Edição 86

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GAZETA VARGAS

Radiografia FGV

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Sou a favor de que façam um bom estágio, independente de que seja na área pública ou privada: o importante é aprender como as coisas funcionam na prática Fala que eu te escuto Francisco Aranha, coordenador da EAESP, relatou orgulhoso à Gazeta Vargas que a proposta dos alunos fora, de fato, bem encaminhada, problematizando a questão com informações precisas, pesquisas e evidências concretas fundamentando a reivindicação. “Foi um verdadeiro exemplo de participação acadêmica”, afirma, fazendo menção ao desinteresse dos alunos por questões acadêmicas inversamente proporcional ao interesse pela organização de festas. Pedagogicamente, o professor garante que a medida irá trazer benefícios a todos os alunos, já que o curso é pensado para formar administradores, independente da especialização em empresas ou na área pública. Segundo a coordenação, é melhor que os alunos tenham liberdade para escolher a área em que querem atuar, já que sequer o próprio mercado exige este estágio. A Coordenadoria de Estágio e Colocação Profissional (CECOP) estaria tendo dificuldades em encontrar um número de estágios bons e adequados para a demanda dos alunos, os quais acabavam forçados a trabalhar em uma determinada área

que não tinham interesse. “Não há possibilidade de esta medida aumentar a concorrência para vagas de AE”, explica Chico Aranha. “As poucas vagas de AP eram disputadas entre uma pequena parcela de alunos que não as desejavam. Agora, poderão fazer estágio em AE sem prejudicar a concorrência, por serem minoritários, deixando os bons estágios de AP para os alunos que realmente os desejavam”. Espera-se do leitor desavisado que questione prontamente a coerência da reivindicação, perguntando-se: “mas, qual sentido de abolir o estágio na área pública se os alunos estudam administração pública? Isso para mim é aluno de AP frustrado por não ter entrado em AE”; afinal, não é de hoje o problema de vestibulandos que matriculados no curso de sua segunda opção.

É preciso que a faculdade saiba que nós alunos estamos motivados e interessados nessa discussão, e que não iremos ficar inertes. O dado contra-intuitivo é de que a mudança foi trazida por estudantes que de fato querem trabalhar na área pública – muitos de seus colegas, entretanto, desejam trabalhar com empresas mas, forçados a estagiar na área pública, ocupando uma já escassa oferta de bons estágios disponíveis pela CECOP.

“Tempo Perdido” Segundo a coordenadora de estágios Christina Larroude Paula Leite, que trabalha com colocação profissional desde 1992, a mudan-

ça trazida pelos alunos de Administração Pública foi positiva, e reflete anos de insatisfação com os estágios disponíveis. Christina conta que era muito difícil encontrar bons estágios na área pública, devido à rotatividade do cargo público: “todas iniciativas acabavam não dando certo, pois os contratantes entravam em licença, mudavam de cargo ou mudava a gestão” . Desta forma, as boas oportunidades sempre dependiam de “padrinhos” ou profissionais que tivessem familiaridade com o curso, como o professor Clóvis Bueno de Azevedo (formado em Administração Pública na EAESP), Chefe de Gabinete da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo há alguns anos. Apenas gestores que conhecessem bem o curso sentiam-se inclinados a oferecer vagas de estágio em Administração Pública na FGV. “Aproximadamente 80% dos alunos consideravam os estágios uma perda de tempo. Cumpriam os 180 dias de tabela e logo procuravam outros estágios na área de empresas”. Christina enxerga uma distorção do principal objetivo do estágio: o aprendizado. Os alunos eram incumbidos de realizar tarefas mecânicas ou rotineiras, configurando uma verdadeira perda de tempo: “Sou a favor de que façam um bom estágio, independente de que seja na área pública ou privada: o importante é aprender como as coisas funcionam na prática”. Para Christina, haverá uma alocação mais eficiente das poucas vagas disponíveis, pois acredita serem poucos alunos que de fato querem estagiar na área pública, diminuindo a concorrência. “Se até a própria FUNDAP [Fundação de Desenvolvimento Administrativo, voltada para Administração Pública] passou a pedir estagiários de AE, não faz mais sentido o estágio público obrigatório”.

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