Anais das VI Mostra Científica de Turismo

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ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA

NOVOS SEGMENTOS E EMPREENDIMENTOS NO TURISMO

ORGANIZADORES DOS ANAIS: Ivanir Azevedo Delvizio Rosângela Custodio Cortez Thomaz Leonardo Giovane Moreira Gonçalves

REALIZAÇÃO:

APOIO:

REALIZAÇÃO:

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COMISSÃO ORGANIZADORA DA IX SEMANA DE TURISMO Rosângela Custodio Cortez Thomaz (Presidente da Comissão Organizadora)

Ananda C. R. M. dos Santos Caio H. Borba Gustavo E. Ferreira Gabriela B. de Lima Jéssica S. C. Lattanzi João P. B. de Farias Laís R. M. Vieira Leonardo G. M. Gonçalves Lucas C. Fernandes Rafaela S. da Silva Victoria de A. B. Tatini Victória R. Falcão

COMISSÃO CIENTÍFICA DA VI MOSTRA CIENTÍFICA Profa. Ivanir Azevedo Delvizio (Presidente da Comissão Científica)

Prof. Ewerton Henrique de Moraes (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Eduardo Romero de Oliveira (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Fábio Luciano Violin (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Fernando Protti Bueno (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Francisco Barbosa Nascimento Filho (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Guilherme Henrique Barros de Souza (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Juliana Maria Vaz Pimentel (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Luciana Codognoto da Silva (UFMS – Câmpus de Nova Andradina) Profa. Renata Maria Ribeiro (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Roberson da Rocha Buscioli (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Rosângela Custodio Cortez Thomaz (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Vagner Sérgio Custódio (UNESP - Câmpus de Rosana)

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APRESENTAÇÃO É com satisfação que apresentamos os Anais da VI Mostra Científica e IX Semana Acadêmica de Turismo, evento promovido pelo Curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista (UNESP), entre os dias 18 e 20 de outubro de 2017, no Câmpus Experimental de Rosana. Buscando promover um espaço de discussão e reflexão, em sua nona edição, a Semana Acadêmica do Turismo teve como tema central os novos segmentos e empreendimentos no turismo, promovendo palestras, roda de discussão e conferência sobre turismo LGBT, turismo tecnológico, turismo de guerra, turismo e cidades inteligentes, turismo gastronômico e restrição alimentar, turismo e acessibilidade, além dos minicursos Bar e Sommelier. Além disso, no dia 20 de outubro, foi realizada a VI Mostra Científica, com apresentação de trabalhos inseridos em cinco eixos temáticos: Turismo e Cultura; Turismo e Desenvolvimento Local; Turismo, Marketing e Serviços; Turismo e Políticas Públicas e Outros Segmentos do Turismo, que foram organizados em três grupos de trabalho (GTs). No GT1 – Turismo, Marketing e Serviços, coordenado pelo Prof. Me. Roberson da Rocha Buscioli, foram apresentados trabalhos sobre a potencialidade do uso de recursos de realidade virtual na área do turismo, a importância da atratividade, criatividade e representatividade na criação de logotipos, a efetividade no uso das ferramentas mercadológicas no setor de A&B, a utilização do meio digital nos hotéis de pequeno porte e a terminologia relativa à hotelaria e aos meios de hospedagem. No GT2 – Turismo, Cultura e Desenvolvimento Local, coordenado pela Profa. Dra. Rosângela Custodio Cortez Thomaz, os trabalhos versaram sobre a questão do lazer nos çassentamentos rurais, a contribuição da cultura africana para a formação do samba e sua relevância para o turismo no Rio de Janeiro, o impacto da massificação do turismo na identidade mística de São Thomé das Letras, o turismo em favelas e a terminologia relativa ao patrimônio cultural. No GT3 – Múltiplos Olhares sobre o Turismo, coordenador pelo Prof. Me. Francisco Barbosa do Nascimento Filho, foram discutidos temas variados, como o narcoturismo, as gírias utilizadas por visitantes de penitenciárias, os fatores motivacionais dos frequentadores do festival Atlântida, a importância do Programa de Educação Tutorial para a formação acadêmica, projetos de lei dos municípios de interesse turístico e unidades de conservação. Os trabalhos apresentados estão organizados de acordo com o eixo temático em que se inseriram, dividindo-se em duas categorias: artigos completos e resumos expandidos. Agradecemos a todos que colaboraram para o sucesso da VI Mostra Científica e da IX Semana Acadêmica de Turismo e esperamos que esta publicação contribua para o desenvolvimento dos estudos na área do Turismo. Ivanir Azevedo Delvizio Presidente da Comissão Científica

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SUMÁRIO Artigos Científicos: Turismo e Cultura A trajetória de vida e origem em uma análise reflexiva: o Museu do Assentado no município de Rosana/SP ........ 8 Leonardo Giovane Moreira Gonçalves; Rosângela Custodio Cortez Thomaz.

Artigos Científicos: Turismo, Marketing e Serviços Análise perceptual dos logotipos de baladas LGBT em São Paulo: um estudo nos atributos atratividade, criatividade e representatividade. ................................................................................................................................. 22 Vagner Sérgio Custódio; Maria Fernanda Sanchez Maturana; Fábio Luciano Violin; Francisco Barbosa do Nascimento Filho. Sonhos simulados: o potencial da realidade virtual como produto turístico ............................................................. 29 Fabrício Alvez Martins; Ariel de Carvalho Santos; Fábio Luciano Violin. Marketing mix do setor de A&B: análise da efetividade no uso das ferramentas mercadológicas ......................... 35 Fábio Luciano Violin; Guilherme Henrique Barros de Souza: Renata Maria Ribeiro: Fabrício Alves Martins.

Artigos Científicos: Turismo e Políticas Públicas Análise e perspectivas de lazer para as comunidades rurais dos assentamentos do município de Rosana/SP ....... 46 Isadora de Oliveira Pinto Barciela; Maria Luiza Carucci Alvez; Mateus Ribeiro de Oliveira.

Resumos Científicos: Turismo e Desenvolvimento Local Turismo de realidade: a turistificação da favela da rocinha com foco na comunidade receptora .......................... 56 Lara Testoni Rossi; Ewerton Henrique de Moraes.

Resumos Científicos: Turismo, Marketing e Serviços A utilização das mídias sociais nos hotéis de pequeno porte de Rosana/SP ............................................................... 60 Gabriela Butzer de Lima; Francisco Barbosa do Nascimento Filho.

Resumos Científicos: Turismo e Políticas Públicas Mapa do MIT: identificação do andamento dos projetos de lei ................................................................................. 64 Ana Paula Marques Gonçalves; Ewerton Henrique Moraes.

Resumos Científicos: Turismo e Cultura Compreender as mudanças na identidade mística esotérica em São Thomé das Letras causadas pela massificação do turismo ........................................................................................................................................................................ 68 Sarah Delamagna Bordonal; Guilherme Henrique Barros de Souza. A contribuição da cultura africana para a formação do samba brasileiro e sua relevância no desenvolvimento do turismo na cidade do Rio de Janeiro/RJ .................................................................................... 71 Ismael Muniz Pessoa; Juliana Maria Vaz Pimentel; Bruna Novais Souza.

Resumos Científicos: Outros Segmentos do Turismo Turismo de eventos: análise dos fatores motivacionais dos frequentadores do festival de música eletrônica atlântida - Ilha do Paraíso - Ilha Solteira/SP ................................................................................................................ 76 Sarah Delamagna Bordonal; Roberson da Rocha Buscioli; Bruna de Souza Novais; Lara Testoni Rossi.


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As gírias influentes entre o grupo de visitantes de penitenciárias .............................................................................. 79 João Paulo Bloch Farias; Juliana Maria Vaz Pimentel; Renata Maria Ribeiro. O narcoturismo como segmentação .............................................................................................................................. 82 Roberson da Rocha Buscioli; Thiago Pedroso Soares. A importância do programa de educação tutorial (PET) na formação de membros do projeto universitário ...... 85 Jéssica Suellen Caetano Lattanzi; Rafaela Santos da Silva; Rosângela Custodio Cortez Thomaz. Levantamento de termos relativos ao campo do patrimônio cultural ........................................................................ 88 Ivanir Azevedo Delvizio; Jéssica Suellen Caetano Lattanzi. Terminologia do turismo: hotelaria e meios de hospedagem ...................................................................................... 91 Dara Cleaver Afonso; Ivanir Azevedo Delvizio; Camila da Silva Dias; Lucaiana Ferreira Gonçalves. Dicionário de turismo: proposta de modelo de definição das unidades de conservação .......................................... 94 Beatriz Sousa Pereira; Ivanir Azevedo Delvizio.


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A TRAJETÓRIA DE VIDA E ORIGEM EM UMA ANÁLISE REFLEXIVA: O MUSEU DO ASSENTADO NO MUNICÍPIO DE ROSANA/SP ¹ GONÇALVES, Leonardo Giovane Moreira² THOMAZ, Rosângela Custodio Cortez³ Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana leonardo.giovane@hotmail.com, rocortez@rosana.unesp.br Artigo Científico vinculado à Iniciação Científica: “Patrimônios e Lazeres Turísticos: O Museu do Assentado no município de Rosana/SP”, financiada pelo Pibic/CNPq 2015/2016. ² Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana/SP. ³ Pós-doutorado em Turismo, Universidade de Santiago de Compostela (USC), Espanha, Doutora e Mestre em Arqueologia, Universidade de São Paulo (USP), Licenciada e Bacharel em Geografia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Presidente Prudente/SP. 1

RESUMO – Ao longo da história da humanidade, pesquisadores e pensadores sempre refletiram sobre as transformações das eras e, sobretudo, previam o dia em que o homem se renderia a sua própria criação, ou seja, aos meios tecnológicos. No contexto atual, observa-se, a cada dia, a marcha forçada da sociedade rumo ao desenvolvimento, obtenção de lucro e expansão das fronteiras, não obstante, essa mesma sociedade esvazia-se dos passos do passado e constrói um futuro refletindo somente no presente, ocasionando, assim, a marginalização de grupos sociais. Desse modo, o presente trabalho buscou retratar a trajetória de vida e origem da assentada Maria de Lurdes, pertencente ao assentamento Nova Pontal, situado em Rosana/SP. O recorte da pesquisa busca expor as características de um povo que lutou e luta pela posse de terra no extremo oeste de São Paulo. Para isso, utilizou-se de uma pesquisa bibliográfica exploratória para contextualizar os fatos coletados por uma entrevista semiestruturada. Desse modo, tornou-se possível refletir sobre a história de vida e origem da assentada com os paradigmas existentes no meio em que a mesma está, e identificou-se a relação entre os relatos individuais e coletivos, bem como de que modo a história individual auxilia no entendimento dos fatos históricos. Palavras-chave: Trajetória de Vida; Origem; Memória Oral. ABSTRACT - Throughout the history of humanity researchers and thinkers have always reflected on the transformations of the ages and above all, predicted the day when man would surrender his own creation, in other words, the technological resources. In the current context, it is observed every day the forced march of the society towards development, obtaining profit and expansion of frontiers, nevertheless, this same society empties from the footsteps of the past and constructs a future reflecting only in the present, thereby causing marginalization of social groups. Thus, the aim of this work is to portray the trajectory of life and origin of Maria de Lourdes, belonging to Nova Pontal Settlement, situated in Rosana/SP. The research clipping seeks to expose the characteristics of a people which fight and fought for possession of land in the West of São Paulo. For this it was used an exploratory bibliographical research to contextualize the facts collected by a semi-structured interview. In this way, it has become possible to reflect on the history of life and origin of the settled with the paradigms in the midst of which she is, and identify the relationship between individual and collective accounts, as well the way individual history helps to understand historical facts. Keywords: Trajectory of Life; Origin; Oral memory.

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1 INTRODUÇÃO Localizado no extremo Sudoeste do Estado de São Paulo, o Pontal do Paranapanema é pertencente à região Alta Sorocabana do extremo oeste do Estado de São Paulo, delimitada pelos rios Paranapanema, fronteira com o Estado do Paraná, e Paraná, fronteira com o Estado do Mato Grosso do Sul. A atividade econômica predominante na região é a agropecuária, dado que sua estrutura fundiária está baseada em latifúndios localizados em terras pertencentes ao Estado, que foram griladas em anos passados (THOMAZ, 2013, p.5). A apropriação do Pontal foi marcada por inúmeros fatores desumanos e ilegais, como o extermínio dos indígenas, grilagem de terras, desmatamento, comercialização e ocupação de terras. Um dos grandes grilos que aconteceram foi o da fazenda Pirapó-Santo Anastácio, tendo preceitos empresariais, dando origem a inúmeras outras fazendas (SOBREIRO, 2013, p. 52). Monbeig (1984) salienta que a marcha capitalista para o Oeste Paulista aconteceu em três etapas. A primeira tem origem de 1900 a 1905, embalada pela conjunta produção de café e a construção das estradas de ferro no estado de São Paulo (SOBREIRO, 2013, p. 53). A segunda etapa durou até meados de 1929, que foi palco da crise econômica, sobretudo a crise do café no contexto mundial. Dessa forma, a vinda de imigrantes, as migrações internas e o avanço das estradas de ferro se tornaram mais presentes nas zonas pioneiras. A marcha para o Oeste Paulista foi impulsionada pelo modelo capitalista de produção. Dessa forma, como existiam inúmeras terras a Oeste do estado, várias ações pioneiras se formalizaram para explorar a nova área e incorporar esses espaços ainda não utilizados para o plantio (SOBREIRO, 2013, p. 54). Sobreiro (2013, p. 93) ainda expõe que, devidos aos inúmeros ‘grilos1’ que ocorreram, em 21 de fevereiro de 1891, o Ministério da Agricultura foi favorável à alocação de colonos estrangeiros nas terras da Fazenda Pirapó-Santo Anastácio (que era uma terra grilada posteriormente). Com isso, intensificou-se a vinda de migrantes para a região, pois muitos consideraram que essa era uma terra devoluta. Dessa

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A expressão grilagem faz menção a uma antiga prática de envelhecer documentos forjados para adquirir a posse de terras. Estes documentos eram postos em caixas com grilos, que ao defecarem davam um aspecto envelhecido aos documentos.

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forma, aconteceu um processo de grilagem dentro de uma terra já grilada. Contudo, o surgimento das cidades se intensificou por volta de 1951, com a Estrada de Ferro Sorocabana e a criação de um ramal saindo de Presidente Prudente/SP até as barrancas do Rio Paraná (LEITE, 1998, p.95). Segundo Leite (1998, p. 97), no ponto final dos trilhos, a firma Camargo Correia decide fazer uma cidade. O município se chamaria Rosana, nome de uma das filhas de Sebastião Camargo, e seria cercado por lotes rurais, chácaras, sítios e fazendas. Contudo, a estrada não foi finalizada até a atualidade. É visto que os conflitos pela posse de terra sempre foram marcantes no Pontal do Paranapanema e só tiveram uma diminuição com a construção das usinas hidrelétricas de Porto Primavera/SP, no rio Paraná, e de Rosana/SP e Taquaruçu, no rio Paranapanema, e com a instalação da Destilaria de Álcool Acídia no município de Teodoro Sampaio/SP (PAIÃO, 2001, p.40). Segundo Paião (2001, p.39), após o término das usinas hidrelétricas de Porto Primavera/SP, Rosana/SP e Taquaruçu/MS, que geraram cerca de 30 mil empregos para a região, muitos empregados foram demitidos. Diante disso, muitos trabalhadores continuaram na região sem perspectiva de trabalho. Com o fechamento dos estabelecimentos e a crise econômica, muitos se viram obrigados a voltar para o campo. Surge, nesse período, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra- MST, que começa a exercer forte pressão sobre o governo e os fazendeiros, pelo fato de as terras da região serem devolutas e pertencerem ao Estado, logo deveriam sofrer o processo da reforma agrária (PAIÃO, 2001, p.40). Em julho de 1990, o MST fez a sua primeira ocupação no Pontal, especificamente no município de Teodoro Sampaio/SP, iniciando, assim, o quadro de luta por terras no oeste paulista (FERNANDES; RAMALHO, 2001). Diante da instabilidade social e econômica e das ocupações e conflitos, sendo a região do Paranapanema a mais pobre do Estado de São Paulo, o governo, em 1995, decide implantar o plano de ação governamental para o Pontal. Segundo Pimentel (2005, p.125), até o ano de 2001, a região do Pontal possuía cerca de 88 assentamentos rurais, distribuídos em 16 municípios. Desses, Mirante do Paranapanema/SP era o que mais possuía assentamentos, cerca de 33% do total. Até meados de 2001, o município de Rosana, que está localizado no extremo Oeste do Estado de São Paulo, fazendo divisa como os municípios de Euclides da Cunha Paulista, Teodoro Sampaio e com os Estados de Mato Grosso do Sul e Paraná, possuía três (3)

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assentamentos, que eram os assentamentos: Nova Pontal, Bonanza e Gleba XV de Novembro, com 717 famílias assentadas em uma área de 17.240 hectares, e, em 2005, foi instituído o assentamento de reforma agrária Porto Maria, para 41 famílias de trabalhadores rurais (FERNANDES; RAMALHO, 2001). Segundo o Censo 2010, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população do Município era de 19.691 habitantes, desses 80% estão na cidade. Embasado nos fatos históricos relativos ao uso e à apropriação de terras no Pontal do Paranapanema, o presente trabalho tem como intuito explanar sobre parte dos resultados obtidos pela Iniciação Cientifica “Patrimônios e Lazeres Turístico: O Museu do Assentado no Município de Rosana/SP”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/ CNPq, orientado pela Profa. Dra. Rosangela Custodio Cortez Thomaz. O presente trabalho busca retratar a trajetória e origem da assentada Maria de Lurdes Santos de Oliveira, natural do município de Diamante do Norte/PR e residente no assentamento de reforma agrária Nova Pontal, situado no distrito rural de Primavera- Rosana/SP. Assim, busca responder os seguintes questionamentos: De que forma a história individual auxilia no entendimento da apropriação agrária local? De que forma os traços culturais individuais interagem com o meio coletivo dos assentamentos de reforma agrária? 1.1 Metodologia Utilizou-se para a realização deste trabalho visita in loco ao lote da assentada Maria de Lurdes Santos de Oliveira para que fosse possível a realização de uma entrevista utilizando a metodologia da história que abordou os aspectos origem e trajetória de vida no contexto coletivo e individual da entrevistada. As entrevistas foram realizadas durante o período de vigência do projeto 2015/2016. Os relatos orais da entrevistada foram gravados em um aparelho celular e, posteriormente, transcritos na íntegra para servir de base neste trabalho. Quanto à elaboração do roteiro de entrevista, a mesma se dividiu em quatro principais partes. Sendo a primeira ‘Trajetória de vida e origem’, a qual buscou percorrer em uma linha cronológica os fatos que ocorreram na vida dos entrevistados até a obtenção do lote, assim como de qual modo os mesmos cozinhavam, dormiam, viviam e faziam suas atividades cotidianas, seja no período do acampamento, ocupações e/ou em outras fases de suas vidas; a segunda denominada ‘Crescimento’, que teve a pretensão de obter

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informações sobre as lendas, mitos, estórias, brinquedos e brincadeiras que os entrevistados faziam uso no passado. A terceira, por sua vez, intitulada ‘Trabalho’, buscou relatos sobre os modos de trabalho dos pais e dos entrevistados, com o intuito de relacionar esses relatos com os anteriores e criar um perfil social dos entrevistados, bem como as suas relações com o trabalho, lazer, educação, militância e demais áreas. Já a quarta e última intitula-se ‘História’ e almejou realizar uma espécie de feedback a partir dos relatos orais dos entrevistados, em outras palavras, os entrevistados respondiam perguntas como “Ao longo de sua trajetória de vida houve algo que te marcou?”, pois, assim, tornava-se possível identificar os pontos mais importantes após dezenas de minutos de entrevista. A elaboração desse roteiro de entrevista teve como base o modelo de entrevista exposto no livro “A voz do passado” (THOMPSON, 1992). No entanto, devido ao perfil da entrevistada, objetivo da pesquisa e objeto de estudo, houve mudanças significativas na supressão e adição de perguntas e apontamentos diante do roteiro modelo apresentado pelo autor no livro. Além disso, para a elaboração deste artigo científico, tendo como intuito aprofundar as discussões dos resultados e gerar assim a análise reflexiva dos relatos orais, foram utilizados livros, artigos científicos, sites, monografias e outros materiais que versam sobre o turismo no espaço rural, patrimônio material e imaterial, memória, traços culturais e outros temas relacionados ao objeto de pesquisa. Justifica-se a escolha da entrevistada, Maria de Lurdes, devido ao seu rico detalhamento oral prestado durante a entrevista a respeito do seu histórico de vida e origem. Além da minuciosidade relatada, a entrevistada aponta alguns fatos e lembranças que auxiliam no entendimento da formação agrária local, identidade cultural individual e identidade coletiva do assentamento. 2. ASSENTAMENTO Constituição

NOVA

PONTAL:

O assentamento de reforma agrária Nova Pontal situa-se no município de Rosana/SP e tem suas origens na Fazenda Nova Pontal, antiga propriedade da Timboril Agropecuária Ltda., cujos sócios são o Sr. Ronaldo Carvalho da Cunha e a Sra. Vera Lucia Rocha da Cunha. A fazenda detinha uma área de 2.786,90 hectares de terras, sendo margeada pela rodovia de ligação entre Porto Primavera/SP ao estado do Paraná, via Diamante do Norte/PR, e ao sul pelo rio Paranapanema (CRUZ, 2008).

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Utilizando-se de meios legais, a antiga proprietária das terras concedeu a posse da fazenda ao Estado, em setembro de 1998, e a Fundação do Instituto de Terras do Estado de São Paulo-ITESP, por sua vez, em novembro do mesmo ano, promoveu uma assembleia com as 122 famílias apontadas para ocupar as terras (CARNEIRO, 2007). Entende-se que dificuldades enfrentadas pelos então assentados após o período de reforma agrária não diminuíram em relação ao período de acampamento e ocupação das fazendas. Carneiro (2007) explana em sua pesquisa que, nos primeiros anos de constituição do assentamento Nova do Pontal, as famílias não possuíam infraestrutura local, bem como: água canalizada, estradas, energia elétrica, meios de transportes, instituições de ensino entre outros serviços. Além disto, os assentados não detinham recursos financeiros para investir na terra, ocasionando assim uma busca incessante das famílias pelas políticas públicas municipais, como discorre a autora: [...] Com uma expressiva ajuda da Prefeitura no preparo de solo para plantio de feijão, perfuração de poços cacimbas, ajuda do Estado na construção de estradas, implantação de escola rural, distribuição de cestas básicas e leite para as crianças, as famílias assentadas vencem o primeiro ano de luta e de trabalho no assentamento, já com muitas esperanças de um futuro promissor e de realizações. (CERNEIRO, 2007, p. 54) Atualmente o assentamento possui escolas, posto de saúde, igrejas, centro comunitário, infraestrutura básica e outros bens e serviços que facilitam o desenvolvimento das práticas agrícolas e comerciais do espaço, além de oferecerem maior qualidade de vida à população autóctone. Quando mencionamos a população autóctone, cabe salientar que o Assentamento Nova Pontal é constituído de quatro distintos grupos, os militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra- MST, o Movimento dos Agricultores Sem Terra- MAST, os exfuncionários da fazenda e os sindicalistas de Porto Primavera/SP (CARNEIRO, 2007). Deste modo, insere-se inicialmente a concepção da heterogeneidade social e cultural existente em ambos os assentamentos mencionados, assim como as distinções ideológicas existentes entre militantes do MST e do MAST em contraponto às ideologias dos exfuncionários das fazendas que sofreram o processo de reforma agrária. Essas diferenciações iniciais, por si só, são elementos plausíveis de serem analisados do ponto de vista dos traços culturais existentes em cada um dos

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grupos, bem como as concepções políticas, hábitos e costumes. Outro ponto a ser elencado no eixo da heterogeneidade cultural versa sobre a trajetória de vida e origem dos assentados, pois, como mencionado, as famílias que compõem os assentamentos, em sua maioria, não são residentes de Rosana/SP, ou seja, são provenientes de outras regiões do país e do exterior. Assim, observa-se a pluralidade dos traços culturais existentes nos assentamentos no que se refere ao meio coletivo e individual e, mais uma vez, insere-se o papel da entrevistada Maria de Lurdes no diálogo entre a memória e história coletiva e individual que configura o Assentamento Nova Pontal. 3. FASES DA VIDA COLETIVA 3.1 Origem A primeira fase de vida da entrevistada, atualmente com 55 anos, referiu-se à sua origem, em que foi perguntado sobre onde morou e por quanto tempo. A entrevistada Lurdes respondeu: [...] eu nasci em Diamante do Norte, região de Diamante né, que era município de Nova Londrina, meu pai era madeireiro então eles trabalhavam mexendo com madeira, tirando madeira, que era tudo mata né, então a gente nasceu, eu e meus irmãos, os 4 nascemos ali, mas ali foi pouco tempo e a gente foi embora pro Mato Grosso, porque pra lá que concentrava mais as matas, para tirar madeira né. E a gente ficou assim, sempre andando, e do Mato Grosso, nois viemo embora, quando chegou à época da gente começar a estudar. Né, minha irmã mais velha que é de 60, então chegou a época dela estudar, é a época que a gente veio para Euclides da Cunha, para poder ir para escola. Ai de Euclides foi, que a gente veio ali para fazenda, aonde a gente ta assentada hoje. (OLIVEIRA, 2015) Percebe-se, então, que a entrevistada levava uma vida simples, e que o seu deslocamento dependia do trabalho de seu pai e de seus estudos. Em outro momento, ela cita que não ficaram acampados, pois trabalhavam para a fazenda pelo fato de seu pai ser madeireiro. A casa da entrevistada tinha também as características rústicas, a mesma relata que “é, aonde a gente morava. Tanto aqui no Paraná como no Mato Grosso, que é o que a gente consegue lembrar, mas alvenaria, madeira, não, isso não tinha né. E de pau-apique fica as varas, pega barro e fazia as parede né, é

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pau a pique aquilo lá” (OLIVEIRA, 2015). Salienta-se que Lurdes e sua família dependiam do trabalho na fazenda e, por isso, viviam de objetos e costumes simples. Sobre a casa de pau-a-pique, conforme mencionado pela entrevista, insere-se um dentre vários traços culturais pertencentes ao seu individualismo e coletivismo. A técnica pau-a-pique no Brasil vem desde o período colonial, entre os séculos XVI e XIX, segundo Olender (2006, p. 1), “uma das técnicas mais encontradas na arquitetura brasileira, à qual é atribuída a feitura dos primeiros edifícios construídos pelos portugueses no Brasil, é aquela conhecida principalmente como pau-a-pique ou taipa de mão”. Apesar de a técnica de construção pau-a-pique ter se difundido com a chegada dos portugueses, não há registros históricos de que esses povos foram os pioneiros na técnica. Segundo Vasconcellos (1968, p. 47): [...] embora o pau-a-pique se tenha difundido por todo o Brasil, e intensamente em Minas Gerais, é ele totalmente desconhecido em Portugal. Não há, em todo esse país, exemplo de sua aplicação. Não há, por sua vez, indicações seguras de sua origem africana [...]. A real origem do pau-a-pique é discutida por muitos pesquisadores. Alguns argumentam que possivelmente a técnica foi desenvolvida no Brasil, resultando de experiências portuguesas, africanas e indígenas, uma vez que os portugueses já faziam uso do método taipa de pilão (OLENDER, 2006, p.48). As “casas de pau-a-pique são casas tradicionais construídas geralmente de paus, colmo, capim, cordas de cascas de árvores” (DIAS; COSTA; PALHARES, 2015, p. 12) quando se faz referência às tribos indígenas tradicionais. Já quando se refere às construções em meio rural ou na área periurbana, as construções, além dos materiais anteriores, utilizam barro, argila, bambus e cordas, conforme elencado por Maria de Lurdes (OLIVEIRA, 2015). Quando questionada sobre seus antigos costumes, a entrevistada relatou que cozinhavam em fogão de lenha e que, naquela época, eles não tinham muita fartura comparado ao que têm hoje. Sobre seus costumes, Lurdes discorreu: Aquela época essas coisas eram difíceis, não tinha essas fartura que tinha hoje não, né. Tinha não, lá comia, carne que comia era de bicho do mato, porque morava no mato né, era que tinha era

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isso, a situação não era nada fácil, hoje é uma maravilha né, tem riqueza e fartura, naquela época não era assim, tinha, nascia criança, graças a Deus se a mãe tivesse leite, porque se não tivesse era uma latinha de leite em pó pro mês inteiro, é, a situação não era fácil, ai os irmãozinhos mais fácil ficavam olhando assim, vinha com aquela vontade de tomar um copinho do leitinho, mas não tinha jeito, pela situação que a gente vivia. (OLIVEIRA, 2015) A respeito do local em que dormia, a entrevistada disse que as camas eram de madeira, porém, o estrado, segundo Lurdes (OLIVEIRA, 2015), “ou era capim ou era palha os colchão, ia nos mato na beira dos córregos tinha um tipo de capim macio, ou era aqueles capins ou era palha de milho nos cochãos, ou rede, pegava o saco, e emendava e fazia rede, não é essas redes chiques que tem hoje não” (OLIVEIRA, 2015). E até mesmo os banhos eram bem simples, pois tinham que pegar água do poço para tomar o banho. A situação de vida de Lurdes era bem simples e, consequentemente, a sua educação também foi. A entrevistada teve seu primeiro contato com a escola aos 7 anos, e seus irmãos, com 8 e 9 anos, quando se mudaram para Euclides para poder estudar. Em entrevista, foi perguntado também sobre os costumes culturais, ou seja, se havia danças, festas e comidas típicas. A entrevistada respondeu que “era difícil, não tinha, era assim, era uma família só em cada lugar, não tinha esse negócio de um monte de gente perto, não tinha não” (OLIVEIRA, 2015). Em relação às festas de padroeiros, eles não tinham o hábito de comemorar, devido a calmaria do campo e o pai da entrevistada que, como ela mesma disse, “era muito calado”. Então, percebe-se que houve essa carência de cultura, eles não tinham esses costumes e as comemorações populares. A valorização da família se baseava mais no trabalho e na educação, quando a mesma podia ser prioridade. 3.2 Vinda a Rosana/SP O principal motivo de a entrevistada ter vindo para Euclides da Cunha/SP foi o fato de seu pai ter que trabalhar na fazenda e, consequentemente, o seu marido também. Foi perguntado a Lurdes, quais eram os serviços que seu marido fazia na fazenda, e ela disse que ele construía “casa, fazia cocho de sal, essas coisas assim, parte de pedreiro e carpinteiro. Pedreiro, carpinteiro, encanador, pintor, ele pegava a casa dava pronta né” (OLIVEIRA, 2015), ou seja, o marido dela

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fazia todos os processos na fazenda, fato corriqueiro em pequenas propriedades. Em questões anteriores, Lurdes já havia dito que não teve que acampar, e, assim, foi questionada se tinha algum lugar para ficar quando chegaram, e a mesma afirmou que já tinham e que seria a fazenda em que iriam trabalhar e morar. Antigamente, quando eles chegaram a essa fazenda, ela ainda não fazia parte do assentamento, era apenas a Fazenda Nova Pontal. Porém, atualmente, as propriedades foram desapropriadas, e o Estado comprou para assentar as pessoas. 3.3 Acampamento Como a entrevistada nunca ficou acampada, os questionamentos foram mais voltados às suas experiências trabalhando na fazenda. A Sra. Lurdes relatou uma situação, dentre várias que aconteciam no local, em que as pessoas invadiam a fazenda por ter necessidades, sendo que quem estava na fazenda também tinha essas necessidades. Ela relatou que “a gente nunca ficou acampado, mas já passou por estresse, porque quem tá acampado passa por situações e a gente que mora na fazenda e vê ela sendo invadida também passa por situações difíceis também, né” (OLIVEIRA, 2015). Com essa tentativa de invasão, a Lurdes e sua família sentiam muito medo. Sobre esse medo, ela relata que: Ah muito medo né, a gente tinha medo, eles ameaçavam a gente, porque morava na fazenda, então a gente tinha muito medo. E até muito tempo, a gente não era bem visto pelo pessoal do MST né, porque o maior movimento é o MST, então não era bem visto por eles. Por vontade deles a turma da fazenda também não teria pegado terra, mas como quem manda é o Estado, nós tivemos esse direito assegurado. (OLIVEIRA, 2015) Além das ordens deliberadas pelo Estado, Lurdes também tinha um patrão e esse também dava ordens referentes aos “invasores”, a entrevistada cita que uma das ordens era, “[...]de não dar água, não deixar eles fica entrando, mas era difícil né, porque a gente tando ali a pessoa chega lá e pedi uma agua, às vezes, não tinha jeito de negar né, meio escondido, mas a gente arrumava” (OLIVEIRA, 2015). É perceptível, então, que havia diferenças entre o povo da fazenda e do MST (Movimento Sem Terra). As pessoas que estavam na fazenda não tinham muito respeito pelas pessoas do assentamento do MST. Desse modo, surgiam esses conflitos, mesmo sendo duas populações que tinham

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uma dificuldade semelhante, que seria a busca por terra e por um lugar para morar. 3.4 Reforma Agrária Logo com esse processo de ocupação, a fazenda em que Lurdes morava foi vendida, para que fizessem o assentamento para o MST. Assim, a entrevistada comenta sobre como foi o processo de conseguir um lote. Foi perguntado se demorou muito para conseguir. Lurdes comentou que: Não, logo que já negociou já, todo mundo que tava lá, pegou né, tanto os funcionários, como os que tavam acampado, foi feito a seleção e conseguiu, até esse povo aqui do cinturão verde, a maioria era dali, desse cinturão verde, aí tirou, deu lote lá para eles, ele foram, teve muitos que vendeu o lote, porque era muito grande para trabalhar voltar pra cá de novo. (OLIVEIRA, 2015) Segundo Paião (2001, p.68), os assentamentos rurais têm a finalidade de aproveitar os recursos fundiários do Estado, ou seja, atribuir uma nova finalidade às terras tidas como devolutas ou improdutivas. Cabe à União tanto arrecadar terras tidas como devolutas quanto desapropriar terras particulares. 3.5 Atualmente Atualmente a entrevistada mora com a sua família, que é composta por cinco pessoas. E estão em uma casa de sete cômodos. A entrevistada comenta sobre sua mudança de casa e sobre o material da mesma, assim como a sua filha que mora em sua antiga casa (Figura 1). Lurdes explica então essa mudança: [...] essa de madeira que a gente tinha lá em Euclides, é onde a filha tá morando agora, agora tem um banheirinho sanitário, porque ela lá construiu, porque na nossa época não tinha, nós entramos lá na casinha, era quase pau-a-pique, tinha as paredes de madeira, não tinha mata junta, a telha não tava terminada a cobertura direito, não tinha porta nem janela, só os vão, ai botava os foião pra tampá de noite e beleza, porque a gente tinha que trabalhar né, porque tinha terra e tinha que mudar, então não deu tempo de fazer casa assim não. (OLIVEIRA, 2015)

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Mesmo com essa mudança da casa, eles ainda dependem de uma boa parte de seus cultivos. Atualmente a renda da família é “o leite é uma, né, o gado que vende bezerro e a feirinha também tem uma boa ajuda, que a gente vende os produtos também lá, né” (OLIVEIRA, 2015). Porém, alguns hábitos e dificuldades que passavam antes, hoje em dia, já são mais diferentes para eles.

