248):

Os dados dessa segunda pesquisa são um pouco mais otimistas no debate sobre gênero e trabalho no meio rural. Em comparação à PNAD de 2001, houve um aumento de 275,3% no valor do rendimento médio mensal das mulheres rurais, superando o aumento de 163.05% do valor do rendimento médio mensal das mulheres residentes em áreas urbanas. Outros dados animadores são a elevação de 15% no volume de mulheres trabalhadoras rurais e a diminuição de 19,9% de mulheres trabalhadoras sem rendimento. Uma possível aclaração para essa mudança de cenário é explicitada por Lunardi (2010, p. 248):

Seu trabalho [da mulher] é definido como subsidiário ao trabalho do homem – pois este é o chefe de família, e a família é a unidade de produção –, impedindo sua emergência no mercado de trabalho ou oferecendo-lhes posições subalternas e menos compensadoras, o que as conduz a um processo de marginalização no sistema produtivo. Em seguida, serão apresentados referentes à PNAD do ano de 2011.

dados

Tabela 2 - Pessoas de 10 anos ou mais de idade e valor do rendimento médio mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade, por sexo, segundo a situação do domicílio e as classes de rendimento mensal – Brasil Situação de domicílio e classes de rendimento mensal

Pessoas de 10 anos ou mais de idade

Homens

Mulheres

Valor do rendimento médio mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade (R$) (1) Homens

Mulheres

Com a inserção de novas atividades na propriedade e o desenvolvimento da pluriatividade, sua participação [da mulher] se tornou mais evidente e seu papel assumiu posição central no desenvolvimento de atividades estritamente relacionadas com as atividades domésticas, como artesanato, as agroindústrias e o turismo rural. Nesse caso, é cabível questionarmos se a conciliação entre reprodutivo (afazeres domésticos) e produtivo (atividades remuneradas), como no caso do turismo rural, que em muitos casos se configura como uma extensão das tarefas domésticas, a exemplo de atividades como cozinhar e arrumar a casa para recepcionar os turistas, estaria reafirmando seu papel restrito à esfera doméstica e a marginalização de seu trabalho. De qualquer modo, essas atividades produtivas permitem às mulheres empoderar-se em meio ao ambiente rural, de modo que essas passam a ter participação acerca das decisões importantes relacionadas à suas famílias e às próprias vidas. A seguir, apresentaremos dados do Censo Demográficos dos anos de 2000 a 2010, a fim de elucidar o cenário rural brasileiro. Tabela 3 – Famílias e pessoas residentes em domicílios particulares, por situação do domicílio, segundo o número de componentes das famílias – Brasil Famílias residentes em domicílios particulares

Urbana

67.670.000

74.930.00

1.232

705

Rural

12.670.000

11.716.000

590

304

Número de componentes das famílias

Situação do domicílio Total

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Total

48.262.786

Urbana

Rural

40.268.157

7.994.629

Fonte: Censo (2000) Tabela 4 – Unidades domésticas em domicílios particulares, por tipo, e total de famílias nas unidades domésticas com duas ou mais pessoas com parentesco, segundo a situação do domicílio – Brasil Famílias residentes em domicílios particulares Número de componentes das famílias

Situação do domicílio Total

Total

57.314.048

Urbana

Rural

49.281.255

8.032.794

Fonte: Censo (2010) A comparação entre as duas pesquisas acima nos permite visualizar um crescimento de 0,47% de famílias residentes em domicílios particulares rurais. Um aumento tímido, em comparação ao aumento de 22.38% de famílias residentes em domicílios particulares urbanos. Esses dados refletem na porcentagem total de famílias residindo no meio rural. Em 2000, esse percentual era de 16.56%, de modo que em 2010 esse mesmo percentual cai para 14.01%. Um maior crescimento de famílias residentes em domicílios particulares urbanos em comparação aos domicílios rurais pode ser explicado devido às disparidades e desigualdades espaciais e regionais, vistas como fator principal de origem das migrações internas. Contudo, é importante frisar que, apesar do pequeno crescimento de famílias residentes no meio rural e da diminuição da porcentagem total de famílias residindo nesse meio, esse número não recuou. Informações disponibilizadas pela UNB (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2013) nos levam a pensar sobre essa atual permanência e manutenção de famílias no campo no que tange aos assentamentos da reforma agrária, que contrariam o movimento de êxodo rural. Entre os anos de 2003 a 2010, o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foi responsável pela emissão de títulos de propriedades para 167.222 famílias, a fim de possibilitar que os pequenos produtores beneficiados permaneçam na terra por meio da segurança jurídica da posse do imóvel. Entre 2005 e 2013, foram disponibilizados, também pelo INCRA, R$ 6,4 bilhões em créditos para que os

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assentados pudessem desenvolver suas atividades produtivas, além de viabilizar a construção e reforma de suas moradias. Ainda segundo a UNB (2013), a Pesquisa Qualidade de Vida nos Assentamentos, realizada em 2010, constatou que a maioria do contingente de assentados no país recebe uma renda familiar mensal de dois salários mínimos. Apesar de alguns descontentamentos verificados durante a pesquisa, como as condições de estradas e vias de acesso aos lotes e acesso a hospitais e postos de saúde, percebe-se a preferência da população do campo em permanecer nesse ambiente, em vez de enfrentar as dificuldades e marginalidades nas periferias das cidades. Em 2013, foram contabilizadas pelo INCRA 1.258.205 famílias assentadas em todo o Brasil. A reorganização do espaço rural através da implantação de assentamentos rurais vem, segundo diversas pesquisas, mostrando que, se analisado sob a ótica da conquista dos direitos sociais da cidadania, tais como: moradia, alimentação e saúde, as melhoras nas condições de vida desta população, segundo suas próprias representações sociais, são, em relação à situação anterior, significativas (RAMIRO; DIAS, 2011, p. 3). Além das políticas públicas de acesso ao crédito rural, regularização fundiária e assistência técnica, devemos citar também a concepção da nova ruralidade, que transcende aspectos puramente agrícolas, como fator que contribui para a manutenção de famílias no meio rural. Ao se observar com maior cuidado as transformações que ocorreram com a população residente no campo no âmbito familiar, percebe-se que a contribuição da mulher na composição da renda tem se tornado fundamental como estratégia de sobrevivência destas famílias. Poucos são os estudos realizados sobre a recente inserção feminina em atividades nãoagrícolas no meio rural, porém já foi possível captar que essa mulher vem contribuindo para conservar e/ou elevar o nível de renda destas famílias (OSAKABE, 2005, p. 6). Portanto, dentro desse novo cenário de desenvolvimento de atividades não agrícolas que

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proporcionam uma complementaridade à renda das famílias rurais, a participação feminina nessas atividades serve como aspecto colaborador para a permanência das unidades familiares no campo. 4 CONCLUSÃO A modernização agrícola ocorrida ao final do século XX no Brasil, ao proporcionar novas tecnologias poupadoras de mão-de-obra, possibilitou uma nova dinâmica ao espaço rural, de modo que novas atividades produtivas no campo surgiram a partir da liberação de componentes do grupo familiar. O cenário rural atual do país não se apresenta eminentemente agrícola, pois essa atividade não consegue suprir as necessidades das famílias rurais. Uma alternativa econômica promissora encontrada por grande parte dos pequenos proprietários de terra foi o exercício de atividades não agrícolas em suas residências, principalmente as ligadas ao lazer e prestação de serviços, como é o caso do turismo rural. A participação de mulheres no desdobramento dessa atividade tem se mostrado substancial de modo que a maioria dos postos que englobam o turismo rural possui ligação direta com o exercício de atividades domésticas, função esta que foi atribuída exclusivamente ao sexo feminino durante grande parte da história do patriarcado de nosso país. A recente introdução da presença feminina no desenvolvimento de atividades produtivas possibilita uma nova dinâmica social e econômica ao meio rural, logo se compreende sua importância na diversificação da produção e no complemento da renda e seu auxílio na manutenção das unidades familiares no campo. É importante, contudo, compreender a participação feminina em atividades produtivas no campo como fator contribuinte para a permanência de famílias no meio rural, mas não como elemento isolado. Outros fatores devem, ou deveriam, auxiliar nessa manutenção, como o exercício de políticas públicas que considerem os anseios e dificuldades dessas pessoas com enfoque para a resolução de seus principais problemas, como a substancial evasão de jovens para o meio urbano, por exemplo. Apesar de a participação feminina nas atividades correlatas ao turismo rural reafirmar seu papel reprodutivo na esfera familiar rural, como no caso das bibliografias pesquisadas, esse não nos parece um fator oneroso para as mesmas, já que essas, ao exercerem trabalho remunerado, recebem considerável reconhecimento por parte da unidade familiar, além de se permitirem vivenciar um enriquecimento cultural por meio da sociabilização com os visitantes.

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Nota-se, também, que o trabalho produtivo feminino concede às mulheres empoderamento em meio à vida no campo, de modo que essas passam a ter participação relevante nas decisões importantes relacionadas à suas famílias e às próprias vidas. Ademais, acredita-se que o campo de estudos acerca da participação e influência das mulheres nas atividades produtivas no campo necessita de maior aprofundamento. Portanto, espera-se que o empoderamento feminino, tanto no meio rural como no urbano, transcenda definitivamente as relações patriarcais tão presentes em nossa sociedade, a fim de proporcionar oportunidades e direitos iguais, além da paridade política, econômica e social entre os sexos. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Gabriela Monteiro. Relações de poder e a resiliência das feministas rurais no Nordeste. In: REDOR, 18., 2014, Recife. Anais [...]. Recife: UFPB, 2004. Disponível em: http://www.ufpb.br/evento/index.php/18redor/18redor/ paper/viewFile/1022/886. Acesso em: 08 nov. 2015. BENEVIDES, Ireleno Porto. Para uma agenda de discussão do turismo como fator de desenvolvimento local. In: RODRIGUES, Adyr Balastreri (org.). Turismo e desenvolvimento local. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2002. BLOS, Wladimir. Turismo rural e desenvolvimento local. Santa Maria: Facos, 2005. BOAVENTURA, Edivaldo Machado. Metodologia da pesquisa: monografia, dissertação, tese. São Paulo: Atlas, 2007. BRITO, Brígida Rocha. O Turista e o Viajante, Contributos para a Conceptualização do Turismo Alternativo e Responsável. In: CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA, 4. Anais [...], 2000. Disponível em: https://aps.pt/wpcontent/uploads/2017/08/DPR462dea1a49422_1.pdf. Acesso em: 06 nov. 2015. BRUMER, Anita; PAULILO, Maria Ignez. As agricultoras do sul do Brasil. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 12, n. 1, 2004, p. 171 – 174. CARNEIRO, Maria José; TEIXEIRA, Vanessa Lopes. Mulher rural nos discursos dos mediadores. Revista

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LEGISLAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO: ESTUDO DE CASO DA LEI 1.261/2015 APLICADA ÀS 32 PRIMEIRAS ESTÂNCIAS TURÍSTICAS¹ OIOLI, ALESSANDRA SCAVASSA2 TATINI, VICTORIA DE AZEVEDO BRAGA2 MORAES, EWERTON HENRIQUE DE3

alessandra.oioli@hotmail.com, victoria.tatini@hotmail.com, ewertonhenrique_adm@yahoo.com.br 1

Artigo elaborado na disciplina de Legislação Aplicada ao Turismo. Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, São Paulo. 2

RESUMO – Atualmente, tem-se comentado muito sobre a lei complementar nº 1.261 de 29 de abril de 2015, uma política pública do estado de São Paulo que estabelece condições e requisitos para a classificação de Estâncias e de Municípios de Interesse Turístico (MIT). Sendo assim, o objetivo deste artigo é verificar se as estâncias classificadas conforme a lei nº 1.457 de 1977 (32 ao total) estão preparadas para a primeira avaliação que acontecerá em 2018, conforme a lei 1.261/15 artigo 6º, correndo o risco de caírem para MIT se possuírem pontuação menor do que os três primeiros MITs. Como procedimento metodológico, enviou-se um e-mail padrão para todas as 32 estâncias, analisou-se o site oficial para conseguir maiores informações e, quando faltando, foi realizada ligação telefônica para o município em questão. Os resultados foram quantificados em gráficos para melhor visualização. Por fim, pode-se perceber que se a revisão acontecesse no segundo semestre de 2017, apenas 04 estâncias estariam preparadas, sendo elas: Batatais, Eldorado, Salesópolis e São Pedro.

Palavras-chave: Políticas públicas, Estância Turística, Município de Interesse Turístico, São Paulo. ABSTRACT - Currently, much has been commented on the complementary law no. 1,261 of April 29, 2015, a public policy of the state of São Paulo that establishes conditions and requirements for the classification of Estâncias Turísticas (Tourist Resorts) and Municípios de Interesse Turístico - MIT (Cities of Tourist Interest). Therefore, the objective of this article is to verify if the Tourist Resorts classified according to law no. 1,457 of 1977 (32 to the total) are prepared for the first evaluation, that will happen in 2018, according to the law 1,261 / 15 article 6, at risk of fall out of position to MIT if they score lower than the first three MITs. As a methodological procedure, a standard e-mail was sent to all 32 Tourist Resorts, an analysis of the cities websites was made to obtain more information and, when missing, a telephone call was made to city in question. The results were quantified in graphs for better visualization. Finally, it was observed that if the inspection happened in the second half of 2017, only 04 Tourists Resorts would be prepared, that being: Batatais, Eldorado, Salesópolis and São Pedro.

Key words: Public Policies, Tourist Resort, Cities of Tourist Interest, São Paulo.

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1 INTRODUÇÃO O planejamento público para o Turismo tem como sua principal ferramenta as políticas públicas. As políticas públicas atuam como diretrizes norteadoras de ações de planejamento público em nível nacional, estadual, regional e municipal. Nesse sentido, este artigo tem como objeto de estudo a Lei Complementar 1.261/2015, que cria classificações de municípios turísticos no estado de São Paulo. Uma das principais estratégias de descentralização do planejamento turístico no estado de São Paulo é a criação das estâncias turísticas. O título de estância turística se aplica a municípios que possuem atrativos, bem como infraestrutura e serviços voltados ao atendimento turístico. Ao ser classificada como estância, a cidade passa a receber uma verba anual do governo do estado, que deve ser direcionada ao desenvolvimento do turismo no destino, de forma que essa atividade se torne uma parcela da economia local. Apesar da relevância do título, os critérios para classificação de estâncias turísticas, de acordo com a lei nº 1.457 de 1977, possuíam um caráter vago e extremamente aberto a interpretações, carecendo de mais critérios técnicos e específicos. Tendo em vista que a lei nº 1.261 de 2015 não revoga os título das antigas estâncias e ainda torna possível que novos municípios se classifiquem ou desclassifiquem como estâncias turísticas após a primeira revisão trienal, fazse relevante analisar se as 32 primeiras cidades a receberem o título de estância turística a partir da lei 1.457/77 atendem aos critérios de caráter técnico estabelecidos pela lei 1.261/15. Sendo assim, a problemática deste trabalho é verificar se as atuais estâncias turísticas classificadas conforme a antiga lei (32 estâncias) atendem os principais critérios de classificação impostos pela lei 1.261/15 para tornar uma cidade uma estância turística, como a existência de um Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico atualizado e completo e um Conselho Municipal de Turismo atuante. A hipótese levantada por este trabalho é que mesmo que a lei tenha mudado, as estâncias ainda não estão adaptadas, o que as levaria a serem desclassificadas conforme a avaliação trienal, com base no artigo 6º. 2 JUSTIFICATIVA Essa pesquisa se justifica por seu caráter inédito, pois ainda não existem trabalhos e pesquisas expressivas sobre o assunto. Atualmente, com o surgimento da lei 1261/15, muitos municípios obtiveram o interesse em conseguir o título de MIT.

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Existe alta concorrência entre os municípios em busca da classificação como MIT e interesse das atuais estâncias em não perder sua classificação. Sendo assim, busca-se, por meio desta pesquisa, descobrir quais municípios estão preparados para a primeira avaliação, inicialmente prevista para ocorrer em 2018. 3 DISCUSSÃO TEÓRICA Quando se trata do planejamento público do Turismo, a legislação e políticas públicas para o Turismo constituem os instrumentos pelos quais um planejamento econômico, social, ambiental e culturalmente sustentável pode ser idealizado e elaborado, como afirma Decker (2004, p.20), “(...) para que o processo de planejamento do desenvolvimento tenha sucesso, deve haver a elaboração de políticas governamentais que estabeleçam regras mínimas balizando o ordenamento da atividade”. Nesse sentido, a Política Nacional de Turismo representa o maior instrumento norteador de ações para o Turismo no país. De acordo com os objetivos e diretrizes instituídos por ela, planos e outras políticas são elaboradas, como o Plano Nacional de Turismo, Plano de Regionalização do Turismo e demais instrumentos estaduais e municipais. Lohmann e Panosso Neto (2008, p.134) discorrem mais detalhadamente: [...] a política pública de turismo estabelece as diretrizes gerais de desenvolvimento turístico de um país, estado ou município, expressas em um plano de turismo, como é o caso brasileiro, que possui o Plano Nacional de Turismo. O planejamento, por sua vez, deve consultar e se basear na política de turismo para ser desenvolvido, transformando-se, assim, em um instrumento viabilizador de ações e mais prático, ao contrário da política de turismo que é um instrumento de essência mais teórica. Em nível nacional, a Lei 11.771/2008 (Lei Geral do Turismo) institui que o Sistema Nacional de Turismo é composto por determinados órgãos e entidades do setor turístico, que são: Ministério do Turismo; Instituto Brasileiro do Turismo EMBRATUR; Conselho Nacional de Turismo; Fórum Nacional de Secretarias e Dirigentes Estaduais de Turismo, todos estes em nível federal. A OMT (2003) admite que o poder público deve empreender ações que podem ser agrupadas nas

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seguintes categorias: políticas, planejamento, desenvolvimento e regulamentação. Em cada uma dessas áreas o poder público pode desempenhar um papel de facilitador ou de desestimulador da atividade turística. A partir de 1994, com a criação do Plano Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), iniciou-se um processo importante no sentido de descentralizar as ações que envolvem o desenvolvimento do turismo. Conforme esse plano, os municípios têm o poder para planejar e agir sobre a localidade com a finalidade de desenvolver o turismo. Além disso, o Ministério do Turismo admite a atividade turística dentro de uma gestão pública descentralizada e participativa em nível municipal (MTUR/PNT, 2005). Uma política pública de municipalização do Turismo que pode ser citada no Estado de São Paulo é a Lei complementar 1.261/15, que em 07/04/2015 o Plenário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) aprovou por unanimidade, a Proposta de Emenda à Constituição 11/2013, que dá nova redação ao artigo 146, que tem o objetivo de ampliar o número de municípios beneficiários dos recursos vinculados ao Fundo de Melhoria das Estâncias. Dessa forma, o Estado de São Paulo amplia a abrangência de políticas públicas para o desenvolvimento do turismo no Estado por meio de um fundo constitucional (SÃO PAULO, 2017). A lei complementar Nº 1.261, de 29 de abril de 2015, cria uma nova classificação de município turístico. O Estado de São Paulo possui 70 Estâncias turísticas, a nova lei cria 140 vagas para Municípios de Interesse turístico que também poderão receber recursos do Fundo de Melhoria dos Municípios Turísticos administrado pelo Departamento de Apoio das Estâncias (DADE). Todos os Municípios do Estado de São Paulo (exceto os que já possuem o título de Estância) podem pleitear o Título de Município de Interesse Turístico por meio de um Deputado Estadual. Para que isso aconteça, os municípios precisam preencher alguns critérios como: potencial turístico, Conselho Municipal de Turismo, serviço médico emergencial, infraestrutura básica, Plano diretor de turismo e expressivos atrativos turísticos (ABET, 2017; SÃO PAULO, 2017). 4 METODOLOGIA Este trabalho foi realizado em três etapas: definição dos dados a serem coletados, coleta de dados e análise dos dados. Na primeira etapa, definiu-se o recorte das estâncias a serem pesquisadas, sendo essas: Aparecida, Avaré, Bananal, Barra Bonita, Batatais,

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Brotas, Eldorado, Embu das Artes, Guaratinguetá, Holambra, Ibitinga, Ibiúna, Igaraçu do Tietê, Ilha Solteira, Itu, Joanópolis, Olímpia, Paraguaçu Paulista, Paranapanema, Pereira Barreto, Piraju, Presidente Epitácio, Ribeirão Pires, Salesópolis, Salto, Santa Fé do Sul, São José do Barreiro, São Luiz do Paraitinga, São Pedro, São Roque, Tremembé e Tupã, com o critério de serem as primeiras 32 estâncias do estado de São Paulo. Definido o recorte, decidiu-se, então, quais critérios de classificação seriam abordados no contato com as cidades. Estabeleceu-se a existência de um Plano Diretor de Turismo atualizado e de um COMTUR ativo, pois a existência destes dois elementos já abrange a dos demais critérios. Assim, foi criado um e-mail padrão a ser enviado para todos os municípios selecionados, perguntando a respeito do PDT e do COMTUR. Na segunda etapa, de coleta de dados, os emails foram enviados, após o período de duas semanas, tendo as estâncias respondido ou não, foram realizadas ligações telefônicas para cada cidade. Além dos meios diretos para se obter informação, por meio do e-mail e telefone, os portais das prefeituras das cidades foram verificados em busca das informações necessárias. Os dados obtidos foram colocados no formato de gráficos, como disponível nos resultados. Assim, na última etapa, com auxílio dos gráficos, foi possível analisar os dados obtidos a fim de chegar à conclusão de quais estâncias atendem aos critérios da lei 1.261/15, além de outras informações obtidas ao longo da realização da pesquisa. Ademais, foi realizada pesquisa bibliográfica em livros, artigos e na própria legislação sobre estâncias turísticas do estado de São Paulo, a fim de compreender melhor o papel das políticas públicas no planejamento e se aprofundar nas diretrizes e critérios da lei complementar 1.261/15. 5 RESULTADOS A lei complementar nº 1.261 de 2015 cria novas classificações de municípios turísticos no estado de São Paulo e revoga múltiplas leis, dentre elas a Lei nº 10.426 de 1971, que classifica os critérios das estâncias climáticas, hidrominerais e balneárias, e a Lei nº 1.457 de 1977, que estabelece a classificação dos municípios como estâncias turísticas. De acordo com a lei nº 10.426 de 1971, cada categoria de estância seria classificada por critérios específicos, por exemplo, estâncias climáticas de acordo com a temperatura e estâncias balneárias com a existência de praia marítima. O único critério em comum que todas as

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categorias deveriam atender era possuir atrativos turísticos e condições para tratamento de saúde. Ao instituir a categoria de estância turística, a lei nº 1.457 de 1977 estabelece apenas um critério para sua classificação, que seria a existência de atrativos históricos, naturais, artísticos ou paisagísticos. Já a Lei complementar nº 1.261/15 estabelece critérios de caráter técnico e detalhados que devem ser seguidos para conseguir tal título. Para a lei nº 1.261 de 2015, os critérios para classificação do município como estância turística seguem a mesma ideologia de parâmetros adotados para a classificação de MITs. É necessário que o município seja um destino turístico consolidado, com fluxo permanente de visitantes; que possua expressivos atrativos turísticos acessíveis e permanentes, sejam eles naturais, culturais e artificiais; deve possuir serviços e equipamentos como meios de hospedagem, serviço de alimentos e bebidas, serviços de informação e receptivo turístico; é necessário que a infraestrutura de acesso e transporte, sinalização, atendimento hospitalar, segurança e comunicação esteja adequada; deve possuir um Plano Diretor de Turismo atualizado e revisado a cada três anos; dispor de um Conselho Municipal de Turismo constituído de representantes do poder público, da iniciativa privada e da sociedade civil; e o município deve ter até duzentos mil habitantes. O artigo 6º da lei nº 1.261/15 traz ainda a possibilidade dos MITs serem classificados como estâncias, bem como as estâncias serem reclassificadas como MIT dentro das seguintes condições: se a pontuação das três últimas estâncias classificadas no ranqueamento trienal, realizado por meio do projeto de lei revisional que deve ser encaminhado à Assembleia Legislativa, for menor do que a pontuação dos melhores MITs classificados; o MIT deve atender aos mesmo critérios de fluxo turístico permanente, atrativos e equipamentos e serviços turísticos adequados. Partindo do princípio de que, apesar das estâncias turísticas instituídas antes da lei manterem seu título, a possibilidade de reclassificação das mesmas após o primeiro projeto revisional é uma realidade. Assim, buscou-se para este artigo entrar em contato com as 32 estâncias turísticas classificadas pela lei anterior e verificar se possuíam um Plano Diretor de Turismo (PDT) atualizado e um Conselho Municipal de Turismo (COMTUR) atuante. Estes dois critérios (PDT e COMTUR) foram selecionados, pois todos os demais critérios estabelecidos pela lei partem do princípio da existência desses dois elementos. As respostas obtidas foram sumarizadas em gráficos a fim de melhor representação visual. Em um

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primeiro momento, tem-se o resultado das tentativas de contato nos gráficos 1 e 2. Gráfico 1: Obtenção de respostas por e-mail.

Fonte: autores, 2017.

Como resultado, das 32 estâncias contatadas por e-mail, obteve-se retorno de Barra Bonita, Embu das Artes, Ibitinga, Itu, Joanópolis, Paraguaçu Paulista, Paranapanema, São Luiz do Paraitinga e São Roque, contabilizando 09 respostas por e-mail. Considera-se aqui como resposta o fato de os municípios terem retornado a mensagem enviada, independentemente da réplica ter sanado as dúvidas contidas no e-mail. As demais 23 cidades não retornaram a mensagem. Gráfico 2: Obtenção de respostas por telefone.

Fonte: autores, 2017.

Foi necessário entrar em contato com apenas 28 municípios por telefone, pois conseguiu-se as informações necessária por meio do site oficial e/ou email de 04 estâncias, sendo estas São Roque, São Luiz do Paraitinga, Olímpia e Barra Bonita. Das 28 cidades contatadas por telefone, obteve-se resposta de Batatais, Eldorado, Guaratinguetá, Itu, Salesópolis, São Pedro e Tupã, totalizando 07 estâncias. Assim como no caso do contato por e-mail, considera-se resposta o fato de os municípios terem atendido à ligação, independentemente de todas as perguntas terem sido respondidas. Não se conseguiu contato telefônico com os 21 municípios restantes. Gráfico 3: existência de Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico.

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Fonte: autores, 2017.

Os municípios de Batatais, Eldorado, Embu das Artes, Ilha Solteira, Itu, Olímpia, Pereira Barreto, Salesópolis, São Luiz do Paraitinga, São Pedro, e Tupã possuem Plano Diretor de Turismo, totalizando 11 respostas positivas. As estâncias de Barra Bonita, Guaratinguetá, Holambra, Ibitinga, Joanópolis, Paranapanema, Ribeirão Pires e São Roque ainda não possuem o plano, gerando o total de 08 respostas negativas. Não foi possível obter essa informação das outras 13 cidades, seja por e-mail, telefone ou site.

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Todos municípios com os quais se obteve resposta afirmaram possuir o COMTUR. São estes: Bananal, Barra Bonita, Batatais, Eldorado, Embu das Artes, Guaratinguetá, Holambra, Ilha Solteira, Itu, Olímpia, Pereira Barreto, Ribeirão Pires, Salesópolis, Salto, Santa Fé do Sul, São Luiz do Paraitinga, São Pedro, São Roque e Tupã, totalizando 19 respostas positivas. Não foi possível verificar a existência do COMTUR nas outras 13 cidades por falta de respostas. Gráfico 6: Status do Conselho Municipal de Turismo.

Fonte: autores, 2017.

Gráfico 4: Status do Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico.

Fonte: autores, 2017.

Os PDTs das estâncias de Batatais, Eldorado, Embu das Artes, Ilha Solteira, Itu, Salesópolis, São Luiz do Paraitinga e São Pedro estão atualizados, sendo 08 municípios no total. As cidades de Barra Bonita, Guaratinguetá, Holambra, Ibitinga, Joanópolis, Paranapanema, Ribeirão Pires e São Roque afirmaram que o PDT está sendo elaborado, somando 08 em elaboração. Em Pereira Barreto e em Olímpia, o plano está desatualizado. O status do PDT das demais 14 cidades permaneceram sem resposta. Gráfico 5: Existência de Conselho Municipal de Turismo.

Fonte: autores, 2017.

Por fim, Barra Bonita, Batatais, Eldorado, Guaratinguetá, Olímpia, Salesópolis, São Pedro e São Roque são as 08 estâncias que possuem o COMTUR ativo e atuante. São Luiz do Paraitinga afirmou que o conselho está em processo de reativação, o que foi contabilizado para esta pesquisa como “Não Atuante”. Os demais 23 municípios permaneceram sem resposta. Cabe aqui relatar alguns casos ocorridos durante a pesquisa para que as informações dos gráficos sejam melhor contextualizadas. Ocorreram situações como as de Tupã, em que a ligação foi atendida e foi informada a existência do PDT e do COMTUR, porém não se soube informar o status de nenhum dos dois. Em municípios como Ilha Solteira e Holambra, os e-mails e as ligações não obtiveram resposta, porém conseguiu-se obter todas as informações nos sites, exceto o status do COMTUR. CONCLUSÃO Durante a realização da pesquisa, pode-se notar que os meios de comunicação com as prefeituras são, no geral, ineficientes. Não se obtém respostas da maior parte das cidades por meio dos endereços eletrônicos disponíveis nos portais, levando à conclusão de que os e-mails estão desatualizados ou não há interesse por parte das prefeituras em responder as mensagens. Por telefone, além da dificuldade em ter as ligações atendidas, encontra-se a dificuldade de os funcionários não saberem as informações perguntadas, nem para qual setor ou colaborador transferir a ligação para que as dúvidas sejam sanadas. Quanto aos portais das prefeituras, muitos possuem layout de difícil

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navegação e faltam informações básicas sobre o município. Todos esses fatores observados, apesar de não serem o foco da pesquisa, acabam por demonstrar que muitas das estâncias pesquisadas não estão preparadas para oferecer informações básicas para possíveis turistas interessados, prestando um desserviço a uma cidade tida como estância turística. Foi observado também que o método de pesquisa por telefone pode nos levar a duas respostas. Uma delas é que todas as cidades com as quais se conseguiu contato telefônico deram respostas positivas quanto à existência do PDT e COMTUR, o que nos levou à primeira consideração: esses municípios sentiram-se pressionados a dar uma resposta positiva, uma vez que uma resposta negativa direta poderia ser prejudicial à imagem da estância. A segunda consideração é que realmente todas as cidades estão trabalhando para conseguir se manter dentro da nova legislação, sendo assim mostra-se novamente a ineficiência de respostas a partir dos outros meios de comunicação. Pode-se chegar ao resultado final de 04 estâncias que atualmente estão adequadas (com PDT atualizado e COMTUR atuante), sendo elas: Batatais, Eldorado, Salesópolis e São Pedro. Porém, deve-se levar em consideração a falta de resposta da maioria dos municípios. Por fim, o resultado completo da pesquisa possibilitou também a formulação de uma crítica ao método de classificação e pontuação estabelecido pela lei 1.261/15. Como esclarecido anteriormente, após a revisão trienal, as três estâncias com menor pontuação serão reclassificadas como MIT e os MITs com pontuação mais alta que as três últimas estâncias classificadas, tornaram-se estâncias. No entanto, a reclassificação de apenas 06 municípios por revisão pode se mostrar insuficiente, uma vez que um maior número de estâncias pode estar desqualificado e um maior número de MITs pode estar qualificado. O resultado desta pesquisa reforça a crítica feita, pois, como dito anteriormente, apenas 04 estâncias estariam dentro dos critérios estabelecidos pela 1.261/15 se a revisão fosse realizada no segundo semestre de 2018. Por fim, reforça-se que, na data atual, os municípios pesquisados podem estar apresentando dados diferentes. Espera-se que o trabalho aqui iniciado tenha continuidade para verificar a qualificação das estâncias turísticas e MITs no segundo semestre de 2018, quando a revisão trienal já deveria ter ocorrido.

