Revista 24

Page 1

N0 24 Ano 8 [distribuição gratuita] ISSN 1981 3198 Manaus, abril a junho de 2012

A luz que vem GD ÁRUHVWD Pesquisadores investigam soluções para a produção GH HQHUJLD HOpWULFD D SDUWLU GH UHVtGXRV ÁRUHVWDLV H GH plantas oleaginosas da Amazônia Pág. 28

ENTREVISTA Biodiversidade é chave para desenvolver ciência na Amazônia, aponta titular do MCTI, Marco Raupp Pág. 10

DA FLORESTA ÀS PRATELEIRAS No Amazonas, empresas inovam transformando recursos naturais em produtos com códigos de barras Pág.19




SUMÁRIO

Foto: Sergio Amaral/MCTI

ESPAÇO DO LEITOR 07 CANAL CIÊNCIA 08

10

Ministro de CT&I, Marco Raupp DÀUPD TXH ELRGLYHUVLGDGH p D chave para o desenvolvimento

MADEIRAS 14

0DQHMR VXVWHQWiYHO GD ÁRUHVWD amazônica é abordado em SHVTXLVDV FLHQWtÀFDV

INOVAÇÃO 19

Pesquisas no Amazonas transformam recursos naturais em produtos com códigos de barras

ALTO PADRÃO 23

Grupos de pesquisa desenvolvem estudos voltados à conservação do meio ambiente amazônico

SUSTENTABILIDADE 51 Serviços ambientais garantem D SURWHomR GD ÁRUHVWD H R desenvolvimento sustentável do Amazonas

POLÍTICAS PÚBLICAS 56 Ações governamentais contribuem para a redução do desmatamento, PDQWHQGR D ÁRUHVWD SUHVHUYDGD

ECOSSISTEMAS 60

28

5HVtGXRV ÁRUHVWDLV H SODQWDV oleaginosas são potenciais fontes de energia elétrica

ETNOCIÊNCIA 42

Conhecimento tradicional de povos indígenas é transmitido à sociedade

INVESTIMENTOS 47

Investir em tecnologia sustentável e em recursos humanos TXDOLÀFDGRV p PHWD GR *RYHUQR do Amazonas

Cientistas de diversas áreas desenvolvem pesquisas a partir do conceito de ecossistemas

Seções Multimídia 18 Leitura acentuada 18 Ciência responde 27 Quando a ciência é um bom negócio 41 Vida de cientista 46 Artigo de opinião 64 Identidade 66


Foto: EpitĂĄcio Pessoa - AE

Omar JosÊ Abdel Aziz *RYHUQDGRU GR (VWDGR GR $PD]RQDV JosÊ Melo de Oliveira 9LFH *RYHUQDGRU GR (VWDGR GR $PD]RQDV Odenildo Teixeira Sena 6HFUHWiULR GH (VWDGR GH &LrQFLD 7HFQRORJLD H ,QRYDomR GR $PD]RQDV 6(&7, $0 Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro Simão 'LUHWRUD 3UHVLGHQWD GD )XQGDomR GH $PSDUR j 3HVTXLVD GR (VWDGR GR $PD]RQDV )$3($0 Andrea Viviana Waichman 'LUHWRUD 7pFQLFR &LHQWtÀFD Jorge Edson Queiroz da Silva 'LUHWRU $GPLQLVWUDWLYR )LQDQFHLUR

Publicação Trimestral da Fapeam desenvolvida pelo Departamento de DifusĂŁo do Conhecimento - DECON (GLWRUD FKHIH Cristiane Barbosa (MTb 092/AM) 3URGXomR H[HFXWLYD SebastiĂŁo Alves Filho (GLWRULD GH $UWH %HUQDUGR %XOFmR 3URMHWR *UiĂ€FR 'LDJUDPDomR Carla Batista (Diagramação) e RĂ´mulo Porto (Publicidade) &DSD Bernardo BulcĂŁo Foto: Ricardo Oliveira/AgĂŞncia Fapeam )RWRV GD HGLomR Ricardo oliveira Christopher Berquet/AgĂŞncia Brasil 5HYLVmR Jesua Maia &RODERUDGRUHV AnĂĄlia Barbosa, Edilene Mafra, Esterffany Martins, Jessie Silva, JĂşlio CĂŠsar Schweickardt, LuĂ­s MansuĂŞto, Nefa Costa, Rafaela Vieira, Rosilene CorrĂŞa, Sigrid Avelino e Ulysses Varela )$3($0 Travessa do Dera, s/n - Flores CEP 69058-793, Manaus - AM Tel. (92) 3878-4000/4011 e-mail: decon@fapeam.am.gov.br www.fapeam.am.gov.br Twitter: www.twitter.com/fapeam É permitida a reprodução dos textos, desde que citados os autores e a fonte.


Foto: Christoph Berquet

EDITORIAL

A

SyV YROWDU RV ROKRV SDUD DV Ă RUHVWDV D 2UJDQL]DomR GDV 1Do}HV 8QLGDV 218 GHĂ€QLX FRPR R $QR ,QWHUnacional da Energia SustentĂĄvel para Todos, alarmada pelo fato de mais de 3 bilhĂľes de pessoas nos paĂ­ses em desenvolvimento dependerem da biomassa tradicional e do carvĂŁo para cozinhar e para se aquecer, e tambĂŠm por 1,5 bilhĂŁo de pessoas que ainda hoje estĂŁo vivendo sem eletricidade. Nesse contexto, a revista Amazonas Faz CiĂŞncia traz em sua matĂŠria principal um panorama sobre as possĂ­veis soluçþes para o problema da falta de energia elĂŠtrica, como a produção de biocombusWtYHLV D SDUWLU GH UHVtGXRV Ă RUHVWDLV FDVFDV GH FXSXDoX PDUDFXMi mandioca e o uso de plantas oleaginosas (que servem de fonte para a obtenção de Ăłleos) da AmazĂ´nia. Devido Ă s peculiaridades regionais desta regiĂŁo tĂŁo diversa, nĂŁo hĂĄ uma Ăşnica saĂ­da. VocĂŞ tambĂŠm pode conferir uma matĂŠria sobre economia verde, conceito que se concentra principalmente na interseção entre o ambiente e a economia. Os produtos oriundos da biodiversidade amazĂ´nica precisam ter valor agregado e trazer benefĂ­cios Ă s comunidades locais, respeitando a exploração sustentĂĄvel. Na matĂŠria, vocĂŞ irĂĄ conferir exemplos de empresas que transformam recursos naturais em produtos inovadores com cĂłdigos de barras. Na seção Entrevista, o ministro da CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antonio Raupp, diz que a biodiversidade ĂŠ a chave para o desenvolvimento da AmazĂ´nia. Ă€ frente do MinistĂŠrio, ele exSOLFD TXH R GHVDĂ€R GH VXD JHVWmR p ID]HU FRP TXH R FRQKHFLPHQWR gerado nas universidades e centros de pesquisa seja Ăştil Ă sociedade. (QĂ€P HP WRGD UHYLVWD YRFr SRGHUi DFRPSDQKDU XPD GLYHUVLGDGH de matĂŠrias que contemplam pesquisas com grande convergĂŞncia com a temĂĄtica ambiental, muito oportunas para divulgação durante a realização da ConferĂŞncia das Naçþes Unidas sobre Desenvolvimento SustentĂĄvel – Rio+20, momento em que toda a sociedade se volta para discutir o futuro. Juntos certamente construiremos um futuro melhor para nosso planeta, e a ciĂŞncia terĂĄ muito a ver com isso. Boa leitura!

6 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

Foram atendidas no primeiro trimestre de 2012 cerca de 208 demandas, que vão desde a troca de senha, atualização de e-mails, a sugestþes. Somente em março, foram atendidos 99 pedidos. Os assuntos mais recorrentes foram: alteração de endereço eletrônico no Cadastro de Pesquisador; recuperação de senha do SIGFAPEAM; solicitação de esclarecimentos de editais e programas; e informaçþes sobre bolsas. Em caso de dúvidas, elogios, sugestþes, reclamaçþes e denúncias relativas à FAPEAM, a ouvidora Anne Lêda e sua equipe estarão prontas para responder e orientå-lo. Para isso, basta enviar um e-mail para ouvidoria@fapeam.am.gov.br ou, se preferir, contate-nos pelo telefone (92) 3878-4001. A ouvidoria da Fapeam mantÊm o compromisso de não deixar ninguÊm sem resposta.


ESPAÇO DO LEITOR

Para acessar o vĂ­deo utilize um aplicativo para leitura de QR Code

5RJpULR /RUHGR Amazonas, por e-mail.

Estava lendo a Revista Amazonas Faz Ciência, edição 12, de abril de 2009. Achei muito bacana o foco direcionado a mostrar realidades e estratÊgias rumo ao interior do Amazonas. Como moro no interior, gostaria de mostrar nossa experiência na årea de Inovação em Saúde. Realizamos um modelo de Atenção Integral à Saúde de Idosos Indígenas que acaba de ganhar uma Menção Honrosa em Portugal, que serå entregue durante o 1° Congresso Internacional do Envelhecimento, em Lisboa 8-9 junho 2012. As cartas ou e-mails podem ou não ser publicados. A Redação se reserva o direito de editå-los, buscando preservar a ideia geral do texto.

Conheça o vĂ­deo do projeto ‘Estudo e caracte-â€? rização de espĂŠcies oleaginosas do Estado do Amazonas para a produção de biodiesel’, coor-â€? denado pela professora da Universidade Fede-â€? ral do Amazonas (Ufam) Cristiane Daliassi, no estudo do potencial de espĂŠcies amazĂ´nicas para a produção de novos combustĂ­veis de ori-â€? JHP YHJHWDO 2 SURMHWR IRL ĂŽQDQFLDGR SHOD )DSH-â€? am por meio do Programa Integrado de Inova-â€? omR &LHQWtĂŽFD H 7HFQROyJLFD 3LSW &RQĂŽUD

Curte aĂ­! *OiXFLD &KDLU @glauciachair FAPEAM lança Programa de Bolsas na ĂĄrea de saĂşde no Amazonas | Portal AmazĂ´nia Editoria http:// fb.me/V8maq38Pia &RQIDS %UDVLO @confapbrasil Secti-AM e Fapeam lançam edital de incubadoras no 5Âş FĂłrum de Inovação: http://migre.me/91PLM )DEULFLR $QJHOR @Fabricioangelo Muito bom o PrĂŞmio @Fapeam de -RUQDOLVPR &LHQWtĂ€FR H[FHOHQWH LPpulso para os comunicadores do AM aprimorarem suas matĂŠrias. )8&$3, @FucapiAM @fapeam

lança edital para fortalecer incubadoras de base tecnológica. http:// migre.me/91cIC #Empreendedorismo

.HOO\ -KHQLIIHU 0HOR Quero parabenizar aos colegas que, mais uma vez, conseguiram HPSODFDU PDWpULDV H HVWmR HQWUH RV ÀQDOLVWDV GR 3UrPLR Fapeam de -RUQDOLVPR &LHQWtÀFR $ WRGRV RV PHXV SDUDEpQV H TXH SRVVDPRV VHU EHP recompensados por essa vitória. Eliena Monteiro, Diårcara Ribeiro, Hiolanda Mendes, Camila Baranda, Eduardo Gomes, Daniel Jordano.

0DUFRV &DPLQKD Só o fato de chegar atÊ aqui, para mim, jå Ê uma grande vitória! Minha matÊria foi indicada ao prêmio Fapeam GH -RUQDOLVPR &LHQWtÀFR galera!!! Estou extremamente feliz!!! Obrigado meu Deus pelas maravilhas que o Senhor tem proporcionado em minha vida!!! #muitíssimofeliz =D

'HQLV %HQFKLPRO 0LQHY 8P ERP H[HPSOR GH SHVTXLVD Ă€QDQFLDGD SHOD Fapeam - Fundação de Amparo Ă Pesquisa do Estado do Amazonas que pode trazer bons frutos para a AmazĂ´nia: http://migre.me/9aBil Pesquisa desenvolve biocombustĂ­vel a partir de espĂŠcies vegetais da AmazĂ´nia

AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 7


CANAL CIĂŠNCIA

Foto: Ricardo Oliveira

O Governo do Amazonas, por meio da Fapeam e secretarias estaduais de CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação (Secti-AM) e dos Direitos da Pessoa com 'HĂ€FLrQFLD 6HSHG ODQoRX R (GLWDO de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva no Amazonas (Viver Melhor/PrĂł-Assistir). É a primeira vez no PaĂ­s que um Estado lança um edital de apoio a pesquisadores e inventores para o desenvolvimento de tecnologias assistivas.Os recursos disponibilizados pela Fapeam sĂŁo da ordem de R$ 2,5 milhĂľes e visam propiciar aos pesquisadores e inventores investimentos para o desenvolvimento de tecnologias (produtos ou protĂłtipos) para facilitar a autonomia e independĂŞncia de pessoas com GHĂ€FLrQFLDV YLVXDLV DXGLWLYDV ItVLFDV e mĂşltiplas. As propostas poderĂŁo ser enviadas e protocoladas na sede da Fapeam (Travessa do Dera, s/nÂş, Flores - Manaus - AM) atĂŠ o dia 16 de julho de 2012. Informaçþes no site: www.fapeam.am.gov.br.

8 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

$0$=21$6 1$ 6%3&

Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

7(&12/2*,$6 $66,67,9$6 &217$0 &20 ,19(67,0(1726 '( 5 0,/+ÂŻ(6

O sistema estadual de CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação do Estado do Amazonas tem presença garantida na 64ÂŞ ReuniĂŁo Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da CiĂŞncia (SBPC), a se realizar em SĂŁo LuĂ­s, no MaranhĂŁo, em julho de 2012 na Universidade Federal do MaranhĂŁo (UFMA). O evento integrarĂĄ as comemoraçþes dos 400 anos do municĂ­pio, reconhecido pela Unesco como PatrimĂ´nio da Humanidade. No estande do Governo do Amazonas, sob a coordenação da Secretaria de Estado de CiĂŞncia, Tecnologia H ,QRYDomR 6HFWL Mi HVWmR FRQĂ€Umadas as participaçþes da Fapeam, Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Centro de Educação TecnolĂłgica do Amazonas (Cetam), Serviço Nacional da IndĂşstria (Senai) e SuperintendĂŞncia da Zona Franca de Manaus (Suframa).

-29(16 %5$6,/(,526 &21&,/,$0 %(0 &,Ăˆ1&,$ ( 5(/,*,ÂŽ2 A maioria dos jovens brasileiros vive em paz com suas crenças religiosas e a ciĂŞncia da teoria evolutiva. TĂŞm fĂŠ em Deus e, ao mesmo tempo, concordam com as premissas estabelecidas por Charles Darwin mais de 150 anos atrĂĄs, de que todas as espĂŠcies da Terra – incluindo o homem – evoluĂ­ram de um ancestral comum por meio da seleção natural. É o que sugere uma pesquisa realizada com mais de 2,3 mil alunos do Ensino MĂŠdio no PaĂ­s, coordenada pelo professor Nelio Bizzo, da Faculdade de Educação da Universidade de SĂŁo Paulo (USP). A conFOXVmR Ă XL GH XP TXHVWLRQiULR VREUH

religiĂŁo e ciĂŞncia respondido por estudantes de escolas pĂşblicas e privadas de todas as regiĂľes do PaĂ­s, com mĂŠdia de 15 anos de idade. A base de dados e a metodologia utilizadas na pesquisa foram as mesmas do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), segundo Bizzo, para garantir que os resultados fossem estatisticamente representativos da população estudantil brasileira. â€œĂ‰ o primeiro dado com representatividade nacional sobre esse assunto para esta faixa etĂĄriaâ€?, disse o educador, que apresentou os dados pela primeira vez neste mĂŞs, em uma conferĂŞncia na ItĂĄlia.


CANAL CIĂŠNCIA

Foto: Divulgação

O Conselho Nacional de DesenvolYLPHQWR &LHQWtĂ€FR H 7HFQROyJLFR (CNPq) vai acrescentar, na plataforma eletrĂ´nica Lattes, que traz currĂ­culos e atividades de 1,8 milhĂŁo de pesquisadores em todo o PaĂ­s, duas novas abas para divulgação pĂşblica. Em uma delas, os cientistas brasileiros informarĂŁo sobre a inovação de seus projetos e pesquisas; e na outra, deverĂŁo descrever iniciativas de GLYXOJDomR H GH HGXFDomR FLHQWtĂ€FD Com a mudança, cientistas de todos os campos de investigação deverĂŁo descrever, na Plataforma Lattes, dados sobre a organização de feira de ciĂŞncias, promoção de palestras em escolas, artigos e entrevistas concedidos Ă imprensa - alĂŠm de informaçþes bĂĄsicas como dados pessoais, formação acadĂŞmica, atuação proĂ€VVLRQDO SXEOLFDo}HV OLQKDV H SURjetos de pesquisa, ĂĄreas de atuação e domĂ­nio de idioma estrangeiros. A intenção do CNPq ĂŠ aumentar o conhecimento da sociedade sobre DV DWLYLGDGHV FLHQWtĂ€FDV TXH RFRUrem no PaĂ­s. Para mais informaçþes: www.cnpq.br.

Foto: Divulgação

(1*(1+$5,$6 ( 7(&12/2*,$ '$ ,1)250$dÂŽ2 *$1+$0 5()25d2 12 $0$=21$6

',98/*$dÂŽ2 &,(17ĂŒ),&$ 32'( 6(5 INSERIDA NO LATTES

A partir do mĂŞs de julho deste ano, terĂŁo inĂ­cio as atividades do Programa EstratĂŠgico de Indução Ă Formação de Recursos Humanos em Engenharias no Amazonas (PrĂł-Engenharias) e do Programa EstratĂŠgico de Indução Ă Formação de Recursos Humanos em Tecnologia da Informação (RH-TI). As iniciativas consistem em estimular estudantes da rede pĂşblica de ensino, a partir do segundo ano do Ensino MĂŠdio, a seguirem carreira acadĂŞmica e proĂ€VVLRQDO UHVSHFWLYDPHQWH QDV (QJHQKDULDV H QD iUHD GH 7HFQRlogia da Informação, por meio de atividades orientadas em escola da rede pĂşblica estadual de ensino sediada na cidade de Manaus. $R WRGR VmR HVWXGDQWHV EHQHĂ€FLDGRV FRP EROVDV GH LQLFLDomR FLHQWtĂ€FD M~QLRU HVSHFLDO QR YDORU LQGLYLGXDO GH 5 7DPEpP foram selecionados 12 professores da rede pĂşblica de ensino, seis SDUD FDGD SURMHWR GH iUHDV DĂ€QV DRV UHVSHFWLYRV SURJUDPDV TXH receberĂŁo bolsa na modalidade Professor Jovem Cientista Especial (no valor individual de R$ 500) e oito tutores, alunos de graduação dessas ĂĄreas oriundos de universidades pĂşblicas do Amazonas, que receberĂŁo bolsas individuais no valor de R$ 360. As bolsas e R DX[tOLR Ă€QDQFHLUR SDUD FXVWHDU DV DWLYLGDGHV GHVVHV SURMHWRV HVWmR VHQGR Ă€QDQFLDGRV SHOR *RYHUQR GR $PD]RQDV SRU PHLR GD )DSHDP 1R FDVR HVSHFtĂ€FR GR 5+ 7, RV UHFXUVRV SDUD R Ă€QDQciamento do programa sĂŁo oriundos de um convĂŞnio da Fapeam com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O RH-TI e o PrĂł-Engenharias sĂŁo desenvolvidos em parceria com a Secretaria de Estado de Educação do Amazonas (Seduc) e a Secretaria de Estado de CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação do Amazonas (Secti-AM). Alunos do Estado receberĂŁo novas bolsas por mais um ano no valor de R$ 360, se aprovados no vestibular em engenharia. Vale ressaltar, ainda, que cada projeto tem a coordenação de um professor doutor, selecionado previamente por meio de Edital.

AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 9


Foto: Sergio Amaral/MCTI

ENTREVISTA

10 AMAZONAS FAZ &,È1&,$


ENTREVISTA

Biodiversidade Ê a chave para o GHVHQYROYLPHQWR FLHQWtÀFR QD $PD]{QLD

D

esde o início do ano à frente do MinistÊrio da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antônio Raupp, traduz nesta entrevista, concedida de forma exclusiva à revista Amazonas Faz Ciência, o SULQFLSDO GHVDÎR GH VXD JHVWmR §)D]HU FRP TXH R FRQKHFLPHQWR JHUDGR QDV QRVVDV XQLYHUVLGDGHV H FHQWURV S~EOLFRV GH SHVTXLVD VHMD ~WLO j VRFLHGDGH¨ Por Cristiane Barbosa

Graduado em FĂ­sica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, PhD em MatemĂĄtica pela Universidade de Chicago e livre-docente pela Universidade de SĂŁo Paulo (USP), Raupp continua defendendo a necessidade de avanço da ciĂŞncia na AmazĂ´nia, pleito de interesse do ministro desde a ĂŠpoca em que era presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da CiĂŞncia (SBPC). Segundo Raupp, a ideia do MCTI ĂŠ estimular a criação de empresas na AmazĂ´nia, sobretudo na ĂĄrea da biotecnologia para aproveitar os recursos da biodiversidade na produção de medicamentos, cosmĂŠticos e alimentos, usando a ciĂŞncia para utilizar a biodiversidade de forma sustentĂĄvel. Nesta entrevista, o ministro aponta algumas soluçþes para o desenvolYLPHQWR FLHQWtĂ€FR QR $PD]RQDV HP relação Ă formação de recursos huPDQRV TXDOLĂ€FDGRV PHOKRULD GD LQfraestrutura de comunicaçþes e fortalecimento dos institutos de pesquisa SDUD Ă€[DomR GH GRXWRUHV QR (VWDGR que devem ser alinhados Ă polĂ­tica de CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação. Acompanhe a entrevista na Ă­ntegra:

$PD]RQDV )D] &LrQFLD!! Na sua avaliação, qual serĂĄ o maior desaĂ€R GD VXD JHVWmR" 0DUFR $QW{QLR 5DXSS !! O granGH GHVDĂ€R p ID]HU FRP TXH R FRnhecimento gerado nas nossas universidades e centros pĂşblicos de pesquisa seja Ăştil Ă sociedade. Precisamos criar condiçþes de leYDU R FRQKHFLPHQWR FLHQWtĂ€FR SDUD o setor produtivo, ajudando-o a promover a inovação tecnolĂłgica de forma sustentĂĄvel do ponto de vista econĂ´mico, social e ambienWDO (VVD RSomR Ă€FD PXLWR FODUD QR lema do ‘Plano Brasil Maior: inovar para competir, competir para crescer’ e, especialmente, na EstratĂŠgia Nacional de CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação, cujo ponto central ĂŠ a ‘CT&I como eixo estruturante do desenvolvimento do Brasil’. Pensando assim, o governo estabeleceu a meta ousada de elevar para 1,8% do PIB o investimento em P&D atĂŠ 2015, dividindo igualmente o percentual do setor pĂşblico e do setor produtivo. Hoje, a participação das empresas ĂŠ de 0,55% e do setor pĂşblico de 0,61%.

$)&!! A necessidade de avanço da ciĂŞncia na AmazĂ´nia sempre foi um dos pontos abordados pelo senhor quando era presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da CiĂŞncia (SBPC). Nesse sentido, quais as metas do MCTI voltadas para o desenvolvimento cientĂ­fico nos EsWDGRV GD $PD]{QLD" 5DXSS!! Continuo com o mesmo ponto de vista, defendendo a posição que apresentei durante a 61ÂŞ ReuniĂŁo Anual da SBPC que realizamos em 2009, em Manaus. ReaĂ€UPR TXH D FLrQFLD p IXQGDPHQWDO no processo de desenvolvimento da regiĂŁo e tem de ser feita por pessoas da regiĂŁo. Minha ideia ĂŠ estimular a criação de empresas na AmazĂ´nia, sobretudo na ĂĄrea da biotecnologia, que aproveitem os recursos da biodiversidade na produção de medicamentos, cosmĂŠticos e alimentos, por exemplo, e tambĂŠm dos processos oriundos da biodiversidade. Podemos ser lĂ­deres nessa ĂĄrea, usando a ciĂŞncia para utilizar a biodiversidade de forma sustentĂĄvel. AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 11


ENTREVISTA

$)&!! Sabemos que o desenvolvimento de projetos de excelĂŞncia e a produção de conhecimento nos Estados da AmazĂ´nia estĂŁo relacionados, entre outras coisas, com a infraestrutura de telecomunicaçþes. Quais sĂŁo as açþes previstas pelo MCTI para preencher essa lacuna e HP TXH SUD]R" 5DXSS!! Esta ĂŠ uma questĂŁo crucial para o desenvolvimento da regiĂŁo. É praticamente impossĂ­vel instalar grandes linhas de comuniFDomR GH GDGRV QR PHLR GD Ă RUHVta. A solução ĂŠ termos um satĂŠlite geoestacionĂĄrio para apoiar o sistema de banda larga na AmazĂ´nia. Este ĂŠ um projeto do MinistĂŠrio das Comunicaçþes, com a Telebras; do MinistĂŠrio da Defesa e do MinistĂŠrio da CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação, e a meta ĂŠ lançar o primeiro satĂŠlite em 2014. $)&!! Na sua visĂŁo quais as Do}HV TXH R VHQKRU LGHQWLĂ€FD FRPR prioritĂĄrias ao desenvolvimento da FLrQFLD QR $PD]RQDV" 5DXSS!! O MCTI estĂĄ presente no Amazonas de modo importante. Temos no Estado o Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia (Inpa), um centro de ensino e pesquisa de referĂŞncia em diversas ĂĄreas do conhecimento. Outra instituição supervisionada pelo MCTI ĂŠ o Instituto de Desenvolvimento SustentĂĄvel MamirauĂĄ (IDSM), uma organização social TXH SURPRYH D SHVTXLVD FLHQWtĂ€FD para conservação da biodiversidade. Essas instituiçþes trabalham em diversas ĂĄreas do conhecimen12 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

to, mas sĂŁo focadas principalmente nos recursos naturais. No meu modo de entender, o foco deve ser o aproveitamento sustentĂĄvel dos recursos naturais. Estou convicto de que os institutos de pesquisa devem ser fortalecidos para se dedicarem a grandes projetos mobilizadores e estruturantes do desenvolvimento sustentĂĄvel. $)&!! A colaboração entre instiWXLo}HV FLHQWtĂ€FDV H PLFUR SHTXHnas e grandes empresas no campo das pesquisas no Brasil ĂŠ um dos GHVDĂ€RV QD iUHD 4XDLV VXDV SHUVpectivas para impulsionar ainda mais a cultura da inovação a serYLoR GR VHWRU SURGXWLYR QR 3DtV" 5DXSS!! A colaboração ĂŠ vital em pesquisa, seja qual for a dimensĂŁo da empresa. O modelo de parques tecnolĂłgicos propicia o ambiente de colaboração entre empresas, universidades e instituiçþes de pesquisa. Eu tive essa experiĂŞncia no Parque TecnolĂłgico de SĂŁo JosĂŠ dos Campos e estou convicto que precisamos avançar nesse modelo de colaboração. TambĂŠm hĂĄ um esforço consistente para efetivar os instrumentos de cooperação jĂĄ previstos na legislação de CT&I, por meio de inFHQWLYRV Ă€VFDLV Do}HV GD )LQHS )Lnanciadora de Estudos e Projetos) e mesmo novos arranjos que estĂŁo sendo pensados pelo MinistĂŠrio. $)&!! A riqueza impressionante da diversidade biolĂłgica da AmazĂ´nia ĂŠ um aspecto que favorece o PaĂ­s na perspectiva cienWtĂ€FD WHFQROyJLFD H GH LQRYDomR

Nesse sentido, qual a importância, na sua avaliação, de uma polĂ­tica forte e contĂ­nua de CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação para o desenvolvimento sustentĂĄvel do Brasil FRP EDVH QHVVD ULTXH]D" 5DXSS!! A ciĂŞncia ĂŠ decisiva para DQXODU RV FRQĂ LWRV HQWUH GHVHQYROYLPHQWLVPR H DPELHQWDOLVPR (X YHULĂ€-

2 JUDQGH GHVDĂ€R ĂŠ fazer com que o conhecimento gerado nas nossas universidades e centros pĂşblicos de pesquisa seja Ăştil Ă sociedadeâ€? co que, com muita frequĂŞncia, os assuntos relacionados Ă AmazĂ´nia tomam dimensĂľes de debate nacional e geram radicalismos que podem levar Ă criação de um antagonismo: uns querem transformar a AmazĂ´nia em cemitĂŠrio, outros, em santuĂĄrio intocado. Sou contra o radicalismo e defendo que a conservação possibilite a interação dinâmica e sustentĂĄvel entre os diversos biomas da regiĂŁo. Precisamos construir um modelo de aliança entre o conheciPHQWR FLHQWtĂ€FR H D HFRQRPLD


ENTREVISTA

$)&!! O intercâmbio internacional Ê uma das estratÊgias propulsoras em outros países. Nesse contexto, como o Brasil estå estruturando esse processo a partir do programa œ&LrQFLD VHP )URQWHLUDV¡" 5DXSS!! Este Ê um projeto mobilizador. O MCTI e o MinistÊrio da Educação, por meio de suas

estudantes e pesquisadores voltem ao País muito bem preparados para promoverem a inovação em setores estratÊgicos da nossa economia. Um dado importante Ê que algumas empresas privadas jå atenderam ao convite do governo e aderiram ao programa, passando a patrocinar bolsas para estudantes brasileiros.

