O LIVRO DA SABEDORIA ORIENTAL

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luminescência: o que entendemos por essas duas palavras possui somente um único e mesmo sentido, visto que de modo algum pretendo designar por “Luz” o que não pode ser considerado como tal senão em sentido metafórico, como, por exemplo, a luz que quer dizer o que é evidente para o intelecto, embora o que há nessa evidência nos reconduza, ao final das contas, a essa luz [sobre a qual queremos falar aqui]. Por sua vez, a Luz divide-se em Luz que é qualidade para outro além de si — é o caso da Luz incidental (nûr âriḍ) — e em Luz que não é qualidade para outro além de si, a Luz imaterial (nûr mujarrad), a Luz pura (maḥd)̣ . Quanto a tudo o que, na realidade essencial de si mesmo, não é Luz, dividimos entre o que é independente de um substrato (maḥall), a substância relativa à noite (ghâsiq)2, e o que é qualidade para outro além de si mesmo, a qualidade das trevas (zulmânîya). O barzakh é o corpo. Nós o descrevemos dizendo que é a substância à qual podemos nos dirigir por meio de uma indicação dos sentidos. Na verdade, considera-se que faz parte dos barzakhs tudo o que, quando a Luz se retira, continua a subsistir, mas em estado de trevas4. As Trevas (zulma) nada exprimem senão a ausência da Luz. Elas não são, portanto, uma dessas negações (a'dâm) nas quais se encontra a condição do possível (imkân)5. Com efeito, se supuséssemos que o mundo fosse vazio ou que fosse uma esfera na qual não houvesse Luz alguma, ele seria de trevas; a deficiência que exprime as Trevas lhe seria inerente e estaria lado a lado com a ausência de possibilidade da Luz6. Está assim estabelecido que tudo o que não é Luz nem luminescência é das trevas. O barzakh, desde que a Luz dele se retire, não tem necessidade de outra coisa para constituí-lo de trevas, pois todos esses barzakhs são substâncias noturnas. É preciso até considerar como barzakhs aqueles cuja Luz jamais se retira, como o Sol e outros astros. Estes últimos participam, com efeito, da condição de barzakh com os outros corpos dos quais a luminescência se retira; mas eles se distinguem destes por sua luminescência permanente. Porém, aquilo pelo qual esses barzakhs se distinguem dos astros é, igualmente, uma determinada Luz que se sobrepõe à sua condição de barzakh e que subsiste neste. Trata-se então de uma Luz incidental, cujo suporte é uma substância relativa à noite. Assim, cada barzakh é uma substância noturna. A Luz incidental e sensível não é em si mesma independente, senão ela não teria necessidade do que é noturno. Como então ela subsiste por meio disso, seu ser é deficiência, poder-ser. No entanto, a existência da Luz incidental não surge da substância noturna, senão ela lhe seria inerente e concomitante. Porém, não é assim. Como poderia ser, já que uma coisa não pode dar existência necessária ao que é mais nobre do que ela própria? É por isso que o que confere suas Luzes a todas as substâncias noturnas é outro, diferente de seu cerne de Trevas e de suas qualidades tenebrosas. 45


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