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REFERÊNCIAS MÔNICA, L. D. Turismo e folclore: um binômio a ser cultuado. 2. ed. São Paulo: Global, 2001. ABET. Agência Brasileira de Engenharia Turística. Município de Interesse Turístico. Disponível em: http://www.abet.tur.br/municipio-interesse-turistico/. Acesso em: 06 out. de 2017. BRASIL. Plano Nacional de Turismo 2007-2010. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_min isterio/publicacoes/downloads_publicacoes/plano_nac ional_turismo_2007_2010.pdf. Acesso em: 06 out. de 2017. DECKER, Ada de Freitas Maneti. Planejamento e gestão de hospitalidade e turismo: formulação de uma proposta. p. 1-25. In: DECKER, Ada de Freitas Maneti (coord.). Planejamento e Gestão em Turismo e Hospitalidade. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. LOHMANN, Guilherme; PANOSSO NETO, Alexandre. Teoria do Turismo: Conceitos, Modelos e Sistemas. São Paulo: Aleph, 2008. OMT. Turismo internacional: uma perspectiva global. 2. ed. São Paulo: Bookman, 2003. SÃO PAULO (Estado). Lei Complementar nº 1261, de 29 de abril de 2015. Estabelece condições e requisitos para a classificação de Estâncias e de Municípios de Interesse Turístico e dá providências correlatas. São Paulo, SP, Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei.com plementar/2015/lei.complementar-126129.04.2015.html. Acesso em: 03 out. 2017. SÃO PAULO (Estado). Resolução ST nº 14 de 21 de junho de 2016. Estabelece parâmetros para elaboração do Plano Diretor de Turismo dos municípios e dá outras providências. São Paulo, SP, Disponível em: http://www.turismo.sp.gov.br/publico/include/downlo ad.php?file=112. Acesso em: 03 out. 2017. SÃO PAULO (Estado). Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008. Dispõe sobre a Política Nacional de Turismo, define as atribuições do Governo Federal no planejamento, desenvolvimento e estímulo ao setor turístico; revoga a Lei no 6.505, de 13 de dezembro de 1977, o Decreto-Lei no2.294, de 21 de novembro de

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1986, e dispositivos da Lei no 8.181, de 28 de março de 1991; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2008/lei/l11771.htm. Acesso em: 06 out. 2017. SÃO PAULO (Estado). Lei nº 10.426, de 08 de dezembro de 1971. Estabelece requisitos mínimos para a criação de estâncias. Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1971 /lei-10426-08.12.1971.html. Acesso em: 15 out. 2017.

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SÃO PAULO (Estado). Lei nº 1.457, de 11 de novembro de 1977. Altera a redação do artigo 2.º da Lei n. 10.426, de 08/12/1971, que estabelece requisitos mínimos para a criação de estâncias Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/reposito rio/legislacao/lei/1977/lei-1457-11.11.1977.html. Acesso em: 15 out. 2017

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A EFETIVIDADE DOS BENEFÍCIOS DO CADASTUR NOS MEIOS DE HOSPEDAGEM EM CAMPO GRANDE/MS ¹ ASSUMPÇÃO, FLÁVIO DALLGLIO DE² FERREIRA, GUSTAVO ESTEVAM² GONÇALVES, LEONARDO GIOVANE MOREIRA² VELASCO, JULIA ALEJANDRA SALIRROSAS² RIBEIRO, RENATA MARIA³ flaviounesp1@gmail.com, gustavoef2223@gmail.com, leonardo.giovane@unesp.br, alesalirrosas2014@gmail.com, renata.ribeiro@unesp.br

1 Trabalho

de conclusão da disciplina de Processos Diagnósticos na Unesp - Rosana em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutora em Geografia (UFPR), Professora Assistente Doutora do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2 Graduando(a)

RESUMO - Políticas públicas eficientes auxiliam no planejamento, gestão e operação da atividade turística em seus múltiplos aspectos. Planejar na atualidade se tornou algo vital e ter uma fonte de dados confiável, ferramentas de ordenamento, gestão e promoção acabam por facilitar o processo de planejamento. Embasado nessas premissas, o presente artigo buscou entender quais são os benefícios ofertados pelo Cadastur e se esses benefícios são efetivos nos meios de hospedagem em Campo Grande/MS. Para atingir esses objetivos, utilizou-se de uma pesquisa documental nas leis que embasam o cadastro dos prestadores de serviços, além de uma pesquisa bibliográfica em livros, artigos, sites e revistas que discorrem sobre os eixos verticais e centrais da proposta e criou-se um formulário com perguntas abertas e fechadas que foi enviado aos 67 meios de hospedagem presentes no Cadastur em Campo Grande/MS. Por meio dessa metodologia, tornou-se possível observar uma deficiência das políticas públicas do Cadastur no município e os desafios para atender plenamente todos os benefícios propostos pelo programa.

Palavras-chave: Cadastur, Políticas Públicas, Planejamento Turístico, Campo Grande. ABSTRACT - Efficient public policies assist in the planning, management and operation of tourism activity in its multiple aspects. Planning today has become vital and having a reliable source of data, planning, management and promotion tools make the planning process easier. Based on these premises, this article sought to understand the benefits offered by Cadastur, and if these benefits are effective in the lodging facilities in Campo Grande / MS. To achieve these objectives, a documentary research based on the laws regarding service providers’ registry, as well as a bibliographical research in books, articles, websites and magazines that discuss the vertical and central axes of the proposal and was created a form with open and closed questions that was sent to the 67 lodging providers present at the Cadastur in Campo Grande / MS. Through this methodology it was possible to observe a deficiency of the public policies of Cadastur in the city and the challenges to fully meet all the benefits proposed by the program. Key words: Cadastur, Public Policy, Tourist Planning, Campo Grande.

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1 INTRODUÇÃO Campo Grande está localizada no estado do Mato Grosso do Sul e foi fundada pelo mineiro José Antônio Pereira em 1872 e, somente em 1889, a localidade foi elevado ao título de município. A cidade está localizada no centro do estado, em meio ao bioma do cerrado, na atualidade é o maior polo econômico do Mato Grosso do Sul, sendo o comércio o maior gerador de renda, seguido pelo setor industrial e por serviços (VASCONCELOS, 2012). Segundo Vasconcelos (2012), em 1914, Campo Grande passou por uma grande evolução por conta de linha da estrada de ferro que ligou a cidade à Bauru no estado de São Paulo, marcando, assim, o desenvolvimento da cidade. Em 1934, foi fundada a “Liga Sul Matogrossense”, que seria responsável pelo movimento de divisão do até então estado do Mato Grosso, ocasionando, assim, a divisão do estado e ficando Campo Grande como capital do Mato Grosso do Sul após 1975. No site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2017) afirma-se que a cidade de Campo Grande conta com aproximadamente 874 mil habitantes, representando, assim, mais de 30% da população do estado, além de contar com mais de 1600 indígenas que vivem em diversas aldeias indígenas urbanas e na zona periurbana. A cidade que também é conhecida como “Cidade Morena” por conta da cor da sua terra, geralmente roxa ou vermelha, foi planejada em meio a uma vasta área verde, em uma região de planalto e, por esse fator, é possível ver o limite do horizonte ao fundo de qualquer paisagem, o local também é bastante arborizado com árvores e jardins por entre suas largas ruas e avenidas. Além disso, até os dias de hoje, é muito forte a relação de Campo Grande com a cultura indígena e suas raízes históricas (GUIA DO TURISMO, 2018). Dessa forma, a cidade de Campo Grande, que atualmente tomou proporções e dimensões de uma grande metrópole, é considerada o maior centro econômico, social e cultural do estado, portanto são desenvolvidas algumas segmentações do turismo na localidade como, por exemplo, o turismo de eventos e de negócios, assim como também o turismo rural, cultural entre outros. Para a efetividade da atividade, a capital dispõe de uma infraestrutura hoteleira, centro de convenções, bares e restaurantes tradicionais, entre outros instrumentos do qual o turismo se apropria para o seu desenvolvimento. Observa-se, inicialmente, que a atividade turística para seu exercício pleno necessita ser planejada, regulamentada, ordenada e gerida para que

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os impactos da visitação e operação não sejam maléficos aos destinos indutores e emissores. Embasado nesta premissa e no contexto turístico da cidade de Campo Grande, o presente trabalho discursou sobre o Cadastro dos Prestadores de Serviços Turísticos-Cadastur. Com o objetivo de entender a função do Cadastur de modo geral, seu panorama na cidade de Campo Grande/MS e, por fim, os benefícios do programa do Ministério do Turismo-MTur para os Meios de Hospedagem-MH no município, este trabalho buscou solucionar as seguintes indagações: quais são os benefícios do Cadastur? Os benefícios propostos pelo programa são efetivos para os Meios de Hospedagem de Campo Grande/MS? 2 METODOLOGIA Para realização deste artigo, foi utilizada inicialmente uma pesquisa bibliográfica exploratória em livros, artigos científicos, sites, monografias e revistas que abordassem sobre os temas de políticas públicas para o turismo, planejamento turístico, gestão e organização da atividade turística e demais temas verticais necessários para desenvolvimento das discussões propostas. Também se utilizou de uma pesquisa documental em leis, decretos, portarias e cartilhas sobre o Cadastro dos Prestadores de Serviços Turísticos-Cadastur a fim de entender suas metas, objetivos, operação, benefícios e formatação em âmbito nacional, no estado do Mato Grosso do Sul e em Campo Grande. Deve-se acrescentar que a observação participante e experiência empírica dos autores também foi empregada neste trabalho uma vez que os mesmos estiveram presentes em Campo Grande em maio de 2018 e possuem experiências anteriores com o Cadastur. Salienta-se que durante a visita à Secretaria de Meio Ambiente, Produção e Agricultura do estado do Mato Grosso do Sul, em maio de 2018, os autores puderam absorver informações e dialogar com os gestores do FUNDTUR, PRODETUR/MS e Cadastur/MS que elucidaram algumas questões sobre os programas e, em especial, a coordenadora regional do Cadastur, Dinair Marques, que, na ocasião, respondeu às perguntas dos autores que foram empregadas neste artigo. Por fim, com o intuito de evidenciar a efetividade dos benefícios propostos pelo Cadastur, foi realizada uma consulta, por meio de um formulário online na plataforma do Google Forms, aos 67 Meios de Hospedagens cadastrados em Campo Grande/MS.

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Do montante dos empreendimentos cadastrados, obteve-se 9 respostas que auxiliaram na compreensão inicial dos benefícios e efetividades do programa. As consultas foram feitas via e-mail e os empreendimentos eram convidados a responder anonimamente um formulário online disponível na plataforma do Google Forms que continha questões sobre quais benefícios já haviam sido utilizados e oferecidos aos Meios de Hospedagem e quais as vantagens do Cadastur, com perguntas abertas e fechadas. 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO

PARA O

Observa-se que, nos últimos anos, o turismo vem assumindo um importante papel para a dinamização e o desenvolvimento econômico dos municípios. Por conta disso, algumas políticas públicas, com o intuito de incentivar a incorporação de atividades turísticas a nível municipal, federal e estadual, foram e são instituídas. Por políticas públicas, entende-se que: [...] seriam as intervenções realizadas pelo Poder Público, instituições civis, entidades privadas e grupos comunitários, com o objetivo de atender a população nas suas necessidades materiais e simbólicas, garantindo-lhes acesso ás mesmas, para que seja alcançada maior e melhor qualidade de vida não só para os grupos hegemônicos, mas também- e em especial para os excluídos por razões econômicas, sociais e culturais, etárias ou de gênero, dentro do respeito do direito à diferença. (GASTAL; MOESCH, 2007, p. 39) Os autores também mencionam que as políticas públicas são um “conjunto de ações que objetivem construir o controle social sobre bens, serviços e obras públicas, de modo que estes sejam desfrutados de maneira efetiva por toda a sociedade. Assim, as políticas públicas se caracterizaram pela democratização do usufruto do bem” (GASTAL; MOESCH, 2007, p. 40). Quando se menciona o usufruto do bem, é possível entender as políticas públicas pela concepção de ações que visam suprir as questões básicas sociais, bem como acesso ao lazer, saúde, trabalho, educação, segurança e outros assuntos. Entende-se políticas públicas de turismo, de acordo com Beni (2008, p. 95), como “orientações específicas para a gestão diária do turismo, abrangendo

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os muitos aspectos operacionais da atividade”, ou seja, a política de turismo deve estar não só voltada para o desenvolvimento do setor, mas ser compreendida dentro de um contexto mais geral de uma política de desenvolvimento. Segundo Brancaleon (et al. 2015, p. 2), existem alguns modelos de políticas públicas, o autor elenca quatro categorias. As políticas públicas distributivas “[...] não consideram a limitação dos recursos públicos e buscam privilegiar não a sociedade como um todo, mas uma parcela da população. Um risco iminente advindo das políticas distributivas é a ocorrência do que conhecemos como clientelismo, Assistencialismo etc.” (BRANCALEON; et al, 2015, p.2), um exemplo disso é a doação de cadeira de rodas para portadores de mobilidade reduzida e outros. As políticas públicas redistributivas “por meio destas é que se alocam bens ou serviços a segmentos específicos da sociedade mediante recursos que são extraídos de outros grupos específicos” (BRANCALEON; et al, 2015, p. 3), um exemplo que podemos citar nessa categoria são os programas sociais, como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida. Sobre as políticas públicas regulatórias, segundo autor, “[...] as políticas regulatórias conformam-se em ordens e proibições, decretos e portarias” (BRANCALEON; et al, 2015, p. 3), um exemplo dessa categoria é a limitação de venda de alguns produtos, código de trânsito e etc. A última categoria pode ser entendida pela ideia de Rua e Romanini (2013, p. 47), que dissertam que: Políticas Constitutivas ou Estruturadoras: Aquelas que consolidam as regras do jogo político. São as normas e os procedimentos sobre as quais devem ser formuladas e implementadas as demais políticas públicas. Ex.: regras constitucionais diversas, regimentos das Casas Legislativas e do Congresso Nacional, etc. Gastal e Moesch (2007, p. 42) defendem que uma política pública aplicada ao turismo deve se ater ao universo multissocial do turismo, ou seja, com a preocupação em atender com equilíbrio os interesses da comunidade local, iniciativa privada e do poder público. Além disso, essas políticas devem objetivar a democratização do turismo, possibilitando o acesso ao lazer e à hospitalidade a todos, independentemente de classes e papéis sociais. Dias (2003, p. 121) considera que as políticas públicas constituem um “conjunto de ações executadas

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pelo Estado, enquanto sujeito, dirigidas a atender às necessidades de toda a sociedade”. São formadas por “linhas de ação que buscam satisfazer ao interesse público e têm que estar direcionadas ao bem comum” (DIAS, 2003, p. 121). As políticas públicas são necessárias para o planejamento e execução de projetos turísticos, pelo fato de estabelecer diretrizes específicas a serem cumpridas a longo e médio prazo. De acordo com Bezerra (2003, p. 05): “as políticas públicas de turismo são recursos que devem ser utilizados para que a atividade turística venha a ser planejada de forma coerente e eficaz”. Assim, o planejamento pode ser entendido, segundo Holanda, como a “aplicação sistemática de conhecimento humano para prever e avaliar cursos de ação alternativos com vistas à tomada de decisões adequadas e racionais, que sirvam de base para ação futura” (HOLANDA, 2005, p. 36). Já para Boiteux e Werner (2002, p. 66), o planejamento turístico pode ser entendido como: [...] um instrumento de gestão de determinado espaço e a otimização dos recursos disponíveis num território, levando-se em conta que o turismo pressupõe uma confluência de diversas áreas do saber integradas para alcançar a excelência na prestação de serviço favorecendo a continuidade de um processo de personalização e diferenciação da oferta turística, e possibilitando o nascimento de uma realidade própria e convincente. Conforme mencionado pelos autores, o planejamento é uma ferramenta que busca a otimização dos recursos, preparo, avaliação e averiguação da viabilidade de determinada ação. Em exemplos claros, o planejamento pode ser um instrumento que estude as potenciais falhas de um evento obtendo como intuito promover o seu sucesso. O planejamento pode ampliar os resultados obtidos, pode minimizar os danos, criar uma experiência adequada e outros atributos. (GONÇALVES, MORAES, INFANTE, 2018) Para Pires (2004, p.18), quando não há um planejamento da atividade turística, podem ocorrer duas reações do impacto negativo da ação dos visitantes na comunidade, uma é a rejeição do visitante pela comunidade e, consequentemente, uma rejeição na atividade turística na localidade, a outra é a adoção da comunidade aos costumes e hábitos dos visitantes e, em consequência, a negação da sua identidade. O desenvolvimento do turismo em uma comunidade deve ser apoiado em um tripé, que

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envolve desenvolvimento econômico, social e preservação ambiental, gerando, dessa forma, um ciclo de sustentabilidade (PORTUGUEZ et al, 2006, p. 127). Sendo assim, subentende-se que a atividade turística deve ser estudada e planejada de determinada forma que vise à diminuição dos impactos negativos e ao aumento dos impactos positivos da atividade. Assim, visualiza-se a necessidade do planejamento, segundo Molina e Rodríguez (2001, p.13): “[...] pode-se afirmar com segurança que o planejamento continua sendo, e será uma estratégia e um instrumento valioso para orientar o sistema turístico, ainda quando se consolide a economia aberta e se liberem muitos processos sociais e culturais [...]”. Barreto (2005, p.31) diz que “planejamento é uma atividade; não é algo estático [...]. Sendo um processo dinâmico, está em permanente revisão e sofre muitas correções de rumo. Exige um repensar constante, mesmo após a concretização dos objetivos”. Assim, devido a esse caráter dinâmico do ambiente, bem como à alteração das condições iniciais, torna-se necessário o planejamento constante para que o objetivo estipulado inicialmente seja alcançado e que, mesmo após a conclusão de um projeto, novas atividades sejam planejadas e almejadas. Salienta-se que a teoria é essencial para que seja possível nutrir o meio prático com um aporte teórico, tendo embasamentos nas experiências e pesquisas realizadas durante a formação da teoria e que, por sua vez, foi capaz de mensurar as possíveis falhas que a sua aplicabilidade poderia ocasionar e, assim, prever e planejar medidas para driblar as potenciais intempéries. Segundo Molina e Rodríguez (2001, p.81), “planejar, em seu sentido mais amplo, implica a identificação de uma série de variáveis com o objetivo de adotar um rumo de ação que, baseado nas análises científicas, permite alcançar os objetivos e metas que foram expostos anteriormente [...]”. A partir da citação, torna-se possível delinear que o planejamento da atividade turística é essencial para orientar o sistema turístico como um todo e que o planejamento realizado por um profissional que domina o conhecimento dos campos teóricos e práticos é essencial para o sucesso das ações e programas. Desse modo, por meio dos conceitos supracitados, entende-se o Cadastur como uma de muitas políticas públicas de ordenação do serviço turístico e um instrumento vital para o planejamento e gestão da atividade turística em nível municipal, estadual e federal, uma vez aplicado e gerido em sua plenitude.

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4 O CADASTRO TURÍSTICOS

DOS

PRESTADORES

DE

SERVIÇOS

Conforme observado nos outros itens, tornou-se possível observar quais são os benefícios ofertados pelo Cadastur aos prestadores de serviços cadastrados junto ao Ministério do Turismo. Em consulta ao site do Cadastur, em maio de 2018, observou-se que existiam 67 Meios de Hospedagem cadastrados. Já no Plano Municipal de Turismo de Campo Grande 2017-2018 foi mencionado a existência de 62 empreendimentos hoteleiros e 7.155 leitos no município para uso dos viajantes (SECTUR, 2017, p. 20). A pouca diferença entre o número de empreendimentos em 2017 e os visualizados em maio de 2018 mostra que há uma porcentagem elevada de Meios de Hospedagens cadastrados na MTur, diferentemente de outras realidades vivenciadas nos municípios brasileiros. No entanto, durante as pesquisas, os autores se depararam com o Boletim n.1 do Observatório de Turismo do Mato Grosso do Sul, referente a janeiro, fevereiro e março de 2018, que expõe dados contraditórios ao observado no site do Cadastur e no Plano Municipal de Turismo de Campo Grande. Segundo o Censo Hoteleiro exposto no Boletim, em Campo Grande, há 45 Meios de Hospedagem cadastrados, totalizando 3.060 unidades habitacionais e 6.400 leitos. No estudo, a cidade ocupa a segunda posição do ranking e, em primeiro lugar, está o município de Bonito, com 48 Meios de Hospedagem no Cadastur (FUNDTUR, 2018, p.9). A divergência desses dados nos trouxe alguns questionamentos, pois todos são provenientes de plataformas confiáveis e a variabilidade de um mesmo dado acaba dificultando que gestores planejem o turismo de forma eficiente e estratégica. Além disso, a falta de consonância pode ocasionar o não investimento de empresários no turismo e muitas outras problemáticas inerentes ao planejamento e ao diagnóstico da real oferta turística. Dos 67 Meios de Hospedagem contatados, somente 9 responderam o formulário online. No formulário, a segunda pergunta questionava se o “O empreendimento já participou de algum programa e/ou projeto do Governo Federal?”. E todos os respondentes afirmaram que não participaram de quaisquer programas e projetos. Segundo o site oficial do Ministério do Turismo existem 10 programas e ações, sendo eles: Programa de Regionalização do Turismo; Programa Regional de Turismo-PRODETUR; Investimentos; Cadastur; Pronatec Turismo; Turismo Responsável; Campanhas

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Promocionais; Agenda de Eventos; e, Turismo com Música. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2018) Deve-se salientar que mesmo o empresário não observando diretamente a eficácia desses programas supracitados há uma interferência indireta de alguns deles no desenvolvimento turístico. Por meio do Prodetur Nacional-MS, por exemplo, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura FamiliarSEMAGRO, realizou inúmeras obras de infraestrutura e, em especial há dois documentos importantes para o turismo: O Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável- PDITS/Polo Campo Grande e Região, que tem como escopo: O PDITS configura-se como um instrumento de planejamento do turismo no Polo Campo Grande e Região. Para tanto, serão apresentadas informações atuais da situação da região e da atividade turística nela desenvolvida, delineando estratégias, ações e prioridades em variados horizontes temporais para o desenvolvimento integrado e sustentável da atividade no Polo Campo Grande e Região, seguindo o novo modelo instituído pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento/Ministério do Turismo, o Regulamento Operacional do Programa de Desenvolvimento do Turismo Nacional, as diretrizes de desenvolvimento do Estado de Mato Grosso do Sul e dos municípios que compõem o polo. (AGRICON, 2012, p. 20) E também o Plano de Marketing- Polo Campo Grande| Caminho dos Ipês que faz parte de um documento estratégico que tem em vista “orientar a gestão pública e iniciativa privada quanto à promoção e comercialização do destino Campo Grande e Região Caminho dos Ipês, buscando a sua diferenciação e ampliação da sua competitividade no mercado turístico nacional e internacional” (FUNDTUR, 2017, p. 8). No entanto, analisando essas políticas públicas e ferramentas utilizadas para o planejamento urbano e turístico de Campo Grande pela ótica de prestadores de serviços cadastrados e não cadastrados no Ministério do Turismo, observa-se que os benefícios indiretos são os mesmos. Um exemplo claro é que quando o poder público realiza uma campanha de marketing, revitaliza logradouros públicos, constrói praças e outras ações, os beneficiados não são somente

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os que seguem os preceitos legislativos, mas todo o trade turístico regular ou irregular. A terceira pergunta do formulário refletia se “O empreendimento já participou de algum programa de Qualificação?”. Somente 1 empreendimento afirmou que participou de alguma qualificação por meio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas-SEBRAE. Nesse ponto, observa-se que o SEBRAE presta consultoria para as empresas e municípios independentemente do Cadastur e cursos de qualificação à distância (EAD) podem ser acessados na plataforma gratuitamente e sem requisitos jurídicos. A quarta pergunta do formulário questionava se “o empreendimento já teve acesso a financiamentos?”, e dois deles informaram que já obtiveram financiamentos pelo Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste- FCO Empresarial, que é “uma linha de crédito com prazos, limites e encargos financeiros diferenciados, destinada a empresas que se dedicam a atividade produtiva nos setores industrial, agroindustrial, mineral, de turismo, de infraestrutura econômica e de comércio e serviços na região Centro-Oeste” (BANCO DO BRASIL, 2018) Não se sabe ao certo se o financiamento restringe-se somente aos presentes no Cadastur, mas .tendo em vista a exigência legal do cadastro, entendese que esse seria um dos benefícios reais a serem ofertados aos prestadores de serviços regularizados. A quinta pergunta questionava se “o empreendimento já participou de feiras, eventos e ações do Ministério do Turismo?”, e somente um empreendimento respondeu positivamente, mencionando que havia participado da Equipotel. No entanto, o evento não é organizado pela MTur, mas sim pela Reed Exhibitions Alcantara Machado e a Equipotel aluga os espaços para os expositores (EQUIPOTEL, 2018). A 1º e 6º perguntas do formulário foram abertas. Em relação à 1º, que questionava “Para você, o que motivou o cadastro no empreendimento no CADASTUR?”, os entrevistados responderam que: -Campanha de cadastro de Campo Grande. -Ser mais um número para o governo e talvez aparecer em alguma estatística. -Fomos solicitados a fazer o cadastro. -Necessidade da lei -Novas oportunidades -Porque é mais uma forma de divulgar a empresa. -Por ser obrigatório -Foi a própria secretaria de turismo quem nos orientou obrigatoriedade?

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Por meio das respostas, é possível observar que somente dois empreendimentos se cadastraram pelo fato de acreditar que o Cadastur poderia trazer novas oportunidades e benefícios para empresa e os demais somente se cadastraram por obrigatoriedade ou pelo fato das campanhas de cadastro em Campo Grande. O Cadastur expõe que um de seus benefícios é a “visibilidade nos sites do Cadastur e do Programa Viaje Legal” (FUNDTUR, 2018), no entanto, em consulta ao site Viaje Legal, não foram encontrados quaisquer informativos sobre os hotéis cadastrados em Campo Grande, há somente uma recomendação de utilizar prestadores de serviço cadastrados no Cadastur e o redirecionamento para a plataforma. O site do Cadastur, por sua vez, somente expõe alguns dados sobre os cadastrados na categoria de Meios de Hospedagem, como, por exemplo: nome da empresa, nome do proprietário, endereço, telefone e site. De forma geral, o site expõe uma ficha técnica sobre o empreendimento e deixa a desejar quando mencionamos a ótica do turista, que precisa de fotos, ilustrações, e-mail e outros elementos para realmente escolher o MH. A 6º pergunta questionava: “Para você, quais são os Benefícios do CADASTUR?”, e as respostas foram: -Só cadastrei nosso hotel por existir uma lei, mas nunca observei nenhum benefício -Por enquanto não vi nenhum, os pequenos são marginalizados e não conseguem participar de nenhum benefício. -Nenhum foi oferecido ao nosso empreendimento -Não tive nenhum benefício -Visibilidade e informações atualizadas. -A divulgação nos postos de atendimento. - Até agora não tive benefício. -Acredito que serão inúmeras, como dito anteriormente, fizemos o cadastro recentemente, mas as expectativas nos alegram muito! -Desconheço a finalidade Dos 9 respondentes, somente 3 foram positivos quantos aos benefícios do Cadastur, e um deles possui o cadastro recente na plataforma e ainda não pôde vivenciar a política pública e se existe uma eficácia ou não.

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CONCLUSÃO A partir da pesquisa realizada com os 67 empreendimentos turísticos, sendo que apenas 9 responderam, pode-se observar que, para a maioria dos empreendimentos cadastrados no setor de meios de hospedagem não estão claras as informações quanto aos benefícios que estes obtêm pelo seu cadastramento. As respostas, em sua maioria, confirmam as premissas de que os benefícios propostos pelo Cadastur não são efetivos e, assim, o cadastro acaba sendo somente uma obrigação legal. Tal afirmação pode ser constatada quando somente 9 estabelecimentos de Alimentos e Bebidas estão no Cadastur em Campo Grande, e o Plano Municipal de Turismo afirma que existem 1.044 restaurantes e 861 lanchonetes (SECTUR, 2017, p. 20). Mesmo possuindo uma amostragem reduzida, pode-se perceber inúmeras problemáticas do programa Cadastur e de suas políticas públicas. A baixa efetividade da política pode ocasionar um descrédito das ações governamentais no turismo e impactar na obtenção de recursos, planejamento e promoção da atividade turística por parte da iniciativa privada e pública. Deve-se considerar que a problemática do Cadastur não está somente no poder público que não oferta os benefícios do programa e não divulga aos turistas a existência de um site e uma legislação no turismo, mas também dos próprios empresários que não procuram obter mais informações sobre os caminhos e veículos de obtenção de recursos, visibilidade, capacitação e etc. Ou seja, quando mencionamos o planejamento da política pública Cadastur, turistas, iniciativa privada e iniciativa pública não fazem o uso e a gestão correta desse veículo vital para o ordenamento, promoção e planejamento da atividade turística em âmbito nacional, estadual e municipal. REFERÊNCIA AGRICON. O Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável-PDITS/Polo Campo Grande e Região. 2012. Disponível em http://www.semagro.ms.gov.br/prodetur/&gt. Acesso em: 20 Set. 2018. BANCO DO BRASIL. Foco Empresarial. Disponível em: http://www.bb.com.br/pbb/paginainicial/empresas/produtos-e-servicos/credito/financiarum-investimento/fco-empresarial. Acesso em: 20 set. 2018.

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ECONOMIA SOLIDÁRIA E TURISMO: UMA EQUAÇÃO MERCADOLÓGICA VIÁVEL¹ ANDRE, AMANDA OTILIA GALENO, BEATRIZ GOMES PINHEIRO VIOLIN, FÁBIO LUCIANO amanda.otilia@unesp.br, beatriz.galeno@unesp.br, fabio.violin@unesp.br 1 Pesquisa

de Campo. Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional (UNIDERP), Professor Assistente Doutor do Curso de Turismo, Universidade E stadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO - A prática da Economia Solidária vem se expandindo nos últimos tempos no Brasil como uma nova forma do desenvolvimento econômico. Ela proporciona uma economia voltada para as práticas sociais e ambientais. Com esse novo cenário, o turismo se utiliza da economia solidária para contribuir com novos segmentos da atividade, como o Turismo Alternativo, uma prática na qual o turista procura uma nova experiência. Dentro desse campo, surge o Turismo Voluntário ou Volunturismo, atividade que proporciona não só a experiência pessoal, como também contribui para o desenvolvimento de uma localidade por meio de ações voluntárias. Assim, o presente trabalho teve como objetivo tratar ambos os assuntos inicialmente separados e como as duas práticas possuem características semelhantes. Além de uma análise de dados de como a Economia Solidária está distribuída no Brasil. Palavras-chave: Economia Solidária, Turismo Alternativo, Turismo Voluntário. ABSTRACT - The practice of Solidary Economy has been expanding lately in Brazil as a new form of economic development. It provides an economy focused on social and environmental practices. With this new scenario, tourism uses the solidary economy to contribute to new segments of the activity, such as Alternative Tourism, a practice in which tourists looking for a new experience. Within this field, the Volunteer or voluntarism Tourism arises, the activity did not expand more as an initiative to develop a project of a city through voluntary actions. Thus, the present study aimed to address both subjects initially separated and how their practices have similar characteristics. In addition to an analysis of data on how Solidarity Economy is distributed in Brazil. Key words: Solidary Economy, Alternative Tourism, Volunteer Tourism.