Figura 1- Primeira Residência da Sra. Lurdes. Fonte: Acervo pessoal da entrevistada. A entrevistada comenta sobre como atualmente essas dificuldades, principalmente de escolarização, são diferentes agora. Lurdes comenta também sobre a facilidade do transporte: [...] hoje a coisa ta é boa né, hoje tá boa, hoje tá boa as coisas, hoje a gente tem bastante transporte, tanto na rodovia, assim das empresas, como para as crianças irem para escola, tudo tem transporte, tanto para escola, como para gente vir para cidade, então hoje as coisas estão uma beleza. (OLIVEIRA, 2015) Sendo assim, é possível ver que, atualmente, as dificuldades que ela tinha antes, junto de sua família, agora não são mais as mesmas. Os costumes e hábitos da entrevistada foram se alterando com o tempo, e hoje ela pode dizer que teve uma participação no processo da criação do assentamento da região. E, assim, ainda vivendo na área rural, a dona Lurdes consegue compreender toda essa mudança e tudo que interferiu no seu cotidiano. Mas ela ainda vive de seus hábitos básicos de plantar e cultivar, assim como de criar gados. Sendo assim, sua cultura não foi miscigenada no atual presente. 4. CICLO DE VIDA INDIVIDUAL E COLETIVA 4.1 Infância

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No decorrer da entrevista, foi perguntado à entrevistada se existe alguma crença, dança ou comida típica atualmente, bem como algum padroeiro, ou alguém que faz arte, poesia e etc. Dessa maneira, Lurdes (OLIVEIRA, 2015) respondeu: Não tinha assim comida típica, dança assim, padroeiro não tinha só que o povo era animado. Não tinha celular, não tinha computador, não tinha televisão. Pensa em uma infância feliz, esses hoje, sabe o que é infância? Não sabe não. Esses de hoje não sabe mais o que é infância. Nós tivemos infância, porque na nossa época de pequeno, juntava as crianças e os adulto: pai, mãe, avó e tios, juntava assim de noite no terreirão, a lua clara, porque não tinha energia, então a gente sentava ali, eles iam contá história, contá piada, brincá de passar anel, bimborão da cruz, eu minha infância, tinha um campo de futebol em frente à casa que eu morava, eu brincava, jogava bola, brincava de queima, brincava e muito, eita que tempo bom [...]. Por meio dos relatos da entrevistada, é possível observar um devaneio feliz da sua época de infância e, além disso, é possível analisar a referência aos meios tecnológicos como elementos que, pelo fato de não existirem, fizeram sua infância feliz. Desse modo, é possível considerar que os relatos feitos por Lurdes refletem a esfera folclórica de sua infância, que, segundo Mônica (2001, p.22), entende-se que “o fenômeno folclórico existe em todos os níveis sociais, sofrendo processos de aculturação. É a representação máxima da maneira de sentir, pensar, agir e reagir da nossa gente”. Por meio do relato sobre os seus costumes, é possível observar a menção à inúmeras brincadeiras que fizeram parte de sua infância. Dessa maneira, foram abordados, de modo especial, os momentos de sua infância e questionou-se sobre as estórias e lendas desse período. Logo de início, a entrevistada menciona o mito do Lobisomem e, em seguida, discorre que: O lobisomem que comia principalmente essas crianças que não eram batizadas, aí quando a criançada começava a ficar bem impossível e querer a andar, eles inventavam que tinha um velho que matava as crianças e comia o fígado e falava que era o papa fígado, e a gente ficava com medo, quem que abria a porta

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de noite? Saía ninguém para fora né. (OLIVEIRA, 2015) Sem dúvida, as lendas e mitos inventados no passado tinham como objetivo, além do entretenimento, buscar respostas para coisas que aconteciam no dia a dia. Almeida (1965, p.167) explica que “a lenda é uma narrativa em torno de um fato real, com uma explicação ou interpretação de uma figura, uma realidade ou um acontecimento histórico, em torno da qual a fantasia cria uma série de coisas irreais e até mesmo inverossímil”. Assim, observou-se também a menção a uma brincadeira, pela entrevista, da qual não se possui registros acadêmicos plausíveis para interpretar. Destarte, foi perguntado de que forma se realiza a brincadeira bimborão da cruz. De início, a entrevistada relatou que a brincadeira se assemelha à dança de quadrilha, pois são feitas duas filas e, logo após, disse que “faz aquela, e vai passar, aí chega lá, e dava um tapa na bunda, e passava naquele bimborão da cruz, brincava bastante, era as crianças e os adultos, tudo junto que brincava” (OLIVEIRA, 2015). Por meio do relato da entrevistada, não é possível compreender a brincadeira. Contudo, ressalta-se a importância deste trabalho para evocar a memória desta brincadeira, bem como o seu futuro aprofundamento teórico. Continuando com a entrevista, perguntou-se à entrevistada, novamente, sobre a possível existência de um prato que lhe remeta à infância e, também, se havia festas e danças referentes ao mesmo período. Segundo a entrevistada: Doce de feijão cozinhava aqueles feijão bem escuro, cozinha até ele derreter, passava ele na peneira, e ponhava leite açúcar e apurava, ponhava uma canelinha, pensa num doce gostoso. Ali comia aquele doce, mas o bom mesmo era o forrozão, que corri froxo. Aquilo saia e a poeira levantava. (OLIVEIRA, 2015) A entrevistada menciona o doce de feijão como um insumo típico das comemorações de aniversário, em especial em sua época de infância, quando a mesma residia no Mato Grosso do Sul. Observa-se a relação da memória com a localidade, uma vez que a memória da entrevistada está estritamente ligada ao local onde viveu sua infância, ou seja, o fato de a memória existir está de acordo com os aspectos culturais da região. Além disso, o aspecto da memória de outras pessoas suscita a memória coletiva sobre o fato, assim como afirma Funari e Pinsky (2003, p. 18): Por caminhos diversos encruzam-se as memórias particular e coletiva. De sua confluência nasce a possibilidade de

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identidade individual e coletiva, uma vez que a memória é uma forma de os indivíduos e as sociedades recomporem a relação entre o presente e o passado, para manter o equilíbrio emocional. Assim, observa-se que o individual compõe o patrimônio cultural coletivo e o coletivo interfere nos traços culturais individuais simultaneamente e que ambos são indissociáveis, uma vez que o ser é fruto da sociedade e a sociedade é o reflexo daqueles que a habitam. 4.2 Adolescência A história de vida da entrevistada divide-se em várias cidades. Em especial, na adolescência, foi perguntado à entrevistada se existiam festas, comemorações e brincadeiras nesse período e, segundo a mesma: Na adolescência não, eu tava em Euclides, mas aí essa época já tinha energia, o povo já tem televisão, já parou as brincadeira, né, aí juntou a televisão, ai meu Deus que novidade era a televisão preto e branco, não era aquela colorida aquela grandona lá não, né, era aquela preto e branco lá, que o tempo dava um ventinho a bichina vish sumia, mais aquilo quem tinha tava vidrado, quem não tinha ia para janela do vizinho para assistir, que era novidade, aí já foi perdendo aquele encanto das reuniõezinhas, das brincadeiras [...]. (OLIVEIRA, 2015) Por meio dos relatos da entrevistada, é possível averiguar elementos importantes no processo de transição da infância para a adolescência e, sobretudo, no advento da tecnologia, assim como relatado que a atração da época era a televisão e, conforme relatado, ter um aparelho em casa não era algo tão acessível, e quem não detinha poder aquisitivo para comprar uma ia assistir na janela do vizinho. Em outro trecho, Lurdes ressalta que, após o surgimento da televisão, as outras atividades que a mesma executava, bem como reuniões e brincadeiras, foram perdendo o encanto. Dessa maneira, observa-se a transformação dos hábitos culturais em consequência da televisão, bem como é relatado: As transmissões de televisão no Brasil começaram em 18 de setembro de 1950. O aparelho chegou ao país trazido por Assis Chateaubriand, que fundou o

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primeiro canal de televisão, a TV Tupi. Desde então, a televisão cresceu e hoje representa um fator importante na cultura popular moderna das pessoas e tornou-se parte da identidade cultural do brasileiro. A TV lança moda, inspira comportamentos e cria vínculos entre quem está do lado de cá da tela. (MINICOM, 2012) Assim, é possível observar aspectos significativos que marcam a transição entre duas fases da vida da entrevistada, assim como a televisão, que pode ser considerada um monumento que enfatiza a recordação da entrevista, pois, segundo Le Goff (1990, p. 535) “[...] o monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos [...].” Outro fato que marca esta transição é o início das atividades de trabalho por Lurdes, dadas as dificuldades da época e das condições financeiras da família, segundo ela: [...] as dificuldades que a gente passava, tinha na, nos arredores lá de Euclides tinha um povo que plantava roça, então tinha algodão, aí na época de algodão a gente ia ajuda a colher algodão, tinha uma casa de farinha que a gente ia ajudar o senhorzinho que era arrancar a mandioca, raspar né, para fazer a farinha, e a gente ganhava a farinha para comer e um bijuzinho para comer. Porque não tinha essas riquezas que nois tem hoje. (OLIVEIRA, 2015) Ressalta-se, utilizando as descrições de Lurdes, que o pagamento pelos seus trabalhos era resumido na obtenção de farinha e “bijuzinho” para consumo, ou seja, a remuneração, nesse período, em relação à entrevistada, não era feita por meio de dinheiro, mas sim por alimento. 5. SENTIMENTOS DE VIDA Com o intuito de encerrar a entrevista, o presente trabalho adotou uma metodologia que detinha perguntas que, quando dirigidas à entrevistada, oportunizaram a sua reflexão sobre todas as fases da vida. A primeira pergunta faz referência ao que mais marcou a entrevistada durante sua trajetória de vida, que segundo ela: [...] o que marca muito a gente é a falta de união que tem, entre os povos né, porque às vezes a gente luta querendo melhoria, mas não tem união assim do

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povo, essa é uma parte assim que marca muito, que por mais que a gente luta, por mais que quer ajeitar não consegue, mexer, lidar com as pessoas. (OLIVEIRA, 2015) Torna-se possível considerar que a entrevistada relata com clareza a carência da união das pessoas, realizando uma alusão ao passado, tentando, assim, espelhar no contexto atual os aspectos que pode observar em outrora. Seguindo esse pensamento, foi perguntado à entrevistada se ela se arrepende de algum fato de sua vida, segundo ela: Ah tem não, hoje, eu já arrependo pelo o que eu não fiz, que às vezes eu falo pro marido, é nós pegamo o lote já meio tarde, nós estamos mais velhos, cansados, se fosse tempo de mais novo a gente teria trabalhado um pouquinho mais, coisa que hoje a gente tem vontade mas o corpo já não ajuda, mas arrepender não, o lote, tem que trabalhar muito, mas é um lugar bom para se viver, para morar, para viver. (OLIVEIRA, 2015) O relato da entrevistada nos permite observar o caráter singelo do cuidado com o patrimônio, que pode ser representado pelo cuidado com a posse de terra, que, conforme relatado, a dedicação limita-se aos aspectos físicos do corpo. Contudo, quando questionada sobre a principal lição que a vinda lhe ensinou, a entrevistada relata que “a vida é boa para se viver e você teno disposição, a terra te dá o que você precisa a sobrevivência, e a fé, Deus dá, é só a gente procurar a força de Deus” (OLIVEIRA, 2015). Além disso, foi notória a força de vontade da entrevistada frente às adversidades da vida, obtendo destaque essa observação à resposta ao questionamento sobre se a entrevistada faria novamente tudo o que já fez e que, segundo ela, “tem dia que eu tô assim meio cansada, assim, mas se fosse para começar eu começava tudo de novo, sem água, sem, sem energia, sem uma casa boa, mas a gente começava tudo de novo” (OLIVEIRA, 2015). Como pergunta conclusiva, foi questionado à entrevistada qual a sua principal frustração atual e, segundo ela: [...] A frustração que os jovens hoje não têm a infância que a gente teve né, hoje quanto mais eles têm, mais eles acham pouco e não sabe agradecer o que têm, né, essa é uma grande... Se é uma frustração essa é uma grande, eu falo para eles mesmo, né, que tem de tudo, porque a gente teve assim muitas

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dificuldades não tinha direito nem o que comê e hoje graças a Deus tem fartura, tem leite, tem carne, mandioca, bastante coisa que a gente produz. (OLIVEIRA, 2015) A frustração da entrevistada é possível ser visualizada pelo contexto dinâmico da cultura, ou seja, as características e hábitos culturais que se alteram de geração em geração, de cidade para cidade, país por país e assim por diante. Bem como é retratado por Horta (2004, p.5), que enfatiza: [...] percebe-se, sem medo de errar, que o folclore é existencial. Mesmo que inconscientemente, vive-se folclore o tempo inteiro, com as pessoas praticando, ao longo de sua existência, ações herdadas de sua cultura. Antes mesmo de nascer, o homem já se insere no universo folclórico através das crenças e costumes, ainda que supersticioso, sobre procedimentos e ações relativas a esse período. Desse modo, observa-se uma ruptura dos traços culturais entre a sua geração e a geração de seus filhos. Assim, enfatiza-se a necessidade do resgate dessa memória e posteriormente a transmissão da memória oral para que a mesma não acabe soterrada pelo avanço da tecnologia e do tempo. Por fim, a entrevistada relata que seu principal orgulho é a posse da terra e, quando comentado sobre a permanência do homem no campo, bem como se tudo o que a entrevistada conquistou será retomado pelos seus filhos, a mesma expõe que: Ah isso é normal, eles só esperam dar 18 anos para ir embora. Não é uma frustração, porque a gente já sabe disso, que os sonhos deles é emprego, é um mundo diferente [...] Não, eles não ficam. Já tenho um perto de Manaus, o mais velho é aquele ali, esse dos filhos irem embora é realidade, porque o Sonho da terra fica sendo nosso, não é o sonho deles não. (OLIVEIRA, 2015) Portanto, enfatiza-se a descontinuação dos traços culturais pelas presentes e futuras gerações dos assentados, em especial da Dona Lurdes, ao expor a saída de seus filhos do campo. Assim, refletimos sobre a última frase da entrevistada que, ao dizer que os sonhos dela são diferentes dos sonhos dos filhos, enaltece ainda mais a discrepância entre passado e presente, o antigo e

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o novo, o arcaico e o globalizado, o rural e o urbano e, sobretudo, a diferenciação entre pais e filhos. 6. CONCLUSÃO Conclui-se, assim, que as pessoas que viveram em fazendas no período do MST sofreram certo preconceito por não terem passado pelo processo de acampamento e por serem assim julgados, pois os acampados acreditavam que quem estava na fazenda não passava por dificuldades, sendo que eles passavam e ainda recebiam ordens para tratá-los mal contra a sua vontade. Com isso, afastaram-se dois povos que lutavam pelo mesmo objetivo, que foi o direito de ter terra. E no que diz a respeito ao passado da entrevistada, é possível perceber que eles viviam das coisas básicas e simples, e tudo era feito de maneira natural, com objetos e elementos encontrados na natureza. E, além da simplicidade dos objetos, eles também viviam uma tradição de acompanhar o pai por onde ele conseguia emprego. Assim, as crianças frequentaram a escola apenas quando já tinham mais idade. Por meio desse processo de mudança e de adaptação, é possível enxergar que essas pessoas que vivem em assentamentos não são invasores ou desocupados, na realidade, elas estão lutando por algo bem maior, que é o direito de ter um lugar para viver e para criar sua família. A própria entrevistada se orgulha de ter continuado o caminho de seus pais e de hoje cultivar e cuidar de gado e, assim, poder viver desse tipo de renda. E o fato de ela vender seus produtos na feirinha, que está localizada no centro de Primavera/Rosana-SP, só mostra o quanto ela está batalhando por seus direitos e objetivos. Respondendo o primeiro questionamento: De que forma a história individual auxilia no entendimento da apropriação agrária local? Torna-se nítida a relação entre o indivíduo com a história coletiva, pelos relatos orais de Lurdes se observou a reafirmação da apropriação fundiária local, seja pela compra da fazenda, na qual a entrevistada trabalhava, ou pelos conflitos entre militantes e fazendeiros, até pelo período de disponibilização de recursos para compra de gado e construção de casas e outros eventos. Os fatos cotidianos se mesclam com os fatos históricos, pois, afinal, são os indivíduos atores ou protagonistas de suas histórias, pessoas que criam a trama social. Entender as histórias individuais em sua essência é obter mais detalhes sobre a história coletiva, ou seja, auxilia no entendimento de eventos pessoais que não estão expostos nos livros de história, mas que são triviais para a compreensão do contexto geral.

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A respeito do segundo questionamento: De que forma os traços culturais individuais interagem no meio coletivo dos assentamentos de reforma agrária? Conforme relatado no parágrafo anterior e discorrido neste trabalho, os traços culturais pessoais são mutáveis e a cultura como um todo se adapta às diferentes situações. E, assim como menciona Mônica (2001, p.21), o “elemento dinâmico da cultura, modifica-se e se transforma de região a região, de acordo com os meios e sua funcionalidade. De aceitação coletiva, não perde seu caráter, seu valor, sua autenticidade”. É desse modo que a essência cultural individual interage, em específico, nos assentamentos de reforma agrária, pois as pessoas que ali vivem são provenientes de inúmeras regiões do Brasil, cada região detém seu caráter cultural. Além disso, as trajetórias individuais, até a chegada ao lote, dão aos assentados e assentadas marcas na memória e traços culturais que carregam consigo até a constituição de seus assentamentos. Assim, seus traços culturais rurais, origem e trajetória se fundem, gerando, dessa forma, o conceito intercultural, transmitido pela oralidade, objetos, fotos, insumos e outros meios. 7. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ALMEIDA, R. Manual da coletânea folclórica. Rio de Janeiro: Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1965. CARNEIRO, L. P. M. Proposta de implantação de dois roteiros turísticos no assentamento Nova Pontal, em Rosana, SP: análise das limitações e possíveis soluções. 2007. Monografia (Graduação em Turismo) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus Experimental de Rosana, Rosana/SP, 2007. CRUZ, P. M. Restauração e agroecologia: é possível? Estudo de viabilidade no assentamento Nova do Pontal com base na permacultura. 2008. Monografia (Graduação em Turismo) – Universidade Estadual Paulista/UNESP, Câmpus Experimental de Rosana, Rosana/SP, 2008. DIAS, D.; COSTA, C.; PALHARES, P. Sobre as casas tradicionais de pau-a-pique do grupo étnico Nyanekankhumbi do Sudoeste de Angola. Revista latinoamericana de Etnomatemática, n.1, v.8, p.1028, 2015. FERNANDES, B. M; RAMALHO, C. B. Luta pela terra e desenvolvimento rural no Pontal do Paranapanema (SP). Estud. av., São Paulo, v. 15, n. 43, p. 239-254, dez. 2001.

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FUNARI, P. P.; PINSKY, J. (Orgs). Turismo e patrimônio cultural. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2003. HORTA, C. F. de M. M. (Coord.) O grande livro do folclore. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2004. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Resultados da Amostra do Censo Demográfico 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 19 nov. 2014. LE GOFF, J. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão. Campinas/SP: Editora UNICAMP, 1990. LEITE, J. F. A ocupação do Pontal do Paranapanema. São Paulo: Fundação UNESP; Hacitec, 1998. MÔNICA, L. D. Turismo e folclore: um binômio a ser cultuado. 2. ed. São Paulo: Global, 2001. MINICOM, C. Há 65 anos, nascia a televisão no Brasil. 2012. Disponível em <http://www.conexaominico m.mc.gov.br/materiasespeciais/1045-ha-62-anos-nasciaa-televisao-no-brasil> Acesso em: 03 dez. de 2015. OLENDER, M. C. H. L. A técnica do pau-a-pique: subsídios a sua preservação. 2006. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal da Bahia. Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, 2006. OLIVEIRA, M. de L. S. de. Entrevista de Maria de Lurdes Santos de Oliveira cedida a Leonardo Giovane Moreira Gonçalves. Rosana/SP, 2 out. 2015. PAIÃO, J. D. Terras devolutas no Pontal do Paranapanema. Presidente Prudente/SP: Faculdades Integradas, 2001. PIMENTEL, A. E. E. Assentamento de reforma agrária na região do Pontal do Paranapanema e seus impactos econômicos e sociais. São Carlos: UfsCar, 2005. SOBREIRO, J. F. O movimento em pedaços e os pedaços em movimento: da ocupação do Pontal do Paranapanema à dissensão nos movimentos socioterritoriais camponeses. 2013. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente/SP, 2013.

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THOMAZ, R. C. C. Turismo, políticas e dinâmicas no meio rural: uma contribuição ao desenvolvimento local/Rosana/SP. UNESP. Rosana/SP: Projeto de Pesquisa, 2015. THOMPSON, P. A voz do passado: historia oral. Tradução de Lóilio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. VASCONCELLOS, S. de. Mineiridade. Horizonte: Imprensa Oficial, 1968.

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ARTIGOS CIENTÍFICOS TURISMO, MARKETING E SERVIÇOS

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ANÁLISE PERCEPTUAL DOS LOGOTIPOS DE BALADAS LGBT EM SÃO PAULO: UM ESTUDO NOS ATRIBUTOS ATRATIVIDADE, CRIATIVIDADE E REPRESENTATIVIDADE. CUSTODIO, Vagner Sérgio¹ MATURANA, Maria Fernanda Sanchez² VIOLIN, Fábio Luciano³ NASCIMENTO FILHO, Francisco Barbosa do4 Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana vagner@rosana.unesp.br, ma.fersanchez@hotmail.com, violin@rosana.unesp.br, francisco@rosana.unesp.br 1

Doutor em Educação Física, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rosana, São Paulo. Mestranda em Educação Sexual, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araraquara, São Paulo. 3 Doutor em Administração, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rosana, São Paulo. 4 Doutorando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO - O objetivo desse estudo foi o de realizar uma análise perceptual dos logotipos das Baladas LGBT da cidade de São Paulo ranqueados em 2017 pelo website especializado http://www.baressp.com.br. Para isso, foram realizados 2 testes perceptuais sendo o de ranking e o de magnitude nos atributos atratividade, criatividade e representatividade. Esses testes foram aplicados em 28 pessoas, sendo 14 homossexuais e 14 heterossexuais, todos alunos da área do Turismo. Os logotipos foram extraídos do website supracitado e conseguiram-se 8 logotipos (Hot Hot, Lions night club, The L Club, A loca, The Week, Cantho Club, Bubu Lounge, Club Yacht). E pode-se demonstrar que na média dos 3 atributos o logotipo do Hot Hot foi o que obteve a melhor posição no ranqueamento entre os homossexuais com média 2,85 e média 3,4 nos heterossexuais. Nos testes de magnitude na média geral dos atributos, a Hot Hot ficou em primeiro entre os homossexuais com 34,13 de média e 39,25 entre os heterossexuais. Esses resultados apontam que alguns logotipos conseguiram alcançar os objetivos de serem atrativos, sedutores e discretos, e também demonstrou que alguns logotipos como os do club yacht e Lions night club não conseguiram. Palavras chave: Logotipos; Percepção; baladas LGBT. ABSTRACT - The objective of this study was to perform a perceptual analysis of the LGBT nightclub logos of the city of São Paulo ranked in 2017 by the specialized website http: //www.baressp.com.br. For this, 2 perceptual tests were performed, the ranking and the magnitude of attributes attractiveness, creativity and representativeness. These tests were applied to 28 people, 14 homosexuals and 14 heterosexuals, all students in the area of Tourism. The logos were extracted from the website mentioned above, and 8 logos (Hot Hot, Lions night club, The L Club, The Week, The Club, Bubu Lounge, Club Yacht) were taken into account. It can be demonstrated that in the average of the 3 attributes the Hot Hot logo was the one that obtained the best position in the rank among homosexuals with an average of 2.85, and an average of 3.4 in the group of heterosexuals. In the tests of magnitude in the general mean of the attributes, Hot Hot ranked first among homosexuals with 34.13 average and 39.25, among heterosexuals. These results indicate that some logos have achieved the goals of being attractive, seductive and discreet, and also demonstrated that some logos such as the club yacht and Lions night club have not. Keywords: Logotypes; Perception; Gay clubs. ;

V. S. Custódio; M. F. S. Maturana; F. L. Violin; F. B. do Nascimento Filho.

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1. INTRODUÇÃO Segundo Braga e Guimarães (2014), a partir da década de 1960, ocorreu uma intensificação de ações coletivas homossexuais organizadas com o objetivo de afirmar suas identidades. Nesse contexto, surge o mercado segmentado, que passa a dedicar mais atenção ao potencial consumidor homossexual, fornecendo serviços e produtos destinados a homossexuais, como agências de namoro, boates, bares e baladas, dentre outros. Um dos acontecimentos mais marcantes ocorreu, segundo Carrara (2006), em 28 de junho de 1969, no Stonewall Inn, considerado um bar gay, onde um grupo de clientes se recusou a pagar propina a policiais, que frequentemente os atacavam e realizavam prisões ilegais, além de extorsões. Os homossexuais reagiram violentamente à presença dos policiais, e o conflito durou três dias, estendendo-se a outras ruas. Mais tarde, o dia 28 de junho tornou-se o "Dia Mundial do Orgulho Gay". No Brasil, segundo Carrara (2006), a primeira balada Gay surgiu em 1964, chamada La Cueva, localizada em Copacabana, no Rio de Janeiro, no mesmo ano em que a ditadura militar se instaurou no Brasil. Na época, era rotineiramente fechada sendo que os proprietários tinham muito trabalho para reabri-la. Mas, segundo Carrara (2006), foi na década de 1990, provavelmente devido à administração da Prefeita Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo, que se autodeclarava simpatizante ao movimento LGBT, em que houve no Brasil e principalmente em São Paulo um aumento significativo de serviços destinados ao público LGBT, que promoveu a maior Parada Gay do Mundo com cerca de 2 milhões de participantes. Nesse cenário surge a maioria das casas noturnas destinadas a esse publico, dentre elas algumas que foram objetos desta pesquisa, ocorrendo uma grande concorrência no setor, o que fez com que essas empresas investissem em propaganda e marketing para poder se diferenciar da concorrência e ser atuante no mercado. Dentre as variadas estratégias de marketing, surgiram os logotipos dessas empresas, para serem a principal imagem visual da casa noturna e fornecerem aos seus clientes boas percepções sobre o estabelecimento. Nessa perspectiva, a utilização desses logotipos, muitas vezes, tem tido o objetivo de fornecer uma identidade a esses locais. Para que essa identidade traga resultados positivos, faz-se necessário que o logotipo seja visualmente atraente e que, de certa forma, represente o local, fornecendo características próprias que lhe deem significado.

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Muitas vezes, os logotipos são desenvolvidos por profissionais do marketing que utilizam informações previamente selecionadas para a criação artística do produto visual. Segundo Gândara (2008), a imagem é o conjunto das informações e das ações comunicativas. Quando se promove uma imagem mental do local, Barbosa (2001) explica que é uma transposição do real ao imaginário criando um mundo metafórico. Mas o problema é que geralmente os logotipos de estabelecimentos comerciais não são submetidos a testes perceptuais no público alvo antes de serem divulgados. Isso ocorre devido à maioria dos profissionais envolvidos no processo criativo não dominarem as técnicas metodológicas de análise de percepção. A falta de aplicação desses testes faz com que se corra o risco de alguns logotipos não conseguirem atrair o seu público alvo e também serem figuras não representativas, e isso pode se tornar um problema, pois os logotipos podem ser, nas ações de marketing, um importante instrumento de divulgação. Tendo como base essa argumentação, surge a seguinte pergunta: Será que os logotipos das principais baladas LGBT da Cidade de São Paulo ranqueadas pelo site http://www.baressp.com.br são atrativos, criativos e representativos? E quais os atributos necessários para se ter um bom logotipo? Por meio de um estudo piloto realizado pelos autores, tendo como participantes 10 pessoas homossexuais acadêmicas do curso de Turismo, onde foi perguntado de forma livre, ou seja, sem oferecer opções “quais as qualidades que um logotipo de uma balada LGBT tem que ter pra ser bom?” 8 participantes disseram que deveria ser atrativo e 2 disseram que deveria ser criativo. Mediante essas respostas, utilizaram-se os atributos atratividade, criatividade e representatividade para relacionar a qualidade e eficácia desses logotipos e como metodologia a psicologia experimental, mais especificamente a psicofísica escalar embasada em Stevens (1975), que elaborou testes perceptuais para diagnosticar as percepções subjetivas e que podem ser aplicadas em diversas situações, dentre elas, as casas noturnas, que, apesar de comercializarem percepções subjetivas, utilizam muito pouco esse método. Para atender os objetivos deste estudo, dentre os inúmeros testes possíveis, foi escolhido o teste de categoria, que é feito por meio de uma escala ordinal, que possibilita a categorização e classificação dos objetos, no caso os logotipos de eventos LGBT, bem como ordená-los de acordo com o atributo avaliado. Ferraz (2005) ressalta que esse tipo de escala não

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apenas diferencia subjetivamente os objetos, mas também demonstra se o objeto tem mais ou menos qualidade em um determinado atributo. Outro teste utilizado nesse estudo foi o de estimação de magnitude que, segundo Ferraz (2005), é um processo de julgamento em que os observadores emparelham números a diferentes níveis de sua própria impressão perceptiva e, dessa forma, expressam uma razão à sensação atribuída. Dessa forma, essa pesquisa pretendeu diagnosticar qual é a balada LGBT de São Paulo que melhor conseguiu desenvolver um logotipo que atraia e fidelize seu público alvo e mostrar uma proposta metodológica viável em diversas situações na qual necessite analisar a percepção visual nas ações e atividades de divulgação de estabelecimentos comerciais. 1.1 Metodologia Esta pesquisa buscou analisar a percepção das pessoas em relação aos logotipos de baladas LGBT na cidade de São Paulo nos atributos atratividade, criatividade e representatividade. Para isso, usou-se o website http://www.baressp.com.br/noticias/confira-as9melhores-baladas-gls-em-sao-paulo, verificando os logotipos até se esgotarem todas as ocorrências. Conseguiram-se 8 logotipos, que estão apresentados na Figura 1, seguindo a sequência de ocorrência no site de pesquisa:

Figura 1 – Cartazes das Baladas LGBT e suas respectivas informações. Fonte: Autores (2017)

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A partir das imagens da figura 1, foi selecionado o público alvo para aplicação dos testes e foram escolhidas pessoas que academicamente estivessem envolvidas com lazer e turismo. Essa escolha ocorreu devido a esses indivíduos poderem ser uma amostra mais fidedigna para o julgamento dos atributos, pois se pressupõe que possuam informações relevantes sobre estratégias de marketing e lazer. Nessa perspectiva, decidiu-se utilizar alunos que se autodeclarem homossexuais ou heterossexuais do curso de bacharelado em Turismo pertencentes à UNESP – Câmpus Experimental de Rosana. A escolha específica dessa população ocorreu devido à conveniência de serem as pessoas qualificáveis mais próximas aos pesquisadores, o que gerou a viabilidade do estudo. Optou-se por utilizar uma amostragem aleatória de sujeitos, sendo que foi convencionada pelos pesquisadores como sendo uma amostra relevante 28 alunos num universo de 120 e que se sujeitaram à realização do estudo. Todos os participantes foram voluntários não pagos e consentiram verbalmente a se submeter aos testes. Para aplicação dos testes, foram levadas duas folhas A4, a primeira a ser mostrada possuía a impressão dos 8 logotipos das baladas LGBT, conforme a figura 1, coloridas e identificadas cada uma com um número de 1 a 8. Numa segunda folha, havia uma ficha de aplicação dos testes onde constava o nome do sujeito para o controle dos pesquisadores, a idade para a caracterização da faixa etária da amostra e a orientação sexual para diferenciar quem era homossexual e quem era heterossexual. Na ficha também constou um quadro que deveria ser preenchido pelo sujeito da seguinte forma: com as imagens dos 8 logotipos lateralmente dispostas sobre uma mesa e a ficha de aplicação abaixo das imagens, foi perguntado ao sujeito qual dos logotipos era o mais atraente, ou seja, dava mais vontade de visitar o local? Após o apontamento do primeiro, se perguntou-se qual era o segundo mais atrativo e assim por diante até chegar à oitava posição. A situação supracitada configura o teste de categoria, que ranqueou todos os logotipos conforme a sua atratividade. Após os sujeitos categorizarem, foi perguntado o seguinte: Quanto que o primeiro que você apontou é mais atrativo do que o segundo? Respondido isso, perguntou-se quanto é mais atrativo o segundo do terceiro? E assim por diante até se chegar do sexto para o sétimo, sendo que a esse último foi designado o valor 0. Essas perguntas configuram o teste de magnitude, que visou quantificar subjetivamente a

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intensidade da percepção de atratividade entre os logotipos. Após essa aplicação, o mesmo procedimento foi realizado, mas agora perguntando sobre a criatividade, ou seja, qual é o mais criativo e o quanto é mais criativo? O mesmo procedimento foi realizado no atributo representatividade, em que se perguntou qual é mais representativo? E o quanto é mais representativo? Essas perguntas estão na ficha utilizada, disposta a seguir:

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Após esse procedimento ter sido realizado, foram selecionadas todas as posições dispostas horizontalmente de cada logotipo e utilizou-se a ferramenta média para se calcular a média de posição de cada logotipo e se chegar ao resultado de qual logotipo foi considerado mais atraente, criativo e representativo pelos grupos, sendo que os logotipos que obtiveram o menor valor na média foram considerados os melhores ranqueados. Para melhor analisar os resultados, também se utilizou a ferramenta DESVPAD do Excel para calcular o desvio padrão de cada logotipo. Já no teste de estimação de magnitude, primeiramente somaram-se todos os valores atribuídos, do último colocado até o primeiro, chegando a um valor total, após essa soma foram subtraindo partindo do valor total os apontamentos subsequentes e segundo valor para o terceiro até chegar-se ao último logotipo que possuía o valor zero. Na magnitude, calculou-se a soma dos valores de todos os sujeitos do grupo, a média dos apontamentos de todos participantes bem como a posição no ranking de magnitude e o desvio padrão. Os dados foram qualitativamente relacionados, chegando-se aos resultados finais e discussões. 2. RESULTADOS

Figura 2 – Ficha utilizada para realização dos testes perceptuais. Fonte: Autores (2017) Após a aplicação dos testes nos sujeitos participantes, todas as informações numéricas foram repassadas para o software Excel for Windows da seguinte forma: Nas colunas horizontais, foram inseridos em cada coluna os sujeitos tanto para o grupo homossexual quanto para o grupo heterossexual. Cada sujeito foi representado por um número, sendo 1 a 14 para ambos os grupos. Nas linhas verticais, foram inseridos os logotipos, sendo que cada um ocupou uma linha. E os logotipos foram representados pelos mesmos números utilizados na aplicação dos testes descritos acima. No teste de categorias, no qual ocorreu um ranqueamento, foi disposta a posição de cada logotipo apontada pelo sujeito, por exemplo, o logotipo 1 foi ranqueado em 2º lugar pelo sujeito 7, então, na linha referente ao logotipo 1 e na coluna referente ao sujeito 7 foi atribuído o número 2, que equivale à segunda posição no ranque.

