Anais da VIII Mostra Científica de Turismo

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ANAIS DA VIII MOSTRA CIENTÍFICA DE TURISMO

TEMAS EMERGENTES NA ATIVIDADE TURÍSTICA

ORGANIZADORES DOS ANAIS: Ivanir Azevedo Delvizio Leonardo Giovane Moreira Gonçalves

REALIZAÇÃO:

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COMISSÃO ORGANIZADORA Prof. Dr. Francisco Barbosa Nascimento Filho (Presidente da Comissão Organizadora) Profa. Dra. Savanna Rosa Ramos Prof. Dr. Vagner Sérgio Custódio

COMISSÃO CIENTÍFICA Profa. Dra. Ivanir Azevedo Delvizio (Presidente da Comissão Científica) Prof. Eduardo Romero de Oliveira (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Fábio Luciano Violin (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Fernando Protti Bueno (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Francisco Barbosa Nascimento Filho (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Guilherme Henrique Barros de Souza (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Juliana Maria Vaz Pimentel (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Renata Maria Ribeiro (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Roberson da Rocha Buscioli (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Rosângela Custodio Cortez Thomaz (UNESP - Câmpus de Rosana) Profa. Savanna Rosa Ramos (UNESP - Câmpus de Rosana) Prof. Vagner Sérgio Custódio (UNESP - Câmpus de Rosana)

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APRESENTAÇÃO É com grande satisfação que apresentamos os Anais da VIII Mostra Científica de Turismo, realizada em conjunto com a XI Semana Acadêmica de Turismo, eventos promovidos pelo Curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus Experimental de Rosana, de 22 a 25 de outubro de 2019, tendo como temática central “Temas Emergentes na Atividade Turística”.

A VIII Mostra Científica de Turismo foi realizada nos dias 22, 23 e 24 de outubro de 2018, com apresentação de trabalhos inseridos em quatro eixos temáticos, organizados em três grupos de trabalho (GTs): 1. Turismo e Cultura / Outros Temas do Turismo, mediado pela Profa. Rosângela Custodio Cortez Thomaz; 2. Turismo, Marketing e Serviços, mediado pelo Prof. Fábio Luciano Violin, e 3. Turismo, Planejamento e Políticas Públicas, mediado pela Profa. Dra. Savanna Rosa Ramos.

Os trabalhos apresentados estão organizados de acordo com o eixo temático em que se inseriram, dividindo-se em duas categorias: artigos completos e resumos expandidos.

Agradecemos a todos que colaboraram para o sucesso da VIII Mostra Científica de Turismo e esperamos que esta publicação contribua para o desenvolvimento dos estudos na área do Turismo.

Rosana, 20 de dezembro de 2019.

Ivanir Azevedo Delvizio Presidente da Comissão Científica

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SUMÁRIO ARTIGOS COMPLETOS Turismo e Cultura Afinal, o que é Museu? Reflexões Introdutórias sobre a Nova Museologia, Museologia Social e o Museu do Assentado .............................................................................................................. 8 GONÇALVES, Leonardo Giovane Moreira.

A Valorização do Patrimônio Histórico por Meio da Educação Patrimonial: O Caso do Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura (SP) .......................................................... 27 SANTOS, Letícia Cassiano; PIMENTEL, Juliana Maria Vaz.

Patrimônio Imaterial Maracatu Nação e sua Contribuição para o Turismo Étnico Afro na Noite dos Tambores Silenciosos em Recife (PE) .................................................................... 38 PESSOA, Ismael Muniz; PIMENTEL, Juliana Maria Vaz.

Turismo, Marketing e Serviços Economia Compartilhada em Meios de Hospedagem Contraposta ao Modelo Tradicional de Negócios Hoteleiros ................................................................................................... 57 SILVA, Ariel de Carvalho; VIOLIN, Fábio Luciano.

Mapeamento da Oferta Turística, Perfil do Visitante e Motivação de Consumo do Cemitério da Consolação de São Paulo/SP ..................................................................................... 68 NASCIMENTO, Renan Arantes; VIOLIN, Fábio Luciano.

Turismo, Planejamento e Políticas Públicas Pesquisa de Demanda: O Caso do Balneário Municipal de Rosana-SP ............................. 87 INÁCIO, Renan Ricardo Galdino; SOUZA, Mariana Batista da silva; NASCIMENTO FILHO, Francisco Barbosa do.

O Parque do Povo como Espaço Público Indutor de Infraestrutura para o Turismo 109 POSO, Pablo Henrique; SANTOS, Victor Hernandes Alves dos; RIBEIRO, Renata Maria.

O Tombamento da Estação Júlio Prestes como Elemento Motivador para a Visitação Turística...................................................................................................................................................... 124 DEUS, Júlia Moreira de; OLIVEIRA, Eduardo Romero de. ;

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RESUMOS EXPANDIDOS Turismo e Cultura Objetos da Memória: A Bandeira do MST e sua Significação no Acervo do Museu do Assentado ................................................................................................................................................... 136 SILVA, Giovanna Isabele Pereira; GONÇALVES, Leonardo Giovane Moreira; THOMAZ, Rosângela Custodio Cortez.

Objetos da Memória: O Ferro à Brasa e sua Significação no Acervo do Museu do Assentado ................................................................................................................................................... 142 LOPES, Giuliane Rodrigues; GONÇALVES, Leonardo Giovane Moreira; THOMAZ, Rosângela Custodio Cortez.

Turismo, Marketing e Serviços Um Estudo Comparativo do Posicionamento dos Hotéis no Rio de Janeiro e São Paulo – SP ............................................................................................................................................................... 149 BARBIERO, Murilo; NASCIMENTO FILHO, Francisco Barbosa do.

Turismo, Planejamento e Políticas Públicas Observatório Turístico Intermunicipal - Análise Parcial do Evento “Campeonato de Jet Ski” no Balneário de Rosana.............................................................................................................. 153 LOPES, Giuliane Rodrigues; MARTINS, Gabriely Silva; THOMAZ, Rosângela Custódio Cortez.

Políticas Públicas de Turismo: Apontamentos Legais sobre o Programa de Regionalização de Turismo no Estado de São Paulo ................................................................ 158 FLORIANO, Camila de Jesus Assunção; RIBEIRO, Renata Maria.

Outros temas relacionados ao Turismo Efetividade das Redes Sociais do PET Turismo como Canal de Comunicação ............ 163 ANDRE, Amanda Otilia; GALENO, Beatriz Gomes Pinheiro; VIOLIN, Fábio Luciano.

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ARTIGOS COMPLETOS ;

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AFINAL, O QUE É MUSEU? REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE A NOVA MUSEOLOGIA, MUSEOLOGIA SOCIAL E O MUSEU DO ASSENTADO1 GONÇALVES, LEONARDO GIOVANE MOREIRA2

leonardo.giovane@unesp.br 1

Artigo Científico vinculado a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo- FAPESP, processo 19/18045-7. Mestrando no Programa de Pós-graduação Interunidades em Museologia (PPGMus), Universidade de São Paulo (USP); Bacharel em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de Rosana/SP; Pesquisador vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Turismo no Espaço Rural (GEPTER). 2

RESUMO – Há certos conceitos que estão tão engendrados em nossos imaginários que, muitas vezes, não nos esforçamos em questioná-los e, por não gerar essas reflexões, continuamos difundindo narrativas coloniais. Embasado nessas premissas, o objetivo deste artigo científico foi realizar uma discussão inicial sobre os conceitos de museologia, nova museologia e museologia social e suas aplicações no Museu do Assentado. Além disso, buscou-se entender os conceitos de museu, patrimônio cultural e memória para os assentados e de que modo os processos museológicos deflagrados dialogam com os conceitos de museus tradicionais. Desse modo, com o intuito de lograr os objetivos, utilizou-se de uma pesquisa bibliográfica exploratória, relatos orais e da experiência empírica do pesquisador a fim de aprofundar as discussões sobre os eixos verticais e horizontais propostos. Por meio dessa metodologia, tornou-se possível observar o distanciamento das práticas museológicas realizadas nos assentamentos do município de Rosana/SP com o conceito de museus tradicionais. Também se observou, ainda que inicialmente, o alargamento das noções de patrimônio dos assentados participantes do projeto: O Museu do Assentado. Palavras-chave: Nova Museologia; Museologia Social; Museu Comunitário; Museu do Assentado ABSTRACT - There are certain concepts that are engendered in our imaginaries that we often do not strive to question them and because they do not generate these reflections, we continue to disseminate colonial narratives. Based on these assumptions, the objective of this scientific article was to address an initial discussion about the concepts of museology, new museology and social museology and its applications in the Museu do Assentado (Museum of the Settler). In addition, this article aimed to understand the concepts of museum, cultural heritage and memory for the settlers and how the museological processes deflagrated dialogue with the concepts of traditional museums. In order to achieve the objectives, an exploratory bibliographic research, oral reports and the researcher's empirical experience were used in order to deepen the discussions on the proposed vertical and horizontal axes. Through this methodology, it was possible to observe the distance of the museological practices carried out in the settlements of the municipality of Rosana/SP with the concept of traditional museums. In addition to other questions, it was observed, although initially, the enlargement of the notions of heritage of the settlers participating in the project: The Museum of the Settler. Key words: New Museology; Social Museology; Community Museum; Museum of the Settler.

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1. INTRODUÇÃO A atividade turística depende, e sempre dependerá, de inúmeros outros campos para nutrir suas práxis e epistemologias. A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são necessárias para discussão e promoção de experiências significativas e eficientes no cosmo turístico. Outro aspecto muitas vezes ignorado pelas corporações é a análise do ambiente externo, uma vez que o campo epistemológico se desenvolve com a interação com o meio e ignorar as alterações deste, novas tendências, crises e desafios, é marchar rumo a um destino dúbio. Além do turismo, outros campos de estudos também requerem reflexões interdisciplinares para nutrir suas problemáticas e premências. Enquanto indivíduos, durante nosso processo de formação social, profissional e cultural, também necessitamos das mais diversas interações. Embasado nessas premissas, insiro uma das necessidades que observei nos estudos sobre o patrimônio material e imaterial do Museu do Assentado durante os quatro anos de minha graduação, que me motivaram a refletir sobre esses temas no Programa de Pós-graduação Interunidades em Museologia, no Museu de Arqueologia e Etnologia- MAE na Universidade de São Paulo-USP. Ao estudar sobre o Museu do Assentado, observei que o que minhas concepções de museus e o que a bibliografia apresentavam divergia do que se podia observar em nossos estudos do Grupo de Estudos e Pesquisas em Turismo no Espaço Rural (GEPTER). Segundo o estatuto do Conselho Internacional de Museus- ICOM (2007, grifo nosso), o conceito de museu aprovado na 22ª Assembleia General em Viena (Áustria), em 24 de agosto de 2007 poderia ser entendido como: [...] uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o patrimônio material e imaterial da humanidade e seu meio ambiente com fins de estudo, educação e prazer.

Ao refletir sobre o conceito supracitado, inúmeros questionamentos emergiam: todos os museus necessitam ser permanentes? Se os museus são sem fins lucrativos, como essas instituições se mantêm? Se as instituições necessitam ser abertas ao público, como gerir um museu comunitário em um território onde as famílias têm jornadas agrícolas, pecuaristas e domésticas? Segundo o ICOM, as funções do espaço museal se restringem somente ao “estudo, educação e prazer”, mas e a salvaguarda, empoderamento comunitário, senso de comunidade, ressignificação do espaço e a articulação política? Essas e outras perguntas fazem parte das reflexões iniciais que se objetiva explicitar neste artigo a fim de entender os conceitos de museu e museologia e como esses conceitos universais poderiam ser entendidos pela ótica do Museu do Assentado. Ressalta-se que essas discussões são iniciais devido ao fato de os estudos sobre as noções de museu, patrimônio e cultura serem temas propostos para discussão durante o PPGMus-USP e interações com a comunidade serão realizadas durante esse percurso. 1.1 Metodologia

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Com o intuito de lograr os objetivos estabelecidos, o presente artigo apresenta uma pesquisa bibliográfica e documental exploratória em livros, artigos, documentos, cartas, leis e sites que discursam sobre os temas da nova museologia, museologia social, museus comunitários e processos colaborativos. Além disso, as experiências empíricas do pesquisador foram utilizadas de forma narrativa, com o intuito de refinar as discussões propostas. O pesquisador possui experiência com os grupos de assentados do município de Rosana/SP, seja pelas atividades realizadas pelo GEPTER desde 2014 ou pelas iniciações científicas financiadas pelo Pibic/CNPq (2015/2016) e FAPESP (2017/2018), que tiveram como objetivo o inventário do patrimônio material e imaterial dos assentamentos de reforma agrária do município por meio das memórias dos assentados (GONÇALVES, 2018). Com o intuito de ilustrar e embasar as questões teóricas, utilizou-se das transcrições de alguns dos relatos orais dos assentados entrevistados durante o processo de inventariação e, além disso, utilizou-se fotografias pertencentes ao acervo do museu. Os trechos mencionados foram transcritos na íntegra e se faz o uso dos nomes reais dos entrevistados, pois a individualidade lhes confere identidade e possuímos documentos de consentimento de uso de entrevista e nome. Por fim, utilizou-se a transcrição de uma entrevista cedida por Helena Pino à Assessoria de Imprensa do Município de Interesse Turístico de Rosana/SP, durante a realização do Colóquio dos saberes, fazeres e dizeres do campo, em setembro de 2018, na Universidade Estadual PaulistaUNESP, Câmpus de Rosana/SP. 2. O CONCEITO DE MUSEU No campo da museologia, os conceitos de museu ainda não se encontram bem definidos, devido a inúmeros fatores que discursarei. Contudo, quando se aborda outras áreas do conhecimento, como o turismo, por exemplo, evidencia-se que esse conceito está engendrado no senso comum dos pesquisadores, uma vez que quando se analisa os pacotes turísticos, espaços museais, teatros, oficinas, centros culturais e outros loci que estão relacionadas a práticas culturais, ainda são direcionados a um nicho específico de mercado. Mas, afinal, o que podemos entender por museu? Para Vasconcellos (2006, p.17, grifo nosso) os museus podiam ser entendidos, no passado, como: “[...] espaços de armazenagem de objetos colecionados que serviam para evidenciar o poder político e social de seus detentores. Tal fato, também fora observado nos acervos pessoais de monarcas, príncipes, papas e outras pessoas de poder”. Essa concepção pode ser entendida, no passado, por meio dos Gabinetes de Curiosidade que guardavam particularidades de diversas localidades e conferiam status social aos colecionadores. Durante a história, o colecionismo de objetos sempre esteve relacionado ao poder, seja os espólios de guerras, joias reais, tesouros eclesiásticos ou as oferendas aos deuses (ALONSO FERNANDEZ, 2001, p. 45). Pomian (1985, p.79) dissertava que as coleções “para os membros do meio intelectual e artístico, são instrumentos de trabalho e símbolos de pertença social, para os detentores do poder, insígnias de sua superioridade e também instrumentos que lhes permitem exercer uma dominação neste meio”. ;

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Por meio dessas concepções iniciais, sendo as coleções algo exposto somente ao olhar dos privilegiados (POMIAN, 1985) e o colecionismo praticado outrora somente pelos detentores do poder (clérigos, imperadores, burgueses e monarcas), torna-se possível afirmar que os museus no passado poderiam ser compreendidos por três óticas, a priori: o acervo de maravilhas, público e gestores aristocratas. Poulot (2013, p. 23) afirma que “o museu de maravilhas requer obras fascinantes, obrasprimas famosas ou singularidades notáveis que são oferecidos à admiração ou ao espanto do espectador”, ou seja, nos museus de maravilhas não havia espaço para acervos indígenas, quilombolas ou de quaisquer outras peças que visassem à sensibilização dos diferentes grupos sociais sem a criação de uma figura caricata. O Brasil, sendo uma colônia de exploração europeia, seguiu os preceitos museológicos da metrópole. A instalação do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 1818, por Dom João VI, tinha como intuito a valorização das elites e a sustentação da implantação da corte no Brasil. O acesso ao museu era restrito aos civilizados, que seriam os “privilegiados” ou “dignos” de estar estudando e usufruindo do espaço museal, sendo esses os pesquisadores, membros da elite, corte, nobreza e pessoas permitidas pelo rei. A visitação de membros não reais estava restrita à sua “dignidade”, sendo julgados pelos seus conhecimentos e qualidades. Os grupos já “educados” e “civilizados” poderiam ter acesso às quintas-feiras segundo decreto real em 1821 (KOPTCKE, 2005, p.191). O Museu Paulista, criado em 1894, também foi constituído como um espaço que repercutiria narrativas coloniais, de superioridade social e racial, que visava mostrar o poder econômico de São Paulo e a emancipação do Brasil do reino de Portugal. Inicialmente instituído como um museu de história natural que deixava explícito no discurso naturalista de seu diretor, Hermann von Ihering, a segregação social e racial que seriam as bandeiras da instituição por muitos anos (SCHWARCZ, 2005, p. 133). Desse modo, os preceitos colonialistas europeus foram herdados nos museus brasileiros e esses discursos tradicionais persistem em algumas instituições até a atualidade. O conceito de museus como lugar de coisas velhas, espaço de obras-primas, espaço de status, templo e outras concepções ainda circundam o imaginário da grande massa (CHAGAS; GOUVEIA, 2014). Segundo Varine (1979, p.12): A partir de princípios do século XIX, o desenvolvimento dos museus no resto do mundo é um fenômeno puramente colonialista. Foram os países europeus que impuseram aos não europeus seu método de análise do fenômeno e patrimônio culturais; obrigaram as elites e os povos destes países a ver sua própria cultura com olhos europeus. Assim, os museus na maioria das nações são criações da etapa histórica colonialista.

As ciências nos últimos anos vêm se renovando e buscando compreender os anseios sociais. Tais transformações ocorreram também na museologia, a ressaltar os impactos do maio de 1968, quando um grupo de profissionais e estudantes insatisfeitos com o posicionamento burguês dos museus foram às ruas de Paris com o slogan “la Jaconde au métro” (a Gioconda ao metro) (DUARTE, 2013). Chagas e Gouveia (2014, p. 9) afirmam que os movimentos sociais de 1960, feministas, estudantis, negro e hippie, que manifestavam suas insatisfações contra os modelos paternalistas e segregadores, foram valorosos na produção de novos modos de vida e comportamentos. Ressalta-se, também, a 9º Conferência Geral do ICOM (1971), a Mesa Redonda de Santiago do Chile (1972) e a Declaração de Quebec (1984) como momentos transformadores das concepções ;

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do museu tradicional. A nova museologia nasce nesse contexto ao defender que as instituições museológicas devem se preocupar com a qualidade da interação entre o público e seu patrimônio, que os espaços museais devem ser contextualizados e devem ressignificar as memórias em torno dos objetos (SANTOS, 2017). Outras aspirações estão no seio de que os museus não sejam somente um espaço de guarda de objetos, mas deveriam se tornar um espaço “dinâmico, atuante e questionador” (FERREIRA, 2006, p.10). A sociedade vive o pleito da desconstrução e, segundo Maria Célia Teixeira Moura Santos (2008, p.81): Falar da Nova Museologia é falar de conflitos, contradições, de épocas marcadas por repressão e, ao mesmo tempo, por um acentuado processo criativo. Os anos 60 foram marcados pelo movimento artístico-cultural, que destaca o novo, com a participação da juventude, na recusa aos modelos estabelecidos [...].

Ao se recusar os modelos antigos, constrói-se o novo e se permite que as situações, pessoas e/ou objetos excluídos outrora sejam vistos e contextualizados. De acordo com Rivard (1984, p. 17), “a nova museologia é um movimento cuja ação surge do desejo de mudança de uma coletividade em sua organização social e em suas instituições”. Tais concepções puderam ser visualizadas na Declaração de Santiago (1972) ao evidenciar-se no debate sobre “Museus e desenvolvimento cultural no ambiente rural e o desenvolvimento da agricultura” que: Para desempenhar sua função de forma adequada no meio rural contemporâneo, o museu também deve afirmar-se como um fator de mudança social que, enquanto trabalha para garantir a dignidade do morador rural, contribui para o processo de conscientização social (NASCIMENTO JÚNIOR et al., 2012, p. 123).

Desse modo, os museus, no contexto da nova museologia, devem ser instituições a serviço da sociedade, além de ser instituições de integração, conscientização, educação, desenvolvimento e promoção do bem-estar social, espaços humanizados, democratizados e sociais (CHAGAS, 1998). Santos (2002) afirma que “a instituição museu não é um produto pronto, acabado. É resultado das ações humanas que o estão construindo ou reconstruindo a cada momento; portanto, é resultado da prática social”. Durante séculos, os museus foram o “lugar de memória” (NORA, 1993) de minorias burguesas, daqueles que escreviam as histórias, dos “vitoriosos” e que detinham poder. Chagas (1998, p.19) exemplifica o museu como território ao mencionar que os museus “são estruturas e lugares de poder”. Por conta de os museus terem sido e, em alguns casos, ainda serem espaços de poder e de representações burguesas, Duarte (2013, p.108) afirma que, na nova museologia: “o museu é um espaço discursivo, cujas estratégias e narrativas expositivas merecem análise atenta por forma a descortinar, quer os significados construídos e comunicados, quer as suas implicações ideológicas, políticas e éticas”. Duarte (2013, p.100) afirma que a metamorfose dos museus, na nova museologia, dar-seia por duas linhas de renovação distintas: “1) o projeto e o ideal político de democratização cultural com a ajuda do museu e 2) a eleição do museu e suas práticas como campo de reflexão teórica e epistemológica”. Desse modo, na primeira linha, houve um processo de democratização, seja das exposições, processos administrativos, públicos, acervos e o acesso a fim de suprir as novas ;

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necessidades das instituições de serem “um instrumento de aprendizagem e animação sociocultural permanente, em articulação estreita com as pessoas” (DUARTE, 2013, p.103). Já a segunda linha propunha uma crítica epistemológica aos conceitos de museus, estudos museológicos, coleções, representações e a missão dos museus, uma vez que a “epistemologia emergente deixa de conceber o conhecimento como absolutamente objetivo e desinteressado, passando a insistir na necessidade de lhe descortinar as implicações políticas e de poder, bem como a correspondente relatividade e limitações” (DUARTE, 2013, p. 105). Descolonizar museus é somente uma das vertentes propostas pela nova museologia. Há, também, o entendimento sobre o conceito de museus, pois se outrora os museus eram espaços dos vitoriosos, como poderia ser enquadrado os museus contemporâneos a céu aberto, itinerantes, sem paredes, indígenas, quilombolas, sobre assentados, ribeirinhos, pessoas em situação de rua, imigrantes, migrantes, dependentes químicos e tantas outras propostas museais espalhadas pelo mundo? A Associação Americana de Museus (American Alliance of Museums-AAM) conceitua que o museu é uma: [...] instituição permanente, não lucrativo, que existe não como proposito primordial de gerir exposições temporárias, isento de impostos federais e estatais, aberto ao público, para fins de conservação e preservação, estudo, interpretação, reunião e exibição ao público para instrução e deleite de objetos e espécimes de valor educativo e cultural” (ALONSO FERNANDEZ, 2001, p.30, grifo nosso)

A concepção da associação assemelha-se com o conceito de museus do ICOM que sempre traz à tona uma visão institucional do museu, jurídica e sempre focando o museu enquanto edifício e público, ofuscando os sujeitos produtores da cultura e possíveis gestores. Em especial, a AAM discursa que o museu preserva “objetos e espécimes de valor educativo e cultural”, contudo, no museu tradicional, quem determina o valor dos objetos são os próprios gestores, não a comunidade representada. Bolaños (2002, p. 313, tradução nossa) afirma que os museus têm a função de legitimar por decreto culturas e objetos e “o especialista, o que sabe, decreta que tal objeto é bom ou ruim, bonito ou feio, que tal objeto é falso ou verdadeiro, que vale muito ou não vale nada”. Em concordância, Duarte explana que: Museu é uma instituição que constrói definições de valor. O que decide pesquisar ou ignorar, os bens culturais que seleciona para conservar e expor em detrimento de outros que negligencia, o modo como concretiza essas tarefas e as justifica, com o auxílio de quem, todas estas opções constituem um conjunto de decisões que se tornam matérias merecedoras de interrogação (DUARTE, 2013, p. 113).

O mesmo discurso dos conceitos anteriores pode-se observar em território nacional. O Art. 1 da Lei n. 11.904 de 14 de janeiro de 2009, que institui o Estatuto de Museus, discursa que são considerados museus: [...] as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento (BRASIL, 2009, grifo nosso). ;

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O conceito brasileiro de museus, instituído por meio legislativo, assemelha-se, em muito, com o conceito homologado pelo ICOM em 2007 e pela AAM. Contudo, o conceito brasileiro não traz a questão da “instituição permanente”, conceito este explícito no ICOM e utilizado por muitas associações ao redor do mundo. Contudo, o conceito reproduz o discurso que museus são “instituições” e não “processos”. Varine, renomado por suas concepções e trabalhos sobre os campos da nova museologia e museologia social, critica o conceito instituído pelo ICOM quanto a sua utilização dos novos museus. Segundo o autor: Mas um museu comum não pode fazer isso, simplesmente organizando a pesquisa, a exposição e a educação, como declara a definição do International Council of Museums (Icom). Temos que inventar um museu novo, ou, mais corretamente, usar técnicas museais já anteriormente imaginadas em países com forte consciência comunitária (VARINE, 2014, p. 27)

Portanto, é necessário questionar os museus, pois discursar sobre museus é falar de um espaço de conflitos (CURY, 2009), um espaço de omissões e venerações, um espaço de representações e de constantes transformações que acompanham os anseios e mutações sociais. Por conta dessas transformações, o próprio ICOM propôs para 25º Assembleia Geral Extraordinária (AGE ICOM), realizada de 1 a 7 de setembro de 2019, em Quioto no Japão, um novo conceito de museu. A nova proposta entende os museus como: Espaços democratizantes, inclusivos e polifônicos para um diálogo crítico sobre o passado e o futuro. Reconhecendo e enfrentado conflitos e desafios do presente, eles guardam artefatos e espécimes para a sociedade, salvaguardam diversas memórias para as futuras gerações e garantem direitos iguais e acesso igual ao patrimônio para todos os povos. Os museus não são lucrativos. Eles são participativos e transparentes e trabalham em colaboração ativa com e para várias comunidades, a fim de coletar, preservar, investigar, interpretar, expor e expandir os entendimentos do mundo, com o propósito de contribuir para a dignidade humana e justiça social, para igualdade mundial e bem-estar planetário (ICOM, 2019, grifo nosso).

Como pode ser observado, o conceito se tornou mais abrangente, extenso, participativo e com cunho social nítido, focando na inserção da comunidade nas práticas museológicas. Contudo, o conceito não foi aprovado na última AGE e ainda está aberto a discussões até a próxima reunião. Os presentes na 27º AGE ICOM discursam que os motivos da não aprovação foram vários, entre esses a ausência da palavra “instituição” no conceito. Concebe-se, pelo observado, que a palavra instituição é relevante para os museus tradicionais garantirem sua legitimidade frente aos novos museus comunitários que surgiram no início do século XXI. O caráter instituição, no Brasil, dificulta a captação de recursos por muitas propostas museológicas que não dispõem dos requisitos legais previstos no Estatuto de Museus (BRASIL, 2009). Segundo o Instituto Brasileiro de Museus-IBRAM, para a criação de museus, recomendase: 1- Elaboração de um projeto para a criação do museu; 2- Estabelecimento da pessoa jurídica da instituição, regulamentada por diploma legal; 3- Contratação permanente de uma equipe interdisciplinar, composta, inclusive, de profissional museólogo para a realização dos procedimentos técnicos museológicos; 4- Aprovações de um Regimento ;

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Interno – documento elaborado para estabelecer as normas de funcionamento do museu, desde a sua finalidade, propósitos, objetivos, política institucional, formas de manutenção, número de setores e/ou departamentos e seus respectivos funcionários, assim como a construção do seu organograma; 5- Elaboração do Plano Museológico, conforme Artigo 46º da Lei 11.904 [...]. (IBRAM, 2019)

Por meio da recomendação supracitada, observa-se contáveis itens burocráticos recomendados pelo IBRAM para a formação de instituições museais. A tentativa de abranger outras propostas museológicas foi principiada na 27º AGE ICOM, mas vetada por ora. Outros teóricos afirmam que a proposta também foi vetada por não conter o termo “educação” como uma das funções do museu, sendo que o setor educativo é um setor significativo do processo curatorial (CURY, 2005, p. 172). 3. NOVA MUSEOLOGIA E OS MUSEUS COMUNITÁRIOS Falar sobre a museologia social é narrar a necessidade de uma “museologia que exprime a cultura do nosso tempo, a cultura das misturas, expressão de uma sociedade em mudança” (MOUTINHO, 1996, p. 2). Suzy da Silva Santos faz duas importantes indagações em sua dissertação de mestrado ao falar sobre o papel da museologia social em representar todas as camadas sociais. Segundo a museóloga: Que museu de todos é esse que se apregoava em uma sociedade baseada em noções como progresso e evolução, que desconsiderava diversas tradições e costumes das populações, impunha uma nova ordem mundial baseada no lucro? Que museus são esses que serviram como ferramentas para a consolidação de discursos científicos xenofóbicos, racistas e machistas? (SANTOS, 2017, p. 58).

Contudo, autores defendem que não houve uma ruptura ou inovação quando se menciona a transição entre a museologia tradicional e a nova museologia. Mas, de modo geral, os museus que existiam outrora respondiam aos anseios da época, representavam os detentores de poder e narravam aquilo que os autocratas gostariam de comunicar. Desse modo, a museologia atual, entendida por Moutinho como museologia informal, é produto de uma sociedade mais democrática, descentralizada, livre e consciente (MOUTINHO, 1996, p. 2). As problemáticas dos museus tradicionais frente à nova museologia e a museologia social não estão somente nos atores sociais representados, mas também no acesso a essas instituições (CURY, 2009). Muitas vezes, sem os processos colaborativos, os museus que retratam comunidades tradicionais se transformam em espaços não vivenciados e legitimados pelas próprias comunidades representadas. Segundo Araújo (2012, p. 40), “a questão é muito mais complexa, pois a prática de ir ao museu se insere como uma atividade de distinção, cumprindo um papel na dinâmica de marcação dos lugares e das distâncias sociais”. O pensamento citado anteriormente pode ser ilustrado por meio de um exemplo existente nos museus tradicionais, que é o uso das catracas e detectores de metais. Sabe-se que as medidas de segurança nos museus são essenciais, mas forçar o visitante a esvaziar seus bolsos, colocar seus pertences em caixas, atravessar um aparelho que detecta metais e, porventura, ser revistado não seria um elemento intimidador que cercearia a liberdade do público? Ou tais medidas não reiteram os museus como um espaço distante da realidade social na qual para adentrar o templo os visitantes necessitam se “purificar” e provar serem “dignos” de vivenciar tais espaços? ;

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A museologia social, advinda na nova museologia, surge com o intuito de firmar os compromissos entre os museus e a sociedade à qual esses se vinculam. Chagas e Gouveia (2014, p.17) afirmam que: Toda museologia e todo museu existem em sociedade ou numa determinada sociedade, mas quando falamos em museu social e museologia social, estamos nos referindo a compromissos éticos, especialmente no que dizem respeito às suas dimensões científicas, políticas e poéticas; estamos afirmando, radicalmente, a diferença entre uma museologia de ancoragem conservadora, burguesa, neoliberal, capitalista e uma museologia de perspectiva libertária; estamos reconhecendo que durante muito tempo, pelo menos desde a primeira metade do século XIX até a primeira metade do século XX, predominou no mundo ocidental uma prática de memória, patrimônio e museu inteiramente comprometida com a defesa dos valores das aristocracias, das oligarquias, das classes e religiões dominantes e dominadoras.

Nessa conjuntura, a museologia social implica a redução das desigualdades sociais e injustiças, o combate aos preconceitos, a destituição do discurso hegemônico, o fortalecimento das comunidades e de sua qualidade de vida e a “utilização do poder da memória, do patrimônio e do museu a favor das comunidades populares, dos povos indígenas e quilombolas, dos movimentos sociais, incluindo aí, o movimento LGBT, o MST e outros” (CHAGAS; GOUVEIA, 2014, p. 17). Moutinho (1993, p.7) explana que o conceito de museologia social “traduz uma parte considerável do esforço de adequação das estruturas museológicas aos condicionalismos da sociedade contemporânea”. Em outras palavras, pode-se entender a museologia social como vertente que se dedica a dialogar com as demandas atuais da sociedade. O autor ainda menciona que se faz necessário alargar as noções de patrimônio e de objetos museológicos, inserindo a comunidade como agente participativo das práticas museológicas (MOUTINHO, 1996, p. 3). A criação de novos museus e de novos discursos expositivos reitera-se à medida que: Não nos podemos mais contentar com a eventual modernização dos museus tradicionais, pretendida na maior parte das vezes através da criação de uma medíocre loja quase sem nada para vender, ou com as mega exposições de objectos raros com orçamentos que insultam o mais elementar bom senso e seriedade (MOUTINHO, 1996, p. 3)

A revolução museológica impulsionou a criação de diversos tipos de museus, como os ecomuseus, museus de vizinhança, museus de território, museus itinerantes, museus comunitários e outros (RIVÁRD, 1984). Desse modo, os museus comunitários possuem um funcionamento que destoa dos museus tradicionais e por essa razão que a dicotomia entre esses se torna consideravelmente evidente. Varine (2014, p. 26) disserta que “um museu “normal” tem um objetivo oficial: servir ao conhecimento e à cultura. Um museu comunitário tem outro objetivo: servir à comunidade e ao seu desenvolvimento”. Por meio da explanação de Varine (2014), é possível dissertar que os dois modelos de museus são essenciais para manutenção das necessidades plurais da sociedade e na atualidade um modelo não se sobrepõe ao outro, pelo contrário, a oposição é necessária para significá-los e justificá-los. Sobre os museus comunitários, Desvallées elucida que: ;

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Não se tratava mais, entretanto, apenas de animar o museu ou de o abrir a um público amplo, tratava-se fundamentalmente de atuar no sentido de fazer com que esse mesmo público se apropriasse dele, que ele tomasse a iniciativa de suas ações e, ainda, fizesse de todo o seu patrimônio a base do museu. (DESVALLÉES, 2016, p.98)

Ou seja, os museus comunitários não atendem somente os critérios museográficos tradicionais. Mas, além disso, trata-se de um museu voltado para o desenvolvimento sustentável da própria comunidade, promovendo a conservação dos traços culturais, reconhecimento da comunidade, empoderamento e que “a própria comunidade deve se fazer público para passar a olhar as coisas com ‘outros olhos’ ou com ‘os olhos de outros’” (BRULON, 2014, p. 40). Varine acrescenta que os museus comunitários são essenciais para a aproximação do jovem com as gerações passadas, para a participação crítica da comunidade nas políticas e programas de desenvolvimento e, sobretudo, segundo o autor, os museus de comunidade ou ecomuseus não são centrados: [...] em uma coleção de objetos ou documentos, mas mobiliza a comunidade e seu patrimônio para contribuir para o desenvolvimento sustentável de seu território. Ou seja, representa a totalidade do patrimônio vivo tal como é vivenciado e reconhecido pela própria comunidade local, que deve inventariá-lo, acompanhar sua evolução, os costumes à sua volta, valorizando-o para desenvolver uma maior consciência do patrimônio e o bem comum da comunidade e também para acolher novos residentes e visitantes de outros lugares. (VARINE, 2018, p. 26)

Os museus comunitários também visam a diminuir as amarras paternalistas do Estado, munindo a comunidade com conhecimento de sua própria realidade para, assim, transformá-la e converter comunidades em autogestoras de seu patrimônio cultural (SANTOS, 2017). No entanto, as comunidades quase sempre não estão preparadas para gerir seu próprio patrimônio, segundo Varine (2018, p. 29): Todos os que atuam na área sabem que os habitantes de um território – acostumados a ser, bem ou mal, administrados por autoridades eleitas e por serviços públicos – não estão realmente prontos para assumir sua parcela de responsabilidade pelo desenvolvimento de seu território ou sobre a gestão do patrimônio comum.

Desse modo, os museus comunitários, muitas vezes, necessitam de profissionais para incentivar suas ações, mas o desenvolvimento local só acontecerá se a população estiver em uma relação estreita com o processo de tomada de decisões, se o desenvolvimento gerar transformações positivas e se as ações se deslocarem de baixo para cima (VARINE, 2014, p. 26). 4. AS CONCEPÇÕES SOBRE O MUSEU DO ASSENTADO Após cinco anos pesquisando sobre o patrimônio material e imaterial dos assentamentos de Rosana/SP e estreitando as relações pessoais com cada um dos vinte e sete assentados entrevistados durante a vigência das iniciações científicas, questionamentos pairaram sobre meu ser a medida que absorvia os interesses e curiosidades da comunidade. Uma vez em campo, realizando uma entrevista, perguntei a Rosane Bolduan, nascida em Palotina/PR, em 1977, se a mesma considerava importante a criação de um museu para os assentados, após concordar que seria importante o projeto, a mesma me indagou: “afinal, o que vão ;

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pôr nesse museu? Qual vai ser a obra prima lá? O que vocês vão ponhá nesse museu pra mostrá? Alguma coisa antiga, né?” (BOLDUAN, 2018, grifo nosso). As reflexões de Rosane circundaram minha mente por um tempo e colocaram em questionamento os meus próprios conceitos de museu. Assim como a assentada, meu imaginário também compartilhava das noções de museus como espaços de relíquias, de coisas significantes para a nação, espaços de poder, de coisas velhas e espaços que somente pessoas letradas frequentavam e entendiam. Os conflitos entre o que conhecia e o que praticava com as assentadas estavam travados. Pois era concebido e nítido um modelo de instituição museal em meu consciente, mas o processo museológico que realizava divergia daquilo que conhecia. O ensejo, ainda que dos pesquisadores, a respeito do Museu do Assentado que estávamos exercitando naquele momento era o de realizar o inventário do possível patrimônio material e imaterial dos assentados, que poderia futuramente compor um museu, sendo esse gerido pelos próprios assentados com auxílio do GEPTER. A concepção inicial não convergia com os preceitos postos nos museus tradicionais, mas, mesmo assim, o conceito de museu tradicional ainda fazia parte do consciente do pesquisador e da comunidade. Como mencionado em outros trabalhos publicados posteriormente, o entendimento sobre o Museu do Assentado floresceu dentro da universidade. A ideia nasce com a professora doutora Rosângela Custodio Cortez Thomaz após uma visita ao Museu Histórico de Varpa Janis Erdbergs, em Tupã/SP, que retratava a cultura da Letônia (GONÇALVES; THOMAZ, 2018). Contudo, a ideia estava embasada nos trabalhos que a professora coordenava com o Grupo de Estudos e Pesquisas de Turismo no Espaço Rural (GEPTER) desde 2006 nos assentamentos de reforma agrária do município de Rosana/SP: Porto Maria, Nova Pontal, Bonanza e Gleba XV de Novembro. Por meio da experiência empírica e acadêmica, Rosângela Thomaz conhecia intimamente a comunidade, fato que favoreceu a aproximação da proposta do Museu do Assentado. Varine (1986) afirmou, como visto posteriormente, que muitas comunidades não estão preparadas para gerirem seu patrimônio, principalmente por conta das políticas públicas e imposições dos gestores. O autor ainda completa que a interação entre comunidade e profissionais é necessária pois “como processo, o museu deve ser construído, mês a mês, ano a ano, pelo povo, naturalmente com o auxílio de profissionais” (VARINE, 2014, p. 29). Mesmo a proposta acontecendo de cima para baixo (universidade-assentados), observamos que, pouco a pouco, a comunidade passava a abraçar a proposta. Em 2014, começo os estudos sobre o patrimônio dos assentados e, por conta do nosso (GEPTER) grau de interação com a comunidade, o inventário inicia-se pelo assentamento Porto Maria. A aproximação anterior com a comunidade foi a chave inicial para o sucesso na aceitação da proposta e, posteriormente, o que garantiu a sustentação da inventariação foi o processo colaborativo que estava se construindo. Cury (2018, p. 4402), ao relatar os processos colaborativos indígenas no Museu de Arqueologia e Etnologia-MAE/USP, menciona que tais processos são essenciais para (re)significar museus, dar acesso à comunidade aos objetos e ao museu, dar devolutiva sobre o pesquisado aos seus atores, gerar protagonismo e desenvolver novas formas de pesquisa. A pesquisadora também retrata as potencialidades dos processos colaborativos ao mencionar que pela colaboração “[...] ações museais são geradas perpassando toda a curadoria, aqui entendida como todas as ações em ;

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torno do objeto – coleta/formação de coleções, pesquisa, salvaguarda e comunicação – todas elas participam e/ou são afetadas pela colaboração” (CURY, 2018, p. 4400). No processo de inventariação, as entrevistas eram longas, duravam de uma hora a duas horas e era interessante observar que, em alguns casos, mesmo após horas de entrevistas, os assentados ainda tinham mais informações a compartilhar e queriam continuar compartilhando suas memórias. Na maior parte das vezes, as lideranças indicavam quais assentados iriam ser visitados e tal procedimento foi essencial para validar a ação dos pesquisadores em campo. Em alguns momentos, entretanto, não houve a indicação direta dos assentados pelas lideranças e os pesquisadores visitaram os lotes dos assentados que já haviam participado de outros projetos do GEPTER. Visitar os lotes sem aviso prévio e sem consentimento das lideranças gerou duas experiências que gostaria de compartilhar. Relato “sem aviso prévio”, pois o procedimento de pesquisa era contatar o entrevistado, seja por telefone ou pessoalmente, para marcar uma data para a entrevista. Esse procedimento, além de aumentar a probabilidade de encontrar o assentado em sua residência, também auxiliava na construção de um laço sentimental inicial. A primeira experiência se assemelha às implicações dos processos colaborativos e o quanto a comunidade estava se envolvendo com o projeto. No segundo ano de pesquisa, ao visitar alguns dos lotes e me apresentar, percebi que alguns assentados já conheciam o projeto do Museu do Assentado e, com isso, o aceite em participar da pesquisa foi automático. Além disso, lembro-me de, ao final das duas iniciações científicas, um assentado me chamando de “rapaz do museu”. Nos primórdios da inventariação, a concepção de museu e a relação da comunidade com o museu eram superficiais, mas, aos poucos, ano após ano, entrevista após entrevista, essas reflexões foram se alterando e, por isso, entendo museus comunitários como processos e não instituições. Compartilho dos pensamentos de Varine quando o autor menciona que: Como o próprio desenvolvimento, o museu de comunidade é mais bem descrito como um processo. Ele certamente não é uma instituição ou uma estrutura acabada. É um ser vivo, como a própria comunidade, em constante movimento para se adaptar às mudanças que acontecem nela e em seu ambiente, seja ele regional, nacional ou global (VARINE, 2014, p. 29)

O Museu do Assentado, portanto, é um museu vivo que esteve e está em desenvolvimento, assim como o conceito de museu, patrimônio e cultura da própria comunidade. Por essa razão, é que não devemos criar nos museus comunitários princípios estáticos, esses museus são volúveis e, por isso, questionei, no início deste artigo, o conceito de museu, pois, desde sua concepção, o conceito de “Museu do Assentado” vive em constante atualização. Varine, em uma entrevista, afirmou que os processos colaborativos nos museus comunitários são experimentais e, muitas vezes, inventam modos de ação e educação, pois, segundo o autor, “não existem dois museus comunitários ou ecomuseus semelhantes: cada realização é única, porque cada comunidade, cada patrimônio e território são únicos” (SANTOS JR; BRITTO, 2019, p. 324-325). E, quando menciono que as noções de museu, patrimônio e cultura foram alargadas pelos assentados em um processo vivo, remeto-me ao segundo exemplo que gostaria de compartilhar. Em uma visita a um lote para apresentar o projeto e agendar uma entrevista, logo no primeiro ano de inventário, lembro-me de que a assentada foi enfática em dizer que não gostaria de compartilhar suas histórias, então lhe perguntei o motivo, segundo ela “há histórias de ;

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sofrimento que não merecem ser contadas”. Em seguida, concordei com a assentada, respeitei sua vontade e me despedi. Foi por meio desse relato que compreendi alguns fatores: a complexidade e importância do projeto; a necessidade de uma escuta atenta e sensível aos anseios dos entrevistados; os estigmas coletivos e individuais acerca do movimento de reforma agrária e as noções sobre o patrimônio cultural rural. Essa assentada, em especial, não foi a primeira a ser resistente em compartilhar suas memórias. Vera Lucia Oliveira, pertencente ao assentamento Porto Maria, natural da cidade de Goioerê/PR, quando questionada sobre a vida nos barracos de lona mencionou que “misericórdia, quentura tremenda, deus o livres, sofrido [...] Tribulação, sofrimento, tremenda, nem me fale, não gosto nem de lembrar” (OLIVEIRA, 2015, grifo nosso). Vivenciar tais rupturas da memória foram substanciais para entender o quão empoderada, sensível e legitimada a comunidade estava quanto ao seu patrimônio. Na atualidade, podemos entender que a comunidade, mesmo que inconscientemente, já estava realizando a curadoria daquilo que seria exposto, narrado ou questionado no Museu do Assentado. A curadoria, voluntária ou involuntária, foi realizada por meio da história oral pelos assentados à medida que: O entrevistado, em sua fala, recorre à memória e reconstrói o passado com os valores do presente e com as experiências vivenciadas. Sua narrativa pode conter esquecimentos e omissões deliberadas ou não. O entrevistado tem uma imagem de si e opiniões que quer transmitir (LANG, 2013, p. 74).

A memória tem esse poder de guardar tudo aqui que foi significativo para o indivíduo e as significações são atribuídas conforme as referências de cada um (LANG, 2013). Desse modo, a memória e nossas referências culturais trabalham como verdadeiros curadores de nosso patrimônio. Em síntese, o que foi evidenciado, musealizado ou não, partiu dos relatos orais da própria comunidade, uma vez que o pesquisador baseou a inventariação do acervo material e imaterial do museu por meio da memória dos entrevistados, base empírica e fontes secundárias. Assim, a comunidade já estava concebendo o museu conforme seus interesses e, mesmo não entendendo o conceito de museu, enquanto instituição, a comunidade já era membro ativo e participante do processo museológico. Desse modo, é possível observar que o conceito de museu estava em constate reformulação, e suponho que a comunidade pode enxergar os quatro anos de pesquisas e o museu em sua principiante totalidade durante o “Colóquio dos saberes, fazeres e dizeres do campo: o Museu do Assentado em Rosana/SP”1. Durante o evento, foi exposto setenta objetos, entre os objetos cedidos ao acervo do Museu do Assentado e objetos emprestados pelos assentados. Além disso, foi criado uma parede de memórias com os relatos orais transcritos dos entrevistados. Havia painéis com as fotos digitalizadas dos assentados e outros com os mapas de sua trajetória de vida e origem. A programação do evento se dividiu em: apresentação e gratificação dos assentados; mesa de abertura com as autoridades presentes; apresentação e comentários do documentário “Da estrada

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A gravação do Colóquio está disponível na internet em uma série de vídeos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WPBy UNq1tDo&list=PLpjdfSwKFnyhDabtpZ_dONO-f0VU-3661. ;

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para o lote2”; roda de discussão com as lideranças sobre os saberes, fazeres e dizeres do campo e visita à exposição. Tanto a criação da programação, planejamento e operação quanto a organização da exposição reiteraram um pensamento contundente de Varine (2014, p. 29), ao mencionar que o processo museal em museus comunitários “não precisa ser tecnicamente sofisticado e caro. Ele se adapta bem a comunidades relativamente pobres, porque conta com recursos locais e essencialmente com a energia humana”. Esse evento teve um caráter simbólico para os assentados de maneira surpreendente (GONÇALVES, 2018). Tornou-se possível observar o sorriso dos assentados e assentadas ao ver suas fotos expostas nos murais, seus relatos orais ilustrados (Figura 1) e seus objetos identificados. Observou-se assentados explicando aos discentes da UNESP os usos dos objetos expostos; ouviuse e aplaudiu-se as lideranças dos assentamentos do município discursando à frente da plateia (Figura 2). Percebeu-se o olhar de satisfação, orgulho e apreço dos assentados a serem representados, ouvidos e se fazerem presentes naquele espaço (Figura 3). Figura 1- Ivani Martins segurando sua ilustração.