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1 INTRODUÇÃO O turismo é um fator extremamente importante para a economia e para as comunidades envolvidas, já que o mesmo pode trazer um desenvolvimento ao local. Além disso, como define a Organização Mundial do Turismo – OMT (2001, p. 38), “o turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras”. Diante disso, a atividade turística está ligada diretamente com a sociedade e, por esse motivo, encontra-se em constante transformação, principalmente para atender demandas que surgem a partir de uma necessidade, já que a mesma lida com as expectativas. Desse modo, o turismo se apropria de novos serviços, como a Economia Solidária, atividade que proporciona o desenvolvimento econômico de forma sustentável. Com todo o avanço que o turismo já alcançou e continua alcançando, novos segmentos surgem, dentre eles, encontra-se o turismo voluntário ou volunturismo, atividade que proporciona o lazer da viagem ao indivíduo, além de desenvolver ações voluntárias para uma comunidade, meio ambiente e outras áreas. O presente trabalho teve como propósito abordar a definição da Economia Solidária, seu desenvolvimento, as suas principais características e como a mesma motivou o progresso de outras áreas envolvendo o turismo, que proporcionou novos modelos inovadores de empreendimentos e tornou possível o desenvolvimento de outros segmentos. Este artigo se dividiu em quatro capítulos, a fundamentação teórica apresentou os conceitos de Economia Solidária e Turismo Voluntário, em seguida a metodologia que deu o embasamento para o terceiro capítulo, que se referiu a uma análise de dados acerca da distribuição da Economia Solidária no Brasil, e, por fim, as considerações finais. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Economia Solidária A Economia Solidária é uma prática que vem se consolidando. Ela busca formas alternativas e é fundamentada em valores mais humanos, como uma opção para o desenvolvimento econômico que está ligada diretamente com práticas sociais e ambientais, além de ser uma forma mais sustentável de busca-lo. Ela também pode ser compreendida como

[...] uma nova maneira de nomear, conceituar e interconectar muitos tipos de valores econômicos transformadores, práticas e instituições que existem em todo o mundo. Ela inclui, mas não é limitada pelo consumo socialmente responsável, trabalho e investimento; cooperativas de trabalhadores, consumidores, produtores e credores; empreendimentos solidários, sindicatos progressistas, empreendimentos comunitários, microcrédito e cuidado com o trabalho não pago. A economia solidária trata ainda de unir essas diferentes formas de economia transformadora numa rede de solidariedade: solidariedade com uma visão compartilhada, solidariedade com a troca de valores, a solidariedade com os oprimidos (GADOTTI, 2009, p. 24). O diferencial que a Economia Solidária traz é que a mesma não atua somente em questões voltadas para a economia. Diante disso, Gadotti (2009, p. 24) afirma que: A economia solidária respeita o meio ambiente, produz corretamente sem utilizar mão de obra infantil, respeita a cultura local e luta pela cidadania e pela igualdade. A economia solidária implica comércio justo, cooperação, segurança no trabalho, trabalho comunitário, equilíbrio de gênero e consumo sustentável (produzido sem o sofrimento de pessoas ou de animais). Além disso, a margem de lucro é discutida coletivamente entre o produtor e o vendedor. O que cada um ganha é discutido coletivamente. A economia solidária envolve pessoas comprometidas com um mundo mais solidário, ético e sustentável. A Economia Solidária, diferentemente dos outros meios de buscar o desenvolvimento econômico, não força o indivíduo a cooperar, uma vez que esta ação é voluntária. Além disso, ela aproxima o consumidor do produtor. Uma das razões para o surgimento da Economia Solidária se dá pelo desemprego ou ainda pelo senso de necessidade além de figurar como “[…] forma de inclusão social dos de “fora” do mercado formal e dos

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trabalhadores afetados pelas políticas neoliberais da década de 1990” (SINGER, 2002 apud LIMA, 2016, p. 61). Ela trouxe valorização para aqueles que são considerados inadequados e que são excluídos do mercado. Essa vertente tem no trabalho coletivo e solidário seu propósito maior, promovendo, assim, o bem comum e o desenvolvimento social, além de se ocupar do desenvolvimento sustentável. A Economia Solidária influenciou vários campos do saber, entre eles, o turismo, uma vez que motivou novas formas de meios de hospedagem, alimentos e bebidas, logística, entre outros. Ações como o Coaching Surfing; coletivos de arrecadação de dinheiro para projetos, vilas comunitárias, hortas comunitárias rurais e urbanas, brechós sociais e tantas outras iniciativas apontam para alterações nos padrões de consumo e utilização de bens e serviços, apresentando-se em volume crescente. Por ser uma atividade social, o turismo vem se desenvolvendo em vários âmbitos e gradualmente se torna uma atividade diversificada, atendendo, assim, um público cada vez mais específico. Dentro disso, um dos novos segmentos que vem se destacando é o turismo alternativo. Uma das vertentes que compõe o turismo alternativo é o turismo voluntário (Barbieri et al., 2012), definido como uma atividade que envolve viagem, prazer e recreação, com o trabalho voluntário em benefício de uma determinada comunidade ou grupo social (Wearing, 2001; Rayomnd, 2008; Barbieri et al., 2012; Mcgehee, 2014). (ALMEIDA; CASOTTI, 2016, p. 539). Diante disso, será abordado o turismo voluntário, seus aspectos, origens e seus benefícios. Além da relação do mesmo com a economia solidária. 2.2 Volunturismo Para compreender a noção do turismo voluntário, ou volunturismo, é preciso que, primeiramente, entenda-se o que é ser um voluntariado. O surgimento da ação voluntária não possui uma data concreta, apenas se tem hipóteses de seu surgimento. Meister (2003, p.103), citado por Alves (2016, p.27), diz que “[…] o voluntariado surgiu no ser humano, quando este adquiriu a capacidade de sentimento. Quando passou a sentir e ver que sofrer não é bom, que podemos ajudar uns aos outros”. Assim, pode se perceber que a prática do voluntariado está presente na vida do ser humano há muito tempo, e

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a mesma, ao longo dos anos, apresentou mudanças em sua atuação e também no modo como era compreendida pela sociedade. Diante disso, pode se ter como uma ação voluntária o programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV), desenvolvida pela Organização das Nações Unidas – ONU, que colabora para o progresso do mundo pelas ações voluntárias. O voluntariado é um poderoso meio de envolver as pessoas na luta contra os desafios do desenvolvimento, e pode transformar o ritmo e a natureza do desenvolvimento. Os benefícios do voluntariado tanto para a sociedade tanto como para cada voluntário, sente-se através do reforço da solidariedade, confiança e reciprocidade entre os cidadãos, criando oportunidades de participação. (UNITED NATIONS VOLUNTEER, 2011 apud MAKENSE; ALMEIDA, 2014, p. 37) Desse modo, entende-se como voluntariado a prática de uma atividade não remunerada, que o “[…] indivíduo se dispõe a oferecer ou prestar um serviço por vontade própria, visando o benefício de terceiros.” (MAKANSE; ALMEIDA, 2014, p. 37). A definição elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU) declara o voluntário como “[…] jovem, adulto ou idoso que, devido a seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração, a diversas formas de atividades de bem estar social ou outros campos.” (ONU, 2016). Por meio dessa atividade, pode-se ter uma contribuição nas ações sociais e políticas, sendo de grande representatividade a esses setores, por meio de inovações, e, é claro, da prática da cidadania. (MAKANSE; ALMEIDA, 2014, p.37). Portanto, o “[…] trabalho voluntário tem a capacidade de acrescentar valores e sentido à vida do participante, além de promover a oportunidade de se conquistar novas competências e novos conhecimentos.” (MAKANSE; ALMEIDA, 2014, p.37). Ela pode ocorrer em diversas áreas, como no meio ambiente, cultura, esporte, lazer e educação, e podendo “[…] ser realizada na localidade de moradia do participante, como em seu bairro e/ou em sua cidade, como também em outros estados ou outros países, com pessoas de diferentes origens e nacionalidades.” (MAKANSE; ALMEIDA, 2014, p. 38). Assim, por meio do desenvolvimento do trabalho voluntário, surgiu o Volunturismo, atividade

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que emerge do Turismo Alternativo, em que o turista está à procura do novo, do diferente e, como consequência, acarreta em novas formas de meios de hospedagem, de roteiros e um contato maior com a comunidade local. Sendo assim, O Turismo Alternativo, na sua essência, promove um mundo sustentável que reduz o impacto nas comunidades anfitriãs e nos seus meios ambientes. Através de infra-estruturas turísticas de pequena escala, procura estabelecer laços de solidariedade entre os turistas e os locais, promovendo um maior controlo da indústria turística pelos mesmos. (CAPANIÇO, 2010, p.6) O surgimento do Turismo Voluntário não possui um momento concreto na história, acredita-se que ele tenha se desenvolvido por volta da década de 80 (MENDES; SONAGLIO, 2013). Há quem diga que o turismo voluntário foi “inventado” pelo pesquisador francês Jacques Cousteau, lá na década de 1980. Como não dispunha de muita verba para contratar ajudantes para suas expedições, o velho lobo-do-mar resolveu abrir vagas para quem se dispusesse a trabalhar de graça pelo simples prazer de experimentar fantásticas aventuras a bordo do Calypso pelos sete mares. (CAPALAS JUNIOR, 2010 apud MENDES; SONAGLIO, 2013, p. 192). Com o surgimento dessa nova modalidade do turismo, novos adeptos foram surgindo, como também produções acadêmicas e pesquisas a respeito do assunto, entretanto, em nível nacional, são poucas as produções que abordam o tema. Mas, Mostafanezhad (2014 apud SANTOS, 2016, p. 191) afirma que “[…] o turismo voluntário tornou-se um dos mercados de mais rápido crescimento do nicho turístico no mundo”, e um dos fatores para isso ocorrer é pelo reconhecimento que as pessoas estão tendo em relação aos problemas sociais que afetam o mundo, e assim também gerando novas produções acadêmicas. Percebe-se que o Volunturismo possui características próprias, ele “procura, na sua essência, oferecer aos turistas voluntários uma experiência que contribua não só para o seu desenvolvimento pessoal, como também para o desenvolvimento social, natural e económico da comunidade local” (CAPANIÇO, 2010, p.11).

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O conceito que se tem a respeito do Turismo Voluntário se difere do que é voluntariado, ele “[…] é a combinação integrada do serviço voluntário para um destino com os elementos tradicionais de viagens e turismo” (SOUZA; BARCELOS; LAMAS, 2018, p. 36), ou seja, ele é [...] uma prática em que turistas viajam para voluntariar durante feriados e férias, em ações de curto prazo, que envolvem contribuições para o alívio e diminuição da pobreza de grupos sociais em situação de fragilidade, e apoio na restauração e manutenção do meio ambiente. (WEARING, 2001 apud ALMEIDA; CASOTTI, 2015, p. 533). Por meio da prática dessa atividade, a mesma provoca no envolvido “[…] mudanças de valores, consciência social, visão de mundo e estilo de vida.” (ALMEIDA; CASOTTI, 2015, p. 541), além de promover o desenvolvimento coletivo. Todavia, para que a atividade turística proposta ocorra de maneira adequada, é necessário que a mesma seja planejada corretamente, como também que profissionais capacitados estejam presentes para a sua prática, auxiliando o turista e o orientando de como o mesmo deve se portar diante das situações que ele irá presenciar. Assim, faz-se necessário, também a preparação do turista, para que impactos negativos como “o negligenciar dos interesses das comunidades locais; interferência nas economias locais; redução de oportunidades de trabalho para os residentes e reforço da sua dependência externa; alterações da cultura local; entre outros” (LIMA; DEVILE; MORAIS; SIMÕES; MIRA; GOMES, 2017, p. 130), não ocorram. Diante dos temas apresentados, Santos (2016) afirma que “o homem faz parte de um ciclo que o obriga a produzir para que ele permaneça fazendo parte de uma sociedade que o afasta de seus semelhantes, mas que, no entanto, o aprisiona aos bens e serviços.” Assim, a Economia Solidária e o Volunturismo surgem como alternativas para o desenvolvimento de comunidades que foram desprezadas socialmente por não contribuírem com esse ciclo. Eles permitem que esse desenvolvimento seja realizado de maneira mais sustentável e solidária, uma vez que seus objetivos são “[...] fazer o bem para a comunidade e manter a geração do valor social como mais importante do que a geração do valor econômico. A economia é antes de mais nada um meio de se atingir objetivos primários, sociais, culturais e ecológicos.” (BIRKHÖLZER, 2012 apud SANTOS, 2016, p. 30).

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Devido à preocupação que o turismo voluntário expõe com o desenvolvimento sustentável, o trabalho coletivo e solidário e outros, as suas práticas se assemelham com as da Economia Solidária, uma vez que ambos operam em prol do bem comum dos envolvidos. Dessa forma, programas de voluntariado possuem alguns aspectos da economia solidária. Esses programas têm como alvo não só a experiência da viagem do voluntariado, mas também a realização de atividades voltadas para o benefício social, cultural e ambiental, além de desenvolver a economia do local por meio da economia solidária. Essas atividades são realizadas por intermédio, por exemplo, de ONGs que visam transformar determinada realidade. 3 METODOLOGIA Goldenberg (2011) indica que os pesquisadores que se valem dos métodos qualitativos têm seu foco na busca pela explicação do porquê das coisas, exprimindo os elementos que convém serem analisados, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas e também não se submetem à prova de fatos, considerando que os dados aferidos são nãométricos (provocados e de interação) valendo-se de abordagens diferentes. Para Bourdieu (1999), mesmo sendo parcial, um objetivo de pesquisa apenas pode ser definido e construído a partir da formulação de uma problemática que permita que o mesmo seja submetido a uma sistemática interrogação. O autor destaca ainda a necessidade de "vigilância epistemológica” em relação às condições e os limites que validam as técnicas e conceitos associados ao estudo. Tal ação visa determinar a origem lógica dos princípios envolvidos no contexto da pesquisa e as hipóteses que o cercam. A pesquisa exploratória faz parte da proposta analítica do estudo e, segundo Gil (2007), é indicada para gerar maior familiaridade com a problemática tendo o objetivo de explicitar ou construir hipóteses. Boa parte desse tipo de pesquisa pode envolver o levantamento bibliográfico, entrevistas pessoais, análise de exemplos ou ainda estudos anteriores, sendo essas pesquisas classificadas como bibliográficas e estudo de caso, conforme já indicado. A pesquisa descritiva pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade, sendo exemplos desse tipo de pesquisa o estudo de caso, a análise documental além da pesquisa ex-post-facto. (TRIVIÑOS, 1987). A natureza desse estudo, então, partiu da coleta e análise de materiais produzidos através do site

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Consumo Responsável vinculado ao Instituto Kairós. Desse modo, aponta-se que tal pesquisa é caracterizada como: [...] aquela em que os dados obtidos são estritamente provenientes de documentos, com o objetivo de extrair informações neles contidas, a fim de compreender um fenômeno [...] é caracterizada como documental quando essa for a única abordagem qualitativa, sendo usada como método autônomo (KRIPKA et al., 2015, pg. 58). Como elemento final, indica-se que a coleta de dados se deu por meio do mapa disponível no site da organização sem fins lucrativos Consumo Responsável vinculada ao instituto Kairós. Tal opção foi selecionada considerando-se o volume ainda baixo de publicações a respeito da temática. 5 ANÁLISE DOS DADOS Os dados analisados partiram da observação e contextualização do mapa referencial apresentado no Portal do Consumo Responsável vinculado ao Instituto Kairós, o qual figura como entidade civil sem fins lucrativos que busca incentivar as novas práticas de Produção, Distribuição, Comercialização e Consumo Responsáveis (PDCCR) “através da experimentação direta, da articulação de redes e políticas públicas e da produção e disseminação de conhecimentos de uma sociedade mais justa, sustentável e saudável” (CONSUMO RESPONSÁVEL, 2018). A análise, então, passou pela elaboração circunstanciada do mapa gerado pela instituição que foi baseado nos seguintes parâmetros para seu mapeamento:

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Observa-se que o volume de iniciativas de economia solidária, feiras orgânicas e especialmente as iniciativas da agroecologia apresentam os maiores volumes, porém chama-se a atenção para os restaurantes com ingredientes orgânicos, que apresentam a grande maioria de seus empreendimentos na cidade de São Paulo. Destaca-se a distribuição do mapa de modo geral:

Figura 3 – Distribuição das atividades de economia solidária Fonte: Consumo Responsável, 2018. Figura 1 – Fontes de Mapeamento Fonte: Consumo Responsável, 2018. A partir desse conjunto de elementos, aponta-se que o número de empreendidos nas categorias supracitadas é de 3368 ações, apresentando a seguinte distribuição:

Figura 2 – Distribuição das ações de consumo consciente. Fonte: Consumo Responsável, 2018.

O maior volume de atividades encontra-se nas regiões Sul, Sudoeste e Nordeste. Tal apontamento apresenta altos volumes de iniciativas em especial em São Paulo, Rio de Janeiro, considerando a observação apenas das feiras orgânicas, o mapa apresenta a seguinte distribuição:

Figura 4 – Distribuição das Feiras de Orgânicos Fonte: Consumo Responsável (2018).

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Novamente, observa-se a distribuição das Feiras de Orgânicos, indicando sua extensão no Brasil, com especial atenção ao Sudeste do país. Por seu turno, os grupos de consumo responsável apresentam pequenos volumes comparados a outras iniciativas, como segue:

Figura 5 – Distribuição dos Grupos de Consumo Responsável Fonte: Consumo Responsável (2018). Apesar de serem ainda poucos os grupos de consumo responsável, aponta-se o seu crescimento. A próxima figura trata do volume de iniciativas de economia solidária:

Figura 6 – Distribuição das Iniciativas de Economia Solidária Fonte: Consumo Responsável (2018). O volume de iniciativas apresenta-se em volume elevado, tendo representatividade em praticamente

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todo o território nacional, ainda com maior expressão nos estados do Sul, Sudoeste e Nordeste. O volume de unidades de iniciativas ligadas à agroecologia apresenta-se do seguinte modo:

Figura 7 – Distribuição de Iniciativas de Agroecologia Fonte: Consumo Responsável (2018). Essa categoria apresenta o maior volume de iniciativas, chegando a representar mais de 30% do total de unidades consideradas no cômputo da economia solidária. A antepenúltima categoria apresenta o volume de restaurantes que trabalham com ingredientes orgânicos.

Figura 8 – Distribuição de Restaurantes com Ingredientes Orgânicos Fonte: Consumo Responsável, 2018. A figura mostra o volume de unidades concentradas na cidade de São Paulo. Chama a atenção a ausência de outros estabelecimentos da mesma

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natureza não se apresentarem nessa categoria em outras localidades do país. A penúltima categoria encerra as iniciativas da agricultura urbana.

Figura 9 – Distribuição das Iniciativas de Agricultura Urbana Fonte: Consumo Responsável (2018). Novamente, observa-se a cidade de São Paulo como vanguardista ao apresentar o maior volume de iniciativas nessa categoria. O último elemento apresentado são os Coletivos Culturais, que têm apenas um representante em Novo Hamburgo no estado do Rio Grande do Sul. CONCLUSÃO A Economia Solidária tem apresentado elevada projeção de ofertas e crescente número de usuários ao redor do mundo. De modo substancial, as indicações de que tal tipo de atividade venha como contraponto ao atual modelo de negócios baseado exclusivamente no ganho capitalista tem fortalecido a noção de que pequenos(as) empresário(as), profissionais liberais, profissionais de diversas área têm atualmente a possibilidade de entrarem em ramos de atividade antes exclusivamente ocupados por detentores de capital financeiro elevado. A quantidade de ações individuais cadastradas no Brasil e apresentadas em momento anterior dão a dimensão do crescimento e da organização que tais atividades começam a apresentar. De modo explícito, observa-se que tal crescimento tem amparo direto ou indireto de associações ou grupos de interesse que pautam suas ações da venda solidária por meio da projeção em locais físicos, mas com capacidade de subsidiar informações em meios digitais como modo de projeção

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do conceito, de ideias e até mesmo de produtos e serviços associados. Em termos gerais, o número de mais de 3.000 iniciativas relacionadas à Economia Solidária no Brasil tende a ser maior, considerando a existência de iniciativas similares que não aparecem cadastradas no mapa do site Consumo Responsável. Tal site figura como importante veículo de propagação do conceito de Economia Solidária no Brasil e se presta a divulgar e projetar ideias relacionadas à temática de modo consistente e periódico. Indica-se que as ações apresentam projeção de crescimento no Brasil dado o volume ora aferido, mas que estudos vindouros podem acompanhar tal evolução tanto em termos de unidades acrescidas ou subtraídas além da sua distribuição geográfica e representatividade nas localidades em que se inserem. Diante dos dados obtidos, pode-se afirmar que as ações da Economia Solidária possibilitam o desenvolvimento do Turismo Voluntário nas localidades, uma vez que suas características se assemelham e que ambos se apoiam na sustentabilidade e na solidariedade para desenvolver suas atividades. Assim, é notável que no Brasil há oportunidade para que a prática do Volunturismo amadureça por meio da Economia Solidária. REFERÊNCIAS ALMEIDA, T.G; CASOTTI, L.M. Turismo voluntário e o bem-estar do consumidor na pesquisa transformativa do consumo. Revista Ciências Administrativas, Fortaleza, vol. 21, n. 2, p. 531-553, jul-dez 2015. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=475647149009. Acesso em: 26 de abr de 2018. ALVES, Vitor João Ramos. Patrimônio natural e turismo voluntário: ética do cuidado na relação sociedade-natureza. 2016. Dissertação (Mestrado em Turismo) -Universidade de Brasília, Brasília, 2016. BOURDIEU, Pierre. A profissão de sociólogo. Petrópolis: Vozes, 1999. CAMPANIÇO, P. A. B. Turismo de Voluntariado: a perspectiva do Voluntariado no Turismo. 2010. Dissertação (Mestrado em empreendedorismo e Serviço Social) - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2010. Disponível em:https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/2827/1/ Turismo%20de%20Voluntariado%20-

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%20a%20perspectiva%20do%20Voluntariado%20no% 20T.pdf. Acesso em: 17 set. 2018. CONSUMO RESPONSÁVEL. Mapa. 2018. Disponível em: http://mapa.consumoresponsavel.org.br/?lat=21.657428197370642&lng=-72.59765625&zoom=4#. Acesso em: 17 de set. de 2018. GADOTTI, M. Economia Solidária como Práxis Pedagógica. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: Como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. (Recurso eletrônico). Rio de Janeiro: Record, 2011. KRIPKA, R.M.L.; SCHELLER, M.; BONOTTO, D.L. Pesquisa documental na pesquisa qualitativa: conceitos e caracterização. Revista de Investigaciones UNAD, v. 14, n. 2, 2015, p. 55-73. LIMA, J. C. Economia solidária: de movimento social a política pública. In: LEITE, M. L.; ARAÚJO, A. M. C.; LIMA, J. C. O trabalho na economia solidária: entre precariedade e emancipação. São Paulo: Annablume, 2014. p. 61-86. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/301749217_I 3_Economia_Solidaria_de_movimento_social_a_politica _publica?enrichId=rgreq46caba54663766a67336d9f8b0442200 XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwMTc0O TIxNztBUzozNTY3MDAzNTI3MjkwODhAMTQ2Mj A1NTM5OTQ0MA%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publi cationCoverPdf. Acesso em: 26 abril 2018.

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LIMA, S.; DEVILE, E.; MORAIS, F.; SIMÕES, C.; MIRA, I.; GOMES, P. Os jovens e o turismo voluntário: um estudo exploratório. Éxedra Revista Científica, Coimbra, v. 02, p. 125-137, 2017. MENDES, T.C; SONAGLIO, K.E. Volunturismo: uma abordagem conceitual. Revista Turismo Visão e Ação, Eletrônica, v. 15, n. 2, p. 185-205, mai-ago 2013. MENDES, T. C.; SONAGLIO, K. E. Volunturismo: uma abordagem conceitual. Revista Turismo, Visão e Ação, Eletrônica, v.15. n. 2.p. 185-206, mai./ago 2013. Disponível em: https://siaiap32.univali.br//seer/index.php/rtva/article/v iew/3806. Acesso em: 17 set. 2018. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Introdução ao turismo. São Paulo: Roca, 2001. SANTOS, Diego Ribeiro. Hospitalidade no turismo voluntário: produção científica em língua inglesa (2000-2015). 2016. Dissertação (Mestrado em Hospitalidade) - Anhembi Morumbi, São Paulo, 2016. Disponível em: http://sitios.anhembi.br/tedesimplificado/handle/TEDE/ 1646. Acesso em: 17 set. 2018. SOUZA, P. B; BARCELOS, A. M. N; LAMAS, S. A. Turismo e voluntariado: a busca pela compreensão do volunturismo. Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v. 11, n,1, p. 32-46, fev-abr 2018. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Voluntariado. 2016. Disponível em: https://nacoesunidas.org/vagas/voluntariado/. Acesso em: 18 jun. 2018.

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RESUMOS CIENTÍFICOS

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TURISMO GASTRONÔMICO: O ACARAJÉ COMO SÍMBOLO DA RESISTÊNCIA DA CULTURA AFRICANA1 MARCOS, SHARA GABRIELI SANTOS DE OLIVEIRA2 NASCIMENTO FILHO, FRANCISCO BARBOSA3 PIMENTEL, JULIANA MARIA VAZ4

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A presente pesquisa parte de reflexões oriundas do grupo de extensão TAUR - Tons Afro Unesp Rosana. Graduanda em turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutor em Turismo e Hotelaria (UNIVALI), Professor do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 4 Doutora em Geografia, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, Mato Grosso do Sul. 2

RESUMO - A presente pesquisa parte de discussões feitas pelo grupo TAUR (Tons Afros Unesp Rosana) e tem como objetivo central analisar o acarajé como um elemento de resistência da cultura africana e como esse quitute influencia no atrativo turístico das ruas de Salvador (BA). A metodologia pautou-se em uma pesquisa de caráter exploratório, buscando referências que abordassem a temática das baianas do acarajé e a relação da comida com os elementos de ordem religiosa. Mediante as análises oriundas dos referenciais teóricos, pudemos observar que o acarajé possui estreita relação com a religião de matriz africana, e seu contexto atual atrela-se ao histórico de vivências e resistência das “negras baianas do acarajé”, já que suas identidades estão marcadas pelo mercado na escravatura. Devido a sua importância histórica como patrimônio cultural, o acarajé é mais um atrativo turístico que impulsiona o turismo na Bahia, já que, logo após ser considerado patrimônio cultural pelo IPHAN em 2005, o fluxo de visitantes no estado aumentou. Palavras-chave: Turismo gastronômico, Acarajé, Comida de santo, Resistência das baianas do acarajé.

1 INTRODUÇÃO Dentre os vários segmentos do turismo, podemos citar o turismo gastronômico como um segmento que motiva muitos turistas a visitar diferentes localidades para apreciar a gastronomia local. Nessa perspectiva, Salvador (BA) é uma das cidades do Brasil que todos os anos atrai milhares de turistas interessados não só nas suas belas paisagens naturais e no carnaval. Todos os anos turistas oriundos das mais diferenciadas regiões do país são motivados a conhecerem Salvador devido a sua riqueza cultural e também pela variedade gastronômica que envolve raízes históricas dos negros africanos que chegaram ao Brasil no período colonial. Dentre os atrativos intrínsecos à cultura baiana, podemos citar a gastronomia africana. Muitos são os pratos típicos encontrados na Bahia, e, entre eles, podemos citar: Abará, Aberém, Aluá, Quibebe, Moqueca, bobó e o famoso acarajé, bolinho muito procurado nos restaurantes e bares pelos turistas e objeto da presente discussão.

O acarajé é uma comida típica da Bahia, produzido pelas mulheres negras baianas e, em 2005, o ofício das vendedoras de acarajé foi considerado pelo IPHAN como patrimônio cultural. Nesse sentido, o presente resumo versará sobre a relação do acarajé e a luta das mulheres negras baianas como símbolo de resistência da cultura africana. 2 METODOLOGIA Para a realização da pesquisa foi utilizada a metodologia de caráter exploratório, visando encontrar referências bibliográficas, tais como: artigos científicos, livros, revistas de turismo, documentários, entre outros que abarcassem a relevância da gastronomia africana e, sobretudo, referências relacionadas ao bolinho de acarajé e ao ofício das baianas.

3 REVISÃO TEÓRICA ;

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Muitos são os aspectos culturais, sociais e religiosos a que o acarajé pode ser relacionado. Esse fato justifica-se devido ao fato de ser originário da culinária africana. Sua história está associada a questões de ordem religiosa e, atualmente, pode ser compreendida dentro da perspectiva da resistência de luta da mulher negra, principalmente, da baiana, pela sua resistência mediante a venda do acarajé. O bolinho de acarajé está imbuído de uma série de aspectos simbólicos que representam a raiz da matriz africana. Seu histórico atrela-se ao reflexo da força das mulheres negras que vendem o acarajé, tradicionalmente vestidas com roupas que representam a religião afro candomblé (ROCHA JÚNIOR, 2001). Descendentes das escravas vindas da África, a baiana, nome original das vendedoras de quitutes apimentados nas ruas de Salvador, representa o símbolo mais forte da cultura popular da Bahia. Mística, especialmente pela força e beleza da sua indumentária -saia, bata, anágua, balangandãs, sandálias, torço e adereços- mantém todo um fascínio que se confunde com a própria magia e mistério da Bahia (ROCHA JÚNIOR, 2001, p.37). O nome acarajé tem sua origem ligada à comunidade Yorubá e significa: “comer elementos de oferenda”. Esse tipo de comida era oferecido aos deuses africanos (ROCHA JÚNIOR, 2001). Como podemos verificar, esse prato carrega consigo grande ligação com a esfera religiosa, pelo fato de se tratar de um tipo de “comida de santo” ou oferenda, como é chamado no candomblé. Existe uma lenda sobre o acarajé na qual diz que Iansã procurou Ifá, um oráculo africano, para buscar comida para o marido Xangô. O oráculo falou para a esposa que quando o marido comesse deveria contar para o povo. Ao partir, Iansã desconfiou e comeu antes de levar a ele, porém nada aconteceu. Quando chegou em casa, deu a comida a Xangô e disse as recomendações. Quando comeu foi contar ao povo e fogo saiu de sua boca. Iansã ficou nervosa e correu para ajudá-lo, mas de sua boca também saiu fogo e o povo começou a chamá-lo de grande rei de Oyó (do fogo). (A HISTÓRIA, 2015) Diante de seu contexto histórico-religioso, o acarajé foi considerado como patrimônio cultural no ano de 2005. Seu tombamento está imbuído de grande valor social e simbólico, pois, desde o seu preparo até a

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sua venda, está associado à imagem da mulher negra, transvestida da indumentária de baiana, que vende tanto o acarajé quanto o tacacá, outro prato muito conhecido entre a gastronomia baiana. O acarajé é um bolinho feito de feijão fradinho e uma de suas características marcantes é por ser reconhecido como um prato apimentado. “O acarajé é basicamente um bolinho feito a partir de feijão fradinho, frito em azeite de dendê e servido justamente com vatapá, caruru e camarão, além da pimenta” (BITTER; BITAR, 2012, p. 214). O processo de patrimonialização do ofício das “baianas do acarajé” aponta, antes de tudo, para o fato de que as baianas do acarajé e as tacacazeiras, bem como sua rede de clientes, percebem que essas práticas são dotadas de um valor social e cosmológico particular (BITTER; BITAR, 2012, p. 214). De acordo com a sua riqueza histórica e dos aspectos simbólicos ligados à identidade do negro escravo, o ofício das “baianas do acarajé” foi considerado patrimônio cultural pelo Iphan. Esse bem cultural de natureza imaterial, inscrito no Livro dos Saberes em 2005, é uma prática tradicional de produção e venda, em tabuleiro, das chamadas comidas de baiana, feitas com azeite de dendê e ligadas ao culto dos orixás, amplamente disseminadas na cidade de Salvador, Bahia (IPHAN, 2005). O acarajé ou abará, bolos feitos de feijão, por exemplo, eram envoltos em folhas de bananeira e assim comercializados. O que pode ser percebido, segundo Rocha Júnior (2001), é que o preparo do bolinho não era tarefa fácil para as mulheres que antigamente o preparavam na folha de bananeira e que para obtê-la, precisavam enfrentar grandes adversidades. A aquisição de tais folhas exigia longas excursões por matagais, onde as mulheres, armadas de faca amolada amarrada na ponta da vara, buscavam as maiores touceiras. Longas caminhadas e uma jornada de trabalho que começava antes do nascer do sol faziam parte do cotidiano dessas mulheres (ROCHA JÚNIOR, 2001, p. 38). Com relação ao trabalho das mulheres negras, ou seja, das baianas, essas eram descendentes de escravos e saiam às ruas de Salvador no fim da tarde vestidas com suas vestimentas autênticas, para vender seus quitutes apimentados para auxiliar na renda familiar. Segundo Uzel (1993, p. 15), “antigamente nas ruas de Salvador, as pretas do acarajé escolhiam um bairro a cada semana e saiam no final de tarde para mercar”. Mas nem sempre foi assim, antes as baianas não vendiam quitutes para o seu sustento, quando escravas iam em nome

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de seus senhores até os centros “representá-los” no mercado. Desde o século passado, os escravos urbanos eram usados em múltiplas atividades tais como artesão, carregadores etc. Possuíam maior liberdade de movimento, realizavam, no centro da cidade no lugar de seus senhores como escravos de aluguel ou de ganho, vendas ambulantes, daqueles quitutes que preparavam, tais como: mingaus, peixes fritos, acarajé, abará, bolos etc. (ROCHA JÚNIOR, 2001, p. 39) Sendo assim, pode-se analisar a importância que o oficio das baianas possuí, pelo fato de manifestar uma herança cultural da vida das negras escravas, fazer parte do sustento dessas mulheres e ser um instrumento econômico na vida das mesmas.

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a venda do bolinho, que traz consigo aspectos culturais, históricos e religiosos de um povo oprimido. Dessa forma, podemos considerar que os pratos oriundos da cultura africana também servem como motivação quando relacionados ao fluxo de turistas que viajam para a Bahia, pois seus atrativos gastronômicos despertam interesses nos turistas devido à diversidade e autenticidade da gastronomia africana. REFERÊNCIAS A HISTÓRIA do Acarajé: Caminhos da gastronomia. Produção: Tv Hoteleira Ribeirão Preto e Região. 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=L6_bDp9hGVc . Acesso em: 18 set. 2018. BITTER, Daniel; BITAR, Nina Pinheiro. Comida, trabalho e patrimônio. Porto Alegre, n. 38, p. 213236, 2012.