Foto: Sergio Amaral/MCTI

$)&!! No campo da formação de Recursos Humanos de alto nível, qual a perspectiva do MinistÊrio SDUD D UHJLmR DPD]{QLFD"

instituiçþes de fomento Conselho Nacional de Desenvolvimento &LHQWtĂ€FR H 7HFQROyJLFR &13T H Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de NĂ­vel Superior (Capes), estĂŁo comprometidos com o esforço de levar 100 mil estudantes brasileiros de graduação e pĂłs-graduação Ă s mais conceituadas universidades de todo o mundo. Favorecer a mobilidade internacional ĂŠ uma exigĂŞncia da economia globalizada. A expectativa do governo ĂŠ de que esses

5DXSS!! O Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia (Inpa) oferece programas de pĂłs-graduação de excelĂŞncia, bem como o MPEG - Museu Paraense Emilio Goeldi, que tambĂŠm ĂŠ uma instituição vinculada ao MCTI e localizada no ParĂĄ. Como se vĂŞ, estamos bem presentes na regiĂŁo, mas ainda hĂĄ muito a fazer. O CiĂŞncia sem Fronteiras ĂŠ outra iniciativa para formação de recursos humanos de alto nĂ­vel e dele as instituiçþes localizadas na AmazĂ´nia SRGHP WDPEpP VH EHQHĂ€FLDU $)&!! Qual a estratĂŠgia do MCTI SDUD Ă€[DU GRXWRUHV QRV LQVWLWXWRV GH pesquisa da AmazĂ´nia nas diferenWHV iUHDV GR FRQKHFLPHQWR" 5DXSS!! Os institutos de pesquisa, como jĂĄ disse, devem ser fortalecidos para se alinharem Ă polĂ­tica de CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação. Eles devem se dedicar a grandes projetos mobilizadores e estruturantes do desenvolvimento sustentĂĄvel. É preFLVR WHU SURMHWRV GHVDĂ€DGRUHV SDUD

Ă€[DU R SHVTXLVDGRU $ PHOKRULD GD infraestrutura de comunicação ĂŠ outro fator importante para mantĂŞ-los na regiĂŁo, pois lhes dĂĄ condiçþes mais favorĂĄveis para atuar em uma rede de pesquisa. $)&!! 4XDO R PDLRU GHVDĂ€R para o seu MinistĂŠrio em termos GH UHFXUVRV SDUD Ă€QDQFLDU SURMHWRV GH &7 ," 5DXSS!! 7HPRV PXLWRV GHVDĂ€RV mas a agenda deste ano traz uma questĂŁo crucial: a discussĂŁo sobre o destino dos royalties do prĂŠ-sal. Precisamos garantir a manutenção do fundo setorial de petrĂłleo e gĂĄs nos nĂ­veis atuais. Esta ĂŠ a preocupação de todos os que pensam no futuro. 2 SHWUyOHR p XP UHFXUVR Ă€QLWR YDL acabar. Vamos lutar para que parte dos recursos provenientes dos royalties do prĂŠ-sal destine-se a projetos portadores do futuro. A ameaça do momento ĂŠ de que o fundo setorial de petrĂłleo e gĂĄs perca recursos de monta, que podem superar R$ 1,3 bilhĂŁo por ano. AlĂŠm disso, parte dos recursos que sĂŁo destinados diretamente aos Estados e municĂ­pios tem de ser direcionada para açþes em CT&I e para educação. Essa ĂŠ uma questĂŁo que diz respeito a todos os brasileiros, que sĂŁo os verdadeiros donos dos recursos oriundos do prĂŠ-sal. Por isso, ĂŠ necessĂĄrio que todos se unam em defesa da inversĂŁo de parte dos recursos do prĂŠ-sal em projetos de P&D e em educação. É o caminho certo para se aproveitar a imensa reserva de gĂĄs e petrĂłleo em favor das geraçþes futuras e do desenvolvimento sustentĂĄvel do PaĂ­s. AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 13


MADEIRAS

Exploração do potencial da Floresta AmazĂ´nica GHSHQGH GR FRQKHFLPHQWR FLHQWtĂ€FR H GH investimentos em novas pesquisas Por Ulysses Varela Com colaboração: Esterffany Martins, Rafaela Vieira e SebastiĂŁo Alves

Foto: Christoph Berquet

O  tesouro  verde da  AmazĂ´nia Â

A

RegiĂŁo Norte do Brasil possui a maior baFLD KLGURJUiĂ€FD GR SODQHWD XPD ELRGLYHUVLdade extensa, alĂŠm de um quarto de todas as espĂŠcies animais e vegetais existentes na 7HUUD 1HVVH FRQWH[WR D Ă RUHVWD DPD]{QLFD contribui com um efeito moderador sobre o clima, ajudando a manter a qualidade das ĂĄguas e a estabilidade do solo, alĂŠm de ser hoje um dos maiores potenciais madeiUHLURV GR SODQHWD 7DQWRV DWULEXWRV JHUDP GHVDĂ€RV DRV JRvernantes e, principalmente, aos cientistas que precisam descobrir meios para explorĂĄ-los de forma sustentĂĄvel, minimizando os danos ao ecossistema e conservando os recursos para as futuras geraçþes. 1R FDVR GD Ă RUHVWD H GD PDGHLUD R PDQHMR VXVWHQWiYHO representa um modelo de exploração racional sobre os ele14 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

PHQWRV QDWXUDLV SULRUL]DQGR VHPSUH R FRQFHLWR GH Ă RUHWD ‘em pÊ’. Foi justamente partindo deste ponto, que o doutor e pesquisador da ĂĄrea de Engenharia Florestal, do Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia (Inpa), Niro Higuchi, pesquisou e avaliou durante quatro anos a situação do ‘Manejo Florestal SustentĂĄvel para a AmazĂ´nia’, pesquisa vinculada ao Programa de Apoio a NĂşcleos de ExcelĂŞncia 3URQH[ TXH p Ă€QDQFLDGR SHOR *RYHUQR GR $PD]RQDV YLD Fapeam, em parceria com o Conselho Nacional de DesenYROYLPHQWR &LHQWtĂ€FR H 7HFQROyJLFR &13T O manejo sustentĂĄvel ĂŠ, segundo especialistas, a melhor solução no âmbito da exploração racional de madeira H GH RXWUDV ULTXH]DV QmR PDGHLUHLUDV GD Ă RUHVWD (VWXGRV DSRQWDP TXH XPD Ă RUHVWD EHP PDQHMDGD FRQWLQXDUi D RIHrecer riquezas Ă s geraçþes futuras, pois ela faz parte dos


recursos renovĂĄveis. Um bom manejo implica em uma exploração cuidadosa e os estudos sobre impacto ambiental reduzido permitem a sua regeneração. De acordo com o pesquisador Estamos vivendo um Niro Higuchi, as açþes atuais de desmomento de crise matamento estĂŁo sempre relacionadas a questĂľes econĂ´micas. Ele explicou mundial, mas como a que quando a economia estĂĄ muito economia nacional estĂĄ DTXHFLGD D SUHVVmR VREUH D Ă RUHVWD bem aquecida, ainda aumenta, principalmente para a imhoje ĂŠ possĂ­vel ver plantação de projetos agropecuĂĄrios. altos Ă­ndices de ĂĄreas “Estamos vivendo um momento desmatadas e a falta de crise mundial, mas como a econode açþes estruturantes mia nacional estĂĄ bem aquecida, ainda hoje ĂŠ possĂ­vel ver altos Ă­ndices de ĂĄreajuda a alimentar essa as desmatadas e a falta de açþes estruproblemĂĄticaâ€?. turantes ajuda a alimentar essa probleNiro Higuchi mĂĄticaâ€?, revelou o pesquisador, que pesquisador do Inpa tambĂŠm coordena o Instituto Nacional de CiĂŞncia e Tecnologia (INCT) 0DGHLUDV GD $PD]{QLD Ă€QDQFLDGR matĂŠria-prima estĂŁo desaparecendo. pela Fapeam e CNPq. JĂĄ nĂŁo existem mais os fornecedoGRUPO DE EXCELĂŠNCIA E res principais, suas reservas estĂŁo no DINĂ‚MICA DO CARBONO Ă€P H D $PD]{QLD HVWi SUDWLFDPHQWH intacta. Apesar dos desmatamentos, A pesquisa, realizada no âmbito PDLV GH GD Ă RUHVWD DLQGD HVWmR do Pronex, contou com a participa- preservados. Este quadro ĂŠ a chance ção de 17 pesquisadores, sendo sete SDUD R %UDVLO VH Ă€UPDU FRPR R QRYR do Inpa, cinco do Centro de Ener- fornecedor de madeira tropical susgia Nuclear na Agricultura da Uni- tentĂĄvel para esse mercado, mas essa versidade de SĂŁo Paulo (Cena-USP) oportunidade tem de ser feita com e cinco da Universidade Federal do cuidadoâ€?, explicou Higuchi. ParanĂĄ (UFPR). Higuchi salientou Durante a pesquisa foram feitos que apesar dos quatro anos dedi- experimentos para agregar o valor do cados ao estudo o tempo foi curto carbono Ă madeira. O pesquisador, para se obter respostas concretas, juntamente com sua equipe, realizou PDV QR GHFRUUHU GRV WUDEDOKRV Ă€- mediçþes do carbono como serviço cou claro que a madeira amazĂ´nica ambiental a partir da precipitação pode ser uma janela de oportunida- (chuvas) mĂŠdia anual e a variĂĄvel des, se bem aproveitada. PHWHRUROyJLFD SDUD R VHWRU Ă RUHVWDO “Se considerarmos o mercado amazĂ´nico. O estudo detectou que a internacional de madeira tropical, temperatura mĂŠdia anual varia pouco os principais abastecedores desta dentro da AmazĂ´nia Legal. O cres-

Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

MADEIRAS

cimento e o incremento das ĂĄrvores amazĂ´nicas apresentam correlaçþes VLJQLĂ€FDWLYDV FRP D SUHFLSLWDomR “Apenas o crescimento e increPHQWR GH FKXYDV QmR VmR VXĂ€FLHQWHV SDUD GHWHUPLQDU VH D Ă RUHVWD estĂĄ usando ou emitindo carbono (CO2). Na escala regional, a falta de chuvas tem contribuĂ­do com o aumento da mortalidade das ĂĄrvores QD Ă RUHVWD DPD]{QLFD PDV QXPD escala de comunidades biolĂłgicas ĂŠ o excesso de chuvas que mais contribui para o aumento dessa mortalidadeâ€?, explicou Higuchi. 8PD GDV PHWDV Ă€UPDGDV H DWLQgidas pelo projeto foi a consolidação do Grupo de Pesquisas sobre Manejo Florestal, que jĂĄ acumula 32 anos de atuação no Estado do Amazonas, e a IRUPDomR GH RSLQLmR GH SURĂ€VVLRQDLV capacitados para dar continuidade Ă s SHVTXLVDV QD iUHD GH PDQHMR Ă RUHVWDO AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 15


MADEIRAS

NĂƒO AO DESPERDĂ?CIO

“Em algumas espĂŠcies da AmazĂ´nia essas propriedades ainda nĂŁo Apesar da abundância de espĂŠcies foram estudadas. Considerando essa Ă RUHVWDLV R GHVSHUGtFLR GH PDGHLUD p particularidade, o grande interesse considerado um gargalo no segmen- da pesquisa se concentrou nas mato madeireiro chegando ao percentu- cromolĂŠculas, como as celuloses, que al de 70% a quantidade de resĂ­duos podem gerar informaçþes importan(sobras de madeira e serragem) subu- tes ao aproveitamento desses resĂ­dutilizados por falta de conhecimento osâ€?, destacou Lima. sobre o seu aproveitamento. IMPACTO AMBIENTAL De olho nisso, um grupo de pesquisadores observou o descarte de re$ SHVTXLVDGRUD DĂ€UPRX TXH R DSURsĂ­duos madeireiros nas indĂşstrias deste cenĂĄrio no espaço urbano de Ma- veitamento das sobras de madeira, se naus. A observação fez parte de uma bem aplicado, vai amenizar o impacto pesquisa intitulada ‘Estudo tecnolĂłgi- ambiental especialmente na AmazĂ´nia co, quĂ­mico e biolĂłgico para subsĂ­dios onde esse material hoje ĂŠ subutilizado. Ela aponta que a produção de no aproveitamento de resĂ­duos madeireiros’, coordenada pela doutora pequenos objetos a partir das sobras de madeira ĂŠ uma forma socioeconĂ´em QuĂ­mica, Maria da Paz Lima. O foco principal da pesquisa era mica de agregar valor a estes rejeitos, a anĂĄlise do potencial quĂ­mico, biolĂł- alĂŠm de amenizar o desperdĂ­cio e gico e farmacolĂłgico da serragem ge- descarte em locais inadequados. Por outro lado, apesar da ocorrĂŞnrada pelo processamento da madeira em serrarias, por meio de experimen- cia de muitas espĂŠcies madeireiras cerWLĂ€FDGDV QR $PD]RQDV H[LVWHP SRXFR tos realizados no Inpa. Segundo Lima, o aproveitamento ou nenhum estudo quĂ­mico/biolĂłgico desses resĂ­duos, a partir da serragem e sobre os seus metabĂłlitos secundĂĄrios de pedaços de madeiras, pode ser viĂĄvel que podem gerar outros produtos. Por isso, segundo Lima, a pesquino contexto da tecnologia social, como por exemplo, na fabricação de peque- sa veio para atender a uma demanda nos objetos de madeira, principalmen- da cadeia produtiva, sendo composta te por artesĂŁos, mas o foco principal do por uma equipe multidisciplinar de HVWXGR HUD LGHQWLĂ€FDU VXEVWkQFLDV PR- pesquisadores vinculada a Instituileculares desses resĂ­duos, ou seja, pes- çþes de Ensino e Pesquisa, dentre quisar o metabolismo secundĂĄrio de as quais, destaca-se a Universidade molĂŠculas menores com propriedades Federal de SĂŁo Carlos (UFSCar), que vem realizando anĂĄlises de ressofarmacolĂłgicas importantes.

nância magnĂŠtica nuclear e anĂĄlises para a caracterização molecular das substâncias e avaliando o potencial biolĂłgico e farmacolĂłgico da madeira, alĂŠm de pesquisadores do LaboratĂłrio de Tecnologia da Madeira do Inpa, coordenado pela doutora Claudete Catanhede, fornecendo suporte aos aspectos tecnolĂłgicos dos resĂ­duos madeireiros. JĂĄ os estudos Ă€WRTXtPLFRV SDUD D LGHQWLĂ€FDomR GH princĂ­pios ativos sĂŁo efetuados pela Coordenação de Tecnologia de Inovação tambĂŠm do Inpa.

RESULTADOS A partir dos dois primeiros anos do estudo, a pesquisadora cita como resultados o trabalho do mestrando Mauro GalĂşcio Garcia, que avaliou os resĂ­duos de Cumaru (Dipteryx odorata, Fabaceae LGHQWLĂ€FDQGR SRU Ressonância MagnĂŠtica Nuclear substâncias pertencentes Ă classe GRV Ă DYRQRLGHV FXMR SRWHQFLDO TXtmico apresenta propriedades antioxidantes e antitumorais. AlĂŠm disso, a pesquisadora destacou a integração de doutores e mestres do Programa de PĂłs-graduação em QuĂ­mica da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e graduandos vinculados ao PrograPD GH $SRLR j ,QLFLDomR &LHQWtĂ€ca (Paic/Fapeam) e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação &LHQWtĂ€FD -~QLRU 3LELF -U )DSHDP

Temos a ideia de implantar uma nova consciĂŞncia na sociedade, mostrando que ĂŠ possĂ­vel sim, crescer economicamente de forma sustentĂĄvel, onde haja a valorização da natureza. Este apoio ĂŠ fundamental para que possamos FUHVFHU GH IRUPD VXVWHQWiYHO XWLOL]DQGR UDFLRQDOPHQWH RV UHFXUVRV Ă RUHVWDLV H proporcionando o desenvolvimento econĂ´mico na regiĂŁoâ€?. 16 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

NazarĂŠ Nakauth empresĂĄria/Ponto Certo.


MADEIRAS

TECNOLOGIA E INOVAĂ‡ĂƒO

Foto: Stock.XCHNG

Um bom exemplo de como o aproveitamento de resíduos madeireiros Ê viåvel, pode gerar renda e ser um diferencial no mercado de móveis residenciais vem de uma empresa localizada no município de Parintins/AM (localizado 369 quilômetros a leste de Manaus). Com o apoio da Fapeam e Finep via Pappe Subvenção (Programa de Apoio à Pesquisa em Micro e Pequenas Empresas), a empresa Ponto Certo descobriu nas sobras de madeiras de serrarias legalizadas na região amazônica a oportunidade para inovar na fabricação de móveis e artefatos a partir de uma matÊria-prima que iria para o lixo. Entre os produtos gerados pela empresa Ponto Certo estão mesas, carteiras, camas, entre outros produtos comercializados atualmente dentro e fora do município. O diferencial do empreendimento estå na reutilização das sobras de madeiras em móveis com acabamento diferenciado, que exploram as tonalidades e misturas das espÊcies de madeiras em um único produto.

De acordo com a empresĂĄria Raimunda Nakauth, a mesclagem faz FRP TXH D REUD Ă€TXH DLQGD PDLV valorizada. Ela explicou que esse reaproveitamento ajuda a diminuir os resĂ­duos gerados pelas serrarias. “Procuramos oferecer produtos de qualidade e, para que isso ocorra, a empresa realiza testes observando a comodidade dos produtos. A mesclagem de madeiras na confecção de alguns mĂłveis os torna Ăşnicos e diferenciados esteticamenteâ€?, frisou Nakauth. A empresĂĄria contou que a ideia surgiu quando ela passou a observar a grande quantidade de sobras de madeira em serrarias. “As sobras acabavam nos fornos de padarias. A madeira ĂŠ uma matĂŠria-prima muito valiosa e nĂŁo pode ser desperdiçada, por isso resolvemos dar uma nova utilidade aos resĂ­duosâ€?, informou Nakauth. Para a empresĂĄria, o apoio da Fapeam ĂŠ fundamental para incentivar a inovação tecnolĂłgica nas pequenas empresas, principalmente

no interior onde, segundo ela, tudo se torna mais difĂ­cil. “Neste projeto, temos a ideia de implantar uma nova consciĂŞncia na sociedade, mostrando que ĂŠ possĂ­vel sim, crescer economicamente de forma sustentĂĄvel, onde haja a valorização da natureza. Este apoio ĂŠ fundamental para que possamos expandir de forma sustentĂĄvel, utilizar UDFLRQDOPHQWH RV UHFXUVRV Ă RUHVWDLV e proporcionar o desenvolvimento HFRQ{PLFR QD UHJLmRÂľ Ă€QDOL]RX

Quer saber mais? Fale com o pesquisador Niro Higuchi – niro@inpa.gov.br LaboratĂłrio de Manejo Florestal do Inpa no fone (092) 36433100 ou 3643-1843 Fale com a empresĂĄria Raimunda Nakauth – raynakauth@hotmail.com Ponto Certo: (92) 3533-5772 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 17


Foto: Ricardo Oliveira/AgĂŞncia Fapeam

LEITURA ACENTUADA

SITE

IZENI PIRES FARIAS

Doutora em CiĂŞncias BiolĂłgicas (UFPA/PA) Professora do Instituto de CiĂŞncias BiolĂłgicas (ICB) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam)

Ă€s vezes, precisamos encontrar um livro de edição esgotada e simplesmente nĂŁo o localizamos em livrarias ou bibliotecas. O site ZZZ HVWDQWHYLUWXDO FRP EU reĂşne diversos sebos de todo o Brasil, oferecendo um grande acervo de livros, esgotados ou nĂŁo, a baixo custo. HĂĄ um equivalente estrangeiro, o ZZZ DEHERRNV FRP, que reĂşne vendedores de livros de segunda mĂŁo do mundo inteiro. Ambos sĂŁo bastante competentes, pois monitoram e avaliam a reputação de seus vendedores cadastrados.

O livro ‘AmazĂ´nia: landscape and species evolution. A look into the past’ foi uma das literaturas escolhidas para debater nas

reuniĂľes com alunos e colegas em meu laboratĂłrio na Ufam, por considerĂĄ-lo uma excelente sugestĂŁo de leitura aos que procuram HQWHQGHU RV SURFHVVRV TXH OHYDUDP j IRUPDomR H GLYHUVLĂ€FDomR GD ELRWD amazĂ´nica. Publicado em 2010, pelos autores Carina Hoorn e Frank P. Wesselingh, o livro traz uma visĂŁo bastante ampla dos processos JHROyJLFRV KLVWyULFRV H VXD LPSRUWkQFLD QRV SDGU}HV GH GLYHUVLĂ€FDomR GD IDXQD H Ă RUD DPD]{QLFD 2 OLYUR p GLYLGLGR HP VHLV SDUWHV $ SULPHLUD trata dos eventos tectĂ´nicos responsĂĄveis pelos processos evolutivos SDOHRJHRJUiĂ€FRV H SDOHRDPELHQWDLV QD $PD]{QLD $ VHJXQGD SDUWH ID] uma leitura dinâmica com relação Ă s mudanças geolĂłgicas. A terceira parte trata dos eventos climĂĄticos do passado e presente que moldaram e moldam a Bacia AmazĂ´nica. A biota aquĂĄtica e terrestre sob uma perspectiva de registros fĂłsseis ĂŠ discutida na quarta parte. Para os LQWHUHVVDGRV QRV SDGU}HV ELRJHRJUiĂ€FRV GD GLYHUVLĂ€FDomR GD IDXQD H Ă RUD DPD]{QLFD D TXLQWD SDUWH WUD] XPD DERUGDJHP LQWHUDWLYD RQGH D inclusĂŁo de estudos moleculares evidenciando processos histĂłricos e contemporâneos ĂŠ o que mais impressiona em termos de tecnologias para VH HQWHQGHU GD KLVWyULD HYROXWLYD GHVWD PHJDUUHJLmR 3DUD Ă€QDOL]DU D VH[WD parte traz uma sĂ­ntese discutindo a interação dos processos geolĂłgicos/ FOLPiWLFRV H VXDV LQĂ XrQFLDV QD ELRGLYHUVLGDGH GD ELRWD $PD]{QLFD FICHA TÉCNICA: $XWRU H RUJDQL]DGRU Carina Hoorn e Frank P. Wesselingh (GLWRUD Wiley-Blackwell 3iJV 464

18 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

ONDE ENCONTRAR: http://www.amazon.com/

DVD/BLURAY Produzida pelo canal britânico BBC, a sĂŠrie ‘3ODQHWD +XPDQR’ aborda a ligação dos humanos com o restante da natureza. Cada um de seus oito episĂłdios retrata um habitat em particular - mares, gelo, montanhas, desertos, cidades, entre outros - e como algumas comunidades humanas, ao redor da Terra, sobrevivem se adaptando de forma extraordinĂĄria Ă s caracterĂ­sticas daquele ambiente. TambĂŠm mostra que essa adaptação nĂŁo se dĂĄ em via Ăşnica: os animais tambĂŠm se adaptam ao modo de vida dos humanos, derrogando D GLYLVmR DUWLĂ€FLDO TXH FULDPRV HQWUH KRmem e natureza. A empolgante narração do John Hurt nos compele a repetir cenas marcantes e a assistir compulsivamente um episĂłdio atrĂĄs do outro. Professor doutor em InformĂĄtica Leandro Silva GalvĂŁo de Carvalho da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e-mail: lleandrogalvĂŁo@gmail.com


INOVAĂ‡ĂƒO

Amazonas investe alto em projetos de pesquisas em inovação que transformam recursos naturais em produtos com códigos de barras

Foto: CGTextures

Por Cristiane Barbosa e Rafaela Vieira

A

inda nos anos 1980, os termos ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentĂĄvel foram apresentados no RelatĂłrio da Organização das Naçþes Unidas (ONU) ‘Nosso Futuro Comum’, tendo como diretriz a ideia de um desenvolvimento que atenda Ă s necessidades das geraçþes presentes sem comprometer a habilidade das geraçþes futuras de suprirem suas prĂłprias necessidades. Dessa forma, o desenvolvimento sustentĂĄvel ĂŠ concebido na interação entre trĂŞs pilares: o social, o econĂ´mico e o ambiental. Segundo o Programa das Naçþes Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), em uma Economia Verde, o crescimento de renda e de emprego deve ser impulsionado por investimentos pĂşblicos e privados que reduzam as HPLVV}HV GH FDUERQR H D SROXLomR DXPHQWDP D HĂ€FLrQFLD energĂŠtica e o uso de recursos, e previnem perdas de biodiversidade e serviços ecossistĂŞmicos. Em relação a esse cenĂĄrio, o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuĂĄria (Embrapa) AmazĂ´nia Ocidental atuante em Silvicultura Tropical e doutor HP (QJHQKDULD )ORUHVWDO 5REHUYDO /LPD DĂ€UPD TXH D AmazĂ´nia tradicionalmente teve muitos de seus produtos explorados sob a forma de extrativismo, sem a agrega-

ção de valor na origem, exemplo mais clĂĄssico foi o lĂĄtex da seringueira (Hevea brasiliensis), que poucos benefĂ­cios WURX[H DRV SRYRV GD Ă RUHVWD “Hoje com a preocupação mundial com o meio ambiente, em especial com as emissĂľes dos gases de efeito estufa, principalmente o gĂĄs carbĂ´nico (CO2), metano (CH4) e Ăłxido nitroso (N2O), a forma de manejar os recursos naturais precisa gradativamente se adaptar Ă nova ordem mundialâ€?, alertou o pesquisador. /LPD DĂ€UPD TXH DOJXQV SULQFtSLRV GD HFRQRPLD YHUGH precisam ser respeitados como: o balanço positivo de carbono; o balanço positivo energĂŠtico para a produção ou extração; a exploração sustentĂĄvel dos recursos; a conservação da biodiversidade; e a garantia que a exploração do recurso seja compatĂ­vel com a diversidade de produção e renda dos agricultores/extratores. De acordo com a previsĂŁo do MinistĂŠrio Federal AlemĂŁo de Cooperação EconĂ´mica e Desenvolvimento, o GHVWLQR GDV Ă RUHVWDV H GH VHXV SURGXWRV FRPR FDXVD UHmĂŠdio e vĂ­tima das mudanças climĂĄticas afetarĂĄ em Ăşltima anĂĄlise as pessoas: 60 milhĂľes de indĂ­genas, habitantes das Ă RUHVWDV GHSHQGHP LQWHLUDPHQWH GHVWDV H GH VHXV SURGXWRV H SHOR PHQRV H[WUDHP GDV Ă RUHVWDV VHXV UHPpGLRV QDAMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 19


Foto: Abrasel

INOVAĂ‡ĂƒO

Foto: Giovanna Consentini/Pronatus

O biocosmÊtico, antes de mais nada, precisa de conhecimento. Se não houver, ele passa a ser de beleza, onde vende muito mais a imagem da Amazônia, que o próprio produto�. Evandro Silva farmacólogo e proprietårio da Pronatus

turais; e mais de 2 bilhĂľes de pessoas usam principalmente lenha para coziQKDU H VH DTXHFHU ´&RPR DV Ă RUHVWDV vĂŁo suportar as mudanças climĂĄticas e a crescente demanda por seus produtos dependerĂĄ em grande medida do bem-estar humano e do progresso, face aos objetivos de desenvolvimento deste novo milĂŞnioâ€?, frisou. O estudo do Pnuma Towards a Green Economy: Pathways to Sustainable Development and Poverty Eradication, lançado em novembro de 2011, demonstra que vĂĄrios governos e empresas jĂĄ vĂŞm tomando medidas para acelerar uma mudança global para um futuro verde de baixo carbono, com HĂ€FLrQFLD GH UHFXUVRV H LQFOXVmR VRcial. O estudo sobre iniciativas rumo a uma economia verde ĂŠ resultado de uma pesquisa de trĂŞs anos que envolveu centenas de especialistas e foi submetida Ă consulta pĂşblica. Com o resultado preocupante da ConferĂŞncia das Naçþes Unidas sobre Mudanças ClimĂĄticas de Durban, na Ă frica do Sul, em que mais uma 20 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

vez os países participantes não estabeleceram compromissos legais para a redução de suas emissþes de gases estufa, o novo relatório do Pnuma Ê um alento ao mostrar que, pelo menos, se disseminam açþes em vårios países contra a progressão do aquecimento do planeta.