Nessa perspectiva, as tabelas apresentadas abaixo contêm as informações referentes aos testes descritos na legenda, que são os seguintes: Tabela 1 – Médias do grupo de homossexuais para o teste de categorias (ranque) nos atributos atratividade, criatividade, representatividade, média final e posição.

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Nesses testes realizados por 14 estudantes homossexuais, o logotipo da Hot Hot foi considerado como sendo o mais eficiente nos atributos atratividade, criatividade e representatividade. Isso pode ter ocorrido devido ao logotipo possuir um fundo preto e trazer o nome da boate estilizado nas cores do arco íris. Além disso, o nome Hot Hot, que traduzido é quente quente, remete a uma situação de excitação sexual. Em segundo lugar e com pouca diferença nos valores, está a The Week, que possui um fundo preto e o nome da balada em branco com uma frase que, traduzindo do inglês, significa “seu sonho produzido no Brasil”, o que pode liberar o imaginário para sofisticação e qualidade aqui no Brasil. Em último lugar no ranque, ficou a The L Club, que possui um fundo preto com o nome da casa noturna em rosa com a palavra club bem pequena à direita do L.

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um coração na parte superior e que não traz o nome do estabelecimento. Tabela 3 – Médias do grupo de homossexuais para o teste de magnitude nos atributos atratividade, criatividade, representatividade, média final e posição.

Tabela 2 – Médias do grupo de heterossexuais para o teste de categorias (ranque) nos atributos atratividade, criatividade, representatividade, média final e posição.

Fonte: Autores (2017) O teste de magnitude realizado pelos homossexuais, que objetiva identificar a intensidade da percepção, mostra a Hot Hot como sendo o logotipo intensamente mais perceptivo na média dos 3 atributos. Logo em seguida, aparece a Cantho e, na última colocação, a Yacht Club. Isso confirma os primeiros colocados, mostrando uma coerência nos julgamentos perceptivos e uma diferença nos resultados entre os últimos colocados, pois houve uma inversão entre Lions Club e Yacht Club, mostrando uma não coerência perceptual. Tabela 4 – Médias do grupo de heterossexuais para o teste de magnitude nos atributos atratividade, criatividade, representatividade, média final e posição.

Fonte: Autores (2017) No grupo de 14 heterossexuais, no teste de categorias (ranque), na média dos 3 atributos, foi considerado como sendo o logotipo mais eficaz o da Hot Hot, o que não diferencia do grupo homossexual. Essa situação pode dever-se a essa casa noturna também ser frequentada comumente pelo público heterossexual. Em segundo lugar, ficou o The Week e, na última colocação, ficou o Club Yacht, que é um logotipo branco e preto com um desenho de uma âncora com

Fonte: Autores (2017)

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No teste de magnitude realizado pelos heterossexuais, houve uma diferença nos apontamentos, pois houve uma mudança de posições entre a The Week e A Loca que, na magnitude, obteve um resultado superior, demonstrando que as percepções com relação a esses dois estabelecimentos foram julgadas diferentemente no ranqueamento e na intensidade da percepção nos atributos. Tabela 5 – Posições final de Categoria e Magnitude, resultado geral e posição final.

Fonte: Autores (2017) Através dos resultados obtidos nos testes, utilizaram-se as posições finais e realizou-se a média geral das posições e, por meio dessa informação, pode se chegar a um resultado geral intergrupos, ou seja, entre os grupos de homossexuais e heterossexuais, que aponta para o logotipo Hot Hot como sendo o mais eficiente nos atributos atratividade, criatividade e representatividade na média dos 2 grupos, e empatados em segundo lugar estão The Week e Cantho, sendo que a mesma situação ocorre na quinta posição entre The L Club e Bubu Lounge Disco, havendo coerência nos resultados obtidos. 3. DISCUSSÃO Os atributos atratividade, criatividade e representatividade podem ser interpretados de diferentes maneiras, mas a pesquisa identificou que esses termos muitas vezes podem ser confundidos pelos sujeitos, pois muitos deles os julgaram de forma parecida. Mas como são percepções subjetivas, os

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pesquisadores não podem influenciá-los em suas respostas. Essa situação é demonstrada por meio dos resultados finais, nos quais os quadros mostram que a ordem na colocação pouco se altera. Outro aspecto relevante que pode ser comparado é a influência do conhecimento que eles possuem sobre determinadas casas noturnas sobre os julgamentos perceptuais, pois o Hot Hot foi classificado como sendo, na média geral, o logotipo mais eficaz. Embora a pesquisa tenha sido realizada no interior de São Paulo, isso pode ter ocorrido devido ao fato de muitos dos sujeitos serem paulistanos ou da grande São Paulo e o Hot Hot ser uma balada conhecida tanto do público LGBT quanto do público heterossexual, ou seja, a percepção dessas pessoas em relação ao que é atraente, criativo e representativo pode não ser necessariamente referente à imagem perceptiva do logotipo e sim ao conhecimento cognitivo que o sujeito possui de determinado estabelecimento, sendo que a Hot Hot é a mais conhecida do público. Dessa forma, o público universitário do turismo pode ter realizado um julgamento mais cognitivo e menos perceptual dos logotipos, pois possuem conhecimentos prévios sobre as casas noturnas de São Paulo, principalmente do grupo de homossexuais que no interior possuem poucas opções de baladas gay e se referenciam nas baladas da capital. Dessa forma, pode se deduzir que os logotipos podem não ter sido submetidos a testes psicofísicos antes de sua divulgação, ou seja, a hipótese inicial parece ter sido comprovada. Essa situação poderia ser contrariada caso os logotipos das baladas LGBT menos conhecidas fossem julgadas como sendo mais atrativos, criativas e representativas. Se isso fosse comprovado, os resultados dos atributos seriam advindos das percepções promovidas pelos logotipos, e não por meio de aspectos cognitivos pré-elaborados. A análise poderia ter resultados opostos se os logotipos não mostrassem qual estabelecimento representam, como o caso do Club Yacht, que não apresenta o nome no logotipo e foi classificado entre os últimos nos 3 atributos por ambos os grupos, pois nos outros concorrentes na maioria deles o nome da boate está explícito, o que gerou uma competição desigual no teste. Nessa perspectiva, esse trabalho pretendeu contribuir para que essa metodologia possa ser utilizada em futuros projetos de marketing e de confecção de futuros logotipos de casas noturnas LGBT, obtendo uma melhor eficácia não somente nos atributos estudados, mas em qualquer outro que os estabelecimentos julguem ser importante para

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fidelização de sua imagem e aumento da clientela em seus futuros projetos. REFERÊNCIAS BARBOSA, Y. M. O despertar do turismo: um olhar crítico sobre os não lugares. São Paulo: Aleph, 2001. BRAGA, A. A.; GUIMARÃES, J. D. A. Minorias e discurso na esfera pública digital: o caso da Evento Gay. Comunicação Mídia e Consumo, v. 11, n. 30, p. 57-81, 2014. CARRARA, S. et al. Política, direitos, violência e homossexualidade. Pesquisa 9ª Evento do Orgulho LGBT-São Paulo 2005. CEPESC, 2006. FERRAZ, M. A. A preferência pela prática de atividades físicas e esportivas: uma abordagem psicofísica. 2005. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2005. GÂNDARA, J. M. G. A imagem dos destinos turísticos urbanos. Revista Eletrônica de Turismo Cultural, São Paulo, número especial, p. 1-22, 2008. STEVENS, S. S. Psychophysics. New York: Wiley, 1975.

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SONHOS SIMULADOS: O POTENCIAL DA REALIDADE VIRTUAL COMO PRODUTO TURÍSTICO MARTINS, Fabrício Alves¹ SANTOS, Ariel de Carvalho² VIOLIN, Fábio Luciano³ Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana fabriciobill2014@outlook.com, aricvs@gmail.com, violin@rosana.unesp.br 1

Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ³ Graduado em Administração de Empresas pela UNIGRAN, 1996. Especialista em Planejamento e Gerenciamento Estratégico pela PUC-PR, 1998. Mestre em Administração pela UFPR, 2002, e Doutor em 2016. Atua no curso de Turismo desde 2011 na UNESP/Câmpus Experimental de RosanaSP. 2

RESUMO - Levando em consideração o advento das tecnologias de realidade virtual em vários setores, em especial o de entretenimento, e a sua implementação limitada em empreendimentos relacionados ao turismo, pode-se dizer que este mercado se mostra extremamente promissor tanto em território internacional como nacional. A pesquisa teve como foco analisar e discutir, mesmo que de modo embrionário, as tendências da realidade virtual como produto dentro do setor de Turismo estando interligada à economia compartilhada, seguindo a premissa de que este estudo contará com continuação e aprofundamento da pesquisa. Os resultados indicam a capacidade de imersão e realismo providos pelos aparelhos modernos de realidade virtual e fazem com que esta seja ideal para o turismo, que depende em grande parte da visualização de belezas cênicas e experiências visuais em geral. A possibilidade de “viver” em um local antes de comprar uma viagem pode ser o fator motivador que falta para muitos clientes fecharem o negócio com os empreendimentos que fornecerão esse tipo de serviço. Palavras-chave: Turismo; Economia Compartilhada; Realidade Virtual. ABSTRACT – Taking into consideration the ascension of the virtual reality technologies in many sectors, specially the entertainment sector, and its limited implementation in enterprises related to tourism, it can be said that this market holds a lot of promise, both in national and international territory. This research had as focus the analysis and discussion, even if in an embryonic way, of the tendencies of virtual reality as a product inside the tourism sector as related with the sharing economy, following the premise that this study will continue further and be researched more thoroughly. The results indicate that the capacity of immersion and realism provided by the modern apparatuses of virtual reality make them perfect for tourism, which depends, in great part, of the visualization of scenic beauties and visual experiences in general. The possibility of “living” in a place before purchasing a travel package to the same place can be the single motivating component that was missing for many clients to close the deal with the companies who shall provide this service. Keywords: Tourism; Sharing Economy; Virtual Reality.

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1. INTRODUÇÃO A tecnologia de realidade virtual é uma tendência extremamente recente, porém já se fala muito sobre a capacidade de poder visualizar um mundo novo sem estar ligado fisicamente a ele, o que vem atraindo cada vez mais interessados. Os aparelhos capazes de fornecer a experiência de realidade virtual vão desde os mais elaborados e potentes acoplados a computadores de mesa até os mais simples e portáteis para celular. O preço desses novos gadgets ainda não é tão acessível para a maior parte do público no Brasil, especialmente os mais potentes, pois requerem um computador mais caro com altas capacidades de computação gráfica. Porém, o preço de novas tecnologias sempre abaixa e se torna mais acessível ao longo do tempo, como aconteceu com os primeiros aparelhos de DVD. Pode-se dizer, então, que é inevitável que a realidade virtual logo seja uma grande parte do mercado de eletrônicos no Brasil. Segundo matéria publicada no website Panrotas por Castro (2017), a realidade virtual vem sendo utilizada em vários estabelecimentos que trabalham com o turismo, como, por exemplo, a Belo Horizonte Convention & Visitors Bureau, que irá produzir conteúdo em realidade virtual para promover os atrativos da cidade, oferecendo a possibilidade de um tour virtual. As novas tendências turísticas vêm com ímpeto no mercado pelo avanço referente à tecnologia da informação, como a atual e disruptiva economia compartilhada, com produtos desse novo sistema de troca ligados direta e indiretamente ao setor turístico. Alguns exemplos relacionados à economia compartilhada são empresas postas no mercado se mostrando altamente competitivas, como Uber, Airbnb, Pinterest, Instagram, entre outros. Segundo Gansky (2010), a economia compartilhada vem se expandido devido ao seu modelo de negócio enxuto especialmente focado nos custos. Shirky (2008) complementa que o alto crescimento em um curto período de tempo dos negócios online (ecommerce), ponto a ponto (peer-to-peer), isto é, os elementos que geram valor desse modelo de negócio, tiveram maior amplitude a partir da facilidade e acesso à informação. Dado isso, é um fato inegável dizer que o turismo é um setor muito afetado pela tecnologia, é possível observar as mudanças em vários segmentos do trade turístico. Nesse sentido, o presente trabalho visa analisar em específico o produto realidade virtual e quais seus impactos e contribuições para o segmento turístico de entretenimento, como uma possível

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ferramenta de marketing para alguns segmentos do turismo. 1.1 Metodologia O estudo que aqui se apresenta tem sua natureza definida como qualitativa. Igual definição se dá pelo contexto e volume de dados levantados, assim como o tipo de discussão que se faz no que diz respeito a esses dados. A definição qualitativa segue a prerrogativa da descrição dos dados e sua contextualização. A pesquisa teve como foco analisar e discutir, mesmo que de modo embrionário, as tendências da realidade virtual como produto dentro do setor de Turismo estando interligada à economia compartilhada, seguindo a premissa que este estudo contará com continuação e aprofundamento da pesquisa. Todos os materiais encontrados são oriundos de artigos científicos e referenciais documentais. Dessa maneira, parte da literatura sobre economia compartilhada é discutida mais amplamente por meio de materiais, especialmente artigos internacionais. Tal escolha de forma de acesso ao universo de interesse se deu considerando a fidelidade das informações prestadas em sites especializados e a possibilidade de acesso direto a informações confiáveis, além da relativa escassez de insumos sobre o tema em âmbito nacional e de pesquisas acadêmicas sobre o assunto realizadas no Brasil. 2. DISCUSSÃO TEÓRICA 2.1 Turismo No decorrer da história, o turismo recebeu diversas definições. Segundo Barreto (1995), o conceito surgiu no século XVII na Inglaterra, onde passou por diversas colocações, até chegar ao período moderno, sucedido após a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, a internacionalização da economia possibilitou o incremento de uma série de atividades internacionais na Europa, e, entre elas, o turismo, que já na segunda metade do século se expandiu pelo mundo todo. No Brasil, o turismo se tornou popular a partir de 1920, dando origem à Sociedade Brasileira de Turismo, em 1923, conforme diz Krippendorf (2001). O turismo, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, sd), é compreendido como: “A soma de relações e de serviços resultantes de um câmbio de residência temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou profissionais”. Por ser uma atividade bastante abrangente, ela pode ser subdividida em diversos segmentos de forma que não se esgotem as possibilidades de turismo. Uma segunda definição, de De La Torre (1999), que auxilia a complementar o entendimento é a

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de que o turismo é um fenômeno social, que seria nada mais do que o deslocamento voluntário e temporário de pessoas que saem de seu local de residência para ir a outro local onde não irão realizar nenhum tipo de atividade remunerada. O Turismo está classificado dentro da economia global como parte do setor de serviços, cuja oferta é baseada nas prestações de serviços e experiências. O setor de turismo é, por natureza, dinâmico e segmentado e se apropria de meios de transporte, hospedagem, alimentação, etc. Sua atividade está segmentada em diversas faces: turismo de sol e praia, ecoturismo, turismo de eventos, turismo de negócios, turismo de experiência, entre outros. 2.2 Economia Compartilhada A origem do modelo de economia compartilhada ocorreu na década de 1990 nos Estados Unidos graças ao surgimento de sites que tinham como princípio a recirculação de bens como o Craiglist e o eBay. Segundo Schor (2014), o custo das transações entre empresas e consumidores reduziu-se de modo substancial a partir desse período, especialmente pela melhoria tecnológica, o que suscitou a exploração de mercados considerados secundários. Schor (2015) destaca que o compartilhamento de bens e serviços não é uma prática recente, ela ocorre há muito tempo, porém em círculos mais restritos de pessoas, ao passo que a economia compartilhada permite - graças ao desenvolvimento dos mecanismos tecnológicos que aproximam pessoas - o acesso de pessoas que se encontram em locais distantes, por exemplo, é possível locar uma residência por uma semana em praticamente qualquer destino turístico em grande parte dos países do mundo. Para Gansky (2010), economia compartilhada tem ganhado expressão, em parte, por conta do modelo de negócio subjacente especialmente focado nos custos. Shirky (2008) acrescenta que a expansão e a modelagem dos negócios online ponto a ponto (peerto-peer) se deram em maior volume considerando a maior facilidade e acesso à informação. As atividades de economia compartilhada dividem-se em quatro grandes categorias: recirculação de bens, aumento da utilização de ativos duráveis, troca de serviços e compartilhamento de ativos produtivos (SCHOR, 2014). Segundo Carvalho e Martins (2017), entre os principais atrativos dos serviços de economia compartilhada, destacam-se preços geralmente menores do que os dos competidores tradicionais, flexibilidade na negociação, menor burocracia, contato via internet diretamente com responsável ou proprietário(a), além de maior velocidade para

conclusão das transações comparativamente. Carvalho e Martins (2017) tiveram como foco de sua pesquisa o Airbnb, porém seus resultados provavelmente serão parecidos ao analisar outros serviços de economia compartilhada que podem ser relacionados ao turismo, como o Uber. Como forma de exemplificar tais transformações, chama-se atenção para a forma de concorrência entre hotéis e o Airbnb (OLIVEIRA, 2017) e dos táxis em relação ao Uber (FIGUEREDO, 2016). 2.3 Realidade virtual Dentro dessa questão, surge a importância de analisar e verificar a potencialidade de novas tendências tecnológicas no turismo, de modo a preparar o mercado para uma melhor adaptação. Visto que a realidade virtual é a tecnologia do momento a entrar no mercado, é interessante projetar os seus possíveis impactos no turismo, o que entrará em foco e o que sairá, e como o mercado turístico irá reagir por conta disso. As tecnologias de realidade virtual vêm sendo desenvolvidas e experimentadas desde 1957, quando, segundo Brockwell (2016), Morton Heilig, um inventor, criou um aparato chamado “Sensorama”, que simulava o efeito de pilotar uma motocicleta em movimento enquanto podia-se experimentar várias sensações como a do vento batendo no rosto de quem usava o aparelho. O experimento de Heilig foi um fracasso comercial, porém muitos o veem como o pai da realidade virtual, um feito impressionante para a época. O Google Patents fornece as seguintes imagens de patentes feitas por Heilig:

Figura 1 - O Sensorama de Morton Heilig Fonte: Google Patents

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Figura 2 - Outro apetrecho inventado por Heilig semelhante aos headsets modernos de realidade virtual Fonte: Google Patents

Figura 3 - modelo atual fornecido pela empresa Random42 Fonte: https://random42.com/virtual-reality

Figura 4 - Oferta do produto Realidade Virtual em Feira de Turismo Fonte: http://bit.ly/2ybyyYz Recentemente, a popularidade dessa tecnologia se deu devido à sua implementação em jogos eletrônicos, tendo como um dos principais pioneiros o OculusRift®, segundo Rubin (2014). Atualmente os aparelhos de realidade virtual vêm sendo utilizados em vários setores, como o militar, o médico e o de entretenimento.

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Outro fator interessante que diz respeito à realidade virtual é a sua capacidade de imersão, ou seja, fazer com que a pessoa realmente sinta como se estivesse vivenciando aquela experiência. Em um experimento, os pesquisadores Rothbaum et al (1995) relataram, inclusive, o potencial da realidade virtual no combate à acrofobia (medo de altura) e mencionam outro estudo que teria utilizado a realidade virtual no tratamento de crianças com autismo. O fato desse estudo ter sido realizado na década de 1990 e ter obtido resultados positivos fortalece mais ainda o potencial da realidade virtual como uma tecnologia verdadeiramente imersiva. 2.4 Desintermediação das agências de viagem As agências de viagens têm como necessidade sobreviver em um mercado cada vez mais dominado por constantes transformações. Nota-se hoje que o mercado, tanto brasileiro como mundial, está altamente dinâmico e em constante mudança, e não são raros os exemplos de organizações que buscam cotidianamente adequação aos padrões impostos por esses ambientes em que opera, um exemplo foi a junção da Flytour e a Gapnet em 2015. Na última terça-feira (15/12), a Flytour e a Gapnet anunciaram a fusão total de ambas as empresas e a criação da holding Innovation Travel Brasil. A ação, que promete revolucionar o segmento turístico no Brasil, foi apontada como uma grande tendência do mercado global e chamou atenção do trade. (CHUVA, 2015) As duas empresas renomadas do setor que utilizaram como estratégia a associação para se ampliarem e se manterem no mercado, aumentando seus portfólios, gerando mais competitividade, fomentando maiores investimentos. Elementos como a tecnologia, comportamento do consumidor, concorrência, fluidez da informação, stakeholders, entre outros elementos, condicionam empresas e profissionais a buscarem a adequação dentro de ambientes cada vez mais competitivos e com barreiras de acesso cada vez mais complexas de serem atingidas. A distribuição tem se mostrado um dos mais dinâmicos elementos da indústria do turismo. Isso pode ser atribuído ao crescimento da tecnologia da informação, que tem revolucionado os canais de comunicação e informação

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entre as empresas e os consumidores [...]. (LOHMANN, 2008, p. 30). Assim sendo, é possível observar o cada vez mais complexo e cada vez mais volátil setor de agências de viagem, que é responsável por distribuir e intermediar os produtos e serviços do turismo. O setor, que atua como uma ponte entre fornecedores dos produtos e consumidores, com vendas de passagens aéreas, pacotes turísticos, pacotes personalizados, entre outros, vem perdendo sua reserva de mercado, impactado pelo fator desintermediação. O termo intermediação é utilizado no mercado turístico para caracterizar a ação de mediação existente entre o consumidor final (o turista) e os vários distribuidores dos serviços e produtos turísticos disponíveis, sendo as agências de turismo um de seus mais importantes canais e responsáveis pelos processos de divulgação, distribuição e comercialização dos mais variados serviços e produtos do mercado turístico, atingindo uma demanda diversificada, que passa pelos segmentos do turismo de massa, chegando até os turistas de negócios, entre outros. (BRAGA, 2008, p.43). A partir disso, surgem as primeiras consequências no mercado de agências, compreendendo que todos os prestadores desses serviços querem uma "fatia maior do bolo" e sobreviver a todo custo no mercado. Logo, os que antes eram apenas fornecedores, repassando os produtos para as agências distribuírem, passam também a fazer distribuições diretas, vendendo para os consumidores finais, lucrando com as taxas de comissionamentos, mais conhecidas como taxas básicas, observadas na relação fornecedor vs. agência, na qual os fornecedores repassavam uma porcentagem por cada produto vendido pelas agências. Diante do atual cenário de redução do comissionamento, promovido pelo processo de desintermediação, que resulta do contato direto dos fornecedores com o cliente final, a agência de turismo, como canal de distribuição, atravessa um momento de transformação. (CANDIOTO, 2012, p.64)

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Dessa forma, houve o surgimento da desintermediação, visto que o mercado não só se tornou mais dinâmico e competitivo, mas trouxe também a eliminação das comissões básicas, fazendo com que as agências encontrassem novos meios de remunerar seus funcionários, deixando de se limitarem aos serviços de revendas e promoção, agregando novas funções aos agentes de viagens, como as de consultoria e apoio aos clientes, passando a cobrar pelos custos dos serviços prestados, encarecendo os produtos para o consumidor final. 2.4 Realidade virtual como possível ferramenta estratégica Diante desse cenário, tendo em conta as limitações iniciais mencionadas acima, os aparelhos de realidade virtual mais potentes poderiam ser utilizados em agências de viagens físicas, onde seriam ligados a um computador fixo, enquanto os mais portáteis teriam como público alvo os próprios turistas, que poderiam acessar a experiência de realidade virtual (com menos capacidade gráfica) a qualquer momento de seus celulares. Nesse sentido, tendo caracterizado o produto realidade virtual como uma possível ferramenta estratégica e como um investimento viável para as agências, essa nova concepção baseia-se em inserir essa tecnologia na elaboração do planejamento estratégico, tendo como indicadores novos fatores: capital humano especializado e qualificado para operar a nova tecnologia com excelência, serviços e produtos personalizados acompanhados de avanços tecnológicos e público alvo definido para que suas energias tenham maior efetividade nos resultados, visando a uma melhor taxa de retorno, sendo esta uma provável solução para a competitividade no mercado. 3. CONCLUSÕES Levando em consideração o advento das tecnologias de realidade virtual em vários setores, em especial o de entretenimento, e a sua implementação limitada em empreendimentos relacionados ao turismo, pode-se dizer que este mercado se mostra extremamente promissor tanto em território internacional como nacional. Diferentemente de como as empresas do setor turístico tiveram que aprender a utilizar as funções da internet para manter sua força no mercado, os recentes acontecimentos e as tendências anteriores apontadas neste artigo preveem que a realidade virtual, em um primeiro momento, seja aproveitada como um diferencial no mercado. É necessário realizar mais pesquisas sobre o assunto para que realmente seja

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possível identificar a realidade virtual como a mais recente inovação disruptiva no mercado do turismo. Não obstante, tudo aponta para que essa nova tecnologia tenha um profundo impacto em alguns segmentos do mercado, como as agências de viagem, e que ela talvez seja a maneira de possibilitar que as agências consigam compensar um pouco o prejuízo gerado pelos avanços nas tecnologias de comunicação, dado que a realidade virtual necessita de um aparato físico e, no momento, não muito acessível para a maior parte da população, oferecendo um novo motivo à aquisição dos serviços das agências de viagem. A capacidade de imersão e realismo providos pelos aparelhos modernos de realidade virtual fazem com que esta seja ideal para o turismo, que depende, em grande parte, da visualização de belezas cênicas e experiências visuais em geral. A possibilidade de “viver” em um local antes de comprar uma viagem pode ser o fator motivador que falta para muitos clientes fecharem o negócio com os empreendimentos que fornecerão esse tipo de serviço.

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MARKETING MIX DO SETOR DE A&B: ANÁLISE DA EFETIVIDADE NO USO DAS FERRAMENTAS MERCADOLÓGICAS¹ VIOLIN, Fábio Luciano² SOUZA, Guilherme Henrique Barros de³ RIBEIRO, Renata Maria4 MARTINS, Fabrício Alves5 Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana violin@rosana.unesp.br, guilherme@rosana.unesp.br, renata@rosana.unesp.br, fabriciobill2014@outlook.com 1

Parte integrante de linha de pesquisa sobre Mercadologia e Turismo. Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutor em Ciências Cartográficas, Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Rosana, São Paulo. 4 Doutora em Geografia, Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Rosana, São Paulo. 5 Graduando em Turismo, Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO: O setor de turismo apresenta-se já há algum tempo como elemento que possibilita o desenvolvimento e o crescimento de regiões, países, estados e mesmo localidades. Diante desse cenário, os elementos do Marketing Mix obtiveram expressão no cotidiano das organizações. Nesse sentido, o objetivo geral do estudo foi analisar a efetividade de tais ferramentas no setor de alimentos e bebidas em parte do estado de São Paulo. Especificamente 15 cidades foram abordadas por responderem positivamente à solicitação de participação na pesquisa, o que indica amostra por conveniência. Destacase que o público alvo foram os responsáveis pelas organizações e/ou seus planos de negócios. Observa-se que cada item do composto de Marketing apresenta um nível de refinamento conforme o setor, porém um dos setores em que se esperava que a comunicação fosse impressionantemente superior aos demais não se apresentou desse modo. No cômputo geral, as ferramentas têm sido trabalhadas de modo surpreendente pelas organizações, mas as menos profissionalizadas apresentam sinais de desgaste em função da concorrência e alterações no perfil do consumidor. Palavras-chave: Marketing; Composto de Marketing; Marketing Turístico; Gastronomia; Turismo ABSTRACT: The tourist activity in recent years has been extremely important for the development and growth of the world economy. In this sense, marketing tools, especially the marketing mix obtained expression in the daily life of organizations. In this sense, the general objective of the study was to analyze the effectiveness of such tools in the food and beverage sector in part of the state of São Paulo. Specifically, 15 cities were addressed by their positively respond to request to participate in the survey, which indicates convenience sample. It is noteworthy that the target group were responsible for the organizations and / or their business plans. Note that each item of the compound of Marketing provides a level of refinement as the sector; however, one of the sectors in which it expected that the communication was remarkably superior to the others did not appear that way. Overall, the tools have been worked surprisingly by organizations but the less professionalized ones show signs of wear due to competition and changes in consumer profile. Keywords: Marketing; Marketing Mix; Tourism Marketing; Gastronomy; Tourism.

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1. INTRODUÇÃO Turistas, assim como qualquer outro público alvo, apresentam necessidades e desejos distintos, mesmo frente a ofertas similares. A velocidade de mutação dos desejos dos consumidores assumiu papel vital na concepção e oferta de produtos ou serviços. Nesse contexto, observa-se que as organizações conectadas com os desafios do seu ambiente lançam ações de captação e/ou manutenção de consumidores. Nesse contexto, a demanda é composta pelo desejo por produtos específicos, aliado à disposição e capacidade de adquiri-los. O poder de compra do indivíduo transforma o desejo em demanda (KOTLER, 2009). Em relação à alimentação, a compra pode ser resultante da necessidade fisiológica de se alimentar ou da necessidade de obtenção de prazer a partir do consumo de determinado alimento (Gonsalves, 1996). Assim, a aquisição de um produto constitui a tentativa de se satisfazer um desejo específico. A busca de satisfação das necessidades e desejos do público-alvo é o que garante a lucratividade das empresas (KOTLER, 2009). Os restaurantes e bares fazem parte do cotidiano da população e, consequentemente, do turista durante sua viagem. Por essa conotação - de elemento do cotidiano - esses estabelecimentos costumam ser utilizados como forma distintiva de se ofertar produtos e serviços. Considerando, então, a mutabilidade da tecnologia, da concorrência e dos próprios consumidores, aponta-se a emergência do Marketing, que deriva da mercadologia, que é entendida como o estudo das relações entre organizações e seus consumidores, especialmente atrelada às suas variáveis controláveis determinadas por McCarthy em 1960. Tais variáveis são chamadas de Mix Marketing ou Composto de Marketing no Brasil. Tais variáveis representam itens que compõem o conjunto de ações pelas quais organizações de todos os setores e portes podem adaptar os itens pertencentes ao composto de Marketing para desenvolverem suas ações junto ao mercado. As ações de Marketing visam, em essência, proporcionar satisfação na relação entre uma organização e seus clientes. O conceito contemporâneo de marketing engloba a construção de um satisfatório relacionamento em longo prazo, no qual os indivíduos ou grupos de compradores potenciais obtêm aquilo que desejam ou necessitam e estão habilitados a comprálos. Diante disso, a gestão efetiva das estratégias mercadológicas relacionadas ao composto de marketing pode ser um elemento efetivo na manutenção da competitividade das empresas do setor de alimentos e bebidas.