4 CONCLUSÃO A partir da presente pesquisa, podemos perceber o quão influente é a gastronomia baiana ao ser relacionada a raízes de matriz africana. No caso da Bahia, a gastronomia que possui origem africana oferece às mulheres negras produtoras e comerciantes do acarajé a oportunidade de demonstrar sua cultura por meio de um quitute autêntico como o acarajé. Esse ofício representa a resistência da mulher negra escrava que antes produzia o alimento para vender nas ruas sob a ordem dos seus senhores. Atualmente, após ser considerado patrimônio cultural pelo IPHAN, no ano de 2005, o ofício das “baianas do acarajé” tornou-se uma forma de relembrar a história dos negros mediante

ROCHA JÚNIOR, Emanuel. A baiana do acarajé no mercado informal de Salvador: Um estudo de caso. Salvador, 2001, p.8-55. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Ofício das baianas de acarajé. 2014. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/58. Acesso em: 18 set. 2018. UZEL, Marcos. Bahia faz hoje homenagem a mulher do tabuleiro. Bahia hoje, Salvador, p. 15, 25 nov. 1993.

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PROJETO DE SINALIZAÇÃO TURÍSTICA DO MUNICÍPIO DE ROSANA/SP: COMO SUA APLICAÇÃO CONTRIBUI PARA O PLANEJAMENTO DO TURISMO MUNICIPAL DE ROSANA-SP¹ BRANQUINHO, JEFFERSON2 COROCHER, JULIA2 SOARES, THIAGO PEDROSO2 BUSCIOLI, ROBERSON DA ROCHA3

jeffbranquinho@hotmail.com, juliacorocher@hotmail.com, thi.pedroso.soares@gmail.com, roberson.buscioli@unesp.br 1

Projeto vinculado à Prefeitura Municipal de Rosana Graduando(a) em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Mestre em Geografia (UFGD). Professor do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO – O projeto foi realizado por se tratar de um município de interesse turístico, onde há uma crescente demanda de visitantes, em busca de pontos turísticos, áreas de lazer, esportes aquáticos, tais como: mergulho, pescaria, natação ou simplesmente o descanso nas praias do município. O Balneário Municipal de Rosana – SP é o local mais frequentado pelos visitantes, fato que pode ocorrer devido a sua infraestrutura estar em melhores condições em relação a outros espaços. Os ambientes aquáticos do Município e as atividades desenvolvidas nesses ambientes, em sua maioria, são reconhecidos pela própria população como atrativo turístico. Desse modo, este projeto busca sinalizar esse atrativo turístico bem como os demais, de maneira correta e eficaz, para que os visitantes possam compreender a rota de viagem sem se preocupar com frustrações adversas. Palavras-chave: Sinalização Turística, Atrativos Turísticos, Gestão no Turismo.

1 INTRODUÇÃO O projeto foi realizado por se tratar de um município de interesse turístico, onde há uma crescente demanda de visitantes, em busca de pontos turísticos, áreas de lazer, esportes aquáticos, tais como: mergulho, pescaria, natação ou simplesmente o descanso nas praias do município. Diante disso, esse potencial ainda não é explorado turisticamente de maneira correta devido à falta de conhecimentos básicos sobre os atrativos e sobre as variáveis da demanda turística, o que permitiria o início das atividades de planejamento do turismo municipal, a definição do enfoque turístico a ser dado para a região e a escolha de estratégias de utilização dos recursos orçamentários e, nesse contexto, o projeto de sinalização vem para se estruturar e alavancar os potenciais turísticos dentro do município tanto na área rurais como na área urbana.

O Balneário Municipal de Rosana – SP é o local mais frequentado pelos visitantes, fato que pode ocorrer devido a sua infraestrutura estar em melhores condições em relação a outros espaços. Os ambientes aquáticos do Município e as atividades desenvolvidas nesses ambientes, em sua maioria, são reconhecidos pela própria população como atrativo turístico. Desse modo, este projeto busca sinalizar esse atrativo turístico bem como os demais, de maneira correta e eficaz, para que os visitantes possam compreender a rota de viagem sem se preocupar com frustrações adversas. A região possui grande potencial para o desenvolvimento de atividades que envolvam o turismo em áreas naturais, apesar de este potencial ainda não ser devidamente aproveitado. Por isso, notam-se limitações nas opções de lazer, que não conseguem suprir de forma satisfatória as necessidades não apenas de turistas eventuais, mas principalmente da população residente no município, a qual, em sua maioria, carece de recursos financeiros

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para sanar a necessidade de lazer em seu tempo ocioso. Desse modo, esta pesquisa abrange todo o município, orientando as pessoas a novos atrativos turísticos pela sinalização turística. Projeto que busca fazer um levantamento da sinalização turística viária do município de Rosana, para propor melhorias e adequações na infraestrutura turística local, de acordo com o interesse e a expectativa dos visitantes do município de Rosana - SP. As atividades ligadas ao turismo estão em pleno desenvolvimento no dia a dia do município de Rosana -SP. A permanência e o retorno do visitante são de suma importância para criação de novos conceitos de planejamentos. Deve-se ter um acompanhamento e uma eventual coleta de dados para que possa almejar uma maior qualidade de serviço nesse sentido. Faz-se necessária uma mobilização por parte do setor público para suprir as necessidades da sinalização turística, estabelecendo novos parâmetros turísticos no município de Rosana, que se encontra extremamente frágil frente ao crescimento desse segmento. O Projeto, inicialmente, teve um caráter bibliográfico, mostrando um breve histórico de Rosana- SP. Em seguida, aborda-se a caracterização da sinalização turística. O projeto visa analisar, caracterizar, catalogar e determinar a importância da sinalização turística do município, com intuito de planejar, organizar e disciplinar o uso público da sinalização turística municipal de Rosana. Pretende-se, ainda, que o presente estudo possa auxiliar no planejamento e organização do município na tentativa de efetivar melhorias, contribuindo para alavancar o turismo. A metodologia se utilizará de uma pesquisa exploratória (in loco), aplicada, qualitativa e experimental, bem como da análise das placas de sinalização. 2 METODOLOGIA Neste trabalho, optamos, primeiramente, por catalogar as placas turísticas existentes, suas características e identificar o estado atual de cada uma para que, no final da pesquisa, pudéssemos analisar quais necessitavam de reparo e quais pontos turísticos precisariam de mais sinalização turística. Esse tipo de projeto “é adequado para se obter um conhecimento mais profundo de casos específicos”. Para a realização da pesquisa, solicitaremos autorização da secretaria de turismo da atual gestão municipal para análise da sinalização turística e coleta de documentos. A coleta de dados seguiu basicamente as seguintes etapas: colhimento de informações documentais, determinação das datas em que iria ser

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apresentado e pesquisa de campo. Após realizadas essas etapas, partimos para a análise dos dados, na qual serão tratados os resultados. O projeto, por sua natureza, apresenta um caráter exploratório, pois é o que mais atende às necessidades do problema levantado e das condições para a sua realização. Geralmente é realizado quando o pesquisador possui poucas informações disponíveis sobre o tema relacionado. Foi realizado o levantamento de dados documentais que responderiam ao objetivo da pesquisa, logo após a coleta de dados exploratória. Os materiais utilizados foram prancheta, caneta, papel sulfite identificando a localidade das placas, câmera fotográfica para registrar as placas e o aplicativo “GPS COORDINATES” por funcionar off-line. Devido ao fato de não haver nenhum tipo de controle de visitantes no município, optou-se por realizar a análise da sinalização turística inicialmente por Rosana, Distrito de Primavera e Assentamentos. O procedimento foi realizado no período da última quinzena de janeiro de 2018. Seguindo o seguinte cronograma:

3 RESULTADOS A cidade de Rosana foi implantada em meados da década de 1950, em decorrência dos planos de construção do Ramal Ferroviário pela Companhia de Estrada de Ferro Sorocabana, da valorização das terras, promovidas pela expansão da cultura do café e da grande quantidade de imigrantes para a região. A decisão da construção do Ramal deu-se por volta de 1952 e deveria alcançar as barrancas do rio Paraná, próximo da confluência do rio Paranapanema em 1957. O rio Paraná seria transposto por balsa e, após algum tempo, a ferrovia teria continuidade no Estado do Mato Grosso do Sul até a cidade de Dourados-MS (IBGE, 2013). A cidade se chamaria Rosana, por ser o nome de uma das filhas do colonizador, Sr. Sebastião Camargo. A principal função da cidade seria

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comercial, uma vez que a sua implantação supriria a necessidade de um núcleo urbano. A área de 66 km² abrangida pelo plano teve seu setor rural retalhado em pequenas propriedades que serviam de apoio e sustentavam o núcleo urbano com certos produtos. Distrito criado com a denominação de Rosana por Lei nº 8092, de 28 de fevereiro de 1964, no município de Teodoro Sampaio (IBGE, 2013). Em setembro de 1980, o município ganha o Distrito Primavera, criado para abrigar os trabalhadores da Usina Hidrelétrica Primavera, Engenheiro Sérgio Motta pela Companhia Energética do Estado de São Paulo – CESP. A elevação à categoria de município e emancipação de Rosana, sendo desmembrada do município de Teodoro Sampaio, ocorreu em 09 de janeiro de 1990, porém apenas no dia 01 de janeiro de 1993 que o município se consolida, graças à posse do seu primeiro prefeito, o Exmo. Sr. Jurandir Pinheiro (IBGE, 2013). Tendo a análise da sinalização turística do município de Rosana, o Projeto de Sinalização Viária e Turística do Município de Rosana / SP tem o objetivo de deixar a área compreensível para os visitantes, além de explicável e passível de ser percebida individual e coletivamente. Será um canal de informações que apresentam os acessos aos principais atrativos turísticos, equipamentos urbanos e localidades, referenciando e dando subsídios ao posicionamento e reconhecimento espacial do usuário. Esta sinalização será abrangente em sua totalidade e passará a mensagem de maneira clara, além de ser planejada e implantada em conformidade com a legislação vigente. Nos resultados finais do projeto, identificamos as seguintes categorias: Retirar, Local indevido, Mudar atrativo, Retirada (não está no local), Danificada, Substituir, Correta, Lado errado da via, Acrescentar atrativo, Mudar posição, Retirar indicativo, e, por fim, analisamos a elaboração e estruturação de mais 47 placas de orientação para atrativos turísticos consolidados dentro do município.

Obs: Algumas placas de sinalização entram em mais de uma categoria.

CLASSIFICAÇÃO CATEGORIA QUANTIDADE Retirar 2 Local indevido 1 Mudar a cor 8 Retirada (não está no local) 17 Danificada 24 Substituir 11 Correta 75 Lado errado da via 22 Acrescentar atrativo 3 Mudar posição 8 Retirar indicativo 8

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico 2010. São Paulo – Rosana. Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&cod mun=354425&idtema=1&search=saopaulo|rosana|censo-demografico-2010:-sinopse-. Acesso em: 28 jun. 2018.

4 CONCLUSÃO O presente projeto foi elaborado a partir de análises técnicas do funcionamento do sistema viário de Rosana, objetivando a sinalização viária indicativa e turística do Município. A execução dos serviços apontados torna-se imprescindível, já que as vias não apresentam sinalização coerente para o bom deslocamento dos usuários, principalmente para os turistas. A principal motivação das pessoas que viajam para Rosana – SP é o balneário municipal, onde a sinalização se mostrou eficiente ao público que comporta. Porém, com crescimento do fluxo turístico do município, falta sinalização turística referente aos outros atrativos, cujo exemplo mais evidenciado foi o turismo realizado em áreas rurais. Vale ressaltar que, nesse projeto, indicamos a criação das placas de sinalização da sede dentro do Assentamento Porto Maria. Os resultados deste trabalho estão relacionados intrinsecamente com o período em que a pesquisa de campo foi realizada. No entanto, os dados obtidos nesta pesquisa têm o caráter de orientar o fluxo de turismo no mecanismo de via por meio da sinalização turística, evidenciando os principais atrativos turísticos do município de Rosana – SP, incentivando, futuramente, o interesse, a expectativa e a satisfação dos visitantes que frequentam e os que venham a frequentar o local. Destaca-se que esses estudos são importantes e podem ser aproveitados na elaboração dos planos de gestão do uso público. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Turismo. Guia Brasileiro de Sinalização Turística. Brasília: Ministério do Turismo, 2011. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/files/Guia_Embratur/conteud o/principal.html. Acesso em: 28 jun. 2018

PROJEVIAS – Projetos, Arquitetura, Urbanismo e Consultoria de Sinalização Viária Ltda. SINALIZAÇÃO turística 035/2011 Cliente: Prefeitura Municipal de Rosana – SP Data: Maio/2011.

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ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE VISITAÇÃO DA ESTAÇÃO CULTURA EM CAMPINAS-SP¹ TATINI, VICTORIA DE AZEVEDO BRAGA2 OLIVEIRA, EDUARDO ROMERO DE3

victoria.tatini@hotmail.com, eduardo.romero@unesp.br 1

Trabalho elaborado a partir de pesquisa de iniciação científica financiada pela FAPESP (Processo nº 2017/21316-7). Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutor em Filosofia (USP), Professor do Curso de Graduação em Turismo e Pós-graduação em História, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO – A estação Cultura é um espaço cultural e considerada um dos principais atrativos turísticos da cidade de Campinas/SP. A divulgação do local como ponto turístico, bem como o fluxo espontâneo e organizado de turistas que passar por lá torna importante que se avalie as condições de visitação da estação, a fim de saber o que está sendo ofertado ao turista em questões de infraestrutura física e administrativa. Para tal, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre atrativos turísticos e elaborou-se um roteiro de observação para ser aplicado no local. Os dados obtidos por meio da observação revelaram que as condições de visitação da Estação Cultura estão apenas parcialmente adequadas, fazendo com que sua classificação e divulgação como atrativo seja equivocada. Palavras-chave: Visitação, Atrativo turístico, Estação Cultura.

1 INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta e discute resultados obtidos conforme objetivos específicos da pesquisa de iniciação científica “Ruínas ferroviárias de Campinas: análise da monitoria turística”, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Este recorte atenta-se às condições de visitação do Complexo Ferroviário Central da FEPASA, localizado na cidade de Campinas/SP. O Complexo Ferroviário Central da FEPASA é um antigo conjunto ferroviário pertencente à Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Tombada em 1982 em nível estadual pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), atualmente é conhecida como Estação Cultura, onde são realizadas atividades culturais e visitação turística (SANTOS, 2015). O espaço consta no site da Prefeitura Municipal de Campinas e em materiais de divulgação espalhados pela cidade como uma das “Sete Maravilhas de Campinas”, sendo divulgado como atrativo histórico e cultural (CAMPINAS, 2018). Além disso, o local é ponto de parada de roteiros pedagógicos realizados no

município, reforçando sua imagem de atrativo turístico consolidado. Por essa perspectiva, faz-se relevante avaliar as condições de visitação da Estação Cultura, a fim de identificar se este espaço amplamente divulgado e utilizado em Campinas está tecnicamente adequado para receber visitação turística. 2 METODOLOGIA Para cumprir com o objetivo de analisar as condições de visitação da Estação Cultura, foram realizadas as seguintes etapas: levantamento bibliográfico sobre critérios de adequação de atrativos turísticos, elaboração de um roteiro de observação, visita de campo e análise de dados. Ao levantar a bibliografia sobre o tema de atrativos turísticos, foram utilizados os Cadernos de Atrativos Turísticos do SEBRAE (s.d.) para elencar oito pontos gerais de análise, cobrindo os critérios de acesso, segurança, sinalização, acessibilidade e limpeza. Esses oito pontos de análise são: Quais as condições de acesso até a estação? O local possui estacionamento para ônibus? O local possui sinalização

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turística? Possui infraestrutura de acessibilidade? Possui banheiros? Possui infraestrutura de segurança? Os pontos de interesse são sinalizados e identificados? Existe algum recurso com o qual os turistas possam tirar dúvidas? Essas questões constituíram o roteiro de observação. Entre os dias 08 e 10 de maio de 2018, realizouse uma visita de campo à Estação Cultura, onde o roteiro de observação foi aplicado. Os dados obtidos foram registrados de forma descritiva, possibilitando uma análise posterior à visita. Os resultados da coleta de dados e sua análise serão discutidos mais detalhadamente nos tópicos a seguir. 3 RESULTADOS A Estação Cultura está localizada no centro de Campinas, próxima à rodoviária e a outros locais considerados atrativos. Pela cidade, principalmente nas ruas mais próximas ao centro, a Estação está indicada por sinalização turística. Em frente à estação, há indicação de estacionamento para carros e para ônibus fretados. Além do estacionamento na parte da frente, é possível acessar a estação a partir da Vila Industrial, entrando pela parte de trás do complexo e estacionando lá dentro. No estacionamento frontal, estão sinalizadas vagas para deficientes físicos e a entrada possui rampas de acesso. A área dentro do complexo usada como estacionamento não possui infraestrutura de acessibilidade e seu terreno apresenta elementos de risco, como pedaços de ferro, pedras e dejetos sólidos. O local possui uma variedade de tipos de sinalização, no entanto, não correspondem à sinalização turística. Os banheiros e algumas saídas de emergência são indicados por banners pendurados pela estação. Outros avisos de saídas de emergência, localização de extintores de incêndio e proibição de fumar no local estão indicados por sinalização de segurança padrão. Além dessa sinalização, estão dispostos dois tipos de placas de advertência em locais estratégicos. Na estação, existem duas placas de época indicando as plataformas e uma placa moderna indica a localização da Sala dos Toninhos, onde ocorrem aulas e apresentações de teatro. Contudo, no espaço das plataformas, onde o público se concentra, não existem outros sinais indicando pontos de interesse, como as salas de exposições. Além da falta de sinalização turística, não existem outros recursos humanos ou gráficos através dos quais os visitantes possam tirar dúvidas. O único elemento visível que se assemelha a um serviço de informações é uma porta dentro da estação com uma identificação improvisada que indica o CONDEPACC e seu horário de funcionamento. No entanto, ao dirigir-

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se à sala do CONDEPACC e pedir informações sobre a estação, foi indicado que se procurasse a coordenação da estação. A sala da coordenação da estação não está identificada como tal. A infraestrutura de banheiros e segurança deixa a desejar. Os banheiros se encontram depredados e sujos e, apesar de haver uma cabine para deficientes físicos, o acesso é dificultado devido ao piso acidentado. Quanto aos equipamentos de segurança, embora existam placas indicando a localização de extintores e mangueiras de incêndio, as caixa-abrigos das mangueiras estão vazias. A fiscalização de segurança também não aparenta ser eficiente, pois não se identificou nenhuma equipe de monitoramento no local. Além disso, os elementos depredados e o uso de áreas mais afastados do complexo, como pontos de consumo de drogas, indicam que o local não possui um monitoramento de segurança. 4 CONCLUSÃO Pode-se classificar a Estação Cultura como patrimônio cultural, uma vez que é um bem representativo da história e cultura local (RODRIGUES, 2010; MENESES, 2004), e como patrimônio industrial, pois é representativa do legado do desenvolvimento industrial do estado de São Paulo, e mais especificamente de Campinas (KUHL, 2010; ESPANHA, 2011). No entanto, a Estação Cultura não se qualifica enquanto atrativo, já que a classificação como atrativo implica uma série de critérios de infraestrutura física e administrativa já implantados e plenamente funcionais (LOHMANN; PANOSSO NETTO, 2008; BRASIL, 2010). A deficiência das estruturas de acessibilidade, segurança, sinalização e limpeza, bem como a inexistência de um serviço de atendimento ao turista são pontos que reforçam a ausência de planejamento, gestão e fiscalização eficientes por parte dos gestores do local. Essas características resultam em condições de visitação apenas parcialmente adequadas, classificando a Estação Cultura ainda como recurso turístico (SEBRAE, s/d). REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo Cultural: orientações básicas. 3. ed.- Brasília: Ministério do Turismo, 2010. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_mini sterio/publicacoes/downloads_publicacoes/Turismo_C ultural_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf. Acesso em: 21 set. 2018.

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CAMPINAS. Prefeitura Municipal de Campinas. Atrações turísticas. Disponível em: http://campinas.sp.gov.br/sobre-campinas/atracoes.php. Acesso em: 24 mai. 2018. ESPANHA. Plano Nacional Industrial. Espanha, 2011.

de

Patrimônio

KÜHL, Beatriz Mugayar. Patrimônio industrial: algumas questões em aberto. arq.urb, São Paulo: Universidade São Judas Tadeu, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, n.3, p. 23-30, 1º sem. 2010. Disponível em: https://www.usjt.br/arq.urb/numero_03/3arqurb3beatriz.pdf. Acesso em: 06 jun. 2018. LOHMANN, Guilherme; NETTO, Alexandre Panosso. Teoria do turismo: conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Aleph, 2008.

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MENESES, José Newton C. História e Cultura. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. RODRIGUES, Marly. Patrimônio industrial, entre o fetiche e a memória. In: arq.urb. s.l., n. 03, p. 31-40, 2010. Disponível em: http://www.usjt.br/arq.urb/numero_03/4arqurb3marly. pdf. Acesso em: 05 jun. 2018. SANTOS, Priscila Kammilynn Araujo. Proteção e uso do patrimônio ferroviário: um estudo de caso a partir das estações ferroviárias de Campinas (São Paulo/SP). Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rosana, 2015. SEBRAE. Cadernos de Atrativos Turísticos. São Paulo: Gráfica Zello, s.d. Disponível em: http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUI VOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/e6ab735ac11e71802d2 e44cbce6d63f4/$File/SP_cadernodeatrativosturisticos completo.16.pdf.pdf. Acesso em: 05 jun. 2018.

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DESENVOLVIMENTO DE ROTEIROS ALTERNATIVOS EM ASSENTAMENTOS RURAIS: TRILHA ECO RURAL NO ASSENTAMENTO PORTO MARIA, ROSANA-SP¹ SILVA, Caio Borba² THOMAZ, Rosangela Custodio Cortez³

caio_madimba@hotmail.com, rothomaz@gmail.com ! Trabalho vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Turismo no Espaço Rural-GEPTER ² Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ³ Pós-doutorado em Turismo, Universidade de Santiago de Compostela (USC - Espanha), Professora do Curso de Graduação em Turismo e de Pósgraduação em Geografia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo.

RESUMO - Este trabalho tem como objetivo analisar a proposta de se desenvolver novos roteiros e atividades dentro dos assentamentos rurais no Município de Rosana, utilizando como objeto de estudo uma trilha ecológica no assentamento rural Porto Maria no Município de Rosana. Serão utilizados métodos de aplicação de questionário, análise do local de implantação, pesquisa de campo e um evento teste do roteiro. Por meio da implantação da trilha e de outros projetos que são desenvolvidos no assentamento, busca-se preservar a história do local onde o assentamento se encontra, chamando a atenção de turistas para o município e para a preservação histórica e ambiental do assentamento. Palavras-chave: Trilha, Rural, Assentamento.

1 INTRODUÇÃO A relação turismo e meio ambiente é questionável, pois a atividade turística pode causar benefícios e malefícios para o ambiente (FENNELL, 2002). Apesar disso, existem diversas formas de trabalhar as questões econômicas e sociais do turismo junto com a preservação ambiental, como, por exemplo, por meio de projetos de conscientização durante a atividade turística (ALMEIDA, 2000). Alguns desses projetos de conscientização podem ser as trilhas ecológicas, onde são realizados atividades e projetos de conscientização com os visitantes. A busca por locais e atividades em ambientes naturais dentro da prática turística tem se mostrado cada vez mais frequente. As pessoas estão procurando sair de sua realidade, que é a cidade grande, e do stress em busca de contato com o natural e suas raízes (FENNELL, 2002). Segundo Ruschmann (1992), essa busca pelo verde, tem sido vista de maneira negativa, passando a agredir determinados ambientes, causando

preocupação com o futuro da qualidade dos recursos naturais. Marujo e Carvalho (2008) dizem que o turismo, atualmente, é um dos fenômenos mais importantes do ponto de vista político, econômico, ambiental e sociocultural. Deixou de ser visto apenas como um sinônimo de lazer e passou a assumir um papel de agente social nas sociedades em que se desenvolve. O turismo vem apresentando resultados positivos nos últimos anos e a atividade se consolidando no País como um importante vetor de desenvolvimento socioeconômico. (BRASIL,2011, p.12) O município de Rosana, localizado no interior do estado de São Paulo, conta com um distrito e alguns assentamentos. Entre esses assentamentos, o Porto Maria se destaca pela sua localização próxima ao rio Paraná e por sua característica ambiental e histórica (ROSANA, 2015). Alguns projetos estão sendo desenvolvidos no assentamento, coordenados pela Profa. Dra. Rosângela Custodio Cortez Thomaz, em

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parceria com o grupo de mulheres do assentamento, com a prefeitura municipal e o grupo PET Turismo da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Câmpus Experimental de Rosana. Um desses projetos é a trilha eco rural, que tem como objetivo ser uma alternativa de atividades a ocorrer no assentamento rural Porto Maria, visando à inserção de novas atividades para atração de turistas no município de Rosana. 2 METODOLOGIA A trilha ecológica, chamada de trilha eco rural, que será trabalhada no Assentamento Porto Maria, localizado no Município de Rosana/SP, estará vinculada a alguns pontos turísticos do município e do assentamento, tendo como ponto inicial do roteiro o Balneário Municipal de Rosana. Parte do trajeto será feita de barco, realizando a eclusagem na barragem da Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta. Haverá uma parada no lote 39 do Assentamento Porto Maria para um banho de rio e, a partir deste local, os visitantes seguirão pela trilha proposta até o Restaurante Rural Porto Maria, que é coordenado pela associação de mulheres do assentamento. A metodologia será quanti-qualitativa de caráter exploratório. Os métodos que serão utilizados são:  Pesquisa de campo: será utilizada uma abordagem simples com os moradores do assentamento, apresentando o projeto e mostrando que a implantação do mesmo será de grande benefício para a valorização do meio ambiente e cultura do assentamento;  Aplicação de questionários: perguntas simples buscando entender se os moradores sabem da importância ambiental e histórica do assentamento e que a trilha vai agregar ajudando na preservação do ambiente e da história do lugar;  Levantamento de dados: serão realizados estudos no local da trilha para a avaliação do solo e revitalização do espaço, número de moradores do assentamento, capacidade de carga da trilha e qual a frequência de visitas que ela poderá receber por dia, tendo como base pesquisas realizadas por outros alunos (GONÇALVES, 2017)  Teste do roteiro: após o processo de formação do roteiro, o mesmo será testado pelos alunos da UNESP, Câmpus de Rosana.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Benevides (apud PORTUGUEZ, 2006) nos traz a caracterização dos dois segmentos turísticos a serem tratados neste texto: o ecoturismo e o turismo rural. Segundo o autor, o ecoturismo se caracteriza por ter como seu principal atrativo, do ponto de vista econômico, o contato do homem com a natureza. Já no caso do turismo rural, há uma valorização para a comunidade local e seu modo de vida, costumes e valores, sendo que, nesse caso, a natureza entraria como atrativo secundário. O ecoturismo é um segmento que tem como um de seus objetivos tratar questões de preservação do meio ambiente, realizando atividades com o objetivo de conscientização, ou seja, um desenvolvimento sustentável do turismo (FENNELL, 2002). Fennell (2002 apud DEMING, 1996) compartilha o ponto de vista de que a humanidade precisa dar uma boa olhada na civilização, as pessoas têm uma fome insaciável de ver cada vez mais o que existe no planeta, e de chegar cada vez mais perto de suas atrações naturais. Dentro do segmento ecoturismo, estão inseridas as trilhas ecológicas. Segundo Almeida, Froehlich e Riedl (2004), quando elas são realizadas dentro do âmbito rural, o segmento turístico é denominado de turismo eco-rural, caracterizado por cenários naturais e cultura própria. Apesar da diferente denominação, os dois segmentos se assemelham. Conforme Almeida, Froehlich e Riedl (2000), as regiões rurais são espaços onde comunidades humanas vivem e trabalham ao mesmo tempo e preenchem funções diferentes que são de importância vital para toda a sociedade. Essas regiões constituem igualmente lugares de recreação, de lazer e de cultura, e também são indispensáveis para a manutenção do equilíbrio ecológico. As regiões rurais são a matéria-prima do turismo rural. Nesse contexto, o estimulo ao desenvolvimento de atividades turísticas no espaço rural passa a ser vislumbrado pelo governo brasileiro por meio de políticas públicas, como alternativa a atividade agrônoma, complementando a renda e gerando novas ocupações nas unidades produtivas de pequeno porte. O turismo rural propicia a valorização do ambiente onde é explorado por sua capacidade de destacar a agricultura e a diversidade natural de uma região, proporcionando a conservação e manutenção do patrimônio histórico, cultural e natural (SCHNEIDER; VERARDI FILHO, 2000, p.35). No caso dos assentamentos rurais, particularmente do Pontal do Paranapanema, podemos afirmar que

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existe a possibilidade de se implantar o turismo como uma forma de complementação da renda. Poderia estar ligado aos bens produzido (queijos, doces, compotas; artesanato elaborado a partir de materiais ali produzidos) e à recuperação da trajetória de vida dessas pessoas; à valorização das experiências cotidianas e do saber-fazer relacionados à agricultura, ou a perspectiva de preservação, por meio da educação ambiental. 4 CONCLUSÃO A Trilha Eco-Rural, assim como outras atividades turísticas já realizadas no município, poderá servir como um somatório em relação a um conjunto de atividades de outros segmentos do turismo que estão sendo desenvolvidas em Rosana ou podem vir a ser aplicadas. Isso pode resultar em um aumento no número de visitantes no município que buscam contato com a natureza e que, com das atividades que irão realizar, poderão ter seu momento de lazer e descanso. O assentamento é um lugar que possui diversas riquezas históricas e naturais e que, no Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico de Rosana (ROSANA, 2015), é considerado um potencial turístico do município. Dessa maneira, a realização desse projeto poderá acarretar em uma visibilidade para o município, em que o turista poderá conhecer mais sobre a cidade de Rosana ao chegar ao balneário, além de conhecer as belas paisagens ao longo do trajeto náutico e conhecer os atrativos do assentamento. Outro fator importante para a implantação da trilha eco rural é que Rosana é considerada um Município de Interesse Turístico (MIT) (ROSANA, 2015) e está buscando se tornar um destino turístico consolidado da região. Além disso, a trilha será importante para o assentamento, servindo como uma alternativa de atividades a serem realizadas, atraindo turistas que têm o ecoturismo como preferência para o seu lazer. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Joaquim Anécio; FROEHLICH, José Marcos; RIEDL, Mario (Orgs.). Turismo rural e desenvolvimento sustentável. 4. ed. Campinas, SP: Papirus Editora, 2000. 238 p. (Coleção turismo). BRASIL. Ministério do Turismo. Plano nacional do turismo 2007/2010: uma viagem de inclusão. Brasília: Ministério do Turismo, 2010.

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FENNELL, David A. Ecoturismo: Uma introdução. São Paulo: Contexto, 2002. GONÇALVES, L. G. M; THOMAZ, R. C. C. O recordar como sentido de existir: o futuro museu do assentado e as marcas da reforma agrária no município de Rosana/SP. Revista Geográfica Acadêmica, Boa Vista/RR, v.11, n.2, 2017. p.143-156. MARUJO, Maria Noémi; CARVALHO, Paulo. Turismo, planejamento e desenvolvimento sustentável. 2010. 15 f. Tese (Doutorado) - Curso de Turismo, Universidade de Évora, Evora, 2010. PORTUGUEZ, Anderson Pereira (Org.). Turismo no Espaço Rural: Enfoques e Perspectivas. São Paulo: Roca, 2006. ROSANA. Prefeitura Municipal. Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico do Município de Rosana – SP. Rosana: Prefeitura Municipal, 2015. Disponível em: http://www.rosana.sp.gov.br/plano-diretor-deturismo/Pl ano-Diretor-Desenvolvimento-TuristicoMunicipio-Rosan a.pdf. Acesso em: 28 abr. 2018. RUSCHMANN, Doris Van de Meene. Turismo sustentado para preservação do patrimônio ambiental. Revista turismo e análise, São Paulo, p. 42-50, mar. 1992. Disponível em: http://www.revistas.usp. br/rta/article/view/64143. Acesso em: 24 abr. 2018. SCHNEIDER, S. Turismo em comunidades rurais: inclusão social por atividades não agrícolas. In: BRASIL, Ministério do Turismo; IBAM. Turismo Social: Diálogos do turismo: uma viagem de inclusão. Rio de Janeiro: IBAM, 2006. SCHNEIDER, S; VERARDI FILHO, M. A. As atividades rurais não agrícolas e as transformações do espaço rural: perspectivas recentes. Cuadernos de Desarrollo Rural. Bogotá (Colômbia), v. 1, n. 44, p. 11-44, 2000.