PRODUTOS VERDES

“O guaranĂĄ ĂŠ um fruto essencialmente amazonense e muito conhecido no Brasil e no exterior por meio de sua transformação em bebida. Logo, percebemos que o reaproveitamento de sua matĂŠria-prima teria uma maior visĂŁo e um maior apelo ambiental, ao se mostrar que ĂŠ possĂ­YHO R EHQHĂ€FLDPHQWR GH VHXV UHVtGXos e estou buscando agora patentear meu produtoâ€?, disse a proprietĂĄria da 5HĂ€DP 6DOHWH 5RFKD Fundada em 2007, para desenvolver o projeto, a empresa contou com recursos de R$ 106,27 mil do Programa de Apoio Ă s Micro e Pequenas Empresas (Pappe IntegraomR Ă€QDQFLDGR SHOD )DSHDP HP parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O principal objetivo do projeto ĂŠ contribuir diretamente com o reaproveitamento dos resĂ­duos, de forma a evitar que rios e igarapĂŠs sejam poluĂ­dos. Segundo Rocha, a empresa iniciou sua produção de modo artesanal, em sua prĂłpria casa, atĂŠ o momento em que foi instalada no Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (Cide), quando a produção passou a ser industrializada. “Abracei a causa ecolĂłgica, comecei a produzir em casa meus produtos e vi minha empresa se desenvolver. Agora, as sobras do fruto do guaranĂĄ sĂŁo reaproveitadas com mĂĄquinasâ€?, explicou sobre o sucesso do projeto.

No Amazonas hĂĄ um forte incentivo do Governo do Estado, por meio da Fapeam, ao desenvolvimento da inovação de produtos verdes alinhado ao desenvolvimento social focado, com geração de oportunidades de renda e empregos. Um exemplo ĂŠ a produção de papel a partir de resĂ­duos do fruto do guaranĂĄ. Isso mesmo. Em CONHECIMENTO TRADICIONAL A 0DQDXV Ki XPD HPSUHVD D 5HĂ€DP SERVIÇO DA CIĂŠNCIA que faz a captação de resĂ­duos do fruto, em conjunto com a empresa AgroOutra iniciativa voltada para o risa Produtos AlimentĂ­cios Naturais, atuante nas comunidades ribeirinhas fortalecimento da economia verde e associaçþes indĂ­genas em MauĂŠs no Estado vem da empresa Pronatus do Amazonas, conhecida pela trans(principal fornecedor).


INOVAĂ‡ĂƒO

PESQUISAS NAS EMPRESAS Desde 2004 a Fapeam, em parceria com a Finep, investe em projetos de inovação. Ao todo, jĂĄ foram quatro editais lançados e investidos R$14,15 milhĂľes. O primeiro edital foi o Programa Amazonas de Apoio Ă Pesquisa em Empresas (Pappe 2004); seguido pelos editais 008/2008 e 017/2008 do Programa de $SRLR j 3HVTXLVD HP (PSUHVDV ² 3DSSH 6XEYHQomR H SRU Ă€P o Edital 003/2011 do Programa de Apoio Ă Pesquisa em Empresas na Modalidade Subvenção EconĂ´mica a Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, nas RegiĂľes Norte, Nordeste e Centro-Oeste – Pappe Integração. zar o extrato dos efeitos cosmĂŠticosâ€?, explicou o pesquisador. Na avaliação de Silva, o mercado de biocosmĂŠticos estĂĄ em expansĂŁo, principalmente na AmazĂ´nia. No entanto, ĂŠ necessĂĄrio apoio e investimentos nas pesquisas, sobretudo tempo para se chegar aos resultados. “O biocosmĂŠtico, antes de mais nada, precisa de conhecimento. Se nĂŁo houver, ele passa a ser de beleza, onde vende muito mais a imagem da AmazĂ´nia, que o prĂłprio produtoâ€?, destacou o pesquisador.

Hoje com a preocupação mundial com o meio ambiente, em especial com as emissĂľes dos gases de efeito estufa, principalmente gĂĄs carbĂ´nico (CO2), metano (CH4) e Ăłxido nitroso (N2O), a forma de manejar os recursos naturais precisa gradativamente se adaptar Ă nova ordem mundialâ€?. Roberval Lima doutor em Engenharia Florestal

A empresa adquire matĂŠria-prima com cooperativas extrativistas coordenadas pela AgĂŞncia de Desenvolvimento SustentĂĄvel (ADS), pequenos agricultores, empresa Magama Industrial e PRB do Brasil. Produtos de outras empresas e marcas agregam custo alto, sendo que nenhuma delas usa de fato a matĂŠria-prima adquirida QD Ă RUD DPD]{QLFD “Isso ĂŠ perceptĂ­vel nĂŁo sĂł no bolso do comprador, mas tambĂŠm na pele do indivĂ­duo que usa. O sistema de pigmentação da pele

Foto: Divulgação/Embrapa

formação dos recursos da biodiversidade amazĂ´nica em produtos cosmĂŠticos e alimentĂ­cios. A partir do conhecimento tradicional dos povos da AmazĂ´nia, o pesquisador e proprietĂĄrio da Pronatus, Evandro Silva, buscou inspiração na antiga lenda do mulateiro ou pau-mulato-da-vĂĄrzea (Calycophyllum spruceanum), conhecido como a ĂĄrvore da juventude. “O creme de mulateiro apresenta trĂŞs fatores que contribuem para demonstrar sua importância no desenvolvimento de novos biocosmĂŠticos: ĂŠ ecologicamente correto (utiliza-se na produção do cosmĂŠtico DV FDVFDV TXH FDHP Ă€VLRORJLFDPHQWH no processo de renovação celular da ĂĄrvore); possui o atrativo da lenda e tem efeito biolĂłgico comprovadoâ€?, explicou Silva. Silva explicou que nesta pesquisa WDPEpP IRL YHULĂ€FDGR R HIHLWR KLGUDtante. “Outras atividades foram sendo observadas ao longo da pesquisa, como o efeito antirrugas e o clareamento da pele. A pesquisa quer comprovar se a planta realmente realiza a atividade esperada e depois padroni-

AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 21


INOVAĂ‡ĂƒO

humana ĂŠ composto por dois tipos de cĂŠlulas: melanĂłcitos e queratinĂłcitos, as quais interagem formando uma unidade funcional, cuja atividade determina a maior ou menor coloração da pele e a absorção dos raios ultravioletas. O mais importante disso tudo ĂŠ que o creme pode ser usado a qualquer horĂĄrio do dia e nĂŁo precisa do uso concomitante GH Ă€OWUR VRODUÂľ H[SOLFRX O creme passou a ser bastante procurado pelos consumidores, assim que a pesquisa foi divulgada na mĂ­dia local, fazendo com que o empresĂĄrio procurasse patentear as açþes do produto sobre a pele humana.

TELHAS DE PET: SOLUĂ‡ĂƒO SUSTENTĂ VEL No Amazonas, as garrafas de PET se tornaram uma solução sustentĂĄvel para o setor da construção civil. O motivo estĂĄ na iniciativa da empresa Telha Leve, que tem sua produção sustentada pela compra de garrafas PET, que sĂŁo fornecidas por associaçþes de catadores, atuantes em muitos bairros da capital. Atualmente, a empresa tem cadastrados mais de 20 postos de coleta em toda a cidade, arrecadando 13 toneladas do produto, por semana. Segundo o engenheiro Luiz Antonio Formariz, o diferencial da telha feita a partir do PET ĂŠ que ela passa a pesar oito vezes menos do que a comum feita de barro. AlĂŠm disso, as telhas podem ser encontradas nas cores azul, amarelo, vermelho e a cor clĂĄssica marrom-cerâmica. “A durabilidade ĂŠ outro diferencial, alĂŠm de sua importante contribuição ao meio ambiente ela tambĂŠm ĂŠ 100% ecolĂłgicaâ€?, explicou. 22 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

Outro aspecto bastante importante ĂŠ o aumento da resistĂŞncia da mesma aos impactos. “Elas sĂŁo mais resistentes que as telhas convencionais. Isso sem falar na diminuição do impacto ambiental. Esse produto possibilitou um controle maior a esse problema que hoje ĂŠ bastante debatido na sociedadeâ€?, disse Formariz. Ainda de acordo com o engenheiro, atualmente o mercado de reciclagem reaproveita 30% dos PETs, que levariam anos para se decompor na natureza. A popularização da coleta seletiva possibilita um cuidado maior na manipulação, gerando oportunidades de negĂłcios para as pessoas que se encontram desempregadas. Na avaliação do pesquisador da Embrapa, Roberval Lima, muitos dos serviços ambientais e produtos advindos da floresta sĂŁo considerados na economia convencional como externalidades. Segundo ele, uma economia verde deve, portanto considerar nĂŁo apenas o valor atual de mercado do produto em si, mas tambĂŠm outros valores que ainda nĂŁo tĂŞm preço nos mercados econĂ´micos tradicionais como as interaçþes ecolĂłgicas, a beleza cĂŞnica, as funçþes ambientais, a capacidade de regeneração do capital natural e de assimilação dos resĂ­duos e emissĂľes.

“Essas consideraçþes constituem DV HVSHFLĂ€FLGDGHV GD HFRQRPLD HFRlĂłgica ou economia dos recursos naturais ou economia ambiental. Portanto, o uso efetivo dos bens naturais da AmazĂ´nia deve gradativa e continuamente incorporar esses valores ecolĂłgicos. Da mesma forma, a produção desses bens deve acompanhar as mudanças ambientais que o planeta e todos os seus habitantes HVWmR H[SHULPHQWDQGRÂľ DĂ€UPRX

Quer saber mais? Para obter mais informaçþes sobre os projetos, entre em contato com as empresas: 1. Pronatus do Amazonas: (92) 3635-1735 ou pelo e-mail: diretoria@pronatus.com.br 5HĂ€DP RX SHOR H PDLO VDOHWHĂ€EUDV#\DKRR FRP EU / 0 GD $PD]{QLD /WGD 7HOKD /HYH 3238-2471 ou pelo e-mail: luiz@telhaleve.com


ALTO PADRÃ0

Programa reúne grupos de pesquisa para desenvolver estudos de alto nível voltados à conservação do meio ambiente amazônico. Por Nefa Costa e Ulysses Varela

Conservação ambiental com excelência

Foto: Ricardo Oliveira/ Agência Fapeam

U

P GRV PDLRUHV GHVDÀRV GRV FLHQWLVWDV QD DWXDOLGDGH p GHVHQYROYHU PHLRV HÀFD]HV GH garantir o conhecimento e a conservação da Amazônia junto a seus recursos naturais. Debruçados em laboratórios ou em campo dezenas de cientistas desenvolvem projetos para EXVFDU PHLRV TXH JDUDQWDP D LGHQWLÀFDomR GH QRYDV GHVcobertas, a preservação de espécies e também formas de explorar minimizando os impactos negativos . Para que isso seja possível, os cientistas contam com o Programa de Apoio a Núcleos de Excelência em Ciência e Tecnologia (Pronex), que a partir de recursos do Governo do Estado, por meio da Fapeam e do Conselho 1DFLRQDO GH 'HVHQYROYLPHQWR &LHQWtÀFR H 7HFQROyJLFR (CNPq), apoia a atuação de grupos de alta competência que tenham liderança e papel nucleador na atuação em Ciência, Tecnologia e Inovação no Amazonas. Entre os 13 projetos em andamento atualmente, que juntos somam investimentos em pesquisas no valor aproximado de R$ 7,8 milhões, dois chamam a atenção pela envergadura e alcance dos resultados que serão proporcionados quando estiverem concluídos, principalmente no que se refere às questões ambientais e de sustentabilidade. AMAZONAS FAZ &,È1&,$ 23


ALTO PADRĂƒO

AUTOMAĂ‡ĂƒO AMAZĂ”NIA

E PROTEĂ‡ĂƒO DA

Com uma equipe de aproximadamente 16 pessoas, entre pesquisadores e professores, o nĂşcleo de excelĂŞncia, coordenado pelo doutor em CiĂŞncia da Computação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Raimundo da Silva Barreto, foi criado para desenvolver um projeto para trabalhar com VeĂ­culos AĂŠreos NĂŁo Tripulados (Vant), ou seja, sem piloto. O projeto denominado ‘NĂşcleo de excelĂŞncia em desenvolvimento de sistemas embarcados para VeĂ­culos AĂŠreos NĂŁo Tripulados e robĂ´s tĂĄticos mĂłveis’, estĂĄ em andamento e o maior GHVDĂ€R p FULDU XP 9DQW XPD DHURQDYH autĂ´noma que pode ser remotamente controlada por uma estação localizada em solo. Essas aeronaves sĂŁo compostas basicamente por um sistema aĂŠreo, um sistema de solo e um sistema de comunicação e apesar de ser parecido com um aviĂŁo, possuem um formato muito menor, chegando a cerca de 2 metros de envergadura entre as pontas da asas. Segundo Barreto um dos objetivos do veĂ­culo aĂŠreo ĂŠ sobrevoar 24 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

fronteiras da AmazĂ´nia e ĂĄreas de Ă RUHVWD SDUD LGHQWLĂ€FDU GHVPDWDPHQWRV WUiĂ€FRV GH DQLPDLV VLOYHVWUHV prĂĄtica de guerrilhas e entradas nĂŁo autorizadas no Brasil. O funcionamento do Vant permitirĂĄ a detecção de crimes ambientais possibilitando o acionamento de patrulhas ambientais em tempo real para atuar sobre os infratores. “Esse veĂ­culo serĂĄ equipado com câmeras, o que tornarĂĄ possĂ­vel o UHJLVWUR IRWRJUiĂ€FR H Ă€OPDJHP (OH tambĂŠm serĂĄ equipado com um sensor de temperatura, o qual detectarĂĄ a presença de fogo ou pessoas em um local nĂŁo autorizado, como por exemplo, indivĂ­duos nĂŁo autorizados numa ĂĄrea de preservaçãoâ€?, explicou o pesquisador. Outro aspecto importante do projeto diz respeito Ă segurança nas fronteiras brasileiras, pois serĂĄ possĂ­vel a LGHQWLĂ€FDomR GH JXHUULOKDV H SHVVRDV nĂŁo autorizadas montando acampa-

Nossa motivação sempre foi gerar um projeto voltado Ă preservação do meio ambiente e estamos perto de realizar issoâ€?. Raimundo da Silva Barreto doutor e coordenador do projeto

PHQWRV QR PHLR GD Ă RUHVWD RX D LGHQWLĂ€FDomR GH DHURSRUWRV FODQGHVWLQRV A maior vantagem em utilizar um veĂ­culo aĂŠreo estĂĄ na possibilidade de sobrevoos de forma praticamente imperceptĂ­vel, pois o equipamento ĂŠ pequeno, difĂ­cil de abater e o custo de uma operação ĂŠ muito mais baixo em relação ao envio de um aviĂŁo ou helicĂłptero para averiguar um problema. “A grande vantagem ĂŠ esta, os resultados sĂŁo os mesmos, mas com um custo bem mais inferiorâ€?, enfatizou Barreto. Atualmente o projeto estĂĄ adquirindo o Vant e, quando estiver em operação, as ocorrĂŞncias serĂŁo repassadas ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), um ĂłrgĂŁo ambiental do governo brasileiro, vinculado ao MinistĂŠrio do Meio Ambiente (MMA) e integrado ao Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). “O ICM%LR WHP XPD SDWUXOKD Ă XYLDO H WHUUHVWUH YROWDGD DR FRPEDWH GH WUDĂ€FDQWHV

Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

Imagine um veículo aÊreo não tripulåvel, conhecido por Vant, com autonomia de voo e equipamentos moGHUQRV VREUHYRDQGR D à RUHVWD $PD]{QLFD SDUD DMXGDU QR FRPEDWH DR WUiÀFR de animais silvestres, problemas ambientais e atÊ entradas não autorizadas no Brasil ou um estudo para gerar um entendimento sobre os processos ecológicos e evolutivos que determinam a estrutura das comunidades de peixes que habitam os ambientes aquåticos do MÊdio Rio Negro. Iniciados em 2009, estes projetos jå estão em andamento.


ALTO PADRĂƒO Sistemas de monitoramento facilitam R FRQWUROH GD Ă RUHVWD

de animais silvestres. A partir das informaçþes que receberem eles vĂŁo direcionar patrulhas ao local indicado. Nossa motivação sempre foi gerar um projeto voltado Ă preservação do meio ambiente e estamos perto de UHDOL]DU LVVRÂľ Ă€QDOL]RX %DUUHWR

ROBĂ”S TĂ TICOS MĂ“VEIS Outra vertente do projeto pretende usar RobĂ´s TĂĄticos MĂłveis (RTMs) capazes de se locomover em diversos ambientes de modo semi ou completamente autĂ´nomo. Um RTM se destaca por sua operação em situaçþes onde hĂĄ a presença de risco de morte, tais como em açþes da polĂ­cia, de combate a incĂŞndios, inspeção de artefatos explosivos, etc. Segundo Barreto, um maior nĂ­vel de autonomia ĂŠ atingido quando neles ĂŠ incorporada a capacidade de percepção (sensores que conseguem ‘ler’ o ambiente), capacidade de agir (meios capazes de produzir açþes, tais como o deslocamento do robĂ´ no ambiente), robustez e inteligĂŞncia (capacidade de lidar com as mais diversas situaçþes de modo a resolver e executar tarefas por mais complexas que possam parecer). As aplicaçþes dos RTMs podem ser as mais variadas, desde aplicaçþes ambientais (inspeção de reservas ambientais e gasodutos, desastres ecolĂłgicos, monitoramento de animais, pesquisas climĂĄticas) quanto a aplicaçþes de segurança, como reconhecimento e localização de alvos, etc.

SUSTENTABILIDADE E RECURSOS PESQUEIROS

E falando em aplicaçþes ambientais, um projeto chama a atenção

quando o assunto ĂŠ manejo de pesca que envolve um componente biolĂłgico. Quando isso acontece logo surge a necessidade de conhecer em profundidade as espĂŠcies estudadas, a ecologia e o ambiente em que vivem, tudo isso para saber como elas interagem com o meio ambiente. Essas preocupaçþes motivaram o desenvolvimento do projeto ‘Compreendendo sistemas complexos: o manejo pesqueiro como indutor de desenvolvimento sustentĂĄvel, proteção ambiental e bem-estar social’, coordenado pelo doutor em CiĂŞncia AgrĂĄrias, com ĂŞnfase em recursos pesqueiros e Engenharia de Pesca e professor da Ufam, Carlos Edwar de Carvalho Freitas, tambĂŠm em andamento por meio do Pronex/CNPq/Fapeam. Iniciado em setembro de 2010, o projeto estĂĄ sendo desenvolvido na regiĂŁo de Barcelos, municĂ­pio localizado a 399 quilĂ´metros a noroeste de Manaus, devendo ser concluĂ­do em 2013. A vertente da pesquisa estĂĄ dividida em duas partes: uma mais ecolĂłgica e outra mais social e econĂ´mica. Mais ecolĂłgica porque hĂĄ um trabalho recente realizado dentro do projeto no qual foi avaliado o habitat das espĂŠcies de peixe ornamental conhecida como neon cardinal (Paracheirodon axelrodi), que apresentou resultado

interessante do ponto de vista ecolĂłgico, de sustentabilidade da espĂŠcie e da polĂ­tica de conservação. ´$ SHVTXLVD LGHQWLĂ€FRX TXH Ki uma caracterĂ­stica de habitat determinado pela temperatura da ĂĄgua. ([LVWHP HVSpFLHV TXH Ă€FDP QD SDUWH mais rasa e mais quente do rio e ouWUDV TXH Ă€FDP QD SDUWH PDLV IXQGD e mais fria. Isso ĂŠ importante porque o processo de exploração deve respeitar o habitat em que cada uma viveâ€?, alertou Freitas. A vertente social e econĂ´mica do projeto se dĂĄ pelo objetivo de aplicar polĂ­ticas pĂşblicas na utilização dos UHFXUVRV QDWXUDLV FRP D Ă€QDOLGDGH GH contribuir para a conservação dos estoques naturais de algumas espĂŠcies de peixes ornamentais.

EXPLORAĂ‡ĂƒO SUSTENTĂ VEL De acordo com Freitas, a regiĂŁo do MĂŠdio Rio Negro apresenta uma economia bastante dependente do uso dos recursos naturais pesqueiros. No entanto, a ausĂŞncia da regulação das atividades de pesca comercial, esportiva e ornamental vem impedindo a apropriação dos benefĂ­cios pelos habitantes da regiĂŁo. AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 25


ALTO PADRÃO

INVESTIMENTOS EM TODAS AS EDIÇÕES DO PRONEX JÁ REALIZADAS OU EM ANDAMENTO Programa de Apoio a Centros de Excelência em CT&I - PRONEX

CNPq

010/2003 016/2006 003/2009 023/2009

Total

400.000,00 1.800.000,00 4.500.000,00 3.296.538,71

2 5 7 6

9.996.538,71

20

Fonte: Asspred/Fapeam COORDENADOR

Projetos em andamento por meio do PRONEX PROJETO

1

Albertina Pimentel Lima - INPA

Fatores ecológicos e históricos na evolução da biota Amazônica: variação molecular e fenotípica de espécies e comunidades biológicas na Amazônia Ocidental.

2

Bruce Rider Forsberg - INPA

A Biogeoquímica do Carbono e Mercúrio na bacia Amazônica.

3

Eliana Feldeberg - INPA

Genômica comparativa de peixes amazônicos frente a diferentes desafios ambientais.

4

Flávio Jesus Luizão - INPA

Potenciclidades e susceptibilidades ambientais da mesorregião Sul do Amazonas: clima, expansão agropecuária e hostpot de biodiversidade.

5

Maria Luiza Garnelo Pereira - FIOCRUZ/ILMD

Saúde e Condições de Vida dos Povos Indígenas na Amazônia.

6

Renato de Azevedo Tribuzy - UFAM

Geometria das Imersões Isométricas.

7

Adrian Martin Pholit - INPA

NOSSAPLAM – Núcleo de Novas Safras e Substâncias Ativas em Escala Multigrama de Plantas Amazônicas.

8

Carlos Edwar de Carvalho Freitas - UFAM

Compreendendo sistemas complexos: o manejo pesqueiro como indutor de desenvolvimento sustentável, proteção ambiental e bem-estar social.

9

Eduardo Freire Nakamura - FUCAPI

Anura – Monitoramento de Anuros Baseado em Redes de Sensores sem Fio para Avaliação Precoce de Estresse Ecológico.

10

Izeni Pires Farias - UFAM

Base de dados integrados da biodiversidade da ictiofauna dos rios de corredeiras/cachoeiras da Amazônia.

11

José Aldemir de Oliveira - UFAM

Cidades Amazônicas: dinâmicas espaciais, rede urbana local e regional.

12

Maria da Paz Lima - INPA

Estudo tecnológico, químico e biológico para subsídios ao aproveitamento de resíduos madeireiros.

13

Raimundo da Silva Barreto - UFAM

Núcleo de excelência em desenvolvimento de sistemas embarcados para veículos aéreos não tripulados e robôs táticos móveis.

Fonte: Asspred/Fapeam

Quando o assunto é a pesca esportiva, o projeto aponta uma pressão sobre o Tucunaré (Cichla spp). Segundo a pesquisa, não existem indícios claros de sobrepesca para a espécie. “Nós estamos trabalhando com uma técnica desenvolvida para a avaliação do estoque do Tucunaré. O que acontece é que existe um conÁLWR HQWUH R SHVFDGRU HVSRUWLYR H R pescador comercial, é uma questão de como os dois veem o mesmo recurso”, explicou Freitas. $ SHVTXLVD Mi LGHQWLÀFRX TXH XP pescador comercial vê o tucunaré como um peixe comercializado pelo número de quilos do peixe multiplicado pelo valor de mercado, digamos R$ 8. Já um pescador esportivo, vê as espécies maiores, de 5 ou mais quilos, como um troféu que ele tira foto e devolve ao rio. “São duas formas de ver o mesmo peixe, que devem ser equacionadas de forma a gerar um equilíbrio tanto para o pescador comercial quanto ao esportivo, para que assim ambos possam explorar de forma sustentável o recurso”, alertou o coordenador. De acordo com Freitas, a região do Médio Rio Negro apresenta uma economia bastante dependente do uso dos recursos naturais pesqueiros. No entanto, a ausência da regulação das atividades de pesca comercial, esportiva e ornamental, vem impedindo a apropriação dos benefícios pelos habitantes da região.

Quer saber mais? Fale com o pesquisador Raimundo da Silva Barreto – rbarreto@icomp.ufam.edu.br Depart. de Ciência da Computação da Ufam no fone (092) 3671-0870 Carlos Edwar de Carvalho Freitas – cefreitas@ufam.edu.br Depart. de Ciências Pesqueiras da Ufam no fone (092) 3308-5021 26 AMAZONAS FAZ &,È1&,$


ação

CIĂŠNCIA RESPONDE

ivulg Foto: D

O QUE OCASIONA O EFEITO ESTUFA? Jorge Neves de Oliveira Filho, estudante do Cursinho PrĂŠ-vestibular PrĂŠ-MĂŠdico.

POR QUE AS PLACAS TECTÔNICAS SE MEXEM? Esteliany de Souza Martins, estudante do ColÊgio Brasileiro Pedro Silvestre, 2º ano do Ensino MÊdio. A superfície do planeta Terra Ê composta por vårias placas tectônicas, que são blocos sólidos distribuídos sobre a crosta (lembra um ovo com a casca toda rachada). Essas placas são móveis, ou seja, podem se deslocar no sentido vertical e/ ou horizontal, inclusive se sobrepondo em alguns casos umas sobre as outras. Quando uma localidade (país, estado, cidade ou ilha) estå sobre o encontro dessas placas e elas se movem, ocorrem os terremotos, que podem ser de baixa, mÊdia ou grande magnitude (abalo). A escala que mede tal magnitude Ê denominada Escala Richter (que varia de 0 a 9). O Brasil se encontra assentado no meio da placa Sul-Americana, por isso que não temos terremotos expressivos em nosso território, apenas alguns pequenos abalos, resultado dos ajustes dessas placas.

O efeito estufa ĂŠ ocasionado pelo aprisionamento da energia infravermelha (termal) emitida (na forma de radiação) pela superfĂ­cie do planeta em direção Ă atmosfera. Os chamados gases de efeito estufa, tal como vapor d’ågua, diĂłxido de carbono, entre outros, sĂŁo os responsĂĄveis por absorver essa energia radiante (impedida de sair para o espaço), contribuindo assim para o aquecimento da atmosfera. Os principais gases que contribuem para o efeito estufa sĂŁo: DiĂłxido de Carbono CO2 com 53%; Metano CH4 com 17%; OzĂ´nio 7URSRVIpULFR 2 FRP &ORURĂ XRUFDUERQHWR CFC com 12%; e Ă“xido Nitroso NO3 com 5%. 5HVSRQGHX Luiz Cândido, doutor em Meteorologia do Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia (Inpa).

COMO SERIA O MEIO AMBIENTE SEM AS Ă RVORES? Claudson da Costa, do ColĂŠgio Maria Madalena Santana de Lima, 3Âş ano do Ensino MĂŠdio.

$ Ă RUHVWD p FRPSRVWD SRU XP FRQMXQWR GH iUYRUHV Seu principal papel ĂŠ proteger todas as outras formas de vida do planeta. Sem as ĂĄrvores, o ciclo hidrolĂłgico seria muito diferente, a troca contĂ­nua GH iJXD QD DWPRVIHUD VROR iJXDV VXSHUĂ€FLDLV subterrâneas e das plantas seria afetada. As 5HVSRQGHX Josildo Severino de Oliveira, mesĂĄrvores tĂŞm um papel muito importante porque WUDQGR HP *HRJUDĂ€D )tVLFD SHOD 8QLYHUVLGDGH contribuem com um efeito moderador sobre o de SĂŁo Paulo em parceria com a Universidade do clima e ajudam a manter a qualidade das ĂĄguas Estado do Amazonas (USP/UEA). e a estabilidade do solo. 5HVSRQGHX Niro Higuchi, doutor em Engenharia Florestal do Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia.