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Dessa forma, faz-se necessário compreender como a gastronomia pode se tornar importante atrativo cultural para o turismo, principalmente quando, por meio dela, o turista possa entender o seu valor e a maneira como ela é realizada, remetendo à ideia de traços e expressões culturais dos locais onde a mesma ocorre, lembrando sempre que a cultura propriamente dita é variada e dinâmica e seus processos mudam de conteúdo e significado de um lugar para o outro. Nesse contexto, o modo como alimentos e bebidas são preparados e apresentados também é fundamental para o êxito de um atrativo turístico de cunho gastronômico. Assim, toda cozinha é uma expressão da [...] história, da sociedade e da nação a qual pertence. Em relação ao Brasil a gastronomia é identificada por influências: indígenas da qual foi herdado o hábito alimentar da mandioca e seus derivados [...] que perdura até [...] hoje, dos africanos veio o gosto pelo a feijoada, a batata, o inhame, o cuscuz, a galinha d’angola, o azeite do dendê entre outros e dos portugueses veio o costume pelos doces, frituras, cozido, as sopas e refogados além de todas essas influencias é acrescida por fatores geográficos o que faz com que sua culinária seja bem peculiar de uma região para outra (DAMATTA, 2004, p. 35). Diante disso, a realização de estudos vinculados à mercadologia inserida no campo do turismo se faz necessária ao se considerar que, de modo sistemático, o ambiente em que as organizações operam alteram-se de modo substancial e constante em períodos de tempo cada vez menores e que a compreensão da dinâmica e efetividade das ações permitiria, por exemplo, maior capacidade de gerenciamento das ações de planejamento por parte das organizações ou ao pior entendimento dessa dinâmica. A análise de Mercado é fundamental para o planejamento do negócio, em conjunto com o plano de marketing. A partir disso, questiona-se sobre a importância de analisar estratégias mercadológicas praticadas por empresas do setor de alimentos e bebidas, de modo especial, do estado de São Paulo, aprofundando, assim, o conhecimento sobre marketing turístico e gastronomia como potenciais mercadológicos. 2. BASE TEÓRICA EMPÍRICA

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2.1 A Gastronomia Mercadológica

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Competividade

Atualmente, as mudanças ocorrem com maior velocidade, as soluções para determinados problemas se tornam ineficazes em um curto espaço de tempo, a competitividade no mercado gastronômico aumenta a cada dia e os clientes tornam-se mais críticos. Diante disso, a necessidade de se alimentar tem influência direta no âmbito da subsistência, assim como na construção da identidade de um povo e na experiência turística atual, pois o turismo expressa-se em sua forma mercadológica, por diferentes povos, também na alimentação. Entende-se que a alimentação, em uma viagem turística, é um fator essencial, pois além de fazer parte de uma necessidade básica humana, permite a compreensão e o melhor conhecimento da cultura do destino habitado. Os turistas possuem necessidades e desejos diferentes, dessa forma o mercado turístico busca adaptar-se a essas demandas, realizando segmentação de mercado, que de acordo com o Ministério do Turismo (2006) no Brasil oraganiza-se em: social, ecoturismo, de estudos e intercambio, esportivo, de pesca, náutico, de aventura, de sol e praia, rural, de saúde, de negócios e eventos e cultural. Entre essas e outras existentes, considera-se aqui o turismo cultural por compreender as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto “[...] de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura” (MTUR, 2006, p.13). Por trazer consigo as raízes de cada cultura, destacam-se as semelhanças, as diferenças, as crenças e a classe social a que cada alimentação pertence. Daí advém o estudo da alimentação no que se designa gastronomia segundo a concepção de Braune (2007, p.42), o qual aponta que a “gastronomia é, antes de tudo, cultura, expressão e arte de um povo. Nutre-se das tradições culinárias de todas as camadas sociais [...]”. Já o dicionário da Língua Portuguesa (1981, p. 52) descreve a gastronomia como: “a arte de cozinhar, de modo que se proporcione o maior prazer aos que comem; a arte de regalar com bons acepipes de comer bem, de saber apreciar os bons petiscos”. A gastronomia local como patrimônio imaterial está sendo incorporada aos novos produtos turísticos a determinados nichos de mercado, permitindo incorporar a comunidade na elaboração desses produtos (SCHLUTER, 2003). Os atrativos gastronômicos são repletos de prazeres e sabores à mesa, os quais não necessitam estar ligados a eventos ou roteiros exclusivos para se constituírem como principal motivo para um deslocamento turístico, ele esteja interligado pelos

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benefícios advindos desse tipo de oferta, como afirma a autora: Devido ao fato de que a gastronomia raras vezes seja o agente motivador principal de um deslocamento turístico, recorre-se geralmente à criação de rotas temáticas e culturais que permitem integrar em um produto os elementos que individualmente não atraem interesse suficiente ou contam com outra dificuldade de promoção ou comercialização, tornando possível um produto final de maior valor que a soma das partes e incrementando assim os seus benefícios econômicos e sociais (SCHLUTER, 2003, p.71). Cunha e Oliveira (2009) acrescentam que uma maneira de se divulgar a gastronomia é por meio da mídia, que leva informações sobre essa temática constantemente para as pessoas com dois intuitos básicos, que são: a cultura e como opção de turismo, embora ambos estejam intimamente ligados um ao outro. Porém, independentemente da escolha do tipo de turismo a ser praticado, a gastronomia é usufruída pelos turistas e representada pelos seus “donos” e valorizada enquanto fator de expressão cultural dos povos, sendo mais uma opção de atrativo turístico. Vida noturna e gastronomia podem ser importantes atrações. Desse modo, a relação entre a gastronomia e o turismo acontece em decorrência das mais variadas formas de atrativos para a sua realização, todos eles irão de uma maneira ou de outra atrair turistas para determinados destinos. No entanto, não se pode resumir o turismo à esfera unicamente econômica. A atividade é permeada por elementos históricos, culturais e até mesmo sociais de uma localidade ou atrativo. O atrativo turístico é o recurso natural ou cultural que atrai o turista para visitação. O atrativo cultural é constituído pelas manifestações tradicionais populares, assim como os usos e costumes. São as festas religiosas, populares, folclóricas e cívicas. Outro elemento tido como importante atrativo cultural é a gastronomia típica de uma região (IGNARRA, 2003, p. 61). Outro fator que mostra essa potencialidade é a mudança comportamental dos turistas pós-modernos. Parte desses viajantes busca localidades e tipos de atrativos específicos em detrimento de destinos massificados. Para esses turistas, o fato de os atrativos

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terem um diferencial é essencial para que o destino seja considerado interessante. Nesse panorama, os atrativos gastronômicos podem funcionar como um elemento complementar diferencial interessante para diversos destinos. Segundo Fagliari (2005, p.15), “o desenvolvimento de elementos gastronômicos em atrativos turísticos também poderá servir como elemento de integração entre turistas e comunidade local”. O autor continua afirmando que “assim, a gastronomia é um dos modos mais fáceis de fazer com que os turistas não apenas observem a cultura, mas também interajam e se sintam parte da comunidade”, o que, em última instância, os colocaria no lugar dos anfitriões, de certo modo.

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Figura 1 – Elementos do Composto de Marketing Fonte: Adaptado de Kotler (2009) e McCarthy (1996)

Para kotler (2009), o Composto de Marketing representa elemento vital para as organizações em sua busca pelos objetivos de mercado. Por seu turno, Sheth (1998) destaca que o Marketing Mix, nos moldes estabelecidos por Jerome McCarthy, vincula-se à Escola Funcional, que tem como alicerce a concepção de estruturar ações funcionais para atuação ou resposta ao mercado. A partir da popularização dos 4 P’s, surgiram outras abordagens, como a dos 4 A’s (Análise, Adaptação, Ativação e Avaliação), proposta por Raimar Richers, e os 4 C’s (Cliente, Custo, Conveniência e Comunicação), de Robert Lauterborn. Contudo, nenhuma das duas abordagens representa exclusivamente decisões relacionadas às variáveis controláveis propostas pelo Composto de Marketing (SHAPIRO, 1985; MCCARTHY, 1960; CHURCHILL; PETER, 2000). Os 4 A’s se apresentam de forma genérica e pode servir de base para qualquer outra área funcional de uma organização, e os 4 C’s apresentam o item cliente, o qual não representa uma variável controlável (SHAPIRO, 1985). Contudo, já há alguns anos se insere a ideia de busca pela vantagem competitiva, que é definida por Porter (1989) como as ações ofensivas ou defensivas para criar uma posição numa indústria, para enfrentar com sucesso as forças competitivas e assim obter retorno maior sobre o investimento. Hax e Majluf (1996) ampliam a concepção ao apregoarem que estratégia é o conjunto de decisões coerentes, unificadoras e integradoras que determina e revela a vontade da organização em termos de objetivos de longo prazo, programa de ações e prioridade na alocação de recursos. Por seu turno, Shapiro (1985) expõe que o Composto de Marketing, através de seus elementos, pode permitir, por meio da correta execução de ações, que surja a chamada vantagem competitiva por meio da combinação de três etapas de interação: Consistência, Integração e Alavancagem. A Formulação de estratégias de marketing, tanto para Kotler (2009) quanto para Mccarthy (1960), envolve a definição do mercado-alvo a ser atingido e a montagem do Composto de Marketing adequado a essa empreitada. A literatura explicita a necessidade de estratégias adequadas considerando o mercado-alvo e reforça que, antes da implantação de um programa ou oferta, é fundamental a revisão do impacto de cada elemento isolado e também em conjunto dentro do segmento ou segmentos que se pretende atingir. (KOTLER, 2009; AAKER; JOACHIMSTHALER, 2009).

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2.2. Composto Mercadológico Neil Borden, em 1953, baseado no trabalho de James Culliton, que descreveu um executivo como aquele capaz de combinar “diferentes ingredientes”, formulou as bases do Marketing Mix. Desse modo, a expressão passou a designar a ideia de mistura ou combinação de elementos que juntos seriam capazes de gerar os elementos de entendimento e ação necessários para a atuação da organização no mercado (CHURCHILL; PETER, 2000). Somente na década de 1960, foi que o conceito ganhou popularidade. Isso se deu pelo respaldo dos estudos enveredados por Jerome McCarthy. Para ele, o Marketing Mix ou Composto de Marketing representam a combinação de elementos que permite que uma organização, por meio de seus gestores, tome decisões pautada em variáveis que estão sob o controle da organização de modo irrestrito (BOONE; KURTZ, 2001). McCarthy (1960), então, reuniu tais variáveis controláveis e as categorizou em quatro partes: Produto, Preço, Promoção (Comunicação) e Praça (Logística). Conforme a figura a seguir:

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Mesmo que todas as ações sejam milimetricamente pensadas, calculadas e previstas, não há garantias de que, no mercado, a resposta se dará de modo perfeito em relação aos anseios da organização. Isso se dá pelo fato de coexistirem e atuarem umas sobre as outras as variáveis incontroláveis, que podem afetar de forma direta ou indireta os resultados (AAKER; JOACHIMSTHALER, 2009; NASCIMENTO; LAUTERBORN, 2007). Assim, observa-se que não são comuns os casos em que os quatro elementos do composto de Marketing se alinham de modo perfeito, ou seja, os esforços em termos de refinamento do plano de ação de um ou mais compostos podem variar conforme o tipo de influência que a organização sofra, o que, por decorrência, leva uma ou outra variável a ter peso diferente conforme a demanda ou exigência que se apresenta. 2.3 Marketing no Setor Turístico Marketing turístico foi conceituado pela primeira vez por Herman von Schullem em 1910. Segundo o autor, turismo poderia ser entendido como “[...] a soma das operações, especialmente as de natureza econômica, diretamente relacionadas com a entrada, permanência e deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um país, cidade ou região” (BENI, 2003). Certamente tal posicionamento foi adequado para o período em que o conceito foi cunhado, contudo, com o passar do tempo, as alterações de mercado em aspectos como, por exemplo, tecnologia, comportamento do consumidor e concorrência, entre outros, tornaram exigências de adequação ao ambiente mais complexas (SWARBROOKE; HORNER, 2002). A atividade turística, a exemplo das artes, do esporte, da cultura, entre outros, compõe a percepção, de modo geral, dos elementos que permitem ganho de qualidade de vida e tal entendimento alterou a forma de busca e acesso à informação bem como trouxe para outro patamar os níveis de exigência dos consumidores (LICKORISH; JENKINS, 2002; ENGEL et. al, 2000). Os níveis de competitividade, nas mais diversas vertentes do setor de turismo, alteraram a forma de entendimento de como agir no mercado, as tomadas de decisão apresentaram-se de modo mais complexo e potencialmente gerador de resultados, sejam negativos ou positivos, em outros termos, não é mais possível gerenciar organizações com base em tentativa e erro, considerando os resultados desastrosos que tal postura pode gerar. Para melhor entendimento, destaca-se que Krippendorf (1989) definiu marketing turístico como as ações que representam uma adaptação sistemática e coordenada da política das empresas de turismo, tanto

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privadas como do estado, objetivando a satisfação de forma plena das necessidades de determinados grupos de consumidores e obtendo, com isso, um lucro apropriado. Para Cobra (2005), “o turismo é uma importante fonte de receita e a compreensão das oportunidades de mercado permite direcionar as estratégias de marketing”. O Marketing Turístico, então, apresentase como ferramenta indispensável para o gerenciamento, especialmente no que concerne à diferenciação das ofertas aos segmentos de interesse (MONTEJANO, 2001). Middleton (2002) expressa que os conceitos do composto de Marketing podem ser interpretados como um conjunto coordenado de alavancas operadas com o objetivo de se chegar a um determinado ponto. De forma ilustrativa, o autor compara as variáveis com um automóvel que possui acelerador, freio, volante e câmbio. O movimento desses controles deve ser utilizado em consonância com as condições da estrada em constante mudança e em conjunto conforme a necessidade mais ampla ou pontual. Complementarmente, Beni (2003) apregoa que marketing turístico representa um processo pelo qual as organizações do turismo identificam seus clientes tanto reais quanto potenciais. Malhotra (2001) reforça tal posição ao salientar que o estabelecimento de comunicação com esses segmentos ou nichos, com o objetivo de conhecer e influenciar suas necessidades e desejos, é vital nas organizações, e Melgar (2001) aponta que essas ações têm como objetivo a formulação e adaptação de produtos e serviços para a obtenção de indicadores positivos de satisfação dos usuários ou turistas. De forma mais específica, as atividades relacionadas ao turismo necessitam cada vez mais de estruturação e direcionamento, especialmente se for considerado que, segundo Cobra (2005) e Jain (2000), as estratégias de marketing turístico tornaram-se fundamentais para o setor na solidificação das tomadas de decisão envolvidas no processo de gerenciamento das ações de estímulo ou resposta ao mercado consumidor de turismo. Dessa forma, as definições apresentadas evidenciam que o papel do marketing turístico é o de analisar, compreender e propor ações que beneficiem, de um lado, o cliente, por meio da satisfação de suas necessidades e desejos, e de outro, a empresa, por meio do cumprimento de seus objetivos estabelecidos previamente (PELIZZER, 2005). Segundo a OMT (2001), por sua natureza, os serviços turísticos representam elementos vitais na oferta aos usuários, possibilitando a experimentação, o uso e a consequente experiência de consumo. Middleton (2002) reforça que um dos elementos ou características a serem observados é o fato da

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heterogeneidade da demanda por parte dos usuários, a qual gera diferenças em termos de expectativa e interpretação da oferta de forma tão diversificada, que tornam seu julgamento de adequação ou inadequação sujeito a diferentes interpretações e avaliações, informações corroboradas por outros autores tais como Kuazaqui (2001); Melgar (2001); Ignarra (2003), Aaker e Joachimsthaler (2009). O produto turístico, entendido como toda oferta dispensada aos consumidores, é composto tanto de elementos tangíveis, tais como equipamentos, infraestrutura, bens físicos e recursos diversos, como também intangíveis, ao projetar serviços, propostas de preço, elementos ligados à imagem e ao gerenciamento da atividade que, de forma sistêmica, atuam em conjunto na busca da satisfação de necessidades e desejos reais ou potenciais dos consumidores (MONTEJANO, 2001; DIAS; CASSAR, 2005). 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para a montagem da base teórica do estudo, foram utilizadas fontes secundárias como livros e artigos de natureza científica. O público alvo foram organizações que têm no setor de Alimentos e Bebidas sua estrutura de oferta mercadológica. Partindo dessa prerrogativa, categorizou-se quatro tipos de empresas: as que atuam em shopping center, as que atuam junto aos meios de hospedagem (especificamente, restaurantes de hotéis), as que se encontram em unidades conjugadas a postos de combustíveis ou de parada e as que se encontram como oferta isolada em rodovias ou estradas de acesso e, por fim, as convencionais, ou seja, aquelas que se localizam nas ruas e avenidas das cidades. A amostra manteve-se no estado de São Paulo e atingiu quinze cidades (ordem alfabética): Araraquara; Bauru; Campinas; Franca; Guaratinguetá; Jaú; Marília; Mogi das Cruzes; Presidente Prudente; Rosana – Distrito de Primavera; São José do Rio Preto; São Paulo; São Pedro e Sorocaba. As organizações foram inseridas na pesquisa na medida de sua aceitação em participarem por meio de entrevista pessoal, questionário online e/ou análise de plano de ação (quando da existência de tal instrumento). As perguntas elaboradas pertencem a um questionário semiestruturado, cujo intuito foi aferir a efetividade das ações de cada elemento do composto de Marketing em cada uma das vertentes do setor de Alimentos e Bebidas contempladas no estudo. Após amplo conjunto de contatos, foi possível obter dados de 23 organizações que atuam em shopping center, 21 restaurantes de hotéis, 17 empresas que encontram em rodovias e estradas de acesso e 19 restaurantes aqui chamados de convencionais. Desse

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modo, a amostra fica caracterizada como por conveniência. O estudo, apesar de apresentar dados estatísticos, configura-se como de natureza qualitativa, pois seus dados não devem ser extrapolados para além da amostra a que se compromete analisar. O levantamento e análise dos dados deram-se a partir da figura 1, expressa no texto. Contudo, a partir de pesquisas bibliográficas e do estudo de caso, o artigo se estrutura tendo na primeira parte essa introdução e metodologia. Já a segunda e terceira partes apresentam a definição de gastronomia, atrativo turístico e instrumento da identidade local no Brasil. 4. ANÁLISE DOS DADOS Considerando as pretensões do estudo, apontase que se buscou, por meio da análise dos dados advindos das organizações, compreender e expressar valores que fossem próximos das ações das organizações em cada um dos elementos do composto de Marketing. Dentro de cada composto, buscou-se aferir as médias de proficiência para cada item. Nem sempre foi possível categorizar de modo restrito o elemento, pois a adaptação da ferramenta mercadológica é algo latente e precisa considerar as particularidades do setor de Alimentos e Bebidas. O primeiro item analisado foi o composto de Produto. Buscou-se levantar a média de proficiência das organizações baseando a análise nas entrevistas prestadas e no questionário respondido.

Figura 2 - Efetividade do Composto de Produto Fonte: Os autores (2017) Observa-se refinamento no trato da oferta das organizações, de modo médio. Elementos como marca,

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qualidade, estilo e design, além do trabalho com as características do que é oferta, apresentam elevada menção de refinamento dentro da amostra. O elemento garantia, bastante utilizado com produtos físicos, aqui se entende não somente como tal, mas para além, os dados apontaram para as garantias como indicadores advindos dos processos de elaboração e experiência de consumo dos clientes. O elemento variedade, neste estudo, traz uma particularidade. Entendeu-se como variedade o conjunto dos itens ofertados, porém se observa que os empreendimentos que apresentam maior refinamento são os que mantêm maior padronização. Não necessariamente esse item é algo valorizado pelo consumidor, contudo a padronização ao mesmo tempo traz como benefício e gargalo o mesmo sabor, apresentação e estrutura do que é ofertado ao longo do tempo. Aponta-se que a marca é elemento, segundo 97% das empresas, vital para a continuidade e que todos os elementos que compõem a oferta, quando “somados”, refletem o posicionamento na mente do consumidor de uma marca de boa ou má qualidade. O segundo elemento aferido foi a logística. Nesse sentido, os dados apontam que:

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67% das organizações a apresentarem falhas, como falta de produtos, espera - pelo não processamento correto ou em tempo de alimentos - sobrecarga de pessoal em horário de pico com atendimento deficitário, entre outros itens que demonstram a importância da correta alocação dos recursos logísticos no plano de ação das organizações. Os restaurantes convencionais apresentam os melhores indicadores de proficiência nesse item, porém as marcas que comercializam seus produtos em shoppings centers apresentam melhor programação do deslocamento, processamento e oferta. O terceiro composto analisado foi o de preço. Aferiu-se que:

Figura 4 - Efetividade das estratégias de preços Fonte: Os autores (2017)

Figura 3 - Efetividade de praça ou logística Fonte: Os autores (2017) A figura aponta para o tracionamento que a natureza de cada organização as impele a manter em maior grau de proficiência. Observa-se que, nesse elemento, os itens são adaptados para inserirem a ideia de como a organização observa o modo de fazer com que seus produtos e serviços sejam processados até o consumo efetivo pelo cliente. Nesse sentido, boa parte das organizações precisa valer-se de serviços de terceiros para deslocamento de suas matérias primas para confecção de alimentos e a desatenção a esse composto levou

Observa-se que cada uma das possibilidades de se trabalhar estrategicamente com preços foi observada na amostra, ou seja, havia ao menos 5 empresas em cada uma das categorias, o que permitiu a aferição. Nesse sentido, aponta-se que cada uma das estratégias pesquisada apresentou interessante grau de refinamento. Dentro da amostra existiram resultados de ausência de proficiência, mas, em compensação, um conjunto substancial de empresas demonstra conhecimento a respeito da importância e do modo de determinação desse composto. Tanto as estratégias ligadas à imagem quanto as ligadas à qualidade aparecem associadas de modo positivo nesse item. Aponta-se que, segundo 96% dos participantes do estudo, as estratégias de preço são vitais para a saúde da empresa, mas não somente em termos financeiros, mas também associados à concorrência e comparação com o tipo de oferta. Um dado que merece destaque é que, segundo 84% dos entrevistados, as estratégias de preço têm íntima ligação com a sensação de arrependimento ou

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de satisfação do cliente após o consumo, mas apenas 34% aferem essa satisfação, sendo 7% delas de modo formal, com disponibilização de algum mecanismo de aferição da satisfação (caixa de satisfação, enquete online), e 93% o fazem de modo informal, por meio de perguntas sobre satisfação, especialmente no momento em que o cliente paga a conta. O último elemento aferido foi a comunicação, que apresentou os seguintes dados:

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E os 4P’s ou mix de marketing são uma linguagem conhecida e entendida universalmente pelos profissionais da área e resumem, de forma bastante simples e concisa, o coração do marketing da empresa, que nada mais é do que sua estratégia e seu plano de ação para atingir seus resultados. Os administradores devem elaborar estratégias de marketing que se adaptem à posição e aos recursos da empresa. Por isso, a análise constante e infinita do mercado, a atualização dos segmentos mais atrativos, a avaliação das forças e fraquezas da empresa e dos concorrentes e, consequentemente, a definição de planos de marketing anuais com planos de ação totalmente direcionados para atender às necessidades dos clientes são de vital importância para a manutenção saudável da empresa nos seus mercados de atuação. Contudo, destaca-se que as organizações vinculadas ao setor de turismo, especificamente, nesse caso, o setor de Alimentos & Bebidas apresenta conhecimento e utilização do ferramental mercadológico. As médias apontaram para o seguinte panorama:

Figura 5 - Efetividade do composto de comunicação Fonte: Os autores (2017) Nesse item, o esperado seria que as empresas que atuam em shopping center efetivamente tivessem o composto de comunicação mais elaborado. De certo modo, a propaganda é o elemento fortemente destacado por essa categoria que ainda consegue trabalhar de forma acima da média com a publicidade e as vendas pessoais. Contudo, observa-se a constância dos demais tipos de organizações pesquisados que ficaram próximos em termos de efetividade no uso da ferramenta, porém os resultados das organizações estabelecidas em shopping center são mais efetivos e produzem maior efeito grupal, pois a forma de atração de uma marca pode beneficiá-la em uma praça de alimentação, mas também pode beneficiar seus concorrentes, ou seja, o direcionamento da comunicação precisa ser refinado de modo distintivo. O consumo de alimentos e bebidas em meios de hospedagem apresenta como primeiro público alvo os hóspedes, mas, segundo apurado, 26% da renda desse tipo de estabelecimento vem de não hóspedes, o que demonstraria, ao menos em tese, efetividade na oferta. 4. CONCLUSÕES O plano de marketing é um processo fundamental para todos os profissionais de marketing.

Figura 5 - Efetividade média dos itens do composto de Marketing Fonte: Os autores (2017) A figura destaca a média dos resultados em cada item do composto de Marketing dentro do conjunto das organizações pesquisadas. Os elementos mais desenvolvidos são o composto de produto e as estratégias de preço, ao contrário do que talvez o senso comum apurasse, associando a efetividade à comunicação. Na média, os dados apontam para refinamento em patamares interessantes em todos os itens do composto de Marketing, o que leva à consideração de que tanto as lojas de alimentos em shoppings centers quanto as demais se apresentam em níveis de proficiência distintivos do ponto de vista mercadológico. A logística é, entre os elementos do composto, o menos refinado, porém destaca-se que, apesar da menor pontuação, boa parte das organizações,

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especificamente, 65% delas, faz uso de serviços terceirizados, cabendo-lhes, então, desenvolver ferramentas de controle baseado em níveis de qualidade exigidos em termos de padrões, tempo, custo e elementos similares, que imputam ao fornecedor a necessidade de refinamento na oferta.

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ANÁLISE E PERSPECTIVAS DE LAZER PARA AS COMUNIDADES RURAIS DOS ASSENTAMENTOS DO MUNICÍPIO DE ROSANA/SP. BARCIELA, Isadora de Oliveira Pinto ¹ COSTA, Maria Luiza Carucci Alves ² OLIVEIRA, Mateus Ribeiro³ Universidade Estadual Paulista – UNESP. Câmpus de Rosana isa_barciela@hotmail.com, marialuiza_sjrp@hotmail.com, mateus_r_oliveira@hotmail.com, ¹

Bacharel em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Bacharel em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ³ Bacharel em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ²

RESUMO - A presente pesquisa possui o objetivo de identificar e destacar os equipamentos e atividades de lazer existentes em três assentamentos do Município de Rosana, sendo eles, Nova Pontal, Porto Maria e Gleba XV de Novembro, verificando se a comunidade local possui acesso ao lazer em seu tempo livre e a espaços que permitam o convívio social dentro do território rural. A metodologia adotada nesta pesquisa foi a aplicação de um questionário virtual, com três moradores, cada qual de um assentamento, e posteriormente foi realizada a análise de dados. Vale frisar que a pesquisa vem no sentido de contribuir e descobrir se as políticas públicas municipais destinadas à comunidade assentada são eficazes ou inexistentes, buscando elencar soluções para que os assentados também tenham contato com atividades de lazer, não necessitando se deslocar até as cidades, buscando alternativas que se relacionem com a realidade campesina. Palavras-chave: Lazer; Assentamento; Política pública. ABSTRACT - The present research has the objective of identifying and highlighting the equipment and leisure activities that exist in three settlements of the Municipality of Rosana, being Nova Pontal, Porto Maria and Gleba XV de Novembro, verifying if the local community has access to leisure in their free time, and spaces that allow social interaction within the rural territory. The methodology adopted in the research was the application of a virtual questionnaire, with three residents, each one from a settlement, and after that a data analysis was performed. It is important to point out that the research aims to contribute and discover if municipal public policies in a settled community are efficient or nonexistent, seeking the solutions so that the settlers also have contact with leisure activities, not needing to go to the city, looking for alternatives that are related to peasant reality. Keywords: Leisure; Settlements; Public Policies.

1. INTRODUÇÃO O lazer é um tema que vem sendo discutido nas últimas décadas, especialmente no período contemporâneo, desvendando as formas e possibilidades que essas atividades podem ser desenvolvidas e de que forma os cidadãos podem

usufruí-las. Porém, mesmo com o avanço de estudos, o lazer ainda é restrito e classificado de acordo com as classes sociais, pois nem todos os sujeitos possuem acesso a ele, seja por restrições financeiras, por tempo, por dificuldade de deslocamento ou por falta de informação. Dessa forma, o presente artigo visou analisar a realidade de três assentamentos localizados

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no Município de Rosana, no intuito de verificar as formas de lazer dessas populações e se possuem amparo por parte dos órgãos públicos em relação a equipamentos e projetos. Para tanto, foi desenvolvida a pesquisa bibliográfica, dividida em três tópicos, no intuito de contextualizar as relações de lazer com o objeto de estudo. O método adotado na pesquisa foi a aplicação de um questionário virtual com três participantes, cada qual de um assentamento, sendo esses: Porto Maria, Nova Pontal e Gleba XV de Novembro. Dessa forma, foi encaminhada uma tabela contendo uma lista com alguns equipamentos e atividades, e o entrevistado deveria marcar o que possuía ou não no assentamento ao qual pertencia. Além disso, foram realizadas as seguintes perguntas: Qual seria a alternativa de lazer para a comunidade assentada? Qual a interferência que a falta de lazer causa para a comunidade rural? Tais questões foram essenciais para visualizar as atividades que poderiam ser implantadas nos assentamentos, bem como os pontos fortes e fracos existentes, e como a escassez de atividades de lazer interferem no cotidiano das famílias assentadas. Portanto, fica clara a importância da presente pesquisa, pois, a partir dela, haverá a possibilidade de identificar as dificuldades relacionadas ao lazer que as comunidades rurais do município de Rosana enfrentam, sendo esta uma primeira etapa, para posteriormente pensar na possibilidade de criação de projetos de inclusão associados ao lazer nos espaços rurais. Esta análise pode ser uma ferramenta apresentada para entidades locais e setor responsável pelo lazer da Prefeitura, pois esta realidade interfere não somente na falta de opção, mas acarreta diversos problemas de saúde, tanto físicos quanto psicológicos. Este trabalho, assim, visa ser um meio de sensibilização e uma alternativa para que os assentados sejam vistos no município de Rosana. 2. DISCUSSÃO TEÓRICA 2.1 Concepções de lazer A legislação brasileira, especificamente a legislação trabalhista, nem sempre adotou em suas prioridades o tempo de não-trabalho do homem, ou seja, o tempo livre. É somente no período de 1934, a partir de reivindicações trabalhistas, que o assunto é colocado em pauta, preocupando-se com a jornada de trabalho dos funcionários, limitando-a a oito horas diárias, férias remuneradas, repouso semanal, intervalo para alimentação, dentre outros benefícios, sendo esses afirmados apenas no ano de 1945 através da CLT, havendo consequentemente um avanço expressivo para as relações sociais brasileiras.

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Segundo Pinto (2008), a implementação da CLT gerou a condução e a efetivação de políticas relacionadas às atividades recreativas, visto que o tempo livre e suas formas de utilização passam a ser uma das demandas exigidas pelos trabalhadores, dentre eles o direito ao lazer, que se diferencia do tempo de repouso. Assim, no ano de 1948, o mesmo é introduzido na pauta da Declaração Universal dos Direitos do Homem e consolidado na Assembleia Geral das Nações Unidas, da qual o Brasil faz parte, sendo válida até os dias de hoje, garantindo o direito ao lazer para todos os cidadãos. Entretanto, a implantação da CLT direcionada às políticas recreativas, tornou-se uma medida assistencialista e corporativista, beneficiando prioritariamente os trabalhadores urbanos, visto que o intuito era ocupar o tempo de nãotrabalho desses indivíduos, realçando as desigualdades sociais relacionadas às prerrogativas do lazer. Nesse sentido, o direito ao lazer, no formato proposto pela CLT, estende-se aos demais trabalhadores brasileiros somente anos antes do período militar, com a legislação trabalhista voltada ao campo, juntamente á criação dos sindicatos rurais. Para adentramos nos conceitos específicos do lazer, é importante frisar que um dos marcos que tornou possível sua difusão foi o surgimento do Departamento e Recreação Operária no Rio de Janeiro em 1946 e também a inauguração de entidades com fins recreacionistas, como SESI e o SESC, com objetivo de prestar serviços educativos, de saúde, lazer e ações sociais aos trabalhadores e suas famílias. Vale salientar que, mesmo com tais progressos, o lazer ainda era visto como algo relacionado à distração, ao descanso e à recomposição para forças de trabalho, quando o indivíduo estava desocupado, não abordando fenômenos culturais e diferenciando-se de acordo com a faixa etária e classe social. Assim, as políticas públicas nesse período podem ser consideradas elitistas, sendo apenas na década de 80 que são adotadas políticas participativas, nas quais o cidadão compõe o processo democrático (PINTO, 2008). Nesse período, o lazer e o turismo são colocados em destaque, provocando sua ascensão, devido ao incentivo ao consumo, adotado pelo sistema capitalista, que vislumbra as viagens e atividades de recreação como um produto gerador de lucro, tratando os indivíduos como potenciais consumidores, havendo, consequentemente, diversos investimentos, tanto do setor público quanto do privado. Nesse contexto, nos anos 2000, surge uma preocupação com a prática de esportes e lazer nas esferas municipais, estaduais e federais, visando promover uma democratização do acesso ao lazer, no intuito de fortalecer a cidadania, surgindo, então, uma variedade de projetos. Porém,

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mesmo com as novas perspectivas e avanços associados ao lazer, o mesmo ainda sofre problemáticas, como outras áreas, devido às relações de poder existentes na sociedade, confrontadas por interesses políticos e econômicos, contribuindo para uma propagação desigual do lazer, pois a atividade é vista como mercadoria, assim os espaços que seriam comunitários e ponto de encontros, ficam desamparados. Contextualizando o lazer, podemos afirmar, segundo Marcelino (2008), que pode ser entendido como a cultura, em seu sentido amplo, vivenciada no tempo disponível, no qual não há outro interesse, senão o da busca pelo prazer e satisfação provocada pela própria situação, na qual o indivíduo tem a opção de escolher, em seu tempo livre, pelo ócio ou pela atividade. Entretanto, em diversas situações, a escolha não é um privilégio, pois o sujeito é condicionado ao ócio, por não haver, em seu território, espaços e infraestruturas destinadas ao lazer e às atividades lúdicas recreativas, pois as políticas e os interesses socioeconômicos, no decorrer da história, fizeram exclusivamente dos centros urbanos espaços para o lazer, excluindo outras camadas sociais, como camponesas, periféricas, ribeirinhas, assentadas, indígenas, dentre outras. 2.2 Relação Campo x Cidade e o Lazer O lazer, enquanto fenômeno social, manifestase de distintas formas, dependendo de suas características históricas, geográficas, dos agrupamentos humanos e suas relações. Nesse sentido, o lazer pode ser compreendido além do aspecto da diversão, possui medidas educativas, promovendo desenvolvimento social e pessoal. Para que a atividade ocorra de modo organizado e igualitário, a mesma deve ser planejada, principalmente na esfera municipal, pois é esta que fará o gerenciamento de planos e análise das necessidades locais. Para isso, devem-se levar em consideração alguns aspectos, como: olhar para a comunidade local, entendendo sua história e costumes; analisar se há equipamentos e atividades que podem ser oferecidos de imediato e a longo prazo; verificar como esses equipamentos podem ser distribuídos pelo território, observando o contexto socioespacial; equipe capacitada e, por fim, tomada de decisões em conjunto com a população. É certo, segundo estudos, que o lazer está relacionado diretamente com o processo de urbanização, sofrendo influências dos grandes centros urbanos e suas necessidades de crescimento. Com isso, notamos que cada vez mais, com o inchaço das cidades, as populações periféricas e mais pobres são isoladas dos espaços e infraestruturas de lazer, não

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havendo em seus locais de residência condições de acesso ao lazer e tampouco transportes para se deslocar até esses polos. Segundo Marcelino (2008, p.134): Democratizar o lazer implica democratizar o espaço [...] deve-se considerar que, para a efetivação das características de lazer é necessário, antes de tudo, que ao tempo disponível corresponda ao espaço disponível. E se a questão for colocada relativamente à vida diária da maioria da população, não há como fugir do fato: o espaço para o lazer é o espaço urbano. Destaca-se que tal fato é consequência das políticas públicas brasileiras, que vislumbravam os espaços urbanos como desenvolvimentistas e mais avançados em relação aos demais, como os espaços rurais, provocando uma grande discrepância social em diversos setores, como educação, saúde, lazer e turismo. Porém, deve-se levar em conta que o lazer faz parte de todas as sociedades, sejam elas urbanas ou rurais, mas o que ocorre na realidade é a falta de equipamentos recreativos e culturais comunitários em que a população possa se encontrar e entreter-se, sendo a única alternativa o deslocamento para as cidades, principalmente dos mais jovens, que querem estar em convívio com seus grupos sociais, ocasionando problemas mais sérios, como o êxodo rural, pela falta de opção existente no campo. A concepção de lazer para as comunidades rurais e para as comunidades urbanas podem ser distintas em determinados pontos. Grunennvaldt et al. explanam que os moradores rurais obtêm prazer com as próprias atividades vinculadas à terra, podendo se relacionar tanto com o trabalho quanto com o lazer, além de possuírem um olhar diferente para os recursos naturais, aproveitando a beleza natural e seu entorno, como observar o entardecer, pescar, colher frutas da estação, observar o céu, andar a cavalo e nadar no rio, atividades que fazem parte do seu cotidiano e que, ao mesmo tempo, os satisfazem. Contudo, mesmo sendo essas características pertencentes à cultura do povo rural, não se deve deixar de investir nesses espaços pelo simples fato de possuírem recursos naturais ou cultura diferente, pois a comunidade local possui necessidades comuns aos urbanos, até mesmo porque sofrem influência de uma sociedade globalizada. As novas gerações rurais querem usufruir de alternativas de lazer, como frequentar teatros, cinemas, bares, shows, discotecas, atividades culturais, esportivas e tecnológicas. Isso faz parte do processo de aculturação a partir da