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ANÁLISE DOS RECURSOS HUMANOS NAS AGÊNCIAS DE VIAGEM LOCALIZADAS NOS SHOPPING CENTERS DE RIBEIRÃO PRETO-SP ARRUDA, CAROLINA FERRAZ DE1 NASCIMENTO FILHO, FRANCISCO BARBOSA DO2 carolinaferraz95@gmail.com, francisco.nascimento@unesp.br 1

Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Doutor em Turismo e Hotelaria (UNIVALI). Professor Assistente Doutor do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO - O presente trabalho refere-se aos recursos humanos atuantes nas agências de viagens e turismo localizadas nos shopping centers de Ribeirão Preto. A pesquisa teve como objetivo identificar o perfil dos recursos humanos que compõem as agências de viagens e turismo dos shoppings do município. A tipologia da pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, exploratória e descritiva com abordagem quantitativa. Para o levantamento dos dados, o instrumento utilizado foi o questionário online Survey Monkey. Com a obtenção dos resultados, foi possível realizar uma análise da mão de obra utilizada nas agências de viagens dos shoppings do município, sua empregabilidade, bem como descrever o perfil dos colaboradores de forma que os resultados permitam maior abordagem sobre o tema em futuros estudos. Palavras-chave: Recursos Humanos, Agências de Viagem, Shopping Center, Ribeirão Preto.

1 INTRODUÇÃO De acordo com Niño e Gouvêa (2003), um setor que resume, em si mesmo, a grande evolução econômica e sociocultural que se está operando no mundo é o setor de turismo. O turismo, impulsionado pelos elevados níveis de renda, pela criação de novos destinos e pelo interesse dos setores público e privado no seu desenvolvimento, vem adquirindo grande espaço na economia mundial (FLORES, CAVALCANTE, RAYE, 2012), e as agências de viagem, uma vez inseridas no ramo da atividade turística, fazem parte desse grande desenvolvimento econômico. Trabalhando como intermediárias entre seus clientes e determinados prestadores de serviços turísticos, as agências de viagem passaram nas últimas décadas a enfrentar novos desafios de mercado devido à facilidade de acesso às informações. Fache (2000) e Marin (2004) definem o perfil do viajante do século XXI como “uma pessoa bem informada, independente e com visão crítica acerca da prestação dos serviços, além de maior autonomia na organização de suas viagens”. Com o advento da internet, seguido do aumento do crescimento da concorrência entre as agências de viagem, fez-se necessário adaptações constantes, com

enfoque principalmente nos recursos humanos atuantes. Segundo Silva (2009), até o final do século XX, a pouca concorrência permitia que a maioria das agências de viagens possuísse recursos humanos muito jovens e sem qualquer formação, prejudicando diretamente a qualidade do serviço. Hoje em dia, por conta do aumento da concorrência e da mudança do perfil do viajante, tornou-se uma necessidade investir em recursos humanos capacitados que possam oferecer algum diferencial. Diante disso, o estudo terá enfoque nas agências de viagem localizadas nos shopping centers do município e a justificativa desse estudo pauta-se na importância de se compreender qual a empregabilidade nas agências de viagem de Ribeirão Preto. O estudo tem como objetivo identificar o perfil dos recursos humanos das agências de viagens e turismo dos shoppings de Ribeirão Preto. Ao explorar o perfil dos funcionários atuantes nas agências de viagem, a presente pesquisa possibilitará uma análise do mercado de agências de viagens e turismo de Ribeirão Preto. Diante disso, abre-se um leque de possíveis abordagens em futuros estudos, como, por exemplo, estabelecer relação entre a qualidade do serviço prestado e a satisfação do cliente e/ou estudos que possibilitem a formação de estratégias para a melhoria do negócio.

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Serão apresentados, a seguir, a metodologia que será utilizada para a obtenção dos dados, bem como os fundamentos teóricos que sustentarão a pesquisa.

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Figura 2 – Perguntas de 5 a 8 do questionário que será aplicado nas agências de viagens e turismo dos

2 METODOLOGIA A pesquisa será dividida em duas etapas. Num primeiro momento, será realizada a pesquisa bibliográfica, que servirá como base para a realização da fundamentação teórica. A pesquisa exploratória (GIL, 2002) será realizada com o intuito de aproximar o pesquisador ao universo do objeto de estudo. Com a finalidade de estudar as características de um grupo (os recursos humanos atuantes nas agências de viagens e turismo) utilizar-se-á a pesquisa descritiva (GIL, 2002). As questões que compõem o questionário (sexo, idade, escolaridade etc) auxiliarão a pesquisadora a tracejar o perfil dos recursos humanos atuantes atendendo ao objetivo principal do estudo. A pesquisa quantitativa será aplicada para apresentar os resultados numéricos obtidos por meio do questionário, ou seja, a quantidade de pessoas que possuem alguma formação no ensino superior, a quantidade de pessoas que possuem formação na área do turismo ou de agenciamento, a quantidade de pessoas que exercem o cargo “x” na empresa etc. Para gerar o levantamento dos dados que responderão ao objetivo geral da pesquisa, o instrumento utilizado será a plataforma online que permite a coleta de dados, o questionário online Survey Monkey. O questionário segundo Lakatos e Marconi (2008) é constituído por uma série ordenada de perguntas respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. O questionário será composto por oito perguntas mistas (abertas e fechadas), como mostram as figuras a seguir:

Figura 1 – Perguntas de 1 a 4 do questionário que será aplicado nas agências de viagens e turismo dos shopping centers de Ribeirão Preto/SP.

shopping centers de Ribeirão Preto/SP. A pesquisa será apresentada por meio de uma carta enviada por e-mail para as agências de viagem em questão, contendo a apresentação da graduanda e a explicação da natureza da pesquisa. 3 REVISÃO TEÓRICA As agências de viagens, empresas privadas que fazem a intermediação entre clientes e prestadores de serviços turísticos são, de acordo com Braga (2008, p. 19), “um elemento do mercado turístico que funciona como agregador de serviços” e que “transforma destinos turísticos e diversos equipamentos em produtos”. Diante do surgimento da Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC’s), todo o setor turístico sofreu uma revolução. A Internet, por sua vez, segundo Buhalis e Law (2008), “tem mudado o comportamento dos viajantes, permitindo que estes se envolvam diretamente com os fornecedores e, assim, questionado o papel dos intermediários”. Diante das circunstâncias (surgimento da globalização, desenvolvimento das TIC’s, chegada da internet e a mudança do perfil dos clientes que estão cada vez mais independentes e exigentes), tornou-se necessário que as agências de viagem acompanhassem o desenvolvimento do meio em que viviam como forma de sobrevivência no mercado turístico. Conforme explica Ulrich (2000), “as mudanças exigidas pela globalização, tecnologia, crescimento lucrativo e demanda do consumidor chamam a atenção das empresas para a competência da força de trabalho e as capacidades organizacionais”. Assim, o recrutamento de recursos humanos formados e capacitados se torna peça-chave para o desenvolvimento de uma empresa. Como afirma Silva (2009, p. 69), “a eficácia que o agente de viagens desempenha, quase sempre, é um papel crucial para o sucesso ou insucesso comercial de uma empresa”.

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O shopping center, ambiente onde estão localizados os objetos de estudo (agências de viagens e turismo), surgiu, segundo Padilha (2000, p. 130), na década de 50, nos Estados Unidos, aparecendo como lugar de consumo que oferece a alternativa do lazer para os grupos de médio e alto poder aquisitivo. Ainda segundo Padilha (2000, p. 133), o capitalismo abarca não só aspectos econômicos, como também sociais e culturais, criando mecanismos para manter os modos de vida das pessoas condizentes com seus interesses. Diante disso, visto que o shopping center é um ambiente destinado ao consumo e possui como principal público-alvo grupos de médio e alto poder aquisitivo, a presente pesquisa terá enfoque nas agências de viagem situadas nos quatro shopping centers de Ribeirão Preto. A cidade de Ribeirão Preto, segundo o Ministério do Turismo (2010, p. 5), possui inúmeros requisitos para o desenvolvimento do Turismo de Negócios e Eventos, sendo eles: economia dinâmica, ótimo padrão de vida, localização estratégica, boa qualidade de infraestrutura de transportes e comunicações, qualidade e diversidade de serviços turísticos. 4 CONCLUSÃO Por meio da metodologia descrita anteriormente, busca-se como resultado o levantamento de informações que possibilitem tracejar o perfil dos recursos humanos que atuam nas agências de viagem e turismo dos shoppings de Ribeirão Preto. Os resultados e conclusões esperados desse estudo serão apresentados em Banca de TCC da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. O desenvolvimento do presente estudo permitirá a realização da análise do perfil dos colaboradores que atuam nas agências de viagem e turismo de Ribeirão Preto – SP, além de um diagnóstico a respeito da empregabilidade nessas agências de viagem. REFERÊNCIAS BRAGA, D. C. Discussão Conceitual e Tipologias das Agências de Turismo. In: BRAGA, Debora Cordeiro. Agências de Viagens Turismo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. BRASIL. Ministério do Turismo. Destino Referência em Turismo de Negócios e Eventos: Ribeirão Preto SP. Goiânia: Instituto Casa Brasil de Cultura, 2010.

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GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Técnicas de Pesquisa. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MARÍN, A. Tecnologia da informação nas agências de viagens: em busca da produtividade e do valor agregado. São Paulo: Aleph, 2004. ULRICH, D. (Org). Recursos humanos estratégicos: novas perspectivas para os profissionais de recursos humanos. São Paulo: Futura, 2000. BUHALIS, D.; LAW, R. Progress information technology and tourism management: 20 years on and 10 years after the Internet – the state of tourism research. Tourism Management, v. 29, p. 609-623, 2008. NIÑO, F. M.; GOUVÊA, M. A. O processo de posicionamento estratégico nas empresas de serviços turísticos: um estudo de caso em agências de viagem da cidade de São Paulo. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 63-79, janeiro/março, 2014. FACHE, W. Methodologies for innovation and improvement of services in tourism. Managing Service Quality. Bedford, v. 19, n. 6., 2000. FLORES, L. C. S.; CAVALCANTE, L. S.; RAYE, Roberta Leal. Marketing turístico: Estudo sobre o uso da tecnologia da informação e comunicação nas agências de viagens e turismo de Balneário Camboriú (SC, Brasil). Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 6, n. 3, p. 322-339. 2012. Disponível em: https://rbtur.org.br/rbtur/article/view/487. Acesso em: 06 set. 2018. PADILHA, V. Shopping center: templo capitalista de consumo e lazer. 2000. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/10017. Acesso em: 06 set. 2018. SILVA, M. J. N. A Distribuição Turística e as Redes nas Agências de Viagens em Portugal. Universidade de Aveiro. 2009. Disponível em: http://hdl.handle.net/10773/1669. Acesso em: 01 set. 2018.

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ANÁLISE DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM DE FOZ DO IGUAÇU: WISH RESORT GOLF CONVENTION E HOSTEL POESIA¹ DEUS, JÚLIA MOREIRA DE2 FALCÃO, VICTÓRIA RUI2 LIMA, GABRIELA BUTZER DE2 OIOLI, ALESSANDRA SCAVASSA2 NASCIMENTO FILHO, FRANCISCO BARBOSA DO3 julia_moreira@outlook.com, vick_rf@hotmail.com, gabrielabutzer@hotmail.com, alessandra.oioli@hotmail.com, francisco.nascimento@unesp.br 1

Trabalho vinculado à disciplina de Geografia do Turismo. em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutor em Turismo e Hotelaria (UNIVALI), Professor Assistente Doutor do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2Graduanda

RESUMO – Foz do Iguaçu é um dos principais destinos turísticos brasileiros. Ele possui o quarto maior polo hoteleiro do Brasil (ITAIPU SUSTENTÁVEL, 2015), sendo que, entre os meios de hospedagem que existem na cidade, estão os resorts e os hostels. Dessa maneira, os objetos deste estudo são o Wish Resort Golf Convention e o Hostel Poesia, ambos localizados em Foz do Iguaçu. No primeiro meio de hospedagem, foi realizada uma visita monitorada e, no segundo, os discentes se hospedaram. Foi aplicado um questionário com oito perguntas obrigatórias para 49 alunos que se hospedaram no hostel, sendo que houve 30 respostas. O resort foi avaliado a partir da visita monitorada. Percebeu-se que o hostel não foi tão bem qualificado quanto o resort, porém esse resultado é esperado, pois, normalmente, um hostel é mais básico que um resort. Palavras-chave: Análise, Resort, Hostel, Foz do Iguaçu.

1 INTRODUÇÃO Foz do Iguaçu está localizada no extremo oeste do estado do Paraná e faz divisa com Paraguai e Argentina. Conta com aproximadamente 260 mil habitantes e é um dos destinos turísticos mais importantes do Brasil, sendo que alguns de seus principais atrativos, como a hidrelétrica de Itaipu Binacional e as Cataratas do Iguaçu, são conhecidos mundialmente (FOZ DO IGUAÇU, 2018). Segundo o jornal Itaipu Sustentável (2015), o município é considerado o 4º maior polo hoteleiro do Brasil, possuindo diversas categorias de meios de hospedagem. Entre essas categorias, estão os resorts, que usualmente têm como público-alvo famílias e empresários com alta renda, e os hostels, também conhecidos como albergues, que são destinados a pessoas mais jovens, viajantes e mochileiros, geralmente de baixa renda (LOHMANN; PANOSSO NETTO, 2008).

Os objetos deste trabalho são o Wish Resort Golf Convention e o Hostel Poesia, sendo que os dois localizam-se em Foz do Iguaçu. O primeiro faz parte da empresa GJP, sendo classificado na categoria Wish, que são resorts com classificação de cinco estrelas (GJP, 2018). Seu espaço está dividido em hotel, estacionamento, restaurantes e espaço para lazer. Ismail (2004) diz que os resorts são meios de hospedagem que acomodam essencialmente hóspedes em viagens de lazer. Costumam estar localizados em locais com atrativos naturais, como praias e montanhas, e oferecem diversas opções de lazer e entretenimento aos hóspedes, como piscinas, quadras esportivas, salões de jogos, SPA, campos de golfe etc. Os hóspedes costumam não se importar de pagar um valor mais elevado por um bem ou serviço, contanto que sintam que esse bem ou serviço em questão valem o preço que estão pagando. Já o Hostel Poesia possui decoração temática e seus espaços são divididos em uma área de convivência

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juntamente com a recepção, cozinha, sala de cinema, quartos e espaço para lazer. O espaço é acolhedor e propício para interação e troca de experiência entre os jovens ali hospedados, interessados em ter contato com a população local e com o município, não apenas com os atrativos turísticos já consolidados. Hoje em dia, no Brasil, existem mais de 90 hostels credenciados pela Federação Brasileira de Albergues da Juventude (FBAJ), sem contar com os hostels que não são credenciados. Eles são meios de hospedagem geralmente frequentados por jovens e são mais econômicos, apesar de seguirem padrões de qualidade que prezam pela hospitalidade, conforto, segurança e limpeza (APAJ, 2018). Segundo Deus, Delvizio e Nascimento Filho (2016, p. 22), o albergue pode ser definido como: meio de hospedagem para-hoteleiro que oferece serviço de alojamento e alimentação básico e de baixo custo, com dormitórios e banheiros coletivos ou privativos e cozinha e sala compartilhadas, utilizado principalmente por jovens e mochileiros. Levando em consideração que Foz do Iguaçu é um destino internacionalmente consolidado, devendo apresentar serviços e equipamentos turísticos de qualidade, o objetivo deste trabalho é fazer uma análise sobre a gestão do Wish Resort Golf Convention e do Hostel Poesia, baseando-se na visita técnica in loco, para que se possa avaliar se os meios de hospedagem em questão estão dentro dos parâmetros esperados. 2 METODOLOGIA Para a realização desse trabalho, foi feita pesquisa bibliográfica para aprofundar os conhecimentos em relação aos meios de hospedagem, focando nos resorts e hostels. Além disso, a pesquisa está baseada em uma pesquisa in loco nos dois meios de hospedagem. No caso do Wish Resort, foi realizada uma visita monitorada, onde o grupo se dividiu em dois e cada um foi guiado por uma funcionária. Todas as informações passadas por elas foram anotadas para posteriormente serem utilizadas neste trabalho. Além disso, foram feitas pesquisas no site do resort e da empresa GJP. Já no caso do Hostel Poesia, o grupo se hospedou nele para que pudesse obter algumas informações. Ademais, foram enviados dois e-mails à gerente do hostel, para que algumas questões fossem respondidas com maior clareza, porém nenhum dos dois foi respondido. Também foi aplicado um

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questionário online com os outros discentes que ficaram hospedados no hostel, contendo perguntas qualitativas e quantitativas e espaço para sugestões. 3 RESULTADOS Por meio de questionários aplicados aos discentes que ficaram hospedados no hostel, foi possível extrair dados que complementaram e deram validade ao conteúdo deste trabalho. De 49 participantes da viagem técnica que ficaram hospedados no hostel, 30 responderam ao formulário, e. por meio dos dados obtidos, foi possível avaliar a estrutura e a qualidade do local, analisando os quesitos unidade habitacional, limpeza, alimentação, atendimento, organização, localização, ambiente e decoração e avaliação geral. A primeira questão foi “Você ficou satisfeito com a unidade habitacional em que ficou hospedado?”, sendo que 28 responderam “sim”. Dessa forma, fica claro que o hostel atendeu às expectativas e que os hóspedes se sentiram confortáveis e tiveram comodidade, não havendo grandes problemas nesse sentido. A questão “Você ficou satisfeito com limpeza das áreas comuns, das unidades habitacionais, dos banheiros e das roupas de cama?” pode mostrar que é difícil atender à necessidade de limpeza de todos de forma completa e eficiente, pois em cada quarto havia um número diferente de pessoas, fazendo com que as opiniões se dividissem (50% responderam “sim” e 50% responderam “não”). No quesito alimentação, perguntou-se “Você gostou do café da manhã?”, sendo que a opinião foi unânime. Como todos gostaram do café da manhã, percebeu-se que todos aprovaram o que foi servido e não tiveram problemas com o horário, sendo que esse foi alterado quando necessário para atender às necessidades do grande grupo presente. A pergunta “Você ficou satisfeito com o atendimento dos funcionários?” obteve 27 respostas afirmativas. Assim, considerando que os dois recepcionistas também atendiam no bar e que a funcionária que servia o café da manhã era a mesma responsável pelo setor de limpeza, nota-se que, apesar de fazer mais uma função, atendiam os hóspedes da melhor forma possível em qualquer função. Em relação à organização, perguntou-se “Você considera que as operações de check-in, check-out, bar, etc. foram realizadas de forma organizada?”. Nesse aspecto, 16 discentes responderam “não”, pois houve problemas quanto à montagem dos quartos e das camas em que cada um ficaria.

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Para a questão “Você gostou da localização do hostel?”, 21 pessoas responderam que “não”, já que ele ficava em um bairro residencial longe do centro, de shoppings e restaurantes. Mesmo sendo próximo de um ponto de ônibus, levando em conta que a grande maioria das pessoas que foram não sabia se locomover dentro da cidade, essas acabaram tendo gastos com táxis ou precisaram andar grandes distâncias. No aspecto ambiente e decoração, a questão foi “Você gostou do ambiente e decoração do local?”. As respostas foram unânimes, 100% dos alunos responderam sim, já que o hostel tinha características de uma casa, contando com frases e quadros nas paredes e áreas comuns, fazendo com que os hóspedes interagissem com o grupo e com o ambiente, como na biblioteca e sala de “cinema”. A última questão foi “De modo geral, como você avalia o hostel?”, podendo dar notas de zero a dez. O Hostel Poesia recebeu por 13 discentes a nota oito, sendo que a nota mais baixa foi cinco, aparecendo uma vez, e a maior nota recebida foi dez, aparecendo duas vezes. Além disso, foi pedido a quem respondesse os questionários que dessem sugestões e opiniões sobre a estada. Com algumas das respostas, foi possível definir que os pontos falhos do hostel foram: limpeza, recepção, falta de acessibilidade, problemas relacionados aos banheiros, localização e organização dos quartos. Já os pontos positivos foram: as áreas comuns, café da manhã e atendimento caloroso por parte dos funcionários. Já no caso do Wish Resort, foi possível analisar alguns quesitos por meio da visita técnica realizada com os discentes e docentes do curso de turismo, guiada por funcionárias do resort. Esses quesitos são: limpeza, acessibilidade, quantidade de UH, estruturação das áreas e funcionários. No caso da limpeza, foi possível perceber que há uma grande preocupação com a limpeza e com a natureza, havendo separação de óleo e de lixo, além de contar com placas de energia solar. Em relação à quantidade de UHs, o Wish conta com 23 casas, divididas em 215 unidades habitacionais, categorizadas em standard, premier, family, suíte júnior e suíte wish. Já na parte de acessibilidade, o resort conta com oito quartos acessíveis aos portadores de necessidades especiais, além de elevadores e rampas nas áreas comuns como restaurantes e piscinas. As áreas do Wish Resort são estruturadas da seguinte forma: são equipadas com três restaurantes (principal, restaurante italiano e restaurante japonês), três salões de eventos (dois principais e um para jantares), centro de recreação (que conta com campo de

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futebol, quadra de tênis, quadra poliesportiva, sala de cinema, espaço para os pais, arvorismo infantil e adulto, minigolfe, parede de escalada e três peças de teatro apresentadas durante a alta temporada), clube de golfe (frequentado por associados e hóspedes), estacionamento, academia, sauna, piscina climatizada, além de piscinas e jacuzzis a cada duas casas. Os funcionários possuem uniformes que são lavados e organizados pelo resort e têm a sua disposição dois restaurantes, sala de descanso e estacionamento. Além disso, são realizados encontros mensais e cafés da manhã com o gerente geral, onde dois funcionários de cada setor participam. 4 CONCLUSÃO Tendo em vista os aspectos que foram observados, os questionários aplicados e os e-mails não respondidos, o Hostel Poesia não obteve uma média alta na avaliação aplicada, devido a sua localização e alguns outros problemas, como na área da limpeza, organização, recepção, acessibilidade e gerência. Porém, é válido apontar que a maioria dos investimentos realizados no local não possui tanta credibilidade, visto que um hostel é um estabelecimento de categoria mais baixa. Sugere-se que se faça investimento em melhorias, pois isso o impulsionaria a ter mais visibilidade e resultado dentro do seu mercado de ação. Já o Wish Resort atendeu todos os requisitos que foram propostos no trabalho e na visita técnica, tendo uma média elevada na avalição feita pelo grupo. É perceptível que são organizados, além de se preocuparem com a acessibilidade, sustentabilidade, limpeza, entre outros quesitos. Também se deve levar em consideração que o Wish Resort é um meio de hospedagem com classificação de 5 estrelas e, por ser um estabelecimento que visa atingir o público de alta renda, todos esses preceitos devem ser rigorosamente cumpridos. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE ALBERGUES DA JUVENTUDE. O que são hostels? São Paulo: APAJ, 2018. Disponível em: http://www.alberguesp.com.br/site /conteudo.asp?id_subsecao=2&titulo=. Acesso em: 19 set. 2018. DEUS, J. M.; DELVIZIO, I. A.; NASCIMENTO FILHO, F. B. (2016). Levantamento, seleção e sistematização de termos relativos aos meios de hospedagem. Applied Tourism, v. 1, n. 3, p. 11-30.

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Disponível em: https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/ijth/article/vie w/10259. Acesso em: 19 set. 2018. FOZ DO IGUAÇU. Prefeitura. A cidade. Foz do Iguaçu: Prefeitura, 2018. Disponível em: http://www.pmfi. pr.gov.br/conteudo/?idMenu=1004. Acesso em: 19 set. 2018. GJP. Gestão, inovação e excelência em serviços. Santo André: GJP, 2018. Disponível em:

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http://www.gjp hotels.com/grupo-gjp/nossaempresa.htm. Acesso em: 19 set. 2018. ISMAIL, Ahmed. Hospedagem: front office e governança. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. ITAIPU SUSTENTÁVEL. Foz do Iguaçu. jun. 2015. LOHMANN, Guilherme; PANOSSO NETTO, Alexandre. Teoria do Turismo: conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Aleph, 2008. (Série Turismo).

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DIÁSPORA.BLACK: TRANSFORMANDO A SEGREGAÇÃO EM SEGMENTAÇÃO NO TURISMO. ¹ DOMINGOS, ALEXANDRE BALBINO2 PIMENTEL, JULIANA MARIA VAZ3 jmvpimentel@outlook.com, alexandreb17@gmailcom 1

Trabalho desenvolvido por meio do grupo de extensão TAUR (Tons Afros da Unesp Rosana). Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutora em Geografia, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, Mato Grosso do Sul. 2

RESUMO - O presente resumo parte de discussões realizadas pelo grupo TAUR, norteadas a partir de um questionamento: o que levou três negros a inaugurar uma agência de turismo denominada de Diáspora.Black, voltada exclusivamente ao objetivo de valorizar as identidades negras e experiências turísticas afrocentradas? Diante dessa realidade, objetiva-se analisar o papel da Diáspora.Black dentro do segmento do turismo étnico afrodescendente. A metodologia utilizada foi de caráter exploratório e também se baseou em levantamentos bibliográficos que pudessem dar suporte em relação à forma como a Diáspora.Black pode se tornar uma agência que, direta ou indiretamente, possa contribuir para o turismo étnico afrodescendente. A Diáspora.Black possui atualmente 1.300 cadastros em sua rede online, sendo que 74% da rede de anfitriões é formada por mulheres negras. Além disso, os criadores estão articulados em uma rede de negócios na qual planejam criar um catálogo com locais históricos, museus, comunidades, restaurantes, bares, lojas, guias de turismo, passeios e outros serviços que possam ser de interesse para a comunidade negra. Palavras-chave: Diáspora.Black, Racismo, Turismo Étnico, Afroempreendedorismo.

1 INTRODUÇÃO O Brasil é um país democrático, onde os cidadãos possuem o que se denomina de livre arbítrio. Porém, isso acaba sendo paradoxal quando nos reportamos às diferentes formas de racismo que os milhares de negros enfrentam cotidianamente em seus países de origem. No caso do Brasil, o racismo está presente nas relações sociais brasileiras desde o processo de sua colonização. Pesquisas científicas demonstram que mesmo os negros ocupando vários postos que lhes permitam mitigar o abismo social entre negros e brancos, sua população ainda ocupa majoritariamente as prisões, os bairros periféricos e morrem precocemente em decorrência do preconceito racial. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016, mais da metade da população brasileira (54%) é de pretos ou pardos, e a cada dez pessoas, três são do gênero feminino e negras. A partir de uma pesquisa feita com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), pode-se constatar que os brasileiros brancos em 2015 ganhavam em média o

dobro do que os negros: R$1589 diante de R$898 mensais. Uma pesquisa realizada pela ONG Britânica Oxfam em 2017, cujo título era: “a distância que nos une – Um retrato das Desigualdades Brasileiras”, revelou que estamos muito longe de conquistar uma equidade social, pois somente em 2089, ou seja, aproximadamente daqui a 72 anos, brancos e negros terão uma renda equivalente no mercado de trabalho brasileiro. Ainda se tratando de estatísticas, de acordo com o Atlas da Violência 2017, a população negra também corresponde à maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios. Outro dado revelado pela Universidade de Brasília (UNB) (2014), em pesquisa intitulada: “A personagem do romance brasileiro contemporâneo: 1990-2004”, mostra que só 10% dos livros brasileiros publicados entre 1965 a 2014 foram escritos por autores negros. O estudo ainda afirma que o perfil dos personagens retratados pela literatura nacional é composto por 72,7% de protagonistas homens, sendo 93,9% deles brancos. Na constituição federal de 1988, o seu art. 5° inciso XLII determina que “a prática do racismo

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constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito de reclusão nos termos da lei” (Lei nº 7.716/89). Colocando a discriminação racial como um crime inafiançável, ainda pesquisas revelam dados alarmantes sobre as diferentes formas de preconceito racial a que o negro é submetido em todas as instâncias da esfera social. Entre nossas discussões, proferimos repúdio ao racismo e fundamentados em pesquisas, estatísticas e referenciais bibliográficos que discutem a questão, consideramos que o Brasil é um país racista. 2 METODOLOGIA Para a realização da pesquisa, utilizamos a metodologia de caráter exploratório, mediante levantamentos bibliográficos que pudessem nos dar suporte com relação à forma como a Diáspora.Black pode tornar-se uma agência que, direta ou indiretamente, possa contribuir para o turismo étnico afrodescendente. Por se tratar de um segmento turístico que ainda está em expansão, reportamo-nos às ferramentas do google no intento de buscar informações, dados, materiais que nos permitissem compreender as condicionantes que motivaram três homens negros a criar um site de serviços turísticos direcionado ao público negro. Ainda realizamos uma entrevista via e-mail, constando de nove perguntas voltadas para os proprietários do empreendimento, como forma de compreendermos com mais complexidade os motivos que os levaram a inaugurar esse tipo de agência de viagem. 3 REVISÃO TEÓRICA 3.1 Diáspora.Black e Hospitalidade. O desejo do indivíduo pós-moderno de se conectar com novas realidades juntamente com o auxílio da internet, estão cada vez mais presentes em todos os lugares do mundo, trazendo, dessa maneira, novas possibilidades de interação e conexão com diversos atrativos turísticos. Nessa perspectiva, surgiram sites como o Airbnb uma plataforma de hospedagem onde às pessoas disponibilizam quartos ou até mesmo casas e apartamentos inteiros para que viajantes possam se acomodar pagando diárias. Nessa plataforma os turistas encontram diversos tipos de hospedagem. Com a intenção dos turistas desviarem-se dos meios de hospedagem tradicionais como hotéis, pousadas e hostels, nos últimos anos, os mesmos passaram a buscar novas alternativas de hospedagem. Nesse contexto, um dos atrativos alternativos está voltado para o tipo de hospedagem que ocorre na casa de uma pessoa desconhecida – é esse tipo de serviços que a Diáspora.Black oferece. O site agrega perfis

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majoritariamente de pessoas negras de todo o país que estão dispostas a abrir suas casas e que queiram vivenciar a cultura afrodescendente. Porém, o que era para ser apenas um site de reservas de quartos acabou se transformando em uma plataforma modular de negócios. 3.2 Objeto de análise: Empresa Diáspora.Black Diante do exposto brevemente discutido no início do texto com relação ao racismo sofrido pela população negra e afrodescendente, é que surge o projeto Diáspora.Black, startup de afroempreendedorismo. Esse empreendimento foi criado em dezembro de 2016, por três negros. Nesse contexto temos o conceito de afroempreendedorismo que está relacionado a ação de empreender protagonizado pelos indivíduos autodeclarados como negros (SILVA, 2017). Com relação ao empreendedorismo, Boava (2006) define como sendo: conjunto de atividades que visam proporcionar ao empreendedor, no decurso de sua ação, plena liberdade. Tal liberdade se manifesta devido à ocorrência de uma ruptura com aquilo que lhe proporciona segurança e estabilidade. O estado de dependência em relação a fatores externos (existente na segurança e estabilidade) é substituído pela possibilidade de ser sujeito da ação. Sua base é transdisciplinar e teleológica, sustentando-se na busca pela realização plena do ser (BOAVA, 2006, p. 116). O fundador da Diáspora.Black na matéria denominada de: “Diáspora Black e a luta para prosperar da única startup de afroempreendedorismo acelerada na Estação Hack”, relatou que a ideia surgiu após ter sido vítima de racismo, quando alugou o seu apartamento no Largo dos Guimarães, um dos pontos mais cobiçados do agitado bairro carioca de Santa Tereza. Ele afirma em uma entrevista: Uma das situações mais incisivas foi de um casal estrangeiro que chegou, me conheceu, e não quis ficar. Eles foram embora enquanto eu comprava frutas típicas para eles no mercado. O casal deixou um bilhete na porta dizendo que não era bem o que eles esperavam, mas não pediram reembolso, nem reclamaram. Na verdade, eles não esperavam ser recebidos por um anfitrião negro. (DESTRO,2018). Dessa forma, a Diáspora.Black nasceu com o objetivo de valorizar as identidades negras e suas experiências turísticas afrocentradas, visando a troca de culturas e a construção do respeito racial. No dicionário Aurélio, ano 2010, diáspora é apresentada como um substantivo feminino que significa “dispersão de povos devido a perseguição”. Portanto, o objetivo da Diáspora.Black é proporcionar aos seus consumidores mais do que uma viagem, mas

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uma imersão na cultura africana em diversas partes do mundo. Para que a finalidade da empresa se concretizasse os empresários criaram uma plataforma virtual que articula em rede viajantes e anfitriões, conectando-os a serviços relacionados à cultura negra em diversas cidades do mundo. Existem acomodações disponíveis em mais de 30 cidades brasileiras e em outros 12 países. No Futuro, a ideia é incluir também restaurantes, passeios turísticos, centros culturais e outros serviços (Entrevista realizada em: 11/maio/2018). O propósito inicial da empresa era oferecer uma plataforma para pessoas negras se conectarem no país, promovendo hospedagem em locais que exaltam a cultura afrodescendente como: Comunidades Quilombolas, Terreiros de matrizes africanas e coletivos de mulheres negras. Todavia, atualmente os criadores estão articulados em uma rede de negócios, onde planejam criar um catálogo com locais históricos, museus, comunidades, restaurantes, bares, lojas, guias de turismo, passeio e outros serviços que possam ser de interesse para a comunidade negra. A operação da rede foi iniciada em novembro de 2016 e já chegaram a 1.300 cadastros. Atualmente, 74% da rede de anfitriões é formada por mulheres negras, que já têm atuação de acolhida juntamente com meios de hospedagem de redes e os, alternativos como os coletivos que são hospedagens de mulheres negras, casas que estão abertas para valorizar a cultura negra. 3.3 De que forma o roteiro oferecido por essa agência volta-se à valorização de quilombolas e da cultura africana? A partir do roteiro que é criado pela empresa, é feito o resgate da história e cultura das comunidades quilombolas, africanas e de toda cultura negra afrodescendente. A empresa busca fazer o levantamento de comunidades, sítios, terreiros e outros locais como restaurantes e galerias de artes que tenham vínculo com o turismo étnico. Diante disso, verifica-se que é resgatado o costume, a culinária, formas e modos de produzir artesanatos, crenças, instrumentos, vestimentas, acessórios característicos entre outros. Esse resgate agrega ao turista uma vasta bagagem cultural, pois estará vivenciando tal experiência e o empoderamento gerado por parte daqueles que estão expondo sua cultura de matriz africana. Com o turismo de experiência e étnico sendo um dos segmentos que mais cresce no Brasil, o turista é motivado por vivenciar experiências que lhe agreguem vasto valor cultural, conhecimento, gostos e

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vivências de modo que ele se sinta conectado com seu eu interior e também com a história dos negros. Nossa memória está dispersa em diferentes cidades e manifestações, então, visitá-las é uma forma de valorizar nossas identidades, reescrever a narrativa de nossa contribuição na formação social do País, além de fortalecer economicamente o anfitrião que diretamente ou indiretamente consegue gerar renda por meio da atividade turística, como por exemplo o turismo étnico (Entrevista realizada em 11 de maio de 2018). Portanto, a Diáspora.Black se propõe a conectar esses propósitos em uma plataforma que agrega diversos serviços, onde buscam exaltar a cultura negra e difundi-la através da música, religião e gastronomia, em parceria com serviços sociais que possam auxiliar na difusão da cultura negra no país e no mundo, com isso, auxiliando na desconstrução do preconceito racial. 4 CONCLUSÃO Com o intuito de combater o preconceito sofrido em diversos setores de serviços da área do Turismo, foi concebida pela Diáspora.Black a missão de integrar em uma rede os mais diversificados serviços onde negros afrodescendentes possam ser acolhidos como devem e onde encontrarão profissionais capacitados profissionalmente para atender e prestar um atendimento de qualidade. A Diáspora.Black não cria uma segmentação excludente más sim uma segmentação que visa o tratamento pautado no respeito livre de qualquer tipo de discriminação. Com a criação do selo Diáspora.Black, serão disponibilizados cursos e certificações para empresas do segmento para qualificar o atendimento e promover a diversidade no turismo étnico. Esta certificação é uma forma de oferecer serviço de excelência à população negra, que enfrenta diversas situações de discriminação nesses estabelecimentos. O selo Diáspora.Black conta com metodologia exclusiva, alinhada aos parâmetros internacionais de Promoção da Igualdade Racial definidos pela ONU. A certificação é voltada para empresas de diferentes segmentos do turismo, como hotelaria, agências de viagem, turismo receptivo, locação de veículos e companhias aéreas. O objetivo é qualificar profissionais do setor de turismo para que possam identificar, atender e combater de forma

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responsável e proativa situações de discriminação e racismo nas empresas em suas operações. Diante disto, a rede de serviços Diáspora.Black possui grande importância e forte impacto social, no sentido de garantir que os turistas negros não sofram qualquer tipo de preconceito ou discriminação racial, com relação a quem está ofertando o serviço desejado pelo turista.

https://www.geledes.org.br/diaspora-black-e-lutapara-prosperar-da-unica-startup-deafroempreendedorismo-acelerad-na-estacao-hack/. Acesso em: 21 de abr. 2018.