7i FRP G~YLGD" $ FLrQFLD UHVSRQGH 0DQGH VXD SHUJXQWD SDUD GHFRQ#IDSHDP DP JRY EU AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 27


CAPA

O uso de plantas oleaginosas da Amazônia e a utilização de resíduos agrícolas mostram-se promissores na produção de óleos, que podem ser empregados na geração de energia elétrica em comunidades isoladas. Por Luís Mansuêto

28 AMAZONAS FAZ &,È1&,$


Foto: EpitĂĄcio Pessoa - AE

CAPA

A

Organização das Naçþes Unidas 218 DQXQFLRX TXH VHUi o Ano Internacional da Energia 6XVWHQWiYHO SDUD 7RGRV $ iniciativa foi divulgada durante a Cúpula (QHUJLD 0XQGLDO GR )XWXUR TXH RFRUUHX QR PrV GH MDQHLUR GHVWH DQR HP $EX 'KDEL QRV (PLUDGRV ¸UDEHV 8QLGRV $ LQLFLDWLYD YLVD DOFDQoDU WUrV PHWDV garantir acesso universal a serviços GH HQHUJLD PRGHUQD UHGX]LU HP D intensidade energÊtica global e aumentar HP R XVR GH HQHUJLDV UHQRYiYHLV HP WRGR R PXQGR DWp $ DomR YLVD PXGDU R TXDGUR DWXDO QR TXDO XPD HP cada cinco pessoas não possui acesso à HOHWULFLGDGH PRGHUQD H FHUFD GH ELOK}HV de pessoas precisam de madeira, carvão, FDUYmR YHJHWDO RX GHMHWRV DQLPDLV SDUD utilizar no cozimento de alimentos e se DTXHFHU GXUDQWH DV EDL[DV WHPSHUDWXUDV FRQIRUPH LQIRUPDo}HV GD 218

AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 29


CAPA

ração de energia elĂŠtrica no interior do Estado ĂŠ a dependĂŞncia das sedes administrativas quanto ao uso de geradores abastecidos com diesel, o qual ĂŠ altamente poluente, por ser derivado do petrĂłleo e porque tem composição metais pesados nocivos Ă saĂşde humana. Conforme o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), JosĂŠ de Castro Correia, o Amazonas consome cerca de 1,2 bilhĂŁo de litros de combustĂ­veis na produção de energia elĂŠtrica. Contudo, nĂŁo hĂĄ nenhuma forma de compensação ambiental. Segundo o pesquisador, energia elĂŠWULFD VLJQLĂ€FD LQFOXVmR VRFLDO DXPHQWR de renda, acesso a escolas e mĂŠdicos, bem como participação na cadeia produtiva. Hoje, segundo ele, uma realidade distante para muitos, uma vez que a concentração das riquezas do Amazonas estĂĄ em poucos municĂ­pios, como Coari, Itacoatiara, Parintins, Manacapuru e na capital do Estado. Em 2009, as cinco cidades possuĂ­am 87,4% do total do Produto Interno Bruto (PIB)

$ HQHUJLD WHP TXH VHU HQFDUDGD FRPR LQFOXVmR VRFLDO (OD p WmR QHFHVViULD TXDQWR XP PpGLFR GHQWLVWD RX HVFROD¨ 5XEHP &HVDU 6RX]D Pesquisador da Ufam, doutor em Planejamento de Sistemas EnergÊticos pela Unicamp, diretor do Centro de Desenvolvimento EnergÊtico Amazônico/Ufam

30 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

No Amazonas, a falta de acesso das comunidades ribeirinhas Ă enerJLD HOpWULFD WDPEpP WHP GLĂ€FXOWDGR o desenvolvimento do interior do Estado. Com cerca de 7 mil comunidades isoladas no Estado, apenas 45 sĂŁo atendidas pelo sistema Eletrobras Amazonas Energia. Em 2008, o Governo Federal instituiu o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia ElĂŠtrica, chamado de Luz para Todos, o qual visava propiciar, atĂŠ o ano de 2010, o atendimento em energia elĂŠtrica Ă população do meio rural brasileiro que ainda nĂŁo possuĂ­a acesso a esse serviço pĂşblico. Em seis anos, o Programa Luz para Todos conseguiu energizar 12 comunidades isoladas no Estado do Amazonas, segundo JosĂŠ de Castro Correia, pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e doutor em Planejamento de Sistemas EnergĂŠticos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Outro entrave a ser vencido na ge-

amazonense, conforme o Ăşltimo levantamento do Instituto Brasileiro de *HRJUDĂ€D H (VWDWtVWLFD ,%*( Para apontar possĂ­veis soluçþes SDUD D GLĂ€FXOGDGH GH DFHVVR j HQHUgia elĂŠtrica em comunidades do interior do Amazonas, a reportagem da revista Amazonas Faz CiĂŞncia ouviu pesquisadores com larga experiĂŞncia no assunto, entre eles pesquisadores da Ufam, Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia (Inpa). Os entrevistados foram unânimes em dizer que nĂŁo hĂĄ uma Ăşnica saĂ­da para solucionar o problema da falta de energia em comunidades isoladas. Eles citaram como exemplos a implantação de programas e projetos distintos, conforme as caracterĂ­sticas das localidades, alĂŠm de investimentos em energias renovĂĄveis e pesquisas na ĂĄrea de biocombustĂ­veis a partir de plantas oleaginosas da AmazĂ´nia (que servem de fonte para a obWHQomR GH yOHRV H UHVtGXRV Ă RUHVWDLV


2V ULEHLULQKRV SUHIHUHP YHQGHU o óleo de andiroba e comprar o GLHVHO SDUD JHUDU HQHUJLD¨

Nesse sentido, açþes voltadas para o desenvolvimento de novas tecnologias tĂŞm recebido investimentos por parte do Governo do Estado, via Fapeam. É o caso do Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologias para a Produção de BiocombustĂ­veis (Biocom), o qual tambĂŠm conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento &LHQWtĂ€FR H 7HFQROyJLFR &13T (P a Fundação aprovou seis projetos que receberam juntos cerca de R$ 1,3 milhĂŁo para pesquisas voltadas Ă autossustentabilidade energĂŠtica de comunidades do interior. Apesar do avanço conquistado, os pesquisadores tambĂŠm ressaltaram que ainda hĂĄ muito a se fazer. Soluçþes na ĂĄrea de logĂ­stica, alto Ă­ndice de acidez das plantas oleaginosas GR $PD]RQDV FXVWR HOHYDGR GD SXULĂ€FDomR GH Ăłleos, domesticação e ausĂŞncia de locais para plantio das palmeiras produtoras de Ăłleo, auVrQFLD GH ELRUUHĂ€QDULDV H GLĂ€FXOGDGH QD Ă€[Dção de cientistas e professores no interior sĂŁo alguns dos entraves a serem superados. Diretor do Centro de Desenvolvimento EnergĂŠtico AmazĂ´nico da Universidade Federal do Amazonas (CDEAM/Ufam), Rubem Cesar Rodrigues Souza disse que a chegada do gĂĄs natural em Manaus se apresentou como importante projeto para o setor elĂŠtri-

Foto: Divulgação

Foto: Ricardo Oliveira/AgĂŞncia Fapeam

CAPA

-RVp GH &DVWUR &RUUHLD Pesquisador da Ufam e doutor em Planejamento de Sistemas EnergĂŠticos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

co, bem como a perspectiva de interligação do sistema de Manaus (AM) Ă hidrelĂŠtrica de TucuruĂ­ (PA). Contudo, tais projetos atingem marginalmente o interior do Estado. Segundo Souza, os problemas de acesso Ă eletricidade passam por aspectos tecnolĂłgicos e atĂŠ regulatĂłrios. Ele ressaltou a necessidade do estabelecimento de normas e inFHQWLYRV HĂ€FD]HV SDUD DVVHJXUDU D YLDELOLGDGH tĂŠcnico-econĂ´mica da prestação do serviço de energia elĂŠtrica Ă s comunidades isoladas e Do}HV GH HĂ€FLrQFLD HQHUJpWLFD HP JHUDO â€œĂ‰ preciso enxergar a realidade local, pois hĂĄ uma grande quantidade de fornos e foJ}HV j OHQKD GH EDL[tVVLPD HĂ€FLrQFLD TXH VmR causadores de grandes problemas de saĂşde, FRPR SRU H[HPSOR JODXFRPD H GLĂ€FXOGDGHV respiratĂłrias. Foi patenteada uma tecnologia que proporciona redução de 70% do consuPR GH OHQKD HP IRUQRV GH IDULQKD $ HĂ€FLrQcia energĂŠtica precisa ser trabalhada de maneira mais efetiva, pois as perdas no sistema elĂŠtrico do Estado sĂŁo da ordem de 30%, em mĂŠdiaâ€?, salientou. O problema deve ser tratado de forma sistĂŞmica, conforme o pesquisador. Para ele, ĂŠ necessĂĄria a concepção de um programa energĂŠtico estadual capaz de contemplar vĂĄrias açþes e envolver diversos agentes. Os atores AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 31


CAPA

combustíveis. No entanto, deve-se avaliar a viabilidade da cadeia produtiva. “O conhecimento gerado em escala laboratorial é importante, mas QmR p VXÀFLHQWH SDUD DVVHJXUDU VR]Lnho a concepção e o desenvolvimento de políticas públicas”, avisou.

ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DA MANDIOCA

Atualmente, Souza trabalha no projeto ‘Geração de Energia Elétrica com Etanol de Mandioca na Amazônia’, o qual possui quatro frentes

de trabalho. A primeira consiste em validar a tecnologia de grupos geradores movidos a etanol na capacidade de 250 kW, produzidos pela empresa Vale Soluções em Energia S/A - VSE. A meta é instalar dois grupos geradores na termelétrica de Lindoia, no município de Itacoatiara (distante 183 quilômetros da capital). As máquinas serão submetidas a regime contínuo de funcionamento, em condições de carga real. Elas operarão em paralelo com máquinas a diesel. Contudo, inicialmente elas não funcionarão com etanol de mandioca,

Pesquisadora Dra. Ivoneide Barros investiga potencial do cupuaçu na produção de biodiesel

32 AMAZONAS FAZ &,È1&,$

Foto: Ricardo Oliveira/ Agência Fapeam

precisam atuar de forma coordenada, em sintonia com as políticas públicas federais e mundiais na busca de sistemas ambientalmente adequados. Quanto à produção de biocombustíveis, Souza deu o exemplo da produção de etanol a partir da canade-açúcar, a qual se mostrou viável a partir de ações coordenadas. Ele pontuou que não se pode produzir biocombustível apenas por produzir, é preciso estar atrelado a um modelo de desenvolvimento regional. O Amazonas dispõe de espécies nativas com potencial para produção de bio-


CAPA

pois o investimento ĂŠ bastante elevado nesta fase. A segunda fase da pesquisa consisWH HP YHQFHU R GHVDĂ€R GD SURGXomR GH etanol de variedades de mandioca desenvolvidas para o ambiente amazĂ´nico pela Empresa Brasileira de Pesquisa em AgropecuĂĄria (Embrapa). Foram plantadas quatro variedades de mandioca na Fazenda Experimental da Ufam, as quais apresentam produtividade acima de 20 t/ha. No local, estĂĄ sendo implantada uma miniusina de produção de etanol. Ela funcionarĂĄ como laboratĂłrio para obter ganhos de produtividade e qualidade no etanol. A unidade estarĂĄ em operação a partir do segundo semestre deste ano. “Estamos fazendo o levantamento de ĂĄreas antropizadas (alteradas pela atividade humana) passĂ­veis de receberem o plantio mecanizado da mandioca e as ĂĄreas passĂ­veis de organização local para produção de mandioca via agricultura familiar. 3DUDOHODPHQWH HVWDPRV LGHQWLĂ€FDQGR a demanda de energia elĂŠtrica para o mercado da concessionĂĄria de energia elĂŠtrica. Outra frente de trabalho estĂĄ sendo implementada no âmbito da legislação ambiental e tambĂŠm no contexto do setor energĂŠticoâ€?, destacou. Quanto Ă variedade de mandiocas, Souza explicou que a questĂŁo ĂŠ que existem mais de cem variedades da raiz. As apropriadas para produção de etanol nĂŁo sĂŁo utilizadas em maior esFDOD SDUD Ă€QV DOLPHQWtFLRV QR $PD]Rnas. Todavia, os primeiros resultados indicam compatibilidade da manutenção das duas culturas, quando se trata de cultivo via agricultura familiar. 2 SURMHWR p Ă€QDQFLDGR SHOD (OHWURbras Amazonas Distribuidora de Energia S/A e ĂŠ desenvolvido pelo Instituto

Energia e Desenvolvimento SustentĂĄvel (Inedes) e pelo Centro de Desenvolvimento EnergĂŠtico AmazĂ´nico.

RESĂ?DUOS DE CUPUAÇU PARA PRODUĂ‡ĂƒO DE BIODIESEL

Doutora em QuĂ­mica pela Universidade de BrasĂ­lia e professora da Ufam, Ivoneide de Carvalho Lopes Barros coordena o projeto ‘Estudo de aproveitamento do resĂ­duo da gordura de cupuaçu para produção de biodiesel’, o qual recebeu investimento do Governo do Estado, via Fapeam e CNPq, de R$ 281 mil, para avaliar o potencial do resĂ­duo de cupuaçu na produção de biodiesel. Ela explicou que a opção pela gordura do cupuaçu se deve porque os Ăłleos oriundos das plantas da AmazĂ´nia sĂŁo competitivos nos mercados alimentĂ­cios e cosmĂŠticos, encarecenGR R SUHoR Ă€QDO GR ELRGLHVHO Segundo Barros, um dos problemas de se produzir biodiesel a partir de plantas oleaginosas ĂŠ o Ă­ndice de acidez elevado das espĂŠcies, o que DFDED GLĂ€FXOWDQGR R SURFHVVR GH REWHQomR GR FRPEXVWtYHO 6LJQLĂ€FD TXH QR Ă€QDO QR OXJDU GH REWHU ELRGLHVHO produz-se sabĂŁo. A saĂ­da encontrada IRL XVDU R SURFHVVR GH HVWHULĂ€FDomR QR OXJDU GD WUDQVHVWHULĂ€FDomR 2 SULmeiro processo permite o tratamento dos resĂ­duos por meio da hidrĂłlise, transformando-os em ĂĄcidos graxos livres. Isto ĂŠ, tornando o processo mais simples. O trabalho estĂĄ sendo feito em parceria com a Cupuama, empresa EHQHĂ€FLDGD FRP UHFXUVRV GR SURgrama Pappe Subvenção/Fapeam/ Finep, que disponibiliza os resĂ­duos descartados pelo processamento de

METAS DO ANO INTERNACIONAL DA ENERGIA SUSTENTĂ VEL Coerente com o slogan da celebração do Ano da Energia SustentĂĄvel para Todos, o secretĂĄrio-geral da 218 %DQ .L PRRQ GHĂ€QLX MXQWR DR Grupo Consultivo sobre Energia e Alteraçþes ClimĂĄticas que as grandes metas a serem alcançadas atĂŠ o ano de 2030 sĂŁo: ‡ assegurar que todos tenham acesso a serviços modernos e mais sustentĂĄveis de energia; ‡ reduzir em 40% a intensidade energĂŠtica global; ‡ aumentar em 30% o uso de energias renovĂĄveis em todo o mundo. /LQN SDUD R VLWH RĂ€FLDO http://www.sustainableenergyforall.org/

Reação da qual resulta a formação de Êsteres (ålcool + åcido) Alteração de uma substância pela ågua

AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 33


CAPA

extração do Ăłleo de cupuaçu da polpa e da semente, e a limpeza dos equipamentos. A parceria começou em PDUoR GH 2 REMHWLYR p YHULĂ€FDU o Ă­ndice de degradação da gordura. A informação servirĂĄ para determinar o tipo de processo que serĂĄ utilizado na transformação do biodiesel. “ApĂłs os testes, chegamos Ă conclusĂŁo de que GHYHPRV XVDU R SURFHVVR GH HVWHULĂ€cação via ĂĄcidaâ€?, informou. 3DUD %DUURV D JUDQGH GLĂ€FXOGDde ĂŠ sair da escala de bancada, pois falta uma miniusina no campus da Ufam para produzir o biodiesel. “Os projetos nĂŁo preveem bens permanentes, apenas consumo. Atualmente, estamos apostando na proposta de uma miniusina que serĂĄ instalada pela empresa Cupuama. Dominamos a tĂŠcnica e temos informação. -i Ă€]HPRV D UHVVRQkQFLD PDJQpWLFD de prĂłtons que diz se realmente estamos produzindo biodiesel, o que IRL FRQĂ€UPDGR 2V WHVWHV IRUDP IHLtos no Centro de Biotecnologia da AmazĂ´nia (CBA)â€?, pontuou.

WmR GLVWULEXtGDV SHOD Ă RUHVWD HP IRUPD GH DGHQVDPHQWRV (VSHFLĂ€FDPHQWH DV oleaginosas citadas tĂŞm um mercado nobre, no qual o comprador paga R$ 29, em mĂŠdia, pelo litro, enquanto que na comunidade do Roque, localizada no MĂŠdio JuruĂĄ, o litro do diesel custa R$ 3, por exemplo. “Os ribeirinhos preferem vender o Ăłleo de andiroba e comprar o diesel para gerar energia. Chegamos Ă conclusĂŁo de que ĂŠ economicamente inviĂĄvel produzir Ăłleo a partir das palmeiras amazĂ´nicas na produção do biodiesel. O ĂĄlcool da cana-de-açúcar ĂŠ mais interessante do que o das oleaginosasâ€?, ressaltou o professor. Segundo Castro, na comunidade do Roque ĂŠ possĂ­vel produzir 300 litros de biodiesel ao dia. Ele explicou que a capacidade de produção nĂŁo ĂŠ problema, o que ocorre ĂŠ que nĂŁo tem matĂŠria-prima e nem preço competitivo. “O biodiesel tem futuro, mas nĂŁo tem presente. Precisamos dominar o processo de cultivo e domesticar as palmeiras para obtermos preços competitivos. Nossas oleaCUSTO ELEVADO DE PRODUĂ‡ĂƒO ginosas sĂŁo nobres desconhecidas. NĂŁo sabemos nada sobre elas. Esse No Amazonas, o problema da pro- processo de domĂ­nio da domesticadução de biodiesel a partir de plantas ção leva tempoâ€?, explicou. como andiroba, murumuru e uricuri Diretor da Faculdade de Tecnolopassa pela questĂŁo do alto custo de gia da Ufam, Castro disse que como SURGXomR FRQIRUPH DĂ€UPRX R GRXWRU polĂ­tica de substituição do diesel, nĂŁo em Planejamento de Sistemas EnergĂŠ- hĂĄ como produzir biodiesel a partir ticos pela Universidade Estadual de das plantas oleaginosas amazĂ´nicas, Campinas (Unicamp), JosĂŠ de Castro. todavia como inclusĂŁo social das Ele explicou que o preço do Ăłleo varia comunidades ĂŠ possĂ­vel. Ele sugeentre R$ 7 e R$ 8, uma vez que nĂŁo hĂĄ riu que a empresa que trabalha com cultivo concentrado. As plantaçþes es- energia elĂŠtrica no Estado comprasse

34 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$


CAPA

o biodiesel como forma de contrapartida ambiental, uma vez que polui muito e nĂŁo hĂĄ nenhuma iniciativa como contrapartida. Castro explicou que o diesel ĂŠ imbatĂ­vel porque ĂŠ uma WHFQRORJLD FRQVROLGDGD 6LJQLĂ€FD TXH tem mecânico, peça de reposição e preço competitivo.

ENERGIA À BASE DE ANDIROBA

Durante quatro anos, Castro coordenou na comunidade do Roque, localizada na Reserva Extrativista do MĂŠdio JuruĂĄ, um projeto que tinha por objetivo produzir biodiesel a partir de Ăłleo de andiroba. A pesquisa teve inĂ­cio em 1998, ENERGIA ELÉTRICA COMO foi realizada em parceria com o InsINCLUSĂƒO SOCIAL tituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais RenovĂĄveis (Iba“A energia tem que ser encarada ma), Inpa e Ufam, mas o projeto sĂł como inclusĂŁo social. Ela ĂŠ tĂŁo ne- foi implementado no ano 2000. O cessĂĄria quanto um mĂŠdico, dentista WUDEDOKR IRL Ă€QDQFLDGR SHOR &13T ou escola. No MĂŠdio JuruĂĄ, hĂĄ co- e pela Financiadora de Estudos e PXQLGDGHV TXH Ă€FDP DSHQDV DVVLV- Projetos (Finep). Na ĂŠpoca, nĂŁo hatindo aos cardumes passarem pela via comprador para o produto, o que frente delas, porque os ribeirinhos possibilitou usar o Ăłleo para produnĂŁo tĂŞm como pescar e armazenar zir energia durante dois anos. Mas a produção. As pessoas do interior depois a comunidade passou a vennĂŁo estĂŁo participando da cadeia der o Ăłleo para empresas de cosmĂŠprodutiva, porque nĂŁo tĂŞm energia ticos, elevando o valor do produto elĂŠtrica. A comunidade do Roque para R$ 29 o litro. esse ano tem uma encomenda de 20 “Atualmente, os equipamentos mil toneladas de Ăłleo, outras pode- utilizados na produção do Ăłleo estĂŁo riam produzir madeira, pescado, por sendo trazidos para Manaus. Pretenexemploâ€?, destacou Castro. demos produzir biodiesel a partir de Questionado sobre se as pesqui- Ăłleo descartado de frituras. NĂŁo posas para produção de biocombustĂ­- demos fazer planos de produção de veis devem continuar, Castro foi en- biodiesel sem antes dominarmos o fĂĄtico em dizer que sim. Ele explicou SODQWLRÂľ DĂ€UPRX que no momento em que os cientistas Conforme o pesquisador, a saĂ­da domesticarem o processo de plantio seria produzir ĂĄlcool a partir da canae colheita da semente, os trabalhos de-açúcar. Para produzir energia dusobre produção de biocombustĂ­veis, rante o ano, precisa-se de um hectare a partir de oleaginosas amazĂ´nicas, GH WHUUD SDUD SODQWLR GD FDQD (OH DĂ€UVHUmR ~WHLV ´7RGDYLD DĂ€UPDU TXH DV mou que a cana ĂŠ mais promissora do comunidades vĂŁo contar com o bio- que a mandioca, pois o roçado de cana diesel ĂŠ eternizar a escuridĂŁo. Hoje, o permanece produtivo por 15 anos no diesel ĂŠ imbatĂ­velâ€?, avisou. mesmo lugar, enquanto que o de man-

BIOETANOL DE SEGUNDA GERAĂ‡ĂƒO O etanol de primeira geração ĂŠ produzido e obtido diretamente dos açúcares livres do bagaço da canade-açúcar, do qual se obtĂŠm o caldo de cana rico em sacarose. A sacarose ĂŠ convertida em bioetanol. O bioetanol de segunda geração nĂŁo usa os açúcares livres porque ele estĂĄ aprisionado na parece celular, sendo necessĂĄrio degradĂĄ-lo para obtenção do combustĂ­vel. Todavia, os EUA dispĂľem da tecnologia necessĂĄria para a realização do processo desde a dĂŠcada de 1970.

AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 35


Foto: Ricardo Oliveira/ Agência Fapeam

CAPA

Doutor Sérgio Nunomura aposta no emprego de óleos vegetais de espécies amazônicas para produção de biodiesel etílico

Reação entre um óleo vegetal ou gordura animal com álcool na presença de um catalizador

36 AMAZONAS FAZ &,È1&,$

dioca precisa ser mudado de lugar a cada três anos. Além disso, quando se planta cana tem o álcool, o melado, o mascavo, a rapadura. Ou seja, quem planta cana não passa fome. Doutor em Química Orgânica pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Inpa, Sérgio Nunomura disse que a empresa responsável por montar a usina na comunidade do Roque não conhecia a realidade regional do Amazonas. Ele explicou que quando faltavam peças, levava-se muito tempo para fazer a reposição. Consequentemente, a empresa acabou desistindo de prestar os serviços. A saída para geração de energia nas comunidades isoladas, segundo ele, é apostar em pequenas atividades, uma vez que cada localidade tem características diferentes. “Nem toda localidade possui plantio de oleaginosas. Há, por exemplo, resíduos da biomassa que

poderiam ser utilizados na produção de gás, podem-se utilizar painéis fotoelétricos na produção de energia. O Amazonas é muito grande. Haverá locais em que a energia elétrica não chegará”, lembrou.

EXTRAÇÃO SUSTENTÁVEL Conforme os pesquisadores ouvidos, as espécies amazônicas são promissoras para a produção de biodiesel. Entretanto, o extrativismo deve ser feito de forma sustentável e manejada, uma vez que a região não possui grandes áreas de adensamento de palmeiras, como explicou Nunomura. Ele disse que o Amazonas domina a técnica de extração de óleo vegetal, entretanto, faltam estudos químicos para solucionar o problePD GD WUDQVHVWHULÀFDomR


Foto: Ricardo Oliveira/ Agência Fapeam

CAPA

Óleos vegetais de espécies nativas têm alto nível de acidez na produção de biocombustíveis, segundo pesquisas

AMAZONAS FAZ &,È1&,$ 37


CAPA

$ SHVTXLVDGRUD $QW{QLD 4XHLUR] LGHQWLĂ€FRX WUrV linhagens de enzimas a partir de fungos que podem ser utilizadas na produção de bioetanol

Atualmente, Nunomura coordena o projeto ‘Emprego de Ăłleos vegetais de espĂŠcies amazĂ´nicas nativas com alto Ă­ndice de acidez na produção de biodiesel etĂ­lico’, que conta com Ă€QDQFLDPHQWR GD )DSHDP SRU PHLR do Biocom. A pesquisa teve inĂ­cio em março de 2011 e visa solucionar R SUREOHPD GD WUDQVHVWHULĂ€FDomR “NĂŁo temos como produzir um Ăłleo de boa qualidade, isto ĂŠ, com baixo Ă­ndice de acidez onde ele nĂŁo sofreu reaçþes de degradação, as quais irĂŁo gerar os ĂĄcidos graxos livresâ€?, afirmou. 38 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

Segundo Nunomura, uma vez com concentraçþes elevadas de ĂĄcidos graxos livres, os processos normais utilizados no Brasil e EUA nĂŁo podem ser aplicados no PaĂ­s de uma forma direta. “Isso acontece porque QR Ă€QDO QR OXJDU GH SURGX]LU ELRdiesel produziria sabĂŁo. A transesteULĂ€FDomR p XWLOL]DGD QR PXQGR WRGR mas nĂŁo dĂĄ para aplicar na AmazĂ´niaâ€?, explicou o pesquisador. Nunomura disse, entĂŁo, que a saĂ­da VHULD ID]HU R UHĂ€QR GHVVH yOHR YHJHWDO mas ĂŠ um processo caro, cria-se um resĂ­duo que poderia servir para gerar

biodiesel. “Comprar uma usina para SXULĂ€FDU R yOHR QR $PD]RQDV WDPEpP ĂŠ muito caroâ€?, informou. Conforme Nunomura, nĂŁo hĂĄ como estimular grandes negĂłcios no Amazonas, mas pequenos porque para grandes produçþes de Ăłleo sĂŁo necessĂĄrias grandes ĂĄreas para plantio e a implantação de uma cultura mecanizada.

FUNGOS PARA PRODUĂ‡ĂƒO DE BIODIESEL

A produção de biocombustível no Amazonas vai ganhar força com o


Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

CAPA

BIORREFINARIAS Os EUA e a França possuem, respectivamente, 50 H ELRUUHĂ€QDULDV 1D )UDQoD VmR XWLOL]DGRV R EDJDoR do girassol na produção de bioetanol e nos EUA utiliza-se o bagaço do milho. Conforme AntĂ´nia Queiroz, o Brasil ĂŠ um dos maiores celeiros de produção DJUtFROD GR PXQGR FRQWXGR QmR SRVVXL ELRUUHĂ€QDrias. Ela explicou que o PaĂ­s estĂĄ investindo na consWUXomR GH VXD SULPHLUD ELRUUHĂ€QDULD QD 8QLFDPS DR lado do LaboratĂłrio Nacional de Luz SĂ­ncronton.