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convivência entre povos diferentes, adotando novos costumes em seu dia a dia sem perder seus hábitos originários. Portanto, essas populações também possuem direito a esse tipo de lazer. Devemos compreender que o planejamento do lazer nos espaços rurais deve olhar os sujeitos e o grupo ao qual pertence, considerando as diferenças, identificando o que esse espaço necessita e valorizando suas especificidades para, assim, adequá-lo a sua realidade, pois os equipamentos e atividades urbanas não são suficientes para suprir as demandas dessas comunidades, subordinando o homem campesino ao meio urbano e interferindo no processo de fixação do homem na terra, pois, com a falta de oportunidades, estabilidade e impulsionado pela baixa qualidade de vida, as famílias rurais mudam-se para as cidades em busca de melhores condições. Assim, a alternativa para os gestores em relação ao lazer para as populações rurais seria a construção de propostas inovadoras a partir do olhar e da participação dos povos do campo. Portanto, para reverter essa situação, as políticas públicas devem deixar de ser ilusórias e compensatórias, mas sim de direito e colocadas em prática. 2.3 Lazer e comunidades rurais do Município de Rosana Adentraremos, a partir de então, no lazer em assentamentos rurais, que são o objeto de estudo da presente pesquisa. Para compreendemos melhor, os assentamentos podem ser caracterizados como territórios conquistados a partir da resistência de movimentos sociais, que lutam por um espaço igualitário e democrático, em que todos possam produzir e ter qualidade de vida, a partir do ideal pela reforma agrária, a qual não se limita à conquista de um pedaço de terra, plantar e morar, mas sim criar condições para que o homem campesino possa trabalhar, produzir e comercializar, além das necessidades básicas, como acesso à saúde, educação e cultura, desenvolvendo suas habilidades culturais e artísticas e resgatando sua cidadania, resistindo ao grande latifúndio improdutivo e às influências urbanas. Entretanto, mesmo possuindo essa perspectiva voltada ao lazer, os espaços para o seu desenvolvimento ainda são escassos, sendo necessária a criação de ambientes que propiciem que crianças, jovens, adultos, mulheres e idosos possam desenvolver atividades lúdicas, contribuindo com seu desenvolvimento pessoal e autoestima, a partir de novas possibilidades. Todavia, o lazer acaba sendo tratado de forma secundária, devido às prioridades existentes, que são consideradas emergenciais, não

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havendo políticas públicas específicas para as áreas rurais. Porém, mesmo havendo outras demandas, é importante que a comunidade local exija do poder público medidas que lhes ofereçam bem-estar e qualidade de vida. No entanto, muitas dessas pessoas não reivindicam tais direitos, por ainda não serem considerados uma necessidade humana, não vislumbrando sua importância, ou até mesmo por vergonha de exigir lazer e ser malvisto. O lazer nos assentamentos rurais, de acordo com Andrade (2006), pode ser observado como uma ferramenta que permite o convívio social e uma maior interação entre as famílias assentadas, contribuindo com a valorização do campo como alternativa e contraposição às cidades. O autor coloca que, mesmo havendo esses conceitos enraizados nos movimentos sociais, como o MST, ainda não existe uma política nacional que discuta o lazer e suas formas, não havendo materiais que discutam as medidas de organização das atividades de lazer em assentamentos e acampamentos de reforma agrária. Concretamente, há algumas medidas locais descentralizadas de acordo com cada região e forma de organização de cada assentamento, contudo as ineficazes políticas para o desenvolvimento socioeconômico do campo acabam impondo uma lógica de deterioração estrutural do espaço rural, resultando em diversas restrições à vida dos trabalhadores campesinos, dentre elas o lazer. Portanto, compreende-se que o lazer deve ser considerado como um aspecto para o desenvolvimento dos territórios rurais brasileiros. Nesse contexto, abordaremos o caso específico do município de Rosana, localizado no Pontal do Paranapanema, região marcada por conflitos fundiários e pela presença de grandes assentamentos rurais. Para tanto, foi realizado um estudo em relação às formas de lazer adotadas por essas comunidades e alternativas para implantação de atividades e equipamentos de lazer nesses espaços, visualizando as necessidades e condições dessas populações e como o lazer pode contribuir para melhor condição de vida. A presente pesquisa foi aplicada em três assentamentos rurais, sendo eles: Gleba XV de Novembro, Nova Pontal e Porto Maria, assim será abordado um breve histórico, a fim de contextualizálos. O Município de Rosana- SP, em virtude do processo de reforma agrária, possui quatro assentamentos rurais: Gleba XV de Novembro, Nova Pontal, Bonanza e Porto Maria, sendo uma das principais áreas no Estado de São Paulo em termos de criação e produção agropecuária, sendo considerada autossuficiente (LEITE, 1998).

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O assentamento Gleba XV de Novembro surgiu em 1984, sendo o primeiro assentamento criado no Estado de São Paulo, após o período de Governo Militar e o mais antigo do Município de Rosana e do Estado de São Paulo. Encontra-se localizado entre os municípios de Euclides da Cunha Paulista e Rosana, sendo composto por 5 setores e 571 lotes, beneficiando diversas famílias e possuindo uma faixa territorial extensa, com aproximadamente 2 mil moradores. (IOKOI et al., 2005) O assentamento Nova Pontal fica localizado a 13 km de Primavera, distrito de Rosana. Foi implantado em 1998 e possui 122 lotes, conta com um grupo de mulheres organizadas em uma associação ativa em busca do desenvolvimento do turismo rural, podendo ser considerado, dentre os assentamentos do município, o mais avançado em relação às atividades de visitação. Por fim, temos o assentamento Porto Maria, que foi criado em 2009, possuindo em seu recorte territorial 41 lotes e algumas características específicas, como a antiga sede da Fazenda Porto Maria (casa principal/sede, um barracão e cinco casas da antiga colônia de funcionários da fazenda), desativada no momento da desapropriação e implantação do assentamento. Ressalta-se que são desenvolvidos nesses assentamentos, principalmente no Nova Pontal e Porto Maria, projetos de pesquisa em parceria com a UNESP, no intuito de elaborar estudos, identificando seu potencial e elaborando estratégias para implantação da atividade de turismo rural, atraindo o visitante para usufruir e participar da rotina do assentado, do modo de vida e dos recursos naturais presentes no campo. No entanto, não há parcerias com a Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura, que vise estudar as condições de lazer dessas populações e suas necessidades, não havendo opções quando nos referimos ao lazer das comunidades rurais em seus territórios. Para tanto, o próximo tópico trará uma identificação dos equipamentos e atividades existentes, no intuito de verificar o que pode ser projetado para o bem-estar dessas comunidades. 3. ANÁLISE DE DADOS

Infraestruturas e atividades de lazer Academia ao ar livre AAL Bares e restaurantes Biblioteca Espaços esportivos Espaços para apresentação de teatro e sessão de filmes Espaços para eventos Festas típicas

Igrejas Jardins Museus Oficinas recreativas (Ex: pintura, violão, leitura, esportivas) Parquinhos Potencial natural

Nova Pontal Uma Dois bares Campo de futebol -

Pequeno barracão Aniversário do assentamento (Costela de fogo no chão) Uma católica e quatro evangélicas -

Parque infantil da escola Áreas verdes, rio e animais Praças Quadro 1 – Assentamento Nova Pontal Fonte: Os autores (2017) Infraestruturas e atividades de lazer Academia ao ar livre AAL Bares e restaurantes Biblioteca Espaços esportivos

Espaços para apresentação de teatro e sessão de filmes Espaços para eventos Festas típicas

Para a análise dos dados, foram elaborados três quadros com uma coluna para a lista de infraestruturas e atividades existentes nos assentamentos e, ao lado, colunas destinadas a cada assentamento, fazendo-se uma breve descrição dos itens que foram contemplados. Seguem abaixo quadros para análise: Igrejas Jardins

Porto Maria Restaurante rural e dois bares Um campo em más condições de uso, não é utilizado pela população -

Barracão Cavalgada da independência, Aniversário do Assentamento, Festa julina, Festa das mães, Festa dos pais Uma católica -

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Museus Oficinas recreativas (ex: pintura, violão, leitura, esportivas) Parquinhos Potencial natural Praças

Está sendo projetado em parceria com a UNESP -

Parquinho de madeira Áreas verdes, rio e animais -

Quadro 2 – Assentamento Porto Maria Fonte: Os autores (2017)

Infraestruturas e atividades de lazer Academia ao ar livre AAL Bares e restaurantes Biblioteca Espaços esportivos

Espaços para apresentação de teatro e sessão de filmes Espaços para eventos

Festas típicas

Igrejas Jardins Museus Oficinas recreativas (ex: pintura, violão, leitura, esportivas) Parquinhos Potencial natural

Gleba XV Uma no setor 2 e uma no setor 3. Possui em média de 3 bares por setor Três campos de futebol e uma quadra na escola do setor III -

Possui o barracão para eventos, mas está em más condições. Não sendo utilizado pela população Cavalgadas, Aniversário do assentamento 13 evangélicas e 6 católicas -

Áreas verdes, rio e animais Praças Quadro 3 – Assentamento Gleba XV Fonte: Os autores (2017) Como apresentado nos quadros, pode-se observar que, referente à academia ao ar livre, o assentamento Porto Maria não possui nenhuma infraestrutura, o Nova Pontal possui uma, e a Gleba XV possui uma no setor dois e outra no setor três,

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devido a sua extensão. Vale salientar que esse tipo de aparelho é importante, pois contribui com a saúde e qualidade de vida da comunidade local, uma vez que estimula a prática de exercício, propiciando benefícios físicos e psicológicos através do esporte. Uma sugestão atrelada a essa atividade seria desenvolver algumas oficinas esportivas, havendo parceria entre a divisão de esporte da Prefeitura Municipal, visto que todos os assentamentos possuem a mesma realidade, a falta de atividades físicas e escassez de projetos esportivos. Esse fato pode ser observado também no item relacionado aos espaços esportivos presentes no assentamento, os quais ficam restritos unicamente ao campo de futebol. Ressalta-se que o campo do assentamento Porto Maria se encontra alagado devido à chuva e lama, não sendo utilizado pela comunidade local. A realidade do assentamento Nova Pontal e Gleba XV são comuns, pois mesmo havendo campos de futebol, eles são utilizados majoritariamente por homens, não havendo práticas esportivas destinadas às mulheres, seja futebol ou outras modalidades. Outra solução seria a criação de quadras poliesportivas, incentivando, assim, a prática de outros esportes, como basquete, vôlei, handball, dentro outros. Nesse contexto, Marcelino (2008) explana que uma das barreiras às atividades de lazer é a questão do gênero, pois as mulheres são desfavorecidas comparativamente aos homens, pois são associadas à rotina de trabalho doméstico e ao dever de cuidar da família, não respeitando seu tempo de lazer, pois a sociedade ainda é extremamente machista, devendo haver políticas públicas que quebrem essa concepção, dando visibilidade às mulheres urbanas e rurais, que estão ainda mais sujeitas ao modelo tradicional familiar. Outro item elencado no quadro foi a presença de bares e restaurantes. Esse aspecto é fundamental, pois, assim como os cidadãos urbanos, as pessoas que vivem em áreas rurais também sentem vontade de ir passear em restaurantes, para comer uma comida diferente, e em bares, para encontrar com amigos, verem um show ao vivo e conversar. Segundo a análise de dados, podemos observar que apenas o assentamento Porto Maria possui um restaurante, que abre aos finais de semana e é gerenciado por um grupo de mulheres assentadas, destacando-se por ser tipicamente rural, fortalecendo a identidade do homem do campo, sendo frequentado por moradores e turistas. Entretanto, esse é o único espaço comunitário, os outros estabelecimentos dos três assentamentos são botecos, ou seja, a grande maioria dos indivíduos quando querem se divertir e ir a um lugar que não faça parte do seu cotidiano se deslocam até a cidade. Segundo Andrade (2006), com a falta de opção “o lazer acaba se reduzindo a ir tomar

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uma cachaça no bar, assistir novela ou jogar futebol”, pois não faz parte da realidade do assentado o contato com o lazer. Assim, muitas vezes, ele desconhece o que pode ser caracterizado como tal. Uma das consequências é o surgimento de bares que não possuem boa visibilidade perante a comunidade. Uma das soluções para esses espaços, que acabam sendo marginalizados, seria transformar o ambiente de acordo com seu entorno, estabelecendo um padrão estético que não destoe das características rurais, reaproximando-se da realidade dos assentados, além de poder trazer manifestações culturais, tornando aquele ambiente anteriormente isolado em um ponto de encontro. No que se refere a espaço para eventos, o assentamento Nova Pontal e Porto Maria possuem um pequeno barracão, onde são realizadas as festas e demais encontros. O assentamento Gleba XV de Novembro possui um barracão, entretanto não está habilitado para uso, pois está em péssimas condições, tendo o alvará barrado pelo corpo de bombeiro. Destaca-se que os locais para eventos são importantes, pois a comunidade local pode organizar as festas típicas, reuniões e eventuais eventos, valorizando, assim, seus costumes e tradições. Nesse caso, é necessário que o órgão público responsável forneça assessoria ao assentamento Gleba VX, pois é necessário realizar reformas para que seja retomado esse ponto de encontro comunitário. Um ponto positivo em relação aos assentamentos foi que a comunidade local ainda mantém a tradição de determinadas festas típicas. Em todos os casos há a presença de festas que remetem a características próprias do assentamento. O assentamento que mais se destacou nesse aspecto foi o Porto Maria, organizando cinco festas ao ano, enquanto os demais organizam duas. Vale frisar que é importante a coletividade da comunidade assentada para a organização de festas típicas, visando valorizar a cultura camponesa. Uma opção seria a criação de festivais que remetam ao modo tradicional do pequeno produtor que sobrevive da agricultura familiar, valorizando esse estilo de vida, trazendo manifestações artísticas e culturais, como apresentações musicais, exposição de artesanatos e produtos advindos da terra, além de ser uma opção de renda extra para as famílias assentadas. Um local que tradicionalmente pode ser considerado um ponto de encontro são as igrejas, nas quais, desde os primórdios, os indivíduos se reúnem. Dessa forma, esse item entra na categoria de lazer, por ser uma forma de reunir a comunidade. De acordo com os dados coletados, todos os assentamentos possuem igrejas, sendo a religião predominante a evangélica, seguida da católica. Vale destacar que as igrejas,

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especificamente a católica, possuíam o hábito de organizar festas, aproximando, assim, a comunidade local a partir de comidas típicas e tradições religiosas, porém esse costume não faz mais parte da realidade campesina, talvez até pelo fato de a igreja evangélica ter crescido nesses últimos anos. Em relação ao item referente ao museu, nenhum dos assentamentos possui a infraestrutura, porém há um projeto da UNESP que está sendo desenvolvido para realizar o museu do assentado no assentamento Porto Maria. Tal ação é de extrema relevância, pois, além de valorizar a cultura assentada a partir da exposição de objetos e da própria história abordada, é uma alternativa cultural para que a comunidade local frequente e aprenda, podendo também, nesse espaço, realizar discussões acerca de temáticas relacionadas à realidade camponesa, tornando aquele espaço um ambiente de estudo lúdico. Essa prática poderia ser adotada nos demais assentamentos, pois é uma medida socioeducativa que engloba o lazer. Outra categoria abordada foram os parques infantis, havendo somente no assentamento Nova Pontal e Porto Maria. Esses espaços são importantes, pois, muitas vezes, as crianças são esquecidas, pelo simples fato de conseguirem se divertir de forma simples, não precisando necessariamente de um equipamento, apenas de espaço. Os parquinhos garantem que as crianças vivenciem o lúdico, sendo necessário em todos os assentamentos, devendo estar de acordo com o ambiente e instalado de forma segura. Outra opção seria a presença de recreadores, pelo menos uma vez na semana, desenvolvendo atividades que motivem as crianças, principalmente por estarmos em uma era em que a tecnologia restringe as formas de lazer infantil. Por fim, destacamos os itens que não existem no assentamento, como biblioteca, que provoca diversas problemáticas, como a falta de acesso a livros, desestimulando os jovens a estudarem e buscarem pelo conhecimento. Assim, o ideal seria possuir, pelo menos, uma biblioteca por assentamento, com um acervo diverso e com livros que relatam a história dos movimentos sociais e a realidade campesina, contando também com espaços coletivos para leitura. Em relação aos espaços para teatro e sessões de filme, seria uma medida simples, podendo ser alocado até mesmo em um espaço já existente e que possa ser transformado. Essa ação seria enriquecedora, pois muitos moradores nunca frequentaram teatro, tampouco cinema, sendo uma forma de incluí-los nessa realidade, podendo realizar parcerias com entidades para trazer peças gratuitas. Em relação às oficinas, não há parcerias entre o poder público e demais entidades para diversificar as

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opções de entretenimento das populações rurais. Algumas oficinas que poderiam ser levadas a esses espaços seriam de artesanato, violão, viola, dança, produção de hortas, dentre outras tantas possibilidades, porém não há um olhar e uma preocupação com a saúde psicológica dessas populações, provocada pela falta de lazer. O último item a ser analisado foi a presença de praças e jardins, que mesmo sendo concepções urbanas, podem ser instalados de acordo com a realidade rural, sendo um elemento importante, pois serve como ponto de encontro da comunidade, de diversas faixas etárias, além de embelezar e dar vida a esses espaços. Portanto, podemos destacar, basicamente, que as atividades de lazer e recreação das comunidades rurais se restringem aos aspectos naturais, como destacado anteriormente. Porém, mesmo sendo um elemento que traz bem-estar, o lazer não deve ser restrito dessa forma, mesmo porque existem pessoas de diversos perfis e faixa etárias que devem ter opções diversificadas de lazer, exercendo seu direito à cidadania, dentro do seu próprio território.

4. CONCLUSÃO De acordo com o que foi abordado no decorrer da pesquisa, podemos observar que as realidades dos três assentamentos são semelhantes, pois não há atividades e espaços unicamente destinados a lazer, não faz parte do dia a dia da comunidade local a prática de atividades com esse objetivo. Assim, encontramos diversas problemáticas, como o deslocamento da população camponesa para as cidades e, consequentemente, o êxodo rural, visto que os centros urbanos são vistos como um leque de oportunidades, relacionado tanto ao trabalho quanto ao lazer. Além desses aspectos, temos os moradores que não possuem a facilidade de deslocamento, pois não têm um automóvel particular, provocando o isolamento das famílias que não têm como se locomover até as cidades, devido à inexistência de transporte público municipal, não possuindo o mínimo de contato com atividades de lazer. Destaca-se que essas condições vão criando algumas doenças, como depressão, devido ao isolamento social, pois não possuem tempo nem local para se comunicarem com outros indivíduos. Outra realidade comum é o isolamento feminino quando nos referimos ao lazer nos assentamentos rurais, pois, nos três casos, os pontos que mais se destacaram como lazer foram os campos de futebol e os bares, espaços que as mulheres acabam não frequentando. Assim, uma solução interessante seria a criação de um espaço para as mulheres

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frequentarem, com atividades que lhes permitam ter o convívio social, como espaços esportivos, oficinas e ambientes artístico-culturais que as possibilitem criar e se desenvolver a partir de aspectos lúdicos. Uma das alternativas apontadas pelo morador do assentamento Gleba XV de Novembro é a criação dos chamados “Cecas”, que se referem a um projeto criado pelo setor da cultura do MST, cujo principal objetivo é organizar eventos esportivos e culturais para os assentados, criando programas relacionando ao lazer dentro do movimento, principalmente como uma maneira de fixar a juventude no assentamento, garantindo a luta pelos seus ideais, para que esses jovens se identifiquem como juventude sem-terra, valorizando sua identidade e seu espaço. Portanto, é essencial iniciativas do poder público municipal, com projetos eficazes que visem promover acesso ao lazer para essas comunidades, pois, atualmente, são inexistentes projetos com esse fim na Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura do Município de Rosana. A prioridades dos gestores é investir nas cidades, pois gera mais visibilidade. As poucas iniciativas que existem para os assentamentos rurais são realizadas de maneira pontual e com caráter assistencialista. Nesse sentido, é necessário um diálogo entre as esferas responsáveis pelo lazer e influentes no município, realizando uma parceria entre UNESP e Prefeitura, no intuito de concretizar projetos, melhorando a qualidade de vida dessa comunidade, tornando aquele espaço um local onde as pessoas sintam prazer de estar e viver ali. REFERÊNCIAS ANDRADE, J. Implementação de uma política de lazer para a cooperativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST): Relato de pesquisa-ação. In: PADILHA, V. Dialéticas do Lazer. São Paulo: Cortez, 2006. GRUNENNVALDT et. al. O lazer no meio rural do município de Sinop: um lugar de produção de sentidos e significados. Disponível em: <www.uel.br/.../Ana_e_ Jose_e_Mauver_e_Barbara.PDF>.> Acesso em: set. 2017. IOKOI, Z. et al. Vozes da terra: histórias de vida dos assentados rurais em São Paulo. São Paulo: Fundação Itesp, 2005. LEITE, José Ferrari. A ocupação do Pontal do Paranapanema. São Paulo: Hucitec, 1998.

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MARCELINO, N. N.; BARBOSA, F. S.; MARIANO, S. H. Espaços e equipamentos de lazer: Apontamento para uma política pública. In: MARCELINO, N. C. Políticas Públicas de Lazer. Campinas, SP: Alínea, 2008. SANTOS, L. M.; PINTO, L. M. S. M. Políticas Públicas de lazer no Brasil: Uma história a contar. In: MARCELINO, N. C. Políticas Públicas de Lazer. Campinas, SP: Alínea, 2008.

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TURISMO DE REALIDADE: A TURISTIFICAÇÃO DA FAVELA DA ROCINHA COM FOCO NA COMUNIDADE RECEPTORA ROSSI, Lara Testoni ¹ MORAES, Ewerton Henrique de² Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana lararossi173@gmail.com, ewertonmoraes@rosana.unesp.br ¹ Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ² Bacharel em Turismo e Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo.

RESUMO - O presente trabalho visa estudar as favelas e as circunstâncias em que o turismo ocorre nesses aglomerados urbanos, possuindo como referente empírico a favela da Rocinha, classificada atualmente como a segunda maior favela da América Latina, com 69.161 moradores. Essa favela foi promovida à condição de ponto turístico oficial da cidade, justificada pela lei 4405/06, a qual visa aumentar a integração social entre a cidade do Rio de Janeiro e a comunidade, além de promover o rompimento da estereotipação da Rocinha, tachada como um lugar violento e perigoso, bem como chamar a atenção de políticas públicas e privadas para que as mesmas ajam sobre esses seres sobreviventes nesses aglomerados. Palavras-chave: Favela; Turismo; Rocinha; Lei; Rio de Janeiro.

1. INTRODUÇÃO Considerando o período globalizado, é pertinente expor a ideia de que a indústria do turismo é responsável pela criação de modos de transformar, circular e disseminar localidades, criando uma espécie de cultura material. O turismo precisa, portanto, ser entendido como uma técnica social, com a capacidade de projetar formas de sociabilidade capazes de produzir efeitos ainda desconhecidos por nós. Esse trabalho toma como estudo a comercialização de um problema social brasileiro, os fatores que envolvem essa realidade e o que foi proposto por lei aos moradores, pela prefeitura municipal do Rio de Janeiro, ao determinar a favela da Rocinha como um destino turístico “obrigatório” do Rio de Janeiro. 1.1 Metodologia A metodologia desse trabalho é inteiramente bibliográfica. Essa opção se justifica viável, pois o método escolhido permite que vários pontos de vista possam ser analisados e comparados. Foram utilizados termos como “Políticas Públicas” e “Favela”,

“Legislação na favela”, ‘Turismo nas Favelas” “Comunidade Receptora Favela Turismo” para o levantamento de referenciais bibliográficos no google acadêmico. Bastante material foi selecionado, mas foi por meio da disponibilidade de artigos detalhados, como, por exemplo, o “Gringo na Laje”, produzido por Bianca Freire Medeiros, o qual aborda questões amplas sobre a favela e as circunstâncias em que o turismo ocorre, retratando o olhar do morador acerca das condições que fazem todo esse contexto existir, que se teve a base inicial para a execução deste trabalho. A partir do “Gringo na Laje”, olhares mais profundos foram gerados, fazendo-se essencial nessa produção. Sites como www.exotictours.com.br e www.favelatour.com.br asseguram o quanto o turismo de favela é executado estritamente ao público estrangeiro. O documentário “Tem Gringo no Morro” serviu como um visualizador de vivência real de como acontece o turismo estrangeiro na Rocinha, do olhar do turista e dos motivos pelos quais esse interesse é despertado neles. O documentário dirigido por Bruno Graziano e Marjorie Niele, além de transparecer essa visão do turista, mostra, com simplicidade, a inocência

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que envolve os moradores, a escassez de recursos bem como a ausência de políticas públicas. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU DISCUSSÕES A origem do termo favela se encontra no sertão brasileiro no período de passagem do século XIX para o século XX, que nada mais era do que a denominação de uma espécie de planta encontrada na região. Porém, estabelece-se como termo significante de uma realidade social um pouco depois com a ocupação do morro da providência no Rio de Janeiro. O turismo de realidade, mais conhecido como reality tour, passa a ser reconhecido como tendência no mercado do turismo em 2006, quando foi incluído no relatório de tendências globais, durante o WTM, World Travel Market. Esse tipo de turismo é também conhecido como turismo sombrio, tradução para o termo “dark tour”. O tour de realidade, em sua essência, nada mais é do que a atração e exploração de uma realidade cruel. Trata-se da visitação a lugares que sofreram algum tipo de tragédia, ou mesmo localidades onde se encontra um alto grau de miséria e sofrimento. Freire-Medeiros (2009) afirma que o reality tour se origina não só pela curiosidade e pelo fascínio de estar em contato com o autêntico, sendo também uma forma de diferenciação. Para a autora, devido ao fato de que o turismo vem se tornando uma prática cada vez mais acessível a grupos de menor poder aquisitivo, a indústria turística procura criar novos bens, ou seja, novos destinos, a fim de reestabelecer uma distância social que vem se perdendo com a popularização e o barateamento das viagens turísticas. “A fixação na autenticidade ganha novo impulso nas sociedades ocidentais contemporâneas” (FREIRE-MEDEIROS, 2009, p. 44.). A escolha de pesquisar sobre o Turismo na favela e as influências dessa comercialização sobre a comunidade receptora surgiu primeiramente a partir do interesse em aprofundar o conhecimento e a pesquisa pessoal pela área de ciências sociais, que foi influenciado pelo documentário citado anteriormente. Segundo dados da Revista de Antropologia Urbana “Os Urbanistas”, atualmente sete agências de viagens com registro na Riotour atuam nas comunidades periféricas, atendendo, em média, 3.500 turistas por mês. Isso tudo se originou na década de noventa, na ECO 92. Medeiros cita em seu trabalho “Gringo na Laje” a manifestação do dono de uma das maiores dessas agências atuantes na Rocinha, a Jeep Tour, na qual ele recorda o processo, apontando para a espontaneidade da iniciativa:

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[...] a gente estava fazendo o passeio pela floresta [da Tijuca] e, na volta, a gente estava passando por São Conrado, onde os turistas tiveram a curiosidade de ver a favela. Na época estava tendo aquela coisa de segurança, carro blindado para todo lado, e os turistas filmaram, fotografaram. A gente entrou na favela, e surgiu todo o contraste entre o jipe com os turistas e os canhões apontando para as favelas. Aí foi legal, as agências compraram a coisa, e a coisa foi tomando forma. Então assim foi como surgiu o passeio na favela, da curiosidade de um grupo... As pessoas foram comprando a ideia, a ideia foi crescendo, foi aumentando, foi tomando forma. A coisa foi crescendo por si só, não foi nada programado, simplesmente foi surgindo de forma gradativa ao longo dos anos [...]. Logo após 4 anos, em setembro de 2006, um projeto de lei foi proposto pela vereadora Lilian Sá, no qual a Rocinha foi elevada à condição de ponto turístico oficial da cidade. A lei 4405/06, teoricamente, justifica-se por si só: vai aumentar a integração social entre a cidade e a comunidade, já que vai ajudar a desmistificar a visão de que a Rocinha é um lugar exclusivamente de violência, e assim possibilitar maiores investimentos tanto do setor público quanto privado (LILIAN SÁ apud FREIRE-MEDEIROS, 2009). Até o presente momento, tem-se como entendimento que o problema social existente no Brasil é ignorado pelos brasileiros, porém atrai pessoas de outras realidades, que nunca viram de perto seres vivendo em determinadas condições as quais eles podem observar nesses aglomerados brasileiros. Até hoje, o turismo na Rocinha beneficia economicamente um segmento muito específico e minoritário, não promove uma distribuição efetiva de lucros e as agências de turismo raramente estabelecem qualquer diálogo com as instituições representativas da localidade (DWEK, 2004; CARTER, 2005). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Há mais de uma década o turismo é propagado nas favelas por agências terceirizadas, as quais lucram, em média, R$ 35,00 por turista a hora de tour, o que leva, ao todo, mais ou menos 4 horas, sem que esse dinheiro seja revertido para a comunidade receptora, a qual nem necessariamente sabe que seu lugar de vivência gera lucro a esses terceiros envolvidos. A lei

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aprovada pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro visava integrar a comunidade com a cidade bem como desmistificar toda a ideia de criminalidade e violência, o que não ocorreu, considerando que o público que consome esse turismo é inteiramente estrangeiro e nenhuma política pública ou investimento privado foi direcionado de maneira eficaz a essa comunidade. Conclusivamente, o fato é que a Rocinha turística é um negócio rentável para as agências de turismo envolvidas, um destino cobiçado pelos estrangeiros e uma realidade cotidiana para seus moradores. REFERÊNCIAS CARTER, J. An outsider’s view of Rocinha and its people. M.A. Dissertation. University of Texas, Austin, 2005. DWEK, D. Favela tourism: Innocent fascination or inevitable exploitation? M. A. Dissertation, University of Leeds, 2004. FREIRE-MEDEIROS, Bianca. Entre tapas e beijos: a favela turística na perspectiva de seus moradores. Soc. estado., Brasília, v. 25, n. 1, p. 33-51, abr. 2010. ______. Gringo na Laje: produção, circulação e consumo da favela. Rio de Janeiro: FGV, 2009. (Coleção FGV de bolso. Série Turismo)

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RESUMOS CIENTÍFICOS TURISMO, MARKETING E SERVIÇOS

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Anais da IX da Semana de Turismo, VI Mostra Cientifica, UNESP, Rosana - SP, 18-20 de outubro de 2017. v.1.

A UTILIZAÇÃO DAS MÍDIAS SOCIAIS NOS HOTÉIS DE PEQUENO PORTE DE ROSANA - SP

NASCIMENTO FIILHO, Francisco Barbosa do LIMA, Gabriela Butzer Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana francisco@rosana.unesp.br, gabrielabutzer@hotmail.com. 1

Projeto de pesquisa Doutorando em Turismo e Hotelaria, Mestre em Educação, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO - As mídias sociais vêm se mostrando uma grande ferramenta estratégica para a atividade turística. Dessa forma, um setor que está utilizando estrategicamente a internet são os meios de hospedagem, tanto operacional quanto para divulgação. O presente trabalho tem o intuito de pesquisar como o meio digital é utilizado nos meios de hospedagem de pequeno porte para sua divulgação. Partiuse do pressuposto de que a divulgação do empreendimento torna-se mais ágil quando utilizamos a internet. Este projeto, portanto, procura expor como os hotéis de pequeno porte se utilizam dessa ferramenta. A pesquisa será qualitativa, exploratória, descritiva com pesquisa de campo utilizando-se da técnica de questionário. Palavras-chave: Mídias sociais; Meios de hospedagem; Internet; Turismo.

1. INTRODUÇÃO Com a evolução da internet, foram surgindo muitos desafios e oportunidades apresentados na atividade turística. Com isso, a ideia é juntar a internet e o turismo. As mídias sociais estão presentes em todas as fases de uma viagem: da pesquisa à reserva, do registro das imagens ao compartilhamento de informações. A atividade turística, essencialmente uma atividade provedora de serviços, encontra na rede mundial de computadores uma nova área de atuação, na medida em que permite a efetuação de reservas, com o conseqüente consumo do produto turístico após o deslocamento do visitante ao destino. No caso de meios de hospedagem, a rápida incorporação da tecnologia permitiu não apenas a otimização do trabalho operacional, mas também a extensão de sua atuação no ambiente virtual proporcionado pela

internet, alcançando os mais longínquos territórios do planeta. (SOUZA, 2009, p. 9) Dessa forma, fica a dúvida de como o meio digital é utilizado nos meios de hospedagem de pequeno porte. Segundo Souza (2009), em um mercado de competitividade como esse, os administradores de meios de hospedagem devem definir suas estratégias competitivas e utilizar essa ferramenta tão importante que é a tecnologia. Assim, os meios de hospedagem precisam cada vez mais adotar métodos inovadores e aumentar sua competitividade. Os turistas já estão se tornando mais familiarizados com a nova tecnologia e exigindo produtos e serviços mais capacitados, de fácil manuseio, comunicativo e moderno. Em decorrência da importância das mídias sociais em conjunto com o Turismo e os meios de hospedagem e da falta de dados sistematizados, observou-se a possibilidade de realizar um trabalho e pesquisar sobre a utilização das mídias sociais nos meios de hospedagem, como também avaliar se esses empreendimentos fazem divulgação dos seus serviços

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seja no Facebook, Instagram, site oficial, Twitter ou Snapchat.