Figura 2 - Roda de discussão sobre os saberes, fazeres e dizeres do campo.

Fonte: GEPTER, 2018.

Fonte: GEPTER, 2018.

Figura 3 - Grupo de assentados presentes no Colóquio.

Fonte: GEPTER, 2018.

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O documentário pode ser acessado pela internet. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1WTv8pxJyr4&t.

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E foram lidas entrevistas de assentados à Assessoria de Imprensa do Município de Interesse Turístico de Rosana/SP. Em entrevista, Helena Pino, assentada pertencente ao assentamento Nova Pontal, afirmou que: Quando o [sic] Leo chegou com a proposta, me senti valorizada, pois a mulher do campo é muito esquecida, e uma universidade como a UNESP se preocupar com as mulheres é muito gratificante. É emocionante poder voltar ao passado e contar como foi a nossa trajetória, o projeto superou minhas expectativas, pois contar nossa história é contar o sofrimento e da nossa luta. Hoje vendo e recordando tudo que vivenciamos é emocionante (ROSANA, 2018).

Por meio do relato de Helena e dos atos vivenciados no Colóquio, afirmo que o evento foi o marco para uma nova concepção de museologia pelos assentados e pelos pesquisadores do projeto. Anteriormente, o Museu do Assentado ainda fazia parte da individualidade de cada um dos vinte e sete entrevistados do projeto e, quando expusemos a pesquisa, houve uma comoção social jamais imaginada. Exemplifico minhas suposições sobre o Colóquio como um alargador das noções de patrimônio, por meio das ações deflagradas posteriormente, uma vez que, em alguns dias após o evento, um discente da UNESP, familiar de assentados, decide ceder acervo ao projeto. Assim como Amerentina de Matos, que, no momento do Colóquio, havia emprestado objetos para o evento, após me informou que gostaria de ceder os objetos emprestados e me convidou a ir buscar outros objetos que estavam em sua residência. Em justificativa, a assentada afirmou que os objetos, na UNESP, estavam sendo “bem cuidados”. Outros assentados que haviam emprestado objetos para a exposição durante o Colóquio, também mencionaram que, quando o museu se torna “real”, novos objetos poderiam ser cedidos. Por fim, é possível compreender, ainda que inicialmente, que o conceito de museu existente no imaginário dos envolvidos com o Museu do Assentado pode ter se modificado ao longo do projeto. No entanto, torna-se possível afirmar, sem medo de errar, que o entendimento dos assentados sobre seu patrimônio cultural, suas potencialidades, significâncias e legitimidades está ainda mais aflorado. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Certamente podemos afirmar que, na atual conjuntura, vivenciando uma sociedade líquida, as instituições precisam ser transformadas em consonância com os interesses sociais. Chiovatto (2010) afirma que o que garantirá a permanência dos museus é sua capacidade de adaptação e resiliência. Desse modo, questionar nossos conceitos de museu e os conceitos impostos pelos órgãos regulamentadores deveria tornar-se algo espontâneo frente aos movimentos democráticos que as ciências vivenciam nos últimos anos. O turismo apropria-se dos museus e os insere em suas programações, afinal, os turistas são os públicos consumidores dos museus. Entretanto, o turismo ainda auxilia na concepção dos museus como instituições autocráticas, uma vez que a visita em museus ainda é prática de um público “culto” e de “bom” nível social, em outras palavras, os planejadores do turismo ainda direcionam as visitas a museus para um nicho específico de mercado. ;

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Descolonizar museus, públicos, acervos, processos, narrativas, gestões e tantos outros fatores só será concebido por meio da interação dos museus com o seu meio. Disserto sobre esse ponto, pois, enquanto os museus continuarem a ser instituições e não processos, distantes da sociedade, continuaremos a envaidecer discursos coloniais. O Museu do Assentado, nessa conjuntura, contrapõe-se ao amplo discurso dos museus tradicionais e vem sendo apropriado pela comunidade, que está reinventando os processos museológicos e seus próprios conceitos. Tornou-se visível que os trabalhos comunitários no Museu do Assentado não se assemelham aos modelos tradicionais da museologia, mesmo a proposta partindo da universidade. Os assentados foram os curadores das narrativas, dos objetos e das memórias comunicadas e documentadas. Não se sabe ao certo se a comunidade decidirá por abrir ou não o museu, se irão querer o museu em um único espaço ou em vários espaços, se o museu abrirá todos os dias ou se abrirá, se terá acervo permanente ou será um acervo itinerante. O museu comunitário, antes de ser dos turistas, necessita ser da própria comunidade. A comunidade precisa se enxergar nos acervos e nas narrativas, precisa se entender como parte atuante do processo, necessita se empoderar e legitimar-se, para que, assim, o museu ganhe força e seja símbolo da resiliência comunitária. O conceito de museu e museologia estimulado, praticado e refletido no Museu do Assentado na atualidade apresenta divergências e semelhanças, em alguns aspectos, em relação às concepções existentes (museologia tradicional, museologia social, museologia indígena e etc.), até porque sabemos que nenhum museu comunitário é igual ao outro. Por essas e outras razões, concebo que, por meio dos processos colaborativos, estamos idealizando um novo conceito de museu, uma museologia assentada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONSO FERNÁNDEZ, L. Museología y museografía. Barcelona: Ediciones del Serbal, 2001. ARAÚJO, C. A. A. Museologia: correntes teóricas e consolidação científica. Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, Rio de Janeiro/RJ, v. 5, n. 2, 2012. BOLAÑOS, M. (Ed.). La memoria del mundo: cien años de museología, 1900-2000. Gijón: Ediciones Trea, 2002. BOLDUAN, R. Entrevista com Rosani Bolduan cedida ao pesquisador. Porto Maria-Rosana, 14 mar. 2017. BRASIL. Lei n. 11.904, de 14 de janeiro de 2009. Institui o Estatuto de Museus e dá outras providências. Presidência da República, Casa Civil, 2009. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-201 0/2009/Lei/L11904.htm. Acesso em: 25 set. 2019.

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A VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO POR MEIO DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: O CASO DO ESPAÇO HAROLDO DE CAMPOS DE POESIA E LITERATURA (SP) SANTOS, LETÍCIA CASSIANO¹ PIMENTEL, JULIANA MARIA VAZ²

leticia.cassiano@unesp.br, jmvpimentel@outlook.com ¹ ²

Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Doutora em Geografia, Universidade Federal de Grande Dourados (UFGD), Dourados, Mato Grosso do Sul

RESUMO – O presente artigo possui como finalidade discutir sobre a importância da educação patrimonial por meio da mediação sociocultural e a forma como um objeto mediado pode interferir diretamente no interesse do público em apreender de maneira desinteressada elementos que constituem na valoração do patrimônio cultural por meio do turismo cultural. No caso da presente pesquisa, trabalharemos a partir da metodologia pautada em referenciais teóricos e de caráter exploratório, pautando-se na observação participativa no espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, mais conhecido como Casa das Rosas (SP), que, desde 2006, tornou-se patrimônio histórico da cidade de São Paulo. Portanto, a mediação sociocultural é uma das formas de se exercer a educação patrimonial por meio do turismo cultural, pois é ela quem será a responsável por dar mais ludicidade ao conteúdo passado pelo mediador no patrimônio cultural. Palavras-chave: Educação Patrimonial, Turismo Cultural, Patrimônio Cultural, Casa das Rosas. ABSTRACT - The purpose of this article is to discuss the importance of heritage education through sociocultural mediation and the way a mediated object can directly interfere in the public's interest in learning disinterestedly the elements that constitute the value of cultural heritage through cultural tourism. The methodology of this research is based on theoretical and exploratory references, and on participant observation in the Haroldo Campos space of Poetry and Literature, better known as Casa das Rosas (SP), which has become a historical heritage of the city of São Paulo since 2006. Therefore, sociocultural mediation is one of the ways to exercise heritage education through cultural tourism, because it is responsible for giving more playfulness to the content passed by the mediator in cultural heritage. Key words: Heritage Education, Cultural Tourism, Cultural Heritage, Casa das Rosas

1. INTRODUÇÃO O turismo cultural é uma atividade que proporciona o intercâmbio de culturas, a troca de experiências, tornando-se algo enriquecedor tanto para a comunidade local quanto para o turista, pois, como afirma MacCannell (apud COSTA, 2009, p. 44): um gênero de turismo [...] baseado na busca e na participação em experiências culturais novas e profundas, quer estéticas, intelectuais, emocionais ou psicológicas. Muitas formas culturais ;

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como museus, galerias, festivais, arquitetura, ruínas históricas, performances artísticas e sítios patrimoniais rotineiramente atraem visitantes. As formas são expressões ou contém expressões de uma ou mais artes de elite, populares ou folclóricas, ou um ou mais estilos de vida - folclórico, histórico ou moderno.

Ao reforçar essa ideia de o turismo cultural ser uma importante atividade na busca de conhecer novas culturas, podemos conceber o turismo como sendo uma “atividade ideal para auxiliar na preservação dos bens do patrimônio cultural” (COSTA, 2009, p. 35), podendo se apropriar da educação patrimonial. Afinal, a educação patrimonial provém de uma discussão sobre uma percepção de mundo, em que há a valorização do patrimônio cultural (GEDEON, 2014). Sendo um instrumento que pode ser utilizado no turismo cultural, a educação patrimonial traz consigo diversas formas de ser aplicada, uma delas é por meio da animação cultural, definida por Trilla (1997, p. 22, tradução nossa)3 a animação sociocultural é um conjunto de ações realizadas por indivíduos, grupos ou instituições sobre uma comunidade (ou um setor desta) e no marco de um território concreto, com o propósito principal de promover, em seus membros, uma atitude de participação ativa no processo de seu próprio desenvolvimento, tanto social quanto cultural.

É por meio da animação cultural que é desenvolvido o método de mediação sociocultural, instrumento que serve de pauta para a animação cultural (MELO, 2006). A mediação sociocultural é, segundo Oliveira et al. (2005), uma ferramenta fundamental no enriquecer do conhecimento de um indivíduo. São três os tipos existentes de mediação sociocultural, a mediação por imersão, a diretiva e a construtivista (DARRAS, 2009, p. 39). A valorização e difusão do patrimônio cultural é importante, pois é a herança que temos de nosso passado e o que somos hoje e, a partir dessa noção de valorização, é que surgiram os seguintes questionamentos: como a educação patrimonial e os recursos interpretativos auxiliam na preservação e valorização patrimonial? De forma empírica, qual a eficácia da educação patrimonial e dos recursos interpretativos para a preservação e a valoração patrimonial? São com esses questionamentos relacionados à educação patrimonial que abordamos o objeto deste projeto, o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, mais conhecido como Casa das Rosas, localizado na Av. Paulista, n.º 37, arquitetado por Francisco de Paula Ramos de Azevedo e construído em 1935. O espaço possui uma arquitetura clássica francesa e um lindo jardim na parte da frente da casa que atraem diversos visitantes todos os dias (CASA DAS RODAS, 20--). Essa realidade também nos leva a questionar se os visitantes compreendem o espaço Casa das Rosas como um patrimônio ou só como um espaço de lazer. A Casa das Rosas é um patrimônio histórico tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo (CONDEPHAAT), que desenvolve suas atividades utilizando alguns tipos de mediações. Contudo, segundo a definição de patrimônio material, pode ser considerado também um patrimônio cultural de acordo com o Livro do Tombo e a Constituição Federal de 1988 (artigos 215 e 216), que abrangeu a noção de patrimônio cultural (CASA DAS ROSAS, [20--]; IPHAN, 2014). Podemos observá-la na imagem abaixo.

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El conjunto de acciones realizadas por individuos, grupos o instituciones sobre una comunidad (o un sector de la misma) y en el marco de un territorio concreto, con el propósito de promover en sus miembros una actitud de participación activa en el proceso de su propio desarrollo tanto social como cultural. ;

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Imagem 1 – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura.

Fonte: Publishnews, Redação, 2017.

Desse modo, o enfoque desta pesquisa será a educação patrimonial por meio do turismo cultural e suas possíveis técnicas de realização, auxiliando na difusão e na valoração do patrimônio cultural, sendo o seu objetivo geral confrontar se os tipos de mediações podem contribuir para a educação patrimonial, além de verificar se é um meio de difusão da valoração do patrimônio histórico, em específico do Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Dentro desse aspecto, num primeiro momento, busca-se realizar um inventário teórico sobre a educação patrimonial. A seguir, identificar quais são os recursos interpretativos existentes no local e quais são os recursos de mediações que são aplicados no local. Por fim, identificar a relação entre visitante e espaço patrimonial e como essa colabora para a sua valoração. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Patrimônio Cultural Em um breve recorte da linha temporal, temos a transição de patrimônio histórico para patrimônio cultural. Com os resultados catastróficos da Segunda Guerra mundial (1939-1945), estudiosos começaram a se preocupar com a restauração desses monumentos e notou-se que esses locais eram cobertos de experiências e vivências humanas e de materiais culturais, fazendo-os pensar que a definição de patrimônio histórico “representado pelas edificações” (CHOAY, 2011) era muito mais complexa, pois os monumentos históricos andavam juntos com as vivências humanas que se passam no espaço (FUNARI, 2006). Portanto, assim como o próprio sentido de patrimônio, o patrimônio cultural também teve seu conceito alterado no decorrer dos anos, pois, como afirma Dias (2006, p.67): o significado da palavra patrimônio passou de tesouro artístico, destinado à contemplação por uma minoria de privilegiados, para monumento histórico-cultural, de interesses dos Estados-nação, representativo da identidade nacional que desejava consolidar; posteriormente, passou a representar culturas e, como tal, a ser instrumento de educação universal.

Portanto, a partir da sua conceituação atual, é possível constatar que o patrimônio cultural é um instrumento para a educação de todos, deixando bem claro a sua importância no presente. A UNESCO (1972) define patrimônio cultural como monumentos, conjunto de edificações e sítios que trazem consigo “relevância universal do ponto de vista da história, da arte ou das ciências”. ;

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Por mais que a UNESCO, em 1972, não traga em sua definição a menção do patrimônio cultural imaterial, como a definição de Dias (2006), ela acaba por conceituar bem a importância que o patrimônio cultural tem para a humanidade. Contudo, iremos nos pautar na definição de patrimônio cultural de Dias (2006), por considerarmos mais adequada para a discussão da presente pesquisa. O patrimônio cultural traz consigo uma enorme riqueza que deve ser explorada e preservada, para que, assim, ocorra sua valorização e a difusão por meio de ferramentas como o Turismo Cultural, que, para Costa (2009, p.39), significa: “tipo de turismo que se estrutura a partir da visitação ou conhecimento, in loco, de recursos de origem cultural”, e a educação patrimonial que “constitui-se de todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o patrimônio cultural” (BRASÍLIA, 2014). Existem vários órgãos responsáveis por zelar por esses patrimônios no Brasil e no mundo. No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), fundado em 13 de janeiro de 1937, que foi criado por: meio da Lei nº 3784, assinada pelo então presidente Getúlio Vargas, os conceitos que orientam a atuação do Instituto têm evoluído, mantendo sempre relação com os marcos legais. A Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 216, define o patrimônio cultural como formas de expressão, modos de criar, fazer e viver. Também são assim reconhecidas as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e, ainda, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Portanto, o IPHAN surge para proteger e definir ou firmar o significado de patrimônio cultural sendo ele elementos que estão presentes no nosso dia a dia, não necessariamente algo físico. O IPHAN realiza vários projetos, dentre eles, o de educação patrimonial, que é definida pelo órgão como uma aprendizagem que pode ser formal ou não formal tendo como foco o patrimônio cultural, baseando-se na “construção coletiva e democrática do conhecimento” (IPHAN, 20--), esta forma de educação faz com que a sociedade aprenda a valorizar cada vez mais o patrimônio cultural que deve ser preservado. O órgão que protege o objeto de estudo deste projeto - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura - é o Conselho de Defesa ao Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAT). Esse órgão realiza a mesma função do IPHAN, porém, em escala estadual, atuando somente no estado de São Paulo. Desde 1968, o órgão já tombou mais de 500 bens, que são importantes para a preservação da cultura do estado de São Paulo. Em seu site, é possível realizar a coleta de dados sobre cada bem tombado por eles. Portanto, a importância de ter um órgão com a função de proteger e valorizar o patrimônio cultural é de extrema importância para que se preserve a história do passado para as próximas gerações e para servir de estudo e pesquisa.

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Artigo 46º - Fica criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, com a finalidade de promover, em todo o país e do modo permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional. ;

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2.2 Turismo Cultural O turismo moderno fez com que as razões dos deslocamentos se tornassem as mais variadas, esses foram determinantes para as segmentações do turismo (COSTA, 2009, p. 37). Esse fenômeno da globalização facilitou o intercâmbio entre diferentes culturas, que, em sua etapa final, pode provocar o encontro dessas por meio do turismo e, ainda sim, promovendo-o. Esse fenômeno também provocou a necessidade de se identificar e reforçar a identidade cultural de cada país (DIAS, 2006, p. 35). Consolida-se, assim, umas das segmentações: o Turismo Cultural, que é definido por Dias (2006, p. 39) como: uma segmentação do mercado turístico que incorpora uma variedade de formas culturais, em que se incluem museus, galerias, eventos culturais, festivais, festas, arquitetura, sítios históricos, apresentações artísticas e outras, que identificadas com uma cultura em particular, fazem parte de um conjunto que identifica uma comunidade e que atraem os visitantes interessados em conhecer características singulares de outros povos.

Portanto, o turismo cultural faz com que a cultura singular de cada indivíduo seja uma espécie de moeda de troca onde todos saem ganhando. O turismo cultural é dado como fundamental, pois ele trata de herança cultural e de patrimônio que pode ser visto como fonte de renda para a comunidade local e como experiências novas culturais, intelectuais etc., para a comunidade externa, ou seja, os turistas (DIAS, 2006). Barreto (2007, p. 87) define turismo cultural como sendo toda a segmentação do turismo que não foca na natureza, mas sim na “cultura humana, que pode ser a história, o cotidiano, o artesanato ou qualquer dos aspectos abrangidos pelo conceito de cultura.” A autora define de maneira bastante sucinta o conceito de turismo cultural, diferentemente de Dias, que aborda, além dos pontos citados por Barreto, a singularidade de cada cultura, motivo pelo qual se atraem muitos turistas a conhecer uma nova cultura. 2.3 Educação patrimonial Como já citado neste projeto, Dias (2006) afirma que o fenômeno da globalização fez com que surgisse a necessidade de firmar as identidades culturais. Afinal, com o mundo mais conectado, há uma perda na autenticidade, acontecendo a mistura e a sobreposição de culturas, resultando em um esquecimento do passado (BISPO, 2016). Em contrapartida, vem a educação patrimonial que, segundo Porta (2012, p. 81): visa promover tanto a disseminação de informações sobre o patrimônio cultural como a utilização desse patrimônio como fonte de conhecimento e aprendizado. Instrumento importante de sensibilização da sociedade, busca estimular e qualificar sua participação na preservação do patrimônio cultural.

Portanto, é por meio da educação patrimonial que o resgate ao patrimônio cultural e a sua valorização acontecem e são resultados da educação patrimonial a “alfabetização cultural” fazendo com que o indivíduo possa interpretar o mundo ao seu redor, levando em conta a cultura e a linha do tempo histórica de que faz parte (HORTA et al., 2015). A educação patrimonial pode ser realizada de diversas formas, assim como afirma Horta et al. (2015), independentemente da forma como ela é aplicada, o seu objetivo principal é “provocar ;

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situações de aprendizado sobre o processo cultural [...], que despertem nos alunos o interesse em resolver questões significativas para sua própria vida, pessoal e coletiva.” Umas das formas de se aplicar a educação patrimonial é por meio da Animação Cultural, que, segundo Choay (2011): Geralmente do interior do edifício que ela se propõe tirar de sua inércia para torná-lo mais consumível, considerando insuficiente a apropriação pessoal. Seu método é a mediação: Facilitar o acesso às obras por intermediários, humanos ou não. Uma hierarquia complexa conduz da mediação com efeitos especiais aos comentários audiovisuais, passando pela reconstituição de cenas históricas imaginárias, recorrendo-se a atores, manequins, marionetes ou imagens digitais.

É na mesma linha de raciocínio que Oliveira et al. (2005) vem definindo mediação sociocultural como “uma estratégia abrangente” e ainda afirma que “é fundamental na perspectiva do reforço do diálogo intercultural e da coesão social”. Ambos os autores conseguem trazer a mediação como meio enriquecedor de conhecimento para se exercer a educação patrimonial. Portanto, é importante frisar os três tipos de se praticar a mediação sociocultural, sendo eles o método imersivo, o diretivo e o construtivista que, por Darras (2009, p. 39), é definido sucintamente como: imersão:(o processo de mediação se faz de maneira não-formal no meio cultural; diretivo: a mediação é um dispositivo formal de transmissão de conhecimentos “eruditos”, portanto que descendem “daqueles que sabem” para “aqueles que não sabem); e construtivistas: as mediações são negociações que implicam interativamente os parceiros de troca.

Logo, a mediação por imersão se dá sem a presença de um mediador, contudo é realizada com auxílio de placas e panfletos informativos, por exemplo; já a mediação diretiva se dá com a presença de um mediador e é mais conhecida por ser o método mais tradicional, em que apenas o mediador dispõe do conhecimento. Entretanto, em sua forma mais rica, pode tanto o mediador quanto o público já trazerem um conhecimento e trabalharem, assim, em conjunto (DARRAS, 2009) e, por último, a mediação construtivista se dá por meio da construção do conhecimento entre o público e o mediador. Todas as formas de mediação agregam conhecimento e enriquecem o indivíduo, tanto na presença, quanto na não presença de um mediador, profissional responsável por atuar “como uma ponte entre margens opostas, como um elo de ligação entre narrativas forjadas em contextos diferenciados” (OLIVEIRA et al., 2005). 3. METODOLOGIA Para a escrita deste artigo foi utilizada como método de pesquisa a pesquisa bibliográfica por meio de sites, livros e artigos, que, segundo Gil (2010, p. 29) é: elaborada com base em material já publicado. Tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material impresso, como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais de eventos científicos. Todavia, em virtude da disseminação de novos formatos de informação, estas pesquisas passaram a incluir outros tipos de fontes, como discos, fitas magnéticas, CDs, bem como o material disponibilizado pela Internet.

Essa serviu para compreender melhor a ligação entre turismo cultural, patrimônio cultural e educação patrimonial. ;

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Foi realizada, também de caráter exploratório, a observação participativa. Essa técnica de pesquisa “utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também examinar os fatos ou fenômenos que se deseja estudar” (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 107). Essa foi realizada em três partes: uma enquanto visitante sem a presença de um mediador; outra como visitante na presença de um mediador e, por fim, passando a exercer a função de mediador, momento em que houve a oportunidade de constatar as diferentes visões e formas que o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura permite a partir da mediação. Cabe ressaltar que, na última etapa do trabalho de campo, aplicamos a mediação diretiva diferenciada. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados preliminares demonstram, a partir das três visitas com o intuito de apreender as visões e percepções dos visitantes do local utilizando a metodologia da observação participante, que: na primeira observação (sendo visitante sem a presença de um mediador) foi possível observar que as informações sobre a história do local são apresentadas em placas diminutas, com letras pequenas que não facilitam a leitura do visitante. De uma forma geral, o público que ali frequenta o espaço vai com o objetivo de tirar fotos, apreciar a vista do local e sua arquitetura, não acontecendo a valorização do patrimônio e não há nenhum incentivo presente que mostre, por meio dessas placas presentes, a educação patrimonial. Na segunda etapa da observação participante, havia a presença de um mediador e notou-se que o uso da mediação diretiva, em que apenas o mediador tem o conhecimento, ocorreu de forma lúdica. Nesse momento, é perceptível que a educação patrimonial está sendo realizada, pois, a todo o momento, o mediador relata que ali é um patrimônio que precisa ser preservado e valorizado, explicando até quais são os órgãos responsáveis por preservar o espaço. Durante essa observação, foi perceptível notar que, quando o público já traz consigo uma bagagem cultural, o entendimento sobre o local fica mais acessível, embora a presença do mediador possibilite agregar maiores informações ao público durante o roteiro dentro da Casa das Rosas e a valoração desse patrimônio cultural. Na terceira e última etapa, pudemos exercer o papel de mediador, realizamos a aplicação da mediação diretiva diferenciada, momento em que o público pode apreender de maneira desinteressada em seu tempo de lazer curiosidades sobre a história do local ou, até mesmo, sobre as rosas presentes no local e que dão referência à Casa das Rosas, acontecendo, dessa forma, a educação patrimonial e, como resultado, a valoração do patrimônio cultural. Para essa mediação, foram emitidas dicas em formato de poemas recitados pelo grupo mediador. Nesse momento da mediação diretiva diferenciada, a partir do uso de histórias e informações presentes nos poemas e nos cômodos da casa, o público buscava adivinhar qual espaço iriam visitar. Com isso, pudemos verificar que, quanto mais lúdica é a mediação, mais o público fica instigado a adquirir informações sobre o local da visitação. Dar atenção aos detalhes e trabalhar com os sentidos dos visitantes fizeram com que tudo se tornasse mais prazeroso, inclusive a questão do aprender no tempo livre. Essa experiência possibilitou verificar que a mediação diretiva diferenciada, por ser realizada de forma lúdica, torna-se mais interessante e recreativa já que o público espera uma mediação tradicional, como geralmente ocorre em outros espaços, como, por exemplo, visitação em museus. Todas as etapas da observação foram importantes para demonstrar o que o público espera aproveitar do espaço e se estão dispostos a absorver de forma interativa as informações presentes nos espaços por meio da educação patrimonial realizada a partir da mediação diretiva diferenciada que compõem a Casa das Rosas. Nesse sentido, os resultados alcançados demonstram que, quando o ;

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público já traz uma bagagem cultural ao realizar uma mediação diretiva diferenciada, conseguem aprender muito mais sobre o local, e a mesma, quando realizada de forma criativa, faz com que tudo se torne ainda mais prazeroso, auxiliando, ainda mais, na fixação do que foi passado durante a mediação. Imagem 2 - Aplicação da mediação diretiva diferenciada.

Fonte: Autoras. Imagem 3 - Final da mediação diretiva diferenciada no Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura.

Fonte: Autoras.

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CONCLUSÃO Com base nos resultados da observação participativa e referências bibliográficas, verificou-se que, por meio da mediação diretiva diferenciada, é possível adquirir conhecimento de forma desinteressada, ocorrendo de maneira bem-sucedida a valorização do patrimônio por meio da educação patrimonial. O mediador é o elo entre o conhecimento, público e objeto mediado, é nessa intermediação que se encontra a importância da sua função, pois, quando uma mediação é realizada com eficácia, o indivíduo pode desenvolver ainda mais seu senso crítico a partir de questionamentos e estímulos realizados durante a visitação mediada. O Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, mais conhecido como Casa das Rosas, tornou-se um patrimônio histórico cultural de São Paulo e serviu como objeto de estudo para a escrita deste artigo, pois traz consigo grande valor a ser agregado ao público que o visita, tanto pela sua arquitetura, quanto pelo seu valor histórico, sendo um dos únicos casarões restantes da Avenida Paulista (SP). Ademais, é um local que tem ainda muito o que melhorar com seus métodos de se realizar a educação patrimonial, já que recebe milhares de turistas durante o dia. A forma como é realizada a interação entre o espaço e o público se realiza por meio da mediação diretiva tradicional (aquela em que apenas o mediador possui o conhecimento sobre o local por meio da educação patrimonial), isto é, quando solicitada uma visita técnica ou para turistas também, quando não, o público realiza por si a mediação, ou seja, acontece uma mediação por imersão, consultando apenas as informações presentes no espaço, que pouco levam o público a compreender e descobrir curiosidades sobre o espaço, sendo essa uma prática da educação patrimonial não tão eficiente, fazendo com que os visitantes não extraiam todo o potencial cultural e histórico existente na casa. Devido a essa realidade, surge a importância do desenvolvimento da mediação diretiva diferenciada que, pelo uso de poemas e métodos recreativos, possibilita que o público descubra, de forma lúdica, aspectos históricos e culturais do local. Independentemente de ser diretiva, a medição acaba por se tornar prazerosa, abrindo a imaginação do público, que acaba voltando a momentos históricos que estão presentes na casa. Ao final da mediação, o público assiste a uma apresentação musical executada pelos mediadores, cujo nome da banda é: “Boa Pessoa - A banda mais bonita da cidade” - as letras das músicas contam a história da Casa das Rosas. Dessa forma, a observação participativa nos possibilitou verificar a diferença entre a mediação diretiva tradicional e a mediação diretiva diferenciada, sendo que esta última possibilita maior envolvimento do público com o espaço e com o mediador. A mediação diretiva diferenciada pode ser realizada pelo bacharel em turismo e técnico em lazer que possui conhecimento sobre o amplo caminho existente nas diferentes formas de educação patrimonial. Dessa forma, os estudos na área da educação patrimonial ainda necessitam ser mais explorados no âmbito acadêmico, para que, assim, possa haver a valorização do patrimônio, como forma de conhecermos nossa história e a história de outros povos. REFERÊNCIAS BARRETO, Margarita. Cultura e Turismo: Discussões Contemporâneas. Campinas: Papirus, 2007.

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PATRIMÔNIO IMATERIAL MARACATU NAÇÃO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O TURISMO ÉTNICO AFRO NA NOITE DOS TAMBORES SILENCIOSOS EM RECIFE (PE)¹ PESSOA, ISMAEL MUNIZ2 PIMENTEL, JULIANA MARIA VAZ3

ismael.muniz@unesp.br, juliana.vaz@unesp.br 1

Trabalho de Conclusão de Curso em desenvolvimento, vinculado ao Projeto Tons Afro Unesp Rosana (TAUR). Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ³ Doutora em Geografia (UFGD), Professora Assistente do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO – A cultura da capital Recife (PE) no contexto pós-moderno engloba aspectos de diversidade étnica. Essa riqueza cultural faz com que a cidade seja um dos destinos mais procurados no carnaval brasileiro pelos turistas. Com o suporte de pesquisas bibliográficas e documentais acerca do turismo étnico e do patrimônio imaterial, além de trabalho de campo, esta pesquisa tem como objetivo compreender a Noite dos Tambores Silenciosos de Recife (PE) e a presença do turismo étnico afro nesse evento. Pode-se considerar que o turismo étnico afro praticado na Noite dos Tambores Silenciosos é capaz de contribuir na valorização e disseminação do patrimônio imaterial Maracatu Nação e, ao mesmo tempo, gerar empregos e fontes de renda para a comunidade local, desde que a atividade seja planejada, pensando primordialmente na cultura do povo anfitrião. Palavras-chave: Maracatu Nação, Turismo Étnico Afro. ABSTRACT - The culture of the capital Recife (state of Pernambuco) in the postmodern context encompasses aspects of ethnic diversity. This cultural richness makes the city one of the most sought-after tourist destinations during Brazil’s carnival. With the support of bibliographic and documentary research on ethnic tourism and intangible heritage, as well as fieldwork, this research aims to understand the Night of Silent Drums of Recife (state of Pernambuco) and the presence of afro ethnic tourism in this event. Afro ethnic tourism practiced during Silent Drum Night can be considered to contribute to the enhancement and dissemination of the intangible heritage of Maracatu Nação, while generating jobs and income for the local community, provided that the activity is planned, thinking primarily about the culture of the host people. Key words: Maracatu Nação, Afro Ethnic Tourism.

1. INTRODUÇÃO A capital Recife é considerada pelo Ministério do Turismo – MTur (2015) o sexto destino mais procurado pelos brasileiros. Segundo o Portal G1 (2018), o estado do Pernambuco recebeu mais de 1,7 milhão de turistas e esses movimentaram cerca de R$ 1,6 bilhão só no carnaval de 2018. Esse valor é quase 30% maior se comparado ao carnaval anterior. Diante dessas informações, pode-se perceber que, a cada ano, a porcentagem de turistas que chega a Recife (PE), simultaneamente com a sua contribuição econômica, possibilitou um notável acréscimo econômico para a receita pública do município. ;

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Uma das manifestações culturais presentes nos atrativos turísticos de Recife (PE) é o Maracatu Nação, ritmo que se destaca principalmente no carnaval pernambucano. Dotado de riqueza cultural, expressa aspectos simbólicos do local a partir de elementos como a memória, a identidade e a formação da população afro-brasileira. Esse ritmo ainda permite o compartilhamento de práticas religiosas e remete às coroações de reis e rainhas do antigo Congo africano (IPHAN, 2014). Criado em 1968 pelo jornalista sociólogo Paulo Viana, a Noite dos Tambores Silenciosos é um evento realizado no Bairro de São José nas segundas-feiras de carnaval em Recife (PE). A cerimônia condiz com o encontro das nações de Maracatus de baque virado do estado de Pernambuco que buscam reverenciar seus ancestrais africanos (IPHAN, 2014). No cenário atual, a cerimônia é destaque na programação do carnaval recifense e atrai foliões, moradores e turistas de todas as partes do Brasil e do exterior. É iniciado com a leitura do poema Lamento Negro, criado pelo próprio fundador Paulo Viana, que denuncia a escravidão e suas heranças. Na época da escravidão, os negros não podiam expressar suas manifestações culturais e realizavam seus cortejos em silêncio. O ritual faz referência a esse episódio também, atingindo seu auge à meia noite, quando os tambores param de tocar, todas as luzes do bairro São José são apagadas e todo mundo se silencia. Nesse momento, o babalorixá Tata Raminho de Oxóssi passa a comandar a cerimônia e cânticos em iorubá são entoados aos eguns (LÉLIS; COSTA, s/d). A cerimônia é realizada no Pátio da Igreja Nossa Senhora do Terço, local de muita sensibilidade espiritual e que carrega relevantes bagagens históricas e culturais da população afro. Segundo Lélis e Costa (s/d), no Pátio da Igreja eram comercializados escravos trazidos da África, e até mesmo enterrados quando não resistiam aos maus tratos em que eram submetidos por seus feitores. No Pátio, além da igreja Nossa Senhora do Terço, estão presentes também as antigas casas nagôs de Pernambuco e de suas descendentes como Sinhá, Iaiá, Badia e tia Bernardina. Atualmente, o espaço é administrado pelo Núcleo de Cultura Afro Brasileira, vinculado à Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura do Recife (PE), onde ocorrem festividades da cultura afro-brasileira, entre elas, a tradicional Noite dos Tambores Silenciosos. Visto que o Maracatu, em sua duas variações (Nação e Rural), é reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde o ano de 2014, o objetivo da presente pesquisa visa compreender de que forma o Maracatu Nação de baque virado, enquanto patrimônio imaterial da cultura afro-recifense, contribui para o turismo étnico afro presente no evento Noite dos Tambores Silenciosos de Recife (PE). A ideia de turismo étnico afro adotada para este trabalho atrela-se à discussão de Trigo e Panosso Netto (2011), quando explicam que esse segmento no Brasil está: inserido no contexto da valorização cultural e cidadã nas sociedades pluralistas, democráticas e com forte consciência de preservação cultural e artística, inclusão social e respeito à diversidade étnica, cultural e comportamental. O turismo étnico-afro deve ser realizado a partir da consciência social, cultural e política das comunidades envolvidas. A valorização da cultura africana, ao ser transposta para o Brasil, deve ser entendida em seu eixo histórico, para se compreender a riqueza e as dificuldades por que essas culturas passaram ao longo do período colonial até sua situação atual, como protagonista na sociedade, em geral e no turismo, em particular. O planejamento, operação e gestão do turismo étnico-afro exige a compreensão das características históricas, antropológicas, sociais, políticas e econômicas das culturas envolvidas nesse processo para evitar preconceitos, visões erroneamente “exóticas” ou má interpretadas dessas culturas e povos. (TRIGO; PANOSSO NETTO, 2011). ;

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Nessa perspectiva, vale questionar de que forma a atividade turística está sendo trabalhada dentro da Noite dos Tambores Silenciosos. Será que esse tipo de turismo se associa às teorias sobre o segmento étnico afro? De que forma será que o patrimônio imaterial Maracatu Nação contribui nesse processo? Devido a esse contexto, faz-se notória a realização do presente estudo, visando a analisar de forma mais aprofundada alguns conceitos teóricos para melhor compreender a dinâmica do turismo étnico afro e sua relação com o patrimônio imaterial. A pesquisa poderá contribuir para o aprofundamento de novos debates e trabalhos acadêmicos que tenham como foco discussões atinentes ao turismo étnico afro e as abordagens relativas às questões culturais do povo afrodescendente na formação da identidade pernambucana e nacional. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Contribuições do Patrimônio Cultural Imaterial A origem da palavra patrimônio vem do latim patrimonium, que se refere a tudo que pertencia e estava sob o domínio do senhor pai - pater - de família na Roma Antiga, inclusive, a sua esposa, filhos, escravos, animais e bens. Desse modo, o termo patrimônio está ligado às “estruturas familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no espaço e no tempo” (CHOAY, 2001, p.11). Segundo Funari e Pelegrini (2006), a partir da Idade Média, a ideia de patrimônio, antes associada mais ao caráter aristocrático, passou a incorporar também aspectos religiosos por suas simbologias e coletividades como os valores da sociedade. Entretanto, a UNESCO (1972) compreende por patrimônio cultural, “um monumento, conjunto de edifícios ou sítio de valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico e antropológico”. Já o IPHAN, adota o exposto no artigo 216 da Constituição Federal de 1988: constituem o patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: (I) as formas de expressão; (II) os modos de criar, fazer e viver; (III) as criações científicas, artísticas e tecnológicas; (IV) as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; (V) os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988).

Diversos conceitos são empregados ao patrimônio, antes estavam atrelados à ideia de monumento histórico e edificações, posteriormente, a humanidade percebeu a amplitude de seus valores culturais. Além da tangibilidade, surgem novos conceitos de patrimônio considerando também sua intangibilidade, como colocado na Constituição Federal. Nesse sentido, verifica-se que as singularidades do Maracatu Nação se associam ao conceito de patrimônio cultural proposto pela Unesco (1972) pelo fato de seus aspectos simbólicos possuírem contextos históricos, antropológicos e etnográficos que remetem à cultura imaterial dos negros que chegaram em Recife (PE) no período da colonização. No que condiz ao patrimônio cultural, pode-se compreendê-lo como sendo o conjunto de bens materiais e imateriais. Com relação à sua natureza imaterial, o IPHAN (2003) entende como: as práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como ;

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mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas) [...]. O patrimônio imaterial é transmitido de geração a geração, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana (IPHAN, 2003).

Já o artigo 2˚ da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial o compreende como: as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana (UNESCO, 2003).

A Resolução nº 1, de 3 de agosto de 2006 (IPHAN, 2006), que complementa o Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, entende por bem cultural de natureza imaterial: as criações culturais de caráter dinâmico e processual, fundadas na tradição e manifestadas por indivíduos ou grupos de indivíduos como expressão de sua identidade cultural e social” [...]. Toma-se tradição no seu sentido etimológico de ‘dizer através do tempo’, significando práticas produtivas, rituais e simbólicas que são constantemente reiteradas, transformadas e atualizadas, mantendo, para o grupo, um vínculo do presente com o seu passado (IPHAN, 2000).

Para Porta (2012), a diversidade do patrimônio imaterial pernambucano começou a ser documentada apenas pelo IPHAN, mas as ações nesse campo já se estabeleceram com visibilidade e interesse da população. A autora compreende o patrimônio imaterial do estado de Pernambuco como um amplo conjunto de manifestações e tradições ligadas ao carnaval (troças, clubes e agremiações, caboclinhos, Maracatus Nação e Rural) ao São João, ao Natal, à religiosidade (catolicismo popular, rezadeiras, religiões de matriz africana, umbandas, juremas e catimbós), à capoeira e às comunidades indígenas e quilombolas. Ao considerar o Maracatu Nação no contexto do patrimônio, percebe-se sua relação com as características expostas nos conceitos citados acima. Toda a bagagem cultural que o ritmo traz consigo engloba questões históricas e religiosas que se agregam ao sentimento de identidade e à memória da etnia negra. O ritmo apresentado pelas nações de Maracatu na Noite dos Tambores Silenciosos é considerado uma manifestação cultural e está inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão do IPHAN desde o ano de 2014 como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Para o IPHAN (2014), o valor patrimonial do Maracatu nação reside em: Quadro 1 – Valor Patrimonial do Maracatu Nação. Carrega elementos essenciais Remonte às antigas coroações de reis e para a memória, a identidade e rainhas do Congo africano; a formação da população afro brasileira; Congrega relações Compartilha práticas, memória e fortes Comunitárias; vínculos com o Xangô e a Jurema Sagrada. Fonte: Adaptado de IPHAN, 2014. ;

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Esses valores patrimoniais que compõem o Maracatu Nação possibilitaram que, em 2014, o Maracatu, em suas duas variações, Nação e Rural, recebesse o título de patrimônio cultural imaterial do Brasil como expressão cultural genuinamente pernambucana. A importância de se preservar a cultura popular e o reconhecimento do Maracatu como patrimônio cultural criaram as condições necessárias para seu resgate histórico e perpetuação ao longo das futuras gerações. Sua certificação dá visibilidade à tradição e possibilita sua presença no cenário cultural do estado pernambucano, do Brasil e do mundo. Ao se referir sobre o manejo de um patrimônio, Barretto (2007) explica que, em um sentido amplo, faz parte de um processo que representa a conservação e recuperação da memória. Para Le Goff (1990), "a memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia”. O sujeito pós-moderno possui múltiplas identidades, é um ser fragmentado por sua instantaneidade e constante transformação no mundo globalizado (BARRETTO, 2000). Para Barretto (2007), a identidade: foi vista de diferentes formas em diferentes períodos. Em épocas pretéritas, antes da constituição dos estados nacionais ou em sociedades que ainda não estão incorporadas ao chamado processo da (denominada) civilização ocidental, a questão da identidade está bastante clara. As pessoas pertenciam a um clã, ou a uma tribo, ou à classe de servos, ou a uma casta, e acreditava que isso lhes era atribuído por poderes divinos. A pessoa nascia, vivia e morria tendo a certeza de qual era o grupo a que pertencia. Corresponde a essa situação a visão da identidade como algo determinado e fixo, uma característica humana imutável [...]. Na modernidade, a identidade passa a ser mais flexível, sujeita a mudanças e inovações, e depende em grande parte da relação com os outros. A identidade manifesta-se no pertencimento a determinados grupos - religiosos, políticos -, ou a papéis sociais, como ser mãe ou ser professor, por exemplo. As pessoas passam a sentir que a identidade é uma construção social (BARRETTO, 2007. p. 93).

A falta de uma identidade pode acarretar sérios problemas sociais e psicológicos para um indivíduo. A chamada crise de identidade se faz presente na vida de muitos jovens negros brasileiros entre 15 e 29 anos. Segundo a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra do Ministério da Saúde (2017), essa é a faixa etária que mais sofre homicídios e a ausência de uma identidade racial é uma das principais causas. O processo histórico de seus antepassados e a crítica desigualdade social enfrentados até a atualidade fazem com que muitos neguem a própria identidade passando a se espelharem no modelo eurocêntrico estabelecido desde muito cedo. No que diz respeito à identidade dos grupos de Maracatu Nação, o IPHAN (2014) cita que: nas décadas de quarenta e cinquenta do século XX, o maracatu nação também se firma como símbolo da identidade pernambucana, juntamente com o frevo, por meio de um intenso movimento de mediação cultural. Nesse movimento, carnavalescos, brincantes, artistas e intelectuais trataram de legitimar uma cultura que se considerava autêntica e legítima, além de representante do modo de ser local. Em meio à afirmação de uma identidade regional, às manifestações da cultura popular foram atribuídas 46 virtudes capazes de agregar sentimentos e emoções que congregavam os pernambucanos como um povo único (IPHAN, 2014).

Para que a memória do povo negro seja passada para futuras gerações, os sujeitos que fazem parte desse contexto histórico precisam compreender o processo em que estão inseridos e se empoderar para aceitação de si como indivíduo descendente de seus antepassados. A identidade das ;

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nações de Maracatu é de autenticidade recifense, onde se encontram as primeiras nações do mundo, foram elas que deram início à tradição e possuem o direito de repassar o verdadeiro fundamento do Maracatu para a sociedade. Nora (1984), ao falar sobre memória, cita os lugares de memória que: diferente de todos os objetos da história, os lugares de memória não têm referentes na realidade. Ou melhor, eles são, eles mesmos, seu próprio referente, sinais que devolvem a si mesmos, sinais em estado puro [...] o lugar de memória é um lugar duplo; um lugar de excesso, fechado sobre si mesmo, fechado sobre sua identidade; e recolhido sobre seu nome, mas constantemente aberto sobre a extensão de suas significações (NORA, 1984, p.27).

Pode-se relacionar o histórico Pátio do Terço, espaço onde se localiza a Igreja da Nossa Senhora do Terço e onde hoje são realizados eventos voltados apenas para a cultura afro-brasileira, entre eles a Noite dos Tambores Silenciosos, com o entendimento de Nora (1984) sobre lugar de memória, uma vez que esse local possui extrema sensibilidade espiritual. Lélis e Costa (s/d) também discorrem que o Pátio do Terço possui relação identitária com a famosa Casa das Tias Sinhá, Iaiá, Badia e Bernardina, todas descendentes das antigas Casas Nagôs de Pernambuco, terreiros de Xangô (denominação empregada à religião de origem afro brasileira pelos pernambucanos que em outros estados como na Bahia é chamada também de Candomblé). Segundo Motta e Brandão (2002 apud MASCARENHAS; CAMPOS 2011), “a Casa das Tias do Pátio do Terço correspondesse ao modelo mais antigo, para não dizer arcaico, do xangô de Pernambuco”. Mascarenhas e Campos (2011) alegam ainda que Badia teve influência no primeiro encontro das nações de Maracatu no Pátio do Terço para a cerimônia da Noite dos Tambores Silenciosos em 1968, juntamente com o sociólogo e jornalista Paulo Viana. De acordo com Lélis e Costa (s/d), o Pátio do Terço também serviu aos trabalhos de drenagem dos terrenos alagados no tempo da invasão holandesa no estado, durante o século XVII. Além de ter sido “local onde os negros ficavam, quando vinham de fora [...] e onde muitos foram morrendo” conforme afirma Raminho de Oxóssi, babalorixá do terreiro de Oxum Opara e atual responsável pela Noite dos Tambores Silenciosos, "Ali também eram vendidos os negros ou enterrados após a morte", complementa Manoel Papai, babalorixá do terreiro de Pai Adão (LÉLIS; COSTA, s/d). Esse lugar de memória agrega múltiplos episódios históricos que fazem parte de sua identidade. As manifestações culturais do patrimônio imaterial Maracatu Nação de baque virado expressadas nesse espaço durante a Noite dos Tambores Silenciosos também possuem relações identitárias com o Pátio do Terço. O turista que procura conhecer mais sobre o histórico desse local e as particularidades do patrimônio Maracatu Nação acaba reconhecendo o papel do negro enquanto protagonista de sua história e cultura. O patrimônio cultural imaterial Maracatu Nação exerce importantes contribuições para o desenvolvimento da atividade turística dentro do evento Noite dos Tambores Silenciosos, visto que o turismo é uma ferramenta de uso público do patrimônio que agrega forte potencial de conservar e preservar bens, promover a educação patrimonial, sensibilizar e conscientizar pessoas sobre a importância da preservação da cultura afro-recifense, além de disseminar a autenticidade do Maracatu Nação para o mundo.

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Figura 1 - Igreja de Nossa Senhora do Terço localizada no Pátio de mesmo nome.

Fonte: Do autor.