RESULTADOS

projeto ‘Prospecção de cepas fĂşngicas amazĂ´nicas para aproveitamento de subprodutos da cadeia produtiva de biodiesel visando Ă compostagem e produção de biocombustĂ­vel de segunda geração’. O trabalho conVHJXLX LGHQWLĂ€FDU WUrV OLQKDJHQV GH enzimas que podem ser utilizadas na produção de bioetanol e na compostagem (adubo orgânico). &RP Ă€QDQFLDPHQWR GD )DSHDP H do CNPq, a pesquisa estĂĄ sendo desenvolvida no âmbito do Programa Biocom pela UEA e ĂŠ coordenada pela doutora em CiĂŞncias BiolĂłgicas AntĂ´-

Segundo AntĂ´nia Queiroz, a pesquisa analisou dez tipos de resĂ­duos da regiĂŁo, dentre eles a casca e o caroço do cupuaçu, a casca e a semente do maracujĂĄ, as cascas da macaxeira, urucu, coco e o bagaço da cana-de-açúcar. Os levantamentos foram realizados nos municĂ­pios amazonenses de MauĂŠs (resĂ­duos de guaranĂĄ), Barcelos e EirunepĂŠ e os testes no laboratĂłrio da UEA. Ela disse que com o uso dos microrganismos certos ĂŠ possĂ­vel, por exemplo, diminuir o processo de compostagem entre quatro e seis meses. Normalmente, levaria dois anos para transformar os resĂ­duos HP IHUWLOL]DQWHV QDWXUDLV ,VWR VLJQLĂ€FD TXH SRGHPRV tornar solos amazĂ´nicos mais produtivos. De acordo com a pesquisadora, os testes demonstraram que os resĂ­duos de urucu sĂŁo bons para produção de celulase. “Em relação Ă pectinase, os resĂ­duos de cupuaçu foram mais satisfatĂłrios, o que era esperado, uma vez que a casca do fruto ĂŠ rica em pectinasâ€?, informou. “Nos prĂłximos trĂŞs meses iniciaremos os testes para a produção de compostagem. Iremos utilizar a metodologia que a Universidade de Granada utilizou. Esperamos fazer os primeiros testes em resĂ­duos agrĂ­colas no mĂŞs de janeiro de 2013. Vamos ver em quanto tempo as enzimas conseguem degradar a biomassa vegetal. Depois ela serĂĄ distribuĂ­da para os agricultores e iremos a campo ensinĂĄ-los como funciona o processoâ€?, destacou.

produção de adubo orgânico

ĂŠ o fruto do urucuzeiro (Bixa orellana)

cascas, frutos, folhas

AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 39


CAPA

SAIBA MAIS O Ano Internacional da Energia SustentĂĄvel para Todos – 2012 visa incentivar e impulsionar a conscientização nas questĂľes energĂŠticas, incluindo a disponibilização dos serviços modernos GH HQHUJLD SDUD WRGRV R DFHVVR j GLVSRQLELOLGDGH H HĂ€FLrQFLD energĂŠtica, Ă sustentabilidade e ao uso das fontes de energia para a realização das metas do Desenvolvimento do MilĂŞnio, do Desenvolvimento SustentĂĄvel e na promoção de todas estas açþes a nĂ­vel local, nacional, regional e internacional. Fonte: ONU

PROJETOS 1. ‘Emprego de Ăłleos vegetais de espĂŠcies amazĂ´nicas nativas com alto Ă­ndice de acidez na produção de biodiesel etĂ­lico’ – Edital 009/2009; 2. ‘Estudo de aproveitamento do resĂ­duo da gordura de cupuaçu para produção de biodiesel’ – Edital 009/2009 3. ‘Prospecção de cepas fĂşngicas amazĂ´nicas para aproveitamento de subprodutos da cadeia produtiva de biodiesel visando Ă compostagem e produção de biocombustĂ­vel de segunda geração’ – Edital 009/2009. 02'$/,'$'( 1, 2 e 3 – Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologias para a Produção de BiocombustĂ­veis no Estado do Amazonas (Biocom) – Fapeam/CNPq &225'(1$'25(6 1. Dr. SĂŠrgio Nunomura (Inpa) 2. Dra. Ivoneide de Carvalho Lopes Barros (Ufam) 3. Dra. AntĂ´nia Queiroz (UEA) ,19(67,0(172 1. R$ 299.894 mil (Fapeam/CNPq) 2. R$ 281 mil (Fapeam/CNPq) 3. R$ 264 mil (Fapeam/CNPq)

40 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

nia Queiroz Lima de Souza. Com investimentos de R$ 264 mil, o projeto iniciou em janeiro de 2011 e estĂĄ sendo desenvolvido com o apoio do Departamento de QuĂ­mica da Ufam, do Instituto de FĂ­sica da Universidade de SĂŁo Paulo (USP) e Universidade de Granada (Espanha). &RQIRUPH $QW{QLD 4XHLUR] IRL SRVVtYHO LGHQWLĂ€car as enzimas endoglucanases, xilanase e pectinase (responsĂĄveis pela degradação da pectina). Ela explicou que as enzimas tambĂŠm podem ser utilizadas na produção alimentĂ­cia, por exemplo, no processo de clareamento dos sucos industrializados, do papel (clareamento via lacase). 6LJQLĂ€FD TXH WrP XP YDORU LQGXVWULDO JUDQGH “Inicialmente, foi feito primeiro o isolamento das cepas, no qual conseguimos reunir mais de 100 amostras. Desse total, foi feita a triagem das que produzem em maior TXDQWLGDGH RQGH IRL SRVVtYHO LGHQWLĂ€FDU 25, das quais 15 jĂĄ foram avaliadas quanto Ă produção de celulase e dez quanto Ă produção de lignaseâ€?, explicou. O objetivo ĂŠ selecionar microrganisAjuda a quebrar a mos que produzam grandes quantidaparede celular dos GHV GH HQ]LPD GH LQWHUHVVH FLHQWtĂ€FR vegetais a qual pode ser utilizada para degradar biomassa vegetal. No caso, a celulose, a lignina e a pectina serĂŁo degradadas em molĂŠculas menores de açúcar que podem ser convertidas em bioetanol de segunda geração, segundo esclareceu a pesquisadora. Quer saber mais? Fale com o pesquisador SĂŠrgio Nunomura – smnunomu@inpa.org.br Ivoneide de Carvalho Lopes Barros – ibarros@ufam.edu.br AntĂ´nia Queiroz – antoniaqlsouza@yahoo.com.br JosĂŠ de Castro Correia – jcastro@ufam.edu.com.br Rubem CĂŠsar Souza – rubem_souza@yahoo.com.br


QUANDO A CIÊNCIA É UM BOM NEGÓCIO

Por Esterffany Martins

C

Foto: Acervo Pesquisador

Foto: Acervo Pesquisador

om o pensamento de inovar e ao mesmo tempo contribuir com a conservação da natureza, empresas localizadas no interior do Estado do Amazonas mostram TXH p SRVVtYHO PRQWDU XP QHJyFLR GH VXFHVVR VHP SUHMXGLFDU D ĂŻRUHVWD $ &H-â€? UkPLFD 0RQWHPDU /WGD H D HPSUHVD 3RQWR &HUWR VmR H[HPSORV GHVVD UHDOL]DomR $V GXDV DR LPSOHPHQWDUHP VHXV SURMHWRV FRQWDUDP FRP R ĂŽQDQFLDPHQWR GR 3URJUDPD $PD]RQDV GH $SRLR j 3HVTXLVD HP 0LFUR H 3HTXHQDV (PSUHVDV 3DSSH 6XEYHQ-â€? omR SRU PHLR GD )DSHDP HP SDUFHULD FRP D )LQDQFLDGRUD GH (VWXGRV H 3URMHWRV )LQHS &RQ-â€? ĂŽUD DEDL[R XP SRXFR PDLV VREUH D WUDMHWyULD GHVVDV HPSUHVDV H RV VHXV UHVSHFWLYRV SURGXWRV

PONTO CERTO- BIOMĂ“VEIS: MĂ“VEIS DE

CERĂ‚MICA MONTEMAR LTDA. - FONTES

FINOS ACABAMENTOS

ALTERNATIVAS PARA PRODUĂ‡ĂƒO DE BIONERGIA PARA O POLO CERĂ‚MICO-OLEIRO DE IRANDUBA-AM

Usar a criatividade para reaproveitar as sobras de madeiras ĂŠ o foco da empresa Ponto Certo, que reutiliza em sua produção o material descartado de diversas marcenarias, serrarias e tilheiros, agregando valores aos produtos com atividades de marchetaria, confeccionando mĂłveis como carteiras, mesas, camas, cĂ´modas, entre outros. A histĂłria da empresa tem inĂ­cio no ano de 1999, mas foi em 2005, quando jĂĄ estava devidamente regularizada, que iniciou as atividades de marcenaria e movelaria. A empresa fabrica de forma inovadora, mĂłveis e artefatos de qualidade, a partir de matĂŠria-priPD OHJDO SURGX]LGD QR FRUDomR GD Ă RUHVWD DPDzĂ´nica. O aperfeiçoamento por meio da mistura de diversos tipos de madeiras num Ăşnico mĂłvel HQULTXHFH DLQGD PDLV R SURGXWR Ă€QDO H DXPHQWD sua qualidade. Com isso, a empresa alĂŠm de obter economia com a reciclagem, tambĂŠm contribui para o meio ambiente.

As normas de preservação ambiental têm sido o diferencial na Cerâmica Montemar Ltda. Fundada no dia 12 de março de 1990 por três irmãos, a empresa possui uma tradição no segmento cerâmico-oleiro do Estado do Amazonas. A empresa Ê umas das pioneiras no aproveitamento dos resíduos gerados pela extração e industrialização da madeira (paletes e pó de serragem) para uso nos fornos para a queima de tijolos, alÊm de oferecer ao setor da construção civil no mercado de Manaus o bloco cerâmico estrutural, que proporciona uma construção racionalizada e modularizada, com a redução de materiais e mão de obra nas fases subsequentes (reboco e acabamento final) e grande velocidade de execução da obra. O empreendimento fica localizado no município de Iranduba.

(92) 3533-5772 | raynakauth@hotmail.com

(92) 3321-7955 | ceramicamontemar@hotmail.com AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 41


ETNOCIĂŠNCIA

HistĂłria, hĂĄbitos, crenças e outros aspectos da cultura indĂ­gena sĂŁo apresentados para a VRFLHGDGH SRU PHLR GH SHVTXLVDV FLHQWtĂ€FDV realizadas por Ă­ndios.

Conhecimento dos povos tradicionais do Amazonas

V

ĂĄrias sĂŁo as formas que os povos tradicionais da AmazĂ´nia utilizam para expressar suas culturas, seus saberes e crenças. Esse conhecimento que ultrapassa os limites do grupo por meio das geraçþes ĂŠ objeto de estudo constante de antropĂłlogos e outros pesquisadores. Nesse sentido, algumas polĂ­ticas pĂşblicas tĂŞm propiciado aos indĂ­genas a inserção em instituiçþes de ensino e pesquisa, e isso nos apresenta uma nova realidade. Desse modo, o conhecimento que antes era restrito aos grupos indĂ­genas passa, entĂŁo, a ser transmitido Ă sociedade por meio de estudos e pesquisas agora realizados por eles. Um exemplo disso ĂŠ o mais novo mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), JoĂŁo Rivelino Rezende Barreto, que ĂŠ Ă­ndio da etnia Tukano. Ele apresentou um estudo inĂŠdito intitulado ‘Transformação de Coletivos IndĂ­genas no Noroeste AmazĂ´nico: Do Mito Ă Sociologia das Comunidades’, no âmbito do Programa de PĂłs-Graduação de Antropologia Social. $ SHVTXLVD DSUHVHQWD D HWQRJUDĂ€D GR JUXSR GH %DUUHWR e aborda os processos de formação e transformação social no universo Tukano em seus prĂłprios termos. Duas teorias sobre esse conhecimento foram apresentadas no estudo. A primeira, a teoria Ăšukuse, descreve o contexto 42 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

mitolĂłgico Tukano, o mito sobre a formação cosmolĂłgica da terra, da ĂĄgua e toda a formação da natureza. A segunda teoria, Muropau Uusetise, fala sobre o contexto sociolĂłgico da formação dos grupos Tukano. “Essa segunda teoria estĂĄ ligada Ă anterior, mas fala como se formaram os grupos Tukano, como aconteceu, onde surgiram e das diferenças de um para o outroâ€?, explicou o indĂ­gena, que foi o primeiro Tukano a concluir o mestrado em Antropologia da Ufam. A pesquisa teve como referĂŞncia a Comunidade SĂŁo Domingos SĂĄvio, localizada no municĂ­pio de SĂŁo Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio TiquiĂŠ, a 852 quilĂ´metros da capital do Amazonas. “Esse trabalho foi uma investigação sobre a forma como pensam os integrantes do meu grupo, apresento aqui os pensamentos e os conhecimentos dos Tukano para a sociedade e tambĂŠm uma forma de realizar, a partir desses conhecimentos e pensamentos, um diĂĄlogo com a FRPXQLGDGH FLHQWtĂ€FDÂľ DĂ€UPRX A pesquisa de campo de Barreto foi viabilizada pelo Instituto Nacional de CiĂŞncia e Tecnologia (INCT) BraVLO 3OXUDO Ă€QDQFLDGR SHOD )DSHDP H &RQVHOKR 1DFLRQDO GH 'HVHQYROYLPHQWR &LHQWtĂ€FR H 7HFQROyJLFR &13T A pesquisa foi concebida dentro de um dos aspectos das

Foto: Acervo Musa

Por Rosilene CorrĂŞa


Meu interesse pelo tema surgiu ainda na graduação, isso aconteceu em 2004, quando estava na faculdade de )LORVRĂ€D 3URFXUHL VDLU GR FRQWH[WR UHOLJLRVR H FRPHFHL a pensar minha prĂłpria cultura, as unidades sociais do noroeste amazĂ´nico, os grupos, as tribos que os antropĂłlogos pensaram e que sĂŁo diferentesâ€?.

Foto: Acervo Musa

ETNOCIĂŠNCIA

JoĂŁo Rivelino Barreto Tukano, mestre em Antropologia Social

redes de pesquisa do INCT Brasil Plural, que vĂŁo da arte, processos sociais, museus, patrimĂ´nios plurais, ambientais, alĂŠm da rede de saberes que abrangem a arte, a educação, as lĂ­nguas e etnicidades indĂ­genas. TrajetĂłria %DUUHWR p Ă€OyVRIR H WHYH VXD IRUmação dirigida por salesianos, o que segundo ele, fez despertar seu interesse em formular um estudo acerca do tema de sua pesquisa. “O meu interesse pelo tema surgiu ainda na graduação, isso aconteceu em 2004, quando estava na faculdade de FiloVRĂ€D 3URFXUHL VDLU GR FRQWH[WR UHOLgioso e comecei a pensar minha prĂłpria cultura, as unidades sociais do noroeste amazĂ´nico, os grupos, as tribos que os antropĂłlogos pensaram e que sĂŁo diferentes. O trabalho traz algumas diferenças como o quadro genealĂłgico e as teorias que apresentamosâ€?, destacou. A pesquisa de Barreto teve inĂ­cio em 2009, quando concorreu para o mestrado em Antropologia da Ufam. “Concorri com mais 72 pessoas pelo processo normal, sem cotas, pois naquele

ano ainda nĂŁo tinha o limite de cotas e agora conclui esse trabalho mostrando que podemos pensar as nossas teorias e YDORUL]DU D QRVVD FXOWXUDÂľ DĂ€UPRX Para o pesquisador, esse trabalho acadĂŞmico ĂŠ extremamente importante para a preservação do conhecimento e pensamento Tukano. â€œĂ‰ importante, pois vejo que os indĂ­genas mais jovens estĂŁo perdendo o interesse sobre as questĂľes relacionadas ao conhecimento do nosso povo. Isso nĂŁo ĂŠ bom, os mais velhos podem transmitir esse conhecimento, mas ĂŠ necessĂĄrio que haja interesse por parte dos jovens e isso estĂĄ se tornando cada vez mais raroâ€?, lamentou. Ele falou ainda da relevância da atuação das instituiçþes de ensino e pesquisa na viabilização e apoio dos trabalhos de campo.

nal com a participação dos indĂ­genas, H DTXL LVVR WHP VH LQWHQVLĂ€FDGR SULQcipalmente com o apoio da Fapeam e do CNPq. “AtĂŠ pouco tempo, tĂ­nhamos escasso conhecimento a respeito de alguns temas do universo indĂ­gena, o que sabĂ­amos era sobre estudos realizados por pesquisadores de fora. Esses investimentos feitos por instituiçþes como a Fapeam e o CNPq nos possibilitam retornar esse conhecimento para os indĂ­genas mais MRYHQVÂľ DĂ€UPRX Entre os trabalhos voltados ao resgate do conhecimento, Afonso destaca o ObservatĂłrio Solar IndĂ­gena, que ele ajudou a construir na cidade de Dourados (MS). “Ajudei a construir na universidade e na aldeia o observatĂłrio indĂ­gena, que teve muita receptividade e Etnoastronomia juntamente com a dança e a comida tĂ­pica, os â€˜Ă­ndios urbanos’ vĂŁo O fĂ­sico, astrĂ´nomo e pesquisa- recuperando sua cultura, a ciĂŞncia dor do Museu da AmazĂ´nia (Musa), indĂ­gena e a sua tradição. A origem Germano Bruno Afonso, que traba- do Universo, a criação do homem lha com etnoastronomia concorda e muitos outros conhecimentos FRP D DĂ€UPDomR GH %DUUHWR 3DUD HOH podem ser conhecidos atravĂŠs da ĂŠ necessĂĄrio e importante fazer um observação do cĂŠu. O cĂŠu nĂŁo tem resgate desse conhecimento tradicio- tamanho. Minha visĂŁo do cĂŠu ĂŠ AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 43


ETNOCIĂŠNCIA

Foto: Acervo Musa

A meta, segundo a pesquisadora, ĂŠ retratar por meio de uma perspectiva antropolĂłgica, as diferentes realidades brasileiras em toda sua complexidade. “Os resultados desses AtĂŠ pouco tempo, trabalhos devem subsidiar polĂ­ticas tĂ­nhamos escasso pĂşblicas brasileiras e a formação de SURĂ€VVLRQDLV SDUD DWXDU MXQWR jV SRconhecimento a respeito pulaçþes estudadas, inclusive no âmde alguns temas do bito acadĂŞmicoâ€?, destacou. universo indĂ­gena, o “Trabalhamos em diferentes camque sabĂ­amos era sobre pos e especialidades para desenvolverestudos realizados por mos programas de pesquisas, açþes pesquisadores de foraâ€?. educacionais e de intervenção, no âmbito de vĂĄrios segmentos. SĂŁo pesquiGermano Afonso sas comparativas na regiĂŁo amazĂ´nica etnoastrĂ´nomo do Museu da AmazĂ´nia e no sul do Brasil, com foco no conhecimento de suas diferentes populaçþes, o que favorece as trocas cientĂ­LQĂ€QLWD $SUHQGL PXLWD FRLVD FRP Fapeam e do Conselho Nacional de Ă€FDV HQWUH LQVWLWXLo}HV H SHVTXLVDGRUHV meus pais e depois com os pajĂŠs, 'HVHQYROYLPHQWR &LHQWtĂ€FR H 7HF- de diferentes regiĂľesâ€?, explicou. convivendo diariamente com elesâ€?, nolĂłgico (CNPq), por meio do ProEssa rede de pesquisa visa artisalientou o astrĂ´nomo. grama de Desenvolvimento Cien- cular projetos que buscam analisar Afonso explica que os Ă­ndios WtĂ€FR 5HJLRQDO '&5 ² $PD]RQDV estratĂŠgias indĂ­genas de reelaboração GHĂ€QHP SRU PHLR GD DVWURQRPLD – Fluxo ContĂ­nuo). ĂŠtnica e cultural e de inserção iguaprĂłpria de cada grupo o tempo de litĂĄria em redes extralocais de trocas colheita, a contagem de dias, meses Diversidade sociocultural e de circulação de conhecimentos, e anos, a duração das marĂŠs e atĂŠ a envolvendo o campo das artes, da eschegada das chuvas. Outras instituiçþes e programas colarização, do turismo, dos esportes, Ele explica que uma parte des- de pesquisa buscam aprofundar o da literatura e do Ensino Superior. ses conhecimentos foi resgatada por conhecimento sobre a diversidade Os projetos visam principalmente meio de documentos histĂłricos. “SĂŁo sociocultural do Brasil, tal como o apoiar a realização de pesquisas de documentos que relatam a importân- Instituto Brasil Plural (IBP), criado campo de mestrandos, doutorandos cia da astronomia no cotidiano das no âmbito dos Institutos Nacionais e doutores, vinculados Ă UniversidafamĂ­lias indĂ­genas, alguns vestĂ­gios de CiĂŞncia e Tecnologia (INCTs) e de Federal de Santa Catarina (UFSC) arqueolĂłgicos, tais como a arte ru- Ă€QDQFLDGR SHOD )DSHDP H &13T e Ă Ufam, para a anĂĄlise de contextos pestre e os monumentos rochosos, “O Instituto iniciou suas atividades LQGtJHQDV HVSHFtĂ€FRV que possuem conotação astronĂ´mi- em 2009, a partir de uma rede de O IBP engloba o projeto ‘Compreca, diĂĄlogos informais e observaçþes pesquisadores entre a Universidade ensĂľes AntropolĂłgicas sobre Conhecido cĂŠu com pajĂŠs de todas as regiĂľes Federal de Santa Catarina e a Uni- mentos Nativos: um diĂĄlogo em rede’, EUDVLOHLUDVÂľ DĂ€UPRX versidade Federal do Amazonas e coordenado por Antonella Tassinari, Atualmente o pesquisador estĂĄ abriga pesquisadores de diferentes que reĂşne dez pesquisadores vinculados desenvolvendo o projeto ‘Etnoas- ĂĄreas e especialidades da Antropo- Ă UFSC; o projeto ‘Arte e educação intronomia dos povos indĂ­genas do logiaâ€?, explicou a coordenadora do tercultural’, coordenado por Deise Lucy $PD]RQDV¡ FRP Ă€QDQFLDPHQWR GD IBP, Deise Lucy Oliveira Montardo. Oliveira Montardo, que reĂşne quatro 44 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$


ETNOCIĂŠNCIA

SAIBA MAIS

pesquisadores vinculados Ă Ufam; o SURMHWR Âś5HDĂ€UPDomR eWQLFD H 7HUULWRrial na RegiĂŁo do Baixo Rio TapajĂłs’, de Edviges Marta Ioris, pesquisadora vinculada Ă UFSC; e o projeto ‘Arte verbal, produção escrita e educação escolar indĂ­gena em situação de multilinguismo: o Noroeste AmazĂ´nico’, de FrantomĂŠ Pacheco, vinculado Ă Ufam. A esses se juntou o projeto jĂĄ aprovado pelo IBP, coordenado por JosĂŠ Exequiel Basini Rodriguez, da Ufam, intitulado ‘Alteridades que fazem pensar: as comunidades do baixo UaupĂŠs e as agĂŞncias vinculantes’, cuja temĂĄtica estĂĄ relacionada Ă discussĂŁo proposta nesta rede de pesquisa. Ao articular pesquisadores da UFSC e da Ufam que vĂŞm trabalhando com temĂĄticas semelhantes em relação a populaçþes indĂ­genas na AmazĂ´nia e no Sul do PaĂ­s, o IBP consolida vĂ­nculos acadĂŞmicos e compartilha resultados de pesquisas desenvolvidas em contextos especĂ­Ă€FRV FRP YLVWDV D UHFRQKHFHU SURcessos sociopolĂ­ticos semelhantes no quadro da pluralidade do Brasil. Os estudos sĂŁo desenvolvidos por pesquisadores vinculados Ă Ufam, Instituto LeĂ´nidas e Maria Deane (Fiocruz AmazĂ´nia), Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade do Vale do ItajaĂ­ (Univali) e Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).

‡ Segundo dados do Instituto Socioambiental (ISA), existem no territĂłrio brasileiro 238 povos, falantes de mais de 180 lĂ­nguas diferentes. ‡ Os povos indĂ­genas somam, segundo o Censo 2010 do InstiWXWR %UDVLOHLUR GH *HRJUDĂ€D H (VWDWtVWLFD ,%*( PLO indivĂ­duos. Destes, 315,18 mil, vivem em cidades e 502,78 mil em ĂĄreas rurais, o que corresponde a aproximadamente 0,42% da população total do PaĂ­s. ‡ O Amazonas detĂŠm a maior população de Ă­ndios do Brasil, com 168.680 indĂ­genas, distribuĂ­dos em 62 grupos em todo o (VWDGR (OHV JXDUGDP VXDV Ă€ORVRĂ€DV D UHVSHLWR GD QDWXUH]D GD YLGD GD Ă RUHVWD GD IRUPDomR GR PXQGR HQWUH RXWURV 2 SRYR 7XNDQR YLYH jV PDUJHQV GR 5LR 8DXSpV H VHXV DĂ XHQWHV – TiquiĂŠ, Papuri, Querari e outros menores – integrando atualmente 17 etnias, muitas das quais vivem tambĂŠm na ColĂ´mbia, QD PHVPD EDFLD Ă XYLDO H QD EDFLD GR 5LR $SDSyULV WULEXWiULR GR -DSXUi FXMR SULQFLSDO DĂ XHQWH p R 5LR 3LUD 3DUDQi 2 5LR UaupĂŠs nasce na ColĂ´mbia, percorre parte do territĂłrio do Estado do Amazonas e vem desaguar no Rio Negro, um pouco acima da cidade de SĂŁo Gabriel da Cachoeira. Esses grupos indĂ­genas falam lĂ­nguas da famĂ­lia Tukano Oriental (apenas os Tariana tĂŞm origem Aruak) e participam de uma ampla rede de trocas, que inclui casamentos, rituais e comĂŠrcio, FRPSRQGR XP FRQMXQWR VRFLRFXOWXUDO GHĂ€QLGR FRPXPHQWH FKDmado de Sistema Social do UaupĂŠs/Pira-ParanĂĄ. Este, por sua vez, faz parte de uma ĂĄrea cultural mais ampla, abarcando populaçþes de lĂ­ngua Aruak e Maku. Fonte: Instituto Socioambiental

Quer saber mais? Fale com o pesquisador Deise Lucy Montardo – deiselucy@gmail.com Germano Afonso – planetarioindigena@hotmail.com AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 45


Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

VIDA DE CIENTISTA

“...COM O TEMPO TIVE NECESSIDADE DE ABUNDĂ‚NCIA MAIOR DE VERTEBRADOS E PRINCIPALMENTE DE GENTEâ€?

Foto: Ricardo Oliveira/AgĂŞncia Fapeam

Por Ronis Da Silveira*

Desde criança cultivei o sonho de que um dia viveria em Manaus. AtĂŠ que, em um quente amanhecer de 1989, aterrissei na capital do Estado, no centro da $PD]{QLD (VWDYD GLDQWH GR PDLRU GHVDĂ€R DWp HQWmR de minha carreira como jovem biĂłlogo recĂŠm-formado. Lembro-me, perfeitamente, do espanto que senti ao vislumbrar as poucas luzes da cidade encravada na Ă RUHVWD H[XEHUDQWH TXH SDUHFLD LQĂ€QLWD 1DTXHOH PRmento, percebi um novo mundo e que poderia ajudar a explorĂĄ-lo mediante a pesquisa e a docĂŞncia. Na PHVPD WDUGH HX Mi HVWDYD VRE R GRVVHO GD Ă RUHVWD QD Reserva Ducke, que na ĂŠpoca era mata contĂ­nua. LĂĄ passei as noites mais plĂĄcidas de minha vida. Mas algo me inquietava... Onde estavam os vertebrados? Comecei a vĂŞ-los durante mergulhos em ĂĄguas cristalinas e quando adentrava em cavernas submersas, situadas QDV PDUJHQV GRV ULDFKRV GH WHUUD Ă€UPH 0DV D DEXQdância de vertebrados ainda era muito menor do que a PLQKD H[SHFWDWLYD 2 PHX PXQGR FLHQWtĂ€FR UHDOPHQWH começou a se concretizar, quando conheci o igapĂł do Parque Nacional de Anavilhanas. Morei no ArquipĂŠlago de Anavilhanas e todas as noites saĂ­a em busca dos jacarĂŠs. Era maravilhoso conseguir capturar e manusear um vertebrado bem maior, mais forte e poderoso do 46 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

que eu. Na ĂŠpoca, era um solitĂĄrio, pois Anavilhanas era uma Estação EcolĂłgica e eu um dos poucos autorizados a viver naquele sistema. PorĂŠm, com o tempo, tive necessidade de uma abundância maior de vertebrados e principalmente de gente. TambĂŠm me dei conta de que precisava aprender a ciĂŞncia tradicional. Em 1994, o saudoso zoĂłlogo MĂĄrcio Ayres me deu esse privilĂŠgio ao me convidar para realizar pesquisas na regiĂŁo que, a partir de 1996, seria conhecida como Reserva de Desenvolvimento SustentĂĄvel MamirauĂĄ. ApĂłs dois anos indo e vindo entre Manaus e MamirauĂĄ, eu me mudei SDUD XPD FDVD Ă XWXDQWH QR /DJR 0DPLUDXi MXQWDPHQte com minha esposa, a jovem amazonense BĂĄrbara, depois de uma semana de casados. LĂĄ, naquelas vĂĄrzeDV HX Ă€QDOPHQWH DFKHL R TXH SURFXUDYD 9HUWHEUDGRV 0XLWRV 1DGDQGR PHUJXOKDQGR VDOWDQGR FRUUHQGR RX voando. Atualmente, todos os grupos de vertebrados amazĂ´nicos, de populaçþes selvagens ou urbanas, fazem parte do meu cotidiano e de meus alunos. Ă€s vezes me pergunto o que eu seria se nĂŁo fosse biĂłlogo e professor? Talvez alguĂŠm que nĂŁo teve o privilĂŠgio de viver na AmazĂ´nia e para a AmazĂ´nia.