REFERÊNCIAS BOAVA, D. L. T. Estudo sobre a dimensão ontológica do empreendedorismo. 2016. Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2016.

RIBEIRO, Djamila. Diáspora Black: uma rede contra a discriminação em hospedagens. Carta Capital. 2017. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/diversidade/diasporablack-uma-ferramenta-contra-a-discriminacao-emhospedagens. Acesso em: 17 abr 2018.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. DESTRO, Juliana. Diáspora Black e a luta para prosperar da única startup de afroempreendedorismo acelerada na Estação Hack. Geledés. 2018. Disponível em:

Diáspora.Black. 2018. Disponível https://diaspora.black/certificacao-de-hoteis/. Acesso em: 21 abr 2018.

em:

SILVA, G. M. Empreendimentos sociais, negócios culturais: uma etnografia das relações entre economia e política a partir da Feira Preta em São Paulo. 2017. Tese (Doutorado em Antropologia Social), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

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ANÁLISE DO POTENCIAL E DOS SERVIÇOS TURÍSTICOS NA AUTOVIA LITORAL SUL PARA PRATICANTES DE VIAGENS COM MOTOCICLETA¹ FERREIRA, GUSTAVO ESTEVAM² RIBEIRO, ROBERTA DIAS DE MORAES³ gustavoef2223@gmail.com, rdm.ribeiro@unesp.br 1

Trabalho elaborado para apresentação na VII Mostra Científica Unesp Rosana. Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Mestre em Turismo, Universidade São Paulo (USP), São Paulo, São Paulo. 2

RESUMO - O presente trabalho tem por finalidade apresentar uma breve história e evolução da motocicleta, como se dá e acontece o turismo de moto no decorrer do tempo, assim como apresentar as motivações dos praticantes desse tipo de viagem, que traz em sua essência uma infinidade de sensações, sentimentos e experiências. Leva-se em consideração o trecho Autovia Litoral Sul, na via BR-101, denominada também como a litorânea, que vai de Curitiba - PR a Palhoça - SC. O estudo foi baseado no levantamento bibliográfico referente às práticas desse tipo de atividade e análise do site e das ofertas turísticas e de infraestrutura para o mototurista. A partir das motivações dos praticantes dessa atividade em específico, analisando por meio do acesso virtual os atrativos disponíveis no trecho Autovia Litoral Sul, é possível observar o potencial desse nicho que está em crescimento. Palavras-chave: MotoTurismo, Autovia Litoral Sul, Contemplação.

1 INTRODUÇÃO De acordo com a OMT (2013, p. 18), “O turismo é uma atividade, na qual as pessoas se locomovem para locais fora do seu habitual, em um período menor que um ano e por diversas motivações seja a lazer, negócios, entre outros”. Sendo assim, para que a atividade do turismo ocorra, é fundamental o uso dos transportes. De acordo com Lohmann (2003 p. 21), “[...] para alcançar seu destino, precisa utilizar um meio de transporte: automóvel, ônibus, avião, trem, navio, etc”. É notado que o turismo se apropria desses instrumentos para o seu funcionamento e avanço da atividade, visto que os transportes não foram criados essencialmente para uso turístico, e somente a partir da evolução dos transportes e também das vias de acesso que é possível observar o avanço das movimentações a lazer, aliado também ao processo de evolução dos direitos humanos. Dentre os quatro modais existentes (aéreo, ferroviário, aquático e rodoviário), é evidenciada a vantagem do modal rodoviário, a partir do uso de veículos particulares, como, por exemplo, o carro e a moto. Esses veículos oferecem liberdade ao viajante, são utilizados para deslocamentos na unidade receptora, além de permitirem flexibilidade no itinerário e permanência no destino.

Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo contextualizar os estudos sobre o potencial do turismo de moto, traçando, historicamente, a evolução do veículo e sua utilização para a atividade turística; evidenciar as motivações dos praticantes e apresentar o trecho Autovia Litoral Sul, conhecido também como corredor Mercosul, que liga Curitiba - PR a Palhoça SC. Por meio da pesquisa no site da concessionária, foi possível observar a disponibilidade de informações como posto da Polícia Federal, posto de pesagem de caminhão, Base Operacional, praça de pedágio, além de atualizações que permitem analisar onde há maior tráfego de veículos e clima tempo, que para o uso de motocicletas como veículo de viagem é fundamental para segurança do condutor. Esse trecho de 358 km conta, em algumas partes, com a paisagem litorânea, paisagem da serra curitibana, o risco da estrada na serra e cruzamento em diversas cidades do Paraná e Santa Catarina, possibilitando estabelecer um elo entre esses componentes e as motivações da viagem de moto que se torna o principal atrativo, aliando liberdade, risco e contemplação da paisagem.

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2 METODOLOGIA Como metodologia, foi realizado um levantamento bibliográfico em trabalhos relativos ao tema em questão, abordando sobre viagens de moto; motivação, história da motocicleta; contemplação da paisagem e sentimentos experienciais. Para captação das informações sobre a Autovia Litoral Sul, foi realizada pesquisa no site da concessionária. 3 REVISÃO TEÓRICA Adrian e Marchetti (2012) afirmam que a primeira motocicleta foi inventada pelos irmãos alemães Wilhelm Maybach e Gottlieb Daimler, que, em 1885, construíram uma bicicleta de madeira, com quatro rodas e era propulsada por um motor de combustão interna. A utilização das motocicletas se tornou mais popular a partir dos campeonatos, e o primeiro da história aconteceu nos arredores de Londres, em 1887, chamado de Motorcycle Scrombes. Assim, com a criação da Federação Internacional de Motociclismo (FIM) em 1904, os campeonatos mundiais de motociclismo passam a serem melhores organizados. A partir da década de 1920, há evidências de que a moto é utilizada para viagens, inclusive em longas distâncias, como por exemplo: Clare Consuelo Sheridan que foi a primeira mulher a viajar de moto em 1922 viajando por toda Europa; entre outras diversas experiências, porém, durante a segunda guerra mundial não há relatos de viagens. O argentino Che Guevara, em 1952, saiu em uma longa viagem com seu amigo Alberto Granado e “la poderosa II”, a famosa motocicleta de Che. Os amigos foram da Argentina até o Chile com a motocicleta (MOREIRA OLLER, 2016). Entre as décadas de 1960 e 1970, a indústria motociclística inicia o lançamento de modelos que aliam motores mais potentes ao design mais cuidado, conforto e autonomia, levando os consumidores a participarem num novo conceito no universo motociclístico. Isso, aliado às melhorias dos equipamentos dos motociclistas, fez que surgisse uma nova cultura do mototurismo, aliando-se com termos como liberdade, prazer e descoberta de novos caminhos e lugares (MOREIRA OLLER, 2016. p 57). Com a modernização da motocicleta e o crescente interesse dos usuários em usar a moto como veículo de viagens, ela é cada vez mais utilizada e Universidade Estadual Paulista-UNESP, Campus de Rosana/SP

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adaptada para os mais diversos ambientes. O Brasil com sua extensão, diversidade em terrenos e climas conta com um grande potencial para a atividade, o que tem sido latente o aumento no número de usuários desse tipo de veículo. Atualmente, a atividade vem crescendo no Brasil, tendo por base o número de motos que são vendidas a cada ano. No ano de 2018, ultrapassa o número de 21 milhões de motos, que já é um número maior em relação ao ano anterior, de acordo com o Denatran (2018). Visto o crescimento desse mercado, é possível observar o potencial, em específico para o trecho da Autovia Litoral Sul, que contém informações importantes disponíveis online, além de contar com os componentes importantes, como informações sobre condições de tráfego e da via que se torna fundamental para a efetivação da viagem de moto, além de que a via é uma das principais ligações entre o estados de São Paulo, Curitiba e, também, com todo o litoral catarinense. O trecho tem 358 quilômetros de extensão e, por ser a principal ligação entre São Paulo, Curitiba e todo o litoral de Santa Catarina, acabou sendo um importante instrumento para o desenvolvimento industrial e turístico da região, passando a ser conhecido como Corredor do Mercosul (ARTERIS, 2018). Além disso, a via, por meio de sua concessionária, oferece diversos serviços de suporte e segurança aos viajantes. São, ao todo, 14 ambulâncias (10 de suporte básico em operação e quatro de suporte avançado em operação), 14 guinchos leves, cinco guinchos pesados, dois caminhões para combate a incêndio, dois carros para apreensão de animais, 11 viaturas e duas motos para inspeção de tráfego, duas carretas para produtos perigosos, cinco veículos de vigilância patrimonial e duas carretas de apoio operacional (ARTERIS, 2018). Assim, é possível aliar as ofertas que a via oferece com as motivações dos praticantes desta atividade. A grande vantagem de viajar de moto em comparação com um automóvel, é que de carro podemos apreciar a paisagem, mas de moto sentimo-nos como fazendo ISSN 2595-1440


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parte dela. O Mototurista é no geral uma pessoa de espírito aberto, aventureiro e adaptável a todas as situações. Entre o viajante solitário ou aqueles que viajam em grupo, o objetivo é sempre percorrer quilómetros para conhecer profundamente todos os lugares e gentes por onde passamos (TURISMO DE MOTO, 2013, s/n). De acordo com o que foi apresentado, assim como as motivações que levam o mototurista a praticar tal atividade e as ofertas de serviços que há nesse trecho da via, faz com que a própria viagem com a utilização desse tipo de veículo se torne o próprio atrativo, pois a moto tem como diferencial a contemplação experiencial que traz a sensação de pertencimento à paisagem e aliado ao risco, sensações e a liberdade que nessa via conta com uma grande oferta destes motivadores para a prática desta atividade. 4 CONCLUSÃO Dessa forma, é possível notar que o moto turismo é uma atividade que tem crescido em todos os setores e que gera impactos em diversos aspectos, seja econômico, psicológico, antropológico, sociológico e cultural para todos os envolvidos. Considerando a prática nesse trecho de via da BR-101, que se torna o atrativo, é nítido o potencial para a atividade, assim como suporte para os viajantes, principalmente de moto, que necessitam de uma segurança especial.

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REFERÊNCIAS ADRIÁN, J.; MARCHETTI, L. La Motocicleta. Disponível em: http://www.monografias.com/trabajos95/motocicleta/m otocicleta2.shtml. Acesso em: 21 set. 2018. ARTERIS. Autopista Litoral Sul. 2018. Disponível em: http://www.autopistalitoralsul.com.br/?link=institucion al. Acesso em: 22 set. 2018. DENATRAN. Frota de veículos, por tipo e com placa: segundo as Grandes Regiões e Unidades da Federação FEV/2018. Disponível em: http://www.denatran.gov.br/estatistica/635-frota-2018. Acesso em: 21 set. 2018. LOHMANN. G. Transportes turísticos. São Paulo: Aleph, 2002. MOREIRA OLLER, S. Moto-Turismo no Brasil: O caso do Evento Motocapital em Brasília, 2016. 151 p. ORGANIZACIÓN MUNDIAL DEL TURISMO (OMT). Implications of the UN/WTO Tourism Definitions for the U. S. Tourism Statistical System. Madrid, 2003. TURISMO DE MOTO. A história Mototurismo. 2013. Disponível http://www.turismo-de-moto.com/mototurismo/. Acesso em: 20 set. 2018.

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O PLANEJAMENTO DO TURISMO SOB O PONTO DE VISTA DOS GESTORES LOCAIS¹ SANTOS, VICTOR HERNANDES ALVES DOS SANTOS2 RIBEIRO, RENATA MARIA RIBEIRO3 victor_hernandes.alves@hotmail.com, Renata.ribeiro@unesp.br 1 Projeto

de Pesquisa. Graduando(a) em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutora em Geografia (UFPR), Professora Assistente Doutora do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO – Com a intenção de haver uma minimização dos efeitos considerados como negativos para o turismo, ações do poder público atreladas ao planejamento são fundamentais. Tendo em vista o caráter essencial do planejamento e das políticas públicas para o turismo, o presente ensaio apresenta como objeto de estudo os Municípios de Interesse Turístico – MIT, classificados como tais em 2015. Busca-se analisar o planejamento sob o ponto de vista dos gestores dos MIT, além de entender qual a maior dificuldade encontrada por eles no processo de execução de projetos e a conscientização apresentada pelos mesmos no âmbito do planejamento. No que tange à metodologia, o trabalho apresenta pesquisa bibliográfica e documental sendo exploratória e descritiva, com a realização de entrevistas com os gestores para a obtenção de resultados esperados e a constatação de que o planejamento é de extrema importância para que o turismo gere efeitos benéficos para as localidades. Palavras-chave: Municípios de Interesse Turístico, Planejamento Turístico, Políticas Públicas.

1 INTRODUÇÃO O Turismo hoje é uma das principais atividades econômicas mundiais, sendo considerado como parte fundamental em qualquer processo que envolva desenvolvimento, passando a ser incorporado cada vez mais no contexto global (DIAS, 2003, p. 13). Sendo assim, é de extrema importância tratar o turismo como um segmento que apresenta um alto grau de dinamicidade e complexidade, englobando diversos elementos e também diversos setores econômicos. Como atividade, é um setor da economia, estando relacionado com diversificados fatores que são capazes, de uma maneira dinâmica, de serem responsáveis pelo desenvolvimento e aprimoramento de uma localidade. Muitas são as consequências do turismo em determinado local, as positivas são: geração de emprego, valorização da cultura local e melhoramento em relação à infraestrutura da região em que a prática é desenvolvida (BENI, 2006, p. 52). Porém, o turismo não é importante somente devido a esses fatores, segundo Hall: [...] o turismo é importante não só por seu tamanho em termos de pessoas que Universidade Estadual Paulista-UNESP, Campus de Rosana/SP

viajam, número de empregados ou quanto dinheiro leva até um certo destino; mas devido ao enorme impacto que exerce na vida das pessoas e nos locais em que elas vivem, e devido à forma pela qual é significantemente influenciado pelo mundo que o rodeia (HALL, 2001, p. 17). As políticas públicas do turismo, ou seja, as ações do Estado, são consideradas como fundamentais para que ocorra a atividade turística e a mesma se desenvolva, e para que haja a minimização dos impactos considerados negativos para o turismo, é preciso que haja uma ação do poder público envolvendo o planejamento e também uma gestão nas políticas públicas, para que o fenômeno não traga consequências negativas em um local (SCHINDLER, 2014, p. 35). Com o intuito de fornecer recursos legais ao desenvolvimento da atividade turística em municípios do estado de São Paulo, foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (2015) a Lei Complementar n°1261, que beneficia tanto municípios ISSN 2595-1440


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previamente considerados como Estâncias Turísticas quanto Municípios de Interesse Turístico - MIT, sendo esses o foco do trabalho. Segundo a Cartilha de Orientação da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo (2015), para ser considerado como município de interesse turístico, os mesmos devem atender às exigências contidas na Lei, como o município possuir atrativos, infraestrutura turística, serviços médicos, coleta de recursos sólidos, entre outros fatores que irão garantir aos municípios classificados como MIT recursos que são fundamentais para o seu desenvolvimento. Em virtude de tais exigências, esse ensaio visa analisar o planejamento do turismo sob o ponto de vista dos gestores dos municípios classificados como MIT no ano de 2015, tendo como foco os municípios de até 10.000 habitantes. Da mesma forma, busca entender as dificuldades para esses gestores em relação à execução de projetos. Também procura analisar o planejamento e até mesmo a conscientização existente nesses municípios para que o turismo ocorra e se desenvolva de uma forma planejada e positiva. 2 METODOLOGIA A metodologia está constituída na pesquisa bibliográfica e também documental, por intermédio da análise de leis, para o melhor entendimento sobre os critérios para determinação de um Município como de Interesse Turístico. A pesquisa é exploratória e descritiva, por meio da realização de formulários com perguntas fechadas e abertas que serão enviadas aos gestores municipais de turismo das cidades analisadas para compreender como se dá a gestão desses representantes públicos na área do turismo com a verba que lhes é fornecida. Além de entrevistas a partir dos meios de comunicação possíveis e oficiais, que serão realizadas com os gestores, atreladas à análise dos municípios de interesse turístico de 2015, que somam 12 a partir de uma estratificação realizada nos municípios que possuem uma população de até 10.000 habitantes, observando que as cidades de menor porte apresentam uma maior dificuldade em obter alternativas econômicas para sua sustentabilidade. 3 REVISÃO TEÓRICA 3.1 Planejamento O planejamento pode ser considerado em uma totalidade como o processo de preparação de um conjunto de decisões preestabelecidas para atuação em

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ações futuras. Trata de conduzir situações presentes que conduzem o futuro (COOPER, HALL, TRIGO, 2011, p. 84). Petrocchi (2001) afirma que: “Para prever ações, escolher caminhos ou estabelecer processos de tomada de decisão, o planejamento precisa ter uma visão global do sistema e estudar cenários futuros”. Para Chiavenato, o planejamento: [...] é um processo que começa com a determinação de objetivos. Define estratégias, políticas e detalha planos para consegui-los; estabelece um sistema de decisões e inclui uma revisão dos objetivos para alimentar um novo ciclo de planificação (CHIAVENATO apud PETROCCHI, 2001, p.67). Além do conceito de planejamento, é necessário tratar do conceito de planejamento no âmbito do turismo, sendo esse considerado como o Planejamento Turístico. Segundo Molina (2005), o planejamento turístico apresenta como objetivo maior “assegurar o crescimento e desenvolvimento turístico.” Portanto, cabe ressaltar a inter-relação existente entre o turismo e o planejamento, na qual o planejamento passa a assumir um papel de essencialidade para que o turismo ocorra de uma forma benéfica. Ainda, o processo de planejamento para o turismo implica na vinculação relacionada com a demanda e também com a oferta, assim como todos os sistemas turísticos, em acordo com as determinações dos setores de um local, município, estado ou país (MOLINA, 2005, p. 46). Além disso, a partir da conceituação de Beni, o processo de planejamento em turismo apresenta as seguintes etapas: determinação dos objetivos, inventário de todos os recursos turísticos naturais e culturais, com destaque para seus respectivos diferenciais; análise e síntese da situação encontrada, formulação da política e do plano de turismo e também de recomendações de viabilidade, e implementação e controle de gestão do processo total (BENI apud LAGE; MILONE, 2000, p. 165). Assim, o planejamento do turismo é um processo que busca o desenvolvimento do turismo, direcionando ações a serem empreendidas em

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determinado município, o que atende à comunidade e também aos turistas. 3.2 Políticas Públicas e Políticas Públicas de Turismo Dias (2003, p. 121) define a política pública como sendo “o conjunto de ações executadas pelo Estado, enquanto sujeito, dirigidas a atender às necessidades de toda a sociedade.” O conceito de políticas públicas se constrói de uma maneira histórica, consideradas como um conjunto de ações que apresentam como objetivo formar uma maneira de controle social sobre determinados serviços, bens e obras públicas (GASTAL, MOESCH, 2007, p. 37). Assim, as políticas públicas de turismo estão englobadas no âmbito das políticas públicas. Gastal e Moesch (2007) também afirmam que as políticas públicas precisam ter clareza na sua concepção com o Turismo, pois deve ter como objetivo passar a democratizar o bem público que é o Turismo. Para Goeldner, Ritchie e McIntosh, as políticas de turismo são entendidas como: Um conjunto de regulamentações, regras, diretrizes, diretivas, objetivos e estratégias de desenvolvimento e promoção que fornece uma estrutura da qual são tomadas as decisões coletivas e individuais que afetam diretamente o desenvolvimento turístico e as atividades diárias dentro de uma destinação (GOELDNER, RITCHIE, MCINTOSH 2002, p. 294 apud DIAS, 2003, p.121) Em uma visão ampla, a relação entre o planejamento e a política no âmbito dos MIT está clara, uma vez que a lei induziu ao planejamento, essa afirmação é reiterada por Dencker (2004), afirmando que o planejamento nada mais é do que uma ação política, e para que o planejamento seja capaz de atingir sucesso no âmbito de desenvolvimento, deve haver a elaboração de políticas governamentais, que são um dever do Estado, reafirmando, assim, o caráter fundamentalista do Estado no contexto do planejamento, em especial o do Turismo (DENCKER, 2004, p. 19). Portanto, é de extrema importância haver a união entre o turismo e as políticas públicas, sendo o planejamento, assim, peça fundamental no processo de junção entre políticas públicas e turismo.

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Conclui-se que o planejamento apresenta papel fundamental no turismo em seus diferentes âmbitos, fazendo-se sempre presente quando referido à realização da atividade turística. A análise e aplicabilidade do planejamento é fundamental para a realização e consequente avanços na área do Turismo, que necessita de políticas voltadas ao planejamento para que ocorra de forma majoritariamente benéfica. O planejamento é de extrema importância para os municípios que são considerados como MIT, tendo em vista os que apresentam até 10.000 habitantes, que podem apresentar problemas no processo de estruturação do turismo, sendo assim, a atenção necessária que esses municípios devem possuir. Assim, com o estudo sobre o planejamento e suas políticas, avanços em relação ao turismo poderão ser detectados, em especial em municípios tratados como MIT. O estudo pode ser capaz de analisar e fornecer, de diversas formas, embasamentos para que municípios que apresentam problemas diversificados em relação ao processo de planejamento turístico sejam capazes de se destacarem no que se refere ao planejamento e desenvolvimento do turismo, fomentando a ideia de o turismo não é capaz de existir sem um bom planejamento de sua atividade. Como resultados, espera-se que os dados fornecidos pelos gestores possam ser elementos utilizados por outros municípios que venham a ser classificados como Municípios de Interesse Turístico. Além disso, espera-se que os objetivos sejam alcançados a partir da pesquisa, observando-se que a mesma se encontra em estágio inicial. REFERÊNCIAS BENI, M. C. Política e Planejamento de turismo no Brasil. São Paulo: Aleph, 2006. COOPER, C.; HALL, C. M.; TRIGO, L. G. G. Turismo Contemporâneo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. DENCKER, A. F. M. Planejamento e Gestão em Turismo e Hospitalidade. In: DENCKER, Ada de Freitas Maneti (Coord.). São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2004. DIAS, R. Planejamento do Turismo: políticas e desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003.

4 CONCLUSÃO ;

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GASTAL, S.; MOESCH, M. Turismo, políticas públicas e cidadania. São Paulo: Aleph, 2007. HALL, C. M. Planejamento Turístico: Políticas, processos e planejamentos. São Paulo: Contexto, 2001. LAGE, B., MILONE, P. Turismo: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2000. MOLINA, S. Turismo: metodologia e planejamento. Bauru: Edusc, 2005. PETROCCHI, M. Gestão de pólos turísticos. São Paulo: Futura, 2001.

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SÃO PAULO (Estado). Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (2015). Lei Complementar n.1.261, de 29 de abril de 2015. São Paulo: [s.n.], 2015. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei.co mplementar/2015/lei.complemen tar-126129.04.2015.html. Acesso em: 09 de maio de 2018. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Turismo. Municípios de interesse turístico: cartilha de orientação. Disponível em: http://www.turismo.sp.gov.br/publico/include/downlo ad.php?file=100. Acesso em: 09 maio 2018. SCHINDLER, A. Políticas públicas aplicadas ao turismo. Curitiba: InterSaberes, 2014.

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DIAGNÓSTICO DOS EQUIPAMENTOS E ATIVIDADES DE LAZER DE CLUBES DE EMPRESA: CLUBE DA FORD E GM¹ SILVA, RAFAELA SANTOS2 CUSTÓDIO, VAGNER SÉRGIO3 rafaelasantosda@hotmail.com, vagner.custodio@unesp.br 1

Pesquisa de Iniciação Cientifica financiada pela FAPESP. Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutor em Educação Física (UNICAMP), Professor Assistente Doutor do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO – O estudo trata do lazer proporcionado por indústrias aos seus funcionários por meio da criação de clubes, com o objetivo de identificar o foco de público da estrutura de lazer dos clubes da Ford e da GM – SBC/SP. A relevância está pautada em verificar se o clube possui o público alvo realmente no funcionário da empresa, uma vez que é um direito de todos os cidadãos a prática de lazer, assegurado pela Constituição. Pretende-se, ainda, entender a visão dos frequentadores dos clubes em relação ao objetivo proposto. A pesquisa possui abordagem qualitativa e quantitativa, com pesquisa documental, entrevistas e formulário de inventariação. Após aplicação parcial da pesquisa, percebeu-se que há divergências com relação aos seus objetivos, enquanto o clube da GM preza pela frequência de seus funcionários, o da Ford recebe visitantes externos às atividades da empresa. Palavras-chave: Clubes, Indústrias, Lazer de trabalhadores. INTRODUÇÃO O turismo possui diversas áreas do conhecimento interligadas que distinguem os segmentos turísticos. Com base nisso, Arrillaga (1976, p. 115 apud BARRETO, 1991, p. 45) destaca que: “Dadas às múltiplas facetas e os aspectos que apresenta o turismo, é possível fazer muitas classificações dele, tomando como elemento diferenciador um ou outro critério.” Portanto, são diversas áreas em que o turismo pode ter sua conceituação fundamentada, além dos principais elementos que o compõem. A partir das diversas segmentações turísticas, há o segmento de lazer, e o turismo possui relações com esse segmento, pois, de acordo com Andrade (2001), a atividade turística propicia o lazer a partir de suas atividades, e o turismo pode, muitas vezes, depender do mercado do lazer. O ócio é muito importante para as pessoas e principalmente para aqueles que trabalham e necessitam de tempo livre para descanso e prática de lazer, além de o lazer ser um direito de todos os cidadãos. Essa pode ser uma das motivações para a criação de clubes por parte de indústrias automobilísticas, pois, dessa forma, oferecem o lazer a seus trabalhadores. Logo, a criação desses clubes é muito benéfica para os trabalhadores, que dispõem de

um clube com boa oferta de preços pelo fato de ser um clube feito para os funcionários. Porém, também pode acontecer de haver mais visitações de outros públicos do que dos próprios funcionários, visto que, quando aceito pela empresa, a infraestrutura do clube e os eventos nele realizados também são abertos para pessoas externas. Diante disso, pergunta-se: os clubes de indústrias possuem foco realmente nos funcionários da empresa ou visam outro tipo de público e, dessa forma, focam mais no aspecto econômico do que no bem-estar dos funcionários? Para realização desta pesquisa, foram selecionados dois clubes como objetos de estudo, o da Ford e o da General Motors, ambos localizados no município de São Bernardo do Campo – SP, região metropolitana de São Paulo.

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Imagem 1 – Área interna clube da General Motors. Fonte: Autora, 2018.

Imagem 2: Área interna clube da Ford. Fonte: SMABC, 2018.