Em todas as segundas-feiras de carnaval é realizada a Noite dos Tambores Silenciosos nesse Pátio. No ano de 2019, foi montado um palco em frente à Igreja Nossa Senhora do Terço, onde as nações puderam se apresentar e seguir seu cortejo pelo Pátio (IPHAN, 2014). 2.1 Turismo Étnico Afro É notável a ênfase dada ao turismo como atividade de promoção, desenvolvimento e sustentabilidade do patrimônio cultural nos esforços da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO) pela preservação do patrimônio cultural. Percebe-se isso quando foi realizada uma breve análise das Cartas Patrimoniais que são documentos referentes às reuniões que discutem a proteção do patrimônio cultural ocorridas em diversas cidades do mundo. Nessas reuniões tem-se grande espaços para o debate sobre o turismo ao longo dos anos (LEAL et al., 2008). Após refletir sobre diversas definições aplicadas ao turismo por diversos autores considerados referências no assunto, Ignarra (2013) o compreende como: ;

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[...] uma combinação de atividades, serviços e indústrias que se relaciona com a realização de uma viagem: transportes, alojamentos, serviços de alimentação, lojas, espetáculos, instalações para atividades diversas e outros serviços receptivos disponíveis para indivíduos ou grupos que viajam. Engloba todos os prestadores de serviço para os visitantes ou para os relacionados a eles. O turismo é uma indústria mundial de viagens, hotéis, transportes e todos os demais componentes, incluindo o marketing turístico, que atende às necessidades e aos desejos dos viajantes. Do ponto de vista estritamente econômico, pode-se dizer que é a soma total dos gastos turísticos dentro de um país, subdivisão política ou região econômica centrada no deslocamento de pessoas entre áreas contíguas. Nesse conceito, são também considerados os efeitos multiplicadores dos gastos turísticos (IGNARRA, 2013).

A atividade turística possui um leque de segmentos que compreendem as demandas do mercado (PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009). Dentre as diferentes segmentações, destaca-se o turismo cultural associado às: outras atividades turísticas, como uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciência do visitante e sua apreciação da cultura local em todos os aspectos históricos, artísticos etc. Desse modo, turismo cultural é uma segmentação do mercado turístico que incorpora uma variedade de formas culturais, em que se incluem museus, galerias, eventos culturais, festivais, festas, arquitetura, sítios históricos, apresentações artísticas e outras, que, identificadas com uma cultura em particular, fazem parte de um conjunto que identifica uma comunidade e que atraem os visitantes interessados em conhecer características singulares de outros povos (DIAS, 2006, p. 39).

Nesse contexto, o turismo cultural possui deslocamentos característicos para fins religiosos, místicos, cívicos e étnicos, em que cada localidade passa a receber turistas que possuem interesses específicos em relação às suas atratividades, como é o caso de Recife (PE), que se destaca também pela oferta de eventos e manifestações afroculturais. A capital pernambucana é um polo de culturas e usufrui da atividade turística para agregar valores a seus atrativos. No período carnavalesco, na alta temporada, é comum a saída de grupos ligados à cultura e religiosidade afro para manifestação cultural, dentre eles, orquestras de frevo, grupos de afoxés, caboclinhos, Maracatus Rurais e Nações. As apresentações desses grupos culturais nas ruas da cidade atraem turistas, curiosos, simpatizantes e até mesmo a própria comunidade recifense, momento oportuno para se trabalhar a educação patrimonial e sensibilizar os espectadores a refletir sobre a luta desse povo por igualdade social. Esse fenômeno relaciona-se com o entendimento de Dias (2006), ao apontar que o turismo cultural contribui para aumentar a consciência do visitante e sua apreciação da cultura local nos aspectos históricos e artísticos. Castro (2008), após relacionar com o turismo cultural, entende por educação patrimonial: [...] elemento capaz de ajudar a recuperar a memória e a identidade local, de sensibilizar a comunidade para seus valores culturais, despertando sua identidade. Conservando e valorizando o Patrimônio Cultural, para promover o desenvolvimento do Turismo Cultural (CASTRO, 2008).

Portanto, nota-se que as apresentações das nações de Maracatu na Noite dos Tambores Silenciosos de Recife (PE) podem ser entendidas como forma de educação patrimonial da qual a atividade turística se apropria, pois a interpretação lúdica do cortejo articula a riqueza étnica cultural dos negros recifenses com sua luta histórica por um espaço igualitário na sociedade. ;

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De acordo com Oliveira et al. (2016), a cultura pernambucana é fortemente marcada pela diversidade cultural e histórica, constituindo um espaço pluriétnico, devido à presença das raízes dos negros, índios e europeus. Essa multiculturalidade pode ser identificada nas expressões literárias, musicais, teatrais, nas artes plásticas, arquitetura, danças, festas populares e religiosidade. As trocas culturais contribuíram para a formação de uma cultura diversificada e rica. No entanto, é oportuno destacar que a influência da cultura africana influencia na formação da identidade pernambucana e nacional. Esses aspectos afroculturais, como músicas, artes, dança e religiosidade, estão presentes nas apresentações das nações de Maracatu na Noite dos Tambores Silenciosos. Dentro do turismo cultural, pode-se identificar outras vertentes que compreendem as necessidades específicas do turista e a oferta de serviços para satisfazê-lo (BAHL, 2009), como, por exemplo, o turismo étnico que: constitui-se das atividades turísticas decorrentes da vivência de experiência autênticas em contatos diretos com os modos de vida e a identidade de grupos étnicos. Busca-se estabelecer um contato próximo com a comunidade anfitriã, participar de suas atividades tradicionais, observar e aprender sobre suas expressões culturais, estilos de vida e costumes singulares. Muitas vezes, tais atividades podem articular-se como uma busca pelas próprias origens dos turistas, em um retorno às tradições de seus antepassados. O turismo étnico envolve as comunidades representativas dos processos migratórios europeus e asiáticos, as comunidades indígenas, as comunidades quilombolas, e outros grupos sociais que preservam seus legados étnicos como valores norteadores em seu modo de vida, saberes e fazeres (BRASIL, 2006).

Para Bahl (2009), o turismo étnico surge por meio de dois pressupostos que contribuem para a formação da identidade de um grupo social: o primeiro está associado ao aparato social e cultural de uma localidade como seu marco de identidade e diferenciação, já o segundo, à ideia de divulgação da existência de uma etnia ou grupo em particular visando o seu reconhecimento e inserção num contexto nacional e internacional (BAHL, 2009).

Na divulgação do carnaval recifense é enfatizada a diversidade étnica cultural que a capital possui, sendo os traços europeus, indígenas e africanos citados por Oliveira et tal (2016) fortemente representados nas manifestações culturais da cidade. Os turistas que buscam essas apresentações, especificamente o cortejo das nações de Maracatu na Noite dos Tambores Silenciosos, podem ser entendidos com a ideia de turismo étnico defendida pelo Ministério do Turismo (2006) e Bahl (2009), na qual, dentre as diversas etnias, sua principal motivação é conhecer e vivenciar elementos relacionados essencialmente à cultura e religiosidade afro-recifense retratadas nos desfiles das nações. Entretanto, vale ressaltar a importância de que esse turismo não seja divulgado apenas como uma atividade econômica. Como é apontado por Sant’Anna (2006 apud PORTA, 2012): os principais problemas que interferem na continuidade e na manutenção das expressões da cultura tradicional são o turismo predatório, sua apropriação inadequada pela mídia, a uniformização de produtos decorrente do processo de globalização da economia, a apropriação industrial dos conhecimentos tradicionais e a comercialização inadequada. Esta é prejudicial quando ocorre por meio da produção em série de cópias de objetos tradicionais; da introdução de materiais não apropriados ou formas inadequadas com vistas ao lucro rápido; da apropriação gratuita de padrões originais ou princípios tecnológico tradicionais. ;

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Diante do valor econômico desses bens, é necessário que cada país crie disposições legais que lhes garantam melhor proteção.

O turismo étnico também tem que ser promovido de modo a dar visibilidade étnica à cultura visitada, o que consequentemente intenciona o reconhecimento e fortalece a identidade negra como elemento fundamental no processo de formação histórica do destino. Para isso, precisa-se de políticas públicas favoráveis e de um planejamento turístico que sejam eficazes e desenvolvidos por profissionais da área capacitados em prol do desenvolvimento sustentável da atividade turística, respeitando as características imateriais do patrimônio Maracatu Nação. Por esse tipo de turismo estar relacionado principalmente com a cultura afroétnica da cidade de Recife (PE), procurou-se adentrar nos conceitos aplicados à ideia de turismo étnico afro para melhor entendimento desse fenômeno que ocorre na Noite dos Tambores Silenciosos. Trata-se de um segmento emergente em ascensão no mercado e no meio acadêmico e está relacionado com turismo cultural, como é apontado por Silva (2016), que o compreende como: o turismo, de um modo geral, é responsável por promover a integração de culturas, povos e grupos “fora dos padrões” convencionais, especificamente através do Turismo Cultural e/ou Turismo Étnico. Porém, esses segmentos turísticos são inerentes e entrelaçados. O primeiro proporciona a apreciação dos bens materiais e imateriais, enquanto o segundo é a valorização e promoção dos costumes, hábitos ou modo de vida de um grupo. Por isso, o segmento de Turismo Étnico-Afro envolverá atividades, experiências e vivências da cultura afro-brasileira (SILVA, 2016).

Já Trigo e Panosso Netto (2011), ao pesquisarem sobre esse segmento no contexto brasileiro, enfatizam que: o turismo étnico afro precisa ter consciência de que se insere em uma vertente histórica e em um espaço econômico, cultural e social que exige cuidados e atenções para uma população que foi, durante séculos, submetida a um tratamento desigual provocado pelo racismo sistêmico do regime escravocrata. Esse sistema deixou marcas visíveis e sensíveis na sociedade brasileira. Por causa da estabilização democrática e das conquistas no âmbito da cidadania, do pluralismo e da diversidade, juntamente com outros segmentos excluídos ou marginalizados da sociedade, as culturas de origem negra ganharam espaço e visibilidade, participando cada vez mais da vida nacional em todos os níveis. O problema do antagonismo, analisado por Roger Bastide, precisa ser considerado pelo turismo. O setor deve auxiliar tanto no campo das políticas públicas de turismo e de inclusão social, quanto na elaboração de políticas – públicas ou privadas – no campo das artes e cultura. Dessa forma, pode-se minimizar essa dicotomia entre política e cultura através de práticas de lazer, esportes e turismo que considerem a participação das comunidades envolvidas nos diversos projetos, que garantam a sustentabilidade – natural e cultural – a inclusão e a justa distribuição de renda e lucros (TRIGO; PANOSSO NETTO, 2011).

Diante dessas definições, pode-se entender as nações de Maracatu como grupos étnicos afro que conquistaram reconhecimento cultural e liberdade de expressão nos espaços da cidade do Recife (PE) ao longo dos anos, e a Noite dos Tambores Silenciosos é um dos principais eventos a exemplo disso. Outro elemento que caracteriza a Noite dos Tambores Silenciosos como atrativo étnico afro é sua ligação com a religião de matriz africana (candomblé ou xangô, umbanda, jurema), em que a essência do Maracatu Nação está embasada nos fundamentos da religiosidade dos orixás, como é apontado por Chacon Viana, mestre da nação Porto Rico, em entrevista ao IPHAN, em 2012: ;

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diferente de muita gente, eu não trato maracatu como manifestação popular ou manifestação cultural... Eu trato maracatu como minha religião. Eu não falo só de Porto Rico, tô falando de maracatu, tô falando das nações, das tradições do fundamento... Maracatu é minha religião. Nós (a Porto Rico) não somos um candomblé de rua, nós somos o candomblé na rua (IPHAN, 2014).

Esses aspectos também são destacados por Clóvis Cosme dos Santos, babalorixá e presidente do Maracatu Nação Encanto da Alegria, ao ceder entrevista para o IPHAN no mesmo ano de 2012, na qual discorre que “o maracatu, primeiro que tudo é uma maneira de eu divulgar minha religião, e levar minha religião mais adiante, tá certo? Para que as pessoas possam ver a beleza e tirar aquela imagem negativa da nossa religião, então para mim isso é muito bom.” A religiosidade do candomblé é tão presente nos Maracatus que alguns grupos que ainda não têm um espaço adequado para sede da nação, usam o próprio terreiro, ao qual estão vinculados, para guardar seus instrumentos, realizar as atividades necessárias para colocar o Maracatu na rua e ainda cultuar sua religião. Essa dificuldade é uma realidade enfrentada por diversas nações que ainda não estão tão estruturadas no mercado cultural, como é elencado por Maciel Agripino dos Santos, presidente e babalorixá do Maracatu Nação Estrela Dalva (2012 apud IPHAN, 2014): A sede do maracatu é aqui no candomblé. A gente não tem como fazer um espaço para colocar a sede. Mas aqui fica a sede e o candomblé. A gente faz as duas coisas. Quando chegar o começo de dezembro, a gente não vai nem mais dar toque não. A gente vai fechar para o carnaval. Não vai ter mais nada. Só abre em março agora, depois do carnaval (IPHAN, 2014).

Esse vínculo identitário com a religião caracteriza o ritmo e a Noite dos Tambores Silenciosos. O turista étnico afro, participante do evento, conscientiza-se dessa relação artística e musical com os batuques de terreiro que simboliza a legitimidade da tradição do Maracatu Nação. De acordo com Pessoa, Souza e Pimentel (2018), o turismo étnico afro tem potencial de contribuir para o reconhecimento da cultura afro descendente nos destinos turísticos onde se desenvolve. Esse segmento pode possibilitar o resgate da identidade cultural dos negros e afrodescendentes, apropriando-se de forma benéfica de sua cultura como elemento fomentador da visitação e das características étnicas de uma dada localidade, como ocorrido na Noite dos Tambores Silenciosos de Recife (PE), quando o turista se torna ciente dos aspectos religiosos e culturais dos negros transpassados pelas nações de Maracatu durante o evento. Esse contato pode conscientizar pessoas que antes não valorizavam elementos relacionados à cultura afro-brasileira ou até mesmo praticavam algum tipo de discriminação racial contra o próximo. Portanto, além de potencializar a economia local, esse tipo de turismo pode contribuir para a valorização e preservação da cultura afro-recifense representada na Noite dos Tambores Silenciosos por meio da essência do Maracatu Nação, desde que a atividade seja planejada e executada por profissionais da área capacitados, pensando primordialmente na comunidade anfitriã, seus costumes e tradições, na inclusão e na justa distribuição de renda entre os protagonistas, como apontado por Trigo e Panosso Netto (2011). 3. METODOLOGIA Para elaboração do trabalho, foi realizada uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório, pois as investigações que se voltam para esse tipo de análise têm como objetivo situações complexas ;

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ou particulares. Os estudos que empregam esse método podem descrever a complexidade de determinado problema, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, entre outros (RICHARDSON et al., 2008. p. 80). O uso das técnicas qualitativas contribuiu para interpretação das informações sob uma perspectiva antropológica por se tratar de um evento e de um patrimônio específico da cultura afro-recifense. Buscou-se materiais bibliográficos na área do Turismo (TRIGO; PANOSSO NETTO, 2011; SILVA, 2016; BAHL, 2009; DIAS, 2006; IGNARRA, 2013; BARRETO, 2007) e do Patrimônio Cultural (CHOAY, 20001; LE GOFF, 1990; NORA, 19845; FUNARI; PELEGRINI, 2006; PORTA, 2012) em fontes como livros, dissertações e artigos científicos para melhor entendimento do tema. Realizou-se uma pesquisa documental nos sites da UNESCO e do IPHAN para reunir informações sobre patrimônio, especificamente, o patrimônio Maracatu Nação, além de consultar livros no acervo da Biblioteca da Secretaria Estadual de Cultura do Pernambuco - SECULT PE que abordam o tema. Visto que: os documentos de fontes primária são aqueles de primeira mão, provenientes dos próprios órgãos que realizam as observações. Englobam todos os materiais, ainda não elaborados, escritos ou não, que podem servir como fonte de informação para a pesquisa científica. Podem ser encontradas em arquivos públicos ou particulares, assim como em fontes estatísticas compiladas por órgãos oficiais e particulares (LAKATOS, 2001).

Foi aplicada a metodologia de observação na Noite dos Tambores Silenciosos de Recife em 2019 e também foram visitados o Núcleo de Cultura Afro Brasileira e o Pátio da Igreja Nossa Senhora do Terço, ambos situados no Bairro de São José - Recife (PE), com o intuito de coletar mais informações sobre a Noite dos Tambores Silenciosos. A participação no evento, na segunda-feira de carnaval (04/03) do ano de 2019, foi de suma importância para vivenciar de perto as apresentações das nações de Maracatu e trazer sua interpretação para o meio científico do turismo. Tal método refere-se ao: engajamento na cena social experienciando e procurando entendê-la e explicá-la. O pesquisador é o meio através do qual isso acontece. Escutando e vivenciando, as impressões são formadas e as teorias consideradas, refletidas, desenvolvidas e modificadas. A observação participante [...] é um estudo disciplinado e sistemático que, se bem realizado, auxilia muito no entendimento das ações humanas e traz consigo novas maneiras de ver o mundo social (MARCONI; LAKATOS, 2009).

O uso desses métodos forneceu subsídios suficientes para elaboração da pesquisa. Por fim, a compilação do material levantado durante a pesquisa foi organizada em duas fases para facilitar a leitura do conteúdo: na primeira, analisou-se os materiais coletados na pesquisa bibliográfica e documental e, na segunda, as informações adquiridas na pesquisa de campo. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS O Maracatu Nação é composto por um conjunto musical percussivo e por um cortejo real que evoca as coroações de reis e rainhas do antigo Congo africano. Os grupos de Maracatu são constituídos, principalmente, pelos seguintes personagens, com as respectivas funções (IPHAN, 2014):

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Porta-estandarte: trajada à Luís XV, leva consigo o estandarte com o nome e ano de fundação da nação abrindo caminho para os demais desfilantes. Dama do paço: empunhando as calungas, bonecas que representam orixás ou eguns. As calungas são conduzidas apenas pelas damas do paço, mulheres que cumprem obrigações religiosas para poderem pegá-las. Ambas simbolizam o axé do grupo. Assim como o estandarte, é um item obrigatório em qualquer apresentação, variando apenas o número de damas do paço e de calungas que desfilam. Rei e Rainha: casal real, principais personagens, é para suas coroações que acontece todo o cortejo percussivo. São precedidos pela corte propriamente dita, constituída de casais nobres trajando à Luís XV, cujas fantasias são ricamente adornadas, bordadas com lantejoulas, com aplicações em pedras e aljofre, demonstrando todo o luxo e glamour que caracteriza a estética dos Maracatus nação. Rei e rainha estão sempre protegidos pelo pálio, símbolo da realeza, e circundados por pajens, porta-leque, porta-abajur e a guarda real, que pode ser constituída pelos soldados romanos ou por lanceiros com fantasias diferenciadas. Caboclo: também aparece entre os personagens que abrem o cortejo. Este representa um índio, trazendo arco e flecha, que se denomina preaca, e usa grande cocar enfeitado de penas, principalmente as de pavão. Executa passos que mescla a dança do caboclinho com a do frevo, ritmados ao som do Maracatu. Executa também, em alguns casos, passos coreografados semelhantes a passos de um “índio em pé de guerra”. Damas de frente: trazem consigo flores ou troféus conquistados em concursos e vêm trajadas à moda da corte europeia. Ala dos orixás: dança as performances associadas aos orixás, sendo sua presença não obrigatória. Entidades da Jurema: principalmente os mestres e as mestras. Algumas trazem consigo champanhe e taças, reproduzindo no desfile a performance dessas entidades nos terreiros. Entretanto, nem todos os Maracatus trazem esses personagens para os desfiles. Baianas ricas: usam amplas saias rodadas, algumas trajando fantasias que se assemelham aos axós utilizados nos terreiros. Baianas de cordão, ou catirinas: acompanham o cortejo real nas laterais e normalmente trajam fantasias confeccionadas com chitão florido. A principal diferença entre uma e outra está no uso das “saias de armar”, que dão volume às fantasias das baianas ricas, enquanto as fantasias das catirinas são destituídas desse recurso. Lanceiros: constituem uma guarda que simbolicamente deve proteger o casal real. Em geral, trazem consigo uma lança e um escudo, além de fantasias que os definam como soldados. Nas últimas décadas, tem havido uma gradativa sofisticação nas fantasias utilizadas por esses personagens, buscando assemelhá-los a guerreiros africanos. Eles, por sua vez, vêm contribuindo para colocar em desuso outro personagem: o soldado romano. Ele compunha uma espécie de guarda pessoal do casal real e desfilava ao lado deste. Escravos: última ala do cortejo. Trazem instrumentos de trabalho, tais como foices, enxadas, pás etc. Batuqueiros: animam o cortejo com seus instrumentos.

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Essas personagens podem variar de uma nação para outra. O cortejo tem por objetivo apresentar o rei e a rainha que são anunciados ao som dos batuqueiros. Todos os instrumentos utilizados no Maracatu Nação são de percussão (IPHAN, 2014), como observado na lista a seguir: • • • • • •

Alfaias (tambores); Caixas de guerra; Gonguê; Abês; Ganzá; Atabaques.

A maioria desses instrumentos é de origem africana e alguns sofreram adaptações no decorrer do tempo para melhor afinação. O turista que aprecia as apresentações das nações de Maracatu na Noite dos Tambores Silenciosos e que busca conhecer mais as particularidades do patrimônio acabam compreendendo esses instrumentos, as personagens e suas funções dentro do cortejo. Ao pesquisar sobre o que de fato é o evento Noite dos Tambores Silenciosos, foram encontrados alguns pontos de vistas que nortearam a discussão. Segue lista com algumas contextualizações sobre o evento de diversos autores: Silva Júnior (2009): a Noite dos Tambores Silenciosos é uma manifestação religiosa reelaborada pelos afro-descendentes do Recife, e que vem se transformando a cada ano em um dos principais pontos da programação do carnaval recifense. Uma cerimônia ritualística que vem adquirindo, cada vez mais, espaço na mídia e que atualmente acontece na frente da Igreja de Nossa Senhora do Terço, situada no bairro de São José e, segundo adeptos do candomblé que estão envolvidos na organização da celebração, com a permissão de Oiá, no intuito de fazer memória dos africanos mortos em solo brasileiro e seus descendentes, membros importantes dos terreiros pernambucanos. Para estes, um momento sagrado, transcendente, em meio ao profano, no qual os fiéis participam com devoção de tal cerimônia religiosa. IPHAN (2014): a Noite dos Tambores Silenciosos é uma celebração que ocorre toda segunda feira de carnaval, no Pátio do Terço, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Terço. Grupo a grupo, os Maracatus Nação seguem pela Rua Vidal de Negreiros em direção ao adro da igreja, onde prestam homenagens aos seus antepassados, ou ancestrais, cantando toadas, acompanhados do batuque e do cortejo real. Chegando ao palanque, cada nação realiza uma breve apresentação de seu baque e de suas toadas, retirando-se do Pátio por uma rua lateral e abrindo espaço para que a próxima nação possa se apresentar. Guillen; Lima (2007): a Noite dos Tambores Silenciosos, evento que ocorre na segunda-feira de carnaval no Pátio do Terço, e que ao longo dos anos tem sido assumido pelos movimentos políticos e culturais de grupos de afro-descendentes como um grande ritual de congraçamento e celebração da cultura afro no Recife. É marcadamente um evento de cunho religioso e não haveria exagero se o apontássemos como o ritual de maior visibilidade que as religiões consideradas de matriz africana conseguem lançar para a sociedade. A Noite dos Tambores Silenciosos, por si só, merece uma discussão aprofundada [...]. Vale salientar que o evento assumiu essas características ao longo dos ;

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anos, e não tinha esse caráter na ocasião em que foi instituído, em torno do início dos anos 1960, apesar de já apresentar o caráter de rememoração da escravidão. Marcelo Favalli (2006 apud Júnior Silva, 2008): para o candomblé, segunda-feira de Carnaval é dia de homenagear as almas. O ritual, que veio para o Brasil com os escravos africanos, resiste na tradicional Noite dos Tambores Silenciosos. Em Recife, a cerimônia começou em 1968 e foi incorporada aos dias de folia. Este ano [2006], um dos polos do Carnaval multicultural da cidade foi instalado no largo da Igreja de Nossa Senhora do Terço - palco das festividades dos afrodescendentes recifenses - para prestigiar o desfile das 24 nações de maracatus de baque virado que entoam cânticos de xangô. A marcha dos dançarinos é marcada pela batida de tambores. Estandartes trazem o nome dos maracatus e são seguidos por uma corte vestida como reis e rainhas africanos. A apoteose da cerimônia acontece pontualmente à meia-noite, quando todas as luzes do bairro de São José são apagadas dos maracatus são liderados por tochas até a porta da igreja da parca do Terço. O silêncio é quebrado pelo intermitente bater de tambores. Ali, o babalorixá Raimundo de Oxossi, atual responsável pelo ritual, alinha os batuqueiros e rege um coro de mães-de-santo que rezam com ele. O babalorixá termina o culto abençoando os membros dos maracatus e o público. Entrevista realizada com o Babalorixá Raminho de Oxóssi por Júnior Silva em 19/05/2008: aquilo ali começou... Eu fui criado por duas velhas que moravam ali no Pátio do Terço e elas, quando eu era pequeno, eu via elas fazerem os Tambores Silenciosos. Elas desciam, saiam da casa delas, juntavam três, quatro, cinco velhas e faziam aquilo. Era um negócio pequeno. Elas faziam aquela louvação e faziam aquele, como é que chama? Aquela oração aos antepassados. [...] Era Na, laiá, Tia Eugênia, Dudu Baitó, Ginininha... tinha umas dez velhas porque ali quando eu era pequeno, ali não tinha comércio não, só morava africano. [...] Eu vi aquilo, comecei a ver acompanhando aquilo ali com elas, eu era pequeno, pela mão elas me levaram. Depois começou, foi aumentando, foi aumentando, foi aumentando e a uns vinte, vinte e cinco anos a trinta sou eu quem faço. Porque ali foi passado de família a família. Ali era o lugar onde os vapores ficavam e os negros vinha pra li. Ali eles eram vendidos, ali eram ficavam ali, naquele Pátio, os portugueses olhando eles, via..., se via…, se os dentes eram bons, se ele já era forte pra comprar, pra ser empregado. [...] Era ali onde eles morriam, ali onde eles chegavam, ficavam sofrendo, ali eles morriam, acontece a morte deles ali, e por isso que se faz ali. Agora o maracatu se começa de suas sedes pra lá e se reúnem, porque como maracatu é festa de negro, aí vai pra ali festejar as..., as…, fazer aquela cerimônia. Inclusive aquele ali é aquele pessoal que faz não tem mas nem nada com o assunto porque não tem mais, mais africano ali, eles fazem só pros antepassados. [...] Paulo Viana aumentou a história. Porque quando eu era menino Paulo Viana também acho que era garoto ou nem era nascido, porque eu não sei com quantos anos ele morreu. Era um grupo só de africanos que fazia aquilo. Agora Paulo Viana aumentou, porque quando chega na parte do jornal, aí a coisa aumenta né? Ele aumentou. Porque aquilo ali eu me lembro, elas, elas desciam, saiam, me lembro que naquela época só morava africano, elas saiam com aquela turma todinha, aquelas velhinhas aí cantavam: "Banzo é, banzo á Ker nu panzuelé Kerê no seduwá”

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Saudando os mortos!!! Aquilo ali era tão rápido, fazia aquilo, e cantava duas toadinhas para egum, invocava os tios, acabou, terminava. Agora Paulo Viana pegou aquilo ali e levantou, né? Jornalista, sabe como é que é? Quando Paulo morreu ficou em cima de mim. Findou dando trabalho a mim, mas é isso né. Paulo não fez, Paulo levantou e divulgou. (...) Coisas que não tinha (sorrisos) sabe? Eu me lembro que ia dar meia-noite, Ná fazia assim "vai dar meia-noite, vamos embora". Pegava a gente pela mão. A gente saia. Chegava na frente da igreja. Ficava aquele grupinho de velhas, de menino, era eu, Badia, uns quatro ou cinco meninos pra ver aquilo ali. Era rápido. [... ] Agora Paulo Viana entrou lá em casa e começou a se dar, chamando Ná de mãe, pa pa pá, vira e mexe, aí ele pegou aquilo ali, tudo ele levantava, né? Ai levantou aquilo ali. [...] Ali morreu negro de Angola, Ketu, Gege, de... e os negros que foram morrendo, aí todos os maracatus, cada um festeja uma parte, né? Tudo é negro! Quando se trata da Noite dos Tambores Silenciosos, pouco se fala de turismo. Há ainda quem o enxerga como algo negativo para o evento. Entretanto, sabe-se de sua atratividade turística e para melhor organização do evento seria interessante considerar esses aspectos para que os visitantes consigam de fato interpretar todo o contexto do local e do ritual que está sendo transmitido e, posteriormente, disseminar a valorização do patrimônio Maracatu Nação. Mascarenhas e Campos (2011) observam que: o evento encara pequenas modificações a cada ano desde sua criação, além de ser uma atração turística em plenas comemorações carnavalescas, contando com a presença não só dos envolvidos, mas também de visitantes alheios e curiosos (MASCARENHAS; CAMPOS, 2011).

Essas modificações se dão por diversos fatores que estão ligados diretamente ou indiretamente na realização da Noite dos Tambores Silenciosos. A mudança de pessoas e interesses por parte dos stakeholders que estão, de alguma forma vinculados à organização do evento pode ser entendida como um dos elementos que levam a essas modificações do evento, destacadas pelos autores acima, assim como a novas adaptações das nações de Maracatu no mercado cultural e turístico para melhor atender suas demandas, que estão em constante mudança. CONCLUSÃO Os turistas que buscam a Noite dos Tambores Silenciosos podem até procurar outras atrações durante a programação do carnaval como o famoso Galo da Madrugada, Olinda Beer, shows de artistas locais como Alceu Valença, mas sua principal motivação é a busca pela verdadeira essência do que é o Maracatu e a tradicional Noite dos Tambores Silenciosos. Participando do evento, pôde-se perceber que chegam turistas de todas as partes do mundo para prestigiar o evento. Muitos já possuem conhecimento prévio sobre a cultura afro-recifense. A maioria dos visitantes realmente vai a Recife (PE) em busca do Maracatu Nação e de sua autenticidade e procura vivenciar a famosa Noite dos Tambores Silencioso num local que exerce extrema importância para a cultura afro. Com isso, pode-se considerar que esse tipo de turismo praticado na Noite dos Tambores Silencioso condiz com as teorias sobre turismo étnico afro. A permanência desses turistas étnico afro na cidade do Recife (PE) durante o período carnavalesco contribui para a economia e mercado turístico da região, na qual, para além da Noite dos Tambores Silenciosos, busca-se também outros eventos afroculturais relacionados ao patrimônio ;

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Maracatu Nação, serviços e equipamentos turísticos, como agenciamento, transportes, alimentos e bebidas, meios de hospedagem e atrativos como museus, templos religiosos e parques. Dessa forma, é notória a movimentação do trade turístico e o retorno econômico para o destino com a estada desses turistas, motivados principalmente por conhecer os fundamentos do Maracatu Nação. Diante desse cenário, torna-se explícita a contribuição do patrimônio imaterial Maracatu Nação para o desenvolvimento do turismo étnico afro. Cabe ao poder público olhar para esse contexto e criar políticas públicas favoráveis para melhor organizar o desenvolvimento sustentável do turismo étnico afro no município de forma que valorize a cultura e integre a comunidade afro-recifense. REFERÊNCIAS BARRETTO, M. Cultura e Turismo: discussões contemporâneas. Campinas SP: Papirus, 2007. BARRETTO, M. Turismo e Legado Cultural: as possibilidades do planejamento. 4. ed. Campinas SP: Papirus, 2000. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 27 de junho de 2019. BRASIL. Inventário Nacional de Referências Culturais - INRC do Maracatu Nação. Brasília DF: IPHAN, 2014. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/DOSSIE_MARACATU_NA%C3%87%C3%8 3O.pdf. Acesso em: 28 jun. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: uma política para o SUS. 3. ed. Brasília DF: Editora do Ministério da Saúde, 2017. BRASIL. O Registro do Patrimônio Imaterial: dossiê final das atividades da Comissão e do Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial. Brasília DF: IPHAN, 2003. BRASIL. Resolução n° 001, de 03 de agosto de 2006. Brasília DF: IPHAN, 2006. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/R esolucao_001_de_3_de_agosto_de_2006.pdf. Acesso em: 27 jun. 2019. BRASIL. Terra do Frevo comemora 478 anos. Brasília DF: Ministério do Turismo, 2015. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/ultimas-noticias/1283-terra-do-frevo-comemora-478anos.html. Acesso em: 01 out. 2019. BAHL, Miguel. Dimensão cultural do turismo étnico. In: NETTO, Alexandre P.; ANSARAH, Marília G dos R. Segmentação do mercado turístico: estudos, produtos e perspectivas. Barueri, SP: Manole, 2009. CASTRO, Claudiana Y. A Importância da Educação Patrimonial para o Desenvolvimento do Turismo Cultural. Partes, São Paulo, 30 mai. 2006. Disponível em: https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/gt5-a-importancia.pdf. Acesso em: 29 ago. 2019. ;

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ECONOMIA COMPARTILHADA EM MEIOS DE HOSPEDAGEM CONTRAPOSTA AO MODELO TRADICIONAL DE NEGÓCIOS HOTELEIROS¹ VIOLIN, FÁBIO LUCIANO 2 SILVA, ARIEL DE CARVALHO 3

fabio.violin@unesp.br; aricvs@gmail.com 1

Trabalho de conclusão de curso finalizado. Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional (Uniderp-Anhanguera). Professor Assistente Doutor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Tutor PET Turismo, Rosana, São Paulo. 3 Graduado em Turismo pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO – A hotelaria representa importante parcela da movimentação econômica mundial. O avanço das tecnologias de comunicação permitiu ao setor de turismo avançar e evoluir em diversos campos. Este estudo analisa a percepção do nível de concorrência de gestores de hotéis no município de Ribeirão Preto/SP em relação ao Airbnb. Entre os elementos metodológicos, destaca-se a natureza qualitativa, tendo como elementos centrais de levantamento de dados entrevistas com gestores de hotéis da cidade de Ribeirão Preto-SP. Os dados obtidos foram organizados e analisados em um contexto pertinente ao delineamento da pesquisa. Os resultados indicam que, pelo menos no município de Ribeirão Preto, o Airbnb não é percebido como uma ameaça pelos gestores de hotéis (potenciais concorrentes), indicando a formação de um nicho mercadológico, e a plataforma é elencada como a menor das preocupações comparada às OTAs (agências de viagem online) e outros hotéis concorrentes. Palavras-chave: Modelo de Negócios, Economia de Compartilhamento, Turismo, Meios de Hospedagem. ABSTRACT - The hotel industry represents an important part of the world economic movement. The advancement of communication technologies has enabled tourism industry to advance and evolve in various fields. This study analyzes the perception of competition level of hotel managers in Ribeirão Preto/SP in relation to Airbnb. Among the methodological elements, the qualitative nature stands out, having as central elements of data collection interviews with hotel managers of the city of Ribeirão Preto, in São Paulo State. Data obtained were organized and analyzed in a context pertinent to the research design. The results indicate that, at least in Ribeirão Preto, Airbnb is not perceived as a threat by hotel managers (potential competitors), indicating the formation of a market niche, and the platform is listed as the least concern compared to OTAs (online travel agencies) and other competing hotels. Key words: Business Model, Sharing Economy, Tourism, Lodging.

1. INTRODUÇÃO O turismo, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, s/d), é compreendido como: “a soma de relações e de serviços resultantes de um câmbio de residência temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou profissionais”. Por ser uma atividade bastante ;

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abrangente, ela pode ser subdividida em diversos segmentos de forma que não se esgotem as possibilidades de turismo. Turismo está classificado dentro da economia global como parte do setor de serviços, cuja oferta é baseada nas prestações de serviços e experiências. O setor de turismo é, por natureza, dinâmico e segmentado e se apropria de meios de transporte, hospedagem, alimentação, entre outros. Este estudo teve como intuito central analisar os meios de hospedagens e sua influência na atividade turística especificamente a partir do advento da Economia Compartilhada. Os meios de hospedagem representam importante setor de ligação direta entre a atividade turística e potenciais usuários considerando a necessidade de as pessoas alojarem-se ao longo do percurso de deslocamento ou mesmo no destino final. O novo modelo de negócios baseado no compartilhamento tem ganhado espaço mundialmente ao contrapor-se ao modelo tradicional de negócios, pode-se citar o exemplo do Airbnb, que é uma plataforma de hospedagem direta que permite que possíveis anfitriões possam alugar sua propriedade para hóspedes que utilizem a plataforma. A junção dos meios de hospedagem com a economia compartilhada foi a ideia por trás dessa plataforma inovadora, o prestador de serviços online que é o centro deste trabalho. O turismo na atualidade vem alterando-se de modo consistente e substancial, especialmente devido aos avanços tecnológicos e no perfil dos consumidores. A era da informação, no que diz respeito ao turismo, contribui para auxiliar no processo de tomada de decisão dos consumidores que buscam em uma ou mais atividades do setor os meios de fruição que desejam, fato esse comprovado pela busca incessante das organizações e profissionais focados nas novas demandas de mercado pela adequação, considerando como pano de fundo os processos, as pessoas, os produtos e os resultados. Destaca-se como locus de pesquisa a cidade paulista de Ribeirão Preto, conhecida como a Capital do Agronegócio, localizada a noroeste do estado, a aproximadamente 315 quilômetros da capital, atualmente, segundo o censo IBGE (2010), consta com 604.682 habitantes. No município, há a presença de dois grandes grupos hoteleiros: Accor e Wyndham, que representam juntos os principais movimentadores da economia hoteleira local. Diante desse cenário, destaca-se a importância de analisar a percepção do mercado hoteleiro tradicional frente ao novo modelo de hospedagem. Considerando a forte presença da indústria hoteleira em Ribeirão Preto e as grandes proporções tomadas pelos serviços do Airbnb, destaca-se a necessidade de essas empresas tradicionais se adaptarem às novas tendências desse setor, o que torna este estudo relevante, considerando sua possibilidade de contribuição tanto teórica quanto prática. Nesses termos, o objetivo maior deste material é o de levantar e analisar a percepção de gestores de hotéis no município de Ribeirão Preto - SP em relação ao Airbnb. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A economia compartilhada é um fenômeno mundial que chegou inclusive ao Brasil. De acordo com os dados coletados via uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL, 2017), 79% dos consumidores entrevistados acreditam que a economia compartilhada facilita suas vidas, e 68% se imaginam participando do sistema de economia compartilhada de alguma maneira em dois anos. ;

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Seguindo a linha de pensamento da economia compartilhada, que seria um meio de transformar as pessoas que alugam suas casas em empreendedores, vale destacar alguns casos de parcerias de algumas instituições com o Airbnb aqui no Brasil. A plataforma Airbnb vai firmar uma parceria com a Prefeitura de Campina Grande com o objetivo de ampliar a oferta de hospedagens para o São João 2017 na cidade. O acordo vai ser formalizado nesta quarta-feira (10). A empresa deve ajudar na promoção turística da festa junina e incentivar moradores da cidade de hospedar viajantes durante os festejos (GLOBO, 2017). Como pode ser notado, o Airbnb foi utilizado como um meio alternativo para hospedar as pessoas que foram à festa, mesmo se os hotéis e outros meios tradicionais estivessem lotados, o Airbnb forneceria uma oportunidade para os visitantes se alojarem. Isso beneficia diretamente a população, que terá uma renda extra, e a cidade, que receberá um número maior de turistas. Outro caso a ser destacado é o das Olimpíadas do Rio de 2016, em que o Ministério do Turismo firmou uma parceria oficial com o Airbnb. Megaeventos trazem um fluxo enorme de turistas domésticos e estrangeiros, então oferecer mais acomodações além das já existente é essencial, e a plataforma mostra sua importância nesses casos. As Olimpíadas do Rio aumentaram em 22,7% as reservas de hóspedes no Brasil pelo sistema Airbnb – hospedagem de turistas em casas de residentes na cidade visitada. Segundo dados divulgados nesta quarta-feira (10) pelo Ministério do Turismo, o número de hóspedes que confirmaram suas reservas para o período entre 3 e 23 de agosto subiu de 66 mil para 81 mil. O Airbnb é parceiro oficial de acomodação alternativa do comitê organizador, informou o ministério. Entre os hóspedes com reservas para o período dos Jogos no Rio, 50% são estrangeiros e 50%, brasileiros de outros locais. (GLOBO, 2016). Mostra-se notável também perceber que essa ascensão da plataforma durante os jogos não prejudicou os fornecedores de serviços da hotelaria tradicional, pois a taxa de ocupação dos hotéis, nesse período, de acordo com a revista Valor Econômico (2016), chegou a 90%, com os bairros principais tendo 98% de ocupação. Isso mostra que, talvez, o mercado hoteleiro não seja um jogo de soma zero, no qual para um meio de hospedagem lucrar o outro deve ser prejudicado, e que os meios alternativos sejam exatamente isso, uma alternativa. Os meios de hospedagem tradicionais são aqueles que operam desde antes da ascensão da economia compartilhada, e são mais conhecidos como hotéis, hostels, resorts, pousadas, entre outros. A economia compartilhada não está necessariamente relacionada ao turismo, existem serviços de crowdfunding, definidos por Thorpe (2015) como um meio de arrecadar fundos de pessoa por pessoa, utilizando as redes sociais para divulgação. Alguns exemplos são o Gofundme e o Kickstarter (no Brasil uma plataforma equivalente seria o Vakinha). Os próprios Ebay/Mercado Livre poderiam ser considerados plataformas de economia compartilhada, pois são pessoas negociando com pessoas via uma plataforma online intermediária. Porém, entre os maiores prestadores de serviço de economia compartilhada, o Airbnb é diretamente relacionado ao turismo, pois fornece um meio de hospedagem para viajantes, um pilar essencial do turismo. Outras grandes empresas que podem ser relacionadas diretamente ao turismo são as que operam no setor de transportes, como o Uber, Lyft ou Didi (o “Uber chinês”), pois o deslocamento, embora não exclusivo ao turismo, é um pilar essencial dele. Apenas o Airbnb, segundo O Globo (2017), movimenta 2,5 bilhões de reais do PIB brasileiro, tendo iniciado suas operações no país em 2012, na Copa do Mundo de futebol da Federação Internacional de Futebol (FIFA). Segundo IBGE (2018), o PIB brasileiro de 2017 fechou ;

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em 6,6 trilhões de reais, ou seja, o Airbnb sozinho foi responsável por aproximadamente 0,038% de todo o PIB do país, uma quantia significativa para apenas uma empresa de um setor, o que mostra o impacto da economia compartilhada no contexto econômico em geral. Especificamente, o tradicional BnB ou Bed and Breakfast (cama e café da manhã) apresenta-se como oferta dentro de um lapso de tempo considerável, mas a ideia de ofertar tal serviço valendo-se dos meios virtuais é relativamente novo. Nesse sentido, destaca-se que o Airbnb foi fundado em agosto de 2008 por Brian Chesky, Joe Gebbia e Nathan Blecharczyk, onde o atual CEO é Brian Chesky, e está sediado em São Francisco, na Califórnia. O Airbnb é uma plataforma que conecta pessoas do mundo todo para que as mesmas anunciem, descubram e reservem espaços diferenciados pela Internet (via computador, tablet ou por celular), funciona 24 horas, todos os dias sem pausa em finais de semanas e feriados. Na plataforma constam desde casas familiares onde os residentes (chamados de anfitriões pela empresa) compartilham desse espaço em que habitam, alugando um quarto ou mais. Encontram-se também na plataforma divulgações de casas, apartamentos ou até mesmo um castelo, como citado pelo site oficial: Não importa se você precisa de um apartamento por uma noite, um castelo por uma semana ou um condomínio por um mês: o Airbnb conecta as pessoas às experiências de viagem únicas, preços variados, em mais de 65.000 cidades e 191 países. Com um serviço de atendimento ao consumidor de nível internacional e uma comunidade de usuários em crescimento constante, o Airbnb é a maneira mais fácil de transformar seu espaço extra em dinheiro e mostrá-lo para milhões de pessoas. (AIRBNB, 2017)

Com serviços globais de atendimento, o anfitrião pode ser o cliente e o cliente pode ser o anfitrião, comercializando seu próprio espaço particular, o que lhes gera uma renda extra. O Airbnb é a oportunidade para as pessoas monetizarem seus espaços extras e mostrá-los para milhões de pessoas sejam elas turistas ou residentes locais. De acordo com notícia publicada na página da FOLHA (2017): [...] com mais opções e variedade de preços, o turismo cresceu. Entre os usuários do Airbnb, 31% afirmam que ou não viajariam ou ficariam menos tempo fora de casa se não fosse pela plataforma. Ganhou também a economia das cidades. Além do aumento da renda de quem oferece hospedagem, o maior fluxo de viajantes faz crescer o consumo em bares, restaurantes e mercados locais.

Outro ponto de destaque centra-se nas opções de aluguel para os viajantes, que são mais espalhadas geograficamente pelas cidades do que a rede hoteleira convencional, o comércio em um número maior de bairros também se beneficia. Um ponto que gerou interesse por esta pesquisa foi o fato de que, de acordo com Zervas, Proserpio e Byers (2015), no Airbnb, 95% das avaliações das propriedades são extremamente positivas (4.5 estrelas ou mais em uma escala de 5 estrelas), enquanto que no Tripadvisor a média entre os hotéis listados é de 3.8 de 5 estrelas, com avaliações muito mais variadas. Os serviços do Airbnb mostram um padrão alto de qualidade, mesmo sendo uma empresa nova no mercado, apresentando preços mais baixos que a concorrência e tendo um sistema de autorregulamentação. Percebe-se, então, o potencial do Airbnb como um grande segmento do mercado hoteleiro, sendo considerado, inclusive, uma ameaça aos meios de hospedagem tradicionais. Essa suposta ameaça pode dar apoio à teoria de que o Airbnb seria uma inovação ;

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disruptiva, um serviço tão inovador, bom e diferente que modifica toda a dinâmica de um setor de mercado específico. De acordo com a própria página do Airbnb (2018), integrantes de quase todos os países do mundo são elegíveis a proverem hospedagem por meio da plataforma, com exceção de alguns países destacados por motivos legais e/ou políticos: “O Airbnb é obrigado a cumprir as regulamentações internacionais que limitam o uso do nosso site por residentes de determinados países. Em função disso, nossos serviços não estão disponíveis na Crimeia, Irã, Síria e Coreia do Norte”. Referente à legalidade do serviço, ela varia de acordo com o país, cidade ou região, na página web da plataforma são disponibilizados as informações e procedimentos necessários para os possíveis anfitriões. Dentro da seção de ajuda do site, há uma parte que fala sobre os possíveis impostos, permissões e restrições aplicáveis sobre o imóvel a ser fornecido como meio de hospedagem. Já na parte sobre questões jurídicas, em específico, encontra-se o seguinte trecho: Algumas cidades possuem leis que restringem a possibilidade de se receber hóspedes pagantes em casa por curtos períodos de tempo. Muitas vezes, essas leis fazem parte do código de zoneamento ou administrativo da cidade. Em muitas cidades, por exemplo, você deve primeiro fazer sua inscrição no órgão público responsável, solicitar uma permissão ou obter uma licença antes de poder anunciar sua propriedade ou receber hóspedes. Em algumas cidades, porém, é possível que certos tipos de reservas de curta duração sejam completamente proibidos. O modo como cada governo local fiscaliza essas leis varia bastante, e as penalidades podem incluir, dentre outras coisas, multas (AIRBNB, 2018).

Ou seja, devido à enorme variação no que se refere às questões legais ao redor do mundo, é necessário que cada anfitrião que deseje disponibilizar seu espaço para aluguel através do serviço se informe de acordo com sua localidade. Além disso, atividades são delineadas de acordo com que o sistema oferece, a principal, foco deste estudo, é a hospedagem por terceiros, que oferece desde mansões inteiras até quartos compartilhados como em um hostel. Além da hospedagem, foram adicionados recentemente (considerando o período de elaboração deste trabalho) os serviços de experiências, em que um hóspede contrata, por exemplo, uma acomodação junto a uma aula de Yoga, ministrada pelo próprio anfitrião. E, por último e mais recente, foram adicionados serviços de restaurantes que podem ser adicionados ao itinerário (AIRBNB, 2018). Segundo uma pesquisa feita em solo estadunidense pela Jumpshot, no primeiro quadrimestre de 2015, Shavit (2015) nota que entre 500 mil possibilidades de alojamentos, 11% foram reservados, e 88% das reservas foram feitas para duas pessoas ou mais. Também há outros dados interessantes, conforme o gráfico a seguir, feito na mesma pesquisa:

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Figura 1 - Visualização dos dados da pesquisa feita pela Jumpshot.