* Doutor em Biologia e professor do Instituto de CiĂŞncias BiolĂłgicas da Universidade Federal do Amazonas (Ufam)


MEIO AMBIENTE

Foto: Acervo Fapeam

Amazonas investe em C,T&I para promover o desenvolvimento associado a conservação ambiental Por Esterffany Martins e Sebastião Alves

N

os Ăşltimos anos, o interesse de institutos de ensino e pesquisa e empresas no investimento em programas voltados Ă ĂĄrea ambiental tem aumentado no cenĂĄrio da CiĂŞncia, Tecnologia & Inovação (CT&I) do Estado do Amazonas. Ainda assim, o nĂşmero de pesquisas na ĂĄrea ambiental ĂŠ pequeno, em comparação com os inĂşmeros recursos inexplorados oferecidos pelo bioma amazĂ´nico. Nesse sentido, investir em tecnologia sustentĂĄvel e HP UHFXUVRV KXPDQRV TXDOLĂ€FDGRV p D PHWD TXH R *Rverno do Amazonas, via Fapeam, vem implementando ao longo dos Ăşltimos anos. 3URJUDPDV GH SHVTXLVD HVSHFtĂ€FRV GHPRQVWUDP R avanço da ciĂŞncia aliado Ă preservação e Ă conservação da Ă RUHVWD 'HQWUH HVWHV SRGHPRV GHVWDFDU LQLFLDWLYDV FRPR R Programa Jovem Cientista AmazĂ´nida – Ă reas Protegidas -&$ $3 Ă€QDQFLDGR SHOD )DSHDP TXH WHP FRPR Ă€QDOLGDGH DSRLDU R GHVHQYROYLPHQWR GH SHVTXLVDV FLHQWtĂ€FDV voltadas para questĂľes associadas Ă s Ă reas Protegidas do Amazonas, que envolvam pesquisadores de instituiçþes de pesquisa e/ou Ensino Superior, organizaçþes governamentais e nĂŁo governamentais sediadas no Estado. O JCA-AP tem por objetivo apoiar estudantes e professores dos ensinos Fundamental (a partir do 6ÂŞ ano) e MĂŠdio da rede pĂşblica de ensino, Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação IndĂ­gena e Educação Rural, vinculados a escolas dentro, no entorno ou com relação direta Ă Ă rea Protegida do Amazonas. Essa ação conta com a parceria da Secretaria de Estado de CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação do Amazonas (Secti-AM), Secretaria de Desenvolvimento SustentĂĄvel (SDS), Secretaria de Estado de Educação (Seduc-AM), Secretaria de Estado para

os Povos IndĂ­genas (Seind) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “A participação da Fundação ĂŠ imprescindĂ­vel e visionĂĄria, pois contribui para os investimentos em ciĂŞncia, tecnologia e inovação que se constituem em componentes indispensĂĄveis Ă promoção do desenvolvimento associado Ă conservação ambientalâ€?, explicou a diretora-presidenta da Fapeam, Maria OlĂ­via SimĂŁo, ressaltando que fomentar a pesquisa ĂŠ uma das princiSDLV PDQHLUDV GH VH HQIUHQWDU RV GHVDĂ€RV QR FHQiULR DPD]{QLFR “Quando o Governo do Amazonas se posicionou deĂ€QLQGR R GHVHQYROYLPHQWR VXVWHQWiYHO FRPR GLUHWUL] D VHU VHJXLGD QR (VWDGR Ă€FRX FODUR TXH D SHVTXLVD H D LQRYDomR seriam ferramentas indispensĂĄveis para promover a melhoria da qualidade de vida do homem amazĂ´nida, que poderĂĄ utilizar suas riquezas naturais respeitando limites, agregando valores e evitando o desperdĂ­cioâ€?, argumentou. A diretora-presidenta da Fapeam destacou ainda que a Fundação vem se posicionando de forma estratĂŠgica entre os entes de governos na promoção do desenvolvimento do Estado e estĂĄ disponibilizando de forma contĂ­nua os investimentos necessĂĄrios para alavancar a pesquisa e a inovação neste contexto.

INCTS: PESQUISA AMBIENTAL DE ALTO NĂ?VEL Entre as iniciativas de destaque na ĂĄrea de investimentos em projetos voltados ao meio ambiente, estĂŁo os Institutos Nacionais de CiĂŞncia e Tecnologia (INCTs), que acumulam LQYHVWLPHQWRV GD RUGHP GH 5 PLOK}HV FRP Ă€QDQciamento da Fapeam e do Conselho Nacional de DesenYROYLPHQWR &LHQWtĂ€FR H 7HFQROyJLFR &13T $V SHVTXLVDV desenvolvidas nos INCTs sĂŁo de vanguarda e elevada quaAMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 47


Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

MEIO AMBIENTE

lidade, de padrĂŁo competitivo internacional e contemplam um forte componente de desenvolvimento tecnolĂłgico e contribuição para a inovação. No Amazonas, sĂŁo seis INCTs, dos quais, cinco sĂŁo totalmente voltados Ă s questĂľes ambientais: Adaptaçþes da Biota AquĂĄtica (Adapta), Serviços Ambientais (Servamb), Madeiras da AmazĂ´nia, Biodiversidade AmazĂ´nica e Centro de Energia, Ambiente e Biodiversidade (Ceab). Uma das preocupaçþes do INCT Adapta, por exemplo, ĂŠ que o aumento da temperatura e da concentração de gĂĄs carbĂ´nico (CO2) na ĂĄgua pode atingir todo o ecossistema do planeta e nĂŁo apenas a AmazĂ´nia, segundo informou o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia (Inpa) e coordenador do INCT Adapta, Adalberto LuĂ­s Val. Entre as pesquisas do INCT Adapta, hĂĄ uma que aborda os efeitos da variabilidade climĂĄtica sobre os peixes amazĂ´nicos. “As mudanças climĂĄticas 48 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

presas do Estado do Amazonas (Pappe Subvenção), aprovando, somente em 2010, sete empresas com projetos voltados ao desenvolvimento de produtos A participação da ecologicamente corretos que receberam Fundação ĂŠ imprescindĂ­vel e investimentos de R$ 875 mil. visionĂĄria, pois contribui para Uma das empresas contempladas no segmento empresarial foi a empreos investimentos em ciĂŞncia, tecnologia e inovação que se sa AGA ComĂŠrcio Varejista de MĂłveis Ltda. com o projeto ‘Aplicação de maconstituem em componentes teriais naturais para agregação de valor indispensĂĄveis Ă promoção e inovação imobiliĂĄria’. O empreendido desenvolvimento mento investe em produtos diferenciaassociado Ă conservação dos a partir do conceito de ecodesign. No mercado, a AGA passou a investir ambientalâ€? em pesquisas de matĂŠrias-primas reMaria OlĂ­via SimĂŁo gionais a serem agregadas em produdiretora-presidenta da FAPEAM tos como sofĂĄs, poltronas, cabeceiras de cama box, entre outros. “A inovação e a preocupação com estĂŁo associadas a atividades realizadas pelo homem, como o aumento de quei- o meio ambiente foram nossas grandes madas por causa do desmatamento. A sacadas. Dessa forma, conseguimos AmazĂ´nia tem um papel importante no aumentar o nĂşmero de clientes e funciclo de carbono do planeta e pode ser cionĂĄrios. Isso ĂŠ um grande salto para considerada uma regiĂŁo de grande risco uma microempresaâ€?, destacou o proGR SRQWR GH YLVWD GDV LQĂ XrQFLDV GDV prietĂĄrio da AGA, Gilberto Tavares. Outro exemplo, que tambĂŠm se mudanças climĂĄticasâ€?, explicou Val. 2 SHVTXLVDGRU DĂ€UPRX TXH DV PX- destaca pela iniciativa ambiental, com o danças no clima podem causar vĂĄrias apoio do Pappe Subvenção, ĂŠ o projeto perturbaçþes ao tambaqui (Colossoma ‘Joias com a cara da AmazĂ´nia fabricamacropomum), por exemplo. “Essas mu- GDV FRP RULJLQDOLGDGH H FHUWLĂ€FDomR¡ GD danças no clima, para o tambaqui, que ĂŠ empresa Amazon Rose, que conta com uma espĂŠcie de peixe com grau elevado XPD OLQKD GH SURGXWRV GLYHUVLĂ€FDGD H de adaptação a diversas situaçþes, po- utiliza materiais ecologicamente corredem acarretar em vĂĄrias perturbaçþesâ€?. tos, desenvolvendo atividades voltadas O INCT Adapta conta com recursos da para o comĂŠrcio varejista de souvenirs, ordem de R$ 7 milhĂľes, oriundos da Fa- bijuterias e artesanatos, com criatividaGH ERP JRVWR H VRĂ€VWLFDomR GH DFRUpeam e do CNPq. do com a legislação ambiental vigente. INOVAĂ‡ĂƒO E MEIO AMBIENTE Uma das principais preocupaçþes da empresa ĂŠ minimizar os impactos amNo segmento empresarial, a Fapeam bientais e gerar alternativas de renda Ă e a Financiadora de Estudos e Projetos população ribeirinha. )LQHS Ă€QDQFLDP R 3URJUDPD GH $SRLR Conforme a empresĂĄria Rosineide Ă Pesquisa em Micro e Pequenas Em- da Silva Dias, as biojoias sĂŁo desen-


MEIO AMBIENTE

que nĂŁo aplicava o manejo correto no tratamento dos resĂ­duos. “O lixo produzido, tanto na escola quanto na comunidade, chamou a minha atenção, entĂŁo pensei sobre o que eu poderia fazer para solucionar o problema, foi quando desenvolvi esse projeto com o manejo e a redução de ENVOLVIMENTO DE ESTUDANTES resĂ­duos por meio da prĂĄtica da reciDA EDUCAĂ‡ĂƒO BĂ SICA NA clagem, que auxilia na conservação PESQUISA AMBIENTAL ambiental e proporciona uma alternativa de renda a partir dos produtos Dentre as iniciativas da Fapeam, JHUDGRV SRU HVVH SURFHVVRÂľ DĂ€UPRX destaca-se tambĂŠm o Programa CiĂŞnSegundo a estudante e bolsista de cia na Escola (PCE), que atua em diver- LQLFLDomR FLHQWtĂ€FD HQYROYLGD QR SURVDV iUHDV GD SHVTXLVD FLHQWtĂ€FD QD UHGH jeto PatrĂ­cia Suelen de MacĂŞdo, partipĂşblica de ensino e tem como propĂł- cipar do PCE lhe ajudou a entender sito despertar o interesse e a vocação mais sobre a reciclagem e seus beneFLHQWtĂ€FD HP HVWXGDQWHV GRV HQVLQRV fĂ­cios para a sociedade, e tambĂŠm a Fundamental e MĂŠdio. Somente na ca- reutilizar a matĂŠria-prima descartada pital, o PCE recebeu durante o perĂ­odo na natureza de modo correto. de 2010 a 2011, recursos superiores a “Participar do projeto foi muito R$ 98 mil, totalizando 22 projetos con- bom para mim, adquiri conhecimentemplados na ĂĄrea ambiental. tos e experiĂŞncia que nunca pensei Em 2011, o programa estendeu suas em ter acesso, como criar objetos açþes para o interior do Estado, com a publicação de um edital especial, em parceria com a Fundação AmazĂ´nia SustentĂĄvel (FAS), com o objetivo de implementar projetos nas Reservas de Desenvolvimento SustentĂĄvel (RDS) O conjunto das do Juma, MamirauĂĄ e Alto Rio Negro, açþes realizadas pela no Estado do Amazonas. Cerca de R$ SDS, como a criação 141 mil foram investidos, mobilizando das UCs, contribui alunos e professores e sensibilizando os para a preservação e comunitĂĄrios das RDSs sobre a imporconservação da Floresta tância da conservação ambiental. De acordo com a professora e coAmazĂ´nica, viabilizando ordenadora do projeto ‘A prĂĄtica da ao homem interiorano reciclagem: um meio de redução do melhor qualidade lixo e agricultura sustentĂĄvel: a prĂĄtide vida, por meio da ca da compostagem’, Izolena da Silva sustentabilidadeâ€?. Garrido, a ideia de sua pesquisa surgiu apĂłs ela observar a grande quanOdenildo Sena titular da Secti-AM tidade de lixo gerada na comunidade,

Ăşteis ao nosso dia a dia, a partir de materiais vindos do lixoâ€?, disse. Para a diretora-presidenta da Fapeam, essa aproximação entre pesquisadores, professores e alunos das escolas das Unidades de Conservação (UCs) ajuda a promover a troca de experiĂŞncias e conhecimentos. “Esse programa, juntamente com o JCA-AP, visa entre seus objetivos, incentivar as instituiçþes de ensino e pesquisa a se aproximarem da gestĂŁo das Ă reas Protegidas e das sociedades locais, contribuindo para a valorização e aplicação dos conhecimentos WUDGLFLRQDO H FLHQWtĂ€FR QD FRQVHUYDomR ambiental e melhoria da qualidade de vida dos comunitĂĄriosâ€?, enfatizou.

PRONEX: DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA DE EXCELĂŠNCIA

TambÊm merece destaque os projetos desenvolvidos no âmbito do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência em Ciência e Tecnologia

Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

volvidas a partir de recursos naturais da regiĂŁo como resĂ­duos madeireiros GH PDQHMR Ă RUHVWDO PDGHLUDV FHUWLĂ€cadas, gemas orgânicas e escamas de peixes associados a metais preciosos, e estĂŁo sendo comercializadas no mercado interno e externo.

AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 49


MEIO AMBIENTE

3URQH[ Ă€QDQFLDGR SHOD )DSHDP HP parceria com o CNPq. Para se ter uma ideia, no perĂ­odo de 2009 a 2011, foram registrados investimentos superiores a R$ 2,2 milhĂľes em projetos de pesquisa de excelĂŞncia (alto nĂ­vel), que dentre as temĂĄticas abordadas se encontram as associadas Ă conservação ambiental. Um dos projetos contemplados foi o programa Âś&DUDFWHUL]DomR FODVVLĂ€FDomR H DYDOLDção do potencial de uso como base para uma polĂ­tica de manejo sustentĂĄvel das ĂĄreas Ăşmidas do Estado do Amazonas’, coordenado pela pesquisadora do Inpa, Maria Teresa Fernan-

des Piedade. A pesquisa em ĂĄreas Ăşmidas apontou um alto valor econĂ´mico em comparação a outros ecossistemas, possibilitando a produção de pesca, pecuĂĄria, agricultura e silvicultura. Os resultados indicaram a predominância das ĂĄguas ao longo do ano, caracterizando a contenção de comuQLGDGHV GD IDXQD H Ă RUD HVSHFtĂ€FDV GR local. “Esses ecossistemas nĂŁo podem ser confundidos com outros que tĂŞm frequĂŞncia pluviomĂŠtricaâ€?, alertou a pesquisadora. Piedade informou que o Pronex foi importante para a concretização das expediçþes, pois foi possĂ­vel reunir mais de 40 pesquisadores, entre estudantes de mestrado e doutorado, bem como a realização de workshops para a divulgação dos resultados. “A Fapeam estĂĄ de parabĂŠns pela atitude cooperativa, conferinGR VXSRUWH LUUHVWULWRÂľ DĂ€UPRX

PROCESSO DE AVANÇO DA CIĂŠNCIA NO AMAZONAS O titular da Secretaria de Estado de CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação do Amazonas (Secti-AM), Odenildo Sena, salientou que os investimentos aplicados na economia sustentĂĄvel representam um diferencial em curto espaço de tempo, evidenciando a relevância da criação do Sistema PĂşblico Estadual de CiĂŞncia e Tecnologia. Durante o perĂ­odo de 2008 a 2011, o montante de investimentos provenientes da Fapeam em pesquisas nas questĂľes ambientais supera os R$ 22

PLOK}HV R TXH SDUD R VHFUHWiULR VLJQLĂ€ca a geração de conhecimento extraordinĂĄrio e, consequentemente, um maior domĂ­nio sobre a AmazĂ´nia. “EntĂŁo, o resultado das pesquisas representa uma contribuição do governo estadual para essa ĂĄrea tĂŁo importante ao desenvolvimento regionalâ€?, completou..

ZONA FRANCA DE MANAUS: CONSERVAĂ‡ĂƒO AMBIENTAL NO AMAZONAS Segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento SustentĂĄvel (SDS), o Amazonas mantĂŠm o percentual de GH Ă RUHVWD SUHVHUYDGD DEULJDQdo um banco genĂŠtico de inestimĂĄvel valor, com grandes jazidas de minĂŠrios, gĂĄs e petrĂłleo. A importância desta regiĂŁo ĂŠ incalculĂĄvel. Para Sena, essa realidade ĂŠ sustentada a partir do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM), pois, sem ele, as atividades econĂ´micas estariam voltadas Ă exploração madeireira, o que contribuiria para o desmatamento, como ocorreu no sul do ParĂĄ, comenta o secretĂĄrio. A ação do Estado por meio de polĂ­ticas pĂşblicas ĂŠ outro indicativo de conservação. “O conjunto das açþes realizadas pela SDS, como a criação de UCs, contribui para a preservação e conservação da Floresta AmazĂ´nica, viabilizando ao homem interiorano uma melhor qualidade de vida, por meio da susWHQWDELOLGDGHÂľ DĂ€UPRX

Quer saber mais? Fale com o pesquisador Izolena de Silva Garrido – izolena.garrido11@gmail.com Marcela Amazonas Cavalcanti – mac@inpa.gov.br Maria Teresa Fernandes Piedade – maitepp@inpa.gov.br Rosineide Dias (empresĂĄria) – amazonrosejoias@gmail.com 50 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$


SUSTENTABILIDADE

Pesquisadores e poder pĂşblico buscam estabelecer PDUFRV FRQFHLWXDLV H UHJXODWyULRV TXH LGHQWLĂ€TXHP FRP clareza bens e serviços ambientais, para possibilitar JHVWmR H FRQVHUYDomR GD Ă RUHVWD DPD]{QLFD Por AnĂĄlia Barbosa

A

natureza oferece uma sÊrie de recursos que proporcionam as condiçþes necessårias à manutenção da vida e do bem-estar humano. Esses benefícios são originårios do funcionamento e da manutenção dos ecossistemas, sendo denominados de serviços ambientais. Os ecossistemas contribuem, por exemplo, para a liberação de oxigênio na atmosfera, por meio da decomposição de matÊria orgânica por microrganismos e da fotossíntese de plantas e algas. Apontada como uma das maiores reservas da biodiYHUVLGDGH GR SODQHWD D à RUHVWD DPD]{QLFD DEULJD HFRVsistemas naturais que ainda não foram profundamente alterados e de onde provÊm a maioria dos serviços ecossistêmicos, segundo o coordenador do Programa

de PĂłs-Graduação em CiĂŞncias do Ambiente e Desenvolvimento SustentĂĄvel na AmazĂ´nia (PPGCASA) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), doutor em Ecologia, Henrique Pereira. “Aqueles serviços que talvez tenham maior importância regional e global e que por isso vĂŞm merecendo maior destaque no debate acadĂŞmico e polĂ­tico sĂŁo aqueles associados aos ciclos do carbono e da ĂĄgua (hidrolĂłgico) e suas implicaçþes na regulação do clima. Essa riqueza pode, ou melhor, deve ser considerada como um valioso VHUYLoR DPELHQWDOÂľ DĂ€UPRX 1R HQWDQWR D PDQXWHQomR GD Ă RUHVWD DPD]{QLFD EUDsileira e de seus serviços ambientais enfrenta uma sĂŠrie de ameaças que poderiam exauri-la ainda neste sĂŠculo, conforme destacou o pesquisador do Instituto Nacional de AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 51


SUSTENTABILIDADE

Pesquisas da AmazĂ´nia (Inpa/MCTI) e coordenador do Instituto Nacional de CiĂŞncia e Tecnologia de Serviços Ambientais da AmazĂ´nia (INCT Servamb), Philip Fearnside. As ameaças incluem o desmatamento, que elimina de forma direta D Ă RUHVWD SULQFLSDOPHQWH SDUD FRQvertĂŞ-la em pastagens e, em alguns locais, para plantação de soja. “Na SUiWLFD D Ă RUHVWD QmR YROWD $OpP disso, recompĂ´-la ĂŠ caro e demanda tempo. Os recursos para repor um KHFWDUH GH Ă RUHVWD SRGHULDP VDOYDU dezenas de hectaresâ€?, disse. A exploração madeireira, os incĂŞndios Os serviços ambientais Ă RUHVWDLV H DV PXGDQoDV FOLPiWLFDV WDPEpP GHVWURHP D Ă RUHVWD devem se constituir como uma

INCT SERVAMB &ULDGR HP FRP Ă€QDQciamento da Fapeam e do Conselho Nacional de Desenvolvimento &LHQWtĂ€FR H 7HFQROyJLFR &13T R INCT Servamb se propĂľe a reduzir DV LQFHUWH]DV QD TXDQWLĂ€FDomR GRV serviços ambientais da AmazĂ´nia, especialmente no que tange ao carbono e Ă ĂĄgua. AlĂŠm disso, tem a proposta de desenvolver ferramentas e cenĂĄrios capazes de interpretar os custos e benefĂ­cios de diferentes polĂ­ticas pĂşblicas em termos destes serviços. O INCT conta com cinco grupos de pesquisa envolvendo temas como ‘Mudança de uso da terra e emissĂľes’, ‘Florestas secundĂĄrias’, Âś$JURĂ RUHVWDV IUDJPHQWDomR H HIHLtos de borda’ e ‘Hidrologia’. Essas pesquisas sĂŁo desenvolvidas por pesquisadores do Inpa, em Manaus e Roraima, da Empresa Brasileira de Pesquisas AgropecuĂĄrias (Embrapa), em BelĂŠm (PA), e das 52 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

outra base à economia da UHJLmR e LPSRUWDQWH TXDQWLÎFDU PHOKRU RV VHUYLoRV DPELHQWDLV SURYLGRV SHOD ïRUHVWD amazônica, e, implicitamente, os benefícios de evitar a perda GHVVD ïRUHVWD¨ Philip Fearnside coordenador do INCT Servamb

Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG) e do Acre (Ufac). “Os serviços ambientais devem se constituir como uma outra base Ă economia da regiĂŁo. É importante quanWLĂ€FDU PHOKRU RV VHUYLoRV DPELHQWDLV SURYLGRV SHOD Ă RUHVWD DPD]{QLFD H implicitamente, os benefĂ­cios de evitar D SHUGD GHVVD Ă RUHVWDÂľ GLVVH R FRRUdenador do Instituto, Philip Fearnside que, desde 1992, vem promovendo a captação do valor dos serviços amELHQWDLV GD Ă RUHVWD DPD]{QLFD FRPR forma de desenvolvimento sustentĂĄvel das populaçþes rurais na regiĂŁo.

CONTROVÉRSIAS Uma das questĂľes mais controversas atualmente ĂŠ sobre a titularidade dos direitos referentes aos serYLoRV DPELHQWDLV 3HVTXLVDV FLHQWtĂ€cas voltadas aos aspectos sociopolĂ­ticos e jurĂ­dicos podem contribuir para operacionalizar o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Nesse sentido, serĂĄ iniciada uma pesquisa de doutorado no PPGCASA que irĂĄ se concentrar nos aspectos jurĂ­dicos institucionais do PSA, em particular, nas questĂľes da titularidade dos serviços ambientais. “O tema da titularidade ĂŠ essencial e essa pesquisa deverĂĄ trazer importantes contribuiçþes, em especial, se consideramos que jĂĄ estamos enfrentando essas situaçþes que questionam a legitimidade de agentes em arranjos de compensação de serviços ambientais envolvendo, por exemplo, terras indĂ­genas e organizaçþes estrangeiras, e mesmo governos municipais e o setor privadoâ€?, explicou o coordenador do Programa, Henrique Pereira.


SUSTENTABILIDADE

VALORIZAĂ‡ĂƒO DE

dos Serviços Ambientais. Ela tambĂŠm vai criar o Fundo Estadual de Mudanças ClimĂĄticas, Conservação O Estado do Amazonas trabalha Ambiental e Serviços Ambientais. na criação de um marco regulatĂłrio De acordo com a titular da Secrepara incentivar a proteção de ĂĄreas taria de Estado de Meio Ambiente e e recursos naturais. A Lei Estadual Desenvolvimento SustentĂĄvel (SDS), de Serviços Ambientais, que deve NĂĄdia Ferreira, o Amazonas terĂĄ um entrar em vigor ainda no primeiro instrumento jurĂ­dico de gestĂŁo que VHPHVWUH GH YLVD EHQHĂ€FLDU UHJXODPHQWH RV VHUYLoRV TXH D Ă RUHVaqueles que trabalham de maneira ta oferece para o mundo. sustentĂĄvel, garantindo a proteção “Os recursos naturais tĂŞm o seu GD Ă RUHVWD H FRQVHTXHQWHPHQWH GR valor que precisa ser contabilizado clima do planeta. como um ativo. Fala-se muito da A lei vai instituir a PolĂ­tica do Es- importância de manter a floresta tado do Amazonas sobre Serviços em pĂŠ e que ela vale mais se for Ambientais e o Sistema de GestĂŁo preservada. PorĂŠm, nĂŁo adianta SERVIÇOS AMBIENTAIS

termos esse conceito internalizado. É importante traduzi-lo em lei para criar segurança jurĂ­dica necessĂĄria e que assegure a repartição de benefĂ­cios Ă s populaçþes tradicionais e indĂ­genas. A lei vem fazer com que esse conceito, que ĂŠ tĂŁo bem aceito pela sociedade e pela academia, se traduza em realidadeâ€?, destacou NĂĄdia Ferreira. A iniciativa do governo estadual, que se antecipa a uma determinação RĂ€FLDO GR JRYHUQR IHGHUDO GHYH VHU recebida com interesse e atenção, ressaltou Henrique Pereira. “A experiĂŞncia de implantação de um sistema estadual nos permitirĂĄ aprender

INICIATIVAS PARA PROTEĂ‡ĂƒO DOS SERVIÇOS AMBIENTAIS NA AMAZĂ”NIA:

5HIRUPD GR VLVWHPD GH WRPDGD GH GHFLVmR H OLFHQFLDPHQWR SDUD SURMHWRV GH LQIUDHVWUXWXUD FRPR DV URGRYLDV 0XGDQoDV GH SROtWLFD LQFOXVLYH PXGDQoDV QD ÂśUHJXODUL]DomR¡ GD SRVVH GD WHUUD SDUD TXH KDMD XP Ă€P FODUR j SRVVLELOLGDGH GH REWHU WHUUDV SRU PHLR GD LQYDVmR GH iUHDV S~EOLFDV

&XPSULPHQWR GD OHJLVODomR DPELHQWDO SRU PHLR GH RSHUDo}HV GH FRPDQGR H FRQWUROH

&ULDomR GH UHVHUYDV DQWHV TXH DV RSRUWXQLGDGHV SDUD SURWHomR GD Ă RUHVWD HVWHMDP SHUGLGDV QD SUiWLFD

&RPEDWH DR HIHLWR HVWXID &RPSURPHWLPHQWR GR %UDVLO SDUD FRQWHU R GHVPDWDPHQWR H SDUD UHGX]LU DV HPLVV}HV

AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 53


SUSTENTABILIDADE

participativa e democråtica entre vårios setores da sociedade. Mas, antes disso, o Amazonas jå havia formulado uma experiência de pagamento por serviços ambientais, por meio do Programa Bolsa Floresta (PBF), que influenciou a criação de uma ação nos mesmos moldes em nível fe-

2V UHFXUVRV QDWXUDLV WrP R VHX YDORU TXH SUHFLVD VHU FRQWDELOL]DGR FRPR XP DWLYR )DOD VH PXLWR GD LPSRUWkQFLD GH PDQWHU D ïRUHVWD HP Sp H TXH HOD YDOH PDLV VH IRU SUHVHUYDGD 3RUpP QmR DGLDQWD WHUPRV HVVH FRQFHLWR LQWHUQDOL]DGR e LPSRUWDQWH WUDGX]L OR HP OHL SDUD FULDU D VHJXUDQoD MXUtGLFD QHFHVViULD H TXH DVVHJXUH D UHSDUWLomR GH EHQHItFLRV jV SRSXODo}HV WUDGLFLRQDLV H LQGtJHQDV¨

deral. Instituído em 2007, o PBF Ê pioneiro no segmento e estå presente em 15 Unidades de Conservação (UCs) do Estado, envolvendo 32 mil pessoas e beneficiando as populaçþes que vivem na floresta e que se comprometem com a redução do desmatamento.