Sendo assim, o objetivo geral do estudo é realizar um comparativo entre o clube da Ford e o da General Motors, ambos localizados em São Bernardo do Campo – SP. Pretendeu-se identificar o verdadeiro foco da estrutura de recreação e lazer dos clubes, além de verificar quais são os objetivos da indústria ao criar o clube aos seus funcionários, realizar um inventário sobre a estrutura de recreação e lazer, diagnosticar quais são as atividades recreativas realizadas para atrair e fidelizar funcionários, a eficácia dessas atividades e também qual é o fluxo de visitantes por meio de entrevista e pesquisar se os frequentadores são funcionários ou não por meio de entrevistas com os visitantes do local. Diante disso, pretende-se realizar um estudo sobre a questão do lazer e da recreação em clubes que foram criados por empresas do ramo industrial. 2 METODOLOGIA O estudo contou com abordagem qualitativa e quantitativa, e, para identificação dos objetivos das indústrias na criação dos clubes foi feita a pesquisa documental do estatuto, documento este que determina as regras e funcionamento do espaço de lazer. A partir disso, foi elaborado um fichamento com os objetivos presentes no documento. Com essa análise, foi possível compreender os objetivos da criação dos clubes, e entender se os objetivos são atingidos ou não, já que neste documento há informações sobre a funcionalidade do espaço. Para realização da inventariação da estrutura de recreação e lazer dos clubes, foi utilizado como procedimento um questionário estruturado com cerca de 25 perguntas aplicadas ao gerente de cada clube, sobre a estrutura do local, em relação ao número de

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piscinas, tobogãs, banheiros, lanchonetes, quantidade de empregados, bem como outras infraestruturas básicas próximas à localidade, como posto policial, de saúde, bancos, bombeiros, farmácias e outros. Para realização do diagnóstico das atividades recreativas realizadas para atrair e fidelizar funcionários, da eficiência das atividades e do fluxo de visitantes, foi entrevistado um gerente de cada clube, e para identificação se os frequentadores são funcionários ou possuem relações, ainda serão entrevistados os frequentadores. As entrevistas são formadas por perguntas estruturadas, que são simples e de fácil análise, e semiestruturadas para obtenção de informações mais variadas. Nessa perspectiva, todos serão voluntários e assinarão declaração de consentimento esclarecido para participar da pesquisa conforme as normas vigentes para execução de pesquisas com seres humanos no Brasil. Para comparar os objetivos dos clubes objetos de estudo, foram utilizados os resultados prévios da pesquisa, pois após a coleta de alguns dados esse procedimento foi possível, a partir das informações dos objetivos dos clubes levantados por meio da análise do estatuto. Cervo, Silva e Bervian (2007, p. 32) destacam que “a comparação é a técnica científica aplicável sempre que houver dois ou mais termos com as mesmas propriedades gerais ou características particulares”, com isso, será feita a comparação final com os dados dos dois objetos de estudo da pesquisa. 3 RESULTADOS Em relação ao estatuto, foi feita a coleta a partir de visita in loco, porém o clube da Ford informou que apenas associados possuem acesso ao estatuto, ficando inviável sua análise, sendo realizada análise do objetivo do clube por meio da entrevista com responsável pelo local. Em relação ao clube da GM, foi disponibilizado o estatuto e analisados os objetivos presentes no estatuto do clube: Art. 3° - A associação tem por objetivos proporcionar aos seus associados: 1. A prática desportiva de todas as modalidades formais e não formais; 2. Desenvolvimento de atividades de caráter social, recreativo, cultural, cívico e educacional; 3. Atuar como estipulante de seguros coletivos em todos os ramos da cobertura, inclusive seguro saúde e previdência privada.

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Parágrafo único: A associação poderá desenvolver, complementarmente, atividade de bares, lanchonetes e restaurante, quer por autogestão ou de forma terceirizada, sempre sob sua supervisão. Além disso, o artigo 6° diz que: Art. 6° A associação é integrada por associados efetivos constituídos por empregados e empregadores das fábricas e escritórios da GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA., localizados no município de São Caetano do Sul, São Paulo e Indaiatuba, da suas subsidiarias e subsidiarias da GENERAL MOTORS CORPORATION, sediadas no Brasil. Podem integrar ainda a ADC GM SCS como associados efetivos, os empregados da GMAC Serviço de Mão de Obra Ltda., GM Power Train Ltda., EDS Data Systems do Brasil Ltda. E Delphi S/A Componentes Automotivos, todas com sede no Brasil. Portanto, o clube da GM possui, de fato, sua estrutura voltada ao funcionário da indústria, enquanto que no da Ford, a partir da resposta da responsável, o objetivo é proporcionar lazer de maneira geral, logo possui a estrutura voltada a usuários independentes de suas relações com a empresa. Após aplicação das fichas de inventariação dos dois clubes objetos de estudo da pesquisa, pode-se considerar o clube da Ford e o clube da GM como similares em relação ao clube em si, uma vez que ambos possuem outras atividades que a de clubes comuns com piscinas. As atividades são voltadas a esportes e atividades físicas. Enquanto o clube da Ford é voltado a atividades de exercícios físicos, o clube da GM desenvolve atividades voltadas a lazer a partir da represa e quiosques. Mas no que se refere às estruturas de apoio nas proximidades, o clube da Ford possui melhor infraestrutura, já que quase todos os apoios elencados no inventário são existentes na proximidade. O clube da General Motors, por sua vez, possui apenas um dos apoios, deixando claro a falta de estrutura nas proximidades do clube devido a sua localização. Fundamentado na entrevista realizada com o responsável de ambos os clubes, afirma-se que no clube da Ford é inexistente a realização de atividades recreativas, pois os frequentadores utilizam o clube para prática de exercícios, logo, não há como definir a

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eficácia da recreação do clube. No clube da GM não há atividades recreativas, entretanto, há organização de eventos de ciclismo, futebol e outros esportes. Em relação ao fluxo de visitantes, ambos os clubes recebem um número relevante de visitas, a informação do clube da Ford é da frequência diária, de estimativa de 50 frequentadores por dia, multiplicando o número diário ao mês seria por volta de 1.500 por mês. O clube da General Motors, por mês, recebe a média de 1.997, e é feita contagem por meio de planilhas. Portanto, percebe-se um número considerável de visitantes por mês de ambos os clubes. Entretanto, destaca-se o foco diferente desses visitantes, enquanto o clube da Ford foca em usuários sem relações com a indústria, o da GM possui foco totalmente voltado a pessoas com relações com a indústria que sejam funcionários ou aposentados pela empresa. 4 CONCLUSÃO Após realização de parte da pesquisa, houve entendimento sobre os objetivos de criação do clube, a estrutura do clube proporcionada aos visitantes, a identificação das atividades recreativas realizadas para atrair e fidelizar funcionários e a eficácia dessas atividades, bem como o fluxo de visitantes e, por fim, foi realizado um pequeno comparativo entre os clubes com as informações já obtidas. Percebeu-se que os clubes possuem objetivos distintos, o da Ford objetiva oferecer lazer para a população em geral, e o da GM, para pessoas que possuam relações com a indústria automobilística. A estrutura dos objetos de estudo são diferentes entre si quando comparadas, e diferentes da de clubes comuns. Devido a essa diferenciação, não há realização de atividades recreativas. E, por fim, o fluxo de visitantes de ambos é relativamente bom. Portanto, alguns dos objetivos estabelecidos foram realizados. Posteriormente à aplicação da entrevista com os frequentadores, será possível comparar todos os dados obtidos e identificar o foco dos clubes objetos de estudo da pesquisa na visão dos frequentadores. REFERÊNCIAS ANDRADE, José Vicente. Lazer: princípios, tipos e formas na vida e no trabalho. Belo Horizonte: Autêntica: 2001. BARRETO, Margarita. Planejamento e Organização do Turismo. Campinas: Papirus, 1991.

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CERVO, Amado Luiz; SILVA, Roberto da; BERVIAN, Pedro A. Metodologia cientifica. Pearson: Rio de Janeiro, 2007. SINDICATO ABC. Clube da Ford. 2014. Disponível em: http://www.smabc.org.br/smabc/materia.asp?id_CON= 36491&id_SEC=12&busca=clube. Acesso em: 11 out. 2018.

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AS DIMENSÕES DA EXPERIÊNCIA TURÍSTICA: ANÁLISE COMPARATIVA DA PRÁTICA DE CAMPISMO E GLAMPING POSO, PABLO HENRIQUE1 NASCIMENTO FILHO, FRANCISCO BARBOSA²

pabloposo12@gmail.com, francisco.nascimento@unesp.br 1 Graduando

em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Doutor em Turismo e Hotelaria (UNIVALI), Professor Assistente do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO – O presente resumo expandido decorre de um projeto de pesquisa a ser desenvolvido que visa identificar o perfil do público-alvo do Glamping Mangarito em Iporanga – SP e analisar a prática do campismo e as particularidades da experiência turística intrínsecas na atividade, bem como sua mais recente modalidade, o glamping. Por finalidade, por meio da execução do projeto contido neste resumo, pretende-se sensibilizar as empresas e a academia para a importância da revalorização da atividade campista e das particularidades que lhe são inerentes, considerando a sua importância para o setor turístico e hoteleiro. Palavras-chave: Turismo, Campismo, Glamping, Tendência, Alojamento.

1 INTRODUÇÃO Nesta abordagem da temática, agregar valor está cada vez mais difícil, nesta era globalizada em que tecnologia, bens e produtos são copiados do dia para a noite. Diante dessa realidade, uma alternativa para que as empresas e os empreendimentos possam competir é utilizarem-se do quarto nível de oferta econômica, conhecido como a “experiência” (PINE II; GILMORE, 1999). No Brasil, o setor de turismo e hotelaria apropriou-se desse conceito há poucos anos, quando lançou o projeto Economia da Experiência com o intuito de “[...] fazer com que o turista se sinta especial, e não apenas mais um, dentro de um grande grupo que se desloca guiado em relações de comando que desfazem a possibilidade de qualquer envolvimento afetivo com o destino” (BRASIL, 2018). Segundo Seitz e Meyer (1995 apud KASTENHOLZ, 2014, p. 43), “os visitantes procuram, em primeiro lugar, não produtos, serviços singulares, ou noites bem dormidas num hotel qualquer, mas experiências globais vividas num destino”. Apresentando a importância do alojamento turístico como complemento da oferta de experiências no

turismo. É importante notar-se que o turista está cada vez mais informado e ligado em novas tendências turísticas e exigente quanto ao uso de bens e serviços, revelando algum desapreço da oferta padronizada. Como na generalidade dos setores de atividade, também no setor turístico e hoteleiro existem temas menos abordados. O campismo no Brasil é um subsetor do alojamento que tem sido algo menosprezado em termos de investigação e investimento. Desse modo, procura-se “resgatar” esta prática por meio do estudo da importância da oferta de experiências associadas ao campismo e da sua variante mais recente, o glamping. A evolução da oferta do campismo acontece não só pela ligação de determinadas atividades à oferta já existente dos parques de campismo, mas também se verifica pela evolução do próprio conceito, que pretende corresponder aos desejos de um segmento de mercado completamente diferente, um segmento de mercado sofisticado e com um poder de compra mais elevado. É dessa maneira que surge o glamping, da união das palavras glamour e camping, que se representa na oferta de uma experiência de campismo de luxo, trata-se de várias tipologias de alojamento que favorecem um elevado grau de contato com a natureza e com as comodidades de um bom hotel.

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No entanto, o glamping é um tema pouco estudado em nível acadêmico, é referido apenas por Brooker e Joppe (2013), tratado sob o ponto de vista do marketing de experiências, e sob a perspectiva de Lopes (2016) sobre a prática de campismo e glamping. Por outro lado, este tema é abordado de forma parcialmente informal, por meio de páginas de internet, revistas, jornais, sendo notícia como tendência no alojamento e em turismo. Desse modo, o presente estudo deverá servir de base para futuros estudos que pretendam aprofundar ou explorar mais o tema, que tem ganhado uma importância crescente no contexto nacional. 2 CAMPISMO E A OFERTA DE EPERIÊNCIA TURÍSTICA Campismo e Glamour, é a junção dessas duas palavras que formam a palavra Glamping, sendo necessário perceber quais os seus princípios e conceito. Glamour não é nada mais que o luxo e valor agregado ao campismo tradicional e que transforma o Glamping numa nova tipologia de alojamento. O campismo é conhecido por ser um meio de alojamento acessível em termos de preço, comparado a outras opções de alojamento, e pela sua prática estar muito associada ao contato com a natureza. O fato de a procura estar mais informada e exigente contribui para o surgimento de novos segmentos e nichos de mercado, que têm como base a inovação e criação em novos produtos turísticos e tendências. Segundo Garst (2010), o campismo foi um tema central da investigação relacionada com o lazer nas décadas de 60 e 70, mas, desde então, tem recebido pouca atenção. Brooker e Joppe (2013/2014) concordam, destacando que, nas décadas de 60 e 70, os investigadores estudavam as interações sociais, as atividades e as características dos campistas. Park (2010) apresenta uma das possíveis causas para o campismo não ser alvo de muita investigação em turismo, apontando o fato de este ser investigado, principalmente sob o ponto de vista ambiental e recreativo, particularmente quanto aos seus possíveis impactos ambientais e taxas cobradas pela prática do mesmo e, consequentemente, não se tem avaliado o seu papel como atividade turística. Defende também que, se existe e se aceita a noção de que o campismo é praticado por turistas, então, é porque há necessidade de um debate mais informado acerca do papel do campismo como atividade turística. Pela dificuldade em definir um conceito, por vezes, o Glamping surge associado a exemplos errados, como de turismo rural e agroturismo, mas a base do

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Glamping tem de ser a experiência do alojamento. Não existindo ainda uma definição concreta, mas sim uma série de pressupostos definidos que se atribuem ao Glamping, foi possível recolher algumas referências ao Glamping em artigos e notícias, em que se destacam: “ O glamping, expressão inventada para definir o conceito de camping com glamour, é um 'verbo' que se conjuga algures entre um hotel e um parque de campismo.” Segundo Brandão (2016), “Glamping significa acampar com glamour e destina-se a quem quer contato com a natureza sem as preocupações de montar a tenda, carregar o carro ou dormir no chão com falta de espaço”. Pine II e Gilmore (1999) consideram que a oferta de experiências pode ser uma vantagem competitiva para as empresas, pois tanto a oferta como a procura em turismo baseiam-se, cada vez mais, em experiências autênticas e não na plasticidade e superficialidade da oferta. A oferta de experiências autênticas, tendo por base o contato com a natureza, em ambos os casos de campismo e Glamping, tornam esse tema relevante, uma vez que é a oferta de experiências que impulsiona a evolução dessa modalidade de alojamento, assim, estabelecendo-se como uma atividade turística e estilo alternativos de meio de hospedagem. 3 METODOLOGIA Inicialmente foi efetuada a revisão da literatura, pesquisando dados secundários acerca dos temas relacionados com experiências e experiências em turismo, em artigos que tratam desse assunto e outros relacionados: Kastenholz (2014). Posteriormente, relacionados com o campismo e com o campismo enquanto experiência: Brooker e Joppe (2014/2013); Garst (2010); Gilmore (1999); Pereira (2014); Pezzi e Vianna (2015). No que concerne ao glamping, foram consultadas duas teses de Mestrado sobre experiências realizadas nesse tipo alojamento, de Pereira (2013) e Lopes (2016). No decorrer do estudo, houve necessidade da elaboração de dois questionários, um qualitativo sobre o comportamento do consumidor e um questionário quantitativo através de coletas de dados que caracteriza a tomada de decisão do turista, pelo fato do objeto de estudo ser inovador e ter sido ainda objeto de pouco estudo desse gênero, a nível nacional e internacional. Segundo Gil (2011, p.121), “o questionário é uma técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações”.

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O objetivo principal do projeto é identificar o público alvo que utiliza o Glamping como forma de se hospedar nos destinos escolhidos para visitação. A identificação terá como categorias de análise os seguintes questionários enumerados: I – Identificação do comportamento do consumidor – Questionário 1; Já conhecia o conceito de Glamping? (Sim/Não); Conhecimento da Existência (Website/Amigos/Agência de Viagem/ Revista de Turismo/Outro); Quanto tempo ficou ou está hospedado?; Com quem esteve ou está? (Sozinho/Amigos/Casal/Família). II - Identificação na tomada de decisão do consumidor de Glamping – Questionário 2; Idade?; Gênero?; Grau de Escolaridade ?; Local de Residência?; Estado Civil?; Faixa Salarial?. 4 CONCLUSÃO É possível constatar que o campismo não é apenas um meio de alojamento de circunstância, é também uma atividade que, geralmente, pressupõe uma vontade de estar em contato com a natureza no seu estado mais puro. Por meio do estudo da sua tendência evolutiva, verifica-se também que o seu novo modelo, o glamping, não é um conceito recente enquanto alojamento de luxo, mas sim enquanto termo e estudo. Glamping é definido como sendo uma tendência global de uma nova forma de viajar e acampar com glamour, porém, mais do que isso, representa cada vez mais a procura do carácter experiencial e de formas de alojamento não tradicionais sem sacrificar o conforto e o luxo. A experiência tem, então, um componente importante nesse tipo de turismo, em que se procura o contato com a natureza e tornar toda a estadia numa experiência turística memorável.

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BROOKER, E.; JOPPE, M. (2013). Trends in camping and outdooor hospitality: An international review. Journal of Outdoor Recreation and Tourism, 3-4, 16. Brooker, E.; Joppe, M. (2014). A critical review of camping research and direction for future studies. Journal of Vacation Marketing, 20(4), 335-351. DOI: 10.1177/1356766714532464. Lopes M. A., Diana (2016). Tese de Mestrado, Universidade de Aveiro Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo. Garst, B. A., Williams, D. R., & Roggenbuck, J. W. (2010). Exploring Early Twenty-First Century Developed Forest Camping Experiences and Meanings. Leisure Sciences, 32(1), 90-107. DOI: 10.1080/01490400903430905. Glamping Hub TM, conceito de Glamping. Disponível em: http://glampinghub.com/. Acesso em: 19 set. 2018. Gil, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 2011. Pereira, C. M. Glamping Exp: Glamping Experience. Tese de Mestrado, ISCTE – IUL Instituto Universitário de Lisboa. 2013. Pine, B. J., & Gilmore, J. H. (1999). The experience economy: work is theatre and every business a stage. Boston: Harvard Business School Press.

REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Turismo. Tour da experiência: cartilha completa. Brasília: Instituto Marca Brasil, 2018. Disponível em: http://www.turismo.gov.br. Acesso em: 29 ago. 2018. Brandão, Fernando (2016). Glamping em Portugal: guia completo para umas férias diferente, Jornal Expresso Boa cama Boa mesa. 2016. Disponível em: http://boacamaboamesa.expresso.sapo.pt/boa-cama. Acesso em: 15 out. 2018.

Park, J., Ellis, G. D., Kim, S. S., & Prideaux, B. (2010). An investigation of perceptions of social equity and price acceptability judgments for campers in the U.S. national forest. Tourism Management, 31, 202-212. DOI:10.1016/j.tourman.2009.02.012. Revista Visão (2012). Acampar em grande estilo. Agosto 2012. Disponível em .http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/acamparem -grande-estilo=f676013. Acesso em: 15 de out. 2018.

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PROJETOS DE EXTENSÃO: LIGAÇÃO ENTRE DISCENTES E COMUNIDADE LOCAL¹ DEUS, JÚLIA MOREIRA DE2 MARTINEZ LARA, ANA PATRICIA2 THOMAZ, ROSANGELA CUSTÓDIO CORTEZ3 julia_moreira@outlook.com, a.lara@unesp.br, rosangela.thomaz@unesp.br 1

Trabalho sem vínculo com projetos de pesquisa, ensino e extensão ou agências de fomento. Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Pós-doutorado em Turismo, Universidade de Santiago de Compostela (USC - Espanha), Professora Assistente do Curso de Graduação em Turismo e de Pós-graduação em Geografia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO - Os projetos de extensão são aqueles que interligam a comunidade acadêmica com a comunidade local. Dessa maneira, nesse trabalho procura-se descobrir se os projetos de extensão universitária oferecem na prática o que em teoria asseguram proporcionar. A Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Câmpus Experimental de Rosana, conta com cinco projetos de extensão que tem entre seus participantes os discentes de Turismo: CAUR, TAUR, Pássus Jr., PET Turismo e UNATI. Assim, essa pesquisa foi aplicada através de um questionário respondido por 20 (vinte) estudantes do curso de Turismo que participam dos projetos de extensão no câmpus. Os resultados foram analisados e comparados com a fundamentação teórica, chegando à conclusão de que os objetivos propostos são alcançados. Palavras-chave: Projetos de extensão, UNESP, Discentes, Comunidade.

1 INTRODUÇÃO De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 1996), o ensino superior deve desenvolver, além do ensino e da pesquisa, atividades de extensão abertas à população respeitando os requisitos estabelecidos por cada instituição, promovendo a transformação da informação em conhecimento. A Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP conta com diversos grupos de extensão universitária que variam de acordo com o câmpus e os cursos oferecidos. No Câmpus Experimental de Rosana, realizam-se os seguintes projetos de extensão: Cursinho Alternativo da UNESP de Rosana – CAUR, o qual é um cursinho prévestibular gratuito e de caráter extensivo; Tons Afros Unesp Rosana – TAUR, que faz parte do Núcleo Negro da Unesp para Pesquisa e Extensão – NUPE, é um programa visando a desenvolver e a estimular atividades de extensão e de pesquisa sobre temas pertinentes à questão do negro; Pássus Jr. Assessoria & Consultoria em Turismo, é uma associação civil sem fins lucrativos, que tem por objetivo aplicar na prática os conhecimentos teóricos adquiridos no curso;

Programa de Educação Tutorial – PET Turismo, que consiste em um grupo de alunos sob tutoria de um professor que atua com projetos em conjunto com o grupo acadêmico do Câmpus de Rosana e com a comunidade externa; e a Universidade Aberta à Terceira Idade – UNATI, criada com o objetivo de dar às pessoas de terceira idade oportunidades de sociabilização e aprendizagem em diferentes áreas do saber. O objetivo deste trabalho é descobrir se os projetos de extensão universitária proporcionam, na prática, aos alunos do curso de turismo UNESP, câmpus de Rosana, o que, em teoria, estabelecem seus objetivos. 2 METODOLOGIA Primeiramente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o que são os projetos de extensão e como são entendidos segundo os diferentes autores, além de buscar informação sobre quais projetos de extensão são oferecidos no Câmpus de Rosana e quais deles contam com a participação dos alunos de Turismo.

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A pesquisa foi realizada com os alunos do curso de Turismo da UNESP, Câmpus de Rosana, que participam dos diferentes programas de extensão que o câmpus oferece, CAUR, TAUR, Pássus Jr., PET Turismo e UNATI, para entender a opinião deles sobre a influência dos projetos de extensão para sua vida professional, pessoal e seu relacionamento com a comunidade. Para saber a opinião dos estudantes, foi feito um questionário online com quatorze questões, sendo dez fechadas e quatro abertas, baseadas nos objetivos estabelecidos por PROEX (2008) e nos autores complementares (CHEDID, 2018; JEZINE, 2004; PNEXT, 2010; SARAIVA, 2007; SERRANO, s.d.). A aplicação do questionário foi realizada com uma amostra do total dos 39 (trinta e nove) alunos do curso de Turismo que participam em projetos de extensão. Deles foram selecionados quatro alunos por entidade, totalizando 20 (vinte) alunos, já que representam aproximadamente a metade dos alunos do curso de turismo que participam dos projetos. 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Segundo previsto na Constituição Federal (1988), no artigo 207, “As universidades […] obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Assim, a maioria das instituições universitárias contam com diferentes projetos dos três pilares para permitir ao estudante se desenvolver melhor nas diversas áreas. Neste trabalho, nos focaremos nos projetos de extensão, já que estes são um ¨[...] processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade¨ (PROEX, 2008). A Proex (2008) diz que os objetivos e benefícios da extensão universitária são: I - O Projeto de Extensão Universitária é um formato de ação extensionista sistematizada e regulamentada, que se caracteriza por: buscar atender às questões prioritárias da sociedade para o desenvolvimento da cidadania plena; II - Conter um conjunto de ações contínuas e sistematizadas de caráter educativo, cultural, político, científico ou tecnológico, desenvolvidas junto a outros setores da sociedade; III - Envolver a participação efetiva da população externa como sujeitos ativos no processo (sem excluir a participação da comunidade interna);

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IV - Contemplar, obrigatoriamente, a participação ativa de estudantes da graduação na integração com o público, visando a sua formação integral; V - Ser temporário, tendo início e término definidos para alcance dos objetivos propostos, podendo, mediante justificativa circunstanciada, ser renovado; VI - Integrar o ensino e a pesquisa com as demandas da sociedade e com as ações propostas; VII - situar-se na(s) área(s) de atuação acadêmica do(a)(s) proponente(s), sob o princípio constitucional da indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão; VIII - diferenciar-se de outros formatos de ações extensionistas como: cursos, eventos, prestação de serviços e publicações, os quais podem, como ações episódicas, ser incorporados a projetos, mas que por si só não os constituem; IX - Ser desenvolvido preferencialmente de forma multidisciplinar ou interdisciplinar. Conforme o Plano Nacional de Extensão Universitária (PNEXT, 2010), a Universidade deve prover conhecimentos em acordo com as verdadeiras necessidades da comunidade. Assim, Jezine (2004) assegura que: O caminho não é unilateral da universidade para a sociedade, mas há a preocupação em auscultar as expectativas produzidas pela sociedade, bem como em valorizar o contexto em que as atividades se inserem, na busca de uma relação de reciprocidade, mutuamente transformadora, em que o saber científico possa se associar ao saber popular, a teoria à prática em um constante movimento dialético permeado pela realidade social e a experiência do pensar e fazer (JEZINE, 2004). Segundo Saraiva (2007), a extensão permite ao discente a experiência de vivências importantes que lhe proporciona reflexões em relação as grandes questões da atualidade e o desenvolvimento de uma formação responsável com as necessidades nacionais, regionais e locais, considerando-se a realidade brasileira. Complementando os autores citados anteriormente,

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Souto (2013) afirma que “a Extensão é processo educativo e científico, ao fazer extensão estamos produzindo conhecimento, mas não qualquer conhecimento, um conhecimento que viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade e vice-versa.” Em resumo, todos os autores anteriormente citados afirmam que com os programas de extensão se começa uma relação de troca entre a comunidade acadêmica e a sociedade, para melhoramento dos dois tanto no campo profissional quanto no campo pessoal. Além disso, os projetos também permitem o acolhimento da comunidade e a inclusão desta dentro da faculdade. Para que essa troca possa ocorrer, os programas de extensão universitária se dão no formato de cursos, eventos, oficinas, prestação de serviços e diversas outras atividades, que podem acontecer dentro da universidade ou em outros lugares à procura de um público ou de um lugar específico. Esses projetos acontecem nas mais diversas áreas ou de forma interdisciplinar, como cursos educativos, culturais, tecnológicos, ações relacionadas à saúde, ao meio ambiente etc (CHEDID, 2018). 4 CONCLUSÃO Como dito anteriormente, o questionário foi aplicado a 20 (vinte) estudantes do curso de turismo que participam em projetos de extensão, sendo quatro de cada entidade: CAUR, TAUR, Pássus Jr., PET Turismo e UNATI. A pergunta “Você acha que os projetos de extensão conseguem envolver tanto a comunidade externa quanto interna?” teve 16 (dezesseis) respostas “sim” e quatro respostas “talvez”. 19 (dezenove) discentes disseram que “sim” para a pergunta: “Você acredita que através destes projetos os estudantes se integram mais com a comunidade?”, enquanto apenas um respondeu “talvez”. Já a questão “Você acredita que através destes projetos você aprende sobre a comunidade ou sociedade em si?” foram obtidas 18 (dezoito) respostas afirmativas e duas respostas “talvez”. As questões “Você acha que os projetos de extensão conseguem envolver o ensino e a pesquisa com as necessidades da sociedade?” e “Participar do projeto de extensão faz você refletir ou se importar mais pelas questões da atualidade?” obtiveram 17 (dezessete) respostas afirmativa e 3 (três) “talvez”. Também foi questionado se: “Você sente que existe uma relação de troca entre o estudante e a comunidade através deste projeto?”, sendo que obteve 15 (quinze) respostas afirmativas e 5 (cinco) “talvez”. A única questão que teve 100% de respostas “sim” foi

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“Participar em um projeto de extensão tem ajudado você crescer pessoal e profissionalmente?”. Numa das perguntas abertas foi pedido para que os alunos avaliassem quanto eles acreditavam que participar em um projeto de extensão os ajudava a crescer tanto pessoalmente quanto profissionalmente, sendo na escala um o número mais baixo e cinco o mais alto, onde metade respondeu 4 (quatro) e a outra metade, 5 (cinco). A partir disso, podemos interpretar as respostas dadas pelos alunos como uma afirmação de que através dos projetos de extensão eles conseguem colocar em prática o ensino e a pesquisa a favor da comunidade criando, assim, um vínculo com a mesma e desenvolvendo um entendimento maior sobre a sociedade e suas necessidades, capacitando-se e crescendo tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Além disso, foi pedido para que eles respondessem uma pergunta aberta sobre como ter participado de um projeto de extensão lhe tem ajudado, sendo a pergunta: “Como ter participado em um projeto de extensão tem te ajudado a crescer?”. Os principais pontos abordados foram que, através da participação nos projetos de extensão, eles têm aprendido a se desenvolver melhor com as pessoas e têm adquirido uma maior segurança profissional e pessoalmente, além de ter lhes ajudado a se comportar e adquirir pensamento de futuros profissionais. Cabe destacar que a maioria dos alunos que responderam ao questionário participantes dos projetos de extensão se encontram no primeiro ano da faculdade (seis), seguido pelos do segundo ano (cinco), do terceiro ano (quatro), do quarto ano (três) e os alunos de anos mais avançados que representam a menor quantidade (dois). Em relação ao período no qual os estudantes têm participado, vai desde três meses a 3 anos, variando pelo tempo que eles realizam o curso. Ainda assim, podemos observar que desde o primeiro ano da faculdade os alunos se encontram interessados em fazer parte destes projetos. Além disso, em geral, os alunos não só participam de um projeto de extensão, como também nos de ensino e pesquisa, além daqueles que fazem parte de dois projetos de extensão ao mesmo tempo. REFERÊNCIAS BRASIL. Congresso Nacional. Plano Nacional de Extensa Universitária ‘PNEX’ 2011-2020. Brasília: Congresso Nacional, 2010. Disponível em: https://www.ufmg.br/proex/renex/images/documentos/ Plano-nacional-de-extensao-universitaria-editado.pdf. Acesso em: 19 set. 2018.

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<http://www.scielo.br/pdf/edur/v28n4/07.pdf.> Acesso em: 18 set. 2018. JEZINE, E. As áreas temáticas e a extensão universitária. In: Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2., 2004, Belo Horizonte. Anais..., Belo Horizonte: UFMG, 2004. Disponível em: https://www.ufmg.br/congrext/Gestao/Gestao12.pdf Acesso em: 18 set. 2018. PRO-REITORIA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA. Perfil da extensão universitária da Unesp. 2. ed. São Paulo: PROEX, 2008. ______. Extensão. São Paulo: PROEX, 2018. Disponível em: https://www2.unesp.br/portal#!/proex/projetos-deextensao. Acesso em: 18 set. 2018. SERRANO, R. M. S. M. Conceitos de extensão universitária: Um diálogo com Paulo Freire. Disponível em: http://www.prac.ufpb.br/extelar/ pt/index.php/atividades/78-artp. Acesso em: 18 set. 2018.

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METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE DEFINIÇÕES DE UM CONJUNTO DE TERMOS DA HOTELARIA1 DIAS, CAMILA DA SILVA DIAS¹ DELVIZIO, IVANIR AZEVEDO DELVIZIO² camilaadias@outlook.com, ivanir.delvizio@unesp.br 1

Trabalho vinculado à iniciação científica financiada pelo Programa Ações Afirmativas. em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutora em Estudos Linguísticos (UNESP), Professora Assistente do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, Sã o Paulo. 2 Graduanda

RESUMO – Este trabalho tem como objetivo descrever a metodologia que foi utilizada para realizar o levantamento e definição de um conjunto de termos da hotelaria. A proposta metodológica baseou-se nos preceitos teóricos da Terminologia e da Terminografia (CABRÉ, 1993, 1999a, 1999b; BARROS, 2004; KRIEGER; FINATTO, 2004), que preveem a criação de um córpus de análise para extração dos termos, registro das informações em fichas terminológicas, identificação das características que descrevem os termos estudados e a criação de um modelo de definição para os termos de uma mesma categoria. Com base nesses procedimentos, ao final da pesquisa, foram levantados e organizados 60 termos da hotelaria e, como parte desta pesquisa, foram redigidas a definição de 32 termos. Palavras-chave: Turismo, Terminologia, Hotelaria, Glossário.

1 INTRODUÇÃO A competência linguística do profissional do Turismo pressupõe o domínio da terminologia técnica utilizada em sua área de atuação. Além da terminologia em sua língua materna, é necessário que os profissionais conheçam os termos equivalentes usados em línguas de grande alcance internacional. Diante disso, o estudo, organização e definição dos termos usados na área do Turismo e a identificação dos termos equivalentes em línguas estrangeiras tornam-se importantes no sentido de contribuir para a comunicação e o intercâmbio de informações em âmbito profissional, científico, nacional e internacional. O turismo é uma atividade que movimenta muito a economia mundial e gera renda, sendo a hotelaria um dos principais setores que estão diretamente envolvidos (RUSCHMANN; SOLHA, 2004). Esta pesquisa teve como objetivo geral realizar o levantamento, organização e definição de um conjunto de termos da hotelaria como forma de contribuir para a criação de um dicionário de Turismo.