Fonte: Shavit, 2015.

É interessante também notar a diferença nos serviços fornecidos em relação aos meios de hospedagem tradicionais, como 60% das estadas ocorrerem em apartamentos ou casas inteiras, com quartos privados, similares aos de hotéis, que têm nas unidades privadas seu maior volume de ofertas com área comum de acesso a todos os hóspedes. 3. METODOLOGIA Vale informar que, neste trabalho, os conceitos metodológicos foram baseados de acordo com os autores Gerhardt e Silveira (2009). A primeira etapa foi definir a abordagem da pesquisa, e, nesse sentido, observa-se que a pesquisa qualitativa é a que melhor retrata a natureza do estudo, pois não trata a representatividade numérica como prioridade, coloca-se em evidência o contexto de maneira aprofundada, procurando investigar com mais detalhes a compressão desse contexto social. A pesquisa qualitativa foi utilizada para analisar as nuances do cenário competitivo dos meios de hospedagem de Ribeirão Preto/SP, não com isso caracterizando a essência qualitativa em amplitude. Como garantia de exequibilidade deste trabalho, foi definido o público-alvo para facilitar a análise dos dados. Essa etapa também foi importante, pois seria difícil aplicar o questionário sem um afunilamento do objeto de estudo. Após algumas análises e sugestões, chegou-se à decisão de entrevistar os gestores de alguns hotéis no município de Ribeirão Preto. Para realizar, foi utilizado uma amostra por conveniência, na qual não foi estabelecida uma meta de respostas obtidas, e sim aquelas que puderam ser obtidas. Para a aplicação do instrumento de pesquisa, foram utilizadas tanto a entrevista pessoal quanto a submissão via meio eletrônico para quinze gestores. As respostas foram agrupadas em categorias similares de modo a permitir a sua análise de forma quantificada. Após serem descritas as ferramentas metodológicas de pesquisa, pode-se dizer que o estudo que aqui se apresenta tem sua natureza definida como qualitativa, pois utiliza de uma entrevista contendo questões abertas, ao qual se concede um espaço para um diálogo. Tal definição se dá pelo contexto e volume de dados levantados bem como o tipo de discussão que se faz no que tange aos dados levantados, sendo necessário analisar os dados por um ponto de vista contextual. ;

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4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Ao fim da realização da pesquisa, foram um total de quinze gestores que responderam o questionário. Após isso, foi possível agrupar as respostas similares em quatro categorias. Dos gerentes entrevistados no município de Ribeirão Preto/SP, de cinco hotéis da mesma rede (33% da amostragem total do trabalho), foram obtidas respostas similares: ●O

hotel sentiu o impacto, porém, foi maior em cidades como Rio de Janeiro, e o impacto diminuiu com o tempo. ● O Airbnb é visto como um concorrente direto, porém, não representa uma grande parcela da concorrência. ● A rede adotou um programa de fidelidade, que permite que os hóspedes que se hospedam na rede acumulem pontos para serem trocados por benefícios, além da maior personalização de atendimento, para que o cliente se sinta diferenciado e exclusivo. ● Não é exatamente justo, pois há menos fiscalização que os hotéis, porém os meios de operação são diferentes. ● As maiores ameaças são consideradas as OTAs (agências de viagens online), pois são as que mais contribuem para perda de receita dos hotéis de rede. As crises econômicas recentes foram o fator que mais impactou a receita de hotéis da rede no Brasil. Nesta categoria, percebe-se que existe uma percepção de concorrência, porém, não é a maior das preocupações. É interessante também notar as comparações com outras cidades, por ser uma rede hoteleira, que trazem uma perspectiva adicional ao trabalho, pois indica que o município de Ribeirão Preto não sofreu um impacto significativo do Airbnb, e as cidades maiores como capitais sentiram um impacto maior. Em 2 hotéis de outra rede (15% da amostragem), foram obtidas as seguintes respostas dos gestores: ● O impacto foi sentido pela rede, porém mais em outros países do que no Brasil. ● O Airbnb é visto como um concorrente direto, porém as outras redes hoteleiras são a maior

preocupação. ● A rede comprou várias marcas e investiu pesadamente na área de informática de modo a captar parcela da clientela do Airbnb e das OTAs. ● Não é justo, a carga tributária aplicada em hotéis brasileiros deveria ser menor para igualar a operação. ● Não foi possível sentir o impacto do Airbnb na região de Ribeirão Preto, por não ser uma cidade turística e receber mais viajantes a negócios, que necessitam da formalidade de hotéis, principalmente na questão de notas fiscais e prestação de contas. Aqui é indicado um possível fator que poderia diferenciar os nichos, do viajante que utiliza hotéis a trabalho e o viajante que utiliza o Airbnb. A operação padronizada de hotéis de rede e a maior formalidade em questão à prestação de contas faz com que hotéis sejam preferidos por empresas para hospedar seus funcionários que viajam a trabalho, pois são emitidas notas fiscais, que permitem um controle maior e mais formal dos gastos da empresa. ;

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Outro ponto interessante é o foco na informatização, mostrando que as redes hoteleiras sabem agir de acordo com as tendências do mercado, evoluindo com o tempo. Novamente, percebese que o combate às OTAs influencia muito na estratégia mercadológica de hotéis. Já em sete hotéis locais da cidade (46% da amostragem), foi possível perceber a diferença de percepção de ameaça dos hotéis de rede em comparação a esses hotéis: ● Não sentiram nenhum impacto significativo na clientela. ● O Airbnb não é visto como um concorrente direto, é visto como um nicho. ● Nenhuma ação diferente foi tomada. ● Não, pois os hotéis pagam mais impostos. ● Muitas das reservas são feitas por famílias, que preferem hotéis, pois os percebem

como

mais seguros do que ficar no Airbnb. Nessa categoria, é possível reparar a diferença na percepção de concorrência entre os hotéis de rede e os hotéis locais, o Airbnb é colocado em segundo plano, não é criada nenhuma estratégia para lidar com esse possível concorrente, pois, de acordo com suas experiências, os gestores não acreditam que o Airbnb seja interessante para seus clientes. A questão da segurança mostra-se como essencial para um dos gestores, que disse: “As famílias não confiam muito no Airbnb, os pais ficam preocupados com a segurança dos filhos, e preferem os hotéis porque são mais seguros”. Um gestor de 1 hotel simples familiar (6% da amostragem) afirmou não conhecer muito sobre o Airbnb e respondeu da seguinte forma: ● Não ● Não ● Não ● Não

acredita que houve impacto devido ao Airbnb. acredita que seja um concorrente direto. foi elaborada nenhuma estratégia nova. acha justo hotéis terem que pagar mais impostos e o Airbnb operar de maneira mais

livre. ● Nenhum comentário à parte. Essa categoria é composta por apenas um gestor de um hotel simples de pequeno porte, que demonstrou não conhecer muito sobre o Airbnb e se mostrou incomodado apenas com a questão da legislação, do Airbnb ser menos fiscalizado e regulado que hotéis. Fora isso, o gestor não ofereceu mais nenhum comentário adicional sobre o tema. Talvez o mais interessante a ser observado nesta pesquisa foi o fato de as OTAs serem o foco da atenção dos hotéis no que diz respeito à concorrência. Nas palavras de um dos gestores entrevistados, as OTAs têm um impacto mensurável, pois todo mês é paga a comissão dessas empresas, essa comissão representa uma perda direta de receita do hotel. O Airbnb, por ser um serviço paralelo, não possui dados tão objetivos para representar o possível impacto nos hotéis. Citando um dos gestores: “O Airbnb a gente ainda não sabe o impacto, não temos como saber, já as OTAs a gente sabe, porque temos que pagar uma comissão todos os meses, então tá ali o valor exato que a gente precisa pagar para eles todo mês, uma receita que perdemos.” Dentro desses resultados, podemos dividi-los em três categorias: alta, média e baixa percepção de concorrência dos hotéis pelo Airbnb.

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Gráfico 1 - Percepção de concorrência

Fonte: Elaborado pelos autores.

Nesses dados, a alta percepção de ameaça vem de hotéis de uma mesma rede; a média percepção de hotéis de outra grande rede; e a baixa percepção vem dos hotéis locais, tanto de maior quanto menor porte. Pode-se observar que a maior preocupação vem dos hotéis de rede, talvez por terem grandes redes de distribuição online e estarem mais a par do surgimento de novos atores no mercado. Mesmo assim, esse impacto não é percebido como sendo tão grande, já que o Airbnb não é a prioridade em questão de estratégia, os hotéis concorrentes e as OTAs ocupam esse posto. Já os hotéis menores, não elencam o Airbnb como sendo um concorrente direto, acreditam que tenha sido formado um nicho para viajantes que usam o Airbnb. Agora, com referência à legislação, todos os gestores entrevistados apontaram que não acreditam ser justa a legislação quando comparada entre os hotéis e o Airbnb, porém não demonstraram grande incômodo com isso, não é algo que possibilita formar um paralelo entre os Táxis e o Uber, por exemplo. Esse incômodo com a legislação, conforme analisado na fundamentação teórica em grande escala, não foi tão visível na cidade de Ribeirão Preto pelo menos. 5. CONCLUSÃO Ao analisar a história e o contexto do Airbnb em contraste com os resultados obtidos, podese concluir que, na cidade de Ribeirão Preto, o Airbnb não tem uma presença significativa a ponto de representar concorrência na visão de gestores de hotéis da cidade. A operação da plataforma pode ser considerada diferente o suficiente da operação hoteleira para distinguir os dois modelos em categorias separadas, dividindo os nichos de viajantes. Mensurando o grau de concorrência percebido pelos hotéis, é possível observar que representa uma porcentagem muito baixa da amostragem, o Airbnb é a menor das preocupações na lista dos gestores. Mostrou-se interessante, também, a ênfase dada pelos hotéis de rede às OTAs, que, para eles, representa um concorrente mais significativo e mensurável. Sobre a legislação, nota-se que a indignação por parte da hotelaria tradicional referente à falta de regulamentação do Airbnb não é tão perceptível quanto antes, por acreditarem que foi formado um nicho para viajantes que usam a plataforma, os gestores não expressaram fortes ;

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opiniões contrárias referente à legislação vigente que concerne o Airbnb. Porém, reparou-se que ainda não acham as leis de regulamentação justas quando comparadas à hotelaria. Destarte, é interessante, também, aumentar a escala deste trabalho em uma pesquisa futura, de modo a analisar se o Airbnb realmente faz parte de um nicho à parte da hotelaria tradicional em todo o território brasileiro, ou se várias localizações podem oferecer perspectivas diferentes sobre o tema. REFERÊNCIAS AIRBNB. About Us. Disponível em: https://www.airbnb.com.br/about/about-us. Acesso em: 02 mai. 2017. AIRBNB. Reserve espaços para ficar e coisas para fazer, aonde quer que você vá. Disponível em: https://www.airbnb.com.br/?logo=1. Acesso em: 16 jun. 2018. CNDL. Economia Compartilhada deixa 89% de seus usuários satisfeitos, revela estudo da CNDL/SPC Brasil, 2017. Disponível em: http://site.cndl.org.br/economia-compartilhada-deixa89-de-seus-usuarios-satisfeitos-revela-estudo-da-cndlspc-brasil-2/. Acesso em: 13 de junho de 2019. FOLHA, Oportunidades da nova economia. 2017. Disponível em: http://estudio.folha.uol.com.br/airbnb/2017/04/1876008-geracao-milenio-e-a-nova-economiacompartilhada-tem-transformado-a-forma-de-viajar.shtml. Acesso em: 17 de jun. de 2019. GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. (Orgs). Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. GLOBO. Airbnb firma parceria para ampliar hospedagem no São João de Campina Grande, 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/airbnb-firma-parceriacom-campina-grande-para-ampliar-hospedagem-no-sao-joao-2017.ghtml. Acesso em: 05 dez. 2018. GLOBO. Compartilhamento deverá ser 30% do PIB de serviços, 2017. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2017/10/compartilhamento-devera-ser-30-dopib-de-servicos.html. Acesso em: 23 out 2018. GLOBO. Reservas de Airbnb crescem 22% durante Olimpíadas do Rio, 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/olimpiadas/rio2016/noticia/2016/08/reservas-de-airbnbcrescem-22-durante-olimpiadas-do-rio.html. Acesso em: 05 dez 2018. IBGE. Ribeirão Preto, 2010. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/ribeirao-preto/ panorama. Acesso em: 10 de mai. 2019. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. PIB avança 1,0% em 2017 e fecha ano em R$ 6,6 trilhões, 2018. Disponível em: ;

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https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-denoticias/releases/20166-pib-avanca-1-0-em-2017-e-fecha-ano-em-r-6-6-trilhoes. Acesso em: 14 out 2018. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Turismo. S/d. Disponível em: http://www2.unwto.org/. Acesso em: 18 fev. 2017. SHAVIT, N. Who Uses Airbnb and Why? Airbnb’s 2015 Reservation, Data, 2016. Disponível em: https://www.dailyinfographic.com/who-uses-airbnb-and-why-airbnbs-2015reservation-data. Acesso em: 02 de mai. 2017. THORPE. Devin. What is Crowdfunding? 2018. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/devinthorpe/2018/06/25/what-is-crowdfunding/#6471ec2865c5. Acesso em: 16 jun. 2018. VALOR ECONÔMICO. Airbnb prevê movimentar 247 milhões durante olimpíada, 2016. Disponível em: https://www.valor.com.br/empresas/4654531/airbnb-preve-movimentar-r-247milhoes-durante-olimpiada. Acesso em: 11 de jun. 2019. ZERVAS, G.; PROSERPIO, D.; BYERS, J. A First Look at Online Reputation on Airbnb, Where Every Stay is Above Average. eBusiness & eCommerce eJournal, 2015. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=2554500. Acesso em: 28 fev. 2017.

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MAPEAMENTO DA OFERTA TURÍSTICA, PERFIL DO VISITANTE E MOTIVAÇÃO DE CONSUMO DO CEMITÉRIO DA CONSOLAÇÃO DE SÃO PAULO/SP¹ VIOLIN, FÁBIO LUCIANO 2 NASCIMENTO, RENAN ARANTES 3

fabio.violin@unesp.br; arantes.re@hotmail.com 1

Trabalho de conclusão de curso finalizado. Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional (Uniderp-Anhanguera). Professor Assistente Doutor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Tutor PET Turismo, Rosana, São Paulo. 3 Graduado em Turismo pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO – O estudo abordou os principais elementos constituintes do consumo turístico do cemitério da Consolação de São Paulo. De modo amplo, a contribuição deste material centrou-se na capacidade de ofertar base teórica ampliada, além da permissão de observação de modelagem de oferta para os profissionais envolvidos com esse tipo de oferta. Como estratégias metodológicas, foram utilizadas entrevistas pessoais, análise de material virtual entre outras ações que permitiram o mapeamento da oferta. Observou-se que esse tipo de turismo tem crescido e a oferta tem se refinado ao longo do tempo especificamente a partir da possibilidade de engajamento dos elementos virtuais em prol da visitação turística. Palavras-chave: Turismo, Turismo Cemiterial, Visitação Turística. ABSTRACT - This study addressed the main constituent elements of the tourist consumption of Consolação cemetery in the city of São Paulo. Broadly the contribution of this material was centered on the ability to offer broader theoretical basis besides the allowance of observation of offer modeling for the professionals involved with this type of offer. Personal interviews, analysis of virtual material among other actions that allowed the mapping of the offer were used as methodological strategies. It was observed that this type of tourism has grown and the supply has been refined over time specifically from the possibility of engagement of virtual elements in favor of tourist visitation. Key words: Tourism, Cemetery Tourism, Tourist Visitation.

1. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como sujeitos a administração e os visitantes do Cemitério da Consolação de São Paulo, o qual é a necrópole mais antiga existente na cidade de São Paulo que ainda se encontra em funcionamento. Localizado na região central da capital paulista, teve sua fundação em 10 de julho de 1858, e sua inauguração oficial em 15 de agosto do mesmo ano, atualmente com 160 anos, porém, quando inaugurado, era nomeado “Cemitério Municipal”. Ele está localizado na Rua da Consolação, nº 1660, bairro da Consolação. Abriga aproximadamente 8500 túmulos, realizou mais de 115.000 sepultamentos, em uma área de 76.340m². É administrado pelo Serviço Funerário do Município de São Paulo. O propósito deste trabalho é fazer um mapeamento da oferta turística referente à visitação ao Cemitério da Consolação (São Paulo-SP), além de apresentar a motivação dos usuários. E, como ;

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objetivos específicos, é proposto reconhecer a oferta turística atual da necrópole; caracterizar o perfil do público, em relação às características socioeconômicas e, por fim, reconhecer o(s) principal(is) elemento(s) motivador(es) de consumo da atividade turística do Cemitério da Consolação de São Paulo. Para obter os resultados propostos, a pesquisa de campo foi caracterizada pela visita in loco, o que se tornou fundamental para o método ser aplicado por meio de coleta de dados por meio de questionários estruturados e observação. De acordo com Marconi e Lakatos (2009, p. 203): “O questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito sem a presença do entrevistador”. A pesquisa pode ser caracterizada como sendo qualitativa e quantitativa. O universo da aplicação da pesquisa foi definido como, primeiramente, a administração do cemitério, visando a levantar dados a respeito da oferta turística, por meio de entrevista estruturada com perguntas abertas, de caráter qualitativo. Subsequentemente, foi realizada uma entrevista estruturada com perguntas fechadas, de caráter quantitativo, a todos aqueles que visitam o atrativo, também representando a segunda parte da delimitação do universo da pesquisa, optando-se por uma amostragem aleatória simples, com um total de 30 entrevistados, em um período de sete dias do primeiro semestre de dois mil e dezenove. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Ao analisar o contexto do turismo, é possível considerar que tal atividade ocorre desde os primórdios da humanidade, uma vez que, na pré-história, ocorria o deslocamento de uma maneira primitiva, mas não menos característica dos deslocamentos realizados no período atual. Em maior comparação com a atividade turística que observamos atualmente, podemos apontar, mais tarde cronologicamente, os deslocamentos de povos antigos motivados pela fé, como, por exemplo, os egípcios, ou os primeiros Jogos Olímpicos da Era Antiga, datados de aproximadamente 776 a.C. Isso torna perceptível que, mesmo em tempos em que não se tinha conhecimento algum a respeito da atividade turística, ela já ocorria, advindo de diferentes motivações para a concretização das viagens. O Turismo pode ser considerado um fenômeno histórico, porque sua atividade remonta à Antiguidade, à época do conhecimento de diferentes povos e culturas e dos deslocamentos para novas terras. Mas a noção de Turismo, como se entende atualmente, iniciou-se no Renascimento, quando suas atividades foram associadas ao ócio. Com os efeitos da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, a prática do Turismo se espalhou geograficamente e entre as camadas sociais. A partir do desenvolvimento industrial e com a evolução dos sistemas de transporte, pode-se dizer que as mudanças representaram o início do Turismo moderno (IGNARRA, 1999). De acordo com Peter e Olson (2009), a lógica da segmentação de mercado baseia-se na linha de raciocínio de que, com apenas um único produto, seria praticamente impossível atrair todos os consumidores, embora quase sempre pode atender mais de um consumidor. Dessa forma, existem grupos de consumidores que podem ser atendidos de forma satisfatória com um mesmo item, diante disso, se determinado grupo pode ser atendido lucrativamente, haverá um segmento de mercado viável. Beni (1998) aponta que, para que possa haver melhor compreensão do mercado turístico, é fundamental segmentá-lo, uma vez que permite analisar a população em grupos de interesse diferentes. Dentre os mais variados segmentos da atividade turística, encontra-se o turismo cemiterial, o qual é o enfoque desta pesquisa. ;

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Recentemente, alguns autores têm ressaltado a diminuição da procura por “pacotes padronizados”, enquanto aumenta a demanda por destinos “exóticos”, em que o turista pode vivenciar o local com o máximo de autenticidade possível (TRIGO, 1993 apud ARAÚJO, 1999). Nesse sentido, Barbosa (2009, p. 330) afirma: Excêntrico é algo esquisito, extravagante, original; portanto, sua negação deve ser comum, bem-comportada, repetitiva. Ou seja, enquanto, o “cêntrico” amarra-se a um ponto, o “que está fora do centro” dispõe de infinitas variedades. Esta seção identifica uma quantidade razoável delas, demonstrando que não falta diversidade ao turismo excêntrico, embora nem toda esquisitice seja original e algumas extravagâncias não passem por oportunismo.

Quanto aos cemitérios, primeiramente, é de necessidade entender o espaço em questão onde ocorre esse tipo de atividade. Brevemente, cemitérios são monumentos por si só. Com relação a monumentos, de acordo com Camargo (2002, p.24) “[...] A raiz da palavra latina nos remete a momento ou lembrança. [...] os monumentos, na acepção comum do termo, são edificações ou construções que pretendem perpetuar a memória de um fato, de uma pessoa, de um povo”. Os chamados campos-santos são ambientes de memória, história, arte e arquitetura e cultura, uma vez que possuem uma infinidade de elementos que conservam e reproduzem a memória individual e coletiva. O turismo de cemitério ou cemiterial é uma modalidade de turismo que vem ascendendo conforme o desenvolvimento e a compreensão do turismo, porém, no Brasil, ainda encontra estigmas ou falta de informações para seus usuários. Em comparação com nosso país, outros lugares do mundo já consolidaram há muitas décadas a visitação em cemitérios com uma nova perspectiva, uma vez que esses espaços foram perdendo seus aspectos lúgubres ou associados à morte de forma negativa (QUEIROZ, 2008). A ideia de turismo em cemitérios surgiu como tendência por volta dos anos 80 na América do Norte e Europa, transformando-se em um segmento da atividade turística posteriormente. A visitação pode ter preexistido por curiosidade mórbida, visitação a túmulos de pessoas famosas ou interesse pela arte e arquitetura tumular, que se encontram agregadas à cultura patrimonial (BORGES, 2002; GASTAL; MOECH, 2007). Com relação às denominações de turismo relacionadas ao turismo em cemitério, Hahne (2010, p. 37) expõe: “[...] turismo mórbido, também conhecido como turismo negro, turismo sombrio, turismo necrófilo, turismo inusitado, turismo macabro, turismo de fait divers, entre outras denominações”. Segundo Afonso (2010, p. 16): “[...] percebe-se que o uso do espaço cemiterial apresentado de forma diferenciada, fugindo da função para o qual foi concebido, retira a intencionalidade dada na criação do cemitério e cria uma nova forma de lazer, escapando do lazer mercadoria [...]”. O cemitério reflete os costumes funerários, mentalidades a respeito da morte, valores, identidades, religiosidade, estilo arquitetônico e memórias das comunidades que os criaram em seu interior (OSMAN; RIBEIRO, 2007). Dessa forma, o turismo cemiterial surge como um importante fenômeno socioeconômico que, por meio de visitas guiadas, propõe-se a exaltar as necrópoles como extraordinárias fontes históricas para a preservação da memória individual e coletiva, relíquias arquitetônicas, patrimônios históricos e culturais, ou melhor, como verdadeiros museus a céu aberto (ROSSI, 2007; CABANAS; RICCI, 2008; FIGUEIREDO, 2014). Puerto e Baptista (2016) apontam que, se o cemitério for entendido como um espaço de cidadania, cultura e outros elementos não voltados ao sepulcral ou lutuoso, ou seja, fazer das ;

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necrópoles um campo de (re)significações humanas, será possível entender a utilização dos espaços fúnebres no turismo. Diante dos elementos apontados anteriormente, cria-se a indagação a respeito do consumidor dessa modalidade de atividade e suas motivações a respeito da visitação aos cemitérios. No entanto, Schiffman e Kanuk (2000, p. 66) afirmam, a respeito do comportamento de consumo, que: não se pode inferir motivos com precisão a partir de um comportamento. Pessoas com necessidades diferentes podem buscar satisfação através da seleção dos mesmos objetivos, enquanto pessoas com as mesmas necessidades podem buscar satisfação por meio de objetivos diferentes. Para melhorar a eficiência e a eficácia da atividade turística, é necessário buscar entender como os consumidores tomam suas decisões para adquirir ou usufruir dos produtos do turismo (SWARBROOKE; HORNER, 2002). Por hora, voltemo-nos para a definição do comportamento do consumidor. Swarbrooke (1996, p. 26) definiu o comportamento do consumidor de turismo da seguinte maneira: “[...] é o estudo das razões de compra dos produtos pelas pessoas, e sobre seu modo de tomar decisões”. No ano seguinte, Solomon (1997 apud SWARBROOKE; HORNER, 2002, p. 27) incorpora o conceito de necessidades e desejos do consumidor, afirmando, agora, com uma nova perspectiva nos conceitos a respeito do comportamento do consumidor, que ele consiste em um processo pelo qual o indivíduo ou os grupos selecionam, adquirem e utilizam produtos, serviços, ideias ou experiências, ou deles usufruem para satisfazer suas necessidades e desejos. De acordo com Richers (1984), caracteriza-se o comportamento do consumidor pelas atividades mentais e emocionais realizadas na seleção, compra e uso de produtos/serviços para a satisfação de necessidades e desejos. Para Kotler e Keller (2006), uma vez que o propósito do marketing se centra em atender e satisfazer às necessidades e aos desejos dos consumidores, tornase fundamental conhecer o seu comportamento de compra. O que interpretamos como necessidade também pode ser analisado como uma resolução de um problema, em que a tomada de decisão dos consumidores visa a objetivos (valores ou consequências almejados em uma cadeia meios-fim). Há percepção de um “problema” por parte do consumidor a partir do momento que nota consequências não alcançadas, dessa forma, eles tomam decisões a respeito dos comportamentos que deverão ter para atingir seus objetivos e, dessa forma, “solucionar o problema” (PETER, OLSON, 2009). A motivação é intrínseca a todos os consumidores, sendo caracterizada como uma força advinda do interior de cada pessoa. A mesma tem sua gênese a partir das necessidades, realizando o papel de cumprir objetivos para saciar suas exigências. Segundo Swarbrooke e Horner (2002), existem várias motivações de viagens para os turistas, como, por exemplo, pessoas que viajam com a intenção de descansar, fazer novos amigos, ir a festas, que são distintas também de acordo com diversas variáveis, como idade, renda familiar, nível de escolaridade etc. Mas um diferencial diante dessas motivações é a busca pela experiência, as destinações procuram encantar o turista que, em contrapartida, viaja com o objetivo de ter uma experiência e uma sensação única. Se há diferentes necessidades, há também diferentes decisões de turistas, que, algumas vezes, optam por visitar locais exóticos ou inusitados, sendo esse processo devido a fatores psicológicos que influenciam sua decisão de compra ou consumo. Para Beni (1998), o turista toma sua decisão baseado em cinco fatores psicológicos distintos, sendo eles: 1. Percepção, 2. Aprendizado, 3. Personalidade, 4. Motivos e 5. Atitudes. O processo de decisão de compra diz respeito às etapas realizadas pelo consumidor na sua busca pelo produto satisfatório. Kotler e Keller (2006, p. 188) apontam que “As empresas ;

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inteligentes tentam compreender plenamente o processo de decisão de compra dos clientes – todas as suas experiências de aprendizagem, escolha, uso e inclusive descarte de um produto”. Swarbrooke e Horner (2002), a respeito da decisão de compra dos consumidores, afirmam ser um complexo processo, de forma que eles são influenciados por fatores internos e externos. Em relação aos fatores internos, é possível citar percepções e opiniões, as atitudes, o estilo de vida, as preferências e interesses, as experiências passadas (sendo elas positivas ou negativas), a vida profissional, a situação familiar, o estado de saúde, o nível de rendimento, a personalidade, as motivações pessoais, entre outros, são fatores que representam importantes papéis no processo de tomada de decisão. Com relação aos fatores externos, pode-se apontar as recomendações boca-aboca (por parte de familiares, amigos e outros turistas), o conselho de agentes de viagens, a disponibilidade de produtos adequados a satisfazer as necessidades da procura turística por parte dos consumidores, além de restrições às viagens pelos países/regiões receptoras, como a concessão de vistos, situações de guerras, epidemias e calamidades, ou situações de estresse político, além do mais, o fator climático, podendo inviabilizar a decisão de compra do consumidor. Diante disso, é possível observar as diferentes demandas advindas dos consumidores, o que mostra que o homem tem a necessidade da experiência nova, e o turismo, qualquer que seja a modalidade, sugere a inovação. Aplicando ao estudo do Turismo Cemiterial, é possível inferir que a percepção de um turista que busca esse tipo de turismo tenderia a ter grau elevado de subjetividade, e os turistas provavelmente escolheriam a localidade devido a experiências anteriores. Além disso, essa escolha implica um alto nível de vontade, curiosidade e motivação, uma vez que “a percepção não contempla o objeto se este não corresponder a uma motivação profunda e rejeita o que não corresponder à referida motivação” (BENI, 1998, p. 251). Stone (2006) também especula sobre as razões que levam as pessoas a visitarem esses locais, mas confessa ainda não ter encontrado uma resposta conclusiva, o que acaba por influenciar e justificar pesquisas com as temáticas de cemitérios e motivação. Para dar base para a continuidade desta fundamentação, foram utilizados documentos do Acervo Histórico da cidade de São Paulo, em especial o compilado de informações históricas nomeado “As origens do Cemitério da Consolação”, disponibilizado pela prefeitura da Capital. De acordo com São Paulo (2008), apesar de sua inauguração ter sido realizada no ano de 1858, a história do Cemitério da Consolação é mais antiga, remontando ao ano de 1829, quando o vereador Joaquim Antonio Alves Alvim propôs, pela primeira vez, a construção de um cemitério público na cidade. No pretérito, até então, a prática vigente e aconselhada consistia em realizar sepulturas em solo sagrado, seja no interior de igrejas, chão e paredes, muros externos e ao redor do templo, pois, no entendimento da época, uma vez que mais próximos aos santos, maior auxílio as almas teriam para a entrada no paraíso. Para Vissière (2013), “com a cristianização da sociedade, surgiu a tendência a aglomerar os defuntos nas proximidades dos lugares sagrados, como tumbas de santos e igrejas, na expectativa do Juízo Final e da ressurreição dos corpos”. Uma parcela das terras onde foi edificado era de domínio público, nas margens da antiga Estrada dos Pinheiros, e parte pertencia ao proprietário de uma grande chácara local, o senhor Marciano Pires de Oliveira. Com o início das obras datado de 1855, no ano seguinte, a Câmara Municipal adquire parte da chácara de Marciano pelo valor de 200$000 (duzentos mil) Réis. Um outro terreno foi doado à prefeitura pelo mesmo proprietário. Visando a colaborar para com a necrópole, seria doado pela Marquesa de Santos, em 1857, o generoso valor de 2 Contos de Réis (uma pequena fortuna para a época). Entretanto, o recurso seria voltado exclusivamente para a construção da capela. A partir da iniciativa da aristocrata, somada à necessidade de se abrir o ;

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cemitério devido a uma epidemia de varíola que varria São Paulo, o Cemitério da Consolação foi inaugurado no ano posterior (SÃO PAULO, 2008). O anteriormente nomeado ‘Cemitério Municipal’, até o ano de 1893, era a única necrópole da cidade, até que foi inaugurado o cemitério do Brás ou da “4ª Parada”, e, em 1897, foi fundado o cemitério do Araçá. A partir da construção dessas necrópoles, o Cemitério da Consolação, que antes atendia a todos, independentemente de sua classe social, inicia um processo de elitização, estabelecido nas décadas posteriores. Uma ala do cemitério, em especial voltada para a rua da Consolação, tornou-se cada vez mais aristocrática, uma vez que apenas elevados estratos sociais eram sepultados nessa área, e, até os dias atuais, é possível observar muito requinte em sua arte tumular. Ao lado contrário ao primor, distinção e elegância, mais precisamente em sua ala posterior, dava-se continuidade às sepulturas dos mais pobres (escravos, inclusive) em covas gratuitas (SÃO PAULO, 2008). Ainda segundo São Paulo (2008, s/p), o que se pode ver atualmente, foi o resultado das obras, finalizadas em 1909, período em que o Cemitério da Consolação “tornara-se a primeira necrópole de São Paulo, por todos admirada, principalmente pelos visitantes estrangeiros”, conforme as palavras do mesmo vereador José Oswald. A morte existente no Cemitério da Consolação de São Paulo perde o protagonismo do espaço, uma vez que presentes os elementos arquitetônicos das mais variadas temáticas, executadas por artistas prestigiados como Rodolpho Bernardelli, Galileo Emendabili, Victor Brecheret, Luigi Brizzolara e Bruno Giorgi. Em meio ao patrimônio composto por capelas, mausoléus, túmulos e lápides é possível encontrar um enorme acervo artístico (MANHÃES, 2010). Nesse contexto, Osman e Ribeiro (2007, p. 10), apontam que: Um passeio pelo cemitério da Consolação é um encontro com todas as mudanças ocorridas em São Paulo, valendo por uma boa aula de história. É possível, em poucas quadras, de jazigo em jazigo, ao longo das ruas e alamedas, visitar o Brasil-Império e diversas personalidades nobiliárquicas (como a Marquesa de Santos e o Barão de Itapetininga); assistir ao poder e ascensão da República do Café-com-leite (nas figuras dos presidentes Washington Luiz e Prudente de Morais); verificar o apogeu e a falência das famílias tradicionais (os Prado e os Álvares Penteado) e a mudança de poder e da riqueza para os imigrantes cujos nomes se ligam à industrialização de São Paulo (Matarazzo, Jafet, Calfat, Crespi), também ligados a um processo de apogeu e decadência; comprovar o enredo político representado no Movimento Tenentista e nas Revoluções de 1924 e 1932. Sem contar a ampla efervescência cultural que marcou a Belle Époque e os frementes anos 1920, com a Semana Modernista (com trinca formada por Tarsila do Amaral; Oswald de Andrade e Mário de Andrade, e o desafeto Monteiro Lobato), além do mecenato das artes (Ciccilo Matarazzo, Yolanda e Olívia Guedes Penteado). A lista é extensa e diversificada, de uma riqueza histórica sem igual.

Depois de quase um século que o cemitério já possuía seu reconhecimento como um patrimônio histórico-artístico-cultural, além de um atrativo turístico, tendo em vista as palavras de José Oswald em 1909 citadas anteriormente, teve reconhecimento de seu potencial e foi tombado pelo CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo, no ano de 2005. O que possibilitou uma maior conscientização e visibilidade para a necrópole (SÃO PAULO, 2008; MANHÃS, 2010). 3. METODOLOGIA ;

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Para o início de discussão e argumentação apresentado no decorrer do presente trabalho, foi buscado em referenciais teóricos no acervo da biblioteca da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” do câmpus de Rosana, isso se deve à importância da elaboração de um referencial teórico a fim de interpretar, conhecer e decifrar toda a análise de um trabalho científico (LAKATOS, 2001). Foi utilizado também de fontes de pesquisa bibliográfica em sites de pesquisa acadêmica. Para obter os resultados propostos, a pesquisa de campo foi caracterizada pela visita in loco, o que se tornou fundamental para o método a ser aplicado por meio de coleta de dados por meio de questionários estruturados e observação. De acordo com Marconi e Lakatos (2009, p. 203): “o questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito, sem a presença do entrevistador”. A observação in loco ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento. Desempenha papel importante nos processos observacionais, no contexto da descoberta, e obriga o investigador a um contato mais direto com a realidade (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 193).

A pesquisa pode ser caracterizada como sendo qualitativa e quantitativa. O universo da aplicação da pesquisa5 foi definido como, primeiramente, a administração do cemitério, visando a levantar dados a respeito da oferta turística, por meio de entrevista 6 estruturada com perguntas abertas, de caráter quantitativo, que segundo, segundo Minayo (1994 p. 22): “[...] responde a questões muito particulares. Ela se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado”. A pesquisa qualitativa é uma estratégia usada para responder perguntas sobre os grupos, comunidade e interações humanas e tem a finalidade de descrever os fenômenos de interesse, ou de prever os fenômenos turísticos, ou ainda os de comportamento humano e sua relação com o turismo. As características intrínsecas da pesquisa qualitativa incluem uma análise intuitiva dos dados, mostrando os resultados a partir da sua própria observação da realidade (OMT, 2005 p. 2).

Subsequentemente, foi realizada uma entrevista estruturada com perguntas fechadas, de caráter quantitativo, a todos aqueles que visitam o atrativo, também representando a segunda parte da delimitação do universo da pesquisa, sendo optado por uma amostragem aleatória simples, com um total de 30 entrevistados, em um período de sete dias do primeiro semestre de dois mil e dezenove. A amostra7 aleatória simples, segundo Yule e Kendall (2008 apud Marconi; Lakatos 2008) ocorrem quando “a escolha de um indivíduo, entre uma população é ao acaso (aleatória),

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Universo ou população é o conjunto de todos os casos que preenchem uma série de especificações (Selltiz et. al., 1980 apud Hernández, 2013, p. 193) 6 Definidas como uma reunião para conversar e trocar informações entre uma pessoa (o entrevistador) e outra (o entrevistado). Nas entrevistas estruturadas, o entrevistador segue como base um roteiro de perguntas específicas, e se limita apenas a elas. (Hernández, 2013, p. 425). 7 De acordo com Marconi e Lakatos (2002, p. 225), amostra e amostragem pode ser definido como “escolher uma parte (amostra), de tal forma que ela seja a mais representativa possível do todo e, a partir dos resultados obtidos, relativos a essa parte, poder inferir, o mais legitimamente possível, os resultados da população total, se esta fosse verificada. ;

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quando cada membro da população tem a mesma probabilidade de ser escolhido” (YULE; KENDALL, 2006 apud MARCONI; LAKATOS, 2008, p. 28). O modo qualitativo é elaborado para gerar medidas precisas e confiáveis e que permitam uma análise estatística por meio de informações por meio de números. [...] caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quando no tratamento dessas através de técnicas estatísticas, desde as mais simples como percentual, média, desvio-padrão, às mais complexas, como coeficiente de correlação, análise de regressão (RICHARDSON,1999, p. 29).

Nesse sentido, a presente pesquisa pode também ser classificada como descritiva e exploratória. Sendo a primeira, segundo Hernández (2013 p. 102): “[...] buscam especificar as propriedades, as características e os perfis de pessoas, grupos, comunidades, processos, objetos ou qualquer outro fenômeno que se submeta a uma análise”. Ainda segundo Hernández (2013, p. 100): “os estudos exploratórios são realizados quando o objetivo é examinar um tema ou um problema de pesquisa pouco estudado, sobre o qual temos muitas dúvidas ou que não foi abordado antes”. Segundo Yin (2001), o estudo de caso consiste no estudo profundo e exaustivo dos fatos objetos de investigação, permitindo um amplo e pormenorizado conhecimento da realidade e dos fenômenos pesquisados. “Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos” (YIN, 2001 p. 33). Ainda segundo o autor, o estudo de caso pode ser restrito a uma ou a várias unidades, caracterizando-o como único ou múltiplo. O estudo de casos múltiplos, segundo Yin (2001), tem provas mais convincentes, sendo visto como mais robusto. No entanto, o autor alerta para as maiores exigências de tempo e de recursos. Por fim, foi considerado um estudo comparativo de caso, por meio da epistemologia da palavra, quando há comparações de diferentes dados advindos de diferentes casos. Após concluído o processo de coleta de dados para a discussão dos resultados, foi aplicado o método de análise de conteúdo, que consiste, segundo a autora Laurence Bardin (1994, p. 31), em um “conjunto de técnicas de análise das comunicações”, permitindo, ao final, a lapidação dos resultados de forma prática e objetiva, além do uso de gráficos para representar de modo planejado o fechamento do estudo.

Os métodos e técnicas de pesquisa apresentados anteriormente tornaram possível a concretização deste trabalho, bem como proporcionaram as bases acadêmicas necessárias para atingir os objetivos propostos. 4. ANÁLISE DOS DADOS A partir da entrevista aplicada à administração do Cemitério da Consolação, é possível refletir acerca da atividade turística já desenvolvida e consolidada. A respeito do roteiro utilizado na visitação guiada, foi criado originalmente pelo historiador e amante de arte tumular Délio Freire dos Santos, e depois foi pontuado e aumentado por Francisvaldo Gomes, atual guia do cemitério. O roteiro, que se iniciou com vinte elementos, e depois de uns anos foram acrescentados outros dez atrativos, hoje conta com trinta e três na categoria “intelectuais, artistas e personalidades públicas”, trinta e um na categoria “escultores” e mais dezoito pontos de visitação na categoria “políticos”, porém a visita guiada não aborda todos esses, mantendo-se em um roteiro fixo explorando o melhor do atrativo. Apesar do grande número de visitantes, é pontuado pela administração do cemitério um notável número de pesquisadores de algumas áreas ligadas diretamente e indiretamente ao ;

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cemitério, os quais não se diferem na contagem de visitantes dos turistas. O número de visitantes é computado pela assessoria de imprensa, uma vez que o atrativo não possui um livro de registros de visitantes. O gestor aponta o Cemitério da Consolação de São Paulo como um atrativo de abrangência estadual, nacional e internacional, o que pode ser notado uma vez que estrangeiros foram observados por meio da observação in loco. Na atual circunstância, não existem projetos a serem implementados na visitação do cemitério. Devido ao roteiro ter sido complementado ainda neste ano, a gestão do cemitério e o Serviço Funerário Municipal de São Paulo não possuem necessidade de realizar grandes alterações na questão da visitação. No entanto, foi dito pelo guia, durante a visitação, que o portão monumental, o qual tem referências do Arc de Triomphe de Paris, que se encontra na entrada principal, estaria em um processo burocrático com órgãos de tombamento para que possa ser restaurado, uma vez que se encontram indícios degradação. Sobre o incentivo e financiamento por parte das secretarias de turismo municipal e estadual, o atrativo não mais recebe o fomento para a atividade turística como nos tempos passados. Durante a visitação guiada, o guia apontou um maior apoio ao cemitério na gestão presidencial passada e que, no atual contexto político, dificilmente será destinado estímulo financeiro ao turismo no Consolação. Quanto à oferta turística do atrativo, ela permanece a mesma em relação ao que já foi dito anteriormente, baseando-se em visitação guiada e autoguiada e eventos, e não tendo sido complementada com novas atividades. Durante a visitação guiada, o guia pontuou que não acontecem eventos há muito tempo e que o número de visitantes que compõem o grupo para visitação guiada tem diminuído, porém sempre haverá pessoas interessadas no que o Cemitério da Consolação pode oferecer. Quando questionado sobre sua opinião particular a respeito dos principais fatores motivacionais, Sandro Borges, administrador do cemitério, aponta que o atrativo é considerado o cemitério de maior importância do país, seja pela data em que foi fundado, ou pelas personalidades de relevada importância para a história do município, do estado e até mesmo do país, que ali encontram-se sepultados. O administrador aponta, também, a arte tumular como um dos principais elementos motivadores de consumo desse espaço, uma vez que existem inúmeros túmulos que foram contemplados com obras de artistas renomados em âmbito internacional. E, por fim, é apontado o interesse pela história (e pela cultura, que caminham lado a lado na atividade do cemitério), sendo um dos elementos de motivação o interesse em conhecer aqueles que fizeram importante parte da história. Para que fosse possível traçar o perfil do turista do Cemitério da Consolação, foram realizadas perguntas de cunho socioeconômico, as quais são apresentadas na sequência. Quanto à cidade de origem dos visitantes, metade dos entrevistados eram advindos de São Paulo ou da região metropolitana, a outra parcela dos entrevistados correspondiam a outros municípios, em sua maioria do estado de São Paulo, com a exceção de três entrevistados, vindos do Rio de Janeiro, de Recife e do município de Cianorte, no Paraná. Para melhor visualização do resultado objetivo, vide o gráfico 1. Quanto à idade dos entrevistados, pode ser observado que, majoritariamente, os turistas encontram-se na mesma faixa etária, tendo de 18 a 32 anos de idade, conforme consta no gráfico 2. Mesmo que em menor quantidade, outras faixas etárias também foram evidenciadas. No entanto, não foi observado nenhum turista com 65 anos ou mais, o que pode ser compreendido pela ;

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dificuldade de locomoção, mesmo o cemitério tendo disponibilidade de veículos para essa demanda quando nas visitações guiadas. Gráfico 1 - Origem dos entrevistados.

Gráfico 2 - Idade dos entrevistados.

Fonte: Autor.

Fonte: Autor.

Em relação ao sexo das pessoas entrevistadas, não houve uma margem muito grande, apesar de, em sua maioria, serem homens. O questionário possui a categoria “outros” para permitir que fosse mais inclusivo, porém não houve entrevistados classificados nesse grupo. Os dados são evidenciados no gráfico 3. Em relação à pergunta questionando o estado civil dos entrevistados, os dados levantados foram que são, em sua maioria, solteiros, sendo uma grande margem em comparação às demais opções, uma vez que foi registrado um número maior que o dobro da segunda categoria mais presente, os casados. Conforme consta no gráfico 4. Gráfico 3 - Sexo dos entrevistados.

Gráfico 4 - Estado civil dos entrevistados.

Fonte: Autor.

Fonte: Autor.

Quanto à escolaridade dos entrevistados, foi notado que todos os entrevistados estão nas categorias ensino médio completo, ensino superior incompleto e superior completo, sem grande divergência nos números, sendo eles gradativamente crescentes respectivamente. Ficou evidente ;

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que não houve entrevistados correspondentes ao ensino fundamental completo, o que nos permite observar que o turista do Consolação possui maior acesso à informação e ao conhecimento, assim como maior nível de estudo. Diante disso, o gráfico 5 traz melhor visualização dos dados apresentados. Quanto à renda mensal dos entrevistados, majoritariamente, possuem uma arrecadação mensal de um a três salários mínimos, subsequentemente com um número muito inferior, encontram-se os que possuem uma receita de quatro a seis salários mínimos. Além disso, apenas um entrevistado constou receber mais de seis salários, e outros quatro optaram por abstenção, conforme é exposto no gráfico 6. Gráfico 5 - Escolaridade dos entrevistados

Fonte: Autor.

Gráfico 6 - Renda mensal dos entrevistados.

Fonte: Autor.

Em relação à finalidade da visita dos entrevistados até o atrativo, os casos foram predominantemente visitações turísticas, uma vez que, com exceção de três entrevistados, que apontaram a unção mortuária como finalidade de sua visita, todos os demais citaram a primeira opção, conforme demonstra o gráfico 7. Quanto às visitações turísticas, elas apresentam-se, majoritariamente, como visitas autoguiadas, havendo uma pequena parcela de sete outras pessoas na visitação guiada, e todos os outros entrevistados foram classificados na segunda opção, conforme foi representado no gráfico 8.

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Gráfico 7 - Finalidade da visitação dos entrevistados.

Gráfico 8 - Tipo de visitação dos entrevistados.

Fonte: Autor.

Fonte: Autor.

Foi questionado aos entrevistados qual foi o meio de transporte utilizado para chegarem até o destino. As respostas obtidas apontam que o turismo no Cemitério da Consolação ocorre, em sua maioria, por meio do uso do transporte público da cidade de São Paulo. Isso pode ser justificado pela presença da estação Paulista da linha amarela do metrô de São Paulo, que se encontra a dois minutos caminhando até a entrada principal do Consolação. A relação do uso das tipologias de transporte pelos entrevistados pode ser visualizada no gráfico 9. A composição dos grupos de visitantes é um importante elemento a ser observado para que seja possível traçar um perfil de consumo. Com isso, foi notado que houve mais entrevistados que realizavam a visita ao local sozinhos. No entanto, os grupos de composição familiar e por amigos também tiveram altos números. É possível notar que não houve a presença de casais com filhos e grupos compostos por colegas de trabalho durante a pesquisa. Essa segunda categoria foi inserida na pesquisa devido ao cemitério estar localizado em uma região não residencial e, majoritariamente, composta por empresas. Isso pode ser observado no gráfico 10. Gráfico 9 - Transporte utilizado pelos entrevistados.

Gráfico 10 - Composição dos grupos de entrevistados.

Fonte: Autor.

Fonte: Autor.