Foto: Oberti Pimentel

fazendo. Como pioneiro, o Estado do Amazonas deverĂĄ contribuir decisivamente para com o futuro dessa nova geração de polĂ­ticas pĂşblicas ambientaisâ€?, disse. A construção de uma polĂ­tica estadual de valorização dos serviços ambientais começou hĂĄ mais de dois anos, em um processo de discussĂŁo

NĂĄdia Ferreira titular da Secretaria de Estado de Desenvolvimento SustentĂĄvel

BENEFĂ?CIOS NA PRĂ TICA A lei inclui a possibilidade de incentivos a serviços ambientais nas suas mais diversas formas: carbono Ă RUHVWDO QDV YHUWHQWHV GH 5HGXomR de EmissĂľes de Gases de Efeito Estufa por Desmatamento Evitado 5('' RX SRU UHĂ RUHVWDPHQWR recursos hĂ­dricos, biodiversidade, regulação do clima, conservação do solo, entre outros. Por meio da legislação serĂĄ possĂ­54 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

vel criar e organizar os mecanismos de regulamentação para cada serviço ambiental, como a criação de programas e subprogramas para que os benefĂ­cios cheguem Ă população, disse o coordenador do Centro Estadual de Mudanças ClimĂĄticas (Ceclima), JoĂŁo Talocchi. “A regulamentação possibilitarĂĄ a GLVWULEXLomR GH EHQHItFLRV WDQWR Ă€QDQceiros quanto de capacitação e treina-

mento. Esse sistema tem que garantir que esses programas sejam realizados de forma mais acessĂ­vel e que sejam mais inclusivos e se adequem a cada VLWXDomRÂľ DĂ€UPRX 7DORFFKL Atualmente, a venda de crĂŠdito de carbono acontece em uma escala muito restrita no mercado voluntĂĄrio, onde nĂŁo ĂŠ preciso ter regulamentação e qualquer pessoa pode negociar sem precisar de registro ou


SUSTENTABILIDADE

SERVIÇOS AMBIENTAIS

SERVIÇOS DE P

ROVISĂƒO

SĂŁo relacionad os com a capacidade dos ecossistemas em prover ben s, sejam eles alimentos (fruto s, raĂ­zes, pescado, caça, mel); matĂŠriaprima para a g eração de energia (lenha , carvĂŁo, UHVtGXRV yOHRV Ă€EUDV (madeira, cord as, tĂŞxteis); Ă€WRIiUPDFRV U HFXUVRV genĂŠticos e bio quĂ­m plantas ornamen icos; tais e ĂĄgua;

UPORTE

SERVIÇOS DE S

årios s naturais necess São os processo am, tros serviços exist para que os ou o dos nutrientes, como a renovaçã dos resíduos, a a decomposição o ia, a manutençã produção primår da fertilidade do ou a renovação de ão, a dispersão solo, a polinizaç çþes la pu role das po sementes, o cont s re to agas e de ve de potenciais pr anas, a proteção de doenças hum eta, ão solar ultraviol contra a radiaç ee ad sid biodiver a manutenção da tros ou nÊtico, entre do patrimônio ge da a perenidade que mantenham vida na Terra.

autorização do Estado. No entanto, seu custo ĂŠ elevado e tem metodologia complexa, jĂĄ que o proprietĂĄrio privado precisa custear os estudos, EXVFDU FHUWLĂ€FDomR H QHJRFLDU Outra possibilidade ĂŠ a negociação de carbono dentro dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) da ONU. No entanto, ela nĂŁo inclui crĂŠditos de redução evitĂĄvel de desmatamento, somen-

URAIS OS CULT

SERVIÇ

rovĂŞm Os que p imateriais, s benefĂ­cio is, na educacio ais, estĂŠticos n recreacio is. ua e espirit

SERVIÇOS HĂ?DRICOS Manutenção da qualidade hĂ­drica por meio da regulação GR Ă X[R GD iJXD GR FRQWUROH da deposição de sedimentos, da quantidade de nutrientes, da deposição de substâncias quĂ­micas e da conser vação do habitat de espĂŠcies aquĂĄtica s, assim como processos e funçþe s ecolĂłgicas relacionados ao abastecimento e Ă manutenção da qualidade e quantidade de ĂĄgua, assegurando sua oferta para todo uso direto e indire to.

SERVIÇOS DE REGULAĂ‡ĂƒO SĂŁo os benefĂ­cios obtidos a partir de processos naturais que regulam as condiçþes ambientais que sustentam a vida humana, como a SXULĂ€FDomR GR DU UHJXODomR GR FOLPD SXULĂ€FDomR H regulação dos ciclos das ĂĄguas, controle de enc hentes e erosĂŁo. Tratamento de resĂ­duos, desintoxicação e controle de pragas e doenças.

JĂĄ com a Lei de Serviços Ambientais, por exemplo, se o proprietĂĄrio quiser negociar FDUERQR Ă RUHVWDO QD YHUWHQWH GH REDD ele consultarĂĄ a regulamentação estadual e o funcionamento dos crĂŠditos legais, inserindo-os no mercado atravĂŠs do registro do Estado, disse Talocchi. A expectativa do Governo do WH GH UHĂ RUHVWDPHQWR GLItFHLV Amazonas ĂŠ que se estabeleça um de obter) e do setor de energia. mercado que nĂŁo dependa somente “No Amazonas existem algu- do comĂŠrcio internacional, criando mas olarias, por exemplo, que jĂĄ negociaçþes com outros Estados fazem parte desse mecanismo ao e municĂ­pios do Brasil para fazer utilizar combustĂ­veis de resĂ­duos. essa transação de carbono e de ouMas a participação nesses sistemas tros serviços ambientais. AlĂŠm do requer aprovação no âmbito de Amazonas, os Estados do Acre e uma câmara federalâ€?, explicou o EspĂ­rito Santo possuem polĂ­ticas de serviços ambientais. coordenador do Ceclima. Quer saber mais? Fale com o pesquisador Philip Fearnside – pmfearn@inpa.gov.br Henrique Pereira – hpereira@ufam.edu.br JoĂŁo Talocchi – ceclima@sds.am.gov.br AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 55


POLĂ?TICAS PĂšBLICAS

Açþes governamentais colocam o Amazonas entre os estados brasileiros que mais se preocupa com questþes voltadas para o clima de nosso planeta e, consequentemente, a sobrevivência da humanidade Por Sigrid Avelino e Sebastião Alves

NO CLIMA

Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

A

56 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

Floresta Amazônica Ê um complexo ecossistema, que abriga uma riqueza inestimåvel, podendo, caso seja usada de forma correta, trazer um avanço inimaginåvel para o ser humano. Entretanto, a imensidão de suas proporçþes esconde a fragilidade desta massa viva que a cada ano perde força contra as açþes do homem associadas ao desrespeito e à ganância. Apesar das constantes ameaças, a Amazônia continua correspondendo a uma årea de 6 milhþes de quilômetros quadrados, ocupando sete países sul-americanos. A parte brasileira Ê calculada em 3 milhþes e meio de quilômetros TXDGUDGRV R TXH UHSUHVHQWD PDLV GH GD à RUHVWD H 42% do território nacional. A Região Norte do Brasil que abriga boa parte desse bioma se constitui de nove Estados, abrangendo a Amazônia Legal. Dentre os Estados que fazem parte desta biodiversidade estå o Amazonas, considerado o maior da Federação em extensão territorial, com mais de 1,55 milhão de quilômetros quadrados, e que apresenta o menor índice de desmatamento. Com base nos dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentåvel do $PD]RQDV 6'6 D à RUHVWD DPD]{QLFD PDQWpP FHUFD de 98% de sua årea preservada. Por conta disso, proMHWRV YROWDGRV j SUHVHUYDomR H FRQVHUYDomR GD à RUHVWD estão sendo criados e o fomento a investimentos para açþes que possibilitam a interação entre o homem e a natureza estå sendo gerado.


POLĂ?TICAS PĂšBLICAS

DA CONSERVAĂ‡ĂƒO AMBIENTAL Uma das alternativas utilizadas pelos ĂłrgĂŁos governamentais ĂŠ a promoção de debates e a criação de polĂ­ticas pĂşblicas sustentĂĄveis para as comunidades tradicionais, no que concerne ao desenvolvimento tecnolĂłgico que viabilize o aproveitamento GH SURGXWRV RULJLQiULRV GD Ă RUHVWD

AĂ‡ĂƒO GOVERNAMENTAL Nesse sentido, em 2007 foi instituĂ­da pelo Governo Estadual a Lei nÂş 3.135 que estabelece uma polĂ­tica estadual sobre mudanças climĂĄticas, conservação ambiental e desenvolvimento sustentĂĄvel do Amazonas, que implementou açþes ligadas ao clima. Esta, por sua vez, possibilitou a criação, em 2008, do Centro Estadual de Mudanças ClimĂĄticas (Ceclima), considerado o primeiro centro governamental do Brasil especializado em articular polĂ­ticas pĂşblicas nesta ĂĄrea. Com a criação do Ceclima vĂĄrios programas foram articulados, dentre eles, o Bolsa Floresta pioneiro no pagamento de serviços ambientais. O programa compensa economicamente as

populaçþes tradicionais que moram na à RUHVWD DV TXDLV DMXGDP GLUHWDPHQWH QD redução dos níveis de desmatamento, DOpP GH PDQWHU D à RUHVWD FRQVHUYDGD O programa atende a cerca de 35 mil pessoas em 15 Unidades de Conservação do Amazonas (UCs), em parceria com outras instituiçþes. Atualmente, Ê gerido pela Fundação Amazonas Sustentåvel (FAS), instituição público-privada criada para melhorar a qualidade de vida das comunidades tradicionais e a conservação do meio onde vivem, alÊm de incentivar a sustentabilidade das populaçþes no âmbito econômico, social e ambiental. Entre as atividades do Ceclima, são discutidas e articuladas açþes ligadas à educação ambiental com o foco principalmente nas mudanças climåticas. A ideia Ê implementar nos 62 municípios amazonenses a pråtica da educação ambiental para estudantes, inserindo estudos sobre as transformaçþes do clima em disciplinas do ensino regular das escolas estaduais. AlÊm disso, o projeto quer, por meio de atividades didåticas, abranger toda a população do interior.

“NĂŁo ĂŠ sĂł uma questĂŁo de ter uma aula de educação ambiental. A ideia ĂŠ ir alĂŠm, e ter o meio ambiente inserido nas vĂĄrias temĂĄticas dos programas de educação do Estado. Na educação nĂŁo formal vamos atuar por meio de capacitação, campanhas e palestras com a populaçãoâ€?, informou JoĂŁo Talocchi, coordenador do Ceclima. Para colocar em prĂĄtica o projeto, estĂĄ em fase de construção o Programa Estadual de Educação Ambiental, por meio da ComissĂŁo Interinstitucional de Educação Ambiental (Ciea), em parceria com a Secretaria de Educação do Amazonas (Seduc). A previsĂŁo ĂŠ que atĂŠ junho de 2012, o programa seja implantado no interior do Estado. Dentro da proposta de ação do Ceclima, foi criado o FĂłrum Amazonense de Mudanças ClimĂĄticas Globais, Biodiversidade e Serviços Ambientais, instituĂ­do pelo Decreto 28.390/2009 como um espaço dedicado aos debates de temas relacionados Ă s alteraçþes climĂĄticas na AmazĂ´nia. TrĂŞs Câmaras fazem parte do fĂłrum, sĂŁo elas: Energia, Adaptação e Mitigação Ă s Mudanças ClimĂĄticas e Uso do Solo, Florestas e Serviços Ambientais. AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 57


POLĂ?TICAS PĂšBLICAS

ATTO REALIZA LEITURA DOS VENTOS

Ê a forma pela qual a ågua da superfície terrestre passa para a atmosfera no estado de vapor, tendo papel importantíssimo no Ciclo Hidrológico em termos globais. Esse processo envolve a evaporação da ågua de superfícies de ågua livre (rios, lagos), dos solos e da vegetação úmida e a transpiração dos vegetais

Quando o vento passa na copa das ĂĄrvores, ela deixa um contorno HQWUH D VXSHUĂ€FLH e a camada de vegetação

ĂŠ a sobreposição de galhos e folhas das ĂĄrvores que pode atinger atĂŠ 25 metros de altura 58 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

Uma complexa estrutura de ferro, orçada em 8,3 milhĂľes de euros, compreendendo trĂŞs torres de 80 metros e uma de 320 metros de altura, serĂĄ erguida no meio da imensidĂŁo verde da Floresta AmazĂ´nica, a qual irĂĄ monitorar a relação da vegetação com a atmosfera, ajudando a entender o comSRUWDPHQWR GD Ă RUHVWD GLDQWH GH SRVVtYHLV mudanças climĂĄticas globais. Com essa pesquisa, os estudiosos terĂŁo um entendimento mais aprofundado e preciso do regime de chuvas e dos ciclos biogeoquĂ­micos, como os ciclos do carbono e da ĂĄgua. As torres fazem parte do Projeto ObservatĂłrio AmazĂ´nico de Torres Altas (ATTO), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), localizada na Reserva de Desenvolvimento SustentĂĄvel (RDS) do UatumĂŁ, no municĂ­pio de SĂŁo SebastiĂŁo do UatumĂŁ, distante a 270 quilĂ´metros de Manaus, que alcançarĂĄ cerca de 300 quilĂ´metros de raio, com previsĂŁo de funcionamento para 2013. A pesquisa intitulada ‘Estudos sobre a LPSRUWkQFLD GR SHUĂ€O YHUWLFDO GD YHORFLGDGH do vento no ATTO na AmazĂ´nia Central’ revela os primeiros resultados do projeto QDV LQWHUDo}HV H[LVWHQWHV HQWUH D Ă RUHVWD H D atmosfera, nas trocas turbulentas de ventos QD &DPDGD /LPLWH 6XSHUĂ€FLDO &/6 “O objetivo ĂŠ estudar a importância do SRQWR GH LQĂ H[mR GR SHUĂ€O YHUWLFDO GD YHORFLdade mĂŠdia do vento na dinâmica da formação GH HVWUXWXUDV WXUEXOHQWDV VREUH D FRSD Ă RUHVWDO durante os perĂ­odos diurno, noturno e nas fases de transiçãoâ€?, explicou o doutorando do Programa de PĂłs-Graduação em Clima e Ambiente do Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia (Inpa), Newton Silva de Lima.

ACORDO BILATERAL ENTRE BRASIL E ALEMANHA Na projeto ATTO serĂŁo coletados dados relativos Ă troca de gases de efeito estufa entre D Ă RUHVWD H D DWPRVIHUD HYDSRWUDQVSLUDomR Ă Xxos de energias que podem ajudar na compreensĂŁo dos processos de formação das nuvens na regiĂŁo, entre outros eventos. O complexo de torres faz parte de um acordo bilateral entre Brasil e Alemanha, sendo o Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia (Inpa) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), as instituiçþes coordenadoras no Brasil. A Alemanha estĂĄ representada pelo Instituto Max Planck de QuĂ­mica, com sede na cidade de Mainz. Segundo informaçþes da Secretaria de Estado de CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação (Secti-AM), o investimento entre os governos alemĂŁo e brasileiro chega a quase 10 milhĂľes de euros. A Alemanha por meio do Instituto Max Planck de QuĂ­mica investiu â‚Ź 4,37 milhĂľes, enquanto o Brasil disponibilizou, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), â‚Ź 3,98 milhĂľes e a Fapeam investiu R$ 1,11 milhĂŁo.

COMPREENDER O COMPORTAMENTO DOS VENTOS

Segundo o pesquisador, a construção de torres altas se faz necessĂĄria para compreender o comportamento do vento dentro da VXEFDPDGD UXJRVD TXH Ă€FD ORFDOL]DGD QR GRVVHO GD Ă RUHVWD DWp DWLQJLU XPD DOWXUD metros. Por conta disso, a altura das torres SHUPLWH YHULĂ€FDU D FRPSOH[LGDGH WXUEXOHQWD GRV Ă X[RV GH HQHUJLD GH FDORU GH y[LGR GH carbono e de umidade. A pesquisa pretende fazer um estudo aprofundado das estruturas coerentes dentro dessas atividades turbulentas, porque elas ajudam a fazer a dispersĂŁo do ar, da umidade, se caso haja queimada da dispersĂŁo atmosfĂŠrica,


GR SUySULR Ă X[R GH FDUERQR H SULQFLSDOPHQte na questĂŁo que todos esses dados podem contribuir para modelos no futuro que sirvam para a previsĂŁo do tempo e clima da regiĂŁo. A partir desse resultado, serĂĄ possĂ­vel YHULĂ€FDU R FUHVFHQWH Q~PHUR GH SHVTXLVDV voltadas para essa ĂĄrea, possibilitando aos pesquisadores confrontar informaçþes de dados com estudos anteriores.

Foto: Acervo SDS

POLĂ?TICAS PĂšBLICAS

ANĂ LISE DE RESULTADOS Para o coordenador do Projeto ATTO e do Centro de Estudos do TrĂłpico Ăšmido (Cestu), JĂşlio Tota, a pesquisa ĂŠ inĂŠdita nessa ĂĄrea de conhecimento, tendo o suporte de aparelhos sĂ´nicos, que fazem as medidas de vento em alta frequĂŞncia (10HZ), em 10 nĂ­veis de uma torre de 80 metros. Segundo ele, foram coletados durante um mĂŞs dados para posterior anĂĄlise em pesquisas que serĂŁo desenvolvidas, a partir desses referenciais. “Com o resultado das anĂĄlises serĂĄ possĂ­vel responder a vĂĄrios questionamentos relacionados com as trocas de massa e energia entre D Ă RUHVWD DPD]{QLFD H D DWPRVIHUD FRPR VH DV alturas em que foram feitas as medidas de experimentos anteriores eram adequadas, ou se esses dados permitem testar e avaliar as teorias de turbulĂŞncia sobre ĂĄreas de vegetação densa como a AmazĂ´niaâ€?, disse o coordenador.

PARTICIPAĂ‡ĂƒO DA FAPEAM Tota salientou que a participação da Fapeam ĂŠ fundamental, desde o auxĂ­lio e suSRUWH Ă€QDQFHLUR QD LQIUDHVWUXWXUD GR SURMHWR ATTO (por exemplo, recursos para recuperação da estrada de acesso Ă s torres de mediGDV DWp R Ă€QDQFLDPHQWR GH EROVDV GH DOXQRV da PĂłs-Graduação em Clima e Ambiente (UEA-Inpa), mestrado, doutorado e PrograPD GH $SRLR j ,QLFLDomR &LHQWtĂ€FD 3DLF RV quais ele estĂĄ orientando. No total, sĂŁo sete alunos com bolsas fomentadas pela Fapeam.

1mR p Vy XPD TXHVWmR GH YRFr WHU XPD DXOD GH HGXFDomR DPELHQWDO A ideia Ê ir alÊm, e ter o meio ambiente LQVHULGR QDV YiULDV WHPiWLFDV GRV SURJUDPDV GH HGXFDomR GR (VWDGR Na educação não formal vamos atuar SRU PHLR GH FDSDFLWDomR FDPSDQKDV H SDOHVWUDV FRP D SRSXODomR¨ João Talocchi, Coordenador do Ceclima/SDS

Quer saber mais? Para obter mais informaçþes acesse o site: www.sds.am.gov.br AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 59


ECOSSISTEMAS

Cientistas de diversas áreas do conhecimento desenvolvem Cientistas das diversas áreas do pesquisas a partir do conceito deconhecimento ecossistema, desenvolvem tendo como pesquisas aospartir dos ecossistemas amazônicos, tendo como referência princípios da sustentabilidade referencia os princípios da sustentabilidade.

Foto: Ricardo Oliveira/ Agência Fapeam

Por Edilene Mafra Por Edilene Mafra

D

esde a antiguidade, o homem teve a natureza como aliada no desenvolvimento de tecnologias inovadoras com o intuito de melhorar sua qualidade de vida. O fogo, a roda e a cerâmica foram elementos que o auxiliaram a sobreviver às ameaças circundantes. Nesse contexto, a experimentação de materiais resultou nos primeiros conceitos de ciência que tinham como fonte suas crenças e relação com o Cosmo, com Deus, com a Ciência e a Tecnologia. Mas, a busca desenfreada pelo poder, obrigou o homem a degradar a natureza em favor do progresso e do consumismo, impulsionado pelo avanço tecnológico, não tendo durante muito tempo preocupação com a preservação dos recursos naturais. De acordo com o relatório intitulado ‘Pessoas resilientes, planeta resiliente: um futuro que vale escolher’, do Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global da Organização das Nações Unidas (ONU), realizado em janeiro de 2012, que norteia as necessidades conclamando aos gover60 AMAZONAS FAZ &,È1&,$

nantes a desenvolverem medidas visando à sustentabilidade, é preciso reconhecer que nos últimos anos, o tema em pauta na mídia são as ações governamentais e não governamentais em prol da conservação dos recursos naturais.

MEIO AMBIENTE E CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO Para alguns cientistas que vivem na região amazônica, a visão sobre sustentabilidade não é algo tão recente, já que é impossível desenvolver pesquisas isoladas diante da peculiaridade regional em meio à dimensão continental que a região apresenta. Para o doutor em Ciência da Computação e professor do Instituto de Ciência da Computação (Icomp) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ruiter Caldas, a GHÀQLomR GH VXVWHQWDELOLGDGH LQÁXHQFLRX DWp PHVPR D RUganização institucional e o planejamento das ações. E, desde os anos 1990, a criação de uma cultura sobre a pesquisa de ponta voltada à realidade local vem sendo articulada.


ECOSSISTEMAS

Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

1yV WHPRV EDUFRV TXH QDYHJDP RV rios da AmazĂ´nia e nĂŁo tendo internet disponĂ­vel nos rincĂľes amazĂ´nicos, eles levariam um volume de dados, se conectando aos servidores locais em movimento, sem precisar pararâ€?. Ruiter Caldas, doutor em CiĂŞncia da Computação da Ufam

O Icomp realiza pesquisas de alta UHOHYkQFLD HP iUHDV HVSHFtĂ€FDV GD computação, que foram adequadas Ă realidade regional. Em alguns casos, pesquisas com resultados satisfatĂłrios em outros paĂ­ses, quando aplicadas em nossa regiĂŁo, precisam passar por XPD DGDSWDomR 2 SHVTXLVDGRU DĂ€Umou que em outros lugares do PaĂ­s VHULD DWp SRVVtYHO LQVWDODU D Ă€EUD yWLFD PDV SHODV FRQGLo}HV JHRJUiĂ€FDV GH algumas regiĂľes locais ela se torna inviĂĄvel, por conta do altĂ­ssimo custo na obtenção da internet via satĂŠlite. Para o professor, a adaptação do barco regional, meio de transporte comum na AmazĂ´nia, seria um bom suporte para a transmissĂŁo de informaçþes. Essa ideia consiste em adaptar um barco, transformando-o em um nĂşcleo de comunicação que ao passar pelas cidades, trocaria informaçþes no padrĂŁo de temporização, WXGR VHP Ă€R $SHVDU GD OHQWLGmR KDveria circulação da informação. “NĂłs temos barcos que navegam os rios da AmazĂ´nia e nĂŁo tendo internet

disponĂ­vel nos rincĂľes amazĂ´nicos, eles levariam um volume de dados, se conectando aos servidores locais em movimento, sem precisar pararâ€?, explicou. Outro experimento apontado pelo professor ĂŠ o estudo utilizando sapos, visando avaliar a saĂşde de uma localidade. Os pesquisadores avaliam as condiçþes do meio ambiente por meio da interpretação da vocalização dos enuros (sapos). A presença destes DQLPDLV QXPD UHJLmR VLJQLĂ€FD TXH R ambiente ĂŠ saudĂĄvel e o sumiço deles, VLJQLĂ€FD D DOWD GHJUDGDomR DPELHQWDO “O processo se dĂĄ com a utilização de sensores sonoros para a captação da vocalização, posteriormente ĂŠ realizada a interpretação dos resultados, proporcionando uma anĂĄlise ecolĂłgica do terrenoâ€?, comentou o professor. Os pesquisadores do Icomp atuam fortemente em pesquisa e extensĂŁo, concentrando a formação de novos pesquisadores por meio do Programa de Educação Tutorial (PET) de CiĂŞncia da Computação, contando com o fomento de importantes agĂŞn-

cias e instituiçþes, sendo apoiados oito projetos de pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento CienWtĂ€FR H 7HFQROyJLFR &13T TXDWUR pela Fapeam, dois pela Financiadora de Estudos e Projetos do MinistĂŠrio da CiĂŞncia, Tecnologia e Inovação (Finep/MCTI) e dois com a SuperintendĂŞncia da Zona Franca de Manaus (Suframa), atuando nas diversas linhas para a obtenção de recursos.

ECOSSISTEMAS

COMUNICACIONAIS NA ERA DA INTERATIVIDADE

A ideia de ecossistema vivo aplicada aos processos comunicacionais WHP IRPHQWDGR D UHĂ H[mR QRV GLDV atuais. Para o doutor em CiĂŞncias da Comunicação e professor do Programa de Mestrado em CiĂŞncias da Comunicação (PPGCCOM) da Ufam, Gilson Monteiro, a internet interage com as pessoas a partir de processos comunicacionais mais atuantes do que os meios de comunicaçþes analĂłgicos. AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 61


ECOSSISTEMAS

O PIM funciona como um verdadeiro ODERUDWyULR GH SHVTXLVD SRUTXH YRFr WHP XPD IRWRJUDĂŽD XPD QRomR GR TXH VH ID] QR PXQGR DTXL GHQWUR GHVVD regiĂŁoâ€?. MĂĄrio Costa doutor Fundação Rede AmazĂ´nica

O nosso sonho ĂŠ transformar a Ufam num HFRVVLVWHPD TXH VHMD totalmente digitalizado no futuroâ€?. Gilson Monteiro doutor em CiĂŞncias da Comunicação da Ufam

62 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

A questĂŁo ambiental, dentro desse processo, ĂŠ bastante ampla H WUD] FRQFHLWRV GHĂ€QLo}HV H Pptodos das ciĂŞncias naturais para o campo da comunicação. As novas estruturas comunicacionais chamam atenção no âmbito FLHQWtĂ€FR SRLV VXUJHP D FDGD GLD novas relaçþes intermediadas pelas tecnologias da informação e da comunicação. Para o professor, a sociedade necessita se organizar frente Ă s tecnologias emergentes, como gerenciar as organizaçþes comunicacionais e midiĂĄticas. De acordo com Monteiro, as reĂ H[}HV VREUH HVVD WHPiWLFD SRGHP ser consolidadas a partir das açþes do Programa de MĂ­dias Digitais da Ufam, que dentre suas metas tem a criação de um ‘prĂŠdio inteligente’, reutilizando os recursos naturais por meio da captação da ĂĄgua e da energia sustentĂĄvel. O projeto conta com fomento do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) para a construção das instalaçþes. “O nosso sonho ĂŠ transformar a Ufam num ecossistema que seja totalmente digitalizado no futuro. A ideia ĂŠ pensar que eu nĂŁo posso destruir a Ă RUHVWD HX WHQKR TXH FRQYLYHU FRP ela, me adaptar ao processo porque assim eu vou fazer parte desse ciclo GH YLGDÂľ DĂ€UPRX O pesquisador coordena o Grupo de Pesquisa Interfaces que atua intenVDPHQWH QHVVDV UHĂ H[}HV HQWUH R KRmem, a tecnologia e a comunicação. O Interfaces jĂĄ realizou pesquisas de relevância, destacando-se sobre a histĂłria dos meios de comunicação em Manaus. O grupo tambĂŠm desenvolveu por dois anos um caderno de CiĂŞncia e Tecnologia (C&T) no jornal

local impresso Em Tempo e lançou duas ediçþes impressas da revista FLHQWtĂ€FD ,QWHUPDLV Essas açþes foram realizadas com fomento da Fapeam. A criação do Programa de MĂ­dias Digitais, proporcionou outros desdobramentos para a criação da WebTV, da Webradio, alĂŠm de outros produtos digitais comunicacionais.