1.1 Metodologia Para execução deste projeto será realizada uma pesquisa webgráfica. Para identificação dos meios de hospedagem, será utilizada a pesquisa bibliográfica em material científico como livros, teses, artigos e dissertações para fundamentação teórica. Para execução da pesquisa de campo, será utilizada a pesquisa exploratória descritiva com abordagem qualitativa e aplicação de questionário aos gestores dos hotéis, para coletar as informações necessárias quanto à utilização de mídias sociais junto aos hotéis, pertencentes ao universo da pesquisa. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O turismo é uma atividade que pode ser considerada algo surpreendente para o turista, pois causa a sensação de desejos e emoções. No decorrer disso, Camargo (2001, p.39) descreve a atividade turística como algo “que se produz em nossa consciência por meio dos sentidos, envolvendo dados materiais, ou fenômenos internalizados, psicológicos, nos quais, por exemplo, se encontrariam as atitudes e as sensações antes, durante e após a viagem”. Os meios de hospedagem são um dos fatores mais importantes para a existência do turismo. Esse termo refere-se ao conjunto de empresas destinadas a prover acomodação em condições de segurança, higiene e satisfação às pessoas que buscam por esses serviços, seja por períodos curtos ou até em longas temporadas. Na atualidade, os meios de hospedagem são variados e atendem aos interesses de uma demanda a cada dia mais exigente e segmentada. Assim, há diversos tipos de meios de hospedagem que buscam atrair e satisfazer uma clientela variada (RIBEIRO, 2011). Segundo Quintanilha, as mídias sociais são espaços de relações entre os usuários. São considerados exemplos de mídias sociais: blogs, microblogs (Twitter), redes sociais (Facebook), fóruns, e-groups, instant messengers, wikis, sites de Compartilhamento de conteúdo multimídia (YouTube, Flickr, SlideShare, Vimeo). Nesses canais, as pessoas podem dialogar e compartilhar informação. O conteúdo de uma Mídia Social tende sempre ao infinito, uma vez que qualquer membro pode contribuir a qualquer momento. Este diálogo entre usuários constitui blocos colaborativos de opinião. As mídias sociais também contribuem para a satisfação do cliente na hotelaria, após a estadia, o

turista pode dar sua opinião sobre os estabelecimentos através da mídia. Conforme afirma Fiuza e Dalchiavon (2013), percebe-se que o número de empresas que prestam serviços turísticos que utilizam as redes sociais vem crescendo massivamente, essas também procuram “correr atrás do prejuízo.” Pode-se dizer que as investigações do nível de satisfação dos hóspedes referente à percepção de qualidade em serviços só trazem benefícios aos meios de hospedagem, pois possibilita ao empreendimento tanto potencializar os seus pontos fortes quanto trabalhar para melhorar os pontos fracos, encaminhando o hóspede a uma experiência de encantamento. Esses níveis de satisfação só são possíveis de serem contabilizados graças às mídias sociais que trabalham da melhor maneira com os meios de hospedagem. Deve-se destacar que, com o grande crescimento das mídias sociais no mercado da hotelaria, as empresas devem reavaliar seu posicionamento estratégico, levando em consideração a vantagem competitiva decorrente da utilização da Internet, porque o aumento da concorrência e a crescente fragmentação dos mercados exigem que se encontrem novas formas de se chegar ao consumidor (ABREU; COSTA, 2000). Por fim, é fundamental que os proprietários/gerentes dos meios de hospedagem estejam a par da evolução das mídias sociais para melhorar o funcionamento, a propaganda, a divulgação do seu meio de hospedagem e buscar o crescimento da receita do empreendimento, sendo de extrema importância ter esse contato mais rápido com o cliente e não correr o risco de entrar em declínio no futuro. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados e conclusões esperados desse estudo sobre “A utilização das mídias sociais nos hotéis de pequeno porte” serão apresentados em Banca de TCC da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP e publicados em periódicos científicos. Neste momento, são relacionadas as diversas ideias desenvolvidas ao longo do projeto, em um processo de síntese das leituras e buscas em geral, com os comentários dos autores e as contribuições trazidas pela elaboração do projeto vislumbrando o desenvolvimento da pesquisa. Ela pode indicar novos questionamentos no que tange às práticas das mídias sociais quanto aos meios de hospedagem a partir da conclusão deste projeto, e que poderão inspirar outras investigações.

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REFERÊNCIAS ABREU, N. R.; COSTA, E. B. Um estudo sobre a viabilidade da utilização de Marketing na Internet no Setor Hoteleiro de Maceió. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 24, 2000, Florianópolis, Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2000. CAMARGO, Luis Otávio de Lima. Sociologia do Lazer. In: ANSARAH, M. G. R. (Org.). Turismo: Como Aprender, Como Ensinar. 2. ed. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2001. RIBEIRO, Karla Cristina Campos. Meios de Hospedagem. Manaus: Centro de Educação Tecnológica do Amazonas, 2011. Disponível em: <http://200.17.32.215/bitstream/handle/123456789/646 /Meios_de_Hospedagem_pb_CAPA_Ficha_ISBN_201 20808.pdf?sequence=2&isAllowed=y>. Acesso em: 19 set. 2017. FIUZA, T. F.; DALCHIAVON, L. O Uso das Redes Sociais como Ferramenta Promocional em Agências de Viagem e Turismo: Um Estudo de Caso das Agências de Turismo na Cidade de Rio Grande - RS. 2013. 15 f. Tese (Doutorado) - Curso de Turismo, Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, 2013. QUINTANILHA, P. O que são mídias sociais? Disponível em: <https://pedroquintanilha.com.br/ midias-sociais/o-que-sao-midias-sociais/>. Acesso em: 19 set. 2017. SOUZA, C. F. de. Meios de hospedagem e a hospitalidade em ambiente virtual. 2009. 61 f. Monografia (Graduação em Turismo) - Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Turismo, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.

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MAPA DO MIT: IDENTIFICAÇÃO DO ANDAMENTO DOS PROJETOS DE LEI GONÇALVES, Ana Paula Marques¹ MORAES, Ewerton Henrique de² Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana apmarques577@gmail.com, ewertonmoraes@rosana.unesp.br ¹ Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ² Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo.

RESUMO - Em decorrência da criação da Lei Complementar n° 1261 de 29 de abril de 2015, tem-se a modificação nos critérios de seleção das estâncias turísticas e a criação de uma nova categoria: Município de Interesse Turístico (MIT) no Estado de São Paulo, colaborando para a candidatura dos municípios a se tornarem MIT. Contudo, não há vestígios dessas informações espaciais. Neste trabalho, temos por objetivo a realização da espacialização geográfica dos municípios candidatos. Palavras-chave: Lei Complementar n° 1261; Município de Interesse Turístico; São Paulo; Espacialização Geográfica.

1. INTRODUÇÃO A promulgação da Lei Complementar n°1262, de 29 de abril de 2015, cria uma nova categoria nas políticas públicas de turismo do Estado de São Paulo: Município de Interesse Turístico (MIT), que estabelece as condições e requisitos à dada candidatura (SÃO PAULO, 2015). Todavia, nota-se o frenético alvoroço por partes dos municípios para submeterem suas propostas à categoria de MIT, uma vez que a nomenclatura impactará de forma positiva no seu desenvolvimento turístico, bem como o recurso financeiro que será destinado àqueles que obtiverem aprovação de suas justificativas. Portanto, objetivamos realizar a espacialização geográfica desses candidatos, a fim de auxiliar na busca dessa informação, visto que esta é inexistente neste momento do turismo no Estado de São Paulo. 1.1 Metodologia A metodologia aqui utilizada é advinda de uma pesquisa de caráter exploratório no site da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, no qual pode-se realizar o levantamento de dados a respeito de quais foram os municípios candidatos.

A posteriori, obtivemos no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o código desses municípios, para que, assim, pudessem ser realizados os processamentos geográficos – elaboração de mapas – na ferramenta de geoprocessamento (ArcGis), obtendo, assim, a concretização do objetivo almejado. 2. FUNDAMENTAÇÃO RESULTADOS

TEÓRICA

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Medidas que auxiliem no desenvolvimento do turismo são criadas para que o setor não seja constituído de maneira desestruturada. Entretanto, fazse necessário seu planejamento. A esse respeito, Molina (2005, p.45) destaca que o planejamento do turismo é “um processo racional sistemático e flexível, cuja finalidade é garantir o acesso a uma situação determinada, à qual não se poderia chegar sem ele”. Portanto, esse planejamento seria a ação de se traçar um caminho pré-determinado, para que de fato os objetivos almejados sejam alcançados. A classificação como município de interesse turístico é parte das políticas públicas de turismo do Estado de São Paulo. Nesse aspecto, até o presente momento, os municípios de Agudos, Barretos, Guararema, Iacanga, Sales, Santo Antônio da Alegria,

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Brodowski, Buritama, Espírito Santo do Pinhal, Jundiaí, Martinópolis, Monte Alto, Pedreira, Piedade, Rifaina, Rubinéia, Sabino, Santa Isabel, Tapiraí e Tatuí foram os primeiros a obterem aprovação como MIT.

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informação de que dois dos municípios candidatos são estâncias turísticas. REFERÊNCIAS INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário Estatístico do Brasil. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/i ndex.php/bibliotecaatalogo?view=detalhes&id=720>. Acesso em: 13 set. 2017. MOLINA, S. Turismo: metodologia e planejamento. Bauru – SP: EDUSC, 2005.

Figura 1 – MIT: Projetos de Lei em Andamento Fonte: Os autores (2017).

SÃO PAULO (Estado). Lei Complementar n°1261, de 29 de abril de 2015. Estabelece condições e requisitos de Estâncias e de Municípios de Interesse Turístico e dá providências correlatas. São Paulo, SP. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/reposi torio/legislacao/lei.compementar/2015/lei.complement ar-1261 29.04.2015.html>. Acesso em: 13 set. 2017.

Figura 2 – Projetos de Lei Aprovados Fonte: Os autores (2017). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A divisão territorial do Estado de São Paulo possui a totalidade de 653 municípios. Com a realização do mapeamento do MIT, teve-se o resultado de que o total de 349 se candidatou à categoria de Município de Interesse Turístico, possibilitando-nos, assim, analisar que um pouco mais de cinquenta por cento do Estado busca pela aprovação de MIT. E consequentemente, podendo ter no turismo seu desenvolvimento econômico, político ou social. Contudo, com as poucas informações referentes a essa política a realização da pesquisa nos permitiu ainda a ;

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COMPREENDER AS MUDANÇAS NA IDENTIDADE MÍSTICA ESOTÉRICA EM SÃO THOMÉ DAS LETRAS CAUSADAS PELA MASSIFICAÇÃO DO TURISMO¹ BORDONAL, Sarah Delamagna² SOUZA, Guilherme Henrique Barros de³ Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana sarahdelamagna@hotmail.com, guilhermebarros@rosana.unesp.br 1

Pesquisa de trabalho de conclusão de curso. Professor doutor, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO- Referência no turismo místico e esotérico no Brasil, São Thomé das Letras está localizada no sul de Minas Gerais e é procurada por aqueles que buscam pela cura espiritual através de meios alternativos nos quais o contato com o eu interior é intensificado e mais aflorado. O desenvolvimento da cidade se deu a partir da consolidação desse segmento turístico. Sendo assim, o presente trabalho busca analisar os impactos da massificação na identidade mística esotérica da cidade São Thomé das Letras, por meio de estudos bibliográficos, pesquisa documental e pesquisas in loco de cunho qualitativo e quantitativo. Palavras-chave: Turismo místico esotérico; São Thomé das Letras.

1. INTRODUÇÃO Segundo Carvalho (2006), o turismo é uma atividade responsável pelo desenvolvimento econômico e social. Porém, esses aspectos só serão alcançados se o turismo acontecer de forma programada, não visando apenas ao lucro e sim à preservação da cultura e história, principalmente em pequenas comunidades. O turismo nesses lugares geralmente chama atenção por sua história e identidade conservada. Com apenas 6.655 habitantes, São Thomé das Letras recebe turistas de diversas religiões, que chegam de todas as partes do Brasil, à procura de respostas espirituais, cura alternativa, fuga da rotina, contato com o ambiente natural, purificação interna e outras atividades relacionadas ao místico esotérico com acompanhamento de pessoas que irão auxiliar no afloramento do seu lado etéreo. O presente trabalho trata-se de identificar as mudanças que a identidade mística esotérica pode ter sofrido com a massificação do turismo na cidade de São Thomé das Letras.

Para isso, pretende-se fazer uma pesquisa etnográfica para analisar, através do olhar dos moradores, as mudanças que a cidade sofreu num período de dez anos por conta das atividades turísticas. O perfil dos turistas também será analisado e o que o leva a escolher a cidade de São Thomé das Letras como destino. A justificativa para este trabalho é auxiliar os munícipes e os planejadores do turismo a entenderem como a atividade turística implantada sem um estudo prévio pode influenciar para a perda de autenticidade de uma comunidade e a banalização de hábitos culturais que antes eram valorizados. Além disso, fazer com que as pessoas que lerem este trabalho valorizem e respeitem a cultura de um destino que escolheram para visitar. 1.1 Metodologia Para o desenvolvimento e embasamento teórico, foram realizadas pesquisas bibliográficas em artigos, dissertações referentes ao assunto estudado e pesquisa documental. Além disso, foram feitas pesquisas online, em que as palavras-chave pesquisadas foram “Místico

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esotérico”, “Turismo religioso”, “São Thomé das Letras”, dentre outras dentro do mesmo tema. A segunda parte para a realização deste trabalho contará com uma pesquisa etnográfica, a fim de analisar a percepção dos moradores em relação às mudanças causadas pela massificação do turismo na cidade. Serão selecionados de cinco a dez munícipes que terão que residir por dez anos ou mais na cidade para melhor resultado da pesquisa. No mesmo período, será realizada uma pesquisa quantitativa a fim de analisar o perfil do turista e qual é a sua percepção sobre o turismo esotérico. Serão selecionados de cinquenta a cem turistas para responder os questionários. Por fim, os dados serão analisados e discutidos para a conclusão da pesquisa. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O turismo místico esotérico é um segmento que está ganhando espaço no mundo, inclusive no Brasil. Segundo a Revista Turismo (2004), esse segmento turístico é procurado por aqueles que buscam cura e respostas espirituais, novas linhas de pensamento, autoconhecimento, fortalecimento da fé e realizações pessoais em que o contato com o eu interior é intensificado e mais aflorado. De acordo com Siqueira (1998), esses objetivos são concretizados por meio de rituais em determinadas fases da lua em ambientes naturais, rituais xamânicos, exercícios como yoga, meditação e acupuntura. Em adendo, cartomantes, tarôs, mapa astral e cristais de energia poderosa auxiliam o turista para o afloramento e redescobrimento de um eu perdido dentro de si. Esse segmento turístico é encontrado, principalmente, em comunidades pequenas que possuem traços culturais marcantes, identidade conservada, lugares sagrados, pontos energéticos, conexão com o desconhecido e o intangível e relatos de atividades paranormais. Referência do turismo místico esotérico, a cidade de São Thomé das Letras está localizada numa pequena porção no sul do estado de Minas Gerais e, segundo o IBGE (2010), possui cerca de 6.655 habitantes, sendo delimitada num espaço de 369,747 km². A maioria dos atrativos naturais está localizada nos bairros da zona rural, dando destaque ao Bairro de Sobradinho. O difícil acesso a outras localidades fez com que a cultura e identidade de São Thomé das Letras fossem preservadas por muito mais tempo e intensidade, fortificando os laços de tradições antigas, além de resguardar alguns aspectos culturais que possuem aptidões místicas e esotéricas.

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Se, por um lado, a cidade possui pequena extensão territorial, por outro, possui um vasto leque de mistérios e atividades esotéricas que ganham os olhares de turistas nacionais e internacionais. O contato com o mundo externo se tornou latente a partir da década de 70, quando os primeiros hippies começaram a chegar à cidade por conta do comércio da pedra quartzito, da instalação da Sociedade Brasileira de Eubiose e de sua localidade. No entanto, apenas na década de 80 é que eles começaram a fixar suas moradias na cidade. O aumento gradativo dos turistas em São Thomé das Letras veio atrelado às mudanças e inovações na estrutura turística, a fim de facilitar a estadia do turista, bem como garantir o conforto do mesmo. Essas mudanças incluíram melhorias ou construções de infraestrutura, como meios de hospedagens, bares, restaurantes. Há também muitas lojas e serviços oferecidos relacionados ao esoterismo, como massagens, tarô, incensos, rituais, entre outros. A cidade ainda possui lugares específicos para esse tipo de atividade, que, por muitas vezes, não levam a espiritualidade a sério e disfrutam do místico esotérico apenas para o comércio. Apesar de o turismo místico esotérico auxiliar na renda dos munícipes, o mesmo faz com que lugares considerados sagrados e de grande importância religiosa na cidade sejam utilizados de forma inconsciente, sendo seu único objetivo a obtenção de lucro. Além de banalizar uma cultura e identidade que foram construídas e lapidadas durante anos. Sendo assim, a massificação do turismo na cidade se torna um processo permanente e que, infelizmente, não gera preocupação da população e nem de órgãos públicos que regem São Thomé das Letras. O turismo de massa, segundo Rodrigues (1997), é um dos segmentos que mais descaracteriza o meio ambiente, uma vez que é considerado somente um produto para consumo e não uma atividade que agregue valor para o turista e para a comunidade receptora. Embora os impactos negativos sejam perceptíveis em vários níveis, o meio ambiente natural e a identidade da sociedade que ali vive são os que mais estão expostos a essas mudanças negativas. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio das pesquisas para compor o referencial teórico, pode-se perceber a influência do turismo místico esotérico na cidade de São Thomé das Letras e como essa atividade modificou a cidade ao longo dos anos. Além disso, há indícios de que a massificação está presente na cidade, comprometendo parte da identidade mística esotérica na cidade. Esperase que as pesquisas possam ser concluídas e aderidas

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com sucesso pelos munícipes e pelos turistas a fim de concluir o objetivo geral do presente trabalho. REFERÊNCIAS ANDRADE, J. V. Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática, 2001. CARVALHO, C. L. Turismo, uma arma poderosa para incrementar o crescimento. Disponível em <http://www.embratur.gov.br/destaque/artigo>. Acesso em: 20 set. 2017. FLORIANI, S. Turismo de saúde e místico. Revista Turismo, fev. n. 04. Disponível em: <http://www.revistaturismo.com.br/artigos/saudemistico.html>. Acesso em: 15 set. 2017. RODRIGUES, A. A. B. Turismo e geografia. São Paulo: Hucitec, 1997. SIQUEIRA, D. As novas religiosidades no Ocidente: Brasília, cidade mística. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002.

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A CONTRIBUIÇÃO DA CULTURA AFRICANA PARA A FORMAÇÃO DO SAMBA BRASILEIRO E SUA RELEVÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO/RJ¹ PESSOA, Ismael Muniz2 PIMENTEL, Juliana Maria Vaz3 SOUSA, Bruna Novais4 Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana is.munis2@gmail.com, brunanovais.unesp@hotmail.com, jmvpimentel@outlook.com 1

Trabalho elaborado pelos membros do projeto TAUR- Tons Afros Unesp Rosana. Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutora em Geografia, Universidade Federal da Grande Dourados (UFDG), Dourados, Mato Grosso do Sul. 4 Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO Devido à grande influência do samba como principal expressão da canção brasileira e sua forte relevância na identidade nacional, o ritmo traz consigo a contribuição da cultura africana na sua origem. A cidade do Rio de Janeiro - RJ é uma das principais referências ao se falar sobre o ritmo, declarado como patrimônio imaterial, a cidade tem em sua essência o Carnaval, com grandes compositores e inúmeras escolas de samba, sendo mundialmente conhecida por meio das manifestações carnavalescas. Sendo assim, este trabalho traz uma análise do samba como principal instrumento potencializador para o desenvolvimento do turismo na cidade do Rio de Janeiro –RJ e sua relevância na identidade brasileira. Palavras-chave: Cultura; Samba; Turismo; Rio de Janeiro.

1. INTRODUÇÃO Visto que o samba é um dos principais elementos que se destacam no carnaval e que atraem um grande número de visitantes na cidade do Rio de Janeiro RJ (VIEIRA, 2015), o presente trabalho partiu da discussão realizada pelo grupo de estudos TAUR2 com o objetivo de ressaltar a contribuição da cultura africana para o desenvolvimento da 2

Tons Afro Unesp Rosana (TAUR) é um projeto aprovado pela reitoria da Universidade Estadual Paulista e está presente no núcleo de Rosana, o grupo têm como objetivo discutir temáticas relativas à riqueza étnica cultural artística e religiosa, abrangendo conteúdos polêmicos sobre discriminação, preconceito, racismo e intolerância religiosa. Sendo assim, o grupo visa discutir o contexto histórico dos afrodescendentes no Brasil e aplicar planos de ações no âmbito da comunidade local (Primavera/RosanaSP) e acadêmica, promovendo, assim, a conscientização sobre a contribuição da cultura africana no processo de formação da identidade nacional brasileira.

atividade turística no município do Rio de Janeiro por meio do samba tocado no carnaval carioca. 1.1 Metodologia Para elaboração do presente estudo realizamos um levantamento bibliográfico em livros, artigos e notícias com temas voltados ao turismo, à cultura africana e ao samba do Rio de Janeiro. 2. FUNDAMENTAÇÃO DISCUSSÕES

TEÓRICA

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2.1 A cultura africana e a origem do Samba no Brasil Dentre as inúmeras definições do conceito cultura, é notório e comum entendê-la como um desenvolvimento multidimensional e harmonioso da humanidade num todo, bem como a

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emissão espontânea de conhecimento e valores. Essa percepção é a visão da Unesco, das universidades brasileiras, de fundações e órgãos oficiais de cultura, como ministérios e secretarias (VANNUCCHI, 2006). No conceito etnológico, cultura entende-se como o modo de viver típico, o estilo de vida comum, os costumes, o fazer e o agir desta ou daquela etnia. Sendo assim, estudar cultura no território brasileiro é algo complexo, que envolve um contexto histórico de colonização, questões raciais e etnias. Nesse sentido, torna-se fato a afirmação de que o Brasil se constituiu por meio da fusão das três etnias principais: o branco, o negro e o índio. Porém, ao se analisar o quadro de interpretação social, é notável a posição de superioridade da raça branca na construção da civilização brasileira sobre as outras duas raças. Por outro lado, pouco se tem a respeito dos povos africanos e sua cultura, o período da escravidão foi um longo silêncio sobre as etnias negras que povoam nosso País (ORTIZ, 2006). Nesse sentido, observa-se o grande intercâmbio cultural ocorrido entre negros, índios e europeus, tais trocas culturais contribuíram para a formação de uma cultura diversificada e rica. No entanto, é válido ressaltar o quanto a influ ência da cultura africana resultou na formação da nossa identidade nacional, porém as práticas dos escravos africanos trazidos ao Brasil eram diferenciadas, pois viriam de pontos diferentes do continente africano. No que diz respeito à musicalidade brasileira, é válido ressaltar essa conexão com a cultura africana, como é apontado por Santos (2005, p. 10): Todos os povos sempre utilizaram o canto, a dança e os ritmos nos momentos de trabalho, alegria e louvor. No Brasil, os índios já utilizavam a flauta de madeira e alguns instrumentos de percussão. Os instrumentos de fole, teclados e cordas seriam trazidos da Europa, pelos brancos. Já os tambores e atabaques viriam da África, com os negros. Sendo assim, podemos afirmar que a música popular brasileira, assim como a formação do Brasil, é a junção das três etnias que agregam uma grande riqueza cultural. Dentre os ritmos da música popular brasileira, o samba se destaca como a principal expressão musical no Brasil, o que auxiliou a consolidação da identidade nacional (SANTOS, 2005).

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O samba originou-se no Rio de Janeiro, no município chamado Cidade Nova, vindo pelos filhos cariocas das "tias" baianas e dos escravos trazidos do interior do Rio de Janeiro, Espírito do Santo e Minas Gerais, junto com seus jongos, caxambus, calangos e demais umbigadas. Nesse sentido, esse encontro fortaleceu as expressões artísticas e manifestações musicais afro interligadas às festas e à religião (SUKMAN, 2011). Nesse sentido, os primeiros sambistas juntamse à elite brasileira, em busca de "dignidade", e os primeiros autores, Ismael Silva, no Estácio, Paulo da Portela, em Madureira, e Cartola, na Mangueira, criaram as primeiras escolas de samba. E foi na década de 1930 que o samba ganhou visibilidade, sendo transmitido nas rádios, vendido em discos, sendo trilha sonora nos cinemas, tornando-se uma expressão nacional e um produto de exportação (SUKMAN, 2011). Até nos dias atuais a origem da palavra samba não se vê muito segura. Uma das versões é que vem do banto "sam" (dar) e "ba" (receber), referindo-se à dança africana umbigada. O que é garantido pelos pesquisadores da área é que no samba corre o sangue do jongo, benguelê, angola, corimá, cantos de trabalhos escravos, que tiveram em Clementina de Jesus sua grande divulgadora (SANTOS, 2005). Contudo, nota-se que, no decorrer dos anos, o samba tornou-se um fenômeno social conhecido e reproduzido em todo território brasileiro, tornando-se parte da nossa cultura e sendo um dos principais fatores que fortalecem a identidade nacional. 2.2 Contribuição do Samba para o Desenvolvimento do Turismo no Rio de Janeiro Tendo samba como um dos principais elemento s que atraem os turistas no período carnavalesco da capital carioca, nota-se a importância e contribuição do gênero musical para o desenvolvimento do turismo na cidade. Só em 2013, segundo o artigo "A Matemática do Samba", realizado por Gastão Vieira, em maio de 2015, e publicado no site do Ministério do Turismo, carnaval do Rio atraiu 6,2 milhões de turistas e R$ 5,7 bilhões em receitas geradas para o Brasil. Essa movimentação financeira torna-se uma solução para o país fazer frente à crise econômica, gerar emprego, renda e continuar sustentando o crescimento da atividade turística (VIEIRA, 2015). O setor do turismo é tão destacado nesse período que foi necessário a criação de leis e diretrizes para melhor organizar o evento durante os quatros dias de folia e a manutenção dos espaços não só no período

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carnavalesco, mas também durante todo o ano. Um exemplo claro é a criação do Regulamento Ambulantes Ponto Fixo Carnaval 2017, no qual a prefeitura estabelece "as autorizações dos pontos fixos para exercício no Carnaval" (RIO DE JANEIRO, 2017). Em dados quantitativos, Vieira (2015), com base em dados do Ministério do Turismo, reforça a contribuição do carnaval carioca para o desenvolvimento do turismo na capital do RJ e seu reflexo tanto na empregabilidade quanto na economia nacional: "Trata-se de uma cadeia produtiva que responde por 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) e 2,9 milhões de empregos diretos. E que deve à festa mais popular do Brasil aproximadamente 5% de seu faturamento […]. O Rio de Janeiro é o estado que mais recebe turistas". O levantamento do MTur (VIEIRA, 2015) mostra que os turistas têm um gasto médio de R$ 920,86, com transporte e hospedagem pelos quatro dias de festas. E que eles aproveitam o carnaval e tendem a voltar no destino, uma oportunidade para subsidiar futuras políticas e estratégias para o setor turístico. Dito isso, Vieira (2015) alega que: […] é apenas um indício do potencial que abriga o setor de turismo no Brasil. Estamos trabalhando para elevar a competitividade internacional do país em diversas frentes. As mais recentes são a ampliação da desoneração tributária para o setor e a articulação de preços competitivos nos hotéis para os hóspedes dos grandes eventos. Sabendo aproveitar seu patrimônio natural e cultural único, superando gargalos que ainda existem em infraestrutura e educação, o país poderá dar um salto adiante e gerar emprego e renda com sustentabilidade e redução da desigualdade social. O ano inteiro. O Samba é tão presente na cultura dos cariocas que, em 1984, foi construída a Cidade do Samba no Sambódromo, a partir de uma parceria entre os dirigentes das escolas de samba e representantes dos órgãos governamentais locais com vistas "[...] à expansão das atividades de turismo, complementando as que acontecem. […] Para isso, a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro cede o terreno para edificação da Cidade do Samba com área equivalente a dez campos oficiais de futebol" (BLASS, 2008, p. 80).

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Em seu trabalho "Rompendo Fronteiras: a Cidade do Samba no Rio de Janeiro", Blass (2008, p. 82) cita que: A construção da Cidade do Samba abrange tão-somente as atividades de entretenimento destinadas, principalmente, aos turistas, mas também institui as condições para agregar valor aos recursos tecnológicos fornecidos pelas escolas de samba aos artistas e artesãos que trabalham na produção dos desfiles de Carnaval.

Figura 1 – Cidade do Samba. Fonte: Rio-Carnaval (2017)

A Cidade do Samba conta com 14 barracões destinados para as escolas de samba do Grupo Especial. Segundo informações disponíveis no portal Cultura Mix, "[…] toda estrutura do local foi projetada com a finalidade de garantir segurança, qualidade e eficácia na montagem do carnaval e também de se ter, no Rio de Janeiro, um recurso de turismo profissional que seja constante". Artistas utilizam espaços como este para gravação de shows e clipes, uma forma de divulgação e valorização do local. O clipe "Meu Bloco" (2017), do rapper Rincon Sapiência, é referência quando se trata da transparência nas escolas de samba. Ele lançou o videoclipe na véspera do carnaval deste ano, no qual exibe o uso de instrumentos (alguns de origem africana como, por exemplo, o tamborim e o surdo), o trabalho das costureiras, a confecção das fantasias e os carros alegóricos da escola de samba Pérola Negra. Essa representatividade faz com que o público se interesse em conhecer o local onde foram realizadas as gravações. Dito isso, percebemos fortemente a contribuição do samba não só no carnaval, mas durante o ano inteiro. Isso acaba tornando-se um forte atrativo para a potencialização da atividade turística na cidade do Rio de Janeiro.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo o samba como um dos ritmos musicais brasileiro mais reconhecidos internacionalmente, notase sua importância e grande relevância na identidade brasileira, contudo é válido ressaltar a influência da cultura africana na sua origem, desde a harmonia musical até seus instrumentos atuais. Destacando-se e tendo maior relevância na cidade do Rio de Janeiro – RJ, principalmente no período carnavalesco, o samba torna-se um grande produto para o desenvolvimento do turismo na capital carioca. Com base nos dados levantados a partir de pesquisas, conclui-se que o ritmo faz com a cidade se destaque mundialmente, atraindo turistas todo o período anual, além de gerar empregos e fontes de renda durante o ano todo.

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RIO-CARNAVAL. Disponível em: <http://www.riocarnival.net/carnaval/cidade-do-samba-rio-dejaneiro.php>. Acesso em: 06 set. 2017. SANTOS, J. F. dos. O ABC da MPB. São Paulo: Paulus, 2005. SUKMAN, H. Histórias paralelas: 50 anos de musica popular brasileira, Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011. VANNUCCHI, A. Cultura Brasileira: o que é, como se faz. Sorocaba: Loyola, 2006.

REFERÊNCIAS BLASS, L. M. da S. Rompendo Fronteiras: a Cidade do Samba no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 23, n. 66, p. 79-92, fev. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sciarttext&pid=S010269092008000100005>. Acesso em: 04 set. 2017. VIEIRA, G. A Matemática do Samba. 2015. Disponível em: <http://www.turismo.gov .br/assuntos/15-editoria-c/4923-a-matematica-dosamba.html>. Acesso em: 04 set. 2017. CULTURA MIX. Cidade do Samba. Disponível em: <http://turismo.culturamix.com/nacio nais/sudeste/cidade-do-samba>. Acesso em: 09 de set. 2017. MEU bloco. Direção de Jorge Dayesh. Produção de Boia Fria Produções. Intérprete: Rincon Sapiência. 2017. Disponível em: <http://www.zonasuburbana. com.br/meu-bloco-rincon-sapiencia-evoca-carnaval-eafrodescendencia-em-clipe/ >. Acesso em: 07 de set. 2017. ORTIZ, R. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 2006 . RIO DE JANEIRO (Município). Regulamento Ambulantes Ponto Fixo Carnaval 2017. Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/web/smf/exibeconteudo ?id= 6669993>. Acesso em: 06 de setembro de 2017.

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RESUMOS CIENTÍFICOS OUTROS SEGMENTOS DO TURISMO

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TURISMO DE EVENTOS: ANÁLISE DOS FATORES MOTIVACIONAIS DOS FREQUENTADORES DO FESTIVAL DE MÚSICA ELETRÔNICA ATLÂNTIDA - ILHA DO PARAÍSO - ILHA SOLTEIRA - SP BORDONAL, Sarah Delamagna¹ BUSCIOLI, Roberson da Rocha² SOUSA, Bruna Novais³ ROSSI, Lara Testoni4 Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana sarahdelamagna@hotmail.com, buscioli@rosana.unesp.br, brunanovais.unesp@hotmail.com, lararossi173@gmail.com

¹ Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ² Doutorando em Geografia, Mestre em Geografia, Graduado em Ciências Econômicas, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ³ Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 4 Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo.

RESUMO - Segundo pesquisas relacionadas aos festivais de música eletrônica, pode-se notar que esses ocorrem, na maioria das vezes, em lugares de difícil acesso e com um custo elevado. Nesse sentido, a pesquisa tem como objetivo fazer uma análise dos fatores motivacionais que influenciam os frequentadores de festivais de música eletrônica a optarem por esse tipo de evento, trazendo como objeto de estudo o festival Atlântida, que ocorre na Ilha do Paraíso, localizada no município de Ilha Solteira SP. Palavras-chave: Festivais; Música eletrônica; Turismo de evento; Motivação.

1. INTRODUÇÃO Os festivais de música eletrônica são uma manifestação conjunta de diversidades, em que se relacionam música, gastronomia, arte, cultura, autoconhecimento e cura em um mesmo ambiente. Além disso, esse tipo de evento desperta novos sentimentos e percepções e aflora nossas emoções, proporcionando experiências únicas. Segundo Gertz (1991), os festivais recebem diversos grupos com cultura, faixa etária e classe social distintas, fazendo com que a troca de experiências entre as pessoas ali presentes aconteça de forma espontânea, uma vez que o ambiente natural, juntamente com o som que é produzido com o intuito de revelar a transcendência das pessoas, intensifica o desprendimento do ego e faz com que a empatia e o amor aumentem, proporcionando uma absorção de ideias distintas, estimulando o contato dos seres.