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Quando questionados se estão cientes da oferta de visitação guiada, do aplicativo para smartphones “Memória & Vida - Guia Cemitério da Consolação”, ou de eventos que ali ocorriam (ou uma vez ocorreram) naquele espaço, a maior parte dos entrevistados apontou que não tinham ciência de pelo menos um desses elementos citados anteriormente. Isso pode indicar um déficit no marketing e na oferta turística do cemitério. Com relação às proporções, é possível visualizá-las no gráfico 11. Com relação a forma que os entrevistados tomaram ciência do Cemitério da Consolação enquanto atrativo turístico da cidade de São Paulo, as categorias mais citadas são as redes sociais, e familiares e amigos. Apenas um entrevistado apontou os eventos no cemitério como fator de conhecimento da atividade turística no local. Sites de turismo em São Paulo e sinalização turística também foram citados, conforme indica a gráfico 12. Gráfico 11 – Ciência sobre a oferta turística do cemitério.

Gráfico 12 - Como os entrevistados ficaram sabendo do atrativo.

Fonte: Autor.

Fonte: Autor.

Quando questionados se alguma vez já foram em outros cemitérios apenas com intuito de visitar, os entrevistados dividiram-se igualmente na afirmação e na negação do fato, conforme é apresentado no gráfico 13. No entanto, quando questionados se, após visitarem o Cemitério da Consolação de São Paulo, sentiram-se motivados a visitar outros cemitérios e explorar o turismo cemiterial, tem-se significativa distinção, que pode ser expressa no gráfico subsequente, . É evidente que o atrativo tem seu caráter motivador e impulsionador ao turismo cemiterial, uma vez que houve aumento na quantidade de pessoas que já realizaram essas práticas comparado aos que despertaram interesse em praticar esse segmento turístico.

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Gráfico 13 - Outras visitas a cemitérios feitas pelos entrevistados.

Gráfico 14 - Motivação de visitar outros cemitérios.

Fonte: Autor.

Fonte: Autor.

Mesmo não sendo um dos objetivos específicos deste trabalho, foi questionado aos visitantes se alguma vez já haviam pensado em cemitérios como “museus a céu aberto”, o que é discutido anteriormente nesta pesquisa. O resultado obtido foi uma divisão por igual entre o “sim” e o “não”, o que mostra que esse conceito sobre as necrópoles vem se popularizando, e os estigmas em relação a essa atividade vem sendo quebrados gradativamente com o passar do tempo, o que pode ser visualizado no gráfico 15. E, por fim, foi questionada aos entrevistados uma das perguntas de maior relevância para esta pesquisa, pois garante o embasamento para que possa ser sanada uma parcela de seu objetivo geral, tratando-se do principal elemento motivador dos visitantes, que os levam a conhecer o Cemitério da Consolação de São Paulo. Ao analisarmos os resultados obtidos para essa questão, observamos que, em sua maioria, os visitantes têm como seu principal elemento motivador a arte tumular, subsequentemente a história e cultura, enquanto as outras categorias foram menos presentes. As respostas podem ser vistas no gráfico 16. Gráfico 15 - Conceito de “museu a céu aberto”.

Gráfico 16 - Principal elemento motivador dos entrevistados.

Fonte: Autor.

Fonte: Autor.

É importante salientar que, apesar de o espaço se encontrar no centro da cidade de São Paulo, em meio ao caos urbano, é um espaço calmo e arborizado, onde o som parece distante, a ;

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categoria de motivação “contato com a natureza” não foi mencionada pelos entrevistados. Entretanto, foi pontuado, por mais de uma vez, a categoria “isolamento para reflexão”, o que também pode ser entendido como fuga do caos urbano. Apesar de o elemento “manifestação religiosa/fé” ser apontado poucas vezes durante as entrevistas, durante a observação in loco, foi possível visualizar muitos visitantes realizando orações em frente do jazigo de Plínio Corrêa de Oliveira, que, durante a visita guiada, foi descrito como o fundador de uma organização civil de inspiração católica tradicionalista, e que até hoje há devotos da TFP (Tradição, Família e Propriedade). Esses visitantes entravam, em sua maioria, com veículos particulares até a frente da sepultura e não interagiam com mais nenhum outro elemento do cemitério. No entanto, outras religiões também coabitam o Cemitério da Consolação, uma vez que também foi possível observar manifestações religiosas (velas e oferendas) advindas de religiões de matriz africana em um local da necrópole denominado cruzeiro, esses locais possuem referência para que as pessoas possam acender velas, homenagear e relembrar pessoas que já se encontram falecidas. Diante de todo o exposto anteriormente, o presente trabalho dispõe de embasamento científico suficiente para, a partir dos dados, chegar em sua conclusão para o objetivo de encontrar o perfil e a motivação do público visitante, bem como estabelecer o atual mapeamento da oferta turística do Cemitério da Consolação de São Paulo, sendo eles expostos na conclusão desta pesquisa. 5. CONCLUSÃO As necrópoles, quando criadas, tem como sua aplicabilidade primária a função mortuária. No entanto, com o decorrer do tempo, esses espaços chegam em sua capacidade máxima, não havendo mais disponibilidade para construção de jazigos, gerando, assim, um impacto em sua função primária. Diante disso, tornou-se necessário realizar uma redesignação para os campos santos, para que continuasse a haver uso público do espaço e de seus patrimônios ali acumulados. O turismo cemiterial encontra-se como uma forte possibilidade para as necrópoles, as quais foram construídas e ampliadas há décadas, o que as torna interessantes pontos de visitação e capazes de receber fluxo de pessoas, além de figurar como poderosa ferramenta para valorização da arte, história e cultura ali contidos. O Cemitério da Consolação apresenta sua atividade turística já consolidada, uma vez que possui um vasto acervo no interior de seus muros. O atrativo de âmbito internacional recebe visitantes diariamente, tendo eles autonomia para usufruir de todo o espaço público por meio da infraestrutura turística para realização e fomento da atividade turística. Referente à conclusão a respeito da oferta turística da necrópole, apesar de complementações recentes, a oferta de atividades que estão de certa forma atreladas à visitação e ao uso público do espaço permanece a mesma. É notado que a disponibilidade de atividades do cemitério não mudou em relação ao que já havia sido levantado na fundamentação teórica do presente trabalho, ainda baseando-se em: visitação guiada; visitação autoguiada por meio do aplicativo “Memória & Vida: Guia Cemitério da Consolação” e leitores de código QR e eventos que já ocorrem com pouca ou quase nenhuma frequência. De acordo com informações obtidas por meio de conversas informais, foi informado que o número de visitantes vem diminuindo, porém não foram expostos números para comprovar esse fato. A administração, contudo, não se mostra abalada, pois afirma que sempre houve e haverá pessoas interessadas nesse tipo de segmentação turística. De acordo com a administração, o lugar ganhou mais atenção do Serviço Funerário de ;

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São Paulo depois da implementação das atividades ligadas à visitação no cemitério, possibilitandoo estar mais limpo e apto a receber visitantes. Com relação ao que diz respeito ao perfil e à motivação dos visitantes do Cemitério da Consolação, podemos concluir que esses consistem, na sua maioria, em: uma demanda dividida igualmente pela metade entre São Paulo e Região Metropolitana com outras cidades de todo país, porém com maior ocorrência de municípios do estado de São Paulo. Um público com faixa etária entre os 18 a 32 anos, sendo uma pequena maioria do sexo masculino, solteiro e que visita sozinho a necrópole. Com relação à escolaridade, o turista pode possuir ensino médio completo e ensino superior completo ou incompleto. Sua renda mensal, em sua grande maioria, é de 1 a 3 salários mínimos. Quase todos os que vão ao Cemitério da Consolação tem como finalidade a visitação turística, sendo a maioria delas feitas de forma autoguiada. Majoritariamente, utilizam o transporte público para locomoção até o atrativo, o que pode ser justificado pela proximidade de uma estação do metrô de São Paulo. Os visitantes tiveram seu primeiro contato com o cemitério como atrativo por meio de redes sociais ou por divulgação realizada oralmente por amigos e familiares. Em sua maioria, os turistas não estão cientes da existência da oferta turística do cemitério, o que já foi apontado anteriormente. E que mesmo não tendo visitado cemitérios antes, sentem-se motivados a conhecer outros a partir da visita ao Consolação. A partir dos resultados obtidos, foi possível reconhecer como maior motivador de consumo turístico do visitante do Cemitério da Consolação de São Paulo seu vasto patrimônio de arte tumular. No entanto, não é possível descartar as visitas motivadas pelo contato com a história e cultura, as quais não poderiam estar contidas em categorias distintas, uma vez que uma compõe e complementa a outra e ambas andam lado a lado com a arte. Diante disso, tratando-se de um atrativo com grande potencialidade turística, o Cemitério da Consolação possui evidentes déficits em sua atividade turística. A necrópole conta apenas com um guia para ministrar as visitações guiadas, a escassez de funcionários voltados às atividades que permeiam a visitação pode comprometer a oferta do cemitério. O único guia não possui formação na área do turismo, sendo um funcionário esporádico, estando presente apenas uma vez na semana ou em datas com grupos de visitação marcadas. As visitações guiadas ocorrem de forma muito reduzida, sendo elas ofertadas apenas uma vez na semana. Outro aspecto negativo, que é possível ser notado, é a falta de infraestrutura turística para receber os visitantes, como, por exemplo, maior número de sanitários ou rampas de acesso. A complementação da infraestrutura torna-se dificultosa devido aos processos de tombamento do atrativo. O mesmo motivo pelo qual a necrópole enfrenta dificuldades em restaurar elementos que se encontram degradados. Quanto aos dados a respeito da visitação, ficam em posse do Serviço Funerário de São Paulo, o que prejudica a necrópole de reconhecer sua própria atividade ou os visitantes que dela fazem uso. O número de visitantes esporádicos (que não fazem uso da visitação guiada) não é computado, tornando-se impossível saber ao certo o número de visitantes ao todo. Diante do exposto, mesmo se tratando de um atrativo de relevada importância no contexto histórico da cidade de São Paulo, o Cemitério da Consolação conta uma oferta turística reduzida, o que não impede uma futura complementação, tendo potencialidade de ser um dos atrativos de referência mundial do segmento do turismo cemiterial.

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PESQUISA DE DEMANDA: O CASO DO BALNEÁRIO MUNICIPAL DE ROSANA-SP INÁCIO, RENAN RICARDO GALDINO¹ SOUZA, MARIANA BATISTA DA SILVA² NASCIMENTO FILHO, FRANCISCO BARBOSA³ renansinho_vgs@hotmail.com, marianabatista0906@gmail.com, francisco.nascimento@unesp.br 1

Trabalho finalizado de caráter bibliográfico e documental. ²Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ³Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ⁴Doutor em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI, 2018.

RESUMO – O presente trabalho teve como objetivo de estudo a delineação do perfil de visitante do Balneário Municipal de Rosana durante um período sem realização de evento especial por meio de uma pesquisa de demanda. A metodologia se deu por ser de caráter bibliográfico e documental, sendo um estudo exploratório descritivo, com abordagem quantitativa, utilizando como instrumento de pesquisa o questionário, que foi aplicado in loco a uma amostragem aleatória simples. Como resultado, obteve-se uma análise descritiva dos dados por meio da aplicação e da tabulação dos dados em gráficos, identificando as principais relações existentes em cada turista. Posteriormente, concluiu-se que conhecer a demanda efetiva que existe em um atrativo turístico faz-se necessário para o planejamento, uma vez que contribui para saber no que se deve investir e quais são os aspectos que devem ser aprimorados para atender as necessidades dos visitantes. Palavras-chave: Turismo; Demanda; Balneário; Turista. ABSTRACT - The present paper had as objective of study the delineation of the visitor profile of the Balneário Municipal de Rosana during a period with no special event through a demand research. The methodology was about bibliographic and documentary, of a descriptive exploratory study with quantitative approach, using as a research instrument the questionnaire, that was applied in loco to a simple random sampling. As a result, it was obtained a descriptive analysis of the data through the application and tabulation of data in pizza charts, identifying the main relationships existing in each tourist. Subsequently, it was concluded that knowing the effective demand that exists in a tourist attraction is necessary for planning, since it helps to know in what to invest and which aspects should be improved to meet the needs of visitors. Key words: Tourism, Demand; Beach; Tourist.

1. INTRODUÇÃO Primeiramente, no que diz respeito à atividade turística, Ansarah (2001) afirma que essa atividade pode abranger uma variedade de setores que se constituem por um agrupamento, voltados para a questão econômica. Portanto, a autora ainda destaca que, além de o turismo poder englobar diversos setores que coexistem dentro de seu contexto interpretativo a fim de proporcionar um desenvolvimento local por meio dos setores econômicos, ele também se faz difícil de se definir ;

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como uma atividade que possua um caráter completamente uniforme, isso por conta de sua diversidade de segmentos. Não obstante, em relação ao planejamento, pode-se dizer que: O modelo de planejamento, qualquer que seja, pressupõe certa racionalidade da ação, isto é, a possibilidade de prever a realidade futura e portanto alterá-la [...] A previsão é feita através de uma análise de dados, julgados relevantes pelos técnicos responsáveis e que, teoricamente, podem explicar os fatos pressupondo certa regularidade entre eles [...]. (DIAS, 2003, p. 94).

Dessa forma, compreende-se que o planejamento pode proporcionar um caminho lógico e estratégico capaz de prever uma determinada realidade futura que será planejada ou alterada por meio de métodos e técnicas, isto é, quando ocorre o planejamento da atividade turística, é viável que se tenha base do que se quer alterar e quais são as respectivas ações necessárias para que a execução seja eficiente. A demanda turística é “o número total de pessoas que viajam, ou que desejam viajar, para utilizar facilidades e serviços turísticos em lugares distantes do seu local de trabalho e residência” (MATHIESON; WALL, 1988, p. 16 apud BRAGA, 2007, p. 91). Sendo assim, Braga (2007) explica, com base no excerto anterior, que esta definição pode contribuir em dar margem ao estudo da demanda real, sendo os indivíduos que realizam a viagem e também da demanda latente, sendo aqueles que desejam realizar uma determinada viagem, mas não a fazem por um motivo específico. De acordo com o Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico de Rosana-SP (2015), o município está localizado no estado de São Paulo a 750 km da capital paulista e se situa na divisa entre os estados do Paraná ao sul e Mato Grosso do Sul ao oeste. Desse modo, em sua respectiva divisão com o estado do Paraná, encontra-se o Rio Paranapanema e, ao oeste, na divisa com o Mato Grosso do Sul, encontra-se o Rio Paraná, possuindo, assim, diversas ilhas em seu entorno e atrativos turísticos do município de Rosana. O Balneário Municipal de Rosana-SP está localizado na Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, apresentando em sua infraestrutura: quiosques; duchas; lanchonetes; ponto de apoio do corpo de bombeiros; áreas demarcadas para banhistas dentro do rio. O ambiente em seu entorno se encontra em regular estado de conservação, mas carece de sinalização turística e adaptação para pessoas com deficiência. No que tange às problemáticas do trabalho, é válido questionar: Existe alguma distinção ou semelhança considerável na demanda turística do Balneário Municipal de Rosana/SP em época sem evento? Posteriormente, esta pesquisa pode contribuir para o planejamento turístico do local? Desse modo, vale frisar que, dentro do fluxo de visitação do Balneário Municipal de Rosana-SP, pode haver uma distinção elevada de diferentes tipos de demanda existentes, como também esta ferramenta de pesquisa pode atribuir importância para o futuro planejamento turístico do destino no município por meio de indicadores de melhorias e desenvolvimento que foram obtidos por meio da integração do turista com os questionários aplicados. A relevância do estudo desta pesquisa é essencial, pois a distinção existente entre os tipos de demanda é importante para a análise da atividade turística, uma vez que deve-se conhecer as características dos indivíduos que são os turistas e dos que podem vir a ser turistas, fato significativo para que se possa estruturar os planos de desenvolvimento de uma destinação ou de um empreendimento turístico específico, estimando a demanda para o futuro e avaliando também a amplitude das consequências, caso essas pessoas efetivamente se tornem turistas (BRAGA, 2007). ;

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Sendo assim, a utilização da pesquisa de demanda faz-se relevante para os trabalhos de planejamento realizados em locais que abrangem um certo fluxo constante de turistas, uma vez que eles, consequentemente, acabam utilizando os produtos e serviços da localidade em questão. Não obstante, para o profissional do turismo em planejamento, é importante “[...] conhecer os conceitos específicos de demanda turística a fim de melhor compreender suas diferenciações e optar pela estratégia de investigação de cada uma delas” (BRAGA, 2007, p. 92). Desse modo, conscientizar a secretaria de turismo do município a fazer pesquisas de demanda anuais em épocas com ocorrências de eventos e sem pode contribuir para o planejamento por meio da elaboração de estratégias. Influenciar em futuros investimentos de segmentos ou tendências no produto turístico por meio dos entrevistados e garantir atualização do Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico no âmbito da demanda são um dos aspectos que podem vir a ocasionar por meio dos benefícios existentes da realização da pesquisa de demanda em um destino. O presente trabalho possui como objetivo geral destacar a realização da pesquisa de demanda que o Balneário do Município de Interesse Turístico de Rosana-SP abrange por meio de uma amostragem aleatória simples em época sem eventos, a fim de observar se existem distinções ou semelhanças existentes na demanda e se pode atribuir importância para o planejamento turístico do destino. Por conseguinte, o trabalho encontra-se organizado, primeiramente, com a apresentação da introdução como um todo, ressaltando o tema tratado, as problemáticas, hipóteses, justificativa e o objetivo geral. Em seguida, será destacado o referencial teórico, abordando de forma aprofundada e bibliográfica os principais assuntos que se permeiam com o turismo, planejamento turístico e demanda para a construção desta pesquisa. Posteriormente, será apresentada também a metodologia deste artigo, destacando quais foram os principais métodos e materiais necessários utilizados para a realização deste trabalho. Enfim, serão ressaltados quais foram os resultados obtidos por meio da pesquisa de demanda no balneário, as discussões analíticas e as considerações finais como um todo. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Turismo O turismo pode ser reconhecido como um direito do ser humano, pois possui a capacidade de atribuir uma qualidade de vida, permeando a sociedade. Sendo assim, existem inúmeras unidades produtivas dependentes da demanda periódica por viagens, investigando o complemento do produto turístico procurado pelos turistas em fatores que suprem as suas respectivas necessidades (DIAS, 2003, p. 42). Em contrapartida, é possível definir turismo também como sendo um conjunto de “[...] atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares distintos do seu entorno habitual, por um período consecutivo, inferior a um ano, por lazer, negócios e outros”. (OMT, 2003, p. 3 apud PELLISON; PORTUGUEZ, 2013, p. 190). Essas atividades, além de serem realizadas durante as viagens, também podem proporcionar lazer e fuga da realidade. Vale destacar o fato de o turismo englobar alguns setores presentes na sociedade, como também estar vinculado à economia, ao social, cultural e ecológico. Entretanto, pode-se dizer também que: ;

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O turismo é um fenômeno que cresce e se expande de forma bastante incontrolável e imprevisível através do tempo e espaço. Em cada momento e lugar que se produz, acontece uma série de relações que sempre são diferentes, em maior ou menor grau, e nunca totalmente previsíveis (BARRETO, 2007, p. 11).

Além da afirmação anterior explicada pela autora de que o turismo se expande incontrolavelmente e a cada instante se produzem relações entre cada determinado espaço, podese frisar também que o turismo acaba sendo um ato usufruído por indivíduos que utilizam uma específica atividade voltada ao lazer, na qual equipamentos e serviços são utilizados para constituir um negócio. Esses negócios são apenas uma certa parte do fenômeno turístico, pois realizar uma análise por meio de paradigmas econômicos que verificam o fluxo do dinheiro pode causar um esquecimento da dimensão antropológica, enxergando os turistas não como indivíduos, mas como portadores de dinheiro (BARRETO, 2003). Lembrando que, com relação às definições sobre o termo “turista”, pode-se salientar que, De la Torre (1992, p. 19 apud BARRETO, 2014, p. 27) afirma que turista é “visitante temporário [...] que permanece no país mais de 24 horas e menos de 3 meses, por qualquer razão, exceção feita de trabalho”. Dessa forma, compreende-se que o visitante temporário deve ser considerado turista a partir de um tempo superior a 24 horas e inferior a 3 meses, pois o autor revela tais afirmações como essenciais para o discernimento de turista. Não obstante, é viável mencionar que os indivíduos que utilizam o turismo estão atrelados, primeiramente, com os prestadores de serviços, e esta relação pode causar um impacto de diversas maneiras aos outros indivíduos que atuam como moradores de uma sociedade, que também possuem uma relação com esses prestadores de serviços e com os turistas. Dessa forma, por meio dessa inter-relação, podem surgir dados que afetam um outro grupo de pessoas, ao mesmo tempo que os turistas se relacionam com outros turistas e a qualidade desse atrelamento acaba se revestindo de características peculiares (BARRETO, 2007). Sendo assim, ainda ressaltando sobre os aspectos relacionados com o turismo, Dias (2003, p. 35) menciona que: O turismo assume um papel no desenvolvimento, devido à modificação das expectativas da sociedade em função das mudanças estruturais no processo produtivo que ocorrem em função da revolução científico-tecnológico. Uma das principais consequências sociais dessas mudanças é o aumento do tempo livre nas sociedades de modo geral, e nas desenvolvidas em particular [...] (DIAS, 2003, p. 35).

Portanto, compreende-se que o turismo pode ocasionar uma série de tempos livres usufruídos pelos indivíduos por meio do lazer, contribuindo para o desenvolvimento da atividade turística. Em contrapartida, nota-se que: A atividade turística é entendida como um fator importante para qualquer economia local, regional ou nacional, pois o movimento constante de novas pessoas aumenta o consumo, incrementa as necessidade de maior produção de bens, serviços e empregos e, consequentemente, a geração de maiores lucros, que levam o aumento de riquezas pela produção de terra, pela utilização dos equipamentos de hospedagem e transporte e pelo consumo ou aquisição e objetos diversos, de alimentação e de prestação dos mais variados serviços. (BEZERRA, 2003, p. 06).

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É notório que essa atividade se faz essencial para o desenvolvimento econômico de um determinado local ou região, pois a mesma movimenta indivíduos que carregam consigo mesmos o dinheiro, que gera a economia local e também incrementa a necessidades dos prestadores de serviços em produzir mais para futuros lucros. Enfim, o “[...] turismo vem sendo tratado como uma das principais alternativas seja no âmbito social ou econômico, para promover o desenvolvimento de diversas localidades. [...]” (SAMPAIO; ZAMIGNAN, 2011, p. 26). No que diz respeito à importância da atividade turística, pode-se dizer que: [...] É atividade excelente para obtenção e melhores resultados no desenvolvimento e planejamento regional ou territorial. Por efeito do aumento da oferta turística (alojamentos, estabelecimentos de alimentação, indústrias complementares e outros), eleva a demanda de emprego, repercutindo na diminuição da mão-de-obra subutilizada ou desempregada. (BEZERRA, 2003, p. 07).

Compreende-se, portanto, que o planejamento regional e territorial são quesitos importantes na atividade turística, uma vez que o turismo abrange uma complexidade de ações que influenciam na sua funcionalidade, pois com o planejamento adequado, o turismo ocasiona oportunidade de geração de renda para uma localidade, empregabilidade e desenvolvimento econômico. 2.2 Planejamento turístico Em relação às questões sobre o que é planejamento, deve-se compreender que o planejamento consiste em ser parte de um processo lógico de pensamento. Observadores que analisam uma determinada realidade abrangente e estabelece caminhos que vão permitir transformá-la de acordo com seus interesses subjetivos. Sendo assim, a forma de planejar pode consistir em analisar uma determinada realidade por meio de seus objetivos particulares e condicionar as ações necessárias que devem ser executadas mediante o problema (MOLINA; RODRÍGUEZ, 2001). Em contrapartida, pode-se dizer que: [...] há várias formas de se definir planejamento, sendo que todas elas remetem à organização do futuro, partindo-se sempre do pressuposto de que existem várias alternativas possíveis [...] ao decidirmos fazer planejamento, na verdade estamos optando por determinado futuro e a partir desta escolha organizaremos o presente para que possamos atingir o objetivo traçado. (DIAS, 2003, p. 87).

Percebe-se que Dias (2003) afirma que todos os meios de planejamento possuem como ênfase a modificação de uma realidade por meio da organização do futuro, por meio de várias alternativas existentes. Desse modo, Molina e Rodríguez (2001, p. 81) ainda mencionam que planejar é implicar a identificação de possíveis variáveis viáveis com o intuito de adquirir um certo rumo de ação que permite alcançar as metas e objetivos. Os autores ainda destacam que o planejamento “[...] é um processo contínuo de tomada de decisões coerentes com os objetivos propostos [...] é um processo sistemático e flexível, cujo único fim consiste em garantir a consecução dos objetivos que, sem este processo, dificilmente poderiam ser alcançados”. A respeito do planejamento turístico, Tyler, Guerrier e Robertson (2001) destacam certos tipos de abordagens e suas respectivas características, que coexistem no planejamento do turismo, sendo elas: ;

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Impulsionista: Os moradores das destinações turísticas não estão envolvidos na tomada de decisão, no planejamento e no processo político de desenvolvimento turístico. Econômico/Industrial: Turismo como um meio de promover o crescimento e o desenvolvimento em áreas específicas. O planejamento enfatiza os impactos econômicos do turismo e sua utilização eficiente para criar renda e empregabilidade. Física/Industrial: Desenvolver estudos de capacidades e limitações para minimizar impactos negativos no território. Comunitário: Ênfase no contexto social e político no qual o turismo ocorre. Sustentável: Uma forma integrada do planejamento turístico que procura garantir, a longo prazo e com o mínimo de deterioração de recursos, de degradação ambiental, de rompimento cultural e de instabilidade social.

Percebe-se que as abordagens e componentes mencionados anteriormente sustentam o entendimento que se deve adquirir sobre o planejamento turístico, uma vez que ambos aspectos se interligam entre si a fim de chegar a um objetivo único que se inter-relaciona com o desenvolvimento de um determinado destino. Nota-se também que, geralmente, a comunidade local não está integrada ao planejamento turístico e na tomada de decisões da gestão responsável pelo desenvolvimento do turismo, já que o correto seria os moradores participarem também dessas decisões. No entanto, discute-se ainda que: Na área do planejamento turístico, o foco tem sido, tradicionalmente, os códigos de zoneamento para a utilização do solo, o desenvolvimento de localidades, a regulamentação de acomodações e construções, a densidade do desenvolvimento turístico, a apresentação de características turísticas culturais, históricas e naturais e a provisão de infra-estrutura, incluindo estradas e sistemas de saneamento básico. (TYLER; GUERRIER, ROBERTSON, 2001, p. 23).

Entende-se que o planejamento turístico pode proporcionar um adequado desenvolvimento de diversos âmbitos que sustentam a atividade turística, como o zoneamento, acomodações, fatores culturais e ambientais e o próprio espaço. Sendo assim, os autores ainda destacam que: A administração de visitantes nas cidades tornou-se uma grande preocupação [...] o crescimento de locais de retiro nas zonas urbanas levou a um aumento do número de turistas em visita a tais áreas, como uma alternativa às regiões litorâneas. Essas visitas caracterizam-se por estadas curtas, por parte dos visitantes, e entrada rápida de dinheiro na cidade. O impacto dos turistas na malha física de uma região, a perda de funções urbanas das regiões centrais das cidades e os impactos sociais do turismo sobre os habitantes locais preocupam os administradores tanto do turismo quanto das cidades (TYLER; GUERRIER; ROBERTSON, 2001, p. 125).

Nota-se que, com base na complementação do excerto anterior, em um local que possua o turismo como atividade de desenvolvimento deve-se ter uma administração adequada no controle de visitantes para um planejamento coeso, pois o crescimento do fluxo de pessoas a locais não litorâneos e que não possuem o mar como produto tem se tornado alto, como exemplo balneários de rio doce. Entretanto, Vera et al. (1997 apud FONSECA, 2005, p. 106) destaca que o sistema turístico é composto por 4 partes: a) o destino turístico que atrai fluxos turísticos; b) a demanda; c) ;

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os mecanismos públicos e privados que promovem e comercializam o destino turístico; d) os sistemas de transportes e de conectividade entre os locais da demanda e o destino turístico. No que diz respeito à parte da demanda, nota-se que a mesma “[...] é constituída pelos turistas ou consumidores dos produtos turísticos, segmentados segundo suas motivações para viajar e seu perfil socioeconômico [...]” (VERA et al., 1997, p. 112 apud FONSECA, 2005). Portanto, é crucial destacar que a pesquisa de demanda se faz necessária para um planejamento turístico adequado, pois possibilita investigar quais são os tipos de demanda e suas principais características que existem em um determinado destino turístico. 2.3 Demanda turística Com relação à demanda turística, Martínez Roget e De Miguel Domínguez (2000, tradução Nossa) mencionam que esse tipo de demanda se faz semelhante a qualquer outro tipo existente, porém com o intuito de usufruir de produtos turísticos, bens e serviços existentes em um determinado destino. Em contrapartida, González Fernández (2006 apud RIGOL MADRAZO, 2009, p. 05, tradução nossa) define a demanda turística como sendo os turistas que pagam pelos serviços que necessitam, usufruindo, assim, de seus tempos livres para desfrutar de locais diferentes, pois buscam adquirir experiências. Ou seja, a demanda turística é um conjunto de produtos, atrativos turísticos, serviços e atividades que satisfazem as necessidades dos consumidores. Entretanto, Rigol Madrazo et al. (2009, tradução nossa) destacam algumas informações essenciais que podem discernir o conceito e a compreensão sobre a demanda turística, pois os autores explicam que um grupo pode se referir a uma "ação" que inclui algumas questões como: satisfação necessidades de lazer; eles querem adquirir; eles querem comprar; exigir viajar ou eles querem viajar; disposto a adquirir; aquisição; resultado; resultado da adição; solicitação efetiva. Dessa forma, existe outro que inclui as variáveis vinculadas ao “sujeito” da ação: conjunto de pessoas; consumidor quotas de mercado; indivíduos; visitantes; turistas; economias; demanda do usuário; mundo; termo econômico. Não obstante, existe ainda um terceiro que pode incluir variáveis relacionadas ao "objeto" da ação: quantidade de produto ou serviço; quantidade; quantidade de bens e serviços; bens e serviços; desfrutar de instalações e serviços; ofertas de serviços; quantidade de turismo; decisões; despesa agregada de consumo. Desse modo, o último grupo estabelece o “local e momento” em que a ação é realizada, como exemplo, o mercado, o local que não seja residência de trabalho, um certo destino etc. (RIGOL MADRAZO; LOURDES MARÍA, 2009, tradução nossa). De acordo com a concepção de Beni (2007) sobre o assunto, é possível afirmar que a demanda turística pode ser afetada por diversos fatores que se baseiam em aspectos socioeconômicos e psicológicos específicos de cada destino. Sendo assim, existem alguns fatores socioeconômicos que atuam na demanda turística de um lugar, como os objetivos gerais que se vinculam ao quesito de motivações, a população e estrutura por idades, urbanização, duração do tempo livre de um indivíduo com base nos trabalhos. Portanto, é possível entrelaçar demanda turística com o perfil do turista, uma vez que para se obter os dados demandados, faz-se necessário entender quais fatores e elementos principais o turista procura para viajar. Sendo assim, em relação aos tipos de demanda existentes no contexto de definições, pode-se destacar que: ;

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A demanda efetiva, ou atual, é o número de pessoas que participa da atividade turística, ou seja, que efetivamente viaja. Esse grupo é o que se analisa mais facilmente e é o que se encontra registrado nas estatísticas mundiais. A demanda não efetiva é o setor da população que não viaja por algum motivo. Dentro desse grupo destacam-se: a demanda potencial, que se refere àqueles que viajarão quando experimentarem uma mudança nas circunstâncias pessoais (mais tempo livre, recursos disponíveis e outros); e a demanda adiada, que é aquela formada pelo contingente de pessoas que não pode viajar por algum problema próximo ou pela oferta (cancelamento de vôos, falta de alojamento, por exemplo). O terceiro grupo configura a não demanda [...] aquelas que simplesmente não desejam viajar. (COOPER et al., 1993, p. 15-16 apud PELISSON; PORTUGUEZ, 2013, p. 192).

Compreende-se que a demanda efetiva é um total de indivíduos que participam da atividade turística e usufruem de seus produtos, viajando efetivamente. Já a demanda não efetiva se baseia nos indivíduos que não realizam viagens por circunstâncias subjetivas e individuais, sendo, geralmente, a renda insuficiente e a ausência de tempo livre para a participação da atividade turística como principais motivos. Em consequência, a não demanda é caracterizada por indivíduos que não possuem o intuito e o desejo individual de viajar e se deslocar a fim de lazer. Por conseguinte, para que se tenha uma identificação de quais são os perfis específicos da demanda turística de um determinado local, é necessária que haja uma pesquisa de demanda no destino turístico, pois “[...] a caracterização da demanda consiste em um trabalho de pesquisa por meio da qual se torna possível conhecer as especificidades dos turistas reais (efetivos) e latentes (potenciais e futuros)” (BRAGA, 2007, p. 91). A autora ainda destaca que a pesquisa com indivíduos que se caracterizam como turistas efetivos pode se relacionar a suas determinadas opiniões subjetivas com base em suas percepções sobre a qualidade da oferta turística e suas sugestões de melhorias. Desse modo, a operacionalização da etapa de planejamento baseado na pesquisa de demanda pode se dar em alguns aspectos apresentados no Quadro 1: Quadro 1- Aspectos de pesquisa de demanda para o planejamento.

1. Conhecer a realidade da área de estudo, dominando as informações sobre a caracterização geral e o inventário da oferta; 2. Buscar dados para quantificar o universo da demanda real; 3. Compreender como a demanda real se distribui no decorrer do ano para detectar períodos e baixa e alta temporada; 4. Determinar se a pesquisa adotará critérios de segmentação ou não; 5. Definir as variáveis que deverão ser pesquisadas junto a esse público; 6. Estabelecer o tipo e o tamanho da amostra a ser pesquisada; 7. Determinar o calendário de aplicação da pesquisa; 8. Elaborar o instrumento de investigação (questionário) de forma a atender aos objetivos do planejamento; 9. Escolher as formas e os locais ideais para abordagem dos turistas e realização das pesquisas; Fonte: Braga, 2007.

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3. METODOLOGIA Os procedimentos metodológicos da pesquisa se caracterizaram, primeiramente, pelo levantamento bibliográfico e documental, destacando de forma explicativa e descritiva os principais temas abordados na pesquisa como o turismo, planejamento turístico e pesquisa de demanda turística. Sendo assim, os principais autores referentes à bibliografia são: Ansarah (2001); Barreto (2003); Barreto (2007); Barreto (2014); Bezerra (2003); Beni (2007); Braga (2007); Dias (2003); Fonseca (2005); Gil (2010); Guerrier, Robertson e Tyler (2001); Lakatos (2008); Martinez Roget e Miguel Domínguez (2000); Molina e Rodríguez (2001); Pelisson e Portuguez (2013); Rigol Madrazo (2009); Sampaio e Zamignan (2012). Com relação à pesquisa documental, obteve-se a utilização do Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico de Rosana-SP (2015) para usufruir de informações sobre o município e o Balneário e de artigos científicos que contribuíram para o suporte bibliográfico na construção ideológica descritiva e explicativa da pesquisa, pois é crucial ressaltar as características essenciais do objeto de estudo da pesquisa. Segundo Gil (2010), entre as pesquisas descritivas, salientam-se aquelas que têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, gênero, procedência, nível de escolaridade, profissão entre outras. A pesquisa possui caráter quantitativo, pois busca identificar os perfis e distinções existentes entre os turistas entrevistados in loco no destino. No caso deste estudo, obteve-se como método a pesquisa explicativa, que se fez útil para a construção do trabalho, uma vez que a mesma visa a “[...] identificar fatores que determinam ou contribuam para a ocorrência de fenômenos. Estas pesquisas são as que mais aprofundam o conhecimento da realidade” (GIL, 2010, p. 28). O método de pesquisa descritiva será utilizado para analisar o perfil dos turistas que visitam o Balneário municipal do Município de Rosana/SP. Entretanto, na segunda etapa, será aplicado um questionário a uma amostragem aleatória simples que frequenta o Balneário Municipal em dia em que não esteja ocorrendo eventos esporádicos. Esse questionário é um instrumento de coleta de dados e será constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas pelo entrevistado na presença do entrevistador. O pesquisador irá explicar o caráter e a natureza da pesquisa ao entrevistado, sua importância e a necessidade de obter respostas, visando a despertar o interesse do recebedor para que ele preencha e devolva o questionário (MARCONI; LAKATOS, 2008, p. 86). Dentre os indivíduos entrevistados no Balneário no Sábado pela tarde em um dia comum sem ocorrência de eventos, pode-se frisar que dos 30 indivíduos entrevistados ao todo por meio de uma Amostragem Aleatória Simples, apenas 42 % foram mulheres e 58% homens, tendo um total de 34 % oriundos de Rosana e de seu distrito, Primavera, e 65% indivíduos de outros municípios do estado de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia e Santa Catarina. Em consequência, o trabalho possui como público-alvo pesquisadores na área do turismo e planejamento que buscam compreender a relação entre ambos com a demanda turística, como também indivíduos que visam a identificar quais são as distinções e perfis existentes de turistas no Balneário Municipal de Rosana em dia em que não esteja ocorrendo eventos esporádicos, uma vez que a pesquisa também pode despertar interesse nos responsáveis pelo planejamento e confecção do Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico do município para sua devida atualização. Por fim, o questionário para realização da pesquisa de demanda obteve ênfase referencial nos modelos propostos pela Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo (2018), visando a ;

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readaptar seu modelo a fim de minimizar questões irrelevantes para um formulário curto e estratégico. Segue questionário reformulado na aba ‘apêndice’. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Primeiramente, com relação aos resultados obtidos nesta pesquisa, vale mencionar que se deram por meio da tabulação de gráficos, contribuindo para a análise dos dados tabulados da pesquisa de demanda aplicada para 30 turistas que visitaram o Balneário Municipal de Rosana em dia em que não houvesse eventos sazonais. Portanto, serão apresentadas posteriormente as figuras que representam a tabulação adequada dos dados que proporciona um entendimento dos tipos de demanda e suas peculiaridades existentes no local. Referente ao gráfico 1, notam-se as cidades a partir das quais se tem o deslocamento de pessoas para o município de Rosana, dentre elas Brasilândia (7%), Douradinhos (4%), Dourados (4%), Euclides da Cunha (4%), Forquilhinha (4%), Loanda (4%), Maringá (10%), Nova Esperança (3%), Paranavaí (3%), Porto Velho (3%), Presidente Prudente (14%), Primavera (17%) e Rosana (17%). Com isso, pode-se destacar Rosana com a maior concentração de moradores visitando o Balneário Municipal e Nova Esperança, Paranavaí e Porto Velho com o menor número de visitantes se deslocando. O gráfico 2 representa os estado que tiveram emissão de visitantes, como o estado do Mato Grosso do Sul (14%), Paraná (23%), Rondônia (3%), Santa Catarina (3%) e São Paulo (57%), assim o estado com maior emissão é próprio estado de São Paulo, já Santa Catarina e Rondônia apresentam a menor porcentagem de visitantes dessas localidades. Gráfico 1 – Cidades de origem

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Gráfico 2 – Estados de origem

No gráfico 3, percebe-se que 100% os entrevistados residem no Brasil, porém em diferentes estados, como abordado no gráfico anterior. Gráfico 3 – País de origem

De acordo com o gráfico 4, relacionado ao gênero, identificou-se que 58% dos visitantes são de gênero feminino e 42% masculino, ou seja, existe uma determinada predominância referente ao público feminino que visita a cidade de Rosana, especificamente o Balneário Municipal. Já o gráfico 5 exibe que 46% são casados, 0% separado, 47% solteiro e 7% viúvo. Dessa forma, nota-se que os visitantes geralmente são solteiros ou casados. Gráfico 4 – Gêneros

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Gráfico 5 – Estado civil

Referente ao gráfico 6, entende-se que 3% são de 10 a 15 anos, 14 % de 16 a 20 anos, 20 % de 21 a 30 anos, 23% de 31 a 40, 20% de 41 a 50 anos e 20% mais de 50 anos. Contudo, tem-se como resultado que a maior porcentagem desses visitantes são adultos na faixa de 31 a 40 anos e com percentual menor de adolescentes entre 10 a 15 anos. Gráfico 6 – Idades

No gráfico 7, é perceptível a diversidade no que tange à motivação da viagem, tendo como destaque, com 32%, “Desfrutar do Balneário” e, com 3%, “Mirante, Ilhas, Alugar Rancho, Aniversário de Parentes, Jogo de Futebol, Passeio de Barco e Beleza Natural”, isto é, o Balneário é um dos atrativos mais influentes do município.

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Gráfico 7 – Motivação da viagem

O gráfico 8 complementa as informações abordadas na figura anterior, com 62% Balneário Municipal e 6% Mirante, sendo que o Mirante é um espaço construído recentemente. Gráfico 8 – Atrativos de motivação

De acordo com o gráfico 9, o meio de transporte que se destacou foi o carro próprio, com 73%, e o Táxi, com 0%, isso demonstra que a maior porcentagem de visitantes se desloca por conta própria.

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Gráfico 9 – Transportes

No gráfico 10, percebe-se que 50% dos visitantes pretendem permanecer um final de semana no município, e 0% mais de uma semana. Isso mostra que o tempo de permanência característico do visitante no município é de 3 dias no máximo. Gráfico 10 – Tempo de permanência no município

De acordo com o gráfico 11, percebe-se que os turistas que visitam o Balneário assumem uma diversidade de escolhas no quesito de frequência, sendo que: 54% visitam raramente; 13% anualmente; 13% mensalmente; 10% mais de uma vez por mês; 7% primeira vez e apenas 3% semanalmente.

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Gráfico 11 – Costume de visita do turista

Gráfico 12– Meios de Hospedagem utilizado

Com relação ao consumo no município, 70% disseram sim e apenas 30%, não. Os locais de consumo tiveram embasamento em: 82% em bar/lanchonete/similares; 18% em restaurantes; 0% refeições no alojamento de estadia. Gráfico 13 – Consumo na cidade

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O gráfico 14 mostra um total de 100% dos turistas entrevistados que afirmaram que retornaria ao município. Gráfico 14 – Locais de alimentação utilizados

Gráfico 15 – Retorno dos turistas no local

No que tange às expectativas do turistas antes de chegar ao local, observou-se que: 22% afirmaram que esperavam encontrar um ambiente agradável e seguro; 18% um ambiente para descansar e aproveitar o dia; 9% um local que suprisse suas necessidades e que também fizesse o indivíduo se deparar com mais visitantes de distintos localidades; 5% um ambiente limpo; 4% um local bonito, 4% conforto, 4% boa expectativa, 4% encontrar o rio Paraná, 4% hospitalidade e 4% um ambiente que buscasse sempre mudanças para os turistas.

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Gráfico 16 – Expectativa com o local

Em relação aos gráficos 17 e 18, nota-se que 57% realizaram atividades complementares no local e apenas 43% afirmaram que não. Sendo assim, 35% usufruíram do passeio de barco, 17% visitaram as ilhas, 12% atividades esportivas e caminhada, 6% passeio de lancha, 6% natação, 6% mirante e 6% pesca. Gráfico 17 – Atividades complementares

Gráfico 18 – Atividades complementares subjetivas

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Em relação ao gráfico 19, 87% afirmaram que o local poderia ter sugestões para que futuramente fosse mais atraente à demanda potencial. Gráfico 19 – Sugestões de melhoria do turista

Conforme pode ser observado no gráfico 20, com base nas respostas subjetivas dadas por cada indivíduo entrevistado, pôde-se obter conhecimento de que: 19% mencionaram eventos mensais e culturais como proposta para atrair mais turistas; 12% feiras de comércio e artesanato; 8% melhoria das fachadas dos estabelecimentos; 8% torre de internet; 8% diversão noturna; 8% investimento; 4% construção de quiosques em áreas de acampamento; 4% indústrias e empregabilidade; 4% expandir o balneário; 4% posto de informações; 4% apresentação de shows; 4% campos de areia estruturados; 4% construção de mais bancos para descanso; 4% construção de mais locais para a prática de esportes; 4% cobertura para descanso; 4% arborização no balneário. Gráfico 20 – Sugestões subjetivas

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4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Com relação aos resultados obtidos por meio da pesquisa de demanda no Balneário Municipal de Rosana, pode-se compreender, por meio da tabulação de dados, que a maior quantidade de turistas entrevistados foi do gênero feminino e originaram de municípios do estado de São Paulo. Porém, o Balneário apresentou turistas que se deslocaram de estados distintos e com uma distância maior, como Rondônia e Santa Catarina. No entanto, percebe-se que as maiores porcentagens das principais motivações subjetivas que atraíram os turistas para a localidade foram o Balneário Municipal e a busca por um ambiente agradável e seguro que possa proporcionar lazer. Os principais atrativos de Rosana que obtiveram um certo grau de visitação pelos turistas foram: Balneário Municipal; Mirante; Ilhas. Entretanto, notou-se que a maior parte dos turistas se deslocaram por meio de carro próprio, além de a maioria indicar que permaneceu no município por apenas um final de semana e que costuma visitar o local raramente. No que tange ao consumo em estabelecimentos do município por parte dos indivíduos, observou-se que grande parte contribuiu no consumo em bares, lanchonetes, similares e restaurantes. Já com base nas expectativas adquiridas pelos turistas com relação ao local, a maioria esperava encontrar um ambiente agradável e seguro para seus lazeres subjetivos e que também suprisse suas respectivas necessidades. Em relação às questões do questionário, perguntou-se aos turistas quais foram outras atividades complementares que realizaram no local. Sendo assim, percebeu-se que a maioria utilizou os passeios de barco pelo Rio Paraná e também visitou as ilhas no entorno. Não obstante, os turistas afirmaram que a forma de conhecimento do local se deu por meio de parentes e amigos e internet, pois outras fontes não tiveram uma resposta preenchida. Por conseguinte, no que diz respeito às sugestões propostas pelos indivíduos para futuras melhorias no local, obteve-se como principais: eventos mensais e culturais; feiras de comércio e artesanato; diversão noturna; torre de internet. Cogitando o fato de que houve indivíduos oriundos dos estados de Rondônia e Santa Catarina no Balneário em época sem realização de eventos especiais, seria viável e interessante ao município fazer uma análise comparativa com uma pesquisa de demanda em época de ocorrências de eventos a fim de investigar quais são as principais diferenças ou semelhanças que podem ser traçadas, além de descobrir quais são os indivíduos de estados e cidades distintas que se deslocam para o local. Com a ocorrência de eventos, pode ser que o local receba visitantes de outros estados que não seja São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, que foram estados com maior grau de origens dos indivíduos. CONCLUSÃO Primeiramente, com base na compreensão sobre as definições de turismo, planejamento turístico e demanda turística, pôde-se concluir que compreender quais são as relações existentes entre cada turista oriundo de uma determinada amostragem faz-se crucial para o planejamento do turismo em um determinada localidade, uma vez que investigando os principais aspectos e sugestões por parte dos turistas, pode-se posteriormente identificar quais são as estratégias e ações em que se devem investir para o aprimoramento do local. O planejamento do turismo se dá por meio do estabelecimento de metas, objetivos e ações que integram o turismo como principal atividade que deve ser desenvolvida de forma adequada e ;

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estratégica. Portanto, a demanda turística são os indivíduos que compõem o fluxo de visitação de um determinado atrativo, ocorrendo, assim, um crescimento econômico por meio da utilização e do consumo de bens e serviços por parte deles. A partir da aplicação dos questionários de Pesquisa de Demanda foi possível identificar o perfil do turista que visita o município de Rosana, partindo de determinadas análises como o local que reside e estado, que representam o raio de abrangência, que pode ser classificado como regional, sendo que os estados identificados fazem fronteira com Rosana, como o Mato Grosso do Sul e Paraná. Já nas questões voltadas à idade, gênero e estado civil, ambos se caracterizam pelo público de adultos, feminino e solteiros. Com relação à motivação da viagem e atrativos, destaca-se o Balneário Municipal. Isso comprova e reafirma o potencial e atenção que se deve ter com ele. O transporte principal se dá pelo carro próprio, e o tempo de permanência é caracterizado por um final de semana, além de constatar que raramente os visitantes voltam ao município. O consumo na cidade está voltado aos bares/lanchonetes/similares, representando que esses estabelecimentos de alimentos e bebidas influenciam no próprio deslocamento do visitante dentro do município, resultando na concentração no período de visitação no atrativo, demonstrando que o atendimento deve ser ofertado da melhor forma. Outro item volta-se às expectativas dos turistas e essas estão estritamente relacionadas às questões sensoriais, segurança, quantidade de visitantes, limpeza entre outros, sendo que esses dados implicam a função do município de alcançar essas expectativas advindas dos turistas. No que diz respeito às atividades realizadas, constatou-se que o passeio de barco é uma das principais atividades procuradas. Com isso, surge a necessidade de mais informações sobre eles, isto é, preços, destino, locais de saída entre outros. Os meios de comunicação são marcados pela divulgação realizada por moradores, implicando, assim, o marketing desenvolvido pelo município. O trabalho objetivou realizar a pesquisa de demanda em épocas sem eventos especiais a fim de demonstrar quais são os principais estados originários do deslocamento desses 30 turistas entrevistados, podendo, futuramente, ser realizada uma comparação com a pesquisa de demanda em época de ocorrência de eventos especiais, demonstrando as diferenças e semelhanças e quais pontos principais podem ser levados em consideração para o planejamento turístico do local. REFERÊNCIAS ANSARAH, M. G. dos R. (org.). Turismo: como aprender, como ensinar. 2.ed. São Paulo: Senac, 2001. BARRETO, M. Cultura e turismo: discussões contemporâneas. Campinas, SP: Papirus, 2007. BARRETO, M. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 20. ed. Campinas: Papirus, 2014. BARRETO, M. O imprescindível aporte das ciências sociais para o planejamento e a compreensão do turismo. Caxias do Sul, RS:[s/n], v. 9, n. 20, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832003000200002&script=sci_arttext. Acesso em: 30 maio 2019. BEZERRA, D. M. F. (Org). Planejamento e gestão em turismo. São Paulo: Roca, 2003. ;

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BENI, M.C. Análise estrutural do turismo. 12. ed. São Paulo: Senac, 2007. BRAGA, D. C. Planejamento turístico: teoria e prática. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. DIAS, R. Planejamento do Turismo: política e desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003. FONSECA, M. A. P. Espaço, Políticas de Turismo e Competitividade. Natal: EDUFRN, 2005. GIL, A. C. Como elaborar projeto de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. GUERRIER, Y.; ROBERTSON, M.; TYLER, D. (Orgs.). Gestão de turismo municipal. 2. ed. São Paulo: Futura, 2001. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2008. MARTÍNEZ ROGET, F.; MIGUEL DOMÍNGUEZ, J. C. La demanda turística en Galicia. El problema de la concentración. Revista Galega de Economía, v. 9. n. 2. pp. 01-18,2000. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/391/39190205.pdf. Acesso em: 16 set. 2019. MOLINA, S.; RODRÍGUEZ, S. Planejamento Integral do Turismo: Um enfoque para a América latina. Bauru: EDUSC, 2001. PELISSON, G. V.; PORTUGUEZ, A. P. Análise do perfil da demanda turística e suas incidências espaciais em Cachoeira Dourada (MG). Caminhos de Geografia, Uberlândia, v.14. n.47, pp.183-192, 2013. ROSANA. Prefeitura Municipal. Plano diretor de desenvolvimento turístico do município de Rosana – SP. 2015. Disponível em: http://www.rosana.sp.gov.br/plano-diretor-de-turismo/planodiretor-desenvolvimento-turistico-municipio-rosana.pdf. Acesso em: 3 set. 2018. RIGOL MADRAZO, L. M et al. Conceptualización de la demanda turística. Ciência Holguin, Cuba, v. 15. n. 1. pp. 01-08, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/1815/181517987002.pdf. Acesso em: 5 set. 2019. SAMPAIO, C. A. C.; ZAMIGNAN, G. Estudo da demanda turística: experiência de turismo comunitário da microbacia do Rio Sagrado, Morretes (PR). n.1. p.25-39. 2012. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5314885. Acesso em: 18 abr. 2019. SÃO PAULO. Secretaria de Turismo. Modelo para pesquisa de demanda. 2018. Disponível em: https://www.turismo.sp.gov.br/publico/noticia_tour.php?cod_menu =109. Acesso em: 19 set. 2019. ;

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APÊNDICE I - FORMULÁRIO GERAL DE DEMANDA TURÍSTICA 1. Em que local o Sr(a). reside? Cidade: Estado: País: 2. Qual seu gênero? 3. Estado Civil: ( ) Casado ( ) Separado 4. Qual sua idade?