ECOSSISTEMAS ORGANIZACIONAIS E A REALIDADE AMAZÔNICA

A preocupação com o desenvolvimento da Amazônia e de seus povos perpassa os muros da universidade e ganha dimensþes em diversas esferas como o Governo, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada, dentro de um contexto ecossistêmico e sustentåvel. Com a criação dessa sociedade mais atuante, no sÊculo 20 e as


ECOSSISTEMAS

Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

SAIBA MAIS

mudanças socioeconĂ´micas e culturais baseadas no tripĂŠ governo, setor privado e sociedade civil organizada surgiu um novo paradigma da governança global, em que cada elemento interage sistemicamente com o outro, amparado no conceito da sustentabilidade. Para o secretĂĄrio-geral da Fundação Rede AmazĂ´nica (FRA) e doutor em GestĂŁo Global, EstratĂŠgica e Desenvolvimento Empresarial, MĂĄrio Costa, a fundação investiu no progresso e na integração da AmazĂ´nia por meio das empresas de comunicação situadas em cinco Estados da RegiĂŁo Norte. “A Fundação conta FRP XP GHSDUWDPHQWR HVSHFtĂ€FR sobre Estudos AmazĂ´nicos, visando investimentos em pesquisa, seguindo a tendĂŞncia de grandes organizaçþes PXQGLDLVÂľ DĂ€UPRX 63 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

A aproximação com o Polo Industrial de Manaus (PIM) e o interesse pelo desenvolvimento do Estado, priorizando as questĂľes regionais, permitiu ao pesquisador desenvolver a tese de doutorado LQWLWXODGD Âś$ LQĂ XrQFLD GDV RUJDQLzaçþes do terceiro setor no comportamento social das empresas do Polo Industrial de Manaus’, que tem como foco novas formas de atuação organizacional em que hĂĄ uma preocupação, nĂŁo somente com o negĂłcio, mas com a relação entre o meio ambiente e a sociedade. Segundo o pesquisador, ĂŠ possĂ­vel perceber claramente que as empresas FRP FHUWLĂ€FDomR PDLV DQWLJDV PXOWLnacionais, tendem a ter um comportamento mais social e ambiental do que as outras, por conta da visibilidade que tĂŞm na sociedade. “O PIM funciona como um verdadeiro laboratĂłrio de pesquisa porTXH YRFr WHP XPD IRWRJUDĂ€D XPD noção do que se faz no mundo aqui dentro dessa regiĂŁo. Aqui estĂŁo as maiores empresas do mundo, referĂŞncias mundiais de diversos tamanhos, nacionalidades, culturas e estruturasâ€?, explicou Costa.

ALTO POTENCIAL NAS PESQUISAS EM CIĂŠNCIA DA COMPUTAĂ‡ĂƒO O Icomp desenvolve pesquisas por meios dos grupos: Banco de dados e recuperação de inforPDomR ,QWHOLJrQFLD DUWLĂ€FLDO Redes de Computadores; Sistemas embarcados e engenharia de software; InformĂĄtica na educação; otimização, algorĂ­timos e complexidade computacional; Redes de sensores; e VisĂŁo computacional e robĂłtica. De um total de 29 professores, 28 sĂŁo doutores, sendo um formado pelo prĂłprio Instituto. Dentro do grupo de cientistas, hĂĄ pesquisadores de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento CientĂ­fico e TecnolĂłgico (CNPq) e dois da Academia Brasileira de CiĂŞncias (ABC).

Quer saber mais? Fale com o pesquisador Ruiter Caldas – ruiter@icomp.ufam.edu.br Gilson Monteiro – gilsonmonteiro@ufam.edu.br Mårio Costa – mariocosta@redeamazonica.com.br

AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 63


O futuro que eles querem ĂŠ o mesmo que queremos? Por Henrique S. Pereira

O

futuro nĂŁo serĂĄ igual para todos. AlguĂŠm poderia chegar a essa conclusĂŁo usando o presente como uma referĂŞncia. O presente nĂŁo ĂŠ igual entre os paĂ­ses desenvolvidos, em desenvolvimento e paĂ­ses menos desenvolvidos, nem o mesmo entre regiĂľes dentro de sociedades nacionais ou mesmo em meio a grupos sociais de uma mesma cidade. No entanto, ĂŠ inteligente considerar o futuro como uma herança coletiva, especialmente quando percebemos e experimentamos como as forças naturais alteradas sob as ‘mudanças globais’ estĂŁo inexoravelmente atingindo todas as regiĂľes do planeta. No entanto, a capacidade de enfrentar e de se adaptar a essas mudanças planetĂĄrias ĂŠ desigualmente distribuĂ­da entre as diferentes localidades e grupos sociais, o que por sua vez pode ser que nos leve a um futuro ainda mais desigual. TambĂŠm ĂŠ importante reconhecer que as decisĂľes soberanas de um paĂ­s em particular, afetam as escolhas e as oportunidades dos outros, em termos econĂ´micos de forma mais imediata, e em termos de segurança ambiental a longo prazo. No documento das Naçþes Unidas para a Rio+20, a economia verde ĂŠ descrita como “... um meio para alcançar o desenvolvimento sustentĂĄvel ...â€? e que “... deve proteger e valorizar a base de recursos naturais, aumentar D HĂ€FLrQFLD GRV UHFXUVRV SURPRYHU R FRQVXPR VXVWHQWivel e os padrĂľes de produção, e mover o mundo para o desenvolvimento de baixo carbonoâ€?. O posicionamento brasileiro para a Rio+20, como se pode ler no documenWR RĂ€FLDO GR JRYHUQR FRORFD HP SULPHLUR OXJDU HQWUH DV açþes de emergĂŞncia para um projeto de desenvolvimento sustentĂĄvel a erradicação da pobreza e a garantia de segurança alimentar e nutricional para todos, nessa ordem. 64 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

Fundadas essas condiçþes mĂ­nimas de reprodução social, o documento brasileiro acrescenta o princĂ­pio da equidade como algo que seria transversal a todos os demais objetivos do desenvolvimento sustentĂĄvel. Ou seja, pensa-se que um desenvolvimento sustentĂĄvel deve tambĂŠm promover a inclusĂŁo. Pensar sobre inclusĂŁo social em uma economia cada vez mais globalizada nĂŁo ĂŠ apenas garantir o entrelaçamento das economias locais atravĂŠs das suas conexĂľes dentro do comĂŠrcio internacional de bens, serviços, trabalho e matĂŠrias-primas. Isso jĂĄ ĂŠ o caso dos agricultores familiares de vĂĄrzea, que desde 1937 produzem a juta usada em sacos de estopa para o envio de grĂŁos de cafĂŠ para o exterior. Um caso mais recente, o dos coletores de açaĂ­, cujo trabalho essencial torQD SRVVtYHO WUD]HU R IUXWR ÂśQRYR¡ H[yWLFR GD Ă RUHVWD DPDzĂ´nica para o mercado global de bebidas premium. NĂłs WDPEpP SRGHUtDPRV H[HPSOLĂ€FDU WDLV SURGXWRUHV ORFDLV ligados a cadeias de valor globalizadas com um caso mais notĂłrio, ou seja, a de castanheiros que durante os Ăşltimos dois sĂŠculos, em milhares, silenciosamente trazem o produWR GDV VRPEUDV GDV Ă RUHVWDV QDWLYDV GD UHJLmR DPD]{QLFD (VWHV WUDEDOKDGRUHV GH SURGXWRV Ă RUHVWDLV QmR PDdeireiros, pescadores, seringueiros, agricultores familiares FRPSDUWLOKDP XPD SDUWH TXDVH LQVLJQLĂ€FDQWH GR SURGXWR regional bruto. NĂŁo sĂł eles sĂŁo menores em nĂşmero, mas tambĂŠm nĂŁo representam um setor importante dos consumidores. Seus estilos de vida sĂŁo considerados obsoletos e foram empurrados para ĂĄreas cada vez mais remotas. No entanto, os ambientalistas foram os primeiros a reconheFHU R VHX SDSHO LPSRUWDQWH FRPR ÂśJXDUGL}HV GDV Ă RUHVWDV¡ $ PDLRULD GDV Ă RUHVWDV UHPDQHVFHQWHV VREUHYLYHX SRUTXH essas pessoas tĂŞm lutado para proteger e assegurar o seu GLUHLWR j WHUUD (OHV VmR KDELWDQWHV GD Ă RUHVWD DPD]{QLFD ODU

Foto: Ricardo Oliveira/ AgĂŞncia Fapeam

ARTIGO DE OPINIĂƒO


ARTIGO DE OPINIĂƒO

de nossos ancestrais e fonte de nossa identidade cultural. Um futuro desenvolvido, nĂŁo deve ser desejado sem eles. Simplesmente nĂŁo pode ser. Considerando a economia verde como um meio para o desenvolvimento de um futuro comum ambientalmente saudĂĄvel e socialmente justo e as principais funçþes dessas pessoas no presente e sua potencial contribuição para o desenvolvimento sustentĂĄvel futuro, o Centro de CiĂŞncias do Ambiente (CCA), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e seus parceiros institucionais tĂŞm realizado vĂĄrios projetos destinados a promover o planejamento e açþes em direção a um desenvolvimento inclusivo sustentĂĄvel em nĂ­vel local. Na maioria, sĂŁo projetos dedicados Ă criação de tĂŠcnicas inovadoras e soluçþes de engenharia social. O CCA apresentou alguns princĂ­pios como orientaomR SDUD HQIUHQWDU WDLV GHVDĂ€RV $V soluçþes devem: reduzir o tempo e o esforço de trabalho; aumentar a produtividade do trabalho; reduzir os riscos de trabalho; melhorar prĂĄticas de colheita e qualidade do produto, empoderar as organizaçþes de base e facilitar a ação coletiva. As soluçþes propostas devem tambĂŠm cumprir um conjunto de propriedades sustentĂĄveis como: ser adaptada ao amELHQWH QDWXUDO GD Ă RUHVWD UHGX]LU DV emissĂľes de Gases de Efeito Estufa; nĂŁo comprometer criticamente os recursos econĂ´micos das famĂ­lias; ser de fĂĄcil manuseio (transporte, instalação e operação) e, ser capaz de ser (re)produzido localmente. Os objetivos destes projetos QmR VmR GHĂ€QLGRV FRPR QDV LQLFLDtivas que buscam inovaçþes para fazer negĂłcios na ‘base da pirâmide

– BdP’, embora possam ter algumas semelhanças com o BdP, como abordagens, tais como a melhoria da concepção e execução de colaboração intersetorial. Para a Ufam, os KDELWDQWHV GD Ă RUHVWD VmR SRWHQFLDLV empresĂĄrios. Eles estĂŁo na base, sim, mas na das cadeias de valor globalizadas, ainda que pouca atenção tenha sido dada para desenvolver inovaçþes tecnolĂłgicas e sociais para esses povos tradicionais. O primeiro projeto desenvolvido por equipes de pesquisa do CCA/ Ufam com essa nova abordagem, resultou em uma sĂŠrie de recomendaçþes tĂŠcnicas de boas prĂĄticas de colheita e pĂłs-colheita para a coleta de castanha-do-brasil. O objetivo principal do projeto era reduzir os riscos de contaminação da castanha por micotoxinas. Seguindo os princĂ­pios e as propriedades de soluçþes sustentĂĄveis, em 2002, uma tecnologia adaptada foi desenvolvida com o uso de materiais locais e da combinação do conhecimento FLHQWtĂ€FR 8PD YH] TXH HVWH SUREOHma tĂŠcnico principal foi resolvido, as comunidades de ManicorĂŠ (regiĂŁo do Rio Madeira) começaram a recuperar o acesso aos mercados internacionais e a fortalecer sua organização social. Em menos de uma dĂŠcada, eles foram capazes de formar uma cooperativa e começar a sua prĂłpria indĂşstria de fabricação. A experiĂŞncia foi adotada por agĂŞncias governamentais e incluĂ­da em polĂ­ticas pĂşblicas a serem disseminadas para outras regiĂľes. Trinta e seis comunidades e 800 coletores de castanhas estĂŁo se EHQHĂ€FLDQGR GR VLVWHPD PHOKRUDGR H RV GDGRV RĂ€FLDLV LQGLFDP TXH D SURdução aumentou de 538 toneladas para 8.871 toneladas, entre 2003 e 2009. O valor total da produção in-

dustrial passou de U$ 33.600 para U$ 11,4 milhĂľes, aumentando assim o preço pago aos produtores. A Ufam estĂĄ agora desenvolvendo um segundo projeto realizado por equipes de investigação do Nusec, desta vez focado em agricultores de vĂĄrzea TXH SURGX]HP Ă€EUDV GH MXWD H PDOYD $ maceração em ĂĄgua ĂŠ uma tĂŠcnica conYHQFLRQDO SDUD H[WUDomR PDQXDO GH Ă€EUD a partir das plantas em decomposição. É um trabalho demorado e precĂĄrio. Um dispositivo versĂĄtil e adaptado localmente agora estĂĄ sendo testado, em condiçþes de campo, por 20 agricultores de Manacapuru, na regiĂŁo do Rio SolimĂľes. Se eles tiverem sucesso em desenvolver este processo mecanizado GH H[WUDomR GH Ă€EUD D VHFR SRGHUmR plantar e colher duas vezes mais a cada ano e em muito melhores condiçþes de trabalho. Um dos prĂłximos desaĂ€RV p GHVHQYROYHU VROXo}HV LQRYDGRUDV para melhorar a tĂŠcnica de colheita de DoDt 1D IDVH HWQRJUiĂ€FD GR SURMHWR as famĂ­lias revelaram que as tĂŠcnicas de coleta tradicionais incluem a escalada das palmeiras muito altas. Esta ĂŠ uma tarefa muito trabalhosa e arriscada. Este projeto serĂĄ desenvolvido em cooperação com o Blekinge Institute of Technology (BTH), uma universidade tecnolĂłgica da SuĂŠcia. Estamos agora na fase inicial do projeto. Podemos ter VXFHVVR TXHUHPRV LVVR 6H R Ă€]HUPRV os coletores de açaĂ­ irĂŁo dar um passo VLJQLĂ€FDWLYR SDUD R IXWXUR TXH GHVHMDP Estas sĂŁo algumas das ideias sobre inovação para um desenvolvimento inclusivo sustentĂĄvel. Queremos tambĂŠm esverdear a economia, como um meio para o desenvolvimento de um futuro comum ambientalmente saudĂĄvel e socialmente justo. Suas ideias e seu apoio tambĂŠm sĂŁo bem-vindos. AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$ 65


IDENTIDADE

Uma vida GHGLFDGD j FLrQFLD Marlene Freitas da Silva (1937-2005) Por JĂşlio CĂŠsar Schweickardt

1937

Nasce Marlene Freitas da Silva

1979

Conclui sua graduação em Farmåcia Bioquímica pela Ufam

1980

Conclui doutorado pelo Inpa

1989

Publica um check list de leguminosas da AmazĂ´nia

1991

Aposenta-se como pesquisadora do Inpa

1993

Torna-se diretora do Centro de Ensino e Pesquisas Florestais da Utam

2003

Ingressa na Ufam para ministrar aulas de morfologia e taxonomia

2005

Falece aos 68 anos

66 AMAZONAS FAZ &,Ăˆ1&,$

Com uma carreira de importante contribuição Ă s pes-â€? TXLVDV GHVHQYROYLGDV HP %RWkQLFD QR (VWDGR 0DUOHQH Freitas da Silva foi uma das grandes colaboradoras para R GHVHQYROYLPHQWR GD FLrQFLD QR $PD]RQDV 1DVFLGD HP 0DQDXV QR GLD GH DJRVWR GH D WD[RQRPLVWD HVSH-â€? cializada na famĂ­lia Leguminosae VH GHGLFRX SRU TXDVH DQRV D SHVTXLVDV VREUH %RWkQLFD HVSHFLĂŽFDPHQWH QD iUHD GD WD[LQRPLD GDV OHJXPLQRVDV A pesquisadora iniciou sua carreira em 1955, no Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia (Inpa), como aluna do Centro de Pesquisas GeomorfolĂłgicas Aplicadas na AmazĂ´nia. Em 1956, ingressou na Botânica como auxiliar de laboratĂłrio e em 1967 iniciou o curso de FarmĂĄcia e BioquĂ­mica na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) concluindo em 1970 a graduação. Em 1976, defendeu sua dissertação de mestrado e em 1980 doutorou-se pelo Inpa. Ao longo de sua carreira, Silva publicou 89 trabalhos em diversas ĂĄreas do conhecimento da Botânica, sendo 13 livros, oito capĂ­tulos de livros e 66 artigos em diversos periĂłdicos. Em 1989 publicou um check list de leguminosas da AmazĂ´nia, agrupando 1241 espĂŠcies distribuĂ­das em 148 gĂŞneros. Em 1991, aposentou-se como pesquisadora do Inpa, mas con-

tinuou ocupando cargos de gestĂŁo na instituição. Enquanto educadora, ministrou disciplinas de pĂłs-graduação. Em 1983, ingressou no Instituto TecnolĂłgico da AmazĂ´nia (Utam) como professora titular do curso de Engenharia Florestal e entre 1993 e 1995, exerceu a função de Diretora do Centro de Ensino e Pesquisas Florestais dessa instituição. Em 2003, ingressou na Ufam e passou a ministrar disciplinas de morfologia e taxonomia. E, em 2005, recebeu a Comenda do MĂŠrito FarmacĂŞutico, do Conselho Federal de FarmĂĄcia. 6LOYD FRQWULEXLX VLJQLĂ€FDWLYDmente para o desenvolvimento da ciĂŞncia na AmazĂ´nia, principalmente quando a pesquisa pode iluminar a compreensĂŁo dos dilemas ambientais. A pesquisadora faleceu aos 68 anos, em 18 de dezembro de 2005, na capital do Estado.






n0 5 Ano 1 Este suplemento é parte integrante da revista Amazonas Faz Ciência n0 24 e sua distribuição é gratuita.

Nosso maior astro pode ser utilizado como energia eletrizante Págs.4 e 5

Ler para crescer: aproximando crianças do universo da ciência por meio da leitura. Pág.2

Tabolixo: conheça essa brincadeira que pode ajudar a salvar o planeta. Pág.3

Experimente: Faça o seu cabeça de capim e veja como as plantinhas crescem. Pág. 7


H

Foto: Soaria MagalhĂŁes

ĂĄ seis anos, o Instituto Ler para Crescer vem incentivando a leitura criando bibliotecas e brinquedotecas em bairros carentes do Amazonas. Desde fevereiro de 2012, o Instituto adotou o suplemento Amazonas Faz CiĂŞncia Criança em suas açþes e, durante o ano inteirinho, a meninada que faz parte das açþes do Instituto vai ser orientada a pensar a ciĂŞncia usando esse material. Para isso, a Fapeam vai fornecer exemplares da revista e do suplemento, contribuindo para que as atividades do Ler 7HYH *YLZJLY Ă„X\LT HPUKH mais divertidas.

Coleguinhas do Instituto Ler para Crescer, que bom que vocĂŞs estĂŁo lendo as nossas historinhas. Se estiverem gostando, escrevam para a gente!!! jaci.amciencia@gmail.com

2

EXPEDIENTE DO SUPLEMENTO Editora-chefe e Criação Cristiane Barbosa (MTb 092/AM) Redação Cristiane Barbosa, Jamyly Macêdo, Nefa Costa e Soraia Magalhães

Editoria de Arte %HUQDUGR %XOFmR 3URMHWR *UiĂ€FR Diagramação e ilustraçþes) RevisĂŁo Jesua Maia


Tabolixo:

Ê  brincando  que  a gente  reaproveita

VocĂŞ gosta de jogos? JĂĄ brincou de boliche com garrafas PETs encontradas na rua? JĂĄ ouviu falar no Tabolixo? Por Jamyly MacĂŞdo, especial para o suplemento

Foto: Jamyly MacĂŞdo/PCE

O

Tabolixo, uma espĂŠcie de boliche feito com garrafas PETs, foi criado pelo professor James dos Santos Ribeiro. A brincadeira faz parte de um projeto vinculado ao Programa CiĂŞncia na ,ZJVSH 7*, X\L t Ă„UHUJPHKV WLSH -HWLHT e Secretarias de Educação do MunicĂ­pio e do Estado (Semed e Seduc). Nesse jogo, os alunos usam garrafas PETs como pinos, mas no lugar de uma bola de boliche normal, eles usam bolinhas de tĂŞnis. A ideia ĂŠ simples, mas pode ajudar a reaproveitar as garrafas PETs do entorno da escola. O jogo funciona da seguinte forma: cada garrafa possui um valor e uma questĂŁo para o aluno responder, se o participante acertar, adquire os pontos indicados. As perguntas variam entre conhecimentos gerais e lĂłgica e cada jogador tem de 10 a 30 segundos para responder, KLWLUKLUKV KV NYH\ KL KPĂ„J\SKHKL da mesma, o que ajuda a melhorar o raciocĂ­nio das crianças. AlĂŠm de atiçar o desenvolvimento lĂłgico e aguçar, por meio de brincadeiras, a mente dos pequenos, o jogo ainda ajuda a preservar o meio ambiente, pois os materiais utilizados sĂŁo retirados das ruas. Agora que tal juntar os amiguinhos e começar o jogo? Para brincar vocĂŞs irĂŁo precisar de: 05 Garrafas PETs 01 Bola de TĂŞnis 01 CronĂ´metro (pode ser do celular) 01 Caderno contendo questĂľes de conhecimentos gerais e lĂłgica PapĂŠis recortados com o nĂşmero das questĂľes.

3


O

sol nos aquece, seca as roupas no varal de casa e alegra os domingos nos balneários. Mas não é só isso, o nosso maior astro, em apenas uma hora, despeja sobre a Terra uma quantidade de energia maior que o consumo do mundo em um ano inteiro. Além dele, na natureza, existem muitas outras fontes de energia, tal como o vento ou a água, que são fontes não poluentes, sendo chamadas de energia limpa. Então, por que não aproveitar esse mundo de energia? Foi o que cientistas pensaram. Por que não usar o sol para conseguir energia elétrica e 4

fazer funcionar os eletrodomésticos, a TV, carros e até satélites, que são abastecidos pela estrela por meio de imensas placas solares? No Estado do Amazonas, um experimento realizado com o apoio da Fapeam e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) virou realidade: a voadeira solar. Isso mesmo, um pequeno barco movido à energia solar, criado pela empresa K2C Serviço de Consultoria. O projeto funciona assim: o barco utiliza a energia vinda do sol como combustível, por meio de painéis fotovoltaicos X\L ÄJHT SVJHSPaHKVZ UH JVbertura da voadeira.

que são placas especiais utilizadas para transformar a energia da luz do sol em energia elétrica


Você já andou em um barco movido a luz solar? Já ligou sua TV em uma tomada movida a energia solar? Por Cristiane Barbosa e Nefa Alves

Desse modo, é possível atender atividades diárias executadas por moradores do interior com ‘rabetas’ (canos com motores de popa). “As placas solares também tornarão o passeio mais agradável, pois vão possibilitar que os tripulantes se desloquem protegidos do sol e sem o elevado ruído do motor próximo a eles”, disse o engenheiro florestal da empresa, Carlos Gabriel Koury. Outro projeto interessante é o Eco Force, um gerador de eletricidade que consegue coletar a potência energética a partir da energia solar. Desenvolvido pela empresa Hitec Componentes da Amazônia

Ltda., que comercializa a marca Qluz, o projeto também teve apoio da Fapeam e Finep. “A ideia foi construir um aparelho genuinamente amazonense, que captasse luz solar e gerasse energia elétrica para uso em ambientes pequenos, onde aparelhos de TV, ventiladores, lâmpadas de porte pequeno e geladeiras, por exemplo, fossem os itens essenciais no consumo enerNt[PJV¹ HÄYTV\ V LTWYLZmYPV e engenheiro elétrico Roberto Lavor, que criou e desenvolveu o Eco Force.

PERGUNTE AO SEU PROFESSO R Como a luz é ge rada a partir dos ra ios solares?

5


6

nos lagos e os adultos da minha espécie, migram para os rios de águas barrentas para desovar. Nessa época, não me alimento, vivo da gordura que acumulo durante a época da cheia no Estado. No Amazonas, um grupo de pesquisadores do INCT Adapta* realiza um experimento que se refere ao estudo do meu crescimento em diferentes condições impostas pelas mudanças de clima até o ano de 2100. Ligue os pontinhos e descubra quem eu sou. Resposta: Tambaqui (Colossoma macropomum)

T

enho o corpo cinza claro, com manchas escuras espalhadas na metade superior e muitas escamas. Sou uma das principais espécies dos rios da Amazônia e chego a alcançar cerca de 90 centímetros de comprimento total. Antigamente, eram pescados parentes meus com até 45 kg. Hoje, praticamente não existem peixes desse porte. Na época de cheia, costumo entrar na mata inundada, onde me alimento de frutos e ZLTLU[LZ +\YHU[L H ZLJH ÄJV

* Só para você saber mais: O INCT Adapta, com apoio da Fapeam e CNPq, consiste em um projeto de longa duração, que busca analisar os efeitos das condições ambien-‐ tais a partir das previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudan-‐ ças Climáticas (IPCC) para 2100.


EXPE Foto: Arquivo Pessoal

&RQĂŽUD QHVWD VHomR D H[SHULrQFLD vivida pelo pequeno Ivan LuĂ­s Porto, 6 anos, com seu pai, o pesquisador Jadson LuĂ­s Rebelo Porto sobre a observação TXH ĂŽ]HUDP GH XPD YHVSD e R ,YDQ /XtV que conta essa histĂłria. Um dia desses, meu pai e eu encontramos um inseto de cor esverdeada em nossa casa. Ele estava morrendo, entĂŁo fomos estudĂĄ-lo. Descobrimos que se tratava de uma vespa. Nunca tinha visto uma vespa verde. SerĂĄ que ela era amiga do ‘Lanterna Verde’? (super herĂłi da Liga da Justiça - DC Comics). Meu pai me falou que as vespas sĂŁo muito bravas e perigosas. Por isso, ĂŠ melhor nĂŁo chegar perto delas, senĂŁo elas podem ferrar. E dĂłi muito! Ele me ensinou a fazer uma coleta de dados. Para isso, ĂŠ preciso anotar tudo que observamos quando estamos pesquisando. Por exemplo: anotei que a vespa possuĂ­a o corpo esverdeado e sua cabeça era azul-metĂĄlica. Ela tinha 3 centĂ­metros de largura e 1 centĂ­metro de comprimento e seu ferrĂŁo media 0,5 centĂ­metros (eu disse que dĂłi sua ferrada, olha sĂł o tamanho!). Possui quatro asas, duas externas e duas internas. E tambĂŠm duas mandĂ­bulas. SerĂĄ que ela morde? ApĂłs essa anĂĄlise, fui brincarâ€?.

Foto: Divulgação

RIME

NTE

Corte a perna de uma meia calça e coloque um punhado de alpiste ou sementes de capim. Complete com serragem e modele em forma de bola. Você pode montar o rosto do boneco colando olhos, boca e nariz, que você pode comprar em lojas de artesanato ou fazer com tecido ou material emborrachado (EVA) recortado. Molhe a cabeça do boneco todos os dias. Em alguns dias o alpiste ou o capim começa a nascer dando origem aos cabelos. Essa experiência mostra o processo de crescimento das plantinhas de forma bem divertida. Use sua imaginação, faça diferentes penteados, tire fotos e mande para o email: jaci.amciencia@gmail.com.

Foto: Arquivo Pessoal

Ivan LuĂ­s VĂ­tor Porto -â€? Cursa o 2Âş ano do Ensino Funda-â€? mental, ele diz que quer ser cientista quando crescer. Jadson LuĂ­s Rebelo Porto -â€? Doutor em CiĂŞncias EconĂ´-â€? micas, Presidente da Fun-â€? dação de Amparo Ă Pes-â€? quisa do Estado do AmapĂĄ -â€? Fundação Tumucumaque.

7


dicas de leitura

Albert

TĂ­tulo: Circo da Alegria Autor: Walmir Ayala Editora: Villa Rica Ano: 2004

charles Charles e Albert sĂŁo dois bichinhos muito inteligentes que chegaram para fazer companhia aos nossos amigos Jaci e AndrĂŠ. Charles ĂŠ um gato da raça Persa, muito pensativo e cheio de teorias. Gosta muito de Albert, mas nĂŁo quer que ele saiba disso. É o bicho de estimação

Procure na biblioteca da sua escola, o livro: o Circo da Alegria, de Walmir Ayala. Nesse livro, hĂĄ o texto ‘A aranha cartomante’, que narra o drama YLYLGR SHOR 5HL /HmR H D LQĂ XrQFLD PDOpĂ€FD GH XPD DUDQKD &RP medo de que o Sol tomasse o seu lugar, o rei o expulsa para D Ă RUHVWD H D SDUWLU GH HQWmR todos os habitantes descobrem as consequĂŞncias desse ato.

Site Meu Planetinha da Jaci, mas no fundo ele acha que ĂŠ o dono dela. Albert ĂŠ um cĂŁozinho da raça Schnauzer, bastante esperto e brincalhĂŁo. É o cachorrinho do AndrĂŠ. Apesar de serem cĂŁo e gato, eles sempre batem altos papos sobre ciĂŞncia e se dĂŁo super bem!

No site vocĂŞ encontra informaçþes sobre o meio ambiente e sobre como podemos proteger nosso planeta. Aproveite tambĂŠm e assista aos vĂ­deos, teste seus conhecimentos e FRQĂ€UD DV GLFDV SUHFLRVDV GH OHLWXUD que vĂŁo garantir momentos muito divertidos na frente da telinha do VHX FRPSXWDGRU &RQĂ€UD http://planetasustentavel.abril. com.br/planetinha/


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.