2 METODOLOGIA Em relação aos pressupostos teóricos e procedimentos metodológicos, esta pesquisa alinhou-se aos fundamentos da Terminologia e da Terminografia (CABRÉ, 1993, 1999a, 1999b; BARROS, 2004; KRIEGER; FINATTO, 2004), que preceituam a seleção de um córpus de análise, ou seja, um conjunto de textos de onde são selecionados os termos, contextos, definições e dados; registros dos dados coletados de maneira organizada e sistemática em fichas terminológicas; identificação dos traços essenciais que descrevem um conceito; estabelecimento de um modelo de definição e redação das definições. Esta pesquisa dividiu-se em 3 etapas. Na primeira, foi realizada uma revisão teórica sobre Terminologia/Terminografia e Hotelaria. Na segunda etapa, realizada com outra discente vinculada ao projeto, foi feito o levantamento de textos da área da hotelaria para composição do córpus de análise. Foram selecionados 17 textos em Português da área da hotelaria e, como fonte complementar, dicionários e glossários que versam sobre turismo e hotelaria. Do conjunto de textos, foram extraídos 60 termos, que foram organizados em categorias.

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Após a seleção dos termos, foram criadas fichas no programa Microsoft Word para registro de cada termo, seus contextos de uso e definições. Neste projeto de pesquisa, trabalhamos com 32 dos 60 termos selecionados. Para ilustrar, segue abaixo modelo de ficha terminológica. pensão completa hotelaria 1.Pensão completa: uso da UH mais café da manhã e mais duas refeições. (Curso Administração de hotéis). 2.Pensão completa: sistema de hospedagem que inclui a UH e também as três refeições (café da manhã, almoço e jantar). (Apostila Perfil de negócios de hotelaria (Hotéis e Pousadas) SEBRAE 2014). 3.Pensão completa: sistema de hospedagem que oferece café, almoço e jantar para os hóspedes, sem custos adicionais. (Apostila Gestão Hoteleira, Sindônio, 2015). 1 – UH e três refeições; 2 – UH e Traços café da manhã, almoço e jantar; 3 – semânticos Sem custos adicionais. pensão completa [HOT.] s. f. tipo Proposta de de diária que proporciona ao cliente Definição a unidade habitacional e três Terminológica refeições, café da manhã, almoço e jantar. Var.: -. Quadro 2 – Ficha terminológica Termo Variantes Campo Contextos e Definições

Com base nos contextos e definições coletados, foram identificadas as características definidoras dos termos (traços semânticos). Com base nas características encontradas, foi redigida a definição de cada termo. Para um conjunto de termos de uma mesma categoria, foi criado um mesmo modelo de definição. Ao final da ficha terminológica, com base nos dados coletados, foi proposta uma definição para cada termo abordado, conforme pode ser observado acima.

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Alimentos e bebidas: menu; gourmet; casa de café; serviço de quarto; operação de alimentos e bebidas. Diárias: pernoite; pernoite com café da manhã; dayuse; meia pensão; pensão completa; all inclusive; diária balcão; diária com desconto; tarifa acordo; diária comissionada; full board; half board. Reservas: reserva confirmada; reserva garantida; reserva de grupos; no show; overbooking; garantia de no show. Recepção: check in; check out; late check out. Cargos: governanta; governança; camareira; sommelier; maître; concierge; gerente de hospedagem; recepecionista; front-office; gourmet; mensageiro; reservas; garçom; serviços gerais; capitão porteiro; mordomo; gerente de lavanderia; roupeiro; telefonista; chefe de fila; arrumador; agente de manutenção; auditor noturno; caixa. Unidades Habitacionais: double; standard; single; twin; upgrade. Outros: CHD; back to back; check-list; paid; pax; room list. Quadro 1 – Termos da pesquisa O principal resultado prático da pesquisa foi a redação das definições dos 32 termos selecionados que, em conjunto com outras definições que já foram ou estão sendo elaboradas por outros discentes vinculados ao projeto, poderão contribuir para a criação de um dicionário de Turismo. Segue abaixo as propostas de definições para os 32 termos da área da hotelaria: Categoria: Alimentos e bebidas coffee shop [HOT.] m. local em que são servidos lanches rápidos, especialmente o café. menu [HOT.] m. elemento em que constam as opções e preços de alimentos e bebidas disponíveis aos clientes. operação de alimentos [HOT.] f. apoio financeiro do setor de alimentos e bebidas com as vendas do hotel. room service [HOT.] m. tipo de serviço no qual o hóspede é atendido em seu quarto, cuja finalidade é trazer comodidade.

3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Categoria: Tipos de diárias

Com base nos procedimentos metodológicos adotados, foram selecionados 60 termos, organizados em sete categorias, conforme pode ser observado no quadro abaixo.

day use [HOT.] m. ocupação de unidade habitacional por um período de até 12 horas, possuindo geralmente um menor preço.

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meia pensão [HOT.] f. ocupação de unidade habitacional por um período de 24 horas, com café da manhã e mais uma das principais refeições inclusas, sendo almoço ou jantar. pernoite [HOT.] f. ocupação de unidade habitacional por um período de 24 horas sem nenhuma refeição inclusa. pernoite com café da manhã [HOT.] f. ocupação de unidade habitacional por um período de 24 horas com café da manhã incluso. pernoite com pensão completa [HOT.] f. ocupação de unidade habitacional por um período de 24 horas, que proporciona ao cliente a unidade habitacional e três refeições, sendo elas: café da manhã, almoço e jantar. Categoria: Reservas

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capitão porteiro [HOT.] m. profissional responsável pelo recebimento, malas e veículo do hóspede e fornecedor de informações gerais ao mesmo, utilizando uniforme diferente dos outros funcionários a fim de facilitar a identificação. concierge [HOT.] m. profissional também conhecido como porteiro social, que garante um atendimento personalizado ao hóspede, além de apresentar informações internas sobre o hotel, dá ao hóspede informações gerais sobre a cidade. camareira [HOT.] f. profissional que receber o aviso da recepção, faz a limpeza e arrumação das unidades habitacionais. front-office [HOT.] m. profissional responsável pelo primeiro e último contato com o hóspede e considerado chefe de recepção do hotel.

reserva [HOT.] f. processo que vende o hotel para hóspedes individuais e hóspedes em grupo e controla as diárias que são cobradas e a taxa de desocupação do estabelecimento.

garçom [HOT.] m. profissional responsável pelo contato direto com o cliente, recebendo o pedido dos mesmos.

reserva confirmada [HOT.] f processo de reserva em que o meio de hospedagem não solicita garantia ao cliente e caso algum motivo o impeça de viajar, ele não sofrerá perda.

gerente de hospedagem [HOT.] m. profissional membro da equipe gerencial, responsável pela operação de todos os setores ligados às tarefas de administração e controle.

reserva garantida [HOT.] f. processo que garante a reserva ao cliente, desde que o mesmo de uma garantia ao meio de hospedagem através de um pré-pagamento.

gourmet [HOT.] m. profissional que é considerado entendedor de pratos e bebidas, especialmente de vinhos.

reserva de grupos [HOT.] f. processo de reservas cujo encarregado faz anotações sobre determinado grupo através do room list que é encaminhado a outros setores.

governanta [HOT.] f. profissional responsável por manter a limpeza, organização e manutenção das unidades habitacionais e que tem o objetivo de supervisionar as camareiras, as rouparias e os serviços de andares.

Categoria: Recepção check in [HOT.] m. ação de entrada e cadastramento do hóspede no hotel, cujo objetivo é garantir a organização antecipada das informações do mesmo. check out [HOT.] m. ação de saída do hóspede no hotel, cujo objetivo é fechar a conta.

governança [HOT.] f. profissional responsável pela limpeza, higienização, lavanderia e decoração de todas as áreas. maître [HOT.] m. profissional que supervisiona todo trabalho realizado no restaurante, garante o treinamento de seu pessoal, recepção do cliente e atendimento de reclamações.

Categoria: Cargos da hotelaria caixa [HOT.] m. profissional responsável pela parte contábil do hotel, fazendo lançamentos e arquivamento de dados sobre o consumo dos hóspedes, sendo responsável também pela cobrança.

mensageiro [HOT.] m. profissional responsável pelas bagagens do hóspede, que possui ligação direta com o recepcionista, auxiliando no controle da entrada.

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recepcionista [HOT.] m. profissional presente em todos os ambientes hoteleiros, que cuida da parte burocrática da entrada no hotel e que deve possuir uma postura receptiva para saber acolher o hóspede com educação. sommelier [HOT.] m. profissional especialista em bebidas, principalmente em vinhos e suas cartas de composição, sendo responsável por orientar o cliente na escolha do vinho. Categoria: Outros

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CONCLUSÃO Neste trabalho, foram apresentadas as etapas metodológicas do processo de levantamento e definição de um conjunto de 32 termos relacionados à área da Hotelaria. Para isso, foram seguidas a etapas metodológicas da Terminologia e da Terminografia, que são as disciplinas científicas que estudam os termos e o processo de elaboração de dicionários especializados. Dessa forma, observou-se que o trabalho de elaboração de definições pressupõe um processo sistematizado e padronizado, conferindo maior qualidade ao resultado obtido.

back to back [HOT.] m. ação utilizada para bloqueio de unidades habitacionais em período de alta estação.

REFERÊNCIAS

check-list [HOT.] m. ação realizada para fazer uma checagem geral ou cobrança ao hóspede.

BARROS, Lidia Almeida. Curso Terminologia. São Paulo: Edusp, 2004.

CHD [HOT.] f. abreviação utilizada para descrever crianças de 2 a 11 anos ou criança não pagante.

CABRÉ, Maria Teresa. La terminología: teoría, metodología, aplicaciones. Barcelona: Antártida; Empúries, 1993.

básico

de

KRIEGER, M. da G.; FINATTO, M. J. B. Introdução à terminologia: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2004. RUSCHMANN, D.; SOLHA, K. T. Turismo: uma visão empresarial. São Paulo: Mancle, 2004.

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NARCOTURISMO: ANÁLISE DE UMA NOVA SEGMENTAÇÃO¹ SOARES, THIAGO PEDROSO SOARES2 ROCHA, ROBERSON BUSCIOLI DA3 thi.pedroso.soares@gmail.com, roberson.buscioli@unesp.br 1 Projeto

de pesquisa de conclusão de curso. Graduando(a) em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Mestre em Geografia (UFGD), Professor Assistente do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO A presente pesquisa tem por objetivo fomentar uma discussão em torno do fenômeno denominado “narcoturismo”, ou seja, turismo voltado para o consumo de substâncias psicoativas. Mesmo não sendo reconhecido como uma segmentação concretizada, sua existência choca com políticas públicas relativas aos psicoativos, que, por vezes, têm perfil proibicionista, ocasionando uma exclusão desse segmento no tocante às políticas de turismo. No caso do Brasil, o que está colocado é uma política abertamente proibicionista em relação às diversas substâncias, norteada por uma estratégia de conflagração declarada às drogas. Sendo o narcoturismo nosso foco de pesquisa, procurou-se entender como o mesmo funciona por meio de um levantamento teórico, ressaltando, por fim, a correlação dessa nova segmentação considerada dentro do segmento turístico como turismo excêntrico e ou de experiência.

Palavras-chave: Turismo de experiência, Narcoturismo, Turismo de psicoativos, Turismo Alternativo.

1 INTRODUÇÃO A abrangência do fenômeno que é o Turismo tem sua certa magnitude, dando uma possibilidade diversificada de segmentos e nichos, selecionando exclusivamente o turista e suas destinações. Em resposta, a definição proposta por Beni (2003, p. 37) como: (...) turismo é um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo influem inúmeros fatores de realização pessoal e social de natureza motivacional, econômica, cultural, ecológica e científica que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si para a fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonhos, desejos de imaginação projetiva, de enriquecimento histórico-humanístico, profissional e de expansão de negócios. Adentrando no assunto, rastreando a formação da palavra “Narcoturismo”, encontramos no Dicionário

Priberam da Língua Portuguesa (2008-2013): narco + turismo, “turismo organizado cujos destinos são locais onde se consome e adquire determinada droga entendida como qualquer substância que altera várias funções do organismo: percepção, conduta, motricidade etc”. Uma vez que existe uma ramificação de diversidade de psicoativos, encontrasse órgãos reguladores. Todavia, a determinação de que o psicoativo seja ou não ilícito, ou seja, observando seus efeitos, consequências e funções estão condicionadas às definições sociais, econômicas e culturais do grupo que consome a droga (ECHEVERRÍA, 2004). A título de exemplificação, o conceito de narcoturismo pode ser aplicado para situações em que existam variados usos e os diversos locais em que se podem conseguir/adquirir determinados tipos de substâncias psicoativas, seja lícita ou ilicitamente. Aprofundando mais o assunto, é possível caracterizar esse segmento como Turismo de Excentricidades, também conhecido como Turismo de Experiência, definido por Barbosa (2009, p. x) como: segmentação de mercado do setor turístico que compreende o movimento de turistas cujo atrativo principal é a prática de atividades extravagantes de

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caráter recreativo. Podendo ocorrer em qualquer espaço e assumindo formas diversificadas. Nesse sentido, concordamos que o conceito sobre turismo de experiência é novo e é uma tendência que está tomando cada vez mais espaço no mercado (NETTO; GAETA, 2010). Diante desse contexto, a principal dificuldade de se abordar tal tema está justamente na falta de um referencial teórico. 2 METODOLOGIA Para o desenvolvimento da pesquisa, foi realizada uma revisão bibliográfica relativa à história das substâncias psicoativas, em específico no Brasil, e aos aspectos socioculturais e históricos do processo de criminalização de psicoativos ao longo dos séculos, passando por uma revisão de pesquisas qualitativas já realizadas sobre as substâncias psicoativas e suas funções sociais. Obtendo essas informações, elaboramos um quadro teórico com os conceitos de cultura e construção social, após um levantamento etimológico das palavras: substâncias psicoativas, psicotrópicos e drogas. Em seguida, prosseguimos com a análise do processo que continua até os dias atuais em relação à questão da criminalização do consumo de psicoativos. Procurou-se, por fim, a correlação do assunto com o fenômeno do Turismo, em específico o Narcoturismo. 3 REVISÃO TEÓRICA Podendo dizer que os significados acerca das drogas, tanto contribuem para fundamentar seus contextos de uso, como justificam o seu uso nesses espaços sociais, sendo assim, observamos que a compreensão que acerca o universo das drogas variou ao longo da história da humanidade (SANTOS; ACIOLI NETO; SOUSA, 2012). Desse ponto de vista, a cultura e as práticas sociais tanto engendram como se alicerçam numa teia de significados compartilhada pelas pessoas (BERGER; LUCKMAN, 2004). Para além de qualquer julgamento, sabe-se da existência do Narcoturismo, dada a existência de uma gama de substâncias psicoativas e seus variados usos pela sociedade, ocasionando na espacialização do fenômeno. É nesse sentido que entendemos importante o entendimento do Narcoturismo, assim como sua inserção no contexto das políticas públicas de turismo, no sentido de administrar os prós e contras dessa segmentação turística diferenciada. Ressaltando que “pensar de forma ética é concordar que o turismo pode

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trazer muitas coisas boas, mas também se for mal planejado e desenvolvido, trará problemas” (NETTO, 2010). Observando a obra de Wahab (1997), que propõe que o turismo é: uma atividade humana intencional que serve como meio de comunicação e como elo da interação entre povos, tanto dentro de um mesmo país com fora dos limites geográficos dos países (...). Para o país receptor, o turismo é uma indústria cujos produtos são consumidos no local, formando exportações invisíveis. Os benefícios originários deste fenômeno podem ser variados na vida econômica, política, cultural e psicossociológica da comunidade. (WAHAB, 1997, p. 26) Ao retornar ao “Narcoturismo”, podemos o relacionar com o Turismo de Experiência, uma vez que ambos têm suas diversas motivações possíveis, desde a vontade de seguir os modismos da minoria até a busca por fortes emoções. Sendo assim, Soares (2009) enumera cinco critérios para determinar o turismo de experiência, sendo eles: Emoções únicas – viver aquele momento único, que venha ser uma ocasião jamais vivenciada em sua rotina, caracterizando como experiências memoráveis (...). Exclusividade – com o aumento do número de turistas, tornando destinos massificados, surge à busca pela exclusividade, por aquele momento e sensação única, direcionada para cada tipo de pessoa (...). Uso dos cinco sentidos – entra em questão o uso dos sentidos humanos, passando a utilizá-lo para melhor direcionar produtos e serviços, que venha proporcionar uma melhor satisfação (...). Interação – uma maior interação do indivíduo entre os serviços e produtos, vindo a proporcionar a abertura para diferentes tipos de emoções e sensações (...). Despertar de sonhos e sentimentos – suprir as necessidades dos indivíduos, para depois trabalhar os sonhos, utilizando em primeira instância valores mentais, emocionais e imateriais (...) (SOARES, 2009. p. 40, 41, grifos nossos).

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Por vez, compreendendo a ascendência do Turismo na sociedade capitalista como uma marca do século XX, oferecendo condições de realização para o desejo de conhecer novos ambientes, que para muitos autores, é inerente à condição humana. (BECKER, 2001). Dado que, de acordo com Coriolano, (2005, p. 52): O desenvolvimento econômico, os lugares e o turismo, para variados grupos e pessoas, possuem distintos significados. Quando pessoas de renda alta concebem a qualidade de vida e a sustentabilidade, emprestam a esses conceitos sentidos desiguais em relação aos que lhe são atribuídos pelos segmentos de classe pobre ou de baixa renda. Retomando a discussão do Narcoturismo, tal postura de não reconhecimento dessa segmentação do turismo por parte do Estado, está alijada na visão de que a melhor forma de prevenção contra as drogas é sua proibição e consequentemente a declaração da guerra ao tráfico, uma vez que as políticas públicas voltadas as substancias psicoativas estão focadas ao controle populacional. Para exemplificar, Arbex (1993), na obra “Narcotráfico – Um jogo de poder nas Américas”, relata que “o objetivo da guerra ao narcotráfico é o controle militar de regiões estratégicas que não estão, necessariamente, incorporadas ao mercado, a não ser através do comércio de drogas”. 4 CONCLUSÃO Neste trabalho, abordamos o polêmico assunto da suposta segmentação turística denominada de Narcoturismo e concluímos que a existência da mesma se dá por efeito de encontrar-se uma gama de substâncias psicoativas e seus múltiplos usos pela sociedade, possibilitando oportunidades aos seus usuários de usufruírem dessas experiências. A legitimidade do Narcoturismo esbarra em questões de políticas públicas, tratando-se em específico no Brasil, o qual adota um formato repressivo como política às drogas, caracterizado por ser uma verdadeira guerra declarada, em sua maioria afetando as baixas classes sociais e seus usos culturais a determinados psicoativos. A importância desse trabalho está na compreensão inicial sobre esse polêmico assunto, permitindo-nos desenvolver essa linha de pesquisa pouco discutida no meio acadêmico. REFERÊNCIAS

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ARBEX JUNIOR, J. Narcotráfico – Um jogo de poder nas Américas. 4. ed., São Paulo: Editora Moderna, 1993. BARBOSA, M. L. A. Turismo de Excentricidades. In: PANOSSO NETTO, A.; ANSARAH, M. G. R. Segmentação do Mercado Turístico. Barueri: Manole, 2009 BARROS, R. P; MENDONÇA, R. S. P. Os determinantes da desigualdade no Brasil. Rio de Janeiro: IEPA, 1995. BECKER, B. K. Políticas e planejamento do turismo no Brasil. Caderno Virtual do Turismo, Rio de Janeiro. 2001, v. 1., n. 1. BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis, 2004. BENI, M. B. Análise estrutural do turismo. São Paulo: Editora Senac, 2003. CORIOLANO, L. N. M. T. Epistemologia da análise do discurso no turismo. Caderno Virtual do Turismo, Rio de Janeiro, v. 5., n. 2, 2005. ECHEVERRÍA, A. Representaciones sociales de las drogas de jóvenes urbano populares en proceso de rehabilitacion en comunidad terapeutica. Monografia, Escuela de Ciencias Sociales, Carrera de Psicología, Universidad de Chile, 2004. NARCOTURISMO. Dicionário on line do Priberam. Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/narcoturismo. Acesso em: 10 abr. 2018. NETTO, A. P. O que é Turismo. Local: Brasiliense, 2010. NETTO, A. P.; GAETA, C. Turismo de experiência. São Paulo: Senac, 2010. SANTOS, M. F. S.; ACIOLI NETO, M. L.; SOUSA, Y. S. O. Representações sociais do crack na imprensa pernambucana. Estudos de Psicologia, 2012. SOARES, T. C. Características do Turismo de Experiência: Estudos de caso em Belo Horizonte e Sabará sobre inovação e diversidade na valorização dos clientes. 2009. Monografia (Graduação em

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Anais da VII Mostra Científica de Turismo, UNESP, Rosana - SP, 26 de outubro de 2018. n.1, v.7.

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UMA REFLEXÃO SOBRE O TURISMO NÁUTICO: POTENCIALIDADES PARA DESENVOLVIMENTO NO BRASIL1 AZANHA, AUGUSTO CÉSAR OLIVEIRA2 BARCIELA, ISADORA DE OLIVEIRA PINTO2 RIBEIRO, ROBERTA DIAS DE MORAES3 augusto_azanha@hotmail.com, isa_barciela@hotmail.com, rdm.ribeiro@unesp.br 1 Projeto de pesquisa. 2 Graduando(a) em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Mestre em Turismo, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, São Paulo.

RESUMO - O turismo náutico é um segmento em crescimento e possui todas as características para se estabelecer no Brasil, deve então haver o planejamento adequado voltado para o turista e para o território. O presente trabalho faz uma reflexão sobre o surgimento do turismo náutico, abordando questões como infraestrutura e seu potencial geográfico como fator de desenvolvimento comercial e motivador de viagens internas e internacionais no Brasil, visto que o país possui grandes vantagens no que se refere a águas navegáveis, principalmente por possuir a maior costa marítima do globo terrestre, 8.500 km. Palavras-chave: Turismo náutico, Brasil, Embarcações de recreio.

1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento das atividades relacionadas à náutica, principalmente nas grandes cidades, decorreu das facilidades advindas da localização privilegiada, aliada às condições naturais, o que constituiu ao longo do tempo o crescimento da população em determinadas regiões, criando oportunidades e surgimento de novos negócios, entre eles os relacionados ao segmento náutico, seja fluvial, lacustre ou marítimo (SOUZA; FERNANDES; CARPINTEIRO, 2016). De acordo com a história, as populações primitivas se concentravam próximas às margens dos rios, lagos e mares, por questões de sobrevivência e fonte de recursos, além de usarem as vias aquáticas para a exploração de novos lugares e futuramente como forma de deslocamento, transporte, interesses comerciais e lazer. Entretanto, foi fundamental o aprimoramento de novas tecnologias para que as técnicas de embarcações evoluíssem e alcançassem suas finalidades específicas, avançando gradativamente no decorrer dos anos. Com a possibilidade de avanço e desenvolvimento das tecnologias voltadas à náutica, ao longo dos anos, o homem avistou a potencialidade e os benefícios que a navegação proporcionaria aos Universidade Estadual Paulista-UNESP, Campus de Rosana/SP ;

indivíduos, tanto para o deslocamento de pessoas como de mercadorias, tornando as viagens em embarcações mais frequentes. Contudo foi somente no início do século XIX, que as embarcações alcançaram características recreativas, a partir da construção de transoceânicos movidos a vapor (AMARAL, 2002). O surgimento desse novo transporte foi importante gerador para o desenvolvimento do turismo de lazer e desportivo. Destaca-se que a atividade náutica quando atrelada ao turismo diferencia-se do simples ato de navegação e transforma a embarcação no principal motivador da viagem e não apenas no meio de transporte, apontando então um novo segmento dentro da indústria turística, a partir das embarcações de recreio e dos demais elementos que compõem a atividade, como, a atuação dos iates clubes, o suporte das marinas e os serviços complementares ofertados, que geram novos empregos, recursos e novos destinos, devido ao trade turístico (BRASIL, 2010). Nessa concepção, o turismo náutico é a atividade turística cuja motivação de lazer está associada ao litoral, rios, lagos, lagoas e atividades afins, incluindo os esportes náuticos (EMBRATUR, 2003), praticado tanto em grandes navios como ISSN 2595-1440


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em pequenas embarcações de recreio (EMBRATUR, 2003 apud HRDLICKA et. al, 2005, p.368). O aumento da demanda para com o turismo náutico se iniciou devido à possibilidade de visitar diversos destinos em um transporte que, por si só, é um atrativo e ocorre em um ambiente contemplativo, também pelo serviço ofertado a bordo, neste caso, principalmente, quando a atividade é realizada por meio de navios. Porém, outras atividades relacionadas à náutica vêm crescendo no mercado e hoje há inúmeras opções ofertadas para os diversos perfis de turistas. No Brasil, a expansão do mercado náutico se deu entre os anos de 2000-2001, com a chegada do maior navio já operado em viagens nos portos do país, o Splendour of Seas da empresa Royal Caribbean. Desse modo, surgiu um interesse comercial dos empreendedores, que investiram no marketing e despertaram o interesse do público, que até então era alheio a esse segmento do turismo. Dessa forma, empresas tradicionais do país, como Costa Cruzeiros e MSC, investiram na atividade, oferecendo maior qualidade nos serviços, navios maiores e mais modernos, atraindo assim uma alta demanda (HRDLICKA, 2005). No entanto, o turismo náutico não se caracteriza somente pelos cruzeiros, incluem-se embarcações menores para atividade de recreio e competições esportivas, tendo também como diferencial o acesso a locais onde embarcações de grande porte não conseguem navegar devido ao acesso restrito, como por exemplo, pequenas baías e ilhas, ao longo dos 35 mil quilômetros de vias internas navegáveis e 9.260 mil quilômetros de margens de reservatórios de água doce existentes no Brasil, além da contemplação proporcionada, proporcionada pelas belezas cênicas durante o trajeto (BRASIL, 2010). Sendo assim, o objetivo deste trabalho é averiguar o cenário da atividade náutica utilizada para o turismo no Brasil, buscando entender sua potencialidade de desenvolvimento, perante sua geografia e possíveis vantagens. METODOLOGIA Como processo metodológico, utilizou-se a abordagem de revisão bibliográfica, a partir de material já produzido, buscando identificar autores que tratam da atividade náutica voltada para o turismo e também das potencialidades de desenvolvimento desse segmento no Brasil.

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DISCUSSÃO Segundo a OMT - Organização Mundial do Turismo, uma das novas tendências do mercado é o turismo náutico (BRASIL, 2010) Segundo Trigo (2001), o Brasil é um dos maiores países em termos de potencial navegável, com a maior costa marítima do globo terrestre, são 8.500 quilômetros de extensão, vastas praias de areia branca, banhado na maior parte por uma corrente marítima com águas tépidas e cristalinas. Dependendo do lugar, é possível frequentar as praias 12 meses por ano (TRIGO, 2001). O que confere ao país grande destaque como destino turístico quando comparado com outros países da América do Sul e demais continentes. Desse modo, pode-se afirmar que o Brasil possui um diferencial geográfico, com grande disponibilidade de águas internas navegáveis, uma das maiores redes hidrográficas do mundo e uma vasta gama de paisagens e atrações acessíveis por vias aquáticas. Além de contar com um fator propulsor para o turismo, a existência de comunidades ribeirinhas, repleta de cultura tradicional brasileira, e um fator de grande relevância, o clima tropical, cujo qual permite a navegação ao longo de todo o ano, diferentemente de países com temperaturas mais baixas. Ainda que o país possua inúmeras vantagens e facilidades geográficas, a atividade náutica ainda é incipiente quando comparada a outros países. Essa característica não advém somente do planejamento inadequado, mas também da bagagem cultural dos indivíduos e questões comportamentais, uma vez que a sociedade brasileira não é incentivada e acostumada a realizar viagens e usufruir de atividades náuticas, dessa forma acabam por não valorizar essa prática e sim outros segmentos do turismo. Outro fator prejudicial ao fomento da náutica seria a vinculação da atividade a um poder de compra alto, relacionado à renda, riqueza e educação, ou seja, o poder de compra do consumidor é influenciado por diversas atitudes, hábitos e costumes já adquiridos de acordo com a sociedade a qual pertence. Mesmo o turismo náutico sendo uma tendência e se popularizando ao longo dos anos, ainda ocorre esta visão distorcida por parte dos turistas, que acabam muitas vezes não realizando a atividade pelo fator econômico relacionando a viagem náutica e o lazer em embarcações a realidades distantes de riqueza e luxo. Ainda há a falta de estruturas adequadas para o desenvolvimento da atividade, embora sejam elementos externos e possuírem menor atração que as embarcações e seu uso pelos passageiros seja rápido, a infraestrutura de embarque e as instalações já existentes, não são proporcionais ao tamanho e as ISSN 2595-1440


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condições favoráveis que o Brasil possui. Dessa forma são deixadas de lado gerando um visível contraste e abandono (AMARAL, 2002). Para atender este mercado, são necessárias marinas para acomodar as embarcações e hotéis para acomodar seu público – os proprietários das embarcações. Além disso, há a necessidade de lojas de utilidades náuticas, despachante marítimo, postos de combustível, charter de embarcações, lojas de reparo, escolas de navegação e mergulho e venda de embarcações, entre outros, os quais, de preferência, sejam oferecidos numa única estrutura, por exemplo, um complexo náutico (HRDLICKA et al, 2005, p.376). Diferentemente de outros países que agregam o turismo náutico ao setor turístico, o Brasil ainda carece de suporte para a atividade, deixando as oportunidades escaparem, como por exemplo, não investir em infraestrutura e eventos náuticos para atrair os turistas. Outros destinos náuticos possuem o planejamento voltado para as atividades náuticas como um todo, entre esportes, competições e eventos, além de também traçarem planos para os rios e canais que cortam as cidades, havendo desse modo um segmento náutico diversificado e integrado. Nos países europeus, em que a atividade se encontra em tendência, a oferta atual é de adaptação de antigas infraestruturas portuárias para a náutica de recreio, assim também como a construção de infraestruturas ligeiras (pequenos portos de recreio, fundeadouros, equipamentos de acesso a água entre outros) (SOUZA; FERNANDES; CARPINTEIRO, 2016). No entanto, o turismo náutico brasileiro esteve muito tempo vinculado às grandes embarcações, contempladas ao luxo. Isso possivelmente ocorreu devido à falta de investimentos públicos e privados, que não possuem diretrizes e planejamentos adequados para desenvolver áreas com potencialidade e a falta de estrutura portuária e de empreendimentos de apoio a náutica, não havendo estruturação do segmento, se comparada a outras atividades. Diante de todos os fatores analisados, pode-se concluir que o Brasil é um país privilegiado para o desenvolvimento da atividade náutica de lazer. Entretanto ainda é necessário investimento em infraestruturas básicas e complementares que ofereçam suporte a náutica de recreio, como nas marinas e portos que devem possuir píeres, diques, atracadouros, amarras, sinalização, e espaços exclusivos para Universidade Estadual Paulista-UNESP, Campus de Rosana/SP ;

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embarque e desembarque de passageiros. Além de estruturas hoteleiras relacionadas ao turismo náutico, como por exemplo, hotéis com marinas, sendo produtos diferenciados e agregadores para o desenvolvimento da atividade. Essas políticas de incentivo devem estar correlacionadas, a partir de parcerias nas esferas, federal, estadual e municipal, para que ocorra um planejamento em conjunto e posteriormente a consolidação do segmento. Para tanto, deve também haver incentivo para com profissionais da área e empresários, pois serão estes que estarão envolvidos e em contato com o turista. CONSIDERAÇÕES FINAIS O turismo náutico é um segmento em crescimento e tem todas as características para se estabelecer no Brasil, deve então haver o planejamento adequado voltado para o turista e para o território. Os planejadores devem almejar um serviço de qualidade, por meio da capacitação de profissionais; busca pelo equilíbrio socioambiental e desenvolvimento local, trazendo melhorias para a cidade, participação e envolvimento da população e geração de empregos à comunidade local; investimentos em educação ambiental, pois a atividade gera impactos no meio ambiente, por fim, incentivos para que os brasileiros realizem atividades náuticas, para que assim, futuramente, ocorra um despertar para a tradição náutica. Consequentemente, estado esses elementos bem estruturados haverá a expansão da atividade, fomentando esta tipologia e beneficiando o turismo no Brasil. REFERÊNCIAS AMARAL, R. Cruzeiros Marítimos. Editora Manole Tamboré, SP, 2002. BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo Náutico: orientações básicas. 3. ed. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. SOUSA, João Figueira de; FERNANDES, André; CARPINTEIRO, Ana. O Desenvolvimento das Actividades Náuticas de Recreio como Estratégia de Valorização Territorial: um olhar sobre o Estuário do Tejo, 2016. Acesso em 06 set. 2018 HRDLICKA, Hermann et al. Panorama do turismo náutico de lazer. In: TRIGO, Luiz Gonzaga Godói (edit.). Análises regionais e globais do turismo brasileiro. São Paulo: Roca, 2005, p. 365-38. ISSN 2595-1440


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