( ) Solteiro ( ) Viúvo

( ) 10 a 15 ( ) 16 a 20 ( ) 31 a 40 ( ) 41 a 50 5. Qual o meio de transporte utilizado na viagem?

( ) 21 a 30 ( ) Mais de 50 anos

( ) Carro próprio ( ) Carro locado ( ) Ônibus fretado ( ) Ônibus de linha regular ( ) Táxi ( ) Outros 6. Qual o principal motivo da viagem? 7. Que atrativo o trouxe ao município? ( ) Balneário Municipal ( ) Ilhas ( ) Mirante ( ) Outros 8. Quanto tempo pretende permanecer na cidade? ( ) Meio dia ( ) Final de semana ( ) Mais de uma semana ( ) 1 Mês ( ) Um dia ( ) Uma semana 9. Costuma visitar este local? ( ) Raramente ( ) Semanalmente ( ) Mensalmente ( ) 1° Vez ( ) Anualmente ( ) Mais de 1 vez por mês 10. Qual o meio de hospedagem utilizado quando permanece neste município? ( ) Hotel ( ) Pensão ( ) Casa de parentes e amigos ( ) Acampamento ( ) Outros 11. Você consumiu ou consumirá na cidade? ( ) Sim ( ) Não 12. Se sim, onde? ( ) Restaurantes ( ) Bar/Lanchonete/Similares ( ) Refeições no próprio local (alojamento) 13. Antes de chegar, qual era sua expectativa com o local? 14. Você voltaria à cidade em outro oportunidade? ( ) Sim ( ) Não 15. Fez alguma atividade nos atrativos visitados? Quais? 16. Há algo em particular que poderia tornar a cidade mais atraente? ( ) Sim ( ) Não Se sim, o que? 17. Quais são os meios de comunicação que o Sr(a) obteve conhecimento do local? ( ) Jornal ( ) Rádio ( ) TV ( ) Internet ( ) Agência de viagem ( ) Outros

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O PARQUE DO POVO COMO ESPAÇO PÚBLICO INDUTOR DE INFRAESTRUTURA PARA O TURISMO¹ SANTOS, VICTOR HERNANDES ALVES DOS2 POSO, PABLO HENRIQUE ³ RIBEIRO, RENATA MARIA RIBEIRO⁴

victor_hernandes.alves@hotmail.com, pabloposo12@gmail.com, renata.ribeiro@unesp.br 1

Trabalho em desenvolvimento, vinculado ao projeto de iniciação científica com bolsa FAPESP Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ³ Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. ⁴ Doutora em Geografia (UFPR), Docente do curso de Turismo (UNESP) 2

RESUMO – O Turismo é uma atividade benéfica e que, para o seu desenvolvimento, as localidades devem contar com infraestruturas que são de suporte para o turismo, para que seja capaz de contribuir para o desenvolvimento econômico, social e cultural dessas localidades. O presente artigo aborda o caso de Presidente Prudente, o Espaço Público Parque do Povo, que se destaca por possuir várias atividades de lazer e cultura e concentrar nas ruas adjacentes ao Parque, que é linear, restaurantes, hotéis, entre outras infraestruturas que potencializam o uso da área por parte da população e também para turistas. O espaço apresenta grande importância para a localidade, por isso considerações acerca do tema podem ser aferidas para compreender se a área pode apresentar potencial turístico. Para isso, foram realizados estudos bibliográficos no que tange ao turismo, ao planejamento, aos espaços públicos e, em especial, relativo ao Parque do Povo, além das infraestruturas de serviços que se encontram no Parque. Para o levantamento dessas infraestruturas de serviços, será utilizado o Material do Inventário Turístico da Oferta Turística, segundo classificação dos Equipamentos e Infraestruturas específicas de Turismo. Como resultados, observou-se, quantitativamente, a presença de equipamentos e serviços que podem ser utilizados para o Turismo e para que a atividade se desenvolva na área. Palavras-chave: Turismo, Planejamento, Espaços Públicos, Parque do Povo. ABSTRACT - Tourism is a beneficial activity and for its development the localities must rely on infrastructures that are support for the tourism, so that it is able to contribute to the economic, social, and cultural aspects of these localities. This article discusses the case of Presidente Prudente, the public space Parque do Povo, which stands out for having a lot of leisure and culture activities, and concentrating on the streets adjacent to the park, which is linear, restaurants, hotels, among other infrastructures that potentialize the use of the area by the population and also by tourists. The space is of great importance for the locality, therefore, considerations about the theme can be done to understand if the area can present tourist potential. For this, bibliographical studies were carried out regarding tourism, planning, public spaces and in particular the Parque do Povo, in addition to the service infrastructures located in the park. To survey these service infrastructures will be used the Material do Inventário Turístico da Oferta Turística, according to the classification of equipment and infrastructures specific to tourism. As a result, it was observed, quantitatively, the presence of equipment and services that can be used for tourism, and for the activity to develop in the area. Key words: Tourism, Planning, Public Spaces, Parque do Povo.

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1. INTRODUÇÃO O Turismo, em uma conjuntura atual, é uma das principais atividades mundiais, sendo uma parte de caráter fundamental em quaisquer processos que envolvam desenvolvimento, passando a ser incorporado cada vez mais no contexto global (DIAS, 2003, p. 13). Desse modo, o turismo deve ser considerado como um segmento dinâmico e complexo, englobando diversos elementos no contexto social, cultural, ambiental e econômico de uma localidade ou região a partir de ações ao seu desenvolvimento. Pode-se considerar que as consequências do turismo em determinado local são passíveis de serem identificadas, as positivas são: geração de emprego, valorização da cultura local e melhoramento em relação à infraestrutura da região em que a prática é desenvolvida (BENI, 2006, p. 52). Além disso, faz-se necessário, também, tratar das consequências negativas do Turismo em um local. Segundo Cunha e Cunha (2005, p. 64), o desenvolvimento do turismo pode ser responsável por trazer muitos impactos negativos na sustentabilidade ambiental, social e econômica de determinada comunidade, tendo, como exemplos, a poluição sonora, da água e visual, invasão de áreas protegidas, especulação imobiliária, crescimento da violência, entre outros. Assim, é possível identificar o turismo como uma atividade de caráter positivo, pois trata de levar até um local fatores considerados como benéficos para que haja o processo de desenvolvimento de uma sociedade, porém há controvérsias no que diz respeito à ocorrência de efeitos negativos que também acontecem concomitantemente como o desenvolver da atividade turística. Ao estudar o Turismo, faz-se necessária a compreensão sobre o planejamento, que, entendido em sua totalidade, é o processo de preparação de um emaranhado de decisões que são preestabelecidas e irão atuar em ações de caráter futuro, ou seja, a condução de ações presentes que irão conduzir a resultados futuros (COOPER; HALL; TRIGO, 2011, p.84). A partir disso, é possível afirmar que o planejamento, no que se refere ao Turismo, pode ser utilizado para que a atividade se dê de uma maneira benéfica em todos os seus âmbitos, favorecendo o local onde é desenvolvido, a sociedade em que está inserida e também os turistas. Pode-se afirmar, desse modo, que o principal objetivo do planejamento é a coleta e o necessário tratamento de informações por meio da análise, inventariação, processos de diagnóstico e prognóstico, o que poderá ser tratado como elemento facilitador da realização de objetivos préestabelecidos. Assim, uma vez que objetivos e metas são estabelecidos, o planejamento visa a propor ações para que sejam alcançados. Levando-se em conta que o espaço urbano concentra acessos, bens culturais e naturais, temse na organização e no planejamento, sob a ótica do turismo, uma observação das potencialidades de acrescer aos espaços já existentes atratividade não só para os munícipes, mas também para os turistas. As cidades são consideradas como espaços privilegiados, porque possuem uma concentração relativa em relação a atrações, serviços e também produções de nível cultural (CASTROGIOVANNI, 2001, p. 7). Além disso, segundo Ribeiro e Silveira (2006, p. 310 apud BARDET, 1999, p. 10), a cidade não é um agrupamento de ruas e casas, essas apenas são carapaças, as conchas, de uma sociedade de pessoas. Uma cidade é uma obra de arte para a qual cooperam gerações de habitantes, acomodando-se mais, ou menos, àquilo que existia antes delas. Justamente porque está em perpétua transformação, sob o efeito da sucessão infinitamente cambiante ;

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dos seres que a habitam, a fazem e a refazem, a cidade não se sujeita de maneira alguma a seu plano, a um esquema gráfico, nem mesmo ao conjunto dos vazios e cheios arquiteturais que a definem. Esse plano, esses vazios e cheios, não passam de manifestações exteriores da existência de um ser coletivo no qual a vida é estremecida pela substituição das gerações umas pelas outras. O que importa antes de tudo é o conhecimento desse ser coletivo.

Desse modo, é graças às cidades e aos espaços públicos urbanos que a atividade turística pode melhor se desenvolver, pois é nas cidades que condições fundamentais em relação à apropriação do espaço como uso turístico são fornecidas, desenvolvendo-se estruturas e serviços, possibilitando a prática da visitação e do lazer. Percebe-se o caráter fundamental que os espaços urbanos assumem, principalmente os públicos, para a atividade turística, levando-se em consideração que esses espaços podem ser praças de alimentação, centros integradores de transportes, parques, entre outros papéis que os espaços podem assumir, estando relacionados ao Turismo e à realização da prática da atividade turística. As áreas urbanas, certamente, não são os únicos espaços utilizados para que a atividade turística ocorra, porém é possível afirmar, de maneira segura, que é um dos meios mais importantes onde o turismo pode se desenvolver, pois é nelas que haverá o conhecimento sobre culturas e sociedades e o consequente contato entre as mesmas (YAZIGI, 2003, p. 71). Essa afirmação nos permite constatar que as áreas urbanas apresentam caráter essencial no processo da prática do turismo, uma vez que nelas haverá infraestrutura que atenda às necessidades da atividade turística, atrativos, serviços e o contato entre pessoas. Além disso, a maior parte da população mundial está concentrada em meios urbanos, e o que se inicia com a intenção de habitação passa a criar características que serão capazes de atrair determinados visitantes, características essas que, ao serem representadas, podem passar a serem reconhecidas por grupos, fazendo com que o turismo possa se desenvolver nesses espaços (BOULLÓN, 1990). Os espaços públicos de lazer estão majoritariamente ligados aos locais de visitação de caráter público, portanto é importante que esses espaços estejam sempre em condições favoráveis à visitação, seja por parte dos munícipes ou dos próprios turistas. Cruz e Carvalho (2005, Intro) afirmam que o planejamento dos espaços livres de lazer deve ser sempre feito atendendo as áreas e os equipamentos considerados como necessários para a recreação e estarem sempre adaptados ao interesse de quem frequenta esses espaços. A qualidade urbana e dos espaços urbanos, em si, está refletida na qualidade e na quantidade dos espaços públicos para a prática de lazer, e a inserção desses espaços no contexto urbano é considerado como um desafio para os planejadores, porque o crescimento urbano que ocorre concomitantemente com as políticas, muitas vezes, não é capaz de contemplar o coletivo. Esse fator faz com que sejam criados reflexos para a manutenção desses espaços, o que exige novas formas de utilização, de uma maneira que não atinja negativamente nenhum elemento da sociedade, tampouco os visitantes desses espaços (OLIVEIRA; MASCARO apud PASCOALIQUE, 2007, p. 59). Mediante o escopo teórico, o presente trabalho tem como objetivo observar, a partir do recorte histórico do Parque do Povo em Presidente Prudente – SP, as características do entorno e também as infraestruturas de serviços que estão diretamente relacionadas com a infraestrutura ;

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considerada como turística, segundo a metodologia do Projeto Inventário da Oferta Turística do Ministério do Turismo, no ano de 2006. A justificativa se baseia no fato de o trabalho ser parte integrante de um projeto de Iniciação Científica, que visa ao estudo do possível potencial turístico existente na área, e, a partir do recorte desse espaço e da análise da infraestrutura presente, espera-se alcançar, posteriormente, a articulação do Parque do Povo com o turismo. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Turismo e Planejamento Partindo-se de uma conceituação básica e a mais aceita apresentada pela OMT (1992, p. 19), o Turismo pode ser definido como o resultado da soma entre relações e serviços que são resultantes de uma mudança de residência temporária e também voluntária, que é motivado por razões que não estão relacionadas a negócios ou profissionais. Entrando, em uma contrapartida em relação à afirmação estabelecida pela OMT, De la Torre (1992, p. 19 apud BARRETO, 2014, p. 13) conceitua o Turismo como sendo: [...] um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupo de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exerce nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural.

A partir dessas afirmações, pode-se considerar o Turismo como sendo uma atividade que envolve o deslocamento voluntário do praticante, no caso o turista, em uma busca que envolve diversificados motivos, como, por exemplo, o lazer. Como anteriormente apresentado, o Turismo é um importante setor que está envolvido com economia, cultura, sociedade, entre outros elementos, apresentando forte influência, sendo um agente fornecedor de resultados tanto positivos quanto negativos, dependendo de seu nível de atuação e de planejamento. Porém, o turismo não é importante somente devido a esses fatores. Segundo Hall (2001, p. 17), o Turismo também é importante porque exerce um enorme impacto na vida das pessoas, nos locais e espaços onde elas vivem. Isso permite reforçar a ideia de Turismo como um forte influenciador em diversificados âmbitos, atuando de maneira ativa nos setores em que se faz presente. É perceptível a grande influência do turismo em uma localidade, na sociedade e seus espaços e nas políticas públicas do turismo, que são consideradas como fundamentais para o fortalecimento do setor. Segundo Schindler (2014), é preciso que haja uma ação do poder público envolvendo o planejamento e também uma gestão nas políticas públicas, para que o fenômeno não traga consequências negativas em um local ou determinado espaço. As políticas públicas devem afetar, portanto, todos os setores que a atividade engloba, consequentemente, de maneira positiva, fazendo com que benefícios sejam gerados em todo o processo da atividade.

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Ao pensar no planejamento, políticas e planos para o Turismo, de fato, se está pensando na minimização de impactos considerados como negativos que podem ser encontrados nos setores econômico, social, cultural, entre outros de caráter relevante. Henz, Leite e Anjos (2010, p. 06 e 07) colocam que: Pensar em planejamento regional do turismo significa entender o território como espaço e lugar de interação entre o homem e a natureza e utilizá-lo como ferramenta para aglomerar destinos em uma única região geográfica com características similares, formando agrupamentos; zonas; pólos; circuitos ou roteiros turísticos.

Desse modo, as ações que envolvem o planejamento na cidade, além de fornecer fatores que beneficiam a população local, também contribuem para que a atividade turística potencialize novas alternativas para a economia local. Faz-se crucial, assim, entender o papel do Turismo em determinado espaço, em especial nas áreas que envolvem os espaços públicos de lazer, uma vez que são de suma importância para a realização da atividade em si, sendo, muitas vezes, motivadores para que um visitante execute uma atividade de cunho turístico. Além disso, de acordo com Coriolano (2006, p. 368), “o turismo é uma das mais novas modalidades do processo de acumulação, que vem produzindo novas configurações geográficas e materializando o espaço [...] pelas ações do Estado, das empresas, dos residentes e dos turistas.” 2.2 Espaços Públicos e Turismo Pautando-se do fato da importância dos espaços para que o processo da atividade turística ocorra, faz-se fundamental uma melhor compreensão sobre as definições abordadas sobre os espaços e toda sua abrangência, pois a teoria é um sistema construído, que por meio das categorias de pensamento serão reproduzidas estruturas que podem assegurar a conformidade dos fatos. O espaço passa a ser analisado a partir da definição de “produção de espaço”, abordada pelo filósofo Henri Lefèbvre, na década de 60, sendo tratado como a reprodução acerca da vida, ou seja, o ato de viver é responsável pela produção do espaço (CRUZ, 2008, p. 6). Com esse primeiro pensamento sobre o espaço e a sua produção, pode-se afirmar que o processo de produção do que é conhecido como espaço é resultante da própria vida cotidiana, sendo esse fator a principal causa de mudanças que ocorrem nos espaços. A partir de uma definição amplamente aceita de Santos (1998, p. 9) sobre o que pode ser considerado como espaço, passa-se a atribuir uma melhor noção ao tema em questão. Sendo assim, o espaço deve ser considerado como: [...] um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, seja a sociedade em movimento. O conteúdo (da sociedade) não é independente, da forma (os objetos geográficos), e cada forma encerra uma fração do conteúdo. O espaço, por conseguinte, é isto: um conjunto de formas contendo cada qual frações da sociedade em movimento. As formas, pois, têm um papel na realização social.

Tendo como base o que foi exposto por Santos, pode-se afirmar que o espaço não deve ser definido meramente como um conjunto de coisas, senão um conjunto de relações em conformidade com a realidade, ou seja, o espaço é composto por, além de coisas, relações unidas. ;

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Santos (2002, p. 22), reafirmando a conceituação de espaço, propõe que ele seja tratado como “um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações podendo reconhecer suas características analíticas internas.” Dentro dessa teorização sobre o espaço, enquadram-se a paisagem, configuração territorial, divisão de trabalho em um nível territorial, espaço que é produzido ou até mesmo produtivo. Todos esses aspectos relacionados ao espaço podem, de maneira dinâmica, estar associados ao Turismo, uma vez que a prática da atividade turística engloba fatores interligados ao espaço. Segundo Souza (2013, p. 16), para que seja obtida uma noção do espaço, é preciso que haja, além da compreensão, uma elucidação sobre o espaço, tendo em vista que não basta somente compreendê-lo, sendo impossível tratar do espaço sem inter-relacioná-lo com a sociedade, economia e cultura, pois é necessário haver um aprofundamento nas relações sociais que são estabelecidas no espaço. O espaço, portanto, deve ser considerado como uma instância social, econômica e culturalideológica, o que significa que todas essas instâncias estão correlacionadas, estando uma contida na outra. Para isso, Santos (2012, p.12) afirma que “[...] a economia está no espaço, assim como o espaço está na economia [...]. Isso quer dizer que a essência do espaço é social.” O que pode ser aferido, a partir dessa afirmação, é que o espaço não é constituído somente por coisas, objetos naturais e artificiais, mas também pela sociedade. Ou seja, o espaço é um englobado de tudo isso. Além disso, os espaços públicos podem ser caracterizados em: públicos, semipúblicos, semiprivados e privados. Para Hertzberger (apud BENEDET, 2008), o espaço público é uma área considerada como acessível, em qualquer momento e situação, já a área privada pode ser considerada como uma área com acesso que é determinado por um pequeno grupo de pessoas ou por um único indivíduo. Ainda, segundo Magnoli (apud BENEDET, 2008), os espaços públicos são os mais acessíveis para todos os cidadãos, sendo possível, assim, a realização do Turismo. Do que foi exposto, noções sobre o espaço podem ser aferidas, principalmente em relação ao seu caráter e como esses fatores podem ser elementos fortemente influenciadores no Turismo como um todo, partindo-se do pressuposto de que, de acordo com seu nível, sendo público ou privado, irá influenciar na prática da atividade turística e também no interesse do visitante em se aproveitar de maneira turística do espaço. Além disso, ao estar relacionado com o Turismo, para Silva (2008, p. 38), o espaço urbano deve: [...] corresponder à expectativa de um consumo da natureza pelo trabalhador. Assim, o espaço de trabalho e de moradia seria um espaço primordialmente de produção de lazer há uma ênfase no consumo, sejam bem bens produzidos pelo trabalho, seja o próprio espaço construído e herdado, seja a natureza. No lugar turístico, as edificações, as ruas, as praças, os jardins, o sol, a montanha, o mar, o clima, quase tudo, enfim, pode ser do interesse do turista e objeto de consumo.

Faz-se necessário, portanto, entender que os espaços interligados com a prática turística devem estar de acordo com as necessidades de quem irá se utilizar deles, tendo em vista o bom proveito do espaço para que o Turismo seja desenvolvido de modo a trazer fatores pragmáticos para o local em que é processado. Ao analisar os espaços públicos, questões que envolvem o lazer devem ser tomadas em conta, uma vez que umas das principais utilidades dos espaços públicos envolve a utilização desses ;

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espaços de nível público para a prática da atividade de lazer, que, dentro de diversificadas vezes, pode ser realizada concomitantemente com a prática do Turismo. Isso quer dizer que o Turismo que acontece em espaços públicos pode ser motivado para a realização da prática do lazer, sendo esse um elemento importante para a atividade turística como um todo. Além disso, é necessário entender a democratização do lazer, o que acarreta numa democratização do espaço como um todo. Isso quer dizer que todos têm direito à utilização do espaço de nível público. Quem afirma isso é Marcellino (2002, p. 25), ao dizer que, entre outras considerações, democratizar o lazer implica o processo de democratizar o espaço. Quando relacionado à vida diária, o fato é que: o espaço para o lazer é o espaço urbano. Ao tratar da importância dos espaços públicos de lazer, Oliveira e Mascaró (2007, p. 60) afirmam que: Os espaços públicos abertos de lazer trazem inúmeros benefícios para a melhoria da habitabilidade do ambiente urbano, entre eles a possibilidade do acontecimento de práticas sociais, momentos de lazer, encontros ao ar livre e manifestações de vida urbana e comunitária, que favorecem o desenvolvimento humano e o relacionamento entre as pessoas.

Assim sendo, os espaços públicos que são considerados como abertos e que também estão relacionados à prática do lazer são de suma importância e são capazes de disponibilizar vários benefícios no que tange ao ambiente urbano como um todo, pois é nesse ambiente que relações sociais são desenvolvidas, o que apresenta um papel de alavancagem no que diz respeito à vida social. 2.3 Espaço Público Parque do Povo O Parque do Povo, atualmente, pode ser considerado como o espaço público de lazer mais importante da municipalidade de Presidente Prudente – SP, e pode-se observar, a partir do seu processo de produção, a relação que existe entre o poder municipal e o espaço público, o que faz criar um novo significado sobre a área para a cidade. Esse espaço surgiu da necessidade de “urbanização” de um Vale com recursos públicos provenientes, em um primeiro momento, do Fundo de Desenvolvimento Urbano (FDU), que foi repassado pelo Banco do Brasil e pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). Já em 1977, os recursos começaram a ser provenientes do Programa de Complementação Urbana - CURA, tendo as obras início em 31 de outubro de 1976 (SILVA, 1994). O Parque do Povo foi um dos principais projetos do CURA I, que tinha como objetivo principal, segundo Silva (1994, p. 51), prever a racionalização da ocupação que ocorre e também o uso do solo urbano, a implantação de infraestruturas e as diferenças que acontecem devido às práticas especulativas, objetivando suprir os vazios urbanos. Assim, o espaço público em questão nasceu do processo de canalização e também de urbanização do trecho inicial do Córrego do Veado, a prefeitura municipal apresentou à população,

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no mesmo ano de início das obras, o lançamento do projeto que justificava, assim, a necessidade do processo de reurbanização do vale. O espaço foi inaugurado em 18 de junho de 1982, sendo, posteriormente a isso, abandonado, sem interesse de manutenção por parte do poder público: Em 1983, o parque do povo foi abandonado pela administração Municipal em virtude de constituir-se em uma obra onerosa para a municipalidade e de não ter equacionado adequadamente o problema das inundações nessa área, além disso, ocorreria a queda das placas de proteção das margens do córrego e segundo a secretaria de planejamento da prefeitura os projetos cura endividaram a prefeitura até o ano de 2019 (VAZ, 1999, p. 1819).

O Parque passa a ser consolidado como cartão postal do município em 2001, posteriormente à falta de assistência e interferência por parte do poder público na área. Posteriormente a isso, em 2003, ocorreu uma reforma no espaço público parque do povo, caracterizada por um processo de revitalização e também implantação de novos equipamentos, ligados a lazer e também infraestrutura, como pistas de caminhada, bancos, instalação de playgrounds, banheiros públicos, substituição da tubulação da canalização e incremento e quiosques comerciais, referentes ao setor de Alimentos e Bebidas. Assim, o processo de reforma do espaço ficou caracterizado por ocorrer entre os anos de 2002-2004 (BORTOLO, 2013). Dez anos depois, no ano de 2014, uma série de reformas foram propostas caracterizandose pela substituição do calçamento, questões de acessibilidade, melhorias na iluminação (HERMOSO, 2018). As reformas ocorridas no Parque do Povo demonstram a tematização que acontece nos espaços públicos a partir da lógica de espaços privados. Figura 1 - Localização do Parque do Povo em Presidente Prudente – SP

Fonte: Bortolo, 2013.

A partir da figura 1, pode-se observar a localização geográfica do parque no povo dentro no município de Presidente Prudente, que consiste em uma área considerada como de lazer de ;

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aproximadamente 3 km, que apresenta infraestrutura para prática de esportes. O espaço é caracterizado por ser bastante arborizado e também conta com muitas avenidas importantes, como as Avenidas 14 de Setembro e 11 de maio, que margeiam o córrego das Avenidas Manoel Goulart, José Soares Marcondes e Brasil. 2.3.3 Um estudo do entorno da infraestrutura turística do Parque do Povo Tendo em mente que a atividade turística necessita de infraestrutura para acontecer, que podem ser consideradas como instalações e serviços, que podem assumir caráter público ou privado, e que é responsável por manter a boa estada de residentes e também visitantes, o MTUR (2006) definiu que essas infraestruturas compreendem serviços e equipamentos de hospedagem, gastronomia, agenciamento, transporte, eventos, lazer e entretenimento e que, para serem considerados como equipamentos e serviços que podem atender o turismo, devem se enquadrar dentro da categorização apresentada pelo Ministério. A partir desse pressuposto, a seguir, serão abordadas questões que permeiam essa consideração por parte do MTUR aos equipamentos e serviços para a atividade turística. Quadro 1 - Serviços e Equipamentos de Hospedagem Tipos Meios de hospedagem com necessidade de cadastro

Subtipos Hotel; Hotel Histórico, Hotel de Lazer/Resort; Pousada; Hotel de Selva/Lodge; Apart-hotel/Flat/Condohotel

Meios de hospedagem sem necessidade de cadastro

Hospedaria; Pensão; Motel

Meios de hospedagem extra-hoteleiros Camping; Colônia de Férias; Albergues Fonte: Adap. Brasil, 2006 Quadro 2 – Serviços e Equipamentos para Gastronomia Tipos

Subtipos Alimentação Restaurantes

Alimentos e bebidas

Bares/Cafés/Lanchonetes Quiosque/Barracas Sorveterias Casas de sucos Fonte: Adap. Brasil, 2006.

Quadro 3 – Serviços e Equipamentos de Agenciamento Tipos

Subtipos Agência de viagem Operadora de turismo

Agências de turismo

Agência de receptivo Agência consolidadora FONTE: Adap. Brasil, 2006.

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Quadro 4 – Serviços e Equipamentos de Transporte Tipos

Subtipos Transportadora Turística

Transporte turístico

Locadora de veículos Fonte: Adap. Brasil, 2006.

Quadro 5 – Serviços e Equipamentos para Eventos Tipos Espaços para eventos

Serviços para eventos

Subtipos Centro de convenções ou feiras Parque/Pavilhão Auditório/Salão para reunião Organizadora Promotora Outros serviços Fonte: Adap. Brasil, 2006.

Quadro 6 – Serviços e Equipamentos de lazer e entretenimento Tipos Lazer e entretenimento

Subtipos Parque de diversão Parques/Jardins/Praças Estádio/Ginásio/Quadras Boates/Discotecas Fonte: Adap. Brasil, 2006.

A partir dessa caracterização apresentada pelo MTUR, aferições podem ser realizadas para verificar se os equipamentos e serviços podem ser utilizados para a prática turística, quando enquadrados dentro das informações. 3. METODOLOGIA O estudo em desenvolvimento pauta-se na pesquisa bibliográfica, que se resume “na “varredura” do que existe sobre um assunto e o conhecimento dos autores que tratam desse assunto” (DE MACEDO, 2006, p. 13). Desse modo, a pesquisa pode ser utilizada de uma forma que sejam obtidos fundamentos teóricos que são tratados como essenciais para o aprofundamento de conhecimentos no que diz respeito a tópicos relevantes, para que a pesquisa se processasse, como noções sobre o espaço, para a aquisição de conhecimentos que possam ser correlacionados com o objeto de estudo, no caso o espaço público de lazer, o Parque do Povo. Também como parte dos procedimentos metodológicos, foi realizado um estudo no que tange ao Projeto Inventário da Oferta Turística do Ministério do Turismo, no ano de 2006, para que questões acerca da infraestrutura turística fossem aferidas. Posteriormente, a área do Parque do Povo foi dividida em duas extensões, a Extensão A e a Extensão B, observando-se por meio da ferramenta Google Earth, para que fossem inventariados os estabelecimentos e serviços que podem

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ser utilizados para o turismo. Para reconhecimento dos estabelecimentos, foi utilizada a ferramenta Google Maps, que indica a presença de estabelecimentos e sua categorização. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS A partir do que foi observado, propôs-se o reconhecimento geográfico da área, realizado posteriormente no presente estudo, para a separação do espaço em duas Extensões, para que fosse garantida uma melhor inventariação da área. Para isso, o Parque, que apresenta aproximadamente 3 km, foi dividido em Extensão A e Extensão B. A Extensão A corresponde desde o seu início na Avenida Manoel Goulart até a Avenida da Saudade, o que corresponde a aproximadamente 1,4 km. Como pode ser observado na figura 2. Figura 2 – Esquema de localização da Extensão A

Fonte: Google Maps, 2019.

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Os serviços e equipamentos de hospedagem, gastronomia, agenciamento, transporte e eventos no Parque do povo que estão na Extensão A e que se enquadram dentro das definições abordadas pelo MTUR podem ser observados de uma maneira quantitativa no quadro a seguir: Quadro 7 – Serviços e Equipamentos encontrados no entorno do Parque do Povo. Extensão A. Equipamentos e serviços Hospedagem Alimentos e bebidas Agenciamento Transportes Eventos Lazer e entretenimento

Quantidade 2 29 1 2 1 6

Fonte: Santos, 2019.

No quadro 7, pode-se observar a quantidade de estabelecimentos. Na questão da hospedagem, os 2 entram no subtipo de hotel, para alimentos e bebidas, dentro do quesito dos subtítulos que envolvem restaurantes, sorveterias, bares, cafés, lanchonetes e casa de suco, obtevese o total de 29 estabelecimentos. Nessa extensão, há apenas a presença de 1 agência de viagem, assim como a questão de eventos, pois o parque do povo é um local que recebe muitos eventos, então ele por si só já é parte da infraestrutura para a ocorrência de eventos no local. Já em relação a lazer e entretenimento, percebe-se a presença de 6, entre eles, quadras, casa de espetáculo, praça e o próprio Parque. Parte-se agora para a análise da Extensão B, que tem início na Avenida da Saudade até a Avenida Brasil. Figura 3 - Esquema de localização da Extensão B

Fonte: Google Maps, 2019.

Os Serviços e Equipamentos de hospedagem, gastronomia, agenciamento, transporte e eventos no Parque do povo que estão na Extensão A e que se enquadram dentro das definições abordadas pelo MTUR, podem ser observados de uma maneira quantitativa no quadro 8. ;

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Quadro 8 - Serviços e Equipamentos encontrados no entorno do Parque do Povo. Extensão B. Equipamentos e serviços Hospedagem Alimentos e bebidas Agenciamento Transportes Eventos Lazer e entretenimento

Quantidade 2 14 1 0 1 2

Fonte: Santos, 2019.

Por meio do quadro apresentado da Extensão B, percebe-se uma quantidade menor em relação à infraestrutura quando colocado de modo quantitativo próxima à Extensão A. Assim, o espaço conta com 2 opções que se enquadram em hospedagem, assim como a questão dos transportes. Apresenta 2 equipamentos de lazer e entretenimento e 1 agência. Em relação a eventos, percebe-se a mesma situação que a do lado A, pelo fato de o Parque do Povo, em si, ser parte da própria infraestrutura dos eventos. No quadro 8, observam-se as quantidades totais de equipamentos e serviços apresentadas pelas duas Extensões e que podem ser utilizadas na atividade turística. Quadro 9 - Serviços e Equipamentos encontrados no entorno do Parque do Povo. Extensões A e B. Equipamentos e serviços

Quantidade Total das duas extensões Hospedagem 4 Alimentos e bebidas 43 Agenciamento 2 Transportes 2 Eventos 1 Lazer e entretenimento 8 Fonte: Santos, 2019.

No quadro 9, afere-se a quantidade total, o que caracteriza o espaço do Parque do Povo como possuidor de infraestruturas e serviços turísticos, de uma maneira diversificada, em que se observa uma maior quantidade de serviços e equipamentos ligados a alimentos e bebidas do que qualquer outra infraestrutura. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tem-se em mente que o presente trabalho é parte integrante de um projeto de Iniciação Científica, segmentou-se nesse artigo a análise e verificação das infraestruturas que atendem o turismo no entorno do parque do povo, permitindo-se considerar que o turismo é uma atividade que desempenha papéis, dentro da sociedade como um todo, que são importantes, e essa prática pode estar intimamente relacionada com os espaços públicos, que são áreas imprescindíveis para o

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espaço urbano, tendo em vista a sua utilização, em diversificados fatores, mas em especial para a prática de lazer. A partir do escopo histórico do espaço, percebeu-se, no seu processo de constituição, a formação de uma área muito importante para o município e que passou, ao longo do tempo, sendo incorporada como espaço chave da cidade. Além disso, as infraestruturas são consideradas como fundamentais para que a atividade turística possa se desenvolver de uma maneira plena e benéfica, e constatou-se que o espaço Parque do povo apresenta, sim, infraestruturas que podem ser utilizadas pelo turismo e que devem ser aproveitadas de uma maneira correta, com planejamento, para que, se o espaço realmente for um potencial turístico, possa se desenvolver corretamente. REFERÊNCIAS BENI, M. C. Política e planejamento de turismo no brasil. São Paulo: Aleph, 2006. BORTOLO, C. A de. O Espaço Público do Parque do Povo – Presidente Prudente – SP: reflexões geográficas. 2013. Disponível em: http://revista.fct.unesp.br/index.php/geografiaematos/article/view/2306/cab. Acesso em: 14 set. 2019. BOULLÓN. R. Planificación del espacio turístico. México: Trillas, 1990. BRASIL, Ministério do turismo. manual do pesquisador – inventário da oferta Turística: instrumento de pesquisa. Brasília: Ministério do Turismo, 2006. DIAS, R. planejamento do turismo: políticas e desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003. CASTROGIOVANNI (org.). Turismo urbano. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2001. CORIOLANO, L. N. M. T.; NEIDE, Luzia. Turismo: prática social de apropriação e de dominação de territórios. In: LEMOS, A. I. G. de; ARROYO, M.; SILVEIRA, M. L. América Latina: cidade, campo e turismo. São Paulo: CLACSO, 2006. p. 367-378, 2006. CRUZ, N. M., BARBOSA, C., CARVALHO, P.F. Metodologia para avaliação e planejamento de espaços de lazer em cidades médias: o caso de Rio Claro – SP. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/igce/planejamento/gpapt/ gpapt.htm. Acesso em: 13 set. 2019. CRUZ, R. Turismo, produção do espaço e desenvolvimento desigual: para pensar a realidade brasileira. aportes y transferencias, v. 12, n. 2, p. 25-45, 2008. Disponível em: http://nulan.mdp.edu.ar/369/. Acesso em: 29 maio 2019. CUNHA, S. K. da; CUNHA, J. C. da. Competitividade e sustentabilidade de um cluster de turismo: uma proposta de modelo sistêmico de medida do impacto do turismo no desenvolvimento local. Revista de administração contemporânea, v. 9, n. spe2, p. 63-79, 2005. ;

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O TOMBAMENTO DA ESTAÇÃO JÚLIO PRESTES COMO ELEMENTO MOTIVADOR PARA A VISITAÇÃO TURÍSTICA¹ DEUS, JÚLIA MOREIRA DE2 OLIVEIRA, EDUARDO ROMERO DE3

julia_moreira@outlook.com, eduardo.romero@unesp.br 1

Trabalho em desenvolvimento, vinculado ao Projeto de iniciação científica com bolsa FAPESP (Processo Nº 2018/22649-2). Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutor em Filosofia (USP), Professor Assistente Doutor do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 2

RESUMO – O turismo se utiliza do patrimônio cultural, sendo que esse é protegido e reconhecido pelo tombamento e um dos principais motivadores de uma viagem (IPHAN, 2014; MARUJO, 2014). Assim, esse trabalho visa saber, principalmente, se o tombamento é uma motivação para a visitação de um bem, discutindo a questão dentro da perspectiva da atratividade. Esse é um trabalho relevante por complementar um projeto maior e por trazer a discussão sobre o planejamento dentro da perspectiva da oferta e da demanda. Para realizá-lo, utilizou-se o software IRAMUTEQ na análise dos comentários do TripAdvisor que continham as expressões “Visita monitorada” ou “Visita guiada”. Os gráficos gerados mostraram que a visita e o concerto são os principais elementos motivadores e que o tombamento não é relevante para o público. Conclui-se, então, que, mesmo focando na demanda, surgem questões sobre a oferta, já que são indissociáveis. Palavras-chave: Motivação, Tombamento, Estação Júlio Prestes, Planejamento. ABSTRACT - Tourism uses the cultural heritage, which is protected and recognized by official registration, and also one of the main motivators of a trip (IPHAN, 2014; MARUJO, 2014). Thus, this work aims to find out if official registration is a motivation for visiting a monument, discussing the issue from the perspective of attractiveness. This work is relevant for complementing a larger project and for bringing the discussion of planning from the perspective of supply and demand. To do so, IRAMUTEQ software was used to analyze TripAdvisor reviews that contained the words “Monitored Visit” or “Guided Visit”. The graphics generated showed the visit and the concert are the main motivating elements and the official registration is not relevant to the public. It is concluded that, even focusing on demand, questions about supply arise, as they are inseparable. Key words: Motivation, Official registration, Julio Prestes Station, Planning.

1. INTRODUÇÃO Em diversos momentos, o patrimônio cultural é utilizado pela atividade turística. Isso ocorre, principalmente, dentro do segmento do turismo cultural, que tem como finalidade conhecer lugares e monumentos históricos e artísticos, além da contribuição na manutenção e proteção da cultura (ICOMOS, 1999b). ;

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Quando utilizado pelo turismo, o patrimônio cultural passa a ser uma maneira pela qual diversos grupos sociais possam perceber a história de determinado local (RODRIGUES, 2003). Nesse sentido, o tombamento surge como a principal forma de reconhecer e proteger o patrimônio cultural (IPHAN, 2014), pois, além de uma ação administrativa que tem por finalidade conservar a integridade física dos bens que são de interesse público, o tombamento também é uma forma de perpetuação da memória (MORAES, 2016). Segundo Marujo (2014), os destinos turísticos mais importantes ao redor do mundo são aqueles que conseguem associar cultura e turismo e isso se deve ao fato de a cultura ser o principal elemento diferenciador para atrair turistas. Porém, como saber o que torna o local visitado mais atrativo para o turista? A partir desse ponto, traz-se a discussão para a perspectiva da atratividade turística. Por exemplo, como dois atrativos aparentemente iguais se diferenciam e um acaba sendo um elemento motivador maior do que o outro? O que interfere na atratividade de um patrimônio cultural? O fato de um bem ser tombado torna-o mais atrativo? Ao se mensurar a atratividade turística, deve-se levar em consideração tanto a perspectiva da oferta quanto da demanda. Porém, os autores que tratam do tema não apresentam metodologias que considerem as duas perspectivas juntas de forma objetiva (FORMICA, 2004). Nesse aspecto, este trabalho busca trazer uma parte da discussão sobre atratividade, ou seja, levantam-se questões apenas sobre a demanda, buscando saber a motivação dos turistas que visitam determinado atrativo cultural. Como é possível levantar discussão em torno de diversos tipos de bens culturais, decidiuse, em particular, por um bem industrial ferroviário, tendo como exemplo a Estação Júlio Prestes. Hoje em dia, a mesma está ativa e faz parte da Linha 8 – Diamante da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – CPTM (CPTM, 2019), além de o edifício ser sede da Secretaria de Cultura de São Paulo e abrigar a Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). A sala é gerida pela Fundação Osesp e promove apresentações pagas e gratuitas na Sala São Paulo, além de possuir visita monitorada a partir de agendamento prévio e espaços para realização de eventos (SALA SÃO PAULO, 2018). Ademais, ela é tombada em esfera estadual (Processo CONDEPHAAT 36990/97, 1999) e federal (Processo IPHAN 1407-T-97, 1997). Este estudo está vinculado ao projeto de iniciação científica financiado pela FAPESP (Processo Nº 2018/22649-2), que tem como objetivo geral identificar quais elementos compõem a atratividade dos bens ferroviários protegidos. Assim, os procedimentos utilizados e as conclusões alcançadas formam parte dos objetivos específicos necessários para alcançar tal fim. Além de complementar os estudos que já estão sendo realizados, este trabalho também é importante por trazer algumas discussões sobre o planejamento do turismo a partir da demanda e, consequentemente, da oferta, já que os dois formam um ciclo. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O embasamento teórico deste trabalho é dividido em duas partes: a primeira é sobre patrimônio industrial e ferroviário, de modo a abarcar o objeto de estudo, e a segunda é sobre atrativos e atratividade turística, na qual se inserem as questões relativas à motivação do turista. 2.1 Patrimônio industrial e ferroviário ;

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Segundo Rodrigues (2010), o patrimônio industrial é uma vertente do patrimônio cultural. Se comparado a ele, o patrimônio industrial ainda tem poucas atuações, porém ele vem sendo cada vez mais valorizado. Isso pode ser notado, por exemplo, por meio da criação do comitê brasileiro do The Internacional Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH) em 2004 e da divulgação da Carta de Nizhny Tagil (2003) e d’Os Princípios de Dublin (2011), que tratam sobre a proteção e a conservação do patrimônio industrial. O patrimônio industrial abarca todos os locais e objetos que se relacionam a processos industriais que possuam valores sociais, históricos, arquitetônicos, científicos e/ou tecnológicos, desde a produção, extração e transformação das matérias-primas, até as infraestruturas, tais como edifícios e máquinas e meios de transportes associados, por exemplo, o ferroviário (TICCIHICOMOS, 2003; 2011). Ou seja, é a relação entre a sociedade, a cultura e o passado, a partir da conservação de bens materiais e imateriais vinculados com o trabalho e o lugar que estão diretamente relacionados com o processo de industrialização (ESPANHA, 2016). Assim, dentro do patrimônio industrial está incluído o patrimônio ferroviário, que, segundo Kühl (1998), é composto por todos aqueles edifícios que compõem o conjunto das instalações ferroviárias, além das estradas de ferro e das estações de trem, tais como armazéns, depósitos e oficinas de locomotivas e vagões, caixas d’água, cabines de sinalização, postos telegráficos, edifícios administrativos e residências para o chefe da estação e para os demais operários, entre outros. O processo de industrialização, e tudo aquilo que está vinculado a ele, incluindo o transporte ferroviário, pode ser transmitido por meio do turismo. Assim, segundo Pardo Abad (2004), o turismo industrial permite que se conheça e valorize o passado industrial e suas mudanças técnicas e produtivas. É necessário criar e manter programas e equipamentos que sejam uma forma de conscientizar e valorizar a riqueza do patrimônio industrial, podendo ser por meio de visitas. Além disso, esses métodos deveriam ser aplicados, preferencialmente, nos locais onde o processo industrial de fato ocorre/ocorreu, de modo a contribuir para uma melhor comunicação e entendimento (TICCIH-ICOMOS, 2011). 2.1 Atrativos e atratividade turística O Sistema de Turismo (SISTUR) é dividido em diversos subsistemas, sendo que é no da oferta em que são encontrados os atrativos turísticos (BENI, 2000). Segundo Sebrae (2016), os atrativos podem ser naturais ou culturais e, por atraírem o fluxo turístico, são os motivadores da viagem. Eles transmitem o símbolo e a imagem de um local para o público visitante e, por isso, são base para a atratividade de um destino (COOPER et al., 2007; GUNN, 1980 apud COELHO; GOSLING; BERBEL, 2016). Segundo Cooper et al. (2007), os atrativos são o foco da prática da atividade turística, pois outros aspectos importantes para a realização da viagem, tal como hospedagem, são apenas demandas derivadas do fator principal que é conhecer determinado local. Como os atrativos são o foco do turismo, pressupõe-se que já estão totalmente preparados para compor o produto turístico que está sendo ofertado. Caso não estejam, são considerados apenas recursos turísticos, ou seja, não estão prontos, mas com planejamento e organização podem se aprimorar (SEBRAE, 2016). O fato de serem recursos não significa que não são visitados, mas sim que necessitam de melhorias. Porém, Coelho, Gosling e Berbel (2016) destacam que, muitas vezes, os atrativos são reduzidos a recursos exploráveis, ou seja, sua imagem e atributos são ;

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vendidos como atrativos, mas suas potencialidades precisam ser mais planejadas para serem comercializadas. Como dito anteriormente, os principais destinos turísticos do mundo são aqueles que vinculam o turismo com a cultura (MARUJO, 2014). Segundo McKercher e Cros (2002 apud MARUJO, 2014), mesmo que o patrimônio cultural não seja o fator determinante na escolha do destino, muitos turistas visitam atrações culturais, servindo como uma motivação secundária. Por isso, é importante compreender e classificar corretamente as atrações. Apesar de existirem ferramentas que auxiliam na compreensão e classificação das atrações turísticas, a atratividade não pode ser medida apenas pelo lado da oferta, tornando-a um fenômeno complexo. Assim, levar em consideração a demanda, ou seja, os turistas, também é parte fundamental na mensuração da atratividade turística (COELHO; GOSLING; BERBEL, 2016). Nesse aspecto, identificar a motivação dos turistas ao conhecer o atrativo é fundamental na mensuração da atratividade. Assim, a seguir, são apresentadas a metodologia e a análise da motivação dos turistas em relação à Estação Júlio Prestes, focando na perspectiva da demanda. 3 METODOLOGIA O procedimento utilizado para discutir a motivação dos turistas em relação à Estação Júlio Prestes foi a análise dos comentários dos turistas que realizaram a visita monitorada e publicaram no TripAdvisor. Para tal, buscaram-se as palavras-chaves “visita monitorada” e “visita guiada”, em quatro versões diferentes dos atrativos Estação Júlio Prestes e Sala São Paulo. A tabela 1 mostra a relação de cada atração pesquisada e as palavras-chaves utilizadas. Tabela 1 - Relação entre números de comentários e atrativos. Nº total de comentários Estação Júlio Prestes Sala São Paulo Teatro Júlio Prestes O Centro Cultural Júlio Prestes – Sala São Paulo Total

“Visita monitorada”

“Visita guiada”

100 29 03 3.232

00 00 00 41

02 02 00 99

Nº total de comentários selecionados 02 02 00 137

3.364

41

103

141

Fonte: elaborado pelos autores, 2019.