Nesse sentido, a justificativa para a escolha deste tema se deve à visibilidade que os festivais de música eletrônica ganharam nos últimos anos. Segundo a revista online Exame (2012), no ano de 2011, o número de pessoas que frequentam esse tipo de evento cresceu 56,64%. Ademais, a experiência que as autoras vivenciaram nas duas edições anteriores do evento desencadeou uma visão mais profunda dos fatores que incentivam a procura por festivais de música eletrônica em ambientes naturais. Por fim, esse trabalho busca quebrar o preconceito para com esse tipo de evento. A partir disso, a presente pesquisa traz como principal estudo a compreensão dos fatores motivacionais de frequentadores de festivais de música eletrônica no interior do estado de São Paulo, usando como objeto de estudo o Atlântida Festival, que é realizado em um espaço geográfico natural localizado no extremo noroeste paulista na cidade de Ilha Solteira - SP.

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1.1 Metodologia Para a realização do presente trabalho, utilizouse de pesquisas bibliográficas em livros, artigos, revistas e na internet com o intuito de ampliar o entendimento sobre o assunto, além da base estrutural que as autoras puderam obter vivenciando a execução das duas primeiras edições do evento. A partir disso, pretende-se entender de uma maneira mais concisa as motivações do público frequentador de festivais de música eletrônica, ou seja, quais fatores influenciam esse deslocamento por meio da aplicação de uma pesquisa qualitativa e quantitativa. Será elaborado um questionário contendo perguntas fechadas para 50 pessoas, bem como um questionário contendo perguntas abertas para 7 pessoas selecionadas. A pesquisa será executada na terceira edição, que ocorrerá do dia 16 ao dia 18 de Novembro de 2017. Após a realização do evento, os dados serão analisados para que os objetivos sejam concluídos.

introduzem a dimensão de pessoas a espaços estáticos que se tornam divertidos. “[...] são atrativos para a comunidade que estão em busca de tratar assuntos relacionados a um modelo cívico, orgulho e identidade local, patrimônio, conservação, renovação urbana, geração de emprego, investimento e desenvolvimento econômico” (YEOMAN et al., 2006, p. 37). Ou seja, os festivais e eventos oferecem uma oportunidade para o desenvolvimento cultural da comunidade, proporcionando um relacionamento complexo com o local receptor, assim como cada troca de informação e energia. O Atlântida Festival é um evento que ocorre em uma ilha, que se destaca grandemente por suas belezas cênicas. Trata-se de uma ilha estruturada que comporta no máximo 6 mil pessoas.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Desde os tempos mais remotos, o homem busca se deslocar à procura de lugares e experiências inusitadas. O fenômeno do Turismo proporciona esse deslocamento de forma organizada e viabiliza uma estrutura adequada para atender as necessidades do público. Embora exista um conjunto de motivações, as que se destacam, diante da pesquisa bibliográfica realizada, resumem-se na necessidade de aprimoramento pessoal, mudança de ambiente, desejo de se relacionar com outras culturas e status social. Dentre todos os segmentos do turismo, o de eventos sempre envolveu uma grande miscigenação cultural em um mesmo ambiente, fazendo com que essas principais motivações sejam saciadas. Segundo Britto e Fontes (2006), um evento é muito mais do que um acontecimento de sucesso, uma festa, uma linguagem de comunicação, uma atividade de relações públicas ou mesmo uma estratégia de marketing, mas sim a soma de esforços e ações planejadas com o objetivo de alcançar resultados definidos junto ao seu público-alvo. No entanto, entre os diversos tipos de eventos, os festivais trazem uma variedade de significados culturais em uma cidade ou região. De acordo com Certeau (1995), o novo valor da cultura operante está sempre decidido segundo as regras de poder. O lazer oferecido à população passa a ser algo em benefício da economia do local que cede o evento e manipulado pelo mercado, como uma prestação de serviços e utilidades a ela. Os festivais juntam paisagem com estilo de vida de forma simplificada, porém complexa,

Figura 1 – Vista aérea da Ilha do Paraiso Fonte: ISL4ND

Figura 2 – Atlântida Festival 2ª edição Fonte: DCP Photografy O festival conta com a presença de dois palcos, sendo eles o Chill Out, abordando músicas mais calmas

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e baixas batidas por minutos, conhecido popularmente como Low Bpm, manifestações artísticas, decorações sensitivas ligadas à psicodelia, que afloram o relaxamento da mente, e o Main Floor, que propicia uma emoção maior por conta do ritmo mais acelerado chamado de high bpm, que contém nas diversas vertentes do trance. Tais vertentes possuem como bases estruturais sonografias advindas de mantras, caracterizadas por vibrações que repercutem a mesma intensidade. Segundo o fundador do evento, Diego Rassano, a ideia de produzir um festival de música eletrônica em um ambiente natural surgiu a partir da experiência vivida em 2014, quando frequentou o primeiro festival, o Mundo de Oz, que acontece na cidade de Aparecida – SP. O evento ocorre em meio à natureza, o que influenciou o nome Atlântida, aguçando o desprendimento do ser humano do seu ego e das dificuldades enfrentadas no seu cotidiano, possibilitando respostas espirituais, um discernimento maior sobre a vida, as pessoas e si mesmo.

GETZ, D. Festivals, Special Events, and Tourism. New York: Van Nostrand Reinhold, 1991. YEOMAN, I. et al. Gestão de festivais e eventos: uma perspectiva internacional de artes e cultura. São Paulo: Roca, 2006.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Até o devido momento, podemos concluir que os festivais de música eletrônica ganharam um considerável destaque por conta das suas peculiaridades. A experiência autêntica vivida pelas autoras do presente trabalho aguçou o desejo de entender cientificamente os fatores que atraem a miscigenação de culturas para esse tipo de evento. Espera-se que, ao concluir a realização da pesquisa, seja possível não apenas entender, mas também vivenciar os motivos que levam o público frequentador a procurar tal experiência. REFERÊNCIAS BRITTO, J.; FONTES, N. Estratégias para eventos: Uma ótica do marketing e do turismo. São Paulo: Aleph, 2002. CERTEAU, M. A cultura no plural. 3. ed. Campinas: Papirus, 1995. O PODER do festival Trance. Disponível em <http://ictrance.blogspot.com.br/p/festivais.html> Acesso em: 19 set. 2017. PÚBLICO de música eletrônica cresceu 56,64% no Brasil em 1 ano. Exame (online), 15 fev. 2012. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/estilo-devida/publico-de-musica-eletronica-cresceu-56-64-nobrasil-em-1-ano/> Acesso em: 19 set. 2017. ;

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AS GÍRIAS INFLUENTES ENTRE O GRUPO DE VISITANTES DE PENITENCIÁRIAS¹ FARIAS, João Paulo Bloch² PIMENTEL, Juliana Maria Vaz³ RIBEIRO, Renata Maria ⁴ Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana blochfarias@gmail.com, jmvpimentel@outlook.com, renata@rosana.unesp.br Este resumo complementa um projeto de Iniciação Cientifica Sem Bolsa (ISB), intitulado “O estudo de demanda em destinos que concentram populações carcerárias: o caso em Presidente Bernardes/SP” ² Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ³ Doutora em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (2014). Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (2013). Graduada em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002), Rosana – SP. ⁴ Graduação em Turismo pela Universidade Federal do Paraná (1993), especialização em Planejamento e Gestão do Turismo, mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (2005) e doutorado em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (2011), Rosana – SP. 1

RESUMO - Neste trabalho propomos identificar e definir as gírias utilizadas pelos grupos de visitantes das unidades prisionais que se deslocam para o município de Presidentes Bernardes. Com esse objetivo delimitado, os processos metodológicos se respaldaram em uma análise qualitativa e exploratória após uma pergunta norteadora e a compreensão dos dados ocorreu de acordo com a análise de linguagem realizada por Cruz e Tito (2016). Por meio das informações qualitativas, foram identificadas sete gírias, palavras que possibilitam entender o universo que envolve a realidade carcerária e os indivíduos que estão envolvidos. Por fim, acredita-se que os conhecimentos das gírias podem aproximar o entrevistador dos entrevistados, facilitando, assim, o trabalho de campo que será a próxima etapa deste trabalho. Palavras-chave: Unidades Prisionais; Visitantes; Gírias.

1. INTRODUÇÃO Sabaini (2012), ao se referir às unidades prisionais em cidades de médio e pequeno porte, as depreende como sendo descentralização ou interiorização das unidades prisionais, pois, na década de 1980, houve novas construções dessas unidades em municípios localizados no interior do Estado de São Paulo. Nivelando esse processo de interiorização iniciado na década de 1990, sessenta e sete municípios do Estado de São Paulo receberam novas unidades penitenciárias. Essa medida teve como objetivo minimizar os índices de criminalidade e violência e enfraquecer as facções criminosas (SABAINI, 2012). Com esse acontecimento, tais municípios passaram a se tornar polo receptor de visitantes 3, dada a principal

motivação: encontrar e ver pessoas encarceradas. Seguindo esse raciocínio, é inevitável que esse grupo de visitantes acabe utilizando as infraestruturas do turismo, como, por exemplo, a rede de transportes, hoteleira e alimentícia. Atualmente, há no Estado de São Paulo 168 unidades prisionais, subdivididas em categorias: 15 (quinze) Centros de Progressão Penitenciaria, 42 (quarenta e dois) Centros de Detenção Provisória, 22 (vinte e dois) Centros de Ressocialização, 1 (uma) Unidade de RDD, 85 (oitenta e cinco) penitenciárias e 3 (três) Hospitais. No presente resumo, nosso campo de pesquisa limita-se ao presídio denominado: "Silvio Yoshihiko Hinohara", inaugurado em 16/11/1990, caracterizado como sendo de regime fechado (SAP) e localizado no município de Presidente Bernardes.

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Por meio de uma breve entrevista com uma visitante, ela afirmou que o perfil predominante é do sexo feminino. Esse relato condiz com Foltran (2010), quando se refere que a maioria dos visitantes é

do sexo feminino, tanto de unidades prisionais com públicos masculinos ou femininos.

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De acordo com o documentário da Rede Bandeirantes (BANDEIRANTES, 2015), os próprios visitantes organizam-se entre si para realização da viagem, e uma das características notadas nesse grupo de pessoas é a utilização de vocábulos específicos, denominados no senso comum de gírias. Na maioria das vezes, essas formas de comunicação acabam representando um grupo de pessoas que viajam para finalidades específicas. Seguindo esse raciocínio, Preti (2004) expõe que a gíria é uma marca característica linguística de um conjunto de pessoas que apresenta consciência, motivação e interação em conjunto, além de que ela surge como uma alternativa da expressividade. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar as gírias mencionadas pelas visitantes. O desenvolvimento metodológico será respaldado em referenciais teóricos do campo sociológico, a fim de identificar as gírias mais usadas entre o grupo de pessoas que realizam visita, seja social ou íntima, em penitenciária, como forma de explicitar os códigos de linguagem utilizados pelo grupo. Acredita-se que o entendimento dessas gírias facilitará a primeira abordagem de campo. 1.1 Metodologia A pesquisa pauta-se na metodologia da pesquisa qualitativa de caráter descritivo e exploratório. Para o transcorrer da discussão, foi realizado, primeiramente, um contato prévio com uma visitante de convívio do pesquisador e, posteriormente, foram realizadas as seguintes perguntas norteadoras: “Quais são as gírias que vocês utilizam? Por exemplo, o “jumbo” é uma gíria, quais mais você acrescentaria? A breve entrevista foi realizada via telefone e a identidade da mesma será preservada. Após a fala da visitante, em um quadro foram descritas quais foram as gírias mencionadas e, posteriormente, o entendimento sobre o que elas significam. A sistematização dos dados levantados foi pautada na análise de línguas realizada por Cruz e Tito (2016) em que se analisa a palavra dita e o significado da mesma. Esse procedimento é utilizado comumente nos subgrupos sociais, ora tidos como grupos marginais.

Desse modo, evidencia-se o caráter social da língua (principalmente) de culturas que evoluíram com o tempo. Assim, começam a surgir novas palavras, termos de nível técnico e de forma não muito isolada, as gírias (PRETI, 2004). Já Cruz e Tito (2016) posicionam e descrevem que a linguagem nada mais é do que a capacidade de comunicação e faz parte eminentemente do processo humano, pois são evidenciadas características como: cognição, fatores biológicos e sociais, além de outros elementos que compõem a esfera humana. Dessas tipologias, a gíria é a que mais se aproxima do fator social, melhor dizendo, é um elemento de afirmação social e está presente em grupos menos favorecidos, como os homossexuais, negros e pobres. A gíria torna-se também um símbolo de adesão, em contexto fechado como nas penitenciárias, local onde ocorre formação de grupos, e os novos detentos são submetidos a um aprendizado ao presenciar e utilizar um vasto vocabulário, e isso servirá de código nas interações dentro do presídio (PRETI, 2002 apud GUIRAUD, 1966, p.104). De acordo com Netto (2010), a nomenclatura “turista” também pode ser definida como visitante e é o sinônimo do mesmo, e ambos estão envolvidos com a experiência e a atividade turística, inserindo-se nos dados estatísticos do setor. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Diante das duas perguntas voltadas para a entrevistada, pudemos levantar sete expressões/gírias utilizadas entre as mulheres que realizam a visita social ou íntima. O quadro abaixo menciona quais são elas, além de explicitar o significado de cada uma, demonstrando, dessa forma, que o grupo em análise possui um código de linguagem que o diferencia de outros grupos sociais.

Gírias Cumbuca

Guia

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Destarte, Preti (2004, s/p) relata que a língua é a marca característica da linguagem de um grupo social e pode ser entendida também como um modo de atividade cultural praticada pelo mesmo. Além disto, “[...] a gíria está mais ligada à linguagem dos grupos socialmente menos favorecidos ou de oposição a um contexto social”.

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Cunhada Meu pessoal Jumbo

Acepção Tapoer com um tamanho considerado grande e é necessário ser transparente. Mulher responsável que organiza a viagem, desde o transporte, hospedagem e fila de visita. Esposa ou namorada do detento. Vínculo de amizade ou familiar. Nome designado ao kit de mantimentos, produtos de

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J. P. B Farias, J. M. V. Pimentel, R. M. Ribeiro

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higiene, limpeza, alimentação e vestuário que os detentos recebem dos seus familiares Feriados onde o detento sai para visitar sua família e em seguida volta para penitenciária. Penitenciária localizadas no interior de São Paulo, são consideradas distantes da capital e estão presentes na Discagem Direta a Distância - DDD 18.

Saidinha

Fundão

Quadro 1 – Gírias Fonte: Os autores (2017) 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os termos usuais refletem o universo que envolve a realidade carcerária, desde modo, todos os sujeitos entram em sintonia, transformando seus termos de identificação em uma linguagem simbólica representativa. Nota-se que abordamos apenas uma amostra, que foram as gírias com apenas uma entrevistada e evidenciamos que há mais, porém, a pesquisa está em desenvolvimento e conta-se com o envolvimento de futuros participantes para o conhecimento e identificação de mais gírias representativas do grupo social estudado. Portanto, a presente discussão trata-se de uma amostragem que retrata um dos aspectos que caracteriza o grupo em análise. Dessa forma, a análise das expressões linguísticas entre grupos de visitantes/turistas ainda é pouco discutida e faz-se necessária no meio acadêmico, uma vez que as compreensões dos códigos de linguagem podem contribuir para uma possível prestação de serviço ou hospitalidade e também para o futuro trabalho de campo. Acredita-se que o conhecimento das gírias pode facilitar o acesso dos entrevistados pelo pesquisador, pelo fato de o mesmo compreender o verdadeiro significado das gírias utilizadas pelo grupo em estudo.

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FOLTRAN, P. J. A visita nas unidades prisionais e seu papel na mediação do acesso aos direitos da pessoa presa: uma reflexão acerca das desigualdades de gênero na política penitenciária. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL FAZENDO GÊNERO, 9, 2010, Florianóplolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2010. PANOSSO NETTO, A. O que é turismo? São Paulo: Brasiliense, 2010. PRETI, D. O léxico na linguagem popular: a gíria. São Paulo: FFLCH, USP, 2002. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/slp18/02.pdf> Acesso em: 5 Set .2017. ______. A gíria como um elemento da integração verbal na linguagem urbana. Palavra 8. Rio de Janeiro, p. 86-97. jun. 2002. Disponível em: <https://lingcult.files.wo rdpress.com/2015/04/palavra-8-06-preti-2002-a-giriacomo-um-elemento-da-interacao-verbal-nalinguagem-urbana.pdf>. Acesso em: 05 set. 2017. SABAINI, R. T. Uma cidade entre presídios: ser agente penitenciário em Itirapina-SP. 2012. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em: <http://ww w.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-14012013135107/>. Acesso em: 29 set. 2016. BANDEIRANTES. Mariana Weickert conhece famílias de detentos. São Paulo: Bandeirantes, 2015. (7 min.), son. color. Legendado. Disponível em: < http://videos.band.uol.com.br/15455969/1%E2%80%93-mariana-weickert-conhece-familias-dedetentos.html>. Acesso em: 02 mai. 2017.

REFERÊNCIAS CRUZ, L. da; TITO, R. de P. A comunidade LGBT no desdobramento da língua iorubá. Sociolinguística, Dialetologia e Geografia Linguística, Rio de Janeiro, v. XX, n. 12, p. 9-21, 29 ago. 2016. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/xx_cnlf/cnlf/cnlf_12/001. pdf>. Acesso em: 06 set. 2017. ;

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O NARCOTURISMO COMO SEGMENTAÇÃO BUSCIOLI, Roberson da Rocha1 SOARES, Thiago Pedroso2 Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana buscioli@rosana.unesp.br, thi.pedroso.soares@gmail.com ¹ Doutorando em Geografia, Mestre em Geografia, Graduado em Ciências Econômicas. Professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ² Graduando em turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo.

RESUMO - Esta pesquisa tem por objetivo ressaltar as questões referentes às políticas antiproibicionistas ao uso de substâncias psicoativas no Brasil, relacionando com o debate entorno do polêmico fenômeno caracterizado de “narcoturismo”, ou seja, turismo voltado para o consumo de psicoativos, na configuração deste que é considerado dentro do segmento turístico como turismo de experiência. Sendo o narcoturismo nosso foco de pesquisa, procuramos entender como ele funciona no Brasil, procurando compreendê-lo como segmentação. A pesquisa teve caráter qualiquantitativo com revisão de textos relacionados a substâncias psicoativas e com utilização de uma análise teórica. Ressaltamos, por fim, aspectos positivos e negativos das políticas antiproibicionistas no arranjo deste que é encarado como turismo de experiência. Palavras-chave: Narcoturismo; Turismo de Experiência; Turismo Alternativo.

1. INTRODUÇÃO Segundo definição da Organização Mundial do Turismo (OMT), o turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras (OMT apud SANCHO, 2001). Rastreando a formação da palavra narcoturismo, encontramos no Dicionário virtual Priberam da Língua Portuguesa (2008-2013) narco + turismo, “turismo organizado cujos destinos são locais onde se consome e adquire determinada droga entendida como qualquer substância que altera várias funções do organismo: percepção, conduta, motricidade etc”. Todavia, a determinação de que o psicoativo seja ou não ilícito, ou seja, observando seus efeitos, consequências e funções, está condicionada às definições sociais, econômicas e culturais do grupo que consome a droga (ECHEVERRÍA, 2004). Em medida de exemplificação, Saad (2010) aponta que a maconha (cannabis sp), ilícita na maioria das sociedades, é uma das substâncias psicoativas mais antigas e amplamente usadas pela humanidade.

O conceito de narcoturismo pode, portanto, ser aplicado a situações em que existam diversos locais em que se podem conseguir determinados tipos de psicoativos de modo lícito ou ilícito. Aprofundando mais o assunto, é possível caracterizar esse segmento como Turismo de Experiência, uma vez que “o conceito sobre turismo de experiência é novo e é uma tendência que está tomando cada vez mais espaço no mercado” (PANOSSO NETTO; GAETA, 2010, p. 44), as motivações possíveis podendo ser diversas, desde a vontade de seguir os modismos da minoria até a busca por fortes emoções. Sendo assim, Soares (2009, p. 4041) enumera cinco critérios para determinar o turismo de experiência, sendo eles: Emoções únicas – viver aquele momento único, que venha ser uma ocasião jamais vivenciada em sua rotina, caracterizando como experiências memoráveis (...). Exclusividade – com o aumento do número de turistas, tornando destinos massificados, surge à busca pela exclusividade, por aquele momento e sensação única, direcionada para cada tipo de pessoa (...). Uso dos cinco sentidos – entra em questão o uso dos

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sentidos humanos, passando a utilizá-lo para melhor direcionar produtos e serviços, que venha proporcionar uma melhor satisfação (...). Interação – uma maior interação do indivíduo entre os serviços e produtos, vindo a proporcionar a abertura para diferentes tipos de emoções e sensações (...). Despertar de sonhos e sentimentos – suprir as necessidades dos indivíduos, para depois trabalhar os sonhos, utilizando em primeira instância valores mentais, emocionais e imateriais (...)”. Observa-se que a compreensão acerca do universo das drogas variou ao longo da história da humanidade (SANTOS, 2012). A cultura e as práticas sociais tanto engendram como se alicerçam numa teia de significados compartilhada pelas pessoas (BERGER; LUCKMAN, 2004), podendo dizer que os significados acerca das drogas tanto contribuem para fundamentar seus contextos de uso, como justificam o seu uso nesses espaços sociais. Obtendo como exemplo a cannabis sp (maconha), pesquisadores consideram que a planta teria chegado ao Brasil com os escravos africanos, os quais tinham como um dos costumes utilizá-la para o lazer, o trabalho braçal, na medicina popular e em cultos religiosos afro-brasileiros (VIDAL, 2008) e que hoje tem a visão distorcida a qual a substância carrega. Retomando o Narcoturismo, tal postura de não reconhecimento dessa segmentação do turismo por parte do Estado está alicerçada na visão de que a melhor forma de prevenção contra as drogas é sua proibição, embora esse posicionamento resulte em uma verdadeira guerra entre narcotraficantes e Estado. 1.1 Metodologia Iniciamos a pesquisa com uma revisão bibliográfica sobre a história das substâncias psicoativas, mais especificamente a Cannabis, observando desde sua influência global e no Brasil, seus aspectos sócio-históricos e culturais até o processo de criminalização de psicoativos ao longo dos séculos, passando por uma revisão de pesquisas qualitativas já realizadas sobre drogas e Cannabis. Obtendo essas informações, foi construída uma linha temporal com marcos históricos relativos às substâncias que possuem psicotrópicos, dando uma maior relevância à maconha, seus usos e suas proibições. Em sequência, elaboramos um quadro teórico com os conceitos de cultura e construção social, após um levantamento etimológico das palavras substâncias psicoativas, psicotrópicos, drogas e maconha, estudo preliminar que serviu de auxilio teórico para a realização da presente pesquisa.

Em seguida, prosseguimos com a análise do processo que continua até os dias atuais em questão da criminalização do consumo de psicoativos ao longo do século XX, por meio de textos científicos sobre esse processo.

2. FUNDAMENTAÇÃO DISCUSSÕES

TEÓRICA

E

Considerando a existência do fenômeno narcoturismo, podemos analisar a sua relação com o meio social, vendo que ele interfere de uma maneira harmoniosa com a sociedade, isso se for aproveitado por políticas que saibam administrar os prós e contras desse turismo diferenciado. Lembrando que “pensar de forma ética é concordar que o turismo pode trazer muitas coisas boas, mas também se for mal planejado e desenvolvido, trará problemas” (PANOSSO NETTO, 2010, p. 77, 78). No Brasil, o narcoturismo não é reconhecido como uma segmentação concreta de turismo, mesmo sabendo-se de sua existência e prática, movimentando o mercado de ilícitos no país. Se o analisarmos, assim como outros países da América Latina, o país sofre grande taxa de desigualdade social e, assim, adota uma medida de prevenção de guerra às drogas, em que se matam milhares de pessoas todos os anos, em sua maioria nas periferias. Tratando das substâncias psicoativas e sabendo que essas são encontradas, em sua maioria, em favelas, e que, por sua vez, o lucro sustenta o sistema financeiro dos banqueiros, o jornalista Arbex Júnior (1993, p. 67), ressalta que "o dinheiro não está nas favelas nem nos morros, faz parte do sistema financeiro e sustenta os grandes bancos (...) o discurso da guerra ao narcotráfico chega a ser vazio, pois os países que se colocam como combatentes às drogas fazem parte da corrente altamente rentável do tráfico, logo, resistem à legalização”. Para exemplificar, Arbex Júnior (1993, p. 83), na obra “Narcotráfico: um jogo de poder nas Américas”, relata que “o objetivo da guerra ao narcotráfico é o controle militar de regiões estratégicas que não estão, necessariamente, incorporadas ao mercado, a não ser através do comércio de drogas”. Galeano (1978, p. 185), em “As veias abertas das América latina”, mostrando toda a exploração sofrida dos americanos latinos, ilustra que “a causa nacional latino-americana é, antes de tudo, uma causa social: para que a América Latina possa renascer terá de começar por derrubar seus donos, país por país”. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Considerando como foco da pesquisa o Brasil, através de conhecimentos bibliográficos, procurarmos entender aspectos positivos e negativos que os mesmos carregam ao adotarem políticas com relação às substancias psicoativas, especificando o Narcoturismo existente. Vemos o quanto ele é importante como um aspecto sociocultural, já que os psicoativos estão relacionados com os meios sociais, consequentemente, tratando-se de uma sociedade consumidora, a segmentação do Narcoturismo pode ser utilizada como uma fonte econômica. No Brasil, a política antidrogas visa a uma guerra que atualmente é considerada uma medida falha. Essa política vem matando milhares de pessoas, superlotando o sistema carcerário e desperdiçando muito dinheiro com a prevenção. Concluímos, por fim, que ampliar o olhar sobre o narcoturismo, deixando um conjunto de preconceitos relacionados a esse fenômeno, inclusive sob um esforço de caracterização do mesmo enquanto turismo de experiência, pode encaminhar para outras análises sobre o uso de drogas e a política proibicionista, tal como o fazem diversas outras nações que obtiveram resultados mais positivos na prevenção e controle do uso dos psicoativos. Não se trata de uma generalização das substâncias psicoativas e nem das condições socioculturais de cada nação, mas apontamos para a importância de se empenhar um esforço para compreender movimentos como o narcoturismo, seja do ponto de vista de sua segmentação turística, seja do ponto de vista de compreensão do fenômeno enquanto movimento da sociedade na sua relação com o uso e o controle dessas substâncias. . REFERÊNCIAS

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NARCOTURISMO. In: DICIONÁRIO Priberam da Língua Portuguesa [on line], 2008-2013. Disponível em <https://www.priberam.pt/dlpo/narcoturismo> Acesso em: 5 out. 2017. PANOSSO NETTO, A. O que é Turismo. São Paulo: Brasiliense, 2010. PANOSSO NETTO, A.; GAETA, C. Turismo de experiência. São Paulo: Senac, 2010. SAAD, L. G. Medicina Legal: o discurso médico, a proibição da maconha e a criminalização do negro. Revista da ABPN, [S.l.], v. 1, n. 2, p. 103-112, out. 2010. SANCHO, A. Introdução ao turismo. São Paulo: Rocca, 2001 SANTOS, M. F. S.; ACIOLI NETO, M. L.; SOUSA, Y. S. O. Representações sociais do crack na imprensa pernambucana. Estud. psicol. (Campinas), Campinas, v. 29, n. 3, p. 379-386, set. 2012. SOARES, T. C. Características do Turismo de Experiência: Estudos de caso em Belo Horizonte e Sabará sobre inovação e diversidade na valorização dos clientes. 2009. Monografia (Graduação em Turismo) - Departamento de Geografia do IGC, Universidade Federal de Minas Gerias, 2009. VIDAL, S. Da diamba à maconha: usos e abusos da cannabis sativa e da sua proibição no Brasil. 2008. Disponível em: <http://www.koinonia.org.br/bdv /detalhes.asp?cod_artigo=30>. Acesso em: 5 out. 2017.

ARBEX JÚNIOR, J. Narcotráfico: um jogo de poder nas Américas. 4. ed. São Paulo: Editora Moderna, 1993. BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 2004. ECHEVERRÍA, A. Representaciones sociales de las drogas de jóvenes urbano populares en proceso de rehabilitacion en comunidad terapeutica. 2004. Monografia (Graduação em Psicologia) - Escuela de Ciencias Sociales, Universidad de Chile, 2004. GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. 46 ed. Rio de Janeiro: Paz e terra S/A, 1978. LOHMANN, G.; NETTO, A. P. Teoria do Turismo: conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Aleph, 2008. ;

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A IMPORTÂNCIA DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL (PET) NA FORMAÇÃO DE MEMBROS DO PROJETO UNIVERSITÁRIO LATTANZI, Jessica Suellen Caetano¹ SILVA, Rafaela Santos da² THOMAZ, Rosângela Cortez Custodio³ Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana jessicalatanzi@gmail.com, rafaelasantosda@hotmail.com, rothomaz@gmail.com ¹ Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Rosana, São Paulo. ² Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Rosana, São Paulo. ³ Docente do Curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Rosana, São Paulo.

RESUMO - Durante a graduação, muitas são as atividades que podem ser desenvolvidas para complementar o ensino, pois é possível ampliar o conhecimento e oportunidades, devido a todas as experiências adquiridas. Objetivou-se, com este trabalho, analisar a importância do Programa de Educação Tutorial – PET na formação de discentes do curso de turismo da UNESP, e para isso, foi aplicado um questionário com cinco questões direcionadas por meio do Google Forms a dez atuais membros e oito ex-membros do grupo, sendo uma pesquisa qualitativa e quantitativa. Após a análise dos resultados, percebe-se que o PET é um projeto que contribui com a formação, isso porque 100% dos respondentes alegaram que é possível utilizar o que se aprende no PET, e também é uma forma de aplicar a teoria na prática, além do acúmulo de experiências adquiridas, que contribuem para evidenciar a importância da participação em projetos extracurriculares durante a graduação, principalmente do PET Turismo da UNESP de Rosana. Palavras-chave: Graduação, PET, Tripé Universitário. 1. INTRODUÇÃO Planejar a carreira profissional envolve muito mais do que escolher um bom curso e conseguir um diploma. Os anos que os estudantes passam na universidade devem ser aproveitados também para a qualificação, que é desenvolvida por meio de atividades que vão além da sala de aula. Existem inúmeras atividades que podem ser realizadas na graduação, dentre elas a iniciação científica, trabalhos voluntários, monitorias, Programa de Educação Tutorial, Empresas Juniores, entre outras. Todas elas fazem parte de projetos que abrangem a pesquisa, o ensino e a extensão, que são o tripé de sustentação da universidade e que devem estar em constante equilíbrio para o bem comum. Ao fazer parte desses projetos, os discentes têm a oportunidade de crescer profissionalmente, pois, por meio das

experiências adquiridas, terão a oportunidade de se destacar no mercado de trabalho. Nesse sentido, o objeto de estudo desta pesquisa é o Programa de Educação Tutorial – PET, que é um programa pertencente ao Governo Federal Brasileiro e foi criado em 1979 durante o governo de João Batista Figueiredo com o nome de Programa Especial de Treinamento, porém, a partir de 31 de dezembro de 1999, a gestão do PET foi transferida para a Secretaria de Educação Superior – SESu/MEC, ficando sob a responsabilidade do DEPEM – Departamento de Projetos Especiais de Modernização e Qualificação do Ensino Superior, e, em 2004, o nome foi alterado para Programa de Educação Tutorial. Ele é desenvolvido por grupos de estudantes, com tutoria de um docente, organizados a partir de formações em nível de graduação nas Instituições públicas ou privadas de Ensino Superior do País, independentemente do curso.

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Nele são desenvolvidas atividades extracurriculares que, de acordo com informações disponíveis no site da Pró-reitoria de graduação da UNESP - PROGRAD (SILVA, 2017), complementam a formação acadêmica, procurando atender mais plenamente às necessidades da graduação e/ou ampliar e aprofundar os objetivos e os conteúdos programáticos que integram sua grade curricular. Devido à relevância desse projeto, esse trabalho torna-se necessário e consiste na análise da importância e da contribuição do PET Turismo na formação do bacharel em turismo da UNESP e se justifica por tratar de diversos projetos que abordam questões sociais, econômicas, culturais e ambientais, possibilitando um intercâmbio de conhecimentos, experiências e contatos, tratando de contribuir para o fortalecimento do ensino, pesquisa e extensão do Curso de Turismo da UNESP. 1.1 Metodologia Este trabalho foi desenvolvido inicialmente por meio da utilização de pesquisa bibliográfica em livros e websites, para o auxílio do embasamento teórico sobre o assunto em questão. Além disso, como técnica de pesquisa se utilizou o formulário Google forms, estruturado com cinco questões, direcionadas a dez atuais membros e oito ex-membros do PET turismo. A aplicação do formulário teve o intuito de coletar dados para a pesquisa e, assim, atingir os objetivos propostos. Após a aplicação, foram feitas a tabulação e análise dos dados. Tratou-se de uma pesquisa quantitativa e qualitativa pelo fato de que os métodos quantitativos possibilitam compreensão rápida dos dados coletados por intermédio de gráficos, e os métodos qualitativos permitem uma visão mais ampla de um cenário. 2. FUNDAMENTAÇÃO DISCUSSÕES

TEÓRICA

E

A PROGRAD (2017) descreve que o PET é uma modalidade de investimento acadêmico em cursos de graduação que têm sérios compromissos epistemológicos, pedagógicos, éticos e sociais. Com uma concepção baseada nos moldes de grupos tutoriais de aprendizagem e orientado pelo objetivo de formar globalmente o aluno, o PET não visa apenas proporcionar aos bolsistas e aos alunos do curso uma gama nova e diversificada de conhecimento acadêmico, mas assume a responsabilidade de contribuir para sua melhor qualificação como pessoa humana e como membro da sociedade. Dessa forma, a proposta que o PET traz à comunidade acadêmica estabelece uma diferença em relação a outros projetos, isso porque ele enfatiza a

ideia de ensino, pesquisa e extensão, que são pilares básicos da universidade, e, com o aspecto político desenvolvido ao longo dos anos, criou-se a tutoria por parte de um docente com a função de definir as atividades a serem desenvolvidas no grupo para a formação de futuros líderes. Com isso, nota-se a importância desses três pilares na universidade, e para melhor entendê-los, César (2013) diz que o ensino ajuda a compreender e propor melhorias aos processos de aprendizagem por parte dos estudantes, já no âmbito da pesquisa é possível propor melhorias aos processos de criação de conhecimento, e na extensão é possível compreender e propor melhorias aos processos de transmissão de conhecimento por parte do corpo docente. Portanto, percebe-se que o ensino, pesquisa e extensão são essenciais durante a graduação para aprendizagem, e é a partir de projetos durante o curso que é possível obter experiências em diversas áreas. 3. RESULTADOS

Gráfico 1 - Questão número 1. Fonte: As autoras (2017) No gráfico de número 1, é possível observar que 37,5% das pessoas concordam que é relevante ser ou ter sido membro do PET pelas experiências adquiridas com o projeto; 31,3% pelo envolvimento com a área acadêmica; 25% pela capacidade de lidar com problemas e desenvolver senso crítico e 6,2% pela prática de estudos que aprendem em sala de aula.