Destaca-se que, apesar de terem sido levantados 144 comentários, apenas 141 foram selecionados, pois três deles possuíam as duas palavras-chave e, consequentemente, repetiam-se. Para realizar a análise dos comentários levantados, foi utilizado o software IRAMUTEQ, um software gratuito desenvolvido na França, sob a lógica da open source, que viabiliza diferentes tipos de análise de dados textuais e que se ancora no software R e na linguagem Python (CAMARGO; JUSTO, 2013; NASCIMENTO FILHO, 2018). Para a leitura correta do corpus (conjunto de textos analisados), ele teve que ser devidamente preparado seguindo tutoriais (CAMARGO; JUSTO, 2013; SALVIATI, 2017). Dessa maneira, foi inserida uma linha de comando e algumas correções foram feitas como, por exemplo, padronização de siglas e nomes próprios, união por underline de palavras compostas ou que tenham ;

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significado em conjunto, colocação dos números em algarismos, entre outros. O quadro 2 apresenta um exemplo de comentário preparado. Quadro 1 – Exemplo de comentário preparado. **** *n_079 Histórico. A visita guiada na Sala_São_Paulo custa 5 reais e dura cerca de 50 minutos. Vale muito a pena conhecer, pois o guia explica muito bem a história do local e também da cidade. É possível assistir ensaios e também apresentações da orquestra por um preço bem baixo. Fonte: elaborado pelos autores, 2019.

Para melhor identificação da preparação feita, foram colocadas algumas cores em partes específicas dos comentários: em roxo está a linha de comando; em vermelho está o título do comentário, que também foi incluído, porém no mesmo parágrafo; em verde está a palavra-chave; e em azul estão algumas correções que precisaram ser feitas, no caso, a adição do underline para que as palavras fossem lidas em conjunto e os números que estão escritos com algarismos. Assim, após a preparação do texto, todos os comentários foram inseridos no IRAMUTEQ e a análise foi realizada a partir das respostas geradas por ele. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS O software IRAMUTEQ gerou duas respostas distintas. A primeira delas é a nuvem de palavras (figura 1). Segundo Nascimento Filho (2018, p. 74), a nuvem de palavras: “[...] agrupa e organiza as palavras graficamente em função da sua frequência. É uma análise lexical mais simples, porém graficamente bastante interessante, na medida em que possibilita a rápida identificação das palavras-chave de um corpus.” A partir dela, é possível identificar quais as palavras ou expressões mais utilizadas em relação a todos os comentários selecionados. Como as palavras-chave foram “visita monitorada” e “visita guiada”, consequentemente, a palavra com mais aparições é “visita”, sendo essa seguida por “concerto”. O destaque para essas duas palavras pode ser explicado pelas possibilidades que o espaço oferece. Ou seja, na estação e na sala pode ser realizada mais de uma atividade, entre elas realizar a visita monitorada e assistir a um concerto. Porém, a partir da leitura dos comentários, foi possível perceber que o visitante normalmente as realiza em conjunto, assim, quando vai até o local, não vai só para uma ou só para outra, mas, sim, para as duas. Isso resulta nas duas palavras como sendo as que mais aparecem nos comentários.

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Figura 1 - Nuvem de palavras a partir dos comentários levantados no TripAdvisor.

Fonte: elaborada pelos autores com o software IRAMUTEQ, 2019.

As próximas palavras com mais ênfase são, respectivamente, “guiar”, “sala” e “Sala São Paulo”. A primeira faz alusão ao tipo de visita realizada. Assim como a palavra “visita” tem muitas aparições, é uma consequência das palavras-chave utilizadas que a palavra “guiar” também esteja destacada. Já em relação à “sala” e “Sala São Paulo”, é natural que tenham muitas aparições, já que as mesmas dizem respeito ao atrativo em sim. Porém, é importante fazer um destaque para a “Sala São Paulo”, que está vinculada à Estação Júlio Prestes, mas que tem mais destaque que a estação, já que, à primeira vista, a expressão “Estação Júlio Prestes” é bem menor e menos visível. Também vale ressaltar outras duas palavras, “história” e “patrimônio”. A primeira é a próxima palavra com maior número de repetições, mostrando que as pessoas que visitam o atrativo notam e se importam com a história do local e como a mesma é transmitida durante a visita. Já a segunda não aparece na nuvem de palavras, ou seja, ou foi utilizada em baixíssima escala nos comentários ou nem mesmo foi utilizada. Apesar de não aparecer, ela é trazida aqui para mostrar que, mesmo que os visitantes saibam que o bem é preservado, isso não é um fator relevante para que o turista visite o atrativo, ou seja, ele visita independentemente da preservação ou não do bem. Isso acaba contrastando com o destaque da palavra “história”, pois a preservação pode ser uma forma de manter a história do bem (IPHAN, 2014), mas, apesar da importância da história da estação e da sala, a preservação não aparenta ter o mesmo valor. Vale destacar que a palavra ;

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utilizada para contraste não é “tombado”, pois esse é um termo técnico para “patrimônio” e, normalmente, não é utilizado por turistas. Porém, ressalta-se que ele igualmente não aparece na nuvem de palavras. A outra resposta gerada pelo software foi o gráfico de análise de similitude (figura 2). Figura 2 – Análise de similitude a partir dos comentários levantados no TripAdvisor.

Fonte: elaborada pelos autores por meio do software IRAMUTEQ, 2019.

Segundo Salviati (2017, p. 69): “No Iramuteq, a análise de similitude mostra um gráfico que representa a ligação entre palavras do corpus textual. A partir desta análise é possível inferir a estrutura de construção do texto e os temas de relativa importância, a partir da coocorrência entre as palavras”. Dessa maneira, a partir desse gráfico, é possível notar que “visita” ainda é a palavra de mais destaque, pois está ao centro e as outras palavras se ramificam a partir dela, como “guiar” e “história”, que já foram destacadas, além de outras, como “arquitetura”, por exemplo. Esse conjunto vermelho, em que está inserida, é o conjunto central e pode ser considerado o mais ;

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importante, pois está sobreposto a todos os outros, ou seja, a palavra “visita” está inter-relacionada com todas as outras palavras utilizadas nos comentários. Isso se deve ao fato de ser a palavra-chave e, consequentemente, estar presente em todos os comentários. Outro conjunto de destaque é o amarelo, no qual a palavra com ênfase é “concerto”. Essa também surge a partir da ramificação de “visita”, porém, por ter muitas aparições, forma um novo conjunto. Como uma ramificação de “concerto”, mas no mesmo grupo, também se ressalta a palavra “sala”, mostrando a ligação entre a atividade e o espaço onde ela ocorre. Também é possível destacar as palavras “acústico” e “mundo”, que foram utilizadas para caracterizar a Sala São Paulo, ressaltando a boa acústica do lugar e como ela é uma das melhores do mundo. Outra expressão que surge da ramificação de “visita” é “Sala São Paulo”, formando um novo conjunto, em azul, no qual as palavras não são tão nítidas, já que aparecem poucas vezes. Porém, pode-se destacar a expressão “Estação Júlio Prestes”, mostrando a relação entre esses dois espaços. Conclui-se, então, que esses dois resultados gerados são complementares. As mesmas palavras estão em destaque, porém, enquanto na nuvem de palavras elas estão soltas, ressaltando apenas a quantidade de vezes que elas aparecem, na análise de similitude, é possível analisar como os textos foram construídos a partir da conexão entre uma palavra e outra e as ocorrências das mesmas, mostrando as ligações que elas têm e a abrangência delas em relação às palavras de menos destaque. CONCLUSÃO Como dito anteriormente, este trabalho está vinculado a um projeto de iniciação científica e, neste artigo, buscou-se trazer parte de tal estudo, focando-se apenas na perspectiva da demanda. Porém, no projeto, aborda-se os dois pontos de vista, oferta e demanda, tornando-o mais completo. Ainda em relação ao projeto completo, também é importante destacar que a visão da demanda será complementada por questionários aplicados aos turistas. Assim, neste trabalho, a conclusão é feita apenas em relação aos comentários do TripAdvisor, mas maiores considerações serão feitas com os dois procedimentos em conjunto. Feita tais considerações, parte-se para as conclusões deste artigo. Os dois resultados gerados pelo software são complementares. Eles mostraram que a visita e o concerto são os principais fatores de atratividade da Estação Júlio Prestes. O público que é motivado a estar ali leva em consideração questões como a história e a arquitetura do local. É importante destacar que, quando se trata de um patrimônio cultural, esses fatores estão diretamente relacionados ao seu conceito (BARRETTO, 2003; ICOMOS, 1999a). Assim, pode-se concluir que tais fatores são condições para a atratividade do patrimônio cultural. Porém, o mesmo não pode ser dito em relação ao patrimônio industrial. Como ele é um subsegmento do patrimônio cultural, consequentemente, esses fatores também são determinantes na sua atratividade, mas não houve expressivas associações ao objeto deste estudo com o patrimônio industrial. Outro ponto importante levantado é em relação ao tombamento. Não é possível afirmar que o fato do bem ser protegido legalmente torna-o mais atrativo, uma vez que também não houve a presença significativa da palavra “patrimônio” ou “tombado”. Esse fato levanta outras questões, tais como: o público visitante sabe o que é tombamento? O fato de a Estação Júlio Prestes ser tombada é mencionado durante a visita monitorada? Essas são algumas das questões que podem ser respondidas com o projeto completo. ;

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Por fim, é imprescindível destacar que, apesar do objeto de estudo ser todo o edifício da Estação Júlio Prestes, o foco do público é a Sala São Paulo. Apesar de o concerto ser realizado nela, a visita é realizada em outras partes do edifício além dela. Mas é necessário saber se o público compreende que a sala está incluída na estação e não que todo o espaço é a sala. Como essa diferença é tratada durante a visita monitorada? A análise de similitude mostra que, no conjunto azul, no qual “Sala São Paulo” é o termo-chave, há a ligação com o termo “Estação Júlio Prestes”, mas a estação está longe de ser o foco. Todo esse tipo de estudo é importante para o planejamento do turismo. Estudar a oferta e a demanda é essencial, pois elas formam um ciclo. Apesar deste trabalho focar na demanda e em quais aspectos são motivadores para os visitantes, ainda é possível trazer questões da oferta, por exemplo, como a estação e o tombamento dela são tratados durante a visita. Isso, pois oferta e demanda são indissociáveis. Nesse viés, este estudo, parcial e completo, faz-se útil e necessário, uma vez que há poucos estudos que tratam sobre a atratividade nessas perspectivas. REFERÊNCIAS BARRETTO, Margarita. Turismo e legado cultural. 4. ed. Campinas: Papirus, 2003. BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. 3. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000. BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Processo 1407-T-97. Prédio da estação Júlio Prestes. Rio de Janeiro, 1997. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Lista_bens_tombados_processos_andamento _2018. Acesso em: 01 out. 2019. CAMARGO, Brigido Vizeu; JUSTO, Ana Maria. Tutorial para uso do software de análise textual IRAMUTEQ. Santa Catarina: Laccos, 2013. Disponível em: http:/ /www.iramuteq.org/documentation/ fichiers/tutoriel-en-portugais. Acesso em: 01 out. 2019. COELHO, Mariana de Freitas; GOSLING, Marlusa; BERBEL, Giulia. Atratividade de destino turístico: a percepção dos atores locais de Ouro Preto, MG, Brasil. Pasos: Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, Ilhas Canárias, Espanha, v. 14, n. 4, p. 929-947, 2016. Disponível em: http://www.pasosonline.org/es/articulos/ 950-. Acesso em: 01 out 2019. COMITÊ INTERNACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL. Carta de Nizhny Tagil sobre el Patrimonio Industrial. Moscou: TICCIH-ICOMOS, 2003. Disponível em: https://www.icomos.org/18thapril/2006/nizhny-tagil-charter-sp.pdf. Acesso em: 01 out. 2019. COMITÊ INTERNACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL. Os Princípios de Dublin. Dublin: TICCIH-ICOMOS, 2011. Disponível em: http://ticcih.org/wpcontent/uploads/2017/12/Princi%CC%81pios-de-Dublin.pdf. Acesso em: 01 out. 2019.

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OBJETOS DA MEMÓRIA: A BANDEIRA DO MST E SUA SIGNIFICAÇÃO NO ACERVO DO MUSEU DO ASSENTADO¹ SILVA, GIOVANNA ISABELE PEREIRA2 GONÇALVES, LEONARDO GIOVANE MOREIRA 3 THOMAZ, ROSANGELA CUSTODIO CORTEZ4

giovanna.isabele@unesp.br; leonardo.giovane@unesp.br; rosangela.thomaz@unesp.br 1

Trabalho vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas de Turismo no Espaço Rural (GEPTER) Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana/SP. 3 Mestrando no Programa de Pós-graduação Interunidades em Museologia (PPGMus), Universidade de São Paulo (USP); Bacharel em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana/SP; Pesquisador vinculado ao GEPTER.4 4 Pós-doutorado em Turismo, Universidade de Santiago de Compostela (USC - Espanha); Doutora e Mestre em Arqueologia, Universidade de São Paulo (USP); Licenciada e Bacharel em Geografia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Presidente Prudente/SP; Líder GEPTER. 2

RESUMO – Os objetos colecionáveis trazem consigo significados que extrapolam sua função prática e cotidiana. Dessa maneira, o objetivo deste resumo foi o de dialogar sobre a funcionalidade da bandeira do MST no acervo do Museu do Assentado por meio das reflexões de duas entrevistadas. Para atingir tal objetivo, utilizou-se uma pesquisa bibliográfica exploratória e a realização de duas entrevistas. Desse modo, tornou-se possível visualizar o caráter simbólico que a bandeira do MST reflete aos seus idealizadores e detentores. Além disso, observou-se que, mesmo após ser musealizada, o objeto não foi despido de seus significados e funções práticas. Palavras-chave: Museu do Assentado; Patrimônio Cultural; Resistência; Bandeira do MST.

1. INTRODUÇÃO O espaço rural, nos últimos anos, vem se descobrindo além das atividades agrícolas por meio da multifuncionalidade do campo. Segundo os autores Silva e Almeida (2002, p. 166): O conceito de multifuncionalidade contraria a ideia de que a agricultura tem apenas a função de produzir bens alimentares, mas atribui-se a ela um papel determinante na manutenção das populações locais, na preservação do ambiente e das paisagens, acolhimento das populações urbanas entre outros.

Por meio dos novos usos do rural, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Turismo no Espaço Rural (GEPTER), desde 2006, propõe iniciativas que visam ao desenvolvimento sustentável por meio do turismo rural nos assentamentos de Rosana/SP: Gleba XV de Novembro, Bonanza, Nova Pontal e Porto Maria. Dentre as iniciativas do grupo, citamos: cicloturismo; glamping; turismo gastronômico; Museu do Assentado; Museu Arqueológico; Observatório Turístico Intermunicipal; Turismo Pedagógico; Ecoturismo; Turismo tecnológico e outros projetos. ;

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O Museu do Assentado, sendo um projeto vinculado ao GEPTER desde 2014, vem inventariando, analisando, documentando e comunicando o patrimônio material e imaterial dos assentamentos de reforma agrária do município de Rosana/SP, visando à criação de um museu de base comunitária (GONÇALVES; THOMAZ, 2018) Durante o processo de inventariação, foram cedidos ao museu mais de sessenta objetos e uso de imagem de, em média, quatrocentas fotografias (GONÇALVES, 2018). Contudo, o objetivo inicial do projeto era entender o patrimônio cultural dessas comunidades por meio da história oral e, na atualidade, pesquisadores estão buscando também entender os traços culturais por meio dos objetos. Dialogando com as memórias dos entrevistados e com os objetos presentes no acervo do museu, no presente resumo, abordaremos os significados evocados por meio da bandeira do MST e sua funcionalidade no acervo do Museu do Assentado. 2. METODOLOGIA Neste resumo, utilizou-se os relatos orais de duas assentadas, Geni Teixeira e Vanda Noronha, que evidenciaram suas concepções acerca da pergunta: O que a bandeira do MST representa para você? Esses relatos foram gravados e posteriormente transcritos na íntegra para uso parcial ou integral na composição deste trabalho. Salienta-se que as duas assentadas foram as que cederam as bandeiras que compõem o acervo atual do Museu do Assentado e, por essa razão, é que o questionamento foi direcionado a elas. Além disso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica exploratória com intuito de fundamentar as discussões propostas neste artigo acerca dos usos do objeto e da memória, museologia e museografia. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 Usos e entendimentos sobre a Bandeira do MST A bandeira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi criada por volta de 1987, quando o movimento realizava seu quarto encontro nacional (FONSECA, 2006, p. 11). A bandeira faz parte da segunda ordem de enfrentamento do movimento que afeta a subjetividade dos integrantes, promovendo, desse modo, a identidade coletiva por meio da simbologia (LEITE; DIMENSTEIN, 2013, p. 190) Assim, é interessante observar que a bandeira faz parte do simbolismo político do movimento. Leite e Dimenstein (2013, p. 190) dissertam que: Inúmeras ações do movimento (reuniões, cursos de formação, mobilizações, marchas, congressos, ocupações de terra etc.) acontecem com uma forte presença de rituais que envolvem cantos, celebrações, evocação de figuras históricas que tiveram participação importante em contextos de luta social bem como adoção de palavras de ordem e de objetos que carregam um peso simbólico, como o uso de bonés, camisas e bandeiras

Portanto, a bandeira é um elemento que recende o poder e principalmente ressignificam o território onde são hasteadas. Bogo (2000, p. 26), discursando sobre o território, afirma que “os emissários do capital, assim que percebem o vento tremular uma bandeira vermelha, entendem que há outro território conquistado”. ;

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O MST, em seu site institucional, descreve a simbologia da bandeira. Segundo o movimento (MST, 2019): Cor branca: representa a paz, que somente será conquistada quando houver justiça social. Cor preta: representa nosso luto e a nossa homenagem a todos os trabalhadores e trabalhadoras que tombaram lutando pela nova sociedade. Cor vermelha: representa o sangue que corre nas nossas veias e a disposição de lutar pela reforma agrária, pela transformação da sociedade. Trabalhadora e Trabalhador: representa a necessidade da luta ser feita por mulheres e homens, pelas famílias inteiras. Mapa do Brasil: representa a luta nacional dos Sem Terra e que a reforma Agrária deve acontecer em todo o país. Cor verde: representa a nossa esperança de vitória a cada latifúndio que conquistamos. Facão: representa a ferramenta de trabalho, de luta e de resistência. Ele ultrapassa o mapa para indicar que o movimento é internacionalista.

Fonseca (2006) disserta que a bandeira é um elemento que confere identidade aos militantes, que demarca o território e congrega os mais diferentes tipos de níveis sociais, raças, credos e origem dos militantes em um objetivo comum. Em todos os acampamentos do MST, a bandeira é hasteada ao centro e, muitas vezes, outros exemplares são espalhados nos barracos de lona. Como rito de passagem, a bandeira passa a representar resistência e existência. Ademar Bogo (2000, p. 31) afirma que o “vermelho das bandeiras, como se fosse o esplendor de uma grande fogueira, avisa que ali os escravos buscam a liberdade e convidam outros tantos a forjarem juntos o próprio destino”. Assim, pode-se observar a representatividade política de um objeto por meio da literatura supracitada e, em especial, os diálogos identitários e de reconhecimento que são travados entre militante e bandeira. 3.2 Objetos como sinônimo de resistência Parte considerável do acervo do Museu do Assentado é composta por objetos que remontam aos trabalhos agrícolas e domésticos. Na atualidade, o acervo do museu possui duas bandeiras (Figura 1), uma pertencente a Vanda Noronha Mesquita e outra a Geni Teixeira. Figura 1- Bandeiras expostas no Colóquio dos saberes, fazeres e dizeres do campo 2018.

Fonte: ASCOM Prefeitura de Rosana/SP, 2018.

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Assim, com intuito de entender a significação da bandeira, questionamos às assentadas o que o objeto representa. Vanda Noronha Mesquita, pertencente ao assentamento Gleba XV de Novembro, mencionou que: Pra mim a bandeira representa assim liberdade né, eu acho que com aquela bandeira a gente vai conseguir liberdade, o trabalhador vai ter liberdade pra trabalhar sem medo de ser oprimido, é o que o MST representa pro Brasil. Acho que liberdade pros trabalhador rural Sem Terra né, aqueles que não tem terra né, pra conseguir a sua terra pra viver sossegado e eu respeito muito o movimento. O pessoal que trabalha, quem luta, embora que eu não to mais lutando que eu já tô velha né, mas além de tudo eu acho muito lindo, uma bandeira pra mim muito linda! (MESQUITA, 2019)

Por meio do relato de Vanda, podemos observar que a assentada entende a bandeira como representativo de liberdade. Além disso, observa-se um caráter emocional quanto à bandeira à medida que a assentada evoca a sua beleza e respeito. O conceito de liberdade e a legitimidade que a bandeira atribui aos manifestantes, conforme observado na fala de Vanda, podem ser concebidos, por meio de Bogo (2000, p. 31), ao refletir que ‘na medida em que os trabalhadores Sem Terra decidem abandonar a vida de “indigência”, despertam em si o sonho de liberdade, e passam a desenvolver e apresentar virtudes que intimidam os poderosos [...]”. Geni Teixeira (2019), pertencente ao assentamento Nova Pontal, quando questionada sobre a representatividade da bandeira, mencionou que: A bandeira ela significa a luta pela reforma agrária, pela transformação da sociedade, por conquista, por justiça social, por isso que se usa a bandeira, pra que todos os lugares aonde tem trabalhadores organizado possa ter a bandeira hasteada para que de longe reconheça e a identidade da luta dos Sem Terra [...].

Geni foi atuante durante os acampamentos e trabalhava no setor educativo e suas elucidações sobre a bandeira serem visíveis a todos é um dos elementos que reiteram a legitimidade transferida pelo objeto aos militantes. Uma vez que “a bandeira do MST é pintada nas paredes dos galpões, casas e escolas. Não há uma praça de assentamento que não esteja lá uma bandeira dançado ao sopro do vento, contrastando com o verde da vegetação em terra” (BOGO, 2000, p. 43). Em continuação, Geni Teixeira explicitou a simbologia da bandeira. Segundo a assentada: A cor vermelha ela significa o sangue que corre nas veias de todas as pessoas que lutam por justiça social, a cor branca significa a paz, e a paz que nós queremos mas uma paz que também venha com justiça social, dignidade, trabalho, renda. O preto, é o luto por todas as pessoas que já tombaram na luta, que já morreram em busca de garantir melhores condições, que morreram na luta dos trabalhadores, na luta do povo. O homem e a mulher significa que a luta da reforma agrária é uma tarefa de famílias inteiras, de homens e mulheres que organizaram busca por reforma agrária, por trabalho, por dignidade. O facão significa instrumento de trabalho né, um dos instrumentos de trabalho né, e ele impunha, significa a possibilidade que se tem de garantir sustento, de garantir, como se tivesse mesmo em posição de luta, para garantir sustento para a família. O verde significa a esperança que em cada latifúndio ocupado que se destina a reforma agrária que lá haja esperança de dias melhores, de vidas melhores para a família e assim por diante. (TEIXEIRA, 2019, grifo nosso)

A fala de Geni se assemelha e muito com a simbologia encontrada no site do MST, inclusive o uso de alguns termos e expressões. ;

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Diferentemente de alguns objetos, a bandeira, mesmo que presente no acervo do museu, ainda possui sua função simbólica engendrada. Autores da museologia afirmam que os objetos, ao adentrarem aos museus, perdem suas funções práticas e se tornam museália (objeto do museu). Podemos entender as bandeiras do acervo do museu como semióforo, ou seja, objeto que possui significado e valor quando se expõe ao olhar (POMIAN, 1985). Contudo, mesmo que as bandeiras existentes no acervo talvez não sejam mais hasteadas em acampamentos, sua representatividade não foi descontextualizada ao adentrar ao museu. Desse modo, podemos questionar o conceito de Pomian (1985, p. 72), que menciona que “quanto mais carga de significado tem um objecto, menos utilidade tem, e vice-versa”. Pois, no caso da bandeira, antes de entrar no museu, seu caráter significativo já era reconhecido assim como permanece na atualidade e, mesmo que venha a ser utilizada em algum dia, suas funções de museália e objeto não serão esvaídas. CONCLUSÃO Por meio do presente resumo, tornou-se possível observar a significação das bandeiras do MST tanto para o movimento quanto para as assentadas. Observou-se que a bandeira representa a luta, as pessoas, a liberdade, os direitos iguais, a paz, o luto, a justiça, a dignidade e tantos outros valores celebrados pelos militantes. Além disso, entende-se que a bandeira é um instrumento político que auxilia na homogeneização e na criação de uma identidade política/cultural para o grupo heterogêneo que são os trabalhadores Sem Terra. Assim, o ato de hastear a bandeira e a ver flamejando legitima o movimento e deflagra inúmeros sentimentos nos militantes. No Museu do Assentado, sendo esse um museu comunitário, a bandeira não perdeu seus significados e ainda possui suas concepções políticas, culturais e sociais. Ademais, o uso prático ou não desse objeto depende dos anseios da comunidade, uma vez que essa é a gestora de seu patrimônio e estamos nos referindo ao objeto simbólico, não milenar e único. Portanto, no acervo do museu, a significância da bandeira não está restrita ao objeto, bem como sua história, posse, eventuais rasgos, nomes e outros elementos. Mas, sim, ao simbolismo, à resistência e à existência que a mesma representa. REFERÊNCIAS BOGO, A. MST e cultura. Caderno de Formação, n. 34, 2000. FONSECA. Estratégicas de comunicação do MST para se inserir na Esfera Pública. Revista Brasileira de Inovação em Comunicação, v. 1, n. 2, 2006. GONÇALVES, L. G. M. Os saberes, fazeres e dizeres do campo: o futuro Museu do Assentado no município de Rosana/SP. 2018. Monografia (Bacharelado em turismo) - Universidade Estadual Paulista-UNESP, Câmpus de Rosana, São Paulo, 2018. GONÇALVES, L. G. M.; THOMAZ, R. C. C. O museu no espaço rural: percursos para a constituição do futuro Museu do Assentado no município de Rosana/SP. In: ANJOS, S. J. G. ;

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OBJETOS DA MEMÓRIA: O FERRO À BRASA E SUA SIGNIFICAÇÃO NO ACERVO DO MUSEU DO ASSENTADO¹ LOPES, GIULIANE RODRIGUES2 GONÇALVES, LEONARDO GIOVANE MOREIRA 3 THOMAZ, ROSANGELA CUSTODIO CORTEZ4

giuliane.rodrigues@unesp.br; leonardo.giovane@unesp.br; rosangela.thomaz@unesp.br 1

Trabalho vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas de Turismo no Espaço Rural (GEPTER) Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana/SP. 3 Mestrando no Programa de Pós-graduação Interunidades em Museologia (PPGMus), Universidade de São Paulo (USP); Bacharel em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana/SP; Pesquisador vinculado ao GEPTER. 4 4 Pós-doutorado em Turismo, Universidade de Santiago de Compostela (USC - Espanha); Doutora e Mestre em Arqueologia, Universidade de São Paulo (USP); Licenciada e Bacharel em Geografia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Presidente Prudente/SP; Líder GEPTER. 2

RESUMO – Ao longo do tempo, o ser humano produz resquícios de sua existência e coleciona totens pessoais. Dessa maneira, o objetivo deste resumo foi o de dialogar sobre a funcionalidade do ferro à brasa no acervo do Museu do Assentado por meio da memória de quatro entrevistados. Para atingir tal objetivo, utilizou-se uma pesquisa bibliográfica exploratória e a metodologia da história oral. Desse modo, tornou-se possível visualizar que o objeto se despiu de seu caráter funcional e foi recoberto de memórias que remontam à trajetória de vida e origem dos entrevistados. Palavras-chave: Museu do Assentado; Patrimônio Cultural; Memória; Ferro à Brasa.

1. INTRODUÇÃO O espaço rural, nos últimos anos, vem se descobrindo além das atividades agrícolas por meio da multifuncionalidade do campo. Segundo os autores Silva e Almeida (2002, p. 166): O conceito de multifuncionalidade contraria a ideia de que a agricultura tem apenas a função de produzir bens alimentares, mas atribui-se a ela um papel determinante na manutenção das populações locais, na preservação do ambiente e das paisagens, acolhimento das populações urbanas entre outros.

Por meio dos novos usos do rural, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Turismo no Espaço Rural (GEPTER), desde 2006, propõe iniciativas que visam ao desenvolvimento sustentável por meio do turismo rural nos assentamentos de Rosana/SP: Gleba XV de Novembro, Bonanza, Nova Pontal e Porto Maria. Dentre as iniciativas do grupo, citamos: cicloturismo; glamping; turismo gastronômico; Museu do Assentado; Museu Arqueológico; Observatório Turístico Intermunicipal; Turismo pedagógico; Ecoturismo; Turismo tecnológico e outros projetos. O Museu do Assentado, sendo um projeto vinculado ao GEPTER, desde 2014, vem inventariando, analisando, documentando e comunicando o patrimônio material e imaterial dos assentamentos de reforma agrária do município de Rosana/SP, visando à criação de um museu de base comunitária (GONÇALVES; THOMAZ, 2018). ;

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Durante o processo de inventariação, foram cedidas ao museu mais de sessenta objetos e uso de imagem de, em média, quatrocentas fotografias (GONÇALVES, 2018). Contudo, o objetivo inicial do projeto era entender o patrimônio cultural dessas comunidades por meio da história oral e, na atualidade, os pesquisadores estão buscando também entender os traços culturais por meio dos objetos. Dialogando com as memórias dos entrevistados e com os objetos presentes no acervo do museu, no presente resumo, abordaremos o as lembranças evocadas a por meio do ferro a brasa e sua funcionalidade no acervo do Museu do Assentado. 2. METODOLOGIA Como procedimentos metodológicos foram realizadas entrevistas, por meio da metodologia da história oral, com quatro assentados a fim de descobrir quais recordações esses indivíduos possuíam sobre o ferro a brasa. Esses relatos foram gravados e posteriormente transcritos na íntegra para uso parcial ou integral na composição deste trabalho. Salienta-se que o ferro à brasa foi levado aos lotes dos quatro entrevistados durante o processo de inventariação (2016-2018) e era questionado aos assentados quais memórias, experiências e sentimentos esse objeto lhes trazia. Além disso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica exploratória com intuito de fundamentar as discussões propostas neste artigo acerca dos usos do objeto, memória, museologia e museografia. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 Usos e entendimentos sobre o Ferro a Brasa O ferro de passar roupas é um objeto frequente no dia a dia da sociedade contemporânea e clássica. O objeto possui como principal função alisar roupas amassadas, a fim de deixá-las melhor apresentáveis para serem usadas diante do convívio social (FERRIOLI et al., 2013). Antes de se tornar um eletrodoméstico, o ferro de passar possuiu vários modelos e com o passar do tempo foi evoluindo concomitante com os avanços tecnológicos. De acordo com Ferrioli et. al (2013), desde a era neolítica existe uma forma rudimentar de alisar tecidos, com o passar de milhares de anos surgiu o ferro de metal, que possui mais eficiência e mantinha o calor no tecido por muito mais tempo. O ferro à brasa surgiu por volta do século V, na China, no qual se colocava o carvão em brasa, com um cabo de marfim. No Brasil, sua primeira aparição se deu por volta do século XVII, especialmente na zona rural, pelo fato de a energia elétrica não estar acessível a todos. O ferro à brasa foi um instrumento feito à base de ferro fundido, oco em seu interior, no qual era colocada a brasa até a borda e fechava-se a tampa para manter o calor. Para manter a brasa acesa, o ferro possui orifícios que permite a entrada de ar, e o usuário necessita balançar o objeto para utilizá-lo (COISAS DA ROÇA, 2015). Com relação ao ferro à brasa, conforme Ferrioli et al. (2013), é necessário ponderar que “por serem objetos feitos de ferro e movidos a carvão, brasa quente, as mulheres da época sempre sofriam pelo peso do equipamento, além da atenção para as brasas e eventuais acidentes”. Portanto, era bem comum o uso desses objetos pelas mulheres donas de casas, além do mais, esses equipamentos eram bem pesados e poderiam provocar acidentes. ;

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Por ser um instrumento histórico/milenar e que já esteve presente no cotidiano de muitas pessoas, o ferro à brasa é capaz de guardar e evocar lembranças de quem já possuiu, já utilizou ou teve o objeto presente outrora. 3.2 Objetos como totens pessoais Antes de comentar sobre o significado de semióforos, de museália e suas relações com o ferro à brasa, é necessário abordar como eram constituídos os museus antigamente e qual é o seu significado atual. É primordial destacar também o porquê de um objeto ser ou não preservado e guardado. Ao recolher um objeto e pensá-lo como algo a ser exposto em um museu ou processo museológico, era necessário questionar se esses remontavam a alguma história, quem seria representado por esse objeto e qual o seu valor (estético, histórico, valorativo, financeiro, etc.). Contudo, essa escolha e atribuição de valor aos objetos partia do curador dos museus em sua individualidade e aristocracia. Bolaños (2002, p. 314) afirma que os museus tradicionais e contemporâneos instituem o valor dos objetos por decreto, segundo a autora: Y ¿si finalmente toda esta historia de objetos no fuiste más que una historia de poder que se transmite por decreto? Al principio, sin duda, hay que nombrar el objeto por el que existe, pero el objeto existente, el experto, el especialista, el que sabe, decreta que tal objeto es bueno o malo, bonito o feo, que tal objeto es falso o verdadero, que vale mucho o vale nada.

Para ser aceito em um museu, um material precisa passar por alguns processos, como a aquisição, documentação e conservação. Mas a crítica que salientamos é a diferença dos processos de aquisição dos objetos existentes no museu tradicional e no museu comunitário. No Museu do Assentado (museu comunitário), por exemplo, os objetos que fazem parte do acervo existem porque a comunidade entendeu que esses eram significativos e representativos. Os objetos do Museu do Assentado não são milenares e possuem valor estético exacerbado, mas, em contrapartida, seu valor memorialístico e significativo é o que lhes confere o título de objeto do museu (museália). Já no museu tradicional, o processo de aquisição de acervos e transformação dos objetos em museália é autocrático. Bolaños descreve esse processo ao mencionar que: Para entrar en el santuario, ¿acaso no están sometidos los objetos a una secuencia ritual? Llegan en cajas, por tierra, mar y aire, exhalando sus aromas exóticos. Penetran en un primer laboratorio donde son purificados, desinfectados, limpiados, tratados. Luego, atraviesan el umbral del santuario. Accedieron a los almacenes, y allí el conservador, padre del lugar, los someterá a un rito de paso. Inscribirá a cada uno en el registro, los describe en rodas suyas facetas en una dicha bien codificada. (BOLAÑOS, 2002, p. 310)

De acordo com Duarte (2013), em meados de 1968, grupos de profissionais começaram a contestar a simbologia e processos dos museus tradicionais, que antes estavam agregados à alta burguesia. Além disso, vários jovens e artistas rejeitavam a arte e o museu e demonstravam qualquer antipatia por elementos artísticos que fossem institucionalizados. A autora ainda relembra o fato de que “[...] o museu tinha sido um instrumento ao serviço das elites sociais e intelectuais [...]” (DUARTE, 2013, p. 101) e agora ele passa a ser uma instituição ;

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de “educação permanente” e um “centro cultural acessível a todos”. Dessa forma, após a nova museologia, o museu torna-se um lugar mais democratizado. Além disso, os museus comunitários, advindos da nova museologia e da museologia social, não representam mais aquela instituição que coleta apenas alguns objetos para exemplificar uma sociedade ou que remete a um período histórico de uma nação. Os museus atuais podem conter objetos que representam uma sociedade mais marginalizada e popular; além de serem capazes de trazer à tona lembranças e vivências de quem um dia já possuiu determinado objeto (VARINE, 2014). Com base nesses argumentos e dialogando sobre a diferença entre objetos e objetos de museus, é possível destacar aqui o significado dos semióforos. De acordo com Pomian (1984, p. 71), existem “[...] objetos que não têm utilidade, no sentido que acaba de ser precisado, mas que representam o invisível, são dotados de um significado; não sendo manipulados, mas expostos ao olhar, não sofrem usura”. O semióforo representa, então, uma ferramenta já sem uso prático, mas que possui um significado mais subjetivo e remete a um sentimento ou lembrança, seja essa “boa” ou “ruim”. Essa interpretação “invisível” pode ocorrer por meio da visão e de outros sentidos como o paladar, o olfato e a audição. São sensações que permanecem no imaginário de alguém (POMIAN, 1984). Assim, podemos relacionar o ferro à brasa (Figura 1) como um semióforo, pois o mesmo objeto, mesmo não sendo pertencente dos assentados entrevistados, foi capaz de evocar memórias dos assentados. Figura 1- Ferro a brasa utilizado na pesquisa

Fonte: GEPTER, 2017.

Vanda Mesquita, assentada pertencente à Gleba XV de Novembro, rememorou, ao ver o ferro à brasa, que, quando ia passar as roupas, havia um extenso processo, segundo a entrevistada: Lá vai a gente esquentar esse ferro, e molhava com paninho, pra ficar úmido e passar. Depois que você chacoalha assim que ele voa a cinza, você limpa com um pano molhado, limpa bem limpinho, que muitas vezes sujam sim, aí você tinha que lavar de novo (MESQUITA, 2018).

Por meio do relato de Vanda, é possível observar que o ferro à brasa lhe remete a uma lembrança de trabalho árduo, bem como mencionado por Ferrioli et al. (2013) sobre o uso desse ;

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instrumento pelas mulheres. Tal relato assemelha-se ao de Maria Francisca dos Santos, pertencente ao assentamento Gleba XV de Novembro, ao evocar que se colocava “sabugo de milho, outros colocava brasa, eu colocava brasa, de lenha. Chacoalhava ele assim, pra ele acender a brasa, ai ele esquentava, bem quente, ai passava a roupa. Como era ruim pra passar roupa, não tenho muita saudade não” (SANTOS, 2017, grifo nosso) Já Francisco Siqueira, pertencente ao assentamento Bonanza, lembra-se de uma vez na qual ele se queimou com tal objeto, segundo o entrevistado sua mãe “tava passando roupa assim, e eu vinha correndo [...] ai eu gritei: –Mamãe!, e vim correndo pra pega nela, ai ela se virou, e botou o ferro, ai eu lasquei a barriga” (SIQUEIRA, 2018). A memória de Francisco já remete a uma memória negativa quanto a um acidente que vivenciou. Sendo assim, é necessário compreender o fato de que "[...] guardamos aquilo que, por um motivo ou outro, tem ou teve algum significado em nossas vidas” (WORCMAN, 2013, p. 201) e esses significados podem ser positivos ou negativos. Edvalda da Silva, pertencente ao assentamento Gleba XV de Novembro, também possui uma recordação negativa sobre o ferro à brasa. Recordando sobre o objeto, a assentada mencionou que: Minha lembrança ruim, porque um dia nós com pressa pra ir pra missa, meu menino tinha o que uns quatro anos e a gente tinha que por a brasa e aquecer né, ficar aquecendo, e ele era muito arteiro, meu marido chacoalhando pra poder esquentar pra nos passar roupa pra ir pra missa, quando pensa que não ele entrou atrás, acertou bem aqui [...]. (SILVA, 2018)

Assim, torna-se possível visualizar que a função usual (prática) do ferro à brasa foi esvaziada do objeto e, na conjuntura atual, transformou-se em semióforo e museália. Segundo Thomaz (2012, p. 211), “através do patrimônio o indivíduo sequestra um pedaço do passado, sob a forma de totens pessoais [...]".

CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio dessas discussões iniciais, tornou-se possível entender que o ferro à brasa, ao adentrar no acervo do Museu do Assentado, perdeu seu caráter funcional e foi recoberto com diferentes tipos de memórias. Além disso, o ferro à brasa, de modo geral, evocou nos entrevistados memórias negativas, seja por conta dos acidentes ocorridos ou pelo desgaste físico necessário para utilizar tal objeto. Portanto, torna-se interessante observar como um único objeto evoca diferentes tipos de memórias individuais, mas que acabam sendo parecidas do ponto de vista coletivo. Ademais, é visível que o ferro à brasa foi e é um elemento significativo na vida dos entrevistados e tal fato reitera sua existência no Museu do Assentado. REFERÊNCIAS BOLAÑOS, M. (Ed.). La memoria del mundo: cien años de museología, 1900-2000. Gijón: Ediciones Trea, 2002. ;

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COISAS DA ROÇA. A invenção do ferro a brasa. Disponível em https://www.coisasdaroca.com/coisas-antigas-da-roca/invencao-ferro-a-brasa.html. Acesso em: 29 set. 2018. DUARTE, A. Nova Museologia: os pontapés de saída de uma abordagem ainda Inovadora. Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, Rio de Janeiro, v. 6 n.1, 2013. FERRIOLI, A. C. A. et al. Estudo da aplicação da ergonomia aliada ao design no uso doméstico para o ato de passar roupa e seus utensílios. CONGRESSO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FSG. Anais [...]. Faculdade da Serra Gaúcha: 2013. GONÇALVES, L. G. M. Os saberes, fazeres e dizeres do campo: o futuro Museu do Assentado no município de Rosana/SP. 2018. Monografia (Bacharelado em turismo) - Universidade Estadual Paulista-UNESP, Câmpus de Rosana, São Paulo, 2018. GONÇALVES, L. G. M.; THOMAZ, R. C. C. O museu no espaço rural: percursos para a constituição do futuro Museu do Assentado no município de Rosana/SP. In: ANJOS, S. J. G. dos.; ANJOS, F. A. dos; ANGELI, N. P. (Orgs.). Turismo e Gestão de Crises. Itajaí: Univali, 2019, v. 12, p. 167-193. MESQUITA, V. N. Entrevista com Vanda Noronha Mesquita cedida ao Museu do Assentado. Gleba XV de Novembro- Rosana/SP, 12 abr. 2018. POMIAN, K. Colecção. In: Enciclopédia Einaudi. 1. Memória-História. Porto: Imprensa Oficial – Casa da Moeda, 1985. p. 51-86. SANTOS, M. F. dos. Entrevista com Maria Francisca dos Santos cedida ao Museu do Assentado. Gleba XV de Novembro- Rosana/SP, 17 abr. 2017. SILVA, E. M. da. Entrevista com Edvalda Maria da Silva cedida ao Museu do Assentado. Gleba XV de Novembro- Rosana/SP, 11 abr. 2018. SILVA, M. F. da.; ALMEIDA, J. A. Turismo rural: família patrimônio e trabalho. RIEDL, M.; ALMEIDA, J. A.; VIANA, A. L. B. Turismo rural: tendências e sustentabilidade. Santa Cruz do Sul/RS: EDUNISC, 2002, p. 165-203. SIQUEIRA, F. A. P. Entrevista com Francisco Alaor Pinheiro Siqueira cedida ao Museu do Assentado. Bonanza- Rosana/SP, 29 jul. 2018. THOMAZ, R. C. C. Patrimônio, cultura e turismo no espaço rural galego- Espanha. p. 199- 226. In: THOMAZ, R; C. C; MARIANI, M. A. P; MORETTI, E. C. O turismo e as territorialidades na perspectiva do campo e da cidade. Campo Grande/MS: Editora UFMS, 2012.

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VARINE, H. de. O museu comunitário como processo continuado. Cadernos do CEOM, ano 27, n. 41, p. 25-35. dez. 2014. WORCMAN, K. História oral, histórias de vida e transformação. In: SANTHIAGO, R.; MAGALHÃES, V. B de. Depois da utopia: A história oral em seu tempo. São Paulo: Letra e Voz: Fapesp, 2013.

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UM ESTUDO COMPARATIVO DO POSICIONAMENTO DOS HOTÉIS NO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO – SP¹ BARBIERO, MURILO 2 NASCIMENTO FILHO, FRANCISCO BARBOSA DO

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murilo.barbiero@unesp.br, francisco.nascimento@unesp.br 1

Trabalho em desenvolvimento, proposta de projeto de pesquisa não executado. Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Doutor em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí — UNIVALI - Campus de Balneário Camboriú- SC, Mestre em Educação pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), graduado em Turismo pela Universidade Potiguar, Natal/RN. Docente da Faculdade de Turismo do Campus Experimental de Rosana — UNESP- Rosana/SP 2

RESUMO - O turismo no Brasil tem sido observado e trabalhado como uma variável importante para as melhorias no desenvolvimento e crescimento da economia das áreas sociais, culturais e ambientais, das localidades onde a atividade turística se instala e se desenvolve. Tendo isso em vista, a presente pesquisa se propõe a realizar um estudo analítico sobre os hotéis apontados pelo Tripadvisor no Rio de Janeiro e São Paulo – SP, totalizando os 10 (dez) melhores hotéis de cada cidade, com o objetivo de compreender o posicionamento dos hotéis pesquisados por meio dos comentários postados no referido site. Este estudo é do tipo qualitativo e desenvolver-se-á realizando pesquisa bibliográfica para construção do referencial teórico e também a análise dos comentários por meio do software Iramuteq, apresentando a análise de similitude dos comentários dos hotéis de cada cidade. Como resultado, será realizada a comparação entre as análises dos empreendimentos das cidades. Palavras-chave: Turismo; Marketing Turístico; Hotelaria; Tripadvisor.

1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento da atividade turística vem se constituindo num fenômeno Mundial que corrobora em larga escala com a possibilidade de geração de emprego e renda. Segundo a Organização Mundial de turismo das Nações Unidas - UNWTO (2007), a representatividade do Turismo na economia é de 5% do produto interno bruto mundial (PIB) e também próximo de 7% do emprego no mundo. O turismo no Brasil tem sido observado e trabalhado como uma variável importante para as melhorias no desenvolvimento e crescimento da economia das áreas sociais, culturais e ambientais, das localidades onde a atividade turística se instala e se desenvolve. Visando à receptividade, hospitalidade e à infraestrutura turística dos Restaurantes, que são elementos de vital importância para o pleno exercício e progresso do turismo nas localidades onde se alcança um representativo fluxo de visitantes. A atividade turística se classifica como o quinto produto gerador de divisas no Brasil, cumprindo, assim, seu papel de geração de emprego e renda nos mais diversos locais do território nacional onde se instala. A presente proposta de pesquisa se justifica visando à academia e à prática junto ao universo pesquisado, pois a pesquisa será executada buscando inovar e corroborar com ;

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rejuvenescimento na maneira de gerir os empreendimentos de restauração principalmente nas ações de posicionamento. O estudo comparativo de posicionamento dos restaurantes nas duas cidades justifica-se pelo fato de apresentarem uma vocação para o turismo já consolidada e comprovada movimentação de turistas, devido às localizações geográficas caracterizadas por possuírem atrativos expressivos no cenário nacional e internacional, sendo perceptível o desenvolvimento do turismo de aventura, turismo gastronômico, turismo de compras, entre outros. A presente proposta de estudo visa suscitar o aprofundamento teórico sobre a problemática levantada, bem como despertar o debate junto à comunidade acadêmica das Ciências Sociais, as quais foram aplicadas no segmento de gestão de restaurantes, especialmente com intuito de refletir sobre a satisfação do cliente, sobre o posicionamento do empreendimento junto ao seu grupo estratégico e, por fim, sobre a evolução econômica do mercado turístico. A partir dos resultados obtidos, é esperada a sugestão de propostas para uma melhor adequação das proposições de marketing e a melhor gestão do posicionamento das empresas de restaurante no mercado turístico. 2. METODOLOGIA A pesquisa estará centrada na identificação dos hotéis em São Paulo e Rio de Janeiro, por meio do site de viagens Tripadvisor, que conta com a opinião dos clientes frequentadores e usuários que ranqueiam e classificam os empreendimentos por meio das opiniões pessoais explicitadas no site. A quantidade de comentários selecionados irá se basear em Sampieri, Collado e Lucio (2013), que sugerem um tamanho mínimo de amostras entre 30 e 50 casos. Para a coleta de dados será adotado um recorte temporal nos comentários, de cada empreendimento, no ano de 2019, elemento norteador para referência e escolha dos hotéis como objetos de pesquisa. Posteriormente à coleta, eles serão codificados para a tabulação no software IRAMUTEQ – que é um software gratuito e desenvolvido na Universidade de Toulouse – França, sob a lógica da open source, licenciado por GNU (v2). O software Iramuteq ancora-se no ambiente estatístico do software R e na linguagem Python (www.python.org). Este software viabiliza diferentes tipos de análise de dados textuais, desde aquelas bem simples, como a lexicografia básica (cálculo de frequência de palavras), até análises multivariadas (classificação hierárquica descendente e análise de similitude). Organiza a distribuição do vocabulário de forma compreensível e visualmente clara (análise de similitude e nuvem de palavras). 3. DISCUSSÃO TEÓRICA Com a evolução mundial do capitalismo industrial, houve uma força sobre o desenvolvimento da atividade do Turismo. Situando isso na realidade brasileira, percebe-se que nos anos 1960 permitiu a acentuação da formação do fenômeno econômico, que tem como foco principal o deslocamento de pessoas pelos mais diversos motivos como lazer, trabalho e saúde, conforme destaca Moesch (2000), ao fornecer dados estatísticos e mostrar a importância do Turismo como força Econômica Desde 1995 o fluxo turístico cresce a uma taxa anual média de 4,3%, enquanto a expansão máxima da riqueza mundial tem sido de 3% aproximadamente. Em 1997 o setor empregava 250 milhões de pessoas, sendo uma em cada dez pessoas da população mundial economicamente ativa ;

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conforme a 1998. Levando em conta a ampliação da atividade turística entre o próprio perfil do turista, Ansarah (2002) afirma que o turismo é uma atividade de utilização intensa de capital humano, e somente o ensino e a formação de mão de obra especializada poderão responder aos desafios que o setor enfrenta. Isso, mais especificamente significa, que verificamos na gestão dos Empreendimentos de restauração. 3.1 Marketing Turístico O marketing traz na sua principal prerrogativa a manutenção e a conquista de clientes, todavia a principal intenção do marketing turístico não poderá se deter exclusivamente na captação e aumento de clientes para o destino turístico, nas variáveis que unem o turista e os municípios, que entre outras variáveis podem maximizar a lucratividade dos empreendimentos do destino e otimizar os impactos do Turismo, garantindo um balanço sustentável entre os benefícios econômicos e os custos socioculturais e ambientais, aos que visitam o destino buscam maximizar a sua satisfação como turista (BUHALIS, 2000). O marketing e suas ferramentas não devem ser vistos como variável para potencializar a venda somente, mais como a possibilidade específica de gerenciamento e coordenação do destino turístico. Pois o marketing turístico é o resultado da adaptação dos princípios básicos do marketing que tem se desenvolvido e foram aplicados ao longo de décadas (MIDDLETON; CLARK, 2002). No decorrer do tempo percebe-se a transformação dos conceitos de marketing, que busca não só abrangência aos bens e produtos físicos, mais também os serviços, deixando clara a proximidade com o marketing turístico. A ideia central do marketing já não Visa apenas satisfazer as necessidades dos clientes, mais também aos envolvidos no mercado (COOPER; HALL, 2008). Sobre a orientação para produção, é evidenciada pela oferta de produtos e serviços o que caracteriza a demanda maior do que a oferta (PIKE, 2004). Com a orientação para as vendas existindo, e o aumento de produtos disponíveis, os produtores aumentaram seus esforços nas vendas e no convencimento dos consumidores a comprarem a preocupação de buscar entender o processo de tomada de decisão pelo comprador (COOPER; HALL, 2008). Já a orientação para o marketing, com o aumento da concorrência, os produtores buscam entender qual é a necessidade do seu consumidor visando adequar seu produto e consequentemente satisfazer o cliente (PIKE, 2004). 3.2 Os Hotéis No meio de uma vasta gama de elementos do turismo está o setor de meios de hospedagem, que é um elemento fundamental na atividade turística. Barreto (2007) diz que a hotelaria nasceu como um elemento complementar do turismo. A partir do século XII as hospedarias já eram vistas nas estradas europeias e aos poucos os países como França e Inglaterra implantavam leis para regulamentar a atividade. Quando os meios de hospedagem surgiram no Brasil, passaram por diversas fases, oportunidade em que a rede internacional Hilton se instalou em São Paulo, nos anos de 1970. O reconhecimento da hotelaria no país aconteceu quando a atividade começou a ser geradora de emprego e renda, assim surgiram novos interessados no desenvolvimento do setor hoteleiro nacional (BONFATO, 2006). ;

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Os meios de hospedagem operam no mercado turístico recebendo hóspedes e oferecendo um serviço de hospedagem, lazer, alimentos e bebidas, internet, estacionamento, serviços de quartos. 4. CONCLUSÃO Os resultados e conclusões esperados deste estudo “Um estudo comparativo do posicionamento dos hotéis no Rio de Janeiro e São Paulo” serão apresentados em Banca de TCC da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP bem como será feita a publicação das descobertas e conclusões da pesquisa em periódicos científicos. Neste momento, são relacionadas as diversas ideias desenvolvidas ao longo do projeto, em um processo de síntese das leituras e buscas em geral, com os comentários dos autores e as contribuições trazidas pela elaboração do projeto vislumbrando o desenvolvimento da pesquisa. Ela pode indicar novos questionamentos no que tange às práticas de posicionamento dos hotéis a partir da conclusão deste projeto e que poderão inspirar outras investigações. REFERÊNCIAS ANSARAH, M. O pesquisador e seu Outro: Bakhtin nas Ciências Humanas, São Paulo: Musa, 2004. BONFATO, A. C. Desenvolvimento de Hotéis: Estudos de Viabilidade. São Paulo: Senac, 2006. BUHALIS, D. Marketing the competitive destination of the future. Tourism Management, v. 21, p. 96-116, 2000. COOPER, C.; HALL, C. Contemporary Tourism Marketing. Oxford: Butterworth Heinemann, 2008. MIDDLETON, V.; CLARKE, J. Marketing in Travel and Tourism. 3. ed. Oxford: Butterworth Heinemann, 2002. MOESCH, M. M. A produção do saber turístico. São Paulo: Contexto, 2000. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Aide au développement de I’OMT. Madrid: OMT, 2007. PIKE, S. Destination Marketing Organisations. Netherlands: Elsevier, 2004. PITTE, J. R. Nascimento e expansão dos restaurantes. In: PITTE, J. R. História da alimentação/ sob a direção de Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari. Tradução de Luciano Vieira Machado e Guilherme J. F. Teixeira. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.

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OBSERVATÓRIO TURÍSTICO INTERMUNICIPAL - ANÁLISE PARCIAL DO EVENTO “CAMPEONATO DE JET SKI” NO BALNEÁRIO DE ROSANA¹ LOPES, GIULIANE RODRIGUES² MARTINS, GABRIELY SILVA³ THOMAZ, ROSÂNGELA CUSTÓDIO CORTEZ4

giuliane.m15@gmail.com, gabriely.silva@unesp.br, rosangela.thomaz@unesp.br 1 Trabalho em desenvolvimento, vinculado ao projeto de iniciação científica com bolsa CNPq. 2 Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 4 Pós-doutora em Turismo pela Universidade de Santiago de Compostela (USC) – Espanha; Doutora em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP - Brasil); docente e pesquisadora da Faculdade de Turismo do Campus de Rosana - UNESP - Rosana/SP; docente do Programa de Pósgraduação em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP de Presidente Prudente/São Paulo; tutora do GEPTER.

RESUMO - O observatório turístico intermunicipal entre a Estância Turística de Avaré e o Município de Interesse Turístico de Rosana visa, por meio da coleta de dados, contribuir para o planejamento da atividade turística nesses municípios. Nesta pesquisa, utilizaremos como objeto de estudo o evento “Campeonato Amador de Jet Ski”, que ocorreu no dia 07 de setembro de 2019, com o objetivo de compreender a demanda turística do Município de Rosana/SP. Para isso, utilizamos a metodologia qualiquantitativa e, como ferramenta, a aplicação de questionários aos turistas presentes no Balneário Municipal de Rosana no dia desse evento. Esperamos que esses dados contribuam para alimentar o banco de dados, sendo disponibilizados aos interessados pelo Observatório Turístico, e que a análise nos permita entender parcialmente a atividade turística em Rosana, indicando, preliminarmente, as possíveis soluções para o crescimento do turismo na região. Palavras-chave: Perfil da demanda turística, evento, planejamento, observatório turístico.

1. INTRODUÇÃO O observatório turístico é um banco de dados que visa à coleta de informações turísticas nos municípios de Rosana e Avaré, ambos localizados no estado de São Paulo. O município de Avaré recebe a nomeação de Estância Turística desde 2002 e conta com recursos do DADETURDepartamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos. No entanto, essa pesquisa visa a analisar, prioritariamente, a demanda de turistas de Rosana, a partir do evento “Campeonato de Jet Ski”, que ocorreu no dia 07 de setembro de 2019. Rosana é um município que se localiza no extremo oeste do estado de São Paulo, na tríplice fronteira com Mato Grosso do Sul e Paraná, possui ricas belezas naturais com paisagens belíssimas, dois grandes rios sendo eles o rio Paraná e o rio Paranapanema, porções de mata atlântica preservada e um dos atrativos mais importantes do município, o Balneário Municipal de Rosana, advindo do alagamento da criação da barragem da Hidrelétrica “Engenheiro Sérgio Motta”, no início da fundação da cidade. Além de possuir uma grande hidrelétrica, o município conta com mais 4 assentamentos rurais, onde é possível realizar algumas atividades voltadas para turismo ;

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rural, permitindo o contato com a natureza e um ambiente cultural extremamente rico de conhecimento e belezas naturais. Conhecido como o mais belo município do Pontal do Paranapanema, Rosana conta com um distrito que foi construído de forma totalmente planejada para receber os barrageiros que ali chegavam, suas ruas foram construídas em formato de ondas e a igreja principal localizada no distrito de Primavera, possui um formato de proa de barco (ROSANA, 2014). Além disso, o município conta com alguns eventos culturais e turísticos, que utilizam seu maior recurso natural, o Rio Paraná, como é o caso do evento utilizado como objeto de estudo nesta análise. Possuindo uma grande potencialidade para o desenvolvimento do turismo no município, Rosana recebe, desde 2017, o título de Município de Interesse Turístico, recebendo 550 mil reais em recursos voltados para a infraestrutura turística (AMITur, 2019). No entanto, nenhum dos dois municípios, com grande importância turística e recebendo recursos para sua subsistência, acompanham o crescimento da atividade por meio de análises de dados para o planejamento adequado. Percebendo tal dificuldade por parte desses municípios, os grupos de pesquisa GEPTERGrupo de Estudos e pesquisas de Turismo no Espaço Rural- da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- UNESP, localizado em Rosana e o GEHLA- Grupo de Estudos em Hospitalidade e Lazer, do Instituto Federal de São Paulo- IFSP de Avaré, seguindo o exemplo do trabalho realizado pelo CETUR- Centro de Estudos e Investigações Turística da Universidade de Santiago de Compostela na Espanha, lançaram o projeto de implementação do observatório turístico nas duas localidades, para que a atividade turística seja acompanhada, analisada e planejada de forma correta, visando ao crescimento sustentável desses municípios. Com esse propósito, analisamos o evento Campeonato de Jet Ski, que ocorreu no Balneário Municipal de Rosana, no dia 07 de setembro, para compreender como os turistas percebem a atividade turística no município e meios de deslocamento. Dessa forma, podemos observar a percepção desses turistas em relação à atividade turística no município de Rosana, como melhorias, dificuldades, organização e planejamento do evento, hospedagem, restaurantes e afins. Para essa análise, foram aplicados 50 questionários com perguntas fechadas nos quais continham informações como origem, motivação da viagem, atrativos, entre outros e uma pergunta aberta sobre quais as melhorias que deveriam ocorrer no destino e sugestões para tais melhorias. Além disso, o GEPTER realizou uma breve discussão sobre a percepção do que foi observado durante todo o andamento do evento. Esses dados serão disponibilizados ao fim da pesquisa, através do observatório turístico, para as prefeituras e interessados no planejamento adequado do turismo em Rosana. 2. METODOLOGIA O desenvolvimento desta pesquisa, com foco na implantação do Observatório Turístico de Rosana, será realizado a partir do Know-how do Centro de Estudos e Investigacións Turísticas da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, com uma abordagem qualiquantitativa, utilizando questionários e entrevistas com os turistas e o trade turístico a fim de verificar o perfil do turista, motivações, tempo de permanência, hospedagem, transporte e afins, que permitirão conhecer a demanda que frequenta o município de Rosana. Além disso, será feita uma pesquisa qualitativa com os moradores locais, com o objetivo de analisar qual a percepção deles em relação ;

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ao turismo na cidade, verificando sob a ótica deles, que conhecem o município, o que pode ser ofertado e melhorado para o crescimento do turismo na região. Para a análise dos dados, será utilizado o aplicativo do software IBM SPPS-BRASIL-IBM, muito utilizado pelas áreas das ciências sociais, pois permite o cruzamento de dados de textos e estatísticos, transformando-os em informações importantes. Será utilizado também o SPSS Data Editor, que permite trabalhar com dados de grande dimensão, fazendo testes de correlação, multicolinearidade e formulação de hipóteses, ordenando e reorganizando os dados e as informações coletadas. Para a análise parcial dos dados coletados no evento, foi feita apenas a tabulação desses dados, devido ao fato de o projeto ainda estar em sua fase inicial e, futuramente, passará para a fase de análise e integralização de dados, cruzando-os com as informações coletadas por Avaré e disponibilizados no observatório. 3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para esta pesquisa, foram aplicados 50 questionários aos turistas que estavam no balneário no dia do evento, contando com 15 questões acerca da atividade turística de Rosana e sobre o turismo rural em seus 4 assentamentos. No entanto, para essa análise parcial de dados, utilizaremos apenas os resultados das 3 questões consideradas mais relevantes, sendo elas: o destino desses turistas a fim de conhecer a demanda turística do município, a motivação a fim de verificar se o que os trouxe até Rosana foi de fato o evento ou foram motivados por outras razões e, por fim, qual a opinião desses em relação ao evento que estava acontecendo e ao turismo de forma geral. A seguir, temos o quadro 1, que mostra a origem dos turistas que estavam no evento. Quadro 1 – Origem dos turistas.

Fonte: Banco de dados – Acervo GEPTER, 2019. ;

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Por meio desses dados, é possível perceber que a maioria dos turistas que visita o Município de Rosana são turistas de regiões próximas, principalmente do Paraná, com 29 turistas, sendo 10 apenas de Maringá que já conhecem ou ouviram falar do município de Rosana. Além disso, encontramos um grupo de turistas do estado de Minas Gerais que coincidiram de estar na cidade visitando parentes no dia do evento mencionado. No quadro 2, a seguir, observamos quais foram as motivações desses turistas. Quadro 2 – Motivação dos turistas do evento “Campeonato de Jet Ski”, Balneário Municipal de Rosana.

Fonte: Banco

de dados – Acervo GEPTER, 2019.

Nesse segundo quadro, observamos que dos turistas que estavam no balneário no dia do evento, 29 consideraram sua maior motivação o lazer e não o evento em si, apenas 13 turistas disseram ser o maior motivo de visitação o evento. Importante ressaltar, ainda, que a coincidência do número de turistas do Paraná ser a mesma quantia da motivação, esses números não possuem relação direta, podendo variar entre os turistas de outros estados. Também foi perguntado quais os problemas que esses turistas enfrentaram no município e o que poderia ser melhorado. Nesse momento, ressaltamos apenas alguns resultados, sendo eles a falta de um número maior de meios de hospedagem e a falta de hospitalidade, além da quantidade e diversificação dos restaurantes no balneário, o que ocasionou na superlotação dos restaurantes que não atenderam a contento a demanda, resultando na demora e falta de alimentos. Além disso, constatou-se também a deficiência de infraestrutura no balneário, como limpeza dos banheiros, quantidade insuficiente de duchas e, principalmente, a área inadequada de camping, segundo os entrevistados: espaço improvisado, barulho durante a madrugada, falta de banheiros privativos com ducha, falta de pontos de energia. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após esses resultados parciais, podemos considerar que o Município de Interesse Turístico de Rosana possui um grande potencial para o desenvolvimento do turismo e, de fato, vem fazendo algumas ações para esse fim. No entanto, é possível ver que não existe um planejamento adequado da atividade. Ressaltamos a importância desta pesquisa do Observatório Turístico, pois permite, a priori, perceber, segundo os dados, as possibilidades de melhorar o turismo, como capacitação do trade por meio de treinamento profissional para que os profissionais do trade turístico saibam como tratar esses turistas que chegam na cidade, entender como está sendo feito o marketing do município, visto que a maior parte dos turistas não vieram motivados pelo evento, além de fazer a função de mediadora entre os setores públicos e privados para o desenvolvimento de novas redes de hotéis, ;

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alimentos e bebidas e incentivar os moradores locais a participarem da atividade turístico mostrando sua importância e seus benefícios como geração de emprego e renda. Dessa forma, priorizamos a capacitação do trade, a criação de infraestrutura turística de qualidade e, principalmente, o planejamento adequado do turismo na região, para que o município consiga suportar diferentes eventos em seus mais variados níveis de complexidade. REFERÊNCIAS BENI, M. C. Política e estratégia de desenvolvimento regional. Planejamento integrado do turismo. In: Rodrigues, A. B. (Ed). Turismo e Desenvolvimento Rural. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 79-86. WERNER, M. Planejamento e organização do turismo: teoria e prática. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003. 114 p. LOIS GONZÁLES, R. C.; SOLLA, X. S. La actividad turística española en 1999. In: AECID [s.n.], Madrid, 2000, pp. 353-367. SERRANO, C.; BRUHNS, H. Turini; LUCHIARI, M. T. D. P. (Orgs.). Olhares contemporâneos sobre o turismo. Campinas: Papirus, 2000. (Col. "Turismo"). THOMAZ, R. C.C. O turismo no meio rural como alternativa de desenvolvimento local no Pontal do Paranapanema. LACSO – Equador – Quito, 2006. THOMAZ, R. C. C. Observatório Turístico Intermunicipal da Estância Turística de Avaré e do Município de Interesse Turístico de Rosana (Estado de São Paulo). UNESP. Rosana/SP: Projeto de Pesquisa, 2019 (Chamada MCTIC/CNPq Nº 28/2018 - Universal/Faixa B). ROSANA. Prefeitura Municipal. Diagnóstico Turístico. In: Diagnóstico Turístico. [S. l.], 2014. Disponível em: http://www.rosana.sp.gov.br/diagnostico-turistico/DIAGNOSTICOTURISTICO-ROSANA.pdf. Acesso em: 29 set. 2019.

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POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO: APONTAMENTOS LEGAIS SOBRE O PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DE TURISMO NO ESTADO DE SÃO PAULO FLORIANO, CAMILA DE JESUS ASSUNÇÃO1 RIBEIRO, RENATA MARIA 2 camila.floriano@unesp.br, renata.ribeiro@unesp.br 1 2

Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Professora Assistente Doutor do Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo.

RESUMO – Em decorrência da criação do Programa de Regionalização de Turismo em 2004, elaborado com a necessidade de englobar as políticas públicas de turismo em âmbito nacional, estadual e municipal, foi realizada a devida pesquisa, com o intuído de analisar as mudanças ocorridas durante os anos, desde seus primeiros registros no Mapa do Turismo em 2013, até o ano de 2019, utilizando-o como ferramenta fundamental para elaboração da pesquisa, juntamente com as pesquisas bibliográficas. Observado em números as mudanças entre a quantidade de municípios e regiões turísticas dentro do Estado de São Paulo e as exigências obrigatórias para sua participação. Palavras-chave: Turismo, Políticas Públicas, Regionalização.

1. INTRODUÇÃO A política pode ser considerada como um conjunto de normas, que têm como referência principal a polis, ou seja, o Estado. A construção da política se dá nas diversas esferas da sociedade a fim de buscar melhorias, condutas e procedimentos que possam auxiliar e conduzir o desenvolvimento da sociedade. Bobbio (1993) se refere à política como o exercício de um domínio exclusivo sobre um determinado território, legislando por meio de normas válidas para todos, transferindo e retirando recursos de um setor da sociedade para outros. A diversidade do território, suas características e peculiaridades induzem os gestores ao delineamento de determinadas políticas que possam induzir o desenvolvimento de modo satisfatório. Assim, têm-se as políticas de educação, saúde, segurança, moradia como regulares e obrigatórias em todas as esferas da governabilidade de uma cidade, estado ou nação. Entretanto, há políticas que são estruturadas a partir de determinadas particularidades, a exemplo da política de turismo, que se institui na esfera federal e estadual, mas que somente se estabelece no âmbito municipal em municípios que possuam atributos para o desenvolvimento da atividade a exemplo de recursos naturais e culturais que se transformados em produtos turísticos, podem conduzir a economia da cidade. Seguindo a definição de Goeldner, Ritchie e McIntosh (2002), pode-se distinguir a política de turismo como: Um conjunto de regulamentações, regras, diretrizes, diretivas, objetivos e estratégias de desenvolvimento e promoção que fornece uma estrutura na qual são tomadas as decisões coletivas e individuais que afetam diretamente o desenvolvimento turístico e as atividades diárias dentro de uma destinação (GOELDNER, RITCHIE E MCINTOSH, 2002, p. 249). ;

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A partir dessas definições teóricas, pode-se perceber que as políticas são importantes diretrizes de incentivo para as políticas públicas de turismo aplicada aos municípios, uma vez que estruturadas como tal, podem surtir resultados positivos à cidade, primeiro com incentivos financeiros advindos de políticas favoráveis ao uso do recurso público para o turismo, tanto para alavancar projetos turísticos de infraestrutura básica e turística em espaços públicos que possam dar condições de investimentos privados aos empreendedores. Em uma visão clara, investimentos podem gerar visibilidade aos municípios que tenham potencial turístico, atraindo demanda de visitantes, geração de serviços e produtos que modifiquem cenários econômicos estagnados ou pouco produtivos. Uma das principais diretrizes tomadas pela política pública de turismo, foi o Programa de Regionalização de turismo, criado com o objetivo de integrar e desenvolver as regiões do país, fazendo uma ligação entre o Ministério do Turismo, o Estado e os municípios brasileiros. Este trabalho tem como justificativa demonstrar, de uma maneira simplificada, como as políticas públicas nacionais de turismo auxiliam no desenvolvimento de pequenas regiões, como é o caso do Programa de Regionalização de Turismo, criado pelo Ministério do Turismo, observando suas mudanças dentro do Estado de São Paulo. O objetivo desta pesquisa foi analisar o desenvolvimento das políticas públicas de turismo, por meio do Programa de Regionalização do Turismo, observando as mudanças em números entre os anos de 2013 a 2019, dentro do Estado de São Paulo. 2. METODOLOGIA A metodologia utilizada neste trabalho é de caráter exploratório, utilizando dados do site do Ministério do Turismo em sua plataforma do Mapa do Turismo (2019-2022). Também foram realizadas pesquisas bibliográficas e a apresentação das legislações de turismo em âmbito nacional e estadual, além da elaboração de uma tabela comparativa em relação aos de 2013, 2016, 2017 e 2019 da regionalização do turismo do Estado de São Paulo. 3. DISCUSSÃO 3.1 Política Nacional de Turismo Os primeiros indícios da atuação do Estado Brasileiro perante a valorização das atividades turísticas têm início no ano de 1938, quando surgiram os primeiros sinais de interferências do estado, com o Decreto 406, estabelecendo autorização governamental para a venda de passagens aéreas, marítimas e rodoviárias. Um ano depois, em 1939, foi criado o Decreto 1.915, que se faz a Divisão de Turismo, sendo considerada como um organismo oficial de turismo de administração pública federal. O turismo, nessa fase, passou por várias mudanças e tentativas de organizações dentro do segmento. Apenas 12 anos depois, em 1958, por meio do Decreto 44.863, foi criada a Comissão Brasileira de Turismo (COMBRATUR), tendo como finalidade coordenar, planejar e supervisionar a execução da política nacional de turismo, com o objetivo de facilitar o crescimento do País, no que refere ao turismo nacional e internacional, além de dar os primeiros indícios para a criação de uma Política Nacional de Turismo. O Turismo no país teve um vasto crescimento, gerando programas e leis que fizessem com que chegasse até a criação do Ministério do Turismo (MTUR), em 2003, originado para firmar o ;

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objetivo do governo federal em desenvolver o turismo no país como atividade econômica autossustentável, trazendo uma geração de empregos e proporcionando uma inclusão social em nível nacional e internacional. Com a concretização do Ministério do Turismo no país, houve uma adoção de medidas relativas ao desenvolvimento do turismo a partir da reformulação do Plano Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), criado em 1994, com o propósito de descentralizar as atividades de planejamento para os municípios, logo, ampliando os programas para um nível regional, surgindo, então, o Programa de Regionalização de Turismo, em 2004. O Programa foi elaborado com a necessidade de melhoria do PNMT, reestruturando o objetivo central do programa para uma melhor conexão entre o âmbito federal, com o Estado, Município e Sociedade. Dessa forma, destacando a Regionalização como eixo norteador do programa: A Regionalização do Turismo é um modelo de gestão da política pública descentralizada, coordenada e integrada, baseada nos princípios da flexibilidade, articulação, mobilização, cooperação intersetorial e interinstitucional e na sinergia de decisões. Regionalizar é transformar a ação centrada na unidade municipal em uma política pública mobilizadora, capaz de provocar mudanças, sistematizar o planejamento e coordenar o processo de desenvolvimento local e regional, estadual, nacional de forma articulada e compartilhada. (BRASIL, 2004).

Beni (2006) relata a regionalização turística como corredores turísticos, sendo vias de acesso que ligam principais pontos turísticos de uma região, fazendo com que os turistas passem por outros lugares até chegar ao ponto principal, assim, desenvolvendo e criando toda uma região turística. Em agosto de 2019, foi adotado pelo Ministério do Turismo o novo Mapa do Turismo Brasileiro (2019-2021) pela portaria 271/2019, indicando 2.694 municípios distribuídos em 333 regiões turísticas, sendo priorizados pelo Plano Nacional de Turismo, segundo a Lei 11.771/2008. 2.2 As Políticas de Turismo no Estado de São Paulo e a Regionalização No estado de São Paulo, as primeiras estruturas de organização de uma política pública para turismo em âmbito municipal surgiram em meados de 1971, quando foi instituída a lei para criação das estâncias turísticas. A partir dessa lei, foram criados diversos mecanismos para o desenvolvimento desses municípios denominados Estância Turística. A exemplo, pode-se citar o Fundo de Melhoria das Estâncias gerenciado pelo DADETUR - Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos, que na época e atualmente gerencia os recursos e analisa projetos turísticos apresentados pelos municípios. Desde 197, as ações políticas para o desenvolvimento do turismo eram incipientes, uma vez que as leis isoladas do contexto de uma política estadual delimitavam ações restritas aos municípios que tinham alguma vocação ao turismo. Um novo patamar de estruturação se deu a partir da criação da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, mais especificamente no dia 1º de janeiro de 2011, pelo decreto nº 56.635, tendo como objetivo principal a criação de turismo como gerador de economia, visando à criação de emprego e renda para os municípios envolvidos com o turismo, nesse caso específico. Com a instituição da Secretaria de Turismo (2011), o apoio técnico aos municípios se torna maior, já que a secretaria tem como função organizar e estabelecer estrutura legal e organizacional ao turismo ;

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baseado em uma fundamentação técnica comum e de condução coletiva para o desenvolvimento do turismo na esfera estadual. Com o Programa de Regionalização já firmado pelo Ministério do Turismo em 2004, os municípios do estado de São Paulo, assim como os outros municípios brasileiros tiveram a oportunidade de estarem inseridos no mapa da Regionalização de Turismo. Para que pudessem fazer parte do programa, teriam que possuir requisitos mínimos para tal título, como exemplo: Lei municipal de turismo vigente; Fundo municipal para o turismo; Diagnóstico da oferta turística; Estudo de demanda turística; Plano municipal de turismo entre uma série de outras exigências. Foi observado, no decorrer da pesquisa, que, desde sua criação em 2004, apenas houve registros dentro do Mapa Turístico em 2013, assim, fazendo parte de início 645 municípios do estado de São Paulo divididos em 34 regiões turísticas, um número bem alto para uma pequena quantidade de regiões turísticas. Em 2016, com a atualização do Plano Nacional de Turismo, o número caiu para 222 municípios e 28 regiões turísticas, um ano depois, com a reformulação do PNT, o número aumentou para 432 municípios e 51 regiões turísticas. Atualmente, com o novo Mapa Turístico atualizado, o número, mais uma vez, foi reduzido de 432 para 354 municípios, mesmo com o aumento das regiões turísticas. Observando, então, que um dos motivos foram os critérios de seleção dos municípios para 2019, baseados na Portaria nº 192, de 27 de dezembro de 2018, que delimita critérios obrigatórios para sua participação, como, por exemplo: orçamento próprio para o turismo e possuir prestadores de serviços turísticos de cadastro obrigatório registrados no Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (CADASTUR) do Ministério do Turismo. Tabela 1 – Regionalização Estado de São Paulo

Ano 2013 2016 2017 2019

SÃO PAULO Nº de Municípios 645 222 432 354

Nº de Regiões 34 28 51 49

Fonte: Brasil, 2019

Percebe-se, então, que as políticas públicas de turismo, juntamente com o Programa de Regionalização de Turismo, estão em constante evolução e mudança, isso pode ser dado de forma concreta nos números de municípios e regiões turísticas que variam durante os anos. CONCLUSÃO As considerações preliminares sobre o estudo partem de um escopo maior do Trabalho de Conclusão de Curso, sendo de extrema importância para o planejamento dos municípios que possuem potencialidade turística e que não dispõem de incentivos ou legislações municipais que conduzam e tracem diretrizes corretas para esse desenvolvimento. Diante disso, tem-se uma necessidade de que as leis nacionais e estaduais possam definir determinados indicadores para que esses municípios possam buscar o desenvolvimento das atividades turísticas e, posteriormente, resultando no crescimento social e econômico de toda uma região. ;

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REFERÊNCIAS BENI, M. C. Política e Planejamento de Turismo no Brasil. São Paulo: Aleph, 2006. BOBBIO, N. Política. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. (Editores). Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1993. BRASIL. Ministério Do Turismo. Programa de Regionalização - Diretrizes. Brasília/DF: MT, 2004. BRASIL. Ministério do Turismo. Mapa do Turismo Brasileiro. Disponível em: http://www.mapa.turismo.gov.br/mapa/. Acesso em: 18 dez. 2019. BRASIL. Ministério do Turismo. Portaria nº 192, de 27 de dezembro de 2018. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/2018/162-portarias-intra/2018/12256-portaria-n%C2%BA-192,-de27-de-dezembro-de-2018.html. Acesso em: 18 dez. 2019. GOELDNER, C. R., RITCHIE, J. R. B.; MCINTOSH, R. W. Turismo: princípios, práticas e filosofias. 8 ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.

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EFETIVIDADE DAS REDES SOCIAIS DO PET TURISMO COMO CANAL DE COMUNICAÇÃO¹ ANDRE, AMANDA OTILIA¹ GALENO, BEATRIZ GOMES PINHEIRO 2 VIOLIN, FÁBIO LUCIANO 3

amanda.otilia@unesp.br, beatriz.galeno@unesp.br, fabio.violin@unesp.br 1

Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. Graduanda em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana, São Paulo. 3 (Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional (UNIDERP). Professor Doutor Assistente na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”). 2

RESUMO – Com o avanço da tecnologia e o surgimento de novos meios de comunicação, as redes sociais ganharam espaço e se tornaram essenciais para o mercado, assim, o turismo passou a se utilizar de tais tecnologias para promover seus serviços e notícias vinculadas a sua atividade. Desse modo, o trabalho tem como objetivo analisar as redes sociais do Grupo PET Turismo, com o intuito de verificar a efetividade que as mesmas detêm em divulgar as notícias de turismo e as atividades realizadas pelo grupo. A metodologia do trabalho se deu, inicialmente, por uma pesquisa bibliográfica sobre os temas abordados e, em seguida, foi feita a análise das redes sociais com os dados obtidos, sendo eles, o alcance e as curtidas das publicações. Com a análise, foi possível concluir que as redes sociais do Grupo possuem grande influência na divulgação de conteúdos do turismo e das atividades do PET. Palavras-chave: Redes Sociais, Turismo, PET Turismo.

1. INTRODUÇÃO A comunicação foi indispensável para o desenvolvimento da sociedade e trouxe importantes conquistas, sendo a internet uma das mais relevantes. Desse modo, com o avanço da internet, o surgimento das mídias sociais e, posteriormente, das redes sociais teve impacto no mercado e em como ele se estabelece, sendo o turismo um deles. Assim, o turismo passou a utilizar esses meios de comunicação como forma de divulgar os seus serviços, além das notícias envolvendo a atividade. Em vista disso, as redes sociais se tornaram um importante canal de comunicação. Nesse sentido, o objeto de estudo deste trabalho são as redes sociais do Programa de Educação Tutorial – PET Turismo, que está localizado na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, no Câmpus Experimental de Rosana/SP. Além disso, devido à relevância que as redes sociais detêm, este trabalho se justifica, a fim de descobrir, por meio de uma análise, qual a efetividade das redes sociais em transmitir informações sobre o turismo e as atividades que o Grupo PET Turismo realiza.

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2. METODOLOGIA Inicialmente, este trabalho foi desenvolvido por meio de uma pesquisa bibliográfica em artigos, dissertações e sites online, para aprofundar o conhecimento sobre os assuntos a serem abordados. Além disso, foi realizada uma análise quantitativa, já que a mesma possibilita uma melhor compreensão dos dados a serem averiguados das redes sociais do Grupo PET Turismo, sendo elas, facebook e instagram. O período em que os dados foram coletados foi de maio a setembro de 2019, sendo que foram obtidos pelas contas particulares do Grupo PET, uma vez que os autores do trabalho fazem parte dele. Desse modo, a análise buscou verificar o alcance e as curtidas das publicações. Assim, o modo como os dados coletados foram apresentados se deu por meio de uma pesquisa de caráter descritivo. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 Canais de Comunicação e o Turismo A comunicação tem grande importância no desenvolvimento da sociedade, diante disso, Alves (2011, p.17), citando Cardoso (2007), afirma que: A habilidade em comunicar-se proporcionou o desenvolvimento da sociedade como a conhecemos hoje tendo como participantes da história figuras emblemáticas como: a escrita, o telégrafo, o telefone, e mais recentemente a Internet, que tornaram os meios de comunicação cada vez mais eficazes e eficientes. (ALVES, 2011, p.17)

Dessa forma, Alves (2011, p. 60) retrata que a internet se tornou popular por causa da sua “capacidade de criação e disseminação de informações por qualquer usuário.” A autora ainda pontua o surgimento das mídias como outro importante aspecto que a internet proporcionou, a tecnologia então permite desenvolver “[...] diferentes tecnologias simbólicas [...] e também de tecnologias organizadoras [...] Uma das tecnologias organizadoras é o sistema de comunicação baseado na incorporação de uma rede digitalizada por diferentes mídias, as chamadas mídias digitais [...]”. Dentro dessas mídias, encontram-se as mídias sociais, que, segundo Ferreira (2017, p. 143), reinventaram o mundo virtual, caracterizando-se como veículos interativos, pois são um meio de compartilhamento ilimitado de informações [...]. Assim, as redes sociais são uma parte das mídias sociais, fazendo com que toda rede social seja também uma mídia social. Schlithler (2011), citado por Alves (2011, p. 50), afirma que “[...] no sentido social, a rede pode ser definida como as relações entre as pessoas, sendo os atores principais as pessoas (os nós, ou laços), e a interatividade entre elas, as relações (ou os fios).” Alves (2011, p. 27) retrata que “o crescimento das redes sociais está ligado não só ao desenvolvimento da tecnologia, mas também à necessidade do ser humano de se socializar.” E Santos et al. (2017, p. 67) afirmam que as redes sociais “[...] podem ser consideradas como a principal descoberta ou achado tecnológico dos últimos tempos, o que contribui, sobremaneira, para o desenvolvimento do turismo [...]”. O turismo, então, foi agraciado pelo desenvolvimento da internet, e, segundo Santos e Kuazaqui (2004, p. 2), citados por Alves (2011, p. 18), “[...] o aperfeiçoamento tecnológico veio ;

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contribuir para a agilização e a sofisticação do setor de serviços, em especial do segmento turístico.” Desse modo, para Alves (2011, p. 18), “o turismo teve seu desenvolvimento em parte atrelado à evolução dos meios de comunicação, pois, não há turismo sem comunicação.” Assim, o turismo utiliza-se dessas tecnologias e “[...] meios de comunicação para outras funções [...]” (ALVES, 2010, p. 855), como a divulgação dos seus serviços e de informações voltadas para todos os setores da atividade, recorrendo às redes sociais para tal. Rocha et al. (2016, p. 18) retrata que a indústria do turismo utiliza da internet de maneira estratégica para promover serviços. Em vista disso, o trabalho irá analisar as redes sociais do Grupo PET Turismo, verificando como as mesmas transmitem informações sobre o turismo e as atividades que o grupo realiza voltadas para o ensino, a pesquisa e a extensão nesse campo. 3.2 Programa de Educação Tutorial – PET O Programa de Educação Tutorial - PET foi desenvolvido e implantado em 1979, pelo CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - intitulado com o nome "Programa Especial de Treinamento”. Seu objetivo era “[...] melhorar o ensino de graduação e a qualidade dos cursos de pós-graduação [...]” (TOSTA et al., 2006). Em 2004, o nome do programa é alterado para o que se conhece hoje como PET - Programa de Educação Tutorial - tendo como finalidade: “[...] melhorar a qualidade do ensino superior, visando a formação de profissionais de alto nível para todos os segmentos do mercado de trabalho, com destaque especial para a carreira universitária.” (TOSTA et al., 2006). Hoje o PET é “[...] desenvolvido por grupos de estudantes, com tutoria de um docente, organizados a partir de formações em nível de graduação nas Instituições de Ensino Superior do País [...]” (SILVA, 2019), que se orienta “[...] pelo princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e da educação tutorial.” (SILVA, 2019), que procura possibilitar aos alunos atividades extracurriculares que possam complementar a sua formação, ampliando seu conhecimento curricular, ou seja, sua finalidade é: [...] garantir aos alunos oportunidades de vivenciar experiências não presentes em estruturas curriculares convencionais, visando a sua formação social e cidadã e favorecendo a formação acadêmica, tanto para a integração no mercado profissional como para o desenvolvimento de estudos em programas de pós-graduação. (SILVA, 2019).

Assim, neste trabalho, foi escolhido como objeto de estudo o Grupo PET - Turismo localizado na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, no Câmpus Experimental de Rosana/SP. O grupo foi constituído em 2012 e desenvolveu diversos projetos até os dias atuais, como a IX Semana Acadêmica de Turismo, Momento PET Leitura, a Cartilha do Intercambista, entre outros. Desse modo, o estudo objetivou analisar a efetividade da comunicação das redes sociais utilizadas pelo grupo Pet. 4. ANÁLISE DOS DADOS Inicialmente, foi analisada a quantidade de seguidores e de publicações que as redes sociais - facebook e instagram - do Grupo PET Turismo contêm. Na rede social Instagram, o projeto apresenta um total de 337 (trezentos e trinta e sete) seguidores e 64 (sessenta de quatro) ;

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publicações. Já na rede social Facebook, o grupo possui um total de 383 (trezentos e oitenta e três) seguidores e 375 (trezentos e setenta e cinco) curtidas. Não foi possível coletar um número exato de publicações na página do PET no facebook, todavia, o valor ultrapassa o total encontrado no perfil do instagram. Figura 1 – Rede Social Instagram do Grupo PET Turismo

Fonte: Instagram, 2019. Figura 2 – Rede Social Facebook do Grupo PET Turismo

Fonte: Facebook, 2019.

A segunda análise do trabalho foi relacionada às publicações, que podem ser encontradas nas duas redes. É importante ressaltar que a pesquisa foi realizada durante um curto espaço de tempo no ano de 2019, que varia entre os meses de maio a setembro. Verificou-se que as publicações do grupo têm como foco predominante as notícias relacionadas ao turismo, como é possível observar na figura 3, que aborda tanto sobre eventos, certificações como também a respeito do futuro da atividade. Essas postagens possuem uma média de 15 curtidas no instagram, já no facebook sua média cai para 5 curtidas. Outro aspecto observado é sobre as postagens relacionadas aos trabalhos que o Grupo PET Turismo realiza, como a Cartilha do Intercambista, que obteve um total de 15 curtidas no instagram. Entretanto, no facebook, seu alcance foi maior, com um total de 20 curtidas, 2 comentários e 5 compartilhamentos, tendo um alcance de 609 pessoas. Além disso, outras publicações existentes que apresentavam fotos dos membros do Grupo PET em eventos, ;

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pesquisa, manifestos, apresentações e outros possuíam um amplo alcance, chegando as publicações a terem de 27 a 68 curtidas no instagram e de 13 a 26 curtidas no facebook. Figura 3 – Publicação da Rede Social Instagram do Grupo PET Turismo

Fonte: Instagram, 2019. Figura 4 – Publicação da Rede Social Facebook do Grupo PET Turismo

Fonte: Facebook, 2019.

Posteriormente, foi analisado dois gráficos gerados pela rede social Facebook - os dados que eles apresentam possuem apenas uma estimativa sobre como está o desempenho da mesma. Neles, foi possível verificar, durante o mês de setembro do ano de 2019, o alcance que as publicações obtiveram, como também uma análise gráfica sobre as reações, comentários, compartilhamentos, respostas, reivindicações e outros. Foi possível observar que o período com o maior engajamento ocorreu durante os dias 8 a 11 de setembro, podendo ter alcançado mais de 800 ;

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pessoas. Todavia, nos demais dias do mês, o número de alcance se manteve na faixa de 0 a 200 pessoas, como é possível verificar na figura 5. Figura 5 – Alcance das Publicações do Facebook do Grupo PET Turismo

Fonte: Facebook, 2019.

Já na figura 6, é possível observar o gráfico que foi gerado a partir de dados sobre outras ações que foram realizadas, como as reações (curtidas), que chegaram a ter um alcance aproximado de 40 pessoas, os comentários com em torno de 10 a 15 pessoas, os compartilhamentos próximo de 10, as respostas e reivindicações com um média de 0 (já que não possuíram um número significativo que conseguisse ser calculado graficamente) e outros com cerca de uma a duas pessoas. Figura 6 – Reações, Comentários, Compartilhamentos e muito mais no Facebook do Grupo PET Turismo.

Fonte: Facebook, 2019.

CONCLUSÃO Diante dos dados analisados, é possível observar que as redes sociais do Grupo PET Turismo possuem uma grande influência na divulgação de conteúdos relacionados ao turismo, principalmente quando as publicações são voltadas para os projetos que o Grupo realiza na ;

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comunidade, uma vez que foi observado que essas publicações têm maiores visualizações perante as publicações voltadas para as notícias na área do turismo. Desse modo, conclui-se que, para que a efetividade das redes sociais seja ainda maior, é necessário mais engajamento nas redes sociais, com mais publicações, sendo as postagens com as atividades realizadas pelo Grupo as mais essenciais, já que foi mostrado que são as que mais chamam a atenção. REFERÊNCIAS ALVES, Michelle Margot. O papel das redes sociais no turismo: uma análise da situação das agências de turismo no distrito federal. 2014. 153f. Dissertação (Mestrado Profissional em Turismo) - Universidade de Brasília, Brasília, 2011. ALVES, Ludmila Girardi. Aplicações das redes sociais e das mídias locativas na comunicação do turismo. Revista Turismo & Desenvolvimento, n.13/14, p. 853-860, 2010. FERREIRA, Marina dos Santos Bragine. Mídias sociais como ferramenta de comunicação para fortalecimento de marcas e organizações. Revista Temática, n.6, jun. 2017 ROCHA, C. A. S.; YAMANAKA, F. I.; SILVA, E.L. Tecnologias da informação e comunicação aplicadas ao turismo: possibilidades e tendências. Navus - Revista de Gestão e Tecnologia, Florianópolis/SC, v.6, n. especial, p. 13-34, nov. 2016. SANTOS, G. C. O.; CABRAL, B. C. O.; GOSLING, M.; MAGALHÃES CHRISTINO, J. M. As redes sociais e o turismo: uma análise do compartilhamento no Instagram do Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes. Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 7, n. 2, p. 60-85, maio/ago. 2017. SILVA, José Ricardo Calheiros. Programa PET. 2019. Disponível em: https://www2.unesp.br/portal#!/prograd/programa-pet17233/. Acesso em: 01 out. 2019 TOSTA, R. M.; CALAZANS, D. L.; SANTI, G. S.; TUMULO, I. B.; BROCHADO K.; FAGGIAN, L. F.; FARIA, L. C.; MULLER, M. L.; CECCHINI, M. V. G.; ISHIDA, R. M. M.; FONSECA, R. F.; SANZ, S. D.; VIEIRA, T. C. H. ; PALAZZIN, V. Programa de educação tutorial (PET): uma alternativa para a melhoria da graduação. Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC), México, n. 8, nov. 2006.

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