Gráfico 2 - Questão número 2. Fonte: As autoras (2017)

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Analisando o gráfico 2, é possível perceber que em uma escala de 0 a 5, mais da metade dos entrevistados (56,3%) classificam a contribuição do PET durante a graduação com a pontuação máxima, 25% com a pontuação 4 e 18,8% com pontuação 3. Nenhum entrevistado classificou a contribuição do PET na graduação como 1 ou 2. A questão 3 indagava: “Você acredita que no PET dá a possibilidade de praticar os conhecimentos que foram adquiridos em sala de aula?”, e houve respostas extremamente positivas, visto que 100% dos sujeitos que responderam alegaram que sim, que é possível levar a teoria para a prática. Com isso, nota-se que o projeto universitário é de grande contribuição na formação, visto que ainda durante a graduação é possível realizar a prática do conhecimento teórico. A questão de número 4, em que era perguntado: “Qual/quais as disciplinas existentes na graduação, você considera primordial para o desenvolvimento das atividades do PET?”, as respostas foram variadas, e a disciplina com maior apontamento foi de eventos (7), seguido de métodos e técnicas de pesquisa (5), depois turismo rural (3), a disciplina de planejamento (2) e outras matérias estudadas durante o curso (4). A questão 5 foi: “Em algum momento da sua vida acadêmica ou profissional, você conseguiu utilizar algo que aprendeu no PET?”, e 100% dos respondentes disseram que sim, o que mostra que durante a atuação nesse programa o membro estará adquirindo conhecimento não só durante a formação, mas também durante as atividades do PET.

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REFERÊNCIAS CÉSAR, S. B. A gestão do conhecimento na indissociabilidade ensino, pesquisa, extensão: estudo em universidade brasileira. 2014. 134 f. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Informação e Gestão do Conhecimento) – Faculdade de Ciências Empresariais, Universidade FUMEC, Belo Horizonte, 2014.. SILVA, J. R. C, da. Programa PET – Apresentação. 2018. Disponível em: <http://unesp. br/portal#!/prograd/programa-pet17233/>. Acesso em: 01 jan. 2018.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos dados obtidos, conclui-se que o Programa de Educação Tutorial é um diferencial na vida acadêmica dos universitários membros do PET. Isso foi perceptível a partir das respostas positivas coletadas na pesquisa, mesmo que dois ex-membros não tenham respondido ao questionário. Logo, de acordo com o objetivo proposto, o Programa é relevante para os membros durante a graduação, contribuindo para a sua formação. Portanto, esse estudo é de grande relevância para o Programa e a universidade, pois um contribui para o outro, no sentido de apoio a eventos, projetos, ações, entre outras atividades. Além disso, pode contribuir para futuras pesquisas que possam auxiliar no desenvolvimento do PET.

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LEVANTAMENTO DE TERMOS RELATIVOS AO CAMPO DO PATRIMÔNIO CULTURAL¹ DELVIZIO, Ivanir Azevedo2 LATTANZI, Jéssica Suellen Caetano3 Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana ivanir@rosana.unesp.br, jessicalatanzi@gmail.com 1

Projeto de pesquisa de iniciação científica financiado pela Fapesp (2017/20823-2). Doutora em Estudos Linguísticos, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO- Como forma de contribuir para um projeto que visa à elaboração de um dicionário de turismo, esta pesquisa, ainda em fase de desenvolvimento, tem como objetivo realizar o levantamento dos termos relativos ao domínio do Patrimônio Cultural. Para isso, foi criado um córpus de análise, composto por um conjunto de cartas patrimoniais em português, inglês e espanhol, do qual os termos serão extraídos. Para o processamento do córpus e extração dos termos, está sendo utilizado o programa de análise lexical WordSmith Tools 6.0. Espera-se, como resultado desta pesquisa, identificar a terminologia contida nas cartas patrimoniais e utilizada no domínio do Patrimônio Cultural. Palavras-chave: Terminologia; Patrimônio Cultural; Cartas Patrimoniais.

1. INTRODUÇÃO Segundo a definição da Organização Mundial do Turismo (2001, p. 38), amplamente utilizada no Brasil, o turismo compreende “as atividades que as pessoas realizam durante viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras”. Essas atividades mobilizam diversos setores da economia, tais como: transportes, agências de viagens, meios de hospedagem, serviços de alimentação, eventos, instalações para atividades diversas, lazer e entretenimento e outros serviços receptivos (IGNARRA, 2003). Um estudo amplo sobre a terminologia do domínio do Turismo, portanto, envolveria todas essas áreas, podendo cada uma delas constituir um campo temático a ser explorado. Nesse contexto, desenvolve-se no câmpus de Rosana, no âmbito do curso de Turismo, um projeto de pesquisa que tem como objetivo estudar a terminologia do turismo, em uma abordagem trilíngue portuguêsinglês-espanhol (Processo Fapesp: 2017/01246-4), no qual alunos de graduação desenvolvem projetos de

iniciação científica, ficando responsáveis por um subconjunto de termos de determinada área. Como forma de contribuir com o referido projeto, esta pesquisa de iniciação científica tem como objetivo específico realizar o levantamento dos termos relativos ao campo do Patrimônio Cultural. O patrimônio cultural diz respeito a um conjunto de bens materiais e imateriais de fundamental importância para a memória, a identidade e a riqueza das culturas, que foram legados pelos nossos antepassados e que deverão ser transmitidos aos nossos descendentes (DIAS, 2006, p.67-68). Com o intuito de salvaguardar esses recursos, que são heranças da humanidade e que nos dias atuais são aproveitados como atrativos turísticos, foram criadas as cartas patrimoniais, que são: “documentos que contêm desde conceitos a medidas para ações administrativas com diretrizes de documentação, promoção da preservação de bens, planos de conservação, manutenção e restauro de um patrimônio, seja histórico, artístico e/ou cultural” (RENNO, 2015). A atividade turística contribui com os processos de conservação, salvaguarda e restauro do

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patrimônio cultural e, ao mesmo tempo, beneficia-se deles, estando profundamente entrelaçados. Sendo assim, o conhecimento produzido no domínio específico do patrimônio cultural insere-se no campo de interesse do Turismo, e a terminologia do turismo deve abranger, por conseguinte, os termos relativos ao patrimônio cultural. Diante do exposto, justifica-se a necessidade de se levantar, estudar e organizar a terminologia referente ao patrimônio cultural, uma vez que constitui parte importante e complementar da terminologia do turismo.

Figura 1 – Lista de palavras (KeyWords) Fonte: As autoras (2017)

1.1 Metodologia A pesquisa adota uma abordagem descritiva baseada em corpus, ou seja, os termos são coletados a partir de um conjunto de textos reais especializados em patrimônio cultural, chamado de corpus de análise. Para a criação do corpus de análise, procedeu-se, primeiramente, ao levantamento das cartas patrimoniais nas três línguas da pesquisa. Em seguida, foram selecionadas apenas as cartas disponíveis em português, inglês e espanhol, totalizando 99 cartas, ou seja, 33 em cada idioma. Os textos em português do corpus de análise foram convertidos do formato .PDF para .TXT (texto sem formatação) para poder ser processado pelo programa de análise lexical (análise de palavras) utilizado na pesquisa, o WordSmith Tools 6.0. Esse programa oferece um conjunto de ferramentas que permite analisar grandes quantidades de textos, gerando listas de palavras-chave, visualização de concordâncias e contextos, dados sobre frequência e outras estatísticas. Por meio da ferramenta WordList, foi gerada uma lista de todas as palavras contidas nas cartas, em ordem alfabética e de frequência. A partir dessa primeira lista, foi possível gerar, por meio da ferramenta KeyWords, uma lista de palavras-chave, ou seja, uma lista das palavras mais relevantes e frequentes contidas nas cartas patrimoniais (Ver figura 1). Em seguida, por meio da ferramenta Concordance, foram geradas as linhas de concordância das principais palavras-chave encontradas. Como pode ser observado na figura 2, essas linhas permitem visualizar todos os trechos em que os termos aparecem, denominados cotextos, e também a ocorrência de termos complexos, centralizando a palavra principal (destacada em azul) e alinhando-a a outras palavras com as quais ocorrem (destacadas em vermelho).

Figura 2 – Linhas de concordância Fonte: As autoras (2017) Desse modo, estão sendo selecionados os candidatos a termos, que ainda passarão pela validação de um especialista da área. Até o momento, foram identificados os seguintes termos: bem cultural; bem imóvel; bem móvel; bem patrimonial; bem protegido; conjunto arquitetônico; elemento patrimonial; identidade cultural; itinerário cultural; monumento arquitetônico; monumento histórico; paisagem cultural; patrimônio arqueológico; patrimônio cultural; patrimônio ferroviário; patrimônio histórico; patrimônio industrial; patrimônio intangível/patrimônio imaterial; patrimônio mundial; patrimônio tangível/patrimônio material; sítio arqueológico; sítio histórico; sítio industrial; turismo cultural; obra monumental; patrimônio comum. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para a realização do estudo proposto por este projeto, fez-se necessário conhecer os conceitos e fundamentos referentes à Terminologia. A palavra terminologia apresenta um duplo significado, podendo se referir tanto a um conjunto de termos utilizados em uma área específica do conhecimento (a terminologia do turismo, por exemplo), quanto à própria disciplina científica que estuda os termos de modo geral. A fim de diferenciar o emprego da palavra, “terminologia” com “t” minúsculo usa-se para se referir ao conjunto de termos, e Terminologia com “T” maiúsculo, para referir-se à disciplina (BARROS, 2004).

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A Terminologia, como ciência, tem como objeto de estudo o termo, também denominado unidade terminológica. O termo pode ser definido, segundo Barros (2004, p.39), como: “uma unidade lexical [palavra] com um conteúdo específico dentro de um domínio específico”. E um conjunto de termos de uma área especializada forma uma terminologia. Atualmente, as pesquisas na área da Linguística são baseadas em córpus, que é entendido como: um conjunto de dados linguísticos, sistematizados segundo determinados critérios, representativos da totalidade do uso linguístico ou de algum de seus âmbitos, que possam ser processados por computador, com a finalidade de propiciar resultados para a descrição e análise linguística (BERBER SARDINHA, 2004). Barros (2004, p. 9) explica que “o trabalho de análise do córpus consiste, fundamentalmente, na recolha das unidades terminológicas [...] e no levantamento dos dados relativos a elas”. Como esta pesquisa é relativa à terminologia do campo do patrimônio cultural, é de grande relevância defini-lo. O patrimônio cultural diz respeito a um conjunto de bens, materiais e imateriais, de fundamental importância para a memória, a identidade e a riqueza das culturas. Dias (2006, p.67-68) o define como: [...] um conjunto de bens materiais [e imateriais], que foram legados pelos nossos antepassados e que, em uma perspectiva de sustentabilidade, deverão ser transmitidos aos nossos descendentes, acrescidos de nossos conteúdos e de novos significados, os quais, provavelmente, deverão sofrer novas interpretações de acordo com novas realidades socioculturais.

O patrimônio cultural divide-se em material (tangível) ou imaterial (intangível). Segundo Dias, (2006, p. 68), o material “está constituído por: construções antigas, ferramentas, objetos pessoais, vestimentas, museus, cidades históricas, patrimônio arqueológico e paleontológico, jardins, edifícios militares e religiosos, cerâmicas, estruturas, documentos, documentos, instrumentos musicais e outros objetos que representam a capacidade de adaptação do ser humano ao seu meio ambiente e forma de organização da vida social, política e cultural”; já o imaterial “é formado por todos aqueles conhecimentos transmitidos, como as tradições orais, a língua, a música, as danças, o teatro, os costumes, as festas, as crenças, os conhecimentos, os ofícios e técnicas antigas, a medicina tradicional, a herança histórica, entre outros”. O patrimônio cultural tem sido cada vez mais valorizado pelas sociedades, não só pelo seu valor

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social e histórico, mas também pelo seu valor turístico. Dessa forma, o turismo e a gestão do patrimônio cultural estão em relação de interdependência, beneficiando-se mutuamente. Por essa razão, o estudo da terminologia do turismo, para ser completo, deve contemplar os termos referentes ao patrimônio cultural. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da metodologia apresentada, que consiste fundamentalmente no levantamento dos termos contidos em um córpus de cartas patrimoniais por meio do programa de análise lexical WordSmith Tools 6.0, espera-se, ao final desta pesquisa, identificar a terminologia contida nas cartas patrimoniais e utilizada no domínio do patrimônio cultural. A partir desse levantamento, será realizada a busca dos equivalentes em inglês e espanhol. REFERÊNCIAS BARROS, L. A. Curso básico de terminologia. São Paulo: Edusp, 2004. BERBER SARDINHA, T. Linguística de Corpus. Barueri: Manole, 2004. DIAS, R. Turismo e patrimônio cultural: recursos que acompanham o crescimento das cidades. São Paulo: Saraiva, 2006. RENNO, C. Cartas Patrimoniais. Disponível em: https://carolinerenno.com/2015/04/17/cartaspatrimoniais/. Acesso em: 25. jul. 2017. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Introdução ao Turismo. São Paulo: Roca, 2001. IGNARRA, R. Fundamentos do turismo. São Paulo: Pioneira Thomson Learning Ltda., 2003.

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TERMINOLOGIA DO TURISMO: HOTELARIA E MEIOS DE HOSPEDAGEM1 AFONSO, Dara Cleaver2 DELVIZIO, Ivanir Azevedo3 DIAS, Camila da Silva4 GONÇALVES, Luciana Ferreira5 Universidade Estadual Paulista - UNESP Campus de Rosana daracleaver@hotmail.com, ivanir@rosana.unesp.br, camilaadias@outlook.com, luciana_gferreira@yahoo.com.br 1

Trabalho referente a três projetos de iniciação científica vinculados a projeto regular financiado pela Fapesp (Processo 2017/012464). Graduanda do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Doutora em Estudos Linguísticos, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 4 Graduanda do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 5 Graduanda do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2 3

RESUMO - Este trabalho se refere a um estudo terminológico realizado no domínio do turismo, abordando especificamente a área de hotelaria, em uma abordagem trilíngue Português-Inglês-Espanhol, para a formação de um produto que será de extrema relevância para o bacharel em turismo. O projeto em questão tem como objeto de estudo os termos referentes à área de hotelaria e de meios de hospedagem. Como o projeto está em fase inicial, serão apresentados a metodologia de trabalho e os fundamentos teóricos básicos que alicerçam a pesquisa. Como resultado, pretende-se realizar o levantamento, a organização e a definição dos termos e, posteriormente, a identificação dos equivalentes em inglês e espanhol. Palavras-chave: Terminologia. Turismo. Hotelaria. Meios de hospedagens.

1. INTRODUÇÃO A competência linguística do profissional do Turismo passa obrigatoriamente pelo domínio da terminologia técnica utilizada em sua área de atuação. Além da terminologia em sua língua materna, também é necessário que os profissionais conheçam os termos equivalentes usados em línguas de grande projeção mundial. Diante disso, o estudo, a organização e a definição dos termos usados na área do Turismo e a identificação dos termos equivalentes em línguas estrangeiras tornam-se importantes no sentido de contribuir para a comunicação e o intercâmbio de informações em âmbito profissional, científico, nacional e internacional. Nesse contexto, desenvolve-se um projeto de pesquisa regular, financiado pela Fapesp (Processo: 2017/012464), que tem como objeto de estudo a terminologia utilizada no domínio do Turismo, em

uma abordagem trilíngue (Português-Inglês-Espanhol). Como o turismo é um domínio muito amplo, envolvendo várias áreas do conhecimento e diversos setores de serviços (agências, meios de hospedagem, alimentação, transporte, atividades recreativas e esportivas, lazer etc.), a pesquisa é desenvolvida por meio de subprojetos que têm como objeto de estudo conjuntos terminológicos de determinados subcampos do Turismo. Sob a orientação da coordenadora do projeto, os alunos desenvolvem projetos de iniciação científica (IC), ficando responsáveis por um subconjunto de termos. Esse subconjunto de termos pode ser estudado desde uma perspectiva monolíngue (levantamento, sistematização, definição) ou bilíngue (identificação de equivalentes), trabalhando com um dos dois pares de línguas contemplados pela pesquisa, Português e Inglês ou Português e Espanhol. Nesta proposta, o subconjunto terminológico a ser estudado refere-se, especificamente, à área de

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hotelaria (2 projetos) e de meios de hospedagem (1 projeto), que são campos fundamentais do turismo. A área da hotelaria contempla uma parte significativa da terminologia do turismo. Sendo assim, considerando uma pesquisa de IC com duração de um ano, o conjunto de termos da hotelaria é dividido em subconjuntos, limitados a 30 termos cada, que é a média de termos atribuída aos alunos de IC vinculados ao projeto de pesquisa regular. No caso do projeto referente aos meios de hospedagem, os termos já foram definidos e os equivalentes em espanhol identificados, e esta etapa refere-se à busca dos equivalentes em inglês. Como os projetos ainda estão em fase inicial, serão apresentados, neste trabalho, a metodologia utilizada pela equipe para o levantamento e a definição dos termos e a identificação dos equivalentes e, em sequência, os fundamentos teóricos básicos que alicerçam a pesquisa. 1.1 Metodologia A pesquisa é de natureza descritiva. Em relação aos pressupostos teóricos, são considerados os preceitos da Teoria Comunicativa da Terminologia (CABRÉ, 1993), que serão explicados na fundamentação teórica. Quanto aos procedimentos metodológicos, alinha-se às propostas de Barros (2004) e de Krieger e Finatto (2004), prevendo as etapas que serão descritas a seguir e ilustradas pela figura 1. Primeiramente, é selecionado um córpus de análise, ou seja, um conjunto de textos de onde são extraídos termos, contextos e definições. Como fonte complementar, são utilizados dicionários e glossários de turismo. Esses dados são registrados em fichas terminológicas. Os contextos e definições são lidos e analisados e deles são extraídos os traços que descrevem o conceito (características). Com base na organização das características recorrentes identificadas, é elaborada a definição, partindo-se de um modelo previamente elaborado. Para a busca dos equivalentes, é criado um córpus comparável, de mesma natureza e proporção, com textos originalmente escritos em Espanhol ou Inglês. Além disso, também são utilizados dicionários e glossários nessas línguas. Os dados coletados do córpus também são inseridos nas fichas, são identificadas as características do termo e, com base nelas, é proposta uma definição:

PORTUGUÊS Termo: Variantes: Campo:

bed and breakfast café com cama, B&B meios de hospedagem Café com cama (bed & breakfast): é a versão brasileira do bed & breakfast, abreviada por B&B, onde as pessoas recebem hóspedes em suas casas e incluem, além da acomodação em um quarto, o café da manhã. [...]. Ademais, os B&B podem ser dos mais variados tipos, incluindo fazendas, casas urbanas ou mansões de campo, dependendo exclusivamente de onde more o proprietário do estabelecimento. (PANOSSO NETTO; LOHMANN, 2012, p. 411) Cama e Café Hospedagem em residência com no máximo três unidades habitacionais para uso turístico, com serviços de café da manhã e limpeza, na qual o possuidor do estabelecimento resida. Para o tipo CAMA & CAFÉ, o SBClass estabelece as categorias de uma estrela (mínimo) a quatro estrelas (máximo). (SBClass).

Definição Proposta:

bed & breakfast [M.H.] s.m. meio de hospedagem que oferece alojamento, café da manhã e serviço de limpeza em residência familiar, podendo receber de uma a quatro estrelas segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem. Var.: cama e café; B&B. ESPANHOL Termo: bed & breakfast Variantes: b&b Definições/ bed and breakfast, b&b (ALOJ/RESTAUR habitación Contextos: con desayuno Δ Take lodgings at a bed-and-breakfast for three nights; fórmula de alojamiento típica de Gran Bretaña; el alojamiento suele ser en pensiones […] o casas particulars. (ALCARAZ VARÓ et. al., 2006, p. 52). INGLÊS Termo bed & breakfast Variantes: b&b Bed and breakfast noun TOURISM [U] the servisse Definições/ of providing a room for the night and a meal the next Contextos morning: The price is £30 for bed and breakfast. a. [C] a small hotel or private house that provides this service: We found a nice little bed and breakfast in the centre of town. (MACMILLAN ENGLISH DICTIONARY Traços semânticos (características): 1. Acomodação em um quarto, o café da manhã 2. Pessoas recebem hóspedes em sua casa 3. Fazendas, casas urbanas ou mansões de campo 4. 1. Café da manhã e limpeza 2. Hospedagem em residência [...] na qual o possuidor do estabelecimento resida 3. 4. De uma (mínimo) a quatro estrelas (máximo) Definição proposta: bed & breakfast [M.H.] s.m. meio de hospedagem que oferece alojamento, café da manhã e serviço de limpeza em residência familiar, podendo receber de uma a quatro estrelas segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem. Var.: cama e café; B&B.

Figura 1 – Ficha terminológica Fonte: As autoras (2017) ;

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A Terminologia é uma disciplina científica que estuda e organiza metodicamente os conjuntos de palavras que designam conceitos de um determinado campo do saber, os termos, que podem ser definidos como a “designação, por meio de uma unidade linguística, de uma noção definida em uma língua de especialidade” (ISO, 1990, p. 5). A palavra terminologia também pode designar o próprio “conjunto de termos específicos de uma área científica e/ou técnica” (KRIEGER; FINATTO, 2004, p. 16). Além da dimensão teórica, possui também uma dimensão aplicada, denominada Terminografia, que diz respeito à prática de elaboração de vocabulários técnicos, científicos e especializados (BARROS, 2004, p. 68). O quadro teórico mais usado nas pesquisas atuais é a Teoria Comunicativa da Terminologia, proposta por Cabré (1993). Nesse modelo, em substituição à abordagem prescritiva, propõe-se a abordagem descritiva. Os termos são vistos como unidades que possuem as mesmas propriedades de qualquer palavra da língua, sendo concebível, portanto, a existência de variações, sinônimos, polissemia etc. Nesse modelo, o termo é estudado por meio dos textos especializados, considerando seu contexto de uso. Nesse sentido, as pesquisas terminológicas atuais, em geral, são baseadas em córpus, ou seja, conjunto de textos reais que permitem observar como o termo é utilizado de fato. Do córpus, são extraídos os termos a serem estudados e todas a informações referentes a eles, como definições e contextos. Ao se realizar uma pesquisa terminológica, um dos primeiros passos consiste no estudo do domínio especializado em que estão inseridos os termos a serem estudados, que, no caso desta pesquisa, referem-se à hotelaria e aos meios de hospedagem, conceitos que devem ser compreendidos. A hotelaria é considerada um componente da atividade turística, sendo um setor de serviços que tem como objetivo principal ofertar hospedagem, alimentação, segurança, recreação e lazer, e outros serviços ligados à hospitalidade e sua característica fundamental é a qualidade no atendimento (FEIJÓ, 2002). O termo meios de hospedagem refere-se, especificamente, a uma edificação que exerce o comércio da recepção e do alojamento dos turistas e visitantes em geral. Segundo o art. 23 da Lei 11.771/08, são estabelecimentos destinados a prestar serviços de alojamento temporário, e de uso exclusivo do hóspede. Podem ser divididos em sete grandes categorias: hotel, resort, hotel fazenda, cama e café, hotel histórico, pousada e flat/apart-hotel (BRASIL, 2008). Além

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desses, também há os meios de hospedagem parahoteleiros, tais como albergues, campings, hostels etc. Os meios de hospedagem são um dos fatores mais importantes para a existência do turismo, e a evolução na prestação dos serviços desse setor se apresenta como peça fundamental onde o turismo se desenvolve. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por serem a hotelaria e os meios de hospedagem um dos componentes essenciais da atividade turística, por meio da metodologia aqui descrita, pretende-se, como resultado, realizar o levantamento, a organização e a definição dos termos desses domínios e buscar seus equivalentes em inglês e espanhol, para, assim, obter a formação de um futuro produto que auxiliará o profissional na área que está sendo abordada neste estudo.

REFERÊNCIAS BARROS, L. A. Curso básico de Terminologia. São Paulo: Edusp, 2004. BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato20072010/2008/lei/l11771.htm>. Acesso em: 12 mai. 2016. CABRÉ, M. T. La terminología: teoría, metodología, aplicaciones. Barcelona: Antártida; Empúries, 1993. FEIJÓ, F. Curso técnico em hotelaria: marketing hoteleiro. 2002. Disponível em: <https://pt.scribd.com/ document/155187275/mkt-hotelaria>. Acesso em: 31 ago. 2017. ISO. Norme Internationale 1087: Terminologie – Vocabulaire. Genebra: ISO, 1990. KRIEGER, M. da G.; FINATTO, M. J. B. Introdução à terminologia: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2004.

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DICIONÁRIO DE TURISMO: PROPOSTA DE MODELO DE DEFINIÇÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO¹ DELVIZIO, Ivanir Azevedo2 PEREIRA, Beatriz Sousa3 Universidade Estadual Paulista - UNESP Câmpus de Rosana ivanir@rosana.unesp.br, bia-sousa2012@hotmail.com. 1

Projeto de Iniciação Científica financiado pela Fapesp (Processo:2017/00712-1) e vinculado a projeto de pesquisa regular (Processo: 2017/01243-4) Doutorado em Linguística, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo.

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RESUMO- A cada dia surgem novos segmentos do turismo, uma atividade que possui um papel essencial para a economia de vários países e, cada vez mais, seu potencial de crescimento aumenta. Entre os segmentos, há aqueles que se utilizam de áreas naturais, como o ecoturismo, o turismo de aventura e o turismo rural. Algumas unidades de conservação são áreas de relevante interesse turístico por promoverem a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico. Com esse projeto, tem-se o objetivo de estudar a terminologia do turismo com foco nas unidades de conservação, propondo um modelo de definição. Como o projeto está em desenvolvimento, neste trabalho serão apresentados os conceitos de Terminologia e Terminografia, ciências que oferecem os fundamentos para a elaboração de dicionários especializados, e os procedimentos metodológicos para elaborar a definição dos termos que se referem às unidades de conservação. Palavras-chave: Terminologia; Turismo; Unidades de Conservação; Dicionário. 1. INTRODUÇÃO A atividade turística tem um importante papel na economia de vários países e destaca-se como grande geradora de divisas e empregos, tendo um grande potencial a ser desenvolvido. O turismo movimenta diferentes setores da economia, como transportes, agências de viagens, meios de hospedagem, serviços de alimentação, eventos, lazer e entretenimento e outros, que lhe estão direta ou indiretamente relacionados. Além disso, a cada dia, surgem novos segmentos e outros se consolidam, tais como: ecoturismo, turismo de aventura, turismo rural, turismo náutico, turismo de sol e praia, turismo de pesca, turismo de esporte, entre outros. Uma proposta de estudo da terminologia do turismo, portanto, deve contemplar os termos de todos esses setores e segmentos. Diante desse cenário, como forma de contribuir para um projeto que tem como objeto de estudo a terminologia do turismo (Processo Fapesp: 2017/012434), foi proposta esta pesquisa de iniciação científica, também financiada pela Fapesp (Processo: 2017/01243-4), que tem como objetivo específico realizar o levantamento e a definição dos

termos que designam as unidades de conservação, propondo um modelo de definição. As unidades de conservação são espaços territoriais que foram instituídos legalmente pelo Poder Público com fins de preservação, sendo divididas em dois grupos: unidades de proteção integral e unidades de uso sustentável. Além da questão da preservação, também é um objetivo legal favorecer e promover "a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico” (BRASIL, 2000, s.p.). Sendo assim, as unidades de conservação são objetos de relevante interesse turístico e, como tais, é importante que sejam contempladas e definidas em um dicionário de turismo, justificando a pesquisa proposta. Como se trata de um projeto em desenvolvimento, neste trabalho, será oferecida uma breve descrição da metodologia utilizada para o levantamento e a definição dos termos e, em seguida, serão apresentados os conceitos de Terminologia e Terminografia, ciências que oferecem os subsídios teóricos e metodológicos para a elaboração de dicionários especializados, e o conceito de Unidade de Conservação.

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1.1 Metodologia Trata-se de uma pesquisa na área da Linguística Aplicada, com abordagem descritiva, que tem como modelo teórico a Teoria Comunicativa da Terminologia (CABRÉ, 1993), cujos princípios básicos são delineados na fundamentação teórica. Para a realização da pesquisa, já foram cumpridas as seguintes etapas: aprofundamento da revisão teórica; criação do córpus e seleção dos termos. Para a criação do córpus, foram selecionados 15 textos especializados sobre unidades de conservação, redigidos em português, englobando leis, decretos, publicações de órgãos governamentais, livros, artigos e monografias. A partir da análise do córpus, foram selecionados os termos a serem estudados, organizados abaixo de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL, 2000), permitindo visualizar as relações hierárquicas mantidas entre eles. 1. unidade de conservação 1.1 unidade de conservação de proteção integral 1.1.1 estação ecológica 1.1.2. monumento natural 1.1.3. parque nacional 1.1.4. refúgio de vida silvestre 1.1.5. reserva biológica 1.2 unidade de conservação de uso sustentável 1.2.1. área de proteção ambiental 1.2.2. área de relevante interesse ecológico 1.2.3. floresta nacional 1.2.4. reserva de desenvolvimento sustentável 1.2.5. reserva de fauna 1.2.6. reserva extrativista 1.6.7. reserva particular do patrimônio natural

A etapa atual da pesquisa se refere ao preenchimento das fichas terminológicas, nas quais estão sendo registrados os termos, as variantes, o campo temático e os contextos.

Termo Variantes Campo Definição/ Contexto 1

unidade de conservação de proteção integral área protegida < unidade de conservação Unidades de conservação de proteção integral visam preservar a natureza em áreas com pouca ou nenhuma ação humana, onde não se permite a utilização direta de recursos naturais. São subdivididas em 5 categorias: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre (WWFBRASIL, 2008, p. 9).

Definição/ Contexto 2

Definição/ Contexto 3

Definição/ Contexto 4

Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –SNUC, estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: VI - proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais (BRASIL, 2006, p. 8). Art. 7o As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos, com características específicas: § 1o O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei (BRASIL, 2006, p. 13). Até que seja elaborado o Plano de Manejo, todas as atividades e obras desenvolvidas nas unidades de conservação de proteção integral devem se limitar àquelas destinadas a garantir a integridade dos recursos que a unidade objetiva proteger, assegurando-se às populações tradicionais porventura residentes na área as condições e os meios necessários para a satisfação de suas necessidades materiais, sociais e culturais (BRASIL, 2006, p. 23).

Quadro 1 – Ficha terminológica Fonte: As autoras (2017) A partir da leitura dos contextos, serão identificados os traços semânticos (características) que descrevem o conceito em análise.

Unidade de conservação de proteção integral 1. Área com pouca ou nenhuma ação humana. 2. Não se permite o uso direto dos recursos naturais. 3. Com cinco categorias. 1. Livre de interferência humana. 2. Admite apenas uso indireto dos recursos. 1. 2. Admite apenas uso indireto dos recursos. 3. 4. Objetivo de preservar a natureza. 1. 2. 3. 4. Garantir a integridade dos recursos. 5. Assegurar as necessidades das populações tradicionais.

Quadro 2 – Traços semânticos Fonte: As autoras (2017)

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Por fim, com base nos traços identificados, serão elaboradas as definições dos termos selecionados, que serão submetidas ao crivo de um especialista da área. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA As unidades de conservação foram estabelecidas com a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), pela Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Nessa lei, as unidades de conservação são definidas como: “espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção da lei” (BRASIL, 2000, s.p.). Além de proteção, a legislação prevê o uso sustentável dos recursos naturais desses espaços, propiciando às comunidades do entorno o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis. Sendo assim, as unidades de conservação são passíveis de usufruto pelas populações, podendo ser usadas com fins de recreação, educação, turismo, pesquisa e subsistência de famílias tradicionais. Como o trabalho visa à elaboração de um dicionário, não poderia faltar um aprofundamento sobre Terminologia e Terminografia, que oferecem a base teórica e metodológica para a elaboração das definições dos termos selecionados. A Terminologia é a disciplina científica que estuda os termos. O termo é uma unidade linguística (palavra) que designa um conceito próprio de um determinado campo das ciências, da tecnologia, das artes etc. (BARROS, 2004). A Terminologia, além de possuir uma dimensão teórica, sendo concebida como uma disciplina científica que investiga e estuda os termos de uma área de especialidade, também possui uma dimensão aplicada, denominada Terminografia, que aplica os conhecimentos teóricos na elaboração de vocabulários técnicos, científicos e especializados. O modelo teórico atualmente mais utilizado no desenvolvimento de pesquisas terminológicas é a Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT), elaborada pela pesquisadora espanhola Maria Teresa Cabré (1993), segundo a qual, os termos devem ser estudados dentro de seu contexto real de uso, ou seja, dentro dos textos especializados. Também considera todos os fenômenos inerentes à linguagem, como variação, sinonímia, polissemia, discurso etc. Em vista disso, as pesquisas terminológicas são baseadas em

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córpus, ou seja, um conjunto de textos sobre determinada área de especialidade, criteriosamente selecionado, passível de ser analisado por programas computacionais e de onde são extraídos os termos, as variantes, os sinônimos, as diferentes acepções e os contextos que servirão de base para a redação das definições. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da revisão de literatura, da análise do córpus e de consulta a especialista, foram selecionados e organizados os termos a serem definidos. Na próxima etapa, será dada continuidade à pesquisa por meio da coleta de informações sobre os conceitos estudados, será proposto um modelo de definição e as definições serão redigidas. Espera-se, assim, contribuir para a elaboração do Dicionário de Turismo, compondo o campo temático das unidades de conservação. REFERÊNCIAS BARROS, L. A. Curso básico de terminologia. São Paulo: Edusp, 2004. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm>. Acesso em: 15 out 2016. CABRÉ, M. T. La terminología: teoría, metodología, aplicaciones. Barcelona: Antártida; Empúries,

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